ciencia e progresso francis bacon
TRANSCRIPT
-
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA
NCLEO DE PS-GRADUAO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
CINCIA E PROGRESSO EM FRANCIS BACON
ANA LCIA OLIVEIRA FILIPIN
ERONIDES SOARES BRAVO FILHO
HERALDO BISPO DOS SANTOS
RODRIGUS OLIVEIRA FEITOSA
ORIENTADORES: PROF. D. Sc. ANTNIO CARLOS DOS SANTOS
PROF. D. Sc. EVALDO BECKER
SO CRISTOVO - SE
2013
-
ANA LCIA OLIVEIRA FILIPIN
ERONIDES SOARES BRAVO FILHO
HERALDO BISPO DOS SANTOS
RODRIGUS OLIVEIRA FEITOSA
CINCIA E PROGRESSO EM FRANCIS BACON
Trabalho apresentado como requisito parcial
para obteno da aprovao na disciplina
Lgica e Crtica da Investigao pelo Programa
de Ps-Graduao em Desenvolvimento e Meio
Ambiente da Universidade Federal de Sergipe.
ORIENTADORES: PROF. D. Sc. ANTNIO CARLOS DOS SANTOS
PROF. D. Sc. EVALDO BECKER
SO CRISTOVO - SE
2013
-
SUMRIO
1 INTRODUO ............................................................................................................. 3
2 O PROGRESSO DO CONHECIMENTO ................................................................... 4
3 REFUTAO DA CINCIA DA POCA .................................................................. 9
4 BASES DA NOVA CINCIA ..................................................................................... 13
5 O MTODO PROPOSTO .......................................................................................... 17
6 CONSIDERAES FINAIS ...................................................................................... 20
REFERNCIAS .......................................................................................................... 21
-
3
1 INTRODUO
O presente trabalho vem abordar a reformulao da cincia por Francis Bacon (1561-
1626), marco crucial na fundao da cincia moderna, para o qual, esta deveria permitir ao
homem dominar a natureza a fim de converter o conhecimento em algo til e proveitoso para
a vida humana. Que para isso, seria necessrio dotar a mente do homem de um instrumento
facilitador nesse processo o mtodo.
Nascido em Londres no sculo XVI, foi poltico, galgando importantes postos na
monarquia britnica durante o reinado de Jaime I, e foi tambm filsofo e ensasta. Publicou
obras jurdicas, literrias e filosficas, sendo esse ltimo ramo o que mais marcou seu legado.
Dentre suas obras filosficas, as que mais se destacaram foram a Instauratio Magna
Scientiarum e o Novum Organum, nesta ltima, Bacon apresenta e descreve seu mtodo
cientfico que viria a marcar a transio entre a cincia antiga e a moderna.
Para entendermos o contexto desta transio faz-se necessrio citarmos alguns
pensadores que contriburam de forma significativa para essa progresso. A comear por
Aristteles (384-322 a.C.) que deu os primeiros passos para implementao das cincias,
atravs do pensamento dedutivo, baseado apenas na dialtica para a comprovao da verdade.
E atravs de Galileu Galilei (1564-1642) as cincias comeam a ganha um carter
sistematizado, pois o mesmo passa a utilizar a experimentao, colaborando assim, para a
criao de um novo mtodo o experimental.
O sculo XVII, contemporneo de Francis Bacon, Galileu Galilei e Ren Descartes,
foi fortemente marcado pela teologia, que era a fora dominante, permeada na vida, nas
atitudes e na cultura do mundo ocidental. No campo natural, o conhecimento possua carter
meramente contemplativo, sem necessariamente possuir utilidade ou valor. O que se chamava
filosofia natural era baseado na teologia fundamentada pelo pensamento filosfico
aristotlico, doutrina denominada escolstica. Rossi (1992) descreve que Bacon cultivada
verdadeira averso filosofia de Aristteles, por consider-la adequada apenas s disputas e
polmicas, porm vazia de obras teis para a vida do homem.
Nos captulos que seguem, vamos buscar conhecer a essncia de duas importantes
obras de Francis Bacon, o Progresso do Conhecimento e o Novum Organum. E nos captulos
seguintes tentaremos capturar sua contribuio para as bases da nova cincia e seu mtodo
proposto. E por fim, levantaremos algumas consideraes a respeito deste filsofo.
-
4
2 O PROGRESSO DO CONHECIMENTO
O Progresso do Conhecimento (BACON, 2007), uma obra de Francis Bacon que o
inicia no ramo da Filosofia, nesta obra o filsofo se ocupa em mencionar os principais
entraves existentes para a o desenvolvimento de uma cincia plena, a defesa implacvel da
importncia do conhecimento pautada em mtodos e no somente em teorias, por isso o
Filsofo considerado como um percussor na sistematizao do conhecimento.
Neste livro, ele assevera que os fatores que contribuem para a busca do conhecimento
so essencialmente a excelncia do conhecimento e do saber, ou seja, um saber substancial
cujo mrito se reflita na sua propagao onde as aes e obras sejam colocadas em prtica.
Outro aspecto abordado a questo do conhecimento estar no fato de que a sua busca deve
ocorrer com determinada cautela, e que h de se empregar certa limitao para que essa sede
do saber no coloque em risco o prprio homem, ora como cientista, ora como beneficirio
das descobertas cientficas.
Para a construo desse conhecimento, Bacon questiona a ideia de uma divindade
detentora de todo o conhecimento e que os impe sobre formas de mandamentos. Ao retratar
a advertncia de So Paulo, que declarou no nos deixemos corromper pela v filosofia
(BACON, 2007, p. 20), Bacon afirma que o homem deve se distanciar do conhecimento
orgulhoso do bem e do mal, com uma inteno no homem, de dar-se uma lei a si mesmo e no
mais depender dos mandamentos de Deus.
A negao dos mandamentos divinos acaba gerando uma rejeio pela filosofia que na
viso do Filsofo representa limitaes e barreiras ao conhecimento humano, que ele
classifica como trs: a primeira a de que o homem no imortal, portanto a felicidade no
deve ser o motivo de deslumbramento a ponto de se esquecer dessa condio; a segunda de
que o conhecimento deve nos proporcionar repouso e contentamento e no inquietude ou
insatisfao (BACON, 2007, p. 22) e a terceira de que devemos ser menos presunosos ao
ponto de que apenas com a contemplao da natureza alcancemos os mistrios de divinos.
E ao comentar essas limitaes o autor adverte que o saber ocasiona naturalmente uma
mudana de percepo e comportamento humano, ocasionando uma quebra de paradigma, no
que diz respeito a algumas posturas, entretanto apresenta tais mudanas de forma muito
positivas com assim veremos: [...] amolece o animo dos homens e os tornam mais ineptos
para a honra e o exerccio das armas [...] danifica e perverte os nimos dos homens para os
-
5
assuntos de governo e de poltica, tornando-os demasiado curiosos e irresolutos pela
variedade de leituras [...] (BACON, 2007, p. 25).
Ainda rebatendo as crticas que a Filosofia recebe o autor justifica a existncia de uma
percepo equivocada por parte dos no doutos em relao Filosofia, que a encaravam como
uma forma de infectar e cativar os nimos dos jovens, que poderiam alterar os costumes
do Estado, os vulgares estabeleceram que as artes e as cincias devessem estar dissociadas da
poltica e do Estado. Esta crtica fundava-se no argumento de que a eloquncia do discurso da
Filosofia mascara a verdade, sendo uma cincia considerada por estes, perigosa, o que Bacon
rebateu com muita veemncia.
Para ilustrar a importncia do conhecimento, Bacon usa exemplos de mdicos,
advogados e estadistas que deveriam possuir uma formao baseada no conhecimento dos
livros de forma substancial, a fim de que no recaiam a suas atividades baseadas apenas nas
prticas da experincia, destacando que: [...] nunca houve governo desastroso que estivesse
em mos de governantes doutos [...] somente os doutos amam a atividade como ao
conforme a natureza, to conveniente sade do esprito quanto o exerccio a sade do corpo
(BACON, 2007, p. 28-31). H ainda um descrdito que permeia o saber, subsistindo no fato
de que aos doutos faltam o poder e a riqueza, o que logo justificado a partir da concepo de
que diferentemente dos homens comuns, os doutos no direcionam o seu trabalho para lucro
ou ganho, declarando que a pobreza a fortuna da virtude (BACON, 2007, p. 36).
Bacon enfatiza a omisso existente na transmisso e a dificuldade de acesso ao
conhecimento, nesse contexto que o Filsofo tece uma crtica por demais atual, de que os
Estados se mostram demasiadamente negligentes com a educao, afirma tambm que o saber
de certa forma interfere nos costumes dos homens exercendo uma influncia positiva no que
diz respeito tica e moralidade, muito embora, alerta que em todas as profisses existe
gente de todo tipo. E ainda criticando no que diz respeito ao conhecimento, denomina de
futilidades, erros e defeitos, classificando o saber em fantstico, contencioso e delicado.
Contextualizando um dado momento histrico, cita o exemplo de Martinho Lutero que ao se
rebelar contra as tradies da Igreja Catlica comea uma busca incansvel por respostas de
forma a descobrir autores de teologia e das humanidades esquecidos nas bibliotecas.
Ainda aborda a influncia que a cincia sofre a partir da imaginao humana, a qual
exemplifica como sendo a astrologia, a magia natural e a alquimia, afirmando como
pretenses nobres. Na sua viso a cincia da imaginao contribui para um mtodo eficaz.
-
6
Aps dar nfase importncia do conhecimento e citar as limitaes at ento
existentes para o alcance desse saber, defende a necessidade da evoluo do conhecimento,
apontando que ela possvel nos diversos tipos de cincia, a exemplo de artilharia, navegao
e da imprensa, que apesar de terem iniciado com princpios rudimentares foram se refinando,
enquanto que a filosofia de renomados pensadores, mesmo demonstrando intenso vigor, no
prosperou. Ento, afirma que o progresso do conhecimento requer algumas posturas a fim de
que se evite a sua estagnao, e que pode ser ocasionado pela excessiva obedincia dos
discpulos aos mestres. Para Bacon essa obedincia deve possuir limites que estejam
suficientemente instrudos.
Alm do que ele elenca os erros, aos quais so entendidas como enfermidades do
saber, estas sustentadas na crena equivocada de que no resta mais o que descobrir. Deve-se
ento avanar a partir do conhecimento da antiguidade. A pesquisa substancial e profunda
resiste ao tempo, ao passo em que a popular e superficial no resiste, ela se perde, por isso a
necessidade de mtodos mais precisos para se alcanar resultados mais polidos e ilustrados.
Da, a importncia de se dar universalidade cincia e no restringi-la a pequenos universos
limitados. Dado que esta limitao est restringindo para um nico contedo, sendo
necessria uma ampliao do conhecimento a fim do melhoramento do j existente. Outro
erro a parcialidade do pesquisador como um impedimento para se chegar a um
conhecimento concreto e verdadeiro, a contaminao das ideias a partir de conceitos pessoais,
e a pressa para se chegar a determinados resultados acarreta o comprometimento do saber.
Dos diversos fatores que motivam a busca pelo conhecimento para Bacon,
essencialmente deve ser a utilizao do dom do raciocnio para o benefcio do homem e
retomando os erros apontados pelo Filsofo, destaca a grave conduta de aplicar o
conhecimento ao lucro e a proveitos de ordem pessoal o que compromete de sobremaneira a
busca pelo progresso do conhecimento.
A analogia utilizada pelo autor para demonstrar a importncia do conhecimento foi
extremamente pertinente ao dizer que [...] o conhecimento no venha a ser como uma
cortes, s para o prazer e a futilidade, nem como uma escrava, para adquirir e ganhar em
proveito de seu amo, mas sim como uma esposa, para a gerao, do fruto e conforto [...]
(BACON, 2007, p. 63).
Nesse sentido, Bacon ilustra perfeitamente os cuidados que permeiam a tica do
conhecimento, demonstrando como nos devemos posicionar diante dos benefcios auferidos
-
7
atravs do conhecimento. Enfim, todos os erros alhures apontados obstaculiza, na viso do
autor o avano do conhecimento. Dizendo que a experincia mostra, que quando os reis,
governantes e autoridades em geral so pessoas de saber, suas gestes configuram os
melhores tempos, como assim exposto nas palavras do autor: [...] embora os reis sejam
imperfeitos em suas paixes e costumes, se esto iluminados pelo saber, tero essas ideias de
religio, poltica e moral que os preservem e refreiam de quaisquer erros e excessos ruinosos e
fatais [...] (BACON, 2007, p. 74), e ilustra tal afirmativa citando o exemplo da rainha
Elizabeth que:
[...] at o ltimo ano de sua vida, ela teve o costume de reservar horas fixas para
leitura, como dificilmente faria um jovem estudante da universidade com mais
assiduidade e penetrao. E quanto ao seu governo, estou seguro de no exagerar se
afirmo que esta parte da ilha jamais teve 45 anos melhores, e isso no porque os
tempos foram tranquilos, mas pela prudncia de seu regimento (BACON, 2007, p.
79).
Esta observao sobre os hbitos de estudos da rainha Elizabeth uma forma que
Bacon utiliza para rebater as crticas que a Filosofia recebia no tocante aos seus
questionamentos, e a incansvel busca por repostas que somente o conhecimento alicerado
em mtodos srios e confiveis poderia responder, ao demonstrar o xito que os governantes
dotados de conhecimento possuam, reforava os seus argumentos pela necessidade do saber
na evoluo do homem.
Esse argumento em volta da necessidade dos lderes serem detentores de grandes
conhecimentos se estende na obra de Bacon de forma at repetitiva, cita os exemplos de
Alexandre, o grande que foi criado e educado por Aristteles e de Jlio Cezar, o ditador como
exmios governantes detentores de grande liderana pelo mrito de seus conhecimentos em
vrias artes, registrando dessa forma o alcance da imortalidade pelo conhecimento.
No decorrer de toda obra, Bacon se utiliza de termos saber, estudo, conhecimento,
filosofia como que sinnimos de cincia e encerra uma defesa eloquente do saber de forma
emocionante que nossa humilde capacidade de transmiti-la nos fora a cit-las na sua ntegra:
Liberta os espritos da selvageria, da barbrie e da fria [...] Liberta de toda ligeireza,
temeridade e insolncia, mediante a sugesto abundante de dvida e dificuldades de
toda espcie, e acostumando o esprito a ponderar as razes de um e outro lado, e a
recusar os primeiros oferecimentos e imaginaes da mente, e a no aceitar nada que
no seja examinado e provado. Liberta da v admirao de qualquer coisa, que a raiz
de toda fraqueza. Pois todas as coisas admiradas, o so, ou bem porque so novas, ou bem porque so grandes. Quanto novidade, ningum que tenha penetrado a fundo no
saber ou na contemplao deixar gravado em seu corao [...] nem pode maravilhar-
se diante do jogo das marionetes ningum que passe por trs da cortina e perceba o
movimento (BACON, 2007, p. 89-90).
-
8
De fato, sem o conhecimento jamais se pode vislumbrar o que se passa por detrs das
cortinas, a legado de Bacon no parou nesta obra, O progresso do conhecimento foi uma
obra de juventude do Filsofo, na qual ele defendia a importncia da busca pelo
conhecimento, mas no captulo seguinte veremos que o autor no se limitou em apresentar as
crticas aos obstculos do conhecimento e s limitaes at ento existente, bem como as
transformaes que o conhecimento leva para a humanidade. Ele passar a refutar o que
tnhamos como cincia at ento e a estabelecer a necessidade da implantao do mtodo,
como estar demonstrado nos prximos captulos.
-
9
3 REFUTAO DA CINCIA DA POCA
At as proposituras de Sir Francis Bacon, considerava-se, fundamentada pela filosofia
de Aristteles, que a humanidade j havia chegado ao limite da criao de novos
conhecimentos e o que havia se descoberto at aquele momento no eram mais que obras do
acaso e tentativas, mas no cincia. O que se acreditava ser cincia no era mais que
combinaes de descobertas passadas. E para mudar esse quadro seria necessrio criar
instrumentos para o trabalho intelectual e o incremento das cincias.
O silogismo, raciocnio pautado pela deduo, mtodo predominante na produo do
conhecimento poca, precisava ser substitudo por outro. Bacon propunha o mtodo
indutivo-experimental. At aquele momento, o conhecimento desenvolvido estava baseado
em noes frgeis, formulado por doutrinas herdadas dos antigos filsofos gregos, cheias de
vcios e preconceitos que influenciavam sobremaneira a produo do saber. Por partir de fatos
particulares para os mais gerais sem se ater experimentao, o silogismo para Bacon
somente produzia generalizaes abstratas e inteis, pois a argumentao e a dialtica da
filosofia grega no eram suficientes para a descoberta de novas verdades.
Bacon chamava de antecipao dos fatos o estudo da natureza pela forma ordinria
da razo, e propunha que o correto deveria ser pautado a partir dos fatos, ao que ele
denominava como a interpretao da natureza, que possibilitaria resultados mais slidos, pois,
no campo cientfico, no seria possvel ir alm, pela forma como vinham fazendo.
A obra Instauratio Magna Scientiarum faz parte de um plano de Francis Bacon para
reformular o conhecimento cientfico, prevista inicialmente para conter seis partes, apenas
duas foram completadas, entre elas o Novum Organum Scientiarum, do qual trataremos neste
captulo. Esta obra fora escrita por uma tcnica literria pouco usual, composta por aforismos,
que, de acordo com o dicionrio Michaelis : sm (gr aphorisms) 1 Mxima ou sentena que
em poucas palavras contm uma regra ou um princpio de grande alcance. 2 Dito sentencioso
(AFORISMO, 2009). Tambm conhecida como Indicaes a Respeito da Interpretao da
Natureza, foi elaborada em oposio obra Organum de Aristteles, e buscava construir um
meio que auxiliasse na produo de novos saberes que permitissem ao homem dominar o
conhecimento da natureza.
A espinha dorsal do Novum Organum a teoria formulada por Bacon a respeito das
limitaes do homem para a construo da cincia, chamada Teoria dos dolos. Ele utiliza o
-
10
termo dolo em aluso adorao de imagens religiosas. Dividindo em quatro tipos de dolos:
da tribo, da caverna, do foro e do teatro; Francis Bacon tentou classificar os vcios e conceitos
pr-concebidos do homem que afetavam sobremodo a forma como se produzia o
conhecimento.
Os dolos da Tribo (idola tribus) esto fundados na prpria natureza humana e suas
limitaes sensoriais e psicolgicas. Os sentidos do homem no podem limitar a medida das
coisas, ou seja, seus sentimentos e a incompetente percepo de seus sentidos no podem ser
tomados como verdade.
Os dolos da Caverna (idola specus) recebem esse nome em referncia Alegoria da
Caverna, do filsofo grego Plato, pelo fato do homem possuir preconceitos incrustrados em
sua mente pela educao e costumes a que foi submetido e influenciado durante sua vida, e
pela admirao e respeito s autoridades que detinham a verdade. Sobre isso Bacon
escreveu no aforismo LVIII do Livro I: [...] Todo estudioso da natureza deve ter por suspeito
o que o intelecto capta e retm com predileo [...] (BACON, 1989, p. 20).
Por dolos do Foro (idola fori), Bacon quis se referir ao poder e fragilidade das
palavras quando mal utilizadas nas relaes sociais, causando interpretaes errneas e
incompletas.
Os dolos do Teatro (idola theatri) seriam os preconceitos incutidos no intelecto do
homem, criados pela absoro das diversas doutrinas teolgicas e filosficas. Essas doutrinas
e dogmas religiosos e teolgicos provocavam a adversidade dos governos por novas ideias a
tal ponto dos homens que as tentaram sujeitaram-se a riscos, como foi o caso de Galileu e
Giordano Bruno. Para clarear o que quis dizer, Bacon oportunamente escreveu no aforismo
LXII do Livro I: [...] As narrativas feitas para a cena do teatro dos poetas so mais ordenadas
e elegantes e aprazem mais que as verdadeiras narraes tomadas da histria. (BACON,
1989, p. 23)
Para Bacon, as fontes sofsticas, empricas e supersticiosas eram as principais origens
dos erros e das falsas filosofias que corrompiam os sentidos e o intelecto humano, que
precisava ser providos de auxlios, no caso o mtodo e a experimentao. O fato de serem
essas falsas filosofias mais receptivas capacidade e ao gosto comum, sem aprofundamento
na busca da verdade, estagnou o progresso da cincia por dois mil anos, ao contrrio das artes
mecnicas, baseadas na natureza, que foram incrementadas continuamente e se
desenvolveram em contnuo progresso. Em sua obra Nova Atlntida, Francis Bacon retrata a
-
11
questo de que quanto mais se avana no tempo, maior deveria ser o acmulo de
conhecimento, que por sua vez s poderia ser obtido pelas cincias (BACON, 1984).
Durante o predomnio da filosofia de Aristteles, pelo qual Bacon tinha verdadeira
averso, o conhecimento era tido como j alcanado e definitivo, e tudo que os mestres
filsofos tinham como sem importncia ou inatingveis para seu intelecto era considerado
incognoscvel e impraticvel. Afinal de contas Aristteles em seu tempo se apresentou como
o dono da verdade, desprezando a autoridade antes dele. Essa herana aristotlica se
propagou mais que as outras, primeiro em consequncia das invases romanas que aniquilou
as culturas antigas, restando apenas a doutrina de Aristteles. E em segundo lugar, por essas
doutrinas remanescentes terem sido utilizadas como fundamento pela teologia, fundando o
pensamento escolstico, e impostas pelas autoridades que as assumiu como fonte da verdade a
seus subjugados.
Alm do anteriormente escrito, outras causas tambm contriburam para o pequeno
progresso da filosofia natural, para Bacon, grande me das cincias relegada posio de
serva pela ausncia de pessoas dedicadas exclusivamente ao estudo da natureza. Restando a
esta servir de ponte para outras disciplinas, no havendo assim um verdadeiro objetivo a ser
atingido. Justamente o contrrio da viso do autor, para o qual a verdadeira e legtima meta
das cincias a de dotar a vida humana de novos inventos e recursos (BACON, 1989, p.42).
A filosofia aristotlica mesclada religio e a superstio sufocou o progresso das
cincias com medo que o povo ignorante comeasse a questionar as Sagradas Escrituras, as
quais Bacon se baseia justamente no sentido contrrio quando diz que a filosofia natural deve
ser considerada como a mais fiel serva da religio, uma vez que as Escrituras tornam evidente
a vontade de Deus, e a filosofia natural o Seu poder. J o pensamento escolstico lhe parecia
uma tpica forma de impostura religiosa, ao qual tambm responsabilizava pela situao
prejudicial ao progresso do saber, pelo fato dos escolsticos, em termos simples, possurem
intelecto estreito e engessado, e serem ociosos, pouco afeitos leitura, ignorantes sobre o
conhecimento da histria e das noes de histria natural. (ROSSI, 1992, p. 67-69)
Os estabelecimentos de ensino voltados aos homens doutos da poca transmitiam
exatamente o contrrio do seria benfico ao progresso das cincias. Alm do que, Bacon
pregava que os estudiosos e as pesquisas deveriam receber estmulos financeiros pblicos e
privados em favor do trabalho cientfico, pois sua ausncia no criava estmulos para tal
-
12
esforo. Somado a isso ainda havia o desinteresse dos homens e a suposio de sua
impossibilidade.
Como agora transmitir esse novo mtodo, diante de tanto desinteresse e incredulidade?
Francis Bacon diz que no se deve tentar a coao, mas o convencimento dos homens,
colocando-os diante dos fatos particulares, especialmente pelos registros dos experimentos,
rompendo assim com a doutrina corrente e iniciando uma nova forma de fazer a verdadeira
cincia.
O conhecimento cientfico deveria ser ordenado e composto de uma base de
informaes registrada e de experimentos, para s ento escrever sobre os resultados
alcanados, o que tambm deveria seguir um mtodo. A experimentao, requisito
fundamental para Bacon na produo do conhecimento cientfico, poderia servir para gerar
um novo conhecimento (lucfero) ou um novo invento (frutfero).
A experimentao era parte fundamental na metodologia proposta por Bacon. Pela
induo, o processo de produo do conhecimento deveria partir dos fatos particulares para os
gerais, mas no de forma apressada, no sem antes provar com experimentos cada um dos
axiomas intermedirios. O conhecimento e invenes no poderiam continuar sendo frutos do
mero acaso e oportunidade, e o mtodo cientfico poderia orientar e antecipar novos
caminhos.
Para Bacon, a cincia deveria no s descobrir novas operaes, mas tambm
transmitir, reunir e implementar as j conhecidas. E nela seriam mais bem aplicados os
recursos financeiros permitindo-lhe produzir coisas mais importantes e teis ao homem. O
estudo das cincias deveria ser um trabalho colaborativo e feito por homens dedicados
exclusivamente para tal.
A pretenso do autor com o Novum Organum era de romper com a filosofia, as artes e
as cincias em vigor. Para ele, o caminho para novas descobertas o mtodo cientfico
indutivo-experimental foi a maior descoberta de todas, pois abriria o caminho para uma
nova cincia a verdadeira cincia, que, como ser esgrimido frente, deveria ser pautada
pela experimentao e dotada de utilidade para a melhoria da vida humana. No fim o filsofo
convoca os homens a retomar seu direito divino sobre a natureza, o qual perdeu quando
expulso do paraso.
-
13
4 BASES DA NOVA CINCIA
Apropriando-se do contexto filosfico apresentado e refutado pela teoria dos dolos,
tambm se faz produtivo compreender outra parcela do contexto histrico em que Bacon
pensou a nova cincia, os seus objetivos e os resultados esperados.
Segundo Rossi (1989) entre 1400 e 1700, as artes mecnicas prosperaram
rapidamente, o que se pode observar pela intensa produo de inventos, e nos registros destes
feitos pelos seus construtores, como livros e manuais tcnicos. Tal situao teve como
catalizador o veloz desenvolvimento das artes de navegao, minerao, metalurgia, entre
outras e tambm a inveno da prensa mvel em 1440 por Guttenberg (1398-1468). poca
de Bacon, se destacavam a inveno da bssola, da plvora e do telescpio e o discurso de
alguns clebres artesos, que diziam ter mais conhecimento e utilidade do que os vos
filsofos das universidades. Tal afronta se dava em funo da cultura oficial desprezar as artes
e os ofcios laborativos e ignorar o conhecimento e a utilidade destes para a vida prtica.
Assim, estava instalada a polmica, que permitiu a direo da revoluo cientfica do sec.
XVII aos prticos reunidos nas sociedades cientficas e academias1.
A pedra filosofal de Bacon era tirar a filosofia natural de uma posio apenas
contemplativo-retrica, que por seus axiomas mantinha a cincia estagnada, como dito neste
trecho do aforismo LXXIV do Livro I:
[...] as cincias no teriam permanecido por dois mil anos estagnadas no seu estdio
originrio; e quase no mesmo estado permanecem, sem qualquer progresso notvel.
Dessa forma. foram pouco a pouco declinando medida que se afastaram dos
primeiros autores que as fizeram florescer. Nas artes mecnicas, que so fundadas na
natureza e se enriquecem das luzes da experincia, vemos acontecer o contrrio, e
essas (desde que cultivadas), como que animadas por um esprito, continuamente se
acrescentam e se desenvolvem, de inicio grosseiras, depois cmodas e
aperfeioadas, e em contnuo progresso (BACON, 1989, p. 36).
Ainda neste, observa-se a comparao de progresso com as artes mecnicas, tendo em
vista que a proposta era de em um novo amlgama da filosofia com as artes no-liberais
(excetuando a poesia), para se alcanar a nova forma de se produzir cincia, o que se entende
estar explcito na analogia do aforismo XCV do Livro I:
1 Acredita-se que o termo academia foi utilizado para diferenciar da instituio universidade que existia
naquela poca.
-
14
Os que se dedicaram s cincias foram ou empricos ou dogmticos. Os empricos,
maneira das formigas, acumulam e usam as provises; os racionalistas, maneira
das aranhas, de si mesmos extraem o que lhes serve para a teia. A abelha representa
a posio intermediria [...] (BACON, 1989, p. 57).
Este novo caminho do meio para a cincia tendo como caracterstica a utilidade prtica
de suas obras, a fim de trazer melhores condies de vida humanidade, como asseverado no
aforismo LXXXI do Livro I:
[...] A verdadeira e legtima meta das cincias a de dotar a vida humana de novos
inventos e recursos. Mas a turba, que forma a grande maioria, nada percebe, busca o
prprio lucro e a glria acadmica [...] Em suma, se ningum at agora fixou de
forma justa o fim da cincia, no para causar espanto que tudo o que se subordine
a esse fim desemboque em uma aberrao (BACON, 1989, p. 42).
Portanto, a cincia deve trazer luz (lucfera, conhecimento) e tambm frutos (frutfera).
No contexto da poca, estes pensamentos eram em si uma ruptura agressiva, porm Bacon,
no pregava o fim da deduo-retrica, e sim uma nova urdidura entre cincia e potncia,
teoria e prtica, verdade e utilidade, exemplificada pelo aforismo III do Livro I: Cincia e
poder do homem coincidem, uma vez que, sendo a causa ignorada, frustra-se o efeito. Pois a
natureza no se vence, se no quando se lhe obedece. E o que contemplao apresenta-se
como causa regra na prtica (BACON, 1989, p. 6). Assim, so definidos dois tipos de
cincias: a Antecipao da Mente (metafsica; cultivo da cincia) e a Interpretao da
Natureza (fsica; descoberta cientfica). Desta forma, Bacon enfatiza as limitaes da cincia,
entendida como caminho contemplativo (retrico-literrio), e afirmando que a verdade
filha do tempo e no da autoridade (BACON, 1989, p. 45), estabelece o escopo da cincia
luz do pensamento indutivo, reportando-se s intervenes metdicas e experimentos como o
cerne de seu mtodo.
Retomando a questo da utilidade da cincia, Bacon critica o individualismo e a
hermeticidade do conhecimento da poca, tanto pela sua restrio aos crculos das
universidades, quanto no uso de uma lingustica de difcil acesso, exemplificando o seu
extremo na forma de comunicao mstica e enigmtica utilizada pelos alquimistas. Assim,
faz a seguinte declarao no aforismo CXIII do Livro I:
Pensamos tambm que o nosso prprio exemplo poderia servir aos homens de
motivo para esperanas e dizemos isso no por jactncia, mas pela sua utilidade.
[...] quanto se poderia esperar [...] de homens com todo o seu tempo disponvel,
associados no trabalho, tendo pela frente todo o tempo necessrio e levando-se em
conta tambm que se trata de um caminho que pode ser percorrido no apenas por
um indivduo (como no caminho racional) mas que permite que o trabalho e a colaborao de muitos se distribuam perfeitamente (em especial para a coleta de
dados da experincia). A ento os homens comearo a conhecer as suas prprias
-
15
foras, isto , no quando todos se dediquem mesma tarefa, mas quando cada um a
uma tarefa diferente (BACON, 1989, p. 67 - 68).
Evidente est o conceito de cincia como um empreendimento coletivo da
humanidade, pautado pela colaborao e a intersubjetividade, que para tal deve ter
adequadamente comunicado os seus resultados e sua discusso, garantindo assim a
universalizao do conhecimento, por isso Bacon apontou a educao como meio para esta
empreitada. Estas so algumas das razes que fundamentaram o posterior estabelecimento das
sociedades cientficas e das academias, e valorizaram os liceus de ofcios existentes.
Ainda neste trecho pode-se observar a orientao para a dedicao exclusiva ao labor
da cincia, j que o prprio Bacon, em funo de suas outras obrigaes, no podia faz-lo.
Pode-se inferir que ao propor a universalizao e a dedicao, e verificando a situao dos
arteses da poca, Bacon previu a necessidade e a dificuldade de obteno dos recursos
financeiros, o que prejudicaria o progresso do conhecimento, como aventado no aforismo XCI
do Livro I: [...] bastaria para coibir o progresso das cincias o fato de a qualquer esforo ou
labor faltar estmulo [...] mas os estipndios e os prmios esto nas mos do vulgo e dos
prncipes [...] (BACON, 1989, p. 53 54).
Ao final do texto do aforismo CXIII (citado acima), ao dizer que: [...] mas quando
cada um a uma tarefa diferente. Poder-se-ia dizer, que o autor estaria lanando as bases do
Positivismo, porm isto imprprio, e pode-se dizer que fora previsto por Bacon, pois como
diz, em nota, o tradutor da obra: [...] suas idias gerais [so] profticas (BACON, 1989, p.
239), tanto o , que ao observar o seguinte trecho do aforismo LXVI do Livro I:
[...] Deve-se falar, igualmente, da falsa direo que toma a especulao
particularmente na filosofia natural. O intelecto humano se deixa contagiar pela
viso dos fenmenos que acontecem nas artes mecnicas, onde os corpos sofrem
alteraes por um processo de composio e separao, da surgindo o
pensamento de que algo semelhante se passa na prpria natureza (BACON,
1989, p. 27, grifo nosso).
Claramente se tem a objeo em particionar o conhecimento da natureza em pequenas
peas e assim trat-las fora do todo. Entretanto, pode-se no tratar de profecia, mas
simplesmente uma predio dos problemas oriundos do trabalho cientfico. Predio esta, que
tambm abarcou a condio das humanidades no mtodo proposto e teve o seguinte alerta no
aforismo CXXVII do Livro I:
[...] Do mesmo modo que a lgica vulgar, que ordena tudo segundo o silogismo,
aplica-se no somente s cincias naturais, mas a todas as cincias, assim tambm a nossa lgica, que procede por induo, tudo abarca. Por isso, pretendemos constituir
-
16
histria e tbuas de descobertas para a ira, o medo, a vergonha e assuntos
semelhantes; e tambm para exemplos das coisas civis e, no menos, para as
operaes mentais, como a memria, para a composio e a diviso, para o juzo,
etc. (BACON, 1989, p. 79).
Portanto, garantindo que o mtodo de investigao deveria tratar tanto da natureza
quanto das humanidades, sem preferncias ou preconceitos.
Desta forma, apresentaram-se as bases da nova cincia, que foram observadas nesta
pesquisa, de modo a se compreender as fundamentaes que levaram proposio do mtodo,
que ser mostrado no prximo captulo.
-
17
5 O MTODO PROPOSTO
Aps ter feito a refutao da cincia em voga e de fundamentar as bases da nova
cincia, Bacon apresenta e explica no Livro II do Novum Organum a sua proposta para o
mtodo indutivo-experimental, que est resumidamente explanado neste captulo.
O mtodo proposto por Bacon traz uma viso inovadora para poca da forma de se
produzir o conhecimento. Seu mtodo propiciou substituio do racionalismo retrico pela
experimentao regulada no raciocnio indutivo. Pois aquele no traz certeza para a pesquisa,
no podemos considera-lo slido para alcanar a verdade, j que, no confronta as suas
concluses com os fatos. Desta forma, Bacon (1989, p. 84) pontua no aforismo II do Livro II:
A infeliz situao em que se encontra a cincia humana transparece at nas manifestaes do
vulgo [...]. No Novum Organum o autor apresenta o seu mtodo, como fundamental para a
busca do conhecimento de uma forma consistente, abordando o quando esse mecanismo
eficiente, como exposto no prefcio do livro:
Nosso mtodo, contudo, to fcil de ser apresentado quanto difcil de se aplicar.
Consiste no estabelecer os graus de certeza, determinar o alcance exato dos sentidos
e rejeitar, na maior parte dos casos, o labor da mente, calcado muito de perto sobre
aqueles, abrindo e promovendo, assim, a nova e certa via da mente, que, de resto,
provm das prprias percepes sensveis [...] (BACON, 1989, p. 02).
Apesar da aparente contradio entre a facilidade de aprender e a dificuldade de se
explicar o mtodo tem-se, como fundamental para a busca do conhecimento em vista a sua
sistematizao.
O autor adverte [...] de modo claro e firme que com os atuais mtodos no se pode
lograr grandes progressos nas doutrinas e nas indagaes sobre cincias, e bem por isso, no
se podem esperar significativos resultados prticos (BACON, 1989, p. 80), assim, Oliveira
(2000, p. 87) descreve que:
Bacon criticar em todos estes sistemas a falta de contato com a natureza, pois estas
construes, que se davam meramente a partir de especulaes e de uma lgica que
derivava destes princpios um mundo irreal, apresentavam solues verbais em vez
de solues reais. Qualquer conhecimento fundamentado unicamente no silogismo
aristotlico, em que se reduz aos princpios j admitidos as proposies que se quer
demonstrar, no passar, a seu ver, de uma discusso sofstica de termos; uma
dialtica vazia.
E com o objetivo de consolidar e disciplinar o mtodo indutivo-experimental, ele o
distribui em trs partes as quais denominou de tbuas, a saber: tbua de essncia e de
-
18
presena - responsvel pelo os registros das observaes da ocorrncia do objeto de estudo,
tbua de desvio ou de ausncia em fenmenos prximos - responsvel pelo controle das
situaes nas quais os fatores pesquisados se mostrem ausentes, e por ltimo, a tbua de graus
ou de comparao - responsvel pelos registros das variaes que durante o experimento so
observadas. Desta forma, Bacon no aforismo XV do Livro II (1989, p. 114, grifo do autor)
externa que o Objetivo e ofcio destas trs tbuas o de fazer uma citao de instncia
perante o intelecto (como usualmente as designamos) [...].
Atravs da proposta do mtodo indutivo-experimental, Bacon organiza as etapas das
Tbuas de investigao, e a juno do conjunto das tbuas com os procedimentos de
experimentao seria o primeiro passo para o estudo do objeto, ou seja, interpretao inicial,
assim ele o classificou de Primeira Vindima.
J, como segundo passo para o estudo do objeto, Bacon descreveu 27 etapas, e o
denominou de Instncias Prerrogativas, essas por sua vez estudavam o objeto no seu sentido
restrito, baseado na manifestao emprica do objeto. Desta forma, sege na figura 01 a relao
de todas as instncias prerrogativas.
Na obra estudada, Bacon descreve detalhadamente cada uma das instncias
supracitadas, aqui sero abordas as principais:
Solitrias Bacon (1989, p. 127) a define como aquela que [...] apresentam a natureza que
se investiga, em coisas que nada tm em comum com outras, a no ser aquela natureza; ou
que no apresentam a natureza que se investiga em coisas que so semelhantes a outras em
tudo, exceto em relao a essa natureza [...].
Migrantes O autor a classifica como [...] aquelas em que a natureza investigada migra ou
passa a um processo de existncia se antes no existia, ou, ao contrrio, migra no sentido da
corrupo, se antes existia [...] (BACON, 1989, p. 128).
Ostensivas Essa seria para Bacon (1989, p. 130) elencada como, [...] as que mostram a
natureza investigada nua e por si subsistente, e ostentam-na no mais alto grau de sua potncia,
ou seja, emancipada e liberta de impedimentos, ou pelo menos a eles se impondo pela fora
de sua virtude, suprimindo-os e contendo-os [...].
Cruciais Bacon (1989, p. 155) esclarece que [...] Tais instncias so muito esclarecedoras
e tm uma significativa autoridade. Muitas vezes, nelas termina o curso da investigao ou em
muitas outras este por elas completado [...].
-
19
Figura 01 - Rol das instncias prerrogativas
Fonte: LIMA, P. G. Resenha sobre o Novum Organum de Francis Bacon. Disponvel em:
. Acessado em: 15 abr. 2013.
atravs do conjunto das instncias que Bacon fundamenta o seu mtodo indutivo-
experimental, provocando assim, uma viso inovadora para a produo do saber verdadeiro,
mtodo que posteriormente ser considerado como a base para a formulao da cincia
moderna.
-
20
6 CONSIDERAES FINAIS
Em nosso entender, Francis Bacon foi o responsvel pela ordenao e organizao do
mtodo cientfico moderno, atravs da unio da induo experimentao. Apesar de ter
ignorado a importncia da hiptese, ato meramente abstrato do intelecto, ele vislumbrou as
noes do trabalho colaborativo, a importncia da catalogao e classificao dos dados e das
observaes dos experimentos, a necessidade do financiamento pblico e privado para a
produo da cincia e a necessidade de recompensar o pesquisador, estimulando-o pesquisa
e permitindo-lhe dedicar-se exclusivamente busca de novas descobertas. Desta forma
iniciou-se o verdadeiro rompimento, no ramo da produo do saber cientfico, da antiga
filosofia grega, do misticismo e da teologia com a verdadeira cincia, a qual, com alguns
aperfeioamentos, a utilizada at os dias de hoje.
-
21
REFERNCIAS
AFORISMO. In: Michaelis: Dicionrio de Portugus Online. So Paulo: Melhoramentos,
2009. Disponvel em:
. Acesso em: 14 abr. 2013.
BACON, F. Nova Atlntida. Traduo de Jos Aluysio Reis de Andrade. 3. ed. So Paulo:
Abril Cultural, 1984. Disponvel em:
. Acesso em: 10 abr.
2013.
_____. Novum Organum ou Verdadeiras indicaes acerca da interpretao da natureza.
Traduo de Jos Aluysio Reis de Andrade. So Paulo: Abril Cultural, 1989. Disponvel em:
. Acesso em: 05 abr.
2013.
_____. O progresso do conhecimento. So Paulo: UNESP, 2007.
OLIVEIRA, B. J. Francis Bacon e a fundamentao da cincia como tecnologia. Belo
Horizonte: UFMG, 2010.
ROSSI, P. A cincia e a filosofia dos modernos: aspectos da Revoluo Cientfica. Traduo
de lvaro Lorencini. So Paulo: UNESP, 1992.
______. Os filsofos e as mquinas. Traduo de Frederico Carotti. So Paulo: Companhia
das Letras, 1989.