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Teología de la Reforma A TEOLOGIA DA REFORMA Sola Scriptura, Sola Gratia Sola Fide Solo Christo Soli Deo Gloria Título Original: Teología de la Reforma Autor: Vários autores Agradecemos a colaboração prestada pela Guttemberg Press para a adaptação de vários sermões de Carlos Spurgeon. Agradecemos a colaboração da Igreja Batista da Graça do México pela autorização para utilizar o resumo do livro de Juan Gil entitulado “La justificación por la fe”. Edição: Javier Muñoz e Julio Benítez Impresso nos padrões do Centro de Publicaciones Biblos Bogotá D.C. Abril de 2007 Proibido duplicar este livro por qualquer meio sem a permissão escrita da FUNDACIÓN IBRC 1

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Teología de la Reforma

A TEOLOGIA

DA

REFORMA

Sola Scriptura,

Sola Gratia

Sola Fide

Solo Christo

Soli Deo Gloria

Título Original: Teología de la Reforma

Autor: Vários autores

Agradecemos a colaboração prestada pela Guttemberg Press para a adaptação de vários sermões de Carlos Spurgeon.

Agradecemos a colaboração da Igreja Batista da Graça do México pela autorização para utilizar o resumo do livro de Juan Gil entitulado “La justificación por la fe”.

Edição: Javier Muñoz e Julio Benítez

Impresso nos padrões do Centro de Publicaciones Biblos

Bogotá D.C. Abril de 2007

Proibido duplicar este livro por qualquer meio sem a permissão escrita da FUNDACIÓN IBRC

FUNDACIÓN IBRC

Carrera 40 # 22 A-70

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Teología de la Reforma

Tels. (57 1) 2441438 – 2444212 – 3002181144

www.fundacionibrc.org

email: [email protected]

Bogotá D.C.

TABELA DE CONTEÚDO

Guia do tutor

Introdução: A Teologia da Reforma, Cinco Princípios de Avivamento, 3

Lição 1. Sola Gratia (Sola Gracia),

Lição 2. Sola Scriptura (Sola Escritura),

Lição 3. Sola FIDE. (Sola fe)

Lição 4. Solo Christo (Solo Cristo)

Lição 5. Soli Deo Gloria

Apêndice A.

Apêndice B.

Apêndice C.

Apêndice D.

Apêndice E.

TEOLOGIA DA REFORMA

INTRODUÇÃO

A Reforma Protestante, como já temos estudado, foi um movimento de protesto e regresso aos ensinamentos e vida que emana da Bíblia. Existiram 5 estandartes que se ergueram historicamente como os princípios que regem as doutrinas bíblicas e a vida cristã. Os conhecemos como os Somentes: Somente a Graça, Somente a Fé, Somente a Escritura, Somente Cristo e Somente a Glória de Deus. Neste curso que temos denominado “Teologia da Reforma” estudaremos as somentes.

Todo o material básico de leitura se encontra nas fotocópias que oferecemos para seguir a matéria. A literatura adicional para cumprir o número de páginas requeridas para quem está

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no mestrado, terá uma bibliografia adicional, que o estudante escolherá de acordo com o tema que tratará em seu trabalho escrito.

RESPONSABILIDADES DO ESTUDANTE

O curso terá uma duração de 4 semanas.

Aula 1. Ler a introdução e a lição 1 do caderno e o apêndice A “Somente pela Graça” de Spurgeon. Devem ser respondidas as perguntas da tarefa desta lição. Os estudantes à distância e virtuais devem enviar as tarefas de todas as aulas. Os estudantes presenciais, mostrá-las ao facilitador que qualificará e registrará na planilha de qualificações.

Aula 2. Ler a lição 2 do caderno e o apêndice B “A Justificação pela Fé” de Juan Hill. Resolverão as perguntas da lição.

Aula 3. Ler as lição 3 e 4 e os apêndices C e D. Resolver as perguntas da lição.

Aula 4. Ler a lição 5 e o apêndice E. resolver as perguntas da lição.

Cada estudante, fará uma exposição de forma oral os conteúdos de leitura, incluindo os anexos respectivos. Cada coordenador de grupo, dependendo do número de estudantes, repartirá o contúdo que cada uma vai expor de tal forma que se cubra todo o material e dará uma nota de 1 a 10 sobre as exposições. Os estudantes a distância ou virtuais, farão e entregarão um resumo de duas a três páginas de cada leitura designada para a semana, no lugar de exposição. A exposição oral terá um valor de 20% da nota final.

Como tarefa, cada aluno fará 10 perguntas e as resolverá sobre os apêndices, que trará ao grupo para desenvolver. O coordenador revisará as tarefas de cada aula e designará uma nota baseado no cumprimento e a idoneidade das perguntas. (As tarefas são a suma das perguntas que traz o livro ao final de cada lição, mais as 10 perguntas que o estudante fará dos apêndices. As tarefas terão um valor de 10% da nota final. Os estudantes à distância e virtuais, enviarão as perguntas.

Cada aluno apresentará um projeto final, um ensaio sobre uma das somentes de uma extensão máxima de 10 páginas, mínimo 4, cumprindo as normas de apresentação de trabalhos. Seu valor será de 30%. Para os estudantes de mestrado, será mínimo de 15 páginas.

Cada aluno apresentará um informe que contenha o Projeto de aplicação do aprendido. Como usará em uma atividade prática o aprendido, dentro da igreja. Terá um valor de 10%

O exame final terá um valor de 30%.

O propósito do curso é animar cada irmão, em seu compromisso de fidelidade e mensagem da fé. É importante a fé, mas a fé na verdade. É nosso chamado ensinar, mas ensinar o evangelho, e não qualquer “outro evangelho” (Que já não é então evangelho) seja para nós anátema. Temos incluído como introdução a confissão de Cambrige, porque ao tocar os temas das “solas”, pareceria ser algo sobre entendido e básico dentro da fé, mas lastimosamente não é assim.

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Que o Senhor os abençoe neste estudo.

“O qual não é outro, senão que há alguns que vos pertubam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema.”Gálatas 1:7-8.

Introdução

A TEOLOGIA DA REFORMA

Cinco Princípios Bíblicos de Avivamento

Richard Bennett

(ex-sacerdote católico)

Em todos os assuntos da fé e moral a autoridade final é somente a Bíblia (Sola Scriptura Nº 1). Diante do Santíssimo Deus, de acordo com a Bíblia, a pessoa é salva somente pela graça (Sola Gratia Nº 2), somente por meio da fé (Sola Fide Nº 3), em Cristo Jesus somente (Solo Christo Nº 4). A partir destes, toda a glória e a adoração são somente para Deus (Soli Dei Gloria Nº 5).

O Senhor Deus tem usado esses cinco princípios bíblicos para a produção de um grande avivamento no corpo de Cristo conhecida como a Reforma. Historicamente, esses cinco princípios foram a base de todos os avivamentos genuínos no corpo de Cristo, porque a

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mensagem do evangelho é o núcleo de todo verdadeiro avivamento no corpo de Cristo, como foi na Reforma.

Os reformadores viram que o problema radical da humanidade é uma culpa legal diante de um Deus Santo que é, antes de mais nada, uma situação legal ou forense mais que uma simples contaminação moral, consequëncia da culpa legal. Biblicamente, os reformadores viram que a expiação encara antes de mais nada a culpa legal da humanidade frente a um Deus Santo mais bem que a simples melhora da condição moral do homem. Ainda que uma melhor condição moral segue a declaração legal de retidão diante do Santo Deus, a melhora da condição moral do homem segue como um fruto, e também é parte da mensagem Divina. O verdadeiro avivamento vem quando o indivíduo salvo confia de forma plena e somente no cumprimento da Lei por Cristo Jesus; logo, unido a ele, se arrepende de seu pecado. Dessa maneira a graça de Deus pode fluir abundantemente e só ele recebe a glória.

Os reformadores dos séculos 16, 17 e 18 compreenderam unânimemente estes cinco princípios como básicos a verdadeira reforma, ou avivamento, no corpo de Cristo. Aplicaram estes princípios a sede de Roma. Em consequência as pessoas puderam ver claramente o sistema falso pelo qual estavam escravizados. Como resultado, abandonaram aos montes. Estes princípios são a medida da verdadeira doutrina e por fim, a medida do verdadeiro avivamento, que é um avivamento dos enganos de Satanás e da insensates de Gálatas capítulo três.

Salvação pela graça somente (Sola Gratia)

Na Bíblia, a justificação é o presente de Deus ao crente, há quem acredita na base a obra acabada de Cristo na cruz.[7] Simplesmente, a justificação é a falha justa de Deus do crente, pelo que o declara sem culpa em relação ao pecado, e reto enquanto sua posição moral em Cristo frente ao Deus Santo. Este juízo de Deus é legalmente possível graças a morte substitutiva e a ressurreição de Cristo Jesus em lugar do crente. A justificação é primeiro e principalmente o juízo legal de Deus do crente.

Como declarou Cristo: “Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso. E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo”. [8] A justificação é a deficiência justa de Deus para demonstrar em palavras de Romanos 3:26 que Ele é: “…para ele mesmo ser justo, e o justificador daquele que tem fé em Cristo”. Este juízo justo de Deus é o centro da pregação apostólica das boas novas da Bíblia. É um juízo justo outorgado por Deus gratuitamente.

“Visto que ninguem será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos (e sobre todos) os que crêem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs em seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus”.

Claramente, de acordo com esta passagem, toda pessoa que está sob a lei foi destituida da glória de Deus e portanto tem um má conduta por causa de seus pecados pessoais. A boa nova

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afirmada no versículo 24 é que a justificação de uma pessoa diante de Deus se baseia na redenção de Cristo e é gratuita, já que não consiste em nada que a pessoa possa fazer por si mesma. Deus mesmo prova por graça a justificação do crente. “Pela graça” significa seu dom gratuito. A graça de Deus a experiência de Cristo. Este é o ponto das boas novas do Evangelho. O Evangelho tem que ver primeiro e principalmente com Quem é Deus em sua Santa e Justa natureza. O Evangelho mostra que a causa de Quem é Deus, somente Ele justifica ao crente. Romanos 3:26 afirma: “tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus”.

Sob a lei, que Deus o Pai declare justo a um pecador, implica que este tenha vivido uma vida perfeita sob a lei perfeita. Somente o Deus-Homem Cristo o podia fazer, e o fez. O cumpriu.

Nisso se mostrou o amor de Deus por meio de seu Filho, Jesus Cristo, em que este dom de justiça, que custou a vida de Cristo Jesus é uma obra completa e a obtemos gratuitamente. Porque a quem deve Deus algo? E quem pode alcançar Seu padrão sob a lei? Quem pode negociar com Deus ou com Jesus Cristo, com a ideia de oferecer algo em troca da declaração de justiça da parte de Deus? Fazer uma oferta tão natural e ridícula como essa seria intentar um suborno do mais alto grau. Uma e outra vez a Bíblia afirma, por isso, que Deus acredita gratuitamente, ou pela graça de Deus somente (Sola gratia), a justiça de Cristo ao crente.

Efésios 2:7-9 “Para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”.

Romanos 11:6 “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça”.

Efésios 2:5 “. . . pela graça sois salvos”.

Tito 2:11 “Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens”.

Tito 3:7 “a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna”.

1 Timóteo 1:14 “Transbordou, porém, a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus”.

Efésios 1:7 “no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça”.

A heresia pelagiana

Pelágio foi um monge britânico nascido nos meiados do século 4 (354-418). Tinha um grande zelo pela moralidade, a autodisciplina ascética e a auto-superação "cristã". Mas carecia da compreensão bíblica do princípio da sola graça. Acreditava que a natureza humana tinha capacidade de viver uma vida santa diante de Deus, isto é, que um homem pode ser justificado guardando a lei de Deus. Isto é impossível na realidade. Entretanto, a heresia pelagiana, contra a qual lutou Agustinho, entrou como um câncer na igreja Cristã.

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O conflito entre o Evangelho e essa heresia girava sobre o assunto da morte espiritual do homem e do dom absolutamente gratuito de Deus da justificação como a verdadeira solução a esse problema mortal. O conflito se reduz à pergunta: a redenção é obra de Deus ou do homem? Para Pelágio, o homem necessitava simplesmente melhorar, enquanto que biblicamente, o homem é declarado “morto em [seus] delitos e pecados” (Efésios 2:1).

Esta heresia está estendida hoje nos cultos, o catolicismo romano e em algumas partes do mundo evangélico. Os reformadores do século 16 insistiram sobre a base dos claros textos bíblicos (onze vezes em Romanos capítulo quatro, por exemplo), o dom de Deus da justificação é pela graça somente e está acreditado legalmente ao indivíduo por Deus o Juiz. Isto foi o que fez em pedaços a posição pelagiana de Roma. O princípio bíblico de que a justificação é pela graça de Deus é o que destruirá o semipelagianismo de Roma na atualidade.[10]

O poder de Deus para salvação de que fala Paulo é o Evangelho em Romanos 1:16. Está claro no versículo 17 como a “justiça de Deus” que “se revela”.

A justiça de Deus acreditada ao crente a expensas de Cristo está verdadeiramente na raiz do significado da expressão “temor reverencial”. O crente se sente inundado uma e outra vez pelo temor reverencial, adoração e louvor ao Santo Deus que proveu a obra acabada e permanente de justificação do pecado. Esta justificação reside somente na justiça de Cristo (Solo Christo) e está acreditada irrevogavelmente ao crente que foi posto nEle por Deus mesmo. Esta justiça não pode ser minguada; tampouco aumentada. O crente é justificado por acreditação da "justiça perdurável"[11] de Cristo, e portanto é para sempre. Com o apóstolo Paulo, então, o crente pode proclamar valentemente “Agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, os que não andam conforme a carne, senão conforme o Espírito”.[12] O propósito primeiro e último de Deus se vê claramente neste livro.

Seguindo a “não condenação” está a liberação do pecado e o andar no caminho do Espírito Santo, não no da carne. Quando a pessoa convertida peca, sua ação causa um conflito que deve ser resolvida pela relação entre Deus o Pai e ela.[13] Não significa que tenha perdido sua posição de filho de Deus em Cristo, porque essa posição foi conferida irrevogavelmente por Deus Juiz. Mas, Deus o Pai trata com seus filhos precisamente porque são legalmente seus filhos. Esta é a razão pela qual as pessoas são verdadeiramente salvas, Deus castiga aos seus, porque estão realmente em Cristo. “Mas, se estais sem correção, de que todos se tem tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos.”.[14]

O ensinamento Católico Romano

Contrariamente a tudo isto, o ensinamento Católico Romano sobre a graça está em franca contradição com a natureza legal da graça de Deus. Isto se vê claramente pela flagrante mentira em seu sumário sobre a graça no Catecismo:

Nº 2021 “A graça é o auxílio que Deus nos dá para responder a nossa vocação de chegar a ser seus filhos adotivos. . . ”[15]

Nas Escrituras, a adoção não é algo que se tem como meta ou vocação. Mas é totalmente assunto de Deus: “Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória

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de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos a redenção,pelo seu sangue, a remissão dos pecados segundo a riqueza da sua graça”.[16]

A luz de Efésios capítulo um, a definição da graça que aparece no Nº 2021 é uma lamentável e consumada heresia. Em lugar de que o homem tenha a vocação, a adoção como filhos é algo que Deus mesmo predestinou. Em lugar de merecer a adoção por boas obras do homem, a adoção como filhos de Deus é por meio de Jesus Cristo, segundo a boa vontade de Deus. O propósito de Deus na adoção é “por sua vontade”, “para adoração da glória de sua graça”. Tentar definir a graça de Deus como simples "ajuda" a resposta do homem a sua “vocação de ser seus filhos adotivos” é apresentar uma visão totalmente distorcida e herética da graça de Deus. É a permanente mentira de Roma ensinar que a justiça inerente ou interior é a base da justificação em lugar do verdadeiro evangelho da obra acabada de Cristo Jesus. A bondade interior nunca foi e nunca será a base da justiça de ninguém diante do Santíssimo Deus. Mas, a base sobre a qual qualquer pessoa é justificada diante dele é e sempre será só a obra consumada de Cristo Jesus.

Se a definição de graça de Nº 2021 for correta, e com a ajuda de Deus um homem puder “responder a nossa vocação de chegar a ser seus filhos adotivos”, então o homem se justificaria a si mesmo. Mas Romanos 11:5-6 parte diretamente ao meio essa visão enganosa: “Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça. E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça”.

Se Deus estiver meramente ajudando a alguém a “responder” a sua vocação de ser filho de Deus, ningúem estaria em condições, porque a lei de Deus requer absoluta perfeição e somente uma Pessoa pôde cumpri-la.

O mérito

Sob o mesmo pensamento geral de “Graça e Justificação”, Roma ensina dois méritos da pessoa: Nº 2025 “Podemos ter méritos diante de Deus somente pelo livre plano de Deus de associar o homem com a obra de sua graça. O mérito se deve dedicar, em primeiro lugar, à graça de Deus, e em segundo lugar, à participação do homem. O mérito do homem se deve a Deus”.

Porém, como mostram constantemente os capítulos três e quatro de Romanos e muitas outras partes da Bíblia, Deus afirma específica e de maneira clara que a graça é obra sua e só é dada à pessoa como um dom gratuíto. A graça da salvação do homem e por parte de Deus diante de sua Lei Santa é a justiça de Cristo habilitada por Deus o Juíz ao crente. No lugar de "associar ao homem a obra de sua graça" o ensinamento bíblico correto é qu e a justiça de Cristo se habilita no crente. Este crédito é tão somente obra de Deus: “. . . mudaram a verdade de Deus em mentira”.

A mesma heresia pelagiana se ensina em Roma no novo Catecismo com o título de "Nossa Participação no Sacrifício de Cristo",

Nº 618 “A cruz é o único sacrifício de Cristo, ‘único mediador entre Deus e os homens’. “Mas, em sua Pessoa divina encarnada, ‘se tem unido em certo modo com todo homem’, Ele oferece a todos a possibilidade de que, na forma de Deus só conhecida, se associem a este mistério pascoal”. ‘Ele convida seus discípulos a "tomar sua cruz, e a segui-lo”, porque Ele sofreu por nós deixando-nos exemplo para que os seguíssemos .Ele quer, em efeito, associar a

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seu sacrifício redentor aqueles mesmos que são seus primeiros beneficiários. Isto o realiza em forma excelsa em sua Majestade, associada e forma mais íntimamente que ninguém ao mistério de seu sofrimento redentor”.

Este parágrafo é totalmente perverso a ponto de oferecer uma base falsa ao homem de falsas esperanças. Não há nenhuma base escritural para a ideia de “ser feitos companheiros de Cristo no mistério pascoal”. Tal conceito é uma mentira total e nega as repetidas afirmações da verdade de Deus nas Escrituras de que a obra de redenção é “por sí mesmo” [17], “sem as obras da lei” [18], “não vem de vós é dom de Deus; não de obras para que ninguém se glorie”.[19], “nos salvou. . . não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia [20]

O tal chamado “evangelho de obras”, que na realidade é outro evangelho, é justamente o que monjas e monjes católicos romanos realizam em seus monastérios (Romanos 11:6, Gálatas 2:21). Antes da Reforma, a justificação do homem podia ser obsevado em suas penitências, a flagelação, a confissão pública de pecados, as peregrinações e outras obras baseadas no conceito bíblico de nossa “participação no sacrifício de Cristo” da Igreja Católica Romana. De acordo com o ensinamento bíblico, a pessoa verdadeiramente salva efetivamente se purifica, mas está baseado somente na fidelidade de Cristo Jesus, e em ser chamados legalmente filhos de Deus. “Porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo em Deus. . . Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena” [21].

Salvação somente pela fé ( Sola fide )

A Bíblia ensina claramente que o crente é justificado mediante a fé, Romanos 5:1 “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”.

Gálatas 3:6, “É o caso de Abraão, que creu em Deus e isso lhe foi imputado para justiça ”.

Filipenses 3:9, “e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé”.

Os reformadores se prenderam a este princípio bíblico e ainda por cima se opuseram ao misticismo de Roma e as suas chamadas “escadas de ascenso” dos assim chamados santos que praticavam a “contemplação”, a confissão de pecados público e privado, a auto punição, os jejuns, e outras obras que supunham que conduziam, finalmente, a união com Deus. Isto significa que a obtenção da própria salvação está intimamente ligada com o que a Igreja Católica Romana chama de “tesouro dos santos”, tanto na época dos reformadores como atualmente. O novo Catecismo da Igreja Católica ensina este conceito não bíblico como segue:

Nº 1477 “Pertencem igualmente a este tesouro o preço verdadeiramente imenso, incomensurável e sempre novo que tem diante de Deus as orações e boas obras da Bem Aventurada Virgem Maria e de todos os santos que se santificaram pela graça de Cristo, seguindo seus passos, e realizaram uma obra agradável ao Pai, de maneira que, trabalhando em sua própria salvação, cooperaram igualmente para a salvação de seus irmãos na unidade do Corpo místico”.

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Um exemplo do pelagianismo se vê aqui na afirmação do Catecismo: “todos aqueles que. . . por Sua graça tem santificado suas vidas. . . ” A fórmula pelagiana é que graça + obras = salvação. Isto é completamente heresia, simples e falsa. Mas tudo bem a fé se define sistematicamente na Bíblia como fé em Cristo, como o resume Paulo em Atos 20:21, “. . . testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo”.

Fé na igreja romana

Entretanto a igreja Católica “os fiéis” (os que geralmente chamaríamos laicos) se lhes ensina automaticamente que devem depositar sua fé na Igreja Católica Romana. Na prática, Roma ensina “os fiéis” a depositar sua fé no clero. O novo Catecismo afirma:

Nº 983 “A catequese se esforçará por avivar e nutrir os fiéis a fé na grandeza incomparável do dom que Cristo ressuscitado deu à sua igreja: a missão e o poder de perdoar verdadeiramente os pecados, por meio do ministério dos apóstolos e seus sucessores”.

Roma cita São João Crisóstomo como autoridade nesta seção quando diz: "Os sacerdotes tem recebido de Deus um poder que não foi dado aos anjos e nem aos arcanjos. . . Deus lá do alto confirma o que os sacerdotes fazem aqui embaixo".

Aqui se ensina claramente que “os fiéis” devem olhar para seus sacerdotes e também ao poder a eles confiado. Não significa que apenas “os fiéis” devem depositar sua fé na Igreja Católica Romana e seus sacerdotes, e sim que todos estejam sujeitos em obediência em seguir seus “sagrados pastores”. O Código do Direito Canônico assim afirma Canon 212 “Os fiéis cristãos, conscientes de sua própria responsabilidade estão sujeitos por obediência cristã a obedecer o que seus sagrados pastores, como representantes de Cristo, declaram como maestros da fé ou determinan como guias da igreja [Católica Romana]”.[22]

Desejar fé e obediência aos “sagrados pastores” em assuntos tão importantes como o perdão de pecados e a justificação diante do Deus Santo é as pessoas tornarem à prática da idolatria, porque isso degrada totalmente ao Filho de Deus e a sua obra completamente suficiente na cruz. Um exemplo da arrogância que degrada a Cristo, está no novo Catecismo Nº 982:

“Não há nenhuma falta por mais grave que seja que a Igreja [Católica Romana] não possa perdoar”. Mais adiante na leitura do Catecismo aclara que, de acordo com Roma, o perdão diante do Santo Deus se dará àqueles a quem ela determina, cujo direito, afirma, ter sido dado por Cristo.[23]

Roma tem tentado usurpar a posição de Deus o Juíz, declarando quem será justificado diante dele, e como será justificado. Seu falso evangelho nega a doutrina bíblica da creditada justiça de Cristo ao crente tão somente por meio da consequência, substitui a verdade bíblica por todo seu sistema sacramental, incluindo as penitências e as indulgências. Ao fazê-lo produz “outro evangelho”.

A absoluta autoridade da Bíblia ( Sola Scriptura )

A Bíblia está cheia de afirmações que sustentam o fato singular de que a Palavra escrita de Deus é a base final da verdade para a humanidade. Se evidencia em muitas referências no

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Teología de la Reforma

Antigo Testamento como por exemplo, Isaías 8:20, “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva”.

Da mesma maneira no Novo Testamento é a Palavra escrita de Deus e só a ela a que se refere o Senhor Jesus Cristo e seus apóstolos como autoridade final. Por exemplo, em Mateus 4:4 Jesus repreendeu três vezes a Satanás dizendo “Escrito está”, “Jesus porém respondeu: está escrito. Não só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus”. Ao refutar os erros dos saduceus o Senhor disse: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus”.[24] A aceitação total do Senhor, da autoridade do Antigo Testamento, se vêem em suas palavras de Mateu 5:17 e 18: “Não penseis que vim revogar a lei e os profetas, não vim para revogar vim para cumprir. Porque em verdade vos digo até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra”. A noite antes que fosse crucificado Jesus orou a seu Pai com palavras muito claras, “Santifíca-os em tua verdade; tua palavra é a verdade”.[25]

Cristo Jesus também disse que “a Escritura não pode ser quebrada”.[26] A Bíblia testifica de sua própria verdade essencial, a saber, “A tua palavra é verdade, e eterno é todo juízo de tua justiça” [27], “ Tu és Deus, e tuas palavras são verdade".[28] A Palavra escrita de Deus é a “palavra da verdade”.[29] Deus diz a respeito de sua Palavra escrita, “Estas palavras são fiéis e verdadeiras”.[30] A Palavra escrita de Deus é infalível e inequívoca em todas as esferas, tanto terrenas como espirituais.[31] Negar a verdade e exatidão inerente da Bíblia é chamar a Deus de mentiroso.[32] “Levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo”.[33]

Os reformadores nos séculos 16 e 17 viram que Cristo, os apóstolos e as Escrituras declaravam que a Palavra escrita de Deus é a autoridade, não em lugar de Deus, mas como a Palavra mesma o declara, como expressão da mente de Deus.

Farisaísmo consumado

A Igreja Católica Romana declara oficialmente sua autoridade absoluta como segue:

Cânon 750: “Tudo o que está contido na palavra escrita de Deus ou na tradição, quer dizer no depósito único da fé confiado a Igreja [Católica Romana] e também proposto como divinamente revelado, seja pelo solene magistrado da igreja [Católica Romana] ou por seu magistrado ordinário e universal, deve ser crido com fé divina e católica...”. Roma sustém sistematicamente o fatal sincretismo de equiparar a tradição às Escrituras, uma prática condenada pelo Senhor Jesus Cristo. Ela ensina em seu novo Catecismo:

Nº 80 “A Tradição e a Sagrada Escritura ‘estão intimamente unidas e compenetradas. Porque surgindo ambas da mesma fonte, se fundem em certo modo e tendem a um mesmo fim’. Uma e outra fazem presente e fecundo na Igreja [Católica Romana] o mistério de Cristo que prometeu estar com os seus ‘para sempre até a consumação do século.”

Nº 81 “A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus, enquanto escrita por inspiração do Espírito Santo”.

Nº 82 “Daí resulta que a Igreja [Católica Romana], a qual está confiada a transmissão e a interpretação da Revelação, ‘não exclui exclusivamente da Escritura a certeza de tudo o revelado. E assim se tem de receber e respeitar com o mesmo espírito de devoção’.”

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O farisaísmo consumado da Igreja Católica Romana fica demonstrado aqui. Em total contraste com Roma, em questões de autoridade, o Senhor sempre se referiu a palavra escrita de Deus (por exemplo, “Escrito está”, ou melhor, “Nunca lestes nas Escrituras...?”). Da mesma maneira o apóstolo Paulo afirmou claramente que Cristo “morreu por nossos pecados, conforme as Escrituras”.[34] Entretanto, apesar do exemplo de Cristo, a Igreja Católica Romana intenta, como fizeram os fariseus no tempo de Jesus, igualar suas tradições à palavra de Deus, “invalidando a palavra de Deus com vossa tradição. . .”.[35] A palavra escrita de Deus como está na Bíblia é a autoridade absoluta do corpo de Cristo. “Santifíca-os na verdade, tua palavra é a verdade” (João 17:17).

Salvação somente em Cristo Jesus ( Solo Christo )

Biblicamente, a salvação do crente está em Cristo, como temos afirmado antes. Todas as bençãos do crente se baseiam em Cristo, nenhuma se baseia no crente mesmo.[36] Os Reformadores proclamaram largamente o ensinamento paulino da justificação por meio da justiça de Cristo Jesus, acreditava ao individuo pelo Santo Deus Juiz. É um ato judicial legal, objetivo, do soberano Santo Deus cuja destra se assenta Cristo Jesus. Como resultado do ensinamento bíblico pelos homens da Reforma, surgiu um abandono estendido do subjetivismo religioso por meio do qual a Igreja Católica Romana havia mantido a Europa Ocidental, Inglaterra e Escócia escravizadas durante séculos.

Roma transige com a necromancia (comunhão com os moros)

Nos termos bíblicos não há mais que um mediador: “Porque temos um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem”.[37] Entretanto, Roma se vale de outros mediadores como Maria e seus santos. A igreja de Roma volta às pessoas para os mortos, como a quem possam ajudá-los e interceder pelos vivos. A frase comunhão com os mortos é usada oficialmente por Roma, como se vê em seu novo Catecismo:

Nº 958 “A comunhão com os mortos. A igreja peregrina, perfeitamente consciente desta comunhão de todo o Corpo místico de Jesus Cristo, desde os primeiros tempos do cristianismo honrou com grande piedade a lembrança dos difuntos e também ofereceu por eles orações; ‘pois é uma ideia santa e proveitosa orar pelos difuntos para que se vejam livres de seus pecados’... Nossa oração por eles pode não somente ajudar, mas também fazer eficaz sua intercessão em nosso favor".

A convocatória dos mortos, isto é, a necromancia, está estritamente proibida na Bíblia. Em Deuteronômio 18:9-11 se chama abominação diante do Senhor.

O Cristo Divino, que é o Mediador de todo crente, tem “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento”.[38] Qualquer coisa afável, terna ou amável que tenha havido nos santos, estava ali a causa dele que tem tudo . O crente está completo naquele que como Cabeça ‘tem todos os principados e potestades’.[39] Assim como a justiça de Cristo satisfaz as exigências da lei de tal maneira que não há lugar para nenhum outro intercessor, como o afirma Hebreus 1:3, “. . . depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas”.

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O intento em justificar a necromancia

Para justificar a convocatoria aos santos mortos e invocar sua intercessão no céu em favor do fiel Roma cita versículos como Hebreus 1:3 e Mateus 25:21 como fez o novo Catecismo:

Nº 2683 “Os testemunhos que nos precedem no reino [Hebreus 12:1], especialmente os que a igreja [Católica Romana] reconhece como ‘santos’, participam na tradição viva da oração, pelo testemunho de suas vidas, através dos escritos e de orações. Contemplam a Deus, o glorificam e não deixam de cuidar daqueles que estão aqui na terra. Ao entrar ‘sobre o muito te colocarei, entra no gozo do teu Senhor' (Mateus 25:21). Sua intercessão é seu mais alto serviço ao plano de Deus. Podemos e devemos rogar-lhes que intercedam por nós e pelo mundo inteiro".

Assim o novo Catecismo, como as outras fontes católicas romanas oficiais, contradiz abertamente a Palavra escrita de Deus. A Bíblia ensina a não trabalhar, e sim a descansar com relação àqueles que morreram no Senhor. Por exemplo Apocalipse 14:13, “Bem aventurados os mortos que desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham”. O tempo entre ir ao Senhor em espírito na morte e a resurreição geralmente nunca está posto como um tempo de atividade para aqueles que morreram no Senhor, segundo confirmam diversas Escrituras.[40] Em oposição a isto, em corpo e alma todo o povo de Deus reinará com Ele na nova Jerusalém (Apocalipse 22:5).

Uma Maria que não pertence a Bíblia

Maria é a fonte da santidade segundo o novo Catecismo da Igreja Católica. Neste sentido, a importância do princípio de Só Cristo para a verdadeira reforma e o avivamento não pode ser subestimada, especialmente em relação ao que o novo Catecismo afirma:

Nº 2030 “Da Igreja [o católico batizado] recebe a graça dos sacramentos que lhe sustentam no caminho. Da Igreja [Católica Romana] aprende o exemplo de santidade; reconhece na Bem aventurada Virgem Maria a figura e a fonte dessa santidade...”.

Como afirma melhor a Bíblia, a justificação do crente é só em Cristo[41] que está à direita de Deus.

Mais ainda que apenas Deus seja o modelo e a fonte de santidade. Invocar a Maria e aos santos é do início ao fim idolatria, e as bençãos que são solicitadas só Deus pode outorgá-las. Os atributos divinos de onisciência e onipresença, que pertencem só a Deus, supõe-se que pertence aos chamados intercessores. Sim o princípio de Só Cristo uma pessoa pode permanecer firme no politeísmo ou de ficar presa no politeísmo do sistema romano de Maria e os santos. Em consequência, deve-se sustentar, embasado no firme terreno escritural “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos 4:12).

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A Deus somente seja a glória ( Soli Deo gloria )

O quinto princípio do avivamento bíblico segue de forma lógica aos quatro primeiros Sendo a justificação somente pela graça por meio do dom da fé de Deus e somente em Cristo sob a autoridade escrita de Sua Palavra, a Deus somente seja a glória! Este princípio, a Deus somente seja a glória, é a maravilhosa resposta ao crente. O crente foi predestinado por Deus para a “adoração da glória de sua graça, com a qual nos fez aceitos no Amado”.[42]

Soli Deo gloria, resume o segundo mandamento

O segundo mandamento dado por Deus se resume nas palavras “a Deus somente seja a glória”. Entretanto, a fabricação e o uso de imagens na Igreja Católica Romana e em outras

igrejas se tolera a causa da falta de compreensão destos cinco princípios de avivamento bíblico.

Na história da igreja cristã este princípio se tornou sério. Havia poucas imagens na igreja antes do século VI. O debate central, por chamá-lo assim, é a “controvérsia iconoclasta” do sécuo 8 que resultou no Segundo Concílio de Nicéia, com a aprovação de figuras que se baseiam e honram nas igrejas (787 d.C.). O Concílio Católico Romano de Trento (1564) confirmou isto e avançou na aprovação de imagens. Tudo isto se reafirma novamente no Catecismo da Igreja Católica (1994). A maioria dos líderes da Reforma se permaneceram firmemente no princípio de proibir o uso de imagens. Entetanto, Lutero flutuava e permitiu em certas circunstâncias o uso de imagens.

O que está proibido no segundo mandamento é fazer imagens a semelhança de Deus. Moisés recorda aos filhos de Israel em Deuteronômio 4:12, “Então, o Senhor vos falou do meio do fogo; a voz das palabras ouvistes; porém, além da voz, não vistes aparência nenhuma”. É o intento de fazer qualquer semelhança ou similar do divino o que está proibido no segundo mandamento.

O Catecismo ensina idolatria

Racionalizar como fazem os católicos romanos em seu novo Catecismo, que a encarnação de Cristo trouxe uma “nova economia de imagens”[43] ou que agora está permitido ter figuras, ícones ou imagens de Cristo, é elevar a racionalização humana a um plano superior a Palavra escrita de Deus. A razão que se dá é que “a honra prestada às imagens passa ao representado”.[44] Tal terminologia é absurdamente humanística em seu entendimento obscurecido, porque o que se supõe aqui é que tudo o que existe é o mesmo como na filosofia de Platão. O ponto mesmo da Bíblia é que o ser do Santo Deus é totalmente diferente do de suas criaturas; em consequência, não deve fabricar nem usar nenhuma semelhança. Êxodo 20:23 afirma “Não fareis deuses de prata ao lado de mim, nem deuses de ouro fareis para vós outros”. Em Êxodo 20:5 Deus chama aqueles que quebram este mandamento “os que me aborrecem”, e a quem o guardam, “os que me amam” (versículo 6). O castigo pela iniquidade se promete aqueles que quebram os mandamentos, enquanto que se promete bençãos a quem os guardam (ver mapas do mundo nas diferentes etapas da história para ver como isto se cumpriu).

Paulo foi movido a uma ira justa contra o uso de imagens.[45] Muitos dos grandes homens do avivamento na Bíblia—Moisés, Elias, Josias, Ezequias—foram destruidores de imagens. Isaías[46] e Elias[47] zombaram das imagens e de quem fez uso delas. Na Palavra escrita Deus

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mandava constantemente aos judeus a destruir as imagens de barro. É o mandamento final do Senhor em 1 João 5:21: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos”.

A apelação dos testemunhos

Os testemunhos deste livro (1) foram sinceras apelações a vocês os católicos a ver e estar de acordo com os princípios bíblicos de Deus. Expresso de muitas diferentes maneiras, estes homens fizeram o mesmo toque de clarim da verdade bíblica na mensagem que proclama a vida eterna.

A mensagem central da Bíblia é reconhecer que por natureza toda pessoa tem um mal comportamento e um mal coração, como mostra as seguintes passagens: “Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3:23); “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?””(Jeremias 17:9).

Só Jesus Cristo pagou o resgate pelo pecado de seu povo “. . . depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas” (Hebreus 1:3).

Não somente o Senhor Jesus Cristo pagou plenamente o preço requerido por seu Pai pela totalidade do pecado de uma pessoa, mas também se uniu a Ele por Deus, o Juiz, a justiça de Cristo é aceita pela pessoa, como explica tão claramente 1 Coríntios 5:21, “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fossemos feitos justiça de Deus”.

A salvação vem pela somente fé em Cristo “O Pai ama ao Filho, e todas as coisas tem confiado às suas mãos. Por isso quem crê no Filho tem a vida eterna; o que todavía se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (João 3:35,36).

As Escrituras mostram que por natureza toda pessoa tem um mal comportamento e um mal coração. Diante de Deus cada um está morto em seu pecado. Por si mesmo ninguém pode fazer nada para ganhar a salvação. Está claro, de acordo com as Escrituras, que Cristo substituiu cada uma de suas ovelhas na cruz de uma vez e para sempre: “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados. . .” (1 Pedro 2:24). Sua graça é suficiente para mudar seu coração para que possa confiar nele. Ele colocará logo em vocês a vontade de arrependimento. Nascerá de novo nele. “O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do espírito é espírito” (João 3:6).

Foi com total sinceridade e devoção que estes homens (norte-americanos, canadenses, irlandeses, franceses, ingleses, espanhóis e italianos) viveram o catolicismo. Pela graça de Deus buscaram conhecê-lo em espírito e em verdade. O profundo desejo de nosso coração é que através de tudo isso, vocês escutem sua voz, a voz do Bom Pastor que deu sua vida por suas ovelhas.

Aquilo de vocês no sacerdócio católico, ou como irmãs religiosas com votos, que afirmam ser salvos pela graça somente e que afirmam depender somente da justiça de Cristo Jesus, devem compreender agora por que milhares deixaram os monastérios e os conventos no tempo da Reforma. Conheceram o Cânon 702 tão bem como eu, “Aqueles que tem deixado legitimamente uma instituição religiosa ou tem sido rechaçados legitimamente não podem solicitar nada dela por qualquer trabalho que tenham realizado na mesma. . . "”

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De dentro do sistema parece impossível enfrentar o futuro. Este é o ponto em que estes testemunhos da fidelidade do Senhor são preciosos. Nosso Pai cuida de cada um. Nos chama pelo nome e provê para nós. Ele, o poderoso Deus, nosso Pai, nos diz “Por isso, retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor; não toqueis em coisas impuras.; e eu vos receberei, serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo Poderoso” (2 Corintios 6:17,18). “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Marcos 1:15).

[7]. Romanos 4:5-8; 2 Coríntios 5:19-21; Romanos 3:21-28; Tito 3:5-7; Efésios 1:7; Jeremias 23:6; 1 Coríntios 1.30-31; Romanos 5:17.19

[8] João 12:31-32

[9] Romanos 3:20-26

[10] O semipelagianismo dá certo crédito a Deus enquanto iniciar e apoiar os esforços do homem por obter sua própria salvação. Ao negar a graça soberana de Deus, entretanto, é um pelagianismo corrupto e florescente. Somos bem conscientes do fato histórico de que certos concílios condenaram o pelagianismo e o semipelagianismo. Como Roma nunca se retratou de sua aprovação destes concílios, hoje pode afirmar oficialmente que também ela condena inclusive o semipelagianismo. Mas estas afirmações oficiais não significam nada, porque em oposição a condenação do semipelagianismo, outras duas doutrinas e práticas oficiais de Roma mostram concluentemente que ela vive um semipelagianismo, como o demonstra a seguinte seção

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[11] Daniel 9:24

[12] Romanos 8:1

[13] 1 João 1:8-10

[14] Hebreus 12:8

[15] Catecismo da Igreja Católica (Publicações Ligorio, 1994). (O negrito nas citações indica ênfase agregado por este autor). As citações nas páginas seguintes sobre os ensinamentos católicos romanas oficiais são do mesmo catecismo, com a exceção das citações do Código do Direito Canônico.

[16] Efésios 1:4-7

[17] Hebreus1:3

[18] Romanos 3:28

[19] Efésios 2:9

[20] Tito 3:5

[21] Colossenses 3:3,5

[22] O Código do Direito Canônico, Edição Latim-Inglês (Canon Law Society of América, Washington, DC 20064) 1983. Todos os cânon estão tomados deste volume.

[23] Ver Nº 976-987, Nº 1434-1498 que inclui penitências e indulgências.

[24] Mateus 22:29

[25] João 17:17

[26] João 10:35

[27] Salmo 119:160

[28] 2 Samuel 7:28

[29] Salmo 119:43; 2 Corintios 6:7

[30] Apocalipse 21:5

[31] João 3:12

[32] 1 João5:12

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[33] 2 Coríntios 10:5; Provérbios 3:5

[34] 1 Coríntios 15:3

[35] Marcos 7:13

[36] Efésios capítulo 1

[37] 1 Timóteo 2:5

[38] Colossenses 2:3-10

[39] Colossenses 2:10

[40] Mateus 7:22-23, 10:32-33, 25:34-46; 2 Coríntios 5:9-10; Gálatas 6:7-8; 2 Tessalonicenses 1:8-10. Hebreus 9:27

[41] Colossenses 2:6-3:3; Efésios 13-9 e outras partes

[42] Efésios 1:6

[43] Nº 2131

[44] Nº 2132

[45] Atos 17:16

[46] Isaías capítulos 40,42,46,48

[47] 1 Reis 18:27

LIÇÃO I.

SOMENTE A GRAÇA (Sola Gratia)

Salvos Pela GraçaPor Prof. Robert D. Decker

Professor de Teologia nas Igrejas Protestantes ReformadasTradução do inglês por Paula Meagher

para a Primeira Igreja Protestante Reformada na Holland, Michigan, USA

 Você é salvo? Essa é a pergunta crucial na vida. Qual é a sua resposta? Que vivemos em tempos terríveis é bem sabido. Estamos vivendo em dias que o mundo nunca viu. Esta é uma época quando os mesmos fundamentos estão sendo sacudidos. Um tempo em que abunda a falta de lei, o qual se revela a mesma em uma rebelião terrível e em derramamento de sangue. Nossas cidades são inseguras. Não há estima pela lei nem a ordem. A estrutura inteira de nossa

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civilização moderna e ilustrada está a beira de um colapso total. E em todas partes os homens estão desesperadamente buscando respostas. O problema é que os homens buscam nos caminhos errados e na fonte incorreta. O homem se nega a contar com o fato de que a raíz do terrível problema do mundo é o pecado. Pecado é contra o Deus vivo do céu e da terra, e Ele não excusará nem ignorará o pecado, mas Ele é quem executa sua vingança e sua Santa ira contra os que fazem iniquidade. Rechaçando contar com Deus, o homem busca em si mesmo o consolo, paz e esperança em um mundo problemático. Ele nunca encontrará estas coisas. Seu fim será um desespero completo no inferno.  A Bíblia tem a resposta e essa resposta é a Salvação do pecado e da morte em Jesus Cristo pela graça de Deus! Aqueles que estão salvos pela graça através de sua fé como um dom de Deus, não estão turbados pelos terríveis eventos do dia. Eles vêem estas coisas e se alegram. Se alegram porque sabem que através destes eventos, Jesus está vindo rapidamente outra vez para efetuar a salvação que Ele comprou para eles na glória dos novos céu e terra. E estes são os que tem consolo, paz e esperança. Basicamente, este é a mensagem deste pequeno panfleto que queremos expor para você. Está embasado em Efésios 2:8 e diz assim: "Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus". Devemos enfatizar que a pequena palavra "Pela" no começo do texto significa "Porque" indicando que este texto é a razão para algo, é uma explicação do que o apóstolo Paulo declarou no contexto que precede. Isto implica que a declaração deste texto não está solitário. Não é uma verdade isolada que alguém pode aceitar ou refutar sem nenhum efeito sobre o resto do conteúdo de sua fé. Porque pela graça sois salvos... a salvação é pela graça e pela graça somente. E é o fundamento indispensável, ou elemento sem o qual nenhuma outra coisa pode manter. Negar a verdade da salvação pela graça, significa a destruição do verdadeiro fundamento da Palavra de Deus. É por isso que esta declaração é a razão expressa no verso que diz: "Que nos tempos vindouros, Ele (isto é, Deus) mostrará as abundantes riquezas de sua graça em sua bondade para conosco em Cristo Jesus". Aprendemos dos versos precedentes, que estamos mortos em nossos pecados e transgressões, que nestes pecados nós caminhávamos seguindo o diabo, que nossa conversa da vida no passado consistia na satisfação de nossos desejos e cobiças pecaminosas. Então, éramos filhos da ira. Mas Deus que é rico em misericórdia e está cheio de amor por nós e ainda quando estávamos mortos no pecado, Ele fez que seu amor nos alcançara, aguçando nossas mentes, dando-nos a vida em Cristo Jesus, pela graça. E ele nos fez sentar em lugares celestiais em Cristo. O propósito de tudo isto é que Ele demonstrará as abundantes riquezas de sua graça. Em outras palavras, Deus nos salvou exatamente de maneira que, através dessa nossa salvação, as riquezas de Sua graça sejam expostas. E isto é possível simplesmente porque a salvação é pela graça! Aqui temos posto nosso dedo sobre o coração da mensagem do Evangelho. Uma mensagem muito bem recapitulada pelo apóstolo Paulo em Romanos 11:36, "Porque dele, e por Ele, e para Ele, são todas as coisas. A Ele seja a glória pelos séculos. Amém"... Voltando nossa atenção ao próximo texto nos damos conta do que diz 3 coisas acerca da salvação: A salvação é pela graça, é através da fé e é um presente de Deus. Consideremos brevemente cada um destes pensamentos.A salvação é pela graça. O que é a salvação? Uma ideia recentemente popular da salvação é que

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é um melhoramento social e moral. Jesus não é um Salvador no sentido de que Ele sofreu e morreu na cruz e portanto fez expiação e trouxe a reconciliação pelos pecados aos filhos de Deus. Se diz que Jesus, é nosso exemplo. Ele nos demonstrou com sua vida como viver em paz com todos os homens, como efetuar a irmandade e a humanidade debaixo da paternidade de Deus. Se os homens somente seguiram o exemplo de Jesus, haveria paz na terra, todos nossos problemas seriam removidos, o Reino de Deus estaria acomodado e todos os homens em toda parte poderiam desfrutar da boa vida. Você pensa que isso não significa nada, mas, o antigo Evangelho social está tão presente hoje em dia como sempre esteve. A igreja está urgida a ir ao mundo e fazer algo acerca das relações raciais, a contaminação, a super população, o controle da população e muitas outras coisas. A igreja não deve pregar uma salvação embasada no sangue do Cordeiro que tira os pecados do mundo. Esta NÃO é a salvação e pregando este tipo de salvação não é pregar o evangelho de Jesus Cristo, de acordo com as Escrituras que são infalíveis. Este tipo de pregação tampouco renderá os preciosos frutos de consolo, paz e esperança para as pessoas que creem em Deus.  A salvação no sentido Bíblico é um conceito muito rico. O termo usado em nosso texto literalmente significa: sanar, fazer bem. É usado algumas vezes em referência às curas que Jesus efetuou em várias pessoas. No sentido espiritual, a ideia é que estamos curados da mortal enfermidade do pecado e restaurados a uma sanidade espiritual. Também tem o significado de: resgate do perigo ou destruição. E neste sentido a ênfase está no fato de que Deus nos resgata da destruição do inferno, onde Sua ira santa e feroz arde eternamente.  A salvação portanto contém dois elementos essenciais: 1) É a libertação da miséria mais profunda e, 2) é uma elevação a uma glória superior. Isto é óbvio pelo mesmo contexto que encontramos nesta Palavra de Deus. Paulo começa o capítulo dizendo que fora da Graça de Deus estamos mortos em transgressões e pecados. O primeiro que Deus falou a nossos pais no paraíso foi executado: "o dia que comereis dele, certamente morrereis". Eles comeram do fruto proibido e portanto se rebelaram contra de Deus e imediatamente morreram e nós fomos mortos neles. Nós nascemos mortos em pecado. O único que fazemos sempre é pecar. Nós odiamos a Deus e a nosso vizinho. Vivemos e caminhamos de acordo com o curso que segue o mundo, de acordo com o príncipado e potestade do ar, o espírito que agora trabalha nos filhos da desobediência. Mortos em nossas transgressões e pecados temos nossas conversas com os desejos de nossa carne, nós levamos a cabo os desejos de nossa carne e de nossa mente e somos por natureza filhos da ira o mesmo que outros. Esta é nossa miséria! A morte Espiritual! E no que nos concerne não temos esperança! Não podemos salvar a nós mesmos, nem sequer podemos desejar salvar e menos fazer nada para conseguir nossa salvação. Assim como um corpo morto não pode levantar do caixão, tampouco nós podemos salvar. É dessa profunda miséria que somos libertos quando Deus nos salva! E somos elevados a uma glória superior! Em termos deste contexto, somos vivificados junto com Jesus Cristo. Nós que por natureza estamos espiritualmente mortos, somos feitos vivos em Cristo; esta é a salvação. Não somente isso, mas somos elevados a uma glória superior ao ser feitos vivos em Cristo, também somos elevados de nossa morte e podemos sentar juntos nos lugares celestiais em Cristo Jesus... Essa é a salvação. Como se efetua esta salvação? Pondo de maneira pessoal, como sou salvo? A Bíblia responde, "Pela graça!"

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 A graça tem vários significados na Bíblia. O principal deles significa "beleza". Algumas vezes é traduzido como "graças". Mas frequentemente se utiliza no sentido de um favor imerecido de Deus demonstrado a Seu povo em Cristo por cujo poder Ele os salva. Este é o significado óbvio em nosso texto. A graça é, não devemos deixar de mencionar primeiramente um atributo de Deus, uma característica de Sua Pessoa. Deus é o Deus de toda graça; Ele é o Deus benevolente. Deus é em si mesmo explêndido; explêndido em todas as suas adoráveis virtudes. Isso quer dizer que quando a Bíblia diz como neste texto, que a salvação é pela graça; é o mesmo que dizer que a salvação é do Senhor. Quão absolutamente necessário! De que outra maneira os pecadores mortos e perdidos poderiam ser salvos, senão fosse pelo Deus Todo Poderoso? A menos que Deus mesmo nos dê uma nova vida, permaneceremos mortos e para sempre escravos na prisão de nosso pecado.  Esta é a beleza e o consolo do Evangelho! Deus quis dar-nos vida pelo poder de Sua maravilhosa graça. Deus que é rico em misericórdia, por meio de Seu grande amor com que Ele nos amou determinou fazer-nos bonito com Sua própria beleza. Portanto, pela graça Ele nos escolheu em Cristo, antes da fundação do mundo para que fossemos santos e sem mancha diante dele. Pela graça Ele nos predestinou e adotou-nos como filhos seus por meio de Jesus Cristo. Tudo isto está de acordo, com o bem prazer da sua vontade. E o propósito desta afável eleição de Sua pessoa em Cristo é "o louvor da glória de sua graça", por cujo poder Ele nos tem aceito em seu Amado filho. Isso é o que as Escrituras testificam em Efésios 1:3-6: Pela graça sois salvos, escolhidos, ainda que antes da criação do mundo. Pela graça Deus enviou a seu único Fijo ao mundo para buscar e salvar aquele que estava perdido. Não havía outro caminho. Éramos pecadores caídos e a justiça de Deus tinha que ser satisfeita. E esta satisfação só podia ser feita através de seu Filho, Deus verdadeiro e homem, como o substituto da expiação. Pela graça, Deus deu a Seu Filho uma morte de cruz. Pela graça Ele derramou toda Sua santa ira sobre Ele, de maneira que Ele desceu às profundezas do inferno e clamou dizendo: "Meu Deus, meu Deus, porque me desamparaste?". O sacrifício foi feito por nós através do derramamento de Seu sangue dando nos assim redenção, o perdão dos pecados. E novamente tudo isto é de acordo com as riquezas de Sua graça! (Ef. 1:7). Portanto, pela graça os filhos de Deus foram reconciliados através da morte do Filho de Deus. Eles agora estão diante de Deus, justos, livres para sempre da culpa do pecado e dignos de uma vida eterna. Isto é exatamente o que o texto diz: "Vocês SÃO salvos". A salvação para os santos de Deus está completa. Neste momento, eles estão e para sempre serão salvos. A justiça de Deus está concretizada para sempre. Tudo pela graça! Agora, você se pergunta: mas com uma salvação merecida na Cruz por Cristo pode ser minha? Muitos pregadores lhe dirão que você deve crer no Senhor Jesus Cristo. Isso por suposto é uma verdade. Certamente, a Bíblia deixa claro que não pode haver salvação fora da fé em Jesus Cristo. Mas, o que muitos querem dizer com isso de que você deve crer, é que você deve aceitar a oferta sincera do evangelho. Deus ama a todos os homens, dizem eles. Pela graça Ele proveu salvação para todos os homens através de Seu Filho na Cruz. Agora, essa salvação está em volta em um bonito pacote e Deus diz que tudo o que você precisa fazer é aceitar esse presente e

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assim será salvo. A salvação então, não é inteiramente de graça, sim é em parte pela graça e em, parte por obras dos homens que devem aceitá-la. E muitos pregadores exortaram carinhosamente (estou usando este termo a propósito é um engano), a seus ouvintes em suas fortes emoções "chamados do altar" a aceitar a Cristo e a oferta da salvação. Se esta for a resposta à pergunta "como recebo a salvação", então tenho pena de você! porque você perdeu todo o consolo do Evangelho. Se tiver que aceitar a oferta, se tiver que fazer qualquer coisa para minha salvação, estou perdido para sempre. Isso digo por experiência. Minha experiência me diz a cada dia que sou um pecador morto em transgresões e pecados digno de ser condenado. Graças a Deus pela mensagem do evangelho consolador, que nos dá paz, esperança e alentador que nos responde: "através da fé é isto não vem de vós é dom de Deus"! 

A salvação é recebida pelo pecador, não como deveríamos dizer: dada ao pecador através da fé. ATRAVÉS DA FÉ entenda! A fé é o meio pelo qual Deus nos dá a

salvação. Não é uma condição para a salvação que devemos satisfazer. Não é um ato que devemos desempenhar e sobre as bases pelas quais Deus nos salvará. A fé é um laço vivo entre as pessoas de Deus e Cristo. É a conexão entre nós e Cristo através do qual Deus nos dá todas as bençãos da salvação, as quais estão em Cristo para que fluam em nós.

Pela fé estamos unidos a Cristo e vivemos nele, exatamente como os ramos vivem na vide (Cf. João 15).

 Através da fé nós recebemos o conhecimento de Deus. Não é somente um conhecimento intelectual da mente, mas o conhecimento espiritual do coração que de acordo com João 17:3 é vida eterna. Por tal conhecimento é que conhecemos a Deus como nosso Deus, o Deus que nos ama nesta vida, Quem nos salvará um dia na glória do céu. Junto e arraigado nesse conhecimento da fé está a confiança da fé pela qual tenho a certeza de que tudo isto é verdadeiro. Através da fé tenho a convicção de que Jesus morreu por mim e que sou salvo pela graça! Através da fé posso dizer que não me pertenço mas que pertenço na vida e na morte ao meu fiel salvador, Jesus Cristo. A minha vida pertenca a Ele. ESTA vida do século vinte com todas suas frustrações, temores e ansiedades. E também pertenço a Jesus na morte. Quando a mão fria da morte me tomar, não estarei só. Jesus estará comigo na sombra do vale da morte para consolar e receber na casa de muitas moradas do Pai, onde Ele preparou um lugar para mim! Sim, amigo Cristão, você é salvo pela graça através da fé! E isso não vem de vós - é dom de Deus! Você não ganhou sua salvação nem sequer a queria. Não é devido a suas obras, nem sequer ao trabalho da fé. É o presente de Deus. A salvação pela graça é o presente de Deus! É um presente gratuito, não merecido, do Deus Todo-poderoso. VOCÊ está salvo pela graça através da fé? A palavra não está simplesmente apresentando alguma doutrina objetiva. Não diz que a salvação é pela graça, através da fé; e é dom de Deus. Escute, pela graça VOCÊ é salvo... Deus te disse isto? Foi escolhido em Cristo, reconciliado a Deus pela Sua morte, unido a Ele pela fé? Deixe-me perguntar isto: "Você é um pecador?" Se você reconhece a si mesmo como uma vasilha vazia, morto em pecados e transgressões? Esse é o fruto do Espírito de Cristo em você. Não se desespere, não tema; mas alegre-se e fique contente! Vá à cruz de Jesus e veja aí o sangue, dAquele que morreu por você. Vá a tumba vazia de Jesus e veja que Ele ressuscitou vitorioso sobre a morte. Olhe para o céu e espere seu Salvador, porque Ele vem pronto e sua recompensa está com Ele. Você tem consolo, paz e esperança. O consolo da salvação pela

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graça, a paz do perdão pela graça e a esperança da vida eterna pela graça. Sabia disto? Então posso dizer com o apóstolo Paulo: "Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo" (Gl. 6:14). Não há cabimento para jactar-se. A salvação é só pela graça. Mas isto também significa que qualquer terreno para tal desespero tem sido removido. O Deus eterno e fiel nunca falhará! Glória seja a Ele, de quem, por quem e para quem são todas as coisas! Esta não é minha palavra, é o bendito Evangelho de JesusCristo.

“A Eleição Divina”Por Alexander León J.

Apartado 11579-1000 San José, Costa [email protected]

Ó profundidade das riquezas tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem pois, conheceu a mente do Senhor ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a Ele para que lhe venha a ser restituido? Porque dele, por meio dele, e para Ele são todas as coisas. E a Ele,

pois, a glória eternamente. Amém!.  (Epístola de Paulo aos Romanos 11: 33-36) Para começar assumimos a aceitação da Bíblia como a Palavra infalível de Deus e afirmamos portanto sua superioridade com respeito aos pensamentos humanos.

 Antes de começar este estudo bíblico, é necessário fazer algumas observações:  Não refutamos nenhuma doutrina bíblica simplesmente porque não a tenhamos

compreendido bem. Somos seres finitos que estamos limitados pelo tempo e espaço, mas ainda assim, somos chamados a conhecer o Deus infinito o Todo-poderoso que revela seu amor em Jesus Cristo conforme as Escrituras.

Estudemos o tema com calma e pedindo a sabedoria necessária para que Deus nos ilumine com seu Santo Espírito. (Seria bom neste momento orar)

A importância da compreensão desta doutrina cria umas consequências de uma correta atitude do homem para Deus. O homem deve ser humilde e agradecido pelo dom da Salvação em vez de pensar que ele mesmo é o autor de sua fé e portanto de sua salvação.

Veremos que a compreensão adequada desta doutrina deve produzir cristãos mais agradecidos e dispostos a servir ao Senhor de coração levando seu evangelho a toda criatura.

A Bíblia nos revela que pelo delito de Adão, ele e sua descendência entraram em um estado de inimizade com Deus que acarretou a condenação a todos os homens. (“... por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação” Romanos 5:18), e segundo afirma Paulo, a humanidade inteira caiu em um estado de inimizade com Deus que só se supera por meio de Jesus Cristo: “Porque, se nós, quando inimigos fomos reconciliados com Deus mediante a morte de seu Filho, muito mais estando já reconciliados seremos salvos pela sua vida;” Romanos 5:10.A história bíblica nos mostra que desde a queda de Adão, todos os homens com poucas exceções, seguiram seu próprio caminho, separados de Deus. Porque como consequência do pecado isto é o que o ser humano faz por natureza, viver separado de Deus e Deus mesmo o

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confirma: “Viu o Senhor que a maldade do homem se havia se multiplicado na terra e que era continuamente mal todo designio do seu coração;” Gênesis 6:5Entretanto, Deus quis chamar um homem chamado Abraão com a qual ratifica um pacto perpétuo. Deus prometeu que da descendência deste homem formaria um povo a qual Deus tomaria como seu. Este povo separado inicialmente foi Israel, as demais nações foram deixadas em seus próprios caminhos para receber a justa retribuição de seus atos. Logo Deus mostrou sua misericórdia quando por meio de Jesus Cristo se propôs cumprir a promessa feita a Abraão de abençoar todas as nações. De maneira que os escolhidos de Deus não são os descendentes de Abraão segundo a carne, mas todos os que pela fé em Cristo tem alcançado a promessa.: “... porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espirito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens mas de Deus. Romanos 2:29 Como vemos isto não provém dos homens, não é algo herdado, mas que vem diretamente de Deus.Isto nos mostra que a Eleição dos Santos é a manifestação da misericórdia de Deus, por meio da qual, Ele determinou resgatar uma multidão de pessoas de todas as tribos, nações e línguas para que fossem seu povo e Ele seu Deus. Esta promesa se ouve em toda a Bíblia desde o primeiro livro Gênesis 17:7 quando Deus disse a Abraão, nosso pai: “Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendencia no decurso de suas gerações aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendencia.” até o último livro Apocalipse 21:3 : “Então, ouvi grande voz vindo do trono, dizendo eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles.”Um dos grandes problemas que as pessoas encontram na doutrina da Eleição é que a analizam do ponto de vista dos que não creem no evangelho, isto é, dos que vão para perdição. Aqui há um grande perigo de engano, pois o homem em vez de agradecer humildemente o convite que se faz ao arrependimento e a receber a Graça de Deus, se rebela contra o Soberano Deus e pretende questionar com respeito a seus desígnios e até reclamar duvidando se os que não recebem o evangelho merecem a condenação por seu pecado ou se Deus os envia para ela.Neste ponto tem que se voltar ao princípio da doutrina do pecado. Não há injustiça alguma em Deus. O que todos os homens merecem é a justa condenação do inferno. Primeiro, porque Adão (representante do primeiro pacto de Deus com o homem) falhou e portanto acarretou condenação a todos; e também porque está claramente exposto na Bíblia que “todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus”. Romanos 3:23. Adão não foi deixado do paraíso depois de desobedecer muitas vezes, mas que uma só foi sua desobediência! Isto nos deve ajudar a entender, a forma como Deus se aborrece do pecado, a tal ponto que um só pecado acarreta condenação! Compreendamos então de uma vez, que todos merecemos a condenação, mas que Deus mostrou sua misericórdia justificando aos que creem em Jesus.Quando um juiz perdoa um réu, que é digno da condenação NÃO é injusto com os demais réus, senão que isto deve ver como uma grandísima misericórdia mostrada para com o réu que tem sido absolvido. Os crentes sãos réus absolvidos.Esta é a forma de como os crentes devem analisar a eleição de Deus para Salvação. A Bíblia diz que Deus elegeu, sem fazer acepção de pessoas, os salvos clamam no Apocalipse: “porque foste morto, e com teu sangue compraste para Deus todas tribo povo, língua e nação” Apocalipse 5:9Os que creem que a salvação é por pura Graça de Deus e não por obras devem entender que Deus elegeu os santos, não porque em sua onisciência ou sua presciência tenha visto algo bom nos que tinham de ser crentes, mas por sua imensa misericórdia e sua soberana vontade.

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Não há uma razão compreensível para que os que tem crido no evangelho tenham sido beneficiados com este dom... e ao reconhecer isto com humildade, NÃO PRODUZ ISTO EM NÓS O MAIOR AGRADECIMENTO A NOSSO PAI E A MAIS PROFUNDA DEVOÇÃO PARA SEGUIR A CRISTO E PROCLAMAR SEU EVANGELHO?O exemplo que Paulo dá na eleição de Jacó e a reprovação de Esaú é muito claro ainda que pior do que alguns possam aceitar: “E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse não por obras mas por aquele que chama;” Romanos 9:11Nem sequer podemos dizer que Deus previu a fé que teriam os escolhidos porque isto seria como dizer que Deus nos escolheu porque sabia que nós íamos escolhe-lo. Mas o que o apóstolo João diz é que “nós amamos porque Ele nos amou primeiro” I João 4:19 e em outra parte disse Jesus: “Não foste vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” João 15:16 . Assim podemos então dizer com toda liberdade e sem temor a contradição alguma que: somos salvos pela graça, por meio da fé e isto não vem de vós, mas que foi um dom que Deus nos concedeu, e que este dom não nos foi concedido por causa de alguma coisa que tenhamos feito nem antes nem depois, mas pela misericórdia e para a glória de Deus.Havendo entendido que o homem por si mesmo nunca buscaria a Deus, já que sua inclinação natural é para o mal e que é inimigo de Deus por herança e por decisão, então vemos que o milagre ocorrido em nosso coração para que pudéssemos vir a Deus em arrependimento e Fé em Jesus Cristo, é o cumprimento do beneplácito e misericórdia de Deus.Devemos reconhecer que isto é um mistério, como o chama Paulo, já que é um fato que o homem deve ter fé e arrepender-se para ser salvo; e ninguém poderá ser salvo se não vir a Jesus Cristo. O homem deve vir a Cristo e nenhum crente pode dizer que Deus o obrigou, ele não nos obriga a nada, mas somos chamados amorosamente. Mas ainda assim, devemos reconhecer que o que ocorreu é que Deus fez um milagre em nosso coração para que pudéssemos vir a Ele em arrependimento posto que o mesmo fato do arrependimento é algo que Deus nos concedido. E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: logo, também aos gentíos foi por Deus concedido o arrependimento para vida Atos 11:18A este mistério chamamos a “regeneração”. Ainda que algumas vezes esta palavra se interprete errôneamente, crendo que regeneração é quando alguém “se reforma”, Regeneração é o milagre no qual Deus dá vida aos mortos. Éramos mortos espiritualmente e portanto, cegos e surdos, mas Ele nos deu vida primeiramente e então nossos sentidos espirituais são habilitados para “ouvir” a Palavra de Deus e vir a Cristo e ser salvos.Se analizamos determinadamente esta situação, veremos que há muitos outros aos que se tem pregado o evangelho, mas que seu coração não se abriu para Cristo. Será porque nós somos melhores que eles? Será porque nós somos mais sinceros? Ou será porque Deus em sua Soberania incompreensível quis mostrar sua misericórdia a nós?  Paulo diz:Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto a judeus como gregos estão debaixo do pecado. Romanos 3:9E Jesus Cristo disse:Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. (João 6:44)

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E logo Jesus diz aos incrédulos: “Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas.” (João 10:26).Não nos envergonhemos de nos chamar os eleitos de Deus , nem tampouco nos sintamos soberbos já que fomos eleitos pela graça e não por obras . Alguns reprovam esta forma de entender a Eleição Divina porque pensam que: Ou cremos na Soberania de Deus Ou cremos na Responsabilidade do homem. O homem natural pensa que se a Salvação é por eleição, então os homens não são responsáveis, mas isto é uma mentira. Ambas coisas são igualmente verdadeiras e ambas estão baseadas nas Escrituras, Deus é Soberano e às vezes o homem é responsável. Se não o podemos compreender plenamente, o problema está em nossa mente finita e incapaz de assimilar os mistérios de Deus, mas não é porque seja uma contradição.

Isto ocorre também se observarmos na passagem quando Pedro falando de Cristo disse:

Sendo este entregue pelo determinado designio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos; Atos 2:23

Segundo isto, Cristo foi entregue nas mãos dos homens para ser morto porque Deus Pai assim já havia determinado, mas então alguém dirá: que culpa tem os que mataram a Jesus, se isto já estava determinado? Falar assim é não ter sabedoria. Deus em sua onipotência e soberania tem o controle de todas as coisas e ainda assim jamais é culpado do pecado de forma alguma. Se é difícil entender isso, é necessário que reconheçamos nossa incapacidade como seres humanos de compreender os infinitos designios de Deus. Esta deveria ser uma causa a mais para postrar-nos aos pés do Deus Eterno, e reconhecer quão pequenos somos.

Enquanto a pregação do Evangelho, o que temos recebido a graça de Deus temos o mandamento de anunciar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz. E assim o faremos, sabendo que a obra não é nossa mas, de Deus, e que Ele concedeu este privilégio à Sua igreja, de que sejamos colaboradores de Deus no chamamento dos pecadores. Por esta razão pregamos a toda criatura, porque temos a segurança de que quando a semente cair em boa terra, é porque Deus abriu o coração do pecador para a Verdade.Os evangelistas que haviam compreendido esta linda verdade, saberão que seus esforços na pregação do evangelho não são em vão, haja visto que o Espírito Santo é o que abre os corações e então já não depende da experiência do homem. Vejamos o que diz a Escritura:

Certa mulher chamada Lidia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender as coisas que Paulo dizia.

Atos 16:14Os Gentios, ouvindo isto, regozijavam –se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna.Atos 13:48Precisamente um dos problemas no qual caiu o evangelismo, é que os homens tem deixado de crer que a obra é de Deus e por isso não pregam o Evangelho em sua sinceridade, mas tem inventado métodos e novas formas para fazer com que o Evangelho pareça atrativo para o mundo. Também é por isto que as igrejas vão mudando a forma de seus cultos e passam a introduzir numerosas práticas inventadas por homens com o objetivo de chamar a atenção e de fazer do cristianismo algo mais agradável. Quando entendermos de uma vez que fomos recomendados a pregar somente a graça de Deus por meio do evangelho, e anunciar o amor de Deus que salva o mais vil pecador para que venha a Cristo arrependido, então entenderemos também que somente somos anunciadores, e que os que são de Cristo, definitivamente

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retornem a Ele, então gozaremos de grande benção e não sentiremos frustração nem angústia quando realizarmos a grande comissão.É um ato que todos os filhos de Deus devem ter a mesma compreensão com relação a este tema, mas, algo que é inaceitável é não ter uma posição a respeito, o qual é mencionado muitas vezes nas Escrituras, do qual, dou uma pequena mostra: Efésios 1: 4 “Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor;”Mateus 24:22 " Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo; mas, por causa DOS ESCOLHIDOS, tais dias serão abreviados"Mateus 24:24 "... para enganar, se possível, os próprios ESCOLHIDOS. " Mateus 24:31 ". . . os quais reunirão os SEUS ESCOLHIDOS, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade do céu”Marcos 13:27 E ele enviará os anjos, e reunirá os SEUS ESCOLHIDOS dos quatro ventos, da extremidade da terra até à extremidade do céu.Lucas 18:7 Não fará Deus justiça aos SEUS ESCOLHIDOS, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Romanos 8.28-33 “…Quem intentará acusação AOS ESCOLHIDOS DE DEUS?É Deus quem os justifica. " Romanos 9:11 " E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal, para que o propósito de Deus quanto À ELEIÇÃO, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama.Romanos 11:5, 7 "Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a ELEIÇÃO DA GRAÇA. Que diremos, pois? O que Israel busca, isso não conseguiu; mas A ELEIÇÃO o alcançou; e os mais foram endurecidos” Romanos 11:28 ". . . mas quanto porém, à ELEIÇÃO amados por causa dos patriarcas" Col. 3.12 " Revesti-vos, pois, como ESCOLHIDOS DE DEUS, santos e amados... " I Tes. 1:4 " Reconhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa ELEIÇÃO: " II Tes. 2:13 “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação." II Tim. 2:10 " Por esta razão, tudo suporto por causa DOS ESCOLHIDOS, para que também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com eterna glória. " Tito 1 ". . . para promover a fé que é dos ESCOLHIDOS DE DEUS. . . " II Pedro 1:10 ". . . procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e ELEIÇÃO”Apocalipse 17:14 “pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os chamado, eleitos e fieis que se acham com ele.”Que maravilha compreender esta bonita doutrina!

Os santos são escolhidos por Deus Por causa desta eleição podemos crer no Evangelho e ser salvos. A grande misericórdia de Deus que nos alcançou sem que merecessemos, portanto

vamos procurar viver servindo a Deus A pregação do Evangelho sempre resultará em resultados efetivos, ao entender que a

obra não é do homem e sim de Deus

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O apóstolo Paulo assegura: Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conforme a imagem de seu filho, a fim de ele seja o primôgenito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a esses também chamou; e aos que chamou a esses justificou; e aos que justificou, esses também glorificou. Romanos 8:29Você duvida que você é um escolhido de Deus?Há uma garantia maravillhosa no evangelho: Todo aquele que o Pai me dá esse virá a mim, e o que vem, de modo nenhum lançarei fora. João 6:37Você veio a Cristo para ser salvo? Se não, venha a Ele, e assim você se dará conta de que embora tenha parecido você quem buscou a Deus, entenderá em seu coração que foi realmente Cristo quem te escolheu, porque você é uma de suas ovelhas. Continua tendo duvidas com respeito do porque Deus nos escolheu?Se você se perguntou alguma vez que força oculta há por detrás do povo hebreu que tem passado por tantas tragédias na história? Pois a resposta é que eles se sentem especiais. Como você e eu se somos crentes nos devemos sentir privilegiados e especiais. Você sabia que tudo que Deus disse a Israel tem um profundo significado espiritual? Paulo disse que não são judeus os que são na carne senão no coração. Nós somos o Israel de Deus.Porque tu és povo santo ao Senhor, teu Deus; O Senhor, teu Deus, te escolheu, para que

lhe fosses seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra. Não vos teve o Senhor afeição nem vos escolheu porque fôsses mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos;:Mas porque o Senhor vos amava e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, e o Senhor vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão do poder de faraó rei do Egito. Deuteronomio 7: 6-8Porquanto amou teus pais, e escolheu a sua descendencia depois deles, e te tirou do Egito, ele mesmo presente e com a sua força; Deuteronômio 4:37Tão somente o Senhor se afeiçoou a teus pais para os amar; a vós outros, descendentes deles, escolheu de todos os povos como hoje se vê. Deuteronômio 10:15É uma grande Verdade e é maravilhosa! Deus nos escolheu para Salvação!Esta é a maior prova de que os que são de Cristo não se podem perder jamais!Deus escolheu a Abraão e seu pacto é perpétuo, os crentes são semente de Abraão pela fé em Jesus. O Israel carnal invalidou o pacto, mas, a promessa era para nós:“Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de vos fazer o bem, e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim.”. Jeremias 32:40Este versículo é muito claro mas podemos repetir parafraseando: Deus promete fazer com Seu Povo um Pacto Eterno, e como no homem não se pode confiar, Deus será o que se encarrega de cumprir, porque não permitirá que este pacto seja invalidado. O mesmo, por meio de Seu Espírito Santo, ele faz a obra no coração de seus filhos para que entendam Sua Lei e vivam de acordo com ela e por este amor derramado nos corações dos fiéis, eles, ainda que fracos e incapazes em si mesmos, não se apartarão de forma definitiva dele, mas são preservados pelo Seu poder para Salvação.Além do mais, Jesus Cristo afirma:E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário eu o ressuscitarei no último dia.De fato, a vontade de meu pai é que todo homem

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que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna;e eu o ressuscitarei no último dia. (João 6:39-40)E afirmamos com toda confiança que Jesus Cristo nunca quebraria a vontade do Pai. Nem um só dos eleitos se perderá jamais.Não falta quem em sua soberba afirme que se isto fosse certo, então haveria quem, ainda que desejasse amar a Deus, não se salvaria por não ser eleito, mas este pensamento é completamente falso, porque se algum ser humano deseja sinceramente amar a Deus, isto pode sentir unicamente pela obra do Espírito Santo, já que do contrário nunca teria desejo verdadeiro de agradar a Deus. Todo aquele que tenha sede espiritual está chamado a beber da fonte da vida. No último capítulo da Bíblia diz: “O Espiríto e a noiva dizem: vem! Aquele que ouve diga: vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida.” Apocalipse 22:17E quando alguém vir a Cristo e seus pecados lavados por seu sangue, então pode sentir-se um daqueles aos quais o apóstolo Paulo diz:Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor porque DEUS VOS ESCOLHEU DESDE O PRINCIPIO PARA A SALVAÇÃO, pela santificação do Espiríto e fé na verdade.  2 Tessalonicenses 2:13PELO QUAL AFIRMEMOS COM O APÓSTOLO PAULO...Porque dele, e por meio dele, e para ele, são todas as coisas. A ele pois a glória eternamente. Amém.  (Romanos 11: 36)

Um Só Evangelho

Por Ward Fenley

Tem chegado a supor muitas coisas enquanto ao que chamam "o pequeno céu de Ward". Espero poder aclarar algumas coisas não só para os que tem confiado no Cristo verdadeiro, mas também para aqueles que são seus inimigos.

O cristianismo de muitos se põe a prova quando é confrontado com alguma das essenciais doutrinas como, por exemplo, a salvação pela graça. A maioria de nós cremos que a Divindade de Jesus, o Nascimento Virginal, a Resurreição de Cristo, etc., são doutrinas fundamentais. Entretanto, quando se trata da Salvação pela Graça apenas (sola gratia), muitos perdem suas convições sobre o que é fundamental.

Primeiro, devo esclarecer o que significa a palavra "fundamental". Por fundamento não concordo que a crença no Nascimento Virginal possa levar uma pessoa ao céu. Entretanto, quando se confronta com a Escritura sobre uma doutrina crucial, qual é sua reação? Se opõe veementemente à doutrina? Jesus falou claramente sobre isto:

Jo.8:31: Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: --Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos;

Observem que Cristo falava àqueles judeus que "haviam crido nele".

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Não obstante, estes, no mesmo contexto, responderam assim:

Jo 8:41: Vós fazeis as obras de vosso pai. Disseram-lhe eles: nós não somos bastardos; temos um pai, que é Deus.

Os judeus negaram que houvessem nascido pecadores. Negaram sua depravação. Este é um exemplo de uma doutrina essencial. E, qual foi a resposta de Jesus?:

Jo.8:43: Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra.

E se supunha que estes judeus eram crentes! A audiência de Jesus segue sendo a mesma no contexto. Sua fé era como a de Simão o mágico:

At.8:13: O próprio Simão abraçou a fé e, tendo sido batizado, acompanhava a Filipe de perto, observando extasiado os sinais e grandes milagres praticados.

Mas, o que disse Pedro quando Simão quis comprar o poder do Espírito Santo?

At.8:20-23: Pedro porém, lhe respondeu: o teu dinheiro seja contigo para perdição, pois julgastes adquirir, por dele o dom de Deus. Não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Arrepende-te, pois, da tua maldade e roga ao Senhor; talvez te seja perdoado o intento do coração; pois veja que estás em fel de amargura e laço de iniquidade.

Não posso crer que esta descrição corresponda a de um verdadeiro crente em Jesus Cristo. Até o escritor de Hebreus parece ter feito uma distinção entre a fé e a fé que salva:

Hb.10:38-39: Todavia o meu justo viverá pela fé e: se retroceder, nele não se compraz a minha alma. (39) Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição, somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma.

Estava dizendo que eles podiam perder sua salvação? Certamente, não:

1ª Jo.2:19: Eles sairam do nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos.

Se houvessem sido verdadeiramente cristãos, então haveriam seguido crendo porque o homem não gera a fé senão Deus:

Hb.12:2: olhando firmemente para o autor e consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegría que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado a destra do trono de Deus.

Muitos discípulos seguiam a Jesus além do doze. Mas, Jesus acrescentou uma palavra que fez que se apartassem:

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Jo.6:65-55: e prosseguiu: por causa disso, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim se pelo pai não lhe for concedido. À vista disso muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele.

Por que voltaram atrás? Havia duas razões: A primeira, porque Cristo disse que deviam comer Sua carne e beber Seu sangue para que tivessem a vida eterna. A segunda, porque Jesus disse que não podiam vir a ele a menos que o Pai lhes desse a fé. João Batista e Jesus fizeram deste ensinamento uma doutrina essencial:

Jo.3:27: Respondeu João: -O homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dado.

Jo.6:37: Todo aquele que o pai me dá, ese virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora.

Jo.6:44: Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.

Esta doutrina ofende aqueles que tem sua fé centrada no homem. Assim quando alguém insiste que sua fé é o produto de seu livre arbítrio, está as vezes reconhecendo a graça e o dom de Deus?

Jo.1:12-13: Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome o quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.

Ro.9:16: Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia.

Me parece que Deus se esforça em ensinar-nos algo que é "muito especial".

A pergunta é: isto é essencial, como um requisito prévio a salvação, ou é um fruto da salvação? Por "salvação" me refiro aos que estão sob o Novo Pacto. Bom, há uma coisa da qual não se pode duvidar: Se alguém corre ao altar de uma igreja evangélica pensando que a decisão que tomou provém de seu próprio poder e que Deus tem que aceitar a causa do exercício de seu proprio livre arbítrio, então essa pessoa nunca foi convencida do pecado: A Bíblia fala claro:

Rm.3:10-11: como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus.

Uma pessoa que foi convencida do pecado admite que não tem esperança em nada que tenha feito:

Jo.9:39-41: Prosseguiu Jesus: Eu vim a este mundo para juízo a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos. Alguns dentre os fariseus que estavam perto dele perguntaram-lhe: acaso, também nós somos cegos? Respondeu-lhes Jesus: se fossem cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: nós vemos, subsiste o vosso pecado.

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Há quem crê que quando se prega o Evangelho e alguém aceita e outro não, a diferença entre ter recebido ou rejeitado vem do livre arbítrio. Livremente se recebe e livremente se rejeita. Os que afirmam tal ideia não entrou pelas portas da cidade. Por qué?

Ap.21:27: Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os inscritos no livro da vida do Cordeiro.

Paulo enfatiza esta verdade em:

1ª Co.1:28-31: E Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se glorie na presença de Deus. Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se tornou, da parte de Deus, sabedoria e justiça e santificação e redenção, para que, como está escrito: aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.

Observe que Paulo disse: "mas vós sois dele, em Cristo Jesus". Não estamos em Cristo Jesus a causa de nosso livre arbítrio, porque tal coisa não existe.

Jo.8:34: Replicou-lhe Jesus: em verdade em verdade vos digo: todo que comete pecado é escravo do pecado.

É imprescindível que Cristo nos dê olhos para ver, ouvidos para ouvir e um coração para perceber:

Dt.29:4: Porém o Senhor não vos deu coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até o dia de hoje.

Deus somente faz isto com seus escolhidos baseado em nada que eles tenham feito:

Mt.11:25-27: Por aquele tempo, exclamou Jesu: graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e intruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar..

Jo.5:21: Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim tanbém o filho vivifica aqueles a quem quer.

Se se baseia estritamente no beneplácito da sua vontade. Então, por que cremos?

At.13:48: Os gentíos, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a apalavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna.

Cremos porque Deus assim o tem ordenado desde a fundação do mundo. Se atribuímos nosso crer ao exercício de nosso livre arbítrio, então nunca temos confiado em Cristo porque "ninguém se jactará em sua presença". Paulo enfatiza este fato:

1ª Co.4:7: Pois quem é que te faz sobressair e que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?

Então, por que alguns crêem e outros não? Por razão da decisão do seu livre arbítrio? Não, porque a Bíblia diz "quem te CONCEDE alguma distinção?". Se nos gloriamos em nossa

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própria decisão pelo exercício do nosso livre arbítrio então estamos gloriando nele, mas não em sua presença:

1ª Co.1:29: a fim de que ninguém se glorie na presença de Deus.

Sei que há muitos preteristas que são membros da Igreja de Cristo ou que mantém a doutrina da regeneração batismal. A carta aos Gálatas tem a ver basicamente com um enorme problema que confrontó a igreja primitiva e que confronta a igreja de hoje. Este problema consiste na convicção de que temos que acrescentar algo de nós a Cristo para poder nos salvar ou para manter-nos salvos. O que vemos é que Paulo geralmente se dirigiu a toda a igreja como a irmãos:

Gl.1:4: o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso segundo a vontade de nosso Deuse Pai.

Atentamos ao que Paulo diz: " o qual se entregou a si mesmo pelos NOSSOS pecados ". Contudo, Paulo sobentende que na igreja há individuos que crêem em Cristo e em suas obras. E, como se dirige Paulo a este tipo de pessoas?

Gl.3:1-3: ó gálatas insensatos!, quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado? Quero apena saber isto de vós: recebeste o Espiríto pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois assim insensatos que, tendo começado no espirito estejais agora, vos aperfeiçoando da carne?

Assim estas pessoas proclamavam a Cristo mais suas obras, isto é, a Cristo mais a circuncisão na carne. E, como descreve Paulo o estado destas pessoas?

Gl.3:10: Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no livro da lei para práticá-las.

Enquanto a regeneração batismal, é o mesmo. Essa doutrina prega que Cristo mais um ritual livram uma pessoa dos seus pecados. Por isso, os da Igreja de Cristo que mantém esta doutrina estão sob a maldição da lei. Admito, entretanto, que pode haver alguns na Igreja de Cristo que não criam nesta doutrina e que confiem só em Cristo para salvar. E uma vez que sejam confrontados com a verdade, verão o perigo e a apostasia da Igreja de Cristo e a deixarão:

Jo.10:1-5: "Em verdade em verdade vos digo: o que não entra pela porta dos aprisco das ovelhas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador. Aquele, porém, que entra pela porta, esse é o pastor das ovelhas. Para este o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelo nome as suas prórias ovelhas eas conduz para fora. Depois de fazer sair todas as que lhe pertence, vai adinte delas e elas o seguem, porque lhe reconhecem a voz; mas de modo nenhum seguirão o estranho;antes, fugirão dele porque não conhecem a voz dos estranhos."

Tratar de chegar ao céu por meio de Cristo e o batismo ou a circuncisão é o mesmo que unir aos judaizantes e demonstra que se está sob a maldição:

Gl.6:6-12: Mas aquele que está sendo instruído na palavra faça participante de todas as coisas boas aquele que o instrui. Não vos enganeis: De Deus não se zomba; pois aquilo que o

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homem semear, isso também ceifará porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o espirito do espirito colherá vida eterna e não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos por isso, enquanto tivermos oportunidade façamos o bem a todos, mas principalmente aos da familia da fé. Vede com que letras grandes vos escrevi de meu próprio punho todos os querem ostentar-se na carne, esses vos constrangem a vos ciscuncidardes, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo.

Vir a Cristo e crer no nascimento virginal são doutrinas essenciais muito diferentes. O primeiro é um dom que se dá para que alguém possa ver sua pecaminosidade total, arrepender-se de sua auto-justiça e confiar somente em Cristo. O outro é o resultado de ter confiado em Cristo.

Por isto Cristo disse:

Jo.8:31: Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: se vós permanecerdes na minha palavra sois verdadeiramente meus discípulos;

Os que dizem que confiam em Cristo mas negam o que Sua Palavra ensina no tocante a verdade do dom da fé, a inabilidade do homem para crer sem Cristo, e a salvação pela Graça somente, manifestam características de uma pessoa não regenerada. Os que fazem necessário um ritual para a salvação estão sob maldição. Estas são as pessoas que devemos animar a que se examinem para ver se na realidade estão na fé:

2ª Co.13:5: Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis Jesus Cristo está em vós? Se não é já estais reprovados

2ª Pe.1:10: Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum.

Os que são de Cristo se entregarão a doutrina gloriosa da salvação pela graça somente. Quando a verdade chegar a reconhecerão. Se a negam e acrescentam um ritual, o livre arbítrio ou qualquer outra coisa, então não devemos aceitar como pessoas sábias. E não estamos acrescentando nada a Escritura quando os questionamos. Sempre será um proceder correto instar a que examinem advirtindo-os com a Escritura e não com um monte de palavras condenatórias baseadas nas emoções. A palavra convencerá até onde Deus quer que convença:

Is.55:11: Assim será a palavra que saiu da mina boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei.

Se Deus quer que a palavra prospere, então prosperará. Se Deus quer que condene, condenará:

2ª Co.2:14-17: Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem para com estes, cheiro de morte para morte; para com aqueles, aroma de vida para vida. Quem, porém, é suficiente para estas coisas?, porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palabra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade da parte do próprio Deus.

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Agora, para esclarecer: Por que de uma pessoa que não crê de imediato, mas demonstra estar aberta e disposta a escutar? Continuamos falando a verdade. Se começa a negar e deixa ver um espírito de oposição a verdade, então é tempo de advertí-lo. Se mostra sinais de gentileza e submissão a palavra de Deus, então continuamos apresentando a Graça até que Deus faça que se entregue a salvação pela Graça. Somente então temos a liberdade de afirmar como irmãos ou irmãs. Ainda Judas e Paulo falaram de diferentes maneiras de fazer isto. Mas isto não quer dizer que devemos suavizar a mensagem. É só uma adaptação a sua cultura ou maneira de falar, com o propósito de dar a mensagem.

1ª Co.9:19-22: Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo para ganhar os que vivem fora do regime da lei. Fiz-me fraco para com os fracos, com fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos com fim de, por todos os modos, salvar alguns.

Jd.22-23: E compadecei-vos de alguns que estão na dúvida; salvai-os arrebatando-os do fogo; quanto a outros sede também compassivos em temor, detestando até a roupa contaminada pela carne.

Obviamente devemos exercer grande discernimento, não fazendo-nos juízes, mas estabelecendo o que é verdade e identificando o erro:

1ª Jo.4:5-8: Eles procedem do mundo; por essa razão, falam da parte do mundo, e o mundo os ouve. Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o esprito da verdade e o espirito do erro. Amados, amemo-nos un saos outros, porque o amor procede de Deus, e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor.

Há quem me acusa de não mostrar amor. Mas, que é uma verdadeira prova de amor? Não é avisar a outros da ira do Deus todo-poderoso? Acaso é amor e bondade ver uma pessoa morrer em seus pecados e não advertí-lo dos horrores do lago de fogo? Fez mal Paulo em advertir uma igreja por mais de 3 anos?

At.20:31-32: Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrima, a cada um. Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça que tem poder para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificados.

E, não demonstrou bondade?

Sl.141:5: Fira-me o justo, será isso mercê; repreenda-me será como óleo sobre a mina cabeça, a qual não há de rejeita-lo. Continuarei ao orar enquanto os perverso praticam maldade.

Lv.19:17: "Não aborrecerás o teu irmão no teu íntimo; mas repreenderás o teu próximo e, por causa dele, não levarás sobre ti pecado.

Ez.33:7-9: "A ti, pois, ó filho do homem, te constitui como atalaia soabre a casa de Israel; tu, pois, ouvirás a palavra da minha boca e lhe darás aviso da mina parte. Se eu disser ao perverso: ó perverso, certamente morrerás; e tu não falares, para avisar o perverso do seu

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caminho, morrerá esse perverso na sua iniquidade, mas o seu sangue eu o demandarei de ti. Mas, se falares ao perverso, para o avisar do seu caminho para que dele se converta, e ele não se converter do seu caminho morrerá ele na sua iniquidade mas tu livraste a tua alma..

Ez.33:13: quando eu disser ao justo que, certamente, viverá, e ele, confiando na sua justiça praticar iniquidade, não me virão à memoria todas as suas justiças, mas na sua iniquidade, que pratica, ele morrerá.

Há somente um Evangelho: o da Graça por meio da fé, o dom de Deus. Há uma só cruz, a que salva. Qualquer outra que deixa as pessoas no inferno não é a cruz de Cristo. Por isso, a propiciação universal é uma cruz falsa e um Cristo falso. É outro evangelho. Qualquer evangelho que ensine que o Pai elegeu seu povo porque sabia de antemão a decisão que tomariam, é outro evangelho. Se Deus baseou suas decisões eletivas no que sabia de antemão que os eleitos fariam, então a salvação é por obras. Não há diferença entre obras e arbítrio se crê que ambos não são causados por Deus.

À luz das Escrituras aqui apresentadas, devemos nos fazer as seguintes perguntas: É o livre arbítrio outro evangelho? Se a resposta é negativa, então por que não cremos? Mas se nossa resposta for positiva, então como justificamos o não avisar com urgência aos homens que afirmam o livre arbítrio ainda depois de haver apresentado a verdade das Escrituras? É a regeneração batismal outro evangelho? Se não, então por que não cremos? Mas se é certo que é outro evangelho, então por que não advertimos do perigo aos membros da Igreja de Cristo, aos Católicos Romanos, os da Igreja Pentecostal Unida (Jesus Só), etc? E, que da redenção universal? Deixa a verdadeira Cruz de Cristo às pessoas no inferno, aqueles cuja pena pelo pecado já foi paga? Se for assim, então por que não cremos também? Mas se esta não é a verdadeira cruz de Cristo, então tampouco este é o verdadeiro Evangelho.

2ª Co.11:4: Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado a esse, de boa mente, o tolerais!

Somente há uma cruz e um Evangelho. E este Evangelho é eficaz:

1ª Co.1:18: Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos poder de Deus.

Por que são tão atrativos o evangelho, a cruz e o Jesus da propiciação universal? Porque deixa tudo nas mãos do homem. Os homens amam esta doutrina porque lhes permite ter parte em sua redenção.

Por que são tão repulsivos o Evangelho, a Cruz e o Jesus da propiciação particular e eficaz? Porque não dá lugar ao poder e a glória do homem. Arrasa com o ídolo do livre arbítrio. Assegura que há certas pessoas que nunca entrarão ao céu porque esta propiciação não foi feita por elas. Confunde a glória e a habilidade do homem.

Jr.17:5: Assim diz o Senhor: maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do Senhor.

Gl.6:14: Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo.

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Graças por seu tempo. Se aqui não segui com o que escrevi em outros artigos anteriores a este, por favor perdoe-me Mas se o fiz, então peço que considere sua posição. Se encontra em uma situação comprometida como crente na Graça? Ou, está todavia confiando na decisão do seu livre arbítrio ou no ritual do batismo?

Sinceramente e para a glória do Salvador Soberano,

Ward Fenley

***

Tarefa lição 1 Somente Graça

1. Sobre qual base Deus o Senhor justo pode declarar legalmente justo a um pecador? 2. Em que se firmava Pelagio frente à capacidade humana de viver uma vida santa? 3. Qual é o testemunho bíblico frente a essa afirmação? 4. Por que razão Deus nos escolheu para sermos filhos por adoção?5. Que significa ser salvos pela graça? 6. Por quais motivos Deus veio aos perdidos? 7. Por que só Deus pode justificar ao ímpío? 8. Como pode um Deus Justo, justificar aos culpados? 9. Para que Deus nos salvou? 10. Como nascemos espiritualmente? 11. Se nascemos assim, como podemos reagir a um chamado de salvação?12. O que você fez para se salvar? 13. Por meio de quem vem a graça? 14. De onde provém a fé? 15. Amamos primeiro a Deus e Ele previu nosso amor e por isso nos salvou? 16. Pensar que somos salvos porque Deus nos escolheu, nos faz soberbos? 17. Em que se firma que uns recebem o evangelho e outros que rejeitam? 18. Por que a salvação é pela graça somente e em nada que tenha o homem? 19. Quem justifica ao ímpio, sua fé, ou suas obras? 20. Alguém que diz ser bom, necessita ser justificado? 21. Por que o crente continua pecando uma vez que obteve a salvação? 22. Um crente, por saber que já é salvo e não pode perder a salvação, ele pode

desobedecer a Bíblia?23. O homem tira de si seu pecado e sua inclinação ao mal?

Prezado estudante, leve em conta que suas respostas devem ser dadas de acordo com os pricípios estudados no texto. Isso não significa que todas as respostas estejam diretamente no livro, mas digo que a maioria pode tirar dele .caso não encontrar a resposta no livro, pode dar a sua, mas, deves justificá-la biblicamente.

LIÇÃO II

SOMENTE FÉ (Sola FIDE)

PELA GRAÇA MEDIANTE A FÉ

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(Do livro Somente pela Graça. Spurgeon)

Creio conveniente insistir em um ponto especial, com o objetivo de suplicar ao leitor que observe em espírito de adoração a origem da fonte de nossa salvação que é a graça de Deus. «Porque pela graça sois salvos mediante a fé» (Ef.2:8). Os pecadores são convertidos, perdoados, purificados, salvos, tudo porque Deus é cheio de graça. Não é porque possa ter algo neles que recomende para ser salvos, mas que se salvam pelo amor infinito, pela bondade, pela compaixão, misericórdia e graça de Deus. Detente, pois, por um momento na origem da fonte. Contempla o rio cristalino da água da vida que brota do trono de Deus e do Cordeiro.

Que profundidade da graça de Deus! Quem sondará sua profundidade? Semelhante aos demais atributos de Deus é infinita. Deus é cheio de amor, porque «Deus é Amor.» (1João 4:8). Bondade infinita e amor infinito formam parte da essência da Divinidade. Pela razão de que «por que a tua misericordia dura para sempre» (Salmo 107:1), não tem deixado a humanidade na perdição. E já que não cessam suas compaixões, os pecadores são conduzidos a seus pés e acham perdão.

Pense bem nisto, para que não caia no erro fixando demasiadamente na fé que é o condutor da salvação, poderia esquecer da graça que é a fonte e origem ainda da fé. A fé é obra da graça de Deus em nós. Ninguém pode dizer que Jesus é Cristo, o Ungido, mas pelo Espírito Santo. «Ninguém vem a mim,» disse Jesus, «se o Pai que me enviou, não lhe trouxer» (João 6:44). Assim é que essa fé que vai a Cristo é resultado da obra Divina. A graça é a causa ativa, primeira e última da salvação; e essencialmente necessária, como é a fé, não é mais que parte indispensável do método que a graça emprega. Somos salvos «mediante a fé,» mas a salvação é «pela graça.» Proclame estas palavras, como com trombeta de arcanjo: «pela graça sois salvos.» Quão boa nova é esta para os indignos!

Se pode comparar a fé a um condutor. A graça é a fonte e a corrente; a fé é o canal pelo qual flui o rio de misericórdia para refrescar aos homens sedentos. Será uma grande lástima quando se tem no canal uma ruptura. Uma vista muito triste oferecem muitos canais caros nos arredores de Roma, que já não conduzem mais a água a cidade, porque os arcos estão quebrados e essas obras admiráveis estão em ruínas. O canal deve manter completo para conduzir a corrente, e assim a fé deve ser verdadeira e são dirigida na retidão a Deus e baixando diretamente a nós para que resulte um condutor útil de misericórdia para nossas almas.

Outra vez te lembro que a fé somente é o condutor ou canal e não a fonte, e que não devemos fixar-nos tanto nela que a elevemos por cima da fonte de toda benção que é a graça de Deus. Não construa um Cristo da tua fé, nem pense nela como se fosse a fonte indispensável da salvação. Achamos a vida espiritual por uma olhada de fé ao Crucificado, não por uma olhada a nossa fé. Mediante a fé todas as coisas nos são possíveis; entretanto, o poder não está na fé, mas em Deus, em quem a fé se derrama. A graça é a locomotora e a fé é a cadeia, mediante a qual o veículo da alma se ata à grande força motriz. A justiça da fé não é a excelência moral da fé, mas a justiça de Cristo Jesus que a fé aceita e se apropria. A paz da alma não se deriva da contemplação de nossa fé, mas nos vem dAquele que «é nossa paz,» da orla de cuja vestes a fé toca, saindo dele a virtude que inunda a alma.

Aprenda isto, pois, querido amigo, que a fraqueza da tua fé não te deixará na perdição. Ainda um mão poderosa poderá receber uma dádiva de ouro precioso. A salvação nos pode vir por

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uma fé tão pequena como um grão de mostarda. A potência se encontra na graça de Deus, não em nossa fé. Importantíssimas mensagens se mandam por arames fracos, e o testemunho do Espírito Santo que comunica paz, pode chegar ao coração mediante uma fé tão pequena que apenas mereça tal nome. Pense mais NAQUELE que olha, do que no olhar. É preciso tirar a vista de tua própria pessoa e dos arredores para não ver outro que «somente Jesus» e a graça de Deus nele revelada.

O QUE É A FÉ?

Que fé é essa na qual se diz: «Pela graça sois salvos mediante a fé»? Existem muitas explicações para a fé; mas, quase todas as que tenho visto, me tem deixado mais ignorante que antes. Podemos explicar a fé até que ninguém a entenda. Certo pregador disse ao ler um capítulo da Bíblia que ía a embrollarlo, o que provavelmente o fez, se bem intentava dizer que ía explicá-lo. Espero que não me sentir culpado pelo mesmo erro .A fé é a coisa mais sincera do mundo, e talvez por causa disso seja difícil explicá-la.

O que é fé?: Podemos dizer que a fé se compõe de três coisas: conhecimento, crença e confiança. Primeiro, vem o conhecimento. Como crerão naquele de quem nada ouviram? (Rm. 10:14). Necessito saber de um fato antes de que me seja possível crer. A fé vem pelo ouvir (Rm. 10:17). É preciso ouvir para saber no que crer. «Em ti, pois, confiam os que conhecem o teu nome» (Salmo 9:10). Algum conhecimento é essencial para a fé; e aqui a importância de obter conhecimento. «Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá» (Is. 55:3), tal era a palavra do profeta, e tal é a palavra do evangelho. Pesquise as Escrituras e aprenda o que o Espírito santo ensina a respeito de Cristo Jesus e sua salvação. «Porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creis que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam » (Hb. 11:6). Que o Espírito Santo te conceda espírito de conhecimento e de temor do Senhor! Informe-se a respeito do evangelho: de sua boa nova, de como falar do perdão gratuíto, da mudança de coração, da adoção na familia de Deus, e de inumeráveis bençãos de outras classes. Informe-se especialmente de Cristo Jesus, o Filho de Deus, o Salvador dos pecadores, unido conosco pela natureza humana, não obstante de ser Um com Deus, sendo assim idôneo para atuar como Mediador entre Deus e os homens, capacitado para colocar su mão sobre ambos e ser a ligação entre o pecador e o juíz de toda terra. Procura conhecer a Cristo Jesus mais e mais. Procure conhecer de um modo especial a doutrina do sacrifício expiatório de Cristo, já que o ponto principal na fé salvadora se fixa principalmente neste: «Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões» (2 Co. 5:19).

Procure saber que Jesus foi feito maldição por nós, como está escrito: «Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro» (Gl. 3:13). Conheça bem a doutrina da substituição de Cristo, porque nela está o mais bendito consolo para os filhos dos homens, haja visto que Deus «ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus » (2Co. 5:21). A fé começa pelo conhecimento.

E aqui começa a crença de que essas coisas são verdadeiras. A alma crê que Deus existe e que ouve o clamor dos sinceros de corações, que o evangellho procede de Deus, que a justificação pela fé é a grande verdade que Deus tem revelado neste últimos tempos com mais clareza que antes. Logo, o coração crê que Jesus é de verdade nosso Deus e Salvador, o Redentor dos homens, o Profeta, Sacerdote e Rei de seu povo. Tudo isto a alma aceita como uma verdade certa e sem qualquer duvida. Peço a Deus que chegues a esta fé. Firma-te na crença do sangue de Jesus Cristo, o Filho de Deus que nos limpa de todo pecado e que seu sacrificio expiatójá

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que o que crê em Jesus não está condenado. Creia nestas verdades, como credes em outra afirmação, porque a diferença entre a fé comum e a fé salvadora consiste principalmente nos objetos da crença. Creia no testemunho de Deus, como credes no testemunho do teu próprio pai ou de algum amigo. «Se admitimos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior » (1João 5:9).

Até aqui tenho adiantado no caminho da fé; só falta uma parte mais para completá-la, a saber a confiança. Entregue e confie no Deus de misericórdia; põe tua confiança no evangelho da graça; entrega tua alma confiadamente ao Salvador morto e ressurreto por ti; contempla e confie a limpeza dos teus pecados no sangue expiatório de Jesus; aceita a sua Justiça Perfeita, e tudo ficará bem. A confiança é a essência vital da fé, sem ela não há fé salvadora. Os puritanos explicam a fé usando a palavra «reclinação,» no sentido de apoiar-se reclinado sobre algo. Apoie com todo teu peso sobre Cristo. Me expressaria melhor, se dissesse: descanse, recoste sobre a Rocha dos séculos. Abandona-te nos braços de Jesus, entrega e descanse nele. Fazendo isso colocará sua fé em prática. A fé não é uma coisa cega, haja visto que se inicia pelo conhecimento. Não é coisa de conjectura, porquanto a fé se fundamenta em atos certos. Não é coisa de sonhos, porque a fé deposita seu destino encomienda su destino reposadamente a la verdad de la revelación Divina. Esto es un modo de explicar la fe. No se si solo he logrado embrollar el asunto.

Permita-me outra prova. A fé é crer que Cristo é o que se diz ser, que fará o que prometeu fazer e esperar que cumpra o prometido. As Escrituras falam de Jesus Cristo como Deus, Deus manifestado em carne humana, como perfeito em seu caráter, como sacrifício expiatório por nossos pecados, como quem leva nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro. As escrituras falam dele como quem acabou com a transgressão, pondo fim no pecado e introduzido a justiça eterna. A Bíblia nos diz, que Cristo ressuscitou dos mortos, e que vive intercedendo por nós, que se ascendeu em glória, tomando posse dela em favor do seu povo e voltará para «porque ele vem julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos com equidade » (Salmo 98:9). Devemos crer firmemente que assim é, já que assim Deus o Pai o fez saber, dizendo: «Este é meu Filho amado; a ele ouvi» (Lc. 9:35). A este o Espírito Santo também rende testemunho, porque ele também testificou de Cristo tanto pela palavra inspirada como por diversos milagres e sua obra nos corações dos homens. Não é preciso crer que é verdadeiro este testemunho.

A fé cre que Cristo fará o prometido, ele prometeu que não lançaria ninguém fora daqueles que se achegassem a ele, é certo que não nos lançará se nos chegarmos a ele. Pela fé Cristo disse: «Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der, será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna. » (João 4:14), isto deve ser verdade, de modo que se nós recebemos de Cristo esta água da vida, permanecerá em nós e saltará em nós como correntes de uma vida santa. Qualquer coisa que Cristo prometeu fazer, ele fará, e devemos crer, já que de suas mãos esperamos o perdão, a justificação, a proteção, e a glória eterna, mas tudo para quem crer nele.

Consequentemente vem o segundo passo necessário. Jesus é o que se diz ser, portanto ele fará o que prometeu, basta apenas confiar nele, dizendo: «Será para mim, o que disse ser e o que prometeu fazere eu me entreguei em suas mãospar que pudesse ser salvo. Descanso em sua promessa confiando que ele fará o que disse.» Tal é a fé salvadora e quem a tem tem a vida eterna. Qualquer que fossem os perigos e provas, trevase temores debilidades ou pecados, e o que assim crer em Cristo Jesus não é condenado, nem verá jamais a condenação.

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Desejo que esta explicação te sirva para algo. E que Espírito de Deus te dê a paz imediatamente. «Não temas; crê somente» Mc. 5:36). Confie e descanse em paz.

Porém temo que o leitor fique satisfeito com o simples conhecimento do que seja preciso fazer sem nunca ter feito. Melhor é a fé mais pobre atuando que o melhor conhecimento nas regiões da fantasia. O principal é crer de verdade em Jesus, neste momento. Não se preocupe com as distinções e definições.O esfomeado come sem compreender a composição química dos alimentos, a anatomia da boca e o processo digestivo, vive porque come. Outro porém compreende perfeitamente a ciência da nutrição mas, se não comer morrerá apesar de seu conhecimento. Sem dúvidas há muitos no inferno que compreenderam bem a doutrina da fé, mas, que deixaram de crer. Por outra parte, nenhum dos que confiaram no Senhor Jesus pereceram, mesmo que nunca souberam explicar bem sua fé. Querido leitor, receba o Senhor Jesus, como único salvador de tua alma e viverás eternamente. «Quem crê no Filho tem a vida eterna » (João 3:36).

***

COMO SE PODE ESCLARECER A FÉ ?

  Para esclarecer ainda mais o assunto da fé darei aqui alguns exemplos.Ainda que só Espírito Santo pode dar vista ao cego é meu dever com prazer proporcionar ao leitor toda a clareza possível, pedindo ao Senhor que abra os olhos dos cegos. E que o leitor faça o mesmo

A fé tem suas semelhanças com o corpo humano. O olho é para ver as coisas. Pelos olhos introduzimos na mente as coisas que estão distantes. Apenas uma olhada podemos introduzir na mente o sol e as estrelas que estão distantes. Assim pela fé ou confiança podemos fazer com que Jesus nos cerque, e por mais que esteja distante no céu, entre em nosso coração.Portanto olhe para Jesus, porque nele contém a pura verdade. Há um cântico que diz assim

Vida hay por mirar a Jesús...

La mirada de fe al momento la vida te da.

A fé é a mão que toma. Quando a mão toma e se apropria de algo, faz precisamente o mesmo que a fé ao apropiar-se de Cristo e as bençãos da redenção. A fé diz: «Jesus é meu» A fé ouve falar do sangue mediante o qual há perdão e exclama. Recebo pelo perdão das minhas culpas. A fé diz que são suas os legados de Jesus e disse ainda que a fé é a herdeira de Cristo. E tendo dado a si mesmo e tudo o que tem fé. Apropria-te, amigo da graça e não serás furtador porque tens permissão divina: «E quem quiser, receba de graça a água da vida» (Ap. 22:17). O que pode obter um tesouro se simplesmente pegar e não aproveitar será considerado louco se permanecer na pobreza.

A fé é a boca que se alimenta de Cristo. Antes de nos alimentarmos com a comida, é preciso pegá-la. E comer e beber é uma coisa tão simples. Podemos levar a comida à boca, permitindo assim que o mesmo desça ao estômago, para que possa ser absorvidoe constitua parte do mesmo. Paulo em Romanos 10:8; disse: «A palavra está perto de ti, na tua boca.» Assim o que restafazer é permitir que esta palabra chegue a alma.bom seria se as pessoas tivessem fome espiritual! Pois o esfomeado quando vê a comida na sua frente não precisa aprender a comer. Dá-me uma faca e um garfo e uma oprtunidade, disse uma vez alguém. Para os demais

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estava plenamente preparado. Na verdade, um coração faminto e sedento de Cristo, só precisa saber que Cristo o convida e ele só deve aceitar o convite para recebê-lo em seguida. Se você se acha nesta condição, não hesite em recebê-lo, e esteja certo de que nunca serás repreeendido por tomar tal atitude, porque «A todos quantos o receberam, deu lhes o poder de serem feitos Filhos de Deus» (João 1:12) Ele não rejeita a ninguém, que se achega a ele, pelo contrário os recebe e são autorizados a viver eternamente como filhos.

As ocupações comuns da vida ilustram também a fé de vários modos. O agrigultor lança sua semente na terra confiando de que no solo ela vai se desenvolver confiando em que não somente viva mas que se multiplique. Tem fé no pacto de que a semeadura e a colheita não cessarão, e fica recompensada assim sua fé.

O comerciante coloca seu dinheiro aos cuidados de um banqueiro, confiando plenamente em seu banco. Entrega seu capital em mãos de outro, e se sente mais tranquilo que se guardasse o ouro em sua própria casa.

O marinheiro se entrega ao mar agitado. Ao nadar tira os pés do fundo e descansa nas ondas do mar. Não poderia nadar, se não se entregar de tudo ao elemento líquido.

O ourives põe seu ouro precioso no fogo que parece ávido em consumir, mas o tira de novo, purificado pelo calor do forno.

Em qualquer esfera da vida pode ver a fé em operação entre homem e homem, ou entre homem e lei natural. Agora, precisamente como na vida diária praticamos a confiança, assim devemos dar respeito a Deus, segundo nos revela em Cristo Jesus.

A fé existe em diferentes pessoas segundo sua medida de conhecimento ou crescimento na graça. As vezes a fé não é mais que um simples apego a Cristo; um sentimento de dependência e de vontade de viver dependente. Na praia do mar verá certos moluscos pregados nas rochas. Caminha suavemente rocha acima, pega o molusco com pau, e verá como fica solto em seguida. Repita com outro molusco perto. Este ouviu o golpe, ficou avisado, e se apega com toda sua força a rocha. Não soltará, não. Pega tanto como quiser. Mais bem quebrará o pau usado para soltar o molusco. O pobre não sabe muito, mas sabe apegar-se a rocha. Sabe apegar-se e tem algo firme para fazê-lo; isto é todo seu conhecimento e o usa para sua segurança e salvação. Apegar-se a rocha é a vida do molusco, e a vida do pecador é apegar-se a Cristo. Milhares de almas do povo de Deus não tem fé que esta; se achegar de todo coração a Jesus, e isto basta para sua paz atual e para sua segurança eterna. Jesus é para elas um Salvador forte e poderoso, uma rocha firme e imutável; a ela se agarram com força e este apego as salva. Amigo, não poderia se apegar a Cristo também? Faça agora mesmo.

A fé se manifesta quando uma pessoa confia em outra com motivo do conhecimento de sua superioridade. Esta fé é da mais alta categoria: fé que conhece e reconhece a razão da sua dependência atuando conforme o tal conhecimento. Pouco conhecerá o molusco da rocha; mas conforme vai crescendo a fé resulta mais inteligencia. Um cego se entrega ao seu guia, porque sabe que este tem a visão e confiando nele, anda por onde ele o conduz. Se o pobre nasceu cego não tem ideia do que é a vista, mas sabe que existe tal coisa, e portanto coloca sua mão na mão do guia deixando se levar. (2Co. 5:7). «Bem aventurados os que não viram, e creram» (João 20:29). Aqui «Andamos por fe, não por vista» temos tão bom exemplo da fé como pode haver: sabemos que Jesus possui a virtude, o poder e a benção que não possuimos,

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e, portanto, nos entregamos a ele, para que seja para nós o que não podemos ser para nós mesmos. Nos entregamos a ele confiados como o cego ao guia, seguros de que nunca abusará da nossa confiança, já que «nos fez por Deus sabedoria, justificação, santificação e redenção» (1Co. 1:30).

Toda criança que frequenta a escola exerce fé ao aprender do professor. Este ensina geografia, instruindo a respeito da forma da terra e a existência de certos países e grandes cidades. A criança não sabe que estas coisas são verdadeiras, ao menos que tenha fé no professor e nos livros que usa. Isto é lo que toca fazer em ordem a Cristo, se quer ser salvo. É preciso que saiba porque ele te diz; para que creia que é assim, porque ele afirma que é; que se entregue a ele, porque te promete que o resultado será a salvação presente e eterna. Quase tudo o que você e eu sabemos veio pela fé. Se tem feito um descobrimento científico e estamos seguros disso. Por que razão cremos? Pela autoridade de certos cientistas conhecidos, cuja reputação ficou estabelecida. Nunca temos visto seus experimentos, mas cremos em seu testemunho. É preciso que faça o mesmo com o Senhor Jesus. Já que ele te ensina certas verdades, deve atuar como discípulo crendo em sua palavra. Já que ele realizou certa obra magna, deve atuar como recipiente entregando-se a sua graça. ele é seu superior em grau infinito entregando sua confiança no Mestre supremo e Senhor dos senhores. Se recebe a ele e a sua palavra, com certeza será salvo.

Outra forma de fé superior é a que nasce do amor. Por que confia a criança em seu pai? A razão é que a criança ama ao seu pai. Bem aventurados são os que tem uma fé infantil em Cristo, mesclada com profunda afeição, porque esta fé e confiança proporciona verdadeira tranquilidade e repouso a alma. Estes que amam a Jesus vivem encantados da formosura e dos seus atributos, alegram-se grandemente em sua missão e são transportados da alegria por sua bondade e graça manifestas. Assim é, que não podem por menos de confiar nele, já que tanto admiram, reverenciam e amam.

Esta confiança no salvador se evidencia por exemplo da esposa dos primeiros médicos deste século. Ainda que afligida de certa grave enfermidade e postrada por sua gravidade, desfruta ela de calma e quietude admiráveis, porque seu esposo tem feito estudo especial dessa enfermidade e curado a milhares de afligidos como ela. Não se inquieta no mínimo, porque se sente perfeitamente salva nas mãos de um tão apreciado como o esposo, em quem a habilidade e amor se juntan em sumo grau. Sua fé é natural e aceitável e o esposo o merece de sua parte em todos os sentidos.

Esta classe de fé é a que o crente mais feliz exerce a respeito a Cristo. Não há médico como ele; ninguém pode salvar e sarar como ele. O amamos e ele nos ama, e por conseguinte nos entregamos em suas mãos, aceitamos o que nos prescreve e fazemos o que nos manda. Estamos seguros de que nada de errado nos manda enquanto que ele seja o Diretor de nossos assuntos; porque nos ama demasiadamente para permitir que pereçamos ou soframos a mínima pena desnecessária.

A fé é a raiz da obediência, e isto pode ver com toda clareza nos assuntos da vida. Quando o capitão confia o leme ao piloto para que o leve ao porto, este o maneja segundo seu conhecimento e vontade. Quando o viajante confia no guia para que o conduza através de algum lugar difícil, este segue passo a passo o atalho que o guia o ensine. Quando o enfermo acredita no médico, segue cuidadosamente suas prescrições e direções. A fé que recusa obedecer os mandamentos do Salvador não é mais que um pretexto e não salvará jamais a alma. Confiamos em Jesus para que nos salve, dando ele as indicações necessárias a respeito

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ao caminho da salvação; seguimos estas indicações e somos salvos. Não se esqueça disto caro leitor. Confie em Jesus e dê provas de tua confiança fazendo o que ele diz.

De uma forma notável a fé nasce do conhecimento verdadeiro. Isto resulta do crescimento na graça; e é esta a fé que crê em Cristo, porque conhece e confia nele, porque tem a experiência de que é infalivelmente fiel. Certa senhora cristã solía poner P.P., na margen de sua Bíblia sempre que houvesse posto a prova alguma promessa. Quão fácil é confiar em um salvador posto a prova e chamado verdadeiro! Não podes fazer isto todavia, mas, o farás. Tudo requer um princípio. A seu tempo será forte tua fé. Esta fé madura não pede sinais e milagres apenas crê fortemente. Contempla ao marinheiro, muitas vezes lhe tenho admirado.solta os cabos e se distancia da terra.Passam dias, semanas até meses sem avistar a terra. Não obstante, prossegue adiante noite e dia sem temor, até que uma manhã se encontra em frente a um porto, para o qual se dirigía. Como pode encontrar o caminho através do mar se não havia rastro de pegadas? Pois ele confiou em sua bússola, em sua carta de marinheiro, em seus binóculos, nos corpos celestes, e obedecendo suas indicações, sem avistar a terra, dirigiu seu navio de forma que não variou seu percurso para chegar ao porto. É coisa maravilhosa, e admirável esse modo de navegar sem avistar a terra. Espiritualmente falando isso é bom poder deixar de fora o sentimentalismo e a areia das praias, «Adeus» aos sentimentos interiores, acontecimentos providenciais animadores, sinais e maravilhas, etc. É glorioso se achar longe no oceano do amor Divino muito adentro, crendo em Deus e dirigindo o curso diretamente para o céu pelas direções da carta marítima, a Palavra de Deus. «Bem-aventurado os que não viram, e creram,» a estes «será abundantemente administrada a entrada no reino eterno de nosso Senhor» e boa proteção na viajem. Leitor desjas por por sua confiança em Deus manifesto em Cristo Jesus? Nele confio. Amigo, vem comigo, e creia em nosso Pai e nosso Salvador. Vem sem demora!

POR QUE NOS SALVAMOS PELA FÉ?

 Por que se escolheu a fé como meio de salvação? Sem dúvida se faz com frequência esta pergunta. «Porque pela graça sois salvos mediante a fé» (Ef. 2:8), é sem contradição uma das doutrinas das Escrituras, plano e ordem de Deus; mas por que é assim? Por que se escolheu a fé e não a esperança, o amor ou a paciência?

Nos convém a modestia ao responder esta pergunta, porque os caminhos de Deus não são sempre compreensíveis, nem se nos permite ser presunçosos, pondo em dúvida. Quiséramos responder humildemente que, enquanto compreendamos nós, se elegeu a fé qual meio da graça, porque na fé há uma capacidade natural própria para servir de recebedor. Suponhamos que vou dar uma esmola a um pobre; a ponho em suas mãos, por que? Não seria o mesmo que colocá-la em seus ouvidos, ou nos pés; claro que não, pois, a mãofoi feita para esse propósito, para receber. Assim em nossa constituição mental, a fé se criou a propósito para receber: é a mão da alma que tem a capacidade de receber a graça.

Permita-me dizer isto com muita clareza A fé que recebe a Cristo é um fato tão simples como quando uma criança recebe de você uma maçã, porque você a dá com sua mão prometendo, se vier pegá-la. Neste caso a fé e o receber se referem a uma maçã; mas constituem precisamente o mesmo fato que tratando da salvação eterna. O que é a mão da criança na ordem da maçã, isto é sua fé na ordem da salvação perfeita de Cristo. A mão da criança não faz a maçã, nem a melhora, nem a merece; somente a aceita. E a fé foi eleita por Deus para ser a receptora da salvação, porque não pretende criar a salvação, nem ajudar a melhorá-la, mas está contente de recebe-la humildemente. «A fé é a língua que pede perdão, a mão que a recebe, o olho que a

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vê, mas não é o preço que a compra.» A fé nunca faz para si sua própria defesa, mas descansa todo seu argumento no sangue de Cristo. Ela vem ser a serva que conduz as riquezas do Senhor Jesus à alma, pois reconhece de quem as recebeu e confessa que a graça unicamente a encargó.

Por outro lado escolheu sem dúvida a fé porque ela dá toda a glória a Deus. A salvação é mediante a fé para que seja pela graça, e é pela graça para que ninguém se glorie, porque Deus não tolera o orgulho. «Al altivo mira de lejos» (Salmo 138:6), e não deseja tê-lo por perto. De nenhum modo concederá salvação a ninguém por um plano que inclua ou fomente o orgulho. Paulo disse: «Não por obras para que ninguém-se gloríe» (Ef. 2:9). Agora perceba que, a fé exclui toda glória. A mão que recebe a esmola não diz : «Deves me agradecer por ter aceito a esmola;» isto seria um grande absurdo. Quando a mão leva o pão`a boca, não diz ao corpo: «me agradeça por ter te comido.» É algo muito simples o que a mão faz entretanto é muito necessário, e não lhe é atribuída glória alguma por isso. Assim Deus escolhe a fé para receber o dom inefável de sua graça, porquanto não pode atribuir crédito algum nisso e sim em troca adorar a Deus por toda graça que é dispensada de toda dádiva.a fé põe a coroa na cabeça do único que é digno e o mesmo Cristo quis por a coroa sobre a cabeça da fé dizendo: «Tua fé te salvou, vai-te em paz» (Lucas. 7:50).

Além do mais Deus escolheu a fé como meio de salvaçãoporque isto é um modo seguro de unir o homem com Deus. Quando o homem confía em Deus, esta confiança resulta em um ponto de contato que garante entre eles a benção vinda da parte de Deus. A fé não salva, porque nos faz refugiar-nos a Deus unirmos a ele. Com frequência é usado o seguinte exemplo que vou repeti-lo por não ter outro melhor. Conta-se que há anos um bote caiu nas cataratas do Niágara sendo que dois homens foram levados pela correnteza, quando os espectadores que estavam nas margens se aproximaram e jogaram uma corda, na qual os dois se seguraram. Um deles permanecia segurando na corda e foi resgatado são e salvo. Enquanto o outro. Porém o outro vendo uma viga grande boiando na água, deixou da corda e se segurou na viga que lhe parecia uma coisa melhor e maior para se segurar, mas, a correnteza veio e o lançou com viga e tudo no abismo, porque não havia contato entre a viga e a margen. O tamanho da viga não importava, o que fez com que o homem caisse na verdade era que a viga não tinha contato com a terra. Dessa forma quando uma pessoa confía em suas obras, em sacramento ou coisa parecida, não se salvará porque não há união entre ele e Cristo, mas, a fé mesmo que pareça uma corda fina, está nas mãos de Deus,e com seu poder infinito resgata o homem da perdição. Gloriosa e bem aventurada é a fé porque mediante a mesma permanecemos unidos em Deus. Por outra parte, se tem escolhido a fé porque ela atinge os recursos da empreitada. Ainda nas coisas diárias da vida, certa ordem de fé está a raíz de tudo. Penso não estar equivocado ao afirmar que fazemos as coisas mediante alguma ordem de fé. Se chego até minha casa foi porque minhas pernas me levaram até lá. O homem come, porque tem necessidade de se alimentar, atende a seus negócios porque acredita que o dinheiro tem algum valor, aceita uma senha porque acredita que o banco o protegerá. Colombo descobriu a América, porque creu que havia um continente do outro lado do oceano, e os puritanos o colonizaram, porque criam que Deus estava com eles. A maiores obras tem nascido da fé, para o bem ou para o mal a fé realiza maravilhas mediante a pessoa em que ela existe. A fé em sua forma natural é uma força vencedora que entra em todo tipo de trabalho humano. É provável que quem mais burle da fé em Deus seja aquela pessoa que que não tem boas qualidades; na verdade este é quem cai em uma credulidade que diríamos ser um tanto ridícula, se não a considerarmos desgraçada. Deus concede a salvação a fé porque criando a fé em nós, atinge o foco principal de nossos sentimentos e ações.para dizer assim, se apodera das baterías tendo a capacidade de enviar a todas as partes de nosso ser a corrente sagrada. Ao

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crer em Cristo, tendo aceitado a Deus no coração, somos salvos do pecado, sendo levados ao arrependimento, à santidade, ao santo céu, à oração, à consagração e toda outra forma da Divina graça. «O que é o óleo para as rodas; o que são as peças para o relogio, as asas para o pássaro, as velas para o barco, isto é a fé para os deveres e serviços santos.» Tem fé, e todas as demais graças serão o resultado e continuarão vindo.

Ademais, a fé tem a virtude de atuar pelo amor; empurra as afeições paria Deus e o coração para as coisas melhores, que agradam a Deus. O que crê em Deus, amará a Deus sem falta. A fé é algo do entendimento, não obstante procede também do coração. «Com o coração se crê para justiça» (Rm. 10:10), e portanto Deus concede a salvação a fé, porque esta vive junto das afeições e é parente proximo do amor, sendo o amor a mãe e ama de todo ato e sentimento santo. O amor a Deus equivale a obediência, o amor a Deus é santidade. O amar a Deus e amar ao próximo é chegar a ser conforme a imagem de Cristo, o que significa salvação.

Por outra lado, a fé produz paz e gozo. Quem a tem, descansa tranquilo e desfruta da alegria e gozo, o que é certa preparação para o céu. Deus concede todos os dons celestes à fé, entre outras razões porque a fé atua em nós a vida e o espírito que serão eternamente manifestas no mundo melhor da glória. A fé nos procura a armadura para a vida presente e proporciona a educação para a vindoura. Ela põe ao homem em condições tanto para viver como para morrer sem temor, prepara tanto para o trabalho como para o sofrimento. Daqui que o Senhor a escolheu como o meio mais a propósito para comunicar-nos a graça e mediante a mesma asegurar-nos para a glória.

Por certo, a fé nos serve melhor que qualquer outra coisa proporcionando-nos paz e alegria e descanso espiritual. Por que procuran o homem conseguir a salvação por outros meios? Disse um teólogo dos antigos: «Um criado néscio, a quem se manda abrir uma porta, põe seu ombro contra a mesma empurrando com todas suas forças, mas a porta não cede, não se move, e não pode entrar por mais que se esforce. Outro vem com uma chave, abre a porta e entra com toda facilidade. Os que procuram se salvar por suas obras estão empurrando as portas do céu sem resultado algum; mas a fé é a chave que abre a porta imediatamente.» Querido amigo. Não quer se valer de tal chave? O Senhor manda crer em seu Filho amado, por isso mesmo deve fazê-lo, e fazendo assim viverá. Não é esta a promessa do evangelho: «O que crer e for batizado, será salvo»? (Mc. 16:16). O que poderá discutir contra um plano de salvação que se recomende perfeito tanto a misericórdia como a sabedoria do Deus da graça?

AI DE MIM! NADA POSSO FAZER

Depois de ter aceito a doutrina da reconciliação e compreendido a grande verdade da salvação mediante a fé no Senhor Jesus, o coração atribulado se inquieta muito com frequencia por um sentimento de incapacidade com respeito a prática do bem. Muitos suspiram, dizendo: Ai de mim; nada posso fazer! E não dizem no sentido de desculpa, mas o sentem como carga pesada diariamente. Fariam o bem se pudessem. Cada um destes poderia dizer francamente: «Porque o bem que quero fazer este não o faço» (Rm. 7:18).

Esta experiência parece fazer todo o evangelho nulo e sem efeito; pois para que serve o alimento, se está fora do alcance do faminto? Para que serve o rio da água viva, se o sedento não pode beber? Concordamos aqui da anedota do médico e do filho da mãe pobre. O médico disse a mãe que seu filhinho melhoraria sob um tratamento próprio do caso, sendo absolutamente necessário que com toda regra tomar do melhor vinho de Porto e que passasse uma temporada nos banhos termais de Alemanha. Receita para o filho de uma mãe pobre que

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apenas tinha pão para levar à boca! Assim o evangelho não parece a alma ansiosa coisa tão simples ao dizer. «Crê, e viverás,» porque pede ao pobre pecador que faça o que não pode fazer. Para o verdadeiramente desperto, mas pouco instruido, parece faltar uma esmola a cadeia. Ao distante está o remédio, mas como obter? A alma se sente sem forças e não sabe que fazer. Está perto, a vista da cidade de refúgio, mas não pode entrar pela porta.

Não se tinha em conta esta falta de força no plano da salvação? Claro que sim! A obra do Senhor é perfeita. Esta começa por onde nos achamos, e nada nos pede para aperfeiçoá-la. Quando o bom samaritano viu o viajante ferido estendido no caminho meio morto, não pediu que se levantasse, e, montasse no seu jumento e se dirigisse a pousada. Não, não. Se aproximou, atou suas feridas e o colocou sobre sua cavalgadura e o conduziu a estalagem. Assim nos trata Jesus em nosso estado lamentável.

Temos visto que é Deus o que justifica, que justifica aos ímpios e que os justifica mediante a fé no precioso sangue de Jesus. Agora vamos ver a condição na qual se acham estes ímpios ao começar Jesús a salvá-los. Muitas pessoas por ver sua condição, não somente se acham atribuladas com motivo dos seus pecados mas com motivo da sua fraqueza moral. Carecem de forças para escapar do lodo em que caiu e de cuidar do mesmo no porvir. Não só se lamentam pelo que fez, mas pelo que não podem fazer. Se sentem sem forças, sem recursos, sem vida espiritual. Parece estranho dizer que se sentem mortos, e não obstante assim. Em sua própria auto-estima são incapazes de todo bem. Não podem andar pelo caminho do céu por ter as pernas machucadas. Tanto se sentem sem forças. Felizmente está escrito como recomendação do amor de Deus para conosco: «Porque Cristo quando nós ainda éramos fracos morreu a seu tempo pelos ímpios» (Rm. 5:6).

Aqui vemos a incapacidade consciente socorrida: socorrida pela intervenção do Senhor Jesus. Nossa nulidade é completa. Não está escrito: «Quando ainda éramos fracos, Cristo morreu por nó,» ou «quando só tínhamos um pouco de força,» mas a afirmação é absoluta, sem limitação, «Quando ainda éramos fraco.» Nos faltava toda força para ajudar-nos na obra da salvação. As palavras de nosso Senhor eram verdadeiras, «Porque sem mim nada podeis fazer» (João 15:5). Poderia ir mais além do texto e recordar do grande amor com que o Senhor nos amou, «ainda estando nós mortos em nossos pecados.» O achar-se morto é ainda pior que achar-se sem forças.

O grande fato em que o pobre pecador sem forças deve fixar a sua mente e reter firmemente como único fundamento de esperança, é a afirmação Divina que «a seu tempo morreu pelos ímpios.» Crê nisto e toda incapacidade desaparecerá. Como diz a fábula do Rei Midas, que tudo transformava em ouro por seu toque, assim se pode afirmar de verdade com respeito a fé que tudo o que toca fica bom. Nossas mesmas faltas e fraquezas voltam em bençãos, quando a fé entra em contato com elas.

Fixemo-nos em certas formas desta falta de força. Agora, dirá alguém: «Me parece que não tenho força para concentrar meu pensamentos nos assuntos solenes no que diz respeitoa minha salvação; quase não posso fazer uma breve oração. Acaso isto é assim, em parte devido a minha fraqueza física, em parte por ter-me prejudicado por algum vício, em parte também por minhas aflições desta vida, de modo que sou incapacitado para os pensamentos elevados que se requer para a salvação da alma.»

Tal é uma forma de fraqueza pecaminosa muito comum. Atenção agora! Neste ponto se acha equivocado; e há muitos como você. Muitos que seriam de tudo incapazes de uma série de

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pensamentos consecutivos, por muito que se esforçaram. Muitas pessoas pobres de ambos os sexos carecem de educação, achando um trabalho muito difícil e de presunção ter pensamentos profundos. Outras pessoas são por natureza tão superficiais que um argumento de raciocínio longo, lhes seria tão difícil como querer voar como uma ave. Não chegariam ao conhecimento de nenhum mistério profundo, ainda quando gastaram toda sua vida em tal empresa. Portanto, você, não necessita desesperar, o que se requer para a salvação não é um processo de pensamento contínuo, mas uma simples confianza em Jesus. Una a este fato «Cristo, a seu tempo morreu pelos ímpios» Esta verdade não requer da tua parte exame profundo, raciocínio lógico, nem argumento convincente. Ali está, «Cristo, a seu tempo morreu pelos ímpios.» Fixa sua mente nele e permanece ali.

Olhe que este grande fato glorioso de graça permaneça em seu espírito até que perfume todos seus pensamentos e te regozije o coração, ainda que se ache sem forças, tendo ao mesmo tempo presente que o Senhor Jesus veio a ser sua fortaleza e canção, sim, veio a ser sua salvação. Segundo as Escrituras é um fato divinamente revelado que a tempo devido Cristo morreu pelos ímpios sendo eles ainda fracos, sem forças. Talvez tenha ouvido estas palavras centenas de vezes, mas sem ter compreendido nunca seu significado. São de sabor agradável verdade? Jesus não morreu pela nossa justiça mas por nossos pecados. Não veio salvar-nos porque merecíamos ser salvos, mas porque éramos inteiramente indignos, arruinados, inúteis. Não veio ao mundo por alguma boa razão que houvesse em nós, mas exclusivamente pelas razões que achava nas profundidades do seu amor divino. A seu tempo morreu pelos que ele mesmo afirma não eram piedosos mas ímpios. Ainda quando tiver pouca mentalidade, fíxa nesta verdade tão apropriada a menor capacidade mental, e que, não obstante, pode alegrar o coração mais pesado. Deve este texto ocupar sua mente qual grato recordo até encantar seu coração e dar cor a todos seus pensamentos, e então nada importará que estes estejam tão disseminados como as flhas dispersas pelo vento do outono. Pessoas que nunca brilharam nas ciências, nem deram prova alguma de originalidade mental, foram muito capazes de aceitar a doutrina da cruz e foram salvas por ela. Por que você não?

Ouço outro lamentar «Minha falta de força consiste principalmente em não poder arrepender.» Singular ideia que alguns tem do que é o arrependimento! Muitos imaginam que se deve derramar tanta lágrima, exalar tanto suspiro, sofrer tanto desespero. De onde nos vem ideia tão errônea. A incredulidade e o desespero são pecados, e portanto não vejo como podem constituir parte de um arrependimento que Deus pede. Entretanto, há pessoas que consideram parte da verdadeira experiência cristã. Mas nisto se equivocam grandemente. Não obstante, compreendo o que querem dizer, porque nos dias em que estava em trevas, eu sentia o mesmo. Desejava arrepender-me pensando que não podia fazê-lo, e o certo é que todo esse tempo estava arrependido. Estranho como soa. Me doía que não pudesse sentir. Ia me meter em algum canto e chorar, porque não podia chorar, e sofria amargamente porque não podia sofrer a causa dos meu pecados. Quanta confusão!, quando em nosso estado de incredulidade começamos a julgar com nossa condição espiritual, parecemos como o cego olhando seus próprios olhos. Se derretia o coração de temor, porque cria que meu coração era duro como uma pedra. Meu coração estava quebrantado em pensar que não se quebrantava. Agora compreendo que então estava dando mostras de possuir precisamente as coisas que cria não possuir; mais não sabia onde me achava.

Oxalá que pudesse ajudar a outros a encontrar a luz que hoje desfruto! Quanto queria dizer uma palavra que abreviasse o tempo de transtorno em que se encontra! Desejaria dizer umas palavras sinceras, pedindo ao Consolador as aplicar ao seu coração.

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Concordo de que o homem verdadeiramente arrependido nunca fica satisfeito do seu arrependimento. Tampouco como podemos viver perfeitamente, podemos arrepender-nos perfeitamente. Por puras que sejam nossas lágrimas, sempre fica nelas alguma impureza; fica algo do que arrepender-nos de nosso arrependimento. Mas escuta. O arrepender-se significa mudar de mente acerca do pecado, acerca de Cristo e acerca de todas as grandes coisas de Deus. Nisto está incluído a dor, mas o ponto principal é voltar o coração, do pecado a Cristo. Se existe em ti esta volta, possui a essência do arrependimento, ainda quando o desespero e sobressalto não lançam sombra alguma sobre sua mente.

Se não pode arrepender-se como queira, achará auxílio no caso, se crê firmemente que «a seu tempo morreu pelos ímpios.» Pensa repetidas vezes nisto. Como poderá continuar com o coração endurecido tendo presente que o Cristo de amor supremo, morreu pelo ímpio? Permita-me te convencer que pense de ti como «Impio como sou, ainda que meu coração de pedra não amoleça e em vão me pegue no peito, não obstante ele morreu pelos que são como eu, que morreu pelos ímpios. Queira Deus que creia nisto e sinta eu seu poder em meu coração endurecido.»

Apague todo outro pensamento da sua mente e sinta horas inteiras meditando nesta manifestação excelsa de amor sem par, imerecida e inesperada: «Cristo morreu pelos ímpios.» Leia cuidadosamente a narração da morte do Senhor, como consta nos quatro evangelhos. Se há algo capaz de amolecer seu duro coração, será a contemplação dos sofrimentos de Jesus, considerando que em tudo padeceu para bem dos seus inimigos.

Crucificado num madeiro,

Manso cordeiro, morres por mim;

Por isso a alma triste chora

Suspira ansiosa, Senhor, por ti.

Olho tua angústia já terminada,

Feita a oferenda da expiação,

Teu nobre fronte entristecer, inclinada,

E consumada minha redenção.

Doces momentos, ricos em dons

De paz e graça, de vida e luz!

Só há consolos e bençãos

Perto de Cristo junto a cruz.

Certamente a cruz, é dizer o que simboliza, é o poder milagroso que faz brotar água da pedra. Se entiende bem o significado do sacrifício divino de Jesus, se arrependerá fortemente de ter se oposto alguma vez a um Salvador tão cheio de amor. Escrito está: «Olharão para aquele a

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quem traspassaram, pranteá-lo-ão como quem pranteia por um unigênito e chorarão por ele como se chora amargamente pelo primogênito» (Zc. 12:10). O arrependimento não te fará ver a Cristo, mas, o olhar para Cristo fará que te arrependas. Não deves fazer de Cristo um produto de teu arrependimento, mas, deves olhar a Cristo para que dele te resulte o arrependimento. O Espírito Santo, tornando o rosto a Cristo, nos faz retornar a espalda ao pecado. Portanto, retorna do efeito a causa, a saber de teu próprio arrependimentoao Senhor Jesus o qual foi «enaltecido para dar arrependimento.»

Tenho ouvido outro dizer. «Pensamentos terríveis me atormentam. Onde quer que eu vá, ultrajes me atingem. Tentações malignas me acusam no trabalho e ainda no leito me despertam inspirações do maligno. Não consigo me livrar dessa tentação.» Amigo, compreendo o que queres dizer, porque o mesmo lobo também me tem perseguido. Mais fácil seria vencer a um exército de moscas com um sabre do que dominar os pensamentos captaneados pelo demônio. A alma tentada, destemida pelas sugestões satânicas, se parece com um viajante, cuja cabeça, orelhas e corpo inteiro foi atacado por um enxame de abelhas. Não foi possível se distanciar delas, nem mesmo fugir, de forma que elas o picaram por toda parte, deixando-o semi morto. Não me espanto em te ouvir dizer que te falta forças para por fim a eses pensamentos horríveis e abomináveis, com os quais o diabo inunda tua alma. Não obstante quero te lembrar desse texto: «Porque Cristo,quando nós ainda éramos fracos morreu a seu tempo pelos ímpios» (Ro. 5:6).

Jesus sabia de que estado nós falavamos e em que estado nos encontrávamos; via que não podíamos vencer o príncipe das potestades do ar; sabia que nos moeria terrivelmente, porém precisamente, vendo-nos nesta condição, morreu pelos ímpios. Lança a âncora da tua fé sobre este ato. O mesmo demônio nâo poderá te dizer que você não é um impío; creia, pois, que Cristo mureu por você. Lembras de quando Martinho Lutero, esmagou acabeça da serpente com sua própria espada. Aí! Satanás lhe disse, « você é pecador.» «Certo,» Lutero respondeu, «Cristo morreu para salvar os pecadores.» Assim lhe venceu com sua própria espada. Esconda neste refúgio e segure-se nele; «Cristo, a seu tempo, morreu pelos ímpios.» Se te refugias nesta verdade, os pensamentos blasfemos que tu não podes afugentar, o motivo de tua fraqueza, se apartarão de ti por si mesmos; porque Satanás verá que não conseguirá atormentá-la mais.

Se odeis tais pensamentos, não são teus são na verdade inspiracções do diabo pelo quales ele é responsável e não você. Se você luta contra eles, tão pouco são teus, assim como as blasfêmias e mentiras dos agitadores na rua. Por meio desses pensamentos o demônio intenta levar-te ao desespero, ou até mesmo te impedir que confies em Jesus. A pobre mulher enferma não pode se aproximar de Jesus por causa da multidão, e você está nesta condição semelhante a causa da multidão de maus pensamentos que te oprimem. Entretanto, ela estendeu o dedo e tocou o vestido do Senhor, e ficou curada. Então faça o mesmo.

Jesus morreu pelos culpados «por toda ordem de pecado e blasfêmia;» e pelo mesmo estou seguro de que não expulsará os que sem querer são acusados pelos maus pensamentos. Lança confiando sobre ele, pensamentos e tudo mais, e verás como ele é poderoso para te salvar. Ele porá fim a essas inspirações do maligno e te fará ve-las em sua verdadeira luz, para que não te atormentem mais. Ele quer e pode te salvar, de modo que podes finalmente desfrutar da perfeita paz. Somente confie nele com respeito a isto e com as demais coisas.

Desconcerto doloroso é a forma de incapacidade que consiste na suposta falta de poder para crer. Não nos é estranho o lamento que diz:

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Com tal que crer pudesse,

Mui grato eu seria:

Não posso, se bem quisesse;

É tal a miséria minha.

Muitos ficam às escuras por anos e por falta, como dizem, de poder fazer o que na realidade não é para fazer mas o abandono de todo poder para entregar ao poder de outro, ao Senhor Jesus. É verdade que todo este assunto de crer é coisa muito singular, porque as pessoas que se esforçam no sentido de procurar crer, não acham auxílio na empresa. A fé não vem por tratar ou procurar crer. Se alguém me relatasse algo que ocorreu esta manhã, não diria eu que procuraria crer. Se não fosse uma pessoa confiável, não creria naturalmente; mas nenhum caso teria lugar para tal coisa como procurar crer. Agora, declarando Deus mesmo que em Cristo Jesus há salvação, forçadamente devo crer em seguida, ou tratar como mentiroso. Por certo que não duvidaria a respeito ao que seja o reto proceder neste caso. O testemunho de Deus deve ser verdadeiro, e sendo assim nos achamos sob a obrigação de crer sem demora.

Mas, talvez tem procurado crer demasiadamente. Não aspires a coisas exorbitantes. Contente-se com uma fé que abarca esta verdade «Cristo, quando ainda éramos fracos, a seu tempo morreu pelos ímpios.» Ele deu sua vida pelos homens quando ainda não criam nele, nem eram capazes de crer nele. Morreu pelos homens não como crentes mas como pecadores. Ele veio para fazer estes pecadores crentes e santos; mas ao morrer por eles olhava como de todo sem forças. Se te afirma na verdade de que Cristo morreu pelos ímpios e o crê, sua fé te salvará e poderá ir em paz. Se quer confiar sua alma ao Senhor Jesus que morreu pelos ímpios, é salvo, ainda quando todavia não possa crer em todas as coisas, nem mover as montanhas, nem fazer outras coisas maravilhosas. Não é a grande fé que salva mas a verdadeira fé; e a salvação não está na fé, senão no Cristo, em quem a fé confia. Uma fé tão pequena como um grão de mostarda basta para trazer a salvação. Não é a medida da fé a que se toma, e sim a sinceridade da fé. Certamente o homem pode crer o que sabe que é a verdade; e como sabe que Jesus é verdadeiro, seu amigo, pode crer nele.

A cruz que é o objeto da fé é também, pelo poder do Espírito Santo, a fonte da mesma. Sinta e contemple no espírito ao Salvador moribundo até que brote a fé espontâneamente do coração. Não há lugar melhor que o Calvário para produzir a confiança. Quem põe seu olhar no significado desse monte, tem proporcionado vigor a sua fé. Muitos que ali tem contemplado ao redentor, tem dito:

Olhando-o ferido, moribundo

Em vil madeiro como delinquente,

A fé em ti, Senhor, no profundo

Do coração nascer se sente.

« Ai de mim! » diz outro. «Minha falta de força consiste em que não posso abandonar o pecado e se bem que não posso ir ao céu carregado de pecado.» Me alegro de que saiba isto, porque é a pura verdade. É preciso divorciar do pecado para casar com Cristo. Lembra a

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pergunta que entrou na mente de João Bunyan ocupado em seus jogos no dia de domingo: Quer guardar seus pecados e ir para o inferno ou abandonar seus pecados e ir para o céu? Isto o deixou confunso. Esta é uma pergunta que todo homem terá que responder, porque continuar no pecado e ir para o céu é impossível. É preciso abandonar o pecado ou abandonar a esperança.

Se responde: «Sim, vontade não me falta. Eu quero, mais fazer o que desejo, não consigo. O pecado me domina e não tenho forças,» Vem, pois, se não tem força, ainda há remédio neste texto. «Cristo, quando ainda éramos fracos, morreu pelos ímpios.» Pode crer nisto? Por mais que certas coisas, o contradizem, quer crer? Deus disse; é um fato, e portanto, aceite-o por amor de sua alma, porque ali está sua única esperança. Creia e confie em Jesus, e pronto achará poder para aniquilar seu pecado; mas aparte-se de Cristo, o «homem forte armado» tratará para sempre como escravo.» Pessoalmente nunca poderia vencer a minha natureza pecaminosa. Procurava, mas fracassei. Minhas más inclinações me eram demasiado numerosas, até que, crendo que Cristo morreu por mim, entreguei minha alma culpada em seus braços, e então recebi poder para vencer meu próprio eu pecaminoso. A doutrina da cruz pode ser usada para combater o pecado como os guerreiros antigos usavam as espadas formidáveis de dois gumes, dizimando o inimigo a cada golpe. Nada há como a fé no amigo dos pecadores, esta vence todo mal. Se Cristo morreu por mim, ímpio como sou, fraco como me encontro, consequentemente não posso viver mais no pecado, mas que devo crescer em amor e serviço de quem me redimiu. Não posso julgar com o mal que matou meu melhor Amigo. Devo ser santo por amor a ele mesmo. Como posso viver no pecado sendo assim que ele morreu para me salvar do pecado?

Olhe quão glorioso remédio isto é para ti que carece de forças, o saber e crer que a seu tempo Cristo morreu pelos ímpios como você. Entendeu agora? É tão difícil para muitas mentes obscurecidas, pervertidas e incrédulas ver a essência do evangelho. As vezes penso em acabar a pregação que tão claramente declarei o evangelho que os mais torpes o deveriam ter compreendido; entretanto, notei que os ouvintes não compreendem o que é: «Olhai para mim e sereis salvos» (Is. 45:22). Os convertidos dizem geralmente que até tal ou qual dia não compreendem o evangelho. E isto apesar de tê-lo ouvido, não por falta de explicação, senão por falta de revelação pessoal. O Espírito Santo está disposto a conceder aos que pedem. Mas, depois de concedida, a suma total do revelado está contida nas palavras: «Cristo morreu pelos ímpios.»

Ouço outro queixar-se como segue: Ai, ai! Minha fraqueza consiste em não poder permanecer firme. O domingo ouço a palavra e me impressiona; mas durante a semana dou com um mal companheiro e desaparecem minhas boas intenções. Meus companheiros de trabalho não creem em nada e dizem tantas barbaridades. Eu não sei como respondê-los, e assim fico derrotado. Eu compreendo; mas ao mesmo tempo, se é sincero, te direi que há remédio para sua fraqueza na graça Divina. O Espírito Santo, tem poder para tirar o espírito de temor. Ele pode fazer valente o covarde.

Concorde, amigo, que não deve ficar nesse estado. Não convém de nenhum modo que seja falso para contigo mesmo. Aqui não se trata simplesmente de um assunto espiritual, mas de resolução comum. Muitas coisas faria para agradar meus amigos, mas ir ao inferno para agradá-los, isso sim que não faria. Bom é fazer algumas coisas para ter a amizade, mas, muito mal se paga manter a amizade com o mundo, a custa da amizade com Deus. «Isso sei,» diz, mas apesar de saber me falta ânimo. Levantar a bandeira, isso não me atrevo. Me falta força

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para viver firme. Agora, te trago o mesmo texto: «Cristo, ainda quando éramos fracos, a seu tempo morreu pelos ímpios.»

Se o apóstolo Pedro estivesse aqui, nos diria, «O Senhor Jesus morreu por mim, quando era eu tão fraco que pelas palavras de uma criada comecei a mentir e jurar que não conhecia o Senhor.» Sim; Jesus morreu por aqueles fracos que o abandonaram fugindo. Firma nesta verdade, «Cristo, quando ainda éramos fracos, morreu pelos ímpios.» Grave isto bem em sua alma «Cristo morreu por mim,» e você estará disposto a morrer por Ele. Creia que ele sofreu em seu lugar, oferecendo por ti um sacrifício expiatório, pleno, verdadeiro e satisfatório. Se crer neste fato, então sentirá esta verdade. Não posso envergonhar de que morreu por mim, A convicção plena desta verdade, te infundirá valor irresistível.

Concorde com os santos da época dos mártires. Nos tempos primitivos do cristianismo, quando este pensamento do grande amor de Cristo, brilhava com fulgor infinito na igreja, não só estavam dispostos a morrer os cristãos, mas desejavam sofrer apresentando espontâneamente as centenas diante dos tribunais dos governantes perseguidores confessando a Cristo. Não digo que seja prudência convidar assim a morte cruel, mas o caso prova que um sentimento do amor de Cristo eleva o homem sobre todo temor do dano que o homem seja capaz de fazer ao crente. Por que não fará tal sentimento em ti? Oxalá que te inspire agora a determinação valente de colocar ao lado do Senhor e ser seu fiel seguidor até o fim!

Que o Espírito Santo nos ajude a chegar a este ponto pela fé no Senhor Jesus, e tudo será para bem nosso e para sua glória!

***

AUMENTO DA FÉ

Como conseguir que se nos aumente a fé? Esta é uma pergunta séria para muitos. Dizem que querem acreditar, mas que não podem. São propostos muitos absurdos em relação a este assunto. Sejamos práticos no caso.

Se necessita tanto senso comum aqui como em outros assuntos da vida. Que devo fazer para crer? Alguém perguntou a uma pessoa qual era a melhor maneira de fazer certa coisa, e se respondeu que a melhor maneira de fazê-la, era fazê-la, sem demora. Discutir modos e métodos, quando se trata de um ato simples, é gastar o tempo. Tratando de crer, o modo mais breve é crer em seguida.

Se o Espírito Santo te fez dócil e sincero, crerá prontamente como a verdade se apresente a ti. E a crerá, porque é a verdade. O mandamento evangélico diz: «Crê no Senhor Jesus e serás salvo» (At. 16:31) É inútil sair disto perguntando e refletindo. O mandato é claro, e deve obedecer.

Mas se realmente alguma dúvida te incomoda, leva em oração a Deus. Dê ao grande Deus Pai precisamente o que te perturba e peça que pelo Espírito Santo resolva o problema. Se não posso crer nas afirmações de um livro me é grato perguntar ao autor como ele entende o dito, e se for homem digno de crédito, me deixará satisfeita sua explicação divina dos pontos difíceis das Escrituras ao coração do verdadeiro buscando a verdade. O Senhor deseja fazer-se conhecido por aqueles que o buscam. Volte-se para ele para conhecer a verdade. Volte-se sem

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demora à oração e peça, «Oh Espírito Santo, guía-me em toda a verdade. O que não compreendo, ensina-me.»

Além disso, se a fé parece difícil, é fácil para Deus, o Espírito Santo pode fazer que você creia, se você ouvir muitas vezes o que te é ordenado a crer. Cremos em muitas coisas, porque temos ouvido muitas vezes; Não notou que na vida cotidiana que se ouve uma coisa cinquenta vezes ao dia, então você acredita? Por este processo muitos passaram a crer em coisas fantásticas, e portanto não me é estranho, se o bom Espírito abençoar este método de ouvir a verdade com frequencia, usando-a para produzir fé com respeito ao que se deve crer. Esta escrito «A fé vem pelo ouvir,» portanto ouça com frequencia. Se com sinceridade e atenção contínua ouvindo o evangelho, um destes dias me encontrarei crendo no evangelho, um dia destes me acharei crendo no que ouço, mediante a bendita operação do Espírito de Deus em minha mente. Somente tenha cuidado de ouvir o evangelho e não o que desperte dúvidas em tua mente, seja por discursos ou leituras.

Mas se isto te parece um mau conselho, continue; tendo em conta o testemunho de outros. Os samaritanos creram por causa do testemunho da mulher acerca de Jesus. Muitas de nossas crenças nascem do testemunho de outros. Creio que existe um país chamado Japão. Nunca o vi, e, entretanto, creio que existe tal país, porque outros o viram. Creio que morrerei, nunca morri, mas alguns dos meus conhecidos morreram, e portanto, estou certo de que morrerei também. O testemunho de muitos me convenceram do fato. Ouça, portanto, aos que te falam como foram salvos, como receberam o perdão, como transformou seu caráter. Se prestar atenção, notará que alguem precisamente como você foi salvo. Se for ladrão, descobrirá que outro ladrão lavou suas culpas no precioso sangue de Cristo. Se por desgraça tem sido desonesto, descobrirá que pessoas caídas como você foram levantadas, limpas e transformadas. Se te encontrar em condição desesperada e participa um pouco no culto do povo de Deus, logo descobrirá que alguns dos santos, foram tão desesperados como você, e descobriram verdadeiro prazer em contar como o Senhor os livrou. Conforme vai escutando um após outro dos que puseram a prova a Palavra de Deus, achando verdadeira, o Espírito Divino te conduzirá a fé.

Não ouviu falar do africano, o qual disse o missionário que em seu país a água ficava às vezes tão dura que o homem poderia andar por cima dela? Muitas coisas poderia crer o africano mas essa, nunca. Quando o negro veio uma vez a Inglaterra, pôde ver um rio gelado, mas não se atrevia a andar sobre o gelo. Sabia que o rio era profundo, e temia se afogar, se procurasse andar sobre o gelo. Não foi capaz de convencê-lo a tentar, até que viu seu amigo e muitos outros atravessar o rio sobre o gelo. Tão confiante, estava convencido e foi por onde outros passaram. Então você pode estar vendo outros acreditarem no Cordeiro de Deus e gostando de sentir paz e alegria, você é levado a acreditar mansamente. A experiência dos outros é o caminho de Deus através do qual leva a fé. Mas, no entanto, um dos dois, você tem que acreditar em Cristo ou morrer, não há esperança fora de Cristo.

Mas um plano melhor é este: Olhe para a autoridade em que está ordenado a acreditar, e isso vai ajudar muito. A autoridade não é minha, você pode muito bem recusar. Nem é de algum líder espiritual, que bem poderia suspeitar. É sobre a autoridade do próprio Deus que ordena que você creia. Ele mesmo te manda crer em Jesus Cristo, e não deve ser desobediente ao seu Criador. O capataz de certas obras muitas vezes tinha ouvido o evangelho, mas estava inquieto duvidando que talvez nunca iria a Cristo. Um dia, seu bom patrão lhe enviou um convite dizendo: "Venha à minha casa, logo que terminar o seu trabalho hoje" O capataz apareceu na porta do patrão, este entrou e disse bruscamente: "O que você quer, João porque

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me incomoda a esta hora? O dia de trabalho terminou, com que direito você vem aqui? Senhor, respondeu o capataz: recebi seu convite para que eu viesse aqui após o trabalho. Quer dizer que, só pelo motivo de receber um convite você acha que estou te convidando para vir a minha casa? "Bem, senhor", respondeu o capataz. Eu não entendo, mas acho que uma vez que você me convidou, eu tinha que vir. Pois entre João, disse o patrão, aqui eu tenho um outro convite para você. E sentando-se ele leu estas palavras: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mt.11: 28). Pense que, depois de receber esta mensagem de Cristo, que há de errado em vir a Cristo? Agora, o pobre capataz entendeu tudo imediatamente, e creu no Senhor Jesus para a vida eterna, agora ele sabia que tinha boa autoridade e garantia de crer. Portanto, sua pobre alma, tem o melhor poder de acreditar e vir a Cristo pela fé, porque o próprio Senhor manda confiar nele.

Se isso não produzir fé em você, pense no que você acredita, sabendo que o Senhor Jesus Cristo sofreu no lugar dos pecadores e é poderoso para salvar todos os que crêem nele. Aliás, este é o fato abençoado que a humanidade tem ouvido e deveria acreditar. O fato maior, a proposito, consolador e divino, que jamais chegou ao ouvido do homem. Eu aconselho você a pensar muito nisso, que esquadrinhe a graça e amor que contém. Estude os quatro Evangelhos e as epístolas de Paulo e veja que ele é digno de aceitação, e você será convencido a acreditar.

Se isso não for suficiente, medite sobre a pessoa de Cristo, pense sobre quem ele é, o que ele fez, onde está, e é. Como você pode duvidar dele. É cruel desconfiar sempre do verdadeiro Jesus. Nada fez para que merecesse desconfiança, do contrário, deveria ser fácil confiar nele. Por que crucificá-lo novamente com a nossa incredulidade? Não é coroar de espinhos e cuspir em seu rosto de novo? O quê? Não é confiável? Que maior insulto poderia jogar estes soldados? Ele foi feito um mártir, e você vai ser um mentiroso, ainda pior. Não pergunte: Como posso acreditar? Mas responde a outra pergunta: Como posso não acreditar?

Se nenhuma destas coisas te servir, há algo de fundamentalmente errado em você, e minha última palavra vai se submeter a Deus. Preconceito ou orgulho está no fundo de sua incredulidade. O Espírito de Deus te liberte da sua inimizade, tornando-o submisso. Para você é rebelde, orgulhoso, teimoso, e esta é a razão por que você não acredita em seu Deus. Cessa a tua rebeldia entregue as armas, humilhe-se, diante do seu rei. Acredito que nunca uma alma levantou os braços em desespero, exclamando: "Senhor, eu me rendo," se fé viesse a ser algo simples. A causa de sua incredulidade é que você está em disputa com Deus, determinado a seguir sua própria vontade e seu próprio caminho. Como você pode acreditar que tomou a glória de outro? Cristo disse. O eu orgulhoso é o pai da incredulidade. Renda-se, entregar-se a Deus, e assim vai ser fácil acreditar no Salvador. Que o Espírito Santo intervenha eficazmente em segredo em seu coração, levando-o a fé no Senhor Jesus, neste exato momento.

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Um sermão pregado em 17 de Julho de 1881, Por C.H. Spurgeon, No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres, Inglaterra

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A Fé, O que é? Como se Consegue?

"Porque pela graça sois salvos mediante a fé" (Efésios 2:8).

Neste sermão quero considerar especialmente as últimas palavras do texto: ". Pela fé" Mas, antes de chamar a atenção para a fonte de nossa salvação, que é a graça de Deus: "Porque pela graça sois salvos." Deus é cheio de graça, é por isso que os homens pecadores são perdoados, são convertidos, são purificados, em suma, são salvos. Eles são devido, não a qualquer coisa deles ou esteja neles, mas ao imenso amor, bondade, compaixão, misericórdia e graça de Deus.

Preste bem atenção no que acabamos de dizer, caso contrário, cometeremos um erro. Atente só na fé, que é o canal da salvação, virá esquecer a graça que é a origem e fonte da própria fé. A fé é a obra da graça de Deus em nós. "Ninguém pode dizer que Jesus é o Cristo, mas pelo Espírito Santo" (1 Coríntios. 12:3). "Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer" (João 6:44). Então, o que vir a Cristo ou a fé em outras palavras, é o resultado da atração divina.

A graça é a fonte e a corrente: a fé é o aqueduto pelo qual o rio de misericórdia flui, refrescando os mortais sedentos. Que pena que o condutor quebre algumas vezes! Perto do México apresenta o quadro sombrio de muitos aquedutos notáveis que já não conduzem água a cidade, pois os arcos estão quebrados e as maravilhosas obras estão em ruínas. É que o condutor deve ser mantido conservado, a fim de conduzir a corrente.

Assim, também a fé tem que ser forte e saudável, proporcionando um canal útil e direto entre Deus e nós e, assim, comunicar a graça à nossas almas.

1. Pergunta. O que é esta fé sobre o qual se diz "pela graça sois salvos, mediante a fé"? Muitas descrições da fé vieram à luz, mas quase todas que eu encontrei me fez compreender menos que antes de eu tê-las conhecidas. Espero que eu não incorra no mesmo erro.

A fé é o mais simples atos mentais. Talvez por essa simplicidade nos torna mais difícil de explicar.

O que, então, é a fé? Resposta: A fé se compõe de três elementos, a saber: conhecimento, crença e confiança.

1. Primeiro o conhecimento. Certos teólogos romanos, afirmam que o homem pode crer naquiilo que todavia não conhece. Talvez os romanos sejam capazes de fazê-lo, mas eu não. "Como crerão naquilo de quem nada ouviram?" (Ro. 10:14). Antes de crer em um fato, preciso estar totalmente inteirado dele. Creio em muitas coisas, mas, não posso dizer que creio em tudo que nunca ouvi. "A fé vem pelo ouvir." Temos que ouvir primeiro, e ver se convém crer ou não. "Em ti pois confiam os que conhecem o teu nome" (Salmo 9:10). Nosso grau de conhecimento é essencial para a fé; eis aqui a importância de adquirir conhecimento. "Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi e a vossa alma viverá" (Isaías 55:3). Tal foi a palavra do antigo profeta, e tal é a palavra do Evangelho. "Esquadrinhe as Escrituras" e aprendendo o que o Espírito Santo ensina acerca de Cristo e da salvação. Procure saber que Deus existe e que "É galardoador dos que o buscam" (Hebreus 11:6). Que ele os conceda espírito de conhecimento e de temor do Senhor! Isaías 11:2.

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Conheça o Evangelho, saiba o que são as boas novas, e como estas falam do perdão gratuíto e da mudança de coração, da adoção na família de Deus e de outras bençãos incontáveis.

Conheça a Deus, conheça seu Evangelho, e especialmente a Jesus Cristo o Filho de Deus, o Salvador dos homens, unido a nós por sua natureza humana e unido a Deus, visto que é divino, e portanto idôneo para obrar como mediador entre Deus e o homem. Jesus sabe colocar as mãos sobre os dois, servindo de elo o qual une o pecador com o Juíz de toda a terra.

Se esforce em conhecer mais e mais a Cristo. Paulo, depois de vinte anos de convertido, manifestou aos Filipenses que todavia desejava conhecer mais a Cristo. Fixa-se nisto: quanto mais conhecemos a respeito de Cristo, mais teremos o desejo de conhecê-lo a fim de que aumente nossa fé. A fé, contudo, começa com o conhecimento. Daqui se deduz a utilidade de ser instruidos na verdade divina, posto que o conhecimento de Cristo é vida eterna. João 17:3.

2. Em seguida, a inteligência se dispõe a crer nas coisas que são certas. A alma crê que há um Deus e que este escuta o clamor dos corações sinceros; que o Evangelho é de Deus, e que a justificação pela fé é a grande verdade que Deus tem revelado com suma clareza. Logo o coração crê que Jesus de fato e em verdade é nosso Deus e Salvador, o Redentor dos homens, o profeta, sacerdote e rei de seu povo.

Queridos ouvintes, rogo a Deus que desde já venhais a pensar nisto e passe a crer firmemente que "o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado" (1João 1:7); que o sacrifício consumado por ele é aceito por Deus como cabal e perfeito, por cujo motivo, aquele que crê em Jesus não tem condenação.

3. Pelas considerações anteriores já temos feito avanços consideráveis a respeito da fé. Com tudo isso, antes de completar a ideia da fé salvadora, é absolutamente necessário agregar outro ingrediente, a saber: a confiança. Entrega-os ao Deus misericordioso; ele fará com que sua esperança descanse no Evangelho da graça. Confia sua alma ao Salvador que uma vez morreu, mas, agora vive. Lavou seus pecados naquele sangue expiatório; aceitou a justiça perfeita, e tudo estará bem. A confiança é o sangue vivificador da fé. Sem esta confiança a fé deixa de existir.

II. A FÉ EXISTE EM VÁRIOS GRAUS, segundo os conhecimentos do Indivíduo e outras circunstâncias. Em alguns casos a fé não passa mais além do ato de assistir a Cristo.

1. Repare por um momento na madre silva que cresce em nossos hortos. Talvez esta fique estendida desordenadamente sobre o solo coberto de cascalho. Deixando a planta descansar sobre um arbusto, ou uma cerca. Desde cedo se agarra nestes objetos graças a uns ganchos providos pela natureza, com os quais se une a qualquer objeto que se lhe oferece.

De semelhante modo, todo filho de Deus tem em sua alma ganchos espirituais; quer dizer, pensamentos, desejos e esperanças, pelos quais se une com Cristo e suas promessas.

Ainda que tal fé seja de um caráter sincero, constitui, entretanto, um grau sumamente completo e eficaz.

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Poderíamos dizer que neste caso, o coração é a essência de toda a fé. Nos refugiamos a ela quando nos encontramos em grandes apuros, ou quando nos encontramos transtornados por alguma enfermidade, ou abatidos de espírito.

E como não nos resta outro recurso, nos penduramos em algum objeto, e isso é a alma da fé. Oh pobre coração! Se todavia não conhece tudo o que desejavas conhecer acerca do Evangelho, apega-te ao que já conheces. Se até agora te assemelhas somente a ovelha que penetra um pouco dentro do rio da vida, e não chegas a imitar ao leviatã, que faz revolver as águas do profundo mar até suas profundidades, nem por isso deixes de beber. Porque o beber, mais que o submergir-se, é o que te salvará. Assegure-se pois a Cristo; una-te a ele; abraçe-o, que isto é a alma da fé. Imite a madre silva.

2. Outra forma de fé é, quando um Indivíduo se associa com outro em virtude do conhecimento que tem da superioridade de seu companheiro, sendo consciente em seguir sob seu comando. Este grau de fé requer maiores conhecimentos que o anterior.

Um cego tem confiança em seu guia, porque sabe que ele vê. Anda confiadamente por onde seu guia o leva. Talvez seja cego de nascença, e desconhece o que é poder enxergar, mas sabe que existe, e seu amigo a possui. E assim ele com toda espontaneidade pega na mão do guía e segue seu caminho. Esta comparação ou imagen de fé, é a mais exata que podemos ideiar. Sabemos que Jesus tem em seus méritos, poderes e bençãos que nós não possuímos. Portanto, nos entreguemos alegremente a ele e nos sujeitemos à sua direção.

A criança que se encontra na escola é obrigado a acreditar nas explicações do seu professor. Este lhe ensina Geografía por exemplo, ensina sobre os continentes, os oceanos, os diversos países, cidades governos. A criança não pode saber por si só que estes dados sejam exatos, porém confía em seu profesor e nos livros postos em suas mãos.

Isso é precisamente o que tinhas que fazer com relação a Cristo, se é que desejas ser salvo. Você sabe disso porque ele lhe falou, e haveis de crer porque ele o assegurou disso, e podes confiar, porque ele lhe promete a salvação. Quase tudo o que você e eu sabemos, nós adquirimos mediante a fé.

Acaba de obter um descoberta científica, e confiamos em sua verdade. E em que baseamos nossa confiança? Na autoridade de certos sábios bem conhecidos, e cuja reputação está bem estabelecida. Não temos presenciado, nem temos praticado os experimentos destes senhores; a pesar disso, cremos em seu testemunho.

Assim deves fazer em relação a Cristo. Posto que ele o ensina certas verdades, de ser seu discípulo, crer em suas palavras e confiar em sua pessoa. Ele os supera infinitamente e se apresenta para o aceitares como mestre e Senhor. Se o aceitares e também à sua mensagem, sereis salvos.

3. Outro grau de fé, todavia superior, é o que nasce do amor. Por que a criança confía em seu pai? Pode ser que eu ou você saibamos mais a respeito daquele pai do que o filho, mas, nem por isso confiaremos menos nele. A razão pela qual o filho confia em seu pai, se encontra no amor que o primeiro tem pelo segundo.

Bem aventurado e felizes os que possuem uma doce fé em Jesus, a mistura de um amor profundo.

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Ficam encantados com seu caráter, satisfeitos com sua missão, e enlevados pela benignidade que sempre tem manifestado. Não podem deixar de confiar nele, haja visto que ele é muito admirado, reverenciado e muito amado.

Difícil é para alguém nos fazer duvidar da pessoa que amamos. Se em último caso nos vemos obrigados a isso, então surge a terrível paixão e o ciúmes, que é forte como a morte e cruel como o sepulcro. Mas, antes que venha o quebrantamento de coração o amor é pura confiança, completa segurança.

4. A fé realiza a presença do Deus vivo e do Salvador. Cria na alma uma certa tranquilidade e repouso parecido ao que ocorre na alma de uma criança durante uma tempestade. Sua mãe se assustava, mas a doce criança estava muito contente e aplaudía no momento em aparecia relâmpagos no céu, e gritava com brados de criança:

-Olha, mamãe Que bonito! Que bonito! sua mãe respondeu: -Filha fica,aí, o relâmpago me espanta. Mas a menina pedia se ela permitia contemplar a luz tão preciosa que Deus produzia em todo o céu. A questão era que ela estava segura de que Deus não faria nenhum mal à sua filha.

- Mas escuta o trovão terrível! Respondeu a mãe -. Não disse mamãe, que Deus fala no trovão? Sim, respondeu a mãe tremendo.

- Oh! disse a criança que é bom ouvir!, falando muito sério, mas eu acho que é porque ele quer que as pessoas surdas o ouçam. Não é assim mamãe?

E seguíamos conversando, feliz como um passarinho, porque Deus existia para ela, e ela confiava em Deus. Para ela um raio era luz preciosa de Deus e o trovão a voz maravilhosa de Deus, e isto a fazia feliz.

Atrevo-me a dizer que sua mãe sabia muito mais sobre as leis da natureza e de forças elétricas do que sua filha, mas esse conhecimento trouxe pouco conforto. O conhecimento da mãe seria pretensioso, mas em vez disso foram muito mais bem-sucedido e confortantes os da filha.

Eu por exemplo prefiro ser uma criança novamente, do que perverter-me com a sabedoria. A fé nos faz agir como crianças com Cristo, Crendo nele como uma pessoa real e presente, que está pronto a nos abençoar.

Talvez isto seja um sonho infantil; mas devemos chegar a tal simplicidade, se desejamos ser felizes no Senhor. "Eu garanto que se vocês não se tornarem como crianças, não entrarão no reino dos céus" (Mt. 18:3). A fé aceita a palavra de Cristo, assim como a criança confia em seu pai e com toda simplicidade confia o passado, o presente e o porvir. Que Deus nos conceda tal fé!

5. Outro grau da fé vem dos conhecimentos comprovados. A este tipo de fé acompanha o crescimento em graça: crê em Cristo visto que o conhece, e tem confiança nele, visto que Cristo se mostrou infalivelmente fiel. Esta fé não busca sinais nem notas, mas crê com ousadia.

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Veja a fé do marinheiro em seu navio. Eu o admiro. O marinheiro solta o cabo, e com impulso do vapor o navio se distancia do cais. Passam dias, semanas e até meses, sem que se encontre com outra embarcação ou terra. Entretanto, segue de dia e de noite impávido até que certa manhã se ache frente ao porto desejado, e para o qual veio navegando. Como descobriu a rota sobre o Oceano, que apaga todo rastro? Ele confiou em sua bússola, sua carta de navegação, seu telescópio e nos corpos celestes. Obedecendo as indicações destes auxiliares e sem avistar a terra, navega com acerto. Ao completar a viajem, não necessita mudar um ponto para entrar no porto. Que coisa maravilhosa navegar sem vista!

Falando agora espiritualmente, consideramos bem-aventurado aquele que, abandonando as coisas da vista, diz adeus às emoções interiores, às providências consoladoras, aos sinais e a tudo isso. Creia em Deus, e então se dirija para o céu. "Bem-aventurados os que não viram, e creram" (João 20:29). A eles será ministrada no fim uma entrada abundante no céu, e será concedido uma viajem próspera no caminho.

III. Concluiremos com o terceiro ponto. "COMO PODEMOS OBTER E AUMENTAR A FÉ?"

Esta pergunta seria para muitos. Dizem que desejam crer, mas, não podem. Cabe a nós, tratar de uma maneira prática e não suscitar questões absurdas. Em vez de perguntar, o que se tem de fazer para crer? Tão somente crer de uma vez, e não fixar-se em pequenas coisas. Tão logo saberemos o que é a fé, se desde então cremos o que aceitamos como certo. Se o Espírito Santo inspira em vós confiança e sinceridade crereis a verdade no instante em que esta vos for apresentada. Tens o mandamento de crer em Cristo, e sabendo que ele é seguro, vocês tem que confiar nele de uma vez. De todas as maneiras o mandamento é firme e claro: "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo."

1. Se tropeçais com alguma dificuldade, apresente-a a Deus em oração. Fale com o Pai sobre a vossa perplexidade, e rogai que por seu Espírito Santo resolva a dúvida. Se não posso aceitar alguma afirmação contida em um livro, permito interrogar o autor sobre o sentido de suas palavras. Com maior clareza, a explicação do Autor divino satisfará o investigador sincero. O Senhor está pronto para fazer-se conhecido. Recorra a ele e vereis se não é certo.

2. Depois se a fé parece difícil, se fará fácil ouvindo com frequência e com atenção as coisas que se manda crer. Cremos em uma multidão de coisas por ter ouvido tantas vezes. Não notou que na vida comum, se ouve uma coisa afirmada cinquenta vezes ao dia, no fim chegará a crer nela? Alguns por este método tem chegado a crer até no errado. Deus utiliza este método para obrar a fé em vocês acerca do que é certo: "A fé vem pelo ouvir" (Romanos 10:17).

3. Em caso de que tais conselhos pareçam inadequados, agregarei o seguinte: "Ouçam o testemunho de outros." Os samaritanos creram no que a mulher disse acerca de Jesus. Muitas de nossas crenças estribam no testemunho de outros. Creio, por exemplo, que há um país chamado Japão. Nunca vi, e entretanto, creio que existe, pois outros estiveram lá. Também creio que morrerei. Jamais tive essa experiência; mas muitos dos meus conhecidos morreram, e tenho a convicção de que eu também morrerei.

O testemunho de muitos convence da verdade. Escute, pois, àqueles que contam a maneira de como foram salvos, de como foram perdoados, e de como tiveram uma mudança

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em seu caráter. Escutando descobrirá que outros semelhantes a vocês tem alcançado a salvação.

Se for ladrão, descobrirá que outro ladrão lavou suas culpas no precioso sangue de Cristo. Se por desgraça tem sido desonesto, descobrirá que pessoas caídas como você foram levantadas, limpas e transformadas.

Se te encontrares em condição desesperada e participa um pouco no culto do povo de Deus, logo descobrirá que alguns dos santos, foram tão desesperados como você, e descobriram verdadeiro prazer em contar como o Senhor os livrou. Conforme vai escutando um após outro dos que puseram à prova a Palavra de Deus, achando verdadeira, o Espírito Divino te conduzirá a fé.

Não ouviu falar do africano, o qual disse o missionário que em seu país a água ficava às vezes tão dura que o homem poderia andar por cima dela? Muitas coisas poderia crer o africano mas essa, nunca. Quando o negro veio uma vez a Inglaterra, pôde ver um rio gelado, mas não se atrevia a andar sobre o gelo. Sabia que o rio era profundo, e temia se afogar, se procurasse andar sobre o gelo. Não foi capaz de convencê-lo a tentar, até que viu seu amigo e muitos outros atravessar o rio sobre o gelo. Tão confiante, estava convencido e foi por onde outros passaram.

Assim que, ao ver outros crendo, e ao notar a alegria e a paz de que desfrutam, nós seremos persuadidos suavemente a confiar em Cristo. Este é um dos métodos utilizados por Deus para ajudar na fé por seu bom Espírito.

4. Outro plano porém melhor é o seguinte: olhe na autoridade que os ordena acreditar. Isto ajudará muito. A autoridade não é minha; em tal caso poderia com razão rejeitar. Nem é a do Papa, porque poderia rejeitar também. A fé é mandada por Deus. Ele manda crer em Cristo e não podemos negar obediência a seu Criador.

O capataz de certa fábrica no norte da Inglaterra havia ouvido muitas vezes o evangelho, mas estava com medo de que não poderia ir a Cristo. Seu chefe um dia enviou um convite que dizia:

Venha a minha casa logo que terminar o trabalho. O capataz parou à porta da casa do seu chefe. Saindo ele, disse bruscamente:

-O que quer, João? Por que me incomoda a esta hora? O trabalho acabou. O que faz aqui? Senhor disse seu empregado -recebi um convite seu avisando para que viesse depois de concluir o trabalho.

-Quer dizer que, simplesmente porque recebeu meu convite, por isso teve de vir a minha casa e incomodar-me depois do trabalho?

-Mas senhor -respondeu o capataz- não entendo. Mas me parece que ao mandar para mim, eu tinha obrigação de vir.

-Entendo João, disse seu chefe -tenho outro recado que desejo ler. E logo se sentou, e leu as palavras seguintes:

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"Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, que eu vos aliviarei." -Crê que depois de receber semelhante mensagem de Jesus, seria uma imprudência aceitar tal convite?

O pobre capataz compreendeu de uma só vez todo o negócio, e creu. Entendeu que tinha boa autoridade e capacidades suficiente para fazer.

5. Se todas estas sugestões não firmam vocês na fé, pense no que haveis de crer: que o Senhor Jesus sofreu no lugar dos homens, e pode salvar a todos os que confiam nele. Pois este é o fato, o mais precioso, o que se pede aos homens que creiam; a verdade mais consoladora e divina que jamais se puseram à vista dos homens. Eu os aconselho que mediteis muito sobre isso, e que esquadrinhem o amor e graça que contém.

6. Se ao fim as indicações feitas não forem o bastante, pense na pessoa de Cristo. Pense no que é, no que fez, no lugar em que habita, e na glória de seu estado exaltado. Pense muito e profundamente acerca do Filho de Deus, e o Espírito Santo gerará a fé em seus corações.

***

 Tarefa lição 2 Somente a Fé

1. Tem o homem livre arbítrio? Explique2. O homem é responsável pela sua salvação? Por que?3. É responsável por sua santificação? Por que?4. O que é a fé?5. Como se pode explicar a fé?6. Por que nos salvamos pela fé?7. Que preciso fazer para ter fé?8. Como se aumenta a fé?9. Como se obtém a fé?10. Quando foi tomada a decisão de nos salvar? Responda bíblicamente.11. É por causa da fé, ou da graça que somos salvos? 12. O que é a fé e do que se compõe segundo Spurgeon? 13. Por que Deus salva por meio da fé? 14. Pode Deus aceitar uma pessoa que tire menos que dez no cumprimento aos

mandamentos? Que pessoa pode tirar dez frente ao cumprimento da lei de Deus?15. É a justificação de forma restrita, simplesmente o perdão de pecados? 16. Qual é o papel, de cada pessoa da trindade na obra de salvação? 17. Qual é a base de nossa justificação? 18. Quando foi tomada a decisão de justificar-nos?19. A justificação oficial da parte de Deus, quantas vezes pode ser dada?

Caro aluno, leve em consideração que suas respostas devem ser dadas de acordo com os principios estudados no texto. Isso não signfica que todas as respostas estão contidas diretamente no livro, mas digo que a maioria irá encontrar nele, e se caso não encontrar pode dar sua resposta, mas é claro explicando -a bíblicamente.

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LIÇÃO III

SOMENTE AS ESCRITURAS (Sola Scriptura)

SOMENTE A ESCRITURAS – MINTS – 28 DE FEVREIRO, 2003

Eugenio Line

As Escrituras são somente no sentido de ser autoridade absoluta. Há outras autoridades, mas são secundárias, sujeitas também às Escrituras inspiradas, a Palavra escrita de Deus. Entre as autoridades secundárias temos aos pais de família com seu filhos, os pastores com os outros membros da sua igreja, os dirigentes civis com os outros cidadãos, etc. Também são "autoridade" em certo sentido real todos os cristãos uns para com os outros, Hebreus 10.25. Os credos ou confissões da fé das igrejas, especialmente as do pasado, devem exercer influência significativa sobre a fé e a conduta do povo de Deus, pois são o fruto de uma reflexão profunda, erudita, piedosa e comunitária eclesiástica. Mas, tenhamos em mente que as autoridades secundárias são secundárias, sujeitas à Bíblia. Ao não fazer, corremos o risco gravíssimo de separar-nos em vaidades.

A Confissão Batista de Fé de 1689 em seu primeiro capítulo começa assim: "A Santa Escritura é a única regra suficiente, segura e infalível de todo conhecimento, fé e obediência salvadores."

A Confissão de Westminster, no artigo VI do primeiro capítulo, igualmente como A Confissão Batista, declara: "O conselho completo de Deus no tocante a todas as coisas necessárias para sua própria gloria e para a salvação, fé e vida do homem, ou está expressamente exposto nas Escrituras, ou se pode deduzir delas por boa e necessária consequência, e a esta revelação da sua vontade, nada há de acrescentar, nem por novas revelações do Espírito, nem pelas tradições dos homens".

A Confissão Belga aporta o tema com as seguintes palabras (Artigo 7): "Cremos, que esta Santa Escritura contém de um modo completo a vontade de Deus... assim não é permitido aos homens...ensinar de outra maneira que como agora se nos ensina pela Sagrada Escritura... Porque, como está vedado acrescentar algo à Palavra de Deus, ou diminuir algo dela (Dt. 4.2; 12.32; 30.6; Ap 22.19), assim daí se evidencia realmente, que sua doutrina é perfeitíssima e completa em todas as suas formas... Portanto, refutamos de todo coração tudo o que não concorde com esta regra infalível, segundo nos ensinaram os Apóstolos..."

Para que os credos se a Bíblia é absoluta? Para que as autoridades secundárias se Deus é absoluto? A resposta a estas perguntas é que assim Deus mesmo quis ordenar as coisas. Por exemplo, Deus poderia educar os filhos de uma família diretamente, mas resolveu fazer mediante seus pais. No mesmo sentido, Deus poderia edificar diretamente aos crentes em Cristo, mas descansou, segundo sua infinita sabedoria, valer-se de irmãos e pastores-mestres para ensinar e exortar.

Isto de Somente a Escritura é uma causa de muito regozijo. Que maravilhoso o fato de ter a Bíblia como autoridade absoluta única em todo assunto de crença e conduta! Assim nos guia a palavra infalível, completa e suficiente do Deus único, sábio e bom.

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PRESTE ATENÇÃO NAS SEGUINTES RAZÕES PARA FUNDAMENTAR-NOS EM SOMENTE A ESCRITURA:

1. A primeira razão: a Bíblia é a Palavra de Deus, revelada e inspirada por Ele. (Olhe as provas bíblicas para a inspiração divina das Sagradas Escrituras na páginas 23,24 do MANUAL DE DOUTRINA, Berkhof). Como palavra de Deus, as Escrituras são perfeitas (Ver L. Berkhof, MANUAL DE DOUTRINA CRISTÃ, o capítulo sobre "As Sagradas Escrituras", especialmente a seção sobre "As perfeições", e S. Waldrom, EXPOSIÇÃO DA CONFISSÃO BATISTA DE FÉ DE 1689, PP. 28-57.

Entendemos e aceitamos o caráter divino das Escrituras por razão do testemunho que Deus mesmo dá nelas e com elas. Elas, pois, são sua própria autoridade por razão do que são. Não nos é permitido colocar outra autoridade como juiz sobre elas. Fazer seria colocar uma autoridade humana sobre a divina. Mais alta que Deus, não pode haver. Querer que sua palavra seja confirmada por outra é duvidar da palavra de quem não pode mentir e dar mais crédito a quem, sim, pode.

Não é correto pensar em comprovar a autoridade da Bíblia valendo da Bíblia mesma? Claro que sim, mas não é possível pensar de outra forma. Todo mundo começa aceitando como verídica alguma autoridade, seja ou não consciente de estar fazendo assim, e, logo, pensa desse ponto de partida para afirmar que fazer assim era correto, que essa autoridade era válida. Veja em A VOZ DA AUTORIDADE, G. Marston, pp. 51-55.

Sendo a Bíblia a Palavra de Deus, observamos suas perfeições:

Sua autoridade . Deve ser óbvio que se a Bíblia é a Palavra de Deus, logo suas criaturas tem que submeter-se inquestionável e absolutamente a tudo o que ensina ou manda. O homem com seu intelecto deve entendê-la, mas não tem direito de julgá-la. Deve receber como certo tudo o que diz porque é Deus que assim o diz. Claro, devem ser corretamente interpretadas, interpretadas por elas mesmas.

o Os profetas esperavam respeito dos ouvintes porque falavam sob a fórmula "Assim diz o Senhor". Por exemplo, Ezequiel 1.3; 3.16; 5.8; 6.1; 7.1,5; 11.14; 12.1; 13.1; 14.2, etc., etc., etc.

o O uso que fizeram Jesus Cristo e os apóstolos para confirmar com absoluta certeza e autoridade a verdade do ensinamento que apresentavam. Veja por exemplo em Jo. 10. 34,35; Lc. 24.27 e At. 15.16-18.

Sua clareza.

o Os autores bíblicos escreviam com a certeza de ser entendidos. 2 Tm 2.7; 2 Co 1.13.

o O caráter de Deus exclui uma literatura confusa, sobretudo quando o propósito de Deus era e é instruir para vida e como norma de juízo. Tito 1.2; Rm 2.12,13

o Outros textos que indicam a clareza das Escrituras. Sl 19.7; 119.105; 2 Tm 3.14-17; Pv 6.23; Jo 8.31,32

Sua suficiência. 2 Tm 3.14-17. São suficientes para assuntos da fé e prática diante de Deus, mas, obviamente não são suficientes para aprender matemática, etc. Entretanto,

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se bem que não são suficientes para ensinar-nos todas as áreas do saber humano, e são para ensinar-nos o uso das mesmas. Pense, por exemplo, em como o conhecimento da Bíblia leva um matemático a entender e usar melhor sua matemática.

Veja nos seguintes textos que Paulo confiava em que os leitores mediante as Escrituras teriam compreensão para fazer toda a vontade de Deus. 1 Tm 5.10; 2 Tm 2.21; Tito 2.7; 3.1.

Dois casos que ilustram a suficiência das Escrituras:

a. Lucas 24, a conversa de Jesus com os dois a caminho de Emaús b. Atos 15, O concílio de Jerusalém

Sua finalidade . Isto é uma dedução ou conclusão do fato da suficiência das Escrituras.

o São finalidades porque seu tema é Jesus Cristo. Lc 24:27,44; Jo 5.39. Cristo é a culminação da revelação e daquela redenção que é o tema básico da revelação, e por razão da qual basicamente a revelação foi dada. Ef 1.10; Gl 4.4,5; Col 2.1-3,9,10; At 2.16ss; 3.18-26; Hb 1.1-3. É dizer, o dia de JC, o dia de Deus, já chegou quando ele voltar. 2 Co 6.2; Mt 13.11,16,17; 1 Pe 1.20; Heb 9.26,28; 1 Co 10.11; Col 1.16-20. Depois de Cristo, Deus não tem mais o que nos dizer, Jo 17.3-8, a não ser o que ele nos disse em sua palavra, nas Sagradas Escrituras. As revelações diretas eram mediante certos homens escolhidos e para certo tempo talvez Deus completará o processo da revelação progressiva.

São finalidades porque tem sido o costume de Deus colocar em forma escrita a palavra entregue. A lei de Moisés, por exemplo, Dt 4.1,2; 5.22; 9.10; 10.2,4; Ed 7.10; 3.2; Ne 8.1; 9:13,14; 10.34; 13.1. Os salmos 1,19,119 elogiam esta metodologia divina. Nos profetas, encontramos o mesmo: Is 5.24; 8.20; 58.2. As revelações diretas fora da Escritura foram a exceção, não a regra.

o São finalidades por razão do fundamento apostólico. Apóstolo, um personagem singular, Ef 2.20, At 1.21,22 (Se, a palavra é usada na Bíblia com um sentido mais amplo, Ro 16.7, mas, isto não anula o sentido técnico que geralmente se dá ao termo em Atos. 1.1,25,26; 2.37,42,43; 4.33,35; 5.2,12,18,40; 6.2; 8.1,14,18; 9.27; 11.1; 15.6,23. Olhe também Ap 21.14 e 22.18,19.

1. A segunda razão porque insistir em Sola Escritura é a realidade do ser humano.

a. É criatura. Sl 103.14,15; Eclesiastes; Jó; Ro 11.33-36. As Escrituras revelam verdades que a mente humana não é capaz de descobrir nem de compreender. O homem é finito. Havia necessidade da revelação desde o puro princípio para que o homem soubesse viver retamente.

b. É pecador. (A corrupção total do homem)

o A mente do homem caído é desviada de tal maneira que não compete julgar nem a doutrina nem a prática. Ro 1. 28; Col 1.21; 1Co 1.20,21; 2.14.

o A vontade escrava do homem não pode querer nem apreciar o bom. Toda a Bíblia relata o fracasso constante, repetido, e total do homem.

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1. A terceira razão para confessar a norma Sola Escritura é o que acontece quando esta norma não é respeitada.

a. O catolicismo – a tradição b. O pentecostalismo – a experiência c. O liberalismo – a razão

O desafio que o anterior implica: a atenção cuidadosa, abundante e constante, o estudo diligente e assíduo da Escritura. A inconsistência de defender a Bíblia e depois não escutá-la, não entendê-la e não obedecê-la. Mt 7.24-29; Deuteronômio; Jeremias 6.10,19; 7.13,24,26,28; 11.7,8; 13,10,11,17; 16.11,12; 17.23; 18.10; 19.15; 22.21; 25.3,4,7,8; 26.4,5; 29.19; 32.33; 34.14; 35.14,15,17; 44.4,5.

A AUTORIDADE DAS SAGRADAS ESCRITURAS

Todos sabemos. O mundo moderno tem lançado um desafio à fé cristã. Se aceitamos o desafio, uma das primeiras tarefas consistirá em definir nossa atitude com respeito à Bíblia.

Certamente, o problema da autoridade das Sagradas Escrituras não é novo. Desde os tempos mais antigos, o cristianismo soube se defender usando autoridade da Bíblia contra quem a criticava ou negava. Houve defesa também contra o descrédito em que chegou a tê-la o catolicismo romano em favor da tradição. Mas nos séculos XIX e XX a oposição contra a autoridade da Escritura não cessou de aumentar; e, ao cabo dos anos, a Igreja -e particularmente as igrejas de confissão reformada- teve de enfrentar uma corrente muito poderosa de crítica. Quando a Igreja cristã invoca a infalibilidade da Bíblia, sabe que tem que fazer frente á uma oposição quase-unânime; e não se trata simplesmente da oposição dos livre-pensadores declarados ou a do modernismo tal como o conhecemos na Europa e na América.

No século XIX, o célebre teólogo alemão Wilhelm Herrmann afirmou com força que a antiga teoria da inspiração que confessa que a Escritura é divinamente inspirada já não encontra aceitação entre os teólogos. Atualmente, um pouco em todas partes, tanto na igreja como entre certos teólogos, se tem como evidente que é impossível conservar a antiga doutrina da inspiração e da infalibilidade da Bíblia. E a forma particular que persiste em geral, hoje, esta atitude crítica em relação com a Escritura pode resumir-se na seguinte afirmação: Não existe identidade entre a Escritura e a Palavra de Deus. Identificá-las -dizem certos teólogos contemporâneos- é simplificar o problema.

Esta crítica deve comover não só a teologia reformada, mas sobre a Igreja inteira. Em nossos púlpitos, em nossas cátedras, em nossos cursos de instrução religiosa, em nossos lares, a Bíblia ocupa um lugar proeminente: o que merece o Livro que nos tem sido dado para a vida e para a morte. A Igreja especialmente a Igreja surgida, renovada, da Reforma-, concedeu acaso uma autoridade demasiada grande às Escrituras? Eis aí uma das questões mais importantes que todo membro de igreja deve responder na atualidade. Temos que examinar, pois, esta problemática antes de mais nada.

Os argumentos da "tradição crítica"

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Os críticos contemporâneos desenvolvem sem cessar dois argumentos contra a identificação cristã tradicional e reformada, sobretudo da Bíblia e a Palavra de Deus.

Em primeiro lugar, segundo alguns, nossa doutrina da inspiração das Escrituras se encontraria em notório conflito com as conclusões da investigação histórica e critica dos últimos séculos. A análise dos textos se oferece como prova da insuficiência da tese reformada quanto à ins-piração da Bíblia.

Em segundo lugar, se afirma que a identificação da Escritura Santa com a Palavra de Deus exclui a possibilidade de uma fé cristã entendida como confiança viva e pessoal. Uma fé que tivesse por objeto a totalidade da Bíblia. Para nossos críticos, isso não pode ser uma convicção real e pessoal; a fé e a confiança não podem entregar-se a uma Pessoa viva; por a fé na Bíblia, em lugar de pô-la em Deus, seria contrário à essência da fé cristã.

Destes dois argumentos, um pretende ser científico inspirado nas investigações históricas; o outro é de caráter religioso. Ignoro os dois, historicamente, teve mais influência; mas o efeito de ambos argumentos combinados tem sido considerável e as repercussões se sentem todavia hoje. Formam parte de um conjunto que se converteu a sua vez em uma nova tradição, a “tradição crítica”, e parecem tão evidentes a um número tão considerável de pessoas teólogos e não teólogos que o ponto de vista reformado é tido por uma tentativa isolada para salvar um conservadorismo estéril e para manter uma tradição justaposta que na atualidade é rigorosamente indefensível. Qualquer que refuta esta nova e recente tradição a “tradição crítica” recebe imediatamente o apoio de “fundamentalista”, de cego voluntário que se recusa levar em consideração fatos simples e irrefutáveis.

Os representantes contemporâneos desta “tradição crítica” tem que admitir, entretanto, que a Escritura tem um valor particular para a Igreja e para o indivíduo, para a vida e para a morte, ainda que não a aceitem como Palavra divina infalível. Para eles, a Escritura dá testemunho da Palavra, da verdadeira Palavra de Deus. Não é mais que isto: um testemunho da Revelação divina; mas, não pode ser, não pode ter sido jamais, a Palavra mesma, a mesmíssima Revelação. Se admite que a antiga doutrina da infalibilidade continha um elemento religioso: o ardente desejo de todo homem enquanto a certeza em matéria de salvação. Se reconhece assim seu valor, posto que a certeza é um elemento essencial na fé cristã. Mas nossos pais aumentaram e a ortodoxia se equivocou ao buscar a certeza aí onde não se encontrava e por meios equivocados. Assim como o catolicismo romano se extraviou, argumentam estes críticos ao buscar a certeza na infalibilidade do Papa, assim também a Reforma se descarrilhou ao buscar na infalibilidade da Bíblia. Buscar a certeza religiosa em uma Bíblia infalivel constitui -nos dizem- um irritante contrasentido, sobre tudo em nossa época, onde tudo é movimento, tudo é arriscado, tudo equivale ao “salto no vazio, para o desconhecido”. Em um mundo como o nosso, no que a ciência é a única autoridade, se nos prevém caridosamente que o persistir na defesa da doutrina reformada da infalibilidade da Escritura não pode conduzir mais que a resultados catastróficos, que são muitos os que, diante da impossibilidade científica de semelhante doutrina, refutarão não só a doutrina, mas também o que, sem duvida, estavam prestes a reconhecer: o valor religioso de uma Bíblia humana, de um testemunho falível.

Temos, pois, prevenidos das consequências possíveis e dos perigos que implicam a posição reformada com respeito à autoridade das Escrituras. A Bíblia não é mais que um testemunho humano da verdadeira revelação: tal é a atitude mais geralmente adotada pelos críticos contemporâneos. Para eles, a Bíblia é um testemunho falho, mas, apesar disso, é um

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testemunho que nos põe em contato com a revelação. É o que afirmava Emil Brunner em As conferências que pronunciou na América por volta de 1928, quando comparava a Bíblia a um aparato de rádio que, apesar das interferências e dificuldades, nos põe em contato com a beleza de um concerto executado longe de nós.

Quando comparamos o conteúdo das Confissões de fé reformadas relativas à autoridade das Sagradas Escrituras e o mundo do relativismo no que nos tem feito viver, é indispensável que saibamos como falar e como testificar da autoridade da Escritura Sagrada. Já que não se trata de nenhum problema abstrato. É impossível, em efeito, desligar nossa confissão de fé na autoridade da Palavra de Deus do contido Salvador desta mesma Palavra. O cristianismo é a religião de um livro, mas, não em um sentido puramente formal. É necessário conhecer com certeza o valor de nosso testemunho, visto que este testemunho vem carregado de riquezas e de responsabilidades. Nas trevas que nos rodeiam, como poderemos ser benção para todos aqueles que tem perdido sua segurança ao serem criticados radicalmente?

Barth e a Bíblia

Sabemos que não será nunca possível provar a autoridade das Sagradas Escrituras por meio de uma apologética racionalista. Com Calvino, com a “Confissão de Fé dos Países Baixos” (Confesión Bélgica), sabemos que unicamente o testemunho do Espírito Santo pode convencer-nos da verdade e autoridade das Escrituras. Porém, frente ao ataque persistente e duro que se emite contra a Bíblia é necessário poder, e ousar, dar um testemunho honesto, sincero e convincente do ato de que a Escritura é verdadeiramente uma lâmpada para nossos pés e uma luz que brilha nas trevas. Um testemunho honesto, certamente; não simplesmente um testemunho “conservador”, mas uma verdadeira convicção de fé, e de fé cristã, da que o mundo atual, no momento mais que nunca, tem necessidade.

Neste primeiro estudo desejo chamar sua atenção sobre o conceito de Karl Barth e a maneira como se expressa em relação a Escritura. O interesse que temos nele não é simplesmente teórico, mas também prático e religioso. Muitas questões lançadas por Barth devem ser analisadas pela teologia reformada, já que sua influência é tão profunda como foi a de Schleiermacher no século xix, e esta influência se deixa sentir ainda hoje. Ao longo dos anos em que Barth desenvolveu sua teologia, criticou alguns pontos de seu próprio sistema; mas, há uma doutrina que jamais foi renovada, uma doutrina que não havia mudado nada: e sua doutrina da Escritura, igual hoje que em 1926, quando pela primeira vez escrevia sobre a doutrina reformada da Sagrada Escritura. Podemos afirmar que a postura de todos os teólogos dialéticos é, neste ponto, idêntica. Não ignorais, por exemplo, que Brunner e Bultmann reconhecem sem rodeios que eles aceitam uma forma bastante radical da crítica escriturária. Sobre a qual, pois, se posiciona essencialmente a posição de Karl Barth, o chefe da teologia dialética, nesta nova forma de pensamento teológico?

Desde 1926, Barth criticava a posição ortodoxa do século XVI, que fazia da Bíblia o resultado de um ditado celeste. Em 1947 fez a mesma crítica em um folheto intitulado La Escritura y la Iglesia, no qual se levantava contra o “erro” da Igreja que considera que a Palavra de Deus se encontra realmente contida no livro das Sagradas Escrituras. Ali expressou sua convicção de que disse “erro” havia sido um fruto do naturalismo. Impossível, segundo ele, que a Palavra de Deus, do Deus vivo e pessoal, pode ser contida em um livro, já que a Palavra de Deus é o Espírito de Deus, o Senhor mesmo em sua majestade, sua soberania e sua realidade. Daí que Barth rejeita enérgicamente toda identificação entre a Palavra de Deus e a

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Bíblia. Admite, entretanto, que se dá uma certa identidade, mas, uma identidade que não pode ser mais que indireta.

Tenho a certeza de que podemos compreender a chave da teologia de Barth se captamos o que ele entende por identidade direta. É extraordinário que Barth persista em falar da autoridade da Bíblia. É assim que ele escreve, por exemplo, ao falar da Sagrada Escritura: ali onde há autoridade, ali existe obediência. E é a autoridade de Jesus Cristo. Não foi esta a antiga doutrina da inspiração da Bíblia? Entretanto, não duvidemos jamais que um bom número de teólogos falam da autoridade das Escrituras e aceitam, ao mesmo tempo, a crítica moderna da Bíblia; recordemos, assim mesmo, que a maioria de críticos radicais dão a impressão de ter um grande respeito pela Bíblia. Reconhecem que o Senhor pronuncia a Palavra de Deus e que esta Palavra tem autoridade; temos de escutá-la e obedecê-la. Brunner aceita, de um lado, certa forma radical de crítica e, por exemplo, rejeita o nascimento virginal de Jesus Cristo, assim como outros ensinamentos da Bíblia; mas, por outro lado, apresenta a Escritura como a norma da doutrina. Agora sim, quando afirma sua autoridade, crítica seguidamente a que ele chama “falsa doutrina” de uma inspiração infalível. Deste modo, proclama a autoridade da Escritura e critica ao mesmo tempo a identificação da Escritura com a Palavra de Deus. Encontramos uma atitude idêntica na teologia de Barth. O que significa tudo isto?

Devo repetir: este problema afeta diretamente a cada membro de igreja quando escuta a Pa-lavra de Deus ou uma pregação baseada nesta Palavra soberana. Durante séculos, a Igreja vem confessando que a Bíblia é a Palavra de Deus, mas, agora não entende não pode certamente compreender nada desta diferença entre a identidade direta e a identidade indireta da Escritura e a Palavra de Deus. Não obstante, tem direito em saber se sua fé descansa sobre um fundamento sólido e se pode falar da Bíblia como da verdadeira Palavra de Deus. Esta confissão de fé não é, de nenhum modo, propiedade exclusiva dos teólogos: é propriedade de toda a Igreja. Daí que a questão da autoridade da Bíblia seja um problema que compromete a Igreja por inteiro.

Não é permitido nenhuma hesitação quanto ao ponto de vista de Karl Barth: é categórico sobre o particular. Nega a inspiração da Bíblia no sentido de que a Palavra de Deus estivesse contida neste livro que se acha sobre a mesa. Esta concepção da revelação que precisa da inspiração do texto bíblico viola, segundo ele, o mistério da Escritura e a soberania de Deus, do Deus que nos fala. A Escritura não pode ser identificada com a Palavra de Deus; a Palavra de Deus é um milagre. Dizem: “Palavra de Deus” e, na realidade, estais dizendo: “milagre!”. E é precisamente este milagre no dizer de Barth aquele na qual a teoria ortodoxa da inspiração não faz o menor sentido. Para ele, na doutrina ortodoxa, a inspiração se converte no atributo de um livro, uma espécie de qualidade permanente. A Palavra de Deus se faz estática. Porém a revelação é sempre um ato de Deus; não pode ser fosilizada. Uma revelação estática não deixa lugar para o Deus vivo da revelação bíblica, o que conduz a Igreja a não ter jamais Palavra de Deus que lhe seja dirigida hoje. Não teria outra coisa que uma palavra, pronunciada em tempos antigos, faz muito tempo, porém, não uma Palavra que se falasse hoje. Em oposição a esta doutrina, Barth insiste no fato de que a Igreja deva dizer sempre: “Fala, Senhor, que teu servo ouve.” E então que o Senhor fale realmente através do testemunho bíblico, humano e falho. O grande erro da doutrina ortodoxa seria impedir ao Senhor que falasse hoje, o de atentar contra a sua liberdade; o Deus Todo Poderoso ficaria preso em um livro!

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Segundo Barth, a Bíblia é para nós um testemunho, humano e falho, da revelação original de Deus, o Deus manifestado em carne ao longo dos anos 1 ao 30 de nossa era. Tal é a única revelação e não há outra. Em 1947, Camfield e outros teólogos ingleses fizeram uma homenagem a Karl Barth, e Hedry, por exemplo, escreveu que esta atitude entranhava um verdadeiro redescobrimento da Bíblia que nos liberava de todas as falsas antíteses que haviam levantado tanto a ortodoxa como o liberalismo, e que tinha o mérito de fazer-nos descobrir o melhor dito: redescobrir o caráter humano da Palavra, como testemunho humano da revelação; humano e falho certamente, mas,o que, todavia, nos põe em contato com o Deus vivo. Desta maneira, é possível aceitar a crítica histórica e falar ao mesmo tempo da autoridade do texto bíblico e a obediência que lhe devemos.

Barth afirma que não existe mais do que uma revelação. Não há, pois, revelação geral na criação, como afirma o artigo 2 da “Confesión de los Países Bajos”, que Barth critica como sendo expoente da teologia natural1.

E Barth já estava mais distante: tampouco estava, propriamente falando, de alguma revelação no Antigo Testamento, o qual não acasionaria mais que um testemunho

`a única verdadeira revelação que havia de vir mais tarde. Não há nenhum limite à humanidade na Biblia, afirma Barth. Negá-lo, equivale a afundarmos no docetismo e não querer compreender que esta completa humanidade pertence à mesma essência da revelação, ao “desconhecido” da Palavra no mundo, ao caráter escondido da Revelação de Deus. O Senhor não se revela nunca diretamente, mas, o faz sempre “desconhecido”. Este tema da teologia dialética mostra a forte influência de Kierkegaard. Dita a afirmação de que Deus se encontra escondido na carne e que possui uma influência considerável. É a que leva Brunner a negação do nascimento virginal de Cristo, já que se Jesus houvesse nascido da Virgem Maria, isto teria sido um acontecimento milagroso que fora irrompido na realidade deste mundo.

“Desconhecido”;eis aqui uma palavra nova e moderna no mundo teológico e na teoria da revelação. E esta ideia domina igualmente o conceito dialético das Sagradas Escrituras. O Senhor pode se servir de documentos humanos como meios para fazer ouvir sua própria Palavra, a Palavra que pronuncia livremente e também gratuitamente em sua soberania e em sua majestade. Mas, neles mesmos, os documentos são uma revelação “desconhecido” e dissimula aos nossos olhos a autêntica Palavra de Deus.

Para mim tenho que a teologia tem lançado uma falsa pista ao apoiar-se nesta ideia de “desconhecido”. Se tem chegado até ao emprego deste termo na pregação para indicar o fato de que os homens não podem reconhecer, sem a iluminação do Espírito Santo, que Jesus é o Salvador e o Filho de Deus. Se esta ideia ocupa um lugar tão importante na nova teologia, ele se deve ao fato de que em primeiro lugar se tem afirmado que toda revelação é uma revelação escondida, no entanto é uma revelação indireta.

A essência da Revelação

Os autores da nova teología esquecem que o objetivo da Revelação não tem sido jamais o de ocultar-se e permanecer escondida. Quando um rei viaja às escondidas, seu objetivo é o de permanecer escondido. Mas, ao tratar-se de revelação, a finalidade é reveladora e, por consequência, a meta de uma tal revelação é sempre a de transmitirmos uma revelação

1 Sobre a revelação geral, a teologia natural e a posição de Barth, veja também Introducción a la Teología Evangélica (Revelación, Palabra g Autoridad), por José Grau. Edit. CLIE, Tarrasa, 1973, pp. 67-93.

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verdadeira. Por suposto, certo número de coisas permanecerão ocultas ao homem natural, o qual, como afirma Paulo, não recebe as coisas do Espírito de Deus; o entendimento dos homens pode seguir na cegueira e pode continuar sobre seus corações aquilo que os impede de descobrir a verdade revelada; e o que lhes ocorre aos Judeus em sua leitura do Antigo Testamento, segundo afirmação de Paulo (2ª Cor. 3:14-15). Mas, a essência da revelação não é o permanecer oculto. É impossível resgatar a distância que permeia entre o homem natural e o homem espiritual, certo. Porém não é válido este exemplo soteriológico para transplantá-lo, por analogia, a relação que existiría ao dizer da teologia dialética- entre a revelação escondida e a revelação revelada. Por que? Pela simples razão de que a ideia de um “desconhecido” se encontra em flagrante contradição com a ideia de revelação. Barth se encontra em total impossibilidade de fundamentar sua doutrina sobre o testemunho da Escritura. Por suposto, a Escritura é um documento humano, escrito por homens “santos” (separados por Deus e para Deus). A Bíblia não é uma “vox coebestis”, uma voz do céu, no sentido de que os homens não tiveram nada a ver com ela. Entretanto, a Bíblia é a Palavra de Deus, escrita por homens2 Empregamos as expressões de “inspiração orgânica”, já que não queremos cair no docetismo e porque reconhecemos algo da sabedoria do Senhor no fato de que ele pronuncie sua Palavra no seio de nossa mesma história e em uma linguagem humana. Os homens de Deus falaram e escreveram como o Espírito lhes guiava. A Palavra de Deus penetra no mundo e o faz conforme um processo histórico. Eis aqui o milagre. Ouvimos a voz de um homem; e, através desta voz humana, e a mesma voz de Deus a que escutamos. Eis aqui o que Paulo escreve aos tessalonicenses: “Pelo que também damos sem cessar graças a Deus, pois, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavras de homens, mas, (segundo é, na verdade), como palavra de Deus, a qual também opera em vós, os que crestes” (1ª Ts. 2:13).

Esta Palavra abre caminho através da vida humana, da história, do pecado e das dúvidas, através da rebeldia e da conversão. Através da história de Israel e das nações. Jamais desvalorize a Sagrada Escritura, a atividade dos homens, são instrumentos do Espírito Santo. Mas Barth experimenta, apesar disso, de fundamentar sua doutrina da Escritura e acredita encontrar nos milagres de Cristo outra analogia de sua própria teoria. Os enfermos que se aproximavam de Jesus eram verdadeiros enfermos, mas um milagre os curava Assim mesmo, o milagre da revelação culmina no abismo entre o erro humano e a Palavra de Deus. Agora bem, a Escritura não justifica em absoluto esta comparação. A Bíblia, pelo contrário, se refere ao poder do Espírito Santo, que se revela poderosamente pela Palavra escrita.

O argumento mais impressionante de Barth encontra-se na doutrina ortodoxa da inspiração é o de afirmar que não podemos deixar Deus em um livro, e que a dita doutrina atenta contra sua liberdade. Porém, esta objeção não resiste à análise.

Onde está, então, “o cuidado singular que nosso Deus tem por nós e também de nossa salvação o que fala em a “Confissão dos Países Bajos” em seu artigo “da Palavra de Deus”? (Art. 3.) Seria uma negação da liberdade e a soberania divinas? Não esqueçamos que os santos homens de Deus foram impulsionados pelo Espírito de Deus para que falassem da parte do Senhor (2ª Ped. 1:21), como ele mesmo destaca Art. 3 da citada confissão reformada. Temos que contar com a inspiração do Espírito Santo. Longe de atentar contra a liberdade de Deus, comprovamos, pelo contrário, a maneira e o método mediante os quais o Senhor exercita sua divina liberdade; ao dar nos precisamente as Escrituras. O Senhor soberano obra livremente ao dar-nos sua Palavra, da maneira que deseja. Eis aqui como se aproxima de nós pela sua Palavra e como se acha perto de nós.

2 Cf. op. tit., pp. 159-201.

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A atualidade da Palavra

Por que, Barth protesta contra a afirmação de que Deus esteja presente na Palavra? Diz que não podemos tomar entre as mãos o livro Santo e declarar: Temos a Palavra de Deus! Não podemos insinuar, porque é impossível dispor a nós a vontade da autêntica Palavra de Deus; o cristianismo não é a religião de um livro; a Palavra de Deus não se acha contida na Bíblia. Esta atitude parece muito religiosa e tem todas as aparências do mais profundo respeito pela soberania e a transcedência divina. Mas Barth não compreende em absoluto a doutrina reformada; não compreende precisamente o que é porque a Palavra de Deus se acha em nossso meio, à nossa disposição, e assim temos uma tão grande responsabilidade. Certamente, podemos fechar os olhos, os ouvidos e os corações à revelação, como fizeram os fariseus e os saduceus. Mas, então, Cristo declarou: “Errais não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt. 22:29). O homens não vêem a revelação e rejeitam a Palavra de Deus, não nos permite deduzir que não há verdadeira revelação. No Antigo Testamento foi escrito do Messias: “Não gritará, nem alçará sua voz, nem a fará ouvir na rua” (Is. 42:2). A revelação em Cristo, tanto como a Palavra de Deus na Bíblia que dá testemunho dele, não é nunca a obra da propaganda humana simplesmente. É a revelação de Deus em sua soberania, fora da realidade e da atualidade3. Na presença da Palavra de Deus, em meu lar, na igreja e no mundo, não há por nossa parte mais que responsabilidade. Não prendemos Deus em um livro que argumento estranho! pelo contrário, se trata da suprema atualidade: “Mas estas coisas foram escritas pare que creais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome (Jo. 20:31).

Não existe a mínima contradição entre a atualidade da Palavra e a Palavra que em outro tempo nos foi dada. Impossível para nós fugir da presença da Palavra! Não há evasão possível: “Perto de ti está a palavra, na boca e no coração” (Rm. 10:8; Dt. 30:14). Podemos abrir o livro, e o Senhor se acha conosco em toda circunstância. Podemos compreender a Palavra; Deus não nos deixa nunca sozinhos em um mundo de trevas: “Examinais as Escrituras: são elas que de mim testificam, disse Cristo (Jo. 5:39). Sem dúvida, temos necessidade de que nossos corações sejam iluminados pelo Espírito Santo, a causa de nossas próprias trevas. Mas do fato de que nossos corações sejam trevas não podemos deduzir uma teoria da osbcuridade da revelação.

Não podemos afirmar que a Bíblia é obscura porque nossos corações se tem osbcurecido. A Bíblia é uma luz, e se nós a julgamos segundo as trevas do nosso coração, não somos mais que subjetivistas tratando de fazer depender de nossos corações a luz radiante da Escritura. Se meu juízo vale algo, um tal subjetivismo me parece que, se bem que vem com trajes do respeito verbal à Palavra de Deus, não é mais que uma maneira de tirar a responsabilidade que entranha a proximidade da Palavra.

Vai para duzentos anos que as Escrituras são objeto de ataque. Mas em todos estes ataques descobrimos a vontade de fugir desta proximidade na qual a graça de Deus busca encontrar-nos. Quando a teologia moderna sublinha o caráter humano da Bíblia, a teologia reformada não se opõe a isso; ao contrário, se entrega a sua tarefa por meio de uma exegese e pela escuta resolvida da Palavra de Deus. Mas a concepção nova da Bíblia é algo muito distinto que o pôe em evidência seu caráter humano e instrumental. Se chega até o extremo de falar de

3 Empregamos, naturalmente, esta expresão no sentido de presença ativa, presente em ato,e que não tem necessidade de uma atualização qualquer.

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humilhação do Espírito Santo nas Sagradas Escrituras. Se estabelece uma comparação entre a encarnação e a iluminação, entre Natal e Pentecostes, entre a carne e o Espírito. Comparações equivocadas! Equivocadas, ao vermos que cuidados o Espírito rodeia a Escritura não podemos mais que admirar a obra da sua majestade e não estamos em absoluto autorizados para falar de sua humilhação. Por esta solicitude e por sua majestade o Espírito Santo coloca todo homem na impossibilidade de poder dizer: “A revelação, a Palavra, está longe de nós; não podemos discernir nosso Senhor.”

Até que Cristo volte, veremos realizar as riquezas da Palavra de Deus, do Deus vivo e pessoal. Eis por que devemos nos opor à desvalorização da Palavra escrita, que nestes últimos séculos esteve à ordem do dia. Esta solicitude do Espírito Santo se acha em estreita conexão com o mistério da encarnação e da Cruz. O caráter humano da Bíblia se converteu para muitos em uma pedra de tropeço. Mas nós contemplamos nele a graça e a sabedoria de Deus que, por este meio e ao mesmo tempo, circunscreve a exata responsabilidade do mundo, tal como nos foi definida na parábola do Lázaro e o rico: “Tem a Moisés e aos profetas; escutem-nos!”, exclama Abraão. E quando o rico objeta: “Não, pai Abraão; mas se algum dos mortos vão a eles, se arrependerão”, escuta esta resposta: “Se não escutam a Moisés e aos profetas, tampouco se convencerão ainda que ressucitasse algum dos mortos” (Lc. 16:29-31).

A tentação da apostasia

Um dia em que Abraham Kuyper era atacado por causa do seu elevado conceito da Escritura e da sua autoridade, respondeu: “É minha a priori; e Deus mesmo me deu.” Quando Snouck Hurgronje, o amigo de Bavinck, escreveu que não podia entender sua obediência à Bíblia, Bavinck respondeu: “Quanto mais vivo e mais reflito, menos posso tirar a autoridade da Escritura, exatamente como todos os cristãos.” Era a mesma atitude de Warfield, que declarava que as Escrituras tinha sua origem de uma atividade de Deus, do seu Santo Espírito, e que são assim, no sentido mais elevado, sua criação.

Desejaria também chamar vossa atenção particularmente sobre o comportamento do nosso Senhor mesmo quando foi tentado no deserto. Em três ocasiões, foi mediante uma Palavra da Escritura que fez frente às artimanhas do Diabo. Cada vez respondeu: “Está escrito.” Ao colocar ele mesmo ao amparo da Palavra escrita de seu Pai celeste, Jesus resiste uma terrível tentação. Certamente, é possível uma falsa interpretação da Palavra; o Diabo mesmo cita a Palavra naquela ocasião os versículos 11 e 12 do Salmo 19 torcendo seu sentido. Mas Jesus desmascara o emprego ilegítimo da Palavra, proclamando seu verdadeiro significado e sua sabedoria. Eis aqui o que resulta: quando o Diabo se vai, vemos o cumprimento do Salmo 91: os anjos vieram para servir ao Senhor

Não sintamos vergonha de seguir os passos do Mestre. Indubitávelmente, nos aparecerão multidões de questões; existe uma relação entre o que é humano e o que é divino na Bíblia; nossa exegética é imensa e estamos longe de haver realizado completamente, já que nós não somos docetistas; estamos longes da meta tanto no plano teológico como no de nossa pessoa. Já que a Palavra se dirige a todos os séculos e a todas as nações. Guardemo-nos de tratar de esquivar as dificuldades e os problemas, dando assim a impressão de que temos medo, em particular quando comprovamos que, como consequência dos ataques levados a cabo diante da autoridade da Escritura, a incerteza cresce no mundo e a razão humana e sua autonomia dominam mais e mais a Palavra de Deus.

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Porém, hoje mais do que nunca, fiquemos alerta quando comprovamos que se deseja contrariar a verdadeira autoridade da Palavra escrita, mediante argumentos religiosos. Em todo tempo os argumentos religiosos e piedosos tem sido os mais perigosos para a Igreja. Não dão acaso uma impressão de seriedade e de respeito? Se nos diz que o Senhor não pode ser metido dentro do cárcere e os limites da Palavra; que não podemos dispor da voz de Deus, já que o Senhor é livre. Tais são os argumentos, os argumentos religiosos, do dia de hoje. Mas, nestes argumentos temos que ver a continuação de um processo que se encontra em ação há dois séculos: o processo que conduz a crise de obediência da Palavra de Deus. Esta crise é uma evasão, longe da presença de Deus, em razão de sua proximidade e da responsabilidade que comporta para nós esta proximidade de Deus. Na verdade que é uma situação trágica, consequência de toda desvalorização da Palavra escrita. Quando perdemos a Palavra, perdemos ao mesmo tempo todo acesso da mesma e a autêntica imagem de Cristo. Tal é a lei espiritual da história. É a lei da apostasia que, sempre durante todos os séculos, tem ameaçado a Igreja. Em que consiste esta tentação de apostasia? O mundo sem a Palavra, ou mundo entregue à sua própria liberdade e não escutando mais a voz de Deus, ouvindo apenas sua própria voz.

Certamente, compreendemos a história dos ataques levados a cabo contra a Palavra escrita. Como? Em razão da mesma, e em função, de sua excepcional e suprema importância. E também sabemos bem como, pessoalmente, nós resistimos cada dia a influência desta Palavra. Eis aqui por que devemos entender nossa tarefa no mundo: não se trata simplesmente de defender uma doutrina teológica determinada, nossa própria doutrina, e sim de fazer frente a todos os ataques que a Sagrada Escritura sofre e testificar ao mesmo tempo da graça e da benção da Palavra que se encontra muito próximo de nós, e da responsabilidade que nos tange como consequência desse ato. Temos de nos precaver, e ao mesmo tempo escutar as palavras de Paulo, quando de maneira admirável nos disse: “Destruindo os conselhos, e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo” (2ª Cor. 10:5).

Posso, finalmente, trazer à memoria a palavra deste outro apóstolo a quem a desobediência esteve a ponto de perdê-lo e que esteve presente no Monte da Transfiguração? Foi uma profunda experiência a que tive da parte do Senhor. Uma experiência pessoal. E, apesar disso, é ele quem mais tarde escreve à igreja que se seus membros não tem a mesma experiência da pessoa do Cristo encarnado e ressuscitado, ela (a Igreja) nem por isso tem um fundamento menos real de sua fé, um fundamento do que pode estar seguro e do que pode dar testemunho no mundo: “E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis, em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em vossos corações” (2ª Pedro 1:19).

***

REFORMA E NEOPROTESTANTISMO

Abordemos agora um tema que, há alguns séculos, se tornou um grave problema: o da relação entre o protestantismo da reforma, tal como o mantém todavia as igrejas de confissão reformada, e esta forma de protestantismo que surgiu nos séculos XVIII e XIX, ao que comumente se designa com o nome de Modernismo ou de Neoprotestantismo. Ainda que o desenvolvimento histórico da relação que existe entre estas duas ordens de protestantismo seja

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do mais alto interesse, não podemos pensar em abordá-lo agora por causa de sua extrema complexidade. Me limitarei, pois, a discutir este problema tal como nos é apresentado hoje.

Apesar de algumas divergências de opinião, é um fato que geralmente há uma certa unanimidade em reconhecer que existe uma diferença radical entre o protestantismo da Reforma e o neoprotestantismo. Os protestantes ortodoxos, por exemplo, se dão conta per-feitamente, por exemplo, da distância que separa a Reforma do século XVI de todas as formas possíveis de neoprotestantismo. Mas, igualmente, pensadores não ortodoxos, tais como E. Troeltsch, destacaram esta diferença. Troeltsch está convencido de que o antigo protestantismo era um conceito animado pelo sobrenaturalismo e de boa aceitação. Enquanto que o neoprotestantismo estava sob a influência das “luzes” do século XVIII é a expressão de um pensamento moderno. Modernistas e liberais4, sem exceção, consideram a ortodoxia da Reforma como uma posição inaceitável, incompatível com os conceitos de nossa época, e que não leva em conta os resultados da ciência moderna e da concepção moderna do mundo. O neoprotestantismo se opõe, ao antigo protestantismo.

Duas formas de protestantismo

Observemos, inicialmente, que a aparição destas duas formas de protestantismo constitui um fenômeno estranho e surpreendente. Tomemos consciência do mesmo quando o catolicismo romano nos pede com insistência um esclarecimento: “Qual dos dois é, o verdadeiro protestantismo?” Roma destaca enérgicamente que a existência destas duas formas de protestantismo delata sua debilidade congênita, em comparação com a unidade da Igreja católica romana.

O ponto de vista romano é muito claro: o protestantismo moderno é a inevitável consequência do primitivo. A evolução fazia o neoprotestantismo, o modernismo e o liberalismo (teológicos) era algo inerente à essência da Reforma. Em efeito Roma afirma, o protestantismo, desde sua origem, prescindiu da única autoridade que pode manter a vida e a sã doutrina: os dois pilares da ponte, a Igreja e a Bíblia. O antigo protestantismo minou o primeiro destes pilares. Foi a catástrofe irremediável, ainda que no princípio não se visse como imediata. Quando a autoridade absoluta da Igreja é rechaçada, a revolução acaba com o resto. Os autores católicos descrevem as consequências fatais da Reforma no mundo moderno. Ao escutar-lhes, se tem a impresaão de que cada domínio da vida humana se distancia mais e mais da fonte da vida, apesar dos esforços do protestantismo ortodoxo para defender e manter a autoridade de Deus e um conceito religioso da vida. A origem da revolução se considera como algo inerente à Reforma da mesma.

Inclusive no século XX os reformadores os trata de revolucionários, em termos muito explícitos que encontramos em uma encíclica de 1910, onde os acusa de todos os males. Este documento suscitaram uma série de indignação no mundo protestante daquela época. A acusação de que a Reforma foi uma revolução será o tema de nosso terceir estudo. Mas, desde agora, desejaria destacar o fato de que o catolicismo está íntimamente persuadido de que o mundo moderno, o mundo do modernismo, do liberalismo e de muitos mais “ismos”, é a consequência direta do orgulho religioso, da desobediência e da rebelião dos reformadores. Para os autores católicos a relação entre estas duas classes de protestantismo é do mais íntimo.

4 Por “modernista” e “liberal” deve se entender aqui o modernismo e o liberalismo teológicos. - (Note. del Tr.)

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Na evolução posterior do protestantismo estes autores vêem o cumprimento da advertência do apóstolo Paulo: “Não vos enganeis; de Deus não se zomba: tudo o que o homem plantar, isso também ceifará” (G1. 6:7). Para eles, o marco característico do protestantismo é que a Reforma se sublevou contra a autoridade, que não foi mais que negativa, um protesto puro e simples. Se nos diz que os reformadores não previram todas as consequências de sua primeira atitude; mas, no desenvolvimento anterior da Reforma, os males foram sendo revelado; quer queira quer não, a Reforma tinha que conduzir o neoprotestantismo com seu célebre protesto contra toda autoridade, sua sede de liberdade, sua rejeição a autoridade e a infalibilidade da Escritura, e da realidade dos milagres e do mundo sobrenatural. A Reforma tinha que conduzir a um neoprotestantismo militante por uma igreja sem dogmas e sem confissão de fé, refutando a doutrina da igreja, a divinidade de Cristo, seu nascimento virginal, sua santidade, sua morte expiatória, sua ressurreição, sua ascensão, sua segunda vinda. Para eles, a Reforma tem uma tremenda responsabilidade diante deste mundo secularizado, deste mundo sem Deus.

Eu penso, entretanto, que a acusação é muito grave e que tem que provar esta pretensão de que existe uma ligação estreita entre Lutero e Nietzsche, entre Calvino e o mundo secularizado de nossos dias. A expressão “Depois da Reforma, poderia chegar a ser sinônimo desta outra: “Por causa da Reforma”? Estou convencido de que uma teoria semelhante é insustentável, inclusive do ponto de vista histórico, já que simplifica demais a evolução da história e despreza outros fatos, entre eles a influência considerável do humanismo depois da Reforma. Desde o século XVI o humanismo colocou questões álgidas à Igreja romana. Lembra da da controvérsia entre Lutero e Erasmo, que, católico romano, louvava o valor da natureza e suas aptidão e defendia o livre arbítrio do homem. Pensemos com que violência Erasmo se opunha à doutrina da total corrupção da natureza humana! E não era somente Erasmo que defendia o livre arbítrio e a bondade natural do homem, convertendo assim no apóstolo do antigo semipelagianismo, mas o mesmo Papa em pessoa foi quem atacou a Lutero devido a sua doutrina da graça e do servo arbitrio. A Igreja romana proclama que Agustinho é um dos Pais da Igreja; entretanto, contradiz, ao menos, neste ponto da doutrina da graça soberana que o doutor de Hipona defendeu em seus dias tanto como Lutero no século XVI. Não constitui um problema capital para a teologia da Igreja romana seu conceito da humanidade, da bondade do ser humano e da razão que não sofreu as consequências do pecado?

Se trata, exatamente, do mesmo problema que achamos de novo no chamado “século das luzes”, quando se desatou a guerra contra o que se considerava o pessimismo da doutrina do pecado e da corrupção originais. Assim como o catolicismo romano refuta Agustinho e a Reforma, assim o neoprotestantismo acusa a Reforma de pessimismo. Todavia em nossos dias escutamos a católicos romanos que denunciam a “doutrina pessimista do homem” da ortodoxia protestante. Daí que, a nosso juízo, a acusação romana segundo a qual o neo-protestantismo não seria mais que a consequência direta da Reforma é uma simplificação excessiva. Se trata de saber se a Reforma foi ou não consequente com ela mesma. Tal é o problema que se nos aparece. Se nos estabeleceu a partir do século XVI e conserva todavia hoje toda sua importância. Eu conheço os antecedentes e os dados deste problema em meu próprio país e vós os conheceis em vosso; mas, bem seja na Holanda ou nos Estados Unidos, não podemos esquecer que a questão se estabelece igualmente em todas partes. Se trata do mesmo problema substancialmente.

O protestantismo moderno afirma com ênfase que a ortodoxia não é consequente com ela mesma e que somente o neoprotestantismo soube aceitar todas as consequências da revolução do sécuo XVI; nossos contraditores apontam especialmente a submissão prestada pela

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Reforma a uma revelação sobrenatural e a Sagrada Escritura. Nos acusa de não ter tido em conta a evolução do conceito moderno do mundo em nossa maneira de considerar os milagres, a providência e o determinismo. O neoprotestantismo pretende ter sobrepassado o antigo conceito do mundo, este conceito mítico e passado de moda, o que impede tomar a mesma postura que a Reforma. Este conflito surgiu em todos os países; e o problema do modernismo.

Nos Países Baixos, alguns teólogos modernistas quiseram reconhecer sinceramente que seu modernismo era incompatível com o cristianismo da Igreja. Quiseram ser honestos e se demitiram dos cargos que ocupavam como ministros da Igreja. Se, por exemplo, somos deterministas declararam ao abdicar de suas funções- nos resultará impossível defender por mais tempo o verdadeiro significado da oração em termos cristãos. Não adornemos, pois, nossas ideias com nomes tornados dos conceitos e da doutrina desta venerável mãe que é a Igreja! Vamos jogar limpo! Porém a opinião da maioria de teólogos e de pregadores modernistas era muito diferente. Afirmaram que seu modernismo, que seu neoprotestantismo, não era outra coisa que o verdadeiro cristianismo, autêntico e consequente, o verdadeiro protestantismo, é dizer: o cristianismo aplicado `as necessidades da inteligência moderna e dando resposta às exigências da ciência moderna. Em Leyde, por exemplo, no século passado, um professor holandes ensinava a seus estudantes de teologia que (a partir do ponto de vista da ciência moderna) era absolutamente impossível que Jesus ressucitara dos mortos. E todos os estudantes aplaudiram e se conformaram com tal afirmação. Esta foi a perturbação do século XIX: O protestantismo moderno levantando contra a Reforma, e contra da Confissão de Fé da Igreja reformada, contra o Símbolo dos apóstolos. Se tratando, pois, de um conflito no seio da Igreja. E quando certos pastores apresentaram sua demissão, ouviram como muitos de seus colegas lhes disseram que não era necessário em absoluto o abandonar a Igreja estabelecida. Segundo eles, nada impedia a pregação deste novo protestantismo, este novo cristianismo, dentro da Igreja antiga. Assim, foi a crise, como a que se estabelece todo clérigo comunista quando lhe perguntaram se considerava verdadeiramente um ministro da Igreja de Jesus Cristo, e responde: “Tenho esta convicção..., mas, comunista.”

Entre os estudantes que aplaudiram, e admitiram, a negação da resurreição de Cristo se encontrava Abraham Kuyper, naquela época estava sob a influência do modernismo. Muito tempo depois falava com pesar destes aplausos e da desonra que havia causado a seu Senhor. Um simples exemplo entre outros muitos! Mas, útil para revelar-nos o fundo de um conflito trágico que vivemos há mais de um século e que encontramos de novo, constantemente, em inúmeros problemas das igrejas e da teologia.

Tomemos, por exemplo, a questão da síntese do Credo e o espírito moderno. De toda parte vinham o esforço para recortar o conteúdo da fé e da doutrina cristã com o fim de fazer possível essa síntese. Aparece uma oposição cada vez mais vigorosa contra o conteúdo do Símbolo dos Apóstolos (e não somente contra as Confissões de Fé da Reforma), contra o nascimento virginal, contra a resurreição, contra a expiação pela cruz de Jesus Cristo. O século XIX foi um século decisivo nas relações entre o antigo e o novo protestantismo. A Igreja não se encontrava frente a uma franca negação da fé cristã; a acusava, simplesmente, de conservar uma forma anacrônica de cristianismo que não servia senão para ser arrumada. Inúmeros teólogos resolveram o problema ao aceitar os termos de nossos símbolos e da doutrina da Igreja, mas dando outra interpretação. Apareceu desta maneira o imenso perigo para a Igreja de que cada qual pudesse interpretar à sua maneira a Confissão de Fé.

Esta possibilidade de interpretação, em lugar do rechaço puro e simples da doutrina, criou uma situação extremamente perigosa para a Igreja de nosso tempo. Tenho a firme convicção

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de que constitui uma das ameaças mais sérias que vem sobre a Igreja. Quando alguém rejeita abertamente os termos do Credo já sabemos, ao menos, a que ater-nos. Mas a situação é muito mais perigosa quando os termos do Credo permanecem intangíveis, sendo submetidos ao mesmo tempo a uma interpretação diferente do sentido original. Lembro-me de um teólogo que considerava o artigo: “nascido da Virgem Maria” como um mito; não obstante, a pesar disso desejava que fosse tirado do Símbolo dos Apóstolos. E quando lemos todavia que Cristo foi “concebido do Espírito Santo, segundo a opinião do citado teólogo, ele quer dizer que, sendo independente do Espírito Santo, a originalidade de Cristo estribou em poder dizer “não à natureza e ao pecado. Salta à vista que os termos do Credo ficam assim desvalorizados totalmente por semelhante exegese e que se a Igreja se aventura nesta direção, mantendo a antiga linguagem, faz ofensa ao mundo; pois deixa de anunciar a verdade e se converte mais e mais em algo ambiguo e hipócrita. Tais licenças arrebatam toda clareza as declarações da Igreja, justamente em um momento em que o mundo não aspira mais nada senão a clareza; clareza em uma época de trevas e de extrema confusão.

O neoprotestantismo e a autonomia da razão

Mas a situação foi ficando cada vez pior. Mais e mais crítica. O protestantismo moderno, o neoprotestantismo, exerceu uma influência considerável. Ele, ao menos, sabia pronunciar estes vocábulos mágicos e encantadores: ciência, evolução, progresso, personalidade, espírito moderno, liberdade, autonomia, etc. Para muitos, o protestantismo da Reforma parecia lógico e muito por debaixo das exigências da ciência e dos conceitos modernos do mundo. Grave problema! Não só para os teólogos, senão para muitos outros, especialmente para os jovens. Dava a sensação de pertencer a uma família ortodoxa que já não representava mais, e não passava de um movimento moribundo, um protestantismo agonizante. O neoprotestantismo penetrou em nossas comunidades e a igreja que se oporia era, rapidamente, tida como velha e arcaica, defensora de um conservadorismo dissecado e temerosa diante dos resultados infalíveis da ciência moderna.

Se aproximava o momento em que muitos tinham que tomar, inevitavelmente, uma decisão radical. Mas ao considerar esta luta crescente entre o protestantismo da Reforma e este novo protestantismo devemos compreender que o problema é tão grave que se torna impossível fazer frente mediante um simples conservadorismo morto, repetindo velhas fórmulas, sem uma fé viva e sem assumir a tarefa que nos incumbe hoje. Estes perigos não podem ser superados mais que por uma fé viva e a escuta constante do Espírito Santo. Quando o catolicismo romano acusa a Reforma de ter rejeitado toda autoridad autêntica, nós sabemos bem que isso se deve a um mal-entendido. Não foi em nome da razão e da autonomia humana que a Reforma combateu certas autoridades; pelo contrário, a Reforma aspirava a uma autoridade maior que a que era conhecida pela Igreja romana, anelava uma autoridade real e efetiva.

Temos que conhecer as fontes vivas da Reforma. Para ser calvinistas ou reformados não é suficiente possuir um sistema majestoso de doutrina do qual possamos sentir orgulho; não basta saber que temos um conceito harmônico e sistemático do mundo.

Uma originalidade segundo o mundo não pode ser nossa originalidade. Temos que saber e é o único que pode dar-nos que a originalidade da fé reformada e do calvinismo consiste

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precisamente em seu rechaço de toda originalidade em relação com o Evangelho. Somente assim poderemos resolver os problemas que se estabelece o neoprotestantismo, já que somente então nos será possível discernir de que se trata.

O protestantismo moderno, o neoprotestantismo tem afirmado sempre que o valor do progresso científico vinha de que a ciência moderna não tinha prejuízos, não tinha a priori, que era puramente racional, a única concepção válida do mundo. Como o declara Russell em seu livro Science and Religion: não há mais que um só método verdadeiro: a ciência. Desde alguns séculos Europa ocidental não crê mais na possibilidade de uma ciência cristã e isto explica por que não há interesse nem se presta nenhuma consideração a ideia de uma universidade cristã. Mas hoje a oposição a uma ciência cristã e a uma universidade cristã não parte somente dos incrédulos, senão dos mesmos crentes; de que se declaram cristãos verdadeiros, mas que se acham influidos pela secularização da ciência e da filosofia, como se o mundo pudesse ser explicado sem a revelação de Deus. Qual é o resultado desta chamada “ciência sem a priori”?

Eis aqui: a dominação de toda a esfera científica por um método único, o triunfo da razão, e isso a um tal grau que inclusive os incrédulos e os ateus começam a rebelar-se contra dita dominação. É possível, creio, discernir o verdadeiro a priori que se esconde detrás do protestantismo moderno: é o princípio da autonomia, da supremacia da razão humana e de sua síntese com os desfeitos que sobram da fé cristã. A Teologia sistemática de P. Tillich5 é um exemplo eloquente do que dizemos. A impossibilidade de encontrar um denominador comum aos dois protestantismos se faz cada vez mais evidente.

Para concretizar meu pensamento falarei de um dos aspectos mais cruciais do neoprotestantismo. Na Alemanha, R. Bulnnann, teólogo da escola dialética, levou a cabo uma violenta campanha contra o que ele chama os elementos místicos do Novo Testamento, os aspectos místicos dos Evangelhos. Trata de demonstrar que, em nossos tempos modernos, é indispensável que tiremos do Evangelho todos estes elementos “místicos”. Neste mundo de nossos dias é necessário desmistificar o Novo Testamento, já que possuimos agora um conceito mais científico do mundo. Se nossa linguagem permanece na forma do ensinamento mitológico do Novo Testamento, chegaremos simplesmente ao ponto em que um grande número, ao rejeitar sua forma mística, rejeitarão também toda a fé cristã. Bultmann considera sua obra teológica como uma obra pastoral, um testemunho de compaixão em favor do povo que se move com outros conceitos do mundo distintos do que aparece na Bíblia. A antiga concepção reformada, fundada sobre a Bíblia, se agarra ainda aos acontecimentos sobrenaturais tais como a vinda do Filho de Deus em carne, o nascimento virginal, a ressurreição, a ascensão, o retorno de Cristo. Mas, segundo Bultmann, hoje é impossível viver em semelhante perspectiva. Se aceitamos a eletricidade e as técnicas da medicina moderna, isso implica necessariamente num conceito moderno do mundo no qual a mensagem do Novo Testamento não pode ser manejado da mesma maneira que antes. Em um novo protestantismo, teremos, pois, que transferir o Evangelho mitológico as formas novas de pensamento, mais modernas. O programa de Bultmann foi vivamente discutido na Alemanha e em todas partes. Mas, é interessante observar que o essencial deste novo protestantismo seja rigorosamente idêntico ao essencial da antiga postura liberal do século XIX, bem que Bultmann dá a impressão de que sua teologia comporta algo novo. De fato nada mudou. Segue sendo a servidão da fé cristã a um método científico que se proclama neutro.

5 Paul Tillich, Teología sistemática. Ediciones Ariel, Barcelona, 1973.

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Nesta trágica situação perguntemo-nos agora e busquemos o significado exato do termo Protestantismo. O perigo crucial no protestantismo moderno se baseia neste termo, se não estou equivocado, não receba mais que uma acepção negativa. Cada vez mais, já não serve senão para o simples protesto contra a confissão de fé da Igreja. Mas quando o neoprotestantismo apela a Reforma e pretende ser o protestantismo autêntico, o que faz não é senão falsificar a história e não temo em afirmar que este protestantismo moderno não poderá jamais opor a mínima resistência válida e significativa ao catolicismo. O protestantismo moderno o neoprotestantismo carece da mínima qualidade para opor-se, já que não é mais que antipapismo evanescente. Quer ser chamado “protestante” quando não é mais que protesto contra a autoridade, contra a autoridade das Santas Escrituras, e desde os anos que se entregou a uma luta feroz contra a ortodoxia. Só temos uma maneira de sair deste atoleiro: que os espíritos discerniam, mais e mais, a origem e as fontes bíblicas da autêntica Reforma.

Sob a influência e os ataques do protestantismo moderno muitas pessoas começam a sentir-se cansadas, pois as obrigou a ficarem na defensiva; se tem repetido até a sociedade que não eram da sua época, que estavam completamente passadas de moda. O caráter mortífero desta acusação nos permite compreender por que há quem capitula. Mas justamente então é quando esquecem que sua tarefa no mundo em que vivemos não é a de buscar seu próprio prazer. Em outras épocas os ataques contra o Evangelho levantavam a indignação mais apaixonada. Os gnósticos, por motivos religiosos, negaram a encarnação; também por motivos religiosos negaram outros a divindade de Cristo: uns e outros se faziam os campeões do monoteísmo. Se negou a humanidade de Cristo em nome do caráter divino da redenção. Se tratava de motivos religiosos. Em cada caso a vigilância da Igreja estava atenta aos motivos profundos que inspiravam cada erro. A mesma Palavra de Deus se fazia o eco de sua indignação: “Se Cristo não ressuscitou, vã é então nossa pregação, vã é também vossa fé” (1ª Co. 15:14). É assim porque os apóstolos foram também vigilantes e souberam discernir os motivos e as consequências de cada estravio. O apóstolo do amor, por exemplo, o apóstolo João, que diz contra todos os motivos “religiosos” de seu tempo? “Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne, é de Deus; e todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne, não é de Deus; e este é o espírito do anticristo, o qual vós haveis ouvido que vem, e que agora já está no mundo” (1ª Jo. 4:2-4). Não temos necessidade também nós de compreender uma vez mais, como o compreendeu João, que existe uma maravilhosa possibilidade de harmonia entre a ortodoxia e o amor? O modernismo acusou sempre a ortodoxia de ser conservadora, fora de moda, intelectualista. E, as vezes, a mesma ortodoxia protestante se tem esforçado em dar uma impressão melhor e mais matizada. Mas então se colocava na defensiva e deixava de dar um autêntico testemunho. O que nos faz falta hoje é uma ortodoxia unida intimamente ao amor, e também à indignação, não a uma indignação pessoal, senão a indignação do amor que nos ensina o Evangelho.

Ortodoxia e amor

Por desgraça, é de outra classe de matrimônio que se ouve falar: o da ortodoxia com o farisaísmo. Podemos responder a esta acusação geral? Eu preferiria recordar as palavras de Paulo, pesadas inclusive para os teólogos: “Se eu falasse a língua dos homens e dos anjos e não tiver amor, serei como metal que ressoa ou sino que retine. E se tivesse profecia e entendesse todos os mistérios e toda ciência, e se tivesse toda a fé, de tal maneira que traspassasse os montes, e não tiver amor, eu nada seria (1ª Co. 13:1-2).

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Tal é a advertência do Evangelho. Mas, esta advertência releva a promessa de que só o amor é benção no mundo. Quando contemplamos as consequências lastimosas dos ataques do protestantismo moderno, quando vemos a pobreza espiritual e todos os falsos problemas deste neoprotestantismo, como não vamos sentir piedade dele? Lemos, em alguma ocasião, que o protestantismo liberal e o neoprotestantismo retornarão à ortodoxia. Mas, sejamos extremamente atenciosos neste ponto; pensemos no perigo inerente nas palavras, inclusive nas palavras muito ortodoxas porém vazias de seu verdadeiro conteúdo: a mensagem do Evangelho.

Quando intentamos analisar o mundo da teologia contemporânea não devemos subestimar nem a ciência nem a teologia. Ambas influem uma sobre a outra e, recíprocamente, sobre a Igreja. Tal influência não fica limitada às aulas de estudo, e sim que penetra a Igreja e a comunidade dos santos. Não podemos afrontar o protestantismo moderno mais com amor e situados em uma posição de ouvinte perene da Escritura. A resposta, a única resposta possível, sem o mínimo espírito de conservadorismo, é a do apóstolo João: “Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (Apocalipse 3:11). Esta coroa não é por nossos méritos nem por nossas próprias obras. Nos faz pensar nestas coroas de que nos fala o Apocalipse quando nos mostra o futuro com os vinte quatro anciãos que se postram diante do que está sentado no trono e que adorarão o que vive pelos séculos dos séculos e depositarão as suas coroas diante do trono (Apocalipse 4:10-11). Tal é a única maneira que se nos oferece de não guardar a coroa. Mas, não há a mínima contradição entre esta visão do porvir e o mandamento que se nos dá para guardar o que temos.

Deus não quer que ninguém venha tomar-nos a coroa. Isto significa que devemos cuidar com zelo os dons de nosso Senhor e sobre nossa responsabilidade no mundo. Guardemo-nos para que não venhamos a desanimar diante desse período estranho e perigoso de nossa história, quando inumeráveis problemas nos assediam por toda parte. O Senhor abençoará nossa tarefa. E esta tarefa não consiste em ser protestantes em um sentido negativo, já que o mundo atual está sucumbindo debaixo dos protestos contra a Palavra de Deus, contra a autoridade, contra o Evangelho.

O neoprotestantismo é um ensaio de síntese entre o Evangelho e a autonomia da razão, que obriga a seus partidários a se levantarem contra a ortodoxia. Mas, não temos nada que temer se sabemos obedecer a Jesus Cristo, já que sabemos o que o mundo necessita: e faz falta um testemunho, uma afirmação positiva, uma certeza.

Para a Igreja, como para a teologia, a Palavra de nosso Senhor é sempre viva: “No mundo tereis aflição; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo. 16:33).

Tarefa lição 3 Somente as Escrituras

1. O que significa dizer que a Bíblia é clara? 2. O que significa dizer que a Bíblia é suficiente? 3. Por que podemos dizer com toda segurança que a Bíblia é nossa última autoridade de

fé e vida?4. Quais são os dois argumentos da tradição crítica que se esgrimem para não crer que a

Bíblia é a palavra de Deus? 5. Qual é a posição geralmente admitida pelos críticos contemporâneos acerca da Bíblia?

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6. Se nunca se poderá provar com uma apologética racionalista que a Bíblia é a Palavra de Deus, como é possível chegar a esse convencimento?

7. Quais são os três elementos básicos constitutivos do “Edifício espiritual”. 8. Quem estabelece que os livros do canon são realmente a Palavra de Deus? 9. É a autoridade de um livro da Escritura que dá sua canonicidade, ou é a canonicidade

que dá sua autoridade?10. Que três coisas receberam como privilégio único os apóstolos para ser o fundamento

ou as colunas da igreja? 11. A eleição de Matias como um dos doze, demonstra que, é substituição, ou sucessão? A

morte de Tiago, houve também sucessão? 12. A Palavra transmitida na época de Cristo, foi estabelecida por quem, para que se

levasse a cabo? Quem mandou que fosse assim e elegeu? 13. Por que Cristo por uma parte critica a tradição dos judeus e por outra parte funda uma

tradição com os apóstolos ao escolher para transmitir seus ensinos? 14. Qual é a razão que não podemos nem devemos ter mais revelação? 15. É a revelação um documento póstumo a obra de salvação, ou é parte fundamental

dentro da mesma salvação. Muda. Pode ser óbvia? É parte fundamental, de tal maneira que não pode mudar e muito menos não estar presente na salvação e vida dos crentes.

16. Que pergunta a igreja faz para aceitar um livro como canônico? 17. Que significa apostólico?

Caro aluno, tenha em conta que sua resposta deve ser dada de acordo aos princípios estudados no texto. Isso não significa que todas as respostas estão dadas diretamente no livro, mas que a maioria podem inferir dele. De não estar a resposta no livro, dê a sua, justificando-a biblicamente.

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LIÇÃO IV

SOMENTE CRISTO

O Grande Salvador

"poderoso para salvar" (Isaías 63:1).

Sabendo que isto se refere a nosso amado Senhor Jesus Cristo, a quem se descreve como "vindo de Edom, de Bosra, com vestidos vermelhos," e o que pergunta quem é, responde:

"Sou eu que falo em justiça, poderoso para salvar." Com isto, será bem que desde o princípio do discurso notemos uma ou duas coisas tocante à pessoa, incompreenssível em sua natureza, do homem e Deus a quem damos o título de Redentor nosso, a saber, Jesus Cristo nosso Salvador. Este é um dos mistérios da religião cristã: nos ensina que temos de crer que Cristo é Deus, apesar de que é homem. Seguindo as Escrituras, sustentamos que é Deus mesmo, igual ao Pai, e co-eterno com ele, possuindo igual ao Pai todos os atributos divinos em grau infinito. Tomou parte com o Pai em todos os atos da sua onipotência; teve que ver no decreto, na criação dos anjos, na do mundo quando este passou do caos ao espaço, e também na ordem do belo mecanismo natural. Anteriormente a qualquer dos fatos era o Divino Redentor Filho Eterno de Deus. Não deixou de ser Deus quando se fez homem. Sendo "varão de dores, experimentado em fraqueza," era também "Deus sobre todas as coisas, bendito pelos séculos," tão certamente como antes de sua encarnação. Disso temos provas abundantes nas continuas afirmações das Escrituras e nos milagres que fez. As ressurreições dos mortos, as caminhadas sobre as ondas do mar, acalmando o vento, e o fender das rochas, com outros fatos maravilhosos seus que nos falta tempo para especificar, todos são provas conclusivas de sua divindade, que certamente era Deus ao mesmo tempo que condescendeu a ser homem.

Também as Escrituras Indubitavelmente nos ensinam que é Deus agora, que compartilha o trono com o Pai, sentado no alto sobre "todo principado, potestade, potência e senhorio, e todo nome que se nomeie," e que o objeto verdadeiro, legítimo, da veneração e homenagem e culto do mundo. Assim mesmo nos ensina a crer que é homem. Nos diz que, chegado o dia, veio do céu e se fez homem sem deixar de ser Deus, apropriando a natureza infantil no presépio de Belém; que de tal estado cresceu à estatura de varão, feito "carne de nossa carne e osso de nosso osso," em tudo menos em nosso pecado. São fortes provas de sua humanidade verdadeira seus sofrimentos, fome, morte e sepultura, exigindo, todavia, a religião cristã que criamos em sua verdadeira divindade. Nos ensina que foi "criança nascida, filho dado," sendo ao mesmo tempo "Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade." Para ter ideias claras e retas a respeito de Jesus não há que confundir uma com suas duas outras natureza. Não temos de ter por um Deus rebaixado até a humanidade deificada, nem por nome comum oficialmente elevado até a deidade, senão por uma pessoa com duas naturezas distintas, não é Deus convertido em homem, nem homem feito Deus, senão homem e Deus por sua vez formando uma unidade. É por isto que confiamos nele, em qualidade de Interventor, Mediador, Filho de Deus, Filho do homem. Eis aqui o nosso salvador, o ser glorioso, mas misterioso, indicado no texto ao dizer que é poderoso, "poderoso para salvar."

Do seu poder não há necessidade de falar; são leitores das Escrituras, e crêem na força e majestade do que encarnou Filho de Deus. Crêem no Juiz da providência, Rei da morte, Vencedor do Inferno. Senhor dos anjos, Dono das tempestades, e Deus das batalhas; logo

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prova do seu poder não necessitam. Parte da sua força é assunto para hoje: é "Grande, ou poderoso, para salvar." Dê-nos o Santo Espírito seu auxílio para tratar brevemente, servindo dele para a salvação das nossas almas.

Primeiro, trataremos do significado: da palavra "salvar." Segundo, demonstraremos que efetivamente é "poderoso para salvar." Terceiro, das razões por que é "poderoso para salvar." Quarto, das inferências que devem deduzir da doutrina da grandeza de Cristo para salvar.

1. "Que devemos entender da palavra "salvar?"

Comumente os homens em sua maior parte, lendo esta palavra, julgam que significa salvar do Inferno. Em parte tem razão, mas sua ideia é muito defeituosa. É verdade que o Senhor salva os homens da pena merecida de seu delito; efetivamente leva ao céu os que tem merecido a eterna displicência do Altíssimo; apagando "iniquidades, transgressões e pecados," e dissimula as maldades do resíduo do seu povo a causa de seu sangue e sua expiação. Não é esta, porém, toda a significação da palavra "salvar." Explicação tão insuficiente tem ocasionado os erros de alguns teólogos, erros que qual brumas envolveram seus sistemas teológicos. Disseram estes que salvar é arrebatar almas como tições do fogo, salvar da destruição, se arrepender A verdade é que significa muitíssimo mais que livrar do inferno aos penitentes. Expressa toda a grande obra da salvação, desde o primeiro desejo santo, a primeira convicção espiritual, continuada até a santificação completa. Tudo o faz Deus por meio de Jesus Cristo. Este é grande, não só para salvar os arrependidos, senão para dar arrependimento; não só se compromete a levar os que crêem ao céu, tem poder para dar novos corações, e para comunicar a fé; não só pode dar o céu ao que quer, senão que pode fazer amante da santidade ao que a aborrece, adorador seu ao menosprezador do seu nome, e prófugo de seus maus caminhos à reprovação declarada.

Por "salvar" não entendo o que alguns. Segundo a teologia destes, veio o Senhor ao mundo para por todos em estado salvável, e fazer possível a salvação de todos mediante seus próprios esforços. Não em estado salvável, senão em estado de salvação creio que veio por; onde poderemos nos salvar, senão levar a cabo a obra em nós e em nosso favor, desde o principio até o fim. SE eu crer que o Senhor veio somente com esse fim para que pudéssemos nos salvar, deixá-la de pregar, porque conheço algo da maldade do coração, conhecendo algo do meu próprio, conhecendo o aborrecimento humano natural para a religião cristã, nenhuma esperança de êxito abrigaria, pedindo só para explicá-la e oferecê-la, aguardando o efeito que dependesse de que quisesse aceitá-la sem ser renovados e regenerados. Já não poderia gloriar-me na cruz de Cristo crendo que não acompanha a palavra do Senhor que dispõe no dia do seu poder, apartando do erro de nossos caminhos, a força de uma atração irresistível, de uma influência divina misteriosa. Repito que o Senhor é grande, não só para nos por em condição de sermos salvos, senão grande para salvar-nos absolutamente. Isto para mim é uma das provas magnificas do caráter divino da revelação bíblica. Frequentemente tenho duvidado e temido, como tantos outros; quem se acha o fiel, o robusto que jamais duvidou? Tenho perguntado, será verídica esta religião que diariamente prego? Será certo que exerce influência sobre a vontade e o entendimento? Eis aqui como me certifiquei disso. Tenho contemplado centenas, não, milhares de que me rodeiam, em outro tempo, vis como ninguém, bêbados, juradores, etc., e agora "vestidos, e sóbrio," caminhando em santidade e temor de Deus, e me tenho dito: Verídica é; comprovam seus efeitos maravilhosos; é certa, posto que é eficaz para os fins que jamais tem obtido o erro. Sua influência está manifesta ainda entre a ínfima classe dos mortais e os abomináveis da nossa raça. Sendo agente do bem de poder irresistível, quem poderá negar o caráter verídico? Para mim a prova mais conveniente da

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grandeza de Cristo não é sua oferta de salvação, nem que nos diga que tomemos a salvação, senão que rejeitemos, aborrecendo, menosprezando,e tem poder para nos fazer mudar de propósito, pensar de muitas outras maneiras, e abandonar nossos caminhos errados. Julgo ser esta a significação do texto "poderoso para salvar."

Ainda não é esta, todavia, todo seu significado. Não só é grande nosso Senhor para fazer que nos arrependamos, para vivificar os mortos no pecado, para tirá-los de sua insensatez e iniquidade; senão que tem sido incubido com outro fim mais além: é grande para cuidar seu cristianismo depois de tê-lo dado, grande para manter em seu temor e amor tanto que acabe de aperfeiçoar a existência espiritual daqueles no céu. A grandeza do Senhor não consiste em fazer um crente, deixando o manejar como pode; começa a boa obra, e a leva adiante; o mesmo que comunica o primeiro embrião de vida que dá vida à alma morta, depois dá e segue dando o divino que prolonga a existência, até exercer em nós aquele grande poder que rompe toda liga do pecado, e finalmente faz tomar porto na glória à alma já idônea para isso. Cremos, sustentamos e ensinamos, baseados na Bíblia, que quantos tem recebido do Senhor o arrependimento Infalivelmente perseverarão no caminho; que o Senhor jamais dá princípio a uma boa obra sem levar a cabo; que nunca vivificou realmente para o espiritual sem concluir a obra dando ao sujeito lugar em meio dos coros de santificados. Não somos de parecer que a grandeza do Senhor basei-se em conduzir ao estado de graça; encomendando logo a meu próprio cuidado, senão em por em tal estado de graça, e dar tal vida eterna, exercer tal poder em mim; que tão impossível me seria voltar atrás como ao sol deter-se em seu curso, ou deixar de resplandecer. Para nós, amados, isto significa "grande para salvar." Esta doutrina comumente se entitula calvinista; não é senão cristã, doutrina da Santa Bíblia; calvinista não poderia chamar nos dias de Agostinho, porque nas obras deste achamos esta doutrina; agostinianismo não pode chamar-se tampouco; porque se acha nos escritos de Paulo, não podendo chamar-se paulinismo tampouco, por ser simplesmente desenvolvido, plenitude do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.

Repetimos, sustentamos e com firmeza ensinamos, não só que Jesus Cristo tem poder para salvar ao que consente em ser salvo, mas fazê-lo consentir, fazer com que o ébrio renuncie o vício, e busque o bem, fazer que o escarnecedor se proste, e abrandar seu coração com seu amor.

II. Como se prova que Cristo é grande para salvar?

Apresentarei primeiro o argumento mais forte. Este é, que o tem feito já. A fim de esclarecer que efetivamente o faz, me referirei aos casos mais marcantes. Se dirá que é fácil compreender que, pregado o evangelho às almas virtuosas, criadas no temor de Deus, estas o recebem. Pelo mesmo, não me referirei a elas. Aí teremos o australiano; acaba de despachar seu almoço diabólico de carne humana; é caníbal ou antropófago; no seu cinturão estão penduradas as cabeças das vítimas de sua coragem, matança de que ele se gloria. Se desembarca, em sua terra, o comerá certamente, se não por cuidado em evitar. É um pobre ser desprezível, ignorante, degradado, que muito pouco é melhor que as feras. Terá o evangelho de Cristo poder para amansá-lo, para tirar do seu cinto as cabeças, do seu pensamento os hábitos de sangue, do seu coração os ídolos horriveis que adora, e para fazê-lo civilizado e cristão? Cite o poder da educação em prol do homem, natural mas não espiritualmente; mas em prol daquele selvagem que fará?, Fazei a prova; enviem o melhor mestre de escola; se o

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come antes do anoitecer, e Viva a filantropia! Mas, o missionário e o evangelho? Vezes inumeráveis foram a vanguarda da civilização, e na providência divina escapou da morte mais cruel. Vai e fala com o selvagem com cuidado e obras de amor. Estes são fatos bem conhecidos; não são sonhos. Solta o selvagem com seu machado de guerra; diz que aquilo é maravilhoso, que escutará mais, as lágrimas correm por seu rosto; acendendo na alma um amor humanitário que jamais tenha conhecido. Crê no Senhor Jesus Cristo; logo se vê "com roupa e em juízo," homem enfim, tal como quiséramos que todos o fossem. Isto prova que não vem o evangelho a inteligência preparada para admiti-lo, senão que o mesmo prepara a inteligência; que não se responde o Senhor em depositar a semente no terreno que de antemão se tem preparado, mas que mete o arado, e desterra, e faz tudo. Tem poder para fazê-lo. Pergunte a nossos missionários que trabalhan na África, entre os piores bárbaros do mundo; pergunte se o evangelho tem poder para salvar, e mostrarão o chacal do hotentote e a casa do kuramán e perguntará a sua vez:

-De onde vem a diferença entre este e aquele, senão da palavra do evangelho? SIM, amados irmãos; sobram as provas nos países pagãos; para que mais que isto? Não sobram provas também disso em nosso país? Se prega um evangelho bom para instruir na moral, mas inútil para salvar, útil para impedir talvez que se embriaguem os que não tem o vício, mas inútil para tirar o vício quando o tem; útil para dar uma espécie de vida e salvação a alma, porque desengana aqueles cuja salvação é o objeto mais marcado do evangelho verdadeiro de Cristo. Eu podería citar casos em que houve pecado enorme, que nos horrorizaríamos em ouvir. Poderia contar de alguns que vieram à casa de Deus resolvidos a não escutar o pregador exceto para zombar do que el diz. Se detiveram momentaneamente; chamou a atenção alguma palavra, então disseram será verdade isso? Penetrou na alma alguma palavra expressiva, inegável. Sem saber como foi, se acharam como encantados, sob a influência de algum feitiço, por assim dizer; escutaram ainda, rolaram as lágrimas involuntárias, se retiraram sentindo algo estranho, misterioso, até em seus quarto; cairam em lágrimas, passou por suas mentes sua própria história que confessaram diante de Deus; este deu a paz mediante o sangue do Cordeiro, e voltaram à casa de Deus para dizer a muitos deles:

-Venha escutar o que o Senhor fez em favor da minha alma, e saber do amado Salvador que me buscou.

Exemplos do poder divino transformador do coração e doador da paz ao coração já transformado! Amados ouvintes, frequentemente me digo:

-Eis aqui a prova mais convincente do poder do Salvador! Se pregar outra doutrina; surtirá o mesmo efeito? Se surte, junte qualquer ouvintes, e converta pessoas com sua pregação.

Efetivamente; não será réu do sangue das almas o que não prega doutrina que surta tal efeito? O que crê que seu evangelho salva, e prega todo o ano sem ver um só arrependido em qualidade de fruto da sua pregação contra o vício, como o explica? A razão é que proclama um pobre cristianismo bem diluído e sem força, e não o da Bíblia, amplo, firme e eficaz, o evangelho do Senhor, poderoso para salvar. Se crê naquele que é seu, pregue lutando energicamente por salvar as almas do pecado. Positivamente está provado que o Senhor é "grande para salvar" os piores, arrebatando da insensatez que a tempo os escraviza, e duvida que não sabe que o mesmo evangelho produziria os mesmos resultados em qualquer lugar.

Para meus caros ouvintes a prova da sua grandeza para salvar fora que a eles os salvasse.

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-Você, o que diz? Como livre pensador, tua religião não me merece senão desprezo e aborrecimento.

-E se a grandeza desta religião algum dia te obrigasse a crer? Que diria então? Ah! eu sei que seria intenso teu amor e perdurável, porque diria.

-O mais rebelde fui, e sem saber como, cheguei a amar.

Homem semelhante, crendo porque não teve remédio, serei pregador dos mais eloquentes. Ali está outro que diz:

-Eu não respeito o dia chamado de descanso. Antipatizo com tudo o que é ligado a religião. Pois, não posso provar que a religião não se apodera de você para renovar, obrigando a confessar que é real. "O que sabemos falamos, e o que temos visto testificaremos" (João 3:11). Falando da mudança que efetuou em nós mesmos, apresentamos fatos efetivos, não ensaios nem fantasias, e dizemos sem vacilar; sim; afirmamos de novo: "é Grande para Salvar."

III. Agora, todavia, se pergunta, A RAZÃO DE SER CRISTO "GRANDE PARA SALVAR." A isto se responde de várias maneiras.

Primeiro, dando a palavra "salvar" sua acepção popular, a qual, ainda que correta, não diz tudo, isto é, si entendemos por salvação o pecado perdoado e o inferno evitado, Cristo é grande para salvar a causa da eficácia infinita do seu sangue expiatório. Pecador enegrecido, Cristo tem poder hoje mesmo de branquear mais que a neve. Pergunta como? Vou te dizer. Pode perdoar por que foi castigado por sua culpa. Se reconhece pecador, outra esperança ou abrigo que Cristo não tem diante de Deus, sabe que Cristo tem poder para perdoar, porque uma vez foi castigado por causa do pecado que cometeu, razão pela qual pode dar remissão gratuita. A maneira mais simples de por as claras a fé que tenho na expiação de Cristo é contar certa história. Uma vez se apresentou a mim um pobre Irlandês. Disse que queria me fazer uma pergunta. Eu perguntei por que não a fez ao padre. Disse que havia falado, mas que não havia respondido muito satisfatoriamente, e que se eu resolvesse sua dificuldade ficaria agradecido porque não estava em paz. Que tinha ouvido dizer que Deus pode perdoar o pecado, mas que ele não compreendia como Deus pode perdoar pecados tão grandes como os seus, que reconhecia que se Deus perdoava sem castigá-lo como devia não obraria o parecer com justiça. Perdoar e ser justo, não entendia. Eu disse que isto era mediante o sangue e os méritos de Jesus Cristo. Disse que não entendia aquilo, que assim pouco mais ou menos havia dito o sacerdote, mas que não havia explicado como o sangue de Cristo fazia justo a Deus, e queria que eu explicasse.

Então disse:

-A expiação, suma, substância, raiz, medula e essência do evangelho é assim: Suponha que tenha matado você. Por ser assassino, condenam a morte. A merecia? Pois bem, se deseja salvar sua vida, mas a equidade se opõe a que fique sem satisfação a justiça que exige vida por vida. Dificuldade muito grande, verdade? Agora suponha que eu fosse o Executivo dizendo que a sentença era justa, que não me oporia a ela, mas que amava tanto a você que

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voluntariamente me deixava ser enforcado em seu lugar. Suponha também que admite. Fará justiça em te soltar, morto eu em seu lugar?

Disse que parecia que sim. Não haviam de morrer dois pela culpa de um só. Que seguramente poderia retirar sem que dissesse uma palavra. Disse que é assim que Jesus Cristo salva. Pediu sofrer em lugar dos pecadores por amor que tem. Morreu pois no madeiro, padecendo o que seus escolhidos deviam padecer, razão pela qual estes não podem ser castigados, com tal que tenham fé nele, e assim provem que são seus escolhidos. Ele me disse:

-Compreendo; mas se Cristo morreu por todos, como é que alguns também são castigados? Isso não é justo. Então respondi:

-Não foi isso o que eu disse. Morreu por todos os que crêem nele, isto é, por todos os arrependidos, tão certa e absolutamente que nenhum destes será castigado assim. Disse àquele, aplaudindo com as mãos:

-Por certo isto é o evangelho, ou eu nada entendo do assunto. Ninguem pode ter inventado tal coisa. Quão maravilhoso! Já sou salvo; com todos meu pecados confiarei no homem que morreu por mim, e serei salvo.

Irmãos, Cristo é grande para salvar porque Deus não apartou a espada do coração do seu próprio Filho; nem saldou a dívida, porque esta se pagou com sangue sem preço; o grande recibo cravou na cruz com nossos pecados, e livres somos se temos fé. No sentido exato da expressão, por isto é "grande para salvar."

IV. O quarto ponto foi: Que devemos inferir sabendo que Jesus Cristo é grande para salvar?

Primeiro, há uma grande verdade que deveriam ter presente os ministros, a saber, que tem de pregar esforçando-se a terem fé, deixando o vacilo. Se prostram logo confessando sua fraqueza, lamentando, chorando e gemendo pela dureza de coração dos que ouvem pregar, seus corações de pedra, sem inquietude por causa de seus pecados, sem querer amar o Salvador. Parece ver a seu lado um anjo que diz:

-Você é fraco, mas ele é forte. Nada pode fazer, mas ele é grande para salvar.

Tenho presente. A eficácia não é do instrumento. É de Deus. A pena do autor não será a elogiada pela erudição ou talento que haja no volume, senão o cérebro que impulsionou a mão que moveu a pena. Na salvação também, não é o pregador o que idealiza a salvação, senão o Senhor, e se serve do ministro ou outro para expor. Pobre pregador desconsolado, sim pouco fruto tem visto do teu ministério, prossiga com fé, que, como sabe, foi escrito: "Minha palavra não voltará para mim vazia, mas fara o que quero, e será próspera naquilo para que a envia." (Isaías 55:11.) Prossegue: o Senhor a ajudará ao amanhecer. (Sl. 46:5.)

Também há aqui estimulo para os que oram rogando a Deus por seus parentes. Mãe que anos geme por teu filho, cresceu este, deixou o teto paterno, e tuas orações tem ficado sem resposta. Assim o crê. Te ocasiona pesares com sua alegria não santa, e teme levar tuas cãs com dor ao sepulcro por sua causa. Ontem disse: "É por orar demais; para que o faço?" Pare, mãe; não volte a dizer isso. Comece de novo. Por ele tem orado. Sobre sua familia, encurvada chorando. Deu instrução quando teve idade para receber, e admoestou frequentemente depois;

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mas de nada serviu. Não cesse de orar, todavia, lembre-se que Cristo é grande para salvar. Espera sua hora, talvez, e a você se faz esperar afim de que reconheça mais claramente sua graça quando te outorgar o bem. Prossiga, ainda. De mães tive notícia que oraram por seus filhos vinte anos, morrendo algumas sem ver sua conversão, e sua morte foi o meio de salvá-los, induzindo-os a refletir. Certo pai de familia havia sido piedoso muitos anos, sem ter a alegria de ver convertido um só dos seus filhos. Moribundo já, chamou seus filhos, e disse:

-Filhos meus, morreria tranquilo se pudesse crer que voces me seguirão ao céu; mas isto é o que mais me entristece, não o morrer, senão esta separação eterna. -O contemplaram sem chorar, sem ocupar de seus feitos. Ele se viu envolto de repente de grande tormenta e angústia mental; em vez de morrer tranquilo, morreu atribulado, mas confiando só em Cristo, dizendo:

-Oxalá morresse feliz, porque isto teria sido testemunho para meus filhos; mas, Senhor, estas trevas nublam tanto minha mente, que me privam de testemunhar a verdade da tua religião.

Ao outro dia do sepultamento, disse um deles ao outro:

-Irmão, me ocorre que nosso pai sempre foi piedoso, e morreu tão triste, como morremos nós, sem Deus, sem Cristo?

-Isto também me ocorreu, disse o outro. Foram à casa de Deus, ouviram a palavra, voltaram a sua casa, souberam com surpresa, depois de orar, que a demais família fizeram o mesmo, e que, morto seu pai, o Senhor outorgou o que não havia estando aquele vivo, valendo-se da mesma morte, e morte que um cria ao menos própria para produzir tal efeito. Segue, pois, orando, irmão meu, irmã minha; o Senhor fará que venham o filho e a filha a amar e temer a Deus, e gozará com eles no céu, ainda que na terra não os fosse concedido.

Finalmente, amados ouvintes, muitos até hoje não tem amado o Senhor, mas desejam amar. Perguntam se os poderá salvar, tão pecadores; seu canto se ouvirá algum dia com o dos santos nas alturas; se apagará seus pecados o sangue divino. SIM, pecadores, é "grande para salvar." Consolem-se. Se vê como o pior dos homens? Te fere a consciência como com marreta de ferreiro, dizendo que tudo está perdido, que te condenará, que seus clamores não serão ouvidos, que acabou a esperança? Não acredite; é grande para salvar; se você não pode orar, ele te ajudará; se não pode arrepender, ele te dará arrependimento; se é difícil crer, ele pode ajudar a crer, porque exaltado foi para dar arrependimento como também remissão de pecados. Pobre pecador, confia em Jesus; abrace-o. Clama, e o Senhor te ajuda a fazer isso agora. Hoje mesmo te auxilia para que confie sua alma ao que a comprou, e seja este o dia supremo de toda sua vida. "Volte, volte, por que quer morrer, oh casa de Israel?" Convertam a Jesus, almas fatigadas; atendam ao seu chamado. "O Espírito e a noiva dizem, Vem; também o que ouve diga, Vem; também o que tem sede venha, e o que quer tome da água da vida, debalde." Se os anuncia, e se os liberta; a tereis todos os que estais dispostos a admiti-la.

A graça do Senhor os faça permitir a tomá-la, salvando suas almas por Jesus Cristo nosso Senhor e Salvador. Amém.

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A CRUZ DE CRISTO

DE (A REIVINDICAÇÃO DE) A CAUSA DE DEUS)

Igreja Batista da Graça ARINDEPENDENTE E PARTICULARCalle Alamos No.351Colonia Ampliación Vicente VilladaCD. Netzahualcóyotl, Estado de MéxicoCP 57710Telefone: (5) 793-02161 Co. 1:23 Mas nós pregamos a Cristo crucificado...

D. M Lloyd JonesTraducción realizada por Omar Ibáñez Negrete y Thomas R. Montgomery.Este sermón fue tomado del tomo #3 de la famosa serie de D. MLloyd Jones sobre Romanos,– publicado por El Estandarte de la Verdad.© Copyright, Derechos Reservados para la traducción al español.IMPRESO EN MEXICO 2000.

“a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerancia, deixado impunes os pecados anteriormente

cometidos, tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.” Romanos 3:25-26

Com o fim de dirigir sua atenção às grandes palavras que se encontram no capítulo 3, versículo 25 e 26, da epístola de Paulo aos Romanos, quero lembrar novamente que em

muitos sentidos, não há versículos mais importante em todo o alcance e esfera das Escrituras, que estes dois versículos. Neles temos a afirmação clássica da grande

doutrina central da Expiação. Este é o porque os consideraremos muito cuidadosa e detalhadamente. Alguns tem descrito isto como “A acrópolis da fé cristã”.

Podemos estar seguros de que não há nada que a mente humana pudesse jamais considerar, que seja em alguma maneira tão importante como estes dois versículos. A história da igreja mostra muito claramente, que estes versículos tem sido o meio que Deus o Espírito Santo tem usado para trazer muitas almas das trevas à luz, e para dar a muitos pobres pecadores, o primeiro conhecimento salvador e sua primeira certeza da salvação.

Permita-me dar um bem conhecido e notável exemplo e ilustração fora da história. Estou referindo ao poeta William Cowper. Ele nos diz que se encontrava em seu quarto, em grande agonia da sua alma, e sob uma profunda e terrível convicção. Ele não podia encontrar a paz, e esteve caminhando de um lado a outro, quase ao ponto de desespero, sentindo-se completamente sem esperança, não sabendo que fazer consigo mesmo. Repentinamente, em completo desespero, se sentou em uma cadeira frente à janela do quarto.

Havia uma Bíblia ali, assim que a tomou e a abriu, e assim veio a esta passagem e isto é o que ele nos diz: “A passagem que encontraram meus olhos foi o versículo 25 do terceiro capítulo de Romanos. Ao ler, de imediato recebi poder para crer. Os raios do Sol da Justiça cairam sobre mim em toda sua plenitude. Eu vi a completa suficiência da expiação, na qual

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Cristo forjou para mim, perdão e inteira justificação. Em um instante eu cri e receibi a paz do evangelho. Se o braço do Deus Todo-poderoso não me tivesse sustentado, eu creio que teria sido esmagado de gratidão e alegria. Meus olhos estavam cheios de lágrimas; este êxtase sufocou minhas palavras. Eu só podia olhar para o céu em silencioso temor, surpreendido com amor e assombro”. Isto foi o que este versículo 25 do capítulo três da epístola aos Romanos, fez pelo famoso poeta William Cowper e tem feito a mesma coisa por muitos outros.

Permita-me recordar outra vez o que a passagem diz. É a continuação do que o apóstolo estava dizendo no versículo 24. É a grande boa nova de que agora é possível para nós, ser “justificados gratuitamente por sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus”. Em outras palavras, agora há um caminho da salvação aparte da lei, o qual não depende da nossa observância à mesma. Este é o caminho gratuito que há em Cristo.

Deus nos tem resgatado em Cristo, e estes versículos 25 e 26 explicam como este resgate teve lugar. Mas, Por que teve que acontecer algo como isto? Como ocorreu algo assim? Neste capítulo, o apóstolo considerou duas das grandes palavras que explicam isto. Elas são as palavras “propiciação” e “sangue”. Nos diz que a redenção adquirida nesta maneira, vem a nós através da instrumentalidade da fé. Mas o apóstolo não se detém nisto, ele diz algo mais. Vejamos novamente a afirmação: “a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos, tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.” (Rm. 3:25-26). Por que o apóstolo continuou até dizer tudo isto? Por que não deixou em sua primeira afirmação? Qual é o significado desta afirmação adicional?

Para descobrir a resposta devemos considerar uma vez mais estes termos. o primeiro é o termo “proposto”. Isto significa ‘manifestar’, ‘tornar claro’. Aqui está, obviamente, algo que é de vital interesse para nós, nos diz de uma vez; que a morte do Senhor Jesus Cristo no calvário não foi um acidente, senão que foi obra de Deus. Foi Deus quem “propôs a Cristo” ali. Quão frequentemente a glória completa da cruz é perdida quando os homens a sentimentalizam de alguma maneira e dizem: “Oh, Ele foi tão bom com o mundo, Ele era tão puro. Seus ensinos foram tão maravilhosos; e os cruéis homens o crucificaram”. O resultado disto é que as pessoas começam a se lamentar por Ele, esquecemos de que Ele mesmo se voltou às filhas de Jerusalém, que começavam a se lamentar por Ele para dizer: “...não choreis por mim, mas chorai por vós mesmas” (Lc. 23:28). Se nossa opinião da cruz de Cristo é tal que nos faz lamentá-lo, isto significa que nunca a temos visto verdaderamente.

É Deus quem lhe “propôs”. Não foi um acidente, e sim algo deliberado. De fato, o apóstolo Pedro pregando no dia de Pentecostes, disse que tudo havia passado por “determinado designio e presciência de Deus” (At.2:23). Deus “havia proposto”.Este termo também enfatiza o caráter público da ação. É um grande ato público de Deu. Deus fez algo aqui em público, na cena da história do mundo, com a finalidade de que isto pudesse ser visto, que pudesse olhar e fosse para sempre relembrado. Esta foi a ação mais pública que jamais houve em qualquer outro lugar. Deste modo Deus propôs a Jesus Cristo publicamente, como uma propiciação pela fé em seu sangue.

Isto nos conduz a uma pergunta vital: Porque Deus fez isto? Porque ocorreu? O que foi (se me permite perguntar com reverência) o que levou Deus a fazer isto? Acaso teve algum propósito ao fazê-lo? A melhor resposta pode ser dada vendo os termos um por um. Logo os

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consideraremos como um todo e veremos exatamente, porque o apóstolo sentiu que era vital e e essencial agregar isto ao que já havia dito.

Em primeiro lugar aparece o termo “manifestar”, “para manifestação de sua justiça”. Isto significa: ‘mostrar’, ‘ensinar’, ‘dar uma mostra evidente’, ‘provar’, ‘demonstrar’. Deus fez isto, disse Paulo, com o fim de que Cristo deste modo pudesse resgatar-nos, através da oferta propiciatória. Se, porém em adição a isto, Deus está “manifestando” algo aqui, está mostrando algo, está ensinando e dando uma mostra evidente de algo. De que? “De sua justiça”. Devemos ter cuidado com esta expressão, porque este termo é usado também no versículo 21.

É um tanto infeliz que o mesmo termo seja usado para referir-se a duas ideias ligeiramente diferentes. No versículo 21 esta palavra significa simplesmente, “um caminho de justiça”. “Mas agora, (disse) sem lei, se manifestou a justiça de Deus” (Ro. 3:21). Em outras palavras, o que isto significa é, que se manifestou o caminho de Deus para fazer justos aos homens, o caminho de Deus para dar aos homens justiça.Porém, no versículo 25 não significa isto. Neste versículo diz que Deus fez algo através do qual, Ele manifesta sua justiça; não a justiça que Ele nos dá, e sim a justiça como um de seus atributos gloriosos. Isto significa a equidade de Deus, significa a retidão judicial de Deus, significa a essência moral, santa, justa e reta do caráter de Deus. Ele disse novamente no seguinte versículo (vers.26): “... para ele mesmo ser justo, e o justificador daquele que tem fé (o que crê) em Jesus”. É dizer, na cruz Deus está declarando sua própria retidão, seu próprio caráter justo, sua própria essencial e inerente retidão e justiça.

A seguinte frase é “atento por haver passado por alto”. Deus está declarando sua justiça “com respeito a”, “a conta de” a remissão dos pecados passados. (Nota do Tradutor: Na Versão em inglês aparecem nos versos. 25 as palavras “for” e “remission” ‘To declare his righteousness for the remission of sins that are past’, que se traduziria como: ‘para manifestar sua justiça pela remissão dos pecados passados’. Este é o motivo pela qual o autor faz os comentários a respeito de tais palavras, e estas não coincidem com as versões em espanhol; as quais traduzem “atento por ter passado por alto, em sua paciência, os pecados passados”.) Veja a palavra “remissão” em sua Versão Autorizada e encontrará que esta palavra é usada várias vezes; mas se você buscar a palavra usada no grego, você descobrirá algo muito interessante acerca da palavra que o apóstol usou aqui (a qual é traduzida como “remissão” na versão em inglês), descobrirá que este é o único lugar onde foi usada em todo o Novo Testamento. O apóstolo Paulo não a usou em nenhum outro lugar e ninguém mais a usou de tudo. Há outra palavra que também é traduzida também como “remissão”, e em suas várias formas, você pode encontrá-la 17 vezes no Novo Testamento; mas, esta palavra a qual temos aqui nos versos. 25, é usada somente uma vez e na realidade não significa “remissão”, e sim “pretermisão”.

Esta é uma palavra importante e devemos examiná-la. O que significa “pretermisión”? O que significa “pretermitir pecados” é diferente de “remitir pecados”? Esta é uma palavra que foi usada na Lei Romana. Quando um a encontra na Lei Romana, geralmente é usada neste sentido: Se refere a uma pessoa que fez um testamento e deixou alguém fora de seu testamento. Imagine um homem fazendo um testamento e deixando algo a vários de seus amigos. Mas, há um amigo a quem não deixou nada, isto é “pretermisión”. Ele deixou seu amigo fora de seu testamento; não teve consideração.para com o amigo.

Isto significa, se você quer, “passar por cima”. Aquele homem deu algo a todos seus parentes e amigos, mas passou por cima, isto é pretermitir. Esta é a palavra que é usada aqui no

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verso.25, “passar por cima”, “excusar”, “não fazer caso de”, “permitir que passe sem notá-lo”, “ignorar intencionalmente”. Estes são os significados que foram dados a esta importante palavra a qual o apóstolo deliberadamente escolheu neste versículo.(Nota do Tradutor: O dicionário Larousse por Ramón García-Pelayo e Gross define a palavra ‘pretermisión’ como: Omitir, passar em silêncio alguma coisa.)

Agora, quando o apóstolo faz uma coisa como esta, ele deve ter tido uma boa razão para fazê-lo, não fez tal coisa acidentalmente. Porque não usou a palavra que havia usado em outras partes? Porque esta palavra aqui e só aqui? E porque esta palavra particular que significa “passar por cima”? Claro, que obviamente o significado expressa a ideia “passar por cima”. Assim, ao invés de traduzir “pela remissão dos pecados passados”, deveríamos ler: “atento por ter passado por cima, na sua paciência, aos pecados passados”, “por não haver feito caso intencionalmente, em sua paciência, dos pecados passados”. Podemos dizer de outra maneira. A diferença entre “remissão” e “pretermisión” é a diferença entre “perdoar” e “não castigar”. Você pode dizer que isto é uma exagero, que esta é uma distinção sem diferença. Porém isto não é assim. Por suposto, no final vem ser a mesma coisa. Se eu não castigo um homem, e de alguma forma o perdoo, entretanto, todavia não o fiz completamente. Se eu perdoo, certamente não o castigo; mas, perdoar significa mais que não castigar. Naquela época, este termo “pretermisão”, “passar por alto”, fica curto com a palavra “remissão”; e este é o porque é uma pena que a Versão Autorizada tenha “remissão” aqui, devendo ser “passar por alto” ou “não fazê-lo intencionalmente”.

A seguinte frase que veremos nos “os pecados passados”. “Atento por ter passado por cima os pecados passados”. Outra vez a Versão Autorizada não é tão boa como deveria.Tomando a Versão autorizada você poderia chegar à seguinte- conclusão que o apóstolo está dizendo, que Deus passa por cima dos pecados “passados”, os pecados passados de qualquer; um por exemplo: meus pecados passados, seus pecados passados, “os pecados passados” em geral. Mas, isto não é o que o apóstolo estava dizendo, isto não é o que ele queria dizer. Uma tradução melhor aqui poderia ser: “pecados que foram cometidos antigamente”. Ele está se referindo a um tempo bem definido. Este é o tempo que ele contrasta no seguinte versículo, com “este tempo” (vers. 26). Houve aquele tempo, logo este tempo. Ele disse:‘A quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.’O que é o que ele está vendo atrás? Ele está vendo a direção da Antiga Dispensação. Ele está dizendo que Deus passou por cima os pecados debaixo da antiga dispensação, sob o pacto antigo, nos tempos do Antigo Testamento. Seu ponto é que Deus tinha feito isto, e agora propôs a Cristo para fazer algo, acerca do que Ele fez naquela época.Isto nos traz a última palavra que temos que considerar, a qual é a palavra “paciência” ou “indulgência”.O que é a paciência ou indulgência? Paciência significa ‘auto refreamento’ (auto controle), significa ‘discrepância permitida’, ‘tolerância’. O que é exatamente o que o apóstolo está dizendo? Disse: “A quem Deus propôs, na propiciação pela fé em seu sangue, para manifestação de sua justiça, atento por ter passado por cima, em sua autorepressão ou paciência, os pecados que foram cometidos antigamente...” Que quer dizer isto? O que Paulo está nos dizendo é que este ato público que Deus decretou e consumou no calvário, tem relação também com as ações de Deus sob a dispensação do Antigo Testamento, quando Deus intencionalmente não fez caso, Deus passou por cima, por seu auto refreamento e paciência, os pecados de seu povo daquele tempo.

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Mas o que tudo isto significa? Podemos responder de uma forma bem interessante a esta pergunta, vendo a mesma afirmação em outros dois lugares no Novo Testamento. Você se lembra como o apóstolo Paulo fala à congregação dos estóicos, dos epicureus e outros em Atenas? Este informe encontramos no capítulo 17 do livro dos Atos dos Apóstolos, começando particularmente no versículo 30. O apóstolo elaborando seu argumento disse: “Ora não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam” (Atos.17:30).

Observe como ele elabora seu grande argumento. Ele disse, Deus não deixou a si mesmo sem testemunho, por todo esse tempo através de todas estas gerações e séculos. Deus tem deixado suas evidências e sinais. E o propósito foi que as pessoas pudessem buscar ao Senhor, “se porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós; pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração. Sendo pois geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata, ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem. .Porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (Veja Atos.17:27-31).

A outra passagem é o versículo 15 do capítulo nove da Epístola aos Hebreus: “Por isso mesmo, ele é o Mediador (Cristo) da nova aliança, a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que tem sido chamados”. Agora, isto é precisamente a mesma coisa. Hebreus 9:15 disse exatamente a mesma coisa que o apóstolo está mencionando em Romanos 3. Então, o verdadeiro comentário de nosso versículo se encontra na afirmação de Hebreus, onde vemos que o autor estava ansioso de que seus leitores pudessem entender claramente acerca do antigo pacto e dos sacrifícios e oferendas que as pessoas ofereciam a Deus sob esta antiga aliança. Eles deveriam entender e ter muito claro em suas mentes, que estes sacrifícios nunca foram capazes de produzir um perdão completo de pecados; e que não podiam expiar o pecado. Estes sacrifícios podiam fazer algo, disse o apóstolo, eles foram de valor para “a purificação da carne”. “...o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam, quanto à purificação da carne” (Hb.9:13).

Porém estes sacrifícios não podiam fazer mais nada Eles não podiam tratar com a consciência. Esta era a dificuldade, e todavia todo o problema diz respeito à consciência. Mas, se o sangue dos touros e de bodes podia purificar a carne, “Muito mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo?” (Heb.9:14). O qual “É isto uma parábola para a época presente; e segundo esta, se oferecem tanto dons como sacrifícios, embora estes, no tocante à consciencia, sejam ineficazes para aperfeiçoar aquele que presta culto, os quais não passam de ordenanças da carne, baseadas somente em comidas e bebidas e diversas abluções, impostas até ao tempo oportuno de reforma. Quando porém, veio Cristo, como sumo sacerdote dos bens já realizados...” (Heb.9:9-11) e assim segue.

Entende o argumento? O que o apóstolo está dizendo é que sob o antigo pacto, debaixo da antiga dispensação, não houve provisão para tratar dos pecados em um sentido radical. Eram simplesmente meio passageiros, como foram, que duraram até o tempo determinado. Estes antigos sacrifícios e oferendas davam certa ordem de purificação da carne, proporcionavam uma purificação cerimonial, tornando apta a pessoa para chegar diante de Deus em oração. Porém não havia sacrifício no Antigo Testamento que tratara realmente com o pecado. Tudo o

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que estes sacrifícios faziam era indicar para que direção, o sacrifício que havia de vir, o qual realmente trataria com o pecado, limpando as conciências das obras mortas e reconciliando verdadeiramente ao homem com Deus.

O que você quer dizer com isso, alguém pode perguntar. Por um acaso, os santos do Antigo Testamento não eram perdoados? Por suposto que não quero dizer isso. Eles eram obviamente perdoados e eles agradeciam a Deus pelo perdão recebido. Você não pode dizer nem por um momento que pessoas como Abraão, Davi, Isaque e Jacó não foram perdoados. Entretanto, eles não foram perdoados devido a estes sacrifícios que eram oferecidos naquela época. Eles eram perdoados por olharem em direção a Cristo. Eles não viram isto claramente, apesar disto, creram na doutrina, e eles faziam estas oferendas movidos pela fé. Eles creram nas promessas de Deus, que um dia Ele ia prover um sacrifício e por meio da fé, eles creram nisto. Porém foi sua fé em Cristo o que os salvou, igualmente como é a fé em Cristo o que nos salva agora. Este é o argumento.

Porém, há algo nisto que nos revela como um problema. Deus sempre se revelou assim, mesmo sendo um Deus que aborrece o pecado. Ele anunciou que castigaria o pecado, e que o castigo do pecado era a morte. Ele anunciou que ele derramaria sua ira sobre o pecado e sobre os pecadores. Entretanto, aqui estava Deus por séculos, aparentemente, e de toda aparência, indo atrás de suas próprias afirmações e de Sua própria Palavra. Ele parecia não estar castigando o pecado. Ele estava passando por cima de tudo. Por acaso Deus parou de se preocupar com estas coisas? Por acaso Deus se tornou indiferente com relação à moral? Como pode Deus passar por alto o pecado desta maneira? Este foi o problema. E foi um verdadeiro problema. É claro que o sangue dos touros e dos cabritos, e as cinzas da bezerra não podiam realmente perdoar o pecado. E entretanto, Deus passava por alto estes pecados. Como podia fazer isto?

O que é que justifica esta “paciência de Deus”?Agora, disse o apóstolo, Deus realmente nos explicou o que Ele fez em público diante do mundo inteiro, na cena e teatro do mundo inteiro, com Cristo no calvário. Ele reteve sua ira através dos séculos e não a revelou completamente então; mas agora, Ele a revelou completamente. Ele o declarou agora. Paulo disse, “tendo em vista a manifestação” (Rm.3:26), e repetirei que, esta era uma das coisas que estavam ocorrendo na cruz.

Na cruz, no monte calvário, Deus estava dando uma explicação pública do que Ele havia feito através dos séculos. E através disso, ao mesmo tempo, Ele estava reivindicando seu próprio eterno caráter de justiça e santidade.Como exatamente Deus fez isto? Como Deus fez isto no calvário? Como reivindicou O seu caráter? Como Deus explicou seu “ter passado por alto” os pecados no tempo antigo, do seu auto-controle e tolerância? Há um só maneira na qual Ele poderia fazer isto. Deus afirmou que aborrece o pecado, que Ele castigará o pecado, que ele derramará sua ira sobre o pecado, e sobre todos aqueles culpados de pecado. Portanto, ao menos que Deus possa provar que tem feito isto, então Ele não é justo. E o que o apóstolo está dizendo é que, precisamente no calvário Deus fez isto. Ele mostrou que ainda aborrece o pecado, que Ele vai castigar, que Ele deve castigar, que Ele derramará sua ira sobre Ele. Como mostrou isto no calvário? O que Deus fez no calvário foi derramar sobre seu unigênito e amado Filho, sua ira contra o pecado. A ira de Deus que deveria vir sobre você e sobre mim porque nossos pecados estavam sobre Ele.

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Deus sempre soube que Ele ia fazer isto. Lemos nas Escrituras acerca do “cordeiro que foi imolado antes da fundação do mundo” (Ap.13:8). Foi um plano que teve sua origem na eternidade. Foi devido ao que Deus sabia o que ia fazer, que Ele foi capaz de passar por alto o pecado durante todos esses séculos que transcorreu. Desta maneira, você pode ver, diz o apóstolo, que Deus é ao mesmo tempo o Justo e Ele que justifica ao ímpio que crê em Cristo. Este era um tremendo problema, Como podia Deus permanecer como Santo e Justo, e tratar com o pecado tal como Ele disse que ia fazer e todavia perdoar o pecador? A resposta só pode ser encontrada na cruz do calvário. Isto é uma parte essencial do que é declarado através da cruz.

Deus tinha que reivindicar o que Ele esteva fazendo no passado sob o antigo pacto. Mas Ele tinha algo a mais para fazer, nos diz no versículo 26: “tendo em vista a manifestação da sua justiça NO TEMPO PRESENTE”. Ele já nos explicou como é que Deus pôde passar por alto todos esses pecados no passado. Mas, como trata com o pecado agora? Como tratará com os pecados no futuro?

A resposta está também ali na cruz do calvário. O ensino em outras palavras é esta: A cruz no calvário, a morte do Senhor Jesus Cristo, tal como o apóstolo João mostra em sua Primeira Epístola (1Jo.2:2), “e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro”. (Nota do Tradutor: Neste versículo a palavra mundo significa que Cristo morreu pelos pecados não só dos judeus, senão também dos gentios. Como disse a samaritana, Ele é “o Salvador do mundo” e não só do povo israelita. Note o paralelo do versículo na Primeira Epístola de João e a passagem de (Jo.11:51-52). Note também o uso paralelo da palavra gentios e mundo feito pelo apóstolo Paulo em Rm.11:11-12. Este uso foi muito necessário devido ao recalcitrante prejuízo judeu para os gentios, o qual era tanto, que o só ouvir a palavra “gentio” os incomodava grandemente (veja At.22:21-22). Este é o significado da palavra mundo aqui; de outro modo, se argumentasse que a morte de Cristo abarcou a todos e cada um dos membros da raça humana, então, estaríamos dizendo que os incrédulos vão ao inferno “com a conta paga” ou que Deus castiga em dobro o pecado, é dizer, em seu próprio Filho e no pecador. Ademais, é necessário tomar em mente que Cristo não sofreu pelos pecados de nenhuma pessoa que já estava no inferno quando Ele morreu. Se o leitor está interessado em compreender o propósito e alcance da expiação de Cristo, recomendamos a leitura do livro de “Vida por sua Morte” do Dr. John Owen).

Os pecados foram tratados de uma vez por todas na cruz. É na cruz que foram providos os meios para que todos os pecados sob a antiga dispensação, os pecados que Ele havia perdoado a Abraão, Isaque, Jacó e todos os crentes do Antigo Testamento, pudessem ser deste modo ‘passados por alto’. Seus pecados estavam incluídos no monte calvário. Sim, diz Paulo, e os pecados que estão sendo perdoados agora, também foram tratados ali. E todos os pecados que serão cometidos também foram tratados ali. Este é o assombroso assunto acerca do Cristo do calvário, Ele morreu ‘de uma vez por todas’ este é o grande argumento da Epístola aos Hebreus, você se lembra. Os outros sacrifícios tinham que ser oferecidos dia após dia. Havia uma sucessão de sacerdotes e eles tinham que oferecer seus sacrifícios frescos cada vez. Mas este homem (Jesus Cristo) foi oferecido pelos pecados “um só sacrifício para sempre” (Hb.10:12). Ele tratou com todos os pecados do seu povo ali. Não se necessita de nenhum mais. Não se necessita de outro novo sacrifício, este foi feito uma só vez e para sempre (veja Hb.7:27). Deus os pôs todos sobre Ele ali na cruz; os pecados que você ainda não cometeu já foram tratados ali.

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Este é o significado do perdão e somente isto. Tempo passado, pecados cometidos antes, pecados cometidos agora e em todo tempo; esta é a justificação provida por Deus para perdoar qualquer pecado onde quer que se tenha cometido.Isto é o que o apóstolo está dizendo aqui. Todo pecado é perdoado sobre estas bases e somente sobre estas. A cruz declara que Deus é “o justo e o que justifica daquele que tem fé em Jesus” (Rm.3:26). Permita-me por desta maneira. A cruz do calvário não manifesta meramente que Deus nos perdoa. Faz isto, mas graças a Deus, isto não para ali.

Se a cruz somente manifestasse isto, o apóstolo poderia ter terminado o versículo com a palavra “sangue” (vs.26) e não teria necessidade de mais nada. Mas ele não se detém ali, senão que segue adiante. Continua no versículo 25 e acrescentando ainda o versículo 26. Por que? Porque a cruz não é somente a manifestação de que Deus está pronto para perdoar-nos.Outra maneira que posso explicar é a seguinte: A cruz não foi posta meramente para influir-nos. Ainda que isto é o que o ensino popular nos diz. Nos diz que o problema com a raça humana é que eles não conhecem o amor de Deus, não conhecem que Deus já está pronto para perdoar todo o mundo. Qual é então o significado da cruz? Bem, eles nos dizem que é Deus dizendo que Ele nos perdoou; e logo, quando vemos Cristo morrendo na cruz, isto quebrantará nossos corações e nos conduzirá a isto. A cruz, de acordo com eles, é dirigida somente a nós e nos está falando. Mas, a cruz tem um propósito maior que este e obtém esta outra coisa também.

Nosso perdão é só uma coisa; mas há algo que é infinitamente mais importante. Qual é? É o caráter de Deus. Então, a cruz, além de dizer que este é o caminho de Deus para fazer possível o perdão, nos diz que o perdão não é uma coisa fácil para Deus. Falo com reverência. Por que o perdão não é uma coisa fácil para Deus? Simplesmente porque Deus não é somente amor, Deus também é justo e reto e santo. Ele é luz, e nele não há nenhuma trevas (1Jo.1:5). Ele é tanto reto e justo, como também amor. Não estou pondo estes atributos um contra outro. Estou dizendo que Deus é todas estas coisas juntas, e você não deve deixar de fora uma por outra. Então, a cruz não nos diz somente que Deus perdoa, nos diz que esta é a maneira em que Deus faz o perdão possível. Esta é a maneira na qual compreendemos como Deus perdoa. Vou mais longe: Como Deus pode perdoar e permanecer como Deus? (Nota do tradutor: É dizer como um Deus justo e santo que não terá por inocente o culpado.)

Esta é a questão, e a resposta é que a cruz é a reivindicação de Deus. A cruz é a reivindicação do caráter de Deus. A cruz não somente nos mostra o amor de Deus mais gloriosamente que nenhuma outra coisa, também nos mostra sua retidão, sua justiça, sua santidade, e toda a glória de seus eternos atributos. Todos eles podem ver brilhando juntos ali na cruz. Se você não os vê, você não viu a cruz. Este é o porque devemos rechaçar totalmente a assim chamada “teoria da influência moral” da expiação, a qual esteve descrevendo. Essa teoria a qual nos diz que tudo o que a cruz tem a fazer, é quebrantar nossos corações e logo conduzir-nos a ver o amor de Deus.

Por cima e mais além disto, diz Paulo, Deus está manifestando sua “justiça, atento a ter passado por alto, em sua paciência, os pecados passados”. Se a cruz não é mais que a manifestação do seu amor, então por que diz isto? Não, disse Paulo, a cruz é mais que isto. Se a cruz está proclamando somente Seu perdão, então nós teríamos direito de perguntar, se todavia podemos depender da Palavra de Deus, e se ele é justo e reto. Esta seria uma boa pergunta devido a que, repetidamente no Antigo Testamento, Deus afirmou que Ele aborrece o pecado, e que Ele o castigará, e que o salario do pecado é a morte. O caráter de Deus está envolvido em tudo isto, Deus não é um homem. Algumas vezes nós pensamos que é algo

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maravilhoso para as pessoas dizer uma coisa, e logo em seguida fazer outra. Os pais dizem a seus filhos, ‘Se você fizer tal coisa, não te darei dinheiro para comprar doce’. Então o menino faz aquilo, mas o pai disse, ‘Bom, está bem’, e em seguida lhe dá dinheiro para gastar. Diante disso podemos pensar é amor e perdão de verdade. Mas Deus não se conduz desta forma. Deus talvez pode dizer dessa forma, é eternamente consistente consigo mesmo. Não há contradição nele. Ele é o “Pai das luzes, em quem não pode existir variação” (Tg.1:17).

Todos estes atributos estão e devem ser vistos brilhando como diamantes em seu caráter eternal, e todos devem ser mostrados. Na cruz todos eles são manifestados. Como pode Deus ser justo e justificar ao ímpio? A resposta é que Ele pode, porque na cruz ele foi castigado por causa do pecado dos pecadores em seu filho. Ele derramou Sua ira sobre Ele, “...o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is.53:5). Deus fez o que disse que ele faria, ele castigou o pecado. Ele proclamou isto por toda parte através de todo o Antigo Testamento, portanto ele fez o que disse que ia fazer, mostrando que é justo e reto. Ele fez na cruz uma declaração pública de tudo isso. Ele é justo e pode justificar por ter castigado outro em nosso lugar. Ele pode nos perdoar gratuitamente. E assim o faz.Esta é a mensagem do versículo 24: “Sendo justificados (considerados, declarados, pronunciados ‘justos’) gratuitamente por sua graça, mediante a redenção (o resgate) que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue” (Rm.3:24-25). Deste modo ele declara sua justiça por ter passado por alto estes pecados em seu tempo de auto refreamento. “para manifestar sua justiça” sua justiça naquela época, hoje e sempre em perdoar pecados. Desta maneira. Ele é o único e ao mesmo tempo, o justo e o que justifica aquele que têm fé em Jesus.

Tal é a grande, gloriosa e maravilhosa afirmação. Tenha certeza de que este seja seu ponto de vista, e de que seu entendimento da cruz, inclua a totalidade dela. Examine seu ponto de vista acerca da cruz. Onde está a afirmação acerca de “manifestar sua justiça” e siga adiante, coloque-o em seu pensamento. Isto é algo que você simplesmente se evidencia e diz: ‘Bem, não sei o que isto quer dizer; tudo o que eu sei é que Deus é amor e que ele perdoa’? Porém, você deveria saber o significado disto, porque esta é uma parte essencial do glorioso Evangelho.

No calvário Deus estava traçando um caminho de salvação para que você e eu pudessemos ser perdoados. Mas, ele teve que fazê-lo de tal maneira que seu caráter ficou inviolável, que sua eterna consistência permanecerá absoluta e inquebrantável. Uma vez que um começa a contemplar um assunto como este, se dá conta que esta é a mais tremenda, a mais gloriosa, a mais assombrosa coisa no universo e em toda a história humana. Deus está declarando na cruz o que Ele fez por nós. E ao mesmo tempo está mostrando sua própria grandeza eternal e glória, declarando que Ele “...é luz, e não há nele treva nenhuma” (1Jo.1:5). “Quando contemplo a maravilhosa cruz...” disse Isaac Watts, você porém não poderá ver o maravilhoso dela, até que você contemple realmente a luz desta grande afirmação do apóstolo. Deus estava mostrando públicamente na cruz de uma vez para sempre, Sua eterna justiça e Seu eterno amor. Nunca devemos separar um do outro, porque sempre permanecem juntos e ambos são atributos ao glorioso caráter de Deus.

Tarefa lição 4 Solo Cristo

1. Por qu o tema de "Solo Cristo" foi um tema maior durante a Reforma na Igreja no século 16? Que ideias se formaram em oposição a isto?

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2. O que as igrejas hoje enfrentam sobre pregar a Cristo crucificado?3. Que conceito teológico distingue mais a fé cristã de todas as outras formas de fé?4. A crucifixão de Cristo é uma imagem tão somente encontrada noNovo Testamento, ou

se pode encontrar no Antigo Testamento? Nomeie algumas referências.5. Defina estes três aspectos da obra de Cristo na Cruz: satisfação, sacrifício e

substituição.6. Por que é essencial a pregação da cruz para a mensagem do evangelho?7. Que efeito terá a pregação da Cruz de Cristo na vida daqueles que escutam?8. O que se entende por “salvar?9. Por que o autor disseque Cristo é grande para salvar?10. Qual foi a experiência do poeta William Cowper?11. Procure em um dicionário bíblico as palavras Propiciação e Expiação. Faça uma

definição de cada uma com suas próprias palavras.12. O que significa “passar por cima ou pretermisión”; é o mesmo que dizer “remissão”?

Explique.13. Mediante o que foram perdoados os pecados dos fiéis do Antigo Testamento;

mediante o sacrifício de animais, ou de que maneira? Explique.14. Como Deus pode permanecer como Santo e Justo e ao mesmo tempo perdoar ao

pecador, sendo que disse “Não terei por inocente ao culpável? Explique sua resposta.

Estimado estudante, leve em conta que sua resposta deve ser dada de acordo com os princípios estudados no texto. Isso não significa que todas as respostas estejam diretamente no livro, porém a maioria pode inferir dele. Caso a resposta não esteja no livro, pode colocar a sua, mas deve justificá-la biblicamente.

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LIÇÃO V

SÓ PARA A GLÓRIA DE DEUS

(Soli Deo Gloria)

 Um sermão pregado em 1 de Fevereiro de 1858, por C.H. Spurgeon, no Salão de Música de Royal Surrey Gardens, Inglaterra    

PORQUE OS HOMENS SÃO SALVOS?

"Os Salvou por Amor de Seu nome" (Salmo 106:8).

  Ao contemplar as obras de Deus na criação, duas perguntas chegam em nossa mente, que hão de ser respondidas se queremos a explicação da ciência e a filosofia de tudo o que foi criado. A primeira se refere a seu autor: Quem fez todas estas coisas? E a segunda está relacionada com sua intenção: Com que propósitos foram criadas? A primeira pergunta pode ser respondida facilmente por qualquer pessoa de reta consciência e mente sã; porque quando eleva seus olhos para ler nas estrelas que estão distantes, vê que estas escrevem letra a letra com caracteres de ouro a palavra de Deus; e quando olha para baixo, para as águas, se seus ouvidos estão abertos pode ouvir o rumor de cada onda proclamando o nome de Deus. Se contemplares de cima os montes, eles não falaram, mas, a nobre resposta de seu silêncio parecem dizer:  

"Divina é a mão que nos fez".

Se escutamos o murmúrio do riacho descendo ladeira abaixo, o rugido da correnteza, o mugido do gado, o cantar dos pássaros, e toda voz e sonido da natureza, ouviremos a resposta à nossa pergunta: "Deus é nosso criador". "Ele nos fez, e não nós a nós mesmos".

A outra pergunta, correspondente ao objetivo do criador -para que fez estas coisas?- Não é tão fácil de responder, se prescindimos a Escritura; mas ao ler a Bíblia descobrimos que, sem a resposta da primeira pergunta, a réplica da segunda é a mesma. Estas coisas foram feitas para glória de Deus, para seu gozo e honra. Não há outra contestação que seja compatível com a razão. Qualquer outra argumentação que propunham os homens não poderá ser realmente acertada. Se durante um momento considerarem que houve um tempo em que Deus não havia criado nada quando estava só, o poderoso inventor dos períodos, glorioso em sua solidão, divino em sua deserta eternidade ("Eu sou e além de mim não há outro") ningém poderia responder a essa pergunta: com que objetivo fez Deus a criação? De outra forma que não fosse a seguinte: "A criou para seu próprio gozo e glória". Alguém poderá dizer que Deus formou o universo para as suas criaturas; porém quem fala assim, deve levar em consideração que naquela época não havia criatura, e essa resposta só seria encontrada agora. Deus nos dá a colheita; colocou o sol no firmamento para que nos abençoasse com sua luz e calor; colocou a lua à noite para atenuar a escuridão que reina na terra; Deus fez tudo isto pelo e para sua criatura. Porém, a primeira contestação, voltando à origem de todas as coisas, não pode ser outra que esta: "Foram e são criadas para seu gozo". "Ele fez todas as coisas por e para si mesmo."

Pois bem, quando falamos sobre as obras da criação, isso também é válido para as obras de salvação. Eleve seus olhos para as alturas, e além daquelas estrelas que brilham no céu; 100

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veja ali onde os espíritos vestidos de branco, com resplendor mais puro que a luz, brilham como astros em sua magnificência; olhe e veja, onde os redimidos com sua sinfonia musical "cercam com gozo o trono de Deus", e fazemos a seguinte pergunta: "Quem salvou esses seres gloriosos, e com que propósito?" Asseguramos que a resposta há de ser a mesma que demos anteriormente: Ele os salvou, "salvou-os por amor de Seu nome". O texto, pois, é uma resposta às duas grande perguntas relacionadas com a salvação: quem salva aos homens? E por que são salvos? "Salvou-os por amor de Seu nome."

Esta manhã, procure pensar neste tema. Deus quer torná-lo proveitoso para cada um de nós, e que sejamos chamados entre o número dos que hão de ser salvos "por amor de Seu nome". Considerando o texto de forma literal -e dessa forma a maioria entenderá- encontramos o seguinte: Primeiro, um glorioso Salvador: "Ele os salvou"; segundo, um povo favorecido: "Ele os salvou"; terceiro, uma razão divina pela qual foram salvos: "Por amor de Seu nome"; e quarto, um impedimento superado na palavra "todavia", a qual indica que havia uma dificuldade que foi superada: «Salvou-os todavia por amor de seu nome". Um Salvador, os salvou, a razão e o impedimento superado.

1. Em primeiro lugar, pois, nos achamos ante UM GLORIOSO SALVADOR -"Salvou-os"-. Quem foi o que os salvou? Possivelmente muitos de meus ouvintes contestaram: "Está claro, o Senhor Jesus Cristo, que é o Salvador dos homens." Muito bem meus amigos, porém não é essa toda a verdade. Jesus Cristo é, em efeito, o Salvador, mas não o é mais que Deus o Pai, o que Deus Espírito Santo. Muitas pessoas que desconhecem o sistema da divina verdade, tem a Deus Pai por um ser cheio de ira, cólera e justiça, porém carente de amor; e talvez pensam em Deus Espírito Santo considerando-o como uma mera influência que emana do Pai e do Filho. Pois bem, nada pode ser mais incorreto que esta opinião. É verdade que o Filho me redimiu, mas, o Pai deu a seu Filho para que morresse por mim, e foi também o Pai quem me escolheu na eterna eleição de sua graça. O Pai apaga meu pecado, e o Pai me aceita e me adota fazendo-me membro de sua família por meio de Cristo. O Filho sem o Pai não poderia salvar, como tampouco o Pai sem o Filho. E com respeito ao Espírito Santo, se o Filho redime, não sabeis que é o Espírito Santo o que regenera? Ele é quem nos faz novas criaturas em Cristo, o que nos gerou de novo em uma esperança viva, quem purifica nossa alma, o que santifica nosso espírito, e o que, finalmente, nos apresenta sem culpa nem mancha ante o trono do Altíssimo, aceitos no Amado. Quando dizes: "Salvador", lembra que há uma Trindade nessa palavra: O Pai, o Filho e o Espírito Santo, sendo este Salvador três pessoas em um mesmo nome. Não podes ser salvo pelo Filho prescindindo do Pai, como tampouco pelo Pai sem o Filho, nem pelo Pai e Filho sem o Espírito Santo. Senão que, do mesmo modo que são um na criação, assim o são também na salvação, operando unidos em um só Deus, a quem seja glória eterna pelos séculos dos séculos, amém.

Notemos agora, como este ser divino exige para si mesmo a plenitude da salvação. "Salvou-os." Porém, onde você está, Moisés? Não foi você quem os salvou?; Você estendeu tua vara sobre o mar, e as águas se dividiram; você elevou ao céu a tua prece, e apareceram as rãs, as moscas, a água se converteu em sangue, e o granizo assolou a terra do Egito. Nã é Moisés, seu salvador? E, Arão; que ofereceu o boi que foi aceito por Deus; os conduziu junto com Moisés através do deserto. Não foi você seu salvador? Eles nos responderam: "Não, nós fomos simplesmente os instrumentos; foi Ele quem os salvou. Deus nos usou, mas toda glória seja dada a seu nome, e nenhuma a nós". E vocês, povo de Israel; vocês eram fortes e poderosos, não salvaram a si mesmos? Talvez foi por vossa própria santidade que o Mar Vermelho se secou; talvez os líquidos muros estavam assustados ante a piedade dos santos que caminhavam entre suas margens; talvez Israel mesmo tenha se libertado. Não é nada

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disso, disse a Palavra de Deus; Ele os salvou; eles não se salvaram por si só, nem foram redimidos por seus semelhantes. Prestem atenção que, apesar de tudo, há quem discute este ponto, crendo que os homens se salvam a si mesmos, o que os sacerdotes e pregadores podem ajudar a fazer. Mas o pregador só é o instrumento que, na mão de Deus, serve para chamar a atenção dos homens, para alentar e despertar; além disso, não é nada; Deus é tudo. A eloquência mais poderosa que jamais saiu dos lábios do mais sublime pregador, nada é sem o Santo Espírito de Deus. Nem Paulo, nem Apolo, nem Cefas, são nada: Deus dá o crescimento, e à Ele tem de ser toda a glória. Por vários lugares encontramos alguns que dizem: "Eu sou convertido por fulano de tal; sou um dos convertidos pelo Reverendo Doutor cicrano ou beltrano". Ora, se é assim, não posso dar muitas esperanças de ir ao céu, porque ali só vão os que são convertidos por Deus; não os prosélitos do homem, senão os redimidos do Senhor. Oh!, é muito pouco converter um homem a nossa própria opinião, mas é muito ser o meio de converter ao Senhor nosso Deus. Faz algum tempo recebi uma carta de um irmão ministro batista da Irlanda, o qual desejava que eu fosse lá para, como dizer, representar o grupo batista, porque este era ali muito escasso, e talvez assim as pessoas tivesse melhor opinião de nossa denominação. Respondi que se era só para fazer isso, não me incomodaria nem um pouco em atravassar uma rua, e muito menos em atravessar o mar da Irlanda. Jamais pensaria ir ali por esse motivo. Se o fizesse seria como instrumento de Deus para fazer cristãos, e como meio para trazer os homens a Cristo. A denominação à que tivessem de pertencer depois deixaria por sua escolha, confiando no Santo Espírito de Deus que os dirigisse e guiasse para a que eles se achegassem mais perto da Sua verdade. Irmãos, eu poderia, talvez, fazer de todos batistas e, entretanto, nem por isso seriam melhores; se eu os convertesse dessa forma, tal conversão os arrastaria à maior desonra, pois havia se convertido em hipócritas e não em santos. Tenho visto algumas dessas conversões pela maioria. Tem surgido pregadores que fazem sermões impactantes, fazendo os homens se estremecerem com a mesma. "Que homem tão maravilhoso!", as pessoas dizem. "Fez um sermão que converteu a muitos." Mas, procure por esses convertidos dentro de um mês. Onde eles estão? Verás alguns no bar, outros xingando o outros, e enquanto muitos continuam sendo preguiçosos, porque não foram convertidos por Deus, e sim pelo homem. Irmãos, se a obra deve ser realizada de alguma maneira, deve ser feita por Deus, porque se não é Deus quem converte, nada do que for feito irá durar, nem terá proveito para a eternidade.

Embora alguns contestem: "Bom, mas, os homens se convertem a si mesmos". Assim é, de fato, e por certo que é esta uma conversão estupenda. Com muita frequência se convertem por eles mesmos. Mas o que o homem faz, o homem o desfaz. O que um dia se converte a si mesmo, volta ao seu vômito em seguida. Faz um nó que pode desatar com seus próprios dedos. Lembrem-se disto: Podem se converter por seu próprio poder tantas vezes como quiser, mas "o que é nascido da carne, é carne", e "não pode ver o reino de Deus". Só "o que é nascido do Espírito, é espírito", e será por isso congregado ao fim no reino espiritual, onde unicamente o que é do Espírito se achará ante o trono do Altíssimo. Esta prerrogativa devemos reservá-la totalmente para Deus. Se alguém sustentar que Ele não é o Criador, chamaríamos incrédulo; mas se negasse a doutrina de que Deus é o Fazedor absoluto de todas as coisas, seria objeto da nossa mais firme repulsa, e sua incredulidade teria o selo da pior espécie; porque é mais pérfido o que, em vez de destituir a Deus do trono da criação, o arranca da misericórdia, e diz aos homens que podem converter-se por seu próprio desejo e poder. Deus é quem faz tudo. Unicamente Ele, o grande Senhor -Pai, Filho e Espírito Santo- "os salvou por amor do Seu nome". Desta forma procurou expor claramente a primeira verdade sobre o divino e glorioso Salvador.

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II. Agora, e em segundo lugar, trataremos sobre AS PESSOAS FAVORECIDAS. «Os salvou.» Quem são eles? Responderão: "As pessoas mais respeitáveis que pudesse encontrar no mundo; um povo de oração, amante, santo e digno, e portanto, porque eram bons, Ele os salvou." Muito bem, essa é vossa opinião, mas direi o que disse Moisés: "Nossos pais no Egito não entenderam tuas maravilhas; não acordaram das multidões de tuas misericórdias, senão que se rebelaram junto ao mar, no Mar vermelho. Os salvou todavia." Leia o versículo sete, e nele encontrarão o caráter daquelas pessoas. Em primeiro lugar eram néscios: "Nossos pais no Egito não entenderam tuas maravilhas." Afinal eram ingratos: "Não acordaram para a multidão de tuas misericórdias". E em terceiro lugar eram rebeldes: "Senão que se rebelaram junto ao mar, no Mar Vermelho". Ah!, estas são as pessoas que a graça soberana salva; estes são os homens e mulheres que o Deus de toda graça se compraz em trazer em seu seio, criando-os de novo.

Notem primeiramente que eram néscios. Frequentemente Deus envia seu Evangelho, não ao prudente nem ao sábio, senão ao ignorante:  

"E1e toma ao néscio e o faz conhecer

As maravilhas da sua cruz de amor".  

Não crêem, amigos meus, que porque sejam iletrados e apenas saibam ler, ou porque tenham sido criados em extrema ignorâcia e dificilmente possam escrever seus nomes, não podem ser salvos. A graça de Deus pode salvar e depois abrir o entendimento. Um irmão ministro me contava a história de um homem que, em certo povo, era tido por tonto, e considerado como retardado mental; ninguém pensava que jamais pudesse entender nada. Mas um dia assistiu a pregação do Evangelho. Até então havia sido um bêbado com entendimento suficiente para ser ímpio (tipo de entendimento que se dá com muita frequência). O Senhor se agradou em abençoar sua Palavra naquela alma de tal forma que nosso homem mudou por completo; e o mais maravilhoso de tudo foi que a fé colocou nele algo que começou a desenvolver suas faculdades dormentes. Se deu conta de que tinha um motivo para viver, e começou a meditar no que devia fazer. Em primeiro lugar, desejou poder ler a Bíblia para gozar lendo o nome do seu Salvador, e depois de muito insistir em suas soletrações, pode ler capítulos inteiros. Mais adiante rogou que orasse em um culto de oração; era este um exercício da sua capacidade vocal. Cinco ou seis palavras foram toda sua oração, e se sentou irritado. Mas, orando continuamente entre sua família, chegou a fazer como os demais irmãos, e seguiu progredindo até converter-se em pregador, e muito bom por certo; tinha uma fluência, uma profundidade de entendimento e um poder mental pouco comuns nos ministros que ocupam o púlpito ocasionalmente. Foi singular o fato de que a graça contribuira inclusive para desenvolver seus poderes naturais, dando um objetivo, animando a viver firme e devoto, e tirando à luz todos seus recursos, os quais se manifestaram em toda sua plenitude. Ah!, ignorantes, não tem por que se desesperar. Ele os salvou, não pelos méritos deles, pois não havia nada pelo que pudessem ser salvos. Elo os salvou, não por causa da sua sabedoria, senão que ainda apesar de ser ignorantes e não entender o significado dos seus milagres, "os salvou por amor do Seu nome".

Observe agora que os salvou apesar de que eram uns ingratos. Deus os resgatou incontáveis vezes e realizou para eles poderosos milagres; mas continuavam rebelando-se. Ah!, igual vocês, amados ouvintes; também foram resgatados muitas vezes da beira do sepulcro; Deus deu a vocês casa e comida dia após dia, cuidou de vocês e os guardou até a agora; mas, que ingratos tem sido! Como disse Isaías: "O boi conhece seu dono, e o asno o

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estábulo do seu senhor; Israel não conhece, meu povo não tem entendimento". Quantos estão nesta condição que em um ano não teriam tempo suficiente para contar a história dos favores que receberam de Deus, e entretanto, o que fizeram eles por Ele? Não seriam capazes de manter um cavalo trabalhando, nem a um cão que não os reconhesse; mas Deus os tem alimentado cotidianamente, e eles pagaram com sua ingratidão; fazem muito contra Ele, e nada para Ele. Coloca o pão em suas bocas, os sustenta e conserva suas forças, mas eles as emprega em desafiar, em maldizer Seu nome, e em profanar o dia de repouso. Apesar de tudo, os salvou. Muitos nesta condição foram salvos. Confio de que haja aqui também alguém que seja salvo pela graça vitoriosa, e feito novos homens pelo poder eficaz do Espírito de Deus. "todavia os salvou." Quando nada falava em favor daquelas criaturas, quando tudo parecia indicar que deviam ser desprezados por sua ingratidão, Ele os salvou.

Além do mais, era um povo rebelde: "Se rebelaram junto ao mar, no Mar Vermelho". Ah!, quantos há neste mundo que se opõem a Deus. E se Ele fosse como os homens, quem de nós estaria hoje aqui? Se alguém nos provoca muitas vezes, isso é suficiente para partir para o braço. Em alguns homens sua cólera estala antes da mais mínima ofensa; outros, que são um pouco mais pacientes, aguentam uma atrás da outra, até que no final dizem: "Tudo tem um limite; não aguento mais; melhor parar ou eu faço você parar!" Ah!, onde estaríamos nós se Deus tivesse este temperamento? Bem poderia dizer: "Meus pensamentos não são os vossos pensamentos; porque eu, o Senhor não mudo; por isso, vós ó filhos de Jacó, não sois consumidos." Eram uns rebeldes, mas Ele os salvou. Tens se rebelado contra Deus? Tens coragem, se estás arrependido, porque Ele prometeu te salvar, e, mais, podes esta manhã te dar arrependimento e remissão de pecados, porque Ele salvou aos rebeldes por amor de Seu nome. Ouço alguns de meus ouvintes dizerem: "O que este homem faz é dar pábulo ao pecado amplamente". Deveras, amigo? Se, já sei; porque me dirijo aos mais depravados, e apesar disso lhes digo que podem ser salvos, verdade? Mas, responda-me por favor; quando eu falo às criaturas mais depravadas, estou me dirigindo a você ou não? Não, claro que não, você, é uma das pessoas mais boas e respeitáveis que existem. Assim pois, não é necessário pregar para você, porque está convencido de que não necessita de misericórdia. "Os sãos não necessitam de médico, e sim os enfermos." Porém esta pobre pessoa a quem você disse que eu incentivo a pecar, necessitam que sejam chamados. Lhe desejo, senhor, bons dias. Siga com seu próprio evangelho, mas, duvido que encontre o caminho do céu. Melhor dizer, não duvido, senão que sei que você não achará o caminho para o céu, a menos que sejas trazido como um pobre pecador para receber a Cristo e sua palavra e seja salvo por amor de seu nome. Assim me despeço de você; continuo meu caminho. Mas porque dizia que eu incentivo aos homens ao pecado? Eu lhes reanimo a que se convertam a Ele. Eu não tenho dito que Ele salvará aos rebeldes e que logo lhes permitirá que volte a se rebelar; nem tampouco e digo que salvará aos ímpos para permitir-lhes que pequem como faziam antes. Já conheceis o significado da palavra "salvo"; o expliquei na outra manhã. A palavra "salvo" não quer dizer simplesmente levar os homens ao céu, é muito, mais que isso; significa salvá-los de seu pecado, significa que lhes é dado um coração, um espírito e uma vida nova; significa que são agora novas criaturas. Há algo licencioso em dizer que Cristo toma aos homens mais perversos para convertê-los em santos? Se o faz, eu não o vejo. Só desejo que tomara aos piores desta congregação para convertê-los em santos do Deus vivente, e haveria então muito menos libertinagem. Pecador, eu te reanimo, não em teu pecado, e sim em teu arrependimento. Pecador, os santos do céu foram uma vez tão maus como você foi. Você era um bêbado, um blasfemo, um lascivo? "Isto eram alguns; mas já foram lavados, já foram santificados." Estão manchadas tuas roupas? Pergunta-lhes se as suas estiveram alguma vez. Te responderão: "Sim temos lavado nossas roupas". Se não estivessem manchadas não haveria necessidade de serem lavadas. "Temos lavado nossas roupas e as temos branqueado

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no sangue do Cordeiro." Assim pois, pecador; se eles estavam manchados e foram salvos, por quê não pode ser seu também?  

"Não são seus dons gratuitos e prezados?

Depois, alma, por que não para ti?

Nosso Jesus morreu crucificado;

Dê-me, alma minha, por que não por ti?"  

Animem, penitentes, Deus terá misericórdia de vocês. "Os salvou todavia por amor do Seu nome."

III. Chegados ao terceiro ponto, consideraremos A RAZÃO DA SALVAÇÃO: "Os salvou todavia por amor do Seu nome." Não há nenhuma outra razão para que Deus salve o homem, além do amor do Seu nome; não há no pecador nada que lhe dê direito a ser salvo, ou que possa fazer estimável ante a misericórdia; tem de ser o próprio coração de Deus o que dite o motivo pelo qual os homens hão de ser salvos. Alguns dizem: "Deus me salvará porque sou muito inteligente". Não senhor, não o fará. Teu talento! Néscio! Teu talento, bobo engrandecido, nada é comparado ao que tinham os anjos que uma vez estiveram ante o trono de Deus e pecaram, e que foram lançados para sempre no insondável abismo. Se os homens tivessem de ser salvos por sua inteligência, Satanás já teria sido, porque era muito seu conhecimento. E pelo que diz respeito a tua moralidade e bondade, não são mais que farrapos sujos, e Deus nunca te salvará pelo que faz. Jamais seríamos salvos se Ele esperasse algo de nós; devemos ser única e exclusivamente por razões que atraem a sua pessoa, e que procedem de sua mesma essência. Bendito seja seu nome porque nos salva "por amor do seu nome". Que quer dizer isto? Creio que significa que o nome de Deus é sua pessoa, seus atributos e sua natureza. Por amor da Sua natureza, por amor dos Seus atributos, Ele salvou os homens; e talvez tenhamos de acrescentar isto também: "Meu nome está nele", significa, em Cristo; Ele nos salva por amor de Cristo, que é o nome de Deus. E o que significa isto? Creio que quer dizer o que expomos a seguir.

Ele os salvou, em primeiro lugar, para manifestação da Sua natureza. Deus era todo amor e queria manifestar. Ele demonstrou seu amor quando fez o sol, a lua e as estrelas, e quando espalhou as flores sobre a verde e agradável terra. Manifestou o amor quando fez o ar, bálsamo para o corpo, e os raios solares que alegram a vista. Nos aquece no inverno com as roupas e com o combustível que havia armazenado nas entranhas da terra. Todavia queria revelar mais manifestamente. "Como poderei demonstrar que os amou com todo meu infinito coração? Darei meu Filho para que, com Sua morte, salve aos piores, e manifestarei assim minha natureza." Assim o fez Deus, patentiando com isso seu poder, sua justiça, seu amor, sua fidelidade e sua verdade. Deus se manifestou em toda sua plenitude no grande plano da salvação. Este foi, por assim dizer, o balcão onde Deus se mostrou aos homens, o balcão da salvação. Desta forma se revela Deus, salvando a alma dos homens.

Além do mais, o fez para reivindicar Seu nome. Alguns dizem que Deus é cruel, e claramente o chamam tirano. "Ah!", diz Ele, "Eu salvarei aos pecadores mais perversos e vingarei meu nome; apagarei o estigma, farei desaparecer a inimizade; não poderão chamar-me mais dessa forma, ao menos que sejam uns enganosos, porque serei misericordioso em abundância. E tirarei esta mancha e verão que meu excelso nome é um nome de amor." "Farei

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isto por amor do meu nome", continua o Senhor, "é dizer, para fazer que esta gente ame meu nome. Sei que se escolho aos melhores e os salvo, amarão meu nome; mas se escolho os piores, oh, quanto me amarão! Se os escolho dentre a sujeira da terra para fazer meus filhos, como me amarão! Então serão fiéis a meu nome, soará mais melodioso que a música, será para eles mais precioso que o nardo para os mercaderes orientais; o valorizarão como o ouro, sim, como o ouro mais fino. O homem que mais ama é aquela a quem mais pecados foram perdoados: deve muito e por isso amará muito." Esta é a razão por que Deus escolhe frequentemente aos piores dentre os homens para fazer seus. Um antigo escritor disse: "Todas as esculturas do céu foram feitas de madeira nodosa; o templo de Deus, o rei do céu, é de cedro; mas os cedros estavam cheios de nós quando Ele os cortou". Escolheu aos piores para fazer um nome e por de manifesto sua habilidade e sua arte; como está escrito: "E será o Senhor por nome, por sinal eterno que nunca será arrancada". Assim, pois, meus queridos ouvintes, qualquer que seja vossa condição, tenho algo a dizer digno de vossa consideração, é a saber: que se somos salvos, o somos pelo amor de Deus, por amor do seu nome, e não por nós mesmos.

Agora bem, isto situa a todos os homens a um mesmo nível no plano da salvação. Imaginem que para entrar neste parque se exigisse como requisito o mencionar do nome; a regra é que ninguém seja admitido por seu título ou condição, senão somente por dizer certo nome. Se for um nobre, o pronuncia, e entra; chega um mendigo coberto de farrapos, se serve do nome e -como a regra diz que só o nome é suficiente-, ao servir disso, é admitido. Deste modo, minha senhora, vem, apesar de toda sua moralidade, deverá pronunciar Seu nome; e vós, pobres e sujos habitantes de barracas, se vens e fazeis uso de Seu nome, a porta se abrirá imediatamente por completo; porque para nenhum outro há salvação senão para todos aqueles que mencionem o nome de Cristo. Isto abate o orgulho do moralista, degrada a própria exaltação do fariseu,e coloca todos nós, como pecadores culpáveis, em igualdade de condições ante Deus para receber a misericórdia de suas mãos "por amor de seu nome",e só por esta razão.

IV. Vós os aprazíveis demasiado; termino, pois, com a consideração do IMPEDIMENTO SUPERADO que se encerra na palavra "todavia". Os chamarei de forma amena, a modo de parábola.

Houve um tempo em que Misericórdia se sentou em seu trono rodeada de branca neve pelas hostes do amor. Um dia foi levado à sua presença um pecador ao que Misericórdia se propôs em salvar. O aralto tocou a trombeta e, depois de três clarinadas, disse com voz potente: "Oh, céus, terra e infernos, eu os convoco neste dia para que venhais ante o trono de Misericórdia a depor por que não haveria de ser salvo este pecador!" Ali no meio, tremendo de medo, se achava o pecador; ele sabia que muitos adversários se aglomerariam na sala de Misericórdia e diriam com olhos cheios de ira: "Não deve ser salvo; não escapará; deve ser condenado!" Soou a trombeta, e Misericórdia se sentou plácidamente em seu trono, permanecendo ali até que entrou alguém de ígneo semblante; sua cabeça estava rodeada de luz, falava com voz de trovão e seus olhos lançavam raios de fogo. "Quem é você?", perguntou Misericórdia. "Eu sou Lei, a lei de Deus", respondeu o recém chegado. "E o que tens a dizer?" "Eis aqui meus cargos", falou levantando uma tábua de pedra escrita por ambos lados: "este dez mandamentos foram quebrados por este miserável. Minha petição é sangue; porque está escrito: 'A alma que pecar, essa morrerá'. Assim pois, morra ele, ou a justiça perecerá." O miserável se estremecia, suas pernas tremiam, e seu espírito se agitava de ansiedade e de temor. Já parecia ver o raio dirigindo contra ele, e em sua imaginação via o fogo penetrar em sua alma; contemplava como se abriam sob seus pés as faces do inferno, e

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se sentiu expulso dali para sempre. Mas, Misericórdia sorriu, e disse: "Vou responder, Lei. Este miserável merece morrer, e a justiça exige que seja condenado; pois bem, se aceita a demanda." Oh, como tremia o pecador! "Mas, há aqui um que veio hoje comigo, meu Senhor e meu Rei; seu nome é Jesus; Ele te dirá como pode ser paga a dívida, de forma que o pecador fique em liberdade." Então Jesus falou, e disse: "Bem, Misericórdia, farei o que me pedes. Tome a Lei, leve-me ao jardim e me faz suar gotas de sangue, crava-me em um madeiro, açoite minhas costas antes de me dar a morte, suspenda-me na cruz, deixe que o sangue brote dos meus pés e mãos, desçam-me ao sepulcro. Deixe-me pagar tudo o que devia o pecador; morrerei em seu lugar". E a Lei açoitou ao Salvador e o cravou na cruz. Quando terminou, voltou ante o trono de Misericórdia com o semblante resplandecente pela satisfação, e Misericórdia e disse: "Lei que tem a dizer agora?" "Nada, formoso anjo", respondeu a Lei, "absolutamente nada". "Como!, nem um só destes mandamentos está contra ele?" "Nem um. Jesus, o substituto, os guardou todos; Ele satisfez a pena pela desobediência deste pecador, e agora, em vez da sua condenação, solícito, como um dever da justiça, sua absolvição." "Fique aqui", disse Misericórdia, "sente-se em meu trono, e agora os dois juntos publicaremos outra citação." Novamente soa a trombeta. "Vinde todos os que tem que dizer algo contra este pecador que se oponha a sua absolvição!" Se aproxima outro -um que frequentemente afligia o pecador, um cuja voz, ainda que não tão forte como a Lei, era igualmente aguda e horrivel, uma voz cujos sussurros eram cortantes como o fio de uma adaga-. "Quem é você?", pergunta Misericordia. "Eu sou a Consciência; este pecador deve ser castigado, tem, quebrado tanto a lei de Deus que deve ser condenado. Essa é minha exigência, e não lhe darei repouso até que seja cumprido o castigo; e nem ainda depois o deixarei, porque o seguirei até o sepulcro e o perseguirei até depois da morte com remorsos." "Escuta-me um momento", disse a Misericórdia, e fazendo uma pequena pausa, tomou um punhado de hissopo, e passou com sangue a Consciência, dizendo: "Ouça-me, te digo: 'O sangue de Jesus Cristo, o Filho de Deus, nos limpa de todo pecado'. Tem agora algo a dizer?" "Nada", replicou a Consciência, "absolutamente nada."

"Sua justiça coberta já ficou

Livre é da cadeia o pecador."  

 De agora em diante não atormentarei mais; serei para ele uma boa consciência, pelo sangue do nosso Senhor Jesus Cristo." A trombeta voltou a soar pela terceira vez, e, rugindo estranhamente, surgiu das cavernas mais profundas uma negra e horrenda coisa demoníaca com o olhar cheio de ódio, e com expressão de majestade infernal. O novo personagem é interrogado: "Tem algo contra este pecador?" "Sim", responde, "esta criatura fez um pacto com o inferno e uma aliança com o abismo; eis aqui firmado de seu punho e letra. Em uma de suas bebedeiras pediu a Deus que destruisse sua alma e jurou que nunca voltaria a Ele. Olhe, aqui está seu pacto com o inferno!" "Vejamos", disse a Misericórdia; e foi entregue o documento enquanto o sinistro espírito maligno contemplava o pecador, transpassando-o com seu obscuro olhar. "Ah!, mas", continuou Misericórdia, "este homem não tem nenhum direito de firmar esta escritura, posto que ninguém pode dispor das propriedades alheias. Esta criatura foi comprada e paga de antemão, assim pois, não se pertence; a aliança com a morte se anula, e o pacto com o inferno se faz em pedaços. Vá embora, Satanás." "Nada disso", replicou o diabo dando alaridos, "tenho algo mais a dizer; esse homem foi sempre meu amigo, nunca deixou de ouvir minhas insinuações, se cansou do Evangelho, desprezou a majestade do céu; ele vai ser perdoado enquanto eu tenho de permanecer trancado em minha cova infernal, suportando eternamente a pena por meu delito?" "Fora demônio!", respondeu Misericórdia. "Estas coisas as fez em tempos anteriores à sua regeneração; mas esta palavra, "todavia", as

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apagou todas. Vá embora a seu inferno, e considere isto como outro ponto contra ti: o pecador será perdoado, mas você, nunca, diabo traidor!" Ao chegar aqui, Misericórdia disse voltando-se sorridente para o pecador: "Pecador, a trombeta vai soar pela última vez!" E assim, as notas ferem novamente o espaço sem que ninguém respondesse. Então, o pecador se pôs em pé, e a Misericórdias disse: "Agora, você mesmo, pecador, pergunte ao céu, à terra e ao inferno, se alguém pode te condenar". E aquele homem, se erguendo, com voz forte e ousada disse: "Quem acusará os eleitos de Deus?" E olhou ao inferno, e ali estava Satanás, mordendo suas ligaduras de ferro; olhou à terra, e tudo nela era silêncio; e na majestuosidade da fé, o pecador ascendeu ao mesmo céu, e disse "Quem acusará os eleitos de Deus?" "Deus?" E ouviu a resposta: "Não; Ele é o que justifica". "Cristo?" Docemente se ouve como em um sussurro: "Não; Cristo é o que morreu". Então o pecador, voltando-se, exclamou alegremente: "Quem me separará do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor?" E aquele que uma vez estivesse condenado, voltou ante o trono da Misericórdia e, postrando-se aos seus pés, afirmou solenemente que de agora em diante seria seu para sempre, se o guardasse até o fim e fizesse dele o que ela quisesse que fosse. Não voltou a soar a trombeta; os anjos se regozijaram, e o céu se alegrou porque o pecador foi salvo.

Desta forma, segundo vemos, dramatizado, a questão; mas o que importa não é o que se diz, senão atrair a atenção dos meus ouvintes, para o qual este é um bom meio, quando não há outro. "Todavia"; eis aqui o impedimento eliminado! Pecador, qualquer que seja o "todavia", não atrapalhará o mínimo do amor do Salvador, nem nunca o diminuirá, senão que este amor permanecerá para sempre inalterável.

"Recorre, corre a Cristo, alma culpada;

Vem sarar tuas muitas feridas;

A livre graça abunda, saudável.

Neste dia glorioso da Vida.

Venha Jesus, oh pecador culpado!"

Chore de joelhos tua confissão cheia de dor; olhe a Sua cruz e contemple ao Substituto; creia e viva. A vós, os que sois quase demônios, aos que foram mais longe no pecado, Jesus dirá agora: "Se conheceis vossa necessidade de Mim, voltais a Mim, e Eu terei misericórdia de vós; e ao Deus nosso o qual será grande em perdoar"

***

Tarefa lição 5 Só para a Glória de Deus

1. Quais as duas perguntas que se desprendem toda ciência e filosofía do criador?Quem fez todas as coisas? E com que propósito foram criadas?

2. Porque Deus salva os homens?3. Qual é a tarefa de cada pessoa da Trindade na salvação do crente?4. O que acontece com quem se converte a si mesmo?5. A quem o Senhor salva, aos bons e agradecidos?

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6. Se Cristo salva grandes pecadores, se encoraje com isso os que seguem o pecado? Explique.

7. Que tão bom deves ser para que Jesus te salve? Explique.8. Explique o que significa que Deus salva por amor a Seu nome.9. O que Deus manifestou na Salvação? Como isso se cumpre, baseando no que você

explicou na questão anterior?10. Como Deus adequa a todos os salvos quando os salva por amor a Seu nome?11. Reconte com suas palavras a história do pecador frente a “Misericórdia” “Justiça”

“Consciência” e Satanás.

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APÊNDICE ASolamente Por Gracia

C. H. SPURGEON

1.     DEUS JUSTIFICA OS ÍMPIOS

2.     DEUS É O QUE JUSTIFICA

3.     JUSTO E JUSTIFICADOR

4.     SALVAÇÃO DE PECAR

5.     POR GRAÇA MEDIANTE A FÉ

6.     O QUE É A FÉ?

7.     COMO SE PODE ACLARAR A FÉ?

8.     PORQUE NOS SALVAMOS PELA FÉ?

9.     AI DE MIM! NADA POSSO FAZER

10.  AUMENTO DE FÉ

11.  LA REGENERAÇÃO E O ESPÍRITO SANTO

12.  MEU REDENTOR VIVE

13.  SEM ARREPENDIMENTO, SEM PERDÃO

14.  COMO SE DÁ O ARREPENDIMENTO

15.  O TEMOR DE CAIR

16.  CONFIRMAÇÃO

17.  PORQUE PERSEVERAM OS SANTOS

18.  CONCLUSÃO

DEUS JUSTIFICA OS ÍMPIOS

  Atenção para este breve discurso. Encontrarás o texto na Epístola aos Romanos 4:5: «Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça ».

Te chamo a atenção às palavras: «Aquele que justifica ao ímpio.» Estas palavras me parecem muito maravilhosa. Não te surpreendes com esta expressão na Bíblia Sagrada como esta: «Aquele que justifica ao impío»? Ouvi que os que odeiam a doutrina da cruz, acusam Deus de injusto por salvar aos ímpios e receber o mais vil dos pecadores. Mas aqui está, como a mesma Escritura aceita a acusação e a declara abertamente. Por boca do apóstolo Paulo, pela inspiração do Espírito Santo, consta o qualificativo de «Aquele que justifica ao ímpio» Ele justifica aos injustos, perdoa aos que merecem castigo e favorece aos que não merecem favor algum.Não chegou a pensar que a salvação era para os bons, e que a graça de Deus era para os justos e santos, livres do pecado? Chegaste a pensar sem dúvida de que se fosses bom, Deus te

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recompensaria, e também pensou que não sendo digno, nunca poderia desfrutar de seus favores. Portanto você vai se surpreender com a leitura de um texto como este: «Aquele que justifica ao ímpio.»

Não me estranha que se surpreenda, pois com toda minha familiaridade com a graça divina não cesso de maravilhar-me deste texto. Soa muito surpreendente, verdade, o que fosse possível de que todo um Deus Santo, justificasse a uma pessoa ímpia? Segundo a natural lealdade do nosso coração, estamos falando sempre da nossa própria bondade e nossos méritos, tenazmente apegados a ideia de que deve ter algo bom em nós para merecer que Deus se preocupe com nossas pessoas. Mas Deus que bem conhece todos nossos enganos, sabe que não há bondade nenhuma em nós e declara que «não há justo sequer» (Rm.3:10). Ele sabe que «todas as nossas justiças são como trapos de imundícia» (Is.64:6); e pelo mesmo o Senhor Jesus não veio ao mundo para buscar bondade e justiça para entregar-se às pessoas que careciam delas. Não veio porque éramos justos, senão para fazer-nos justos, justificando o ímpio.

Apresentando-se como advogado ante o tribunal, se é pessoa honrada, deseja defender o inocente, justificando-o de tudo o que falsamente se imputa. O objeto do defensor deve ser a justificação do inocente e não encobrir o culpado. Tal milagre está reservado para o Senhor unicamente. Deus, o Soberano infinitamente justo, sabe que em toda a terra não há um justo alguém que faça bem e não peque; e pelo mesmo na Soberania infinita de sua natureza divina e no esplendor do seu amor maravilhoso. Ele empreende a obra, não tanto de justificar ao justo quanto de justificar o ímpio. Deus ideiou maneiras e meios de apresentar diante de si o ímpio justamente aceitável; concebeu um plano mediante o qual pode, em justiça perfeita, tratar o culpado, como se sempre tivesse vivido livre de ofensa; sim, tratar como se fosse de todo livre do pecado. Ele justifica o ímpio.

Jesus Cristo veio ao mundo para salvar aos pecadores. Isto é coisa surpreendente; coisa maravilhosa especialmente para os que desfrutam dela. Se que para mim, até o dia de hoje, esta é a maior maravilha que conheci, a saber que me justificasse. Além do seu amor imenso, me sinto indigno, corrompido, um conjunto de miséria e pecado. Não obstante, se por certeza plena que por fé sou justificado mediante os méritos de Cristo, e tratado como se fosse perfeitamente justo, feito herdeiro de Deus e co-herdeiro de Cristo, tudo apesar de corresponder-me, por natureza, o lugar do primeiro dos pecadores. Eu, de tudo indigno, sou tratado como se fosse digno. Se me ama com tanto amor como se sempre tivesse sido piedoso, sendo assim que antes era um pecador. Quem não se maravilha disto? A gratidão por tal favor se reveste de admiração indizível.

Sendo isto tão admirável, desejo que tome nota de quão acessível isto faz o evangelho para ti e para mim. Se Deus justifica o ímpio, então, querido amigo, pode justificar a ti. Não é esta precisamente a pessoa que é? Se até hoje não se converte, se enquadra perfeitamente a palavra; pois tem vivido sem Deus, sendo o contrário piedoso ou temeroso de Deus; em uma palavra, foi e é ímpio. Acaso nem frequentou os cultos de domingo, viveu sem respeitar o dia do Senhor, nem sua igreja, nem sua Palavra, o que prova que tem sido ímpio. Pior todavia, talvez tem procurado pôr em dúvida sua existência, e isto até o ponto de declarar suas dúvidas. Habitante desta terra formosa, cheia de sinais da presença de Deus, tem persistido em fechar os olhos às provas palpáveis do seu poder e Divindade. Certo, tem vivido como se não existisse Deus. E grande prazer tivesse proporcionado o poder provar para ti mesmo satisfatoriamente a ideia de que não há Deus. Talvez já tenha vivido muitos anos neste estado de ânimo, de maneira que já está firmado em teus caminhos, e entretanto, Deus não está em

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nenhum deles. Se te chamassem de «ímpio» este nome te conviria tão bem como se ao mar se chamasse água salgada, não é verdade? Acaso é pessoa de outra categoria, pois cumpriu com todas as exterioridades da religião. Entretanto, de coração nada tem feito, e assim na realidade tem vivido ímpio. Tem se relacionado com o povo de Deus, mas nunca se encontrou com ele mesmo. Cantou no coro, mas não louvou ao Senhor na alma. Viveu sem amar, de coração, a Deus e sem respeitar seus mandamentos. Seja como for, é precisamente a pessoa, a qual este evangelho se proclama: esta boa nova que nos assegura que Deus justifica o ímpio. Maravilhoso é e felizmente serve ao caso. Te convém perfeitamente. Verdade que sim? Quanto desejo que o aceite! Se for pessoa de sentido comum, notará o maravilhoso da graça Divina antecipando às necessidades das pessoas como você, e dirá entre si: «Justificar o ímpio! Pois então, por que não serei eu justificado, e justificado agora mesmo?»

Tome nota, por outra parte, do fato de que isto deve ser assim: a saber, que a salvação de Deus deve ser coisa para os que não a merecem nem estejam preparados para recebê-la. É natural que conste a afirmação do texto na Bíblia; porque, querido amigo, só necessita ser justificado quem precisa de justiça própria. Se algum de meus leitores fosse pessoa absolutamente justa, não necessitaria ser justificada. Pois que sente que cumpre bem todo dever e por pouco faz o céu devedor por tanta bondade, para que necessite de misericórdia, nem Salvador algum? Para que necessitar da sua justificação? Estará cansado desta leitura, pois não te interessa o assunto.

Se algum de vocês se rodeia de ares tão legalistas, escute-me um momento. Tão certo como que vive, você caminha para a perdição. Vocês, justos, rodeados de justiça própria, ou vivem enganados ou são enganadores; porque diz a Sagrada Escritura que não pode mentir, e o diz claramente: «Não há justo, nem um sequer.» De todo modo, não tenho evangelho algum, nem uma palavra para os rodeados de justiça própria, Jesus Cristo mesmo declarava que não tinha vindo para chamar aos justos, e não vou fazer o que ele não fazia. Pois se chamasse, não viriam; e pelo mesmo não os chamarei sob este ponto de vista. Ao contrário, suplico que contemplem sua justiça própria até descobrir a falsa que é. Nem a metade da força de uma teia de aranha tem. Desprezem-na! Afaste-se dela!

As únicas pessoas que necessitam de justificação são as que reconhecem que não são justas. Elas sentem a necessidade de que se faça algo para que sejam justas ante o tribunal de Deus. Podemos ter a certeza de que Deus não faz nada fora do necessário. A Sabedoria infinita nunca faz o inútil. Jesus nunca empreende o supérfluo. Fazer justo a quem já é justo não é obra de Deus, tal coisa é uma insensatez. Justificar o ímpio é um milagre digno de Deus. Certamente que é.

Escutem agora. Se em alguma parte do mundo um médico descobre remédios eficazes e preciosos, a quem o médico servirá? Às pessoas de boa saúde? Claro que não, coloque-se num lugar sem enfermos, e se sentirá fora do lugar. Ali sobra sua presença. «Os sãos não necessitam de médico senão os enfermos» (Mc.2:17), diz o Senhor. Não é igualmente certo que os grandes remédios da graça e redenção são para as almas enfermas? Não servem para as almas sãs, porque são remédios desnecessários. Se você, querido amigo, se sente espiritualmente enfermo, para ti veio o grande Médico ao mundo. Se a causa do pecado se sente completamente perdido, é a mesma pessoa compreendida no plano da salvação pela graça. Afirmo que o Senhor do amor eterno teve à vista pessoas como você ao harmonizar o sistema da salvação por pura graça. Suponhamos que uma pessoa generosa resolvesse dentro de si que perdoaria a todos seus devedores; claro que isto só poderia fazer-se respeito aos que realmente fossem devedores. Um deve mil pesos; outro deve cinquenta pesos; e cada um teria

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a dívida saldada se a empresa cancelasse as contas. Porém a pessoa mais generosa do mundo não poderia perdoar as dívidas de pessoas que nada devem a ninguém. Está fora do poder do mesmo Onipotente perdoar a quem não tenha nada para perdoar. O perdão pressupõe que alguém seja culpado. O perdão é para o pecador. Seria absurdo falar de perdoar ao inocente, perdoar ao que nunca faltou.

Crê por acaso que te condenarás por ser pecador? Esta é a razão porque poderá te salvar. Pela mesma razão de que reconheces que é pecador, desejaria animar-te a crer que precisamente para pessoas como voce está destinada a graça. É positivamente certo que Jesus busca e salva o perdido. Morreu e fez a expiação de verdade por pecadores de verdade. Se encontro pecadores que admiten sem escusas que são pecadores, é um verdadeiro prazer falar com eles. Praserosamente conversaria toda a noite com pecadores de boa fé. As portas da misericórdia não se fecham nem de dia nem de noite para os tais e estão abertas todos os dias da semana. Nosso Senhor Jesus não morreu por pecados imaginários, mas sim o sangue de seu coração foi derramado para limpar as manchas carmesim que nada mais que ela pode quitar.

O pecador que se sente sujo de pecado, é a pessoa que veio a Jesu Cristo para branquear. Em certa ocasião pregou um evangelista sobre o texto: «Agora, já também o machado está posto à raíz das árvores» (Luc.3:9), e o fez de modo que digo à um dos ouvintes: «Nos tratou como se fôssemos criminosos. Esse sermão voce deveria ter pregado no presídio da cidade e não aqui.» Não, não, contestou o evangelista: «No presídio não falaria sobre este texto, e sim sobre este: «Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores» (1Tim.1:15). Corretamente! A Lei é para os que se rodeam da justiça própria para derrubar seu orgulho; o evangelho, é para os perdidos para remover seu desespero.

Se não está perdido, para que quer o Salvador? Iria o pastor em busca dos que nunca se extraviaram? Por que varreria uma mulher sua casa buscando moedas que houvera guardado em sua bolsa? Não, não, a medicina é para os enfermos; a ressurreição para os mortos; o perdão para os culpados; a liberdade para os cativos; a vista para os cegos e a salvação para os pecadores. Como se explica a vinda do Salvador, sua morte na cruz e o evangelho do perdão sem admitir de uma vez que o homem é um ser culpado e digno de condenação? O pecador é a razão da existência do evangelho. E tu, meu amigo, objetivo destas palavras, se sente merecedor, não da graça, sim da maldição e condenação, tu és precisamente o gênero de homem para quem foi ordenado, regulado e destinado o evangelho. Deus justifica ao impío.

Desejaria fazer isto tão claro e patente como o dia. Espero ter feito já; mas, apesar de tudo, únicamente o Senhor pode fazê-lo compreender. A princípio não pode parecer assombroso ao homem de consciência desperta que a salvação venha de pura graça ao perdido e culpado. Pensa o tal que a salvação lhe venha por estar arrependido, esquecendo que seu estado de arrependimento é parte de sua salvação. «Devo de ser isto e o outro,» diz. Todo o qual é verdade, porque, se, será isto e o outro; mas é resultado da salvação, e a salvação lhe vem antes de ver alguns de seus resultados. De fato, a salvação lhe vem enquanto não mereça outra coisa que o conteúdo na descrição feia e abominável de:

Isto e nada mais é o homem quando vem o evangelho de Deus para justificá-lo. Creiam firmemente que nosso misericordioso Deus é tão capaz como disposto a recebê-los, sem nada que lhes recomende, para perdoar-lhes espontâneamente, não porque sejam bons sim porque ele é bom. Não faz brilhar o sol sobre maus e bons? Não é ele, o que dá os tempos frutíferos, e a seu tempo envia chuva do céu e faz que saia o sol sobre as nações mais impías? Sim, sobre a

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mesma Sodoma banhava o sol, e caia o orvalho sobre Gomorra. Amigo, a graça imensa de Deus ultrapassa meu entendimento e teu entendimento, e desejaria que o aprecias de um modo digno. Tão alto como o ceú sobre a terra são os pensamentos de Deus sobre nossos pensamentos. Abunda em perdões. Jesus Cristo veio ao mundo para salvar aos pecadores: o perdão corresponde ao culpado.

Não empreendas a obra legalista de apresentar te diferente ao que no fundo eras; mas compareça tal qual eras ao que justifica ao impío. Certo famoso pintor havia pintado parte da corporação municipal de seu povoado e desejava incluir no quadro certas pessoas características bem conhecidas de todos na cidade. Certo varredor rústico, andrajoso e sujo se encontrava entre esta classe de pessoas, e no quadro havia um lugar adequado para ele. «Venha à minha oficina e permita-me retratá-lo, pagando o incômodo,» disse o pintor a este homem. No dia seguinte pela manhã se apresentou na oficina, mas de imediato foi despedido, porque se apresentou banhado, penteado e decentemente vestido. O pintor necessitava dele em seu estado habitual com o aspecto de mendigo e não na outra forma. Assim o evangelho te receberá, chegues ao Senhor como pecador, mas não de outro modo. Não procures reformar-te; permita a Jesus salvar-te imediatamente. Deus justifica aos impíos, o que equivale dizer que te apresentes onde estás neste momento e te favorece no estado mais deplorável.

Vem degradado, quero dizer: chegue a teu Pai Celestial em teu estado de pecado e miséria. Chegue a Jesus tal como és, espiritualmente leproso, sujo desnudo, nem apto para viver, nem apto para morrer. Compareçam vocês que são como escória da criação, ainda quando não se atrevam a esperar mais que a morte. Compareçam ainda que o desespero oprima o peito qual pesadelo horrível, pedindo que o Senhor os justifique como a outros impíos. Por que não o faria? Se aproximem, porque esta grande misericórdia de Deus está destinada para pessoas como voces.O digo nas palavras do texto, por não poder se expressar em termos mais vigorosos: O Senhor Deus mesmo assume este título bendito: «O que justifica o ímpio.» Este faz justos, e que se tratam como justos, aos que por natureza são impíos. Não parece esta mensagem maravilhosa a voces? Estimado leitor, não te levantes do assento até haver meditado bem este assunto.

DEUS É O QUE JUSTIFICA

  Coisa maravilhosa é esta, o ser justificado ou declarado justo. Se nunca houvessemos quebrado a Lei de Deus, não haveria necessidade de tal justificação, sendo naturalmente justos. Quem em toda sua vida já fez o que deveria fazer, e nunca havia feito nada proibido, este é por si justificado ante a lei. Mas, estou seguro de que você, estimado leitor, não se encontra nesse estado de inocência. Era demasiado honrado para pretender estar limpo de todo pecado, e, portanto, necessitas ser justificado. Pois bem, se te justificas a ti mesmo, você se engana totalmente. Por isso não faça tal coisa. Não valerá a pena. Se pedires a outro mortal que te justifique, o que poderá fazer? Alguém te engrandeceria pelos quatro cantos, outro te caluniaria por menos. Bem pouco vale o juízo do homem.

Romanos 8:33, diz: «Deus é o que justifica,» e isto, sim que é essencial. Este ato é assombroso, é um ato que devemos considerar destemidamente. Vem e vê!

Em primeiro lugar, nada mais que Deus, poderia ter pensado em justificar as pessoas culpadas. Se trata de pessoas que tem vivido rebeldes atuando mal com ambas as mãos; de pessoas que tem ido de mal a pior; de pessoas que tem voltado ao mal mesmo depois de ser castigadas, sendo forçadas a deixar de cometer o mal por algum tempo. Tem quebrado a lei e

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pisado o evangelho abaixo do seus pés. Tem rechaçado a proclamação da misericórdia e persistido na iniquidade. Como podem tais pessoas alcançar o perdão e justificação? Seus conhecidos perdem a paciência a ponto de dizerem: «É caso perdido.» Ainda os cristãos os olham mais com tristeza do que com esperança. Rodeado do esplendor da Graça de sua eleição, havendo Deus escolhido a alguns antes da fundação do mundo, não repousará até haver justificado e ser aceito no Amado. Não está escrito: «Aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou»? (Ro. 8:30). Assim podemos ver que o Senhor tem resolvido justificar a alguns e por que não estaríamos incluidos, você e eu neste número? Ninguém mais exceto Deus pensaria jamais em me justificar a mim. Resultou para mim esta maravilha. Não duvido que a graça Divina seja igualmente manifesta a outros. Veja Saulo de Tarso «respirando ameaças e morte» contra os servos do Senhor. Como lobo voraz espantava as ovelhas do Senhor por toda parte, não obstante Deus o deteve no caminho de Damasco e mudou seu coração justificando-lhe de tudo, tão plenamente, que muito pronto este perseguidor resultou no maior pregador da justificação pela fé que tenha vivido sobre a face da terra. Com frequência deve de ter-se maravilhado de ter sido justificado pela fé em Cristo Jesus, já que antes era um resistente defensor da salvação mediante as obras da lei. Niguém mais que Deus podia ter pensado em justificar a um homem como o perseguidor Saulo. Porém o Senhor Deus é glorioso em graça.

Porém, se alguém pensar em justificar aos ímpios, ninguém mais que Deus poderia fazê-lo. É impossível que pessoa alguma perdoe as ofensas que tenham sido cometidas contra ela mesma. Se alguém tenha te ofendido gravemente, você pode perdoá-lo e espero que assim o faça; mas uma terceira pessoa fora você não pode perdoar. Só de você deve proceder o perdão. Se a Deus temos ofendido, está no poder de Deus mesmo perdoar, já que contra ele mesmo se pecou. Esta é a razão porque Davi diz no Salmo 51:4 «A ti, a ti somente tenho pecado, e feito o mal diante de teus olhos,» pois assim Deus contra quem se tem cometido a ofensa, pode perdoá-la. O que devemos a Deus, nosso grande Criador pode perdoar, se assim o agrada; e se o perdoa, perdoado está.

Ninguém mais que o Grande Deus contra quem temos pecado, pode apagar nosso delito. Por conseguinte, cheguemos a ele em busca de misericórdia. E tomemos cuidado que nos deixemos desviar pelos homens, que desejam que cheguemos a eles em busca do que só Deus pode conceder-nos; carecendo de todo fundamento na Palavra de Deus suas pretensões. E ainda quando fossem ordenados para pronunciar palavras de absolvição em nome de Deus, será sempre melhor que acheguemos nós mesmos em busca de perdão ao Senhor nosso Deus, em nome de Jesus Cristo, Mediador único entre Deus e os homens, já que sabemos certamente que este é o caminho verdadeiro. A religião encargo é assunto perigoso. Infinitamente melhor e mais seguro é que te ocupes pessoalmente dos assuntos de tua alma e não os encarregue a outro. Só Deus pode justificar aos impíos, e pode fazê-lo a perfeição. Ele lança nossos pecados sobre suas costas, os apaga, dizendo que ainda que o busquem, não o acharão. Sem outra razão que sua bondade infinita tem preparado um caminho glorioso mediante o qual pode fazer com que os pecados que são vermelhos como escarlata sejam mais brancos que a neve e afastar de nós as transgressões tão longe como o oriente está do ocidente. Deus disse: «Não me recordarei de teus pecados,» chegando ao ponto de aniquilá-los. Um dos antigos disse maravilhado: Quem, ó Deus é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade e te esqueces da transgressão do restante da tua herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericódia. (Miq. 7:18).

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Não falamos aqui de justiça, nem do trato de Deus com os homens, segundo seus merecimentos. Se pensas entrar na relação com Deus, justo sobre a base da lei, a ira eterna te aguarda ameaçadora porquanto isto é o que mereces. Bendito seja seu nome, porque, não nos trata segundo nossos pecados; e hoje nos trata em termos de graça imerecida e compaixão infinita, dizendo: «Lhes receberei misericordioso e lhes amarei intensamente.» Creia, porque certamente é verdade que o grande Deus trata o culpado com abundante misericórdia. Sim, pode tratar o ímpio como se sempre fosse piedoso. Leia atentamente a parábola do «filho pródigo,» e verás como o pai perdoador recebe o filho errante com tanto amor como se nunca tivesse se desviado e nunca se contaminado com o mundo. Até tal ponto o pai demostrava seu carinho, que o irmão mais velho encontrou nisso motivo para murmurar, nem por isso o pai deixou de amá-lo. Por mais culpado que sejas, desde que queira voltar para Deus, ele te tratará como se nunca tivesse feito mal algum. Te considerará justo e te tratará com benevolência. O que diz disso?

Desejo aclarar bem o glorioso deste caso. Já que ninguém senão Deus pensaria em justificar o ímpio, e ninguém senão ele o poderia fazer, não vê como Deus, bem o pode fazer? Repare em como o apóstolo nos direciona: « Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica» (Ro. 8:33). Havendo Deus justificado uma pessoa, está bem feito, retamente feito, justamente feito, e para sempre perfetamente feito. Outro dia li um folheto cheio de veneno contra o evangelho e aos que o pregam. Dizia que cremos em uma teoria pela qual imaginamos que o pecado se pode afastar dos homens. Não cremos em teorias; proclamamos um feito. O feito mais glorioso abaixo do céu é este, que Cristo por seu precioso sangue real positivamente afasta o pecado e que Deus por amor de Cristo, tratando aos homens em termos de misericórdia divina, perdoa aos culpados e os justifica, não segundo algo que vê neles ou prevê que haverá neles, sim segundo a riqueza da misericórdia que habita em seu próprio coração. Isto é o que temos pregado, o que pregaremos enquanto vivermos. «Deus é quem justifica,» ele que justifica aos ímpios. Ele não se envergonha de fazê-lo, nem nós de prega-lo. Na mesma justificação feita por Deus não há dúvida alguma. Se o Juíz me declara justo. Quem me condenará? Se o tribunal supremo de todo o universo me pronunciou justo. Quem me acusará? A justificação da parte de Deus é resposta suficiente para a consciência esperta. O Espírito Santo mediante o mesmo assopra a paz sobre nosso ser e não vivemos mais atemorizados. Mediante tal justificação podemos responder a todos os rugidos e a todas as murmurações de Satanás e dos homens. Esta justificação nos prepara para morrer bem, a ressuscitar e enfrentar o último juízo.

Sereno olho esse dia:

Quem me acusará?

No Senhor meu ser confia;

Quem me condenará?

Amigo, o Senhor pode apagar todos teus pecados. «Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens» (Mt.12:31). Ainda que estivesse na mais profunda miséria, ele pode com uma palavra limpar-te da lepra, dizendo: «Eu quero, fica limpo.» O Senhor Deus é grande perdoador. « Eu creio no perdão dos pecados.» Crês tú? Ainda neste mesmo momento, o juíz pode pronunciar a sentença sobre ti, dizendo: «Estão perdoados os teus pecados: vai-te em paz.» E assim o faz, não há poder no céu, na terra, nem debaixo da terra que pode te acusar, muito menos condenar. Não duvides do amor do Todo-Poderoso. Você não poderia perdoar

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ao próximo, se tivesse te ofendido como ofendes a Deus. Mas não deves medir a graça de Deus com a medida de teu estreito critério. Seus pensamentos e caminhos estão acima dos teus, tão altos como o céu está sobre a terra Bem, dirás talvez, grande milagre seria se Deus me perdoasse. Justo! Seria um milagre grandíssimo, e portanto é muito provável que o faça, porque ele faz «grandes coisas e inescrutáveis» (Jó 9:10) para nós inesperadas Enquanto eu, fiquei tomado de um terrível sentimento de culpa que tornava minha vida insuportável; mas ao ouvir a exortação: «Olhai para mim e sejam salvos, vós todos os limites da terra! Porque eu sou Deus, e não há outro.» (Is. 45:22), então olhei, e num momento o Senhor me justificou. Jesus Cristo, se fez pecador em meu lugar, foi o que vi, e essa vista me deu repouso à alma. Quando os homens mordidos pelas serpentes venenosas no deserto olharam à serpente de metal, ficaram sãos imediatamente, e assim ao olhar com os olhos da fé o Salvador crucificado por mim. O Espírito Santo, o qual me deu a capacidade de crer, me trasmitiu a paz mediante a fé. Tão certo me senti perdoado, como antes havia me sentido condenado. Havia sentido realmente a condenação, porque a Palavra de Deus havia me declarado, dando-me testemunho dele na consciência. Mais quando o Senhor me declarou justo, fiquei igualmente seguro pelos mesmos testemunhos. Pois a Palavra de Deus diz: «Quem nele crê não é julgado» (João 3:18), e minha consciência me dava testemunho de que creria e de que Deus era justo ao me perdoar. Assim é que tenho o testemunho do Espírito Santo e o da consciência, testificando ambos a mesma coisa. Quanto desejo que o leitor receba o testemunho de Deus neste assunto, e mui pronto teria também o testemunho em si mesmo!

Me atrevo a dizer que um pecador justificado por Deus se acha sobre o fundamento mais firme que o homem justificado por suas obras, se tal homem existisse. Pois nunca teríamos a certeza em ter feito bastantes obras boas; a consciência nos deixaria sempre inquietos, depois de tudo, faltaria algo e somente descansaríamos sobre a sentença falível de um juízo duvidoso. Em contra partida, quando Deus mesmo justifica, e o Espírito Santo lhe rende testemunho, dando-nos paz com Deus, então sentimos que o feito é firme e muito sólido, e a alma entra em descanso. Não há palavras para explicar a calma profunda que se apodera da alma que recebe essa paz de Deus que ultrapassa todo entendimento. Amigo, busque-a neste momento.

JUSTO E JUSTIFICADOR

Acabamos de ver os ímpios justificados e temos contemplado a grande verdade de que só Deus pode justificar ao homem. Agora daremos um passo adiante, perguntando: Como pode um Deus justo justificar aos culpáveis? Contestação plena achamos nas palavras do apóstolo Paulo, em Ro. 3:21-26. Leremos seis versículos do capítulo indicado com o objetivo de conseguir a ideia total da passagem.

Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela Lei e pelos Profetas. Esta é a justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos (e sobre todos) os que crêem, Porque não há distinção; pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus. A quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo do presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.

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Permita-me dar um testemunho pessoal aqui. Achando-me sob o poder do Espírito Santo, sob a convicção do pecado, sentia pesar sobre mim, clara e fortemente a justiça de Deus. O peso do pecado me afligia de maneira insuportável. Não temia tanto ao inferno, como temia ao pecado. Me sentia terrivelmente culpado que recordo ter sentido que se Deus não me castigasse pelo pecado, faltaria com seu dever não o fazendo. Sentia que o Juíz de toda a terra devia condenar a um pecador como eu. Estava eu sentado no tribunal condenando a mim mesmo à perdição; porque admitia que se eu fosse Deus, não poderia fazer outra coisa que enviar uma criatura tão culpada para as profundezas do inferno.

Todo esse tempo me preocupei profundamente com a honra do nome de Deus e da equidade de seu governo moral. Sentia que não satisfaria minha consciência, se conseguisse perdão injustamente. O pecado que eu havia cometido, merecia castigo e devia ser castigado. Logo me vinha a pergunta: «Como poderia ser Deus justo e no entanto justificar uma pessoa tão culpada como eu?» Como pode ser justo e, entretanto, justificar aos pecadores? Me incomodava e cansava esta pergunta, e não achava resposta para mesma. Era impossível que eu inventasse alguma resposta que pudesse dar satisfação à minha consciência.

Para mim a doutrina da expiação pela substituição é uma das provas mais poderosas da inspiração divina na Sagrada Escritura. Quem poderia ter imaginado o plano de que o Rei justo morreria pelo súdito injusto e rebelde? Esta não é doutrina de mitologia humana, nem fruto da imaginação de um poeta. Este método de expiação se conhece pela humanidade únicamente por ser um ato positivo. A imaginação humana não poderia ter inventado. É regra, plano e estatuto de Deus; não é coisa do cérebro humano.

Desde a infância ouvia falar da salvação pelo sacrifício de Jesus; mas no fundo de minha alma ninguém mais sabia disso, estava em completa ignorância. A luz existia, mas vivia cego; por pura necesidade o Senhor mesmo teve que aclarar-me o assunto. A luz veio como revelação nova, tão nova como se nunca tivesse lido nas Escrituras a declaração de que Jesus era a propiciação pelo pecado para que Deus fosse justo e justificador do ímpio. Creio que isto viria como uma revelação nova para todo homem, a saber a gloriosa doutrina da substituição pelo Senhor Jesus.

Assim cheguei a compreender a possibilidade da salvação mediante o sacrifício de substituição, e que tudo foi provido para tal substituição. Me foi possível ver que o Filho de Deus, bem como o Pai é igualmente eterno, desde a eternidade havia sido constituido cabeça do pacto de um povo escolhido, para que nessa capacidade sofresse pelo mesmo para te salvar. Enquanto nossa queda, no primeiro termo, não foi queda individual, já que caímos em nosso representante federal, «o primeiro Adão», foi possível para nós o levantamento por um segundo representante, a saber por Aquele que se encarregou de ser o cabeça do pacto de seu povo, com a finalidade de ser seu «segundo Adão,» Vi que, antes de pecar na realidade, caí pelo pecado de meu primeiro pai; e me regozijo, já que, me foi possível, em sentido jurídico, ser levantado mediante essa segunda Cabeça representativa. A queda de Adão deixou uma escapatória: outro Adão pode desfazer a ruína feita pelo primeiro.

Quando me inquietava à respeito da possibilidade de que um Deus justo me perdoaria, compreendi e vi pela fé, que ele, o Filho de Deus, se fez homem e em sua própria e bendita pessoa levou meu pecado em seu corpo sobre o madeiro. Vi que o castigo que nos traz a paz estava sobre ele e que por sua chaga fui sarado (Is.53:4,5). Querido amigo, tens visto isto? Compreendeu como Deus pode permanecer de todo justo, não remetendo a culpa nem tirando-a ao fio da espada, e como ele, no entanto, pode ser infinitamente misericordioso e

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justificador do ímpio que recorre a ele? A razão é que o Filho de Deus, eternamente glorioso em sua pessoa imaculada se encarrega de satisfazer a lei submetendo-se à condenaçãoa qual era para mim, em consequência do qual Deus pode tirar meu pecado. Mais satisfação resulta para a lei pela morte de Cristo que houvera resultado enviando todos os transgressores para o inferno. O estabelecimento mais glorioso do governo equitativo de Deus resultou no sofrimento do Filho de Deus pelo pecado, que sofreria por toda a raça humana.

Jesus suportou por nós toda a penalidade da morte. Contemple esta maravilha! Ali está pendurado na cruz. Esta é a vista mais solene que jamais contemplei. O Filho de Deus e o Filho do homem, ali no alto do madeiro, sofrendo penas indizíveis, o Justo pelos injustos, para levar-nos a Deus. Maravilhosíssima é tal vista; o Inocente sendo castigado! O eternamente bendito se fez maldição! O infinitamente glorioso sofrendo a morte ignominiosa! Quanto mais contemplo os sofrimentos do Filho de Deus, mais convicto estou de que correspondem a meu caso de criminalidade. Por que sofreu senão para livrar-nos da pena merecida? Havendo pois, expiado por sua morte, os que crêem nele não necessitam temê-la. Asísim é, e assim deve ser, que sendo feita a expiação, Deus pode perdoar sem alterar as bases de seu tribunal, sem precisar mudar o código dos estatutos. A consciência encontra a resposta plena a sua tremenda pergunta. A ira de Deus contra a iniquidade deve ser terrível, mais do que toda concepção humana. Bem disse Moisés; «Quem conhece o poder da tua ira?» (Salmo 90:11). Entretanto ao ouvir ao Senhor da glória gritar. «Por que me desamparastes?» (Mt.27:46) e ao vê-lo exalando o último suspiro, sentimos que a Justiça Divina o recebeu com muita satisfação pela obediência tão perfeita e morte tão espantosa da parte de uma pessoa tão Divina. Se Deus mesmo se inclina ante sua própria lei, o que mais devemos querer? Há muito mais na expiação no sentido de mérito que em todo pecado humano em sentido de demérito.

O vasto mar do sacrifício próprio do amor de Jesus é tão profundo que podem fundir-se nele todas as montanhas de nossos pecados. A causa do valor infinito de nosso Representante, bem pode Deus olhar de forma favorável aos demais seres humanos por mais indignos que sejam. Certamente foi o milagre dos milagres que o Senhor Jesus tomou em meu lugar.

Sofrendo por mim a fatal condenação,

Livrando minha alma do castigo eterno.

Pois assim o fez. « Está consumado» (João 19:30). Deus perdoa ao pecador, porque não perdoaria a seu próprio Filho. Deus pode perdoar tuas transgressões, porque depositou em seu Filho unigênito essas transgressões a 2000 anos atrás. Se creres em Jesus, isto é o essencial, então deve saber que teus pecados foram afastados de ti por Aquele que representava o bode expiatório no culto profético de Israel.

O que é crer nele? Não é simplesmente dizer «É Deus e Salvador,» mas sim confiar inteiramente nele, recebendo-o para toda a obra da salvação desde hoje e para sempre, recebendo-o como único Salvador, como Senhor, e Mestre, de tudo. Se você quer a Jesus, ele te aceita de imediato. Se verdadeiramente creres nele tenha certeza de que não irás para o inferno; porque isso tornaria nulo o sacrifício de Cristo. Não é possível que um sacrifício se aceite, e que apesar dele ter morrido a alma pela qual aceitou o sacrifício. Se a alma do crente pode ser condenada, porque então tal sacrificio? Se Jesus morreu em meu lugar, por que devo morrer também?

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Todo crente pode afirmar que um sacrifício expiatório se faz por ele; pela fé colocada em sua mão sobre o mesmo, fazendo-lhe seu, e pelo mesmo pode repousar seguro na certeza de que nunca perecerá. O Senhor Deus não receberá este sacrifício feito por nós para logo condenar-nos a morte. Deus não pode ler nosso perdão escrito no sangue de seu próprio Filho e logo ferir-nos de morte. Tal coisa é impossível. Deus te conceda a graça agora mesmo para olhar tão somente para Jesus, começando pelo princípio, por Jesus mesmo, o qual é a origem da fonte de misericórdia para o homem culpável.

«Ele justifica ao ímpio.» «Deus é o que justifica,» portanto e por essa mesma razão se pode fazer, e o faz mediante o sacrifício expiatório de seu Divino Filho. Por essa razão pode fazer em justiça, e de forma que ninguém poderá colocar em dúvida, tão equitativamente que nem o último e temível dia, quando passarem os céus e a terra, haverá quem negue a validade dessa justificação. «Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu. Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus. Deus é quem os justifica» (Ro. 8:33,34).

Pois bem, pobre alma, queres entrar neste refúgio como você está? Aqui estarás em perfeita segurança. Aceita esta salvação certa e segura. Acaso dirás: «Nada há em mim que me recomende.» Não peças tal coisa. Os que tentam salvar suas vidas, deixam a roupa para trás. Se apresse em busca de refúgio, assim como estás.

Te direi algo a meu respeito para te animar. Minha única esperança é entrar na glória e descansar na plena redenção de Cristo realizada na cruz do Calvário pelos ímpios. Nisto descanso firmemente, não tenho esperança em nenhuma outra coisa. Você se acha na mesma condição que eu, pois nenhum de nós tem mérito algum digno de consideração como base de confiança. Demos, pois, as mãos, colocando-nos juntos ao pé da cruz, e entreguemos nossas almas de uma vez para sempre a quem derramou seu sangue pelos culpáveis. Seremos salvos pelo mesmo Salvador. Se você perecer ao confiar nele, perecerei também. O que mais posso fazer para te provar minha própria confiança no evangelho que te proclamo?

SALVAÇÃO DE PECAR

Gostaria de dizer umas palavras sinceras aos que compreendem a ideia da justificação pela fé em Cristo Jesus, mas, cuja dificuldade consiste em não poder deixar de pecar. Não é possível que nos sintamos felizes, descansados e espiritualmente santos até que cheguemos a ser santificados. É preciso que sejamos libertados do domínio do pecado. Porém, como se realiza isto? Este é un assunto de vida ou morte para muitos. A velha natureza é muito forte e tem procurado refrear e domar; mas não queremos ceder, e ainda que desejosos de melhorar, se acham pior que antes. O coração é tão duro, a vontade tão rebelde, a paixão tão ardente, os pensamentos tão ligeiros, a imaginação tão indomável, os desejos tão incultos que o homem desperto sente que há em seu interior uma cova de bestas selvagens que acabaram por devorá-lo antes que ele consiga dominá-las. Com relação a nossa natureza caída podemos dizer a nós o que disse o Senhor a Jó, do monstro marinho: «Brincarás com ele como se fora um passarinho ou tê-lo ás preso à correia para as tuas meninas?» (Jó.41:5). Mais fácil seria para o homem poder deter com a mão o vento do que refrear por sua própria força os poderes tempestuosos que moram em sua natureza caída. Esta é uma empresa maior do que qualquer das fabulosas de Hércules; aqui se necessita de um Deus, o Todo Poderoso.

«Eu poderia crer que Jesus perdoaria meu pecado.» disse alguém, mas o que me incomoda é que torno a pecar e que existem inclinações terríveis para o mal em meu ser. Tão certo como a pedra lançada ao ar, pronto volto a cair, assim sou eu; ainda que pela pregação poderosa seja

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elevado ao céu, volto a cair de novo em meu estado de insensibilidade. Facilmente fico encantado pelos olhos do basilisco do pecado permanecendo sob o encanto, só a providência me faz escapar de minha própria loucura.

Estimado amigo, se a salvação não se ocupar desta parte de nosso pecado de ruina, resultaria em algo muito triste e defeituoso. Como desejamos ser perdoados, desejamos também ser purificados. A justificação sem a santificação não seria salvação de nenhum modo. Tal salvação chamaria ao leproso limpo, deixando-o morrer de lepra; perdoaria a rebelião, deixando o rebelde permanecer inimigo do soberano. Afastaria as consequências descuidando e sem fim. Impediria por um momento o curso do rio, deixando aberta a fonte de contaminação, de modo que mais ou menos logo se abriria uma saida com maior força. Desperta pois o Senhor Jesus está vindo tirá-lo do pecado de três maneiras; vindo te salvar da culpa do pecado , do poder do pecado, e da presença do pecado. Em seguida é possível chegar à segunda parte: o poder do pecado se pode quebrar imediatamente; e assim estarás no caminho para a terceira parte, a salvação da presença do anjo digo do Senhor. «Chamarás seu nome Jesus, porque ele salvará a seu povo dos pecados deles» (Mat.1:21). Nosso Senhor Jesus vindo para destruir em nós as obras do diabo. O que se disse sobre o nascimento do nosso Senhor, se declarou também em sua morte; porque ao abrir-se seu lado, saiu sangue e água para significar a dupla cura pela qual estamos salvos da culpa e da contaminação do pecado.

Se apesar disso o poder do pecado e as inclinações de tua natureza te afligem, como pode ser o caso, saiba que existe uma promessa para você. Confie nela, porque parte desse pacto da graça está firme em todo mandamento. Deus que não pode mentir declarou no livro de Ezequiel 36:26; «Dar-vos-ei coração novo, e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra, e vos darei coração de carne.»

Como pode ver, em tudo entra o Eu Divino: Eu -darei -porei -tirarei -darei. Tal é o modo real de atuar do Rei dos reis, sempre poderoso para executar a ponto sua soberana vontade. Nenhuma de suas palavras ficará sem cumprir.

Bem sabe o Senhor que tu não podes mudar teu próprio coração, nem limpar tua própria natureza, mas, também sabe que ele é poderoso para fazer as duas coisas. Deus pode mudar a pele do Etíope e extrair as manchas do leopardo. Ouça isto, creia e admire-o, ele pode te gerar de novo, fazendo com que naças de novo. Isto é um milagre estar ao pé das cascatas do Niágara, e só com uma palavra manda a correnteza voltar atrás e subir o grande precipício sobre o qual hoje se lança com poder fantástico. Só o onipotente poder de Deus podia fazer tal milagre; entretanto, esse não seria mais que uma comparação adequada ao que sucederia, se se fizesse retroceder todo o curso da natureza. Para Deus tudo é possíevel. Ele é poderoso para voltar atrás o curso de teus desejos, a corrente de tua vida, de modo que em lugar de se abaixar afastando-se de Deus, tenhas a tendência de subir aproximando se a Deus. Isto é na realidade o que o Senhor prometeu fazer com todos os incluídos no pacto, e sabemos pelas Escrituras que todos os crentes estão incluídos nele. Leiamos de novo suas palavras em Ezequiel 36:26.

Dar-vos-ei coração novo, e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra, e vos darei coração de carne.

Quão maravilhosa é esta promessa! E em Cristo é «o sim» e «o amém» para a glória de Deus por nós. Façamos-a nossa, aceitando-a como verdadeira, apropriando-nos do bem. Assim se

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cumprirá, e em dias e anos vindouros teremos que cantar a mudança maravilhosa que a soberana graça fez em nós.

Muito digno de consideração é o feito de que, tirando o Senhor o coração de pedra, tirado fica, e uma vez feito isso, nenhum poder conhecido poderia jamais tirar-nos esse coração novo que nos dará esse espírito reto que nos infunde. «Porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis» (Ro. 11:29), é dizer, sem arrependimento, a mudança de opinião, da parte de Deus, não tirando o que uma vez foi dado. Permite que te renove e permaneça renovado. As reformas e limpezas que empreende o homem, logo acabam, porque o cachorro volta ao seu vômito; mas quando Deus nos dá um coração novo, este fica para sempre, nem se torna pedra outra vez. Nisto devemos regozijar-nos para sempre, entendendo o que Deus cria em seu reino de graça.

Para aclarar este assunto de um modo simples, já ouviu a comparação do senhor Rowland Hill, acerca do gato e o porco? Te contarei ao estilo próprio para ilustrar as palavras gráficas do Salvador: «Vos é necessário nascer outra vez» (João 3:17). Vê esse gato? Quão limpo é! Vê como hábilmente se lava com a língua e as patas? De verdade, oferece uma vista bonita. Viu alguma vez um porco fazer o mesmo? Claro que não! Tal coisa seria contra a natureza do porco. Este prefere revolver-se na lama. Ensina ao porco a lavar-se, e terás pouco êxito. Seria melhor, e de grande valor se os porcos aprendessem limpeza e asseio. Ensina lhes a lavar-se e limpar-se como fazem os gatos. Trabalho inútil! Podes limpar o porco com força, mas em seguida voltará a se sujar, ficando tão sujo como antes. O único modo de fazer com que o porco se lave, como o gato, consiste em transformá-lo em gato. Só assim, então se lavará e se limpará, do contrário não.

Suponhamos realizada a transformação; o que antes era impossível ou difícil, agora é fácil, muito fácil, o porco será de agora em diante capaz de entrar na sala e dormir sobre a almofada ao lado da chaminé. Assim sucede com o ímpio; nem o pode forçar a fazer o que o homem renovado faz de muita boa vontade. Pode ensinar ao ímpio, proporcionando-lhe bons exemplos, mas é incapaz de aprender a arte da santidade, por quanto carece de capacidade e mente para isso; sua natureza o leva por outro caminho. Quando Deus o transforma em homem novo, tudo muda de aspecto. Tão marcante é tal mudança que ouvi um convertido dizer «Ou todo o mundo mudou ou eu mudei.» A nova natureza segue depois do bem tão naturalmente como a velha natureza anda após o mal. Quão grande benção é obter esta nova natureza! Unicamente o Espírito Santo te pode infundir.

Notou alguma vez no maravilhoso caso onde o Senhor dá um coração novo e um espírito reto ao homem perdido? Já viu, talvez uma lagosta que, lutando com outra, perdeu uma pata, crescendo depois outra nova. Coisa admirável isso, mas muitíssimo mais maravilhoso é que ao homem lhe foi dado um coração novo. Isto, sim que é um milagre, um feito que sobrepassa todo poder da natureza. Ali está uma árvore. Se cortas um de seus ramos, outra poderá crescer em seu lugar; mas pode mudar sua natureza, pode tornar doce a seiva amarga, pode fazer com que o espinho produza figos? Poderá injetar lhe algo melhor, sendo esta a semelhança que a natureza nos oferece da obra da graça; mas o mudar em absoluto a seiva vital da árvorel, isto seria um milagre de verdade. Tal prodígio e mistério de poder atua em Deus e em todos os que crêem em Cristo Jesus.

Se te submetes a sua operação Divina, o Senhor transformará teu ser. Ele submeterá a natureza velha, e te infundirá vida nova. Confia no Senhor Jesus e ele tirará de tua carne o coração duro de pedra, dando-te coração brando como de carne. Todo o duro será brando,

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todo o vicioso, virtuoso; toda inclinação que houver se elevará com força viva para cima. O leão furioso dará lugar ao cordeiro manso; o corvo imundo fugirá da pomba branca; a serpente enganosa cairá esmagada debaixo do pé da verdade.

Com meus próprios olhos tenho visto tais mudanças admiráveis de caráter moral e espiritual que não me desespero com a maldade de ninguém. Se não fosse indecoroso, indicaria a mulheres impuras, hoje puras como a branca neve, e a homens blasfêmios que atualmente alegram a todos por sua conduta e devoção. Os ladrões se transformam em pessoas honradas, os bêbados em sóbrios, os mentirosos em verazes, os burladores em pessoas sensatas zelosas pela causa do Senhor. Aonde quer que a graça de Deus se manifestou, se ensinou ao homem a renunciar à impiedade e os desejos mundanos, e a viver moderado, justo e honestamente nesta época; e estimado leitor, o mesmo fará a graça para ti.

«Eu não posso efetuar esta mudança» pode perguntar então. Quem é que pode? As Escrituras que temos citado, não falam de que o homem fará, senão de que fará Deus, e a ele corresponde cumprir sua Palavra em ti, e certamente o fará.

Mas como se fará? Para que quer saber? Será necessario que Deus explique seu modo de atuar antes de creres nele? Seu proceder neste caso é um grande mistério, o Espírito Santo o leva ao fim. O que fez a promessa é o responsável por seu cumprimento, e sua capacidade corresponde perfeitamente ao caso. Deus que promete efetuar tão assombrosa operação, o levará até o fim, sem dúvida alguma, em todos quantos pela fé recebam a Jesus, porque lemos que «Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus» (João 1:12).

Que Deus faça que o creiais! Oxalá se desses ao Senhor da graça a honra merecida de crer que ele pode e quer fazer isto em você, por grande milagre que fosse! Oxalá que creias que Deus não pode mentir! Oxalá que confies nele, afim de que te dê um coração novo e um espírito reto, já que ele é poderoso para fazê-lo! Que o Senhor te conceda fé em suas promessas, fé em seu Filho, fé no Espírito Santo, fé nele mesmo! Assim seja. E a ele serão dados louvor, honra e glória para sempre. Amém

A REGENERAÇÃO E O ESPÍRITO SANTO

  «Vos é necessário nascer de novo» (João 3:7). Esta palavra do nosso Senhor parece ter sido no caminho de muitos a espada flamejante, como a que se movia de um lado para outro à porta do Paraíso. Caiu em desespero, porque esta mudança está além de todos seus esforços. O novo nascimento é de cima e, portanto, não é coisa que esteja no poder humano efetuar. Longe esteja de mim negar ou encobrir aqui uma verdade que poderia inspirar um consolo falso. Admito claramente que o novo nascimento é sobrenatural e que não é obra que o pecador possa levar a cabo por si mesmo. Seria para o leitor de pouca utilidade, se fosse eu bastante mal para animar, tratando de convencer de rejeitar ou esquecer o que é uma verdade indiscutível.

Mas não é digno de notar que este mesmo capítulo, em que o Senhor declara que o novo nascimento é do alto e obra divina, contém também a afirmação mais poderosa que a salvação é pela fé? Leia o capítulo inteiro, João 3, e atente nos primeiros versículos. É verdade que o

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versículo 3 diz: «Respondeu Jesus, e lhe disse: Em verdade em verdade te digo se não nascer de novo não verás o reino de Deus.»

Mas logo os versículos 14 e 15 falam como segue: «E do modo por que Moisés levantou a serpente do deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo que nele crê tenha a vida eterna.» O versículo 18 repete a mesma doutrina nos termos mais amplos, dizendo: «Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.»

É evidente a toda luz que estas duas afirmações devem estar em perfeito acordo, já que saíram dos mesmos lábios e constam em uma mesma página inspirada. Por que nós criamos uma dificuldade onde não é possível que haja? Se uma afirmação nos assegura que para a salvação se requer uma coisa que só Deus pode proporcionar-nos, e se outra afirmação nos assegura que o Senhor nos salvará mediante nossa fé em Jesus, podemos tirar a consequência sem equívoco algum que o Senhor concederá a todos quantos crêem tudo quanto declara necessário para a salvação. De fato, o Senhor produz o nascimento novo em todos quantos crêem em Jesus; e sua fé é a manifestação mais palpável de que tenham nascido do alto.

Confiamos em Jesus, que fará o que não somos capazes de fazer; se estivesse o assunto em nosso poder, por que ir a ele? A nós nos cabe crer, a parte do Senhor é criar a vida nova em nós. Ele não quer crer por nós, nem devemos fazer as obras da regeneração por ele. Basta para nós obedecer o mandamento crendo; ao Senhor corresponde realizar o nascimento novo em nós. Ele que pode baixar até o extremo de morrer na cruz por nós, pode e quer conceder-nos todas as coisas necessárias para nossa segurança eterna.

«Mas uma mudança de coração que salva é obra do Espírito Santo.» Esta é uma grande verdade e longe de nós esteja o duvidar ou esquecer. Mas a obra do Espírito Santo, é uma obra secreta e misteriosa, e só se pode conhecer pelos resultados. Há mistérios em nosso nascimento natural que seria curiosidade profana intentar penetrar; com maior razão é tratando das operações sagradas do Espírito de Deus. «O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo que é nascido do Espiríto.» (João 3:8). Tanto sabemos, entretanto, que a obra misteriosa do Espírito Santo não pode constituir razão alguma para que recusemos crer em Jesus, de quem este mesmo Espírito dá testemunho.

Se disser a uma pessoa o encargo de semear um campo, não poderia desculpar-se da sua negligência dizendo que não valeria a pena semear, ao menos que Deus fizesse brotar a semente. Não ficaria justificada sua negligência de não lavrar a terra pela razão de que a energia secreta de Deus tão somente pode produzir uma colheita. Ninguém fica impedido ou parado nas tarefas rotineiras da vida pela razão de que «Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam» (Salmo 127:1). É certo que quem crê em Jesus, jamais achará que o Espírito Santo se negue a atuar nele; o fato é que sua fé é prova de que o Espírito já está atuando em seu coração.

Deus atua providencialmente, mas não fica inativa por isso a humanidade. Não se poderiam mover os homens sem o poder divino, concedendos vida e força, e não obstante procedem em suas tarefas sem pensar, recebendo força do dia a dia da parte dAquele em cujas mãos está seu alento e todos seus caminhos. Assim sucede na condição espiritual. Nos arrependemos e cremos, ainda que não pudéssemos fazer um nem o outro, se o Senhor não nos capacitasse para isso. Voltemos as costas ao pecado confiando em Jesus, e logo percebemos que o Senhor

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tem atuado em nós tanto o querer como o efetuar, segundo seu beneplácito. Inutilmente pretendemos que neste assunto haja dificuldade.

Algumas verdades que é difícil explicar por palavra, são muito simples na experiência. Não há contradição entre a verdade que o pecador crê e que sua fé é obra do Espírito Santo. Só a insensatez pode levar o homem a enroscar-se em mistérios com respeito a coisas simples, quando se acham em perigo suas almas. Ninguém recusaria entrar em um bote salva-vidas por não conhecer o peso, preciso dos corpos; nem o faminto recusaria comer por não conhecer todo o proceso da nutrição. Se você, não quer crer até que compreendas todos os mistérios, nunca se salvará; e se me permite dificuldades de invenção própria te impedem de aceitar o perdão mediante a fé em seu Senhor e Salvador, perecerá por uma condenação bem merecida. Não cometa suicídio espiritual entregando-se apaixonadamente à discussão de sutilezas metafísicas.

MEU REDENTOR VIVE

Tenho falado continuamente acerca do Cristo crucificado, que é a grande esperança do culpado; mas é sábio que concordemos de que nosso Senhor ressuscitou dentre os mortos e vive eternamente.

Não se pede que creia em um Cristo morto, senão em um Redentor que morreu por nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação. Assim é que possa ir a Jesus em seguida como a um amigo vivo e presente. Não se trata de uma simples lembrança, senão de uma pessoa continuamente existente que deseja ouvir tuas orações e respondê-las. Ele vive a propósito para continuar a obra, pela qual sacrificou sua vida. Está intercedendo pelos pecadores à destra do Pai, e pelo mesmo é poderoso «para salvar eternamente aos que por ele se achegam a Deus» (Hb. 9:25). Entregue se a este Salvador vivo, se ainda não o fez.

Este Jesus vivo está exaltado até a eminência da glória e poder. Hoje não sofre como «o humilhado ante seus inimigos,» não sofre trabalhos como «o filho do carpinteiro,» senão que está elevado muito acima dos principados e potestades e todo nome. O Pai lhe deu todo poder no céu e na terra e está executando este encargo glorioso, levando a cabo sua obra de graça. Escute bem o que Pedro e os outros apóstolos testificam acerca dele ante o sumo sacerdote e todo o concílio:

O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, a quem vós matastes pendurando-o num madeiro. Deus porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados (At. 5:30,31).

A glória que rodeia o Senhor ascendida devesse inspirar esperança em todo coração crente. Jesus não é pessoa de categoria obscura; é um Salvador grande e glorioso. É o Redentor exaltado a Príncipe coroado como tal. A graça soberana sobre a vida e a morte lhe confiado; o Pai colocou todos os homens sob o governo mediador do seu Filho, assim que pode dar vida a quem quiser. Ele abre e ninguém fecha. A alma sujeita pelas cordas do pecado e da condenação pode ficar livre imediatamente pelo poder da sua palavra. Extende seu cetro real, e qualquer que o tocar, viverá.

Providência para nós que como vive o pecado, e vive a carne e vive o diabo, vive também Jesus; e por qualquer que fosse o poder desses para arruinar-nos, infinitamente maior é o poder de Jesus para nos salvar.

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Toda sua glorificação e habilidade estão atuando a nosso favor. Foi «exaltado para ser» e exaltado «para dar». Foi exaltado para ser Príncipe e Salvador e para dar todo o necessário para levar a cabo a salvação de todos quantos entrem sob seu governo. Nada tem Jesus que não esteja disposto a usar para a salvação dos pecadores e nada é que não esteja disposto a desprender na dispensação abundante da sua graça. Cooperam a uma sua função de Príncipe e sua função de Salvador, como se não quisesse exercer uma sem a outra; e manifesta sua glorificação como tendo por objeto produzir bençãos para a humanidade como se isto fosse a flor e coroa da sua glória. Pode haver algo melhor combinado para infundir esperança nos pecadores arrependidos que comecem a dirigir seu olhar para Cristo Jesus?

Muito grande foi a humilhação que Jesus sofreu, e pelo mesmo houve lugar para sua exaltação. Por essa humilhação cumpriu toda a vontade do Pai, e portanto recebeu a recompensa de ser elevado à glória. Esta glorificação a usa para bem do seu povo. Erga seus olhos meu caro leitor, para essas elevações da glória, de onde deve esperar ajuda. Contemple as glórias celestes do teu Príncipe e Salvador. Não é esta a maior esperança para os homens que «o Filho do homem» ocupa o trono do universo? Não é glorioso de verdade, que o Senhor de tudo é o Salvador dos pecadores? Temos um amigo no tribunal, sim, um amigo sobre o trono. Porá este toda sua influência a favor dos que entregam seus assuntos em suas mãos. Bem diz um dos nossos hinos:

Para sempre vive exaltado

Ante o trono Príncipe e Salvador,

Cristo, que é hoje meu advogado,

Como pode para mim haver temor?

Vem, amigo, e entrega tua causa nessas mãos, uma vez com chagas, mas hoje adornadas com as insígnias do poder real e soberano. Jamais perdeu causa alguma confiada a tão poderoso Advogado.

SEM ARREPENDIMENTO, SEM PERDÃO

  Está claro no livro de Atos 5:30,31, que o arrependimento acompanha o perdão. Lemos no versículo 31, que Jesus foi exaltado para dar «arrependimento e perdão dos pecados.» Estas duas bençãos se desprendem das mãos sagradas uma vez cravadas no madeiro, das mãos dAquele que agora está na glória. Arrependimento e perdão estão entrelaçados pelo propósito eterno de Deus. O que Deus juntou, não o separe o homem.

O arrependimento deve ser companheiro do perdão, e verás que assim é, pensando um pouco sobre o caso. Não é possível que se conceda o perdão a um pecador não arrependido. Tal coisa aprovaria seus maus caminhos e faria pensar pouco na culpa do pecado. Se o Senhor dissesse: «Tu amas o pecado, vives nele e vai de mal a pior, mas não importa, eu te perdoo,» isto equivaleria a proclamação de uma infame liberdade de pecar. Equivaleria a por em dúvida os fundamentos de toda ordem social, resultando disso a desordem moral. Não poderia eu explicar os inumeráveis escândalos que resultariam inevitavelmente, se pudesse separar o arrependimento e o perdão tirando o pecado desde que o pecador o ame como sempre.

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É de todo natural que se cremos na Santidade de Deus, é positivo que se continuamos no pecado não querendo arrepender do mesmo, não podemos esperar que Deus nos perdoe, mas, sofrermos as consequências da nossa iniquidade. Segundo a bondade infinita de Deus nos promete que, se abandonamos nosso pecado confessando, aceitando pela fé na graça que está em Cristo Jesus, Deus «é fiel e justo para nos perdoar de nossos pecados, e nos purificar de toda iniquidade» (1João 1:9). Mas enquanto tanto que Deus viva, não pode haver promessa de misericórdia para os que continuam em seus maus caminhos negando a reconhecer suas transgressões. Certamente não há rebelde que possa esperar que seu Rei o perdoe porquanto que prossegue em rebeldia manifesta. Ninguém pode ser tão louco que imagine que o Juiz de toda a terra apague nossos pecados, se recusamos arrepender-nos e nos confessarmos.

Além do mais, isto é assim a causa da Perfeição da Misericórdia Divina. Uma misericórdia que perdoa o pecado, deixando o pecador vivendo no pecado, seria insuficiente e superficial, na verdade. Seria uma misericórdia deforme. Qual dos dois privilégios pensa que é o maior: apagar a culpa do pecado ou livrar do poder do pecado? Não tratarei de pesar em uma balança duas misericórdias sem igual. Nenhuma delas nos alcançaria senão mediante o sangue precioso de Cristo. Mas me parece que a salvação do poder do pecado, ao ser santificado, ao ser feito semelhante a Deus, deve considerar a maior das duas, se alguma comparação tivéssemos que fazer. Favor incalculável é o perdão.

No Salmo 103:3; fazemos esta, a primeira observação: «Ele é quem perdoa todas tuas iniquidades.» Mas se pudéssemos alcançar o perdão, e logo ter permissão de amar o pecado, praticar a iniquidade e revirar na lama dos vícios, para que nos serviria tal perdão? Não resultaria um doce venenoso que do modo mais eficaz nos arruinaria? O ser lavado e, entretanto, ficar na lama; o ser declarado limpo e, não obstante, levar a lepra na frente, seria a zombaria mais pesada que pudesse fazer a respeito da misericordia. Para que serviria tirar o cadáver do sepulcro, sem poder devolver a vida? Para que levar à luz, senão pode olhar para ele?

Nós damos graças a Deus, porque Aquele que perdoa nossas iniquidades, também sara nossas doenças. O que nos limpa das manchas do pecado, nos salva dos caminhos sujos do presente e nos guarda de cair no porvir. É preciso que recebamos agradecidos tanto a palavra do arrependimento como a da remissão do pecado. São duas coisas inseparáveis. A herança do pacto é uma e indivisível e não se divide em partes. Dividir a obra da graça, seria partir uma criatura pelo meio, e quem tal permitisse, demonstraria que não tem interesse algum no assunto.

Pergunto aos que buscam ao Senhor, estaria satisfeito com o fato de que Deus perdoa seus pecados,e em seguida deixasse você viver como um ímpio e mundano como antes? Certamente que não; o espírito vivificado tem mais medo do pecado que dos castigos que resultam do mesmo. O grito do seu coração não é: Quem me livrará do castigo? Senão «Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?» (Rm. 7:24). Quem me fará capaz de vencer a tentação e ser santo como Deus é santo? Já que a unidade do arrependimento e o perdão concordem com o desejo realizado pela graça, e já que é necessária essa unidade para a perfeição da salvação, como a causa da santidade, descansa seguro de que permanecerá essa unidade.

O arrependimento e a remissão do pecado são inseparáveis na experiência de todos os crentes. Jamais houve pessoa que de verdade se arrependesse dos seus pecados, confessando a Deus no nome de Jesus, que Deus não perdoasse; por outro lado, jamais houve pessoa que

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Deus perdoasse sem arrependimento do pecado. Não vacilo em afirmar que sob as abóbodas do céu jamais houve, nem há, nem haverá caso de pecado limpo, a não ser que ao mesmo tempo houvesse arrependimento e fé em Cristo Jesus. O ódio ao pecado e o sentimento de perdão entram juntos na alma e permanecem juntos enquanto vivemos.

Estas duas coisas atuam mutuamente. O homem arrependido é perdoado, e o perdoado se arrepende profundamente depois de perdoado. Assim é que podemos dizer que o arrependimento conduz ao perdão e o perdão ao arrependimento.

«A lei e o terror,» diz o poeta, só endurecem o homem, enquanto que atuam a partes; mas um sentimento de perdão, adquirido mediante o sangue abranda o coração de pedra.»

Convencidos do perdão, aborrecemos a iniquidade. E suponho que quando a fé se tenha aumentado até a segurança plena, de modo que estejemos muito seguros sem sombra de dúvida que o sangue de Jesus nos embranqueceu mais que a neve, então o arrependimento chegou a perfeição.

A capacidade de arrepender-se cresce à medida de que a fé cresce. Não há equívoco neste caso, o arrependimento não é coisa de dias ou semanas, como a penitência imposta, que se deseja terminar quanto antes. Não, se trata de uma graça para a vida inteira como a fé mesma. Os filhos de Deus se arrependem, assim os jovens e os anciãos.

O arrependimento e a fé são companheiros inseparáveis. Contudo tanto que andemos por fé estamos em condição de arrepender-nos. Não é verdadeiro o arrependimento que não venha da fé em Jesus, e nos é verdadeira a fé em Jesus que não capacite para o arrependimento. A fé e o arrependimento, são como os gêmeos siameses, vivem unidos. A medida que cremos no amor perdoador de Jesus, podemos arrepender-nos. e a medida que nos arrependemos do pecado e odiamos o mal, nos regozijamos na plenitude do perdão que Jesus foi exaltado para conceder ao necessitado. Não poderá jamais apreciar o perdão, se não se sentir arrependido; e tampouco é capaz de arrependimento profundo antes de ter sido perdoado. Surpreendente pode parecer, mas é certo, que a amargura do arrependimento e a doçura do perdão, se mesclam no odor suave de toda vida de graça, resultando na mesma.

Estas duas dádivas do pacto, constituem a certeza mútua de uma da outra. Sei que me arrependo, sei também que Deus me tem perdoado. Como saberei que me tem perdoado senão conhecendo também que me tem livrado dos meus maus caminhos? O ser crente, é ser arrependido. A fé e o arrependimento são dois raios da mesma roda, dois cabos do mesmo arado. Se tem dito bem que o arrependimento é o coração quebrantado por causa do pecado e separado do pecado. De igual forma bem se pode dizer que é uma troca e complemento. É uma troca de mente do tipo mais radical e profunda, acompanhado de dor por causa do pecado cometido no passado, e do compromisso de transformação para o futuro. Deixar o mal que antes eu amava; amar o bem que antes odiava, demonstra assim a sinceridade da dor.

Sendo isto um fato positivo, podemos estar seguros do perdão, porque o Senhor nunca leva o coração ao quebranto por causa do pecado, separando do mesmo, sem perdoá-lo. Por outra parte, se desfrutamos o perdão mediante o sangue de Jesus, sendo justificados pela fé e tendo paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, sabemos que nosso arrependimento e nossa fé são do tipo legítima.

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Não considere seu arrependimento qual mérito que proporcione o perdão, nem espere capacidade natural para arrepender até que veja a graça de nosso Senhor Jesus e sua prontidão de apagar seus pecados. Guarde estas coisas cada uma em seu lugar e contemple a relação que tem uma com a outra. São como Joaquim e Boaz (1Reis. 7:21), na experiência da salvação; quero dizer que se podem comparar as altas colunas do templo de Salomão, colocadas em frente da casa do Senhor, formando uma entrada majestosa no lugar santo. Ninguém vem do modo devido a Deus, a não ser que passe entre as colunas do arrependimento e da remissão. O arco-íris do pacto da graça foi desprendida em toda sua formosura sobre seu coração, quando sobre as lágrimas do arrependimento tenha brilhado a luz do pleno perdão. O arrependimento do pecado e a fé no perdão da parte de Deus são o tema e argumento da verdadeira conversão. Por estes sinais conhecerá «um verdadeiro israelita.»

Voltemos ao texto que estamos meditando; tanto o arrependimento como o perdão brotam da mesma fonte, sendo dons do mesmo Salvador. O Senhor Jesus da glória concede as duas coisas as mesmas pessoas. Não deve buscar a fonte do arrependimento, nem do perdão, no outro ponto. Ambas as coisas estão juntas e o Senhor está preparado para conceder gratuitamente agora mesmo a toda pessoa que de sua mão as querem receber. Não deve esquecer nunca que Jesus dá todo o necessário para a salvação. É de suma importância que todos quantos buscam a salvação compreendam isto. A fé é tanto um presente de Deus como o objeto em que a fé se funde. O arrependimento é tão manifesto obra da graça como a expiação pela qual se apaga o pecado. A salvação é obra da graça desde o princípio até o fim.

Não me comprenda mal aqui. Por suposto, não é o Espírito Santo o que se arrepende. Nada tem feito do que se deva arrepender. E se pudesse arrepender-se, de nada nos valeria; é preciso que nos arrependamos cada um de nós de nosso próprio pecado, e se não, não ficaremos salvos do poder do pecado. NÃO é o Senhor Jesus Cristo que se arrepende. De que se arrependeria? Nós somos os que devemos arrepender com o pleno conhecimento de toda faculdade de nossa mente. A vontade, as afeições, as emoções, tudo coopera cordialmente no ato bendito do arrependimento do pecado; e não obstante por detrás de tudo o que seja ato pessoal nosso, está uma influência santa atuando em segredo, abrandando nosso coração, causando arrependimento e produzindo uma mudança completa. O Espírito de Deus nos ilumina para que possamos ver o que é o pecado, fazendo-o repugnante à vista. Até porque, o Espírito de Deus nos faz voltar à santidade, fazendo-nos apreciá-la de coração, amá-la, desejá-la, e assim nos comunica um impulso, pelo qual somos levados adiante passo a passo pelo caminho da santidade. O Espírito de Deus atua em nós tanto o querer como o fazer segundo o beneplácito de Deus. Submetamo-nos a este bom Espírito agora mesmo para que nos guie a Jesus, que abundantemente nos dará em dobro a benção do arrependimento e do perdão, segundo as riquezas da sua graça. «Pela graça sois salvos».

COMO SE DÁ O ARREPENDIMENTO

Voltemos ao grande texto «Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados » (At. 5:31). Nosso Senhor Jesus Cristo subiu para que a graça desçesse. Ele usa sua glória para propagar melhor sua graça. O Senhor não deu um só passo para cima senão com o objetivo de levar consigo os crentes acima. Foi exaltado para dar arrependimento, o que veremos adiante, nos lembrará de umas quantas grandes verdades.

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A obra que nosso Senhor fez, promoveu o possível e aceitável arrependimento. A lei não fala de arrependimento, senão diz simplesmente «A alma que pecar, essa morrerá» (Ez. 18:20). Se o Senhor Jesus não morresse, ressuscitado e ascendido ao Pai, para que serviria seu arrependimento ou o meu? Poderíamos sentir remorsos de consciência com todos seus horrores, mas não o verdadeiro arrependimento com suas esperanças. Arrependimento no sentido de sentimento natural é um dever comum que não merece louvor; em verdade, é um sentimento tão comumente mesclado com temor egoísta ao castigo que seu melhor apreço é de pouco valor. Se Jesus não tivesse intervindo, acumulando uma riqueza de mérito, nossas lágrimas de arrependimento não valeriam mais que outras tantas gotas de água derramada na terra. Se tem exaltado Jesus para que em virtude de sua intercessão tenha valor ante Deus nosso arrependimento. Neste sentido nos dá arrependimento, posto que põe o arrependimento em condição aceitável, o que de outro modo não seria.

Quando Jesus foi exaltado, foi derramado o Espírito de Deus para produzir em nós todo dom de graça necessária. O Espírito Santo cria em nós o arrependimento renovando-nos de um modo sobrenatural tirando o coração de pedra de nossa carne. Não se sente apertando os olhos para tirar algumas lágrimas impossíveis; o arrependimento não sai de uma natureza rebelde, senão da graça livre e soberana. Não entre em seu quarto pegando no peito para produzir em um coração de pedra sentimentos que não existem nele. Em vez disso, vá em espírito ao Calvário e contemple a paixão e morte de Jesus. Olhe para cima e veja de onde vem seu socorro. O Espírito Santo veio expressamente para fazer sombra aos espíritos dos homens e gerar neles o arrependimento como antes se movia sobre a terra desordenada para produzir ordem. Eleva sua oração a ele. «Bendito Espírito de Deus, apodere-se de mim. Faz-me sincero e humilde de coração para que odeie o pecado e sinceramente me arrependa do mesmo.» E ele ouvirá seu clamor e te responderá.

Concorde também de que quando o Senhor Jesus foi exaltado, não somente nos deu o arrependimento enviando o Espírito Santo, senão consagrando todas as obras da natureza e a providência para o grande fim da nossa salvação, providencialmente qualquer uma delas pode chamar-nos ao arrependimento, a menos que seja o canto, como o galo que Pedro ouviu, ou estrondo, como o terremoto que assustou o carcereiro de Filipos. Da destra de Deus, nosso Senhor Jesus governa as coisas da terra fazendo cooperar para a salvação de seus redimidos. Se vale tanto do amargo como do doce, das dores como das alegrias para produzir nos pecadores alguma mudança de mente para Deus. Agradeça por algum ato da providência que te tenha feito pobre, enfermo ou aflito; porque mediante tais coisas Jesus atua em sua vida chamando para si mesmo. A misericórdia do Senhor frequentemente vem cavalgando para nossa porta sobre o cavalo negro da aflição. Jesus se vale de toda a capacidade da nossa experiência para separar-nos do mundo e atrair-nos ao céu. Cristo foi exaltado até o trono do céu e da terra para que mediante os procedimentos da providência submeta todos os corações endurecidos até sentir o bendito quebrantamento do arrependimento.

Ademais, agora mesmo está atuando por seus juízos no cenário das consciências por seu Livro inspirado (A Bíblia), mediante nós que falamos segundo o Livro e pelas orações dos amigos e dos corações sinceros. Ele te pode enviar uma palavra que fira seu coração de pedra, como a vara de Moisés, e faça brotar rios de arrependimento. Ele pode levar à sua mente algum texto das Sagradas Escrituras que quebrante seu coração e te cative em um momento. Misteriosamente pode abrandar e, quando menos esperar, causar um sentimento de santidade que seja capaz de invadir sua alma. Pode estar seguro disso, que Aquele que entrou na glória, exaltado até o esplendor e majestade de Deus, tem abundância de meios para efetuar

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arrependimento nos que terão perdão. Neste mesmo momento está esperando dar arrependimento. Receba-o imediatamente.

Pense no fato, para seu consolo. Que o Senhor Jesus Cristo dá este arrependimento aos menos dignos da humanidade. Foi exaltado para dar arrependimento a Israel. A Israel! Nos dias que falou o apóstolo assim, era Israel a nação que mais havia pecado contra a luz e contra o amor, coroando sua obra de infâmia pela crucificação do Senhor, atrevendo-se a dizer. «Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos» (Mt. 27:25). Certo, estes israelitas eram os assassinos de Jesus; e apesar disso foi exaltado para dar-lhes o arrependimento. Que graça maravilhosa! Escute pois; se você fora criado à luz cristã mais resplandecente e apesar disso o tem rejeitado, todavia há esperanças para ti. Ainda quando tenha pecado contra a consciência, contra o Espírito Santo, contra o amor de Jesus, todavia há lugar para o arrependimento. Ainda que te achar endurecido como Israel incrédulo de antigamente, todavia é possível seu abrandamento, já que Jesus fora exaltado para dar arrependimento aos que chegaram ao cúmulo da iniquidade, agravando de um modo especial seu pecado. Bem aventurado quem, como eu, tem um evangelho tão pleno para proclamar! Bem-aventurado o que tem o privilégio de escutá-lo!

Os corações de Israel se haviam endurecido como uma rocha. Martinho Lutero cria impossível na conversão de um judeu. Sem estar de acordo com ele, é preciso admitir que a semente de Israel tem sido terrivelmente rejeitado ao Senhor todos estes séculos passados. Com verdade disse o Senhor: «Israel não me quis» (Salmo 81:11). Jesus «veio para os que era seu, e os seus não o receberam» (João 1:11). Todavia, para o bem de Israel foi nosso Senhor Jesus exaltado para dar arrependimento e remissão dos pecados. O leitor é provávelmente gentil; mas apesar disso pode ter um coração muito teimoso que por muitos anos tem resistido ao Senhor Jesus. E, todavia, em ti, nosso Senhor pode efetuar o arrependimento. Bem pode ser que todavia terás que escrever, afligido pelo amor divino, como o autor da interessante obra, Livro de cada dia, que em certa época da sua vida era um incrédulo obstinado. Vencido pela graça soberana escreveu:

O coração mais orgulhoso

Quebrantou, Deus, em mim;

O eu mais teimoso e mais terrível

Bem domou para ti.

Tua vontade qual minha fique:

Tua lei, a regra do meu ser;

Meu coração, tua Santa sede,

Minha luta, sempre obedecer.

O Senhor pode dar arrependimento ao menos digno, transformando em ovelhas aos leões, em pombos aos corvos. Voltemos a ele para que uma mudança tão grande se opere em nós. Sem dúvida alguma a contemplação da morte de Cristo é um dos modos mais seguros e efetivos para alcançar o arrependimento. Não se sinta, procurando o arrependimento da fonte seca e

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corrompida da natureza. Supor que pode por força colocar sua alma nesse estado de graça, é contrário às leis da mente humana. Leve seu coração em oração ao que o compreende, dizendo: «Limpe, Senhor. Senhor renove. Senhor realiza teu arrependimento nele.» Quanto mais procurar produzir suas próprias emoções de arrependimento em si mesmo, tanto mais fracassará; mas se com fé pensa em Jesus que morreu por ti, nascerá em ti o arrependimento. Medite pois, no Senhor que de puro amor derrama o sangue do seu coração por ti. Olhe firmemente na agonia e suor de sangue, na cruz e paixão; e ao fazer assim o afligido de tanta dor olhará para ti e mediante esse olhar fará para contigo o que fez com Pedro, de modo que você também saia para chorar amargamente. Ele que morreu por ti pode fazer que você morresse para o pecado mediante seu Espírito de graça; e o que entrou na glória para teu bem, pode conduzir sua alma, para a santidade, deixando para trás o pecado.

Estarei contente de deixar este pensamento; não busque fogo debaixo do gelo, nem espere achar arrependimento em seu coração natural. Olhe para o Vivo para achar a vida. Olhe a Jesus por tudo quanto necessite entre a porta do inferno e a porta do céu. Não busque em outra parte algo do que Jesus deseja conceder, creia que Cristo é tudo.

O TEMOR DE CAIR

Certo temor se apodera as vezes, de muitos que buscam a salvação: temem que não poderão perseverar até o fim. Ouço dizer, «Se eu tiver que entregar minha alma ao Senhor Jesus, talvez voltaria atrás perdendo-me no fim. Antes tive sentimentos bons e os perdi. Minha bondade foi como a nuvem da manhã e como o orvalho da manhã. De repente veio, durou pouco, prometeu muito e logo desapareceu.»

Creio que este temor é frequentemente ao pai é fato; e que alguns que tiveram medo de confiar em Cristo por todo o tempo e toda a eternidade, fracassaram, porque sua fé era temporária não sendo suficientemente sincera para salvar. Principiaram confiando em Jesus até certo ponto, mas confiaram em si mesmos com respeito à continuação e perseverança no caminho do céu; assim é que esse começo foi errôneo, e resultou a coisa mais natural que não tardaram em voltar atrás. Se confiamos em nós mesmos, é certo que não perseveraremos. Ainda quando confiamos em Jesus esperando dele boa parte da salvação, não deixaremos de fracassar, se confiamos em nós mesmos com respeito a algo. Não há cadeia mais forte que o mais fraco de seus elos; se de Jesus esperamos tudo exceto algo, fracassaremos sem remédio, porque nessa coisa tropeçaremos sem dúvida alguma.

Não tenho dúvida de que o erro com respeito à perseverança dos santos tem impedido a perseverança de muitos que um dia marchavam bem. Qual foi o tropeço? Confiaram em si mesmos com respeito a sua carreira, e em consequência fracassaram. Cuidado com revolver algo do eu, no cimento com que edifica, porque sua mistura ficará descomposta e as pedras não ficarão firmes. Se olha para Cristo com respeito ao principio, tem cuidado de olhar a ti mesmo respeito ao fim. Ele é o Alfa. Olhe para que seja Ômega também (princípio e fim). Se começa no Espírito, não espere aperfeiçoar-te pela carne. Comece como pensa e continue como começou, que seja o Senhor o todo em tudo. Peçamos que Deus o Santo Espírito, nos dê uma ideia clara a respeito da fonte de toda força necessária para a perseverança e para ser guardados até o dia da aparição do Senhor.

Aqui segue o que disse Paulo sobre este assunto ao escrever aos coríntios:

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«... de nosso Senhor Jesus Cristo:... vos confirmará até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia do nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão com seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor» (1Co. 1:7-9).

Estas palavras admitem silenciosamente uma grande necessidade ao dizer como se teve em conta satisfazê-la. Sempre que o Senhor faz provisões, podemos estar seguros que há necessidade para isso, já que o pacto da graça não se distingue por coisas superfulas. No palácio de Salomão se penduraram escudos de ouro que nunca se usaram, mas no arsenal de Deus não há tais coisas. Necessitaremos por certo, tudo quanto Deus proveu. Desde hoje até a consumação de todas as coisas será requerida toda promessa de Deus e toda provisão do pacto da graça. A necessidade urgente da alma que crê é o fortalecimento, a continuação, a perseverança até o fim, o ser guardado para sempre. Tal é a necessidade do crente mais adiantado, porque Paulo escrevia aos santos de Corinto, pessoas de proeminência, das quais podia dizer: «Sempre dou graças a Deus a vosso respeito, a propósito da graça, que vos foi dada em Cristo Jesus (1Co. 1:4). Tais pessoas são precisamente as que sentem de verdade que diariamente necessitam graça nova para continuar o caminho, perseverar e sair vencedoras ao fim. Se não fossem santos, não teriam necessidade da graça; mas por serem homens de Deus, sentem diariamente necessidades da vida espiritual. A estátua de mármore não sente necessidade de alimento; mas o homem vivo sente fome e sede, e se alegra de que o pão e a água não lhe faltam, porque se faltassem, morreria no caminho. A necessidade pessoal do crente fazem imprescindível que diariamente se aproximam da grande fonte de todo tesouro espiritual, pois que faria se não pudesse dirigir-se a seu Deus?

Este é o caso tratando-se dos mais entregues dos santos, dos de Corinto enriquecidos de todo dom de conhecimento e sabedoria. Necessitavam ser confirmados até o fim, e a não ser assim, resultariam em ruína seus dons e conhecimentos. Se falássemos línguas humanas e angelicais, e não recebêssemos graça nova dia após dia, onde estaríamos agora; se tivessemos toda experiência e fôssemos ensinados por Deus até compreender todo mistério, não poderíamos viver um só dia sem que a vida divina se nos comunicasse desde a origem do Pacto. Como poderíamos esperar, perseverar por uma hora sequer, para não dizer por uma vida inteira, a não ser que o Senhor nos levasse adiante? O que começou a boa obra em nós, é o único que pode aperfeiçoá-la até o dia de Cristo, se não resultaria em um triste fracasso.

Esta necessidade se deve em grande parte a nossa própria condição. Alguns sofrem sob o temor de não poder perseverar na graça, porque conhecem seu caráter caprichoso. Algumas pessoas são por natureza inconstantes. Outras são naturalmente obstinadas e outras igualmente volúveis e ligeiras. Semelhantes a borboletas que voam de flor em flor, visitando toda a formosura do jardim, sem fazer morada fixa em nenhuma parte. Nunca param em ponto fixo bastante para fazer bem algum, nem sequer em seu negócio, nem em seus estudos intelectuais. Tais pessoas temem com razão que dez, vinte, trinta ou quarenta anos de vigilância lhes resulte demasiado, tarefa impossível. Vemos as pessoas afiliarem-se a uma igreja após outra. São tudo, tudo por turno, mas nada, nada duradouro. Estes tais tem duplo motivo de pedir a Deus não só que lhes faça firmes senão imóveis; de outra maneira não serão achados «constantes crescendo sempre na obra do Senhor.»

Todos ainda os que não tenham inclinação natural à inconstância, não podemos por menos de sentir nossa fraqueza, se somos vivificados por Cristo. Caro leitor, não acha o suficiente em um só dia para fazer tropeçar? Deseja viver santamente, como penso é o caso; que tem um alto ideal do que deve ser a vida cristã, não acha que antes de ter limpo a mesa depois do almoço, já tens dado prova de muita torpeza para sentir vergonha de ti mesmo? Se nos

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encerrarmos em uma cela de uma capela, a tentação nos acompanharia porque não podemos escapar de nós mesmos, não podemos fugir da tentação. Há algo dentro do nosso coração que nos deve manter alertas e humilhados diante de Deus. Se ele não nos confirma, somos tão fracos que facilmente tropeçamos e caimos, não necessariamente vencidos pelo inimigo senão por nosso próprio descuido. Senhor, sê tu nossa força. Nós somos a fraqueza.

Além disto, notaremos o cansaço que produz uma vida longa. Ao começar nossa carreira espiritual subimos com asas de águia, depois corremos cansados, mas em nossos melhores dias andamos sem desmaiar. Nossa marcha parece mais pausada, mas é mais útil e melhor sustentada. Peço a Deus que a energia da juventude nos acompanhe enquanto que seja a energia do Espírito e não simplesmente o fervor da carne altiva. O que faz tempo anda pelo caminho do céu, encontra que por boa razão se prometeu que os sapatos seriam de ferro e bronze, porque o caminho é áspero. O tal descobriu que existem Montes de Dificuldade e Vales de Humildade; que existe um vale da Sombra da Morte, e pior todavia a Feira da Vaidade, todo o qual se deve atravessar. Se há Montes de Delicias (e graças a Deus que os tenha), há também Castelos de Desespero, cujo interior os peregrinos tem visto com muita frequência. Tudo considerado, os que perseveram até o fim no caminho da santidade, serão «objeto de admiração.»

«Oh mundo de maravilhas, não posso dizer ao menos!» Os dias da vida do cristão são como outras tantas pérolas de misericórdia passadas no fio de ouro da felicidade divina. No céu manifestaremos aos anjos, aos principados e poderes as inescrutáveis riquezas de Cristo que se empregou em nós e que desfrutamos aqui. Nos tem mantido vivos nas garras da morte. Nossa vida espiritual tem sido uma lama ardendo em meio do mar, uma pedra suspensa no ar. Será o assombro do universo o ver passar pela porta de pérolas sem mancha o dia do nosso Senhor Jesus Cristo. Devemos nos sentir cheios de grata admiração por ser guardados por uma hora sequer. Espero que assim nos sintamos.

Se isto fosse tudo, haveria razão suficiente para temer porém há muito mais. É preciso que nos lembremos do lugar em que vivemos. Este mundo é um deserto espantoso para muitos do povo de Deus. Alguns de nós achamos algo especial na providência de Deus, mas, para outros é uma pena terrível. Nós começamos o dia com uma oração a Deus e ouvimos o canto de louvor frequentemente em nossas casas; mas ao se levantarem pela manhã muitos de nossos semelhantes, quando os saudamos nos respondem com blasfêmias. Saem para o trabalho e todo dia os aflige com vergonhosas conversas como ao justo Ló em Sodoma. Podes andar sequer por uma rua larga sem que sejam acusados teus ouvidos pelas linguagem mais torpes? O mundo não é amigo da graça. O melhor que podemos fazer com este mundo é terminar com ele o quanto antes, porque moramos em campo inimigo. Em cada mato se esconde algum ladrão. Em qualquer parte é preciso andar com a espada desenbainhada, ou pelo menos com a espada chamada oração, constantemente ao nosso lado; porque temos de lutar por cada palmo do caminho. Não te enganes neste ponto, se quer evitar a desilusão mais amarga. Oh Deus, ajude-nos e confirme-nos até o fim! Se não onde vamos parar?

A verdadeira religião é sobrenatural em seu princípio, é sobrenatural em sua continuação e é sobrenatural em sua consumação. É obra de Deus desde o princípio até o fim. Há uma grande necessidade de que a mão de Deus seja estendida todavia. Esta necessidade sente meu leitor agora, do que se alegra; porque agora espera do Senhor a perseverança, que somente é poderoso para guardar-nos da queda e glorificar-nos em seu Filho.

CONFIRMAÇÃO

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Desejo chamar sua atenção à segurança com que Paulo confiadamente esperava como benefício de todos os santos. Disse: O qual também os confirmará até o fim, para que sejais irrepreensíveis no dia do nosso Senhor Jesus Cristo» (1Cor. 1:8). Esta é a classe de confirmação que antes de qualquer outra coisa devemos desejar. Como vê, pressupõe o texto que as pessoas estão no caminho, na verdade, e propõe que sejam firmadas nelas. Terrível foi confirmar a uma pessoa seus caminhos de pecado e erros.

Pensemos em um bêbado, um ladrão ou um mentiroso. Seria coisa deplorável confirmar uma pessoa em sua incredulidade e em sua impiedade. Somente poderão desfrutar da confirmação divina os que já viram a graça de Deus manifestada em suas vidas. Esta confirmação é obra do Espírito santo.

O que dá a fé, a fortalece e confirma; o que acende a chama do amor divino em nós a preserva e aumenta; é o que o bom Espírito em sua primeira instrução, nos faz saber com mais clareza e certeza mediante ensinamentos repetidos. Ademais confirma os feitos santos voltando-os aos hábitos estabelecidos e emoções santas, em condições permanentes. Pela experiência e prática confirma nossa fé e nossos propósitos. Assim como nossas alegrias e pesares, nossos êxitos e fracassos permanecem santificados para o mesmo fim; precisamente como a árvore permanece arraigada e robusta tanto pela chuva como pelo vento tempestuoso. A mente permanece instruida e pelo aumento do saber acumula razões para perseverar no bom caminho. O coração fica consolado, e assim se apega mais e mais à verdade consoladora. O crente se torna mais sólido e robusto.

Não se trata aqui de um crescimento simplesmente natural, sim de uma obra tão clara do Espírito como a própria conversão. O Senhor o concederá com toda segurança aos que confiam nele para a vida eterna. Por sua operação em nosso interior nos livrará de ser «instáveis,» fazendo-nos firmes e arraigados. Isto é parte da obra da salvação, esta edificação em Cristo Jesus, nos fazendo permanecer nele. Diariamente pode esperar esta graça e tua esperança não será defraudada. O Senhor em quem confias te fará como a árvore plantada junto ao riacho de águas, tão bem guardado que nem sua folha murchará.

Que força para a Igreja é o cristão alicerçado! É um consolo para os aflitos e apoio para os fracos. Não desejas ser assim? Os crentes alicerçados são colunas na casa de Deus. Estes não são levados daqui pra lá por todo vento de doutrina, nem ficam confundidos pela tentação repentina. São um grande apoio para outros, âncoras em tempo de dificuldades na Igreja. Você que está començando a vida espiritual apenas pode esperar que chegue a ser como eles. Mas não deves temer, pois o Senhor atuará em você como neles. Algum dia, você que hoje é uma criança em Cristo, serás um apoio na igreja. Espera algo tão grande; mas espera como dom da graça e não como salário por obra ou produto de teu sofrimento.

O apóstolo Paulo inspirado, fala destas pessoas como confirmadas até o fim. Esperava Paulo que a graça de Deus os guardasse pessoalmente até o fim de sua vida, ou até a vinda do Senhor Jesus. Na realidade esperava que toda a igreja de Deus em todo lugar e em todo tempo fosse guardada até da dispensação, até a vinda do Senhor Jesus, como o esposo a celebrar as bodas com sua esposa perfeita. Todos os que estão em Cristo serão confirmados nele, até esse dia glorioso. Não foi dito? «Porque eu vivo também vós vivereis?» (João 14:19) Também disse: «Eu lhes dou vida eterna; jamais perecerão e, ninguém os arrebatará de minhas mãos» (João 10:28). «O que começou a boa obra em vós, a aperfeiçorá até o dia de Cristo» (Fil. 1:6). A obra da graça na alma não é uma reforma superficial. A vida infundida no nascimento novo vem de uma semente incorruptível que vive e permanece eternamente. E as promessas

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de Deus aos crentes não são de natureza transitória senão abarcam para seu cumprimento toda a carrera do crente até que chegue à glória sem fim. Somos guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação eterna. «Prosseguirá o justo seu caminho» (Jó. 17:9). Não como resultado de seu próprio mérito ou força, senão como favor imerecido «são guardados os crentes em Cristo Jesus. « Jesus não perderá nenhuma das ovelhas de seu rebanho; não morrerá nenhum membro de seu corpo; não faltará nenhuma jóia de seu tesouro quando vier a ajuntá-las. A salvação por fé recebida não é coisa de meses ou de anos; porque nosso Senhor Jesus nos conseguiu «salvação eterna» e o eterno não tem fim.

Paulo declarava também que sua esperança a respeito aos santos de Corinto é que foram «confirmados até o fim sem falta.» Esta condição sem falta é uma parte preciosa da graça de ser guardados. O ser guardado santo é mais que ser guardado salvo. É muito triste ver gente religiosa tropeçar e cair de um erro em outro pior; nunca creram no poder de Deus para guardá-los sem falta. A vida de alguns que professam ser cristãos, consiste em uma série de tropeços que não parece deixá-los bem tendidos, mas tampouco nunca deixá-los firmes. Tal vida não convém ao crente; sua vocação é andar com Deus, e pela fé pode chegar a perseverar firme na santidade, o que urge que faça. O Senhor é poderoso não só para nos salvar do inferno, também para guardar-nos de cair. Não há necessidade de ceder a tentação. Não está escrito? «O pecado não irá se apoderar de você» O Senhor é poderoso para guardar os pés de seus santos, e o fará se nos entregarmos a ele, confiados que o fará. Não há necessidade de manchar o vestido; por sua graça podemos ser guardados sem mancha do mundo, isto é nosso dever, porque «sem santidade ninguém verá ao Senhor» (Heb. 12:14).

O apóstolo profetizava pregando para os crentes de Corinto, o que deveríamos buscar, a saber que sejamos guardados «irrepreensíveis até o dia do Senhor Jesus Cristo». Queira Deus que nesse grande dia nos vejamos livres de toda repressão, e que ninguém no universo inteiro se atreva a disputar a declaração de que somos os redimidos do Senhor. Teremos faltas e fraquezas, das quais nos lamentamos, mas não são da natureza que demonstra que vivemos separados de Cristo, viveremos alheios à hipocrisia, ao engano, ao ódio, ao prazer no pecado, porque tais coisas seriam acusações fatais. Apesar de nossos fracassos involuntários o Espírito Santo pode atuar em nós produzindo um caráter sem falta à vista humana, de maneira que como Daniel não demos motivo para as línguas acusadoras, exceto nos asuntos de nossa fé religiosa. Multidão de homens piedosos, como também de mulheres piedosas, tem dado provas de vida tão pura e de todo genuina que ninguém pode, em justiça, repreender. O Senhor poderá dizer de muitos crentes como disse de Jó, ao aparecer Satanás em sua presença: «¿Não tem considerado a meu servo Jó, que não há outro como ele na terra, varão perfeito e reto, temente a Deus e apartado do mal?» (Jó. 1:8). Isto é o que deve desejar e ter por objetivo o leitor, confiando que, Deus, o alcançará. Tal é o triunfo dos santos, continuar «seguindo ao cordeiro por onde quer que vá» (Apoc. 14:4), mantendo a integridade como diante do Deus vivo.

Não entremos jamais em caminhos torcidos, dando lugar a blasfêmia do adversário. Está escrito a respeito do verdadeiro crente «Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado; antes, Aquele que nasceu de Deus o guarda, e o Maligno não lhe toca» (1João 5:18). Queira Deus que assim se escreva de nós!

Amigo agora que começa a viver a vida divina, o Senhor pode comunicar-te um caráter irrepreensível. Ainda que no passado tenha cometido pecado grave. O Senhor é poderoso para te livrar de todo o poder de antigos vícios e hábitos te fazendo um exemplo de virtude. Não somente pode fazer de você um homem moral, mas pode fazer com que você se incomode

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com o caminho de falsidade e seguir tudo o que é santo. Não duvides disto. O primeiro dos pecadores não necessita ficar atrás do mais puro dos santos. Creia nisto e segundo tua fé te será feito.

Quanta bem-aventurança será achar-nos irrepreensíveis no dia do juízo! Não cantamos falsamente ao declarar:

Sereno olho esse dia:

Quem me acusará?

No Senhor meu ser confia.

Quem me condenará?

Que bem-aventurança será desfrutar desse valor, fundado na redenção da maldição do pecado pelo sangue do Cordeiro, quando o céu e a terra fujam da face do Juiz de todos! Esta bem-aventurança será o destino de todos quantos fixam o olhar da fé exclusivamente na graça de Deus em Cristo Jesus e nesse poder sagrado, livrem na batalha contínua contra todo pecado.

POR QUE PERSEVERAM OS SANTOS?

Já vimos que a esperança que enchia o coração de Paulo a respeito dos irmãos de Corinto, enchia de consolo aos que temiam tropeçar e cair no futuro. Mas, por que cria que os irmãos seriam sustentados até o fim.

Desejo que note como específica suas razões. Aqui estão: «Fiel é Deus pelo qual sois chamados a participação de seu Filho Jesu Cristo nosso Senhor» (1Cor. 1:9).

O apóstolo não disse: «Vós sois fiéis.» A fidelidade do homem é de pouco peso, é vaidade. Tampouco disse: «Tem ministros fiéis para guiar lhes, e portanto confío que serão guardados.» Não, não, Se somos guardados pelo homem, seremos mal guardados. Ele disse «Deus é fiél» Se nós somos fiéis, é porque Deus é fiel. Todo o peso de nossa salvação deve descansar na fidelidade do pacto de nosso Deus. Sobre este glorioso atributo de Deus descansa tudo. Nós somos levados como o vento, frágeis como a teia de aranha, instáveis como a água. Não podemos depender de nossas qualidades naturais, nem de nossos conhecimentos espirituais, mas Deus permanece Fiel. Ele é fiel em seu amor; não conhece variação, nem sombra de mudança. É fiél em seus propósitos; não começa algo deixando-a sem terminar. É fiel em suas relações como Pai, não negará a seus filhos, como amigo não faltará a seu povo, como Criador não abandonará a obra de suas mãos. É fiel à suas promessas, e nenhuma delas deixará de cumprir. É fiel ao pacto que estabeleceu conosco em Cristo Jesus, ratificando-o com o sangue de seu sacríficio. É fiel a seu Filho e não permitirá que em vão seja derramado seu sangue. É fiel para com seu povo, ao qual prometeu vida eterna e ao qual não deixará, nem abandonará.

Esta fidelidade de Deus é o fundamento e pedra angular de nossa esperança de perseverar até o fim. Os santos perseverarão na santidade, porque Deus persevera na graça. Ele persevera em bendizer, e pelo mesmo, os crentes perseveram em ser abençoados. Ele continua guardando seu povo, e portanto este continua guardando seus mandamentos. Este é o fundamento sólido e bom em que descansa e concorda perfeitamente com o título desta obra;

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Somente pela Graça. É assim que a graça imerecida e a misericórdia infinita anunciam a aurora da salvação e ressoa a mesma «boa nova» melodiosamente por todo o dia da graça.

Veja, pois, que as únicas razões que temos para esperar que sejamos guardados até o fim e achados irrepreensíveis no dia de Cristo, se acham em nosso Deus; mas Nele estas razões são de grande maneira abundantes.

Consistem primeiro, no que Deus fez, Até tal ponto nos fez bendito o que lhe é impossível voltar atrás. Paulo nos recorda do feito que «nos chamou a participação de seu Filho Jesus Cristo» (1Cor. 1:9). Nos chamou? Pois, o chamamento não pode ser revogado; «porque irrevogáveis são os dons e o chamamento de Deus» (Ro. 11:29). O Senhor nunca se retrai de sua vocação positiva da graça. «Aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou» (Ro. 8:30). Esta é a regra invariável no proceder divino. Há um chamado geral, do qual se disse: «Muitos são chamados, e poucos escolhidos» (Mat. 22:14); mas o chamado do qual estamos falando é diferente, distinguido por amor especial, solicitando a posse daquilo a que somos chamados. Neste caso o chamado se encontra na condição da semente de Abraão, da qual disse o Senhor. «Te tomei dos confins da terra e de terras remotas te chamei, e te disse: meu servo és tú; te escolhi, e não te rejeitei» (Is. 41:9).

E no que fez o Senhor vemos uma razão poderosa para nossa proteção e glória futuras, já que nos chamou à participar de seu Filho Jesus Cristo. Participação equivale a ter alguma parte em comum com Jesus Cristo, e desejaria que pensasse bem no significado disto. Se na verdade foi chamado pela graça divina, entrou em comunhão com o Senhor Jesus Cristo e por esta razão em conjunto possui todas as coisas. De modo que a vista do Altíssimo é um com ele. O Senhor Jesus levou teus pecados em seu corpo sobre o madeiro, feito maldição por ti, e ao mesmo tempo ele veio a ser sua justiça.

Como Adão representa a todos seus descendentes, assim Jesus, a todos os que estão nele. Como o marido e a esposa são um, assim Jesus é um com todos os que se acham unidos nele pela fé; um por uma união espiritual legítima e inquebrantável. Mais ainda, os crentes são membros do corpo de Cristo, e assim são um com ele por uma união de amor, viva e permanente. Deus nos chamou para esta participação, esta comunhão, esta união, e por este mesmo ato nos deu sinal e garantia de ser confirmados até o fim. Se nos considerasse Deus à parte de Cristo, resultaríamos unidades pobres, perecedores, e levados à destruição; mas sendo um com Cristo somos participantes de sua natureza e dotados de sua vida imortal. Nosso destino está unido com o de Cristo, e enquanto ele não for destruido, não é impossívele que pereçamos.

Medite muito nesta participação com o Filho de Deus, para a qual foi chamado; porque nela está toda tua esperança. Nunca poderá ser pobre sendo Jesus rico, já que é partícipe dos seus. O que te poderá faltar se é cooproprietário com o Amo do céu e da terra? Mediante tal participação te achas por cima de toda depressão do tempo, das mudanças futuras e do descalabro do fim de todas as coisas. O Senhor te chamou a participar de seu Filho Jesus Cristo e por este ato e obra te colocou emn posição infalivelmente segura.

Se é de verdade crente, é um com Jesus e portanto posto em segurança. Não vê que isto é assim? Necessariamente deve ser verdadeiro até o fim, até o dia de sua manifestação, se de certo foi feito um com ele por um ato irrevogável de Deus. Cristo e o crente se acham no mesmo barco; a não ser que Jesus se afunda, o crente não se afogará. Jesus admitiu aos seus

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redimidos, em relação a si mesmo, que primeiro será ferido, desonrado e vencido antes que o menor de seus resgatados seja atingido. Seu nome consta no topo do acordo, e até que este perca seu crédito, estamos assegurados contra todo temor de rompimento.

Assim, podemos ir adiante, com a maior confiança, a um futuro desconhecido, eternamente unidos com Jesus. Assim gritaram os homens do deserto: «Quem é esta que sobe do deserto, e vem encostada ao seu amado?» (Ct. 8:5), confessaremos agradávelmente que nos encostamos em Jesus e que pensamos em apoiar-nos nele cada vez mais. Nosso fiel Deus é uma fonte rica que superabunda em deleites e nossa participação com o Filho de Deus é um rio cheio de Gozo. Conhecendo estas coisas gloriosas, como as conhecemos, não podemos viver desanimados; não, pelo contrário, devemos dizer como o apóstol: «Quem nos separará do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor?» (Ro. 8:35-39).

CONCLUSÃO

Se o leitor não me acompanhou passo a passo conforme leu nestas páginas, eu sinto muito. De pouco valor é a leitura de um livro, a não ser que as verdades que se apresentam a mente sejam compreendidas, apropriadas e postas em prática. Isto se parece com alguém que contempla os alimentos em abundância exibidos na vitrine de um restaurante e fica, entretanto, com fome por não poder comê-los. Em vão, querido amigo, nos temos encontrado eu e você, a não ser que tenhas recebido por fé viva a Cristo Jesus, meu Senhor. De minha parte houve um desejo marcado de te fazer bem, e fiz o melhor que pude para este fim. Sinto muito por não ter podido transmitir algo positivo, porque desejava com sinceridade conseguir isto. Pensava em você ao escrever estas páginas, e deixando cair a pluma, me ajoelhei e pedi solenemente a Deus por todos os que o leram. Estou seguro que grande número de leitores serão abençoados por essa leitura, ainda que não quisesse fazer parte deste número.

Mas, porque motivos você recusaria meu testemunho? Se não desejas a benção especial que eu te levei a você, então não me culpes por tua condenação final. Ao nos encontrarnos nós dois ante O GRANDE TRONO BRANCO, não poderás me culpar de usado mal a atenção que bondosamente me concedeste ao ler este livro. Deus é mimha testemunha que escrevi cada linha para teu bem eterno. Em espírito ponho agora minha mão na tua e te dou um firme aperto. O sentes? Com lágrimas nos olhos te olho, dizendo: Por quê queres morrer? Não queres dedicar um momento aos assuntos de tua alma? Queres perecer por puro descuido? Distancie isto de ti! Analise solenemente estas coisas, estabelecendo como fundamento firme para a eternidade. Não recuses a Jesus, seu amor, seu sangue, sua salvação. Por quê o farias? Poderás fazê-lo? Te rogo que não dê as costas a teu Redentor!

Se, em contrapartida minha oração foi respondida e você foi conduzido a confiar no Senhor Jesus recebendo dele mesmo a salvação por graça, em tal caso, agarre com força para sempre nesta doutrina e neste modo de viver e proceder.

Seja Jesus tudo em todo e permita que a graça imerecida seja a regra única pela qual podes viver e se movimentar. Não há vida melhor, como aquele que vive desfrutando do favor de Deus. Receber todo dom gratuíto, isto guarda a mente do orgulho do mérito próprio e do remorço, das acusações da consciência desesperada. Esta vida por graça aquece o coração enchendo-o de amor agradecido, e assim produz um sentimento na alma infinitamente mais aceitável para Deus que tudo quanto puder proceder de um temor de escravo.

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Os que procuram salvar-se fazendo o melhor que podem, não sabem nada do fervor ardente, do santo zelo, do gozo em Deus que nascem da salvação gratuitamente recebida segundo a graça de Deus. O espírito de servidão da salvação mediante o mérito próprio ou seja pelo cumprimento dos mandamentos, nada tem de comparável com o espírito alegre da adoção. Mais virtude real há na menor emoção da fé que em todos os esforços do escravo da lei ou em toda a maquinaria dos devotos que procuram subir ao céu pela escada das cerimônias. A fé é coisa espiritual, e «Deus é Espírito» se deleita nela por essa razão. Anos inteiros de orações, de ir às igrejas, aos santuários; anos inteiros de ritos, de cerimônias, de penitências, podem ser outras tantas abominações à vista do nosso Deus que é Espírito. Mas, um olhar da verdadeira fé é espiritual e pelo mesmo a seu agrado. «Porque são estes que o Pai procura para seus adoradores» (João 4:23). Ocupa-te primeiro do homem interior e da parte espiritual da religião, e os demais virá no devido tempo.

Se é salvo, busca a salvação de outros. Teu próprio coração não prosperará. A não ser que esteja cheio de solicitude pela benção de seus semelhantes. A vida da sua alma está na fé; sua salvação está no amor. O que não anela levar outros a Jesus, nunca se encantou pelo seu amor. Entra no trabalho, na obra do Senhor, a obra do amor. Comece por sua própria família. Visita depois os vizinhos. Ilumina o povo ou a rua onde vive. Semeie a Palavra de Deus enquanto tiver forças.

Se os convertidos chegam a ganhar outros, quem sabe o que brotará do meu pequeno livro? Já começo a cantar glória a Deus pelas conversões que produzirá por seu meio e mediante os que conduz aos pés de Cristo. Provavelmente a parte principal dos resultados se verão, quando a mão que escreve esta página se encontre paralizada no sepulcro.

Até o céu! Não vá ao inferno. Não há como voltar desse antro de miséria. Por que quer entrar no caminho da morte, estando abertas diante de ti as portas do céu? Não rejeite o perdão gratuito, a salvação plena que Jesus concede aos que confiam nele. Não duvide, nem demore. Já pensou o suficiente; agora aja de uma vez! Creia no Senhor Jesus decididamente neste momento. Vá ao Senhor sem demora. Saiba, de que este assunto pode terminar neste mesmo instante. Vá ao Senhor sem demora. Saiba, de que neste momento pode determinar tua salvação ou perdição, sendo hoje mesmo seu agora ou nunca. Realize-se agora, evitando o terrível nunca. Adeus! Mas, não para sempre; te digo:

 

Até o céu!

***

FIM

 

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APÊNDICE B

A Justificação Pela FéJuan Gill

Iglesia Bautista de la GraciaARINDEPENDIENTE Y PARTICULARCalle Alamos No.351Colonia Ampliación Vicente VilladaCD. Netzahualcóyotl, Estado de MéxicoCP 57710Telefono: (5) 793-02161 Cor. 1:23 Mas nós pregamos a Cristo crucificado...

Introdução

Hoje em dia a maioria das pessoas religiosas crêem na justificação por obras.Estas pessoas crêem que Deus não exige a perfeição de suas criaturas e que aceitará menos que a perfeição dos homens. Em outras palavras, não crêem que Deus exige que sejamos santos.A base deste conceito de salvação por obras é a ideia de que um pode ser suficientemente bom para “merecer” ou “ganhar” a vida eterna. Esta ideia está embasada em um conceito errôneo de Deus, é dizer, um conceito de Deus como não tão santo nem justo como para exigir de nós a perfeição. Este conceito errôneo ensina que para Deus não importa “muito” se os homens não são perfeitos.Cada pessoa que confia em sua própria justiça (quer dizer, em suas próprias obras) para ser justificada diante de Deus, sabe que não é perfeita nem livre de culpa perante a lei divina. Então para ser justificada por suas obras, tem que afirmar que Deus aceitará ao menos a perfeição. Tem que crer em um “deus” a quem não importa se um alcança ou não a perfeição. Em outras palavras, tem que crer que Deus é semelhante a um professor na escola. O professor na escola aceitará uma qualificação inferior a 10. Se um aluno obtém um 7 o professor diz que está bem. Se sua qualificação é um 8 ou 9 o professor diz que está muito bem.Este é precisamente o conceito de Deus que todos aqueles que sustentam que a salvação é por nossas obras. Para crer na justificação por obras, é necessário sustentar que Deus tem uma norma de justiça inferior à perfeição e que Deus aceitará as pessoas que não cumpriram com todas as demandas de sua santa lei. As pessoas que crêem na salvação por obras estão convencidas de que somente aqueles pecadores que obtém uma qualificação muito pobre (por exemplo um 2 ou 3) serão castigados por Deus e que todos os demais serão aceitos por Ele, apesar de suas imperfeições. Estas pessoas estão convencidas de que afinal Deus não exigirá que ninguém obtenha um 10.A verdade é que Deus não aceitará menos que a santidade e a perfeição. Sua santa lei exige que obtenhamos um 10 e nos condena ao inferno se não o obtivermos. Gálatas 3:10 afirma as

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exigências da lei dizendo: “Porque todos os que se baseiam nas obras da lei estão debaixo da maldição, pois está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no livro da Lei para cumpri-las.” E a epístola de Tiago diz: “Porque qualquer que guarda toda a lei mas tropeça em um só ponto se torna culpado de todos.” (Tiago 2:10)

É devido a Sua justiça e santidade que Deus não pode aceitar aos homens com base em suas próprias obras. Este é o problema que deu lugar a necesidade de ser justificados baseado na obra e justiça de outro, quer dizer, de Cristo. O Senhor Jesus Cristo é o único que obteve uma qualificação perfeita. Sua vida perfeita foi realizada em lugar dos crentes e é atribuida pela fé na conta deles. A justiça de Cristo (ou seja, sua vida perfeita) cumpriu total e completamente com todos os mandamentos e as exigências da santa lei de Deus. Cristo cumpriu em suas palavras, em seus desejos e seus atos com cada detalhe da santidade e a justiça divina, e assim proporcionou para os crentes uma justiça (uma qualificação perfeita) que os justifica perante Deus.

Romanos 2 declara que “não os ouvidores da lei são justos para com Deus, mas os praticantes da lei serão justificados.” (Romanos 2:13) Todos os crentes são considerados e tratados por Deus como se tivessem cumprido com toda a lei, posto que Jesus Cristo a cumpriu em seu lugar e nEle somos justificados. Cristo aceitou nossa qualificação (ou seja nossa vida imperfeita e todos os nossos pecados) e sofreu as consequências recebendo o castigo que mereciamos, como nosso substituto na cruz. Esta é a grande transação através da qual os crentes são justificados perante Deus. O apóstolo Paulo resumiu esta doutrina em 2 Cor.5:21 dizendo: “Ao que não conheceu o pecado, por nós Deus o fez pecado, para que fôssemos feitos justiça de Deus nele.”

A justificação é um ato “legal” (ou “judicial”) da parte de Deus pela qual os pecadores que crêem em Cristo são “declarados justos”, ou seja, “livres de culpa” perante a lei divina. Eles são tratados por Deus como se nunca tivessem pecado e considerados como se tivessem guardado todos os mandamentos da lei divina. Esta justificação consiste de duas partes: A parte “negativa” da justificação consiste da imputação dos nossos pecados na conta de Cristo. É com base neste ponto que nossos pecados são perdoados. Posto que estes foram creditados à Cristo, Ele pagou a dívida e sofreu em seu corpo e alma o castigo que merecíamos.Cristo sofreu “o justo pelos injustos”, foi “entregue por nossos delitos”; “ferido por nossas transgressões” e Jeová carregou nele, o pecado de todos os crentes. (Veja 1 Pedro 3:18; Ro. 4:25 e Isaías 53.) É com base nesta obra de Cristo que Deus não culpará nem castigará aos crentes por seus pecados. Posto que Cristo já pagou a dívida, Deus não pode exigir duplo pagamento, visto que tal ato iria contra sua própria justiça. É por isso que a Escritura diz: “Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais levará em conta seu pecado.” (Romanos 4:7-8) O lado “positivo” da justificação consiste da imputação da justiça de Cristo (sua vida perfeita) na conta dos crentes. Com base em sua vida perfeita creditada a nós, somos “declarados justos” perante Deus, e tratados como se tivéssemos cumprido perfeitamente com as exigências de Sua santa lei. É por isso que a Escritura diz: “...bem-aventurado o homem ao qual Deus atribui justiça sem obras,” (Romanos 4:6, RV) e “quanto mais reinarão em vida os que recebem a abundância de sua graça e a dádiva da justiça mediante um, Jesus Cristo .... Porque como pela desobediência de um só homem, muitos foram constituidos pecadores, assim também, pela obediência de um, muitos serão constituidos justos.” (Romanos 5:17-19) Assim é que encontramos a resposta para a grande pergunta: “E como se justifica um homem perante Deus?” (Jó 9:2) É nosso desejo e oração a Deus que este

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pequeno livro seja de ajuda para muitos a fim de que entendam melhor a grande doutrina da justificação pela fé.Os Editores

A Justificação Atos 13:39 “E todo o que pela lei de Moisés não pôde ser justificado, Nele é justificado todo aquele que crer.”Este versículo e o anterior contém aquelas duas grandes doutrinas do evangelho que são o perdão do pecado e a justificação. Neste sermão consideraremos a justificação na seguinte maneira:

I. Explicarei o ato da justificação mostrando o que é, e o que não é.

II. Investigaremos acerca do autor desta justificação, ou seja, quem é o que justifica.

III. Mostrarei qual é a base da justificação, e em base a qual são justificados alguns.

IV. Considerarei algo em respeito à forma da justificação, a qual é através da imputação da justiça.

V. Considerarei o dia da justificação, ou seja, quando foi tomado a decisão de nos justificar, e quando foi realizada a obra que nos justifica.

VI. Assinalar quem são aqueles que são justificados.

VII. Mencionar vários efeitos que provém da justificação e que estão intimamente relacionados a ela.

VIII. Finalmente, darei algumas propriedades gerais acerca desta justificação.

I. Explicarei o ato da justificação mostrando o que é e o que não é.

1. Estritamente falando, a justificação não é simplesmente o perdão do pecado. Estes dois atos da graça divina estão estreitamente relacionados e não devem ser separados. Ou seja, onde se encontra o perdão, ali também estará a justificação. Entretanto, creio que pode distinguir-se entre ambas. Admito que há um grande acordo e semelhança entre a justificação e o perdão. Concordo em sua eficacia e em sua causa, em seus objetivos,em seu começo e em sua consumação

O mesmo Deus que perdoa os pecados de seu povo, os justifica e os declara justos .A mesma graça que o moveu a justificá-los, também o moveu a perdoá-los. Assim como o sangue de Cristo foi derramado para a remissão de pecados, igualmente por ele somos justificados.

Todos aqueles que são justificados são perdoados e todos os que são perdoados, também são justificados. E ambos ocorrem ao mesmo tempo. Ambos são consumados de uma só vez para sempre, não são atos realizados de forma gradual e progressiva como é a santificação.

Porém isso não significa que são um só e a mesma coisa; porque ainda que estão de acordo em algumas coisas, em outras se diferem. A justificação pronuncia à pessoa como justa perante a lei tal como se nunca tivesse pecado, mas não é assim com o perdão. Por exemplo, é

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uma coisa para um homem ser julgado e condenado pela lei e logo receber o perdão do Rei. Porém é outra coisa ser julgado pela lei e ser encontrado e declarado justos perante ela, como se a pessoa nunca tivesse pecado. Ainda que o perdão tira o pecado, e portanto pode ser manifesto de como Deus lançou o pecado para trás de suas costas e tendo lançando nofundo do mar tirando de seu povo colocando-o tão longe como está o oriente do ocidente; contudo, este perdão não nos fornece uma justiça tanto como a jusficação o faz. O perdão do pecado efetivamente tira nossas vestes sujas, mas é a justificação a que nos fornece novas vestes. (Veja Is.38:17; Mq.7:19; Sl.103:12)

Também, se requer mais para obter nossa justificação que para nosso perdão obter nossa justificação que para nosso perdão. O sangue de Cristo foi suficiente para buscar o perdão, porém para obter nossa justificação, se requereu a santidade de sua natureza, e a obediência perfeita de sua vida, imputadas ao nosso favor. Além do mais, ainda que o perdão nos livra do castigo, contudo, falando estritamente não nos dá o direito à vida eterna; é a justificação que nos dá esse direito e esta é uma das razões pelas quais o apóstolo a chama de uma “justificação de vida” (Veja Rom.5:18).

Se um Rei perdoa um criminoso, isto não significa que está lhe concedendo o direito a sua coroa e a seu trono. Se ele quisesse, depois de o haver perdoado levá-lo à sua corte e fazê lo seu filho e seu herdeiro, então teria que fazê-lo por outro ato distinto do favor real. Portanto, o perdão e a justificação devem ser considerados como duas coisas distintas.

2. A justificação não é simplesmente o ensino ou o instruir aos homens no caminho e o método de como são ou como podem ser justificados. Quando a Escritura diz que “com seu conhecimento justificará meu servo justo a muitos” (Is.53:11), isto não significa que Cristo por seu puro conhecimento justifique ou salve aos homens. Ou seja, a justificação não consiste simplemente em ensinar aos homens como ser justificados, explicando o caminho ou método divino para justificar aos pecadores. Porque isso é o que os ministros do evangelho fazem quando pregam o evangelho, de onde se revela a justiça de Deus “de fé em fé” (Rom.1:17 RVA). Então, o significado de Is.53:11 é o seguinte: Que Cristo daria a muitos o conhecimento espiritual de si mesmo, em outras palavras, lhes daria a fé salvadora nEle. É através deste conhecimento salvador e a fé nEle, que são conduzidos a aprender pessoalmente sua justificação, através de Sua justiça.

3. A justificação não é uma “infusão” de justiça nas pessoas. Justificar não significa fazer aos homens santos e justos em seu interior, produzindo alguma mudança física ou real neles, porque isso confundiria a justificação com a santificação. A santificação é uma obra de graça dentro de nós, porém a justificação é um ato de graça para nós. A santificação é uma obra imperfeita e a justificação é uma obra perfeita; a santificação é progressiva e realizada gradualmente, a justificação é completa e consumada de uma só vez para sempre. Além do mais, a palavra justificação nunca é usada na Escritura em um sentido físico, mas com um sentido forense (Ou seja, em sentido “legal” ou “judicial”). (Veja Dt.25:1; Pv.17:15; Is.5:23; Ro. 5:16,18; 8:33-34). Nas Escrituras a justificação é contrastada não com um estado de impureza ou falta de santidade, mas com um estado de culpabilidade e condenação.

4. A justificação é um ato da livre graça de Deus, pela qual Ele descarrega seu povo dos seus pecados e os livra da condenação, declarando-os e considerando-os justos com base na justiça de Cristo, a qual Ele aceitou e imputou a eles. A justificação pode ser considerada de duas maneiras: Como um ato eterno e soberano da parte de Deus ou como um ato declarativo feito

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na consciência do crente no momento de sua salvação. Também, esta justificação será dada a conhecer tanto aos homens como aos anjos no dia do grande juízo.

É importante observar que as Escrituras falam da justificaçao do povo de Deus em dois sentidos: Sua justificação diante de Deus e sua justificação diante dos homens. Quando a Bíblia trata da justificação pela fé diante de Deus, sempre exclui as obras humanas e atribui a justificação inteiramente à graça de Deus. Mas quando a Bíblia se refere a justificação ante os olhos dos homens, a atribui à suas obras. Por exemplo, quando se trata da justificação diante de Deus, o apóstolo Paulo diz em Rom.4:1-8 que a justificação não está baseada nos méritos humanos, e sim na graça de Deus. Nesta passagem se refere a justificação de Abraão em Gênesis 15, quando creu no evangelho e lhe foi imputado por justiça. Mas quando Tiago se refere a uma justificação por obras (Tg.2:14-24), o tema é a justificação pessoal nossa, e de nossa fé diante dos homens, e é devido a isso que esta segunda justificação está baseada em nossas obras.

Deus nos justifica pela fé sem obras. Mas os homens não podem ver a realidad de nossa fé, a menos que possam vê-la através de nossas obras. Não há nenhuma contradição entre Paulo e Tiago. É importante notar que, Tiago se refere a Abraão como justificado por suas obras, quando este ofereceu o seu filho Isaque sobre o altar (Tg.2:21 e Gn.22:9 e 12). Muitos não têm a percepção que esta segunda justificação ocorreu muitos anos depois de Abraão ser justificado pela fé.

Devemos lembrar, que a palavra justificar significa simplesmente “declarar justo”. Então, é fácil ver como podemos ser justificados perante Deus pela fé em Cristo, e depois justificados (declarados justos) diante dos homens por nossas obras. Neste livro não estou tratando de nossa justificação perante os homens, e sim exclusivamente com a justificação diante de Deus, a qual é sempre por graça sem obras. (Veja Rom.3:20, 24, 28; 4:1-16, 23-24; 5:1- 2, 15-21; 8:1, 33-34; Gál.2:16; 2:21; 3:11,etc.)

II. Investigaremos acerca do autor desta justificação, ou seja, quem é que justifica?A resposta da Bíblia a esta questão é “Deus é quem justifica” (Rom.8:33). Isso poderia nos surprender quando considerarmos que o grande Deus do céu e da terra é o Juíz supremo de tudo. Também é importante considerar que Deus fará justiça, e que sua lei é a norma pela qual este assunto é conduzido, e que esta lei tem sido violada pelo pecado do homem. Além do mais é importante considerar que o pecado humano tem sido cometido essencialmente contra Ele, e é ofensivo a Ele e isto muito o aborrece. Pois Ele é um Deus Santo que não aceitará uma justiça imperfeita em lugar de uma perfeita. Este Deus tem o poder para condenar aos homens e razões mais que suficientes para assim fazer. Ao considerar estas coisas, resulta de forma assombrosa que este Deus possa justificar aos homens. Para ilustrar de forma mais detalhada este ponto, tentarei mostrar o papel que as três pessoas Pai, Filho e Espírito Santo tem na justificação dos eleitos.

1. Deus o Pai é o autor do plano e método de nossa justificação; Ele “a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões” (2 Cor.5:19). A pergunta de como o homem pode ser justificado ante Deus? Teria permanecido sempre na mente dos homens e dos anjos se Deus não tivesse encontrado em sua sabedoria uma redenção mediante a qual livraria a seu povo de descer ao abismo. (Veja Jó 9:2 e Jó 33:24.) Esta redenção consiste da provisão de seu próprio Filho a quem enviou no devido tempo para cumprir o plano que Ele havia traçado em sua mente eterna. Ao ter feito isso, terminou com a trasgressão, pondo fim ao pecado, fazendo expiação pela iniquidade e

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trazendo desta maneira a justiça perdurável (Veja Daniel; 9:24). Esta justiça realizada por Cristo agradou muito a Deus, porque através dela sua lei foi magnificada e engrandecida (veja Is.42:21). Haja visto que Deus aceitou esta justiça realizada por Cristo, agora a imputa a todo seu povo, declarando-lhes justos com base nela.

2. Deus o Filho, como Deus, é o co-autor e causa eficiente com o Pai da justificação. Posto que Ele tem poder igualmente com o Pai para perdoar o pecado, Ele também tem que absolver, descarregar e justificar ao crente. Como Mediador, Ele é o cabeza e representante em quem toda a semente de Israel são justificados (veja Is.45:25). Como tal, Ele realizou uma justiça a qual corresponde as demandas da lei, justiça pela qual eles são justificados. Também é o autor e consumador daquela fé, a qual o alvo é esta justiça para justificação, confiando e agarrando-se a ela.

3. Deus o Espírito Santo convence os homens de sua debilidade, imperfeição e da insuficiência de sua própria justiça para justificar-lhes ante Deus. Depois, põe diante de seus olhos a justiça de Cristo e opera fé neles para que lancem mão dela e a recebam. Ele persuade suas consciencias com respeito a sentença justificatória de Deus. Com base na justiça de Cristo, Ele dá testemunho a seus espíritos de que são pessoas justificadas. E por isto que se diz que os crentes são “justificados no nome do Senhor Jesus e pelo Espírito de nosso Deus” (1 Cor.6:11). Mas este testemunho do Espírito não é em si mesmo a obra de justificação, e sim, uma recepção dela concedida pela fé. Então, estes são os papéis que o Pai, o Filho e o Espírito desempenham na justificação: O Pai planejou, o Filho buscou e o Espírito a aplica.

4. É através do pacto da graça que podemos entender melhor o papel específico de cada pessoa da Trindade na justificação de pecadores. O pacto da graça (ou de redenção) é um “pacto” ou “acordo” feito entre as três pessoas da Trindade antes da fundação do mundo. Neste pacto cada pessoa da Trindade desempenham um papel específico no plano da redenção. Podemos resumir o papel de cada um da seguinte forma:

a) Deus o Pai escolheu para salvação um número específico de pessoas,e lhes entregou ao Filho para que fossem Seu “povo”.

b) Deus o Filho se comprometeu a fazer tudo que fosse necessário para salvar a esse povo que o Pai havia escolhido e entregue a Ele. Então, o Filho se comprometeu como Mediador e Fiador do pacto. Este compromisso o obrigava a encarnar-se e a vir a este mundo como o “servo” do Pai, e como o segundo de Adão (quer dizer, como o cabeça e o representante do povo que o Pai lhe havia dado). Sob as condições deste pacto Cristo aceitou a obrigação de viver uma vida perfeita (quer dizer, realizar uma justiça perfeita), e expiar os pecados dos escolhidos morrendo como um substituto propiciatório em lugar dos escolhidos. Além do mais, se comprometeu a interceder por eles e por fim levá-los a glória.

c) Deus, o Espírito Santo se comprometeu a regenerar e a chamar eficazmente aos escolhidos concedendo-lhes o dom do arrependimento e da fé. Além do mais, o Espírito Santo se comprometeu a morar para sempre com os crentes e assegurar sua santificação e preservá-los na fé.Em seguida citarei algumas passagens que fazem referência a esta aliança:A intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança. (Salmo 25:14)

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E digo isto:uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a pode ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa. (Gálatas 3:17)Ora o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortosa Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangueda eterna aliança, (Hebreus 13:20)Segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor: (Efésios 3:11)Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de benção espiritual nas regiões celestiais em Cristo: assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo. Desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em Cristo.. Nele digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, (Efésios 1:3-4; 1:9-11)Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação pela santificação do Espírito e fé na verdade... (2 Tessalonicenses 2:13)Que nos salvou e nos chamou com santa vocação, não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, (2 Timóteo 1:9)Na esperança da vida eterna, que o Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos eternos, (Tito 1:2)Mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós, (1 Pedro 1:19-20)E adorá-lo-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. (Apocalipse 13:8)Assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer. Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiastes, e eles tem guardado a tua palavra: ... para que o mundo conheça que tu me enviaste, e os amaste, como também amaste a mim. (João 17:2, 4,6, 9, 23)Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou. E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. (João 6:37-39)

III. Mostrarei qual é a base da justificação, e em que base alguns são justificados.

1. A obediência do homem a lei das obras não é a base de sua justificação, haja visto que sua obediência é imperfeita e portanto não lhe pode justificar. Tal justificação seria por obras e não por graça, o qual é contrário a todo o sentido e ao ensinamento das Escrituras. Além do mais, se pela lei é a justiça, então “segue-se que morreu Cristo em vão” (Gál.2:21). Então, sua justiça seria desnecessária e inútil, o qual desonraria tanto a graça como a sabedoria de Deus.Os seguintes textos afirmam que a justificação não é por obras e sim pela fé em Cristo:“Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos.” (Tiago 2:10).“Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.” (Romanos 3:20).

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“Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no livro da Lei, para praticá-las.” (Gálatas 3:10).“Sabendo, contudo que nenhum homem é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.” (Gálatas 2:16).“E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé ” (Gálatas 3:11).“Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão.” (Gálatas 2:21).“Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obrasda lei.” (Romanos 3:28).“E é assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras” (Romanos 4:6).“Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua descendencia coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim mediante a justiça da fé.” (Romanos 4:13).“E ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé.” (Filipenses 3:9).“Porquanto desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de De. Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê.” (Romanos 10:3-4).“De maneira que a lei nosso aio (professor) foi para nos levar à Cristo, para que fossêmos justificados pela fé.” (Gálatas 3:24, RV).“Seja pois notório, irmãos, que por este é anunciada a remissão de pecados, E de todo o que pela lei de Moisés não pôde ser justificados, neste é justificado todo aquele que crer.” (Atos 13:38-39, RV)

2. A obediência do homem ao evangelho, como se este fosse uma nova lei menos severa, não é a justiça que o justifica perante Deus. Este esquema de salvação é sustentado por muitos e ensina o seguinte: Que Jesus Cristo tem procurado um relaxamento da antiga lei, e tem introduzido uma nova, cujos termos são muito mais suaves e moderados. Esta nova lei é (supostamente) o evangelho e seus termos são: arrependimento, fé e uma nova obediência, a qual ainda que imperfeita, todavia, sendo sincera será aceita por Deus em lugar de uma justiça perfeita.Porém este esquema é completamente falso. A lei não diminuiu nenhuma de suas sanções tiradas. Seu poder não diminuiu e todavia tem a mesma facultade para exigir obediência e condenar aqueles que se encontram abaixo dela, como sempre foi. O evangelho não é uma lei, mas, uma declaração pura de graça e salvação por Cristo.

O evangelho tem mandamentos e promessas, porém não há nada nele parecido com uma nova lei. O arrependimento e a fé que são os meios para receber a justificação são também as condições do evangelho, e, são ao mesmo tempo dons de Deus operando no coração dos homens por Sua graça. A verdade é que, é tão difícil para o homem em sua condição caída arrepender-se e crer no evangelho, como o foi para os homens do Antigo Testamento submeter-se à lei. Em outras palavras, se o evangelho fosse uma lei inferior, seria impossível obedecê-la com nossa própria força como nos é impossível obedecer aos mandamentos.

Nossa obediência ao evangelho não é a obediência a uma nova lei, e sim o fruto da obra de Deus em nós, porém não é a causa de nossa justificação. Somos capacitados por Deus para

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nos arrepender e crer; então seria absurdo dizer que nossa obediência ao evangelho é meritória e que seja a base de nossa justiça.

3. Tampouco é uma “sincera” profissão de religião inclusive aos melhores homens a base de nossa justificação. Muitas pessoas tem uma forma de piedade e negam o poder dela. Tem aparência de viver e no entanto, estão mortos. Por fora parecem ser homens justos e entretanto, por dentro estão cheios de toda impureza. Muitos se submetem a todas as ordenanças de Cristo, se batizam em seu nome, se sentam em sua mesa, e assistem continuamente à pregação de sua palavra, e na verdade estão muito longes da justiça. Se supomos que foram sinceros em tudo isto, apesar disso, nem por isso seriam justificados desta maneira. A sinceridade em qualquer religião, ainda que seja a melhor religião, não é uma justiça que nos justifica. Pode haver muitos muçulmanos sinceros, papistas sinceros, e até pagãos sinceros, de igual maneira como sinceros crentes em Cristo. Um homem pode ser um sincero perseguidor da verdadeira religião, tão fortemente como outro pode ser um sincero professante dela. Nosso Senhor disse a seus discípulos que o tempo viria, quando alguns homens pensariam que estavam servindo a Deus ao matar outro (Jo.16:2). E certamente o apóstolo Paulo antes de sua conversão, “a mim me parecía que muitas coisas devia eu praticar contra o nome de Jesus, o Nazareno” (At.26:9). Porém assim consideramos a sinceridade o melhor sentido, pertence a santificação e não a justificação, e estas duas coisas não devem ser confundidas. A obra da santificação, não tem nenhuma parte nesta justificação.

4. O ato de crer tampouco nos é imputado para justificação. Jacob Arminio e seus seguidores modernos tem afirmado este erro, e tem tratado de estabelecer esta ideia baseando-se em Rom.4:5 e 9. Quando Paulo disse que “a fé foi imputada a Abraão para a justiça”, isso não se refere a fé ou ao ato de crer, e sim ao objeto da fé (que é a justiça de Cristo). No versículo 6 é dito claramente que Deus nos atribui justiça independentemente de obras. Mais adiante, nos versículos 22 ao 24, disse que esta mesma justiça lhes será imputada a todos aqueles que crêem naquele que ressuscitou dos mortos a saber Jesus. Até porque tem que levar em conta que o apóstolo não disse que a fé foi imputada em lugar da justiça, senão por justiça (a palavra grega é “eis” que quer dizer, com referência, com respeito). Isto significa exatamente o que Paulo disse em outro texto ao afirmar que “com o coração se crê para justiça” (Rom.10:10); ou seja, que com o coração o homem crê em Cristo para receber justiça, justiça tal (e não a fé), que lhes é imputada para sua justificação.Além disso, a fé e a justiça são claramente distinguidas em vários textos, por exemplo:

Em Romanos 1:17 se declara que “a justiça de Deus, se revela de fé em fé” e também em Rom.3:22 diz que se manifestou “justiça de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os que crêem Nele”. Não é a fé, senão algo diferente visto que é a justiça que nos justifica. A fé não é o sangue nem a obediência de Cristo, e estas são as coisas pelas quais somos justificados ou declarados justos diante de Deus (veja Rom.5:9-10 e 5:19). E que não há dúvida alguma que a Escritura disse que somos “justificados pela fé”, mas não por causa dela, senão através dela. Em uma palavra, é Deus quem justifica, não a fé.Em outras palavras, não é a fé em si o que nos justifica ante Deus, senão o objeto da fé. Visto que, o objeto da fé é Cristo, sua morte, sua justiça, sua vida perfeita, então não é a fé o que justifica, senão a obra na qual a fé crê. Muitas pessoas confiam em sua fé, ao invés de confiar em Cristo e Sua justiça, a qual é o único objeto verdadeiro da fé. Neste ponto que temos que distinguir entre a salvação através da fé e a salvação a causa da fé. Multidões de pessoas crêem na salvação a causa da fé e não mediante a fé. Tais pessoas terminam pensando que é sua fé, o ato de crer, o que lhes justifica, sem crer realmente na justiça de Cristo como a base de sua justificação.

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5. A base de nossa justificação é a justiça de nosso Senhor Jesus Cristo.Esta justiça não é sua esencial justiça como Deus, nem tampouco as ações de justiça realizadas por Ele no céu como Jesus Cristo o justo; senão somente aquela justiça que Ele realizou durante seu estado de humilhação aqui na terra. A justiça de Deus pode significar três coisas.Primeiro, pode significar mesmo a justiça de Deus, segundo, pode significar a justiça que a lei de Deus requer ou terceiro, pode significar a justiça que Deus proveu para a justificação dos pecadores. E esta última justiça a que é pregada no evangelho. A frase “a justiça de Cristo” se refere a vida perfeita que ele viveu como o segundo Adão, o cabeça e representante de seu povo.Esta justiça não inclui todas as obras extraordinárias e os milagres feitos por Ele durante seu ministério terrenal; tais obras e milagres eram provas de sua divindade e sinais que o identificavam como o Messias. Ele através destas manifestações, se legitimou como o único mediador, porém não atuava como um mediador ao fazê-las. Ele fez tais sinais para que os homens cressem em sua justiça, mas elas não eram ingredientes naquela justiça na qual deveriam crer.A justiça de Cristo se refere ao que comumente é chamado sua obediência “ativa” e “passiva”. Sua “obediência ativa” significa a conformidade de sua vida aos preceitos da lei, e esta obediência é, estritamente falando, aquela pela qual nós somos declarados como justos. Sua “obediência passiva” se refere a seus sofrimentos e morte, e esta obediência é expressa frequentemente na Escritura na frase “seu sangue”.

Não devemos pensar que a frase “obediência passiva” quer dizer que Cristo não foi “ativo” em seus sofrimentos. Cristo foi ativo em seus sofrimentos. Assim é que a Escritura diz que Ele mesmo: “possui a vida” (Jo10:18), “porquanto derramou a sua alma na morte” (Is.53:12) e “se entregou a si mismo por nós, como oferta e sacrifício a Deus” (Ef.5:2). E “pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus” (Heb.9:14). Então, a morte e os sofrimento de Cristo que são comumente chamados sua obediência passiva, são também requisitos para nossa justificação e nos são imputadas com esse fim. Assim pois, a Escritura disse que “por suas pisaduras fomos sarados” (Is.53:5) e que “somos justificados pelo seu sangue” (Rom.5:9-10) e que também somos “reconciliados com Deus pela morte de seu Filho”.

Por outro lado, creio firmemente, que não somente seus sofrimentos e morte, senão também sua obediência ativa, de igual maneira como a santidade de sua natureza humana, nos são imputadas para justificação. A lei exige uma natureza santa, uma obediência perfeita, e no caso de uma desobediência exige o castigo. A causa do pecado nossa natureza já não é santa, nossa obediência é imperfeita e portanto somos sujeitos ao castigo.

Cristo assumiu uma natureza humana santa, e nela realizou uma obediência perfeita ante a lei. E também nesta condição sofreu a pena da mesma lei. Tudo isto o fez, não para si mesmo, senão para nós, e tudo isto nos é imputado para nossa justificação. A Escritura disse que Ele nos “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1Cor.1:30).

A palavra sabedoria poderia significar todo o plano da justificação, porque Nele se manifiesta a sabedoria de Deus. E as outras coisas podem ser consideradas como parte principal desta justificação. Por exemplo: a santificação poderia significar a santidade de sua natureza humana, a justiça poderia significar sua obediência ativa pela qual muitos são feitos justos e a

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redenção poderia expressar seus sofrimentos e morte, pelos quais o pecado foi condenado na carne. E é assim que toda a justiça da lei foi cumprida em nosso favor.

Agora darei brevemente algumas razões pelas quais creio que a obediência ativa de Cristo, e não apenas seus sofrimentos e morte, nos são imputados para justificação:

a. Porque para nossa justificação é necessário que se nos impute tudo o que a lei requer. Agora, é importante observar que antes do homem pecar, a lei somente o obrigava a obedecer. Mas depois da queda, ficou sujeito tanto à obediencia como ao castigo.

A menos que os preceitos da lei sejam obedecidos perfeitamente e todo seu castigo aplicado, a lei não pode ser satisfeito, e a menos que seja satisfeita, ninguém pode ser justificado ante ela. Portanto, se Jesus Cristo se compromete como um fiador, para reparar a lei, no lugar de seu povo (como um substituto), então deve obedecer tanto os preceitos da lei, como sofrer a penalidade dela. Se apenas uma parte fosse feita, isto não seria suficiente. Por exemplo: Se pagasse apenas a dívida de nosso castigo, não nos livraria da obrigação de obedecer.

Cristo deu segurança e cumpriu ambas partes da lei, tanto seus preceitos e mandamentos, como em suas demandas de castigo, e assim magnificou e se tornou honorável a lei. Portanto, sua obediência ativa e sua obediência passiva devem ser imputadas para nossa justificação.

b. Porque necessitamos ser justificados por uma justiça e esta justiça é a de Cristo. Agora, a justiça, estritamente falando, consiste em uma obediência real, como diz em Deuteronômio 6:25 “Será por nós justiça, quando tivermos cuidado de cumprir todos estes mandamentos perante o senhor, nosso deus, como nos tem ordenado”. Então, se somos justificados pela justiça de Cristo imputada a nós, ttem que ser por sua obediência ativa e não simplesmente por seus sofrimientos e morte. Porque estes, ainda que nos livram da morte, entrtanto, não nos tornam realmente justos.

c. Porque se diz expressamente que “pela obediência de um só homem, muitos se tornarão justos” (Rom.5:19). A obediência neste texto se refere não só aos sofrimentos e a morte de Cristo, senão também a sua vida perfeita.

d. Porque a recompensa de vida foi prometida não ao sofrimento, senão ao cumprimento. A lei diz: “faz isto e viverás”, e assim promete vida, não a aquele que sofre sua penalidade, senão a aquele que obedece seus preceitos. Nunca existiu uma lei entre os homens que prometa uma recompensa ao criminoso por sofrer o castigo de seus crimes. Os sofrimentos e a morte de Cristo eram para cumprir o aspecto condenatório e penal da lei; e nos são imputados para justificação a fim de que sejamos libertos da maldição, do inferno e da ira. Mas, estes sofrimentos como não nos fazem justos, estritamente falando, não podem nos dar o direito à vida eterna.

Para isto nos faz falta que a obediência ativa e a justiça positiva de Cristo nos sejam imputadas, esta é nossa justificação de vida (Rom.5:18). Isto é o que nos dá o direito à vida eterna.

e. Porque a obediência ativa de Cristo foi realizada em nosso favor e em nosso lugar, então, tem que a nós imputada para justificação. Se alguém disser que Cristo, como um homeme foi feito da mulher, se sujeitou a lei e esteve obrigado a obedecê-la, para se-salvar; eu responderia, que Cristo assumiu uma natureza humana e se sujetou a lei, não para si mesmo,

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senão para nós, não para seu benefício próprio senão para o nosso. “Porque um menino nos nasceu, e um Filho se nos deu” (Is.9:6). E se Cristo nos foi dado somente em seus sofrimentos, mas não em sua obediência, então, não teríamos um Cristo completo, senão somente um Cristo sofredor, mas não obediente.

Além do mais devemos destacar que a obediência ativa de Cristo à lei em nosso lugar, não nos isenta de nossa obediência pessoal a ela; tal como seus sofrimentos e morte, tampouco nos isentam da morte física e do sofrimento. É certo, que nós não sofremos nem morremos no sentido em que Ele fez, quer dizer, para satisfazer a justiça e fazer propiciação pelo pecado. Tampouco, rendemos obediência à lei para obter vida eterna através dela. É pela obediência de Cristo em nosso favor, que somos isentos ou livres da obediência à lei neste sentido (quer dizer, no sentido de obediência para salvação). Mas, não somos livtres de obedecer a lei, como uma norma de comportamento pela qual podemos glorificar a Deus e expresar-lhe nossa gratidão, por suas abundantes misericórdias.

Poderíamos dizer muitas coisas para recomendar esta gloriosa justiça de nosso Mediador. A natureza e excelência desta justiça pode ser vista através de vários nomes e descrições que encontramos dela nas Escrituras:

1. Primeiro, é chamada “a justiça de Deus” (Rom.1:17 e 3:22). É chamada assim porque está contrastada com a justiça humana, senão também porque foi realizada por alguém que é tanto Deus como homem. Também esta justiça é grandemente aprovada e gratuitamente aceita por Deus, e também livremente imputada por Ele a todo seu povo, os quais são justificados por ela ante Deus.

2. Segundo, é chamada “a justiça de um” (Rom.5:18). Quer dizer, de uma das pessoas da Trindade. Não é a justiça do Pai, nem do Espírito, senão do Filho, o qual ainda que participa de duas naturezas (divina e humana), no entanto é uma pessoa só. É a justiça de um o qual é o cabeça de toda sua semente ou povo, tal como Adão foi o cabeça da humanidade perdida (Por este principio representativo, Cristo é chamado o segundo Adão). Esta justiça pode ser chamada também a justiça de “muitos”, quer dizer de todos os crentes, certo que a eles lhes é imputada e todos eles tem igualmente direito a ela. Porém quanto a seu autor, esta justiça é só uma, quer dizer, a de Cristo. Portanto, não somos justificados parcialmente por nossa justiça e parcialmente pela de Cristo, porque em tal caso seríamos justificados pela justiça de dois e não apenas pela de um.

3. Terceiro, é chamada “a justiça da lei” (Rom.8:4). Porque ainda que esta justiça não provenha de nossa obediência à lei, entrtanto, provém da obediência de Cristo a esta lei. E ainda que pelas obras da lei como realizadas pelo homem, nenhuma carne será justificada; pelas obras da lei realizadas por Cristo, todos os escolhidos são justificados. A justiça de Cristo pode ser chamada verdadeiramente uma justiça legal, porque cumpre com o que a lei demanda e exige, e inclui uma conformidade completa a todos seus preceitos. Por meio desta justiça, a lei é magnificada e engrandecida. Ainda que a lei e os profetas testificam dela, esta justiça se manifiesta só no evangelho, e é ministrada apenas pelo evangelho.

4. Quarto, é chamada também “a justiça da fé” (Rom.4:13). Não que a fé seja nossa justiça, nem completa, nem parcialmente. Já temos visto que a fé não é a causa de nossa justificação, nem tampouco a fé nos é imputada em lugar da justiça. A justiça de Cristo, é chamada a justiça da fé, porque a fé é o meio para recebê-la, e a fé é o meio para vestir-nos dela. A fé se regozija nesta justiça e se jacta somente dela.

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5. Quinto, é chamada “o dom da justiça”, “o dom” e “o dom de Deus pela graça” (Ro. 5:15-17). É assim chamada porque foi realizada gratuitamente por Cristo, e é imputada livremente por Deus o Padre, e a fé é dada livremente para lançar mão desta justiça e abraçá-la.

6. Sexto, é chamada “a melhor roupa” (Lc.15:22). É um melhor vestido que aquele que Adão tinha no Edem, ou que os anjos tem no céu. Porque em ambos casos, tanto em Adão como os anjos, eles tinham a justiça de uma criatura, enquanto que esta é a justiça de Deus. Ademais, a justiça de Adão era uma justiça que se podia perder e que de fato foi perdida na queda. E agora, nenhuma da posteridade de Adão é justa em e de si mesma, “nem sequer um” (Rm.3:10-19). E com respeito à justiça dos anjos, é óbvio que era uma justiça que eles podiam perder, posto que muitos deles cairam do seu primeiro estado e perderam sua justiça. A única razão pela que alguns a conservaram, foi a graça preservadora de Cristo. A justiça de Cristo permanece para sempre, e não pode perder, nem jamais será perdida.

A justiça de Cristo é uma na qual a lei não pode encontrar nenhuma falta. Esta justiça nos justifica “todo o que crê é justificado de todas as coisas das quais vós não pudestes ser justificados pela lei de Moisés...” (At.13:39). Nos protege da ira e a condenação, silenciando todas as acusações, porque “quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? Deus é quem justifica” (Rm.8:33). Esta justiça responderá por nós no dia do juízo e nos dará entrada ao reino da glória de Deus. Naquele dia, todos aqueles que não tem uma justiça maior que aquela que tiveram os escribas e os fariseus, não entrarão, e todos aqueles que estão sem este vestido de bodas, serão lançados nas trevas, onde haverá o choro e ranger de dentes.

IV. Considerarei algo a respeito à forma da justificação, a qual é através da imputação da justiça. “E é assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras.” (Romanos 4:6) Tanto a palavra hebraica como a grega que são usadas para expressar o ato da imputação significam: Atribuir, acreditar, considerar como, reputar, estimar, ou por a conta de outro. Como por exemplo o apóstolo Paulo disse a Filemom com respeito a Onésimo “E, se algum daño te fez ou se te debe alguma coisa, lança tudo em mina conta” (Filemón 1:18). É dizer, “eu assumo a responsabilidade”. Então, quando se diz que Deus imputa a justiça de Cristo a nós, isto significa que a considera como nossa, e nos declara justos com base nela, como se nós mesmos a houvéssemos realizado. Agora, para mostrar que somos justificados pela justiça de Cristo imputada a nós, é necessário observar os seguintes pontos:

1. Que nós mesmos somos pessoas ímpias, que são justificadas por Deus, “porque Deus justifica os ímpios” (Rm.4:5). Então, se somos justificados sendo ímpios, somos justificados sem nenhuma justiça própria. Assim pois, se somos justificados, tem que ser através de uma justiça imputada a nós ou posta em nossa conta, a qual não pode ser nenhuma outra, salvo a justiça de Cristo.

2. Que nós somos justificados ou por uma justiça inerente, interna e própria ou por uma justiça imputada a nós. Não pode ser uma justiça inerente porque essa justiça é imperfeita e nenhuma justiça imperfeita nos pode justificar. Também, a justiça pela qual somos justificados é uma justiça externa a nós, é uma justiça “para (sobre) todos os que crêem” (Rm.3:22). Então, esta justiça tem que ser, não inerente senão imputada.

3. A justiça pela qual somos justificados não é nossa própria justiça senão a de outro, é a saber, a justiça de Cristo. Paulo disse que queria ser “e ser achado nele, não tendo justiça

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própria, que procede de Deus baseada na fé” (Filipenses 3:9). A única maneira em que a justiça de outro pode chegar a ser nossa, é através da imputação dela a nós, não há outra forma de fazê-lo.

4. Da mesma maneira em que o pecado de Adão chega a ser nosso e somos constituídos pecadores por sua transgressão, assim também a justiça de Cristo chega a ser nossa e somos constituídos justos por ela. É óbvio que o pecado de Adão chega a ser nosso por imputação, e assim também a justiça de Cristo.

O apóstolo diz: “Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos.” (Romanos 5:19)

5. Na mesma forma que nossos pecados chegaram a pertencer a Cristo, sua justiça chega a ser nossa. Não há dúvida alguma de que nossos pecados chegaram a pertencer a Cristo por imputação. O Pai os pôs sobre Ele por meio de imputação, e Ele os tomou sobre si mesmo voluntariamente. Nossos pecados foram postos em sua conta e Ele se considerou a si mesmo, como responsável ante a justiça por eles. Agora, na mesma forma, sua justiça chega a ser nossa: “Aquele que não conheceu pecado, ele fez pecado por nós, para que, nele, fossêmos feitos justiça de Deus.” (2 Corintios 5:21)

V. Considerarei a data da justificação, é dizer, quando foi tomada a decisão de justificar-nos e quando foi realizada a obra que nos justifica?

Para investigar a data da justificação, temos de dizer que existem várias opiniões a respeito. Alguns tem pensado que esta não será completada senão até o dia do juízo; outros, que começa no momento de crer e não antes; outros dizem que ela tem lugar no momento da ressurreição de Cristo dentre os mortos quando Ele foi justificado e junto com Ele todos os eleitos; outros crêem que a data se remonta até o tempo quando Cristo foi primeiramente prometido como nosso Mediador, imediatamente depois da queda; outros levam a data até as transações feitas entre o Pai e o Filho desde a eternidade, no pacto da redenção.

Não há dúvida alguma de que se pode relacionar a justificação com cada uma destas setas. A postura que eu sustento é que a decisão de justificar-nos foi tomada desde a eternidade no pacto da redenção (ou o pacto da graça).

O método que usarei para apresentar esta postura é como segue:

Primeiro, tratarei de demonstrar que a obra da justificação e o propósito divino de justificar-nos através da obra de Cristo é anterior ao ato de crer.

Segundo, que a fé através da qual somos justificados no momento de crer não é a causa da nossa justificação senão somente o meio pelo qual recebemos dita justificação.

Terceiro, responderei as objeções levantadas contra esta doutrina.Primeiro, tratarei de demonstrar que a obra da justificação e o propósito divino de justificar-nos através da obra de Cristo é anterior ao ato de crer.

Eu creio que isto pode ser concluído em forma razoável das seguintes considerações:

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1. A fé não é a causa, mas, o fruto e efeito da obra de Cristo. A razão pela qual somos justificados não é porque temos fé e sim porque porque somos justificados na obra de Cristo. Se não existisse tal benção como a graça da justificação de vida prevista para os filhos dos homens, então tampouco existiria tal coisa como a fé em Cristo obrada neles, nem tampouco existiria nenhum propósito para dita fé. A razão pela qual alguns não crêem é porque não são as ovelhas de Cristo e não foram incluídos no pacto da graça (Jo.10:26). Eles nunca foram escolhidos por Ele, nem justificados por Ele, senão que são justamente deixados em seus pecados para ser condenados. A razão pela qual outros crêem é devido a que foram ordenados para vida eterna (At.13:48). Eles tem uma justiça justificadora prevista para eles e são justificados por ela, portanto nunca entrarão em condenação.

Ainda quando os escolhidos eram não-convertidos, eles foram realmente no propósito e a obra de Deus justificados e livres da culpa dos seus pecados pela morte de Cristo. E como consequência em seu devido tempo, Deus concede o dom da fé para que eles vejam que foram aceitos pela justiça de Cristo. Veja os seguintes textos que falam dos crentes como unidos com Cristo em sua morte no passado, é dizer no tempo da obra de Cristo na cruz: Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho... (Romanos 5:10)

Sabendo isto, que nosso velho homem juntamente foi crucificado com ele... E se morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele; (Romanos 6:6,8)... um morreu por todos, logo todos morreram; (2 Corintios 5:14) que Deus estava com Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens suas transgrassões... (2 Corintios 5:19) Bem-aventurado o homeme o qual o Senhor não imputou pecado. (Romanos 4:8) Assim é que a obra da justificação é a causa e a fé o efeito. E posto que cada causa é antes que seu efeito, então o propósito divino de justificar tem que ser antes que a fé.

2. A obra de Cristo que justifica aos crentes é o objeto, e a fé é o ato pelo qual olhamos o objeto. Agora, o objeto não depende do ato de olhar, senão que o ato é que depende do objeto que olha. O fato de olhar a um objeto não é o que dá existência a dito objeto, senão que o objeto tem que existir previamente. A fé não é a causa da justificação senão a evidência dela e ao mesmo tempo, o meio divino para recebir a justificação. Mas a obra divina de justificar-nos através de Cristo tem que existir previamente. A fé é a convicção das coisas que não se vêem, mas não é a convicção acerca das coisas que não existem. O que o olho é para o corpo, o é a fé para a alma. Por exemplo, o olho percebe a existência de objetos reais, mas não os produz. Se previamente não existem, o olho não os pode ver. Vemos que o sol brilha com todo seu resplendor, mas acaso não existia antes de que nós o vissêmos? Esta observação é válida enquanto a milhões de exemplos. A fé é a mão que recebe a benção da justificação do Senhor e o dom da justiça pela qual a alma é justificada ante Ele. (Romanos 5:20) Mas não é certo que esta benção de justiça deveria existir antes de que a fé pudesse recebê-la? A justiça de Cristo que nos justifica é o objeto da fé, e a fé a olha e conclui seguramente que “certamente no Senhor está a justiça e a força” (Is. 45:24).

3. Todos os eleitos de Deus foram justificados em e com Cristo, sua Cabeça representativa quando Ele ressuscitou dos mortos, e portanto, antes de que eles cressem. O Senhor Jesus Cristo, tendo se comprometido como o Fiador do seu povo desde a eternidade, no cumprimento do tempo deu satisfação por seus pecados através de seus sofrimentos e morte. Todos os pecados do seu povo foram postos sobre Ele, imputados em sua conta e Ele se fez responsável ante a justiça divina por eles. Posto que Cristo sofreu e morreu, não como uma pessoa privada senão pública, assim também Ele ressuscitou como uma pessoa pública e foi

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justificado como tal. Portanto, quando Ele foi justificado, todos aqueles por quem fez satisfação foram justificados nEle. Este é o significado do texto que diz: “O qual foi entregue por nossos delitos, e ressuscitado para nossa justificação” (Romanos 4:25). Quando Ele foi justificado, os eleitos foram justificados também com Ele posto que Ele foi seu representante. E como podemos dizer que Adão nos condenou a todos quando ele caiu, assim também Cristo nos aperfeiçoou a todos e Deus nos justificou quando Ele morreu e ressuscitou. E quando a Escritura diz que quando Ele ascendeu ao céu, nós ascendemos com Ele (ver Ef.2:6), o faz baseando-se no mesmo ponto, é dizer, em nossa união espiritual com Ele. É óbvio que esta união com Cristo e todas suas consequencias salvadoras tem que existir previamente na obra e o propósito divino, e ainda antes de que recebamos no tempo todos seus beneficios.

4. Agora irei um passo mais adiante: tratarei de provar que a decisão de justificar a todos os eleitos de Deus foi feita desde a eternidade. Quando digo que a decisão de justificar aos eleitos de Deus foi desde a eternidade, não creio que tinham uma existência pessoal e real desde a eternidade, ainda que a tivessem em Cristo como seu representante. Tampouco creio que um pagamento real por seus pecados haja sido feito então (na eternidade) por Cristo, ainda que Ele se comprometeu a fazer. Tampouco afirmo que esta decisão eterna foi feita de tal maneira que pusesse de lado o pecado de Adão e a imputação da sua culpa a seus escolhidos, o qual faria desnecessário a justificação por Cristo no tempo.

Tampouco quero fazer inútil a fé para nossa justificação em nossas consciências (é dizer, em nossa própria experiência). Mas, ao falar da decisão de justificar da eternidade, me refiro a mais que o preconhecimento e presciência de Deus, a quenm“conhecidas são desde o século todas suas obras” (Atos 15:18). Me refiro a mais que isto porque afirmo que a justificação é uma sentença concebida na mente de Deus em seu propósito eterno pelo decreto de justificação, e que este ato de Deus, (cujos atos são todos eternos) é a grande declaração original do propósito de justificação. Então, aquela sentença pronunciada sobre Cristo como nosso representante quando Ele ressuscitou dos mortos, e aquela declaração pronunciada pelo Espírito de Deus na consciência dos crentes ao momento de crer, e também aquela sentença que será pronunciada ante os homens e os anjos no dia do juízo são todas simplesmente repetições ou declarações renovadas da mesma declaração original feita por Deus na decisão eternal de justificar segundo seu propósito eterno.

Eu entendo que como o decreto eterno da eleição de pessoas para vida eterna é uma eleição eterna delas, assim também o decreto ou propósito de justificar seus escolhidos é a decisão eterna de justificar a eles. A justificação é um ato da graça divina para nós, e é algo completamente externo a nós. É algo que sucede na mente divina quando Deus nos constitui ou nos considera como justos através da justiça de seu Filho e nossa união com Ele. Assim pois, esta justificação decretada na eternidade não requeria a existência real da justiça de Cristo, nem de nós, senão somente requeria que ambas as coisas existissem no tempo.

Para confirmar e ilustrar mais esta verdade, consideraremos os seguintes pontos:

a. Primeiro, que há uma eleição de pessoas para vida eterna e que os objetos da justificação são os eleitos de Deus. “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Romanos 8:33). Agora, se os eleitos de Deus não podem ser inculpáveis de pecado senão que são absolvidos, livres e justificados por Deus, e se eles eram seus eleitos desde a eternidade ou se foram escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo, então no propósito de Deus tiveram que ser absolvidos e justificados por Deus, a fim de que não pudessem ser acusados de nada.

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Ademais disto, a graça eletiva os pôs em Cristo antes do começo do mundo: “Nos escolheu nele antes da fundação do mundo” (Ef.1:4). E se a eleição de graça os pôs nele, então deveriam ser considerados em Cristo, ou como pessoas justificadas ou como não justificadas nele.

Eu penso que se nos pode permitir argumentar a favor de um propósito eterno de justificar baseado em uma eleição eterna, posto que a obra de justificação é uma parte da eterna eleição. É o propósito eterno do Pai no pacto que fez com seu Filho que os eleitos foram justos ante seus olhos na justiça do seu amado Filho. E este ato ou propósito eterno inclui a separação dos eleitos para fazer participantes unicos da justiça de Cristo, e também a separação da justiça de Cristo somente para eles. Então, eu penso que podemos concluir que se há uma eleição eterna de pessoas em Cristo, deve haver também uma aceitação eterna e justificação decretada deles nele.

b. Segundo, que existia desde a eternidade um pacto de graça e paz feito entre o Pai e o Filho com respeito a estas pessoas eleitas. (Este pacto as vezes é chamado “pacto da redenção”.) Neste pacto, todas as bençãos da graça e promessas de vida procuradas e asseguradas pelo mesmo pacto foram postas nas mãos de Cristo. E ainda que seu povo não tivesse uma existência real e pessoal, todavia, a tinham em forma representativa ao estar em Cristo, e nele foram benditos com toda benção espiritual (Ver Ef.1:3).

E se foram benditos com todas as bençãos espirituais, então isto tem que incluir a obra de justificação, a qual é uma parte não pequena daquela graça que nos foi dada em Cristo Jesus “antes dos tempos eternos” (2 Tm.1:9).

c. Terceiro, a decisão de justificar-nos foi tomada então no propósito divino quando fomos eleitos, não em nós mesmos senão em nossa Cabeça, é dizer em Cristo, o representante legal do seu povo. Este é o propósito que Paulo quer destacar quando ele afirma em Romanos 8:30 que aqueles que foram predestinados, foram chamados, justificados e glorificados.

O apóstolo se refere a estas coisas como já realizadas no passado quando fomos predestinados. Se diz que estas bençãos decretadas na eternidade já foram outorgadas, não porque tiveram uma existência em si mesmas, senão porque Cristo (nosso representante) se comprometeu a realizar e outorgar todas estas bençãos aos escolhidos no tempo. Então, ocorreu uma doação real destas coisas a nosso favor. “na esperança da vida eterna que o Deus que não pode mentir prometeu antes dos tempos eternos” (Tito 1:2). Neste texto vemos que a promessa da vida eterna foi dada no pacto da redenção, feito antes da eternidade. Se a promessa de vida foi dada naquele então, também teve que incluir a obra de justificação, sem a qual ninguém poderia ter vida. Deus prometeu que deixaria ir livres aos pecadores eleitos, e que buscaria o pago de seus pecados e a satisfação de sua justiça em Cristo, e não deles.

Ao buscar o pago de Cristo e não deles, nesse momento eles foram livrados da dívida. Isto o podemos ver no seguinte exemplo: Tão pronto como alguém aceita a responsabilidade a pagar a dívida de outro, tão pronto como aceita ser o fiador, e o fiador é aceito, então a pessoa é livrada imediatamente da sua dívida. Os olhos do credor são postos no fiador e não sobre o devedor original. Cristo foi estabelecido como o mediador e fiador desde a eternidade, e seu compromisso de pagar foi aceito desde então pelo Pai.

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Isto significa que a decisão de não imputar seus pecados aos homens eleitos foi feita na eternidade. E esta não imputação é uma parte principal da justificação, como Paulo o diz em Rm.4:8, “Bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará o pecado”.

d. Quarto, que Deus desde a eternidade determinou castigar o pecado, não na pessoa dos eleitos senão na pessoa de Cristo, o fiador deles. Este propósito de Deus de castigar o pecado não em sue povo senão em seu Filho é claramente manifesto pelo fato de que Deus predestinou que Cristo fosse uma propiciação por seus pecados. (Ver 1 Pe.1:20.) Este propósito foi dado a conhecer ao homem imediatamente depois da queda, ainda que não iniciou nesse momento posto que nenhum propósito novo pode surgir em Deus. Deus não se propõe faer nada no tempo que não se tenha proposto desde a eternidade. Atos 15:18 diz “diz o Senhor, que faz estas coisas conhecidas desde séculos”. Posto que foi o eterno propósito de Deus o não castigar o pecado em seu povo senão em seu Filho, então eles foram eternamente protegidos da ira e a destruição.

Se eles foram eternamente livres do castigo eterno, então eles foram eternamente apartados no propósito e decreto de Deus para que fossem justificados no tempo pela obra de Cristo. Em outras palavras, a determinação de perdoar o pecado do seu povo é simplesmente a determinação (ou decisão) de não castigar. E esta determinação de não castigar o pecado deles é um ato imanente de Deus desde a eternidade.

e. Quinto, que os crentes sob o Antigo Testamento, foram justificados pela mesma justiça de Cristo que justifica aos crentes do Novo Testamento. E no caso dos crentes sob o Antigo Testamento, evidentemente foram justificados antes de que o sacrificio de Cristo fosse oferecido e sua justiça obtida. Em outras palavras, antes de que Cristo pagasse sua dívida, eles foram perdoados de seus pecados. O sangue de Cristo foi derramada para a remissão de pecados que foram passados (ver Rm.3:25-26). Em Hebreus 9:15 diz que a morte de Cristo foi “para a remissão das rebeliões que havia sob do primeiro testamento”. Então, se Deus realmente justificou a alguns, havendo aceitado a justiça e o sacrifício de Cristo três ou quatro mil anos antes de que Cristo consumasse dita obra; então por que não pudera também apartar a todos seus eleitos para ser justificados em base a mesma obra futura de Cristo? Segundo, a fé através da qual somos justificados no momento de crer, não é a causa de nossa justificação senão somente o meio pelo qual recebemos dita justificação.

A frase que frequentemente encontramos nas Escrituras é “justificados pela fé”. A fé é o meio para receber a justificação. É a graça pela qual a alma lança mão e abraça ou toma a justiça de Cristo para ser justificado diante de Deus. Mas esta fé não acrescenta nada a essência da justificação. Deus não justifica a ninguem a causa da sua fé ou em base a alguma fé vista de antemão neles. A fé não é a causa da nossa justificação, senão somente o meio para recebê-la em nossa experiência. Deus é o que justifica e o faz em base a obediência e o sangue de Cristo.

Então a fé é a percepção, a compreensão, a evidência e a recepção da nossa justificação. A obediência perfeita (é dizer, a justiça) de Cristo que nos justifica é revelada “pela fé e para fé” (Rm.1:17). Sem a fé não podemos conhecer, nem receber, nem tampouco desfrutar em nossa consciência ou em nossa experiência a realidade da nossa justificação. A fé é aquela graça pela qual a alma iluminada pelo Espírito Santo olha a justiça perfeita de Cristo (depois de ter visto sua própria culpa, contaminação e miséria) e é habilitada para renunciar a sua própria justiça e descansar na justiça de Cristo (Rm.10:3-4 e Fp.3:8-9). Por meio da fé nos vestimos da justiça de Cristo como com um manto de justificação, e nos regozijamos em sua

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justiça e o glorificamos. Assim pois no tempo, (é dizer em nossa experiência) somos declarados justos “no nome do Senhor Jesus e pelo Espírito do nosso Deus” (1Co.6:11).

Podemos entender a relação entre a fé e a justificação por meio da seguinte ilustração: O perdão de um criminoso é completo desde o momento em que esta declaração é firmada e selada pelo Rei. Não é o fato de entregar ao criminoso uma cópia da declaração, nem tampouco o fato de receber este documento, o que é a base do perdão. Ainda que ambas as coisas são necessárias para que ele tenha conhecimento e receba o benefício deste perdão e use na corte, e também para que tenha paz e quietude em sua mente.

Outro exemplo é quando um homem é justificado na corte e se entrega uma cópia do expediente que o declara justo. Quem diria que a cópia do seu expediente é sua justificação? Mais bem Não diríamos que foi a declaração do juiz na Corte, o que lle justificou? Assim também, é a declaração de Deus o que nos justifica em base a justiça de Cristo, e é através da fé que recebemos o expediente e a notícia em nossa experiência pessoal. O decreto eterno de Deus de justificar-nos é uma coisa, e a recepção da justificação em nossa experiência através da fé é outra coisa distinta, ainda que as duas são necessárias para nossa justificação.

Para que não haja dúvida quanto ao significado da fé justificadora, é importante mostrar que esta fé em Cristo consiste de três elementos básicos:

1) Crer em Cristo e toda a verdade revelada acerca da sua pessoa e sua obra, é dizer crer em toda a verdade revelada no evangelho.

2) Confiar completamente na obra de Cristo, é dizer confiar em sua vida perfeita (sua justiça) e sua morte para ser justificado.

3) Entregar-nos ou submeter-nos à pessoa de Cristo como nosso Senhor. A fé salvadora é descrita nas seguintes formas: Crer em Cristo, vir a Cristo, descansar em Cristo, agarrar-se ou aderir-se a Cristo, confiar em Cristo, depender de Cristo, comer de Cristo, receber a Cristo, lançar mão de Cristo, submeter-se a Cristo, invocar a Cristo. A fé é a mão vazia do mendigo estendida para Cristo. A fé vai a Cristo consciente de sua pobreza, sua necessidade e incapacidade, e recebe tudo dele. A fé não acrescenta nada a obra de Cristo senão que confia na suficiência, a perfeição e a plenitude da sua obra salvadora.

É importante mostra a diferença entre confiar em Cristo e confiar em nossa fé. Podemos entender esta diferença fixando-nos na diferença entre a água e o vaso. O vaso simplesmente é o meio pelo qual recebemos a água da vida. A fé corresponde ao vaso, é dizer é o meio para beber da água da vida. Mas é a água o que acaba com nossa sede; o vaso em si não serve para nada. Muitas pessoas confiam em sua fé e não entendem que é o objeto da fé o que nos salva, e não a fé mesma. A fé em si mesma não salva, senão Cristo salva através da fé.

É também importante mostrar que a fé salvadora em Cristo é o dom de Deus. Os seguintes textos ensinam que tanto a fé salvadora como o arrependimento são dons de Deus:“Os gentíos, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palabra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna.” (Atos 13:48).“Quem é Apolo? E quem é Paulo? Servos por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um.” (1 Coríntios 3:5).“Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele” (Filipenses 1:29).

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“e prosseguiu: por causa disto, é que vos tenho dito ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido.” (João 6:65).“Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada dentre vós que não pensé de simesmo além do que convén; antes, pensé com moderação, segunda a medida da fé que Deus repartiu a cada um.” (Romanos 12:3).“Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebestes porque te vanglorias como se o não tiveras recebido?” (1 Corintios 4:7).“Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” (Filipenses 2:11-13).“Porque pela graça sois salvos mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus: Não de obras, para que ninguém se glorie.” (Efésios 2:8-9).“... auxiliou muito aqueles que, mediante a graça, haviam crido;” (At. 18:27).“... e ninguem pode dizer senhor Jesus! Senão pelo Espirito Santo.” (1 Corintios 12:3).“Disciplinando com mansidão os que se opõe, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade,” (2 Timóteo 2:25).“Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Prícipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados.” (Atos 5:31).“E, ouvindo eles, estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para a vida.” (Atos 11:18).“Agora, me alegro, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus, para que , de nossa parte, nenhum dano sofrêsses. Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para salvação,...” (2 Corintios 7:9-10).“Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o trouxer; ...” (João 6:44).“A isto respondeu Jesus: em verdade em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... Em verdade em verdade te digo: quem não nascer da agua e do Espiríto não pode entrar no reino de Deus... O vento sopra onde quer, ouves a sua voz mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim é todo que é nascido do Espírito.”(João 3:3,5,8)

Terceiro, responderei as objeções levantadas contra esta doutrina.1. Primeiro, se objeta que as pessoas não podem ser apartadas para ser justificadas antes de existir, que elas devem primero existir antes de ser justificadas. Esta objeção pode ser respondida dizendo que estamos falando do propósito eterno de justificar e não simplesmente da justificação que ocorre no tempo. Estamos falando da justificação daqueles que tinham uma existência representativa em Cristo no plano e propósito eterno de Deus.

2. Segundo, se objeta que se os eleitos de Deus foram apartados para ser justificados no propósito eterno de Deus, então isto ocorreu antes de que houvessem cometido pecado algum.A alguns parece absurdo dizer que foram justificados dos seus pecados antes de cometê-los.Mas respondo que isto não é mais absurdo que dizer que seus pecados foram imputados a Cristo e que Ele foi obrigado a pagar a justiça morrendo por eles antes de que fossem cometidos.E Quem se atreverá a dizer que Cristo não morreu como um substituto pelos pecados de muitos crentes antes de que eles existissem?

3. Terceiro, alguns se opõem dizendo que o decreto da justificação é uma coisa e a justificação mesma é outra. Eu respondo que não há dúvida alguma de que estas são duas coisas diferentes, e todavia, afirmo que em sua easência são uma mesma coisa. Da mesma maneira que o decreto de escolher a certas pessoas para vida eterna e salvação resulta

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inevitavelmente na salvação destas pessoas no tempo. De igual modo, o propósito eterno de Deus de justificar estas mesmas pessoas resulta inevitavelmente em sua justificação no tempo. Ao argumentar a favor do propósito eterno da justificação, estamos simplesmente afirmando que este propósito foi completo e perfeito na mente de Deus desde o momento quando Ele tomou a decisão de não imputar o pecado a seu povo e de imputar a justiça de Cristo. Esta decisão foi tomada não no tempo, senão na eternidade.

4. Quarto, alguns argumentam que o propósito da justificação não pode ser relacionada em nenhum sentido com a eternidade, senão somente com o tempo quando a pessoa chega a arrepender-se e crer. Para resolver esta dificuldade, é necessário entender que os eleitos de Deus devem ser considerados sob duas distintas cabeças representativas, e relacionados com dois pactos distintos ao mesmo tempo. Como eles são descendentes de Adão, estão relacionados com ele como seu representante no pacto de obras. (No pacto de obras, Adão foi obrigado a obedecer a palavra de Deus para obter a vida eterna.) Como tais, pecaram nele, cairam nele, e através do seu pecado estão sujeitos a condenação e são por natureza filhoos da ira como os demais. Mas, quando os consideramos em Cristo, temos que admitir que sempre foram amados, com um amor eterno. Posto que Deus os escolheu desde antes da fundação do mundo então, sempre foram considerados no propósito de Deus, como apartados para ser justificados em Cristo e eternamente salvos da ira e da condenação.

Então, não há nenhuma contradição ao dizer que os eleitos de Deus considerados em Adão e sob o pacto das obras, estão sob a sentença de condenação. Ao mesmo tempo, como estão em Cristo e sob o pacto da graça, foram apartados para ser justificados e livres de toda condenação no propósito de Deus. (O pacto da graça está baseado não em nossa obediência senão na de Cristo, acreditada em favor dos seus escolhidos.) Isto não é mais contraditório que dizer que são amados com um amor eterno e que, todavia, ao mesmo tempo são filhos da ira. E esta é certamente a verdade a respeito dos eleitos antes de que cheguem a arrepender-se e crer. Então, podemos ver que não devemos confundir o propósito eterno, com a condição dos eleitos de Deus no tempo. Aqueles que são escolhidos na eternidade para ser justificados, no tempo chegarão a crer e receberão a certeza de sua justificação quando se arrependam A Confissão Batista de 1689 aclara este ponto na seguinte forma: “Desde a eternidade, Deus decretou justificar a todos os eleitos; e no cumprimento do tempo, Cristo morreu por seus pecados, e ressuscitou para sua justificação. Todavia, eles não são justificados pessoalmente senão até que Cristo seje realmente aplicado pelo Espírito Santo no devido tempo.” (Capítulo 10, parágrafo 4)

5. Quinto, se objeta que se o propósito da justificação é antes que a fé, então não há necessidade de ter fé e portanto, a fé resulta inútil. A isto eu respondo que ainda que a fé não é a causa de nossa justificação, entretanto, é o caminho mostrado por Deus para receber em nossa experiência. A fé compreende e recebe a justiça de Cristo para nossa justificação e isto traz muita paz, o gozo e a consolação a nossos corações. Quando o Espírito Santo nos ilumina para ver a justiça de Cristo e nos conduz a confiar nela pela fé, recebemos a declaração da sentença divina que nos declara justos em base a justiça de Cristo. Isto livra nossas almas do temor da condenação e nos enche de gozo inefável e de glória. A fé funciona igual como os olhos do criminal que lê a sentença que anuncia o perdão do Rei.

Como consequencia, o criminoso não só é livre da prisão senão de todas as misérias, os terrores, e os temores que diariamente o atormentavam em sua expectação de ser justamente castigado.

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A justificação é pela fé, como a forma para receber em nossa experiência. O fato de que esta justificação é recebida pela fé no tempo, não contradiz o fato de que o propósito de justificar-nos é eterno. Aquela fé pela qual o homem é justificado, não é uma mera persuasão de que existe tal coisa como a justificação em Cristo. A fé pela qual somos justificados é uma convicção de que a justiça de Cristo é para nós, e portanto, nos conduce a olhar a Ele, a descansar nele, e a depender da sua justiça e segurar-nos a ela para nossa justificação. Qualquer coisa que seja menos que isto fica curta da plena certeza e segurança da fé em Cristo como nossa justiça.“Sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo, e não por obras da lei; pois, por obras da lei ninguem será justificado” (Gálatas 2:16)

VI. Mostrarei quem são aqueles que são justificados.Os objetos da justificação são os eleitos de Deus. “Quem intentará acusação aos eleitos de Deus? Deus é quem justifica” (Rm.8:33). É dizer, Deus justifica seus eleitos.

1. Os eleitos são descritos quanto ao seu número, é dizer, são muitos. “o meu servo, o Justo, com seu conhecimento justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si” (Isaías 53:11). “tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mateus 20:28). “Assim também Cristo tendo se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos” (Hebreus 9:28).

Muitos são vem a crer nele para vida e salvação. Todos aqueles que são ordenados para vida eterna (Ver At.13:48). E como consequência de tudo isto, “muitos” filhos serão levados à glória (ver Hb.2:10). “Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares a mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus” (Mateus 8:11). E assim é que na casa do Pai há muitas moradas preparadas para eles (ver Jo.14:2). Isto nos conduz a mostrar:

a. Que não são poucos os que são justificados por Cristo. Ainda que o rebanho de Cristo é um rebanho pequeno em comparação com os cabritos do mundo; e ainda que o povo de Cristo são poucos, em comparação com o grande número de hipócritas e crentes nominais, porque muitos são chamados e poucos escolhidos (Mt.20:16). Muitos procurarão entrar e não poderão, já que angosto é o caminho que leva a vida e poucos são os que o acham (Lc.13:24 e Mt.7:14). Entretanto, considerados em si mesmos, são um grande número que nenhum homem pode contar (Ap.7:9).

Isto serve para magnificar a graça de Deus, para exaltar o sacrifício e a justiça do Senhor Jesus Cristo, e para animar as almas angustiadas a buscar e olhar a Cristo para justificação.Posto que esta justiça é realizada a favor de muitos, então muitos são justificados por ela. “Bem-aventurados os que tem fome e sede de justiça: porque eles serão fartos” (Mt.5:6).

b. Isto manifesta que não toda a humanidade é justificada. Ainda que, são muitos os que são justificados, entretanto, não são todos. Porque não todos os homens tem a fé para receber a justiça de Cristo, tampouco todos os homens são salvos, porque somente aqueles que são justificados por seu sangue, por Ele serão salvos da ira (Rm.5:9). Todavia, todos os eleitos são justificados: “No Senhor será justificada e se gloriará toda a geração de Israel” (Isaías 45:25).

2. Os objetos da justificação são descritos segundo seu estado e condição. Antes de sua conversão são descritos como ímpios e depois de sua conversão são crentes em Cristo. Assim

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diz nosso texto: “Neste é justificado, todo aquele que crê” (At.13:39). Estes se referem não aos crentes nominais ou aqueles que simplesmente dizem crer em Cristo, mas aos crentes reais, que “com o coração crêem para justiça” e cuja fé obra pelo amor para Cristo e para seu povo.

Os seguintes textos afirmam a doutrina da eleição:João 13:18: “Eu conheço aqueles que ecolhi”.João 15:16: “Não fostes vós que me escohestes a mim, pelo contrario, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto”Romanos 8:29-30: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagen de seu filho, a fim de que ele seja o primogénito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.”Romanos 8:33: “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?”Romanos 9:15-16: “Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericordia, e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão.”Romanos 11:5-7: “Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça. E, se é pela graça já não é pelas obras; do contrario, a graça já não é graça. Que diremos, pois? O que Israel busca, isso não conseguiu; mas a eleição o alcançou e os mais foram endurecidos;”1 Coríntios 1:27-29: “Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reducir a nada as que são; a fim de que ninguém se glorie na presença de Deus.”Efésios 1:4-5: “assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo para sernos santos e irrepreensíveis diante dele; e em amor nos predestinou para ele, para adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade.”Efésios 1:11: “predestinados segundo o propósito daquel que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade.”2 Tessalonicenses 2:13: “Porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação.”

VII. Mencionarei vários efeitos que provém da justificação e que estão íntimamente relacionados com ela.

A. A liberdade completa da condenação do pecado e o perdão de todos os pecados passados, presentes e futuros. Os crentes jamais serão condenados. As aflições que sobreveem nesta vida não são, estritamente falando, castigos pelo pecado, senão a disciplina paternal. Estas aflições não são manifestações da ira de Deus, nem tampouco servem para propiciar nossos pecados porque isto seria contrário ao evangelho, minimizaria o sacrificio de Cristo e ainda seria contrário à justiça de Deus (posto que Cristo já pagou nossa dívida e Deus não exigiria duplo pagamento).

Muitos perguntam, que sucede quando os crentes pecam? A resposta é que não perdem sua justificação senão sua comunhão com Deus. Se temos sido justificados em Cristo, nossos pecados cotidianos não nos podem condenar. Mas se não os confessamos, e se não nos arrependemos deles, então trarão a disciplina de Deus. (Ver Hebreus 12:5-8 e 10-11) Esta é a distinção entre o perdão “legal” e o perdão “paternal”. O perdão legal ou judicial é recebido no momento de nossa justificação (é dizer, ao arrepender-nos e crer em Cristo).

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Então, Deus nos perdoa como “Juiz” e recebemos este perdão uma vez para sempre. o perdão paternal trata com nossa posição como filhos e nossa relação com Deus como o “Pai Celestial”.

A diferença entre estes dois tipos de perdão pode ser vista no seguinte quadro:

O Perdão Judicial ou Legal1. Trata com nossa posição como pecadores diante de Deus o Juiz de todo o mundo.2. A falta disto resulta em castigo no inferno.3. Se recebe uma vez para sempre e não se pode repetir.4. Cobre todos os pecados passados, presentes e futuros.5. Uma vez recebido, nunca necessitamos pedir outra vez; é imutável e eterno.(Nota também a distinção que Cristo faz em João 13:5-10 entre “o que já está lavado” é dizer, já justificado; e como é que “só necessita que lavem os pés” é dizer, o perdão de seus pecados cotidianos.)

B. Os crentes são declarados justos ante as exigências da lei, são livres da obrigação “legal” de guardá-la como um meio de justificação. E são considerados como merecedores de todas as recompensas que a lei promete àqueles que a tem obedecido perfeitamente. A justificação é o oposto da condenação e consiste de duas partes: Primeiro, nossa culpa é apagada e segundo, a justiça nos é acreditada com todas suas recompensas. As pessoas justificadas são consideradas por Deus não simplesmente como “meio inocentes”, senão melhor como positivamente justas.

C. A paz para com Deus é outra consequência ou efeito da justificação: “Justificados pois pela fé, temos paz para com Deus” (Rm.5:1). É dizer, temos paz em nossa consciência a qual sobrepassa todo entendimento, e é uma das bençãos mais valiosas da vida. Esta paz e certeza está baseada no fato de que é Cristo quem nos comprou, e não depende de nenhuma coisa que haja em nós.

D. O direito de acesso a Deus através de Cristo, com confiança. A pessoa justificada pode recorrer a Deus no nome e a fortaleza de Cristo, com muita confiança, em base a sua justiça. Por isso, o crente pode usar muita liberdade ante o trono da graça, pedindo as coisas que são necessárias.

E. A aceitação de nossas pessoas e do nosso serviço para Deus, segue como consequência da nossa justificação. Deus está muito satisfeito com a justiça de Cristo e em base a ela, também está satisfeito com seu povo. Suas pessoas são aceitas no amado, e também todos seus sacrificios e serviços, são aceitos a Deus através do Senhor Jesus Cristo (ver 1Pe.2:5 e Hb.13:15).

F. A adoção é outra consequência ou fruto da justificação; ainda que esta benção fosse originalmente prevista e assegurada pela predestinação (ver Ef.1:5). Entretanto, o caminho específico para a recepção dela é através da nossa redenção e justificação as quais são em Cristo Jesus. Cristo foi enviado “Para resgatar os que stavam sob a lei, a fim de que recebessêmos a adoção de filhos” (Gálatas 4:5).

G. A santificação é também um efeito da justificação. A justificação é diferente da santificação. A justificação é um assunto de imputação, enquanto que a santificação é um assunto de transformação. Na justificação, Deus o Pai toma a iniciativa e na santificação, a

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iniciativa é do Espírito Santo. A justificação é um veredito ditado de uma vez para sempre; enquanto que a santificação é um processo contínuo de vida. Quando a justificação ocorre, então a santificação começa. A justificação enfatiza o aspecto legal da salvação e manifesta como a posição criminal do pecador (ao tirar sua culpa), é alterada ante a vista de Deus. A santificação (que começa com a regeneração) mostra como a contaminação do pecado é progressivamente tirada, e a santidade de vida aumentada.

Podemos ver que a justificação e a santificação estão intimamente relacionadas, mas ao mesmo tempo separadas. Se não fossem separadas, então não estaria claro que a salvação é somente pela graça. É dizer, se a justificação (nossa posição legal diante de Deus) fosse mesclada com a santificação (o processo que nos faz santos); então, terminaríamos com uma justificação por obras, em vez de uma justificação pela graça, através da fé. Isto é exatamente o que tem ocorrido na Igreja Católica, que ensina a salvação pelas obras. Este ensino falso, é o resultado de ter mesclado a justificação com a santificação. A Igreja Romana ensina que o pecador ganha o perdão de seus pecados na medida em que se santifica. Todavia, a Palavra de Deus ensina que somos justificados gratuitamente por meio da fé (ver Rm.3:24-25).

A seguinte explicação do escritor J.C. Ryle pode ser de ajuda para aclarar mais as diferenças entre a justificação e a santificação:Diferenças entre a santificação e a justificação.Em que concordam e em que se diferem? Esta distinção é importantíssima. Ainda que a justificação e a santificação são duas coisas distintas, entretanto em certos pontos concordem e em outros diferem. Vejamos com detalhe:

A. Pontos concordantes:1. Ambas procedem e tem sua origem na graça de Deus.2. Ambas são parte do grande plano de salvação que Cristo, no plano eterno, tomou sobre si a favor do seu povo. Cristo é a fonte de vida de onde fluem o perdão e a santidade. A raiz de ambas está em Cristo.3. Ambas se encontram na mesma pessoa. Os que são justificados são também santificados, e aqueles que foram santificados, foram também justificados. Deus as uniu e não podem separar-se.4. Ambas começam ao mesmo tempo. No momento em que uma pessoa é justificada, começa também a ser santificada, ainda que ao princípio talvez não se perca dele.5. Ambas são necessárias para a salvação. Jamais ninguém entrará no céu sem um coração regenerado e sem o perdão de seus pecados; sem o sangue de Cristo e sem a graça do Espírito.

B. Pontos em que diferem:

1. Pela justificação, a justiça de outro, é dizer de Jesus Cristo, é imputada, posta na conta do pecador. Pela santificação o pecador convertido experimenta em seu interior uma obra que o faz progressivamente santo. Em outras palavras, pela justificação se nos considera justos, todavia que pela santificação se nos faz justos.

2. A justiça da justificação não é própria, senão que é a justiça perfeita de nosso mediador Cristo Jesus, a qual nos é imputada e fazemos nossa pela fé. A justiça da santificação é a nossa própria, repartida, inerente e influida em nós pelo Espírito Santo, mas mesclada com fraqueza e imperfeição.

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3. Na justificação não há lugar para nossas obras. Mas na santificação a importância da nossas próprias obras é imensa. Daí que Deus nos ordena a lutar, a orar, a velar, e que nos esforcemos, e trabalhemos.

4. A justificação é uma obra acabada e completa; no momento em que uma pessoa crê é justificada, perfeitamente justificada. A santificação é uma obra relativamente imperfeita; será perfeita quando entremos no céu.

5. A justificação não admite crescimento nem é suscetível de aumento. O crente goza da mesma justificação no momento de recorrer a Cristo pela fé, que da que gozará para toda a eternidade. Por outro lado, a santificação é, eminentemente uma obra progressiva e admite um crescimento contínuo enquanto o crente viva.

6. A justificação faz referência à pessoa do crente, a sua posição diante de Deus e à absolvição da sua culpa. A santificação faz referência à natureza do crente, e à renovação moral do coração.

7. A justificação nos dá direito de acesso ao céu e confiança para entrar. A santificação nos prepara para o céu e nos prepara para seu gozo.

8. A justificação é um ato de Deus com referência ao crente, e não é discernível para os outros. A santificação é uma obra de Deus dentro do crente que não pode deixar de manifestar aos olhos dos outros. Estas distinções as ponho a atenta consideração dos leitores. Nunca se poderá enfatizar demasiado o que se trata de duas coisas distintas, ainda que na realidade não podem separar-se, e que o que participa de uma por necessidade tem de participar da outra. Mas nunca deve confundir-se, nem esquecer-se da distinção que existe entre as duas.

H. Outro fruto da justificação é a certeza da salvação, posto que aqueles “que justificou, a estes também glorificou” (Rm.8:30). Esta certeza da salvação está baseada no fato de que Cristo a comprou e não depende de nada nos crentes. Em outras palavras, os crentes não podem perder sua salvação. “Quem acusará os escolhidos de Deus? Deus é o que justifica. Quem os condenará?” (Romanos 8:33-34).

VIII. Finalmente, darei algumas propriedades (características) gerais acerca desta justificação.

1. Primeiro, é um ato da livre graça de Deus. “Sendo justificados gratuitamente por sua graça” (Rm.3:24). Foi a graça que designou o plano e o método da justificação. Foi a mesma graça que motivou a Cristo a comprometer-se como o fiador do seu povo, e que o enviou no cumprimento do tempo para efetuar a justiça a favor deles. Então, é a graça de Deus, que aceita essa justiça e a imputa em favor deles, e é ela que concede a fé para recebê-la. E esta graça se magnifica ainda mais quando consideramos que estas pessoas são por natureza pecadores ímpios, e ainda muitos deles são “o primeiro deles” (1 Tm.1:15).

2. Segundo, esta justificação é universal e não parcial. Todos os eleitos de Deus são justificados de todas as cosas, é dizer, livres de todos seus pecados e do castigo que estes merecem; como o diz nosso texto “E de tudo o que pela lei de Moisés não pudestes ser justificados, néste é justificado todo aquele que crer” (Atos 13:39). Toda a justiça de Cristo é imputada e eles são considerados como perfeitos e completos nEle.

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3. Terceiro, a justificação é um ato realizado em uma só vez, o qual não admite graus. Os pecados dos eleitos de Deus foram imputados a Cristo de uma só vez, e Ele fez satisfação por eles uma só vez. Deus aceitou a justiça de Cristo e a imputou a seu povo de uma vez para sempre, e portanto, eles tem seus pecados e transgressões perdoados legalmente de uma só vez e para sempre.

Nossa consciência de ter sido justificados admite graus porque a justiça de Deus se manifiesta “pela fé e para fé” (Rm.1:17). Há várias declarações frescas e renovadas ou manifestações novas e repetições do ato da justificação. Como por exemplo na ressurreição de Cristo os crentes foram “justificados nele” (Rm.4:25). Também pelo testemunho do Espírito Santo a consciência do crente, esta justificação é renovada novamente e no juízo final, esta declaração será repetida ante todos os anjos e os homens. Mas, a justificação, como um ato de Deus, é única, feita de uma só vez para sempre, não admite graus e não é realizada gradual e progressivamente como o é a santificação.

4. Quarto, esta benção é igual para todos os crentes; todos são igualmente justificados. Ele mesmo pagou o preço pela redenção de um e outro; a mesma justiça é imputada a um e ao outro.

Também a mesma fé preciosa é dada a um e ao outro, ainda que nem todos a recebem na mesma medida (é dizer, alguns tem uma fé forte e outros uma fé fraca). Entretanto, o crente mais fraco é tão justificado como o mais forte; e o maior pecador é tão justificado como o menor. Ainda que um crente pode ter mais graça santificadora que outro, entretanto, nenhum tem mais justiça justificadora que outro.

5. Quinto, a justificação é irreversível e inalterável. É segundo o decreto imutável de Deus, o qual jamais pode ser frustrado. É um dos dons de Deus, os quais são sem arrependimento, e é uma das bençãos do pacto da graça, o qual nunca pode ser quebrada. A justiça pela qual os crentes são justificados é uma justiça eterna. A fé pela qual eles a recebem é uma fé que jamais falhará. E ainda que um homem justificado pode cair em pecado, todavia, jamais cairá da sua justificação e tampouco entrará em condenação, senão que será eternamente glorificado.

6. Sexto, ainda que a justificação livra as pessoas da culpa do pecado e os livra do castigo que merecem; entretanto, não tira o pecado que mora neles. Por ela, os crentes são efetivamente livres do pecado no sentido de que Deus não vê iniquidade neles para condená-los, ainda que Ele vê e observa todos os pecados do seu povo e disciplina por eles. Todavia, com respeito a justificação, Ele não vê nenhum dos pecados deles porque foi absolvidos, livres e justificados de todos eles. E entretanto, o pecado todavia mora neles porque “Não há homem justo sobre a terra, que faça o bem e que não peque” (Eclesiastes 7:20).

7. Sétimo, a justificação não anula, nem invalida a lei e tampouco desanima um cumprimento cuidadoso das boas obras. A justificação não desfaz ou rebaixa a lei senão que a estabelece. A justiça pela qual somos justificados cumpre com cada demanda e detalhe da lei. Cristo a guardou em nosso lugar e assim a magnificou e a fez honrada, e sua obediência em favor nosso não nos conduz a quebrar-la, senão a esforçarmos a obedecê-la motivados pelo amor.

Esta doutrina tampouco nos desanima em quanto ao cumprimento das boas obras, porque esta doutrina da graça nos ensina que “educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente” (Tito 2:12).

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Para concluir, se sua alma está sob a poderosa influência e o consolo desta doutrina, então você fará as seguintes coisas:1. Bendizer a Deus por Jesus Cristo, cuja obediência que você foi justificado.2. Valorizar sua justiça justificadora e fará menção dela em todos os momentos apropriados.3. Gloriar-se somente em Cristo e dar a Ele toda a glória da justificação.4. Esforçar-se para que seu comportamento seja digno do evangelho de Cristo e desta verdade em particular.

APÊNDICE C

Um sermão pregado em 18 de Maio de 1856, Por C.H. Spurgeon, Na Capela da Rua New Park, Southwark, Inglaterra

SOMENTE DEUS É A SALVAÇÃO

DO SEU POVO

"Só ele é a mina rocha e a minha salvação" (Salmo 62:2).

  "MINHA ROCHA." Quão majestoso é este nome; quão sublime, sugestivo e dominador. É uma figura tão divina, que somente a Deus devesse aplicar.

Olhem as montanhas distantes e maravilhem da sua antigüidade; porque dos seus cumes a milhares de séculos nos contemplam. Elas penteavam os cabelos grisalhos antes de que esta enorme cidade fosse fundada; se diz que, quando a humanidade ainda não respirava, elas estavam cheias de dias; são as filhas das idades antigas. Com respeito olhamos estas vultuosas rochas, porque elas estão entre os primogênitos da natureza. Descobrem-se, incrustados em suas entranhas, vestígios de mundos desconhecidos, dos que os sábios tiram suas conjecturas, mas que, entretanto, são insuficientes para conhecer todo o mistério que neles se encerra, a menos que Deus queira que o descubra. A rocha é reverenciada, porque sabemos quantas histórias poderia contar-nos se pudesse falar, ou dizer de como a água e o fogo a torturaram até dar sua forma atual. Assim é nosso Deus: antigo mais que todas as coisas. Seus cabelos são como a lã, tão brancos como a neve; porque Ele é o "Ancião de grande idade", e as Escrituras nos dizem que "não tem princípio de dias" "Ele era Deus muito tempo antes de que a criação fosse formada, "desde o principio até o fim".

"Minha rocha!" Como poderia ela contar das tormentas que suportou, das tempestades que a seus pés alvoroçou o oceano, e dos raios que rasgou os céus sobre sua cabeça; e sob estas condições, sempre permaneceu imutável: impassível ante as tempestades e incólume ante o açoite do temporal. Assim é também nosso Deus. Quão firme e imutável se manteve ante o ultraje das nações, e quando os "reis e príncipes da terra consultou unidos"! Só com estar quieto dizimou as filas do inimigo, sem tão sequer mover sua mão. Com sua imponente 168

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quietude tem desafiado as ondas e dispersado os exércitos adversários, fazendo-os bater em confusa retirada. Contemplem a rocha uma vez mais: Quão fixa e imóvel está! Não vaga de um lado para outro, senão que permanece firme para sempre jamais. Muitas coisas tem mudado: as ilhas tem sido submergidas sob os mares, e os continentes tem sido sacudidos; mas a rocha continua sólida e segura, como se fosse os mesmíssimos cimentos do mundo, que não se moverão até que a criação seja destruída, ou as ligaduras da natureza se afrouxem. Assim também é Deus: Que fiel em suas promessas!, que imutável em seus decretos!, que constante!, que inalterável!

A rocha tem sido, e será sempre, insensível a erosão. Nada, pois, nela tem mudado. Aquela velha cume de granito, umas vezes tem reverdeado ao sol, e outras reluzido o branco da neve; umas vezes tem adorado a Deus com sua cabeça descoberta, e outras, as nuvens lhe fazem um branco véu com suas alas, para que, como um querubim, preste adoração ao seu Criador. Mas, tanto umas vezes como as outras, se a rocha tem permanecido inalterável; nem o gelo do inverno nem o calor do verão pôde fazer se mover. Assim também é Deus. Eis aqui, Ele é minha rocha; Ele é o mesmo, e seu reino não terá fim. "Os filhos de Jacó não serão consumidos"; porque Ele é inalterável em seu ser, seguro em sua própria suficiência e imutável em sua essência. Da rocha podemos tirar milhões de ensinamentos do que Deus é. Vede aquela fortaleza, lá encima da montanha; tão alta, que as nuvens apenas podem chegar a ela; dali onde estão podem rir dos assaltantes; porque profundos precipícios a defendem. Essa fortaleza é nosso Deus, segura proteção. E não seremos comovidos, se Ele tem "posto nossos pés sobre a penha, e firmado nossos passos". Muitas vezes uma colossal montanha nos é motivo de admiração, porque do seu cume podemos contemplar o mundo estendido como se fosse um mapa pequeno. Vemos o rio ou o córrego que corre livremente qual cinto de prata incrustada em esmeralda. Descobrimos as nações sob nós como "gotas de água em um balde", e as ilhas como algo pequeníssimo e distante; e o mesmo mar não parece senão um tanque sustentado pela mão de um poderoso gigante. O onipotente Deus é o mesmo que esta montanha, e dela contemplamos o mundo como algo insignificante. Temos subido a parte mais alta del Pisga, desde cuya cima, e através desta terra tempestuosa e agitada, temos olhado as sublimes regiões do espírito, esse mundo desconhecido para o olho e ouvido, mas que Deus nos revelou a nós pelo Espírito Santo. Esta poderosa rocha é nosso refúgio e nossa fortaleza da qual vemos o invisível, e temos a prova das coisas que ainda não temos gozado. Não creio que seja necessário dizer que, se fôssemos considerar todas os ensinamentos que de este símile se deduz, poderíamos estar pregando durante vários dias; mas o que temos dito até aqui, é para que o mediteis esta semana. "Ele é minha rocha. Quão glorioso pensamento! Sei, e nele me regozijo, que quando tenha que atravessar o Jordão, Ele será minha rocha! Não pisarei sobre pedras escorregadias, senão que assentarei meu pé nAquele que não pode trair meus passos. E assim, quando muera, com gozo cantarei: "Ele, é minha fortaleza, é reto, e nEle não há injustiça".

Deixaremos este aspecto da questão, para passar a considerar o tema do sermão, que é este: Somente Deus é a salvação do seu povo.

"ELE SOMENTE é minha rocha e minha salvação."

Encontramos, em primeiro lugar, a grande doutrina de que somente Deus é nossa salvação; em segundo lugar, a grande experiência de saber e aprender que Ele somente é minha rocha minha salvação'; e em terceiro lugar, a grande obrigação que temos de dar toda a glória e honra, de colocar toda nossa fé em quem "somente é nossa rocha e nossa salvação".

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I. O primeiro que vamos considerar é A GRANDE DOUTRINA: que Deus "somente é nossa rocha e nossa salvação". Se alguém nos perguntasse que tema escolheríamos por divisa como pregadores do Evangelho, creio que responderíamos: "Deus somente é nossa salvação". O llorado Mr. Denham pôs ao pé do seu retrato este admirável texto: "A salvação é do Senhor"; agora bem, isto é exatamente um extrato do calvinismo, sua essência e sustência; portanto, se alguém pergunta, podem responder que um calvinista é "aquele que diz que a salvação é do Senhor". Em toda a Bíblia não encontro outra doutrina que não seja esta, e nela está compendiada toda a Escritura. "Ele somente é minha rocha e minha salvação." Dizem quanto querem, que se sai destes limites, seguro que é uma heresia. Da mesma maneira, dê-me uma heresia e vereis como sua verdadeira raiz está aqui. Vereis como é algo que se tem apartado desta grande, fundamental e incomovível verdade: "Deus é minha rocha e minha salvação". Qual é a heresia de Roma, senão o acrescentar aos méritos de Cristo -o aportar as obras da carne- para cooperar em nossa justificação? E, qual é a do arminianismo, senão o agregar secretamente algo à obra perfeita do Redentor? Mas todas elas se descobrem por si só quando as aproximamos da pedra de toque; se distanciam desta verdade: "Ele somente é minha rocha e minha salvação".

Trataremos de deixar esta doutrina suficientemente clara. Para mim a palavra "salvação significa algo mais que regeneração e conversão. Não creio que seja algo que, depois de regenerar, me deixa em tal posição que ainda posso sair do pacto e perder-me; não posso chamar ponte àquele que só cruza até a metade do rio; como tampouco posso chamar salvação aquele que não me leve até o mesmo céu completamente limpo, e me deixe entre os glorificados que cantam sem cessar hosanas ao redor do trono. Assim pois, se pudesse dividir em partes, o entenderia da seguinte maneira: libertação, continua preservação durante esta vida, sustentação, e ao final a união destas três na perfeição dos santos na pessoa de Jesus Cristo.

1. Por salvação eu entendo a libertação da casa da escravidão onde por natureza nasci, e o ser mantido com a liberdade com que Cristo nos faz livres, ademais de "por meus pés sobre a penha e firmar meus passos". E isto, eu creio que é completamente de Deus; e não creio equivocar ao pensar assim, porque a Escritura nos diz que o homem está morto, e, como poderá ajudar um cadáver em sua própria ressurreição? O homem está completamente depravado, e aborrece toda transformação divina; como poderá, pois, por si mesmo, efetuar essa mudança que odeia? É tal o desconhecimento que tem do que é o novo nascimento que, como Nicodemos, faz absurda pergunta: "Pode entrar outra vez no ventre de sua mãe, e nascer?" Não concebo que ninguem possa fazer o que não entende. E se o homem não compreende o que é nascer de novo, é lógico que não possa levar a cabo por si mesmo; é totalmente incapaz de cooperar na primeira obra sua salvação. Não pode romper suas cadeias porque não são ferro, senão de sua própria carne e sangue; antes poderia destroçar seu coração, que os grilhões que o atam. E, como quebrará seu próprio coração? Com que martelo quebrantarei alma, ou com que fogo a fundirei? Não, a libertação é só Deus. Esta doutrina é afirmada continuamente nas Escrituras; e o que não a crê, não recebe a verdade de Deus. Somente Ele dá liberdade. "A salvação é do Senhor."

2. E se temos sido libertados e vivificados em Cristo, então, nossa preservação é do Senhor somente. Se sou piedoso, é de Deus; se virtuoso, Ele me dá a virtude; se levo fruto, Deus me dá; e se vivo uma vida reta, Ele é que sustém. Eu não faço nada em absoluto para mim própria preservação, a não ser o que antes o mesmo Deus faz em mim. Toda minha bondade é sua, e todo meu pecado é meu. Tenho rejeitado a um inimigo? Sua força deu vigor a meu braço. Tenho derribado um adversário? Sua potência afiou minha espada e me deu o

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valor para deferir o golpe. Prego sua Palavra? Não eu, senão sua graça que esta em mim. Vivo para Deus uma vida santa? É Cristo que vive em mim. Sou santificado? Não santifico eu, senão o Espírito Santo de Deus. Perco o gosto pelas coisas do mundo? É Sua correção a que me aparta. Creço em conhecimento? O grande Instrutor me ensina. Encontro em Deus tudo o que necessito; porque em mim não há nada? "Ele Somente é minha rocha e minha salvação."

3. Assim mesmo, a sustentação é absolutamente indispensável. Necessitamos o sustento da providência para nossos corpos, tanto como para nossas almas. "Descende dos céus a chuva e a neve, e farta a terra, e a faz germinar e produzir, e da semente ao que semeia, e pão ao que come"; mas, de que mãos nasce a chuva, e de que dedos destila o orvalho? É certo que o sol brilha e faz que as plantas cresçam, que saiam seus brotos, que as árvores se vistam de flores, e que, por seu calor, as frutas amadurecem; mas, quem dá sua luz e espalha seu mágico calor? É verdade que trabalho e me afano, o suor cobre minha fronte, minhas mãos se cansam, e ao final, posso repousar em minha cama; mas meu vigor e minha força não são meus, nem o guardar depende de mim. Quem faz estes músculos fortes, estes pulmões de ferro, e estes nervos de aço? "Deus somente é minha rocha e minha salvação. "ele somente é a salvação do meu corpo e minha alma. Me alimento da Palavra? Não me nutrirá, ao menos que Deus faça que me seja de proveito. Vivo do maná que vem do céu? Que é esse maná, senão o mesmo Cristo encarnado, cujo corpo e sangue como e bebo? Recebo continuamente novo aumento de poder? De onde tiro minha força? Minha salvação é só Ele: sem Ele nada posso fazer. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanece na vide, assim tampouco eu, se não permaneço nEle.

4. Agora trataremos de juntar os três pensamentos anteriores em um. A perfeição que pronto teremos, quando estamos além, perto do trono de Deus, será toda do Senhor. Aquela brilhante coroa que adornará nossas frontes como constelação de luzentes estrelas, terá sido lavrada somente por nosso Deus. Vamos a um país onde, apesar de que o arado nunca removeu o solo, suas plantações são mais verdes que todas as da terra, e suas colheitas as mais ricas que nossos olhos viram. Moraremos em um edifício da mais suntuosa arquitetura que jamais o homem possa construir; não é uma casa terrestre, "não é feita de mãos eterna nos céus". Tudo quanto conheceremos no Edém celestial nos será mostrado por nosso Senhor. E no final, quando apareceremos ante Ele diremos:

"A graça premiará todas as obras

Com coroas de bem-aventurança;

Ela é a luz, a pedra mais preciosa,

Digna de toda glória e louvor".

II. Em segundo lugar, examinaremos A GRANDE EXPERIÊNCIA. A maior de todas as minhas experiências é saber que "Ele somente é minha rocha e minha salvação". Até agora temos insistido sobre uma doutrina; mas de nada nos serve a doutrina se não é provada por nossa experiência. A maioria das doutrinas de Deus se aprendem somente com a prática: expondo-as a que suportem a roçadura contínua da vida. Se eu perguntasse a qualquer um de vocês, a qualquer que fosse cristão, se esta doutrina de que falamos é certa, certo que me responderia: "Naturalmente que sim! Não há em toda a Bíblia uma só palavra que seja mais verdade que esta; porque, efetivamente, a salvação é somente de Deus". "Ele somente é minha rocha e minha salvação." Mas, amigos meus, é muito difícil ter tal conhecimento experimental

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de uma doutrina que não nos apartemos jamais dela É muito difícil o crer que "a salvação é do Senhor". Muitas vezes colocamos nossa confiança em algo mais que em Deus, e pecamos quando o comparamos com qualquer outra coisa, por muito digna que esta seja. Permita-me em ater-me um pouco em considerar a experiência que nos levasse a saber que a salvação é só de Deus.

O cristã verdadeiro confessará, como um fato, que a salvação é somente de Deus, é dizer, que "Deus obra tanto o querer como o efetuar por sua boa vontade". Recordando minha vida passada posso ver como desde cedo tudo procedia de Deus e somente de Deus. Não trata de alumiar ao sol com uma tocha, senão que foi Ele precisamente que me alumiou. Não fui eu que começou minha vida espiritual; de modo algum, já que, antes bem, dava coices contra o aguilhão, e lutava contra tudo o que viesse do Espírito; havia em minha alma tal aversão e ódio por tudo que era santo e bom que, ainda sendo arrastrado durante algum tempo pelo impulso celestial, não pude seguir atrás dele. Os impulsos do Espírito não sutiram efeitos em mim; suas advertências foram espalhadas ao vento, e suas ameaças desprezadas; e ainda seus sussurros de amor foram rejeitados, e tidos como coisa inútil e vã. Mas seguro estou, e posso dizer agora falando por mim mesmo, e por todos aqueles que conhecem ao Senhor, que "Ele somente é minha salvação" e também a vossa. Ele foi quem mudou vossos corações e os fez dobrar os joelhos. Podeis dizer, pois, com toda verdade:

"A graça ensinou a minha alma a orar

E fez meus olhos encher-se de pranto".

Chegando aqui, podemos agregar:

"Me tem guardado até hoje sob seu manto,

E já nunca me deixará marchar".

Recordo que, quando me entreguei ao Senhor, cria estar fazendo eu tudo; e ainda que o buscasse de verdade, não tinha a menor ideia de que Ele já andava buscando a mim. Não creio que o recém convertido se dê conta deste detalhe ao princípio da sua conversão. Um dia estava na casa de Deus ouvindo um sermão sem preocupar-me nem pouco nem muito do que dizia o pregador, porque não cria. De imediato, me veio um pensamento: "Como chegou a ser cristão?" Tenho buscado ao Senhor. "Mas, por que começou a buscar?" Esta ideia cruzou minha mente como um raio; eu não podia buscar menos que uma influência prévia que me tenha impulsionado a fazer. Estou certo de que não passará muito tempo sem que digas: "A mudança obrada em mim é completamente de Deus". Desejaria que este fosse o lema de toda minha vida. Sei que há alguns que pregam um evangelho pela manhã e outro diferente pela tarde: um evangelho puro e são quando pregam para os santos, e adulterado e falso quando o fazem aos pecadores. Mas não há motivo que justifique o anunciar a verdade agora e a mentira logo. "A lei do Senhor é perfeita, que refrigera a alma." Não é necessário acrescentar nada para trazer os pecadores ao Salvador. Assim pois, irmãos, deveis confessar que "a salvação é do Senhor". Quando lembrarem o passado, devem dizer: "Senhor meu, tudo quanto tenho Tu me tens dado. As asas da minha fé? Houve tempo em que eu não as tinha. Os olhos da minha fé? Houve tempo em que eu era cego. Estava morto, e Tu me deste vida; sem ver, e Tu abriste meus olhos. Meu coração era um repugnante monturo; mas Tu puseste pérolas nele, e se nele há, as pérolas não se criam nos monturos. Tu me tens dado tudo o que tenho". E assim, se olha ao presente, se vossa experiência é a de um filho de Deus, o atribuireis tudo a

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Ele, não somente o que tem sido seu no passado, senão tudo quanto agora tens. Estais aqui esta manhã, sentados em vossos bancos, e os peço que capaciteis sobre este fato. Crê que estaria onde está, se não fosse pela divina graça? Lembrem a tentação que os assaltou ultimamente, quando "consultaban de arrojaros de vuestra grandeza". Talvez fostes tentados como eu sou ás vezes. Há momentos que parece que o diabo, usando de seus encantamentos, me leva a beira do precipício do pecado, fazendo-me esquecer o perigo pela doçura com que o rodeia. E exatamente quando vai me lançando ao vazio, vejo o abismo aberto a meus pés e uma poderosa mão que me sujeita, todavia uma voz diz: "O guardarei de que caia no profundo; porque Eu paguei seu resgate". Não crê que antes de que o sol se ponha poderia ser condenado, se a graça não os guardasse? Tens algo bom em vossos corações que ela não os tenha dado? Se soubesse que a graça que tenho não procede de Deus, a pisotearia sob meus pés, por não ser de nenhum valor. Não seria mais que uma falsificação completamente legítima, por não trazer o selo do céu. Poderia parecer muito boa; mas, de certo, sempre seria má, ao menos que viesse de Deus. Cristão, pode tu dizer em todas as coisas passadas e presentes Ele é minha rocha e minha salvação"?

E agora, olhemos para o futuro. Homem, considere quantos inimigos tem, quantos rios tem que cruzar, quantas montanhas que subir, quantos monstros que vencer, quantas bocas de leão que escapar, quantos fogos que atravessar, quantas correntes que vencer. Que pensa, homem? Pode alguém salvar, que não seja Deus? Ah!, se eu não tivesse esse braço eterno em que apoiar-me, teria que gritar: "Morte!, leva-me a qualquer lugar fora deste mundo". Se eu não tivesse essa esperança, essa confiança exclamaria: Enterrem-me sob a criação, nas profundidades, onde para sempre possa ser esquecido! Oh!, deixem-me longe, porque sou um miserável se não tenho a Deus que me ajude em meu peregrinar. Sois suficientemente fortes como para lutar com um só de estes inimigos sem vosso Deus? Não o creio. Uma simples criada pôde abater a Pedro, e pode também fazer o mesmo convosco se Deus não os preservar. Os suplico que sempre se lembrem disto. Espero que o tenham experimentado no passado, mas tratem de fazê-lo no presente e no futuro onde quer que forem: "A salvação é do Senhor". "Ele só é minha rocha e minha salvação".

Do ponto de vista da eficácia, tudo vem de Deus; e assim é, também, enquanto aos méritos. Temos experimentado que a salvação é completamente dEle. Que méritos posso ter eu? Se recorrer a tudo quanto posso ter e logo os pedisse o que vós haveis reunido, não tiraria entre tudo o valor de um quarto de centavo. Temos ouvido contar o caso do católico que dizia que havia uma balança que se inclinava a seu favor o peso das obras boas contra as más, e que, portanto, teria que ir ao céu. Mas não há tal coisa. Tenho visto muita gente, muitos tipos de cristãos, inclusive extravagantes, mas jamais encontrei um que diga ter méritos próprios, se não fosse obrigado a ser sincero. Sabemos de homens perfeitos e de homens perfeitamente néscios, e temos visto que ambos são perfeitamente iguais. Possuimos méritos próprios? Estou seguro que não, se temos sido ensinados por Deus. Houve um tempo em que críamos tê-los; mas, uma noite veio a nossa casa um ente chamado convicção, e se levou todas nossas glórias. Ah!, mas não obstante isto, todavia somos maus. Não sei se Cowper disse bem quando escreveu:

"Desde a hora bendita que a teus pés me trouxeste,

Cortando minhas locuras por suas raízes

Não tenho confiado em braço que não tenha sido o teu,

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Nem tenho esperado em justiça que não seja a divina".

Creio que se equivocou, porque muitos cristãos continuam confiando em si mesmos; mas devemos reconhecer que "a salvação é do Senhor", se a consideramos do ponto de vista dos méritos.

Queridos amigos, haveis experimentado isto em vossos corações? Podeis dizer "amém", ao ouví-lo? Podeis dizer: "eu sei que o Senhor é minha ajuda"? Me parece que muitos podem; mas melhor o direis quando Deus os ensinar. O cremos quando começamos nossa vida cristã, e o sabemos depois. E quanto mais longa é nossa vida, mais ocasiões temos de comprovar que é verdade. "Maldito o varão que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço"; mas, "bendito o varão que confía no Senhor e cuja esperança é o Senhor". Em verdade, o centro da experiencia cristã se alcança quando deixamos de confiar em nós mesmos, ou em outros, e colocamos toda nossa esperança pura e simplesmente em Jesus Cristo. A mais elevada e nobre experiência não é o queixar-se continuamente da própria corrupção, nem o lamentar-se dos extravios, senão o dizer:

"Contudo meu infortúnio, aflição e pecado,

Não me deixará ir seu Espírito adorado".

Creio, ajuda minha incredulidade." Gosto do que dizia Lutero: "Eu correria aos braços de Cristo, ainda que brandisse uma espada em suas mãos". A isto se chama uma confiança ousada; mas, como disse um velho teólogo, não há tal confiança ousada: não arriscamos nada com Cristo, não há o menor risco. Bendita e celestial esperança, quando em meio a tempestade podemos chegar a ele e dizer: "Oh, Jesus!, creio que me cobriste com teu sangue"; quando, ao ver nossa inutilidade, podemos clamar: "Senhor, creio que, por Cristo Jesus, ainda que eu seja um pecador miserável. Tu me tens perdoado". A fé do santo é pequena, quando crê como santo; mas a do pecador é verdadeira fé quando crê como pecador. Deus se alegra, não com a fé do puro e sem mancha, mas com a da criatura cheia de pecados. Assim pois, irmãos, peço que esta possa ser sua experiência, para aprender cada dia mais que "Ele só Ele é mina rocha e minha salvação".

III. E agora, em terceiro lugar, falaremos da A GRANDE OBRIGAÇÃO. Temos tido uma grande experiência; portanto, temos também uma grande obrigação.

Se somente Deus é nossa rocha, e sabemos, não estamos obrigados a por nele toda nossa confiança, a dar todo nosso amor, e afirmar nele toda nossa esperança, dedicar toda nossa vida e consagrar todo nosso ser? Esta é nossa grande obrigação. Se Deus é tudo que tenho, seguro que tudo que tenho é de Deus. Se Deus é minha única esperança, seguro que toda minha esperança a porei em Deus. Se o amor de Deus é o único que salva, seguro que Ele terá meu amor. Irmão, permita-me um conselho: não tenha dois deuses, nem dois cristos, nem dois amigos, nem duas esposas, nem dois pais celestiais; não tenha duas fontes, nem dois rios, nem dois sóis, nem dois céus; tenha somente um. Portanto, se a salvação se acha somente em Deus, acheguem-se a Ele com todo vosso ser.

Nunca tratem de acrescentar nada a Cristo. Remendarias o vestido que Ele deu com os seus velhos e sujos farrapos? Poriais vinho novo em odres velhos? Os colocarias em Sua mesma altura? Seria como unir um elefante com uma formiga: jamais arariam juntos. Colocaria um anjo e um verme no mesmo carro, esperando cruzar con ele o firmamento?

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Quanta inconsequência! Quanta necessidade! Vocês com Cristo? Cristo riria!; digo mal, choraria ao pensar tal coisa! Cristo e o homem unindo esforços? CRISTO & CIA? Jamais ocorrerá isto; Ele nunca permitirá; Ele tem de ser o tudo. Quão absurdo e equivocado é tratar de acrescentar algo; não poderia suportar. Aos que amam algo e Ele, lhes chama adúlteros e fornicários. Quer que confiem nele com todo teu coração, que o ame com toda tua alma que o honre com toda tua vida. Cristo não entrará em tua casa enquanto não por todas as chaves sob sua responsabiidade, e não permitirá que fique com uma só. E assim, te fará cantar:

"Mas se algo retive

Sem que a cosnciência me acusasse,

Amo a meu Deus com zelo tão extremo,

Que tudo quanto tivesse lhe entregaria".

Cristãos, é um pecado deixar de entregar algo a Deus, e Cristo será afligido se assim o fizer. E certo que não desejam entristecer a quem derramou seu sangue por vós. Estou certo que nenhum filho de Deus quer humilhar seu bendito irmão maior. Não há nem uma só alma redimida pelo sangue que agrade em contemplar, cheios de pranto, os doces e ternos olhos de seu Amado. Sei que não querem entristecer ao seu Senhor, verdade? Mas digo que entristecerá seu Espírito, se houver algo que compartilhe com seu amor. Porque os quer tanto, que está zeloso do seu amor. Se diz nas Escrituras que o Pai é "um Deus zeloso"; e assim ocorre, também, com Cristo; portanto, não confiem em carros em cavalos, senão decidem sempre somente é minha rocha e minha salvação".

Saibam, também, que há uma razão pela que não deveis olhar a nada mais. Se seus olhos estão distraídos em outras coisas, jamais poderão ter uma plena visão de Cristo. "Podemos ver manifesto em suas misericórdias". Sim com certeza; mas sua contemplação seria muito mais perfeita se olharem diretamente para sua pessoa. Ninguem pode olhar dois objetos ao mesmo tempo, e vê-los claramente. Pode olhar um pouco a Cristo e outro pouco ao mundo, mas não pode por teus olhos de modo total em Cristo e olhar ainda ao mundo. Oh!, irmãos, suplico que não trateis de fazer. Se olharem ao mundo, será uma deficiência em seus olhos; se confiam em algo mais, como o que se sente entre dois bancos, caireis por terra de forma estrondosa. Portanto olhem somente a Ele. "Ele somente é minha rocha e minha salvação."

Não esqueçam tampouco, irmãos, rogo de que não ponhais nenhuma outra coisa em vez de Cristo; porque tantas vezes como o fizeram, sereis açoitados por isso. Jamais houve um filho de Deus que acolhesse em seu coração a nenhum dos traidores do Senhor; porque seria acusado do mesmo delito. O Supremo Juiz fez um registro contra cada um de nós. E, sabeis que é o que buscam seus agentes? Mandou que venham por nossos amigos, por todos nossos tesouros e por nossos ajudadores. A Deus importa menos nossos pecados como tais, que nossos pecados -e ainda nossas virtudes- que usurpam seu trono. Em verdade vos digo, que não há nada neste mundo sobre o que possais por vosso coração, que não haja de ser colocaco em uma forca mais alta que a de Amam. Se Cristo não ocupar o primeiro lugar em vosso coração, Ele o converterá em castigo. Se vossa casa é mais apreciada que sua pessoa, em prisão a converterá; se vossos filhos são mais queridos que seu amor, como víboras serão, que morderão vosso seio; se vossa comida é preferida a seus manjares, bebereis águas amargas e o pão será como cascalho em vossas bocas, até que todo vosso alimento seja Ele. Não há nada

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que tenhais e que Ele não possa converter em uma vara, se está ocupando Seu lugar; e não duvideis que assim o fará, se permitir que haja algo no lugar de Cristo.

Notem, uma vez mais que se puserem vosso olhar em algo que não seje Deus, logo cairão no pecado. Não houve homem no mundo que, apartando seus olhos de Cristo, tenha andado o caminho sem se estraviar. Assim, o marinheiro que navega guiado pela Estrela Polar, sempre irá para o norte; mas seu rumo será incerto e perdido, se se dirige ora pela Estrela Polar, ora por outras constelações. E igualmente vocês; se não fixam continuamente seus olhos em Cristo, logo perderão a rota. Se alguma vez abandonaram o segredo do seu poder, é dizer, sua confiança no Senhor; se alguma vez perderam o tempo em devaneios com a Dalila deste mundo, amando-a mais que a Ele, os filisteus cairão sobre vocêss, rasparão seus cabelos e os atarão com correntes ao moinho até que vosso Deus os liberte, deixando uma vez mais crescer seus cabelos, e os leve a depositar toda sua confiança no Salvador. Fixem seus olhos em Jesus, porque prontamente como os aparteis dEle, duras serão as consequencias! A vocês digo, irmãos; cuidado com seus dons, cuidado com suas virtudes, com sua experiência, com suas orações, com sua esperança, com sua humildade. Não há nenhuma destas graças que não pudesse condenar se não as cuidais. O velho Brooks dizia: "Se uma mulher tem um marido e este a presenteie com um precioso anel, e ela ama a jóia e importa mais que sua esposa, quanto não se ofenderá ele, e quão néscia não será ela!" Cuidem dos seus dons, irmãos!, já que poderiam resultar mais perigos que seus pecados. Estejam advertidos contra tudo deste mundo; porque tudo tem a mesma tendência, especialmente o mais elevado. Se gozamos de uma posição acomodada, é provavel que não olhemos muito para Deus; e se vocês, cristãos, possuem certa fortuna, cuidado com o dinheiro!, cuidado com o ouro e a prata!; porque serão uma maldição se interporem entre vocês e Deus. Fixem seus olhos na nuvem e não na chuva, no rio e não no barco que flutua no seu seio. Contemplem o sol e não seus raios; atribuam seus dons a Deus e digam perpetuamente "Ele somente é minha rocha e minha salvação".

Finalmente, rogo a vocês outra vez que não apartem os teus olhos de Deus; porque, o que seria agora que seria sempre, mas uns pobres condenados pecadores, se estivesse fora de Cristo! O outro dia, quando pregava, durante a primeira parte de meu sermão era o ministro que falava; mas, de repente, recordei que não era mais que um pobre pecador, e quão distintas foram então minhas palavras! Os melhores sermões que jamais tinha pregado, foi aquele que falei, não na minha capacidade de ministro, mas como pobre pecador falando aos pecadores. E creio que não há nada como o que um ministro recorde que não é mais que um pobre pecador, depois de tudo. Se diz do pavão que, ainda que está vestido de finas plumas, se envergonha de ter os pés pretos. Estou seguro que nós também devemos envergonhar-nos dos nossos. Ainda que as vezes nossas plumas apareçam vistosas e brilhantes, deveríamos pensar no que seriamos se a graça não nos houvesse auxiliado. Cristão!, fixem teus olhos em Cristo porque fora dele não é melhor que qualquer dos que estão no inferno; não há demônio no inferno que não pudesse fazer corar se estivesse fora de Cristo. Oh, se fosse humilde! Recorde quão perverso é teu coração, ainda que a graça tenha entrado nele; Deus te amou e te deu graça, não esqueça que ainda há em você um tumor cancerígeno Deus te amou e te deu sua graça, não esquece que ainda tem em ti um tumor cancerígeno. Ele tirou muito da tua provisão, mas a corrupção todavia permanece. Sabemos que, ainda que o velho homem esteje reprimido, e o fogo um pouco sufocado pelo influxo das águas do Espírito Santo, poderia arder com mais força que antes se Deus não o evitasse. Não nos gloriemos em nós mesmos, pois. O escravo não tem por que se orgulhar da sua familia: as marcas do ferro estão em suas mãos. Fosse com o orgulho! Repousemos total e plenamente em Jesus cristo.

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Antes de terminar, permita-me uma palavra para o ímpio que não conhece a Cristo: Ouviste tudo quanto temos falado de que a salvação é só dele. Não é para ti esta boa doutrina? Porque tu não tens nada, não é certo que sejes um pobre, perdido e arruinado pecador. Escute isto, pois: não tens nada, e nada necessitas, porque Cristo tem tudo. Pobre de mim! Sou um escravo preso", dirás. Mas Ele tem a redenção! "Não!, sou um sujo pecador." Mas poderá lavar até te deixar branco. Sim, era um leproso, mas o Médico Divino pode sarar tua lepra. Sim, também está condenado, mas Ele tem tua liberdade firmada e selada, se tu creres nEle. Certo que estás morto, mas Cristo tem a vida e pode te ressucitar. Não necessitas nada do que você tem, só confiar E se houvesse aqui agora homem, mulher ou criança, que estivesse disposto a dizer solenemente comigo, com todo seu coração: "Entendo que Cristo é meu Salvador sem que eu possua ninhuma virtude ou mérito em que possa confiar. Conheço meus pecados, mas sei que Ele é mais forte que eles; reconheço minha culpa mas creio que Ele é mais poderoso que ela"; repito, se alguém de vós pode dizer isto, pode ir deste lugar alegre e contente, porque é herdeiro do reino dos céus.

Tenho que contar uma história singular, que foi contada em nossa reunião da igreja; porque talvez, por meio dela, alguma pobre pessoa que me ouve possa entender o caminho da salvação. "Poderia dizer –se perguntar a seu amigo crente- o que diria a um pobre pecador que fosse a ele desejando saber o caminho da salvação?" "Olha disse ele, creio que me seria muito difícil; mas isso mesmo me ocorreu fazer. Uma pobre mulher veio a minha casa e expliquei de uma forma tão vulgar, que não gostaria de repetir." "Oh!, sim, não se importa; me agradaria ouvir." "Bem; pois essa pobre mulher sempre está penhorando as coisas, e de vez em quando as recupera. Não encontrei modo melhor que o seguinte: Olhe, disse a ela, sua alma está penhorada com o demônio, Cristo pagou o preço, e você, usando a fé como resgate, pode ir e retirá-la." Como vês, foi uma forma muito simples, mas às vezes excelente, para apresentar o caminho da salvação àquela mulher. É certo que nossas almas estavam penhoradas à vingança do Todo-poderoso, e que não tínhamos dinheiro para pagar; mas veio Cristo e pagou o preço por completo, e a fé é o recibo que podemos usar para recuperá-la do penhor. Não necessitamos usar nem um só penique nosso, mas somente dizer: "Eis me aqui, Senhor, eu creio em Jesus Cristo; não trouxe nenhum dinheiro para pagar por minha alma, porque tenho esta certeza, o preço foi pago faz muito tempo. Está escrito na tua Palavra: "O sangue de Jesus Cristo nos limpa de todo pecado". E se vocês tem esse recibo, podem também resgatar vossas almas do penhor, e dizer: "Fui perdoado, fui perdoado; sou um milagre da graça". Deus quer nos abençoar, amigos meus, por Cristo Jesus.

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APÊNDICE D

O Deleite de Deus em Sua Reputação Uns meses antes da sua morte, na idade de 29 anos em 1747, David Brainerd, o missionário aos indígenas na Nova Inglaterra, escreveu a um jovem candidato ao ministério, "Entrega à oração à leitura e a meditação das verdades divinas: luta para entrar no mais profundo delas e nunca te contentes com um conhecimento superficial". 1. Foi um bom conselho. E não só para os pastores, pois no fundo de todas as coisas se encontra um fundamento firme de esperança para a vitória da missão global da igreja. Se encontra um Deus cujo compromisso com a causa de seu povo está arraigado, não em seu povo, mas em si mesmo. Sua paixão por salvar e purificar se alimenta a si mesma, não do solo superficial do nosso valor, mas da sua infinita e própria profundidade. O que veremos a medida que se desenvolve este capitulo é que o tiempo que se requer para adentrar-nos no profundo do coração de Deus é frequentemente recompensado ao encontrar uma veta de ouro ou um poço de petróleo. O esforço é pago com gozo e poder mais além de qualquer expectativa.

Você quiz dizer "nome" ou "Reputação"?

No primeiro rascunho deste capítulo escrevi o título, "O Deleite de Deus em seu Nome". Todavia penso que este é um título perfeitamente bíblico. Muitas vezes a Escritura declara que Deus faz coisas "por amor de seu nome"; mas se alguém se pergunta qual é a verdadeira motivação do coração de Deus nessa afirmação (e em muitas outras parecidas a esta), a resposta é que Deus se deleita em fazer conhecer seu nome. A primeira e mais importante oração que possamos proferir é, "Santificado seja teu nome". Esta é uma petição a Deus para que ele obre de forma tal que faça que seu povo santifique seu nome. Deus terá que mais e mais pessoas santifiquem seu nome, e por isso seu Filho ensina aos cristãos a por suas orações em linha com esta grande paixão do Pai. "Senhor, faz que mais e mais pessoas santifiquem teu nome", é dizer, estimem, admirem, respeitem, valorizem, honrem e adorem teu nome. Em essencia é uma oração missionária. Assim que entrei mais pensava sobre este assunto, mais me parecia apropriado por a ênfase na reputação e não no nome. A reputação significa um nome bem conhecido. Seu nome mostra que é ele realmente; especialmente, quem é ele para nós.2 O argumento do presente capítulo é que Deus se deleita em ser conhecido como realmente é. Ele ama uma reputação mundial. É por isso que falarei muito sobre o nome de Deus neste capítulo, mas escolhi o título, "O Deleite de Deus em sua Reputação".

Uma História de Esperança Para os Pecadores, focada em Deus

Comecemos com uma história sobre o pecado humano e a misericórdia divina. Amo esta história porque está cheia de esperança, focada em Deus. Esta história põe sobre a mesa o maravilhoso fato de que o amor de Deus por sua reputação é a base de sua misericórdia para os desesperados pecadores. A afirmação chave nesta história está em 1 Samuel 12:22, "Pois o Senhor, por causa do grande nome, não desamparará o seu povo". Aquí se pode ver imediatamente que a misericórdia de Deus ("Pois o Senhor não desamparará o seu povo") se baseia no seu amor ao seu nome ("por causa do seu grande nome"). Mas para sentir toda a força desta verdade evangélica, focada em Deus, necessitamos conhecer a história bíblica.

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O período dos juízes do Antigo Testamento (Gideão, Débora, Sansão e o restante) passou. Samuel está agora em cena como uma espécie de ponte entre os juízes, os reis e os profetas. Até agora Israel não tinha rei, mas o caos da terra, com cada um fazendo o que bem lhes parecia (Juízes 21:25), levou a Israel a exigir que Samuel lhes desse um rei. Você pode ler o anterior em 1 Samuel 8. Samuel é velho. Seus filhos Joel e Abias se tornaram em juízes e são corruptos. Assim que os anciãos de Israel disseram a Samuel (no versículo 5): "Vê, já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para que nos governe, como o tem todas as nações". Samuel se sente incomodado e recorre a Deus na busca de um conselho, mas para sua surpresa Deus diz a Samuel, "Atende a voz do povo em tudo quanto diz, pois não te rejeitou a ti, mas a mim, para eu não reinar sobre eles”. Entretanto, isto não é tão simples. Deus também diz a Samuel, "agora, pois, ouve sua voz; mas protesta solenemente contra eles, e mostra como tratará o rei que reinará sobre eles" (8:9). Então Samuel anuncia ao povo como seu rei tomará seus filhos e filhas para seu serviço e demandará deles, para seus propósitos, o dízimo de tudo o que possuem. Ainda assim não pôde fazer desistir o povo de seu desejo de nomear um rei. Eles dão sua resposta final nos versículos 19 e 20: "Porém o povo não atendeu à voz de Samuel e disse: não! Mas teremos um rei sobre nós. Para que sejamos como todas as nações; o nosso rei poderá gobernar-nos, sair adiante de nós e faer as nossas guerras.". Então Samuel unge Saul como rei sobre Israel (capítulo 10). Logo no capítulo 11 Saul derrota a Naás e aos amonitas, e reúne todo o povo em Gilgal para renovar o reino, para investir oficialmente a Saul. Samuel pronuncia um discurso de inauguração no capítulo 12, mas resultou em ser um discurso de inauguração muito inusual. Não foi o que o povo queria ouvir! Samuel tem umas notícias assombrosamente boas para todos. Mas antes de dar-lhes essas boas notícias, ele quer asegurar-se de que eles saibam e sintam a magnitude da maldade que cometeram ao querer ser como as outras nações e ao não estar satisfeitos de ter a Deus por rei deles (1 Samuel 8:5). Por isso no capítulo 12:17 ele diz, "Não é agora, o tempo da sega do trigo? Clamarei, pois, ao Senhor, e dará trovões e chuvas, e sabereis e veréis que é grande a vossa maldade, que tendes praticado perante o Senhor, pedindo para vós outros um rei " (12:19). Quando o povo foi levado ao arrependimento de seus pecados, veio a boa notícia: "Não temais; tendes cometido todo ese mal; no entanto, não vos desviéis de seguir ao Senhor, mas servi ao senhor de todo o vosso coração. Não vos desvieis; pois seguiríeis coisas vãs, que nada aproveitam e tampouco vos podem librar, porque vaidades são" (12:20-21). Este é o evangelho; apesar de que vocês tem pecado de grande maneira, e tem desonrado ao Senhor muitíssimo, apesar de que agora tem um rei, que foi pecado obter, apesar de que não se pode desfazer esse pecado ou suas consequencias que ainda estão por vir; entretanto, há um futuro e uma esperança. Não temais! Não temais! Logo vem o grande fundamento do evangelho no versículo 22: "Pois o Senhor, por causa do seu grande nome, não desamparará o seu povo ".

Por Que os Desampararia?

Quál é a base para que eles não temam de acordo com este versículo? Primeiro que tudo é a promessa de que ele não os desampararia. Apesar do seu pecado ao querer um rei, o versículo diz: "Pois o Senhor não desamparará o seu povo". Mas esse não é o fundamento mais profundo para não ter e para ter esperança. Por que não desamparará o Senhor o seu povo? A resposta que Samuel dá é que Deus não desamparará o seu povo "por causa do seu grande nome". A razão mais profunda que se oferecia como explicação do compromisso de Deus com seu povo é seu prévio compromisso com seu próprio nome. A profunda base sólida para nosso perdão, nosso não - temor e nosso gozo, é o compromisso de Deus com seu

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próprio e grande nome. Primeiro que tudo, ele está comprometido em atuar por causa de seu próprio nome; logo por essa razão, ele se compromete em atuar em favor de seu povo. Como expressa Samuel essa conexão para nós em 1 Samuel 12:22? Por que é que o compromisso de Deus com seu próprio nome resulta em não desamparar seu povo? Como é que seu compromisso com seu nome produz um compromisso com seu povo? A última parte do versículo 22 nos dá a resposta "porque aprouve ao Senhor fazer-vos o seu povo". Ou para expressar de outra forma, o beneplácito ou deleite de Deus foi unir a você a ele mesmo, unir de tal forma que o nome dele está em jogo no seu destino. Também podemos expressar assim: o bom desejo de Deus foi possui-lo de uma maneira tal, que o que suceda a você afeta o nome dele. Portanto, por causa de seu nome, ele não o desamparará. O que começa a ser muito evidente é que 1 Samuel 12:22 não é só a base para falar sobre o deleite de Deus em sua reputação (que é este capítulo), mas também para falar do deleite de Deus na eleição (capítulo 5). Estes dois deleites estão intimamente relacionados. Por isso, permita-me adiantar-me um pouco ao seguinte capítulo sobre o deleite de Deus na eleição e logo concentrar-me no deleite que Deus tem em sua reputação. Samuel disse, "porque aprouve ao Senhor fazer-vos o seu povo". Em outras palavras, o deleite de Deus foi escolher vocês, eleger dentre todos os povos da terra, e fazê-los sua possessão especial. Veremos que esta eleição de Israel foi livre e incondicional, e que o deleite de Deus consistiu em exercitar sua liberdade desta forma. Mas 1 Samuel 12:22 mostra que a eleição que Deus fez de Israel não é o propósito máximo de Deus, mas que é um meio para obter seu máximo propósito de que seu nome seja honrado e sua reputação se difunda. O texto diz que Deus escolheu a Israel para ser seu: " porque aprouve ao Senhor fazer-vos o seu povo". Ele os escolheu como um meio para fazer conhecer o seu nome. Por isso Samuel disse que Deus não os desamparará "por causa do seu grande nome". Portanto, debaixo e detrás do deleite de Deus ao escolher um povo (o qual trataremos no capítulo 5), se tenha um deleite muito mais básico, a saber, o deleite que tem Deus em seu próprio nome (o qual estamos tratando agora).

A Glóría de Deus feita Pública

O que significa isso de que Deus se deleita em seu nome? Temos visto que, ainda que poderia significar simplesmente que Deus se deleita em sua glória intrínseca, usualmente significa algo um tanto diferente, a saber, que Deus se deleita em que sua glória se faça pública. Em outras palavras, o nome de Deus usualmente se refere a sua reputação, sua fama, seu renome. É esta a forma em que usamos a palavra "nome", quando afirmamos que alguém está fazendo um nome para si, ou que se está dando a conhecer. Em ocasiões dizemos, "esse é um nome de marca". Com isso queremos significar uma marca de grande reputação. Creio que isso é o que Samuel quer dizer em 1 Samuel 12:22, quando diz que Deus fez a Israel povo "seu", e que não desampararia a Israel "por seu grande nome". Esta forma de pensar sobre o zelo de Deus por seu nome é confirmada em muitas outros passagens. Por exemplo, em Jeremias 13:11 Deus descreve a Israel como um cinturão que Deus escolheu para ressaltar sua glória, mas que resultou ser temporariamente inutilizável. Porque como o cinto se junta aos lombos do homem, assim fiz juntar a mim toda a casa de Israel e toda a casa de Judá, diz o Senhor, para que me fosse por povo e por fama, por louvor e por honra; mas não escutaram. Por que Israel foi escolhido e convertido em prenda de vestir de Deus? "Para que me fosse por fama, por louvor e por honra". As palabras "louvor" e "honra" neste contexto indicam a "fama", ou "renome", ou "reputação" que Deus está criando para si. Deus escolheu a Israel para que este povo criasse uma reputação para ele. Deus disse em Isaías 43:21 que Israel é o

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"povo [que] criei para mim; meus louvores publicará". Quando a Igreja se viu a si mesma no Novo Testamento como a verdadeira Israel, Pedro descreveu o propósito de Deus para nós da seguinte forma: "Vós sois povo escolhido...para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevass para o reio da sua maravilhosa luz (1 Pedro 2:9). Em outras palavras, Israel e a igreja são escolhidas por Deus para criar um nome para ele no mundo. Davi ensina o mesmo em uma de suas orações em 2 Samuel 7:23. Ele afirma que o que diferencia Israel de outros povos é que Deus tratou com eles de uma maneira tal que tem feito um nome para si mesmo.

Quem há como o teu povo, como Israel, gente única na tera a quem tu ó Deus foste resgatar para ser o teu povo? Para fazer a ti mesmo um nome e fazer a teu povo estas grandes e tremendas coisas, para a tu aterra, diante do teu povo, que tu resgataste do

Egito, desterrando as nações e seus deuses.

Em outras palavras, quando Deus redimiu seu povo no Egito e logo o levou através do deserto e a terra prometida, ele não estava somente ajudando o seu povo; ele estava atuando, como disse Samuel, por causa do seu grande nome (1 Samuel 12:22); ou, como expressa Davi, estava dando a conhecer o seu nome -criando uma reputação. Ele estava revelando o deleite que tem em sua fama.

No final deste capítulo veremos que conhecer esta verdade sobre Deus é imensamente prático e afeta a forma em que vivemos e servimos a Cristo cada dia. É, portanto, muito conveniente que não nos apressemos ao estudar este deleite de Deus; é uma parte crucial do fundamento da nossa esperança, nosso gozo e nossa obediência. Por isso vamos a examinar o deleite de Deus em sua reputação.3

Por Que Deus NÃO Acabou Rapidamente com faraó?

Fique comigo por um momento em Êxodo. É aqui onde Deus começou a moldar a vida corporativa do seu povo escolhido. Pelo resto da sua existência Israel olhou para atrás ao Êxodo como um elemento chave em sua história. No Êxodo vemos a que esta disposto Deus ao escolher um povo para si. Em Êxodo 9:16 Deus expressa a Faraó uma frase que permite entender ele (e a nós) por que razão Deus está multiplicando seus atos poderosos em dez pragas, em vez de acabar rapidamente com a terquedad do Egito com uma repentina catástrofe. Este texto é tão crucial que e o apóstolo Paulo citou em Romanos 9:17 para resumir o propósito de Deus no Êxodo. Deus disse a Faraó, "E a verdade eu te coloquei (ou "instituido"), para mostrar em ti o meu poder, e para que meu nome seja anunciado em toda a terra". Romanos 9:17 diz, "para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti meu poder, e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra".

Assim que a razão do éxodo era criar uma reputação mundial para Deus. O objetivo das dez pragas e o passo milagroso do Mar Vermelho era demostrar o incrível poder de Deus a favor de seu povo, o qual havia escolhido livremente, com o objetivo de que esta reputação, este nome, fosse declarado através de todo o mundo. Não está claro, então, que Deus se deleita grandemente em sua reputação? Uma das grandes implicações do deleite de Deus em sua reputação se encontra na história de Raabe, a prostituta, em Jericó. Ela se converteu ao verdadeiro Deus e se salvou da morte por causa da reputação de Deus. que provinha do Êxodo, a qual havia corrido detrás dos Israelitas e havia alcançado a cidade. "Temos ouvido que Jeová fez secar as águas do Mar Vermelho diante de vós quando saistes do Egito... Senhor vosso Deus é Deus em cima nos

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céus e em baixo na terra" (Josué 2:10-11). Desta forma o amor de Deus por seu nome chegou a ser o meio para a conversão de Raabe. Veremos esta maravilhosa conexão uma e outra vez.

A Lógica do Evangelho: o Enfoque em Deus é o Fundamento da Misericórdia.

Isaías também declara que o propósito de Deus no Êxodo era fazer para si um nome perpétuo. Ele descreveu a Deus como aquele...

Cujo braço gloriosos fez andar à mão direita de Moisés? Que fendeu as águas diante deles, criando para si um nome eterno? Aquele que os guiou pelos abismos, como o cavalo no deserto de modo que nunca tropeçaram? Como animal que desce aos vales, o Espiríto de Senhor lhes deu descanso. Assim, guiastes o teu povo, para te criares um nome glorioso.(Isaías 63:12-14).

Assim que, quando Deus demonstrou seu poder para tirar seu povo do Egito através do Mar Vermelho, ele tinha sua visão na eternidade e na reputação eterna que ganharia para si naqueles dias. O Salmo 106:7-8 ensina o mesmo:

Nossos país, no Egito, não atentaram às tuas maravilhas; não se lembraram da multidão das tuas misericordias e foram rebeldes junto ao mar, o mar Vermelho. Mas ele os salvou por amor do seu nome para lhes fazer notório o seu poder. (Ver também Neemias 9:10; Ezequiel 20:9; Daniel 9:15).

Pode ver a mesma lógica do evangelho funcionando aqui? É a mesma lógica preciosa que vemos em 1 Samuel 12:22. Ali o povo pecaminoso havia escolhido um rei e havia ofendido a Deus. Mas Deus não os desampararia. Por que? Porque seu grande nome estava em jogo. Neste Salmo declara que o povo pecaminoso havia rebelado contra Deus no Mar Vermelho e não havia considerado seu amor. Entretanto, ele os salvou com seu tremendo poder. Por que? A mesma resposta: por amor de seu nome, para dar a conhecer seu grande poder.

Portanto, o primeiro amor de Deus está arraigado no valor do seu santo nome, não no valor de um povo pecador. E posto que seje assim, há esperança para os pecadores - porque eles não são o fundamento da sua salvação, o fundamento é o nome de Deus. Agora pode ver porque razão o enfoque de Deus em Deus é o fundamento do evangelho? Tomemos a Josué como outro exemplo de alguém que entendeu esta lógica do evangelho centrado em Deus e a usou, como o fez Moisés, para interceder pelo pecaminoso povo de Deus.4 Em Josué 1, Israel cruzou o Jordão entrou na terra prometida e derrotado a Jericó. Mas agora, para dor de todos, foi derrotado na cidade de Ai. Josué se encontra assombrado. Ele vai ao Senhor em uma das orações mais desesperadas de toda a Bíblia.

Ah! Senhor, que direi? Pois Israel virou as costas diante dos seus inimigos! Ouvindo isto os cananeus e todos os moradores da terra nos cercarão e desarraigarão o nosso nome da terra; e, então que farás ao teu grande nome? (Josué 7:8-9)

A base sólida da esperança em todos os servos do Senhor, aqueles que tem focado nele, sempre tem sido a impossibilidade de que Deus permita que seu grande nome seja desonrado por longo tempo entre as nações. Esta desonra é inconcebível. Isto provê uma sólida confiança. Outras coisas mudam, mas esta não - o compromisso de Deus com seu "grande nome" não muda.

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Profanados e Vingados na Babilônia

Mas, então que fazemos com o fato de que Israel eventualmente demonstrou ser tão rebelde que foi, de fato, entregue nas mãos de seus inimigos durante o cativeiro na Babilônia na época de Ezequiel? Como maneja um profeta focado em Deus, como Ezequiel, este terrível revés para a reputação de Deus? Escute a palavra do Senhor que veio a ele em Ezequiel 36:20-23. Esta é a resposta de Deus ao cativeiro do seu povo, que ele mesmo havia trazido sobre eles.

E quando chegaram as nações aonde foram, profanaram meu santo nome, dizendo deles: Estes são povo do Senhor, e da terra dele saiu. Mas tive dor ao ver meu santo nome profanado por causa de Israel entre as nações aonde foram. Portanto, dei a casa de Israel: Assim disse o Senhor: Não faço por vós, oh casa de Israel, senão por causa do meu santo nome, o qual profanastes vós entre as nações aonde haveis chegado. E santificarei meu grande nome, profanado entre as nações, o qual profanastes vós em meio delas; e saberão as nações que eu sou Jeová o Senhor, quando seja santificado em vós diante de seus olhos.

Da mesma forma, em Ezequiel 39:25 Deus diz:

Portanto, assim diz o Senhor Deus: Agora, tornarei a mudar a sorte de Jacó, e me compadecerei de toda a casa de Israel; e terei zelo pelo meu santo nome.

Quando toda outra esperança havia desaparecido e o povo se achava sob o mesmo juízo de Deus por seu pecado, havia uma esperança que permanecia - e esta sempre permanecerá -, a qual consistia em que Deus tem um deleite inquebrantável na dignidade de sua própria reputação e não suportará por muito tempo o que esta seja pisoteada. Isaías, quem escreveu muito antes, mas tratou com o mesmo problema - a desonra de Deus no cativeiro de seu povo -, expôs com muita clareza o motivo de Deus ao salvar seu povo do cativeiro da Babilônia:

Por amor do meu nome, retardarei a minha ira e por causa da minha honra me conterei para contigo, para que não te venha a exterminar. Eis que te acrisolei, mas disso não resultou prata; provei-te na fornalha da aflição. Por amor de mim, por amor de mim, é que faço isto; porque como seria profanado o meu nome? A minha glória, não a dou a outrem. (Isaías 48:9-11).

Daniel, que esteve preso no cativeiro, orou com a mesma perspectiva de Deus na mente, "Ó, Senhor; ouve ; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age: não te retardes, por amor de ti mesmo. Ó Deus meu; porque a tua cidade e o teu povo são cahamados pelo teu nome" (Daniel 9:19).

O Perdão Flui do Prazer de Sua Reputação

A grande base da esperança, o grande motivo para orar, a grande fonte da misericórdia é o assombroso compromiso de Deus com seu nome. O deleite que ele experimenta em sua reputação é o que gera o empenho e a paixão de sua disposição a perdoar e salvar àqueles que levantam seu estandarte e se amparan sob sua promessa e misericórdia. Os santos do Antigo Testamento não colocavam sua esperança de perdão em seus próprios méritos ou em seus rituais externos. Eles clamavam misericórdia com base no amor de Deus por seu grande nome: " Por causa do teu nome, Senhor, perdoa a minha iniquidade, que é grande " (Salmo

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25:11). "Assiste-nos, ó Deus e salvador nosso, pela glória do teu nome; libra-nos e perdoa-nos os pecados, por amor do teu nome", (Salmo 79:9). "Posto que as nossas maldades testificam contra nós, ó Senhor, age por amor do teu nome; porque as nossas rebeldías se multiplicaram; contra ti pecamos… Mas tu, Senhor, estás no nosso meio, e somos chamados pelo teu nome; não nos desampares" (Jeremias 14:7,9). Recordo escutar um dos meus professores no seminário afirmar que uma das melhores provas da teologia de uma pessoa era o efeitto que esta exerce nas orações de alguém. Isto me impactou como algo verdadeiro pelo que estava acontecendo em minha própria vida. Noel e eu havíamos casado há pouco tempo e estávamos fazendo um hábito nosso o orar juntos cada noite. Notei que durante os cursos bíblicos que estavam formando minha teologia mais profundamente, minhas orações foram mudando drasticamente. Provavelmente a mudança mais significativa naqueles dias, foi aprender a sustentar minhas orações diante de Deus sobre a base da sua glória. Começar com "Santificado seja teu nome" e terminar com "Em o nome de Jesus", significava que a glória do nome de Deus era a meta e o fundamento de tudo o que orava. Quanta fortaleza veio a minha vida quando aprendií que orar pelo perdão dos meus pecados deveria basear-se não só em uma apelação à misericórdia de Deus, mas também em uma apelação a sua justiça, ao acreditar valor da obediência do seu Filho!. "Deus é fiel e justo para perdoar nossos pecados"(l João 1:9). No Novo Testamento se revela com maior clareza que no Antigo Testamento a base para o perdão de todos os pecados. Mas a base do compromisso de Deus com seu nome não muda. Paulo ensina que a morte de Cristo demonstrou a justiça de Deus ao passar por alto os pecados e reivindicou a Justiça de Deus ao justificar aos ímpios que se amparam em Jesus e não neles mesmos. (Romanos 3:25-26).5 Em outras palavras Cristo morreu uma vez por todos para absolver o nome de Deus em um ato que parece um grosso extravio da justiça - a absolvição dos pecadores simplesmente por causa de Jesus. Mas Jesus morreu de tal forma que o perdão "por causa de Jesus", é o mesmo que o perdão "por amor do nome de Deus". Podemos ver isto não só em Romanos 3:25-26, mas também no Evangelho de João. Segundo este evangelho. Jesus veio em nome de seu Pai (5:43) e faz suas obras em nome de seu Pai (10:25). No final da sua vida, ele declarou que havia manifestado o nome do Pai àqueles que o Pai o havia dado (17:26). Assim que parece que toda a vida e obra de Jesus tem o objetivo de revelar e honrar o nome do Pai. Isto é especialmente certo da morte de Jesus, tal como nos mostra em João 12:27-28. Aqui Jesus se acha orando justo antes da sua morte: "Agora está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora. Pai, glorifica o teu nome. Então veio uma voz do céu: Eu já o glorifiquei e ainda o glorificarei". A hora da morte de Jesus estava perto e o propósito para vir a essa hora era glorificar o nome do Pai. Portanto, deveriamos pensar na morte de Jesus como a forma em que o Pai reivindicou seu nome - sua reputação - de todas as acusações de injustiça por perdoar pecadores. Deste lado da cruz deveríamos orar como fez Davi no Salmo 25:11, "Por causa do teu nome Senhor, perdoe a mina iniquidade que é grande". Mas quando nós os cristãos oramos assim, o que deveriamos querer dizer é, "perdoa-me, oh Senhor, porque teu grande e santo nome foi reivindicado pela morte do teu Filho e eu estou pondo toda minha esperança nele e não em mim mesmo". Isto é o que João quiz dizer quando escreveu em 1 João 2:12," Filhinhos, eu vos escrevo, porque os vossos pecados são perdoados, por causa do seu nome". Por isso, seja que estemos lendo no Antigo Testamento ou no Novo, o grande fundamento de nosso perdão é o amor de Deus para seu santo nome e o inquebrantável deleite que experimente dar a conhecer a dignidade e justiça desse nome, especialmente na mensagem do evangelho: "de que Cristo morreu tanto para justificar os ímpios como para reivindicar a justiça do Pai". Se alguma vez Deus perdesse seu deleite na reputação do seu glorioso nome, o fundamento do nosso perdão estaria em perigo.

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O deleite de Deus em sua reputação não é só a base do nosso perdão, mas também da nossa obediência, serviço e missão. Davi nos ensina a crer que Deus "[nos] guia-me pelas veredas da justiça por amor de seu nome" (Salmo 23:3). E Jesus louva aos perseverantes Santos de Éfeso, "e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome"(Apocalipse 2:3). Paulo diz aos cristãos escravos de Éfeso que "considerem dignos de toda honrao próprio senhor, para que nome de Deus não seja blasfemado " (1 Timoteo 6:1). É provavelmente isto o que Paulo quer dizer em Colossenses 3:17, quando resume toda a vida cristã nas palavras, "E tudo que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus ". É dizer, vivam toda sua vida para honrar o nome de Jesus - para dar uma boa reputação e dar a conhecer sua fama.

A Reputação de Deus como a Meta das Missões

O céu de Deus porque sua fama se difunda, se faz evidente nas Escrituras uma e outra vez. Ele quer que sua reputação se estenda a todos os povos do mundo que ainda não tem conhecido seu nome. Por isso parece que há duas classes de missionários que se necessitam no mundo. Há o missionário tipo - Timóteo e o missionário tipo - Paulo. Chamo a Timóteo um missionário porque deixou seu lar (Listra, Atos 6:1), se uniu a uma equipe viajante de missionários, atravessou culturas, e terminou cuidando da igreja em Éfeso (1 Timóteo 1:3). Mas distingo este missionário tipo - Timóteo do missionário tipo - Paulo, porque Timóteo permaneceu e ministrou no "campo missionário" muito tempo depois que houve uma igreja plantada ali com seus próprios anciãos (Atos 20:17) e seu plano de evangelismo (Atos 19:10). Paulo, pelo contrário, era dirigido por uma paixão para dar a conhecer o nome de Deus em todos os povos não alcançados do mundo. Ele nunca ficou em um lugar por muito tempo uma vez que a igreja era estabelecida. Ele dizia que sua ambição era pregar o evangelho, não onde Cristo já houvesse sido "anunciado" (Romanos 15:20). O verdadeiro significado da palavra "anunciado" surge quando votamos ao início da sua carta aos Romanos e escutamos declarar que Cristo o havia dado o "apostolado, para a obediência a fé em todas as nações por amor de seu nome" (Romanos 1:5). O objetivo das missões é produzir a obediência a fé entre todos os povos não alcançados do mundo. Mas essa não é a ultima meta. A ultima meta - inclusive da fé e a obediência - é "por seu nome". A fama de Cristo, a reputação de Cristo é o que ardia no coração do apóstolo Paulo. A fé das nações não era o fim em si mesmo. Era a forma em que o nome de Cristo seria honrado. Isto era o que enchia com tal paixão pela Grande Comissão. Jesus havia dito a Ananias, "quanto era necessário padecer [Paulo] por meu nome "(Atos 9:16). Paulo nunca desfaleceu em seu desejo de sofrer, se isto resultava na fama para Cristo. Para o final da sua vida, todavia podia expressar, "eu estou disposto não só a ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus" (Atos 21:13). Claro que Paulo não era o único que se entregava por causa da glória do nome de Cristo. A Terceira de João é uma bela e pequena carta que descreve como ministrar aos missionários. Por exemplo, esta diz,

Amado, procedes fielmente naquilo que praticaspara com os irmãos, e isto fazes mesmo quando são estrangeiros, os quais, perante a igreja, deram testemunho do teu amor; bem farás encaminhando-os em sua jornada por modo digno de Deus, pois por causa do Nome foi que saíram, nada recebendo dos gentíos. Portanto, debemos acolher esses irmãos, para nos tornarmos cooperadores da verdade. (3 João 5-8).

Muito Poucos Missionáros Tipo - Paulo.

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Hoje parece que há um desequilíbrio muito grande enquanto a muito poucos missionários tipo - Paulo. Observe quanto maior é o número de missionários listados sob a coluna titulada "Alcançados", comparado com o número na coluna titulada "Não Alcançados". Cerca de 90 por cento da força missionária atual é de missionários tipo - Timóteo»6 Estas pessoas estão fazendo um trabalho absolutamente importante, e devemos ter em mente que eles também estão levando adiante a causa de alcançar os povos não evangelizados, mobilizando as igrejas onde estão e sendo pioneiras na obra missionária. 7 Entretanto, deveria surgir um chamado poderoso a todas as igrejas de todo o mundo, sobre o fato que há uma grande tradição, proveniente do apóstolo Paulo, que busca expandir a fama do nome de Cristo nos povos não alcançados; e o trabalho ainda não se tem faito. A seguinte tabela (de 1989) o faz evidente:

Distribuição da Força Missionária norte Americana entre os Povos

Alcançados e NÃO Alcançados do Mundo8

ALCANÇADOS NÃO ALCANÇADOS 9

Europa, Latino América,N. Zelândia, Austrália.

700 grupos1.1 bilhões de pessoas26.600 missionários

150 grupos143 milhões de pessoas400 missionários

USA, Canadá 500 grupos270 milhões de pessoas5.000 missionários

50 grupos7 milhões de pessoas600 missionários

Budistas 20 grupos50 milhões de pessoas1.000 missionários

1.000 grupos274 milhões de pessoas400 missionários

China 2.200 grupos900 milhões de pessoas3.000 missionários

1.000 grupos150 milhões de pessoas300 missionários

Hindús 1.300 grupos150 milhões de pessoas300 missionários

2000 grupos550 milhões de pessoas200 missionários

Muçulmanos 30 grupos70 milhões de pessoas600 missionários

4000 grupos860 milhões de pessoas400 missionários

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Tribos 3.000 grupos80 milhõnes de pessoas13.000 missionários

3000 grupos140 milhões de pessoas4.500 missionários

Outros Africanos

2.950 grupos250 milhões de pessoas15.000 missionários

500 grupos25 milhões de pessoas200 missionários

Outros Asiáticos

2.950 grupos250 milhões de pessoas15.000 missionários

500 grupos25 milhões de pessoas200 missionários

TOTAL12.000 grupos503.05 bilhões de pessoas5877.200 missionários90

12.000 grupos502.2 bilhões de pessoas427.800 missionários10

Uma Tarefa Terminável

Para assegurarmos de que esta tabela não comunica um pessimismo injustificável, deveríamos tomar nota da seguinte tabela que é verdadeiramente assombrosa.Demonstra que o número de povos não alcançados está decrescendo drasticamente na proporção ao número de congregações evangélicas disponíveis para evangelizar. A Proporção de Povos Não Alcançados em Comparação com as Congregações de Cristãos10

Ano D.C.

Não - Cristãos 11

Por Crentes 12

Grupos de

Pessoas NãoAlcançadas 13

Congregações Por Grupos de PessoasNão Alcançadas 14

100 360 a 1 60.000 1 a 12

1000

220 a 1 50.000 a 5

1500

69 a 1 44.000 1 a 5

1900

27 a 1 40.000 1 a 1

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1950

21 a 1 24.000 33 a 1

1980

11 a 1 17.000 162 a 1

1989

7 a 1 12.000 416 a 1

2000

? ? ?

Ralph Winter observa que a queda de 11 a 7 (62 por cento) entre 1980 e 1989 (na segunda coluna) é equivalente a queda de 360 a 220 (62 por cento) nos primeiros 900 anos da história da igreja. Logo, ele expressa sua própria opinião sobre a importância desta tabela: "tenho que confessar que as duas medidas [na segunda e quarta colunas], e as tendências que elas revelam, são duas das perspectivas mais esperançosas que conheço; sua importância é virtualmente irrefutável, na minha opinião".15 Em outras palavras, ainda que o chamado para mais missionários tipo -Paulo é urgente, e a tarefa que falta por completar é grande, esta é, como muitos dizem, "uma tarefa terminável!"

Deleite Inquebrantável

A maior razão para expressar esta confiança, entretanto, não é nenhuma estatística, mas o inquebrantável deleite que Deus experimenta enquanto a sua reputação entre as nações. Suas promessas fazem evidente o fato de que ele verá sua fama estender-se a todos os povos e seu nome será exaltado por cada nação.

Porei entre eles um sinal e alguns dos que foram salvos enviarei as nações... até as terras mais remotas, que jamais ouviram falar de mim, nem viram a minha glória a anunciarão entre as nações a minha glória (Isaías 66:19).

Prostra-se toda terra perante ti, canta salmo a ti; salmodia o teu nome (Salmo 66:4).

Todas as nações que fizeste virão prostrar-se ão diante de ti, Senhor, e glorificarão o seu nome (Salmo 86:9).

Todas as nações temerão o nome do Senhor, e todos os reis da terra, a sua glória (Salmo 102:15).

Todas estas promessas levam inevitavelmente a uma devota oração para que tal triunfo tenha lugar:

Oh, se fendesses os céus, e descesses! Se os montes tremessem na tua presença... para fazeres notório o teu nome aos teus adversários de sorte que as nações tremessem da tua presença.'(Isaías 64:1-2).

E as orações do povo de Deus inevitavelmente guiam ao chamado para que a igreja saia com coragem e confiança:

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Dai graças ao Senhor, invocai o seu nome, tornai manifestos os teus feitos entre os povos, relembrai que é excelso o seu nome (Isaías 12:4).

Por isso, glorificai ao Sernhor no Oriente e, nas terras do mar, ao nome do Senhor Deus de Israel. Dos confins da terra ouvimas cantar: Glória ao Justo (Isaías 24:15-16).

A Inesquecível Lição de Pedro

É impossível que sobre-enfatizemos a centralidade da reputação de Deus para motivar a missão da igreja. Quando mudaram o sistema de valores de Pedro pela visão dos animais imundos em Atos 10, e pela lição que Deus deu de que ele devia evangelizar os gentios como aos Judeus, voltou a Jerusalém e disse aos apóstolos que tudo era devido ao ceu de Deus por seu nome. Sabemos isto porque Tiago resumiu o discurso de Pedro da seguinte forma: "Irmãos, atentai nas minas palabras: expos Simão como Deus, primeiramente, visitou os gentíos, a fim de constituir dentre eles um povo para seu nome" (Atos 15:13-14). Não é uma surpresa que Pedro dissesse que o propósito de Deus era reunir um povo para seu nome; porque o Senhor Jesus tinha impactado a Pedro alguns anos atrás com uma lição inesquecível. Se lembra que, depois que um jovem rico se distanciou de Jesus e recusou seguir, Pedro disse a Jesus, "Eis aqui, nós o deixemos tudo, e te seguimos (a diferença deste homem); que, pois, teremos?" Jesus respondeu com uma suave reprovação que, em efeito, conclui que não há um sacrifício demasiado grande quando se vive para o nome do Filho do Homem. "E qualquer que tenha deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por meu nome, receberá cem vezes mais, e herdará a vida eterna" (Mateus 19:29). A verdade é clara: Deus está cumprindo, com deleite onipotente, um propósito: o de reunir um povo para seu nome de cada tribo, língua e nação (Apocalipse 5:9; 7:9). Ele tem um entusiasmo inacabável pela reputação de seu nome entre as nações. Portanto, quando sintonizamos nossos desejos com o dele e, por amor de seu nome, renunciamos a busca das comodidades deste mundo e nos unimos a seu propósito global, o onipotente compromisso de Deus com seu nome está sobre nós e não podemos perder, apesar das muitas tribulaões (Atos 9:16; Romanos 8: 35:39).

As Últimas Palavras Escritas por David Brainerd

David Brainerd tinha razão. É bom esforçar para penetrar no mais profundo das verdades divinas. Na raíz de toda nossa esperança. Quando todas as demais for tirada, podemos afirmar nesta sólida realidade: O Deus eterno e plenamente auto - suficiente está infinita, firme, e eternamente comprometido com seu grande e santo nome. Por causa da sua reputação entre as nações, ele atuará. Seu nome não será profanado para sempre. A missão da igreja será vitoriosa. Ele reivindicará seu povo e sua causa em toda a terra. David Brainerd foi sustentado por esta confiança até sua morte. Sete dias antes de morrer, expressou a classe de devoção que este capítulo dos Deleites de Deus deseja ascender. Estas são as últimas palavras que pôde escrever com sua própria mão:

Sexta-feira,2 de Outubro. Minha alma esteve hoje, em ocasiões, docemente concentrada em Deus: desejava estar "com Ele", para poder "contemplar sua glória"; me sentia tranquilamente disposto a entregar

tudo a Ele, inclusive meus amigos mais amados, meu rebanho mais

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amado, meu irmão ausente e todas as minhas inquietudes respeito ao tempo e a eternidade. Oh, que seu reino chegue a este mundo; que todos

possam amá-lo e glorificá-lo pelo que ele é em si mesmo; e que o bendito Redentor pudesse: "contemplar o fruto de sua obra, e estar

satisfeito". Oh!, "vem Senhor Jesus, vem. Amém".16

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