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1 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE – FAC CURSO BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO CAROLINE ANDRADE MOREIRA MUDANÇA NA CULTURA ORGANIZACIONAL E SUA COMPLEXIDADE EM UMA TRANSIÇÃO DE CULTURA: PROCESSO DE INCORPORAÇÃO E AQUISIÇÃO DE EMPRESAS FORTALEZA 2013

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1

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE – FAC

CURSO BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO

CAROLINE ANDRADE MOREIRA

MUDANÇA NA CULTURA ORGANIZACIONAL E SUA COMPLEXIDADE EM

UMA TRANSIÇÃO DE CULTURA: PROCESSO DE INCORPORAÇÃO E

AQUISIÇÃO DE EMPRESAS

FORTALEZA

2013

2

CAROLINE ANDRADE MOREIRA

MUDANÇA NA CULTURA ORGANIZACIONAL E SUA COMPLEXIDADE EM

UMA TRANSIÇÃO DE CULTURA: PROCESSO DE INCORPORAÇÃO E

AQUISIÇÃO DE EMPRESAS

Monografia submetida à aprovação da Coordenação do curso de Bacharelato em Administração de Empresas no Centro de Ensino Superior do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação. Orientadora: professora esp. Monica Gurgel.

FORTALEZA

2013

3

CAROLINE ANDRADE MOREIRA

MUDANÇA NA CULTURA ORGANIZACIONAL E SUA COMPLEXIDADE EM UMA

TRANSIÇÃO DE CULTURA: PROCESSO DE INCORPORAÇÃO E AQUISIÇÃO DE

EMPRESAS

Monografia como pré-requisito para obtenção

do título de Bacharelato em Administração de

Empresas, outorgado pela Faculdade Cearense

– FAC, tendo sido aprovada pela banca

examinadora composta pelos professores.

Data da Aprovação ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________

Professor 1

___________________________________________________________________

Professor 2

___________________________________________________________________

Professor 3

4

Aos meus pais e esposo.

5

AGRADECIMENTOS

Acima de tudo, agradeço a Deus, que colocou pessoas em meu caminho para me

incentivar nos momentos em que eu quis desistir, me concedendo força na fraqueza e me

guardando no caminho da dignidade até hoje. Obrigada pela Tua eterna graça.

A minha mãe, Maria de Fátima, que é meu espelho desde sempre; me ensinou que

através da busca contínua pelo conhecimento conseguimos alcançar o sucesso e repassou para

mim toda a sua educação, me mostrando o quanto devemos valorizar e respeitar as pessoas.

Minha melhor amiga, que sempre irá me amar e eu a ela, infinitamente.

A meu pai, José Claudio, que cuidou de mim até mesmo quando eu pensei que

não e quis acima de tudo me ver alcançar o sucesso na vida. Eu sei o quanto o seu amor por

mim é verdadeiro, assim como o meu por você é sincero.

Ao meu esposo, Vando, pela paciência que teve nos meus momentos de ausência

e pela força que me transmitiu quando eu pensei que não conseguiria. Obrigada por estar

sempre ao meu lado, tornando a minha vida mais feliz. Amo você, meu bem.

A minha irmã, Karen Andrade, obrigada por fazer parte da minha vida, mesmo

com toda a chatice, pois eu sei que você me ama tanto o quanto eu te amo.

A minha amiga de trabalho Cristiane Dourado, que me deu muitas dicas e me

ouviu quando eu precisei desabafar as angústias relacionadas a este trabalho de conclusão de

curso. Obrigada pelo carinho e amizade.

A minha amiga Cátia Caetano, obrigada por tornar esses anos na FaC mais

divertidos e me proporcionar o carinho de uma amizade verdadeira.

As muitas amizades conquistadas no período de vida acadêmica, eu as levarei no

meu coração e na minha memória.

A minha orientadora, Monica Gurgel, obrigada pela indispensável ajuda no

desenvolvimento deste trabalho e pelo conhecimento compartilhado.

Aos professores da FaC, que contribuíram para o meu crescimento acadêmico.

Aos funcionários da biblioteca da FacC, que me aguentaram muito por lá nesse

último semestre, sempre com muita simpatia.

Aos gestores da empresa estudada, que responderam a minha pesquisa

solicitamente, colaborando com o desenvolvimento do trabalho.

6

"A luta é indispensável para realizar as metas da alma, ou seja, lutar é saudável quando se constrói a felicidade". Elton Mayo.

7

RESUMO O mercado contemporâneo exige que as organizações fundamentem suas ações na ética e no cultivo de parcerias idôneas no intuito de transmitir valores para seu produto ou serviço chegando ao conhecimento do consumidor. Para se atingir esse objetivo é imprescindível que aconteçam mudanças significativas que visam maior adaptação ao mercado. Todo processo de mudança implica na movimentação de algum tipo de recurso, seja humano, físico ou financeiro. Em um processo de mudança organizacional existem inúmeros impasses em diferentes áreas da organização afetada, quando se trata de uma mudança em forma de incorporação e aquisição de empresas o recurso humano que ela dispõe é afetado diretamente pela transição cultural. O presente estudo tem como objetivo analisar o processo de mudança organizacional na categoria de incorporação e aquisição de empresas e identificar quais aspectos merecem maior atenção durante a transição cultural buscando minimizar os impactos negativos na organização. A pesquisa é de natureza qualitativa e sua tipologia é exploratória e descritiva. Diante da relevância do tema e para melhor compreensão da pesquisa foi realizado um estudo de caso em uma empresa que sofreu no ano de 2013 um processo de incorporação, que teve como instrumento de pesquisa um questionário direcionado aos gestores onde houve seis respondentes. Posteriormente, as informações coletadas foram analisadas com base no referencial teórico exposto no estudo. Os resultados obtidos com a pesquisa foram satisfatórios à problemática e aos objetivos gerais e específicos. Foi evidenciada a importância da comunicação, alinhamento de processo e informação em um processo de mudança como incorporação e como à falta desses itens pode afetar a conclusão do ciclo de integração cultural e consequentemente o desenvolvimento organizacional, bem como o sucesso dos negócios. Palavras-chave: mudança, organização, cultura, incorporação.

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ABSTRACT The contemporary market requires organizations base their actions on ethics and culture from reliable partnerships to transmit values to your product or service coming to consumer knowledge. To achieve this goal it is important that significant changes happen seeking greater market adaptation. Every process of change involves the change of some kind of resource, whether human, physical or financial. In a process of organizational change are numerous impasses in different affected areas of organization when it comes to a change in the form of mergers and acquisitions of companies human resource she has is directly affected by the cultural transition. The objective this study is analyze the process of organizational change in the category of merger and acquisition of companies, identify which aspects deserve further attention during the cultural transition seeking to minimize the negative impacts on the organization. The research is qualitative in nature and her typology is exploratory and descriptive. Given the importance of the subject and to better understand research, a case study was conducted in a company that suffered in 2013 a process of incorporation, which had as a research tool a questionnaire directed to managers where there were six respondents. Subsequently the data were analyzed based on the theoretical framework in the study. The results obtained from the research were satisfactory to the issues and the specific objectives. Showed the importance of communication, alignment and process information in a process of change and development and how the lack of these items can affect the completion of the cultural integration cycle and consequently organizational development and business success. Keywords: change, organization, culture, merger.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 O ciclo do processo de integração dos funcionários a nova cultura.................... 34

10

LISTA DE SIGLAS

CO Clima Organizacional

FAC Faculdade Cearense

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 12

2 ORGANIZAÇÕES E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL:

CONCEITOS..................................................................................................................... 15

2.1 Conceito e objetivos das organizações..................................................................... 15

2.2 Teorias organizacionais.............................................................................................. 16

2.3 Comportamento organizacional................................................................................ 18

3 CULTURA ORGANIZACIONAL E SEUS DILEMAS

CONTEMPORÂNEOS..................................................................................................... 22

3.1 Cultura organizacional.............................................................................................. 22

3.1.1 Clima organizacional................................................................................................. 25

3.2 O Processo de incorporação e aquisição................................................................... 27

3.2.1 Modalidades de reestruturação empresarial como estratégia de crescimento......... 28

3.3 Incorporação e aquisição como mudança organizacional..................................... 30

3.2.1 Mudança na cultura organizacional.......................................................................... 31

4 METODOLOGIA APLICADA À PESQUISA............................................................ 38

4.1 Natureza da pesquisa.................................................................................................. 38

4.2 Tipologia da pesquisa.................................................................................................. 39

4.3 Objeto de estudo......................................................................................................... 40

4.4 Técnica e instrumentos da pesquisa.......................................................................... 41

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS................................................................................... 42

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 46

REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 48

APÊNDICE........................................................................................................................... 52

12

1 INTRODUÇÃO

O cenário corporativo impulsiona as organizações a inovar suas estratégias. Novas

metas são estabelecidas sensivelmente a cada dia. Todavia, no âmbito empresarial, não

acompanhar essas oscilações significa perder competitividade e consequentemente nichos

consideráveis no mercado. Com isso, agregar valor a produtos e serviços oferecendo

maturidade como pilar para o alcance de objetivos é de fato o maior desafio para as empresas.

Toda organização se estabelece para atender a um ou a vários propósitos, suas

metas se renovam cada vez que um objetivo é alcançado, aumentando a exigência do

mercado, as expectativas das organizações são refeitas em cadeia para seus clientes internos.

As mudanças organizacionais podem surgir de várias formas, uma das suas

categorias, abordagem desta pesquisa, é a incorporação e aquisição de empresas. Situação em

que uma empresa adquire outra, esta última deixa de existir e a primeira assume a sua

personalidade jurídica, direitos e obrigações. Com a extinção da empresa incorporada também

se extingue a sua cultura organizacional, prevalecendo geralmente a cultura da empresa

adquirente.

A mudança organizacional relacionada à transição de culturas motivada por um

processo de incorporação e aquisição demanda análise de algumas variáveis para

compreensão de sua complexidade. Toda e qualquer movimentação relacionada as pessoas

que constituem a organização exige prudência, uma vez que representam seu capital

intelectual.

O direcionamento comportamental e cultural durante esse processo exige atenção

por parte da gestão, pois nessa situação todos estão desprovidos de orientação com relação a

novas diretrizes. Segundo Albuquerque (1992), o trabalho em grupo é considerado premissa

importante para uma nova formação de conceito de sistemas de gestão para empresas

competitivas. Desta forma, as pessoas exercem papel considerável e são enquadradas nas

organizações como peça fundamental de um grupo para o desenvolvimento organizacional,

tornando-se relevante analisar quaisquer fatores que venham a interferir negativa ou

positivamente em seu desempenho na empresa.

Um processo de mudança nem sempre é encarado como agregação de valores.

Será possível identificar nessa pesquisa os principais conflitos encontrados em um processo

de incorporação e aquisição. A escolha do tema se deu pelo fato de a pesquisadora identificar

em um processo de incorporação, ocorrido na empresa onde trabalha, diversas sequelas, tanto

em comportamento como em cultura, decorrentes da brusca mudança organizacional.

13

Percebeu-se a necessidade de um estudo relacionado aos impactos existentes nesse tipo de

mudança dentro de uma organização e a identificação dos aspectos que devem ser

cuidadosamente analisados e trabalhados. Isso despertou o interesse pelo tema, além de ser

extremamente atual.

Todo processo de mudança deve estar alinhado com os objetivos e metas que uma

organização deseja alcançar baseada no contexto mercadológico em que ela está inserida. Um

contexto de transição cultural pode ser fonte tanto de muitos problemas como de inúmeras

soluções. Baseado nesse raciocínio o presente estudo chega ao questionamento: quais

dificuldades podem surgir diante de um processo de transição cultural em uma aquisição ou

incorporação de uma empresa?

Objetivo geral

Diante da problemática apresentada, o objetivo desta pesquisa é identificar em

uma mudança organizacional, da categoria de incorporação e aquisição de empresas, quais

aspectos merecem maior atenção durante a transição de cultura.

Objetivos específicos

• Descrever como ocorre o processo de aquisição e incorporação;

• Analisar os reflexos da mudança organizacional nos funcionários;

• Listar as principais dificuldades encontradas até a fase de adaptação e

• Propor recursos para realizar um processo de mudança, como uma

incorporação ou aquisição, que seja capaz de causar mais impactos positivos.

Na intenção de atender aos objetivos relacionados, foi utilizada nesse estudo uma

pesquisa bibliográfica, de campo e estudo de caso, de natureza qualitativa, usando como

instrumento de coleta de dados um questionário direcionado aos gestores atuantes na empresa

objeto do estudo de caso. A estrutura da pesquisa está dividida em cinco capítulos, sendo o

primeiro deles a introdução, que abrange o tema e a contextualização da problemática e

justificativa, bem como seus objetivos, geral e específico.

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O segundo capítulo aborda os conceitos das organizações e seus objetivos

principais, assim como as principais teorias organizacionais. O tópico sobre comportamento

organizacional, seus conceitos e importância também são definidos neste mesmo capitulo.

O terceiro capítulo traz como abordagem a cultura organizacional e os dilemas da

contemporaneidade. Esse capítulo fala sobre clima organizacional, como ocorre e o que é o

processo de incorporação e aquisição, algumas modalidades de reestruturação organizacional,

a incorporação como mudança organizacional e a mudança na cultura após uma incorporação.

O capítulo quatro apresenta a metodologia da pesquisa, considerando o

levantamento de dados e sua análise. O quinto capítulo trata da análise dos resultados obtidos

com a pesquisa realizada.

15

2 ORGANIZAÇÕES E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL: CONCEITOS

Este capítulo aborda os principais conceitos de organização, suas origens e as

principais teorias organizacionais. Expõe ainda as definições do comportamento

organizacional e discute o tema no tocante a sua influência no ambiente empresarial,

destacando o seu impacto e diferentes tipos.

2.1 Conceito e objetivos das organizações

Lacombe e Heilborn (2008, p. 13) define organização como “Grupo de pessoas

que se constitui de forma organizada para atingir objetivos comuns.” A ideia de alcançar um

determinado objetivo faz necessário o envolvimento de várias pessoas e exige

indispensavelmente organização. Organizar faz parte do processo para obtenção de uma meta

sem que haja dispersão do foco. É através dela que se pode entender qual o status atual de

cada processo para então tomar decisões estratégicas de desenvolvimento.

Já para Cury (2007, p. 116), “A organização é um sistema planejado de esforço

cooperativo no qual cada participante tem um papel definido a desempenhar e deveres e

tarefas a executar.” Cada indivíduo quando inserido em um contexto organizacional passa a

exercer um papel dentro do grupo, em que suas atitudes irão influenciar positiva ou

negativamente no todo.

É impossível se obter sucesso no caos. Em um cenário organizado, a condução

das atividades ocorre de forma harmônica e estas são direcionadas de maneira eficaz. O fato

de ser uma organização não a isenta da exposição a falhas, mas, ao se deparar com uma

situação crítica, encontrar a solução será mais fácil quando num ambiente hostil.

Praticamente todas as atividades existentes na sociedade moderna são

desenvolvidas e executadas pelas organizações. “As pessoas nascem em hospitais, são

educadas em escolas e trabalham em uma organização. Tiram grande parte da sua satisfação

material, social e cultural de organizações” (LACOMBE & HEILBORN, 2008, p. 13).

As organizações constituem hoje em nossa sociedade uma forma dominante de

instituição. As estruturas organizacionais passam por constantes mudanças e estão se tornando

cada vez mais elaboradas e repletas de particularidades que as diferenciam umas das outras.

Os pequenos negócios pleiteiam a conquista de se transformar em uma organização grandiosa.

Isso faz com que as organizações tornem-se mais comuns, diferenciando-se apenas pelo

tamanho que representam no mercado e pela qualidade no serviço ou produto oferecido.

16

Uma organização procura se destacar através do alcance de elevado desempenho

do objetivo específico que justifica a sua existência. “As organizações são criadas com um

propósito, são destinadas a fazer alguma coisa material ou a prestar determinado serviço. Seu

trabalho visa diretamente algum fim.” (CARAVANTES, PANNO & KLOECKNER, 2004, p.

49). Cada uma delas visualiza o seu intuito principal, procurando se destacar na área de

atuação no mercado.

As organizações têm como objetivo atingir metas específicas, que são definidas de

acordo com as suas necessidades, sejam metas financeiras, metas relacionadas à expansão de

mercado, aumento de vendas ou retenção de talentos, com o propósito de alcançar lucros e

contribuir, por meio do seu negócio, com o desenvolvimento social.

Todas as organizações existem com pelo menos um objetivo, mas cada uma delas

escolhe qual o seu foco principal no qual dedicará maior atenção. Um objetivo organizacional

é algo que a organização deseja de forma contínua. Caso este objetivo seja alcançado, passa a

fazer parte da organização como algo real e atual de maneira incorporada, deixa de ser então o

objetivo desejado e acaba dando lugar a um novo objetivo. “Nesse sentido, um objetivo nunca

existe; é um estado que se procura e não um estado que se possui” (CHIAVENATO, 2004b,

p. 301).

O autor afirma ainda que as organizações possuem objetivos sociais, relacionados

à sociedade na qual está inserida; objetivos de produto, relacionados ao que ela produz

(produtos/serviços), bem como a sua qualidade e variedade; objetivos de sistema,

relacionados ao seu funcionamento e condução de seus processos. Esses objetivos possuem

diversas funções, como: apresentar uma situação futura, construir uma fonte de legitimidade,

e servir como padrão e unidade de medida para comparar a produtividade na organização.

O cumprimento do papel das organizações na sociedade é de extrema relevância,

pois a sua existência não está somente ligada à obtenção do lucro, mas também de contribuir

com o desenvolvimento social.

2.2 Teorias organizacionais

A análise dos processos organizacionais proporcionou o surgimento de algumas

escolas de pensamento e teorias sobre as organizações. Para Muchinsky (2004), as três

principais são a clássica, a neoclássica e as teorias sobre sistemas de organização. A teoria

clássica diz que toda organização deveria ter quatro componentes básicos para o seu

funcionamento: um sistema de atividade diferenciada, pessoas, cooperação para a realização

17

de um objetivo e autoridade. “Credita-se à teoria clássica a anatomia estrutural das

organizações. Foi a primeira grande tentativa de articular a forma e a substância das

organizações de maneira abrangente” (MUSHINSKY, 2004, p. 241).

A teoria neoclássica é como uma reformulação da teoria clássica. “É um

reconhecimento das questões psicológicas/comportamentais que questionam a rigidez com

que os princípios clássicos foram originalmente postulados” (MUSHINSKY, 2004, p. 242).

Essa teoria revelou por meio de pesquisas comportamentais que os princípios clássicos não

poderiam ser universalmente aplicáveis, considerando as diferenças individuais.

A teoria dos sistemas originou-se da ciência biológica e enxerga as organizações

como vários sistemas independentes entrelaçados, nos quais uma parte pode afetar as demais

e defende que um sistema organizacional é formado por cinco partes:

• indivíduos – pessoa/personalidade;

• organização formal – estrutura do sistema;

• grupos pequenos – pessoas que trabalham isoladas em pequenos grupos;

• status – diferença em cargos / define o comportamento individual no sistema e

• ambiente físico – ambiente externo e o seu grau de tecnologia.

Cada uma das três escolas de pensamento organizacional teve papel fundamental

na compreensão da evolução das organizações, oferecendo conceitos críticos que são

considerados até a atualidade. Segundo Cury (2007), durante o século XX as organizações

passaram por três modelos diferentes de administração: o modelo tradicional, o modelo

moderno e o modelo contemporâneo.

O modelo de organização tradicional traz a análise dos componentes formais das

atividades das empresas, como, por exemplo, as normas, estrutura organizacional, divisão do

trabalho, departamentalização e hierarquia. A ambiência das empresas deste modelo seguia os

parâmetros de organizações tradicionais, como a Igreja e o exército e as tomadas de decisões

eram individuais e centralizadas no chefe. Neste panorama, a interação no ambiente de

trabalho ocorria de maneira formal e os processos eram burocráticos. “Nessa concepção,

mudar de uma organização era considerado como mudar uma peça com defeito de um carro”

(CURY, 2007, p. 152).

O modelo de organização moderna exposto por Cury (2007) traça o perfil das

organizações como resultado de um demorado processo de evolução organizacional, trazendo

como característica a análise estrutural funcional e identificação dos desejos e expressões

18

humanas, valorizando o conceito de cultura. Visa entender e interpretar o comportamento

humano nas empresas.

O ambiente de trabalho tornou-se mais favorável em virtude da autoridade ter

passado a ser de aceitação ao invés da imposição. O surgimento da administração por

objetivos contribuiu para este avanço. Passou-se a perceber a presença de fatores motivadores

após estudos direcionados ao comportamento humano no âmbito de empresas e pequenos

grupos.

Já no modelo de organizações contemporâneas, Cury (2007) diz que o foco é no

cliente e na busca pelo não cliente. Proporciona um ambiente de trabalho efetivamente

participativo com relação aos processos administrativos. A ampliação da visão do trabalho, o

foco em processos otimizados pela tecnologia da informação e a adoção de técnicas de

gerenciamento administrativo, como o empowerment1 por exemplo, são características das

organizações contemporâneas. Este modelo está sendo aperfeiçoado e expandido nas

organizações que apostam o seu sucesso no capital intelectual e acreditam que um trabalho

voltado para o seu cliente interno, ou seja, seus funcionários, lhes trará retorno considerável

relacionado aos seus clientes externos.

As organizações estão se moldando às novas demandas, evoluindo sua

metodologia de trabalho, segundo as necessidades que surgem com os novos estilos de vida

que as pessoas levam. Na busca pela adequação ao meio em que se encontram, as empresas se

deparam com obstáculos que precisam ser superados para atingirem suas expectativas de

sucesso, como já foi feito no passado.

2.3 Comportamento organizacional

O homem é alvo de diversos estudos realizados no decorrer da evolução,

principalmente nos que estão relacionados ao ponto de vista comportamental. Tanto no

passado quanto nos tempos atuais, o comportamento, em sua totalidade, desperta curiosidade

e interesse dos estudiosos, que buscam conhecer a fundo os aspectos que lhes são mais

peculiares do ser humano.

Não é somente no ponto de vista científico que o comportamento desperta

interesse, existem também muitas especulações dos próprios indivíduos que procuram

1 Empowerment – técnica administrativa de gerência que tem como finalidade criar autonomia aos subordinados por meio de limite e compartilhar informações com todos os envolvidos em determinado processo. Pode substituir hierarquias por equipes autogerenciadas.

19

entender melhor de si, conhecer as relações interpessoais de maneira mais clara e aprender a

conviver socialmente em um meio organizacional ou grupal.

Segundo Robbins (2005, p. 6), o comportamento organizacional “Estuda três

determinantes do comportamento nas organizações: indivíduos, grupos e estrutura.” O

comportamento organizacional se preocupa com o que os indivíduos e grupos fazem nas

organizações e de que maneira essas atitudes influenciam na estrutura e no desempenho da

empresa. Em um contexto geral, o comportamento organizacional procura entender as ações

dos indivíduos, dos grupos e seus respectivos impactos dentro das organizações, objetivando

encontrar soluções para pontos críticos detectados nas empresas e garantindo mais eficácias

nos resultados dos processos corporativos.

O comportamento organizacional é um campo de estudos que investiga o impacto que indivíduos, grupos e a estrutura têm sobre o comportamento dentro das organizações com o propósito de utilizar este conhecimento para melhorar a eficácia organizacional (ROBBINS, 2005, p. 6).

A área que estuda o comportamento organizacional é ampla, pois esse campo

possui tópicos relevantes que impactam diretamente no desenvolvimento organizacional e

apesar de eles já terem sido alvo de controvérsias entre autores quanto à importância relativa

de cada tópico, foi consenso a inclusão de componentes básicos, como comunicação

interpessoal, comportamento e poder de liderança, estrutura e processos de grupo, motivação,

desenvolvimento de atitudes e percepção, aprendizado, conflitos, processos de mudança,

planejamento do trabalho e estresse no trabalho, segundo Robbins (2005).

Todos estes componentes básicos formam a área de estudo do comportamento

organizacional, que se tornou elemento relevante na condução administrativa das empresas,

uma vez que, quando bem trabalhados, os componentes conseguem trazer resultados

consideráveis para o desenvolvimento organizacional.

[...] é mais frequente se dar atenção aos papéis, comportamentos e habilidades necessárias para um desempenho gerencial eficaz. Algumas dessas habilidades comportamentais são a comunicação com pares, subordinados e chefes; a obtenção de informações e o ato de compartilhá-las; a condução de reuniões; a alocação de recursos e grupos diversos, e a solução de conflitos dentro de grupos ou entre eles. Essa compreensão dos processos administrativo, frequentemente chamada de Comportamento Organizacional, amplia assim a formação dos administradores, levando-os as estudo de pessoas, grupos e suas interações nas estruturas organizacionais (BOWDITCH & BUONO, 2004, p. 1).

Lacombe e Heilborn (2008) cita em seu trabalho o experimento de Elton Mayo2,

realizado em Hawthorne, pela Western Eletronic Company, em que Mayo mostrou que não

2 Elton Mayo (1880 – 1949) – sociólogo australiano, um dos fundadores e principais personagens do método “Sociologia Industrial Estadunidense” e considerado fundador do movimento das relações humanas.

20

eram somente as condições de trabalho e a remuneração que podiam influenciar no

comportamento dos funcionários os tornando mais produtivos. Este experimento de Mayo deu

origem aos princípios básicos da teoria das relações humanas, que parte do princípio de que o

homem possui necessidades sociais além de interpretar os relacionamentos como recompensa

no ambiente de trabalho.

Nesta teoria, o indivíduo é visto não só como um membro da empresa em que

trabalha ou como recurso dela, mas como um parceiro que possui necessidades dentro daquela

organização e que ao se sentir mais inserido socialmente é capaz de desempenhar um trabalho

mais eficaz. As conclusões de Elton Mayo deram espaço também a muitos outros autores que

acrescentaram referencial teórico direcionado a essa abordagem humanística.

Soto (2005, p. 8) afirma que “O comportamento organizacional se relaciona com

um conjunto de conceitos fundamentais que giram em torno da natureza das pessoas e das

organizações.” Para o autor, no que se refere à natureza das pessoas existem quatro tópicos

que também são direcionados a um contexto organizacional: as diferenças individuais, a

pessoa como um todo, a conduta motivada e o valor das pessoas.

Com relação “às diferenças individuais,” significa que apesar de terem muitas

coisas em comum, os indivíduos são muito diferentes e se distinguem pela sua

individualidade. “As diferenças individuais significam que a gerência de uma empresa

conseguirá uma motivação mais notável entre os empregados, tratando-os também de forma

diferente” (SOTO, 2005, p. 8).

Com relação “à pessoa como um todo,” refere-se ao aproveitamento do indivíduo

por completo e não somente das suas características mais interessantes para a empresa,

tornando o contexto importante para ambos os lados. “Quando a gerência pratica o

comportamento organizacional, está tratando de desenvolver um empregado melhor, com

relação ao seu desenvolvimento pessoal e sua satisfação” (SOTO, 2005, p. 9).

O outro tópico é “a conduta motivada”; o autor defende que a conduta normal de

um indivíduo está relacionada com a sua necessidade, portanto, as organizações conseguem

gerar a motivação organizacional de duas formas: mostrando como algumas ações na

organização elevam a satisfação de suas necessidades ou em contrapartida pode ameaçá-las

com a redução do nível de satisfação.

Contudo, a interpretação do comportamento organizacional para as empresas

representa compreender os pensamentos e expectativas que torneiam os indivíduos que irão

contribuir com o desenvolvimento da organização. Portanto, a esse tema deve ser atribuída a

importância correspondente.

21

3 CULTURA ORGANIZACIONAL E SEUS DILEMAS CONTEMPORÂNEOS

Este capítulo aborda os principais conceitos de cultura organizacional, a forma

como a cultura é transmitida dentro do contexto empresarial e a maneira como as empresas

modernas buscam propagar a sua cultura, bem como a definição de clima organizacional. O

processo de incorporação e aquisição e outras modalidades de reestruturação organizacional

interpretados como dilemas da contemporaneidade e traduzidos como mudança

organizacional também são abordados neste capítulo.

3.1 Cultura organizacional

Lacombe e Heilborn (2008, p. 355) defende cultura organizacional como

“Crenças em relação ao que é importante na vida e expectativas sobre o comportamento dos

membros da organização.” Já Robbins (2005, p. 375) define que “[...] cultura organizacional

se refere a um sistema de valores compartilhado pelos membros que diferencia uma

organização das demais.” A cultura de cada organização é particularmente diferenciada. Para

o autor, as grandes organizações possuem, na maioria dos casos, uma cultura organizacional

dominante e diversos nichos de subculturas.

A forma como os funcionários percebem as características de cultura da empresa

em que trabalham e as compartilham uns com os outros tornando essa percepção de valores

subentendida caracteriza-se como cultura organizacional. Está presente em qualquer empresa,

sendo esta de pequeno, médio ou grande porte, diferenciando cada organização, dando-lhes

identidade própria e influenciando de forma positiva ou negativa no clima organizacional.

Motta e Vasconcelos (2004) defende que quem determina os padrões culturais a

serem seguidos em uma organização é o grupo que tem mais poder de decisão, geralmente são

os diretores e gerentes. Para os autores, a cultura imposta por estes membros pode ser seguida,

mas não significa que será totalmente aceita pelos demais membros que questionam os

padrões oficiais estabelecidos e buscam posicionar também as suas definições de valores e

realidade.

“Podemos considerar a organização como uma arena política onde existe o

confronto entre várias “verdades”, correspondendo às diversas formas de percepção e

expressão dos diversos grupos organizacionais” (MOTTA & VASCONCELOS, 2004, p.

327). No entanto, Robbins (2005) afirma que a cultura dominante é a responsável por

22

expressar os valores essenciais que são compartilhados entre os membros que compõem a

empresa, ou seja, a cultura dominante é que define a personalidade da organização.

Já as subculturas são caracterizadas pelas distinções de departamentos ou

localização geográfica de cada área da empresa, podendo até assumir uma personalidade

diferente, mas seus valores essenciais são os mesmos da cultura dominante, ou seja, quando o

contexto de determinada situação está relacionado a um departamento ou área, a percepção

pode ser diferente de quando este mesmo contexto está relacionado à organização como um

todo.

Vale destacar que a cultura organizacional não pode ser considerada estática,

estando sujeita a mudanças no decorrer do tempo, considerando-se fatores internos e externos

à organização. A flexibilidade de percepção dos membros é uma das características da cultura

organizacional. “Falar em cultura implica falar sobre a capacidade de adaptação do indivíduo

à realidade do grupo no qual está inserido” (PIRES & MACÊDO, 2005). Portanto, essa

capacidade de adaptação é que conduz o comportamento individual de acordo com o grupo no

qual este indivíduo está inserido.

As empresas também buscam usar de artifícios próprios para transmitir a sua

cultura aos clientes internos e externos da forma como eles gostariam de ser reconhecidas,

através da declaração de sua missão, visão e valores, códigos de ética, manuais de integração,

marketing e endomarketign3, na tentativa de induzir a percepção dos indivíduos.

Dessa forma, a expressão da cultura organizacional da empresa não fica definida

apenas pelo clima organizacional ou influências de percepções já existentes, mas acaba sendo

direcionada para a ideologia cultural que o empresário pretende repassar aos seus funcionários

e clientes. Nessa mesma linha de raciocínio, Motta e Vasconcelos (2004) define sete

elementos que possibilitam observar e transmitir a função ideológica da cultura

organizacional:

• a prática de ritos coletivos – a coletividade nas atitudes rotineiras dentro das

organizações como o comportamento que as pessoas adotam na hora do almoço,

por exemplo, permite a percepção valorativa predominante;

• a perpetuação de mitos ou histórias na organização – tratam-se de histórias que

são repassadas retratando situações em que alguém agiu de forma inapropriada e

foi penalizado por isso, ou boatos sobre os donos, fundadores e chefes, que podem

expressar a cultura da organização;

3 Endomarketing – forma de comunicação direcionada aos funcionários de uma organização. Tem como objetivo promover a valorização dos funcionários, motivação, qualidade de vida e informação.

23

• a existência de tabus ou assuntos proibidos – refere-se a determinados fatos ou

assuntos cujos comentários são evitados. São capazes de refletir a cultura

predominante;

• normas de comportamento – trata-se da definição da maneira de agir dos

funcionários em cada ocasião; a forma de tratamento formal ou informal entre

superiores e subordinados é um exemplo disso;

• valores emergentes do grupo organizacional – estão associados aos discursos

oficiais feitos pela gerência e diretoria das empresas, ou seja, o que se pretende

propagar, mas que na realidade nem sempre se pratica o que se prega, podendo

não trazer credibilidade à imagem da empresa diante dos seus funcionários;

• a linguagem – a linguagem se refere à forma verbal de comunicação existente

na empresa, tanto da gerência para os funcionários, quanto entre os grupos em

particular. Expressões usualmente aplicadas naquele ambiente.

• atos simbólicos e formas de expressão em geral – são símbolos adotados pela

empresa ou funcionários que retratam o panorama atual e podem expressar a sua

cultura organizacional. Apelidos como “mãe” ou “madrasta”, figuras positivas ou

negativas que são associadas à empresa são exemplos deste elemento.

Através da contínua interação com o ambiente externo no qual as organizações

estão inseridas, torna-se inevitável a influência constante causada por esse meio, que por sua

vez também é influenciado pela organização, tornando-se uma via de mão dupla. Dentro dessa

perspectiva, as pessoas que compõem as organizações também são agentes contribuintes para

essa troca de valores, atuando na formação da cultura organizacional de onde estão inseridas.

Robbins (2005) diferencia dois tipos de cultura que causam impacto sobre o

comportamento dos funcionários e que influenciam na rotatividade: culturas fortes e culturas

fracas. Segundo o autor, uma empresa que possui uma cultura forte tem seus valores

essenciais intensamente acatados pelos seus funcionários e amplamente compartilhados por

eles.

Quanto mais forte for a cultura organizacional, maior será o comprometimento

dos funcionários e a aceitação dos valores essenciais da empresa. Neste caso, os funcionários

saberão sempre o que a empresa espera receber deles. Com a captação da essência valorativa

da organização, o índice de satisfação será maior quando comparado a uma organização de

24

cultura fraca, que, baseada no argumento do autor, acaba possuindo um elevado índice de

rotatividade.

Um resultado específico da cultura forte é um índice mais baixo de rotatividade da força de trabalho. Uma cultura forte demonstra um elevado grau de concordância entre seus membros sobre os pontos de vista da organização. Essa unanimidade de propósitos gera coesão, lealdade e comprometimento organizacional. Tais qualidades, por sua vez, reduzem a propensão dos funcionários de deixar a organização (ROBBINS, 2005, p. 377).

Para Teixeira (2008), existem três principais perspectivas que tornam possível o

entendimento da cultura organizacional: integração, diferenciação e fragmentação. A cultura

organizacional de integração é considerada como uma representação social estável e

uniforme. Neste conceito, a integração dos membros da organização acontece de forma a

torná-los fortemente ligados, buscando soluções conjuntas para os problemas, tanto de

integração interna quanto de adaptação externa relacionada ao grupo.

A cultura organizacional de diferenciação aborda que mesmo havendo um

conjunto de distintas personalidades dos diferentes membros que compõem a organização,

essas personalidades juntas ainda conseguem representar a personalidade e a cultura da

empresa. O conceito de cultura organizacional de fragmentação aponta que a base da cultura

está na competência de fazer com que os indivíduos permaneçam juntos de maneira a superar

a fragmentação característica do ambiente externo, com a intenção de conduzir a organização

conforme as suas expectativas, defende Teixeira (2008).

3.1.1 Clima organizacional

Uma das preocupações das grandes empresas contemporâneas relacionada à

atuação do fator humano nas organizações é o clima organizacional (CO). Considerado um

dos maiores fatores motivacionais, o CO tem sido objeto de constantes estudos relacionados à

cultura da organização. Moreira (2012, p. 21) afirma que: “Pode-se dizer, então, que clima

organizacional relaciona-se com a tendência a respeito das necessidades dos indivíduos que

atuam em uma empresa.” Já Siqueira (2008, p. 30) diz que: “Por outro lado, clima

organizacional é formado por percepções compartilhadas pelos trabalhadores.”

A influência do ambiente interno organizacional constrói o CO e através dele é

possível compreender a maneira como o cenário empresarial influencia no comportamento

dos indivíduos que o constituem. Por ser um fator de grande impacto no desenvolvimento das

organizações, a preocupação com o domínio e compreensão do CO é crescente desde o início

25

da globalização, uma vez que as grandes empresas procuram alcançar um diferencial com

relação à concorrência, segundo Siqueira (2008).

O clima organizacional é a expressão pessoal da visão que os trabalhadores e dirigentes adquirem da organização a qual pertencem. O clima organizacional está diretamente relacionado com o grau de satisfação, expectativas e necessidades dos integrantes de uma organização (DIAS, 2003, p. 77).

Os indivíduos que compõem as empresas já têm pressuposições de como se deve

agir em um ambiente organizacional, bem como o que se deve esperar das outras pessoas

(clientes internos e externos) com relação ao comportamento. Portanto, uma simples atitude

pode afetar o coletivo tanto positiva como negativamente (como um comunicado aos

funcionários mal redigido pela diretoria, por exemplo), uma vez que já existe uma expectativa

de o que se deve fazer em determinada situação.

Dessa forma, o CO torna-se uma importante ferramenta na mão da gestão de uma

empresa que deve ser muito bem empregada, pois com a sua condução adequada é possível

estabelecer condições favoráveis como motivação, segurança, responsabilidade, porém, se

usada inadequadamente pode trazer situações muito difíceis de reverter, como insegurança,

desmotivação e até desonestidade, por exemplo.

O CO não sofre apenas influência do ambiente interno da organização, o ambiente

interno também pode dar a sua contribuição afetando-o direta ou indiretamente. Crises

econômicas, alterações políticas, legais, queda no poder aquisitivo, por exemplo, podem

afetar o CO de uma organização.

Dias (2003) comenta que podem existir diversos tipos de climas organizacionais,

alguns podem ser criados intencionalmente, outros surgem sem nenhuma intencionalidade. O

autor cita alguns climas organizacionais como mais comuns, como: o CO de intimidade, que

favorece a integração das equipes; o CO de espírito de equipe, em que os indivíduos

compartilham as necessidades sociais e o sentimento de tarefa cumprida; o CO com ênfase na

produção, no qual a administração foca no objetivo de produzir, ocasionando forte pressão; o

CO burocrático, no qual há a predominância de regras no ambiente; o CO da cordialidade, em

que há a predominância de grupos amistosos e cordiais; o CO da tolerância, que trata os erros

como forma de apoio ao aprendizado.

A maioria das empresas, principalmente as de médio e grande porte, utiliza

ferramentas para analisar como está o seu CO e qual o grau de satisfação dos funcionários ao

menos uma vez no ano. A ferramenta mais comum é a pesquisa de clima. Esta pesquisa segue

26

o mesmo raciocínio da pesquisa de mercado, porém, a sua aplicação é realizada dentro das

empresas direcionada ao seu quadro de funcionários.

A pesquisa de clima consiste em um questionário elaborado pela empresa em que

as questões abordam assuntos de interesse da organização, como: avaliação do desempenho

da gestão, satisfação dos funcionários, aprovação dos benefícios oferecidos, desenvolvimento

dos funcionários dentro da organização e outros temas que podem ser interessantes para a

organização naquele momento. A sua finalidade é elaborar ações estratégicas dentro da

conjuntura atual da organização, que sejam capazes de trazer benefícios para todos os que a

compõem, com base na análise do resultado da pesquisa.

3.2 O processo de incorporação e aquisição

As incorporações e aquisições são vistas atualmente como consideráveis

diferenciais competitivos, além de grande oportunidade de crescimento organizacional em

face ao nível que chegou a globalização mundial. As organizações precisam promover não

somente a satisfação de seus clientes, mas também atender às exigências distintas impostas

pela sociedade, consumidor direto, fornecedores, sistema político e ainda conseguir vantagens

competitivas sobre a concorrência.

Nas últimas décadas, as incorporações e aquisições têm crescido de forma

considerável, tornando-se objeto de estudo para alguns pesquisadores, na intenção de

compreender o fenômeno e suas motivações. A revista eletrônica exame.com informou que no

mês de outubro de 2013 o PwC 4 contabilizou 68 transações entre empresas do tipo de

aquisições e fusões. Do início do ano de 2013 até o mês de outubro, as transações já somam

664; com relação ao mesmo período de 2012, o aumento é de 26% e as aquisições

representam 53,3% dos negócios.

Segundo o artigo 227, da Lei nº 6.404, ou Lei das Sociedades Anônimas, “A

Incorporação é uma operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que

lhes sucede em todos os direitos e obrigações.” A empresa incorporada deixa de existir e a

empresa adquirente assume a sua personalidade jurídica e responsabilidades, inclusive

prejuízos, dando continuidade a todas as suas atividades de acordo o novo objetivo do

negócio.

4 PwC – PricewaterhouseCooper, empresa que presta serviços de auditoria, consultoria e outros serviços acessórios para todo tipo de empresa em todo o mundo; é também uma das maiores prestadoras de serviços profissionais em nível global.

27

A absorção dessas sociedades é denominada aquisição; as empresas que sofrem

uma incorporação são adquiridas por outra, portanto, as duas modalidades sempre caminham

em paralelo, assim sempre que houver uma empresa incorporada haverá outra que fez a

aquisição. Para Muchinsky (2004, p. 324), “Uma aquisição é uma compra de propriedade

(nesse caso, uma organização) por outra organização. A organização adquirente está no papel

dominante ou mais poderoso.” A empresa que está no papel dominante geralmente é a

organização mais forte, que apresenta maior poder aquisitivo com relação à organização

incorporada, considerada mais fraca.

Não necessariamente um processo de incorporação poderá acontecer com uma

empresa nova no mercado, também estão susceptíveis a essa mudança as grandes empresas

que já se encontram no mercado há muito tempo e até mesmo já consolidaram a sua marca,

basta apenas que não exista uma administração atuante e estratégica capaz de conduzi-la ao

sucesso e estabilidade linear no mercado.

O processo de incorporação precisa ser minunciosamente analisado e mensurado

em diversos aspectos pela empresa adquirente, antes mesmo do início das negociações com a

futura incorporada, pois devido a sua complexidade é necessário estudar a situação atual da

empresa que será incorporada e os cenários futuros de mercado que esta se encontraria. Dessa

forma, a empresa que irá adquirir a incorporada terá como prever os prováveis prejuízos e

analisar se terá como cobri-los.

As incorporações e aquisições podem ser um fator determinante de sucesso para a

organização adquirente, pois através desse processo ela alcançará benefícios tributários,

expansão da capacidade de atendimento ao cliente, aumentará a sua participação no mercado,

tornando-se mais competitiva, agregará mais valor a sua marca e terá mais poder de

negociação, além de novas soluções de negócios. Além dessas vantagens diretas, com essa

união são encontrados outros benefícios para os funcionários, como a valorização profissional

e agregação de conhecimento, por exemplo, possibilitando outras oportunidades de

desenvolvimento de carreira e crescimento interno.

3.2.1 Modalidades de reestruturação empresarial como estratégia de crescimento

Além da incorporação e aquisição, existem outras modalidades para se realizar

reestruturações organizacionais, que também são consideradas como alternativas importantes

de estratégia de negócio. As empresas procuram adaptá-las corretamente com o objetivo de

28

agregar valor aos produtos/serviços, aumentar parcela de participação no mercado e aumentar

a riqueza dos acionistas. Seguem abaixo as principais.

Fusão – é a união de duas ou mais empresas, geralmente de porte bem parecido,

formando uma só. Neste caso, as empresas que participam do processo de fusão são extintas,

dando origem a uma única marca. Geralmente quando ocorre uma fusão, o controle

administrativo fica sob o comando da maior ou mais próspera. O objetivo de uma fusão é tirar

vantagem dos benefícios da união no tocante em que a combinação de duas ou mais empresas

resulte em maior força de mercado, eficácia e eficiência do que era possível obter quando

separadas.

Para Wright, Kroll e Parnell (2009, p. 145) “A principal razão para uma fusão é

tirar vantagem dos benefícios da sinergia.” Um exemplo de fusão ocorreu em maio de 2009,

quando as empresas do ramo alimentício Sadia e Perdigão anunciaram a sua fusão, criando a

BRF Brasil Foods, “Os conselheiros do CADE5 acreditam que, com este acordo, conseguiu-se

uma separação das firmas no mercado interno e externo, o que permite a entrada de novas

empresas competidoras ao nível local” (Fonte: Exame.com; 13/7/2011).

Alianças estratégicas – é uma parceria entre duas ou mais empresas que

geralmente atuam em um mesmo segmento de mercado e se unem para dividir os riscos,

benefícios e custos, buscando novas oportunidades de negócio que, uma vez separadamente,

não conseguiriam tantas vantagens competitivas. As empresas permanecem separadas e

independentes.

Wright, Kroll e Parnell (2009) cita o pouco aumento nos custos burocráticos e de

coordenação como vantagem da aliança estratégica, além da disponibilidade de explorar

sozinha outras oportunidades de negócio, uma vez que cada empresa permanece independente

da outra. Um exemplo de aliança estratégica no Ceará bem conhecido é o caso SuperRede –

União de Supermercados no Ceará. A SuperRede, por meio de uma aliança estratégica, reúne

os supermercados de menor porte a fim de atuar no mercado com preços mais competitivos e

poder concorrer com os supermercados de grande porte.

Cisão – em um processo de cisão, a empresa transfere todo ou partes de seu

patrimônio para uma ou mais sociedades, montadas exclusivamente para esta finalidade ou já

existentes; a empresa cindida poderá ser extinta ou atuar parcialmente. Existe um

desmembramento de seu capital / patrimônio, que é direcionado para outra sociedade, não

necessariamente do mesmo segmento de mercado.

5 CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica.

29

O processo de cisão geralmente ocorre quando não existe mais o interesse por

parte dos sócios ou acionistas de uma empresa em continuar a trabalhar junta; outra situação

seria quando existem impasses operacionais que aconselham uma separação de atividades a

fim de delimitar melhor foco nos negócios. Um exemplo recente de cisão aconteceu com a

empresa Gol, que mantinha o programa de milhagem denominado Smiles, oferecido aos seus

clientes. Em dezembro de 2012, a Gol anunciou a separação do programa de milhagem com a

empresa aérea que deu origem à Smiles S/A.

Joint venture (articulação de risco) – essa modalidade representa a união de duas

ou mais empresas independentes juridicamente, com o objetivo de realizarem juntas

atividades econômicas em comum durante determinado tempo. As empresas envolvidas

passam a partilhar os riscos, gestão, lucros e prejuízos. Através do joint venture as empresas

conseguem superar barreiras ao entrar em um novo mercado, além de adquirirem considerável

know-how (saber como, conhecimento).

Um exemplo de joint venture recente aconteceu entre as empresas Braskem6 e

Styrolution7 , que anunciaram a intenção de formaruma joint venture, na qual a empresa

brasileira terá participação de 30% e a empresa alemã de 70%. As companhias construirão

uma fábrica juntas, em que a Styrolution entrará com o licenciamento de tecnologia e

negócios e a Braskem entrará com a infraestrutura de cadeia de fornecimento e o local para a

fábrica.

Transformação – é a mudança ou alteração do tipo societário de uma empresa.

Esta operação pode ser, por exemplo, o caso de uma empresa ltda tornar-se uma sociedade

anônima – S/A. A nova empresa absorve os bens da anterior, assim como os direitos e

obrigações.

3.3 Incorporação e aquisição como mudança organizacional

As mudanças acontecem desde o início dos tempos, a sociedade está em constante

transição e tudo ao redor está em fase de aperfeiçoamento, sofrendo, com isso, incessantes

alterações no cenário legislativo, econômico, político, social, demográfico, ambiental, pessoal

etc. com admirável velocidade. As organizações precisam acompanhar o que surge de novo e

6 Braskem - empresa petroquímica brasileira sediada em São Paulo, líder nas Américas em produção de resinas termoplásticas com 36 plantas industriais distribuídas pelo Brasil, Estados Unidos e Alemanha. 7 Styrolution – empresa alemã fornecedora global de estireno, hidrocarboneto aromático usado como insumo para a produção de itens à base de plástico.

30

trazer para si o que for mais favorável ao seu negócio, na busca pela competitividade e

ampliação de mercado.

Wood (2004) defende que existem duas categorias de mudanças organizacionais,

uma delas é a mudança estrutural, que está mais relacionada aos princípios da escola de

administração clássica (citada no capítulo anterior), na qual é abordado o desenvolvimento do

processo em si; a outra categoria aborda as mudanças comportamentais, em que suas

características estão mais relacionadas à teoria das relações humanas (citada no capítulo

anterior). Esta última será discutida mais intensamente na presente pesquisa.

A mudança é difícil. A maioria das pessoas e das entidades organizacionais se acomoda a um método de fazer negócios. Geralmente fazer o negócio de sempre é o caminho mais fácil de se concluir um trabalho. Gerenciar a mudança implica mudar hábitos e modelos de comportamento das pessoas e, às vezes, suas atitudes quanto ao modo de desempenhar as funções (MONTANA & CHARNOV, 2003, p. 333).

Adaptar-se a uma nova realidade é necessário para obter sucesso e gerar

perspectivas de futuro para o negócio na intenção de perpetuar uma marca e deixar um

legado. As organizações que não conseguem evoluir no mercado acabam sendo ultrapassadas

e superadas pelas novas gerações em aspectos técnicos, humanos e tecnológicos. Muchinsky

(2004, p. 265) afirma que “Quando o comportamento ou a conduta da organização já não

servem para ela atingir seus objetivos, torna-se necessário que a organização se comporte

diferente.”

O tema mudança organizacional aborda uma infinidade de outros assuntos que o

envolvem profunda e complexamente, portanto, será analisado nesta seção o processo de

mudança organizacional no âmbito de uma incorporação e aquisição de empresas, bem como

os efeitos causados por ele e articular formas de minimizar os impactos negativos que podem

existir durante um processo de mudança desta categoria em uma organização.

3.2.1 Mudança na cultura organizacional

Uma característica da mudança na cultura organizacional é ser uma transformação

ampla, rápida e profunda, exercendo impacto direto nos funcionários. Esse tipo de

reestruturação organizacional torna-se mais complexo quando relacionado ao comportamento

organizacional, uma vez que os indivíduos que compõem as empresas envolvidas, na maioria

das vezes, não se adaptam com facilidade e resistem ao processo de mudança, não

conseguindo se desligar da antiga cultura já extinta e absorver uma nova cultura.

31

O alinhamento dos processos internos e das atividades de forma abrangente é

fundamental no processo de mudança e de implantação da nova cultura, pois procura

aumentar a eficácia e eficiência no desenvolvimento organizacional.

O desconhecimento de cada organização da cultura da outra parece ser responsável pela maioria dos problemas enfrentados quando as duas organizações se integram. Durante as negociações entre as duas organizações, questões de ajuste estratégico

(isto é, estratégias empresariais compartilhadas ou complementares, metas financeiras) costumam dominar a discussão. Contudo, questões de ajuste

organizacional (isto é, a compatibilidade das culturas e o entrosamento entre as duas forças de trabalho) costumam ser negligenciadas (MUCHINSKY, 2004, p. 325, grifo do autor).

Um processo de incorporação e aquisição deve ser estritamente analisado em

todos os aspectos, antes mesmo da sua concretização, não somente as questões legais ou

financeiras, mas também questões organizacionais, pois os impactos negativos dentro da

organização poderiam ser minimizados se as diferenças organizacionais fossem levantadas

com antecedência e uma estratégia de mudança fosse elaborada com a finalidade de concluir

uma integração sem sequelas para a organização em si. Durante este processo, quando

analisado de um ponto de vista cultural, é possível encontrar duas situações distintas: uma é a

imposição da cultura dominante da adquirente e a outra é a extinção da cultura fraca da

incorporada, segundo Robbins (2004).

Um processo de incorporação e aquisição é capaz de proporcionar inúmeras

vantagens para a organização e também para os funcionários que a compõem como, por

exemplo, o seu crescimento profissional e valorização de mercado. Porém, existem ainda

aspectos desfavoráveis a se atentar relacionados às pessoas que constituem o corpo

organizacional. Pois, segundo Muchinsky (2004), elas têm reações individuais com relação à

união da sua empresa com outra. O autor denomina a empresa adquirente de “controladora” e

a incorporada de “objeto-alvo”.

Constatou-se que algumas características das empresas controladoras afetam a maneira como elas implementam a integração das duas empresas. Duas questões importantes referem-se à cultura da controladora e à sua arrogância com o objeto-alvo. Algumas controladoras são mais propensas a impor a sua cultura aos objetos-alvo do que outras. Organizações controladoras com um forte senso de convicção e valores, bem como uma forte socialização de seus membros com essas convicções e esses valores, são especialmente mais propensas a tentar impô-los aos objetos-alvo (MUCHINSKY, 2004, p. 325).

A posição de adquirente deixa a empresa em uma posição confortável; isso lhe

garante o direito de conduzir o negócio, bem como a cultura organizacional à sua maneira.

Porém, isso nem sempre é transmitido da melhor forma para as pessoas envolvidas no

32

processo, cuja atuação é fundamental para o seu desenvolvimento, uma vez que são nomeadas

como capital operacional e intelectual durante o processo de transição.

Alguns autores definem esse comportamento como arrogância, como para Je;ison

e Sitkin (1986, apud MUCHINSKY, 2004, p. 325), por exemplo, que a arrogância

organizacional pode ser dividida em três tipos e para esclarecê-las os autores usaram

expressões a fim de melhor retratá-las:

• arrogância interpessoal – “somos melhores do que vocês”;

• arrogância cultural – “nossos valores, nossas práticas e crenças são superiores”;

• arrogância gerencial – “nossos sistemas administrativos são melhores”.

Os comportamentos de arrogância citados podem influenciar, em nível gerencial,

as empresas adquirentes, as levando a adotar ar de superioridade com as empresas

incorporadas, porém, essa atitude pode ocasionar o aumento da resistência à integração dos

funcionários da incorporada e afetar negativamente o moral, o desempenho e

consequentemente, influenciam na rotatividade.

A condução das atitudes da empresa adquirente define como será o processo de

transição e o seu nível de impacto para os funcionários. A junção de duas culturas diferentes

não é somente um processo labiríntico para a fração incorporada, mas também para a fração

adquirente, pois a absorção e modificação da cultura adquirida exigem dedicação e paciência

até o enquadramento de todos os funcionários à nova realidade.

Como os processos internos da adquirente já estão enraizados na sua cultura, os

procedimentos realizados pela incorporada podem lhe parecer equivocados ou distorcidos e

quando trazida a uma nova situação, a tentativa de introdução de novas normas, políticas e

procedimentos pode não ser interpretada da maneira correta pelos funcionários da

incorporada.

Dessa forma, é possível esculpir um clico do processo de integração dos

funcionários em uma situação de incorporação e aquisição, bem como as etapas que toda a

organização, com foco na questão comportamental, irá passar até a conclusão da integração.

Os principais sentimentos, pensamentos, comportamentos e sensações relacionados aos

funcionários podem ser analisadas através da ilustração a seguir. Na figura exibida abaixo,

encontrada no site de uma empresa de consultoria, foi exposta por outra empresa (objeto de

estudo) na condição de adquirente, em uma apresentação de integração de seus funcionários

vindos de uma empresa incorporada.

33

Figura 1. O ciclo de processo de integração dos funcionários

Fonte: Partner Consulting – empresa de consultoria (2013, p. 1).

A ilustração apresenta seis estágios, em que os funcionários que fazem parte da

organização incorporada terão que enfrentar, desde a decisão e comunicação da aquisição até

à integração total.

O “Estágio 1” é o momento em que existe a comunicação da decisão de aquisição;

nesse momento existe a sensação de perda, deixando os funcionários com o sentimento de

medo, tanto da nova organização quanto da cultura, principalmente com relação à estabilidade

na empresa. O comportamento adotado é o de paralisados com a notícia, principalmente se

não havia cogitação anterior da situação e o pensamento cauteloso se dá até mesmo motivado

pela vida pessoal de cada um e responsabilidades pessoais.

“A reação psicológica dos funcionários ao anúncio de que a sua empresa foi

adquirida tem sido comparada a um sentimento de perda de uma pessoa em fase de formação

de luto,” afirma Mirvis (1985, apud MUCHINSKY, 2004, p. 325). O autor defende que esse

34

sentimento de perda leva os funcionários a passarem por estágios de sofrimento, que vai desde

a incredulidade, negação e raiva até chegar à aceitação.

Esse sentimento de perda dos funcionários que faziam parte da empresa

incorporada se estenderá até o próximo estágio e a sua reação psicológica dependerá da forma

como a empresa adquirente conduzirá a situação, se ela transmitirá um sentimento acolhedor,

sentimento de confiança e segurança, porém, se não houver preocupação com o clima

organizacional e a incorporação for interpretada pela adquirente como somente mais um

processo, esta última poderá enfrentar dificuldades no desenvolvimento organizacional com o

novo quadro de funcionários.

No “Estágio 2” existe a sensação de dúvida. Nesse estágio os funcionários estão

com um sentimento de ressentimento, tanto com a mudança e até mesmo com os antigos

donos, que muitas vezes são retratados como indiferentes com relação aos que tanto fizeram

pela empresa extinta. O pensamento questionador surge na busca de entenderem quais foram

os motivos que levaram ao fim da empresa, como será a nova e qual será a nova cultura

organizacional.

Neste estágio, o comportamento é de resistência à mudança, mas quando se fala

de mudança organizacional, principalmente quando está relacionada a incorporações e

aquisições de empresas, é possível enumerar alguns aspectos que evidentemente surgirão no

decorrer da transição. Um desses aspectos é a resistência à mudança, em que todos os

funcionários são conduzidos a se deslocarem da zona de conforto em que se encontravam

anteriormente para uma fase de adaptação de uma nova cultura.

Os membros que compunham a empresa incorporada há algum tempo certamente

possuem algumas práticas e rotinas enraizadas como herança, que faziam parte da empresa

extinta e consequentemente dos indivíduos que a integraram. Nessas condições, a situação de

mudança não é encarada facilmente, pois a nova empresa tem a necessidade de implantar a

sua cultura de maneira súbita, a fim de concluir a fase de integração e dar continuidade as

suas atividades de rotina.

Muchinsky (2004) afirma que o processo de mudança em uma organização na

maioria das vezes não ocorre lentamente, mas sim de forma brusca. Dessa forma, os

funcionários que fazem parte do quadro são obrigados a se adaptarem a uma nova cultura e se

desfazer da anterior.

Os indivíduos acham difícil a mudança porque ela diminui a previsibilidade ambiental e frequentemente produz ansiedade por interromper o fluxo aprendido da vida organizacional. Assim, costuma haver resistência, muitas vezes grande resistência, à mudança (MUCHINSKY, 2004, p. 259).

35

No “Estágio 3” do ciclo de integração em análise, a sensação dos funcionários é

de desconforto, a inserção em uma nova organização e o processo de mudança organizacional

sem preparação psicológica os levam a essa sensação. O sentimento nessa fase é de ansiedade,

pelo que está por vir como mudanças internas, alterações de cargo, adequações salariais e

principalmente demissões; esses aspectos tornam esse estágio um momento de ansiedade.

O pensamento é de confusão, o choque cultural torna o momento confuso e os

conflitos de ideias deixam os pensamentos dos funcionários em uma situação quase que

caótica. As novas diretrizes relacionadas à condução das atividades, as mudanças de normas e

procedimento internos, até mesmo o relacionamento com os clientes e fornecedores fazem do

momento extremamente conflituoso.

Geralmente o comportamento dos funcionários nesse estágio é de

improdutividade, pois não é possível discernir com facilidade o que é prioridade para a nova

empresa e as iniciativas de resolução dos problemas tornam-se mais lentas por causa do receio

de tomar determinadas decisões.

O “Estágio 4” é um momento de descoberta e essa sensação proporciona aos

funcionários a saída da fase de instabilidade no ciclo da integração. O início da aceitação da

nova cultura leva ao interesse de aprendizado o que propicia um sentimento se proatividade

no trabalho, o entusiasmo que antes não existia volta a aparecer aos pouco junto com novas

ideias vindas de pensamentos criativos. Este estágio transmite mais positividade com relação

aos outros, pois o comportamento dos funcionários passa a ser de colaboração, o que leva às

próximas fases do ciclo.

Já no “Estágio 5”, a fase de instabilidade já foi rompida e os funcionários têm a

sensação de compreensão com relação à incorporação e começam a se acostumar com a nova

cultura organizacional. O sentimento de confiança volta a tornear a organização, deixando

todos mais seguros com relação ao desempenho das atividades, dessa forma passam executá-

la com mais atenção e firmeza.

O pensamento agora é de pragmatismo, pois a positividade trazida pelo

sentimento de confiança torna os funcionários mais objetivos no que fazem. O

comportamento produtivo finalmente retorna em seu cotidiano, gerando mais rendimento nas

atividades, que anteriormente eram desempenhadas com desmotivação.

Por fim, o “Estágio 6”. Chega ao fim o ciclo de integração após o início do

processo de incorporação e aquisição; uma nova cultura organizacional já está inserida e a sua

fase de adaptação já foi ultrapassada. A sensação organizacional é de integração e o

sentimento dos funcionários finalmente é o de satisfação; nessa fase do ciclo, eles se

36

encontram com um pensamento focado nos objetivos organizacionais e o comportamento que

eles adotam é completamente favorável para a condução dos processos organizacionais e o

sucesso da organização com foco no negócio.

Não existe tempo determinado para a conclusão de cada fase deste ciclo de

integração; o fator determinante é a própria organização, pois serão seus administradores

quem decidirão como direcionar cada momento e em cada situação encontrada. O ideal é

fazer uma transição planejada, com a intenção de reduzir os impactos negativos e aproveitar

as oportunidades de minimizar a preocupação na empresa de uma forma geral.

37

4 METODOLOGIA APLICADA À PESQUISA

A pesquisa monográfica é um trabalho científico, de caráter formal, que visa

investigar um determinado assunto de interesse do pesquisador. É uma produção acadêmica,

que tem como objetivo levantar dados de forma sistemática a partir de métodos e técnicas

específicas para cada tipo de abordagem.

Trata-se, portanto, de um estudo sobre um tema específico ou particular, com suficiente valor representativo e que obedece a rigorosa metodologia. Investiga determinado assunto não só em profundidade, mas também em todos os ângulos e aspectos, dependendo dos fins a que se destina (MARCONI & LAKATOS, 2003, p. 235).

Este capítulo irá abordar a estrutura metodológica que foi utilizada na elaboração

da pesquisa, tais como sua natureza, a tipologia, o seu objeto de estudo, as técnicas e o

instrumento de coleta de dados utilizado para obtenção de resultados.

4.1 Natureza da pesquisa

O presente estudo possui natureza qualitativa. Essa natureza possibilita colher

informações através do instrumento de pesquisa e examiná-las separadamente. “A

metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos,

descrevendo a complexidade do comportamento humano” (MARCONI & LAKATOS, 2008,

p. 269).

Este método não chega a empregar instrumentos estatísticos como o centro de

análise do problema, mas é capaz de analisar em um contexto mais abrangente os dados

coletados, pois viabiliza a identificação de tópicos que, em outro método de pesquisa,

estariam oclusos à identificação. Leite (2008, p. 100) defende que “A pesquisa qualitativa

possui o poder de analisar os fenômenos com consideração e contexto.”.

Segundo Martins e Lintz (2000), a abordagem qualitativa possibilita compreender

e classificar processos dinâmicos experimentados por determinados grupos sociais. Esse tipo

de método tem características não estruturadas, ou semiestruturadas, que permitem desvelar

percepções, crenças, relações e sentidos nos comportamentos dos sujeitos.

Os tipos de pesquisa de natureza qualitativa mais utilizados são consequências de

pesquisas teóricas, pesquisas exploratórias documentais ou até mesmo outras que tenham a

sua origem no nível de investigação lógica ou histórica, afirma Leite (2008). Na pesquisa

38

qualitativa, as diretrizes do levantamento das informações não ficam limitadas somente a

formatos estatísticos, não se admitindo regras precisas.

4.2 Tipologia da pesquisa

Vergara (2009) defende que a pesquisa pode ser categorizada em dois aspectos:

quanto aos fins e quanto aos meios. Desta forma, a presente pesquisa, quanto aos fins ,é de

caráter exploratório e descritivo e, quanto aos meios, é qualificada como bibliográfica, de

campo e estudo de caso.

Gil (2002) argumenta que a pesquisa de caráter exploratório tem como desígnio

aproximar o pesquisador do problema, tornando-se mais visível ao pesquisador que é sempre

apoiado por técnicas de pesquisa. Ela é capaz de oferecer maior familiaridade com o problema

e tem como finalidade caracterizá-lo, bem como sua classificação e definição.

“Os estudos exploratórios têm como objetivo a formulação de um problema para

efeito de uma pesquisa mais precisa ou, ainda, para a elaboração de hipóteses” (OLIVEIRA,

2002, p. 135). No caso desta pesquisa, foi explorado o cenário de mudança organizacional

diante de uma reestruturação empresarial em caráter de incorporação e aquisição de empresas.

As informações foram extraídas da gestão da empresa objeto de estudo, possibilitando à

pesquisadora mais entendimento e familiaridade com relação ao problema.

A pesquisa de caráter descritivo é desenvolvida através de observação, análises,

registros, classificação e interpretação dos fatos ocorridos no objeto de estudo sem que haja

interferência do pesquisador. Oliveira (2002) defende que a pesquisa descritiva permite que o

pesquisador obtenha melhor compreensão do comportamento e dos elementos que

influenciam determinado fenômeno. Técnicas padronizadas de coleta de dados são utilizadas

na pesquisa de caráter descritivo, como questionários e observações sistemáticas.

Quanto aos meios, a presente pesquisa é qualificada como bibliográfica, de campo

e estudo de caso. Uma pesquisa bibliográfica tem como finalidade reunir conhecimento

científico que tenha aceitável ligação com o tema. A pesquisa bibliográfica é considerada um

estudo sistemático desenvolvido com materiais divulgados em revistas, livros, artigos, jornais

e canais eletrônicos, esclarece Vergara (2009).

Martins e Lintz (2000) reforçam Vergara (2009) ao afirmarem que a pesquisa

bibliográfica é entendida como uma análise teórica, a qual busca explicar e discutir um tema

ou um problema com base em estudos já realizados e publicados em livros, revistas, jornais,

39

periódicos, entre outros. Através da pesquisa bibliográfica, foi possível arquitetar o referencial

teórico encontrado no trabalho.

A pesquisa de campo realizada para embasar esta pesquisa foi indispensável para

conseguir dados atuais e reais sobre o que foi exposto na teoria. “A pesquisa de campo é uma

investigação empírica realizada no canal em que ocorreu ou ocorre o fenômeno ou que dispõe

de elementos para explicá-lo” (VERGARA, 2009, p. 43). Sendo então uma investigação

empírica, a pesquisa de campo permitirá uma relação entre os aspectos teóricos levantados no

corpo do trabalho, durante a fase bibliográfica, com os aspectos observados durante a fase campal.

Através da investigação propiciada pelo estudo de caso é possível analisar um

contexto real do que foi levantado teoricamente e entender o que acontece em determinado

objeto de estudo. Para Gil (2002), ela proporciona um grande alcance do objeto estudado,

permitindo um fracionamento de informações para posterior análise.

4.3 Objeto de estudo

O objeto de estudo empregado nesta pesquisa foi um caso de incorporação

recente, ocorrido em uma empresa brasileira do ramo de comércio de máquinas pesadas, que

atua principalmente nas áreas de construção civil, florestal, mineração, petróleo, gás e

marítimo. Não foi autorizada a divulgação do nome da empresa na pesquisa, por esse motivo

ela será intitulada apenas como objeto de estudo.

A empresa objeto desse estudo fez a aquisição de outra empresa do mesmo

segmento, que dominava a região nordeste do país. Contudo, o estudo das mudanças

organizacionais sofridas pela empresa incorporada foi o foco da pesquisa. A problemática,

quanto à cultura organizacional modificada a partir de uma situação de incorporação e

aquisição foi investigada, primeiramente, através de um levantamento bibliográfico e

complementada por uma pesquisa de campo de caráter descritivo, utilizando uma metodologia

de abordagem qualitativa.

Nessa perspectiva, o pluralismo metodológico adotado nesta investigação

justifica-se em virtude da natureza da temática. Procurou-se obter dados que não só

permitissem generalizações e projeções sobre a visão e análise dos gestores pesquisados, mas

que também pudessem captar opiniões, representações, pontos de vista, percepções,

compreensão de significados e aprofundamentos que o método quantitativo não contemplaria.

40

4.4 Técnica e instrumentos da pesquisa

A investigação qualitativa foi realizada com o intuito de atingir um número de

gestores capazes de fornecer relatos consistentes, promovendo um apanhado de informações

segundo as suas vivências e anseios, contidos em suas percepções sobre a temática ressaltada.

Para tanto, o instrumento utilizado na coleta de dados foi um questionário,

composto de um quadro de quatro perguntas abertas, sendo todas interrogativas. Conforme

Martins e Lintz (2009), essa técnica tem como objetivo compreender o significado que os

participantes respondentes atribuem a questões e situações, com base nas apresentações e

conjecturas do entrevistador, ancorados em um referencial que está dando suporte teórico ao

estudo.

Visando facilitar o acesso ao instrumento, bem como conhecer melhor o universo

em que cada gestor respondente atua, a realização desse processo investigativo aconteceu na

empresa objeto de estudo, na qual os respectivos gestores trabalham e todos eles passaram

pela fase de mudança e reestruturação organizacional da categoria de uma incorporação e

aquisição.

Para esse estudo qualitativo, foram aplicados questionários, no mês de novembro

do ano de 2013, com profissionais da mesma empresa, individualmente, mediadas por um

roteiro norteador, composto de questões abertas que possibilitaram o aprofundamento das

respostas, bem como o surgimento de novos apontamentos. As questões aplicadas foram:

1) como as diversidades de duas culturas podem ser partilhadas no ambiente

organizacional, na sua visão?

2) sob um ponto de vista gerencial, como as diferenças podem ser consideradas

positivas para a cultura organizacional?

3) quais dificuldades você enfrentou até se adaptar em face de um novo momento

organizacional?

4) se você tivesse que enfrentar uma nova mudança organizacional, quais

sugestões você daria para melhorar os impactos dessa mudança?

41

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Para que a problemática fosse debatida de maneira consistente, o presente estudo

teve como universo de pesquisa uma empresa brasileira, com filial em Fortaleza – CE, que

atua no ramo de comércio de máquinas pesadas, voltada principalmente às áreas de

construção civil, florestal, mineração, petróleo, gás e marítimo. O objeto de estudo passou por

um intenso processo de mudança organizacional em forma de incorporação, contudo,

oportunamente foi realizada uma pesquisa de natureza qualitativa.

A empresa usada como estudo de caso se reservou o direito de não autorizar a

divulgação do seu nome na pesquisa. O instrumento utilizado no estudo foi um questionário

composto de quatro interrogativas. O questionário foi direcionado aos cargos de gestão da

empresa e a amostra da pesquisa foi composta por oito gestores, sendo três gerentes e cinco

coordenadores, todos do sexo masculino e escolaridade igual ou maior ao ensino superior.

A primeira pergunta do questionário foi: como as diversidades de duas culturas

podem ser partilhadas no ambiente organizacional? A intenção dessa pergunta foi identificar

os pontos que os gestores respondentes consideram primordiais para compartilhar a cultura da

empresa incorporada com a cultura da empresa adquirente.

As respostas foram bem diversificadas, mas dois pontos tiveram destaque entre

elas: a comunicação e o alinhamento de processos. Esses dois elementos, conforme já exposto

no referencial teórico, são considerados por Robbins (2005) um dos componentes básicos para

o desenvolvimento organizacional relacionado ao comportamento. Os autores Bowditch e

Buono (2004) também os destacam como solução de conflito entre grupos.

Conforme análise do questionário aplicado, 33% dos gestores consideram a

comunicação como aspecto fundamental para que a integração e o compartilhamento das duas

culturas sejam desempenhados de maneira harmoniosa e não cause prejuízos à organização. O

alinhamento de processos, citado também por 33% dos respondentes, está correlacionado à

comunicação, pois o direcionamento dos procedimentos depende também da

comunicabilidade existente na empresa. As respostas constituídas pelos outros aspectos

citados correspondem a 67%. Seguem em resumo:

� deve haver boa integração entre membros e todos devem estar abertos à mudança;

� é necessário compreender o que há de novo e é fundamental haver cooperação;

� deve haver respeito pelas diversidades culturais e a mediação direta dos gestores

em minimizar conflitos;

42

� é importante indicar à empresa adquirente as culturas e ações positivas que eram

mais maduras na incorporada e

� as diversidades podem ser minimizadas se houver planejamento, adequação de

sistemas, capacitação de pessoas, treinamento.

A segunda pergunta do questionário indagou os gestores da seguinte forma: sob

um ponto de vista de gestão, como as dicotomias (diferenças) podem ser consideradas

positivas para a cultura organizacional? Esta pergunta teve como finalidade identificar quais

aspectos os respondentes consideram positivos nas diferenças culturais e 50% deles julga que

a aprendizagem é uma perspectiva extremamente positiva em uma mudança organizacional no

nível de incorporação, que apesar de trabalhosa uma incorporação agrega mais conhecimento

e experiência a todos os envolvidos.

O aprendizado também é um dos componentes básicos para o desenvolvimento

organizacional relacionado ao comportamento, citado por Robbins (2005). As demais

respostas também contribuíram no entendimento dos fatores positivos da mudança

organizacional. Seguem em resumo:

� oportunidade de melhoria, avaliar, julgar e implantar mudanças positivas;

� incrementar o capital intelectual da nova empresa;

� rever conceitos e aprender novas rotinas;

� absorção de conhecimento e experiência;

� sempre existe algo a se aprender;

� considerar os pontos positivos de cada empresa;

� considerar os diferentes pensamentos e ideias como meio de contribuição e

� exploração de vários pontos de vista.

A terceira questão indagou aos gestores quanto às dificuldades enfrentadas: quais

dificuldades você enfrentou até se adaptar em face de um novo momento organizacional?

Nesta questão, três aspectos foram considerados como grande dificuldade e ambos foram

indicados em 33% das repostas, são eles: falta de conhecimento dos processos, falta de

comunicação e adaptação cultural.

Conforme indicado no referencial teórico desta pesquisa, Muchinsky (2004)

aborda que o desconhecimento de cada empresa pela cultura da outra pode ser responsável

pela grande parte dos problemas enfrentados quando ocorre uma incorporação. A falta dele

43

pode gerar uma série de outros problemas que impactam diretamente no desenvolvimento

organizacional.

O fator comunicação aparece mais uma vez no estudo como problema enfrentado

em um processo de incorporação; a falta de comunicação pode direcionar processos às falhas,

podendo assim comprometer o desenvolvimento organizacional. O aspecto adaptação foi

mencionado algumas vezes neste estudo, em virtude de ser fator principal de um processo de

mudança. Pires e Macedo (2004) afirma que a adaptação está ligada diretamente a qualquer

cultura, pois os indivíduos têm a necessidade se adaptarem ao grupo onde estão inseridos.

Segue o resumo de outros aspectos indicados pelos respondentes:

� absorver e praticar a nova cultura;

� decisão de permanência diante da mudança ou buscar novo desafio;

� reestruturação de cargos;

� resistência das equipes;

� rigidez dos processos da nova empresa;

� resistência por parte dos colaborares a essa mudança;

� desmotivação, insegurança e instabilidade empregatícia e

� treinamento inadequado.

A terceira questão é a mais direta e debate da seguinte forma: se você tivesse que

enfrentar uma nova mudança organizacional, quais sugestões você daria para melhorar os

impactos de uma reestrutura? A intenção desta questão é analisar quais pontos os gestores

mudariam se tivessem que passar por uma nova reestruturação. Os tópicos em destaque da

última questão foram: melhor comunicação, transparência e honestidade, ouvir mais as

pessoas envolvidas.

Em análise às respostas, foi possível observar que a comunicação foi citada pela

maioria dos respondentes em três das quatro perguntas; dessa forma fica claro o seu impacto

em um processo de transição, como a incorporação de empresas. O que leva os gestores a

sugerir como melhorias como a transparência e a honestidade é a cobrança que é feita sobre

eles pelas suas equipes, que exigem respostas que na maioria das vezes eles não possuem. A

falta de atenção à opinião das pessoas envolvidas nos processos organizacionais também foi

muito comentada pelos respondes, bem como a forma como este tópico pode ter prejudicado o

desenvolvimento organizacional.

44

Muitos gestores da empresa incorporadora não tinham a experiência de uma incorporação. Alguns deles, quando se deparavam com processos melhores que os deles, preferiam ignorá-los em vez de aprender com eles. Por essa negligência, a nova empresa acabou perdendo um grande capital intelectual e excelentes colaboradores.8

Os três aspectos que se destacaram na última questão da pesquisa tiveram citações

em 33% das respostas. Seguem as demais respostas:

� ser mais claro, honesto, objetivo, atencioso e acelerado;

� acompanhar melhor o trabalho de cada gestor;

� preocupar-se em não gerar insatisfação e falsas expectativas nos funcionários;

� trabalhar a rápida absorção dos valores e objetivos da nova empresa;

� analisar melhor os processos da incorporada e

� melhor planejamento das mudanças.

8 Citação feita por Clayton Freitas em resposta ao questionário aplicado na presente pesquisa, que é coordenador de sistemas da informação da empresa objeto de estudo.

45

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em face à problemática proposta por esta pesquisa sobre mudança organizacional

e sua complexidade em uma transição de cultura em um processo de incorporação e aquisição

de empresas, foi identificado que, no decorrer desse processo, a organização enfrenta fases

distintas até a sua conclusão da integração e adaptação à nova cultura. Todas as fases devem

ser rigorosamente acompanhadas pela gestão, pois o seu impacto é direto no desenvolvimento

dos processos.

O objetivo geral do presente estudo foi alcançado à medida que foi possível

identificar quais aspectos foram considerados mais relevantes em um processo de mudança

como a incorporação e aquisição. Sob um ponto de vista de gestão, foi detectado que o fator

comunicação é indispensável em um processo de mudança da categoria proposta; este fator

foi indicado como primordial em 75% das perguntas do questionário aplicado.

Portanto, existe a necessidade de haver maior atenção ao que se diz respeito à

comunicação interna durante um processo de transição cultural, em que as pessoas

envolvidas, gestores e subordinados tenham acesso às informações necessárias ao

desempenho de suas atividades, não dando margens a dúvidas que podem colocá-las em risco.

Além da comunicação, outros aspectos foram apontados na pesquisa como

importantes durante o processo de incorporação: o alinhamento e conhecimento de processos

entre as culturas que estão sendo integradas. A falta de alinhamento e conhecimento dos

processos da nova empresa podem ocasionar falhas graves no que diz respeito à continuidade

das atividades, pois caso um processo jurídico, por exemplo, seja conduzido da forma errada

por falta de conhecimento dos procedimentos internos, pode produzir consideráveis prejuízos

financeiros.

É necessário que haja um acompanhamento da transição desses processos junto a

todo o quadro de funcionários, com o objetivo de dar continuidade ou aprimorar o

desempenho do trabalho, prevenindo assim a queda nos padrões de serviços oferecidos,

evitando prejuízos financeiros e sucesso no novo passo que foi dado.

A resistência à mudança por parte dos funcionários foi outro aspecto detectado

que precisa ser trabalhado durante o processo. A falta de transparência e objetividade da

situação proporcionam sentimento de insegurança e consequentemente a desmotivação

relacionada à condução e colaboração nas mudanças, além de interferir negativamente no

clima organizacional.

46

Para que a situação não seja vista de maneira negativa pelas pessoas envolvidas, é

necessário que a empresa expresse a situação real em que todos se encontram, sem a geração

de dúvidas e incertezas. A extinção de uma cultura é mais fácil de ser assimilada pelos

funcionários quando comparada à aceitação de uma nova. Muitos costumes laborais ficam

enraizados em cada funcionário, tornando a fase de aceitação mais difícil por meio da

resistência. Contudo, deve ser realizado um trabalho voltado para os funcionários de maneira

planejada, visando a sua integração com a cultura da adquirente e aceitação da extinção da

cultura da incorporada.

A opinião dos funcionários deve ser levada em consideração, conforme apontado

na pesquisa; os funcionários que já desenvolviam determinada atividade possuem o

conhecimento de como adaptá-la à nova realidade. Introduzir uma nova metodologia sem

levar em consideração o histórico de trabalho não é a melhor forma de alcançar a integração

dos processos.

Embora uma incorporação traga muitos transtornos merecedores de atenção à

empresa adquirente, conforme retratou o estudo, a transição cultural é capaz de proporcionar a

todos os envolvidos experiência ímpar no que diz respeito à aprendizagem. O conhecimento

obtido nesse processo promove o amadurecimento profissional e consequentemente

crescimento organizacional. Algo que cada um levará durante consigo durante toda a vida

profissional.

47

REFERÊNCIAS

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50

APÊNDICE

51

APÊNDICE 1 - INSTRUMENTO DE PESQUISA

FACULDADES CEARENSES – FAC

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

Bacharelado em Administração de Empresas

Este questionário, instrumento de pesquisa acadêmica, foi direcionado aos funcionários que

ocupam cargo de gestão na empresa estudada. Esta passou recentemente por um processo de

mudança organizacional na categoria de incorporação e aquisição, sendo na situação de

empresa incorporada, foco desta pesquisa. Tem como objetivo levantar informações para

subsidiar a elaboração de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na categoria de

monografia no curso de Administração de Empresas da Faculdade Cearense.

QUESTIONÁRIO

As questões abaixo tratam de analisar alguns pontos relacionados às

mudanças organizacionais através de uma visão da gestão.

Característica do respondente

Sexo_______________________________________________________________

Idade_______________________________________________________________

Tempo de Empresa___________________________________________________

Escolaridade________________________________________________________

Cargo que Ocupa____________________________________________________

1) Como as diversidades de duas culturas podem ser partilhadas no ambiente

organizacional?

______________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

52

2) Sob um ponto de vista de gestão, como as dicotomias (diferenças) podem ser

consideradas positivas para a cultura organizacional?

______________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

3) Quais dificuldades você enfrentou até se adaptar em face de um novo momento

organizacional?

______________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

4) Se você tivesse que enfrentar uma nova mudança organizacional, quais sugestões você

daria para melhorar os impactos de uma reestrutura?

______________________________________________________________________

_____________________________________________________________________