capítulo 1 – panorama do sistema financeiro 3 - bcb.gov.br fileno longo prazo manteve-se estável...

30
Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 12 1 Capítulo 1 – Panorama do sistema financeiro 3 1.1 Liquidez 3 O risco de liquidez do sistema bancário permanece em níveis baixos, cenário que tende a perdurar no 1º semestre de 2018. Mesmo com a retomada das concessões de crédito na segunda metade de 2017, houve melhora no nível de ativos líquidos e na disponibilidade de captações estáveis para financiar a ampliação das carteiras de crédito. Os estoques de ativos líquidos são suficientes para honrar saídas abruptas de recursos em eventuais cenários de estresse no curto prazo. O risco de liquidez no longo prazo manteve-se estável e em nível adequado, com discreta elevação do estoque de recursos estáveis disponíveis. Assim, a atual estrutura de captação e aplicação nos balanços minimiza a suscetibilidade dos bancos a futuros problemas de liquidez, e, portanto, sob diversas perspectivas, o risco de liquidez do sistema permanece não representando preocupação relevante. O estoque de funding apresentou estabilidade no segundo semestre de 2017, destacando-se o incremento do estoque dos depósitos a prazo em compensação à parte da redução do estoque de operações compromissadas com lastro em títulos ou aceite de instituições ligadas ao conglomerado prudencial (decorrente da edição da Resolução nº 4.527, de 29 de setembro de 2016). Os declínios das carteiras de letras de crédito de agronegócio (LCA) e letras de crédito imobiliário (LCI) estão relacionados à dinâmica das operações de crédito geradoras de lastros para as letras, bem como à disponibilidade alternativa de funding 3/ Destaque-se que, para efeito das seções 1.3 Rentabilidade, 1.4 Solvência e 1.5 Testes de estresse de capital, o escopo das análises é o conglomerado prudencial definido na Resolução nº 4.280, de 31 de outubro de 2013, ao qual são aplicados, desde 1º de janeiro de 2015, os requerimentos mínimos de capital, conforme a Resolução n° 4.193, de 1º de março de 2013. Na seção 1.1 Liquidez, o escopo das análises é o sistema bancário, aqui constituído pelas instituições Banco Comercial, Banco Múltiplo (BM), Caixa Econômica, Banco de Câmbio e Banco de Investimento (BI) e pelos conglomerados financeiros compostos por ao menos uma dessas modalidades de instituições. Em 1.2 Crédito, o escopo das análises é o Sistema Financeiro Nacional (SFN).

Upload: others

Post on 09-Sep-2019

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 12

1Capítulo 1 – Panorama do sistema financeiro3

1.1 Liquidez 3

O risco de liquidez do sistema bancário permanece em níveis baixos, cenário que tende a perdurar no 1º semestre de 2018. Mesmo com a retomada das concessões de crédito na segunda metade de 2017, houve melhora no nível de ativos líquidos e na disponibilidade de captações estáveis para financiar a ampliação das carteiras de crédito. Os estoques de ativos líquidos são suficientes para honrar saídas abruptas de recursos em eventuais cenários de estresse no curto prazo. O risco de liquidez no longo prazo manteve-se estável e em nível adequado, com discreta elevação do estoque de recursos estáveis disponíveis. Assim, a atual estrutura de captação e aplicação nos balanços minimiza a suscetibilidade dos bancos a futuros problemas de liquidez, e, portanto, sob diversas perspectivas, o risco de liquidez do sistema permanece não representando preocupação relevante.

O estoque de funding apresentou estabilidade no segundo semestre de 2017, destacando-se o incremento do estoque dos depósitos a prazo em compensação à parte da redução do estoque de operações compromissadas com lastro em títulos ou aceite de instituições ligadas ao conglomerado prudencial (decorrente da edição da Resolução nº 4.527, de 29 de setembro de 2016). Os declínios das carteiras de letras de crédito de agronegócio (LCA) e letras de crédito imobiliário (LCI) estão relacionados à dinâmica das operações de crédito geradoras de lastros para as letras, bem como à disponibilidade alternativa de funding

3/ Destaque-se que, para efeito das seções 1.3 Rentabilidade, 1.4 Solvência e 1.5 Testes de estresse de capital, o escopo das análises é o conglomerado prudencial definido na Resolução nº 4.280, de 31 de outubro de 2013, ao qual são aplicados, desde 1º de janeiro de 2015, os requerimentos mínimos de capital, conforme a Resolução n° 4.193, de 1º de março de 2013. Na seção 1.1 Liquidez, o escopo das análises é o sistema bancário, aqui constituído pelas instituições Banco Comercial, Banco Múltiplo (BM), Caixa Econômica, Banco de Câmbio e Banco de Investimento (BI) e pelos conglomerados financeiros compostos por ao menos uma dessas modalidades de instituições. Em 1.2 Crédito, o escopo das análises é o Sistema Financeiro Nacional (SFN).

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 13

mais barato para as principais instituições emissoras. As cadernetas de poupança voltaram a apresentar captação líquida positiva no segundo semestre e em todo o ano de 2017, após captações líquidas negativas em 2015 e 2016 (Gráfico 1.1.1). 4

As pessoas físicas e jurídicas não classificáveis em categorias específicas de investidores mantêm-se como principal fonte de funding para o sistema bancário, com participação de 63% no estoque total em dezembro de 2017. Uma das fontes de funding que mais tem crescido, a carteira intermediada de pessoas físicas e jurídicas incrementou 11% no segundo semestre de 2017. As captações intermediadas têm propiciado às instituições de menor porte acesso a uma base maior de clientes, prazos de captação mais longos e menor dependência de recursos sob gestão profissional; por outro lado, têm gerado maior dependência de instituições financeiras intermediárias para as captações. Ainda em relação às fontes de funding, a parcela atribuída ao setor público corresponde, na sua grande maioria, à intermediação de financiamentos oriundos de programas ou linhas de crédito governamentais. A carteira de fundos e investidores institucionais, que representa 10% dos recursos captados pelo sistema bancário em dezembro de 2017, retraiu-se 6% no segundo semestre por conta da redução pelos bancos da oferta de instrumentos a taxas suficientemente atrativas para esses investidores (Gráfico 1.1.2).

A representatividade do funding externo em relação às captações totais manteve-se baixa e estável. Do funding externo, R$388 bilhões são captações externas internalizadas no mercado doméstico, divididas em R$284 bilhões de livre destinação e R$104 bilhões vinculadas a operações de exportação, importação ou repasses. O volume dessas captações apresentou leve crescimento ao longo de 2017, revertendo a tendência de queda observada nos semestres anteriores (Gráficos 1.1.3 e 1.1.4). Tal evolução deve se repetir no próximo semestre se mantida a expectativa de melhora nos demais indicadores econômicos, resultando em maior demanda interna por recursos. As instituições financeiras tiveram

4/ Depósitos a prazo: certificados de depósito bancário, recibos de depósitos bancários, depósitos a prazo com garantia especial do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Dívida subordinada: certificados de depósito bancário com cláusula de subordinação, letras financeiras com cláusula de subordinação e instrumentos elegíveis à composição de capital. Outros instrumentos: COE, letras de câmbio, letras financeiras, letras hipotecárias, operações de box. Compromissadas: referem-se tão somente às operações compromissadas com títulos privados. Por se tratarem de operações por meio das quais se permutam ativos de alta liquidez, as operações compromissadas com títulos públicos federais não estão sendo consideradas no conceito de captação no presente relatório.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0

5

10

15

20

25

Dez2010

Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Dez

%

Captações externas mantidas no exteriorCaptações externas que ingressam (vinculadas)Captações externas que ingressam (livres)

Gráfico 1.1.3 – Perfil das captações externasComo percentual das captações totais

594 623 658 642 652 634 661 671 720

576 565 534 504 535 568 603 710 717320 326 370 358 397 376 356 248 215411 435 450 456 467 466 475 476 488264 278 358 403

494 402 393 385 388215 252277 302

335 343 330 310 304151 161

174 180181 189 202 220 202

95123

159 192203 206 201 198 183

149152

164 165

179 180 174 173 167

109133

147 178

186 187 180 153 144

180157

172 146

148 135 155 138 160

0

800

1.600

2.400

3.200

4.000

Dez2013

Jun2014

Dez2014

Jun2015

Dez2015

Jun2016

Dez2016

Jun2017

Dez2017

R$ biGráfico 1.1.1 – Perfil de captaçãoSistema bancário

Poupança Depósitos a prazoCompromissadas com títulos privados Empréstimos e repassesCaptações externas Outros instrumentosDepósitos judiciais LCIDívida subordinada LCADepósitos à vista DI

1.940 2.005 2.142 2.137 2.264 2.260 2.329 2.321 2.330

11 1620 24

28 30 36 41 48377 413

420 435457 455 430 399 375445

470494 500

511 509 520 521 533264278

359 403494 402 393 385 389

8690

91 8989 87 84 84 88

0

800

1.600

2.400

3.200

4.000

Dez2013

Jun2014

Dez2014

Jun2015

Dez2015

Jun2016

Dez2016

Jun2017

Dez2017

R$ bi

PF/PJ PF/PJ – Intermediadas InstitucionaisSetor público Não residentes IFs

Gráfico 1.1.2 – Perfil de captação por tipo de investidorSistema bancário

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 14

acesso ao crédito externo em volume suficiente para atender as necessidades domésticas, tanto em linhas vinculadas como de livre destinação.

Em relação à exigibilidade dos passivos, os movimentos verificados contribuem para uma perspectiva de maior estabilidade do funding. A participação dos instrumentos com liquidez imediata e depósitos à vista (Gráfico 1.1.5), mais sujeitos a corrida bancária em momentos de crise, manteve tendência de queda no período. A poupança confirmou a tendência de recuperação iniciada no 1º semestre de 2017, indicando melhora na disponibilidade de recursos de varejo, que costumam ter relacionamentos mais estáveis com os bancos e são menos sujeitos a grandes movimentos de resgates em situações de crise.

As instituições bancárias vêm mantendo colchões de liquidez suficientes para suportar cenários de estresse. No segundo semestre de 2017, houve aumento real dos ativos líquidos, beneficiado pela valorização do valor de mercado dos títulos, dado o cenário de queda nas taxas de juros futuras no período, e ainda pela liberação de ativos que estavam bloqueados como garantias5. Além disso, a leve melhora na composição do funding e a estabilidade nas exposições a risco de mercado fizeram com que os desembolsos projetados de caixa em um cenário de estresse ficassem nominalmente estáveis no período. Dessa forma, o Índice de Liquidez (IL)6 agregado dos bancos encerrou o segundo semestre de 2017 em 2,38, com variação positiva de 0,19 ponto em relação ao semestre anterior (Gráfico 1.1.6).

Individualmente, as instituições mantiveram sua liquidez de curto prazo em patamar confortável (Gráfico 1.1.7), com destaque para as de grande porte. Em dezembro de 2017, 97,9% dos ativos do sistema bancário estavam em balanços de bancos com suficiência de ativos líquidos necessários para suportar uma crise de liquidez (IL ≥ 1). Na comparação com o semestre anterior, o número de instituições com IL menor do que 1 aumentou de 18 para 22, com baixa representatividade em termos de ativos totais.

5/ Em virtude da conclusão da unificação das câmaras de ações e derivativos da B3 S/A em agosto, que unificou os requerimentos de colaterais que eram exigidos separadamente para cada câmara, houve redução das margens totais requeridas para operações na B3 S/A, liberando esses ativos às instituições financeiras.

6/ O IL mensura se os bancos possuem ativos líquidos suficientes para cobrir suas necessidades de caixa de curto prazo (trinta dias subsequentes) em cenário de estresse hipotético, definido e calibrado pelo BC. Essas saídas de recursos advêm da possibilidade de resgates de captações vincendas ou com liquidez imediata, exposições a risco de mercado, como chamadas de margens e pagamentos de ajustes de derivativos e, ainda, outros fluxos contratuais programados. Instituições com IL superior a 1 possuem ativos líquidos suficientes para esse cenário. Para detalhes da definição da métrica, ver anexo Conceitos e metodologias, item a.

0

50

100

150

200

250

Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Dez

US$ bilhões

Captações externas mantidas no exterior

Captações externas que ingressam (vinculadas)

Captações externas que ingressam (livres)

Gráfico 1.1.4 – Perfil das captações externasValores absolutos em dólares

Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Dez0%

20%

40%

60%

80%

100%Gráfico 1.1.5 – Perfil das captações internas

Depósitos judiciaisCaptações internas com vencimento superior a 1 anoCaptações internas com vencimento de 30 dias a 1 anoCaptações internas com vencimento de 1 a 30 diasDepósitos poupançaDepósitos à vista + outras captações com liquidez imediata

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0

200

400

600

800

1.000

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

Jan2012

Jul Jan2013

Jul Jan2014

Jul Jan2015

Jul Jan2016

Jul Jan2017

Jul Dez

R$ bi

Gráfico 1.1.6 – Índice de Liquidez

Ativos líquidosFluxo de caixa estressadoÍndice de Liquidez

un.

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 15

O indicador regulamentar de Liquidez de Curto Prazo (Liquidity Coverage Ratio – LCR)7 corrobora o baixo risco de liquidez de curto prazo já refletido no IL. Todos os conglomerados bancários sujeitos ao cumprimento desse indicador mantiveram o LCR acima do mínimo regulamentar (80%) e em patamares bastante superiores a 100%, nível a ser exigido a partir de 2019. O LCR agregado dos bancos sujeitos ao seu cumprimento manteve-se estável no encerramento de 2017, mesmo com os aprimoramentos normativos introduzidos em julho de 20178 (Gráfico 1.1.8).

Assim, tanto o IL médio do sistema bancário quanto o LCR médio das maiores instituições indicam um nível de risco de liquidez de curto prazo confortável.

A estrutura de liquidez em um horizonte de longo prazo manteve-se estável no segundo semestre de 2017. Do lado dos passivos, a recuperação da poupança e o aumento da capitalização do sistema reforçam as captações consideradas estáveis e indicam uma tendência de melhoria no nível do risco de liquidez também para um horizonte acima de trinta dias. O efeito do aumento dos recursos estáveis compensou o alongamento do prazo residual dos estoques de crédito no segundo semestre de 2017, em linha com o ritmo de retomada do crédito no período. Tal movimento resultou no Índice de Liquidez Estrutural (ILE)9 em 1,12 em dezembro de 2017 (Gráfico 1.1.9), mesmo patamar do semestre anterior. O ILE é a principal métrica de avaliação do risco de liquidez de longo prazo e baseia-se na metodologia do indicador Liquidez de Longo Prazo (Net Stable Funding Ratio – NSFR).

Os bancos mais representativos em termos de ativos (94,4% dos ativos totais do sistema em dezembro de 2017) mantinham estruturas de balanço capazes de fazer frente ao risco de liquidez no longo prazo (ILE > 1,00). Grande parte das instituições de maior porte elevaram seus indicadores, enquanto as demais apresentaram

7/ O LCR é um índice cujo cumprimento é obrigatório para todos os bancos com ativos totais acima de R$100 bilhões. Requer que as instituições financeiras mantenham ativos de alta liquidez para suportar saídas de caixa nos próximos trinta dias, em um cenário de estresse definido pelo documento do BCBS (www.bis.org/publ/bcbs238.htm). Em 2017, o requerimento mínimo foi de 80%, sendo 90% para 2018 e 100% a partir de janeiro de 2019. Regulamentação doméstica pela Resolução CMN nº 4.401, de 27 de fevereiro de 2015, e pela Circular BC n° 3.749, de 5 de março de 2015.

8/ Ver seção 1.1 do REF de outubro de 2017.9/ O ILE tem como objetivo mensurar se os bancos possuem fontes

suficientemente estáveis de recursos (numerador) para financiar suas atividades de longo prazo (denominador). Assim, instituições com ILE igual ou superior a 1 são menos suscetíveis a futuros problemas de liquidez. Para detalhes da definição da métrica, ver anexo Conceitos e metodologias, item b.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0%

120%

240%

360%

480%

600%

Out2015

Dez Mar2016

Jun Set Dez Mar2017

Jun Set Dez

LCR agregado (8 IFs) IL LCR máximoLCR mínimo

Gráfico 1.1.8 – Dispersão da Liquidez de Curto Prazo (LCR) Máximo, mínimo e agregado

Limite regulamentar

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

0,40

0,56

0,72

0,88

1,04

1,20

Dez2011

Jun Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

R$ bi

Gráfico 1.1.9 – Índice de Liquidez Estrutural

Recursos estáveis disponíveisRecursos estáveis necessáriosÍndice de Liquidez Estrutural

un.

15 3

1013

17

73

15 7 6

10

18

75

0

18

36

54

72

90

<0,8 0,8-1,0 1,0-1,2 1,2-1,6 1,6-2,0 ≥2,0

Gráfico 1.1.7 – Distribuição de frequência para o Índice de Liquidez1/

Junho 2017 Dezembro 2017

Índice de Liquidez

1/ Os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições financeiras com Índice de Liquidez pertencente ao intervalo correspondente.

% dos ativos do sistema

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 16

índices mais dispersos. Em comparação com o semestre anterior, o número de bancos com ILE menor que 1 diminuiu de 27 para 25. Desses 25, apenas 15 também apresentavam insuficiências no curto prazo em eventual cenário de estresse (IL < 1), representando 1,68% dos ativos totais do sistema (Gráfico 1.1.10).

Em suma, o risco de liquidez continua a apresentar pouca preocupação para o sistema bancário. Além da estrutura atual de funding das instituições financeiras, que contribui para minimizar cenários que possam afetar a estabilidade financeira, os colchões de liquidez atuais constituem uma confortável fonte de proteção contra diferentes eventos de estresse, além de permitir o direcionamento de recursos para ativos de menor liquidez, dando suporte à retomada das concessões de crédito. Ademais, os requerimentos prudenciais de liquidez criados após a crise financeira internacional, LCR e NSFR10, serão fatores limitantes para a tomada excessiva de risco de liquidez.

1.2 Crédito

O ano de 2017 se configurou pela retomada da economia brasileira: o produto interno bruto (PIB) do país voltou a crescer; os índices de confiança – tanto de consumo quanto de serviços – continuaram trajetória de melhora, e a curva de juros doméstica apresentou queda significativa.11 Nesse sentido, nota-se um avanço nos indicadores referentes ao crédito, tanto pela queda do risco do portfólio como por um maior apetite das instituições financeiras em suas concessões. Tal movimento é mais destacado no crédito às pessoas físicas e nos bancos privados. Nas pessoas jurídicas, ainda que se possa vislumbrar alguma melhora na carteira de crédito, são necessárias duas condições para que o setor retome o ritmo vigente antes da crise: melhora mais prolongada na atividade econômica e melhor geração de caixa pelas firmas.

10/ O NSFR, introduzido pela Resolução CMN nº 4.616, de 30 de novembro de 2017, e com metodologia dada pela Circular nº 3.869, de 19 de dezembro de 2017, terá efeitos a partir de outubro de 2018.

11/ As expectativas melhoraram no segundo semestre de 2017, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) acabou o ano com variação positiva de 13,6 p.p., com aumentos de 8,5 p.p. da parcela relativa à situação atual e de 16,5 p.p. em relação às expectativas. O Índice de Confiança de Serviços (ICS) apresenta trajetória ascendente desde meados de 2017, fechando o ano com variação positiva de 13,2 p.p. No caso do ICS, a parcela que mais puxou o índice para cima foi aquela relativa às expectativas, com 16,5 p.p. de variação no ano, enquanto a situação atual melhorou 8,5 p.p.

9 4

14

20 14

763

10 4 11

18

15

964

0

14

28

42

56

70

< 0,8 0,8-0,9 0,9-1,0 1,0-1,1 1,1-1,2 1,2-1,3 ≥ 1,3

Gráfico 1.1.10 – Distribuição de frequência para o Índice de Liquidez Estrutural1/

Junho 2017 Dezembro 2017

Índice de Liquidez Estrutural

1/ Os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições financeiras com Índice de Liquidez Estrutural pertencente ao intervalo correspondente.

% dos ativos do sistema

Anexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 17

Crédito amplo e sua tendência de longo prazo

O BCBS e a literatura internacional12 consideram o hiato de crédito como proporção do PIB uma boa métrica para avaliar se o crescimento da carteira de crédito em um país é considerado saudável, ou se está acima de sua tendência de longo prazo. Este hiato poderia sinalizar um aumento excessivo em novos empréstimos por famílias e empresas, o que resultaria em correções abruptas, agravadas pela desalavancagem repentina de agentes econômicos. De fato, o BCBS sugere que países com o referido hiato acima de 2,0 p.p. deveriam acionar o colchão adicional de capital contracíclico.

Conforme explicado no Boxe relativo ao Adicional Contracíclico de Capital Principal do Relatório de Estabilidade Financeira de abril de 2016, o Adicional Contracíclico de Capital Principal relativo ao Brasil (ACCPBrasil) não é definido com base em único indicador ou mesmo em um conjunto de indicadores pré-estabelecidos. Não obstante, no contexto atual, o crédito amplo13 relativizado pelo PIB está abaixo da tendência de longo prazo (Gráfico 1.2.1)14, bem como a dinâmica de diversos outros indicadores também não sugerem a necessidade de acionamento do ACCPBrasil.

Crédito bancário doméstico

Em 2017, especialmente no segundo semestre do ano, a reversão da tendência de queda do estoque de crédito se concentrou nos bancos privados (Gráfico 1.2.2). Consonante com o divulgado no REF de abril de 2017, os dados de concessão de crédito (Gráfico 1.2.3) corroboram a ideia de que os bancos privados estão liderando a retomada desse mercado, movimento que deve se manter inalterado no curto prazo.

Acompanhando o movimento de retomada no volume de concessões, observou-se, ao longo de 2017, queda na

12/ Drehmann, M., Borio, C., and K. Tsatsaronis (2011): “Anchoring countercyclical capital buffers: the role of credit aggregates”, BIS Working Papers, no 355. Drehmann, M., and Juselius, M. (2011): “Evaluating early warning indicators of banking crises: Satisfying policy requirements”, BIS Working Papers, no 421.

13/ O crédito amplo engloba, além do crédito do setor bancário, o crédito tomado por famílias e empresas não financeiras no exterior, cujos recursos tenham ingressado no Brasil, e o financiamento das empresas via mercado de capitais.

14/ O Banco Central monitora, dentre outras medidas, os hiatos de crédito/PIB com e sem variação cambial. Em países com importante parcela do crédito amplo referenciados em moeda estrangeira, o aumento inercial dos estoques das dívidas pode advir apenas da desvalorização cambial, e não de excessiva tomada de novos empréstimos pelas empresas e famílias naquele período.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

-8

-4

0

4

8

12

16

Dez1996

Dez1999

Dez2002

Dez2005

Dez2008

Dez2011

Dez2014

Dez2017

Sem variação cambial Com variação cambial

Gráfico 1.2.1 – Hiato crédito/Produto interno bruto (PIB)

p.p.

-18

-9

0

9

18

27

36

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

%

Gráfico 1.2.2 – Crescimento anual do crédito Por controle

Bancos privadosBancos públicos comerciaisBancos públicos de desenvolvimentoTotal

0

36

72

108

144

180

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

Gráfico 1.2.3 – Evolução – Concessões de crédito Deflacionada e dessazonalizada

Bancos privadosBancos públicos comerciaisBancos públicos de desenvolvimento

R$ bi

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 18

taxa média de juros das operações de crédito do sistema financeiro (Gráfico 1.2.4). Ou seja, os dados mais recentes sugerem que não somente o quantum (concessões) como também o preço do crédito (taxas de juros) sinalizam para um incremento na oferta de crédito por parte das instituições financeiras: todavia, isso ocorre de forma mais destacada nas operações com melhores garantias, bem como sob critérios mais conservadores na avaliação dos tomadores de crédito.

Riscos e mitigadores

No segundo semestre de 2017, houve melhora nos indicadores de risco de crédito, tanto em índices tradicionais de atraso (inadimplência e pré-inadimplência) quanto em métricas mais amplas que sinalizam a qualidade do portfólio (reestruturações e carteira de ativos problemáticos).15

A inadimplência do setor bancário (Gráfico 1.2.5) caiu significativamente (0,46 p.p.) no último ano, retornando ao patamar vigente em dezembro de 2015. Tal queda ocorreu tanto nos bancos privados quanto nos bancos públicos comerciais, sendo os bancos públicos de desenvolvimento a exceção a este movimento. Caso a retomada da economia continue sua trajetória recente, espera-se alguma queda adicional nesse indicador, fato que também é reforçado por uma menor entrada de operações no portfólio inadimplido, bem como uma manutenção do ritmo das baixas para prejuízo (Gráfico 1.2.6).

O estoque de operações com atrasos entre 15 e 90 dias (Gráfico 1.2.7), indicador antecedente da inadimplência, ainda se encontra em patamar superior àquele verificado antes da crise (2014, por exemplo). A pré-inadimplência dos bancos públicos comerciais merece um ponto de atenção, visto que ainda não apresentou sinais claros de estabilidade ou inflexão.

15/ Renegociações, em sentido amplo, ocorrem tanto seguindo parâmetros normais de mercado quanto seguindo parâmetros que as instituições financeiras não admitiriam usualmente, mas os aceitam para solucionar eventual redução na capacidade de pagamento do tomador. Considera-se reestruturação qualquer renegociação que implique a concessão de vantagens à contraparte em decorrência da deterioração da sua qualidade creditícia ou da qualidade creditícia do interveniente ou do instrumento mitigador. Renegociações são informadas pelas instituições financeiras no Sistema de Informações de Crédito (SCR); reestruturações são estimadas por meio de algoritmo interno do BC que identifica as operações vencidas e convertidas em operações a vencer, sem pagamento integral dos valores em atraso (capitalização dos saldos em atraso). Esta edição do REF passa a utilizar versão revista da métrica de reestruturação, ajustada para reconhecer situações adicionais em que ocorrem reestruturações, bem como para aumentar o poder de identificação de operações de maior risco.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

6

14

23

31

40

48

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

% a.a.

Gráfico 1.2.4 – Taxa média de juros

Bancos privadosBancos públicos comerciaisBancos públicos de desenvolvimento

3,6 3,6

2,8 2,8 3,5 3,8

0

24

48

72

96

120

0,0

1,2

2,4

3,6

4,8

6,0

Dez2012

Dez2013

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Dez2017

Gráfico 1.2.6 – Baixas a prejuízo

Baixas a prejuízo (eixo da esquerda)% das operações de crédito (eixo da direita)

R$ bi %

0,0

1,2

2,4

3,6

4,8

6,0

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

Bancos privadosBancos públicos comerciaisBancos públicos de desenvolvimentoTotal

%

Gráfico 1.2.5 – Inadimplência por controle

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 19

Por sua vez, a carteira de ativos problemáticos16 (Gráfico 1.2.8) do sistema apresentou sinais importantes de melhora no segundo semestre de 2017, sendo a única exceção os bancos públicos de desenvolvimento. Nos bancos privados, tal movimento foi uniforme ao longo do semestre e é continuação de um processo de melhora da carteira iniciado em 2016.

Na análise por componentes da carteira de ativos problemáticos, nota-se que as operações classificadas entre E e H mantiveram seu ritmo de crescimento (Gráfico 1.2.9), enquanto a parcela referente às reestruturações apontou um arrefecimento no semestre (Gráfico 1.2.10)17. Ou seja, com o provável fim da recessão pela qual o país recentemente passou, diminuiu-se o movimento de reestruturações, mas ainda deve ser mantida uma participação importante no portfólio das operações cujo tomador – ainda que não inadimplente – tenha apresentado piora na qualidade creditícia (carteira entre E e H), até que mostre sinais de melhoras efetivas.

O nível de provisões, quando comparado com a carteira de ativos problemáticos, conservou-se acima de 80% durante todo o ano de 2017, indicando que o sistema financeiro vem mantendo provisionamento em linha com o perfil de risco da carteira de crédito (Gráfico 1.2.11). O nível de provisões inferior ao valor total da carteira de ativos problemáticos é esperado, pois nem todas as operações assim classificadas serão baixadas para prejuízo. De fato, parte dos ativos problemáticos serão renegociados, voltarão à normalidade, possuem garantias ou ainda algum nível de recuperação. Nesse mesmo sentido, verifica-se que o nível das baixas para prejuízo18 continua a se manter alinhado com o indicador de inadimplência, e ambos se encontram significativamente abaixo do volume de provisões (Gráfico 1.2.12).

Pessoa jurídica

A melhora nas condições macroeconômicas em 2017 impactou positivamente a situação econômico-financeira

16/ No Brasil, a definição de ativo problemático foi incorporada à estrutura regulatória por meio da Resolução nº 4.557, de 23 de fevereiro de 2017, que dispõe sobre a estrutura de gerenciamento de riscos e a estrutura de gerenciamento de capital. Para fins de monitoramento da estabilidade financeira, serão aqui consideradas como ativos problemáticos as operações de crédito em atraso há mais de noventa dias e as operações nas quais existem indícios de que respectiva obrigação não será integralmente honrada.

17/ A queda no semestre foi influenciada pelos bancos privados, que passou a registrar níveis comparáveis àqueles vigentes antes da crise. Bancos públicos ainda demonstram grande intensidade no uso dessa prática, principalmente em créditos imobiliários voltados às pessoas físicas.

18/ Operações de crédito baixadas nos últimos doze meses.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0,0

2,1

4,2

6,3

8,4

10,5

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

Bancos privadosBancos públicos comerciaisBancos públicos de desenvolvimentoTotal

%

Gráfico 1.2.8 – Carteira de ativos problemáticosPor controle

0,0

1,8

3,6

5,4

7,2

9,0

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

%Gráfico 1.2.9 – Carteira de ativos problemáticos

Operações inadimplentesOperações inadimplentes ou reestruturadasOperações inadimplentes ou reestruturadas ou classificadas entre E e H

0,0

1,4

2,8

4,2

5,6

7,0

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

%

Bancos privadosBancos públicos comerciaisBancos públicos de desenvolvimentoTotal

Gráfico 1.2.7 – Operações com atraso entre 15 e 90 dias

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 20

das empresas. Por um lado, o volume de requerimentos de recuperação judicial ficou abaixo do observado no ano anterior19; por outro, a geração operacional de caixa (earnings before interest, taxes, depreciation, and amortization – EBITDA20, Gráfico 1.2.13) e a rentabilidade das empresas de capital aberto registraram leve aumento no segundo semestre de 2017.

O cenário operacional mais positivo para as empresas em 2017, no entanto, não se manifestou em retomada do crédito bancário, devido ao movimento de desalavancagem das empresas e à existência de relevante capacidade ociosa na indústria21. Nesse sentido, o estoque do crédito doméstico às pessoas jurídicas encerrou dezembro de 2017 com redução de 6,7% em comparação com o ano anterior, influenciado principalmente pela queda no crédito direcionado. Apesar de também haver retração na comparação interanual do crédito livre, observa-se uma retomada consistente dessa fonte de financiamento no segundo semestre de 2017, sobretudo pelas empresas de pequeno e médio porte (Gráfico 1.2.14).

Não obstante à queda do crédito bancário doméstico, o mercado de capitais registrou aumento significativo em 2017, tendo crescido R$46,4 bilhões, ou 17,6% na comparação interanual (Gráfico 1.2.15)22. Tal mudança na estrutura de financiamento não tem sido uniforme, sendo mais concentrada em poucas empresas – o que é esperado, visto que o mercado de capitais é pouco difundido – e, em setores específicos, como “Petroquímico”, “Energia” e “Automotivo” (Gráfico 1.2.16). 23

As empresas que acessaram o mercado de capitais em 2017 (R$81,7 bilhões) diminuíram seus passivos em crédito livre (R$12,5 bilhões), em crédito direcionado (R$17,8 bilhões) e em crédito externo (R$6,2 bilhões), ou seja, ainda que se possa falar em alguma migração das demais fontes de financiamento (R$36,5 bilhões), a maior parte do incremento em mercado de capitais dessas empresas é referente a novos financiamentos.

19/ Ver Anexo 1.2.1, que mostra o volume de requerimentos de recuperações judiciais registrado pela Serasa Experian.

20/ EBITDA: lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização. 21/ Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o indicador de

utilização da capacidade instalada permaneceu abaixo de 80% em 2017.22/ Para dados do estoque de crédito amplo por fonte de financiamento, ver

Anexo estatístico, Gráfico 1.2.15.23/ Para a agregação setorial, os códigos da Classificação Nacional de

Atividades Econômicas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) das empresas foram agrupados em 25 setores econômicos, considerando o conceito de cadeia produtiva. No Anexo Estatístico deste REF, apresentamos os dados de variação interanual nos componentes de crédito bancário, mercado de capitais e mercado externo, abertos setorialmente.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0

4

8

12

16

20

1º Sem2014

2º Sem2014

1º Sem2015

2º Sem2015

1º Sem2016

2º Sem2016

1º Sem2017

2º Sem2017

Bancos privadosBancos públicos comerciaisBancos públicos de desenvolvimento

R$ bi

Gráfico 1.2.10 – Fluxo de reestruturação acumulada no semestre

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Dez

Gráfico 1.2.11 – Índice de cobertura (IC)

IC da carteira de ativos problemáticos

2,0

3,5

5,0

6,5

8,0

9,5

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

%

Carteira de ativos problemáticosOperações classificadas entre E e H ou inadimplentesProvisõesOperações inadimplentesBaixa para prejuízo dos doze meses seguintes

Gráfico 1.2.12 – Inadimplência, provisões, baixas para prejuízo e carteira de ativos problemáticos

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 21

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

A tendência para os próximos meses é de manutenção deste mesmo cenário: retomada do crédito livre conforme a recuperação dos indicadores macroeconômicos for se consolidando e de busca por fontes alternativas de financiamento entre as empresas com acesso ao mercado de capitais e externo.

Com relação à inadimplência, no segundo semestre de 2017 o indicador inverteu a trajetória de alta observada nos primeiros seis meses do ano e registrou queda, encerrando dezembro de 2017 em 2,92% (Gráfico 1.2.17).

Nas pequenas e médias empresas (PMEs), há fortes indícios de que o ciclo de materialização de riscos chegou ao fim. Nesse segmento, a entrada de créditos inadimplentes caiu ao longo do semestre de forma a compensar a redução no estoque de crédito, consolidando a percepção de melhora nesse segmento de crédito PJ. O estoque de ativos problemáticos das PMEs (Gráfico 1.2.18) também sugere um cenário de recuperação, haja vista as sucessivas quedas registradas desde maio de 2017 (Gráfico 1.2.19).

Nas grandes empresas, por outro lado, a melhora no risco ainda não é observada. O volume de créditos vencidos caiu no semestre, porém a queda foi devida à baixa para prejuízo de operações de empresas em recuperação judicial do setor de “Telecomunicações”.

A carteira de ativos problemáticos das grandes firmas subiu de 4,9% (dezembro de 2016) para 7,2% (dezembro de 2017, Gráfico 1.2.18). Nos últimos seis meses, essa deterioração ocorreu principalmente em função do crescimento da carteira classificada entre E e H adimplente24, sendo os setores de “Construção, Madeira e Móveis” e “Transportes” os que registraram maior aumento (Tabela 1.2.1).

Em resumo, o reflexo do cenário mais positivo na economia real é mais evidente para as empresas de pequeno e médio porte. Por outro lado, o ciclo de materialização de riscos ainda deve perdurar entre as empresas de grande porte, visto que i) o estoque de operações de empresas em dificuldade financeira é significativo; ii) a geração operacional de caixa dá sinais de melhora, mas ainda em níveis baixos; iii) a pré-inadimplência se mantém em patamar elevado; e iv) não se visualiza uma estabilização no estoque de ativos problemáticos.

24/ Ver Anexo 1.2.3 para o valor do estoque de carteira, com abertura setorial.

0,0

1,6

3,2

4,8

6,4

8,0

0,0

0,6

1,2

1,8

2,4

3,0

Dez2010

Dez2011

Dez2012

Dez2013

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Set2017

EBITDA Despesa financeira líquida ICJ (eixo à direita)

Gráfico 1.2.13 – Índice de cobertura de juros (medianas)Denominador e numerador (deflacionados): dez/2010 = 1

90

114

138

162

186

210

Dez2013

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Dez2017

Crédito livre Crédito direcionadoMercado de capitais Mercado externoMercado externo - em US$

Gráfico 1.2.15 – Crédito amplo – Pessoa jurídicaBase dez/2013 = 100

-20

-10

0

10

20

30

Dez2013

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Dez2017

%

Gráfico 1.2.14 – Crescimento anual da carteiraPor porte de empresa

PME – Total PME – Crédito livrePME – Crédito direcionado Grande – TotalGrande – Crédito livre Grande – Crédito direcionado

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 22

Pessoa física

Diferentemente do exposto para as pessoas jurídicas, o crédito bancário voltado às pessoas físicas consolida em 2017 sua tendência de recuperação, tanto na melhora da qualidade do portfólio quanto na retomada das concessões. O destaque foi a carteira de financiamento de veículos, a qual volta a crescer depois de vários anos de retração (Gráfico 1.2.20).

As liberações de novos empréstimos apresentaram crescimento nas principais modalidades de crédito, com destaque para consignado (influenciado pelo refinanciamento de carteiras), veículos (incremento de vendas) e cartão de crédito (retomada no consumo). A carteira de financiamento habitacional – cujas concessões mantiveram-se desaquecidas em 2017 – reflete uma política mais restritiva adotada por algumas instituições financeiras, principalmente com respeito ao limite máximo da relação entre o valor financiado e a avaliação do imóvel (Gráfico 1.2.21).

A recuperação do crédito a pessoas físicas foi motivada pelo ambiente econômico mais favorável, especialmente com a inflação e as taxas de juros em queda, pela melhora no mercado de trabalho, pela redução do desemprego25 e pelo aumento da renda das famílias26. Essas condições, aliadas ao alongamento dos prazos das dívidas proporcionado pela maior participação do crédito imobiliário e do consignado nos últimos anos, contribuíram para a queda no comprometimento de renda27 e no endividamento das famílias28, permitiram a retomada no consumo e a volta da disposição para tomar crédito. Esses movimentos possibilitaram também redução no risco da carteira voltada às pessoas físicas, com queda na inadimplência e nos ativos problemáticos. Tal movimento ocorreu nas principais modalidades, com destaque para as linhas mais voltadas ao consumo, justamente as mais sensíveis às condições econômicas (Gráfico 1.2.20).

Após vários semestres de deterioração, a carteira de crédito imobiliário mostrou uma redução de risco no segundo semestre de 2017, evidenciada pela queda dos ativos problemáticos e do fluxo de reestruturação (Gráfico 1.2.22 e 1.2.23, respectivamente). A redução do volume

25/ Série temporal nº 24.380 – População desocupada – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC).

26/ Série temporal nº 24.382 – Rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas – PNADC.

27/ Série temporal nº 19.881 – Comprometimento de renda das famílias – serviço da dívida – com ajuste sazonal.

28/ Série temporal nº 19.882 – Endividamento das famílias.Anexo estatístico

Tabela 1.2.1 – Ativos problemáticos por setor econômico

% da carteira ativadez/16 jun/17 dez/17

Administração Pública e ONGs 1,30 1,81 2,26

Agricultura 5,93 4,99 5,11

Alimentos 7,72 8,73 8,11

Atividades Financeiras 1,07 1,18 2,12

Automotivo 7,66 6,68 5,99

Bebidas e Fumo 7,02 7,73 6,35

Construção, Madeira e Móveis 16,79 18,30 22,32

Criação de Animais 5,21 5,01 4,91

Eletroeletrônico 11,86 12,42 9,33

Energia 2,65 3,11 3,21

Máquinas e Equipamentos 14,67 15,69 14,56

Mídia e Lazer 16,71 16,23 15,22

Outros 17,72 15,31 14,06

Papel e Celulose 1,82 2,05 2,23

Petroquímico 3,30 4,62 4,64

Químico, Farmacêutico e Higiene 8,77 8,27 7,40

Saúde, Saneamento e Educação 6,31 6,77 5,99

Serviços 11,81 12,04 11,58

Siderurgia e Metalurgia 6,37 7,16 6,18

Sucroalcooleiro 16,69 17,49 16,62

Telecomunicações 34,96 35,31 22,38

Têxtil e Couros 15,99 14,93 13,17

Transportes 11,23 12,14 15,25

Varejo 8,80 10,28 8,27

-30

-20

-10

0

10

20

30

Crédito bancário Mercado de capitais Mercado externo Total

Gráfico 1.2.16 – Variação no crédito amplo entre 2017 e 2016Setores econômicos com maior variação absoluta

Energia

Petroquímico

Automotivo

Transportes

Siderurgia e Metalurgia

Construção,Madeira e

Móveis

R$ bi

Anexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 23

Anexo estatístico Anexo estatístico

Anexo estatístico Anexo estatístico

Anexo estatístico Anexo estatístico

0

2

3

5

6

8

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Dez2017

Gráfico 1.2.17 – InadimplênciaPessoa jurídica

Empresas de pequeno e médio porteEmpresas de grande porteTotal

%

0

3

6

9

12

15

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Dez2017

Empresas de pequeno e médio porteEmpresas de grande porteTotal

Gráfico 1.2.18 – Carteira de ativos problemáticosPessoa jurídica

% da carteira ativa

70

88

106

124

142

160

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Dez2017

Carteira de ativos problemáticos Carteira total

Gráfico 1.2.19 – Carteira de ativos problemáticosPequenas e médias empresas (dez/2014 = 100)

0

40

80

120

160

200

0

5

10

15

20

25

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

R$ bi

Imobiliário ConsignadoVeículos Não consignadoCartão de crédito (esq.) Total (esq.)

Gráfico 1.2.21 – Carteira de crédito a pessoas físicasConcessões deflacionadas e dessazonalizadas

0,0

3,6

7,2

10,8

14,4

18,0

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

Gráfico 1.2.22 – Ativos problemáticos Principais modalidades de pessoas físicas

Imobiliário Consignado Cartão de créditoNão consignado Veículos Total

%

-20

-10

0

10

20

30

40

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

Imobiliário Consignado Cartão de créditoNão consignado Veículos Total

%

Gráfico 1.2.20 – Carteira de crédito a pessoas físicas Crescimento anual

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 24

de concessões a partir de 2015 e a adoção de políticas mais conservadoras pelas instituições financeiras, principalmente devido ao limite máximo da relação entre o valor financiado e a avaliação do imóvel, contribuíram para essa melhora da qualidade da carteira imobiliária.

O fluxo ainda elevado de retomada de imóveis em garantia dos tomadores inadimplentes também contribuiu para a redução dos ativos problemáticos na carteira de crédito imobiliário. Entretanto, com as dificuldades enfrentadas pelas instituições financeiras na venda dos imóveis retomados, o saldo de bens não de uso (BNDU) nos ativos das instituições financeiras continua em trajetória de forte crescimento, embora ainda represente 1,2% da carteira ativa (Gráfico 1.2.24).

Em meio à recuperação incipiente da economia e dos indicadores de confiança, a carteira de crédito voltada às pessoas físicas demonstrou, no último semestre, melhora tanto em termos dos riscos incorridos quanto em alguma recuperação nas concessões de crédito novo. Essa recuperação se materializou – e assim deve continuar – especialmente nas modalidades de crédito mais voltadas ao consumo das famílias.

Em resumo, consonante com o divulgado no REF de outubro de 2017, a retomada nas concessões de crédito se concentrou nas pessoas físicas e nos bancos privados. Ao menos no curto prazo, tal equilíbrio não deve se alterar, com os empréstimos do setor bancário voltados às empresas passando por um período de baixo crescimento.

1.3 Rentabilidade

O sistema bancário manteve o movimento de recuperação da rentabilidade no segundo semestre de 2017, com o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) 29 alcançando 13,8% em dezembro, aumento de 1,3 p.p. em relação a junho de 2017 (Gráfico 1.3.1). Quando comparada à proxy para taxa livre de risco30, observa-se maior recuperação, devido ao movimento de redução da Selic. A melhora do

29/ São realizados ajustes com o objetivo de desconsiderar resultados não recorrentes relevantes na avaliação do lucro no período analisado. Destaca-se, entre os ajustes realizados, a neutralização do efeito de reversão de provisão passiva em virtude de recálculo de passivo atuarial com Plano de Saúde (alteração de limitação estatutária) em uma instituição de grande porte (efeito aproximado de R$4 bilhões sobre o lucro líquido de 2017).

30/ Para efeito de comparação com o ROE, utilizou-se como proxy para taxa livre de risco a média anual da Selic acumulada nos últimos 36 meses, multiplicada por 0,85 para descontar efeitos tributários. O prazo de 36 meses foi definido com base no prazo médio da carteira de crédito, principal fonte de receita do sistema bancário.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

4,2 5,4 4,46,7

9,7 10,5 9,3 7,7

6,86,6

6,9

8,9

9,710,2

10,4

9,5

0

5

10

15

20

25

1º Sem2014

2º Sem2014

1º Sem2015

2º Sem2015

1º Sem2016

2º Sem2016

1º Sem2017

2º Sem2017

Gráfico 1.2.23 – Fluxo de reestruturaçãoPessoas físicas

Imobiliário Demais modalidades

R$ bi

0,0%

0,3%

0,6%

0,9%

1,2%

1,5%

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

% da carteira ativa

Gráfico 1.2.24 – Bens não de uso próprioImóveis habitacionais

Anexo estatístico

0

20

40

60

80

100

Dez2011

Jun2012

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Dez0

4

8

12

16

20

Lucro Líquido (eixo da esquerda) 1/ROE do SB 1/Prêmio do ROE do SB sobre a taxa livre de risco

1/ Desconsidera resultados não recorrentes.

R$ bi %

Gráfico 1.3.1 – Retorno sobre o patrimônio líquido (ROE)1/

Acumulado nos últimos doze meses

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 25

ambiente econômico após o período de recessão permitiu a redução das despesas de provisões para crédito de difícil liquidação (PCLD), com efeitos positivos para margem de juros líquida. Não obstante, a conjunção dos efeitos de provável desaceleração do ciclo de redução da PCLD e de aumento gradual de pressão sobre as margens de juros, compensados por potencial redução das despesas administrativas e retomada gradual do crescimento de crédito, traz perspectiva de arrefecimento do movimento de recuperação da rentabilidade em 2018.

A margem bruta de juros31 manteve-se praticamente estável ao longo do 2º semestre do ano. Apesar da redução da rentabilidade das operações de crédito, decorrente de menores taxas cobradas nas novas operações em consonância com a redução da taxa Selic, esse efeito é mais do que compensado pela redução dos custos de captação, resultando algum ganho na margem bruta de crédito. Entretanto, ao considerar a margem bruta de juros mais abrangente (crédito mais títulos) (Gráfico 1.3.2), a queda do spread na intermediação de Títulos e Valores Mobiliários (TVM) praticamente anula esse ganho, estabilizando a margem bruta de juros no período.

A menor necessidade de PCLD, no entanto, manteve a margem líquida de juros em movimento ascendente ao longo de todo o ano de 2017, com efeito positivo sobre o lucro líquido. Não obstante, verifica-se um ritmo de desaceleração da redução de PCLD no segundo semestre (Gráfico 1.3.3). Prospectivamente, a pressão sobre as margens de crédito de novas concessões e sobre a carteira de títulos reforça a relevância da necessidade da retomada do crescimento do crédito e da contínua busca por outras fontes de receitas para a sustentação dos resultados dos bancos.

As receitas com serviços mantiveram crescimento, com o gradual aumento das rendas de tarifas bancárias e das rendas de administração de fundos32. No último trimestre de 2017, a métrica de eficiência operacional começou a refletir os efeitos positivos nos bancos que realizaram redução no quadro de pessoal33 e do fechamento das agências (Gráfico 1.3.4). No sistema, entretanto, as despesas do 2º semestre ainda superaram as do primeiro período, decorrente dos gastos extraordinários relacionados aos próprios programas de reestruturação

31/ Representa a diferença entre o retorno da carteira de crédito e títulos e o custo de captação.

32/ O aumento nas rendas de administração de fundos decorre principalmente do aumento do volume de recursos administrados.

33/ Planos de Demissão Voluntária – PDV.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0,0

2,4

4,8

7,2

9,6

12,0

Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Dez

%

Margem bruta (crédito + títulos)Margem líquida (crédito + títulos)Custo de captação

Gráfico 1.3.2 – Margem de jurosAcumulado nos últimos doze meses

0

28

56

84

112

140

Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Dez

R$ bi

Despesas de provisão líquidas (acumulado doze meses)Despesas de provisão líquidas (acumulado três meses)

Gráfico 1.3.3 – Despesas de provisão

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 26

e também ao aumento sazonal de final de ano. Dessa forma, reforça-se a perspectiva de ganho gradual e crescente de eficiência operacional ao longo de 2018, com reflexos positivos para o índice de cobertura de despesas administrativas por receitas de serviços, decorrente, ainda, das reestruturações e de ganhos de sinergia de processos de aquisições (Gráfico 1.3.5).

A quantidade e a representatividade de bancos com rentabilidade acima da proxy para taxa livre de risco mantiveram movimento ascendente, demonstrando que a recuperação da rentabilidade está disseminada pelo sistema bancário. Da mesma forma, houve redução do número de instituições com ROE abaixo de zero no sistema bancário (Gráfico 1.3.6). A recuperação dos bancos de menor porte, os mais afetados pelo período de ambiente econômico instável, reforça a resiliência e a estabilidade do sistema bancário. Além disso, destaca-se que todos os bancos sistemicamente importantes encerraram o período com retornos sobre o patrimônio líquido acima da proxy para taxa livre de risco.

A recuperação da rentabilidade do sistema bancário foi sustentada, de forma relevante, pela redução das despesas de PCLD, consequência da melhora do ambiente econômico e da recuperação da qualidade dos ativos. No próximo semestre, a desaceleração da contração das despesas com provisões, acompanhada pela potencial redução dos spreads, deve exercer pressão sobre os retornos. Contudo, a materialização dos ganhos de eficiência associada com a busca por fontes alternativas de receitas e a retomada do crescimento de crédito trazem perspectiva positiva. Ao fim, a expectativa é de desaceleração da trajetória de recuperação da rentabilidade do sistema.

1.4 Solvência

A solvência do sistema bancário apresentou evolução positiva no semestre, reforçando a solidez e não configurando risco para a estabilidade financeira. As métricas de capitalização e alavancagem encontram-se em patamares robustos, mesmo considerando a plena implementação do arcabouço de Basileia III.

A melhora dos índices de capitalização está presente em todas as métricas (Gráfico 1.4.1), mantendo-se em níveis bastante superiores aos requerimentos regulatórios. Destaque para o maior crescimento relativo dos bancos públicos, que, apesar disso, ainda mantêm menor folga de capital que os privados. A Razão de Alavancagem

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

50

54

58

62

66

70

Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Dez

%

Sistema BancárioBancos com reestruturações administrativas anunciadas (PDV e/ou fechamento de agências)Bancos sem reestruturações administrativas anunciadas (PDV e/ou fechamento de agências)

Gráfico 1.3.4 – Índice de cobertura de despesas administrativas por receitas de serviçosAcumulado nos últimos doze meses

30

5150

2642

63

0

20

40

60

80

100

ROE < 0 0 < ROE < 0,85 * Selic ROE > 0,85 * Selic

Junho 2017 Dezembro 2017

1/ Os valores acima das barras referem-se ao número de IFs com RSPL anual pertencente ao intervalo correspondente. Utilizou-se como proxy para taxa livre de risco a média anual da Selic acumulada nos últimos 36 meses, multiplicada por 0,85 para descontar efeitos tributários.

% dos ativos do sistema

Gráfico 1.3.6 – Distribuição de frequência do retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) anual1/

36,2

111,9

38,5

115,6

40,4

119,4

42,1

120,9

42,9

122,0

44,2

121,262,5

97,1

64,2

100,5

65,4

100,8

62,7

99,0

61,6

101,0

60,1

101,8

23,1 24,7 24,9 25,9 26,6 27,611,9 12,6 13,3 13,7 13,8 13,8

0

50

100

150

200

250

Dez2015

Jun2016

Dez Jun2017

Set Dez

R$ bi

Receitas: tarifas bancárias Receitas: cartões e outrosReceitas: adm. fundos e merc. capitais Receitas: serv. cobrança e garantiasDespesas com pessoal Demais despesas administrativas

Gráfico 1.3.5 – Principais componentes das despesas administrativas e receita de serviçosAcumulado nos últimos doze meses

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 27

(RA) apresentou o mesmo comportamento, situando-se em patamar bastante superior ao requerimento mínimo que entrou em vigor a partir de 201834.

A elevação dos lucros, oriundos principalmente da redução das provisões para perdas de créditos, constituiu o principal vetor para a elevação dos níveis de capital, especialmente o Capital Principal, de melhor qualidade. Os ativos ponderados pelo risco (RWA), por sua vez, reportaram leve queda (-0,5%), com movimentos diferentes dos bancos públicos (-5,5%) e privados (+2,4%). A redução do RWA dos bancos públicos decorre da queda no volume de crédito, enquanto o aumento verificado no RWA dos privados está em linha com a tendência de retomada da concessão de crédito liderada por essas instituições.

Refletindo a trajetória positiva da solvência do sistema, a simulação da plena implementação de Basileia III (Gráfico 1.4.2) resulta em crescimento em todos os índices de capitalização e na RA. A distribuição de frequência para a projeção do Índice de Capital Principal (ICP) (Gráfico 1.4.3) evidencia crescimento na faixa mais elevada em decorrência da movimentação ascendente de uma instituição de grande porte. Entidades responsáveis por 99,9% dos ativos do sistema possuem ICP projetado acima do requerimento mínimo de 7,0%, a vigorar a partir de 2019.

Considerando a plena implementação de Basileia III em 2019, verifica-se expressiva redução da necessidade projetada de capital, de R$10,1 para R$1,1 bilhão no semestre (Gráfico 1.4.4), o equivalente a 0,2% do patrimônio de referência (PR) do sistema. Destaque para a eliminação da necessidade de capital projetada dos bancos públicos, em linha com a maior retenção de lucros e redução da exposição.

34/ A Resolução nº 4.615, de 30 de novembro de 2017, estabeleceu o requerimento mínimo para a RA de 3,0% a partir de 2018, a ser aplicado às instituições autorizadas pelo BC enquadradas nos Segmentos 1 (S1) ou 2 (S2).Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

10,8 11,7 12,4

11,812,6

13,414,215,5

16,2

6,7 7,1 7,5

0,0

3,5

7,0

10,5

14,0

17,5

dez/16 jun/17 dez/17 dez/16 jun/17 dez/17

Índices de Capitalização Razão de Alavancagem

(%)

Gráfico 1.4.2 – Índices de Capitalização e alavancagem Basileia IIIProjeção 2019

Índice de Capital Principal Índice de PR Nível IÍndice de Basileia Razão de Alavancagem

3 0 0

16

112

3 0 0

13

115

0

12

24

36

48

60

0 - 4.5 4.5 - 5.125 5.125 - 7 7 - 10.5 >10.5

Simul. em Junho 2017 Simul. em Dezembro 2017

%

Gráfico 1.4.3 – Índice de Capital Principal Basileia IIIProjeção 2019Distribuição de frequência ponderada por ativos1/

1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com ICP projetado pertencente àquele intervalo.

12,713,5

13,7 14,5

17,3 18,1

0

4

8

12

16

20

Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

%

Índice de Capital Principal Índice de PR Nível I Índice de Basileia

Gráfico 1.4.1 – Índices de capitalização eexigência regulatória1/

• 1/ As setas representam os requerimentos regulatórios para os diferentes níveis de capital,incluindo o ACPConserv ação ( 5,75% de capital principal, 7,25% de capital nível I e 10,5% de capital total).

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 28

A distribuição de dividendos evidencia movimentos de otimização da estrutura de capital (Gráfico 1.4.535). Enquanto os bancos públicos aumentaram a retenção de resultados, fortalecendo, assim, sua estrutura de capital, os bancos privados apresentaram comportamento diverso, com maior distribuição, mas sem comprometimento dos níveis de capitalização. Nesse sentido, os níveis e a qualidade do capital detido para suportar os riscos assumidos pelas instituições financeiras mostram-se robustos, mesmo com a proximidade da conclusão do cronograma de ajustes prudenciais em 2018.

Em perspectiva, a solvência não constitui risco para a estabilidade financeira. O sistema deve se manter adequadamente capitalizado nos próximos períodos, mesmo diante dos efeitos advindos da plena implementação de Basileia III e da materialização de cenários caracterizados pela retomada de concessão de crédito e estabilização dos níveis de rentabilidade.

1.5 Testes de estresse de capital

Os testes de estresse de capital são ferramentas de avaliação da resiliência do sistema bancário quanto a sua capacidade de absorção de perdas em cenários macroeconômicos adversos. Os testes simulam os impactos nos índices de capital, provenientes de choques extremos nas principais variáveis econômico-financeiras. Complementam essa simulação análises de sensibilidade aos principais fatores de risco, tomados individualmente, e avaliação do contágio entre as instituições financeiras36.

Os resultados dos testes de estresse indicam que o sistema bancário possui adequada capacidade de absorção de perdas em todos os cenários simulados, sem ocorrência de desenquadramentos em montante relevante. Os resultados são consequência do confortável nível de capitalização,

35/ O lucro líquido contábil e a distribuição de resultados de cada exercício foram apurados utilizando informações do conglomerado financeiro (2011 a 2014) e do conglomerado prudencial (2015 a 2017). A distribuição de resultados compreende os juros sobre o capital próprio (JCP) e a complementação sob a forma de dividendos. São considerados como dividendos os resultados do período não incorporados nas reservas de lucros (incluindo lucros/prejuízos acumulados) e a redução de reservas não destinadas ao aumento do capital social. Cabe ressaltar que os dividendos são apurados em termos líquidos em uma data-base (mês). Assim, eventos de distribuição de dividendos combinados com aumento de capital, mesmo que mediante a transferência de outros ativos por parte do controlador, são tratados pelos seus efeitos líquidos, o que se julga mais relevante para avaliação do comportamento do capital.

36/ O escopo no exercício do contágio alcança todas as instituições autorizadas a funcionar pelo BC, exceto consórcios e cooperativas. Já o teste de estresse abrange apenas o sistema bancário.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0,8 0,52,0 0,3

5,8

0,7

0,40

2

4

6

8

10

Simul. em jun/17 Simul. em dez/17 Simul. em jun/17 Simul. em dez/17

Bancos públicos comerciais Bancos privados

R$ bi

CP CC N2

Gráfico 1.4.4 – Simulação da necessidade de capital 2019

ACPConservação ACPSistêmico

7,8

1,1

2,2

67,6% 67,0%

32,2%

28,0%

59,9%54,8%

0

20

40

60

80

100

0

20

40

60

80

100

2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

R$ bi

Lucro líquido contábilDistribuição de resultados (dividendos + JCP)% distribuição de resultados – bancos privados (eixo esquerdo)% distribuição de resultados – bancos públicos (eixo esquerdo)% distribuição de resultados – total (eixo esquerdo)

%

Gráfico 1.4.5 – Distribuição de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP)

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 29

da resiliência da rentabilidade das instituições, mesmo em cenários extremos, e do uso disseminado de instrumentos de hedge, que limitam o impacto provocado pelas exposições aos principais fatores de risco.

A análise de sensibilidade, por sua vez, aponta para efeitos pouco relevantes no capital das instituições, provenientes de choques abruptos nas taxas de juros e câmbio. Quanto ao risco de crédito, verifica-se a redução da necessidade de capital em comparação a junho de 2017, decorrência da melhora na qualidade da carteira. A sensibilidade à variação de preços de imóveis residenciais também apresentou redução da necessidade de capital, e segue refletindo a saudável exposição do sistema bancário ao mercado imobiliário.

1.5.1 Análise de cenário – Testes de estresse nas condições macroeconômicas

A Tabela 1.5.1.1 apresenta as variáveis que compõem os cenários analisados: Cenário Base, Vetor Autorregressivo (VAR) estressado, Quebra estrutural e Pior histórico. Os cenários apresentam diferentes valores estressados em cada um dos seis trimestres que compõem o horizonte do teste, sendo que a Tabela 1.5.1.1 apresenta apenas os valores para o último trimestre.

Tabela 1.5.1.1 – Cenários de estresse macroeconômico (junho de 2019) CenáriosVariáveis Dez 2017 Cenário base1/ Cenários adversos3/

VAR estressado (α = 5%) Quebra estrutural Pior histórico

Atividade econômica (IBC-Br)

1,3% 3,0% 2,5% 0,5% 2,8%

Juros(Selic)

7,5% 8,0% 4,9% 4,9% 5,0%

Câmbio(R$/US$)

3,25 3,38 3,19 3,45 3,73

Inflação(IPCA)

2,9% 4,2% 2,9% 13,7% 5,1%

Desemprego(PNAD-C IBGE)

11,8% 11,8% 21,6% 21,6% 13,4%

Prêmio de risco(EMBI+ Br)2/

241 241 475 475 235

Juros americanos(Treasury 10 anos)4/

2,4% 1,2% 3,1% 3,1% 2,3%

1/ As variáveis obtidas da pesquisa Focus, coletadas em 30 de dezembro de 2017, são a previsão para o PIB, a Selic, o câmbio e a inflação para junho de 2019. O desemprego e o prêmio de risco permanecem constantes.

2/ Na tabela constam os valores máximos atingidos pelo prêmio de risco Brasil (EMBI+Br) em cada cenário. Para os cenários VAR estressado e quebra estrutural, o valor máximo, igual a 475, é atingido em março de 2018, retornando gradativamente ao valor inicial em junho de 2019. No cenário de pior histórico, o máximo é atingido em junho de 2018.

3/ Os critérios de construção de cada cenário são descritos no anexo Conceitos e metodologias – Estresse de capital.

4/ Os juros americanos seguem trajetória utilizada pelo Federal Reserve no Dodd-Frank Act Stress Testing (DFAST) 2018 (https://www.federalreserve.gov/newsevents/pressreleases/files/bcreg20180201a1.pdf). Para o cenário base, é utilizada a projeção do cenário Adverse do DFAST, enquanto que para os cenários VAR estressado e quebra estrutural são utilizadas as projeções do cenário Baseline.

Anexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 30

O cenário VAR Estressado assume o pior lucro antes de imposto de renda para o sistema financeiro, obtido com base em quatro projeções feitas por meio do modelo VAR. O cenário Quebra Estrutural é estimado pelas trajetórias de cada variável endógena ao nível de significância de 5,0% (unicaudal na direção mais adversa), sendo que o intervalo de projeção de cada variável depende apenas da variância de sua projeção e desconsidera as relações de dependências entre as variáveis e a plausibilidade do cenário. Para o cenário Pior Histórico, são simuladas repetições do comportamento das variáveis macroeconômicas em janelas de seis trimestres desde julho de 2003, escolhendo-se aquele que resultaria no mais baixo lucro antes do imposto de renda.

No Gráfico 1.5.1.1, é apresentada a proporção da carteira de ativos problemáticos em relação ao total da carteira para todos os cenários. No cenário de VAR estressado, a inadimplência acrescida das reestruturações projetadas atingiria o máximo de 9,3% em junho de 2019, superando as provisões existentes em dezembro de 2017 em 3,1 p.p.

A necessidade37 estimada de capitalização do sistema, para evitar tanto desenquadramentos38 quanto limitações à distribuição de lucros, seria em torno de 0,9% do PR atual do sistema, conforme mostra o Gráfico 1.5.1.2.

Em comparação aos resultados dos três semestres anteriores (Gráfico 1.5.1.3), observa-se redução da necessidade de capital do SFN, alcançando nível próximo ao de junho de 2016 no último trimestre de projeção.

A análise da dispersão dos IBs evidencia que a maioria das instituições continuaria apresentando índices de capitalização acima do mínimo regulamentar (10,5%). Esse grupo representa cerca de 98% do ativo total do sistema (Gráfico 1.5.1.4).

1.5.2 Análise de sensibilidade

A análise de sensibilidade avalia o impacto sobre o capital do sistema bancário, de variações nas taxas de juros e câmbio, na qualidade do crédito medida pelo nível de ativos problemáticos e no preço de imóveis residenciais,

37/ O conceito de necessidade de capital engloba valores para evitar tanto desenquadramentos quanto limitações de distribuição de lucros impostas pela Resolução CMN nº 4.193, de 2013, na qual instituições financeiras consideradas sistemicamente importantes estão sujeitas ao Adicional de Capital Principal Sistêmico – ACPSistêmico.

38/ Uma instituição é considerada desenquadrada se não atender a, pelo menos, um dos três índices de exigência de capital: Índice de Basileia (IB), Índice de Capital de nível I (IPR1) e Índice de Capital Principal (ICP).

0,0

2,4

4,8

7,2

9,6

12,0

Dez 2017 Mar Jun Set 2018 Dez Mar Jun 2019

Cenário Base VAR estressado (α = 5%)VAR com quebra estrutural (α = 5%) Pior HistóricoProvisão (Dez 2017)

Gráfico 1.5.1.1 – Estresse macroeconômico Carteira de ativos problemáticos projetada (% da carteira total)

%

15

16

17

18

19

20

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Dez 2017 Mar Jun Set 2018 Dez Mar Jun 2019

Capital Principal (dir.) Complementar (dir.)Nível 2 (dir.) Índice de Basileia

Gráfico 1.5.1.2 – Necessidades de capital VAR estressado

% do PRÍndice de Basileia (%)

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0,0

0,6

1,2

1,8

2,4

3,0

0 1 2 3 4 5 6Trimestres

Data-base de jun 2016 Data-base de dez 2016Data-base de jun 2017 Data-base de dez 2017

% do PR

Gráfico 1.5.1.3 – Necessidades de capitalVAR estressado – Evolução

Anexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 31

todos de forma individual. Para os ativos problemáticos, são analisadas apenas variações incrementais, e, para o preço de imóveis residenciais, apenas as variações negativas. No caso do risco cambial e de taxa de juros, são consideradas variações tanto positivas quanto negativas.

Os testes de sensibilidade de câmbio e juros revelam que os impactos seriam irrelevantes, refletindo a baixa exposição líquida aos fatores de risco e o uso disseminado de instrumentos de hedge. Os choques alteram as taxas de juros e de câmbio, individualmente e em parcelas de 10%, ao longo de uma faixa de valores cujos limites inferior e superior correspondem respectivamente a 10% e a 200% das taxas originais. Dentro desse intervalo, não são observados desenquadramentos para o estresse de câmbio. Com relação aos juros, somente se as taxas atingissem 10% dos valores atuais, a necessidade identificada de capital para evitar desenquadramentos seria de 1,3% do atual PR do sistema. Com as taxas a 200%, não seriam observados desenquadramentos.

Os resultados dos testes de sensibilidade a choques incrementais do risco de crédito (Gráfico 1.5.2.1) indicam que, caso o percentual de ativos problemáticos atinja 8,2%, próximo do maior nível já observado no sistema bancário brasileiro desde dezembro de 200039, a necessidade de capital seria de 0,1% do PR do sistema, e as instituições com necessidade de aporte de capital representariam 0,4% do total de ativos do sistema bancário. Em situação extrema, caso a proporção de ativos problemáticos atingisse 19,8% da carteira de crédito, haveria necessidade de capital equivalente a 6,9% do PR do sistema, e as instituições com necessidade de aporte representariam 60,2% dos ativos do sistema.

A simulação de reduções sequenciais nos preços de imóveis residenciais demonstra que não há desenquadramentos e/ou restrição à distribuição de lucros para quedas nominais de até 30%. Somente uma queda de 50% ou mais nos preços provocaria situação de insolvência, caracterizada por capital principal negativo (Gráfico 1.5.2.2).

Em dezembro de 2017, o estoque da carteira de crédito imobiliário residencial apresentou loan-to-value (LTV) médio de 62,2%, considerando tanto a atualização do valor das garantias pelo Índice de Valores de Garantias de Imóveis Residenciais (IVG-R)40 e do saldo devedor

39/ Anteriormente a janeiro de 2012, considera-se para efeito comparativo a proporção da carteira E-H em relação ao total da carteira de crédito.

40/ O IVG-R é calculado e divulgado pelo BC tendo por base os valores de garantias de imóveis em financiamentos habitacionais. Para mais detalhes, ver item 2.6.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

3 0 4 13

23

91

20 9 3

21

11

70

0

20

40

60

80

100

<= 8.5 8.5 - 10.5 10.5 - 12.5 12.5 - 14.5 14.5 - 16.5 >= 16.5

Dezembro 2017 (dados observados) Junho 2019 (cenário de estresse)

Gráfico 1.5.1.4 – Estresse macroeconômico Distribuição de frequência dos ativos por faixa de Índices de Basileia (IBs)Vetor Autorregressivo (VAR) estressado1/

% do ativo total

1/ Os valores acima das barras referem-se ao número de IFs em cada intervalo.

20,90,91,0

0,0

18,0

17,1 7,8

0,018,0 18,1

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90Queda no preço dos imóveis (%)

Queda (%) acumulada do S&P Case-Shiller 10 (EUA) durante a crise do subprime

(abr/2006 a mai/2009)

Gráfico 1.5.2.2 – Análise de sensibilidadeRisco de crédito imobiliário residencial

Necessidade de capital (% do capital total):

Principal

Complementar

Nível II

Bancos em insolvência (% do ativo total)

Bancos desenquadrados (% do ativo total)

IB estressado (%)

2,9

2,5

1,5

0,00,8

17,5 12,5

0,418,9

36,8

60,2

-

2 .0

4 .0

6 .0

8 .0

1 0 .0

1 2 .0

1 4 .0

1 6 .0

1 8 .0

2 0 .0

0

4

8

1 2

1 6

2 0

2 4

2 8

3 2

3 6

4 0

4 4

4 8

5 2

5 6

6 0

6 4

6 8

7 2

7 6

8 0

8 4

8 8

9 2

9 6

1 00

1 04

1 08

1 12

1 16

1 20

1 24

1 28

1 32

1 36

1 40

1 44

1 48

1 52

1 56

1 60

1 64

1 68

1 72

1 76

1 80

1 84

1 88

8 9 10 11 13 14 15 16 17 19 20

Gráfico 1.5.2.1 – Análise de sensibilidadeRisco de crédito

Ativos problemáticos (%)

Bancos em insolvência (% do ativo total)

Bancos desenquadrados (% do ativo total)

IB estressado (%)

Necessidade de capital (% do capital total):

PrincipalComplementarNível II

Maior proporção observada de ativos

problemáticos (desde Dez/2000)

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 32

por juros e amortizações. Critérios de concessão com baixos LTVs e a utilização do Sistema de Amortização Constante (SAC), que reduz o LTV ao longo do prazo de financiamento, são características saudáveis para o crédito imobiliário e contribuem para a capacidade do sistema de absorver choques de preços em cenários extremos.

Ante o exposto, as análises de sensibilidade confirmam que o sistema bancário brasileiro apresenta elevada capacidade de absorção de perdas, uma vez que necessidades relevantes de capital somente ocorreriam em situações extremamente adversas.

Os resultados dos testes de estresse realizados sugerem que o colchão de capital do sistema financeiro é suficiente para assimilar choques bastante severos, resultantes da piora hipotética dos indicadores econômicos. Além disso, a melhora do ambiente econômico, com redução das taxas de juros, baixa inflação e recuperação da atividade econômica, deve contribuir para manutenção de níveis adequados de capital pelas instituições financeiras.

1.5.3 Simulação de contágio direto interfinanceiro

Em adição aos testes de estresse macroeconômico e de sensibilidade, foram conduzidas simulações de contágio direto interfinanceiro, compreendendo todas as instituições autorizadas a funcionar pelo BC, exceto consórcios e cooperativas. Nesse exercício, são consideradas todas as exposições interfinanceiras no país, mas não são incluídos efeitos de segunda ordem como venda de ativos ou liquidez.

Na avaliação do contágio direto interfinanceiro, simula-se a quebra individual das instituições financeiras, uma por vez, e o impacto que cada uma promove nas demais. Caso a quebra simulada de uma instituição provoque a quebra de outra instituição, realizam-se novas rodadas até que o sistema entre em equilíbrio (efeito dominó). O impacto decorre de exposições por diferentes instrumentos, tais como Depósitos Interfinanceiros (DI), garantias prestadas, operações com derivativos negociados em balcão ou quaisquer outras que tragam risco de crédito, cujas únicas garantias sejam da contraparte – e não de terceiros. Com a simulação de quebra, as exposições identificadas provocam perdas aos credores, e o efeito é avaliado sob a perspectiva da necessidade de capital para que o sistema evite a propagação do contágio.

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 33

Nesses exercícios, os resultados apontam para baixa necessidade de recursos para recapitalização do sistema em decorrência de eventual contágio de cada uma das Instituições Financeiras (IFs) individualmente. No pior caso, a necessidade de capital decorrente do contágio ficaria abaixo de 1% do PR do Sistema. Esse baixo impacto é explicado pelo bom nível de capitalização do sistema, além do limite de exposição por cliente de 25% do PR (Resolução BC nº 2.844, de 29 de junho de 2001). Ademais, a maioria das transações interfinanceiras é cursada por meio de operações compromissadas lastreadas em títulos públicos federais (TPFs) não sujeitas ao contágio. O restante das operações tem baixo volume no agregado do sistema financeiro, mas relevante em alguns casos particulares, o que explica a necessidade de capital identificada.

1.6 Pesquisa de Estabilidade Financeira

Introdução

Esta seção apresenta resultados recentes da Pesquisa de Estabilidade Financeira (PEF). A PEF é realizada trimestralmente com instituições financeiras selecionadas, com o objetivo de identificar e acompanhar riscos à estabilidade financeira, de acordo com a percepção das entidades reguladas.

A amostra da PEF é formada por 55 instituições financeiras, que representam 92% do sistema financeiro em termos de ativos, envolvendo bancos públicos, bancos de desenvolvimento, bancos privados nacionais, bancos estrangeiros e bancos privados nacionais com participação estrangeira.

Desde a última edição do REF, foram realizadas duas coletas de informação da PEF, nos períodos de 17 a 27 de novembro de 2017 e de 5 a 19 de fevereiro de 2018, com taxas de resposta de 98% e 100%, respectivamente.

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 34

Riscos à estabilidade financeira

Os respondentes indicaram a sua percepção sobre os principais riscos41 à estabilidade financeira nos próximos três anos, considerando probabilidade e impacto no SFN. Essas instituições também avaliaram os prováveis canais de transmissão.

Esta seção compara as pesquisas de agosto de 2017 a fevereiro de 2018, apresentando a frequência de citação das principais fontes de risco à estabilidade financeira, espontaneamente relatadas pelas instituições financeiras (Tabela 1.6.1). As respostas são classificadas em diferentes grupos, sendo que cada instituição pode elencar até três riscos.

A frequência de citação de fatores relacionados com “Inadimplência e Recessão” continuou apresentando forte redução. Depois de ter caído de 90% em maio de 2017 para 72% em agosto de 2017 (REF de outubro de 2017), a frequência de citação desse risco atingiu 56% em fevereiro de 2018. Essa melhora na percepção é consistente com o processo de recuperação econômica iniciado em 2017, refletido no crescimento do PIB nesse ano, após dois anos de recessão.

Em contraste, a preocupação com riscos políticos continuou sua trajetória ascendente, passando a constituir-se no risco mais citado pelas instituições financeiras. Enquanto esse risco era citado por 44% das instituições em maio de 2017 (REF de outubro de 2017), na última pesquisa foi citado por 64% das instituições, motivado pelas incertezas associadas ao processo eleitoral de 2018. Por sua vez, os riscos fiscais continuam

41/ Pergunta: “Nos próximos três anos, quais riscos à estabilidade financeira sua instituição considera mais relevantes, considerando probabilidade e impacto no SFN? Descreva os três riscos em ordem de importância (o mais importante primeiro, considerando a combinação de probabilidade de ocorrência do evento e magnitude do impacto em termos de perdas relativamente ao volume de ativos do SFN)”.

Tabela 1.6.1 – Frequência de riscos mais citados

Risco Frequência Probabilidade ImpactoAgo 2017 Nov 2017 Fev 2018 Fev 2018

Riscos políticos 51 54 64 Médio-alta AltoInadimplência e recessão 72 67 56 Médio-baixa MédioRiscos fiscais 60 59 56 Médio-alta AltoCenário internacional 28 46 51 Médio-baixa MédioRisco de liquidez 23 22 16 Médio-alta MédioRisco de mercado 21 15 15 Médio-baixa MédioMudanças regulatórias 9 7 9 Médio-alta Médio

Fonte: BCAnexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 35

a ser objeto de preocupação das instituições, sendo citado por 56% dos bancos pesquisados, tendo em vista os desafios ainda existentes nessa área. As instituições financeiras mantiveram os riscos políticos e fiscais como os mais prováveis42 e com maior impacto no sistema financeiro (Gráfico 1.6.1).

Nos últimos seis meses, houve deterioração na percepção de fatores de risco advindos do cenário internacional (citados por 51% dos respondentes em fevereiro de 2018, ante 28% em agosto de 2017) e aumento da sua probabilidade de materialização. Nesse grupo, a principal preocupação se refere ao processo de retirada de estímulos monetários nos Estados Unidos e em outras economias avançadas e suas repercussões no sobrefluxo de capitais e no custo de captação de países emergentes.

Os canais de transmissão43 de eventos mais relevantes apontados pelos respondentes foram aumento da aversão ao risco e de incerteza, fuga de capitais, depreciação cambial e downgrade de crédito (Tabela 1.6.2).

Ciclos econômico e financeiro

A percepção de melhora da atividade econômica mantém-se em alta. Em fevereiro de 2018, 93% dos respondentes acreditavam que a economia se encontrava em fase de recuperação, ante 89% em agosto de 2017. Destaque-se que, para 6% dos respondentes, a economia tende a iniciar a fase de expansão. Esse resultado está consistente com a queda na percepção sobre o risco relacionado à recessão e inadimplência, bem como com a recuperação do mercado de crédito bancário (Gráficos 1.6.2 e 1.6.3).

Acompanhando a percepção mais forte de recuperação econômica, a disposição das instituições financeiras para tomar risco inverte para tendência de alta. Em fevereiro de 2018, embora a maioria dos respondentes considere que a disposição ainda esteja baixa, há uma tendência de alta para a tomada de risco (60% das respostas, ante 52% em novembro de 2017 e 0% em agosto de 2017). Movimento semelhante é observado na percepção das

42/ Pergunta: “Para cada um dos três riscos apontados, indique a probabilidade e o impacto, considerando as seguintes classes: i) probabilidade: baixa (<1%); médio-baixa (1%-10%); médio-alta (10%-30%); alta (>30%); ii) impacto (volume de ativos do SFN): muito baixo (<0,1%); baixo (0,1%-1%); médio (1%-5%); alto (5%-10%); muito alto (>10%)”.

43/ Pergunta: “No caso de ocorrência do evento de alto impacto mais relevante, qual a probabilidade do referido choque ser transmitido pelos seguintes canais”. Os números apresentados representam a mediana das respostas. A última coluna mostra a distribuição das respostas do último levantamento da pesquisa.

Riscos políticos

Inadimplência e recessão

Riscos fiscais

Cenário internacional

Risco de liquidezRisco de mercadoMudanças regulatórias

0

2

4

6

8

10

0 4 8 12 16 20

Probabilidade

Gráfico 1.6.1 – Riscos elencados na Pesquisa de Estabilidade Financeira (PEF) (fev/2018): probabilidade, impacto e frequência

Nota: o tamanho do círculo representa a frequência do risco. As coordenadas representam o ponto médio das classes de probabilidade e impacto.

Impacto (perda/ativo SFN)

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Tabela 1.6.2 – Canais de transmissão de choque no Sistema Financeiro Nacional (SFN)

Canal de Transmissão Ago 2017 (mediana)

Nov 2017 (mediana)

Fev 2018 (mediana)

Distribuição (última posição)

Contágio entre mercados e instituições domésticas 3 4 3

Congelamento de liquidez, incluindo mercado interbancário e linhas de crédito do exterior

2 3 3

Queda expressiva de preços de ativos financeiros domésticos, inclusive garantias

3 3 3

Aumento da aversão ao risco e de incerteza, afetando decisões correntes de consumo e investimento

4 4 4

Queda de confiança dos depositantes, incluindo movimentos caracterizados com flight-to-safety

3 3 3

Fuga de capitais e/ou depreciação cambial relevante

4 4 4

Downgrade de rating de crédito, incluindo rating soberano, de forma ampla e disseminada

4 4 4

ProbabilidadeMuito baixa 1 2 3 4 5 6 Muito altaFonte: BC

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 36

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0

20

40

60

80

100

Expansão Boom(pico)

Contração Recessão Depressão(vale)

Recuperação

%Ciclo econômico

Fev 2018 Ago 2017

Gráfico 1.6.2 – Ciclos econômico e financeiro

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

%Hiato crédito/Produto interno bruto (PIB)

Fev 2018 Ago 2017

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

%

Disposição das instituições financeiraspara tomar riscos

Fev 2018 Ago 2017

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

%Grau de alavancagem de famílias

Fev 2018

Gráfico 1.6.3 – Ciclo financeiro

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

%Grau de alavancagem de empresas

Fev 2018

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

%Preço de ativos em relação aos

fundamentos da economia

Fev 2018 Ago 2017

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

%Acesso a funding e meios de liquidez

Fev 2018 Ago 2017

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 37

instituições sobre o hiato do crédito em relação ao PIB, com quase metade das respostas considerando que o hiato é baixo com tendência de alta.

O grau de concordância sobre o ciclo do acesso a funding e meios de liquidez aumentou, com 60% das respostas concentradas na classe “elevado e estável” (ante 51% no levantamento de agosto de 2017). Em contraste, a dispersão nas respostas ainda não permite identificar fase dominante no ciclo financeiro de preço de ativos em relação aos fundamentos da economia, embora a classificação mais frequente é de que os preços estejam baixos, mas com tendência de alta.

Em relação à última edição da pesquisa, a pergunta sobre grau de alavancagem de empresas e famílias foi desmembrada em “grau de alavancagem de empresas” e “grau de alavancagem de famílias”. Percebe-se uma diferença de percepção em relação à alavancagem desses dois grupos. No caso das famílias, a maioria considera que o grau de alavancagem é baixo (70% dos respondentes), sendo que 52% das respostas consideram o grau baixo com tendência de queda. Em contraste, no caso das firmas, a maioria dos respondentes considera que o grau é elevado (78% dos respondentes), embora a maioria considere que esteja em queda (56% responderam “elevado com tendência de queda”).

Expectativas para o Adicional Contracíclico de Capital Principal

Em linha com a implementação das recomendações do Comitê de Basileia para Supervisão Bancária conhecidas por Basileia III, o Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) é o órgão responsável pela definição e comunicação do valor do adicional contracíclico relativo ao Brasil. Os resultados mostram que 96% e 94% das instituições financeiras esperavam e recomendavam, respectivamente, que houvesse manutenção do valor do Adicional Contracíclico de Capital Principal relativo ao Brasil (ACCPBrasil) em 0% (Gráfico 1.6.4). A decisão da reunião do Comef de 8 de março foi de manutenção do valor.

Resiliência e confiança na estabilidade do sistema financeiro

A percepção sobre as condições de resiliência do SFN não se alterou nos últimos levantamentos da pesquisa (Tabela 1.6.3). Os resultados mostram elevado grau de

94%

4% 2%

Sugestão para o valor do Adicional Contracíclico de Capital Principal

Manter Elevar 0,05 p.p. Elevar 1 p.p.

96%

2% 2%

Expectativa para valor do Adicional Contracíclico de Capital Principal

Manter Elevar 0,05 p.p. Elevar 0,25 p.p.

Gráfico 1.6.4 – Expectativas para o valor do Adicional Contracíclico de Capital Principal

Anexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 38

concordância entre as instituições sobre a adequação e suficiência dos instrumentos disponíveis para enfrentar cenário de grave crise financeira, em caso de materialização.

O índice agregado de confiança44 na estabilidade financeira tem se mantido elevado e estável, não havendo registro de nenhuma avaliação negativa (classes: “sem confiança” e “pouca confiança”) nos últimos sete trimestres (Gráfico 1.6.5).

Portanto, mesmo diante de incertezas no cenário político, na agenda de reformas fiscais e no cenário internacional, as instituições financeiras acreditam que o sistema financeiro teria satisfatória capacidade para absorver choques.

Considerações finais

Na percepção das instituições financeiras, os riscos relacionados à inadimplência e à recessão têm perdido força, associados à recuperação econômica, ao mesmo tempo em que os riscos políticos têm ganhado mais força, associados principalmente às próximas eleições. Ainda, os riscos fiscais mantiveram-se elevados, reforçados pela suspensão da reforma da Previdência. Por sua vez, o cenário externo assumiu maior preocupação para as instituições, refletindo principalmente as incertezas associadas aos processos de normalização da política monetária dos países avançados.

Acompanhando a recuperação econômica, a percepção das instituições sobre o crédito também tem melhorado, com aumento da disposição para tomada de riscos e percepção de evolução mais positiva do crédito.

Os resultados da pesquisa indicam ainda que, na visão das instituições financeiras, as firmas têm um grau de alavancagem superior ao das famílias e que o processo de desavalancagem ainda está em curso.

A maioria expressiva esperou e recomendou que o valor do ACCPBrasil não fosse alterado, o que efetivamente se verificou, sugerindo alinhamento das expectativas relativamente ao buffer de capital necessário para assegurar a estabilidade do sistema financeiro.

44/ O índice de confiança é calculado ponderando as respostas de acordo com os seguintes pesos (multiplicados por 100): confiança completa (1); muita confiança (0,75); razoável confiança (0,5); pouca confiança (0,25); e sem confiança (0).

Tabela 1.6.3 – Capacidade de reação do sistema financeiro a eventos de alto impacto

Aspectos para lidar com crise financeira

Ago 2017 (mediana)

Nov 2017 (mediana)

Fev 2018 (mediana)

Distribuição (última posição)

Adequação de capital do sistema financeiro 2 2 2

Adequação de liquidez do sistema financeiro 2 2 2

Grau de atenção e monitoramento das instituições financeiras

2 2 2

Grau de atenção e monitoramento do governo e reguladores

2 2 2

Disponibilidade de instrumentos para prevenção e mitigação de risco pelo Banco Central

2 2 2

Aspectos para lidar com crise financeiraSatisfatório 1 2 3 4 5 6 Insatisfatório

Anexo estatístico

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

40

48

56

64

72

80

Mar2012

Mar2013

Mar2014

Mar2015

Mar2016

Mar2017

Fev2018

%

Gráfico 1.6.5 – Confiança no sistema financeiro

0

20

40

60

80

100

Sem confiança Poucaconfiança

Razoávelconfiança

Muita confiança Completaconfiança

%

Fev 2018 Ago 2017

Distribuição relativa das percepções de confiança

Anexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 39

A confiança na estabilidade financeira manteve-se elevada, e a capacidade de resposta do sistema financeiro a eventos relevantes é considerada satisfatória.

1.7 Infraestruturas do mercado financeiro sistemicamente importantes

No segundo semestre de 2017, observou-se o funcionamento eficiente e seguro das infraestruturas do mercado financeiro (IMFs) sistemicamente importantes. No Sistema de Transferência de Reservas (STR), único sistema de transferência de fundos sistemicamente importante, o saldo agregado dos recursos disponíveis para pagamentos e transferências interbancárias – denominado liquidez intradia – permaneceu acima das necessidades das instituições financeiras participantes, garantindo que as liquidações ocorressem com tranquilidade. Ao longo do semestre, em média, a necessidade de recursos para pagamento – denominada Necessidade Efetiva de Liquidez (NEL) – do sistema foi 1,4% da liquidez disponível, sendo 6,3% o percentual máximo observado no período.

Os TPFs disponíveis às IFs e os recolhimentos compulsórios mantidos no BC contribuem para um ambiente de elevada liquidez no sistema (Gráfico 1.7.1). Os saldos nos recolhimentos compulsórios podem ser transferidos para contas Reservas Bancárias, e os TPFs podem ser convertidos em moeda de banco central por meio do Redesconto Intradia, ambos sem custo financeiro à IF. Um saldo elevado e estável da liquidez intradia possibilita a fluidez dos pagamentos, removendo incentivos para retenção de liquidez e o risco de insuficiência de recursos para a liquidação de obrigações ao longo do dia.

O BC realiza, mensalmente, análises de backtesting para os sistemas de compensação e de liquidação de transações com títulos, valores mobiliários, derivativos e moeda estrangeira, nos quais há uma entidade atuando como contraparte central (CPC). O propósito dessas análises é avaliar: i) a suficiência do montante de garantias e salvaguardas adicionais45 constituídas para cobertura dos dois participantes com maior exposição financeira (risco de crédito); e ii) a existência de recursos líquidos em montante suficiente para garantia de liquidação tempestiva das obrigações assumidas pelos dois

45/ Cada sistema dispõe de recursos pré-constituídos e disponíveis à contraparte central para lidar com o risco de crédito que exceda o valor das garantias dos investidores.

0

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

1.600

Jan2017

Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

R$ bilhões

Títulos livres CompulsóriosReservas início de dia Necessidade efetiva de liquidez

Gráfico 1.7.1 – Necessidade de liquidez intradia

Anexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 40

participantes com as maiores obrigações financeiras (risco de liquidez) em cada dia do período avaliado.

O risco financeiro líquido (RFL) de um participante é uma métrica utilizada para avaliar seu risco de crédito. Consiste na comparação entre o resultado financeiro decorrente da simulação do encerramento46 das posições e as garantias de um participante. Nesse sentido, ambos os sistemas avaliados – Câmara de Câmbio e Câmara BM&FBovespa, operados pela B3 S.A. – apresentaram resultados satisfatórios ao longo do segundo semestre de 2017. Em cada sistema, a soma do RFL dos seus dois participantes com maiores exposições financeiras não superou o valor dos ativos que compõem as salvaguardas adicionais daquele sistema.

Para a Câmara BM&FBovespa, o RFL, considerando os dois participantes com maiores exposições, correspondeu a 18,21% das salvaguardas adicionais disponíveis no dia em que atingiu seu valor máximo (Gráfico 1.7.2)47. Já para a Câmara de Câmbio, o RFL foi nulo em todos os dias do período.

Também em relação à Câmara BM&FBovespa, no segundo semestre de 2017, as variações acumuladas de dois dias no valor dos principais Fatores Primitivos de Risco48 (FPR) mantiveram-se dentro dos limites estabelecidos em seus cenários de estresse (Tabela 1.7.1). A tabela apresenta o maior percentual observado no período para a razão entre o retorno acumulado de dois dias e o respectivo cenário de alta ou baixa.

A estimativa da acurácia49 do modelo de risco utilizado pela Câmara BM&FBovespa permaneceu acima de 99%, considerado valor de referência50 para contrapartes centrais (Gráfico 1.7.3).

46/ Calculado pela contraparte central com base na estratégia de encerramento e nas variações reais dos preços dos ativos, apuradas nos dias subsequentes.

47/ Em 28 de agosto de 2017, entrou em funcionamento a segunda fase do projeto de Integração da Pós-Negociação (IPN) da B3, com a incorporação, pela Câmara BM&FBovespa, das atividades de compensação, liquidação e gerenciamento de risco da Câmara de Ações. Com isso, a Câmara de Ações passou a exercer apenas a função de depositário central de ativos e seu nome foi alterado para Central Depositária da BM&FBovespa. Com isso, foram iniciadas novas séries para os Gráficos 1.7.2 e 1.7.3.

48/ O FPR associado a um contrato derivativo é a denominação dada às variáveis financeiras que são relevantes à formação do preço do contrato.

49/ O nível de acurácia é definido como a frequência de acertos de um modelo de gerenciamento de riscos em um determinado período de tempo.

50/ De acordo com o Principles for Financial Market Infrastructures (PFMI – CPSS/IOSCO 2012), uma contraparte central deve utilizar um nível de confiança de 99% da distribuição estimada para a exposição futura ao calcular a exigência de garantias de cada participante ou portfólio. A estimativa de acurácia representada no Gráfico 1.7.3 é calculada de forma agregada para todos os portfólios individuais, guardando uma relação indireta com essa recomendação.

Tabela 1.7.1 – Câmara BM&FBovespa

Fatores Primitivos de Risco (FPR)

Discriminação Baixa1/ Alta1/

Ibovespa à vista 20% 25%Dólar à vista 11% 15%Pré 42 18% 0%Pré 126 18% 2%Pré 252 13% 4%Pré 756 12% 11%DDI2/ 180 12% 5%DDI 360 7% 4%DDI 1080 9% 5%

Fontes: BM&FBovespa e BC

1/ Percentual de variação acumulada em 2 dias em relação aos cenários de baixa e alta no 2º semestre de 2017.

2/ Cupom cambial.

0

50

100

150

200

250

Jul2017

Ago Set Out Nov Dez

Gráfico 1.7.2 – Câmara BM&FBovespaRisco financeiro líquido

R$ milhões

Fontes: BM&FBovespa e BC

Início da 2ª fase do projeto de IPN da B3

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

99,0

99,2

99,4

99,6

99,8

100,0

Jul2017

Ago Set Out Nov Dez

%

Gráfico 1.7.3 – Câmara BM&FBovespaRisco de crédito1/

1/ Estimativas de acurácia do modelo de cálculo de garantias individuais, realizadas com janela móvel dos últimos três meses (63 dias).

Início da 2ª fase do projeto de IPN da B3

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 41

A Resolução n° 2.882, de 30 de agosto de 2001, determina que as câmaras de compensação e liquidação devem manter recursos líquidos para garantir, no mínimo, a liquidação tempestiva de obrigações do participante com a maior posição devedora apurada. No mesmo sentido, os princípios internacionais adotados pelo BC – Principles for Financial Market Infrastructures (PFMI)51 – recomendam que uma CPC, como a Câmara de Câmbio, mantenha recursos líquidos para garantir a liquidação da maior posição devedora52.

Nesse aspecto, tanto a Câmara de Câmbio quanto a Câmara BM&FBovespa estiveram em conformidade com a norma e em atendimento às recomendações internacionais. Além disso, a Câmara de Câmbio manteve, com exceção de sete dias, recursos líquidos em montante suficiente para garantir a liquidação tempestiva, em reais, das duas maiores posições devedoras (Gráfico 1.7.4).

51/ Publicados em abril de 2012 pelo Comitê de Sistemas de Liquidação e Pagamentos do Banco de Compensações Internacionais (CPSS/BIS) e pelo Comitê Técnico da Organização Internacional de Comissões de Valores (TC/IOSCO).

52/ Por sua vez, CPCs que sejam consideradas sistemicamente importante em mais de uma jurisdição, ou que tenham um perfil de risco complexo, devem manter recursos líquidos em montante suficiente para garantir a liquidação das duas maiores posições devedoras.

0

120

240

360

480

600

Jul2017

Ago Set Out Nov Dez

Falha de um membro da câmara Falha de dois membros da câmara

Gráfico 1.7.4 – BM&FBovespa – CâmbioDeficit de liquidez

R$ milhões

Anexo estatístico