ciência e tecnologia

3
Leitura: CUPANI, A. Filosofia da Ciência. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2009. Cap. 6 “Ciência básica, ciência aplicada, tecnologia” O autor inicia por fazer uma distinção entre o que é ciência pura e o que é ciência aplicada. A primeira, caraterizada pela valorização do conhecimento pelo conhecimento, ainda que chegue a ter aplicação o não. A segunda, enfocada na procura de saberes úteis a diversos interesses. Adicionalmente, o autor aclara que a tecnologia se vale do saber científico para alcançar objetivos práticos. Esta é uma distinção cognitiva necessária, mas na realidade o saber científico e a produção tecnológica estão tão ligados que, frequentemente, os limites não ficam nítidos. Porém, pode-se comprovar a funcionalidade de um saber cientifico pelo teste de um artefato, mas não é possível procurar a verdade científica por via da produção tecnológica. Segundo Bunge, a curiosidade é o princípio do saber científico, e a tendência a se interessar em assuntos que vão além da própria sobrevivência, é uma capacidade especificamente humana. Outros filósofos, como Heidegger e Merleau-Ponty, destacaram que a tecnologia é um jeito de situar-se no mundo. Por sua parte, Feenberg destaca as lutas de poder (particularmente políticas) na produção tecnológica. 1

Upload: ivonatalia

Post on 13-Dec-2015

212 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Resenha sobre a relação entre ciência e tecnologia, baseada na leitura do filósofo Alberto Cupani.

TRANSCRIPT

Page 1: Ciência e Tecnologia

Leitura: CUPANI, A. Filosofia da Ciência. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2009. Cap. 6 “Ciência básica, ciência aplicada, tecnologia”

O autor inicia por fazer uma distinção entre o que é ciência pura e o que

é ciência aplicada. A primeira, caraterizada pela valorização do

conhecimento pelo conhecimento, ainda que chegue a ter aplicação o

não. A segunda, enfocada na procura de saberes úteis a diversos

interesses.

Adicionalmente, o autor aclara que a tecnologia se vale do saber

científico para alcançar objetivos práticos. Esta é uma distinção

cognitiva necessária, mas na realidade o saber científico e a produção

tecnológica estão tão ligados que, frequentemente, os limites não ficam

nítidos.

Porém, pode-se comprovar a funcionalidade de um saber cientifico pelo

teste de um artefato, mas não é possível procurar a verdade científica

por via da produção tecnológica.

Segundo Bunge, a curiosidade é o princípio do saber científico, e a

tendência a se interessar em assuntos que vão além da própria

sobrevivência, é uma capacidade especificamente humana.

Outros filósofos, como Heidegger e Merleau-Ponty, destacaram que a

tecnologia é um jeito de situar-se no mundo. Por sua parte, Feenberg

destaca as lutas de poder (particularmente políticas) na produção

tecnológica.

Cupani releva três aspectos da tecnologia com relação à ciência:

1. “A tecnologia é um modo específico de conhecimento (...) A diferença da ciência, endereçada a identificar leis que explicam os fenômenos, a tecnologia se baseia em regras para agir eficientemente. ” (Cupani, 2009: 113).

2. “Os valores cognitivos e os valores sociais encontram-se muito mais intervinculados na tecnologia do que na ciência” (ibid.)

1

Page 2: Ciência e Tecnologia

1. “Na medida em que ela (a tecnologia) se converteu em algo que perpassa a sociedade toda e se expande constantemente, acaba dando a impressão de constituir uma entidade com vida própria. ” (ibid.)

2.Neste apartado, Cupani conclui que a suposta autonomia da tecnologia é

rebatida por pensadores que demostram que a inovação tecnológica é

fruto de escolhas sociais e políticas.

No seguinte apartado, o autor ocupa-se em explicar a questão da

“tecnociência” como uma realidade complexa que abrange um processo

de adaptação entre a pesquisa científica e os avanços tecnológicos.

Em seguida, o autor apresenta o debate axiológico sobre os interesses

políticos e económicos que regem a maior parte da produção científico-

tecnológica e conclui que existe uma mudança histórica na

racionalidade científica, pois o interesse já no é unicamente acrescentar

o conhecimento, mas as decisões sobre o que pesquisar parece estar

cada vez mais ao serviço dos interesses militares, industriais e, enfim,

de dominação de uns grupos sociais sobre outros.

Algumas questões para a reflexão:

Parece que a pretendida autonomia da tecnologia nos submete a uma

condição na qual a mudança da natureza por conta da intervenção

humana é imparável, mas, desde uma postura axiológica, tal vez só a

mediação de movimentos sociais logre que continuemos tendo uma

base compartida de valores, que nos permita conviver no meio da pugna

de interesses, especialmente económicos e políticos.

2

Page 3: Ciência e Tecnologia

3