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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros BOLOGNESI, MF. Circos e palhaços brasileiros [online]. São Paulo: Cultura Acadêmica; São Paulo: Editora UNESP, 2009. 250 p. ISBN 978-85-7983-021-1. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org >. All the contents of this chapter, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste capítulo, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de este capítulo, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported. Circo Rostok Mario Fernando Bolognesi

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Page 1: Circo Rostok

SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros BOLOGNESI, MF. Circos e palhaços brasileiros [online]. São Paulo: Cultura Acadêmica; São Paulo: Editora UNESP, 2009. 250 p. ISBN 978-85-7983-021-1. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.

All the contents of this chapter, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported.

Todo o conteúdo deste capítulo, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada.

Todo el contenido de este capítulo, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.

Circo Rostok

Mario Fernando Bolognesi

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O espetáculo

Primeira parte: Bailado homenageando os palhaços; Malabares;Dândis; Parafuso em “Pescaria” e “Cidade de trás pra frente”; Lira;Cães amestrados; Força Capilar; Parafuso em “Pensão da donaEstela”; Globo da Morte.

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Segunda parte: Leões; Magia Árabe; Arame bambo; Parafuso em“A bomba”; Trapézio Voador.

O Circo Rostok foi visitado nos dias 16, 17 e 18 de junho de 2000,na cidade de Urupês-SP. A lona do circo era nova. O circo mediaaproximadamente 40 metros x 50 metros. O espaço cênico era com-posto de um picadeiro cujo tapete surrado destoava do brilho origi-nal da lona. Uma cortina de veludo bordô, apresentando um bomtempo de uso, dividia o espaço do espetáculo dos bastidores.

A administração do circo era predominantemente familiar, em-bora alguns artistas fossem contratados para abrilhantar o espetá-culo, o que era o caso do palhaço Parafuso.

Os espetáculos vistos (três noturnos e uma matinê) apresenta-ram pouquíssimas variações. Havia um predomínio de números cir-censes, entrecortados por entradas e reprises. A exceção ficou porconta do espetáculo noturno do domingo, quando a segunda partedele foi substituída pela representação de uma comédia, “Parafuso,empregado do barulho”, roteiro também apresentado por Bebé, noCirco Teatro Bebé.

Os números circenses não apresentaram muitas dificuldades téc-nicas. Porém, foram executados com esmero e empenho por partedos artistas. Se não dominavam as mais difíceis proezas acrobáticasou as mais exuberantes habilidades de equilíbrio ou de malabaris-

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mo, os artistas apresentaram-se com um figurino bem cuidado e comuma energia cênica contagiante, o que terminava por superar as de-ficiências técnicas.

Parafuso

Túlio Pereira, o palhaço Parafuso, tinha 51 anos de idade. A per-sonagem foi criada quando o artista tinha apenas 9 anos. Desde en-tão, a personagem/palhaço vem se aprimorando, tanto na vestimentae na maquiagem como, principalmente, na interpretação.

Parafuso usava uma peruca de cabelos claros, não muito longos,e uma careca. Sobre ela, um chapéu-coco. A vestimenta era com-posta de uma imensa camisola, com cores, desenhos e frases que semodificavam a cada aparição em cena. Uma quase que minúsculabermuda, presa por enormes suspensórios, cobria a parte do corpoque corresponde à canela. Os sapatos eram grandes e coloridos.

Parafuso demonstrou ser um palhaço predominantemente tea-tral, que sabe valorizar as ações físicas e as piadas que o roteiro in-

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duz. O artista dominava o uso da palavra no picadeiro. Valorizava apalavra ao transferir seus motivos e intenções para as respectivasexpressões corporais e faciais. Os gestos, construídos aos poucos,iam evoluindo até ganharem a devida densidade e grandeza com omomento culminante da piada. Personagem rico em gags, ele não asrepetia: usava-as com a devida consciência, de forma a retirar delastoda a graça possível. A cada situação, um novo trejeito era traba-lhado, enfatizando quase sempre o raciocínio lento da personagem.

O artista aproveitava as situações que seus companheiros de cenae o público proporcionavam, para uma improvisação livre edescontraída. Em cena, o tempo todo estava atento aos motivos va-riados que a representação e a interação com a plateia podiam pro-porcionar. As respostas da plateia eram imediatas e até pareciam sin-cronizadas e coordenadas a partir de uma batuta invisível, acionadapelo artista. Os próprios artistas coadjuvantes não conseguiam con-ter o riso diante das facécias do palhaço. Com essas qualidades nemé preciso salientar o seu perfeito domínio do tempo cômico, que pos-sibilitava o relaxamento que o riso provoca e a preparação conflituosapara a próxima gargalhada.

Na próxima página, fotos de Parafuso, em “Pensão da donaEstela”.

A comédia apresentada no domingo à noite, “Parafuso, o em-pregado do barulho”, é tradicional do repertório circense. O confli-to básico gira em torno da esposa que quer de presente uma minis-

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saia que está na moda. O marido não quer dar o presente à mulher.Ela ameaça deixar a casa e retornar para os pais, que são chamadospara opinar sobre a questão. O pai não diz nada e a mãe apoia a von-tade da filha. Diante da insistência em não dar o presente desejado,a mulher arruma as malas e vai embora. O palhaço, empregado dacasa, é chamado para ajudar a resolver este primeiro conflito. Con-tudo, ele só traz confusão, em um jogo constante entre carregar amala da patroa e atender a ordem negativa do marido. Depois detomar um bofetão da mulher, o palhaço cai e reclama insistentementeseu infortúnio. A mulher abandona a casa.

Sós, em casa, patrão e empregado comentam a atitude da mu-lher, ora condenando-a, ora sendo compreensivos. O palhaço pon-tua cada opinião com casos contados e gestos que enfatizam o mo-mento. Porém, com a alternância das ênfases aos comentários sobrea mulher, o palhaço termina se comprometendo com o patrão.

Depois do quiproquó que se forma a partir das opiniões diversasque se alternam, o marido resolve escrever uma carta à esposa, bus-cando a reconciliação. Desajeitado, o palhaço tenta rabiscar algu-mas palavras, por sua própria conta. O resultado é desastroso. Opatrão assume a escrita, com as interferências do palhaço. O texto

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da carta resulta engraçadíssimo, assim como se torna cômico o vai-vém em torno da remessa da carta.

A mulher retorna à casa. A comédia finaliza com a reconciliaçãodo casal e com a tentativa do palhaço em conquistar a velha. Estápreparado o encontro dos dois mas, no último instante, o palhaçoabraça o velho.

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