cinza revisita ano2#
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EDItorIal
PatroCÍNIo
Thais Oliveira, Cinza Coletivo.
A
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cultura merece seu espaço, nos muros,
nos palcos, nas ruas, nas mídias, nas revistas e
jornais.
Ah se todo mundo soubesse o que acontece des-
se lado, certeza que ficariam encantados, tantas
coisas, tantas iniciativas, temos música, cinema,
teatro, grafite, ateliês, produtores culturais, ótimos
fotógrafos, sarau, é tanta coisa que se for escre-
ver toma essa página toda.
A zona Leste se consolidou como pólo cultural e
vem fortalecendo ainda mais com iniciativas que
vão além de dinheiro, são iniciativas com amor,
dedicação, muito trabalho, inspirações que vem
de dentro, isso mesmo, nossas inspirações vem
daqui, nosso produto é feito para se consumido
aqui, para as pessoas daqui, se poder mostrar
isso para o mundo ótimo, mas só de chegar a al-
guém daqui já estamos felizes.
Tudo que fazemos, estudamos, somos autodida-
tas, procuramos cursos, vamos aprendendo com
as nossas experiências, e não estamos falando só
da Cinza, mas de todos os coletivos que apren-
dem junto, se unem para fazer o melhor, formam
parcerias entre eles e se tornam fortes a ponto de
fazer coisas que muita gente duvida.
Na leitura dessas 80 paginas você vai conhecer
o fruto de muito trabalho, coisas belas que colori-
ram a ZL durante, antes e depois de 2014.
A nossa revista só é colorida por conta dessas
iniciativas e dos coletivos, pessoas, artistas que
fazem da nossa cidade um bom lugar.
Agradecimentos: Artevidadiva, Audiocombo, Arte
e cultura na Kebrada, Pombas Urbanas, Pack,
Ateliê AZU, ALMA, Todyone, Arte 100 Limite,
Lows, Luiz Vidal, Siol, Lais Lamah, Marcelo dos
Santos, Bil, André Mogle, David Sousa, Cris Hard,
Cleber Grauth, Marcos Bacagini, Priscila Florido,
Victor Rodrigues, Alienistas, Éder Menegassi, Ga-
briel Lima e Guilherme Coca.
ACinza Revista tem o patrocínio integral do VAI.
O Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais – VAI, foi criado pela lei 13540 (de autoria do ve-
reador Nabil Bonduki) e regulamentado pelo decreto 43823/2003, com a finalidade de apoiar financei-
ramente, por meio de subsídio, atividades artístico-culturais, principalmente de jovens de baixa renda e
de regiões do Município desprovidas de recursos e equipamentos culturais.
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MatérIas
AZU
A Arte, Além de Abrir portAs, rompe fronteirAs
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fortAleCendo A QUebrAdA
ArtevidádivA
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GAleriA de Arte A CéU Aberto
Arte e CUltUrAnA kebrAdA
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pombAs UrbAnAs
meio Ambiente + CUltUrA, Ô mistUrA boA
34CidAde tirAdentes em Cores 42
nAs rUAs e nos pAlCos “AUdioCombo e diAZZ”
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sEçõEs
QUEM soMos
lAdo C penso loGo esCrevo
CrÔniCAs CinZA polAroide sp
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Frida-se Devagar e SempreBilDesfrutandoGargalha
Pra quando as coisas se perdemNão-Feita nas horas vagasAlienistas - Noemi Rotina(Breve Devaneio para Wolf de Alain
Linha VermolhaA pequena História de Zé NinguémSecret GardensEnvelheço na cidadeUm encontro com o amor
robson luna, Ilustrador, artista 3D e editor de ima-gens, fotografa e escreve na Cinza Revista.Desde pequeno gosta de desenho e quadrinhos, atualmente tenta seguir seu dom aperfeiçoando e trilhando sua carreira profissional no segmento das artes. /robsonluna
rodrigo seixas, nerd e megalomaníaco. Desenhista desde pequeno, aspirante a escritor e comediante frustrado. Photoshopeiro autodidata, diagramador apaixonado e designer por consequência.
/rods.seixas
roberson Alexandre (bi-nho), atualmente cursando técnico em Química, tem como hobbie as práticas de skate, rapel, grafite, cam-ping, entrei no projeto da revista Cinza nesta ultima edição e pretendo manter-
-me nessa mesma trajetória de vida, equilibrando trabalho e lazer.
/binhoknela
thais oliveira, estudante do
último ano de jornalismo, cul-
tura periférica é o seu foco,
ama fotografia, escrever é
intuitivo, editora, repórter,
produtora cultural na área de
comunicação, desde 2012
com Cinza Revista. Tem
muito orgulho de onde mora,
A zona Leste, apaixonada
pela cultura pernambucana
e acredita na evolução do
ser humano através da
cultura e da educação.
/thaisoliveirasp
Onde as ideia são a MilãoMomento MatutinoDeixa o menino brincarEVA Mosaico
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aZU
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Em 1° de janeiro de 2007, entrou em vigor a lei n° 14.223,
também conhecida como lei da cidade limpa, com os
seguintes argumentos: os cidadãos devem viver em ci-
dade que respeite o espaço urbano, o patrimônio histó-
rico e a integridade da arquitetura e das edificações. O
que na realidade essa lei acabou tornando São Paulo
uma cidade sem vida, monocromática, onde os muros
não refletem nada mais, apenas o cinza e o desespero
das pessoas que tentam sobreviver em meio ao caos
urbano e fugir de uma ideia onde não se valoriza a
arte. É justamente com o objetivo de reviver a cidade e
vindo contrário a essa ideia que o ateliê AZU foi criado.
por thais oliveira e robson lunafotos robson luna
aZU
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Imagina uma comu-
nidade com arquitetura peculiar,
escadas por todos os lugares,
ruas apertadas, cenário de um
lugar carente, de gente humilde,
muitas crianças, o lugar onde
pode e muitos tem uma visão
limitada dele, se sobressai dan-
do um verdadeiro tapa na cara
da sociedade que pensa que
dali não pode sair nada de bom,
ao contrário desse pensamen-
to a Vila Santa Inês é um lugar
totalmente colorido, cheio de
vida, de arte, de azulejos, be-
las escadarias, belos mosaicos,
belos quadros, bela por ela
mesmo e pelos que põe a mão
na massa (literalmente) e fazem
junto com a comunidade essa
transformação.
Fundado em 2007, pelo grava-
dor, artesão e desenhista Elcio
Torres, o ateliê AZU tem como
vocação a transformação do
espaço público, sobre tudo, em
favelas. Utilizando a cerâmica
artesanal e dando ênfase a azu-
lejaria portuguesa, o ateliê dá
uma outra identidade pra comu-
nidade de Santa Inês, no bairro
de Ermelino Matarazzo. Todas
as peças de cerâmica são pro-
duzidas no próprio ateliê, de
maneira artesanal, do mesmo
modo que eram produzidas as
peças de cerâmica a mais de
2000 anos atrás, utilizando argila como matéria
prima, que após receber o formato é cozido e só
depois recebe o esmalte, que dá uma coloração
específica à peça. As oficinas funcionam aos sá-
bados e domingos, recebendo alunos das mais
variadas idades, e de maneira totalmente espon-
tânea as pessoas vão criando e repensando os
espaços que receberam essas intervenções ar-
tísticas.
O projeto Degraus da Arte tem como objetivo revi-
talizar mais escadarias na comunidade com uma
ajuda muito especial: a das crianças que moram
ali, além dos colaboradores que ajudam no pro-
jeto.
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A Praça Dona Neusa é um espaço que qualquer
pessoa não deixaria de passar por ela sem apre-
cia-la, primeiramente pelas belas obras que exis-
tem nela, e segundo por que leva o nome de uma
moradora que um dia foi referência naquela vila,
um espaço pequeno porém de encher os olhos de
tanto colorido e beleza dos azulejos.
As oficinas ocorrem somente aos fins de sema-
na, más o espaço está sempre aberto para quem
quiser aprender a arte da cerâmica artesanal, ou
de repente, para quem quiser compartilhar seus
conhecimentos, contribuindo assim, com a revita-
lização dos espaços urbanos.
O ateliê também realiza trabalhos comerciais, po-
rém, o grande viés é causar impacto social nas
comunidades, realizando projetos que possam
mudar a realidade das pessoas que moram nas
proximidades, pensando novos paradigmas e
dando liberdade de criação aos participantes do
projeto.
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Ta esperando o que para pegar seu celular e ver um pouco desse lindo projeto?
PENSOESCREVOESCREVOLOGO
Guardo uma caixacom coisas das mulheres que amei- ou amo(porque quase sempre eu amo)
são anéis, brincos, pentesprendedores de cabelopulseiras, correntespiercings, blusinhasóleos pra banhorolhas, poemas, isqueiroslembranças de viagensóculos escurose mágoas
são todas coisas que elas esquecemou acabam caindo na horase perdendo por aquie eu guardo
tem vez que a caixa enchedaí preciso jogar um pouco fora- é que nem todo dia amo, eu disse
guardo mulheresem coisas que ameie às vezes esqueçotenho cds, livrosvídeos, poemase cheiros no quarto
algumas mulheres que ameime guardam- nem sempre no peito
junto com poemasmúsicas, presentes que deie mágoas
tem vez que sou jogado fora- elas sabem que nem todo dia eu amo
guardo caixaspras mulheres que vou amarcom os mesmos poemascds, as mesmas músicasfilmes sempre por assistire presentes que vamos trocar
elas vão deixar caire esquecerbrincos, anéis, pulseiras, correntesprendedores e cabelosvão esquecer mágoasblusas, óculos escuros, garrafase deixar cheiros, marcasnovos poemase coisas pra buscarque vão se perdere eu vou guardar
[pra quando as coisas se perdem]
victor rodrigues é poeta, escritor, arte-educa-dor e produtor cultural. Uma praga de poeta que insulta. Acha que escreve versos para aumentar o mundo. Vive ambulante e maloqueirista, mes-quiteiro no todos por um. Pra sempre aprender menino.
facebook.com/opoetaqepariu
prA QUAndo As CoisAs se perdem
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PENSOESCREVOESCREVO
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rafo
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PO
LA
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SP
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Educação defasada, moradia precária, saúde ineficiente, esses
são alguns dos problemas existentes nas periferias das grandes
cidades, todavia, são nessas condições que surgem os altruístas,
pessoas que de algum modo, tentam mudar essa realidade. É isso
que o Rapper e Grafiteiro Prodigio vêm tentando fazer no bairro de
Guaianazes, extremo leste de São Paulo. Com poucos recursos e
sem apoio do Governo, uma vez por ano, com auxilio dos times de
várzea, ele organiza um evento onde as crianças da comunidade
têm a oportunidade de mostrar sua criatividade e talento.
FortalECENDo aQUEBRADA
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FortalECENDo aQUEBRADA Prodigio começou sua carreira em 1995, quando colava na estação São Bento, local onde o
movimento HIP HOP ganhou força e começou a ser difundido. Simultaneamente, começou a compor e a
grafitar, integrou os grupos União Negra, H.A.L, (HIP HOP Arte e Loucura) e Bombardeio H2L, participou
de uma coletânea internacional, a Word Wide Colection, recebeu premiações e hoje segue em carreira
solo, está terminando de gravar seu terceiro CD e lançou recentemente seu segundo vídeo clipe, com a
música, Buscar meu Paraíso.
Como no Brasil, é extremamente difícil viver da música, principalmente quando suas letras não vão de
acordo com as exigências do mercado fonográfico, ele teve que montar um alicerce em cima da arte,
fazendo o que sempre gostou de fazer, grafite, então começou a trabalhar
com aero grafia, fazer trabalhos comerciais e passou a produzir suas pró-
prias roupas com silk screen, conseguindo assim prosseguir com seu tra-
balho na música, organizar projetos na comunidade e garantir o sustento
da família, servindo de exemplo às crianças e jovens que não recebem o
incentivo e o apoio que merecem.
por roberson Alexandre fotos thais oliveira
Escuta só que o Prodigio tem pra te dizer.
→
/ /LaDo c
Evandro Siol é Nascido em São Paulo, autodidata em ilustração, cursou Publicidade e Propaganda e trabalha com Design Gráfico.facebook.com/siol - [email protected] - 11 949689450
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fridA-se
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linHA ver-molHA
É só chover que a Barra aFunda. E nem com ordem do Ma-rechal Deodoro ou milagre da Santa Cecília a chuva deixa de cair no quarto da minha República, guardando água suja no meu AnhangaBaú. Mas Sé em Deus que tudo melhora. E molha. Até o peito do pé do Pedro II. Molha também os confinados do Brás-Bresser-Belém. Molha eu e tu. E se Tá-
-tu-a-pé, vai se molhar mais do que quem tá de Carrão. Uma Penha. Vi lá a Matilde, pra ela a chuva traz medo. Pra Dona Guilhermina, Esperança. Ó Patriarca amada, por que faz isso? Logo hoje. Assim meu convidado Artur Alvim logo vai querer voltar. E não vai nem poder ver como era a nossa querida Corinthians-Itaquera. Ô, Seu Metrô, por favor, deixo aqui mais uma reclamação minha. Pois é só chover que o trem todo fica vagão. E eu, na trilha de anfitrião, acho isso o fim da linha.
Gabriel lima é carne, osso, cabelo e texto. Num dia de 1990, por milésimos de segundo, foi a pessoa mais jovem do mundo. Hoje é um redator que expira, inspira e aspira ser escritor.
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GalErIa DE artEA CÉU ABERTO
Obras de arte da mais alta qualidade, expostas a
céu aberto nas paredes da periferia de São Paulo
para o deslumbre dos olhos de quem possa vê-las.
por robson lunafotos arquivo arte 100 limite e Cinza Coletivo
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GalErIa DE artEA CÉU ABERTO
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Muitas vezes passamos sem notar
aquela intervenção que já faz parte do cenário
de Sampa, o grafite que se mistura com os pixos,
as manchas e a sujeira dão o contraste na cida-
de cinza. Na região de São Mateus periferia da
zona leste este contraste toma novos tons, graças
ao empenho do coletivo “Arte 100 Limites” e o
projeto Galeria Céu Aberto, que envolve inúmeros
artistas entre renomes do grafite, o coletivo tem o
apoio do VAI (Valorização de Iniciativas Culturais
da Prefeitura de São Paulo) e Fabricas de Cultu-
ra , chega junto com latas de spray, transporte e
alimentação dos artistas, organizando eventos
mensais que cobrem de grafite vários metros de
muro criando uma verdadeira galeria de arte a
céu aberto que transforma totalmente a paisagem
e proporciona acesso à cultura em um ponto ca-
rente da cidade.
→
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O coletivo Arte 100 Limites é
formado por Fernando Beserra
professor de grafite e Daniel
Latim designer gráfico, ambos
moradores da região.
Trabalhos desenvolvidos:
GALERIA CÉU ABERTO
Com o propósito de fazer a
maior galeria a céu aberto da
Amarica Latina no bairro onde
moram, organizam evento men-
sais trazendo artistas de vários
pontos de São Paulo.
EXPOGRAFITELA
Oferece material para pintura
de telas que são expostas nas
Fabricas de Cultura.
OFICINAS DE GRAFITE
Oficina de grafite na Fábrica de
Cultura Sapopemba.
Saca só no papo reto que os caras do Arte 100 Limite
mandaram.
PENSOESCREVOESCREVOLOGO
éder menegassi, 27 anos. Pai, professor, corin-thiano, maloqueiro e sofredor. Mora na zona leste e mantém o blog otracoisa.blogspot.com
nÃo-feitA nAs HorAs vAGAs
Concebê-lanão me induzao uso do assentocaneta e papel à mãoremuneraçãoà vistamas antes sensibilidade parapercebê-laimaginação paraprojetá-la
Ao quefica entendidoatendê-lanão requermatéria em que imprimi-laem que forjá-laFerro e fogocomo quer o ferreiro
ConcomitanteExecutá-lonão caracterizao exercício laboralnem tampouconegar-se à tarefaindica o empenho promíscuodo poeta
Contudoagora que dirijoenquanto assistoà aulafica o poema insistenteem não ser esquecidomarreta na paredenum domingo amanhecidoaté que eu decidaconcretizá-lo
Apenas para dizer queem caso de fugaem caso de fogoem caso de folgaA poesia é sempre umFazer não-feitonas horas ( ).
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PENSOESCREVOESCREVO POLAROIDE SP MOMENTO
MATUTINO
marcelo santos
“Posso não ser fotógrafo, mas paguei um pau pra esse mo-mento matutino.”
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PoMBasURBANAS
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PoMBasURBANAS
por thais oliveirafotos robson lunac idade Tiradentes ultimo bairro da cidade de São
Paulo, cidade dormitório para muitos, um bairro
que não é diferente de nenhum da periferia, feira,
mercado, muitas crianças, poucas opções cultu-
rais, poucas estimativas de melhoria de vida, para
muitos repetirão apenas a realidade de seus pais,
essa é a visão que todos tem do bairro que vivem
e muitas nem imaginam que a mudança e a trans-
formação acontece por ali.
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O Centro arte em construção localizado na
Cidade Tiradentes mostra que muito diferente do
que muita gente pensa, temos a nossa arte, nossa
transformação e que podemos levar alternativas
de destinos e muitas atrações culturais para a
comunidade da Cidade Tiradentes e região, fazer
teatro, circo na comunidade e para a comunidade,
com artistas do bairro. Porém, isso não aconteceu
da noite para o dia, tudo começou em 89 com o
diretor peruano Lino Rojas iniciou um curso de
teatro com jovens do bairro de São Miguel (zona
leste de São Paulo) e não imaginava nem metade
da proporção que essa atitude tomaria em 2014,
Através do projeto Semear Asas iniciou-se um
processo de formação de atores, pesquisa, sem-
pre voltadas para suas raízes, a periferia. Desse
projeto nasceu o cia de teatro pombas urbanas.
→
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O coletivo passou um longo
processo até conseguir seu
próprio espaço para ensaios
e apresentação, o grupo parti-
cipou da ocupação do Tendal
da lapa e este foi o local onde
ensaiavam e pesquisavam, se
deslocavam todos os dias do
extremo leste de são Paulo para
a lapa, a partir disso o coletivo
resolveu viver apenas de teatro
e retornar as origens em 2004
conseguiram a cessão de um
imóvel localizado na cidade
Tiradentes onde funcionava um
antigo mercado que havia pe-
gado fogo, ou seja, totalmente
deteriorado, pensaram muitas
vezes como fazer teatro na co-
munidade e para a comunidade
naquele espaço, foi como tirar
leite de pedra, mas a volta para
as origens foi satisfatória.
Atualmente o espaço arte em
construção é composto por 4
companhias três de teatro e
uma de circo: são elas: Cia Pa-
lombar (circo), Pombas Urba-
nas (teatro), Filhos da Dita (tea-
tro) e Cia Quatro Ventos (teatro).
Todos eles são autossuficientes
e ajudam na organização, ma-
nutenção, aulas, administração
do espaço, Palombar, Filhos da
Dita e Quatro Ventos nasceram
do espaço arte em construção
e de cursos ministrados no gal-
pão.
O Centro arte em construção
tem estrutura para cursos, en-
saio dos grupos, administração,
biblioteca comunitária e um te-
atro onde acontece os espetá-
culo criados pelas cias, um dos
espetáculos que está em cartaz
hoje é o da cia. Filhos da Dita
(A guerra).
foi como tirar leite de pedra, mas a volta para as origens foi satisfatória.
“
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A cinza Revista fez a entrevista com as qua-
tro companhias que compõe o espaço e a inte-
grante Thabata Leticia dos Filhos da Dita quando
perguntamos como fazer teatro na Cidade Tira-
dentes para as pessoas da Cidade Tiradentes nos
destacou quatro pontos muito importantes e acha-
mos importante destaca-los na matéria:
Contatos:pombasurbanas.org.br/facebook.com/instituto.urbanastel: (11) 2285-5699
→
priviléGio
A Cidade Tiradentes foi construída e conhecida com o objeto da pessoas não vive-
rem aqui e sim apenas dormirem, você sobrevive, ter espaço para ensaiar produzir
e crescer artisticamente no bairro, compartilhamos conhecimento, muitos jovens
não tem essa possibilidade.
Ato polÍtiCo
Com tudo que temos aqui poderíamos de fato sair daqui e fazer teatro em outros
lugares, a decisão nossa de permanecer nesse território e fazer teatro para nós e
para a comunidade.
estilo de vidA
Fazemos teatro dentro do bairro que moramos convivemos e estabelecemos re-
lações e fazemos teatro dentro de um contexto periférico, nadando contra a mar
do que colocado para a gente enquanto jovem na questão de se inserir dentro do
mercado de trabalho e repetir a mesma história da sua famlia e no conseguir vis-
lumbrar alguma coisa melhor para si, realizamos nossas vontades aqui no pombas.
ConstAnte evolUÇÃo
Estamos em constante processo de evolução e reflexão, a responsabilidade e de
fazer a nossa produção e que ela seja de fato boa e represente e que faça sentido
para a comunidade, a contribuição que podemos dar ao bairro, não podemos fazer
algo que seja rasa, tentamos sempre aprofundar a nossa relação com o bairro,
que seja uma coisa verdadeira, a cultura já existe, abrir o leque de possibilidade
além do teatro.
/ /LaDo c
André mogle é arte-educador e grafiteiro da Zona Leste de São Paulo.facebook.com/Andrebracalemogle
↖
devAGAr e sempre
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CIDaDE tIraDENtEs
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CIDaDE tIraDENtEs
Coresem
Crew é quando amigos que gostam da mesma coisa se juntam
para fazer isso juntos, no caso da Low’s Crew eles gostam de
pintar e grafitar.
Essa sintonia acontece em vários lugares do mundo, inclusi-
ve na Cidade Tiradentes, o bairro tem uma cultura muito forte
quando o assunto é Grafite, um dos bairros dessa cidade gi-
gante que é a Tiradentes chamado Barro Branco leva a fama
de Barro Bronx (remetendo ao bairro de Nova Iorque), por seus
grafites, pichos, bombs e outras vertentes desse imenso uni-
verso dessa maravilhosa arte urbana, abrimos nossa edição
com uma das Crews mais conhecidas do bairro e que propa-
gam essa fama de Barro Bronx por São Paulo toda. Confiram:
por thais oliveira e roberson Alexandre
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CINZA: Como vocês começaram e de onde veio
o nome da crew?
LOW`S: A Low`s surgiu em 2010, a princípio
apenas 3 pessoas formavam a crew, hoje ela já
é constituída por 8 integrantes, no começo fazía-
mos apenas Tags de giz e como não possuíamos
uma crew de graffite, adaptamos a crew. Quan-
do ela surgiu em 2010, nós assinávamos Loucura
Crew, L.C, até chegar ao nome Low`s ela passou
por várias modificações e adaptações. (Nojon e
Moluco)
CINZA: Qual o bairro onde há mais trabalhos de
vocês?
LOW,S: O local onde há mais trampos é na Cida-
de Tiradentes, pelo fato de sermos locais da re-
gião, más procuramos levar nossa arte pra vários
outros da cidade, focando sempre na zona leste e
no centro da cidade. (Moluco).
CINZA: Na questão do vandalismo, na opinião da
crew o grafite é discriminado ou já é aceito pela
sociedade?
LOW`S: Na maioria das vezes que saímos pra
pintar aqui no bairro é autorizado, a gente chega,
bate na porta e pedi, então há uma aceitação por
parte dos moradores, más quando saímos pra pin-
tar pra fora, pra fazer o chamado “vandal”, (sem
autorização) encontramos uma certa resistência,
discriminação, na maioria das vezes a gente con-
versa e o pessoal acaba aceitando e até elogian-
do nosso trabalho. (Nojon).
CINZA: vocês já levaram enquadro e sofreram al-
gum tipo de repressão?
LOW`S: Sim, já levamos muito enquadro, na maio-
ria das vezes acaba não dando em nada, quando
há uma ou mais denúncias, ai acabamos sofren-
do as penalidades previstas na lei. Eu (Nojon), já
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tenho dois processos. O mais engraçado, é o ar-
tigo no qual somos enquadrados, no de crime am-
biental e na maioria das vezes, estamos pintando
em terrenos baldios, cheios de lixo, daí chega a
polícia e fala que você está cometendo um crime
ambiental por estar pintando. (Moluco e Nojon).
CINZA: Qual foi o tipo de punição aplicado a
você?
LOW`S: Neste caso eles nos oferecem duas op-
ções, prestar serviços comunitários, ou pagar um
valor equivalente a meio salário mínimo, como na
época eu estava trabalhando, eu optei por pagar
o valor de meio salário. (Nojon).
CINZA: E você Credo, como é a experiência de
poder levar o nome da crew pra outros lugares?
LOW`S: Eu tive a oportunidade de viajar pra outros
lugares, dentro e fora do País e mesmo não indo
pela crew, eu sempre procuro assinar o nome das
crews (Low`s e OTM), que é uma forma de levar
essa amizade que a crew representa, comigo.
(Credo)
CINZA: E como surgiu o nome “ Barro Bronx”, que
vocês vêm assinando nos trampos?
LOW`S: O nome do bairro é Barro Branco II, e nós
sempre achamos legal essa ideia de semelhança
que há nos diferentes bairros periféricos espa-
lhados pelo mundo, então decidimos assimilar os
nomes que já eram um pouco parecidos e como
consideramos o bairro a Méca do grafite na Cida-
de Tiradentes, pelo fato de haver muitos conjuntos
habitacionais e consequentemente muitos muros
ótimos pra grafitar, o nome veio muito a calhar e
acabou que pegou e passou a ser até referência,
mesmo para aqueles que não fazem grafite. (Mo-
luco e Nojon).
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CINZA: É possível viver do Grafite?
LOW`S: A gente vive de grafite, más não vive do
grafite, você pode fazer alguns trabalhos comer-
ciais, dar aula, fazer uns trampos remunerados,
más ganhar dinheiro com o grafite não dá, você
sempre tem que buscar uma outra forma pra se
manter. (Credo).
CINZA: Como vocês vêm o grafite aqui na Cidade
Tiradentes, comparando com outros lugares que
já tenham pintado?
LOW`S: A Cidade Tiradentes tem um nível muito
alto de grafite e como é um bairro muito afasta-
do, é o último bairro da capital paulista, fica difícil
mostrar essa qualidade para o resto do País, más
a galera aqui é muito dedicada e quer mostrar
isso, e acaba mostrando, seja em um evento, ou
em trampos individuais. (Credo).
CINZA: Vocês já notaram alguma influência que
vocês tenham exercido sobre a população?
LOW`S: Sim, é possível no-
tar uma diferença
enorme
na população, a galera que viu a gente pintando e
começou a pintar também, do mesmo modo que
aconteceu com a gente, e legal ver também que o
público feminino vem crescendo, a mulherada se
empenhando em fazer tags e a grafitar os muros
do bairro. (Nojon e Moluco)
CINZA: Quais são os integrantes da Low`s crew
hoje?
LOW`S: hoje a Low`s conta com oito integrantes
que estão ativos no grafite, são eles, Nojon, Mo-
luco, Bil, Credo, ds, Pluck, Levita e Jopa, existem
outros que pertencem a crew más não estão pin-
tando atualmente, se dedicam a outras atividades,
como skate, Rapel, fotografia, pichação e a low`s
é isso, uma união de amigos que fazem o que
gostam de fazer.
39
PENSOESCREVOESCREVOLOGO
Idealizada por daniel sam (violão/guitarra) e Charles de oliveira (voz) em meados de 2008. Formada oficialmente em 2011 quando passa a ser integrada por Abner medeiros (guitarra), kauê Aguirre (baixo) e rodirgo santos (bateria). A principal característica da banda é a diversida-de musical com influencias de rock, mpb, reggae e o samba.
facebook.com/alienistas/info
Alienistas - noemi
Teu olhar numa fotografia deu um nóTeu abraço foi morar tão longe, em MaceióMás deixa, eu vou aíTô morrendo de saudades de você Noemi.Cheiro do teu pão caseiro feito com amorTua luta fez crescer o homem que hoje eu souMãe, avisa ao Zé, que seu filho vai voando assim que ele puder.Tem a tapioca feita com todo carinhoCarinhosamente ela me chama de filhinhoMãe, eu vou aíTô morrendo de saudades de você NoemiOh mãe, avisa ao ZéQue seu filho vai voando assim que ele puderOh mãe, eu vou aí, to morrendo de sauda-des de você NoemiOh mãe, avisa ao Zé, que seu filho vai voan-do assim que ele puderOhhh, mãe….
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PENSOESCREVOESCREVO
Alienistas - noemi
PO
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anos
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foto
gra
fia.
42
Nas rUas E Nos PalCos
AUDIOCOMBO“
43
ORap hoje tem a sua cena na cidade de São Pau-
lo consolidada, elemento fundamental da cultura
Hip Hop é um dos principais carros chefes da cul-
tura periférica, AudioCombo e Diazz fazem parte
deste cenário e há alguns anos trabalham juntos,
AudioCombo (letra e voz), Diazz (base e produ-
ção musical) e o terceiro integrante Punk (enge-
nharia de som) que está produzindo junto com a
dupla o segundo trabalho: Me encontre nas Ruas
parte II no estúdio A Diretoria Recordes.
A Cinza Revista foi conferir de perto essa fábrica
de músicas que funciona incrivelmente bem, con-
firam.
Nas rUas E Nos PalCos
AUDIOCOMBOE DIAZZ”
por thais oliveira e robson lunafotos divulgação AudioCombo e diazz
e Cinza Coletivo
44
O Rap hoje tem a sua cena na cidade de São
Paulo consolidada, elemento fundamental da cul-
tura Hip Hop é um dos principais carros chefes
da cultura periférica, AudioCombo e Diazz fazem
parte deste cenário e há alguns anos trabalham
juntos, AudioCombo (letra e voz), Diazz (base e
produção musical) e o terceiro integrante Punk
(engenharia de som) que está produzindo junto
com a dupla o segundo trabalho: Me encontre nas
Ruas parte II no estúdio A Diretoria Recordes.
A Cinza Revista foi conferir de perto essa fábrica
de músicas que funciona incrivelmente bem, con-
firam.
O EP Me Encontre nas ruas II está em produção
e em breve terá seu lançamento, este trabalho
é continuação do 1º trabalho que tem o mesmo
nome e para os envolvidos na produção é de mui-
ta significância, o mesmo está sendo produzido
totalmente independente no estúdio A Diretoria
Recordes, todo o processo de produção, contará
com participações especiais e grandes nomes do
Rap nacional e internacional como Sean Price MC
americano, DJ RM, Dori de Oliveira, Dan Feitosa,
James Lino, Peso Duplo, Kamau, Pamelosa.
Para os envolvidos existe uma evolução natural
do primeiro disco para o segundo, conseguiram
o que queriam, a produção independente, todo o
disco foi feito dentro do estúdio A Diretoria Recor-
des, o Punk (engenheiro de som ) nesse segundo
projeto está sendo essencial pois a qualidade das
músicas ficou muito boa, fazem tudo de manei-
ra independente, mas, não deixam de investir na
qualidade, inclusive qualidade que é vista nos
palcos, a dupla faz uma apresentação autentica,
além das músicas dentro do show tem espaço
para recitar alguns trechos das letras, além da
qualidade das bases e letras ricas em rimas e
→
45
poesia periférica, a maioria das músicas tem
como tema a periferia, becos e vielas de toda
a nossa São Paulo, politica, condições so-
ciais e cenas do cotidiano de quem mora em
uma megalópole.
Vieram da formação dos Monarkas (grupo de
Rap), depois do primeiro disco resolveram
seguir um outro caminho, dentro da ideia foi
feita a parceria onde saiu o EP Me Encontre
nas Ruas, e outros projetos musicais.
A gravação e produção é feita de forma bem
livre, deixam que as coisas aconteçam natu-
ralmente, muitas vezes durante o processo de
gravação aparecem outras músicas, o único
compromisso que assumem é trabalhar para
o público essa é a única meta, Palco, uma mú-
sica que foi para rua na versão demo, hoje é
uma das produções que todo mundo conhece
e canta e não pode faltar nos shows,
o fato de não seguir uma cartilha de
gravação e produção é o que leva
muitas vezes a excelência do traba-
lho que é divulgado pela internet e
no boca a boca em eventos e shows,
estão sempre marcando presença e
levando seu trabalho para vários
lugares principalmente na periferia..
Um lugar de referência e incentivo
para continuar com o trabalho foi na
fundação casa em Mauá, foi feita
uma apresentação lá e o Rap leva
muito em conta as situações vividas
e essa experiência foi mais de vida
do que musical.
facebook.com/will.audiocombofacebook.com/Kleber.Nicolau.PunkInc
facebook.com/aka.diazz
Confira o vídeo da entrevista
/ /LaDo c
Integrante das Crews: LOWS e OTM, bil tem seus trabalhos baseados em letras de diferentesestéticas clássicas do Graffiti: Tag, Throw-up e Piece.facebook.com/bruno.moraes.16752
↖
bil
47
A peQUenA HistÓriA de Zé ninGUém
Zé Ninguém é considerado radical porque tem um gosto musical va-riado; radical porque não é machista; radical porque sexualmente fa-lando tem uma mente aberta; radical porque abomina qualquer tipo de preconceito; radical porque se considera cético (ou pode se intitular ateu, mas como o termo é carregado de um estigma negativo; cau-sa polêmica, prefere não utilizá-lo); radical porque respeita a todos; radical porque deixa a barba desproporcionalmente grande; radical porque tem uma banda de metal extremo (estilo apreciado por um pú-blico restrito); radical porque respeita qualquer forma de doutrina ou religião, principalmente aquelas representadas por uma minoria (reli-giões de matriz africana: Umbanda, Candomblé, por exemplo); radical por ser a favor do feminismo consciente; radical porque não pretende ter filho, mas sabe que a sociedade irá julgá-lo; radical porque acha o casamento uma instituição falida; radical por ter um gosto “old school” (apreciar objetos e culturas antigas); radical por não ter mais a mesma empolgação com a seleção brasileira de futebol como teve em suas primeiras Copas (1994 e 1998); radical…
Ou seja, Zé Ninguém é radical, mas a sociedade em que vive é normal.
luiz vidal é professor e nas horas vagas baterista da banda Injury
48
artE E CUltUra
49
E
artE E CUltUrakEBRADAnA
Colorido, questionador e de-
safiador, forçar a cor, fazer ela
valer do nosso dia a dia, achar
um motivo a mais para sorrir,
olhar de uma forma diferente
as coisas que estão a nossa
volta, nem sempre uma rua ou
um espaço público precisa ser
sem graça, cinza, sem cor, pre-
cisamos todos os dias ativar as
cores para que a nossa vida
mesmo dura e realista se torne
mais suave e mais inspiradora.
A AleGriA vem AtrAvés dAs Cores
por thais oliveira fotos roberson Alexandre
50
O Arte e cultura na quebrada é um evento
que já está em sua 8º edição, e hoje é referência
em grafite em toda São Paulo, o bairro São Miguel
Paulista todos os anos ganha mais colorido com
os grafites, e não é só isso o evento praticamen-
te toma as ruas do Jardim Maia toda e serve de
palco para músicos, bandas, b-boys, atividades
para as crianças e claro o grafite, só para ter uma
ideia da grandeza do evento foram mais de 200
grafiteiros envolvidos, como carro chefe de tudo
isso. Em entrevista com o coletivo eles explicam
como é realizar um evento dessa grandiosidade
na zona leste e se tornar referência no grafite, in-
clusive muitos consideram o evento como a vira-
da cultural desse elemento tão importante do Hip
Hop, o grafite.
Entrevistados e integrantes do coletivo: Robson_
Bó, Elizeu, Manulo, Chuck, Chorão, Wallace, Elvis
e Louiz
CINZA: Em oito anos de caminhada e evento,
como foi a transformação do coletivo e a conso-
lidação do mesmo:
ARTE E CULTURA NA KEBRADA: Cada ano que
se passou sempre tivemos esse desafio dentro
de fazer o melhor ou de fazer algo diferente em
relação ao Grafiti e a Cultura da Kebrada. Somos
em 8 e cada um pensa diferente, porém, as ideias
sempre se cruzam e dali surge ideias para novas
ideias. A transformação do coletivo é a troca de
experiência a convivência a união que temos.
→
51
52
53
CINZA: Quem são os coletivos envolvidos e como
é a preparação para o evento:
ARTE E CULTURA NA KEBRADA: Coletivo Mar-
ginaliaria, Abayomi Atelie, Intituto Alana, Funda-
ção Tide Setubal, Eletro Tintas, Fatlaces, Casa da
Lapa e Mundo em Foco
Os Coletivos da Kebrada são unidos, um sempre
dá um salve no outro se precisa de algo ou indica
alguém pra algum trabalho, Edital e etc. e a par-
ceria que se formou durante anos e cada ano que
passa surgi novos coletivos e nos unimos.
A preparação para o evento é algo louco, acabou
o de agosto já estamos imaginando o do próximo
ano, todas ideias são anotadas para no início de
janeiro começar lapidar as ideias para o próximo
evento. Se não nos enganamos fomos o único
evento de Grafiti a colocar uma escola de samba
no meio da rua para fazer um desfile. Fala se não
é algo louco e inovador!
CINZA: Como é feita a escolha dos artistas que
irão grafitar no dia do evento:
ARTE E CULTURA NA KEBRADA: Temos os nos-
sos convidados que participam desde os primei-
ros eventos e conseguimos mais espaços extras
para o pessoal que for vir no dia do evento, este
ano de 2014 gastamos mais de 500 litros de látex
para pintarmos os muros e a passarela da CPTM.
CINZA: Como é para vocês se tornar referência
em arte urbana, muitos consideram o evento uma
virada cultural do grafite:
ARTE E CULTURA NA KEBRADA: No início não
tínhamos essa preocupação e nem pensávamos
que iríamos chegar onde estamos. Hoje é uma
alegria só de ver que quase todos nossos ami-
gos estão no evento curtindo, pintando, bebendo,
conversando, se divertindo com sua família. Nada
mais justo que fazer um mega evento para se
comemorar e fazer com que o último dia do mês
de agosto se torne uma data especial para todos.
Quase se torna uma virada cultural do grafiti, já
tivemos a ideia de fazer o evento no Sábado e Do-
mingo 2 dias de eventos. Mas isso esta no papel
ainda quem sabe um dia não fazemos nos 2 dias
com diversas atrações!
CINZA: Além do grafite quais outras linguagens
que o coletivo trabalha:
ARTE E CULTURA NA KEBRADA: Musica, Foto-
grafias, Vídeos e o Cinema na Kebrada.
54
CINZA: Rola uma preservação das artes que fo-
ram feitas no dia do evento:
ARTE E CULTURA NA KEBRADA: Sim durante 1
ano as obras ficam expostas gratuitamente, a e
no mês de Agosto vamos iniciando o trabalho de
renovação e iniciação do evento.
CINZA: Quais são os projetos paralelos ao evento
para 2014:
ARTE E CULTURA NA KEBRADA: Esse ano inicia-
mos o cine Kebrada em outubro e novembro, onde
fazemos um mini evento com música, grafiti e no
final tem apresentação de documentários e filmes.
Esta pra sair da gaveta uma oficina de DJ e es-
tamos iniciando novo projeto com fotografias e
vídeos.
55
Contatos:arteculturanakebrada.comfacebook.com/Arteeculturanakebradayoutube.com/user/arteculturanakebrada Email: [email protected]
PENSOESCREVOESCREVOLOGO
Se a cada rua nova que eu entrar,Um dejá vú for previsto.E eu sem ter visto viajarPara o lado de lá,Dá tua retina e brotarDurante um sonho teu,E a sorte nos encontrarEm alguma esquina.Se a cada lua nova que cresceu,Um dejá vú foi previstoVisto o verso que a canção teceu,Trançando oque é meu,E a rotina que a gente tem pra levar,Mesmo se alguém prevê azar…Serei seu patuá, você a minha figa.
edu sereno é compositor, músico e poeta da zona leste de São Paulo.Rotina é a letra de uma música, disponível no endereço
eduardosereno.tnb.art.br/facebook.com/dusereno
rotinA
57
PENSOESCREVOESCREVO POLAROIDE SP EVA
Cleber Grauth
fotografo.
58
OColetivo Alma Aliança Libertária Meio Ambiente
(ALMA Ambiental), tem no seu conjunto 14 pes-
soas que dividem funções artísticas, produção
e manutenção, traz uma proposta inovadora no
meio cultural, aliam teatro, arte, cultura e meio
ambiente em suas ações e desde 2003 mobiliza
ações essa temática em escolas, cidades do in-
terior e em seu próprio bairro Conjunto José Bo-
nifácio Itaquera.
por thais oliveira fotos robson luna
MEIo aMBIENtE
Ô MISTURA BOACUltUra,
59
Ô MISTURA BOACUltUra,
O coletivo tem sua sede que foi conquistada com muito esforço,
trazem alguns questionamento e até ensinam crianças, jovens e
adultos através de peças de teatro, documentários e da arte os
impactos causados pelo homem no meio ambiente , estudam os
rios que fazem parte do nosso estado e buscam resgatar a história
dos mesmos, como é o caso do projeto Rito de Rios e Ruas que per-
correu nove cidades seguindo o Rio Tietê, ouvindo as histórias dos
moradores e resgatando a história do das cabeceiras do Rio que ao
longo do tempo se modificou foi poluído pela população, alguns pe-
daços do rio nem existem mais tudo isso foi registrado e resgatado
nesse documentário.
60
O Coletivo tem no seu histórico a peças
de teatros desenvolvidas e produzida pelo cole-
tivos, passeios fotográficos pelo bairro onde mo-
ram descobrindo assim uma outras face da Cohab
II, intervenções, sua sede é um ponto de cultura
que sempre recebe atrações, sarau, peças de ou-
tros coletivos.
Atualmente estão em turnê com o Espetáculo
(Des)água, que narra a vida de um rio e suas
águas cristalinas que atendia maravilhosamente
bem uma comunidade ribeirinha, quando de re-
pente chega uma fábrica e o poluem e tiram pro-
veito de todos os recurso daquele imenso rio, é
uma história contestadora e questionadora, nos
faz repensar a forma como tratamos os nosso re-
curso naturais, o espetáculo circulou por muitas
cidades de todo o estado de São Paulo, o centro
da cidade serviu de palco também e agora estão
em temporada nas escolas da zona leste, apre-
sentado para os alunos.
→
61
O ALMA fala um trabalho en-
riquecedor para dois braços
importantíssimos a cultura e a
conscientização ambiental, o
resgate de nossas raízes, tanto
rios soterrados, tantos rios po-
luídos e não damos a mínima
importância.
E olha que água é um proble-
ma social, saneamento básico,
poluição e até mesmo falta de
água em muitas regiões.
/ /LaDo c
lais da lamaArte educadora, Grafiteira, trabalha também com Fotografia, customizações, pinturas em tecidos, telas, madeiras, graffiti, street art.facebook.com/laisdalama
↖
desfrUtAndo
63
seCret GArdens (JArdins seCreto)
Estou mesmo em um país subdesenvolvido?
Pensava ao andar pelas ruas do Jardins, todas
arborizadas, pássaros, pessoas elegantes, lojas
com nomes em inglês. Um café com nome da ci-
dade luz chama sua atenção. Para por instantes
na frente, pessoas conversando, sorrindo, pare-
ce aconchegante. Gostaria de entrar, mas queria
uma companhia.
Lembra de outros momentos, saí fora do ar por al-
guns minutos. De repente é surpreendido: alguém
toca seu braço. O homem fala alguma coisa, ele
não entende bem, fala muito pouco de português.
O homem faz o gesto universal de cumprimento.
De imediato estica a mão e o cumprimenta, se
olham nos olhos. Mas rapidamente um segurança
chega empurrando o homem para lá e explica para
o “gringo”: aquele é um “vagabundo da rua”, um
“homeless”. Ele fica sem entender, o segurança diz
que aquele homem não merece sua atenção, pois
é um indigente, aquele lugar não é para ele.
O homem tenta argumentar “só queria ajudar, não
estava pedindo dinheiro”. O segurança manda o
homem “vazar” dali. O “gringo” fica confuso. Esta-
va há tantos dias na cidade, nunca havia sentido
alguém com a real intenção de ajudá-lo, sem es-
perar nada em troca.
Saí andando atrás do homem e o convida para to-
mar um café. Pensou que ele seria uma boa com-
panhia para um café no charmoso local. Mas na
porta são barrados por uma moça que determina:
“ele não pode”. O “gringo” olha seus reflexos no
vidro, e não vê algo que os diferencie, pelo contrá-
rio, estão vestidos de forma bem parecida. Tenta
argumentar, mas o homem o puxa pelo braço e
aponta para uma lanchonete no outro lado da rua.
Eles entram e o homem pede dois cafés. Enquan-
to assopra o café, diz para o “gringo”: “don’t worry,
have many people here yet underdeveloped”(“Sem
problemas, aqui ainda temos muitas pessoas sub-
desenvolvidas”).
manu dias,observando a cidade e contando
suas histórias.
64
a artE, aléMDE aBrIr Portas,
ROMPE FRONTEIRASa artE, aléM
DE aBrIr Portas,
65
a artE, aléMDE aBrIr Portas,
ROMPE FRONTEIRAS
Viver a arte, sentir-se parte do mundo, a sensação
de liberdade a cada risco, influenciar gerações,
poder conhecer outros lugares, outras pessoas,
outras culturas, talvez seja essa a maior recom-
pensa de um artista, talvez seja isto que torne tão
gratificante a vida de um grafiteiro.
por roberson Alexandrefotos arquivo Cinza e internet
a artE, aléM DE aBrIr Portas,
66
Essas foram algu-
mas das experiências vividas
pelo grafiteiro e professor de
grafite Patrick Toledo o PACK,
para ele o grafite é muito mais
que sair na rua e fazer uma
pintura nos muros da cidade,
grafite é um estilo de vida, uma
forma de repensar os espaços
urbanos, de interagir com a co-
munidade, é criar um método
seu, é vivenciar isso na rua e le-
var através da ilegalidade, suas
técnicas, compartilhando com
a população esse modo de ver
o mundo.
Muitos tipos de arte, como (po-
esia, literatura, dança), têm o
poder de abrir novos horizontes,
más o grafite talvez seja o que
mais se aproxima da linguagem
da periferia, assim como outros
elementos do HIP HOP já foram
próximos, más acabaram per-
dendo espaço com o passar do
tempo. E poder levar toda essa
experiência pra dentro de uma
sala de aula é magnifico, embo-
ra uma boa parte do processo
pedagógico seja livre, é neces-
sário trazer um pouco da histo-
ria, da convivência, da relação
que há no grafite, seja dentro da sala de aula, ou
na rua, onde é, e sempre será a melhor escola
de grafite.
Com o passar do tempo o grafite venceu a resis-
tência da sociedade, isso ajuda muito na hora de
fazer um trampo de maneira ilegal, ou seja, sem
autorização, antigamente existia um certo tipo de
preconceito, uma descriminação com o artista de
rua, e esse preconceito se refletia muito no grafi-
teiro, hoje ainda há um pouco desse preconcei-
to, más é muito menor, hoje o grafiteiro já é visto
como um artista, claro que os meios de comunica-
ção ajudaram a disseminar essa ideia, através de
comerciais, programas de televisão, entre outros,
Tudo isso contribuiu para que o grafite, a street
arte, fosse visto como algo benéfico para a socie-
dade, como uma forma de cultura.
Poder conhecer outros lugares, outras culturas
é algo totalmente gratificante, más quando você
consegue conciliar isso com seu hobbie, acaba
sendo muito mais, foi extamente isso que aconte-
→
67
ceu com Pack, que juntamente com sua esposa e
seu amigo e também grafiteiro Eduardo (Credo),
saiu em tour por alguns países da America do Sul,
trocando arte, por moradia, alimentação e muitas
experiências.
Hoje, em parceria com o Grafiteiro Eder Sandro
(Sow), foi montada a Black Book, uma loja voltada
para o grafite, onde artistas com pouco destaque
no cenário, pode estar expondo seus trabalhos,
onde pode-se encontrar materiais com o preço
mais acessível, além de ser também, um local
para se aprender a grafitar, já que ocorrem ofi-
cinas de grafite, as quartas feiras, das 19:00 as
21:00 hrs e de sábado das 09:00 as 12:00 hrs.
Quem quiser conhecer a loja, fica na Av: Caititu
618 itaquera, é só aparecer e conferir de perto os
trabalhos que estão em exposição, os materiais
que estão a venda, ou se desejar, fazer a matricu-
la e começar as aulas de grafite.
PENSOESCREVOESCREVOLOGO
Interior – exteriorem fluxo continuoembebido em histeriaesta tudo embebidoem histeria ao redor.
ao redor do excessoao redor da guerraao redor do consumo
!liquidações são como guerras!
quando disseram ao humanoque era homem com H maiúsculoe todo ser tornou-se O Humano.
e assim ganhou armase assim ganhou armas
assim perdeu pelosassim perdeu pelos
assim ganhou bandeiras
(Breve devaneio paraWolf de Alain Platel)
-por mim mesma-
florido é Paulista, uma artista não apenas visual, mas do corpo e das palavras – reside atualmente em Porto Alegre, onde intensificou sua pesquisa em dança através do Grupo Experimental da cidade. Para ela não há arte sem experimentos, sem fusão de linguagens. Sua produção amplia a cada nova experiência e sua expressão ocupa papéis, telas, muros, e a rua através da intervenção performática que seu corpo pode poetizar, ou não. E, fragmentados os pensamentos após assistir e vivenciar a obra Wolf de Alain Platel, de dança contem-porânea, surge neste poema o devaneio de suas sensações.
facebook.com/patrick.toledo.54
(breve devAneio pArA Wolf de AlAin plAtel)
69
PENSOESCREVOESCREVO
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ço. M
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ador
da
foto
que
um
foto
gra
fo!
70
artEVIDÁDIVaVIDA
71
artEVIDÁDIVa
Ouvir música é muito bom, parar para observar
os sons que estão a sua volta e aprecia-los
entendendo que essa é a nossa voz, que o
que estão querendo nos mostrar é a nossa
realidade, tudo isso vai além de produção
musical, é o nosso canto querendo se fazer
mais presente, não fazendo o papel de vítima
e sim de causadores de inquietação, que com
sua arte quer mais que cantar e se apresen-
tar, quer fazer história e mudar o meio em que
vivemos.
por thais oliveirafotos robson luna
VIDA
72
Através de muita força de vontade e da
ajuda do programa VAI (Valorização de Iniciativas
culturais da prefeitura de São Paulo), lançaram a
primeira coletânea que foi produzida no estúdio
João de Barro (Ermelino Matarazzo), foi a primeira
experiência com estúdio de muitos artistas pre-
sentes, esse primeiro trabalho do coletivo contou
com a participação da Banda Punho, Soul Rosa,
Titã, Feva, Jaharmonia, Submist e muitos outros,
com o trabalho em mãos surgiu a necessidade
de produzir um evento para que esses artistas
pudessem apresentar seus trabalhos foi a partir
disso que nasceu o evento Ensaio Geral e que até
hoje tem seu espaço garantido na programação
do Artevidádiva.
Muitas pessoas que hoje compõe o Artevidádiva
vieram dessas gravações e hoje permanecem
fortalecendo nas atividades, a ideia das coletâ-
neas é enfatizar a Zona Leste de fato e consolida-
-la como um polo forte na cultura de São Paulo.
O Artevidádiva hoje tem produções como o CD
da Banda Punho, Jaharmonia, Artevidádiva Vol. I
e Vol. II e Submist que será lan-
çado este ano, além de continu-
ar perpetuando o grafite afinal
tudo nasceu a partir dele, todos
os anos no mês de dezembro
acontece o evento Grafitando a
Favela no Jardim Helena, onde
o Mauro Muro teve a ideia ini-
cial e fortaleceram com o som,
o NEV (Novo Estilo de Vida)
que está cerca de 10 anos em
atividade vem com a proposta
de pintar na região e para cele-
brar o grafite e amizade, desse
evento aconteceu um resgate
muito importante para o Arte-
vidádiva, um adolescente cha-
mado Igor que mora na comuni-
dade que foi muito proativo em
ajudar o coletivo no evento hoje
faz parte e ajuda nas funções
do Artevidádiva.
“→
Saca só os som dos caras
a ideia das coletâneas é
enfatizar a Zona Leste de
fato e consolida-la como um
polo forte na cultura de São
Paulo.
73
74
A Jahouse é o estúdio que está em processo de
construção, idealizado pelo coletivo, Dão que é
integrante da Banda Jaharmonia desenvolve tra-
balhos com marcenaria e está na linha de frente
na realização desse projeto, o estúdio é feito todo
de madeira, suas instalações contam com acús-
tica adequada para gravação, além de espaço
para produção e realização de pequenos eventos,
um deles é o Ensaio Geral, todos estão focados
na construção da Jahouse que já está perto de
sua finalização, Dão diz que para ele realizar e
pensar nesse projeto teve uma bela inspiração de
Jah, antes da Jahouse o espaço já era utilizado
para gravação da Banda Jaharmonia que já tem
sua trajetória 5 anos e seu último CD foi produzido
pelo Artevidádiva.
Além das coletâneas, Ensaio Geral e NEV, o Arte-
vidádiva compõe uma rede de coletivos da Zona
Leste que é composto por:
Abayomi Ateliê, Marginaliaria,
Mundo em Foco, Arte e Cultura
na Quebrada, que movimenta
a cultura na Zona leste em vá-
rios segmentos, desde artes
cênicas até desfiles de roupas
customizadas.
Esse ano o Artevidádiva irá
produzir o Artevidádiva convi-
da, Submist, Jaharmonia e um
Vinil que será uma coletânea
dos três trabalhos que estão
gravando.
JAHOUSE
Saca só o papo dos caras.
75
envelHeÇo nA CidAde (Com CliCHÊ e tUdo)
Muitos falam da crise dos 30; do impacto do tempo sobre nosso corpo que fica mais em destaque; do período maior para descansarmos…E mesmo assim, acordar com sono, das ressacas que duram um dia inteiro para serem curadas e blá, blá, blá. Sei que as coisas não funcionam da mesma forma do que quando tinha vinte e poucos anos, mas vou encarar isso como o fim do mundo¿ Tenho que entrar em desespero por conta dessas mudanças¿ Isso pode acontecer em todas as fases em que poderemos passar em nossas vidas, mas me sinto na melhor fase até o momento.
Posso não ter a mesma pele viçosa de quando era mais jovem, mas tenho as marcas do tempo que já vivi, das experiências que adquiri; posso não ter mais o mesmo cabelo de antes (aliás, boa parte está caindo, herança genética de meu pai, como dizem algumas pes-quisas), mas enxergo uma beleza que jamais imaginei ver quando era mais novo; posso não ter aquele corpinho magrinho e o mesmo fôlego de antes; mas agora tenho a sabedoria pra
“gastar” minha energia apenas com coisas verdadeiramente importantes…
Daí eu pergunto: temos mesmo que passar por crises de idade, crises e mais crises para jus-tificarmos nossas existências neste mundo¿ Podemos fazer um paralelo de nosso envelheci-mento como de uma cidade (citarei como exemplo a cidade em que eu vivo e, apesar de todos os problemas, é linda por si só: São Paulo). Da mesma forma que a nossa cidade já fora “antiga” e ainda mantêm muitos desses traços em sua arquitetura, o que preserva sua história e a de quem vive aqui. Ela também se moderniza, ganha ares atuais, como toda a tecnologia disponível, isso a deixa mais bonita. Nós também passamos por esse “upgrade”, mudamos, reciclamo-nos… Ou seja: envelhecemos na cidade (e com a cidade).
luiz vidal é professor e nas horas vagas baterista da banda Injury
/ /LaDo c
robson luna,facebook.com/robinho.luna
↖
GArGAlHA
77
Um enContro Com o Amor
Certo dia conheci Amor. Um sujeitinho pacato chegou puxando conversa, disse que era super conhe-cido da vizinhança. Uns te chamavam de “mô”, outros de “Love”, eu preferi ser formal (já que estava conhecendo-o naquele momento).
Amor falava da vida de uma forma apaixonante, com um otimismo nunca visto antes por minha pessoa, das várias formas como ele se manifestava. Mas sempre que eu queria prolongar o assunto, saber mais sobre a eloquência de Amor, ele precisava se ausentar. Era muito requisitado pelos vizinhos. Um casal chamava-o: “Vem aqui amor, tenho uma surpresinha pra você!”, logo depois outro casal: “Que saudades de você, Amor…” E assim continuavam as demonstrações de carinho.
A fama de Amor era tanta que chegava a incomodar, pois todos o tratavam da forma mais gentil possível, em todos os lugares via referência sobre ele; tinha até uma data especial, onde em todo o comércio você via algo em referência a ele. Eu fiquei até meio cético com Amor (aliás, sinto que sou uma pessoa muito chata, questiono tudo e todos).
Descrente desse tal Amor resolvi curtir a vida. Aproveitei de todas as formas: conheci muitas realidades, muitas loucuras, mas sempre que pensava no Amor e na sua forma de ser, voltava para casa e me sentia como um rato acuado em uma casa que habitara por muito tempo, mas que há pouco tinha sido desco-berto pelos donos da mesma, sendo encurralado por todos os cantos. A sociedade sabe cobrar quando você é descrente de Amor.
Até que um dia por acaso (bem por acaso mesmo), reencontrei Amor meio tristonho em uma esquina. Não sei dizer o porquê, mas quando o vi, senti uma alegria tão imensa, como se tivesse encontrado um amigo de muito tempo, sentia como se ele fosse a esperança que eu tanto procurava, ouvia “passari-nhos cantando alegremente”, como se fossem uma orquestra, de tão afinados que estavam. Comecei a conversar com Amor. Ele disse que estava meio “pra baixo”, pois um dos vários casais em que era seu confidente-mor, tinha se separado. Perguntei o que tinha acontecido com este casal, já que Amor era tão prestativo, paciente, compreensivo. Então me disse: “Sabe, meu querido, sempre ajudo esses casais. Fico tão feliz quando eles estão juntos, curtindo sua vida a dois, mas empecilhos surgem na vida de todos, e quando isso acontece, devemos nos ‘policiar’ para que a harmonia não desapareça”.
Enquanto refletia sobre o que acabara de dizer, Amor complementou: “Outra coisa: as pessoas acredi-tam em mim como um sentimento romântico, pois elas depositam tantas expectativas no próximo que se este comete um erro (todos somos passíveis de erros), dizem ter sofrido por mim, põem a culpa no outro…”
Após ter refletido mais uma vez com o que Amor tinha me dito, tive um sobressalto de consciência. Con-firmei aquilo que já havia percebido: as pessoas falam de Amor apenas da boca pra fora.
luiz vidal é professor e nas horas vagas baterista da banda Injury
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