c.d.u. 632.5~581.9(812.1) - pppg.ufma.br 2.pdf · animais herbivoros,principalme~ te aos bovinos,...

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* PLANTAS TOXICAS DA FLORA MARANHENSE C.D.U. 632.5~581.9(812.1) ~ (1) Rego Terezinha de Jesus Almeida Silva Maria Regina B. de Carvalho(2) Maria Esther Candeira Valois(3) RESUMO Em levantamento realizado no Estado visando ao reconheci mento de sua flora, selecionamos as plantas t6xicas, assim considi radap pela população, para uma posterior identificação do pretendI do principio t~xico no Laborat6rio de Toxicologia da UFMA. - 1- INTRODUÇÃO Um nGmero enorme de es pêcies foram empregadas n~o so pelos povos semicivilizados, mas tamb~m nas civilizações antigas como instrumentos de crime,armas de guerra e de caça, e como reme d i os, Na Gréciu, a "cicuta", suco de Conium maculatum L, era utilizada para proceder a execu ç~o dos condenados ã morte. A es pêci~ acima citada tornou-se fa mosa na história antiga por ter sido a causadora da morte de Só crates. Através dos séculos,a~ tes mesmo do descobrimento da América do Sul, os indígenas Ja faziam uso de plantas tóxicas para fins de guerra e domésti co. As de açao narcotizante, eles usavam na pesca. Além das plantas narcotizantes, usavam espécies do género Strychnos, que eram manipuladas no preparo do "curare", veneno empregado na fabricaç~o de suas flechas. Em 1532, tinha-se no tícias de grandes plantações de Erythroxylum coca no Peru, fei tas pelos Incas. Considerada p~ " 10s mesmos como planta santa; (1) (2) (3) Pesquisa apresentada na 10a. Reunião No~destina lizada em Natal(RN) de 26 a 28/09/86. Professora Titular do Departamento de Professora Adjunta do Departamento de Professora Adjunta do Departamento de Farmicia da UFMA Farmicia da UFMA Farmácia da UFMA * de Botânica,re~ 52 Cada Pesq. são Luis, 3 (1): 52 - 58, jan./jun. 1987

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*PLANTAS TOXICAS DA FLORA MARANHENSE

C.D.U. 632.5~581.9(812.1)

~ (1)RegoTerezinha de Jesus Almeida SilvaMaria Regina B. de Carvalho(2)Maria Esther Candeira Valois(3)

RESUMO

Em levantamento realizado no Estado visando ao reconhecimento de sua flora, selecionamos as plantas t6xicas, assim considiradap pela população, para uma posterior identificação do pretendIdo principio t~xico no Laborat6rio de Toxicologia da UFMA. -

1 - INTRODUÇÃOUm nGmero enorme de es

pêcies foram empregadas n~o sopelos povos semicivilizados, mastamb~m nas civilizações antigascomo instrumentos de crime, armasde guerra e de caça, e como remedi o s ,

Na Gréciu, a "cicuta",suco de Conium maculatum L, erautilizada para proceder a execuç~o dos condenados ã morte. A espêci~ acima citada tornou-se famosa na história antiga por tersido a causadora da morte de Sócrates.

Através dos séculos,a~

tes mesmo do descobrimento daAmérica do Sul, os indígenas Jafaziam uso de plantas tóxicaspara fins de guerra e doméstico. As de açao narcotizante,eles usavam na pesca. Além dasplantas narcotizantes, usavamespécies do género Strychnos,que eram manipuladas no preparodo "curare", veneno empregadona fabricaç~o de suas flechas.

Em 1532, tinha-se notícias de grandes plantações deErythroxylum coca no Peru, feitas pelos Incas. Considerada p~

"

10s mesmos como planta santa;

(1)(2)(3)

Pesquisa apresentada na 10a. Reunião No~destinalizada em Natal(RN) de 26 a 28/09/86.Professora Titular do Departamento deProfessora Adjunta do Departamento deProfessora Adjunta do Departamento de

Farmicia da UFMAFarmicia da UFMAFarmácia da UFMA

* de Botânica,re~

52 Cada Pesq. são Luis, 3 (1): 52 - 58, jan./jun. 1987

o seu uso era Lmpr-eac í.ndf.ve L nasfestas, ritos reli.giosos, etc ..

Jã em 1570, Soares deSouza anunciou, em primeira mão,que no seu país o gado morria emconseqüência da ingestão de ervas que durante muito tempo eramtidas cornoótimas forrageiras(c~tado por Hoehne, 1939).

A preocupação com o estudo das plantas tóxicas aos animais herbívoros passou a fazerparte de pesquisas nasprincipaisUniversidades do país, corno: sãoPaulo, paraná e outros, pois temsido grande o número de animais,principalmente bovinos e eqüinos,que morrem intoxicados pela ingestão dessas plantas, causandoprejuízos incalculáveis a nossapecuária.

Algumas dessas esp~cies sao normalmente procuradaspelos animais enquanto outras osao por falta de forragens.

A identificação dessasespécies se torna indispensávele fundamental para sua eliminaçao nos pastos.

As condições sob asquais os bovinos ingerem quant~dades suficientes para ocorreremcasos de intoxicação por plantassão: fome, além de brotaçao novae abundante da espécie. Um fator

de grÇlnde importância para urnaín.tox.rcaçào é., sem díiv í.da , a escassez de.pastagens na época seca.

Foi observado que sobcondições naturais e em testesexperimentais a espécie Manihotglaziovii, encontrada em todoo Nordeste, é tóxica para os bovinos que a ingerem indiscriminadament junto a outras esp~cies, em qualquer época do anoou durante a seca, quando osanimais com fome a procuram.

CAMPELO(1974) relacionou 266 espécies comprovadamente tóxicas ao homem e aos animais herbívoros, abrangendo 50famílias botânicas, indicandotambém o antídoto para 11 esp~cies.

BRAGA(1978) em seu livro sobre as plantas do Nordeste, especialmente do Ceará, citou várias plantas tóxicas aosanimais herbivoros,principalme~te aos bovinos, que causam gra~des prejuízos à pecuária nordestina.

o objetivo principaldesse trabalho ..~ fazer com queos pecuaristas do Estado possamidentificar, nos pastos, as espécies consideradas tóxicas, afim de que possam eliminá-las ,evitando, assim, prejuízos ao

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rebanho.

Foram levantadas esp~cies freqUentemente encontradase reconhecidas por seus efeitostóxicos para os animais. As coletas foram efetuadas principalme~te na Capital, em são Josê de Ribamar, Paço do Lumiar e na região da Baixada Maranhense, numtotal de 17 municípios; procur~mos determinar taxonomicamentecada espécie, contribuindo paraaumentar o acervo do Herbário"Âtico Seabra", da UFMA.

2 - MATERIAL E METODOSForam feitas diversas

excursoes a vários municipios doEstado do Maranhão com a finalidade de se coletar material bot~nico e colher informações sobreos efeitos das espécies consideradas tóxicas aos animais herbívoros, principalmente aosnos.

bovi

Os espécimes coletados, destinados à identificaçãoda espécie, em nüme~o de 34, foram prensados, etiquetados e incorporados ao Herbário "ÂticoSeabra", da Universidade Federaldo Maranhão, seguindo-se a tradicional técnica de herborização.

O estudo bot~nico,abrangendo família, nome científico e nome vulgar foi feitocom auxílio de chaves analíticas

e ccnsul, tas.a. trahalhos especi~Lí.zado's no aasunt,o ,

As espécies vegetaisestão enumeradas dentro da respectiva família botânica, util!zando-se as seguintes abreviaçoes:N.V Nome vulgarN.C Nome científicoP PorteH

O

HabitatOcorrência

3 - RESULTADOSRelação das plantas

tóxicas ocorrentes no Estado doMaranhão, num total de 34 esp~cies:

1 - AGAVACEAENV Coroatá-AçuNC Agave americana

P ArbustoH Regiões tropicaisO Todo o Estado

2 - AMARYLLIDACEAENVNCP

H

Açucena do campoAmaryllis psittacina

ErvaPastos naturais,semprenas proximidades deterrenos arenosos.são Luís, Paço do LuO

miar, são José de Ribamar e Araioses.

3 - AMARYLLIDACEAENV = Cebola Brava

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NC = smaru l l i» belladona H = Matas úmidasP = Planta herbácea O = JardinsH Regiões de cerrado e-ma 9 ARACEAE-

tas NV = Comigo ninguém podeO "" Cantanhede,Caxias, Codó aninga

e Coroatá NC Dieffenbachia picta=4 - ANACARD IACEAE P = Pequeno arbusto

NV Caju H = DiversificadoNC Anacardium oc;ciden O = Todo o Estado

tale L. 10 - ARACEAEP Arbusto NV Cipó imbéH Região litorânea NC = philodendron bipinnatiO Todo o Estado fidum

5 - APOCYNACEAE P TrepadeiraNV Jasmim H CultivadaNC peschiera australis O = Todo o EstadoP Arbusto 11 - CANNABACEAEH Pastagens cultivadas NV MaconhaO Todo o Estado NC = Cannabis sativa

6 - APOCYNACEAE P = ArbustoNV Jalapa silvestre H Regiões tropicaisNC Mandevilla coccinea O Todo o Estadop Erva ereta 12 CAESALPINACEAE-H Pastos naturais NV FedegosoO Todo o Estado NC = Cassia occidentalis

7 - APOCYNACEAE P = Arbusto pequenoNV Espirradeira H = MataNC :: Nerium oleander L O = Todo o EstadoP Arbusto 13 CONVOLVULACEAE-H Âreas cultivadas NV JalapaO "Todo o Estado NC Ipomea altissima L

P = Planta herbácea8 - ARACEAE H Diversificado

NV Tinhorão O Todo o EstadoNC Caladium bicolor 14 - CUCURBITACEAEP Planta herbácea NV= Bucha, esfregão

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NC Luffa aylind~icaP Planta herbãceaH CapoeiraO Todo o Estado

15 - CUCURBITACEAENV = Cabaceiro amargasoNC Lagenaria vulgarisP Erva trepadeiraH MataO Todo o Estado

16 - COMPOSITAE

NV VassourinhaNC Bacchari~ axiZZaris DCP ErvaH Pastagens naturais em 50

10 secoO Todo o Estado

17- EUPHORBIACEAE

NV IvlandiocaNC Manihot glaziovii HookP ArbustoH DiversificadoO Todo o Estado

18 - EUPHORBIACEAE

NV MamonaNC ~ Rieinu5 communi~ LP ArbustoH Pastagens artificiaisO Todo o Estado

19- EUPHORBIACEAE

NV Maçani1a, maça do diaboNC Hippomane mancinelZaP ÂrvoreH MataO Todo o Estado

20 - E[JPBORBIACEAE

NV = Pinhão de. PurgaNC = JatEopha curca3 LP = Arvore pequenaO = Todo o Estado

21 - EUPHORBIACEAE

NV Pau de leiteNC = Sapium lanaeolatumP = ÁrvoreH MataO = Pré-Amazônia Maranhense

22 - EUPHORBIACEAE

NV = Urtiga cansançaoNC = Cn i-dosco l.ue phyllacantu3

MartP = Arbusto pequenoH = CaatingaO Todo o Estado

23 - EUPHORBIACEAE

NV = Picão,sapatinhodejudeuNC Euphorbia tithymaloide8

L

P = Arbusto pequenoH = MataO = Imperatriz e Açailândia

24 - LEGUMINOSAE

NV = AngelimNC Andira anthelmintiaaP - ÂrvoreH = MataO = Todo o Estado

25 - LEGUMINOSAENV = MulunguNC = Erythrina ari3taP Arvore

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H MatasO Baixada Maranhense.

26 - LEGUMINOSAENV ChocalhoNC Crotalaris paulina

P SubarbustoH = Matas tropicaisO Pré-Amazônia

27 - LEGUMINOSAENVNCP

H

O

BarbatimãoStryphnodendron obouaiumArvoreCerradoCantanhede,Caxias, Codõe Coroatã

28 - PIPERACEAENV Pimenta brancaNC Piper albumP ÂrvoreH

O

CultivadaToda região tropical

29- POLYGONACEAENV Erva de bichoNC = polygonum acuminatum Kin tP ErvaH Pastagens artificiais e

naturaisO Todo o Estado

30 - POLYPODIACEAENV SamambaiaNC pteridium aquilinumP Feto rizomatosoH Taperas e pastagensO Todo o Estado

31 - RUBlACEAE.

NV = Erva de"ratoNC = Pa lic ouv ea marcgraviiP = ArbustoH Pastagens naturais,bei

ra de matoO = Todo o Estado

32 - RUTACEAENV = JaborandiNC ec l.ocarpu e miérophyUusP = Arvore pequenaH = Regiões tropicaisO Coelho Neto,Chapadinhae

Presidente Dutra33 - SAPINDACEAE

NV Cipó timbóNC = Serjawia lethalisP TrepadéiraH MataO = Pré-Amazônia

34 - THYMELAEACEAENV = Imbira,Embuia brancaNC = Daphnopsia fasciculataP ArbustoH Região litorâneaO são Luís,Ribamar,Arai~

ses e Cururupu

SUMMARYThe survey fulfiled

in state Maranhão with a view toacknovoledgent of its flora. Weselect tóxic plants usedy bypopulation, with the purpose of

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the posteriortóxic principIein ToxicologicalUFMA.

identificationto be reali zedLaboratory of

4 - REFER~NCIA BIBLIOGRÂFICAHOEHNE, F.C. Plantas e substân

cias vegetais tóxicas e medieinais. são Paulo, Graphicars,1939.

CAMPELO, C.R. Estudo sobre alg~mas plantas tóxicas do Brasil.Agronomia, Rio de Janeiro, 27(3-4): 19-24, 1969.

DOBEREINER, J. & TOKARNIA, C.H.Intoxicação de bovinos pela erva-de-rato t.Pal icourea mav c q r ao i i.st Hill) no vale do Itapecuru,Maranhão. Rio de Janeiro,Inst.Biol. Animal,1959.v.2,p.83-91.

CARLIN, E.A. Maconha ( Cannabis

sativa) Ciência e Cultura, 32(6): 684-690, 1980.

PANIZZA, Sylvio & SCAVONE. plantas tóxicas. são Paulo, Ed. P~dagógica e Universitária,1981.

WEITRANB, M.S. Toxicomanias (aspectos especiais) In: COBERTT,C.E. Farmacodinámica. 5. ed.Rio de Janeiro, Koogan, s.d.

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ENDEREÇO DO AUTOR

TEREZINHA DE JFSJS A. SILVA dGO

Departamento de Farmácia;CCSUniversidade Federal do MaranhãoRua Treze de Maio, 506 - CentroTel.: (098) 222-637165.000 SÃO LuIs - MA.

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