carta aberta à reitoria da unesp

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Carta aberta à reitoria da Unesp em resposta à notificação-ameaça feita aos membros do DCE: Não baixaremos a cabeça, contra as opressões e a repressão, organizaremos um grande festival! Após os estudan tes da UNESP realizarem mais um importante ato em frente a sua Reitoria , no último dia 17, a burocracia acadêmica dessa universidade, chefiada por Herman Jacobus Cornelis Voorwald, avança um largo passo contra o Movimento Estudantil, ameaçando com “os termos da lei” os estudantes diretamente ligados à gestão provisória do DCE. Esta ameaça veio na forma de uma notif ic ão env iada aos membros da ent idade na qual a Reit or ia des tac a um tr echo da nossa declaração acerca do caso de agressão, machismo e discriminação ocorrido no InterUnesp deste ano, do qual extrai uma série de questões, e termina dizendo que os estudantes terão o prazo de 5 dias para comprovarem tudo o que foi dito ou se retratarem. Caso contrário, poderão ser punidos pela legislação civil brasileira e pelo regulamento da UNESP. Diante dessa ofensiva de repressão contra os que vem se dedicando à reorganização do ME e à defesa de uma universidade pública, gratuita e de qualidade a serviço de toda a população, nos cabe a tarefa de respondermos sim à Reitoria, porém nos termos que faz o Movimento Estudantil combativo contra as repressões, sem aceitarmos em momento algum sua postura inquisitiva e ameaçadora, pois, sabemos, a cumplicidade da burocracia acadêmica com o projeto precarizador e privatista que está presente em cada metro de nossas faculdades. Sua relação com as Atléticas, que exaltam o machismo e a coisificação da mulher em diversos cartazes de festas, em seus hinos e nomes de baterias etc., também é autoevidente. Quem é a burocracia acadêmica? Mais do que uma grande desproporção na postura da burocracia acadêmica, é o fato de conviverem naturalmente com os lucrativos negócios organizados pela Atlética que até máquina de passar cartão disponibilizam quando, por exemplo, em Rio Claro ameaçaram de sindicância uma estudante que vendia trufas de chocolate nos intervalos de sua aula para complementar a renda de casa. Em todos os campi da UNESP as atléticas dispõem de sede e em algumas unidades seus membros relataram pes soal mente que receber am apo io das diretorias com tr ans por te para o InterUNESP. Mesmo apesar de vários absurdos já terem ocorrido nesses eventos, como a morte por overdose de uma estudante na edição de 2008, a Reitoria seguia sua divulgação oficial ano a ano nos calendários letivos da instituição. Mais do que isso, basta qualquer pessoa comum acessar o site da UNESP (www.unesp.br ) e pesquisar a palavra "INTERUNESP" na caixa de texto "buscar no site", para ter acesso a uma lista de notícias, entre as quais pode-se ler  "Orga nizad o pelas ass ociaç ões  Atléticas de cada campus participante, o evento contou não só com recursos fornecidos pela Rei tor ia da UNESP, mas também com a colaboração das Pr efe ituras dos doi s municí pio s sedes." , numa matéria sobre a edição de 2003 do evento ou, senão, a Reitoria comemorando o primeiro INTERUNESP com a chamada "Semente da integração começa a germinar "; ou senão o ex- reitor Mac ar i, do qual Herman era vice, di zendo que gost ari a de incluir outras modalidades no INTERUNESP, que, inclusive, em alguns campi as Comissões de Esporte, instâncias de gestão da universidade, tem como tarefa estatutária organizar! Tão questionável quanto essa clara relação da burocracia acadêmica com esses grupos de estudantes, que na verdade já são empresários negociando altos valores com grandes empresas — pois as Atléticas são associações privadas que atuam dentro da UNESP—, é também questionável como atu am as comiss ões de invest igão por eles montadas, quand o se tr ata de al gum caso relacionado à violê ncia contra mulheres entre estudantes. Todos os estudantes sabem, por ouvir falar, de diversos casos de assédio e estupro ocorridos nos campi , e não são poucos. A burocracia (diretores e Reitoria) não disponibiliza qualquer estatística a respeito e sequer emitem comunicados oficiais sobre os fatos registrados. As comissões de investigação, quando existem, não são legitimadas pelos fóruns estudantis e chegam, quase naturalmente, a uma série de encaminhamentos questionados amplamente pela comunidade acadêmica. No caso de Rio Claro, talvez dos mais revoltantes, a vítima perdeu pontos no processo seletivo para os programas de permanência estudantil por que a tal comissão considerou seu comportamento inapropriado! Comiss ão essa que, longe de uma coincidência, era composta somente por professores homens! Mais do que isso, o agressor embora tenha sido punido com uma suspensão de seis meses

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8/2/2019 Carta aberta à reitoria da Unesp

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Carta aberta à reitoria da Unesp em resposta ànotificação-ameaça feita aos membros do DCE:

Não baixaremos a cabeça, contra as opressões e a repressão,organizaremos um grande festival!

Após os estudantes da UNESP realizarem mais um importante ato em frente a sua Reitoria, noúltimo dia 17, a burocracia acadêmica dessa universidade, chefiada por Herman Jacobus CornelisVoorwald, avança um largo passo contra o Movimento Estudantil, ameaçando com “os termos da lei” osestudantes diretamente ligados à gestão provisória do DCE. Esta ameaça veio na forma de umanotificação enviada aos membros da entidade na qual a Reitoria destaca um trecho da nossadeclaração acerca do caso de agressão, machismo e discriminação ocorrido no InterUnesp deste ano,do qual extrai uma série de questões, e termina dizendo que os estudantes terão o prazo de 5 dias paracomprovarem tudo o que foi dito ou se retratarem. Caso contrário, poderão ser punidos pela legislaçãocivil brasileira e pelo regulamento da UNESP.

Diante dessa ofensiva de repressão contra os que vem se dedicando à reorganização do ME e àdefesa de uma universidade pública, gratuita e de qualidade a serviço de toda a população, nos cabe a

tarefa de respondermos sim à Reitoria, porém nos termos que faz o Movimento Estudantil combativocontra as repressões, sem aceitarmos em momento algum sua postura inquisitiva e ameaçadora, pois,sabemos, a cumplicidade da burocracia acadêmica com o projeto precarizador e privatista que estápresente em cada metro de nossas faculdades. Sua relação com as Atléticas, que exaltam o machismoe a coisificação da mulher em diversos cartazes de festas, em seus hinos e nomes de baterias etc.,também é autoevidente.

Quem é a burocracia acadêmica?

Mais do que uma grande desproporção na postura da burocracia acadêmica, é o fato deconviverem naturalmente com os lucrativos negócios organizados pela Atlética que até máquina depassar cartão disponibilizam quando, por exemplo, em Rio Claro ameaçaram de sindicância uma

estudante que vendia trufas de chocolate nos intervalos de sua aula para complementar a renda decasa. Em todos os campi  da UNESP as atléticas dispõem de sede e em algumas unidades seusmembros relataram pessoalmente que receberam apoio das diretorias com transporte para oInterUNESP. Mesmo apesar de vários absurdos já terem ocorrido nesses eventos, como a morte por overdose de uma estudante na edição de 2008, a Reitoria seguia sua divulgação oficial ano a ano noscalendários letivos da instituição. Mais do que isso, basta qualquer pessoa comum acessar o site daUNESP (www.unesp.br ) e pesquisar a palavra "INTERUNESP" na caixa de texto "buscar no site", parater acesso a uma lista de notícias, entre as quais pode-se ler  "Organizado pelas associações Atléticas de cada campus participante, o evento contou não só com recursos fornecidos pelaReitoria da UNESP, mas também com a colaboração das Prefeituras dos dois municípiossedes." , numa matéria sobre a edição de 2003 do evento ou, senão, a Reitoria comemorando oprimeiro INTERUNESP com a chamada "Semente da integração começa a germinar "; ou senão o ex-

reitor Macari, do qual Herman era vice, dizendo que gostaria de incluir outras modalidades noINTERUNESP, que, inclusive, em alguns campi  as Comissões de Esporte, instâncias de gestão dauniversidade, tem como tarefa estatutária organizar!

Tão questionável quanto essa clara relação da burocracia acadêmica com esses grupos deestudantes, que na verdade já são empresários negociando altos valores com grandes empresas —pois as Atléticas são associações privadas que atuam dentro da UNESP—, é também questionávelcomo atuam as comissões de investigação por eles montadas, quando se trata de algum casorelacionado à violência contra mulheres entre estudantes. Todos os estudantes sabem, por ouvir falar,de diversos casos de assédio e estupro ocorridos nos campi , e não são poucos. A burocracia (diretorese Reitoria) não disponibiliza qualquer estatística a respeito e sequer emitem comunicados oficiais sobreos fatos registrados. As comissões de investigação, quando existem, não são legitimadas pelos fórunsestudantis e chegam, quase naturalmente, a uma série de encaminhamentos questionados amplamentepela comunidade acadêmica.

No caso de Rio Claro, talvez dos mais revoltantes, a vítima perdeu pontos no processo seletivopara os programas de permanência estudantil por que a tal comissão considerou seu comportamentoinapropriado! Comissão essa que, longe de uma coincidência, era composta somente por professoreshomens! Mais do que isso, o agressor embora tenha sido punido com uma suspensão de seis meses

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ainda tinha respaldo para assistir as aulas como ouvinte e (o que envergonha qualquer pessoa),desfilava pelo campus com um uniforme de bateria da Atlética que o identificava com um apelido emalusão à sua agressão contra a estudante.

Outros casos também alarmantes exemplificam essa postura questionável. Em Araraquara oestudante que tentou assediar meninas em seu quarto na moradia estudantil e, após isso, ainda ateoufogo à casa delas recebeu uma bolsa da UNESP como conclusão do processo! Em Marília o filme serepetiu e após agredir uma estudante um rapaz também recebeu uma bolsa da UNESP para se retirar da moradia.

Como podemos ver, não é do nada que veio a atrocidade do "rodeio das gordas" noINTERUNESP. Valores decadentes propagados abertamente hoje em dia como o racismo, o machismoe a homofobia devem ser expurgados dos meios universitários antes que em qualquer outro lugar. Nãopodemos naturalizar essas práticas no meio estudantil e para isso não podemos também ficar dependentes de ações por parte dessa corja de reitores escolhida pessoalmente por José Serra, querepresentam toda a força repressiva desse governo diretamente dentro das universidades, impondo aqualquer custo seus planos de precarizar e privatizar e que defendem esta sociedade de miséria epreconceito.

Para entendermos melhor em que momento se insere essa notificação da Reitoria, atualmente areitoria da USP desenterrou processos de 2007 para ameaçar estudantes e indicam a expulsão comDESLIGAMENTO DEFINITIVO de outros 20 estudantes que lutam por políticas efetivas depermanência. Na Unicamp, a PM invadiu a universidade e a sede de entidades estudantis para

apreender aparelhos de som, proibindo a realização do IFCHSTOCK, além da Reitoria abrir 14sindicâncias contra estudantes que participavam da organização do evento.

E do quem tem medo essa burocracia?

As lutas do primeiro semestre deixaram nítido como o ME da UNESP cumpre um papelfundamental entre a vanguarda combativa de estudantes e trabalhadores nas públicas paulistas. Maisdo que isso, é também capaz de cumprir um papel de forte aliado a outros setores que se levantem por seus direitos e melhores condições de vida e trabalho, como foi durante a greve de professores da redepública. O segundo semestre chegou e, ao contrário da pasmaria que normalmente se instala, areorganização desse ME em torno ao seu XIX Congresso mostrou que esse papel frente à vanguardados lutadores apenas deve se aprofundar. Os dois atos realizados na Reitoria, como há anos não se

via, bem como a negociação imposta aos burocratas, apenas expressam pontualmente esseamadurecimento que vem de anos.

A iniciativa que tivemos enquanto DCE de organizar um grande festival cultural contra asopressões, favorecendo uma ampla resposta de solidariedade às vítimas e o mais duro repúdio aosagressores, unindo os combativos estudantes do ME da UNESP ao conjunto da sociedade que tambémse indignou com essa atrocidade, fez Herman tremer! Frente ao destacado papel que viemos cumprindonas últimas lutas do estado e em meio a essa onda de ataques repressivos contra estudantes da USP eUnicamp, é que Herman preparou esse golpe que agora recebemos na forma de uma notificação quemais parece um interrogatório exigindo retratação pública e com a ameaça de punição nos “termos dalei”. Não podemos aceitar pacificamente este absurdo!

Além disso, a postura da Reitoria de negar a recomendação à que as diretorias disponibilizem otransporte necessário dos campi ao "I Festival InterUNESP Contra as Opressões", conforme havia sidoacordado na negociação durante o último ato que realizamos, indica um claro boicote ao evento que osestudantes combativos dessa universidade pretender organizar como resposta à atrocidade do "rodeiodas gordas". Desrespeitam os acordos feitos, boicotam o ME e ainda ameaçam os estudantesorganizados em sua entidade!

Ou seja, quando trata-se de punir agressores machistas, então a Reitoria demora e não tomamedidas concretas, a não ser notas esparsas à mídia. Agora quando se trata de apoiar um ato-festivalcontra a opressão ou de tentar intimidar quem o organiza, então esta Reitoria mostra a que veio. Nãodevemos nos surpreender, contudo. Foram estes mesmos senhores que hoje gerem a Reitoria daUNESP que expulsaram 7 estudantes da UNESP-Franca em 2005, suspenderam 2 estudantes naUNESP-Araraquara em 2006 e mandaram a tropa de Choque invadir esta mesma faculdade em 2007.Foi esta Reitoria que desocupou estudantes em luta por permanência estudantil para estudantes pobres

em P. Prudente com a polícia e que mandou processar estudantes na UNESP-Araraquara por semanifestarem politicamente, em 2007. Foi esta Reitoria que levou adiante um processo de expansãoirresponsável de vagas na UNESP — para atender os interesses eleitoreiros e político-pontuais deAlckmin e que resultou em cursos e unidades completamente sucateadas —, assim como a aprovaçãoà toque de caixa de um PDI completamente mercadológico e privatizante, que desfigurará a UNESP

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enquanto universidade pública. Esta Reitoria que implantou o EaD na UNESP malgrado a mobilizaçãoestadual contrária, e a oposição formal e real de estudantes, trabalhadores e professores. Foi estaReitoria que ameaçou cortar o ponto de trabalhadores em greve. É esta Reitoria que sindica estudantesna UNESP-Bauru por fazerem festas dentro do campus. É esta Reitoria que cassa o mandato derepresentantes discentes conforme seu gosto. Enfim, é esta Reitoria que nega, nos atos de perseguiçãoe repressão que conduziu e que quer conduzir, o que afirma em suas doces palavras de ilusão.

Além de tantos ataques, destacamos a demissão do companheiro Fred, funcionário da Unesp deFranca que foi demitido durante o estágio probatório por ter exercido seu direito legal de praticar greve e

também por ter denunciado um esquema de desvio de verbas da biblioteca de sua unidade. Aperseguição aos que se colocam na linha de frente entre os trabalhadores das públicas paulistas écerteira e decidida por parte das burocracias das públicas paulistas, como foi com a demissão deBrandão, dirigente do Sindicato dos trabalhadores da USP (Sintusp), demitido em 2008 sob acusaçõesdiretamente atreladas aos processos de lutas em 2007 e em defesa de terceirizados, além de outros.Na época, o CRUESP (Conselho de Reitores da Universidades do Estado de São Paulo), do qual faziaparte Herman, foi chamado a se pronunciar a respeito, mas silenciaram.

O DCE da Unesp segue adiante!

Mas a miséria política e moral e o poço de arbítrio da Reitoria parecem não ter fim: respaldada emuma estrutura de poder absolutamente anti-democrática e de cunho medieval, a REI-toria busca

criminalizar-nos por suas falhas. As opiniões desta gestão de DCE, que manifestamos em nossa cartasobre o caso do INTERUNESP, está balizada, quer você queira ou não reitor, em deliberações de umCongresso de Estudantes legítimo, que realizamos independentemente de vocês da Reitoria. O mínimoque a Reitoria deveria fazer é, ao dar todo peso à organização do Ato-Festival, colocando toda aestrutura da universidade na luta contra estes casos intoleráveis, que se repetem a cada dia

Vamos deixar uma ou duas coisas claras à Reitoria: o movimento estudantil da UNESP-FATECpassa por uma forte reestruturação. As bases mobilizadas varreram a burocracia governista queaparelhou o DCE por tantos anos, e que fazia acordos convosco por fora das instâncias decisórias doME. Não estamos sujeitos às formas de pressão que a Reitoria outrora pôde se valer. É-nos estranhoque uma Universidade prefira sempre tomar o caminho da repressão descarada, de ameaças e da forçabruta.

Contudo reitor e burocratas anexos, para Vossa infelicidade organizaremos um grande Ato-

Festival que, com toda certeza, será triunfante na denúncia da discriminação, do preconceito e dahomofobia. Para Vossa infelicidade não vamos pedir permissão para exercer nosso direito fundamentalà livre manifestação de nossas posições e avaliações. Para Vossa infelicidade continuaremos aconstruir o ME da UNESP-FATEC. Enfim, para Vossa maior infelicidade, no movimento estudantil nãohá reis.

Não aceitamos essa notificação da Reitoria! Não sucumbiremos diante de nenhuma pressão!Contra as opressões nas universidade e na sociedade e contra a repressão ao movimento estudantil, detrabalhadores e professores! Por uma universidade pública, gratuita, laica, democrática á serviço damaior parte da população pobre e explorada!

São Paulo, 26 de novembro de 2010

Neste final de semana, dias 3 e 4 de novembro:

“I Festival InterUnesp Contra as Opressões”!

No campus da Unesp de Marília, entrada aberta!

Procure os membros do DCE do seus campus e participe!

Música, artes plásticas, dança, teatro e muito mais por uma arte livre

Diretório Central de Estudantes "Helenira Resende" da [email protected]

dceunespfatec.blogspot.com