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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AMBIENTAL CARACTERIZAÇÃO DE LODO DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA E SUA UTILIZAÇÃO COMO ADSORVENTE PARA ARSÊNIO BIANCA SANTIAGO MOREIRA OURO PRETO 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AMBIENTAL

CARACTERIZAÇÃO DE LODO DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA E SUA UTILIZAÇÃO

COMO ADSORVENTE PARA ARSÊNIO

BIANCA SANTIAGO MOREIRA

OURO PRETO

2019

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BIANCA SANTIAGO MOREIRA

CARACTERIZAÇÃO DE LODO DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA E SUA UTILIZAÇÃO

COMO ADSORVENTE PARA ARSÊNIO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Engenharia Ambiental da

Universidade Federal de Ouro Preto como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do

título de Mestre em Engenharia Ambiental - Área

de Concentração: Tecnologias Ambientais.

Orientadora: Profa. Dra. Mônica Cristina Teixeira

OURO PRETO

2019

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SISBIN - SISTEMA DE BIBLIOTECAS E INFORMAÇÃO

Bibliotecário(a) Responsável: Maristela Sanches Lima Mesquita - CRB:1716

M838c Moreira, Bianca Santiago .

Caracterização de lodo de estação de tratamento de água e sua utilização como adsorvente para Arsênio. [manuscrito] / Bianca Santiago Moreira. - 2019.

82 f.: il.: color., tab.. + Quadro.

Orientadora: Profa. Dra. Monica Cristina Teixeira.

Dissertação (Mestrado Acadêmico). Universidade Federal de Ouro Preto.

Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental. Programa de Engenharia Ambiental.

Área de Concentração: Tecnologias Ambientais.

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ii

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iii

Dedico este trabalho a minha família que

me incentivou e apoiou durante toda essa

jornada.

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iv

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus, por guiar meus passos para que eu chegasse até aqui.

A minha família, pelo incentivo, carinho e amor. Essa vitória só foi possível graças ao apoio de

vocês, que são minha base.

A minha orientadora Prof. Dr. Mônica Cristina Teixeira, por contribuir significativamente em

meu crescimento profissional.

Ao meu namorado, Leonardo, por todo amor, cuidado, carinho, apoio e companheirismo de

sempre.

Ao meu chefe Rafael Figueiredo pelas horas de liberação do serviço. Sem esse apoio eu não

teria concretizado esse projeto.

As minhas amigas Grazielle e Luisa, por estarem ao meu lado ao longo dessa jornada e me

ajudarem durante os momentos de dificuldades.

À UFOP e ao ProAmb, pelo apoio financeiro que possibilitou a realização deste trabalho.

Ao apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) -

Código de Financiamento 001.

E a todos aqueles que contribuíram, direta ou indiretamente, para a realização desta

dissertação, o meu sincero agradecimento.

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v

RESUMO

Elementos potencialmente tóxicos como o Arsênio – As, são considerados contaminantes

prejudiciais à saúde humana e geram preocupação às autoridades governamentais e

ambientais. Existem diversos processos de tratamento para remoção de metais e metaloides

de soluções aquosas e efluentes como osmose reversa, troca iônica, precipitação,

eletrodiálise, adsorção, entre outros. A adsorção tem sido amplamente estudada,

principalmente no âmbito de novos materiais adsorventes de baixo custo. Neste trabalho,

utilizou-se o lodo gerado em decantadores de estação de tratamento de água para remoção

de As (V) em solução aquosa, tendo em vista, que este resíduo é gerado em grandes

quantidades por todo o país, e que usualmente é descartado nos cursos d’água sem o devido

tratamento, causando impactos ambientais negativos à natureza. Afim de identificar as

características do lodo, o mesmo foi coletado nas duas principais estações do ano (período

seco e chuvoso). Em seguida, procedeu-se com a realização de análises físico-químicas do

material. Foram determinados a demanda química de oxigênio, o teor de sólidos totais,

sólidos totais dissolvidos, sólidos sedimentáveis, a temperatura, a turbidez, a condutividade

elétrica, o potencial hidrogeniônico a densidade e o potencial de oxi-redução do material, bem

como a sua caracterização por espectrometria de emissão óptica com fonte de plasma

indutivamente acoplado (ICP-OES), espectroscopia na região do infravermelho, difração de

Raios-X, microscopia eletrônica de varredura e análise de área superficial e distribuição de

tamanho de poros foram conduzidas. Em posse dos resultados da caracterização do material,

foi realizada uma mistura entre as amostras de lodo coletadas no período de seca e chuvoso

e iniciaram-se os experimentos de adsorção. Os ensaios de adsorção mostraram que a

capacidade de adsorção de As (V) variou entre 6,81 e 24,47 mg g - 1, sendo que os mais

satisfatórios foram obtidos nos ensaios realizados em pH ácido. O estudo de cinética foi

realizado e o modelo que mais se ajustou aos dados encontrados foi de pseudo-primeira

ordem, com tempo de equilíbrio de seis horas. No estudo de equilíbrio para descrever a

adsorção, o modelo que melhor se ajustou aos dados experimentais foi o modelo Sips. Sendo

assim, os resultados mostraram que o lodo pode ser utilizado para remoção de arsênio

pentavalente por adsorção.

Palavras-Chave: Arsênio, Lodo, Adsorção.

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vi

ABSTRACT

Potentially toxic elements such as arsenic – As, are considered harmful contaminants to

humans and cause of concern to government and environmental authorities. There are

several treatment processes for removing metals and metalloids from aqueous solutions and

effluents such as reverse osmosis, ion exchange, precipitation, electrodialysis, adsorption,

among others. The adsorption has been widely studied, mainly in the scope of low-cost and

new adsorbent materials. In this work, the sludge generated within water treatment station

decanters was used to remove As (V) from aqueous solutions since this is a wastematerial

wich is generated in large quantities throughout the country and it is usually inappropriately

disposed of directly in the waterways without a proper treatment, causing negative

environmental impacts to the nature. In order to identify the characteristics of the sludge, it

was collected during the two main seasons of the year (dry and rainy season). In sequence,

the material was physicochemically characterized. The chemical oxygen demand, total solids,

total dissolved solids, sedimentable solids, temperature, turbidity, electrical conductivity,

hydrogenionic potential, density and oxygen reduction potential were determined as well as

the material characterization by inductively coupled plasma source optical emission

spectrometry (ICP-OES), infrared spectroscopy, X-ray diffraction X, scanning electron

microscopy and surface area analysis and pore size distribution was carried out. After the

material characterization sludge samples collected in the dry and rainy periods were mixed

prior to the adsorption experiments. The adsorption tests showed an As (V) adsorption

capacity varying from 6.81 to 24.47 mg g - 1, and the best results were obtained during the

tests performed at acidic pH values. The kinetic study was performed and the model that best

fitted to the data was the pseudo-first order, with an equilibrium time of six hours. During the

equilibrium study conducted to describe adsorptionphenomena, the model that best fitted to

the experimental data was Sips. Thus, the results showed the sludge could be used to remove

pentavalent arsenic by adsorption.

Key words: Arsenic, Sludge, Adsorption.

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vii

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Detalhamento das coletas de lodo realizadas na ETA Amarantina. ..................... 45

Quadro 2 - Métodos utilizados em análises laboratoriais ....................................................... 46

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Características da água da ETA Amarantina. .......................................................... 40

Tabela 2- Composição química dos produtos químicos utilizados na coagulação da água. ... 43

Tabela 3 - Volume de lodo gerado na ETA Amarantina........................................................... 44

Tabela 4 - Caracterização físico-química do lodo. ................................................................... 51

Tabela 5 – Composição química do lodo. ................................................................................ 54

Tabela 6 – Análise da área superficial pelo método BET das amostras de lodo 1, 2, 3 e 4,

coletadas entre agosto/2017 e fevereiro/2018. ...................................................................... 60

Tabela 7 – Resultados da modelagem da cinética de adsorção de As (V) em lodo de estação de

tratamento de água à pH 2,0, rotação de 200 rpm e 25°C. ..................................................... 65

Tabela 8 - Resultados da modelagem das isotermas de adsorção de As (V) em lodo de estação

de tratamento de água à pH 2,0, rotação de 200 rpm e 25°C. ................................................ 68

Tabela 9 – Materiais utilizados na adsorção de arsênio. ......................................................... 71

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ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Principais tecnologias de tratamento de água para consumo humano. ................. 13

Figura 2 - Sistema de tratamento de água de ciclo completo. ................................................ 14

Figura 3- Floculadores do tipo bandejas perfuradas. ............................................................... 41

Figura 4- Decantadores de alta taxa de fluxo ascendente. ...................................................... 42

Figura 5 – Fluxograma das etapas de caracterização do lodo. ................................................ 45

Figura 6 – Resultados da análise por infravermelho das amostras 1 e 2. ................................ 55

Figura 7 – Resultados da análise por infravermelho das amostras 3 e 4. ................................ 55

Figura 8 - Difratograma de Raios-X das amostras 1 (A), 2 (B), 3 (C) e 4 (D) coletadas entre

agosto/2017 e fevereiro/2018. ................................................................................................ 57

Figura 9 - Microscopia eletrônica de varredura das amostras 1 (A), 2 (B), 3 (C) e 4 (D), coletadas

entre agosto/2017 e fevereiro/2018. ....................................................................................... 59

Figura 10 - Curva de pH versus massa de adsorvente na determinação do pHPCZ. ................. 61

Figura 11 – Diagrama Eh x pH das espécies aquosas de As a 25ºC. ......................................... 63

Figura 12 – Cinética de adsorção de As (V) em lodo de estação de tratamento de água à pH

2,0, rotação de 200 rpm e 25°C. ............................................................................................... 64

Figura 13 - Gráfico obtido do modelo de difusão intrapartícula para adsorção de As (V) em

lodo de estação de tratamento de água à pH 2,0, rotação de 200 rpm e 25°C. ...................... 66

Figura 15 – Isotermas de adsorção de As (V) em lodo de estação de tratamento de água à pH

2,0, rotação de 200 rpm e 25°C. ............................................................................................... 67

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x

SUMÁRIO

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................................ 11

1.1. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO .................................................................................. 11

2. CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO, REVISÃO DA LITERATURA E OBJETIVOS ............................. 12

2.1. INTRODUÇÃO E REVISÃO DA LITERATURA....................................................................... 12

2.1.1. Tratamento de Água .......................................................................................... 12

2.1.2. Lodo de Estação de Tratamento de Água (ETA) ................................................ 14

2.1.3. Destinação e Disposição Final do Lodo .............................................................. 17

2.1.4. Uso do Lodo Para Processos de Adsorção de Arsênio ....................................... 23

2.2. OBJETIVOS ........................................................................................................................ 30

2.2.1. Objetivo Geral .................................................................................................... 30

2.2.2. Objetivos Específicos .......................................................................................... 30

2.3. REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 31

3. CAPÍTULO II - ADSORÇÃO DE ARSÊNIO EM LODO DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA

38

3.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 38

3.2. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................ 39

3.2.1. Caracterização da ETA Amarantina .................................................................... 39

3.2.2. Caracterização do Lodo ...................................................................................... 44

3.2.3. Adsorção de Arsênio .......................................................................................... 49

3.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 50

3.3.1. Coleta e Caracterização Físico-Química do Lodo de Estação de Tratamento de

Água 50

3.3.2. Adsorção de Arsênio .......................................................................................... 61

3.4. REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 74

4. CAPíTULO III ..................................................................................................................... 79

4.1. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 79

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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1.1. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

A presente dissertação foi estruturada na forma de capítulos que foram assim organizados:

O Capítulo I foi dedicado a uma introdução ao tema, integrando-se a revisão da literatura, a

qual visa situar o leitor em relação ao tema proposto. Este capítulo inclui também os objetivos,

geral e específicos.

O Capítulo II, intitulado Adsorção de Arsênio em Lodo de Estação de Tratamento de Água,

discute a viabilidade do emprego do lodo proveniente de estação de tratamento de água

como adsorvente de arsênio. Além disso, descreve-se também a caracterização química do

material que foi executada visando compreender o comportamento do lodo como agente

adsorvente.

O Capítulo III contempla as considerações finais, as quais apresentam de forma resumida os

principais elementos do texto. As principais proposições apresentadas são novamente

discutidas de forma integrada.

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2. CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO, REVISÃO DA LITERATURA E OBJETIVOS

2.1. INTRODUÇÃO E REVISÃO DA LITERATURA

Este capítulo apresenta a introdução com embasamento teórico e retrospectivo necessários

para o desenvolvimento do trabalho.

2.1.1. Tratamento de Água

O tratamento da água é baseado na remoção de partículas suspensas e coloidais, matéria

orgânica e outras substâncias prejudiciais à saúde humana e desinfecção da água. Ao longo

do tempo, várias tecnologias foram desenvolvidas a fim de otimizar o processo de clarificação

da água, por meio de operações e processos físico-químicos, conforme apresentado na Figura

1. Sendo assim, o tipo de tratamento a ser adotado em cada estação de tratamento de água

vai depender diretamente da qualidade da água bruta. A tecnologia de tratamento mais

difundida no Brasil e no exterior é a de tratamento convencional, também chamado de ciclo

completo (LIBÂNIO, 2010).

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13

Figura 1 - Principais tecnologias de tratamento de água para consumo humano.

Fonte: DI BERNARDO, (2005), adaptado.

O tratamento da água pode ser realizado combinando vários processos e operações unitárias,

dependendo da qualidade da água bruta. O tratamento convencional consiste nos processos

de coagulação, floculação, decantação, filtração e por fim desinfecção, fluoretação e correção

de pH, como ilustrado na Figura 2.

Filtração em

multiplas etapasDupla filtração

Filtração direta

ascendente

Filtração direta

descendenteFloto-filtração

Tratamento de

cliclo completo

Pré tratamento Coagulação Coagulação Coagulação Coagulação Pré tratamento

Filtração lentaFiltração

ascendente

Filtração

ascendenteFloculação Floculação Coagulação

Filtração

descendente

Filtração

descendente

Flotação

Filtração Floculação

Decantação

Filtração

descendente

Água Bruta

Desinfecção, fluoração, correção de pH

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14

Figura 2 - Sistema de tratamento de água de ciclo completo.

Fonte: http://www.samaemogiguacu.com.br/eta.htm.

De acordo com Soares et al. (2009b), é nos decantadores que ocorre a maior remoção de

sólidos presentes na água e por isso é nessas unidades que há uma maior geração do lodo.

Uma parcela menos volumosa é removida através da lavagem de filtros. As características

qualitativas e quantitativas do lodo variam conforme qualidade da água bruta, o tipo e

qualidade dos produtos químicos utilizados na etapa de coagulação e a eficiência dos

floculadores e decantadores.

2.1.2. Lodo de Estação de Tratamento de Água (ETA)

Durante o processo convencional de purificação da água, ocorre a formação de resíduos

denominados lodo de ETA. O lodo é resultado das etapas de coagulação/floculação com a

sedimentação das partículas presentes na água bruta e com a filtração de partículas menores

remanescentes do processo de decantação. O material é retido em sua maioria nos tanques

de decantação, enquanto a parcela minoritária é retida pelos filtros (CORDEIRO,2001).

Segundo Cordeiro (2001), os resíduos gerados nas ETAs são compostos basicamente de

matéria orgânica, partículas de solo, metais e metaloides de ocorrência natural, subprodutos

da coagulação/floculação, formados a partir da adição de produtos químicos e água. Os lodos

gerados nos decantadores possuem alto teor de umidade, normalmente superior a 95%,

apresentando-se em estado fluido.

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O lodo produzido em ETAs tem características variadas em função da água bruta ou dos

processos da ETA. De acordo com Di Bernardo e Dantas (2005), as características do lodo estão

diretamente relacionadas ao tipo de decantador empregado e à operacionalização do mesmo.

Os decantadores convencionais, são comumente limpos em intervalos de tempo de um a

quatro meses, implicando na formação de resíduos mais concentrados, diferentemente dos

decantadores de alta taxa, que utilizam o mecanismo de extração do resíduo, o qual a limpeza

é mais frequente.

Para Cordeiro (1999), além das proposições determinantes na formação do lodo como a

qualidade da água bruta, tipo de coagulante e eficiência de coagulação, é também necessário

que a quantidade de coagulante utilizada, seja apropriada e determinada experimentalmente,

por exemplo por meio do teste de jarros, e não de forma empírica como comumente é

realizada em muitas ETAs.

No período chuvoso, ocasião em que há uma piora significativa na qualidade da água de alguns

mananciais, devido à maior concentração de sólidos suspensos e dissolvidos nos corpos

hídricos, faz-se necessário aumentar a dosagem de coagulante, para assim, obter melhor

eficiência na remoção dos sólidos. A consequência desse processo é o aumento respectivo na

geração de lodo (RODRIGUES, 2012).

Os coagulantes mais utilizados no Brasil são os sais de ferro e alumínio. Durante a coagulação,

são formados os hidróxidos desses sais, que passam a ser os principais componentes químicos

do lodo, conferindo ao lodo características predominantemente inorgânicas (RICHTER, 2001).

No entanto, as características do lodo são muito variáveis, evidenciando a necessidade de se

analisar o lodo gerado em cada ETA, bem como levar em consideração suas particularidades.

As propriedades químicas provenientes da adição de produtos químicos a água, juntamente

com a presença de sólidos, confere ao lodo características particulares, capazes de poluir o

meio ambiente.

A determinação da quantidade de lodo produzida em sistemas de tratamento de água pode

ser estimada com base na massa de sólidos secos presentes no lodo e o volume de água

descartada que atua como veículo da massa de sólidos (RIBEIRO, 2007).

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16

O volume de lodo gerado poderá ser estimado “in loco”, pela determinação dos sólidos

provenientes das descargas dos decantadores e de suas vazões, ou ainda, teoricamente,

utilizando fórmulas empíricas.

Segundo Ribeiro (2007), vários pesquisadores desenvolveram fórmulas empíricas distintas

para realizar a estimativa da produção de sólidos secos. A seguir, seguem algumas dessas

fórmulas que são utilizadas em ETAs que utilizam sais de alumínio e de ferro como

coagulantes.

Fórmula apresentada por Kawamura (1991) apud Reali (1999):

𝑃 = 1,5. 𝑇 + 𝑘. 𝐷

Onde, P é a produção de sólidos (g de matéria seca por m³ de água tratada), T é a turbidez da

água bruta (uT), k é relação estequiométrica da formação do precipitado de hidróxido, na qual

k pode ser igual a 0,23 a 0,26 para sulfato de alumínio, 0,54 para sulfato férrico, 0,66 cloreto

férrico anidro e 0,40 cloreto férrico hidratado, e D é a dosagem de coagulante (mg L - 1).

Fórmula do Water Research Center - WRC (1979) apud Reali (1999):

𝑃 = (1,2. 𝑇 + 0,07. 𝐶 + 𝑘. 𝐷 + 𝐴)

Onde, P é a produção de sólidos (g de matéria seca por m³ de água tratada), T é a turbidez da

água bruta (uT), C é a cor da água bruta (uH), D é a dosagem de coagulante (mg L - 1), k é

coeficiente de precipitação, na qual k pode ser igual a 0,17 para sulfato de alumínio líquido e

0,39 para cloreto férrico líquido, e A são outros aditivos, como carvão ativado em pó e

polieletrólitos (mg L - 1).

Fórmula da American Water Works Association (1996):

𝑃 = 3,5. 𝑇0,66

Onde, P é a produção de sólidos (g de matéria seca por m³ de água tratada), T é a turbidez da

água bruta (uT).

Fórmula de Cornwell (1987):

𝑃 = (0,44. 𝐷𝑆𝐴 + 1,5. 𝑇 + 𝐴)

Onde, P é a produção de sólidos (g de matéria seca por m³ de água tratada), T é a turbidez da

água bruta (uT), DSA é a dosagem de coagulante (mg L - 1), e A são outros aditivos, como carvão

ativado em pó e polieletrólitos (mg L - 1).

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17

Richer (2001):

𝑆 =0,2. 𝐶 + 𝑘1. 𝑇 + 𝑘2. 𝐷

1000

Onde S é a massa de sólidos secos precipitada em quilogramas por metro cúbico de água, T é

a turbidez da água bruta (uT), C é a cor da água bruta (uH), D é a dosagem de coagulante (mg

L - 1), k1 é 1,3 e k2 é 0,26 para sulfato de alumínio como coagulante.

O lodo gerado em estações de tratamento de água é classificado como resíduo sólido, sendo

assim, segundo a norma técnica NBR 10004/2004 (ABNT), o lodo deve receber uma destinação

ambientalmente correta. No Brasil, o lodo é comumente lançado in natura nos corpos d’água,

sem qualquer tratamento prévio, causando assim, sob ponto de vista ambiental, impactos

negativos à natureza (ACHON, et al., 2013).

2.1.3. Destinação e Disposição Final do Lodo

Numa visão histórica, é possível identificar que a gestão das unidades de tratamento de água

não levava em consideração o fato de gerarem resíduos, ou seja, não havia uma visão ampla

do sistema. O gerenciamento era realizado visando apenas a distribuição do produto final à

população (VILELLA, 2011).

Sob o ponto de vista ambiental, esse é um assunto que deve ser foco dos gestores de sistemas

de abastecimento de água, uma vez que sendo considerado como resíduo sólido, o lodo deve

ter a destinação e disposição final ambientalmente adequadas. No Brasil, a disposição do lodo

tem sido realizada usualmente na forma de lançamento direto em cursos d’água próximos as

próprias ETAs que o geram, sem qualquer tipo de tratamento prévio (HASSEGAWA, 2007).

De acordo com Libânio (2005), a inexistência de tratamento adequado do lodo previamente

ao descarte nos corpos hídricos, pode ocasionar impactos ambientais específicos, cuja

gravidade dependerá das características físico-químicas e microbiológicas do lodo, das

características hidráulicas dos decantadores e da capacidade de autodepuração do corpo

receptor. As primeiras alterações observadas na qualidade da água são os aspectos estéticos,

provocados pela elevação da cor e turbidez, que por sua vez, podem comprometer os usos

dos recursos hídricos, como recreação e irrigação. Seguidamente, há a redução da penetração

de luz na água dos rios, resultando na diminuição da atividade fotossintética e, por

conseguinte, na redução de oxigênio dissolvido. Adicionalmente, pode-se ainda ocasionar o

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18

assoreamento de rios e córregos e aumentar a concentração de metais na água, como

alumínio e ferro.

Os estudos referentes aos impactos ambientais causados pelo lançamento do lodo nos corpos

hídricos são escassos, todavia, há uma grande preocupação relacionada aos potenciais efeitos

deste material no ecossistema, uma vez que já são conhecidos os problemas referentes à

bioacumulação e biomagnificação causados pelos metais e outros contaminantes inorgânicos

em seres vivos.

Análises realizadas por Kaggwa et al. (2001), sobre o efeito do lançamento do lodo de ETA, em

locais de terras úmidas às margens do Lago Vitória localizado no pântano de Gaba em Uganda

na África, apontaram uma nítida alteração na qualidade físico-química da água e na

produtividade e crescimento de plantas. Uma espécie de macrófita dominante no pântano de

Gaba, conhecida como Cyperus papyrus, reduziu a produção de biomassa em três vezes sob a

presença do resíduo, o que levou ao quase desaparecimento da espécie no Lago Vitória.

Andrade et al. (2014) ressaltam que inúmeros estudos vêm sendo desenvolvidos na busca pela

forma mais adequada de dispor o lodo, a fim de minimizar ao máximo os impactos ambientais

negativos causados pelas particularidades dos resíduos de ETA. Os Autores ainda afirmam que

existem muitas lacunas a serem preenchidas com relação a maneira mais benéfica de dispor

o lodo.

No intuito de reduzir os danos ambientais provenientes do descarte incorreto do lodo, muitas

técnicas vêm ganhando espaço. Segundo Richter (2001) e Di Bernardo et al. (2011), as formas

de disposição do lodo de maior aplicabilidade são: lagoas de detenção, lançamento na rede

coletora de esgoto, aterro sanitário, fabricação de artefatos de cimento, concreto, tijolos e

blocos cerâmicos e uso no solo.

I. Lagoas de Detenção

De acordo com Ribeiro (2007), as lagoas de detenção de lodo podem ser construídas em

depressões naturais ou artificiais e podem ser criadas por meio de diques ou escavações.

Mesmo não sendo o tratamento mais eficiente para o adensamento, desidratação e

disposição final, esse processo tem sido o mais popular, principalmente em locais com grandes

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áreas disponíveis para implantação. Além disso, as lagoas de detenção, possuem baixos custos

de instalação, operação e manutenção, quando comparados a processos mais complexos.

Ainda segundo o mesmo autor, esse método parte do princípio do adensamento por

gravidade e a desidratação por perda de água através da evaporação e infiltração no solo.

Quando a lagoa estiver em estado saturado, o lodo deve ser removido e levado para um outro

destino, dessa forma a lagoa atua em um ciclo contínuo de adensamento e desidratação do

lodo.

Segundo Cordeiro (1993), esse método é mais indicado quando as áreas no entorno das ETAs

tenham baixo custo de aquisição e características topográficas e geofísicas apropriadas.

Alguns fatores a serem avaliados como critérios de projeto na construção de uma lagoa de

detenção sã: clima, características do lodo, área superficial, profundidade da lagoa e

permeabilidade do subsolo.

II. Lançamento na Rede Coletora de Esgoto

Di Bernardo et al. (1999b) afirmaram que a disposição do lodo gerado em ETAs em estações

de tratamento de esgoto (ETEs), por meio de rede coletora de esgoto é uma técnica

alternativa bem difundida em países da Europa e nos Estados Unidos. Do ponto de vista

econômico, esse método torna-se vantajoso, uma vez que não haverá custo na

implementação de uma unidade de tratamento de resíduo na ETA.

Omoto (2000), com base em estudos aplicados, assegurou que o lodo de ETA pode ter ação

benéfica ao tratamento de esgoto. Em suas análises, o autor verificou uma diminuição

expressiva da turbidez do esgoto bruto após a adição do lodo, visto que neste há resíduos de

coagulante, que por sua vez, tem como característica química agregar em sua molécula

original cadeias poliméricas hidroxiladas, fundamentais nos processos de coagulação e

floculação em tratamento de água. Além disso, o mesmo identificou a redução de

aproximadamente 35% do índice de fosfato. Foi constatado ainda que a atividade microbiana

não foi afetada pelo acréscimo do resíduo ao sistema, provavelmente devido às propriedades

superficiais do lodo.

Drumond (2013) também obteve resultados que comprovam que a adição dos resíduos de

ETA no sistema de tratamento de esgoto não provoca alterações significativas ou inibidoras

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para os organismos responsáveis pela degradação do conjunto de lodos, tendo em vista que

a biodegradabilidade dos efluentes se mantém satisfatória.

III. Aterro Sanitário

A disposição final do lodo de ETA em aterro sanitário é uma opção de tratamento muito

utilizada, por ser considerada uma solução simples. Os aterros sanitários tornam-se

alternativas seguras por serem obras de engenharia planejadas para não causar impactos

ambientais negativos. Para isso são necessários bons projetos executivos e uma boa equipe

técnica capaz de monitorar os aspectos sanitário e ambientais (RIBEIRO, 2007).

Prim (2011) avalia os aterros sanitários como alternativas conservadoras sob o ponto de vista

da engenharia, uma vez que estes são empreendimentos fundamentados em normas técnicas

específicas, que garantem o confinamento seguro do resíduo, mantêm protegidos o meio

ambiente e a saúde pública.

Em estudo conduzido por Guerra e Angelis (2005) foi realizada a avaliação da disposição do

lodo de duas ETAs em aterro sanitário de São Paulo. Os resultados apontaram que ao ser

incorporado no solo utilizado na cobertura das células do aterro, o lodo não causa

interferências negativas na biodegradabilidade do material ali disposto, sendo considerado

assim, viável a disposição final do resíduo de ETA nesses locais. É recomendado pelos autores

realizar estudos prévios que forneçam informações suficientes para que a disposição do lodo

não interfira nas condições estruturais e operação dos aterros sanitários.

IV. Fabricação de Artefatos de Cimento, Concreto, Tijolos e Blocos Cerâmico

A utilização do lodo de ETA como matéria prima da construção civil, vem cada vez mais sendo

estudada como uma alternativa viável na substituição de materiais argilosos, devido à

semelhança dos mesmos (PEREIRA, 2011). Diversos materiais podem ser obtidos a partir da

incorporação desse resíduo a matrizes de concreto, argamassa e cerâmica, como: pavimentos

residenciais, pisos, blocos, artefatos, tijolos, telhas, manilhas, dentre outros (HOPPEN et al.,

2005).

Segundo Couto (2011), o aproveitamento do lodo de ETA na incorporação de materiais

cerâmicos deve ser bem estudado, uma vez que as características do lodo podem interferir na

qualidade estrutural do material produzido. Em análises do lodo gerado na ETA Itaipava, o

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autor verificou que apenas 10% do peso do lodo poderia ser adicionado à massa cerâmica.

Porções maiores comprometeram a resistência dos corpos de prova em relação a argila pura.

A reutilização do resíduo gerado nas estações de tratamento de água em matrizes de blocos

cerâmicos para a indústria da construção civil, possibilita a redução do descarte do lodo em

locais inadequados, e ainda diminui as atividades extrativas de argila, sendo assim, uma opção

viável para a redução de impactos ambientais (PAIXÃO, 2005).

V. Uso no Solo

De acordo com Tsutiya et al. (2002), a utilização do lodo gerado em ETAs, como insumo

agrícola tem fornecido inúmeros benefícios, como adição de nutrientes e matéria orgânica ao

solo. Além disso, o lodo promove alterações físicas no solo, como o aumento dos espaços

vazios, devido à formação de agregados das partículas do solo, que consequentemente

melhora a infiltração e retenção de água, bem como a maior capacidade de aeração.

Machado et al. (2004) realizaram análises do lodo de ETA e constatou a presença de matéria

orgânica, macro e micronutrientes no resíduo. Sendo assim, o autor indicou a utilização do

lodo de ETA como insumo agrícola, uma vez que na composição do resíduo estão presentes

elementos essenciais ao desenvolvimento de plantas.

Além da aplicação na agricultura, o uso do lodo em solo visando a recuperação de áreas

degradadas vem sendo estudado nos últimos anos, tornando-se uma alternativa viável de

disposição do lodo (ANDRADE et al., 2014).

Moreira et al. (2007), mostrou que a presença de matéria orgânica verificada no lodo é

transferida para o solo e possibilita o desenvolvimento de vegetação no local.

Para Figueiredo (2011), o uso do lodo para produção de mudas de árvores nativas em viveiros

para recuperação de áreas degradadas é uma opção para geração de renda, principalmente

para população de pequenos centros urbanos, onde a geração de lodo é reduzida.

As formas de disposição final do lodo de ETA nos Estados Unidos foram avaliadas por Cornwell

et al. (2000), de acordo com os pesquisadores, 25% das ETAs aplicam o resíduo no solo, 24%

realizam o lançamento do lodo em redes coletoras de esgoto, 20% enviam o resíduo para

disposição em aterros sanitários, 13% possuem aterros exclusivos para disposição do lodo, 7%

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realizam outras formas de disposição final e 11% lançam diretamente curso d’água sem o

devido tratamento.

Segundo Simpson et al. (2002) no Reino Unido existe uma predominância de utilizar os aterros

sanitários como destinação final do lodo, cerca de 52% dos resíduos são encaminhados aos

aterros, 29% das ETA lançam o lodo em redes coletoras de esgoto, 9% utilizam novas

metodologias, 6% possuem aterros específicos para essa atividade e 2% destinam o lodo para

lagos de detenção.

No Brasil esse quadro é bem diferente das situações apresentadas acima. Segundo Cordeiro

(1993), no estado de São Paulo a maioria das ETAs lançam o lodo gerado nos decantadores

nos corpos hídricos mais próximos, gerando problemas ambientais.

Soares et al. (2009 C) analisaram a dados referentes a 175 ETAs do estado de Minas Gerais,

disponibilizados pela Concessionária Mineira de Saneamento. Os resultados mostraram que

87% das ETAs, lançam os resíduos direto nos corpos d’água sem tratamento prévio, 6% não

informaram, 3% possuem unidades de tratamento de resíduo, 2% lançam o lodo em rede

pluvial, 1% lançam em rede coletora de esgoto e 1% realizam aplicação no solo.

VI. Outros Usos do Lodo

A recuperação do coagulante a partir do lodo é uma prática eficiente que reduz o volume do

resíduo final, minimizando os custos com a disposição final do lodo. A regeneração do agente

coagulante pode ser realizada a partir de tecnologias tais como: recuperação pela via alcalina,

pela via ácida, por extração de solventes orgânicos e extração com quelantes (GONÇALVES et

al.,1999). Sendo que a recuperação por via ácida é utilizada em larga escala em países do

hemisfério norte (TSUTIYA e HIRATA, 2001).

A utilização do lodo como agente adsorvente de contaminantes como fósforo, sulfeto de

hidrogênio, boro, fluoretos, glifosatos, selênio e chumbo, tem mostrado eficácia como técnica

de baixo custo (YANG et al., 2014).

Recentemente, Bai et al. (2014b) utilizaram o lodo de ETA em um reator de fluxo contínuo

para remover fosfato de efluentes urbanos e observaram eficiência de remoção superior a

94% da concentração inicial do contaminante. De acordo com Makris et al. (2006), as

moléculas de arsenato são semelhantes ao fosfato na estrutura (geometria tetraédrica) e

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comportamento químico. Este fato tem motivado a investigação da remoção de arsênio por

meio da adsorção do lodo de ETA. Este assunto será melhor detalhado no tópico a seguir.

2.1.4. Uso do Lodo Para Processos de Adsorção de Arsênio

Processos de adsorção são comumente utilizados para remoção de elementos contaminantes.

Estudos recentes mostraram que o lodo de ETA, obteve satisfatória remoção de elementos

potencialmente tóxicos (EPTs), sendo assim uma boa opção para reutilização do resíduo.

2.1.4.1. Arsênio

A preocupação com a contaminação por arsênio tem sido uma questão ambiental relevante.

O Arsênio é tóxico para o fauna, flora e saúde humana, e tem vários efeitos adversos incluindo

câncer, distúrbios cardiovasculares, hipotensão, distúrbios metabólicos doença e neuropatia

periférica (JOMOVA et al., 2011). Tanto a água quanto o solo podem ser contaminados por

fontes de origem natural e antropogênica, incluindo atividades agrícolas, industriais e a

mineração (KIM et al., 2014).

Segundo Ramos (2016), o consumo de água contaminada é a principal forma de contaminação

humana por arsênio. O arsênio está na constituição de mais de duzentos minerais, sendo o

principal deles a arsenopirita. Em áreas de mineração, o arsênio é encontrado em associação

com metais de transição, como cádmio, chumbo, prata, ouro, antimônio, tungstênio e

molibdênio. Um grande número de aquíferos ao redor do mundo apresenta altas

concentrações de arsênio, oriundo tanto de fontes naturais como também de a atividades

relacionadas à mineração.

A água contaminada por As pode ser tratada por adsorção, oxidação, redução, reações de

neutralização, extração líquida, troca iônica, separação por membrana, métodos

eletroquímicos e biossorção (HASHIM et al., 2011). Dentre os métodos para remoção de

arsênio, a adsorção é relativamente simples e econômica, mas o desempenho geral é

altamente dependente das características do tipo de adsorvente.

2.1.4.2. Adsorção

O termo adsorção refere-se a um processo físico-químico, no qual compostos em fase gasosa

ou líquida se agrupam (adsorvem) na superfície de um sólido (adsorvente). O conceito de

adsorvente aplica-se comumente a um sólido que retém o soluto aderido à sua superfície por

ação de forças físicas ou químicas. A substância adsorvida é denominada adsorvato. O

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processo contrário, onde há a migração da fase sólida para a fase fluida, denomina-se

dessorção (DAS et al., 2008).

O processo de adsorção é mediado pelos seguintes fatores de interação: atração eletrostática,

complexação, troca iônica, ligação covalente, interações de van der Waals e micro-

precipitação. Dependendo dos mecanismos envolvidos na reação, os processos de adsorção

podem ser definidos como: adsorção física (fisiossorção) e adsorção química (quimiossorção).

Essas duas formas de adsorção se diferem basicamente em função das forças de atração. Na

fisiossorção, as interações entre adsorvente e adsorvato são normalmente fracas, do tipo van

der Waals; em contrapartida, a adsorção química é resultado de ligações químicas

relativamente fortes entre o adsorvato e os grupos funcionais da superfície dos adsorventes

(ABDOLALI et al., 2014). Contudo, as duas formas não são consideradas simples, uma vez que

os dois tipos de adsorção podem ocorrer de forma simultânea ou intermediária (VOLESKY,

2004).

Para obter eficiência no processo de adsorção, deve-se levar em consideração uma série de

características dos materiais adsorventes, dentre elas podem ser listadas: a seletividade em

relação ao soluto, a resistência mecânica, a perda de carga, o custo de obtenção e

processamento, a aglomeração, a inércia química e a densidade. Entretanto, a área interfacial,

que é o somatório da área externa acrescida da área dos poros, é a propriedade mais

importante do adsorvente (COELHO, 2014). Esses materiais podem ser compostos orgânicos

como, a biomassa e carvão ativado, ou inorgânicos como, a zeólita e argila, de origem natural

ou sintética (AKLIL et al., 2004).

Modelos Cinéticos

O estudo da cinética química inclui um monitoramento cauteloso das condições

experimentais que influenciam a velocidade de uma reação química, logo, auxiliam a atingir o

equilíbrio em um tempo razoável. As informações obtidas a partir do estudo de cinética da

reação apresentam o possível mecanismo de adsorção e os diferentes estados de transição

até a formação do complexo adsorvente-adsorvato, além de ajudar a desenvolver modelos

matemáticos apropriados para descrever as interações (SEN GRUPTA e al., 2011).

Segundo Soares (1998), a cinética de adsorção possui três etapas no processo de adsorção,

que são respectivamente:

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O transporte do adsorvato para a superfície externa do adsorvente;

A difusão do adsorvato para dentro dos poros do adsorvente e;

A adsorção do adsorvato na superfície interna do adsorvente.

Segundo o referido autor, a primeira etapa pode ser afetada pela concentração do fluido e

pela agitação, inferindo que o aumento da concentração do fluido pode acelerar a difusão de

adsorvato da solução para a superfície do sólido. A segunda etapa já depende da natureza das

moléculas do fluido e a terceira etapa é a etapa determinante, especialmente no caso de

adsorventes microporosos.

Sendo assim, a cinética de adsorção seria inicialmente mais rápida, uma vez que a mesma

ocorre principalmente na superfície externa do adsorvente. A medida que o processo de

adsorção vai acontecendo na superfície interna do adsorvente, a reação tende a ficar mais

lenta. O contato entre adsorvente e adsorvato é facilitado pela agitação da solução, sendo

que a difusão do adsorvato no adsorvente é a etapa determinante da velocidade de adsorção.

Quando o adsorvente possui baixa microporosidade, as moléculas de soluto se aderem mais

rapidamente quando comparado a um adsorvente com maior volume de microporos

(BARROS, 2001).

Um adsorvente ideal para controle ambiental, deve além de possuir uma grande capacidade

de adsorção, deve apresentar também uma taxa de adsorção elevada. A taxa de adsorção é

um fator importante na seleção do material adsorvente, e como é o estudo cinético de reação

quem fornece a taxa de velocidade de adsorção, este torna-se um importante fator a ser

estudado (GUSMÃO, 2011).

A cinética de adsorção pode ser descrita através da utilização de vários modelos. A seguir o

modelo de pseudo-primeira ordem e pseudo-segunda ordem são descritos.

Normalmente, quando a adsorção é precedida por difusão através de um filme, a cinética na

maioria dos casos obedece à equação de velocidade de pseudo-primeira ordem de Lagergren

(QIU et al., 2009).

O modelo cinético de pseudo-primeira ordem pode ser expressado por:

𝑞𝑡 = 𝑞𝑒(1 − e−k1t)

Onde k1 (min - 1) é a constante de velocidade de adsorção de pseudo-primeira ordem e qe e qt

(mg g - 1) são as capacidades de adsorção no equilíbrio e em um tempo t (min),

respectivamente.

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O modelo cinético de pseudo-segunda ordem é utilizado para descrever quimiossorção

envolvendo forças de valência através do compartilhamento ou troca de elétrons entre o

adsorvente e o adsorvato como ligação covalente e troca iônica, respectivamente. Este

modelo pressupõe que dois sítios de adsorção estão envolvidos no processo de adsorção de

cada adsorvato na superfície do adsorvente (HO e MCKAY, 1999).

O modelo cinético de pseudo-segunda ordem de pode ser expressado por:

𝑞𝑡 =𝑘2 𝑞𝑒

2 𝑡

1 + 𝑘2 𝑞 𝑒𝑡

Onde k2 (min - 1) é a constante de velocidade de adsorção de pseudo-segunda ordem.

Isoterma de Adsorção

De acordo com Do (1998), Langmuir foi o primeiro a propor um modelo coerente com o

processo de adsorção baseado no princípio cinético, em que a velocidade de adsorção

equivale a velocidade de dessorção, conservando, desta forma, a velocidade de acumulação

de adsorvato na superfície do adsorvente, no equilíbrio, igual à zero. Langmuir (1918) assumiu

em seu modelo a formação de uma monocamada de adsorvato sobre uma superfície

homogênea do adsorvente. Nesse modelo a ocorrência do fenômeno de adsorção leva em

consideração os seguintes aspectos:

As velocidades de adsorção e dessorção são iguais quando o sistema está em

equilíbrio;

O adsorvente possui um número fixo de sítios de adsorção, onde todos os sítios de

adsorção possuem a mesma energia;

As moléculas adsorvidas não possuem mobilidade na superfície do adsorvente, ou

seja, não podem migrar de um sítio de adsorção para outro sítio de adsorção, também

não interagem com as moléculas adjacentes de forma atrativa e repulsiva e não ocorre

a formação de multicamadas de adsorvato na superfície do adsorvente;

A interação dos adsorvatos com os sítios de adsorção é de natureza química, o que

impede o deslocamento de moléculas adsorvidas na superfície do adsorvente.

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O modelo de Langmuir pode ser expressado por:

𝑞𝑒 =𝑄𝑚𝑎𝑥 ∗ 𝑏 ∗ 𝐶𝑒

1 + 𝑏 ∗ 𝐶𝑒

Onde qe é a quantidade de soluto adsorvido por unidade de massa de adsorvente no

equilíbrio; Qmax é a capacidade máxima de adsorção; Ce é a concentração de equilíbrio do

soluto no volume de solução; b é uma constante que representa a razão entre as taxas de

adsorção e dessorção, sendo que valores elevados do parâmetro b indicam uma elevada

afinidade do íon pelos sítios do material adsorvente.

A Isoterma de Freundlich considera a adsorção em multicamadas e é útil para descrever a

adsorção altamente heterogênea (FRITZ e SCHLUNDER, 1981). É uma isoterma empírica para

uma adsorção não ideal.

O modelo de Freundlich pode ser expressado por:

𝑞𝑒 = 𝑘𝐹 ∗ 𝐶𝑒1/𝑛

Onde qe representa a quantidade de soluto adsorvido na fase sólida no equilíbrio; Ce é a

concentração da solução no equilíbrio; kF é a constante de Freundlich; e n é o parâmetro

relacionado a intensidade da adsorção.

Se n > 1, a superfície do adsorvente é energeticamente heterogênea e supõe-se que os sítios

de maior energia são os primeiros a serem ocupados. Se n = 1, a superfície tem todos os sítios

ativos energeticamente homogêneos (ANAIA, 2008).

O modelo de isoterma de Sips (1948) resulta da combinação dos modelos de isoterma de

Langmuir e Freundlich. A isoterma de Sips em baixas concentrações de adsorvato é reduzida

à isoterma de Freundlich, enquanto que em concentrações elevadas de adsorvato é reduzida

à isoterma de Langmuir.

O modelo de Sips pode ser expressado por:

𝑞𝑒 =𝑄𝑚𝑎𝑥(𝑏 ∗ 𝐶𝑒)

1𝑛

1 + (𝑏 ∗ 𝐶𝑒)1𝑛

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Sendo b a constante de Sips relacionada com a constante de afinidade entre o adsorvente e o

adsorvato; n a constante que representa o grau de heterogeneidade e Qmax a capacidade

máxima de adsorção.

2.1.4.3. Lodo Como Material Adsorvente

Muitos dos materiais utilizados como adsorventes precisam ser extraídos da natureza e

transformados em agentes adsortivos. No intuito de minimizar os impactos ambientais

negativos causados por essa extração, e de reduzir a geração de resíduos, testes e análises

com materiais bioadsorventes foram executados e demostraram eficiência na sua utilização

para processos de adsorção (BALDISSARELLI, 2006). Dentre os principais biomateriais

utilizados destacam-se: a folha de milho, a casca de ovo, resíduos da produção de óleo de

oliva, cascas de laranja, bagaço de cana, cascas de cedro japonês, dentre outros (MUDHOO et

al., 2012).

Os materiais adsorventes alternativos são geralmente subprodutos de processos industriais,

uma vez que, devido a sua disponibilidade, acessibilidade e eficiência mostram-se

competitivos, quando comparados a adsorventes tradicionais como óxidos de ferro e alumínio

(VALDMAN et al., 2001).

Segundo Lin et al. (2014), assim como os materiais citados acima, o lodo proveniente de ETAs

é um material que possui características que lhe confere capacidade de realizar a remoção

seletiva de metais e metaloides. Em seu estudo, os autores detectaram que o cobre e o

chumbo foram extraídos, por atração eletrostática, pela superfície do lodo carregada

negativamente.

Os resíduos gerados em estações de tratamento de água, que utilizam coagulantes a base de

alumínio, se mostraram um material eficiente na adsorção de EPTs. Yang et al. (2014), afirmam

que o lodo de ETA se mostrou eficiente como material adsorvente de contaminantes como,

selênio, fósforo, sulfeto de hidrogênio, boro, fluoretos, glifosato, mercúrio, arseniato e

chumbo. No caso específico do selênio, Ippolito et al. (2011) observaram que a adsorção de

Se (IV), por lodo de ETA sob condições anóxicas, promoveu a redução química do Se (IV) a Se

(0), possivelmente devido à interações redox com matéria orgânica, Fe (II) ou Mn (II, III) com

fases minerais/óxidos, ou com biofilmes presentes no lodo a base de alumínio. Além disso, os

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autores conseguiram verificar que o processo foi irreversível, uma vez adsorvida pelo lodo,

sugerindo estabilidade e eficiência na extração de selênio.

Babatunde et al. (2007) desenvolveram um estudo que comprovou que o teor de alumínio no

resíduo de estações de tratamento de água pode levar a uma remoção elevada de fósforo (P).

O lodo tem sido usado como adsorvente para remover fósforo do solo em vários estudos,

focando principalmente em ortofosfatos (orto-P), e os resultados dos autores demonstraram

que o lodo de ETA pode ser usado como meio adsorvente de baixo custo para a remoção de

fosfato. Estes resultados foram produzidos utilizando o lodo in natura. Por outro lado, Wu et

al. (2004) afirmam que modificar o lodo de ETA por meio de sinterização pode reduzir os

impactos ambientais negativos causados por esse resíduo, tendo em vista que o material

sinterizado é capaz de adsorver cromo e mercúrio, podendo ser considerado um substituto

econômico para os adsorventes clássicos de óxido hidratado, como sílica, alumina e óxidos

férricos.

Kim et al. (2014) analisaram a capacidade do lodo gerado nos decantadores das estações de

tratamento de água em remover arsênio. A remoção foi de 5,15 a 7,68 mg g - 1 para As (V),

esses resultados foram considerados satisfatórios quando comparados a adsorventes

convencionais, uma vez que a concentração de arsênio adsorvida no lodo foi comparável ou

superior aos valores obtidos utilizando-se adsorventes comerciais.

A transformação do resíduo gerado em ETAs em subproduto para desenvolvimento de outras

atividades, sobretudo como material adsorvente, demanda estudos específicos para

identificar as características de cada lodo, uma vez que as propriedades do lodo estão

diretamente relacionadas ao tipo de tratamento da água, ao tipo de coagulante utilizado e a

região que a bacia de captação de água está inserida. Nesse sentido, o estudo do lodo da ETA

Amarantina, localizada no município de Ouro Preto, será desenvolvido, no âmbito de se

investigar a possibilidade da utilização desse resíduo como adsorvente de elementos

potencialmente tóxicos, principalmente arsênio.

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2.2. OBJETIVOS

São apresentados a seguir os objetivos do estudo.

2.2.1. Objetivo Geral

Caracterizar o lodo gerado nos decantadores da estação de tratamento de água de

Amarantina, Ouro Preto – MG, e avaliar a viabilidade técnica de utilizá-lo como adsorvente de

arsênio.

2.2.2. Objetivos Específicos

Os objetivos específicos consistem em:

Determinar as características físicas, químicas e mineralógicas do lodo tendo como

foco a adsorção de arsênio;

Comparar as características físicas, químicas e mineralógicas dos lodos produzidos nos

diferentes períodos do ano (seco e chuvoso);

Verificar a capacidade do lodo em adsorver arsênio em solução aquosa;

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2.3. REFERÊNCIAS

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3. CAPÍTULO II - ADSORÇÃO DE ARSÊNIO EM LODO DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE

ÁGUA

3.1. INTRODUÇÃO

O arsênio é um elemento químico que pode ter origem natural ou antrópica, sendo este

altamente poluente. O arsênio tem merecido atenção especial, devido aos efeitos de curto e

longo prazos que esse metaloide pode causar à saúde humana e à qualidade dos ecossistemas.

Uma das principais fontes de contaminação por As está relacionada às atividades de

exploração de minérios sulfetados, que produzem resíduos sólidos ricos em As. A dissolução

de As, como a arsenopirita e a pirita, nesses resíduos é uma fonte permanente de

contaminação. Outra possível fonte de contaminação está relacionada à lixiviação natural dos

solos, além de processos antropogênicos, como, uso de pesticidas e herbicidas e combustíveis

fósseis (GONÇALVES et al., 2010).

O As é um elemento extremamente tóxico para o organismo humano. A exposição a altas

concentrações pode causar efeitos e chegar a ser letal. De qualquer modo, mesmo a exposição

em baixas concentrações durante um lodo intervalo de tempo (como por exemplo, a ingestão

de água), pode ter efeitos negativos crônicos a saúde humana.

Afim de reduzir os efeitos deletérios causados pelo arsênio, tanto à saúde humana, quanto ao

meio ambiente, várias tecnologias destinadas ao tratamento e a remoção do mesmo foram

desenvolvidas, dentre elas pode-se citar: a resina de troca iônica, o tratamento eletroquímico

e a precipitação. Entretanto, esses métodos são considerados de custo elevado (SOUZA,

2007).

Além desses métodos a adsorção também é muito utilizada para remoção de poluentes, como

o As, sendo este método mais simples e mais econômico. Embora haja uma série de

adsorventes, o lodo proveniente de decantadores de estações de tratamento de água, vem se

mostrando uma boa opção de adsorvente, uma vez que possui estabilidade, é um composto

barato e de fácil utilização, além de ser quimicamente estável em uma ampla faixa de pH

(IPPOLITO et al., 2011).

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As estações de tratamento de água mais utilizadas no Brasil são as chamadas ETAs de ciclo

completo (LIBÂNIO, 2010), onde ocorre a mistura rápida, coagulação, floculação, decantação,

filtração, desinfecção, correção de pH e fluoretação. Para que ocorra a floculação, são

adicionados a água agentes coagulantes, que são produtos químicos normalmente a base de

alumínio e ferro. Assim, formam-se flocos provenientes de impurezas da água como sólidos

suspensos e matéria orgânica, esses flocos decantam na unidade de decantação e a partir daí

são chamados de lodo de estação de tratamento de água.

Alguns estudos para reutilização do lodo vêm sendo elaborados, como por exemplo o uso do

lodo na fabricação de artefatos de cimento, concreto, tijolos e blocos cerâmicos. Atualmente,

o lodo foi testado como adsorvente de elementos potencialmente tóxicos como selênio,

arsênio e fósforo.

Neste sentido, o presente trabalho visou realizar ensaios de adsorção de As (V), no lodo da

estação de tratamento de água Amarantina, localizada no distrito de Amarantina, Ouro

Preto/MG. A referida ETA opera em ciclo completo, com decantador de alta taxa e utiliza o

policloreto de alumínio como agente coagulante, que tem como característica química

agregar em sua molécula original cadeias poliméricas hidroxiladas, fundamentais nos

processos de coagulação e floculação em tratamento de água. A posterior hidrólise irá

proporcionar novas espécies insóluveis, que possibilitarão o processo de neutralização

elétrica, que neste caso serão menos sensiveis que as espécies originárias a partir da hidrólise

dos sais monoméricos. O policloreto de alumínio proporciona ao entrar em contato com o

líquido, núcleos de geração de incremento de floculação e sua hidrólise se desenvolve muito

mais lentamente, facilitando assim o processo de neutralização das cargas. Sendo assim, o

lodo gerado é a base de alumínio.

3.2. MATERIAIS E MÉTODOS

Nesta seção serão apresentados os materiais e métodos utilizados para realização das análises

e procedimentos necessários ao estudo.

3.2.1. Caracterização da ETA Amarantina

A ETA Amarantina localiza-se no distrito de Amarantina, Ouro Preto-MG, nas coordenadas

geográficas: latitude 20°18’51’’S e longitude 43°32’38’’. A captação de água da ETA

Amarantina está localizada no Córrego do Riacho, curso d’água que tem sua nascente na

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região sudoeste de Amarantina. Este córrego corta todo o distrito e deságua no Rio Maracujá,

tributário do Rio das Velhas que, por sua vez, é o principal afluente do Rio São Francisco.

A ETA Amarantina é do tipo convencional ou de ciclo completo, compacta, composta de

unidades de coagulação ou mistura rápida, floculação, decantação e filtração rápida. O

sistema de tratamento de Amarantina está em operação desde 2012. A capacidade nominal

de tratamento é de 18 L.s - 1. Atualmente a ETA trabalha com uma vazão máxima de 15 L.s - 1,

24 horas por dia, mas esse cenário é alterado de acordo com sazonalidade.

A água tratada na ETA Amarantina possui características particulares da microbacia do

Córrego do Riacho. Essas características estão apresentadas na Tabela 1, formulada a partir

de dados fornecidos pelo Serviço Municipal de Água e Esgoto de Ouro Preto - SEMAE-OP.

Tabela 1 - Características da água da ETA Amarantina.

Variáveis Unidade Água Bruta Água Tratada

Bario - Ba µg L - 1 11,19 6,98 Escândio - Sc µg L - 1 1,52 1,50 Estrôncio - Sr µg L - 1 11,47 66,10 Alumínio - Al µg L - 1 92,85 126

Ferro - Fe µg L - 1 235 42,14 Manganês - Mn µg L - 1 28,41 25,26

Calcio - Ca mg L - 1 1,24 10,35 Potássio - K mg L - 1 0,989 1,34

Magnésio - Mg mg L - 1 0,0732 0,190 Sódio - Na mg L - 1 1,97 4,80 Fósforo - P mg L - 1 0,103 0,102 Enxofre - S mg L - 1 0,332 0,309

Temp. °C 23,6 28,1 Turb. NTU 70,30 0,46 Cond. μS cm - 1 34,45 101,4 STD mg L - 1 21,97 65,12 pH - 6,53 6,93

Nota: Temp: Temperatura; Turb: Turbidez; Cond: Condutividade Elétrica; STD: Sólidos Totais

Dissolvidos; pH: Potencial Hidrogeniônico.

Fonte: SEMAE-OP, 2018.

A ETA Amarantina conta com três floculadores hidráulicos do tipo bandejas perfuradas de

geometria cilíndrica. Os gradientes de velocidades são decrescentes conforme exigido na

legislação, onde as câmaras 1, 2 e 3 possuem os gradientes de velocidade de 50 s-1, 30 s-1, e

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15 s-1, respectivamente, garantindo a formação de flocos com densidades mais altas que da

água, para que ocorra a sedimentação, conforme apresentado na Figura 3 (SEMAE-OP, 2012).

Figura 3- Floculadores do tipo bandejas perfuradas.

Fonte: VIANNA, (2002), adaptado.

O sistema de decantação é formado por um decantador de alta taxa com escoamento

ascendente, com formato de cone de pirâmide, ilustrado na Figura 4. De acordo com o projeto

construtivo da referida ETA, o duto do decantador é caracterizado como canal longo, com

comprimento (Lp) igual a 4990 mm e diâmetro (Dp) igual a 252 mm.

A limpeza dos decantadores é realizada por descarga de fundo, atividade efetuada pelos

próprios operadores da ETA. Não existe uma rotina de limpeza específica, as descargas variam

principalmente em função da sazonalidade, podendo variar desde horas até meses. A vazão

de descarga do decantador é de 212 L.s-1.

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Figura 4- Decantadores de alta taxa de fluxo ascendente.

Fonte: SEMAE-OP, (2012).

O agente coagulante utilizado na ETA Amarantina é o policloreto de alumínio – PAC, que se

encontra na forma líquida e com concentração média de 18% (p/v). A dosagem do coagulante

é realizada por meio de bomba dosadora eletromagnética, imediatamente antes do ressalto

hidráulico, no medidor Parshall. A dosagem média utilizada atualmente é de 0,067 mL.L-1

(SEMAE-OP, 2018).

O composto de hidróxido de cálcio em suspensão – Geocálcio, é majoritariamente composto

por Ca(OH)2, e é utilizado como alcalinizante. Este composto é usado em solução de 20% (p/v)

(SEMAE- OP, 2018).

A dosagem ocorre através de bomba dosadora NEMO, de eixo horizontal, instalada na casa de

química. A dosagem é realizada na chegada de água bruta na ETA, promovendo condições

favoráveis para que ocorra a coagulação, a dosagem média utilizada atualmente é de

0,11 mL L- 1 (SEMAE-OP, 2018).

Na Tabela 2, estão representadas a composição química e as características do alcalinizante e

coagulante utilizados na ETA Amarantina.

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Tabela 2- Composição química dos produtos químicos utilizados na coagulação da água.

Composição Química e Características

Reagente Parâmetro Teor

Coagulante (PAC)

Óxido de Alumínio Mínimo 16,5 a 18,0%

Ferro Máximo 50 mg kg-1 Basicidade - 35 a 45%

Solubilidade - Solúvel em Água pH Máximo 1,2

Densidade - 1,3 a 1,4 g mL-1

Alcalinizante (Geocálcio)

Hidróxido de Cálcio Mínimo 19,0 a 21,0%

Substâncias reativas ao HCl CaCO3 Máximo 0,008

Dióxido de Silício Máximo 0,0025 Hidróxido de Magnésio Máximo 0,005

Suspensão em 24h Mínimo 0,95

Densidade - 1,0 a 1,2 g mL-1

Fonte: SEMAE-OP, 2018.

A quantificação do volume de lodo gerado na ETA Amarantina, foi realizada a partir da fórmula

empírica de American Water Works Association (1996), com dados de turbidez fornecidos de

Serviço Municipal de Água e Esgoto de Ouro Preto. Sendo assim, pode-se estimar os valores

apresentados na Tabela 3, que exibe os valores de volume de lodo gerado por metro cúbico

de água tratada.

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Tabela 3 - Volume de lodo gerado na ETA Amarantina.

Meses Turbidez

(Média)

Volume

Tratado (m3)

Produção de Lodo (g de

lodo/m3 de água) P=3,5.T0,66

Lodo

(Tonelada)

Ago - 17 10,30 30.637,44 16,31 0,50

Set - 17 10,32 25.505,28 16,33 0,42

Out - 17 18,16 29.393,28 23,72 0,70

Nov - 17 20,06 32.918,40 25,33 0,83

Dez - 17 45,41 38.361,60 43,43 1,67

Jan - 18 19,85 48.911,04 25,15 1,23

Fev - 18 24,17 46.837,44 28,64 1,34

Mar - 18 22,05 43.623,36 26,96 1,18

Abr - 18 15,00 35.277,12 20,91 0,74

Mai - 18 12,92 42.120,00 18,95 0,80

Jun - 18 26,30 41.368,32 30,29 1,25

Jul - 18 8,35 33.177,60 14,20 0,47

Volume Total Anual 290,22 11,12

Fonte: Própria autora.

Ao observar a Tabela 3, pode-se perceber que o volume anual de lodo gerado na ETA

Amarantina é de aproximadamente 11 toneladas.

3.2.2. Caracterização do Lodo

Coletas das Amostras

Realizou-se quatro coletas de lodo, conforme Quadro 1. O lodo foi coletado diretamente da

descarga de fundo do decantador. Em seguida as amostram foram encaminhas para o

Laboratório de Saneamento Ambiental da Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP, onde

foram armazenadas e preparadas as análises físico-químicas tais como: Demanda Química de

Oxigênio - DQO, temperatura, pH, sólidos totais, sólidos totais dissolvidos, sólidos

sedimentáveis, turbidez, condutividade elétrica, densidade e potencial de oxi-redução - ORP.

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Quadro 1 – Detalhamento das coletas de lodo realizadas na ETA Amarantina.

Amostra Data da Coleta Estação

A1 31/08/2017 Seca

A2 05/10/2017 Seca

A3 12/01/2018 Chuvosa

A4 03/02/2018 Chuvosa

Nota: A1: Amostra 1; A2: Amostra 2; A3: Amostra 3; A 4: Amostra 4.

Fonte: Própria autora.

Caracterização das Amostras

O fluxograma das etapas de caracterização do lodo está apresentado na Figura 5.

Figura 5 – Fluxograma das etapas de caracterização do lodo.

Fonte: Própria autora.

Coleta do lodo

Análises lodo

bruto

Filtração

Moagem

Análise

quantitativa

Análise

qualitativa

Adsorção

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Para obtenção dos parâmetros, condutividade, sólidos totais dissolvidos, pH, temperatura e

potencial de oxi-redução, foi utilizado o equipamento Multiparâmetro Portátil da Myron L.

Company, Ultrameter II, 6P, e as análises foram realizadas in situ. Para a medição da turbidez

foi utilizado o Turbidímetro Portátil 2100Q da marca HACH.

As análises de DQO, sólidos sedimentáveis, sólidos totais e densidade foram realizadas no

Laboratório de Saneamento Ambiental, e seguiu-se a metodologia descrita no Standard

Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA, 2012). Os métodos utilizados

estão sintetizados no Quadro 2.

Quadro 2 - Métodos utilizados em análises laboratoriais

Parâmetros Métodos Utilizados

DQO 5210 B (APHA, 2012)

Sólidos totais (ST) 2540 B (APHA, 2012)

Sólidos sedimentáveis 2540 F (APHA, 2012)

Densidade 2710 F (APHA, 2012)

Fonte: Própria autora.

As análises de DQO foram realizadas em triplicata, utilizando-se tubos de 16 x 100 mm, com

tampas rosqueáveis. Transferiram-se 2,5 mL de amostra, 1,5 mL de solução digestora de DQO

(dicromato de potássio-100%/sulfato de mercúrio-100%) e 3,5 mL de ácido sulfúrico-

92%/sulfato de prata-98,5%, para os tubos. Prepararam-se dois brancos de forma análoga,

porém substituiu-se a amostra de lodo por 2,5 mL de água destilada. Homogeneizou-se a

solução e inseriram-se os tubos no termorreator a 150°C, para digestão por 2 horas. Após esse

intervalo de tempo, deixou-se os tubos resfriarem até atingir a temperatura ambiente, em

seguida foi realizada a leitura das amostras em espectrofotômetro nos comprimentos de onda

de 665nm e 750 nm.

Para a avaliação de sólidos sedimentáveis foi utilizado o cone Imhoff. A amostra foi

homogeneizada e adicionada ao cone, aferindo o menisco em 1000 mL. Deixou-se em repouso

por uma hora e aferiu-se o menisco da parte sedimentada.

As análises de sólidos totais, assim como a DQO, foram realizadas em triplicatas. Calcinaram-

se os cadinhos a uma temperatura de 550°C por meia hora, aguardou-se que os cadinhos

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atingissem temperatura ambiente e então realizou-se a pesagem dos mesmos. Em seguida,

adicionou-se aos cadinhos 50 mL de amostra do lodo, levou-se o material para a estufa a

temperatura de 105°C por duas horas, retirou-se os cadinhos da estufa e deixou-se atingir a

temperatura ambiente. Em seguida, pesaram-se novamente os cadinhos, e assim obteve-se a

relação de sólidos totais da amostra.

A densidade foi obtida da seguinte maneira: pesou-se uma proveta vazia, em seguida

adicionou-se 50 mL de água destilada a temperatura de 4°C e pesou-se a proveta novamente,

imediatamente descartou-se a água destilada e adicionou-se 50 mL da amostra de lodo e

pesou-se novamente. Feito isso, procederam-se os cálculos e obteve-se a densidade.

Realizadas as análises com o lodo bruto, prosseguiram-se os ensaios laboratoriais.

Primeiramente realizou-se a filtração do lodo por meio de tecido (flanela branca) de média

porosidade. O material retido no tecido foi armazenado em bandejas plásticas previamente

identificadas e colocados em bancadas para secar a temperatura ambiente.

Por se tratar de sedimentos finos, o lodo ao ser secado toma forma de pequenos torrões bem

compactados, por isso há a necessidade de moagem do material. Realizou-se a desagregação

do material utilizando-se equipamento de moagem o Moinho Almofariz Pistilo MA 590, da

marca Marconi. Em seguida as amostras foram encaminhadas para realização das análises

químicas qualitativas e quantitativas.

A determinação da composição química quantitativa das amostras de lodo foi realizada por

espectroscopia de emissão ótica com plasma indutivamente acoplado (ICP-OES) após digestão

ácida das mesmas. Para tanto, pesou-se cerca de 1,000 g de lodo em um béquer de 40 mL, em

seguida adicionou-se em torno de 0,5 a 1,0 mL de água destilada. Na sequência colocou-se 9,3

de água régia (7,0 mL de HCl 37% p/p e 2,3 mL de HNO3 65%, p/p).

Após agitação da amostra, tampou-se o béquer com vidro de relógio e manteve-se a

temperatura ambiente por 16 horas. Findo este tempo, colocou-se os béqueres na chapa

aquecedora com temperatura de 100° C por 2 horas. Após resfriamento, filtrou-se a amostra

em papel de filtro quantitativo C41 com 9 cm Ø, marca Unifil. Recolheu-se o filtrado em balão

volumétrico de 50 mL e aferiu-se o volume com água destilada.

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Na sequência, as alíquotas foram encaminhadas ao Laboratório de Bio&Hidrometalurgia da

Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP, para análise e determinação quantitativa dos

elementos presentes na amostra por ICP-OES, marca Varian, modelo 725/ES.

Os grupos funcionais do adsorvente (lodo) foram identificados por meio de espectroscopia na

região do Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR). Foi utilizado espectrômetro ABB

Bomem MB3000 (Quebec, Canadá) do Laboratório de Espectroscopia no Infravermelho do

Departamento de Química, configurado com uma resolução de 4cm - 1, 32 varreduras por

amostra em uma faixa de 400-4000cm - 1. As análises foram realizadas por Refletância Total

Atenuada - ATR.

As fases minerais das amostras de lodo foram determinadas por difração de Raios-X (DRX)

utilizando-se o método do pó total em um difratômetro de Raios-X da marca Bruker

D2PHASER, com radiação Cukα, numa faixa de varredura de 2θ entre 10° e 80°. O tubo de

Raio-X operou com 30 kV e 10 mA. O feixe incidente atravessou por uma fenda Soller de 2,5°,

a seguir por uma fenda divergente de 0,6 mm. Já o feixe difratado passou por uma fenda Soller

de 2,5° e após por um monocromador de níquel para eliminar comprimentos de onda

indesejados. O detector utilizado na análise foi um modelo Lynxeye (1D), com uma abertura

ativa de 2θ de 5,002°. O porta-amostra foi configurado para girar em volta do próprio eixo a

0,082 Hz.

A análise morfológica do material foi obtida por meio de análises de Microscopia Eletrônica

de Varredura com espectroscopia de energia dispersiva (MEV- EDS). Para a confecção das

pastilhas, transferiu-se as amostras para 4 moldes de silicone e, em seguida, adicionou-se

resina de poliéster da marca Gol e 12 gotas de auto-polimerizante, indicado para

embutimento metalográfico. Após secagem em temperatura ambiente, encaminhou-se as

pastilhas para as etapas de lixamento e polimento, em seguida foram acondicionadas em um

dessecador. O recobrimento das pastilhas foi executado manualmente, por meio de

movimentos circulares sobre um filme de carbono. As pastilhas recobertas foram posicionadas

adequadamente no porta-amostras do microscópio da marca Oxford Instruments, modelo X-

ACT, operando-o em aceleração de voltagem de 20kV.

As determinações da área de superfície específica nas amostras de lodo foram executadas por

meio de adsorção-dessorção de gás nitrogênio. O método utilizado foi o Brunauer-Emmett-

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Teller (BET) com multipontos. O equipamento utilizado para a referida análise foi o

Quantachrome Instruments, modelo NOVA 1200.

O procedimento adotado para determinação do pH de Ponto de Carga Zero (pHPCZ) do

adsorvente foi feito conforme Valdés et al. (2002). Foram ajustadas três porções de água

destilada A, B e C para os valores de pH 3,0, 6,0 e 11,0 respectivamente. Para ajuste de pH

foram usadas soluções de ácido nítrico e hidróxido de sódio 0,1 mol.L- 1. Para cada uma destas

soluções (A, B e C), foram retiradas 7 alíquotas de 20 mL e a cada uma destas alíquotas foram

adicionadas quantidades diferentes do adsorvente. Os valores de porcentagem em massa de

adsorvente foram 0,01; 0,02; 0,1; 0,2; 0,6; 1,4 e 2,0 g, resultando em 7 Erlenmeyers para cada

pH. Em seguida, os 21 Erlenmeyers obtidos foram levados à incubadora Shaker da marca

Quimis para agitação constante a 200 rpm por 24 horas a 25°C para que se alcançasse o pH de

equilíbrio. Mediu-se então o pH final em cada Erlenmeyer e os dados obtidos foram usados

na construção de gráficos de pH versus massa de adsorvente. A determinação gráfica do pHPCZ

é feita definindo o ponto de convergência das três curvas.

3.2.3. Adsorção de Arsênio

Existem algumas variáveis que alteram a capacidade de adsorção dos materiais, dentre elas

estão o pH, o tempo de contato entre o adsorvente e o adsorvato e a concentração do

adsorvato no meio (10, 20, 40, 60, 80 e 100 mg L – 1). Sendo assim, essas variáveis foram

analisadas para um melhor desempenho do processo estudado. Os ensaios de adsorção,

foram realizados após ser efetuada a mistura das quatro amostras de lodo seco, nas duas

principais estações do ano (seco e chuvoso). Essa homogeneização foi realizada, tendo em

vista a similaridade das características físico-químicas e mineralógicas do lodo.

Estudo do pH

O estudo em função do pH foi realizado a fim de determinar o melhor pH de adsorção de

arsênio ao lodo de ETA. Para tanto, pesou-se 0,0500 g de material (lodo) em frascos de

penicilina de 100 mL e adicionou-se 30 ml de solução de As (V), cuja concentração inicial foi

de 100 mg L - 1. Os pHs das soluções foram ajustados para 2,0, 4,0 e 10,0 utilizando solução de

HCl 1,0 mol L - 1 e NaOH 1,0 mol L - 1, a mistura foi agitada em Shaker da marca Quimis, com

rotação de 200 rpm e a 25°C. Os testes foram realizados com tempo de 1440 minutos.

Posteriormente, a solução foi filtrada em membrana acetato de celulose lisa de 25 mm Ø da

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marca Unifil e a concentração de equilíbrio foi obtida após análise em espectroscopia de

emissão ótica com plasma indutivamente acoplado (ICP-OES). Feito isso, estabelece-se o

melhor tempo de contato.

Cinética de Adsorção

A cinética de adsorção experimental foi obtida pesando-se 0,0500 g do material (lodo) em

frascos de penicilina de 100 mL e adicionando-se 30 mL de solução de As (V), cuja

concentração inicial foi de 100 mg L - 1. O pH da solução foi ajustado para 2,0 utilizando solução

de HCl 1,0 mol L - 1 e NaOH 1,0 mol L -1, a mistura foi agitada em Shaker da marca Quimis, com

rotação de 200 rpm e a 25°C. Foram realizados testes com tempo de contato de 0, 20, 40, 60,

120, 180, 360, 720, 1440 e 2880 minutos. Posteriormente, a solução foi filtrada em membrana

acetato de celulose lisa de 25 mm Ø da marca Unifil e a concentração de equilíbrio foi obtida

após análise em espectroscopia de emissão ótica com plasma indutivamente acoplado (ICP-

OES). Feito isso, estabelece-se o melhor tempo de contato.

Isoterma de Adsorção

A isoterma de adsorção experimental foi obtida pesando-se 0,0500 g do material (lodo) em

frascos de penicilina de 100 mL e adicionando-se 30 mL de solução de As (V), as concentrações

utilizadas nos ensaios foram de 10, 20, 40, 60, 80 e 100 mg L - 1. O os ensaios foram realizados

em pH 2,0, para ajustar esses pHs foi utilizada solução de HCl 1,0 mol L - 1 e NaOH 1,0 mol L - 1,

a mistura foi agitada em Shaker da marca Quimis, com rotação de 200 rpm e a 25°C por 600

minutos para As (V). Posteriormente, a solução foi filtrada em membrana acetato de celulose

lisa de 25 mm Ø da marca Unifil e a concentração de As foi obtida após análise em

espectroscopia de emissão ótica com plasma indutivamente acoplado (ICP-OES).

3.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção serão apresentados os resultados e as discussões acerca do tema envolvido.

3.3.1. Coleta e Caracterização Físico-Química do Lodo de Estação de Tratamento de

Água

Foram realizadas quatro coletas do lodo, a fim de realizar a caracterização do mesmo. Essas

coletas foram realizadas entre os meses de agosto de 2017 e fevereiro de 2018. Os resultados

das análises físico-químicas realizadas in situ e em laboratório estão apresentados na Tabela

4.

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Tabela 4 - Caracterização físico-química do lodo.

Caracterização do Lodo

Variáveis Unidade A1 A2 A3 A4

DQO mg L - 1 256,03 339,42 164,62 690,76

ST mg L - 1 7106,67 4446,67 4173,33 8573,33

STD mg L - 1 80,26 107,10 104,80 120,00

SS mL.L - 1 900,00 450,00 880,00 880,00

Temp. °C 18,60 19,10 23,60 23,90

Turb. NTU 2280,00 5600,00 1470,00 5940,00

Cond. μS.cm - 1 167,50 226,20 218,80 251,60

pH - 7,42 7,33 6,83 7,03

Dens. g.mL - 1 1,016 1,019 1,015 1,019

ORP mV 73,00 8,00 154,00 -26,00

Nota: A1: Amostra 1(agosto/2017); A2: Amostra 2 (outubro/2017); A3: Amostra 3

(janeiro/2018); A 4: Amostra 4 (fevereiro/2018); DQO: Demanda Química de Oxigênio; ST:

Sólidos Totais; STD: Sólidos Totais Dissolvidos; SS: Sólidos Sedimentáveis; Temp: Temperatura;

Turb: Turbidez; Cond: Condutividade Elétrica; pH: Potencial Hidrogeniônico; Dens: Densidade;

ORP: Potencial de Oxi-Redução.

Fonte: Própria autora.

Na Tabela 4 é possível notar a variação da DQO nas quatro coletas realizadas. Pode-se

observar que no mês de fevereiro de 2018, referente a quarta coleta, houve um aumento

significativo da DQO, chegando a aproximadamente 700 mg L - 1, já nas demais amostras a

DQO variou entre 164,62 e 339,42. É possível relacionar os valores encontrados com valores

da literatura. De acordo com Di Bernardo et al. (2011), foram encontrados valores de DQO de

816 mg L - 1 e 250 mg L - 1 em duas ETAs denominadas por eles como X e Y respectivamente,

que também operam com decantadores de alta taxa.

Os sólidos totais são compostos pelos sólidos suspenso totais e pelos sólidos totais dissolvidos.

Os valores de sólidos totais variam de acordo com o escoamento superficial, presença de

feições erosivas e ausência de mata ciliar.

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A concentração de sólidos totais avaliadas nesse estudo variou entre 4173 e 8573 mg L - 1.

Segundo Di Bernardo et al. (2011), a ETA X apresentou concentração de sólidos totais de

4954 mg L - 1, valor próximo aos encontrados no presente estudo.

As temperaturas das amostras variaram entre 18,6 °C e 23,9 °C. Diferença de até 5 °C, que

reflete a variação da temperatura entre os meses de agosto e fevereiro na região onde se

localiza a ETA Amarantina.

Os resultados obtidos para a turbidez do lodo estiveram entre 1470 NTU e 5940 NTU. Segundo

Di Bernardo et al. (2011), nas ETAs X e Y os resultados da turbidez do lodo foi de 3650 NTU e

3378 NTU, respectivamente. Com a precipitação, as partículas de solo podem ser arrastadas

pelo escoamento superficial, ocasionando o aumento de material suspenso no córrego,

elevando desta forma os valores de turbidez.

A variação do pH do lodo da ETA Amarantina foi entre 6,83 e 7,42, enquanto o lodo das ETAs

X e Y, estudadas por Di Bernardo et al. (2011), apresentaram valores de 7,52 e 6,95,

respectivamente. A variação do pH está relacionada a dosagem de produtos químicos, como

os alcalinizastes, utilizados para alcançar o pH ótimo de coagulação.

Nas análises de Oxi-Redução os menores resultados, 8 mV e -26 mV, são referentes as coletas

do mês de outubro de 2017 e fevereiro de 2018, respectivamente, apresentando

características redutoras, em consonância com os piores resultados de turbidez e DQO, sendo

possível verificar uma relação entre esses parâmetros. O maior valor de ORP foi da amostra

do mês de janeiro, 154 mV, apresentando ambiente oxidante.

A Condutividade elétrica apresentou o menor valor de 167,50 Μs cm - 1 e o maior de

251,60 μS cm - 1. A condutividade elétrica foi um parâmetro que apresentou poucas alterações

no decorrer das coletas, quando comparada a outros parâmetros. Entretanto, as pequenas

diferenças entre os resultados obtidos podem estar relacionadas com a sazonalidade, e

principalmente com os sólidos totais dissolvidos, que apresentaram comportamento

semelhante ao da condutividade elétrica, ou seja, os dois parâmetros tiveram valores

aumentados ou reduzidos de forma equivalente nas mesmas amostras, provavelmente por se

tratarem de sólidos ionizáveis.

As diferenças de densidade entre as amostras são bem pequenas, variando entre 1,015 g mL - 1

e 1,019 g mL - 1, mostrando que a diferença está na terceira casa decimal.

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A determinação da composição química do lodo coletado foi determinada por meio da técnica

de Espectrometria de Emissão Óptica com Fonte de Plasma Indutivamente Acoplado (ICP-

OES), e os resultados estão apresentados na Tabela 5.

As composições químicas de lodos de ETA dependem das características da bacia hidrográfica,

dos agentes coagulantes utilizados e do tipo de operação da ETA (convencional ou de alta

taxa). O estudo foi realizado em uma ETA com decantador de alta taxa, isso implica em

descargas mais frequentes, quando comparado a decantadores convencionais, logo a

concentração de metais em decantadores de alta taxa são relativamente menores que em

decantadores convencionais, uma vez que o acúmulo de lodo nos decantadores convencionais

é maior que nos de alta taxa, tendo em vista que em decantarores convencionais as descargas

de fundo podem ocorrer em intervalos de até seis meses, ao contrário do de alta taxa que

pode ocorrer com maior frequência.

Analisando a Tabela 5, foi possível notar que, à exceção do potássio, as concentrações dos

demais elementos mantiveram mais elevadas no período de seca (A1 e A2), mostrando que

no período chuvoso há maior diluição.

Além disso pode-se notar que os elementos com maiores concentrações nas duas estações do

ano foram: ferro e alumínio (uma vez que excederam o limite de quantificação), isso se deve

a adição do agente coagulante a água (policloreto de alumínio), que além de ter alta

concentração de alumínio, possui também impurezas como ferro. Outros elementos que

apresentaram concentrações elevadas foram cálcio, enxofre, fósforo, magnésio, manganês e

potássio.

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Tabela 5 – Composição química do lodo.

Concentração (mg L - 1)

Elemento A1 A2 A3 A4

Alumínio-Al >LQ >LQ >LQ >LQ

Arsênio-As 3,17 0,97 0,75 0,54

Cálcio-Ca >LQ >LQ 107,19 74,46

Cádmio-Cd 2,03 4,35 1,69 1,16

Cobalto-Co 1,25 1,19 0,88 0,74

Cromo-Cr 0,78 0,69 0,04 0,17

Cobre-Cu 1,14 0,93 0,39 0,17

Ferro-Fe >LQ >LQ >LQ >LQ

Potássio-K 13,44 9,56 16,03 14,15

Lítio-Li 2,35 2,31 1,09 0,63

Magnésio-Mg 71,99 74,06 25,71 18,01

Manganês-Mn 36,30 18,55 9,16 10,28

Níquel-Ni 0,87 0,83 0,33 0,24

Fósforo-P 76,60 151,60 65,53 >LQ

Chumbo-Pb 4,68 1,58 1,03 0,59

Enxofre-S 77,66 59,28 53,57 38,58

Antimônio-Sb 0,51 1,31 0,07 0,12

Zinco-Zn 8,47 1,77 1,01 0,56

Nota: >LQ – Maior que o limite de quantificação.

Fonte: Própria autora.

A análise de Infravermelho foi realizada a fim de identificar os grupos funcionais do lodo. As

amostras utilizadas para tal análise foram separadas em período seco e chuvoso, os resultados

obtidos estão descritos nas Figuras 6 e 7.

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Figura 6 – Resultados da análise por infravermelho das amostras 1 e 2.

Fonte: Própria autora.

Figura 7 – Resultados da análise por infravermelho das amostras 3 e 4.

Fonte: Própria autora.

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O estiramento O-H foi observado em uma banda larga em torno de 3352 cm - 1. Em torno de

1647 cm - 1 identificou-se uma absorção C=O, que indica a presença de carboxilatos (SMIDT e

MEISSI, 2007). Na banda 1402 cm - 1 identificou-se o estiramento simétrico de C-O em ácidos

carboxílicos ou estiramento de C-O de grupos fenólicos (GENG et al., 2009). Uma ligação C-O

foi observada em 1006 cm - 1, tendo em vista que essa aparece com valor aproximado de 1300

a 1000 cm - 1 (PAVIA et. al., 2015). Na banda 912 cm - 1 foi identificado o estiramento das

vibrações Al-O (GOLDBERG E JOHNSTON, 2001; SIFONTES et al., 2014).

É mostrado notável banda vibracional da ligação Al-OH próximo a 3695 cm - 1. As ocorrências

em 3527 e 3620 cm - 1 são típicas bandas que correspondem ao estiramento Al-OH, essa

ligação também pode ser observada em bandas próximas a 3446 (ROCHA, 2011). Identificou-

se em 1647 cm - 1 uma absorção C=O, que indica a presença de carboxilatos (SMIDT e MEISSI,

2007). Na banda 1402 cm - 1 identificou-se o estiramento simétrico de C-O em ácidos

carboxílicos ou estiramento de C-O de grupos fenólicos (GENG et al., 2009). Uma ligação C-O

foi observada em 1000 cm - 1, uma vez que essa aparece com valores aproximados de 1300 a

1000 cm - 1 (PAVIA et. al., 2015). Os picos observados em 906 e 790 cm - 1 podem ser

correlacionados com a banda Al-O (GOLDBERG E JOHNSTON, 2001; SEBDANI et al., 2015).

Os grupos O-H, C=O e C-O indicados, estão, provavelmente, relacionados à matéria orgânica

presente no resíduo. O lodo de ETA apresenta em sua composição um elevado teor de matéria

orgânica, que é composta pelos mais variados tipos de substâncias, como celulose,

substâncias húmicas, lignina, carboidratos e ácidos graxos (CAPANA, 2009).

A diferença nas amostras pode ser explicada pela diferença de épocas do ano, uma vez que

no período chuvoso é utilizado maior quantidade de coagulante a base de alumínio. Logo, a

diferença entre as amostras do período de seca (Amostras 1 e 2) e de chuva (Amostras 3 e 4).

O difratograma de Raios-X das amostras do lodo de ETA estudado é mostrado na Figura 8.

Verificam-se nas Figuras 8(A), 8(B), 8(C) e 8(D), picos de difração característicos das fases

cristalinas referentes a Caulinita (C) que se trata de argilo-mineral de alumínio hidratado,

Gibsita (G) referente a minério de cálcio, Quartzo (Q) é rocha metamórfica cujo componente

principal é o quartzo e Moscovita (M) que é um mineral do grupo dos filossilicato (micas), bem

como em estudos realizados em outras ETAs por Margem (2008), Paixão (2008), Silva e

Fungaro (2011) e Tartari et al., (2011). Observa-se a presença majoritária da caulinita em todas

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as amostras, o que demonstra que se trata de um argilomineral, portanto, exclusivo da fração

argila (CABRAL, 2013).

As Figuras 8(A) e 8(B), apresentam-se como substância de baixa cristalinidade, que apresenta

poucos picos definidos algo que pode ser justificado, pelo elevado teor de matéria orgânica

presente na amostra e também pelo fato deste lodo conter diferentes tipos de hidróxidos em

sua composição (CAPANA, 2009).

Figura 8 - Difratograma de Raios-X das amostras 1 (A), 2 (B), 3 (C) e 4 (D) coletadas entre agosto/2017 e fevereiro/2018.

Nota: M: Moscovita; C: Caulinita; Q: Quartzo; G: Gibsita

Fonte: Própria autora.

As Figuras 9(A), 9(B), 9(C) e 9(D) mostram os aspectos morfológicos e o espectro de EDS

obtidos para o resíduo de ETA estudado, onde A e B são as amostras do período de seca e C e

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58

D do período de chuva. O lodo apresenta-se heterogênio e de formato irregular com tamanhos

variados, bem como lodos estudados por Oliveira et al., (2004), Silva e Fungaro (2011) e

Martins et al., (2014).

O mapeamento por elementos através de EDS indicou a presença majoritária de oxigênio,

silício, alimínio, ferro, cálcio e maganês em todas as amostras, reforçando os dados de

composição química obtidos. Em estudos realizado por Oliveira et al., (2004),com material

coletado em uma ETA localizada na cidade de Campos dos Goytacazes-RJ, os elementos

majoritários na análise de EDS foram silício, alumínio, ferro e titânio. Margem (2008), afirma

que em seu estudo houve predominância de alumínio e silício na composição do lodo

estudado, similares aos encontrados neste estudo.

Este resultato corrobora com os resultados de difração de Raios-X, explicando a formação

mineralogica encontrada.

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59

Figura 9 - Microscopia eletrônica de varredura das amostras 1 (A), 2 (B), 3 (C) e 4 (D), coletadas entre agosto/2017 e fevereiro/2018.

Fonte: Própria autora.

As áreas superficiais, volume de poros e tamanho dos poros das quatro amostras de lodo

foram analisadas por BET. Na Tabela 6 pode-se observar que as amostras do período de seca

(1 e 2) apresentaram área superficial significativamente maior que do período chuvoso (3 e

4). Sabbag e Morita (2002), em estudo do lodo de uma ETA em Cubatão obtiveram valores de

0,25 a 0,32 m2 g - 1. Já Kim et al. (2014), encontraram em seu estudo valor de 42,44 m2 g - 1.

Outro estudo referente a área superficial do lodo de ETA foi desenvolvido por Jeon et al.

(2018), em seu trabalho os autores encontraram uma área superficial de 7,00 m2 g - 1 para o

lodo seco a 105 °C e de 181,24 m2 g - 1 para o lodo calcinado a 300 °C.

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O volume de poros do período de seca também foi maior que no período de chuva, assim

como as áreas superficiais das amostras, sendo de 0,058 e 0,074 cm3 g - 1 no período de seca e

0,013 e 0,017 cm3 g - 1 no período de chuva. Em estudos realizados por Kim et al. (2014), o

volume de poros encontrados por eles foi de 0,080 cm3 g - 1, próximo aos valores encontrados

no presente estudo no período de seca. Wolff et al. (2005), também realizou um estudo sobre

o volume de poros do lodo gerado em estações de tratamento de água, o resultado

encontrado por esses autores foi de 0,120 cm3 g - 1, bem maior que o volume encontrado neste

estudo.

Diferentemente da área superficial e do volume dos poros, o tamanho dos poros apresentados

na Tabela 6, não apresentou significativa diferença entre os períodos de seca e de chuva.

Tabela 6 – Análise da área superficial pelo método BET das amostras de lodo 1, 2, 3 e 4, coletadas entre agosto/2017 e fevereiro/2018.

Amostra Área Superficial Específica

(m2.g - 1) Volume dos Poros

(cm3.g - 1) Tamanho dos Poros

(Å)

A1 127,323 0,058 15,450

A2 167,159 0,074 15,240

A3 29,510 0,013 17,500

A4 38,801 0,017 16,630

Fonte: Própria autora.

Na Figura 10, apresenta-se o gráfico obtido para determinação do pHPCZ do lodo. O pHPCZ pode

ser interpretado como o pH no qual a partícula apresenta um balanço de carga superficial

igual a zero, sendo obtido a partir do valor de convergência das três curvas de pH. Em valores

de pH superior àquele tomado como o PCZ tem-se seguramente um balanço líquido de cargas

negativas no material analisado, sendo que abaixo desse valor tem-se predominância de

cargas positivas.

Os valores de pHPCZ do lodo foi determinado em 7,6, concluindo-se que o lodo é básico e que

possui cargas superficiais positivas abaixo desse pH, favorecendo a interação eletrostática

deste com os oxiânions de arsênio. Em meio ácido ocorrem interações entre os grupos

aniônicos da solução aquosa contendo As (V) e os sítios positivos do lodo.

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61

Figura 10 - Curva de pH versus massa de adsorvente na determinação do pHPCZ.

Fonte: Própria autora.

3.3.2. Adsorção de Arsênio

Estudo do pH

O efeito do pH na adsorção de As (V) pelo lodo de estação de tratamento de água foi

examinado em pH 2,0, 4,0 e 10,0. A capacidade de adsorção (qe) para pH 2,0 foi de 22,67, para

pH 4,0 foi de 21,98 e para pH 10,0 foi de 1,96, sendo assim, a adsorção de As (V) pelo lodo

obteve melhor resultado em pH 2,0, sendo que a mesma diminuiu à medida que se aumentava

o pH sendo o pior resultado em pH 10,0. A diminuição da adsorção com o aumento do pH

pode ser atribuída à competição crescente entre grupos hidroxilas (OH-) e as espécies de As

(V) pelos sítios de adsorção, pois à medida que se aumenta o valor de pH, aumenta-se a

concentração de hidroxilas (DAS, 2006).

A capacidade de adsorção de arsenato depende do pH e está relacionada com as espécies de

arsenato em função do pH. Sob condições oxidantes, na faixa de pH entre 2,0 e 7,0, a espécie

dominante é o H2AsO4- e em valores de pH maiores que 7,0 a espécie dominante é o HAsO4

2-

. As espécies H3AsO4 e AsO43- estão presentes em condições extremamente ácidas e alcalinas,

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62

respectivamente. Sob condições redutoras, a espécie neutra H3AsO3 predomina até o pH em

torno de 9,2 e as espécies aniônicas H2AsO3- , HAsO3

2- e AsO33- irão predominar em valores de

pH maiores que 9,2 (Smedley and Kinniburgh, 2002).

Sendo assim, observando a Figura 11, pode-se inferir que as prováveis estruturas da espécie

de As (V) adsorvida pelo lodo a pH 2,0 foram H3AsO4 e/ou H2AsO4-, uma vez que neste pH tem-

se 50% de H3AsO4 e 50% de H2AsO4-.

Os valores de pKa (-log Ka) fornecem informações a respeito da(s) ionização(ões) de grupo(s)

ácido(s) e básico(s) e, consequentemente, das respectivas cargas dos adsorvatos em

determinados valores de pH. Isso significa que nos pH de estudo, a solução de As (V) está

ionizado com cargas negativas, o que sugere uma boa força motriz para a adsorção sobre o

lodo, já que possibilita a ocorrência de interação do tipo eletrostática.

Em valores de pH baixos, os grupos carboxílicos e hidróxidos de alumínio na superfície do lodo

estão protonados o que favorece a adsorção de oxiânions. A partir de valores de pH

ligeiramente superiores ao PCZ, a adsorção começa a reduzir como consequência da fraca

atração entre os grupos carboxilato na superfície do lodo, carregados negativamente, e os

íons aniônicos da solução.

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Figura 11 – Diagrama Eh x pH das espécies aquosas de As a 25ºC.

Fonte: Smedley & Kinniburgh, (2002).

Cinética de Adsorção

O estudo cinético de adsorção foi realizado a fim de se determinar o tempo de equilíbrio de

adsorção de As (V) em lodo de ETA. O pH utilizado para o estudo cinético foi determinado de

acordo com os resultados do estudo de pH (pH de maior capacidade de adsorção), ou seja, pH

2,0.

O gráfico de qe em função do tempo indica que a quantidade de íons adsorvida aumenta com

o tempo até atingir o equilíbrio, logo, após certo tempo, a capacidade máxima de adsorção é

atingida. Esse estudo é importante para a otimização do processo de adsorção. Após saber o

tempo de equilíbrio para a adsorção do adsorvato, os próximos processos podem ser feitos

em tempos de contato menores.

O tempo de equilíbrio de adsorção foi obtido em 360 minutos, conforme apresentado na

Figura 12. Inicialmente, a adsorção de As (V) foi rápida, mas depois de um tempo, a taxa de

adsorção diminuiu. A adsorção rápida inicial pode ter sido causada devido a reação do As (V)

os grupos OH ligados a Al nos macroporos e sítios externos da partícula, tendo em vista a área

superficial das partículas do lodo. O gráfico apresentado na Figura 13, ainda aponta que nos

primeiros 40 minutos há a remoção de aproximadamente 20 mg g – 1 de As (V), isso mostra

que de 20 mg g – 1 para 24 mg g – 1 (equilíbrio) levaram-se 320 minutos, sendo assim, para

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otimização de processos industriais, pode-se adotar o tempo de 40 minutos, visto que após

esse tempo a relação adsorção/tempo é reduzida.

Os modelos de cinética de pseudo-primeira ordem e pseudo-segunda ordem foram utilizados

para modelar a adsorção do As (V) em Lodo de ETA. A Figura 12 apresenta o gráfico de

capacidade de adsorção (qe) contra o tempo (t), e as curvas ajustadas por cada modelo aos

dados experimentais.

Figura 12 – Cinética de adsorção de As (V) em lodo de estação de tratamento de água à pH 2,0, rotação de 200 rpm e 25°C.

Fonte: Própria autora.

Por meio da análise dos dados apresentados na Tabela 7 e do gráfico de capacidade de

adsorção em função do tempo apresentados na Figura 12, verificou-se que o modelo de

cinética que melhor descreveu a cinética de adsorção para As (V) em valor de pH 2,0, foi o

modelo de pseudo-primeira ordem, pois apresentaram valores mais elevados para R2 e

valores mais baixos para o χ2 red. Geralmente, o modelo de cinética de pseudo-primeira ordem

representa uma adsorção antecedida por difusão através de um filme (HO e MCKAY, 1999).

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65

Além disso, quando o valor da capacidade de adsorção no equilíbrio experimental (qe,exp) é

comparado com a capacidade de adsorção no equilíbrio estimada (qe,est), percebe-se que os

valores fornecidos pelos modelos de pseudo-primeira ordem foram mais próximos do que os

fornecidos pelo modelo de pseudo-segunda ordem.

Tabela 7 – Resultados da modelagem da cinética de adsorção de As (V) em lodo de estação de tratamento de água à pH 2,0, rotação de 200 rpm e 25°C.

Parâmetros As (V)

t (min) 360

qe,exp (mg g - 1) 24,34

Pseudo-primeira ordem

qest (mg g - 1) 24,180 ± 0,57

k1 (min - 1) 0,035 ± 0,003

R2 0,952

χ2 0,080

Pseudo-segunda ordem

qest (mg g - 1) 25,64 ± 1,033

k2 (min - 1) 0,002 ± 4,92*10-4

R2 0,810

χ2 0,892

Difusão Intrapartícula

1° Estágio

ki,1 (mg g - 1 min - 1/2) 5,010

R2 1,000

2° Estágio

ki,1 (mg g - 1 min - 1/2) 0,220

R2 0,998

Fonte: Própria autora.

Além dos modelos de pseudo-primeira ordem e pseudo-segunda ordem, o modelo de difusão

intrapartícula foi usado para modelar os dados experimentais obtidos com a finalidade de se

obter maiores informações sobre o mecanismo de adsorção. A Tabela 7 apresenta os valores

das constantes de difusão intrapartícula, ki, que são determinadas pelas inclinações das retas

pertencentes a diferentes estágios, logo quanto maior a inclinação da reta maior será o valor

de ki. Em relação ao As (V), observa-se que em intervalos de tempo maiores ocorreu uma

diminuição da constante de velocidade de adsorção devido principalmente à saturação dos

sítios de adsorção, o que acarretou em uma menor disponibilidade de sítios livres dificultando,

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portanto, a aproximação e a consequente acomodação de mais ânions de As (V) na superfície

do lodo.

O gráfico do modelo de difusão intrapartícula, Figura 13, apresentou 2 estágios bem definidos

para o processo de adsorção.

Figura 13 - Gráfico obtido do modelo de difusão intrapartícula para adsorção de As (V) em lodo de estação de tratamento de água à pH 2,0, rotação de 200 rpm e 25°C.

Fonte: Própria autora.

O primeiro estágio trata-se de um processo de adsorção rápido, o qual provavelmente é

consequência de uma forte atração, podendo ser do tipo dipolo-dipolo, ligação de hidrogênio

e/ou interação eletrostática entre o As (V) e a superfície externa do lodo devido aos grupos

carboxílicos e hidróxidos de alumínio protonados, favorecendo a adsorção de oxiânions

(FIDELES, 2017). O segundo estágio refere-se a uma adsorção gradual, que pode ser atribuída

à difusão intrapartícula dos ânions de As (V) com as espécies de Al-OH nos poros do

adsorvente (lodo). O estágio final não apresenta uma linearidade tão evidenciada, mas,

equivale ao alcance do equilíbrio de adsorção, ou seja, quando os ânions de As (V) preenchem

todos os sítios ativos do lodo.

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Isoterma de Adsorção

Estudos em função da concentração inicial de As (V) foram realizados a fim de elucidar os

mecanismos envolvidos na adsorção do As (V) em lodo de estação de tratamento de água. Os

experimentos para obtenção das isotermas foram realizados nos mesmos valores de pH

utilizados no estudo cinético e o tempo de contato utilizado foi de 360 minutos.

A Figura 15 apresenta os resultados da modelagem da adsorção dos dados experimentais pela

análise de regressão não linear de três modelos de isotermas Langmuir, Freundlich e Sips.

Figura 14 – Isotermas de adsorção de As (V) em lodo de estação de tratamento de água à pH 2,0, rotação de 200 rpm e 25°C.

Fonte: Própria autora.

Os resultados para cada um dos modelos de isoterma analisados estão apresentados na

Tabela 8. Nessa Tabela pode-se observar os valores máximos de adsorção para cada modelo

de adsorção de A (V) em lodo de estação de tratamento de água.

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Tabela 8 - Resultados da modelagem das isotermas de adsorção de As (V) em lodo de estação de tratamento de água à pH 2,0, rotação de 200 rpm e 25°C.

Parâmetros As (V)

te (min) 360

Qmax, exp (mg g - 1) 24,47

Langmuir

Qmax, est (mg g - 1) 22,92 ± 1,55

b (Lmg - 1) 0,35 ± 0,09

R2 0,944

χ2 0,263

Freundlich

KF (mg g - 1) 7,52 ± 0,48

n (Lmg - 1 ) 1/n 3,51 ± 0,23

R2 0,987

χ2 0,061

Sips

Qmax, est (mg g - 1) 48,12 ± 26,93

b (Lmg - 1) 0,01 ± 0,04

n (Lmg - 1 ) 1/n 2,39 ± 0,66

R2 0,991

χ2 0,055 Fonte: Própria autora.

Por meio da análise dos dados apresentados na Tabela 8 e do gráfico de qe versus Ce

apresentados na Figura 15, verificou-se que o modelo que melhor descreveu a adsorção de

As (V) em lodo foi o modelo de Sips, que exibiu o maior valor de R2 e menor valor de χred2. O

modelo de isoterma de Sips (1948) resulta da combinação dos modelos de isoterma de

Langmuir e Freundlich, de forma a prever a heterogeneidade do sistema de adsorção e

solucionar a limitação, em relação ao aumento indefinido da capacidade de adsorção do

adsorvente com o aumento da concentração de adsorvato, apresentada pelo modelo de

Freundlich. A isoterma de Sips em baixas concentrações de adsorvato é reduzida à isoterma

de Freundlich, enquanto que em concentrações elevadas de adsorvato é reduzida à isoterma

de Langmuir. O comportamento da isoterma de Sips neste trabalho se assemelha mais ao de

Freundlich do que de Langmuir, exceto pelo fato de que a equação de Sips possui um limite

finito de saturação quando a pressão ou concentração é suficientemente alta.

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69

Na isoterma de Langmuir em geral, adsorventes eficientes apresentam altos valores de Qmax

e b. A constante b indica uma elevada afinidade do íon pelos sítios do material adsorvente,

que corresponde à afinidade entre a superfície do adsorvente e o adsorvato. Sendo assim,

quanto maior o valor de b, maior é a afinidade de As (V) pelos sítios do lodo. O parâmetro n

do modelo de Sips define o grau de heterogeneidade do sistema, logo, quanto maior esse

valor, mais heterogênea será a superfície do lodo e mais bem descrita pelo modelo de

Freundlich será a adsorção. Por outro lado, quanto mais próximo de 1 mais homogênea é a

superfície e mais bem descrito pelo modelo de Langmuir é o fenômeno de adsorção

observado. Os valores encontrados são maiores que 1 o que é condizente com o melhor ajuste

dos dados pelo modelo de Freundlich, quando comparado a Langmuir.

Comparação dos Resultados Obtidos com a Literatura

A Tabela 9 apresenta vários materiais utilizados na remoção de Arsênio de soluções aquosas.

Comparado aos adsorventes apresentados na Tabela 9, o lodo gerado em estações de

tratamento de água se mostra um ótimo material adsorvente com possível utilização na

remediação de efluentes industriais, possuindo capacidade de adsorção para As (V) de 24,47

mg g - 1, comparáveis aos encontrados na literatura.

Os trabalhos realizados por Kim et al. (2014) e Jeon et al. (2017) também utilizaram lodo de

estação de tratamento de água, com uso de coagulante a base de alumínio para adsorção de

arsênio, Kim et al. (2014) obtiveram remoção máxima de 7,68 mg g - 1, bem inferior ao

encontrado neste trabalho, já Jeon et al. (2017) relataram adsorção máxima de 24,09 mg g - 1,

bem próximo do resultado encontrado pelo presente estudo que foi de 24,47 mg g - 1.

Os demais estudos utilizaram diversos tipos de materiais como adsorvente de arsênio, dentre

os materiais que obtiveram melhor desempenho destacam-se gel residual de laranja

carregado com Zr, carvão ativado modificado por ferro, alumina cerâmica revestida de

quitosana, quitosana, Fe-Mn impregnado com óxido quitosana e cinzas volantes, cuja as

remoções máximas foram de 88,00, 51,30, 93,46, 58,00, 39,10 e 30 mg de As (V) por g de

adsorvente, respectivamente. Os demais materiais, apresentaram remoção máxima inferior a

encontrada neste trabalho. Isso mostra que dentre diferentes tipos de materiais estudados

como possíveis agentes adsorventes na remoção de As, o lodo se encontra em uma posição

mediana, entretanto, possui uma grande vantagem, uma vez que a aquisição do mesmo se

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resume em baixo custo, tendo em vista que este é um material residual de outro processo, e

que é produzido em larga escala nas estações de tratamento de água.

Além disso o lodo é um resíduo gerado nas estações de tratamento de água que muitas vezes

não possui uma disposição ambientalmente correta, sendo assim confirma a potencialidade

de utilização deste material como adsorvente de As (V), uma vez que este é um material

gerado mundialmente.

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Tabela 9 – Materiais utilizados na adsorção de arsênio.

Material Adsovente Adsorvato Agitação

(rpm) Temperatura

(°C) pH

Concentração de adsorvente

(gL - 1)

Tempo de equilíbrio

(min)

Qmax (mg g - 1)

Referência

Lodo de estação de tratamento de água

As (V) 200 25 2,0 1,66 360 24,47 Este trabalho

Lodo de estação de tratamento de água

As (V)

20

33,33

5,15

KIM et al. (2014) - 30 4,0 360 5,26

40 7,68

Lodo de estação de tratamento de água

As (V) -

20

6,0 3,33 1440

13,33

JEON et al. (2017) 30 17,57

40 21,01

50 22,10

Hidrotalcita As (V)

25 4,0 24,09

TOLEDO et al. (2011)

- 7,0 5,00 720 10,19 9,0 7,44

Biocarvão magnético As (V) 50 22 7,0 2,50 1440 0,27 WANG et al.

(2015) Gel residual de laranja

carregado com Zr As (V) 140 30 3,0 1.66 1440 88,00

BISWAS et al. (2008)

Estafilococo xilosso As (V) - - 3,0 2,00 150 4,23 ARYAl et al. (2010)

Carbono mesoporoso As (V) 160 25 6,5 3,00 1440 6,46 GU et al. (2007)

Carvão ativado modificado por ferro

As (V) - 20 6,0 1,00 1440 51,30 CHEN et al. (2007)

Laterita tratada As (V) 32 8,5 0,50 1440 8,4 MAITI et al. (2010)

Alumina cerâmica revestida de quitosana

As (V) 200 25 4,0 0,21 1440 93,46 BODDU et al.

(2008)

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Quitosana As (V) 50 25 7,0 5,00 480 58,00 CHEN e CHUNG

(2006)

Trocador de ânions de coco

As (V) 200

20

7,0 2,00 240

13,57

ANIRUDHAN e UNNITHAN (2007)

30 12,51

40 11,67

50 10,42

Fe-Mn impregnado com óxido quitosana

As (V) 180 25 7,0 1,00 500 39,10 QUI et al. (2015)

Cinzas volantes As (V) 105 20 4,0 6,66 1200 30,00 DIAMADOPOULOS

et al. (1993)

Goetita

As (V)

25 5,5 100,00 480

12,5 LADEIRA e CIMINELLI

(2004)

Gibsita - 4,6

Caulinita 0,1

Carbono mesoporoso contendo ferro

As (V) 160 25 7,85 1,8 1440 5,51 ZHIMANG E

BAOLIN (2007)

Hematita As (V) 125

20

4,2 40,00 35

0,22

30 0,20 Singh et al. (1996)

40 0,18

Fonte: Própria autora.

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73

Após a utilização do lodo, este deverá receber uma destinação ambientalmente correta, uma

opção para o uso desse material é a utilização deste em fabricação de artefatos de cimento,

concreto, tijolos e blocos cerâmico, uma vez que diversos estudos apontam a viabilidade da

utilização do lodo como matéria prima para tal. Outra opção para seu descarte seriam os

aterros industriais, uma vez que esses recebem resíduos de classe I, que em função de suas

propriedades físico-químicas e infectocontagiosas, podem apresentar risco à saúde pública e

ao meio ambiente.

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74

3.4. REFERÊNCIAS

ANAIA, G. DE C. Determinação de Íons Metálicos por FI-FAAS após Separação e Concentração

em Fase Sólida: Avaliação Crítica de Adsorventes. 2008. Dissertação de Mestrado –

Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

ANIRUDHAN, T. S., UNNITHAN, M. R. (2007) Arsenic (V) removal from aqueous solutions using

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64.

ARYAL, M., ZIAGOVA, M., LIAKOPOULOU-KYRIAKIDES, M. (2010). Study on arsenic biosorption

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4. CAPíTULO III

4.1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho foi estudada a possibilidade da utilização do lodo proveniente de estação de

tratamento de água como adsorvente de arsênio.

Neste sentido foi realizada a caracterização do lodo por meio por meio do emprego de

técnicas de análise da estrutura cristalina, das características superficiais, químicas e

morfológicas do material. Foram realizadas análises de difração de Raios-X, Microscopia

Eletrônica de Varredura (MEV-RDS), Espectroscopia de Infravermelho, determinação de área

superficial por método BET e o pH de Ponto de Carga Zero (pHPCZ), afim de se identificar a

estrutura e a composição do lodo, para melhor compreender seu comportamento durante o

processo de adsorção.

O lodo em estudo, possui baixa densidade, pH básico, carga orgânica, altas concentrações de

ferro, alumínio, cálcio e manganês, área superficial considerável, se apresenta heterogênio e

de formato irregular com tamanhos variados e é formado principalmente pelos minerais

moscovita, caulinita, quartzo e gibsita.

Os resultados obtidos por meio deste presente estudo demonstram que o lodo proveniente

de estações de tratamento de água pode ser usado como um adsorvente efetivo para

remoção de As (V) de soluções aquosas. Os resultados demonstraram que o processo de

adsorção é influenciado pelo pH da solução, sendo que em pH 2,0 obteve-se a máxima

adsorção.

O mecanismo cinético do processo segue o modelo de pseudo-primeira ordem. A adsorção de

arsênio pelo lodo foi dependente do tempo de contato, ocorrendo uma diminuição da

concentração de As (V) na solução após seis horas de contato, mostrando uma cinética de

adsorção de tempo moderado. Após esse tempo há a diminuição da capacidade de adsorção

de arsênio, devido a saturação dos sítios ativos.

De forma geral, o lodo apresentou bons resultados para a remoção de As (V) de soluções

aquosas, atingindo aproximadamente 92 e 87% para uma concentração inicial de 10 e 20 mg

L - 1 de As (V) em pH 2,0, respectivamente. Os modelos de isoterma de Langmuir, Freudlich e

Sips foram testados. A Equação de Sips descreveu de forma mais satisfatória os dados de

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equilíbrio, sendo a capacidade de adsorção máxima de íons As (V) sobre o lodo igual a

24,47 mg g - 1 em pH 2,0.

Assim, os resultados obtidos para adsorção de As (V) pelo lodo mostram a possibilidade de

seu emprego em processos de remoção de As (V) por exemplo em efluentes industrias com

pH ácido, como por exemplo efluentes gerados em processos minero-metalúrgicos,

merecendo destaque a drenagem ácida de mina, caracterizada pelos altos teores de metais

dissolvidos e baixo pH.