carta de pero vaz de caminha

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A Carta a el-rei D. Manuel (destinatrio) sobre o achamento do Brasil , popularmente conhecida como Carta de Pro Vaz de Caminha, o documento no qual Pro Vaz de Caminha registou as suas impresses sobre a terra que posteriormente viria a ser chamada de Brasil. o primeiro documento escrito da histria do Brasil sendo, portanto, considerado o marco inicial da obra literria no pas. Escrivo da frota de Pedro lvares Cabral, Caminha redigiu a carta para o rei D. Manuel I (1495-1521) para comunicar-lhe o descobrimento das novas terras. Datada de Porto Seguro, no dia 1 de Maio de 1500, foi levada a Lisboa por Gaspar de Lemos, comandante do navio de mantimentos da frota.

Segundo o documento da professora, escrita a 9 de Maro de 1500. Local de produo: Porto Seguro (Brasil). Estilo: Epistolar, mas tambm narrativo, potico. Ele fala em achamento (2 linha). Ele d-nos o percurso: Belm -> Canrias -> Ilhas de S. Nicolau (ele no diz qual a rota), mas sabemos que existiram viagens anteriores. Sinais de terra que localizou aves, terra Monte Pascoal. Lana um prumo.

5 feira seguiram partiram em barcos mais pequenos, chegaram s 10 horas (a terras de Vera Cruz), vendo 7 ou 8 elementos. Exemplo de tolerncia, do convvio. Descoberto do outro, qu e pressupe a descoberta de uma identidade ( diferente do que aconteceu na ndia). Eles eram muito bons, associa a ideia de que deviam ser cristianizados. _______________________________________________________________________ Dispomos, felizmente, de alguns testemunhos preciosos que nos permitem reconstituir esse momento nico que foi o da primeira abordagem pelos navegadores de terras e gentes desconhecidas. A clebre Carta de Pro Vaz de Caminha a El -Rei D. Manuel, escrita ao vivo nos dias que se seguiram chegada em 1500 da armada de Pedro Alvares Cabral costa do Brasil. Essa Carta ao mesmo tempo um documento descritivo e narrativo, detalhado e preciso, desse acontecimento, acompanhado de comentrios sobre as peripcias que pontuaram as primeiras relaes entre portugueses e amerndios na Terra de Vera Cruz, nome dado por Cabral a essa terra nova, que no sabia ainda se era uma ilha mais a emergir no oceano ou um vasto continente. A linguagem em que est escrita e que configura um texto de gra nde qualidade literria, para alm do seu estatuto histrico, que decorre das funes prprias de Pro Vaz de Caminha: ...O escritor, que ele , alvorece na pele do escrivo , como Corteso assinalou. Estamos perante um discurso que releva arquitextualmen te de vrios registos, desde o do gnero epistolar, de que se reclama, ao narrativo ou

mesmo potico, passando pelo que hoje designaramos como etnolgico ou antropolgico 7. esse hibidrismo discursivo, para que chamou a ateno Maria Alzira Seixo, abonando-se na acepo dialgica bakhtiniana do termo, que d literariedade da Carta todo o seu efeito aliciante, como testemunho do comportamento dos amerndios no contacto com os Portugueses, nesse instante privilegiado de uma descoberta mtua 8.

A viagem tinha como destino a ndia, na sequncia da de Vasco da Gama, em 1498, mas a rota tinha inflectido para sudoeste, antes da dobragem do cabo da Boa Esperana - por instrues, alis, recebidas por Cabral, partida, do seu predecessor e eis que os navegantes aperceberam alguns sinais de terra, dando o comandante ordem para que as naus ancorassem. Na equipagem ele levava consigo um escrivo, destinado futura feitoria de Calecut, que tinha o hbito de dar conta, como um bom profissional, do que via e acontecia. Tal era Pro Vaz, dito de Caminha, pela origem paterna, mas ao que parece nascido no Porto, por cuja Cmara fora encarregado da escrita a enviar s Cortes de Lisboa, tendo merecido o apreo de D. Manuel. Ele iria anotar com mincia os incidentes ocorridos durante essa escala, que duraria de 23 de Abril a 2 de Maio de 1500, com uma preocupao de transmitir ao rei a sua prpria observao e opinio acerca do acontecimento em curso, por ocasio do envio por Cabral a Lisboa da nova do achamento, aproveitando de resto a oportunidade para solicitar o perdo rgio para o genro degredado em So Tom. Se na descrio da natureza luxuriante do que julgava ser uma ilha, Pro Vaz de Caminha relativamente sbrio, j na maneira de apreender as atitudes e o s traos psico-sociolgicos e culturais dos aborgenes ele se alonga em mincias de observao, mostrando como reagem presena imprevista de estranhos irrompendo do oceano. Primeiro de longe, depois de mais perto, descreve -nos a sua aproximao dos portugueses, pardos, todos nus, sem nenhuma cousa que lhes cobrisse suas vergonhas, avanando todos rijos para o batel, mas depondo pacificamente os arcos e as setas a um sinal que lhes foi feito. Por sinais a comunicao se iria estabelecer, por deles no poder haver fala nem entendimento que aproveitasse , como escreve Pro Vaz, que vai construindo um cdigo semitico gestual como sucedneo do lingustico, atravs do sentido que tomam as trocas que de imediato se processam entre os navegantes e os indgenas, com caracter simblico: um barrete e uma carapua contra um sombreiro de penas de aves e um ramal grande de continhas brancas, que de resto o capito -mor Pedro Alvares Cabral enviaria a D. Manuel como prendas emblemticas. A partir da, estab elecido faticamente o contacto, este prosseguiria atravs de tentativas recprocas, que Pro Vaz pacientemente vai inventariando, por vezes suscitando reaces dos seus interlocutores com certos stimuli, como se agisse ao mesmo tempo como semilogo, psiclogo ou socilogo, em suma, como antroplogo em misso. antes de mais sobre os corpos dos amerndios e amerndias que incide o olhar atento e fascinado do escrivo de bordo. Quanto aos homens, afeio deles serem pardos, maneira d avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem fetos, nota ele com

naturalidade, observando que na sua nudez e exposio das vergonhas, revelam tanta inocncia como tm em mostrar o rosto . Quanto s mulheres, elas so bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos, p elas espduas, ostentando suas vergonhas to altas e to arradinhas e to limpas que de ns muito bem olharmos no tnhamos nenhuma vergonha , como releva Pro Vaz, fazendo-se intrprete das reaces dos seus companheiros. No h duvida que para eles os aborgenes so seres humanos com uma dignidade prpria, podendo considerar -se como correspondendo aos paradigmas estticos e at ticos que so os seus. A respeito dos homens, Pro Vaz no deixa de pr em evidncia que no eram circuncidados, nem revelavam anomalias fisiolgicas mas sim semelhanas corporais. Sobre as mulheres, no regateia elogios, indo at erigir a beleza fsica de uma delas em modelo para as portuguesas: certo, era to bem feita e to redonda e sua vergonha que ela no tinha, to graci osa, que a muitas mulheres da nossa terra, vendo -lhe tais feies, fizera vergonha, por no terem a sua como ela . A diferena entre brancos e indgenas no era, assim, parte a cor da pele, essencialmente de ordem biolgica, mas antes cultural. Embora o significado destes sinais bizarros escape a Pro Vaz de Caminha, ele aventura-se a fazer algumas comparaes interculturais, como a que o leva a ver nas penas coladas sobra a pele de um velho o corpo crivado de flechas de So Sebastio mrtir... Nas relaes entre portugueses e indgenas uma preocupao ressalta ao longo da narrao do seu encontro: a de uns e outros buscarem um entendimento mtuo, atravs dos signos gestuais que compensam a impossibilidade de comunicao verbal. Mesmo se por vezes, como observa Pro Vaz de Caminha, no era possvel perceber o que os amerndios queriam dizer por a berberia deles ser tamanha que se no entendia nem ouvia ningum , ele no desespera de virem um dia os portugueses a aprender essa linguagem estranha para poderem transmitir-lhes a f crista. At l, era necessrio tentar penetrar na verdadeira natureza dos sentimentos deles, cuja disposio para com os recm-chegados era primeira vista pacifica e acolhedora. Por isso o capito recebeu a bordo dois deles. Eis o que no podia deixar de interessar sobremaneira os portugueses, como um primeiro indcio, ao menos, das riquezas que poderiam ser exploradas no futuro na Terra de Vera Cruz. Isso mesmo se no fim da Carta Pro Vaz reconhece que o mistrio a tal respeito per manece, pois at agora no pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem nenhuma cousa de metal, nem de ferro: nem lho vimos. Mas a esperana era permitida, tanto mais que os indgenas pareciam propor uma troca de objectos de adorno dos portugueses por our o: Viu um deles umas contas de rosairo, brancas; acenou que lhas dessem e folgou muito com elas e lanou-as ao pescoo e depois tirou -as e embrulhou-as no brao; e acenava para terra e ento para as contas e para o colar do capito, como que dariam ouro p or aquilo. Ao reenviar para terra os dois indgenas, o capito mand -los-ia controlar por um mancebo degradado, com a misso de andar l com eles e saber de seu viver e maneira.Tudo era, de certa maneira, pautado pelo toma-l-d-c, mesmo se o prazer de convvio se acrescentava avidez da troca. Mas foi em vo que o capito tentou

obter, atravs dos gestos, informaes precisas acerca da existncia ou no de ouro, interrogando um velho que deu ar de nada perceber. Contrariamente ao que imaginavam os portugueses, os indgenas tinham entretanto um modo de habitar e uma organizao social, de que puderam testemunhar os proscritos que o capito enviou com ordem de se misturar com eles, acabando por descobrir, no interior da costa, um conjunto de casas de m adeira em que viviam por grupos de trinta ou quarenta, dormindo em redes atadas a esteios e alimentando -se de razes e sementes. To ciosos eram porm da sua vida privada que no permitiram aos intrusos passar a noite com ele, obrigando -os a regressar aos batis. E isso mesmo se a sociabilidade dos indgenas era evidente, dado que aceitavam misturar -se com os navegadores durante o dia e mesmo dormir a bordo. Era j um esboo da mestiagem cultural, sem perda da identidade das duas partes. Como nota Pro Vaz , dando conta dessa opo, a isto acordaram que no era necessrio tomar por fora homens, porque geral costume era dos que assim levavam por fora para alguma parte dizerem que ha ai tudo o que lhes perguntam, e que melhor e muito melhor informao daria m dous homens destes degradados do que deles dariam, se os levassem, por ser gente que ningum entende. Mesmo se se trata de uma iluso do escrivo de bordo, j sacrificando ao mito do bom selvagem, que atravessa toda a Carta, e j pondo tal inocncia e m contraste, por exemplo, com as praticas religiosas prprias dos negros de frica, o certo que a sua interpretao tende sobretudo a indigitar a disponibilidade dos amerndios para uma evangelizao futura. Com uma condio, note-se bem: a de virem a ser compreendidos um dia pelos portugueses. Razo pela qual - mensagem essencial que Pro Vaz de Caminha quer transmitir ao Rei - ele insiste: Se os degradados que aqui ho-de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, no duvido, segundo a santa teno de Vossa Alteza, fazerem-se cristos e crerem na nossa santa f... Esta mensagem , para alm mesmo da questo religiosa, dum grande alcance: ela mostra a que ponto os portugueses, longe da obsesso de um etnocentrismo cultural, seja ele lingustico, eram abertos linguagem do outro, a dos amerndios, neste caso. Os jesutas compreenderam-no muito bem mais tarde, ao estudarem as lnguas indgenas para melhor evangelizarem o Brasil, indo at conceber uma lngua geral, composta de elementos do tupi-guarani, do latim e do portugus, a qual seria acessvel a todos. Utopia, sem dvida, como a de no importa que lngua artificial, mas que testemunha de uma viso pluralista e universalista das formas da linguagem religiosa, tais como so prefiguradas na Carta de Pro Vaz de Caminha. O texto do escrivo da armada portuguesa em rota para Calecut, onde iria morrer gloriosamente mo dos muulmanos, uma das peas mais preciosas da grande aventura das descobertas martimas, atravs das quais vrios mundos se encontraram: povos, civilizaes e culturas em dilogo, em pollogo infinito. Ele mostra com uma autenticidade e uma frescura de escrita muito raras como essas descobertas foram, mais do que empresas de domnio, com as suas alienaes histricas - a escravatura, o colonialismo e os seus avatares -, ocasies nicas de viver esse momento irredutvel que a descoberta do outro, ainda e sempre a recomear.

um dirio atpico, ou uma crnica de viagem, revestida das caractersticas estilsticas da literatura de viagem do Quinhentismo: a linguagem clssica, simplificada pela necessidade de tratamento objetivo da matria; clareza; simplicidade; realismo nas observaes; crtica equilibrada e, dentro do esprito humanista, uma constante curiosidade e uma persistente capacidade de maravilhar-se.

Fonte: http://www.instituto-camoes.pt/revista/descbroutro.htm

______________________________________________________________________ Da wikipedia A Carta exemplo do deslumbramento do europeu diante do Novo Mundo. Contudo, apresenta informaes equivocadas. Em princpio, Caminha se desculpa pela Carta, a qual considera "inferior". O escrivo documenta os traos de terra e o momento de vista da terra (quando se avistou o Monte Pascoal, a que deu-se o nome de Terra de Vera Cruz). Os portugueses seguem at praia, onde acontece o primeiro contacto com os ndios, quando os portugueses praticam o primeiro escambo com os ndios brasileiros. Menciona-se tambm o pau-brasil e narrada a Primeira Missa na nova terra. O pedido que Caminha faz no ltimo pargrafo da Carta muitas vezes tido como a primeira tentativa de nepotismo em territrio brasileiro. O que se verifica que, na verdade, Caminha apelou a D. Manuel para que libertasse do crcere o seu genro, casado com sua filha Isabel, preso por assalto e agresso[2]. Eis o trecho final no qual o cronista faz o pedido: "E pois que, Senhor, certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso servio for, Vossa Alteza h de ser de mim muito bem servida, a Ela peo que, por me fazer singular merc, mande vir da ilha de So Tom a Jorge de Osrio, meu genro -- o que d'Ela receberei em muita merc."