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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ - UNIOESTE
Campus CASCAVEL
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
PROGRAMA DE PÓS GRADUÇÃO EM ENGENHARIA AGRÍCOLA
LIGAÇÕES EM SILOS METÁLICOS DE CHAPAS CORRUGADAS:
PROPOSTA DE UM PARAFUSO ALTERNATIVO
DANIELE CRISTINA FICANHA
Cascavel - Paraná - Brasil
2016
DANIELE CRISTINA FICANHA
LIGAÇÕES EM SILOS METÁLICOS DE CHAPAS CORRUGADAS:
PROPOSTA DE UM PARAFUSO ALTERNATIVO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola em cumprimento parcial aos requisitos para obtenção do título Mestre em Engenharia Agrícola, área de concentração Engenharia de Sistemas Biológicos e Agroindustriais.
Orientador: Prof. Dr. Divair Christ
Co-Orientador: Prof. PhD. Carlito Calil Júnior
Cascavel - Paraná - Brasil
2016
BIOGRAFIA
Daniele Cristina Ficanha, natural de Concórdia – SC, nascida no dia 11 de março de 1986;
Técnica em Mecatrônica pela Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte –
FABET em junho de 2012;
Graduada em Engenharia Civil pela Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC
Campus de Joaçaba em fevereiro de 2013;
Especialista em Engenharia de Estruturas Metálicas pela Universidade do Oeste de Santa
Catarina – UNOESC Campus de Joaçaba em novembro de 2014;
Atua como Engenheira Calculista de Estruturas Metálicas na empresa Comil Silos e
Secadores Ltda. desde fevereiro de 2013 até o presente momento;
Ingressou no Mestrado em Engenharia Agrícola em 2014, orientada pelo Prof. Dr. Divair
Christ e pelo co-orientador Prof. Carlito Calil Júnior pela Escola de Engenharia de São Carlos
– USP;
Professora da disciplina de Resistência dos Materiais no curso de Engenharia Civil na
Faculdade Assis Gugarcz no ano letivo de 2015.
i
DEDICATÓRIA
Dedico, primeiramente, a Deus, pela chance da nova vida, por estar sempre no meu
caminho, iluminando e guiando às escolhas certas;
À minha família de sangue, meus pais Anselmo, Zenir e Johnny, a base de tudo para mim,
apoiando-me nos momentos difíceis com força, confiança, amor, ensinando-me a persistir nos
meus objetivos e ajudando a alcançá-los;
À minha nova família, o meu noivo Jaison Kostuchenko, agradeço pela compreensão, o
amor, a paciência e a recepção calorosa de todos os dias.
ii
AGRADECIMENTOS
À empresa Comil Silos e Secadores Ltda, pela oportunidade e fidúcia em me repassar
tamanha responsabilidade e confiar a mim tal função, de Engenheira Calculista;
Agradeço ao gerente da Comil Silos e Secadores Ltda., o Eng. Jeferson Sarreta, meu
primeiro professor profissional, pelas aulas e incentivo;
Aos colegas de trabalho de todos os dias, Eduardo, Fábio e Mariane, agradeço pela ajuda,
ensinamentos e descontração;
À Industrial Rex Ltda. pelo fornecimento da matéria prima e pela tentativa na confecção
das amostras, em especial ao Jacson Becker pela constante atenção ao projeto e ao André
Walzburger pela participação nos ensaios;
À Universidade Estadual do Oeste do Paraná;
Ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola;
À Escola de Engenharia de São Carlos – USP pelo apoio e interesse na pesquisa, em
especial ao Laboratório de Madeira e Estruturas – Lámen;
Ao Prof. Divair Christ, meu orientador, pelas experiências positivas de aprendizagem, por
sua atenção, confiança e orientações;
Ao Prof. Carlito Calil Jr., meu co-orientador, pelas muitas bibliografias na área de
armazenamento, pelos ensinamentos e pelo interesse na pesquisa.
iii
LIGAÇÕES EM SILOS METÁLICOS DE CHAPAS CORRUGADAS: PROPOSTA DE UM PARAFUSO ALTERNATIVO
RESUMO
A função dos silos metálicos consiste em armazenar e preservar a qualidade dos grãos. Para isso, é de suma importância o dimensionamento adequado, a fim de garantir a eficiência e a segurança do conjunto. A possibilidade de implantação de um silo metálico baseia-se principalmente no custo e no peso da matéria prima: o aço. As chapas laterais representam a maior parte da matéria prima utilizada. A viabilização de um novo elemento de fixação, o parafuso alternativo, responsável pelas ligações dos elementos do corpo do silo aumentam a resistência da chapa lateral, tornando-se atrativo e econômico para todas as fontes usufruintes dos silos metálicos. A elaboração do parafuso alternativo baseou-se na ISO 4016 (2000) quanto à composição química e às propriedades mecânicas. Retirou-se massa da cabeça sextavada do parafuso tradicional e adicionou-se no plano de corte do parafuso alternativo, formando um elemento oblongo de cabeça redonda. Confeccionaram-se protótipos do parafuso alternativo com a mesma matéria prima, processo de têmpera e bicromatização que a executada nos parafusos tradicionais. Ensaiaram-se 23 amostras do parafuso tradicional e 16 amostras do parafuso alternativo pelo método do cisalhamento direto. Foram verificadas as suposições do modelo, no qual o aumento da área de cisalhamento no plano de corte do parafuso alternativo produziu efeitos na resistência ao cisalhamento do parafuso tradicional. A partir do resultado do parafuso alternativo foi possível determinar a média da variável aleatória erro do modelo, validando as funções teóricas de distribuição de probabilidades para a representação da informação estatística dessa variável aleatória, determinando a força correta do parafuso alternativo, de 107,40 kN. Com o intuito de utilizar o parafuso alternativo nas chapas do corpo de silos metálicos, comparou-se através do ensaio de 27 amostras do parafuso tradicional e 3 amostras do parafuso alternativo, ambos utilizando chapas laterais de silos metálicos para verificar se há influência da mesma na resistência ao cisalhamento dos parafusos. Os parâmetros utilizados na definição da resistência ao esmagamento e rasgamento foram determinados a partir do ensaio de tração das chapas de apoio, quantificação da tensão de ruptura, tal que as distâncias entre furo e borda foram determinadas para serem superiores à resistência de cálculo dos parafusos. Não foi possível a determinação da influência da chapa de apoio na resistência ao cisalhamento do parafuso alternativo, visto que a chapa de apoio esmagou e o mesmo chegou apenas ao estado de deformação plástica. A comparação entre as médias para a amostra de parafuso alternativo produziu efeitos positivos na resistência ao cisalhamento dos parafusos. Palavras-chave: ligação parafusada, cisalhamento direto, oblongo, chapa de apoio, resistência.
iv
CONECCTIONS IN METAL SILOS USING CORRUGATED SHEET: TRADITIONAL BOLT X ALTERNATIVE BOLT
ABSTRACT
The function of metal silos consists in storing and preserving the quality of the grains. For that, it is extremely important the correct dimensioning in order to guarantee efficiency and security of the set. The possibility of a metal silo implantation is based mainly in the cost and weight of the primary raw material, the steel. The side plates represent the biggest part of the raw material used. The feasibility of a new fixation element, the alternative bolt, responsible for the connections of the silo body’s elements increase the resistance of the side plate, becoming attractive and economic for all users of metal silos. The elaboration of an alternative bolt was based on ISO 4016 (2000) regarding chemical composition and mechanical properties. Mass from the hexagonal head of the traditional bolt was withdrawn and added in the cut plan of the alternative bolt, making it an oblong element and round head. Prototypes of the alternative bolt were developed with the same raw material, temper process and bichromatization as the executed in the traditional bolts. Twenty-three samples of the traditional bolt and sixteen samples of the alternative bolt were produced through the method of direct shearing. The model’s premises were verified, in which the increase in shearing area in the alternative bolt’s cutting plan produced effects in the shearing resistance in the traditional bolt. Through the result of the alternative bolt, it was possible to determine the random error average variable of the model , validating the theoretical functions of the probability distribution for the representation of the statistic information of this random variable, determining the correct strength of the alternative bolt as 107,40 kN. In order to use the alternative bolt in metal silos, 27 samples of the traditional bolt and 3 samples of the alternative bolt were compared, both using support plates of the same material used in the silos, to verify if the plate influences the bolt’s shearing resistance. The parameters used in the definition of the crushing and tearing resistance were determined by tensile tests on the support plates, quantification to the breaking point, as well as the distance between the hole and the edge were determined, to be superior to the resistance of the bolts calculations. It was not possible to determine the influence of the support plate in the resistance of the alternative bolt shear, since the support plate crushed it and it reached only deformed plastic state. The comparison between the averages for the sample of the alternative bolt may have produced positive effects in the shear bolt resistance. Key words: screwed connection, direct shear, oblong, support plates, resistance.
v
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1
2 OBJETIVOS ................................................................................................... 3
2.1 Objetivo geral .................................................................................................. 3
2.2 Objetivos específicos ...................................................................................... 3
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................... 4
3.1 Estruturas de armazenagens de grãos sólidos ................................................ 4
3.1.1 Silos metálicos ................................................................................................ 4
3.1.1.1 Componentes estruturais de silos metálicos ................................................... 5
3.2 Chapas laterais ............................................................................................... 5
3.2.1 Ligações parafusadas das chapas metálicas .................................................. 5
3.3 Conjunto de elementos de fixação .................................................................. 6
3.3.1 Parafusos sem qualificação estrutural ............................................................. 7
3.3.2 Parafusos com qualificação estrutural ............................................................. 7
3.3.2.1 Dimensões do parafuso .................................................................................. 9
3.3.2.2 Proteção contra corrosão e tratamento térmico ............................................. 10
3.3.3 Porca e arruela ............................................................................................. 10
3.4 Dimensionamento de silos metálicos ............................................................ 11
3.4.1 Ações permanentes ...................................................................................... 11
3.4.2 Ações variáveis ............................................................................................. 12
3.4.3 Ações excepcionais ...................................................................................... 12
3.4.4 Teoria de pressões ....................................................................................... 12
3.5 Normas brasileiras recomendadas no dimensionamento de chapas metálicas à
tração.............. ..................................................................................................................... 15
3.5.1 Recomendações gerais: NBR 14762 (ABNT, 2010) ...................................... 15
3.5.2 Recomendações gerais: NBR 8800 (ABNT, 2008) ........................................ 16
3.6 Dimensionamento da resistência à tração das chapas metálicas – NBR 14762
(ABNT, 2010)...... ................................................................................................................. 16
3.7 Propriedades Metalúrgicas e Mecânicas dos Parafusos ............................... 20
3.7.1 Propriedades Metalúrgicas ............................................................................ 20
3.7.2 Propriedades mecânicas ............................................................................... 21
3.8 Determinação da resistência de parafusos estruturais .................................. 22
3.8.1 Análise das forças atuantes nos elementos roscados ................................... 22
3.8.2 Estado limite das ligações parafusadas ........................................................ 22
3.8.2.1 Dimensão dos furos ...................................................................................... 23
3.8.2.2 Espaçamentos mínimos ................................................................................ 24
3.8.2.3 Espaçamentos máximos ............................................................................... 25
vi
3.8.2.4 Rasgamento entre furos ou entre furo e borda .............................................. 26
3.8.2.5 Pressão de contato – esmagamento ............................................................. 26
3.8.2.6 Força de cisalhamento resistente de cálculo do parafuso ............................. 27
3.8.2.6.1 Pela NBR 14762 (ABNT, 2010) e NBR 8800 (ABNT, 2008) .......................... 28
3.8.2.6.2 Pela ANSI AISI S100:2007-S ........................................................................ 29
3.8.2.6.3 Pelo EUROCODE 3 – Parte 1.3:2006 ........................................................... 30
3.8.2.6.4 Pelo método da resistência dos materiais ..................................................... 30
3.9 Determinação das propriedades mecânicas dos materiais metálicos ............ 31
3.9.1 Determinação das propriedades mecânicas de parafusos métricos – ASTM
F606 e ASTM A143M .......................................................................................................... 31
4 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................. 33
4.1 Resistência ao cisalhamento de cálculo dos parafusos ................................. 33
4.1.1 Resistência ao cisalhamento de cálculo do parafuso tradicional ................... 33
4.1.2 Resistência ao cisalhamento de cálculo do parafuso alternativo ................... 34
4.2 Confecção das amostras do parafuso alternativo .......................................... 35
4.3 Ensaio de cisalhamento direto dos parafusos tradicional e alternativo .......... 37
4.4 Chapas metálicas do corpo do silo ................................................................ 38
4.5 Resistência de cálculo das chapas de ligação para simulação do efeito da
chapa lateral de silo metálico ............................................................................................... 40
4.5.1 Determinação da tensão de ruptura das chapas de ligação – Ensaio de
tração.............. ..................................................................................................................... 40
4.5.2 Verificação do esmagamento e rasgamento das chapas de ligação ............. 42
4.6 Ensaio de cisalhamento dos parafusos utilizando a chapa de ligação .......... 43
4.6.1 Resistência ao cisalhamento do parafuso tradicional utilizando a chapa de
ligação............ ..................................................................................................................... 44
4.6.2 Resistência ao cisalhamento do parafuso alternativo utilizando a chapa de
ligação............. .................................................................................................................... 44
4.7 Análise estatística pelo ensaio de cisalhamento direto dos parafusos........... 45
4.7.1 Erro de modelo ou coeficiente profissional .................................................... 46
4.7.2 Carta de controle – Gráfico de valores individuais a amplitude móvel ........... 47
4.8 Análise estatística para o ensaio de cisalhamento dos parafusos utilizando as
chapas de apoio .................................................................................................................. 47
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................... 48
5.1 Características físicas da ruptura na área de cisalhamento de ambos os tipos
de parafusos....... ................................................................................................................. 48
5.1.1 Ensaio de cisalhamento direto ...................................................................... 48
5.1.2 Ensaio de cisalhamento utilizando as chapas de apoio ................................. 49
5.2 Análise estatística do parafuso tradicional por cisalhamento direto ............... 50
vii
5.2.1 Suposições do modelo .................................................................................. 52
5.2.1.1 Análise de normalidade ................................................................................. 52
5.2.1.2 Análise da aleatoriedade ............................................................................... 53
5.2.1.3 Análise de independência ............................................................................. 53
5.3 Análise estatística da resistência do parafuso alternativo ao cisalhamento
direto.................. .................................................................................................................. 54
5.3.1 Suposições do modelo .................................................................................. 56
5.3.1.1 Análise de normalidade ................................................................................. 56
5.3.1.2 Análise da aleatoriedade ............................................................................... 57
5.3.1.3 Análise de independência ............................................................................. 57
5.4 Comparações de média para os parafusos por cisalhamento direto – Teste t de
student............. .................................................................................................................... 58
5.5 Análise comparativa da resistência dos parafusos por cisalhamento direto .. 59
5.6 Erro modelo do parafuso alternativo pelo método do cisalhamento direto ..... 60
5.7 Carta de controle de ambos os tipos de parafusos........................................ 61
5.8 Análise estatística do parafuso tradicional utilizando a chapa de apoio 3,35
mm..................... .................................................................................................................. 63
5.8.1 Suposições do modelo .................................................................................. 64
5.8.1.1 Análise de normalidade ................................................................................. 64
5.8.1.2 Análise da aleatoriedade ............................................................................... 65
5.8.1.3 Análise de independência ............................................................................. 65
5.9 Análise estatística do parafuso alternativo com a utilização das chapas de apoio
4,00 mm............ ................................................................................................................... 66
5.9.1 Suposições do modelo .................................................................................. 67
5.9.1.1 Análise de normalidade ................................................................................. 67
5.9.1.2 Análise da aleatoriedade ............................................................................... 68
5.9.2 Comparações de média para os parafusos utilizando a chapa de apoio – Teste
t de student.......... ................................................................................................................ 68
5.10 Análise comparativa da resistência de ambos os tipos de parafusos utilizando
a chapa de apoio ................................................................................................................. 69
5.11 Discussão geral ............................................................................................ 70
6 CONCLUSÕES ............................................................................................. 73
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 74
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 75
viii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Resistência à ruptura na tração de parafusos de aço com qualificação estrutural de
acordo com a NBR 14762 (ABNT, 2010) ............................................................................... 8
Tabela 2 Dimensões do parafuso ......................................................................................... 9
Tabela 3 Tipos de aços utilizados em silos .......................................................................... 16
Tabela 4 Aços utilizados em silos ........................................................................................ 17
Tabela 5 Propriedades metalúrgicas de parafuso – Classe 8.8 com d ≤ 12,7 mm ............... 21
Tabela 6 Propriedades mecânicas de parafuso com qualificação estrutural – Classe 8.8 .... 22
Tabela 7 Dimensões máximas dos furos em mm ................................................................. 23
Tabela 8 Dimensões máximas dos furos em mm ................................................................. 23
Tabela 9 Limitações relativas ao emprego de furos alargados ou alongados ...................... 24
Tabela 10 Tensão de tração e cisalhamento em parafusos ................................................. 29
Tabela 11 Resistência ao cisalhamento de cálculo do parafuso tradicional diâmetro 10 mm
............................................................................................................................................ 34
Tabela 12 Resistência ao cisalhamento de cálculo do parafuso alternativo seção 15x10 mm
............................................................................................................................................ 35
Tabela 13 Resistência ao cisalhamento direto do parafuso tradicional ................................ 37
Tabela 14 Resistência de cisalhamento direto do parafuso alternativo ................................ 38
Tabela 15 Resistência ao esmagamento e rasgamento das chapas de apoio ..................... 42
Tabela 16 Resistência ao cisalhamento do parafuso tradicional utilizando chapas de apoio
3,35 mm............................................................................................................................... 44
Tabela 17 Resistência de cisalhamento do parafuso alternativo utilizando chapas de apoio
4,00 mm............................................................................................................................... 45
Tabela 18 Análise exploratória da carga de ruptura (kN) do parafuso tradicional por
cisalhamento direto .............................................................................................................. 50
Tabela 19 Aplicação dos testes de normalidade para as amostras de parafuso tradicional por
cisalhamento direto .............................................................................................................. 52
Tabela 20 Análise exploratória da carga de ruptura (kN) do parafuso alternativo por
cisalhamento direto .............................................................................................................. 55
Tabela 21 Aplicação dos testes de normalidade para as amostras de parafuso alternativo por
cisalhamento direto .............................................................................................................. 56
Tabela 22 Determinação da média da variável erro de modelo do parafuso alternativo – Mmean
............................................................................................................................................ 60
Tabela 23 Análise exploratória da carga de ruptura (kN) do parafuso tradicional utilizando a
chapa de apoio .................................................................................................................... 63
iv
Tabela 24 Aplicação dos testes de normalidade para as amostras de parafuso tradicional com
chapa de apoio .................................................................................................................... 64
Tabela 25 Análise exploratória da carga de ruptura (kN) do parafuso alternativo utilizando a
chapa de apoio .................................................................................................................... 67
Tabela 26 Aplicação dos testes de normalidade para as amostras de parafuso alternativo com
chapa de apoio .................................................................................................................... 68
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Modelo de ligação parafusada entre chapas metálicas. ........................................... 6
Figura 2 Conjunto de fixação completo utilizado em silos. ..................................................... 7
Figura 3 Partes constituintes do parafuso conforme ISO 4016 (2000). .................................. 9
Figura 4 Pressões atuantes em silos. .................................................................................. 14
Figura 5 Prováveis linhas de ruptura da seção líquida da chapa metálica. .......................... 19
Figura 6 Caracterização dos furos conforme NBR 8800 (ABNT, 2008). a) Furo padrão. b) Furo
alargado. c) Furo pouco alongado. d) Furo muito alongado. ................................................ 23
Figura 7 Espaçamentos mínimos nas ligações parafusadas. ............................................... 24
Figura 8 Espaçamentos mínimos nas ligações parafusadas de furos oblongos. .................. 25
Figura 9 Espaçamento máximo nas ligações parafusadas. ................................................. 25
Figura 10 Rasgamento entre furos ou entre furo e borda nas ligações parafusadas. ........... 26
Figura 11 Esmagamento nas ligações parafusadas. ............................................................ 27
Figura 12 Ruptura do parafuso nas ligações parafusadas. .................................................. 28
Figura 13 Parafusos para silo tradicional e parafuso alternativo. ......................................... 33
Figura 14 Representação 3D do parafuso alternativo. ......................................................... 34
Figura 15 Amostras de parafusos até a obtenção do parafuso alternativo ideal. a) Amostras
em plástico ABS. b) Amostras em aço e plástico ABS. ........................................................ 35
Figura 16 Vistas do parafuso alternativo, arruela de vedação e cabeça hexolobular. .......... 36
Figura 17 a) Amostra do parafuso alternativo usinado. b) Amostras após têmpera e
bicromatização. .................................................................................................................... 37
Figura 18 Ensaio de cisalhamento direto dos parafusos. a) Máquina universal de ensaios. b)
Dispositivo para ensaio de cisalhamento direto do parafuso tradicional. c) Forma de inserção
do parafuso no dispositivo. d) Dispositivo confeccionado para o ensaio de cisalhamento direto
do parafuso alternativo. ....................................................................................................... 38
Figura 19 Geometria das chapas onduladas. ....................................................................... 39
Figura 20 Modelo de chapa metálica. .................................................................................. 39
Figura 21 Corpo de prova para ensaio a tração com espessura superior a 3 mm. ............... 41
Figura 22 Ensaio de tração do aço utilizado nas chapas de apoio 3,35 mm. ....................... 41
Figura 23 Ensaio de tração do aço utilizado nas chapas de apoio 4,00 mm. ....................... 42
Figura 24 Modelos de chapa apoio para ensaio de cisalhamento dos parafusos. A) Chapa de
apoio para o parafuso tradicional. B) Chapa de apoio para o parafuso alternativo. .............. 43
Figura 25 a) Conjunto do parafuso tradicional para ensaio de cisalhamento. b) Conjunto do
parafuso alternativo para ensaio de cisalhamento. .............................................................. 43
Figura 26 Conjunto do parafuso alternativo após o ensaio de cisalhamento. ....................... 44
xi
Figura 27 Corpos de prova do parafuso tradicional após ruptura por ensaio de cisalhamento
direto. .................................................................................................................................. 48
Figura 28 Corpos de prova do parafuso alternativo após ruptura por ensaio de cisalhamento
direto. .................................................................................................................................. 49
Figura 29 Corpos de prova do parafuso tradicional após ruptura por ensaio de cisalhamento
com chapas de apoio. .......................................................................................................... 49
Figura 30 a) Rasgamento das chapas de apoio 4,00 mm. b) Deformação plástica no parafuso
alternativo. ........................................................................................................................... 50
Figura 31 Histograma das amostras de parafuso tradicional por cisalhamento direto. ......... 51
Figura 32 Papel de probabilidade das amostras de parafuso tradicional por cisalhamento
direto. .................................................................................................................................. 53
Figura 33 Análise de independência do parafuso tradicional utilizando a chapa de apoio. .. 54
Figura 34 Autocorrelação do parafuso tradicional por cisalhamento direto. ......................... 54
Figura 35 Histograma das amostras de parafuso alternativo por cisalhamento direto. ......... 55
Figura 36 Papel de probabilidade das amostras de parafuso alternativo por cisalhamento
direto. .................................................................................................................................. 57
Figura 37 Análise de independência do parafuso alternativo por cisalhamento direto.......... 58
Figura 38 Autocorrelação do parafuso alternativo por cisalhamento direto. ......................... 58
Figura 39 Box plot da comparação da carga de ruptura de ambos os tipos de parafusos por
cisalhamento direto. ............................................................................................................. 59
Figura 40 Carta de controle do parafuso tradicional por cisalhamento direto. ...................... 62
Figura 41 Carta de controle do parafuso alternativo por cisalhamento direto. ...................... 63
Figura 42 Histograma das amostras de parafuso tradicional utilizando a chapa de apoio. ... 64
Figura 43 Papel de probabilidade do parafuso tradicional utilizando a chapa de apoio. ....... 65
Figura 44 Análise de independência do parafuso tradicional utilizando a chapa de apoio. .. 66
Figura 45 Autocorrelação do parafuso tradicional utilizando a chapa de apoio. ................... 66
Figura 46 Papel de probabilidade do parafuso alternativo utilizando a chapa de apoio........ 68
Figura 47 Box plot da comparação da carga de ruptura de ambos os tipos de parafusos
utilizando a chapa de apoio. ................................................................................................ 69
xii
LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
A – Área
Ab – Área bruta
Abe – Área efetiva
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
An – Área líquida da seção transversal na região da ligação
Ano – Área líquida da seção transversal da barra fora da região de ligação
AISI – Instituto Americano de ferro e Aço
AS – Standard Australian
ASME – American Society of Mechanical Engineers
ASTM – American Society for Testing and Materials
BS EN – British Standard
Conab – Companhia Nacional de Abastecimento
° C – Graus Celsius
CQ – Costura Quíntupla
CS – Costura Sêxtupla
Cp – Fator de correção
Ct – Coeficiente de redução da área líquida
db – Diâmetro do parafuso
df – Dimensão do furo na direção perpendicular à solicitação
e – Distância
Frd – Força resistente de cálculo
fu – Limite de ruptura à tração
fub – Limite de ruptura à tração do parafuso
Fvrd – Força de cisalhamento resistente de cálculo
fy – Limite de escoamento à tração
g – Espaçamento dos furos na direção perpendicular à solicitação
HV – Dureza Vickers
HB – Dureza Brinell
HR – Dureza Rockwell
ISO – International Organization for Standardization
m – Metro
mm – Milímetro
MPa – Mega Pascal
N – Newton
NBR – Norma Brasileira
xiii
NM – Norma Mercosul
Nt,Rd – Força normal de tração resistente de cálculo
nf – Quantidade de furos contidos na linha de ruptura
pw – Pressão de atrito
pv – Pressão vertical
ph – Pressão horizontal
s – Espaçamento dos furos na direção da solicitação
SAE – Sociedade dos Engenheiros Automotivos
t – Espessura
𝜏 – Tensão de cisalhamento
𝜏𝑏 – Tensão cisalhante nominal na falha do parafuso
ɣ – Coeficiente de ponderação das ações ou das resistências, em geral
xiv
1
1 INTRODUÇÃO
A agricultura tem sido o fator de garantia de superávit comercial brasileiro e a grande
preocupação está no potencial produtivo que não equaliza com a capacidade dos armazéns
e na distribuição inadequada pelo território nacional.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB, o Brasil colheu 210,50
milhões de toneladas de grãos na safra 2015/2016. Este volume representa 1,40% a mais do
que a safra anterior, com aumento de 2,80 milhões de toneladas. No entanto, a produção
agrícola brasileira sofre com a falta de espaços para guardar a colheita. Ainda segundo a
CONAB, o déficit de capacidade de armazenagem chega a aproximadamente 26% para
grãos.
O país enfrenta grandes problemas logísticos com o escoamento das safras e, para
tentar melhorar esta situação, o governo estimula o agricultor a ter seu próprio armazém. As
vantagens são imensas, principalmente na certeza do bom tratamento do produto. Produtos
destinados à indústria de alimentos devem possuir garantia de qualidade, que é fundamental
na definição do preço.
Vale ressaltar que a agricultura brasileira vem aumentando a área plantada, batendo
recordes de produção. No entanto, para cada aumento de produção existe a necessidade do
aumento da capacidade de armazenagem.
A demanda por silos é explicada pela necessidade de armazenar grandes quantidades
de produtos durante longo período e em espaços reduzidos. Além disso, para as cooperativas,
produtores e indústrias, a estocagem torna-se importante no quesito econômico, na medida
em que permite o controle do escoamento da safra e do abastecimento, reduzindo, inclusive,
a necessidade de importação e especulações de mercado.
O armazenamento de produtos em silos é considerado uma solução de grande
viabilidade, devido à economia de espaço físico, mão de obra e custo de transporte, assim
como a possibilidade de maior conservação do produto armazenado.
Os silos são construídos com diversos materiais, mas a predominância é a utilização
de silos metálicos em chapa galvanizada. O investimento do equipamento depende
exclusivamente do projeto e do custo do aço, a principal matéria-prima para a sua construção.
Para que novas unidades de armazenamento sejam projetadas com segurança,
eficiência e economia, é fundamental o correto dimensionamento da estrutura a partir das
pressões que o produto ensilado solicita.
O corpo do silo é responsável pela absorção de grande parte das solicitações e o item
mais oneroso na elaboração do projeto estrutural. Alternativas que possam diminuir o peso
da estrutura podem ser alcançadas através do estudo da resistência das chapas laterais e
das ligações parafusadas entre as mesmas. Portanto, o desenvolvimento de um novo método
2
e um novo elemento de fixação acarretam a mudança da concepção atual de montagem e
dimensionamento do corpo do silo.
Em todo o mundo existem cerca de 8.000 padrões para fixadores em uma grande
variedade de sistemas, como ASTM, SAE, ANSI, ISO, entre outros, e o emprego de diversos
materiais, tratamentos, formas de fixação e revestimentos superficiais. Essa diversidade de
normas e processos de fabricação permite uma grande variedade de elementos de fixação
roscados, com diferentes combinações entre as dimensões, formatos, tolerâncias, materiais,
tratamentos térmicos ou revestimentos.
Um dos processos na construção de um silo é a montagem de elementos roscados.
Estes elementos, compostos por parafuso, porca e arruela, representam uma etapa
significativa, absorvendo uma considerável parcela de tempo e energia. A montagem
adequada dos elementos de fixação roscados é de suma importância para se evitar uma
eventual falha deste componente e evitar operações de desmontagem e remontagem,
inclusive danos estruturais ao conjunto.
A elaboração do parafuso alternativo para a junção das chapas laterais visa melhorar
e agilizar o sistema de montagem, garantir a estanqueidade e tem como propósito principal
reduzir o peso das chapas laterais, assim minimizando custos de fabricação e,
consequentemente, de venda ao produtor. No entanto, a proposta valida-se através da
comparação do comportamento mecânico entre o parafuso tradicional e o parafuso
alternativo.
3
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Comparar o limite último de ruptura por cisalhamento do parafuso silo tradicional de
diâmetro 10 mm, classe de resistência 8.8, com o parafuso alternativo para a utilização em
silos metálicos para armazenagem de grãos.
2.2 Objetivos específicos
Para que seja alcançado o objetivo geral deste estudo, definiram-se objetivos
específicos, sendo eles:
a) Propor um parafuso alternativo, visando aumentar a resistência da ligação com a
chapa lateral de silos metálicos, de acordo com as recomendações da NBR 14762
(ABNT, 2010) com mesmo peso do parafuso tradicional;
b) Dimensionar o parafuso alternativo de classe 8.8 de acordo com as definições e
recomendações dadas na ISO 4016 (2000);
c) Ensaiar amostras do parafuso tradicional para obter o limite último de ruptura por
cisalhamento direto;
d) Confeccionar e ensaiar amostras do parafuso alternativo para obter o limite último
de ruptura por cisalhamento direto;
e) Comparar o estado limite último de resistência no cisalhamento direto do parafuso
tradicional x parafuso alternativo;
f) Determinar a força correta do parafuso alternativo;
g) Ensaiar amostras do parafuso tradicional, utilizando uma chapa de apoio, para
simulação da ligação com a chapa lateral do silo;
h) Ensaiar amostras do parafuso alternativo, utilizando uma chapa de apoio, para
simulação da ligação com a chapa lateral do silo;
i) Verificar a influência da chapa de apoio no cisalhamento de ambos os tipos de
parafusos.
4
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Estruturas de armazenagens de grãos sólidos
Sendo o Brasil um país com características agrícolas, um dos pontos críticos na
economia, segundo Calil e Cheung (2007), são o armazenamento e o beneficiamento dos
produtos agrícolas. Assim, as estruturas de armazenagem usadas para a estocagem destes
produtos são de grande importância para o desempenho econômico.
O armazenamento constitui uma prática de suma importância quando instalados
próximos às regiões de colheita, minimizando as perdas em quantidade e qualidade a que
estão sujeitos os produtos colhidos (FREITAS, 2001).
Silo é a designação dada para todos os tipos de construção para armazenamento de
produtos granulares ou pulverulentos, equipado com dispositivos de carga e descarga, capaz
de ser esvaziado por gravidade ou através de meios mecânicos ou pneumáticos (FREITAS,
2001).
Calil e Cheung (2007) destacam a grande viabilidade na utilização de silos para o
armazenamento de produtos sólidos a granel devido à economia de espaço físico, mão de
obra, custo de transporte, assim como a possibilidade de conservação do produto ensilado.
Os silos são construídos com diversos materiais, como concreto armado, concreto
protendido, madeira, alvenaria, fibras, plásticos e chapas metálicas.
3.1.1 Silos metálicos
Os silos metálicos possuem geometria cilíndrica e são constituídos de chapas
metálicas lisas ou corrugadas e cobertura cônica. Atualmente são as unidades mais utilizadas
no Brasil para o armazenamento de produtos granulares, devido a sua eficiência e seu baixo
custo (ANDRADE Jr.; CALIL, 2007).
Silos de chapas corrugadas galvanizadas são normalmente unicelulares e possuem
os elementos ligados por parafusos (RAVENET, 1977). A pré-fabricação de chapas
corrugadas introduz rigidez transversal ao sistema. Porém, a resistência à compressão é
diminuída, o que é compensado com o enrijecimento longitudinal pelo uso de perfis
longitudinais (CALIL; CHEUNG, 2007).
Dada a carência de uma norma brasileira para regulamentar o projeto e a construção
dessas estruturas utiliza-se como referência a Norma Eurocode 1 – Ações nas estruturas –
Parte 4: Silos e tanques (EN, 2006).
5 A geometria é um dos fatores na classificação dos silos, de acordo com BS EN 1991-
4 (EN, 2006), denominam-se:
a) Silos esbeltos: atendem a função altura/diâmetro (H/D) ≥ 2,0;
b) Silos mediamente esbeltos: aqueles que atendam a relação 1,0 < H/D < 2,0;
c) Silos baixos: que atendam a relação 0,4 ≤ H/D ≤ 1,0.
3.1.1.1 Componentes estruturais de silos metálicos
Os silos são divididos em duas partes: telhado e corpo.
A cobertura cônica, ou telhado, é composto por telhas galvanizadas que podem ser
autoportantes ou apoiadas na estrutura do telhado.
O corpo, ou costado, é composto por chapas metálicas corrugadas e galvanizadas e
reforçado com colunas metálicas dispostas no perímetro e, opcionalmente, com anéis
metálicos tubulares ao longo da altura para minimizar as ações do vento.
Os silos têm dimensões comerciais que variam de 3 a 32 m de diâmetro por 3 a 32 m
de altura, com volumes de 20 até 26.000 m³. Todo este conjunto encontra-se diretamente
apoiado sobre uma base, com o costado fixo por parafusos a um anel rígido de concreto, que
é independente da base (ANDRADE Jr.; CALIL, 2007).
3.2 Chapas laterais
As chapas laterais estão entre as partes constituintes do silo responsáveis por receber
os esforços de tração devido à pressão horizontal oriunda do carregamento dos grãos
(SCALABRIN, 2008).
São consideradas um dos elementos mais importantes no silo e, além de suportar os
esforços do carregamento, têm como funções:
a) Transmitir os esforços oriundos do atrito dos grãos para os montantes;
b) Auxiliar na flambagem do silo sujeito ao esforço advindo do vento (quando vazio);
c) Garantir a estanqueidade (SCALABRIN, 2008).
3.2.1 Ligações parafusadas das chapas metálicas
As paredes dos silos metálicos geralmente são constituídas de chapas onduladas,
calandradas para formar o ângulo necessário para compor o diâmetro do silo e perfuradas.
Alguns fabricantes de silos utilizam o processo contínuo de conformação a partir de bobinas
6
de chapas galvanizadas, permitindo maior flexibilidade na linha de produtos, maior
produtividade e menor custo (ESTEVES, 1989).
As chapas laterais que compõem o corpo de um silo são unidas por parafusos com
qualificação estrutural e acabamento superficial através do processo de zincagem ou
bicromatizagem (Figura 1).
Figura 1 Modelo de ligação parafusada entre chapas metálicas.
As ligações são consideradas como a parte mais importante de uma estrutura
reticulada, pois são responsáveis pela solidarização e pela transferência de esforços entre os
elementos da mesma (BOLANDIM, 2011).
No Brasil, os fabricantes oferecem parafusos de alta resistência específicos para silos.
O mais usual é com cabeça sextavada flangeada e arruela de neoprene alojada para garantir
a estanqueidade contra a ação de contaminantes externos (chuva, poeira e umidade). Este
tipo de arruela avaria quando há o aperto da porca em caso de a cabeça girar, atritando a
arruela contra a chapa, rompendo-a.
3.3 Conjunto de elementos de fixação
O conjunto de fixação é formado essencialmente por parafuso, porca e arruela (Figura
2). Existem basicamente duas classes de parafusos no mercado: parafusos comuns e
parafusos de alta resistência (CALIL; CHEUNG, 2007). A porca tem a função de unir as partes
ligadas e travar por meio do parafuso. A arruela de neoprene, no caso de silos metálicos, se
faz necessária para garantir a estanqueidade no interior do silo, devido aos contaminantes
externos. A arruela metálica é utilizada para minimizar o esmagamento da porca pelas partes
ligadas.
7
Figura 2 Conjunto de fixação completo utilizado em silos. Fonte: Adaptado de Esteves (1989).
Todas as superfícies de ligação incluindo as adjacentes às cabeças do parafuso, porca
e arruela, após montadas, devem estar isentas de escamas de laminação e permanecer
totalmente em contato, como dita a NBR 8800 (ABNT, 2008).
As partes parafusadas não podem ser separadas por quaisquer materiais que não
sejam os elementos de aço estrutural, de acordo com a NBR 8800 (ABNT, 2008).
3.3.1 Parafusos sem qualificação estrutural
Parafusos sem qualificação estrutural, também denominados parafusos comuns, são
fabricados com aço a baixo carbono. A limitação de utilização destes parafusos é
recomendada pela NBR 14762 (ABNT, 2010), ressalvando que não seja adotado no projeto
valor superior a 300 MPa para a resistência à ruptura do parafuso na tração (fu).
Em casos de baixas solicitações, comuns em silos de pequena capacidade, o uso de
parafusos comuns é economicamente viável, visto a recomendação da NBR 14762 (ABNT,
2010).
3.3.2 Parafusos com qualificação estrutural
Parafusos estruturais são fabricados com aço a médio carbono, com aço-liga ou
tratamento térmico. Com isso, a sua resistência à tração pode ser várias vezes maior do que
a dos parafusos comuns (CALIL; CHEUNG, 2007).
O aperto normal é permitido pela NBR 8800 (ABNT, 2008), exceto quando os
parafusos, regidos pela ASTM A490, estão submetidos à tração ou a tração e cisalhamento,
8
e parafusos ASTM A325 sujeitos à tração ou tração e cisalhamento com consideração de
fadiga e afrouxamento devido às vibrações nas partes ligadas.
Parafusos da categoria ASTM A325 e ASTM A490 são apertados contra as partes até
adquirirem uma alta tensão de tração. Assim, as partes unidas são impedidas de se deslocar
quando solicitadas por tração devido à alta pressão de atrito desenvolvida pelo aperto.
Devido às grandes solicitações, normalmente utilizam-se nos silos os parafusos com
qualificação estrutural, com as características de resistência à tração dadas pela Tabela 1 da
NBR 14762 (ABNT, 2010).
Tabela 1 Resistência à ruptura na tração de parafusos de aço com qualificação estrutural de acordo com a NBR 14762 (ABNT, 2010)
Especificação Classe Diâmetro nominal (d) Resistência à
ruptura a tração Nno parafuso (fub) – Mpa
Milímetros Polegadas
ASTM A307 -07b Comum - ¼ ≤ d < ½ 370 - ½ ≤ d ≤ 4 415
ASTM A325M Alta resistência 16 ≤ d ≤ 24 ½ ≤ d ≤ 1 825 24 < d ≤ 36 1 < d ≤ 1 ½ 725
ASTM A354 (grau BD) Alta resistência - ¼ ≤ d < ½ 930 ASTM A394 (tipo 0) Comum - ½ ≤ d ≤ 1 510
ASTM A394 (tipo 1, 2 e 3) Alta resistência - ½ ≤ d ≤ 1 825 ASTM A449 Alta resistência - ¼ ≤ d < ½ 745 ASTM A490 Alta resistência 16 ≤ d ≤ 36 1 < d ≤ 1 ½ 1035
ISO 898-1 – Classe 4.6 Comum 16 ≤ d ≤ 36 - 400 ISO 4016 – Classe 8.8 Alta resistência 16 ≤ d ≤ 36 - 800 ISO 4016 – Classe 10.9 Alta resistência 16 ≤ d ≤ 36 - 1000
Fonte: NBR 14762 (ABNT, 2010).
Os projetos de ligações com parafusos ASTM A325 e ASTM A490 devem seguir as
recomendações da NBR 8800 (ABNT, 2008), sendo que os parafusos de aço de baixo teor
de carbono atendem à ASTM A307 ou à ISO 898-1 classe 4.6. Os parafusos de alta
resistência contemplam a ASTM A325 ou a ISO 4016 classe 8.8. Parafusos de aço-liga
temperados e revenidos consideram a ASTM A490 ou a ISO 4016 classe 10.9, de acordo com
a NBR 8800 (ABNT, 2008).
O procedimento de cálculo em ligações considera que a transferência de força paralela
à superfície de contato das partes ligadas pode ser por atrito ou contato. Em ligações sujeitas
a forças repetitivas com reversão de sinal e locais onde o deslizamento seja prejudicial, a
ligação deve ser por atrito.
O parafuso mais utilizado em silos metálicos de acordo com o mercado brasileiro é o
que segue a especificação da norma da Organização Internacional para Padronização: ISO
898-1:2013 – Propriedades mecânicas de fixadores de aço carbono e ligas de aço – Parte 1:
Parafusos e pregos com classes específicas de propriedade – Fio grosso e fino para passo
de rosca, classes 8.8 and 10.9, e diâmetros 8, 10 e 12 mm.
9 A norma brasileira EB-168 – Propriedades mecânicas de elementos de fixação –
Parafusos e prisioneiros (ABNT, 1991) também denominada NBR 8855, apresenta as
propriedades mecânicas de acordo com o tipo da solicitação, coincidindo com os valores da
especificação ISO 4016 (2000) e ISO 898-1 (2013), descritas na Tabela 1.
Desde 1984, Gaylord e Gaylord relatam o uso do parafuso de alta resistência ASTM
A490 e ASTM A325 como sendo os parafusos utilizados em silos.
3.3.2.1 Dimensões do parafuso
Os fatores que intervêm na determinação das dimensões dos elementos que
compõem o parafuso são: esforços mecânicos a que serão submetidos, condições
ambientais, tipos de elementos que serão unidos, características dos materiais que estarão
em contato com o conjunto, peso desejado, custo, normas de segurança e de legislação
aplicáveis, facilidade de manutenção e necessidade de estanqueidade (YASSUDA, 2008).
As especificações quanto às dimensões de parafusos com diâmetro inferior a 12,50
mm devem atender as recomendações da ISO 4016 (2000) (Tabela 2 e Figura 3).
Tabela 2 Dimensões do parafuso Dimensões do parafuso de diâmetro 10 mm conforme Figura 3
Diâmetro do corpo - D máx 10 Largura da cabeça - F máx 16 Largura da cabeça - F mín 15,57
Largura da cabeça transversal - C mín 17,59 Espessura da cabeça - H nominal 6,4
Espessura da cabeça - H máx 6,85 Espessura da cabeça - H mín 5,95
Comprimento da rosca - T básico 25, 35 e 45 Comprimento total do corpo - L variável 25 a 120
Fonte: ISO 4016 (2000).
Figura 3 Partes constituintes do parafuso conforme ISO 4016 (2000). Fonte: Adaptado de ISO 4016 (2000).
Ressalta-se a importância da análise das características do revestimento, pois poderá
ocasionar mudança nas dimensões do elemento, uma vez que se acrescenta material,
10
aumentando o raio das arestas e causando variações das dimensões devido a variações na
espessura (YASSUDA, 2008).
Após a instalação, a extremidade no comprimento do parafuso deve coincidir ou
ultrapassar a face externa da porca e, para isto, se faz necessário calcular uma folga no
comprimento do mesmo.
3.3.2.2 Proteção contra corrosão e tratamento térmico
Devido à existência de diferenças de potencial elétrico e a ausência de proteção, o
metal base é exposto ao ambiente corrosivo. Neste caso, se faz necessário proteger os
elementos de fixação contra a corrosão através de um revestimento.
Os tratamentos térmicos visam mudar as características mecânicas da superfície do
substrato, sendo utilizados antes e depois da aplicação do revestimento. A difusão dos
elementos permite a formação de interfaces diluídas, homogeneizando o revestimento e
eliminando o hidrogênio retido.
3.3.3 Porca e arruela
A função da porca no conjunto de fixação consiste em prender um conjunto mecânico
por meio da pressão gerada por um torque de aperto (YASSUDA, 2008).
As dimensões das porcas hexagonais pesadas devem satisfazer as especificações da
ASME B18.2.6.
A função da arruela lisa metálica é proteger a chapa do silo contra a abrasão
ocasionada pela porca durante o aperto do parafuso. Esta deve apresentar dimensões
compatíveis com a porca utilizada, não a considerando no cálculo de resistência das ligações
(ESTEVES, 1989).
As dimensões das arruelas são especificadas tanto pela NBR 8800 (ABNT, 2008)
quanto pela ASTM A325 (ASTM, 2004) recomendando a ASME B18.2.6 e esta, por sua vez,
em conformidade com as especificações da ASTM F436 quando planas circulares e biseladas
quadradas.
De acordo com o item 6.7.4.2 da NBR 8800 (ABNT, 2008) devem ser utilizadas
arruelas endurecidas sob o elemento que não gira durante o aperto, no caso dos parafusos
ASTM A490 assentados em aço estrutural com resistência ao escoamento inferior a 280 MPa,
e sob o elemento que gira durante o aperto.
Quando uma das faces externas das partes parafusadas for superior a 1:20 de
inclinação em relação ao plano normal ao eixo do parafuso, deve-se utilizar arruelas
11
endurecidas para compensar a ausência de paralelismo, de acordo com a NBR 8800 (ABNT,
2008).
A arruela de neoprene é alocada na cabeça do parafuso e impede a infiltração da água
pela folga entre o furo e o corpo do parafuso, devendo apresentar plasticidade suficiente para
deformar-se sob pressão do aperto do parafuso. O material de neoprene deve possuir
resistência ao envelhecimento precoce e aos raios ultravioletas. Comercialmente apresentam
espessuras entre 2,40 e 3,70 mm para parafusos de tamanho 8 e 10 mm (ESTEVES, 1989).
3.4 Dimensionamento de silos metálicos
Para o desenvolvimento do projeto estrutural de um silo metálico, a condição essencial
é o conhecimento das forças que atuam sobre a sua estrutura. Cada elemento que compõe o
silo está sujeito a um conjunto de ações que deverão ser combinadas para a obtenção dos
esforços que agirão em cada segmento (SCALABRIN, 2008).
De acordo com Calil (1989) as principais ações são: peso próprio, equipamentos e
acessórios, pressões devidas ao material armazenado, ações do vento e ações térmicas.
Devido à baixa ocorrência, as cargas originadas pela neve e abalo sísmico devem ser
consideradas apenas em casos específicos.
Independente da complexidade estrutural ou do material utilizado, deve-se exigir que
o projeto estrutural desempenhe as funções para as quais foi concebido com eficiência,
economia, segurança e durabilidade estrutural (HEZEL, 2007).
Uma estrutura é considerada segura quando for capaz de resistir ilesa a todas as
ações que lhe forem solicitadas, desde o período construtivo até o final da sua vida útil. Assim,
é imprescindível a correta determinação das ações para a determinação dos esforços
atuantes no dimensionamento, estabilidade e segurança estrutural (STAMATO; CALIL, 1997,
apud HEZEL, 2007).
3.4.1 Ações permanentes
Nas combinações das ações, o peso próprio do silo é considerado uma ação
permanente. Seu valor é estimado conforme experiências anteriores e históricos de silos já
dimensionados (SCALABRIN, 2008).
A grande maioria dos silos são equipados com plataformas, passarelas e
equipamentos mecânicos instalados na cobertura do silo, termometria fixada ao telhado,
estruturas e tremonhas nos casos dos silos elevados (CALIL; CHEUNG, 2007).
12
3.4.2 Ações variáveis
Para estas ações, pondera-se no mínimo de três naturezas diferentes:
a) Pressões devido às partículas sólidas armazenadas: são consideradas de longa
duração e divididas em três tipos (estáticas de carregamento, dinâmicas de
descarregamento e insuflação de ar) (EN, 2006);
b) Ações térmicas: são consideradas de média duração e influenciadas pelas
variações climáticas e efeitos do aquecimento dos produtos armazenados (CALIL;
CHEUNG, 2007);
c) Ações do vento: com seu valor característico, é considerada uma carga de longa
duração (NBR 6123, ABNT, 1988).
3.4.3 Ações excepcionais
As ações excepcionais constituem carregamentos com probabilidade eventual de
ocorrer. Considera-se pelos menos duas ações deste gênero no dimensionamento de silos:
a) Cargas devido a explosões de pó: silos podem armazenar produtos que podem
causar explosões e devem ser previstas ventilação de ar e resistência a sobrepressão
de explosões na estrutura (EN, 2006);
b) Impacto de veículos: quando não for prevista proteção adequada na estrutura do
silo contra possíveis colisões (CALIL; CHEUNG, 2007).
3.4.4 Teoria de pressões
As pressões em um silo ocorrem devido aos processos operacionais de carregamento,
armazenamento e descarregamento. Algumas formulações foram consagradas por
pesquisadores que estudaram as pressões em silos, dentre eles cita-se: Reimbert et al.
(1943), Jenike e Johanson (1968), Walker (1969), Walter (1973), Jenike et al. (1973) Jannsen
(1895), Airy (1987) e Carson e Jenkyn (1993).
Por um longo período, estudos teóricos e experimentais para a determinação das
pressões em silos foram realizados por pesquisadores de todo o mundo, permitindo fundar
alguns consensos em tópicos, mas não um modelo definitivo que estabelecesse com precisão
as pressões em silos (ESTEVES, 1989).
No estudo das pressões, há três fatores de interesse que, segundo Hezel (2007),
merecem destaque. O primeiro é o econômico, pois o projeto de dimensionamento de um silo
depende exclusivamente das pressões ocorridas em seu interior e, quando calculadas da
maneira mais precisa possível, melhor é a relação custo benefício do investimento monetário
13
na estrutura com o produto armazenado. O segundo é o científico: mesmo após tantas
pesquisas, os silos constituem estruturas complexas, combinando comportamentos
estruturais de diferentes materiais, variabilidades nos produtos armazenados que acarretam
nas mudanças das pressões. O terceiro é o ponto social, uma vez que vários problemas são
prevenidos devido à falta de conhecimento estrutural das estruturas de armazenamento.
No projeto de silos, de acordo com Hezel (2007), as ações mais influentes no
dimensionamento estrutural são as ações advindas do produto armazenado, que exercem
pressões nas paredes laterais e no fundo do silo. A teoria de Janssen (1895) é utilizada por
muitas normas internacionais na determinação das pressões exercidas pelos grãos em silos
quando originadas de condições estáticas. Quando ocorrem efeitos dinâmicos, surgem forças
maiores do que as propostas por Janssen.
Para efeitos de esclarecimentos, denominam-se pressões estáticas a intensidade das
pressões horizontais e verticais no carregamento do silo e pressões dinâmicas a situação de
descarga (CALIL, 1990).
De maneira simplificada, podem-se descrever as pressões nas paredes verticais
atuantes perpendicularmente na parede do silo como pressões horizontais (ph). As pressões
originárias do atrito do produto com a parede (pw) causam esforço de compressão na parede
e podem ser adicionadas verticalmente no cálculo da força de compressão resultante sobre a
parede do silo, ressalta-se que a pressão vertical aumenta monotonicamente com o aumento
da altura. No fundo do silo, atuam pressões denominadas pressões verticais (pv), conforme
descritas pela Figura 4.
14
Figura 4 Pressões atuantes em silos. Fonte: Adaptado de Esteves (1989).
O equilíbrio de parte do peso do produto é distribuído nas paredes do silo através da
pressão de atrito por meio de esforços de compressão nas paredes. A existência deste atrito
faz com que o produto exerça nas paredes uma pressão horizontal e com isso não aumente
com a altura indefinidamente, como ocorre em pressões hidrostáticas, e sim um crescimento
de característica exponencial tendendo a um valor máximo (RAVENET, 1992).
A compreensão do campo de tensões nos diferentes estágios do armazenamento é
de suma importância no entendimento das estimativas das curvas de pressões nas paredes
dos silos. As tensões iniciais, que atuam na condição do silo vazio e com a boca de descarga
fechada, são completamente diferentes do campo de tensões dinâmicas no momento da
descarga do produto.
As pressões dos produtos armazenados são definidas pelas teorias. O princípio básico
iniciou-se com Rankine, possibilitando a determinação da pressão vertical (maior), a pressão
horizontal (menor), os coeficientes de pressões ativos e passivos e o ângulo de atrito interno.
Posteriormente, verificou-se que a teoria de Rankine não relacionava a função do atrito com
15
a parede. Assim, surgiram novas teorias considerando o atrito nas paredes, as condições de
carregamento e descarregamento do silo e a constatação de que as pressões horizontais
sobrepõem as verticais (GAYLORD; GAYLORD, 1984).
De acordo com Esteves (1989), durante o processo de descarregamento, há de se
prever sobrepressões localizadas dependendo do tipo de fluxo e das interferências ao
escoamento do material armazenado. Conforme Calil (1990), na descarga do produto tem-se
um aumento das pressões horizontais; porém, o aumento em relação ao carregamento ainda
é alvo de pesquisas. Sabe-se, entretanto, que este tipo de ação induz ao aparecimento de
pressões horizontais, verticais e de atrito.
As normas estrangeiras e internacionais, no que se referem à determinação das
pressões em silos, basicamente apoiam-se em duas teorias: a teoria de Janssen, para as
cargas iniciais ou estáticas, e a teoria de Rankine, na qual a deformação produz uma condição
de pressões ativas durante o carregamento e passivas durante o descarregamento (HEZEL,
2007).
Devido às divergências e diversidades de normas para a determinação das pressões
no interior de silos, verifica-se a necessidade de estabelecer uma norma brasileira que atenda
às variabilidades e aos tipos de produtos que são armazenados no Brasil.
3.5 Normas brasileiras recomendadas no dimensionamento de chapas metálicas à tração
As sínteses que seguem referem-se à compilação das normativas brasileiras
propostas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, sendo:
a) NBR 14762 – Dimensionamento de estruturas de aço constituídas por perfis formados
a frio – Procedimento (ABNT, 2010);
b) NBR 8800 – Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de
edifícios (ABNT, 2008).
3.5.1 Recomendações gerais: NBR 14762 (ABNT, 2010)
A verificação das condições de trabalho do parafuso proposto é regida por esta
normativa brasileira. A utilização desta norma se dá pelo fato de o emprego de normas
estrangeiras para o desenvolvimento de projetos estruturais em perfis de aço formados a frio
terem acarretado algumas incompatibilidades com outras normas brasileiras de caráter mais
geral, como, por exemplo, a NBR 8681 – Ações e segurança nas estruturas – Procedimento
(ABNT, 1984).
16
Esta norma traz as ações e combinações pelo método dos estados limites e institui
os princípios para o “dimensionamento de perfis estruturais de aço formados a frio,
constituídos por chapas ou tiras de aço-carbono ou aço de baixa liga, com espessura máxima
igual a 8 mm, conectados por parafusos ou soldas” (ABNT, 2010).
A utilização do material se dá pelo uso de aços com ou sem qualificação estrutural e
que possuam propriedades mecânicas adequadas para receber o trabalho a frio. Quanto ao
uso de elementos de fixação, o parafuso é qualificado conforme seu uso, sendo: estrutural,
comum ou de alta resistência.
Aços com qualificação estrutural devem atender a relação entre a resistência à
ruptura e a resistência ao escoamento “fu/fy maior ou igual a 1,08 e alongamento após ruptura
não deve ser menor que 10% para base de medida igual a 50 mm ou 7% para base de medida
igual a 200 mm, tomando-se como referência os ensaios de tração conforme ASTM A370”
(ABNT, 2010). Aços sem qualificação estrutural não devem possuir “valores superiores a 180
MPa e 300 MPa para a resistência ao escoamento (fy) e a resistência à ruptura (fu),
respectivamente” (ABNT, 2010).
3.5.2 Recomendações gerais: NBR 8800 (ABNT, 2008)
Nos itens referentes à análise desta dissertação de mestrado, quando não há
considerações pertinentes ao caso na NBR 14762 (ABNT, 2010), sugere-se a utilização das
recomendações desta normativa.
A normativa NBR 14762 (ABNT, 2010) não cita quais as especificações que carecem
de ser adotadas para a qualificação do parafuso estrutural. Assim, seguir-se-á as
recomendações da normativa NBR 8800 (ABNT, 2008).
3.6 Dimensionamento da resistência à tração das chapas metálicas - NBR 14762 (ABNT, 2010)
A escolha do tipo de aço para silos dependerá das propriedades mecânicas
requeridas, do tipo de aplicação e da norma a ser utilizada (CALIL; CHEUNG, 2007). As
normas NBR 14762 (ABNT, 2010) e NBR 8800 (ABNT, 2008) regulamentam quanto à
espessura e à resistência dos tipos de aços. Os principais tipos de aços utilizados em silos
estão representados na Tabela 3.
Tabela 3 Tipos de aços utilizados em silos
Tipos
Propriedades mecânicas Aplicações Produto
Fy (MPa) Fu (MPa)
SAE 1008 172 309 Colunas, stifferners Chapas e bobinas a
quente ou a frio
17
SAE 1010 183 330 Colunas ou stiffeners Chapas e bobinas a
quente ou a frio
ASTM A36 250 400 a 550
Construção soldada ou parafusada; Estruturas em geral
Chapas, barras e perfis
ASTM A570 – Grau C
232 366 Perfis formados a frio; Construção
soldada ou parafusada Chapas ou bobinas a
quente ABNT CF-
24 240 370 Chapas finas para uso estrutural
Bobinas a quente ou a frio
ABNT CF-26
260 420 Chapas finas para uso estrutural Bobinas a quente ou a
frio ZAR 345 345 430 Corpo e tremonhas Chapas ou bobinas
SAC-50 ≥ 343 ≥ 461 Corpo de silos e estrutural Chapas ou bobinas a
quente NBR LNE –
38 ≥ 375 ≥ 440 Corpo e tremonhas
Chapas ou bobinas a quente
Fonte: Adaptado de Calil e Cheung (2007).
Os aços ZAR 345, denominados pela classe G350, são designados pela norma padrão
australiana AS1397 (AS, 2011). Inclui-se nesta normativa a classe G450, recentemente
utilizada nos silos de maior capacidade devido à elevada solicitação das pressões. Inclusive,
estuda-se atualmente a possibilidade de implantação do aço LNE550 regido pela NBR 6656
Bobinas e chapas laminadas a quente de aço acalmado com características especiais de
propriedades mecânicas, conformabilidade e soldabilidade (ABNT, 2008). Na Tabela 4
encontram-se as especificações de aços utilizados em silos regidos pela AS1397 (AS, 2011)
e NBR 6656 (ABNT, 2008).
Tabela 4 Aços utilizados em silos
Norma: AS1397:2011 AS1397:2011 NBR 6656:2008
Designação da grade: G350 G450 LNE550 Limite de escoamento mínimo: 350 MPa 450 MPa 550 MPa
Limite de ruptura mínimo: 420 MPa 480 MPa 600 MPa Alongamento mínimo: 15% 10% 15%
Galvanização: Z350 Z350 À fogo
Fonte: AS1397 (AS, 2011) e NBR 6656 (ABNT, 2008).
A verificação da força axial de tração resistente de cálculo, Nt,Rd, das chapas
metálicas parafusadas são obtidas considerando o menor valor: do estado limite último de
escoamento da seção bruta, ruptura da seção líquida fora da região de ligação e ruptura da
seção líquida na região da ligação, de acordo com a NBR 14762 (ABNT, 2010). No entanto,
além da Nt,Rd, a resistência das chapas laterais do silo são definidas incluindo o menor valor
obtido entre o rasgamento entre furos e furo e borda, esmagamento por pressão de contato e
força de cisalhamento resistente de cálculo do parafuso.
Quando em ligações parafusadas, analisam-se as possíveis linhas de ruptura das
partes ligadas, adotando como parâmetro a situação mais crítica (CALIL; CHEUNG, 2007).
18
No dimensionamento, atende-se a condição de que a força axial de tração solicitante
de cálculo resulte em um valor inferior ou igual à força axial de tração resistente de cálculo,
sendo Nt,Rd obtida pelas expressões indicadas:
a) Para o escoamento da seção bruta:
𝑁𝑡,𝑅𝑑 =𝐴 ∗ 𝑓𝑦
1,10
b) Para a ruptura da seção líquida fora da região de ligação:
𝑁𝑡,𝑅𝑑 =𝐴𝑛𝑜 ∗ 𝑓𝑢
1,35
c) Para a ruptura da seção líquida na região de ligação:
𝑁𝑡,𝑅𝑑 =𝐶𝑡 ∗ 𝐴𝑛 ∗ 𝑓𝑢
1,65
Onde:
A - é a área bruta da seção transversal;
Ano - é a área líquida da seção transversal da barra fora da região de ligação;
An - é a área líquida da seção transversal na região da ligação, sendo An.
𝐴𝑛 = 0,9 ∗𝐴 − 𝑛𝑓 ∗ 𝑑𝑓 ∗ 𝑡 + 𝜀𝑡 ∗ 𝑠2
4 ∗ 𝑔
Onde:
df – é a dimensão do furo na direção perpendicular à solicitação;
nf – é a quantidade de furos contidos na linha de ruptura analisada;
t – é a espessura da parte conectada;
g – é o espaçamento dos furos na direção perpendicular à solicitação (Figura 5). Em
caso de espaçamentos diferentes, utiliza-se o maior valor para o cálculo de Ct;
s – é o espaçamento dos furos na direção da solicitação, conforme Figura 5;
fy – limite de escoamento à tração;
fu – limite de ruptura à tração.
Eq. (1)
Eq. (2)
Eq. (3)
Eq. (4)
19
Figura 5 Prováveis linhas de ruptura da seção líquida da chapa metálica. Fonte: NBR 14762 (ABNT, 2010).
Ct – é o coeficiente da área líquida e em ligações parafusadas. A determinação se dá
conforme a quantidade de parafusos utilizados, sendo:
a) Todos os parafusos contidos em uma única seção transversal:
𝐶𝑡 = 2,5 (𝑑
𝑔) ≤ 1,0
b) Dois parafusos contidos na direção da solicitação, alinhados ou em ziguezague:
𝐶𝑡 = 0,5 + 1,25 ∗ (𝑑
𝑔) ≤ 1,0
c) Três parafusos contidos na direção da solicitação, alinhados ou em ziguezague:
𝐶𝑡 = 0,67 + 0,83 ∗ (𝑑
𝑔) ≤ 1,0
d) Quatro ou mais parafusos contidos na direção da solicitação, alinhados ou em
ziguezague:
𝐶𝑡 = 0,75 + 0,625 ∗ (𝑑
𝑔) ≤ 1,0
Necessita-se permanecer atento no caso de divergências das condições acima
colocadas. Quando o espaçamento g for inferior à soma das distâncias entre os centros dos
furos de extremidades e as respectivas bordas, considerando a direção perpendicular à
solicitação de projeto, deve-se substituir o valor de g pelo somatório de e1 + e2, nos cálculos
de Ct.
Eq. (6)
Eq. (5)
Eq. (7)
Eq. (8)
20 Para furos com direção em ziguezague, com g inferior à distância 3d, o valor de g é
obtido tomando-se o maior valor entre 3d e a soma de e1 + e2.
3.7 Propriedades Metalúrgicas e Mecânicas dos Parafusos
3.7.1 Propriedades Metalúrgicas
De maneira geral, as ligas ferrosas são aquelas nas quais o ferro é o principal
componente, mas o carbono, bem como outros elementos de liga podem estar presentes. De
acordo com Callister (1991), classificam-se em três tipos de ligas ferrosas baseadas no teor
de carbono: ferro, aço e ferro fundido.
Analogamente, o aço é uma liga metálica composta principalmente de ferro e de
pequenas quantidades de carbono, geralmente entre 0,008% a 2,11%.
Os ferros fundidos também são ligas ferro carbono. No entanto, diferem-se dos aços
por terem em sua estrutura uma maior quantidade de carbono, compreendida entre 2,11% e
6,70%. Estes são classificados em função de seu teor de carbono, como aços de alto, médio
e baixo carbono. Temos ainda outras designações como aços liga, aços ferramentas e
diversos aços especiais desenvolvidos para diversas aplicações (CALLISTER, 1991).
Para facilitar os esquemas de designação dos aços, devido à grande quantidade
disponível no mercado, houve a necessidade de um método de padronização para possibilitar
a identificação. Para isso, a designação desenvolvida foi uma metodologia numérica que com
sua leitura é possível definir os elementos de liga e o conteúdo de carbono dos aços.
A Sociedade dos Engenheiros Automotivos (SAE), o American Institute os Steel and
Iron (AISI) e a American Society for Testing and Materials (ASTM) são responsáveis pela
classificação e especificação de aços, bem como de outras ligas. A designação AISI/SAE para
estes aços é um número de 4 dígitos: os 2 primeiros dígitos indicam o teor do elemento de
liga; os 2 últimos, a concentração de carbono.
A designação das propriedades mecânicas definidas pela ISO se dá através do código
“X,Y”. Ocorre que nem todas as designações fornecem valores exatos, mas em ordem de
grandeza, dão razoáveis, aproximações. O “X” corresponde a 1/100 da resistência última à
tração do parafuso em MPa, e o “Y” equivale a 10 vezes a relação entre a resistência ao
escoamento e a resistência a ruptura, ou seja, 10*(fy / fu) (CALIL; CHEUNG, 2007).
As propriedades metalúrgicas dos parafusos com qualificação estrutural, designados
pela ASTM A325, regulamentam os diâmetros 12,7 mm até 38,1 mm. Quando o diâmetro for
inferior ao valor limite especificado, deve-se utilizar o recomendado pela ISO 898-1 (2013)
com têmpera a 425 °C, conforme Tabela 5.
21
Tabela 5 Propriedades metalúrgicas de parafuso – Classe 8.8 com d ≤ 12,7 mm
Propriedade metalúrgica Aço carbono com aditivo e
temperado Composição química -%
Aço carbono temperado Composição química -%
Mínimo Máximo Mínimo Máximo
Carbono - C: 0,15 0,40 0,25 0,55 Fósforo – P: - 0,035 - 0,035 Sulfúrico – S: - 0,035 - 0,035
Boro – B: - 0,003 - -
Fonte: ISO 898-1 (2013).
3.7.2 Propriedades mecânicas
As propriedades mecânicas dos materiais são determinadas por experimentos de
laboratório que replicam tanto quanto possível as condições da natureza da carga aplicada, e
da magnitude, com o tempo e as condições ambientais.
Os materiais, quando em trabalho, são submetidos a forças em tais situações que se
faz necessário conhecer as características do material e projetar um elemento estrutural de
tal maneira que a deformação resultante não exceda seus limites e a fratura do material não
ocorra. O comportamento mecânico do material reflete a correlação entre sua resposta ou
deformação a uma carga ou força aplicada (CALLISTER, 1991).
As propriedades dos materiais podem ser afetadas por parâmetros diversos, dos quais
os principais são composição química, histórico termomecânico do material, geometria,
temperatura, estado de tensões e velocidade de deformação da estrutura. No caso específico
do aço, o fator mais importante na determinação das propriedades é a composição química.
Para o aço liga ferro-carbono, as propriedades mecânicas são sensíveis ao teor de
carbono. Alguns dos aços mais comuns são classificados de acordo com a concentração de
carbono, isto é, em tipos baixo carbono, médio carbono e alto carbono.
Nos aços carbono comuns, os elementos carbono e manganês influenciam no controle
de resistência, ductilidade e soldabilidade. Porém, o carbono afeta a ductilidade e a
soldabilidade do aço. Assim, pequenas quantidades de outros elementos de liga são utilizadas
na melhoria das propriedades do aço, obtendo o máximo desempenho em propriedades de
uma liga (CALLISTER, 1991).
As propriedades mecânicas dos parafusos com qualificação estrutural, da classe de
resistência 8.8, designados pela ASTM A325, regulamentam os diâmetros 12,7 mm até 38,1
mm. Quando o diâmetro for inferior ao valor limite especificado, deve-se utilizar o
recomendado pela ISO 898-1 (2013). De acordo com a ISO 4016 (2000), para diâmetros
inferiores ou iguais a 39 mm também se recomenda utilizar as propriedades da ISO 898-1
(2013), conforme Tabela 6. Quando existir um risco de decapagem da porca devido ao aperto
excessivo, recomenda-se utilizar como referência a ISO 898-2 (2012).
22
Tabela 6 Propriedades mecânicas de parafuso com qualificação estrutural – Classe 8.8
Propriedade mecânica Classe 8.8 com d ≤ 12 mm
Mínimo Máximo
Tensão admissível – N/mm²: 800 800 Dureza Vickers – HV: 250 320 Dureza Brinell – HB: 238 304
Dureza Rockwell – HR: 22 32 Alongamento a 0,2% não proporcional – N/mm²: 640
Stresse sob prova de carga – N/mm²: 580 Torque – N.m: ISO 898-7
Alongamento depois da fratura –%: 12 Redução da área depois da fratura –%: 52
Fonte: ISO 898-1 (2013).
3.8 Determinação da resistência de parafusos estruturais
De acordo com a NBR 8800 (ABNT, 2008) podem ser utilizados outros tipos de
parafusos com qualificação estrutural em vez dos descritos pela ASTM A325 e ASTM A490,
desde que satisfaçam as prescrições relativas:
a) Ao material utilizado;
b) Ao processo de fabricação;
c) À composição química e;
d) Às propriedades mecânicas.
As comprovações das propriedades mecânicas realizam-se por intermédio de ensaios
em escala natural. As medidas do diâmetro do fuste e as áreas de contato sob a cabeça e
porca, ou suas equivalentes, não podem ser inferiores às especificações da norma ASME
B18.2.6 para parafuso e porca de mesmas dimensões nominais (ABNT, 2008).
3.8.1 Análise das forças atuantes nos elementos roscados
O dimensionamento da resistência da ligação parafusada se dá baseada numa carga
de trabalho agindo sobre esse conjunto. A resultante desta carga de trabalho pode acarretar
uma força axial, uma força transversal, um momento de flexão e um momento de torque,
dependendo de cada caso (YASSUDA, 2008). Neste estudo, considerar-se-á apenas a
resultante da força de tração nas chapas metálicas, no sentido do cisalhamento do parafuso.
3.8.2 Estado limite das ligações parafusadas
As generalidades que se aplicam à NBR 14762 (ABNT, 2010) se referem às ligações
parafusadas com a espessura da parte mais fina menor que 4,75 mm; caso contrário, devem
ser seguidas as recomendações da NBR 8800 (ABNT, 2008). Este quesito é irrelevante nesta
23
dissertação, pois o objetivo é comparar o limite último de resistência ao cisalhamento do
parafuso tradicional e do parafuso alternativo.
3.8.2.1 Dimensão dos furos
Nas ligações cuja solicitação seja normal ao eixo dos parafusos, quando forçados ao
cisalhamento, furos alongados ou muito alongados devem ter a dimensão alongada do furo
no sentido normal à solicitação. No entanto, os furos não devem exceder as especificações
da Tabela 7 e apresentar as características conforme Figura 6.
Tabela 7 Dimensões máximas dos furos em mm
Diâmetro nominal do parafuso – d
Diâmetro do furo padrão
Diâmetro do furo alargado
Dimensões do furo pouco alongado
Dimensões do furo muito alongado
< 12,5 d+0,8 d+1,5 (d+0,8) x (d+6) (d+0,8) x (2,5d) ≥ 12,5 d+1,5 d+5 (d+1,5) x (d+6) (d+0,8) x (2,5d)
Fonte: NBR 14762 (ABNT, 2010).
Figura 6 Caracterização dos furos conforme NBR 8800 (ABNT, 2008). a) Furo padrão. b) Furo alargado. c) Furo pouco alongado. d) Furo muito alongado.
Quando a espessura das partes ligadas for superior a 4,75 mm deve-se atender os
requisitos da NBR 8800 (ABNT, 2008), conforme Tabela 8.
Tabela 8 Dimensões máximas dos furos em mm
Diâmetro nominal do parafuso – d
Diâmetro do furo padrão
Diâmetro do furo alargado
Dimensões do furo pouco alongado
Dimensões do furo muito alongado
<24 db+1,5 db+5 (db+1,5) x (db+6) (db+1,5) x (2,5db) 27 28,5 33 28,5 x 35 28,5 x 67,5
≥ 30 db+1,5 db+8 (db+1,5) x (db+9,5) (db+0,8) x (2,5db)
Fonte: NBR 8800 (ABNT, 2008).
Os furos das partes ligadas, de acordo com a NBR 8800 (ABNT, 2008), podem ser
executados por punção, sub punção, alargado ou broqueado. No entanto, algumas limitações
quanto ao emprego de furos alargados ou alongados devem ser atendidas, como descreve a
Tabela 9.
(a) (b) (c) (d)
24
Tabela 9 Limitações relativas ao emprego de furos alargados ou alongados
Tipo de furo
Tipo de ligação
permitido
Limitações
Posição do furo Arruelas
Alargado Por atrito Em qualquer uma ou em todas
as chapas de ligação.
Endurecidas, sobre furos alargados em chapas externas da
ligação.
Pouco alongado
Por atrito
Em qualquer uma ou em todas as chapas de ligação. Qualquer
posição, independente da direção da solicitação.
Sobre furos pouco alongados em chapas externas da ligação devem
ser utilizadas arruelas, que necessitam ser endurecidas
quando o parafuso for de alta resistência.
Por contato
Em qualquer uma ou em todas as chapas de ligação. Maior
dimensão normal à direção da solicitação.
Muito alongado
Por atrito
Em somente uma das partes da ligação, para a mesma superfície
de contato. Qualquer posição, independente da direção da
solicitação.
Arruelas de chapas ou barras chatas continuas, de espessura 8
mm, aço estrutural, devem ser usadas sobre furos muito
alongados em chapas externas. Tais arruelas devem possuir
dimensões suficientes para cobrir totalmente os furos alongados após a instalação do parafuso.
Por contato
Em somente uma das partes da ligação, para a mesma superfície
de contato. Maior dimensão normal à direção da solicitação.
Fonte: NBR 8800 (ABNT, 2008).
3.8.2.2 Espaçamentos mínimos
Sendo d e db o diâmetro nominal do parafuso, a distância livre entre as bordas e os
dois furos adjacentes não deve ser inferior a 2d, tal que a distância da borda de um furo à
extremidade do elemento conectado não deve ser inferior a d, conforme demonstra a Figura
7 (NBR 14762, ABNT, 2010).
Figura 7 Espaçamentos mínimos nas ligações parafusadas. Fonte: NBR 14762 (ABNT, 2010).
Recomenda-se utilizar 3,0 db a distância livre entre furos. Para as distâncias entre um
furo alargado ou alongado para qualquer borda deve-se acrescer βdb (Figura 8), sendo β
definido por:
a) β = 0 para furos alongados na direção paralela à borda considerada;
b) β = 0,12 para furos alargados;
c) β = 0,20 para furos pouco alongados na direção perpendicular à borda considerada;
25
d) β = 0,75 para furos muito alongados na direção perpendicular à borda considerada –
NBR 8800 (ABNT, 2008).
Figura 8 Espaçamentos mínimos nas ligações parafusadas de furos oblongos. Fonte: NBR 8800 (ABNT, 2008).
No entanto, o diâmetro mínimo de db é 12,50 mm e, para ele, sugere-se a distância
mínima do centro do furo à borda. Quando a mesma for cortada com serra ou tesoura, utilizar
22 mm e, em caso de corte da borda ser laminada ou cortada a maçarico, utilizar 19 mm.
3.8.2.3 Espaçamentos máximos
Para as cobrejuntas sujeitas a compressão, a distância entre os centros de dois
parafusos adjacentes ou entre o centro do parafuso à borda da cobrejunta, na direção da
solicitação deve ser inferior a 1,37t(E/fy)0,5, onde t é a espessura da cobre junta, E módulo de
elasticidade e fy é a resistência ao escoamento do aço da cobrejunta (NBR 14762, ABNT,
2010).
Em ligações que vinculam uma chapa a outra chapa com espessuras maiores que
4,75 mm, em contato contínuo, e, para os aços resistentes a corrosão, o espaçamento máximo
entre parafusos não deve exceder 14 vezes a espessura da parte ligada de menor espessura,
nem 180 mm. A distância máxima de um parafuso às bordas não pode exceder 12 vezes a
espessura da parte ligada, nem 150 mm, de acordo com a NBR 8800 (ABNT, 2008), conforme
Figura 9.
Figura 9 Espaçamento máximo nas ligações parafusadas. Fonte: NBR 8800 (ABNT, 2008).
26
3.8.2.4 Rasgamento entre furos ou entre furo e borda
A verificação da força resistente ao rasgamento entre furos (Figura 10) ou entre furo e
borda são calculadas de acordo com a NBR 14762 (ABNT, 2010), descrita a seguir:
𝐹𝑅𝑑 =𝑡 ∗ 𝑒 ∗ 𝑓𝑢
𝛾
Onde:
FRd - Força resistente de cálculo ao rasgamento;
t - é a espessura do elemento conectado;
ɣ - 1,35;
e - é a distância, no sentido da força, do centro do furo até a borda mais próxima do
furo adjacente ou a extremidade do elemento conectado;
Figura 10 Rasgamento entre furos ou entre furo e borda nas ligações parafusadas. Fonte: NBR 14762 (ABNT, 2010).
3.8.2.5 Pressão de contato – esmagamento
A verificação da força resistente de cálculo ao esmagamento (Figura 11) é calculada
de acordo com a NBR 14762 (ABNT, 2010) definida através da equação a seguir:
𝐹𝑅𝑑 =𝛼𝑒 ∗ 𝑑 ∗ 𝑡 ∗ 𝑓𝑢
𝛾
Onde:
FRd - Força resistente de cálculo ao esmagamento;
t - é a espessura do elemento conectado;
ɣ - 1,35;
d - é o diâmetro nominal do parafuso;
fu - é a resistência à ruptura do metal base;
Eq. (10)
Eq. (11)
27 αe - é um fator definido por (0,183t+1,53). Utilizar-se-á como pior condição a espessura
limite de 4,75 mm, portanto, αe resulta em 2,40.
Figura 11 Esmagamento nas ligações parafusadas. Fonte: Adaptado de Esteves (1989).
3.8.2.6 Força de cisalhamento resistente de cálculo do parafuso
Winter (1956) classificou quatro modos de ruína da ligação e dentre eles constou o
cisalhamento do parafuso. Os resultados obtidos de experimentos revelaram que a resistência
das ligações que falharam no parafuso se correlacionaram melhor com a resistência à ruptura
do aço do parafuso do que com a resistência ao escoamento do aço do mesmo, permitindo
que alguns diagramas relacionando a razão da tensão cisalhante nominal na falha do parafuso
(𝜏𝑏) e a resistência à ruptura do parafuso (fub) com o diâmetro do parafuso (d) fossem
construídos.
Através dos diagramas obtidos, foi possível notar que a relação 𝜏𝑏
𝑓𝑢𝑏 é razoavelmente
independente do diâmetro do parafuso e também que os valores dos ensaios estão agrupados
em torno de 𝜏𝑏
𝑓𝑢𝑏 = 0,62 para os corpos de prova submetidos ao corte duplo e em média de
𝜏𝑏
𝑓𝑢𝑏 = 0,72 para aqueles submetidos ao corte simples. Devido à falha por cisalhamento do
parafuso ter sido mais súbita do que aquelas na chapa, acreditava-se que valores
conservativos para o menor dos resultados obtidos nos ensaios poderiam ser selecionados
como um fator para a previsão do projeto. Por essa razão, sugeriu-se uma representação
matemática aplicável a corte simples e corte duplo, dada por:
𝜏𝑏 = 0,60 ∗ 𝑓𝑢𝑏
Eq. (12)
28
3.8.2.6.1 Pela NBR 14762 (ABNT, 2010) e NBR 8800 (ABNT, 2008)
O dimensionamento da ligação parafusada no plano de corte, para o critério de
resistência ao cisalhamento de cálculo do parafuso pelas normas NBR 14762 (ABNT, 2010)
e NBR 8800 (ABNT, 2008) são dadas pela expressão:
a) Quando plano de corte passar pela rosca:
𝐹𝑣𝑅𝑑=
0,4 ∗ 𝐴𝑏 ∗ 𝑓𝑢𝑏
𝛾
b) Quando plano de corte não passar pela rosca:
𝐹𝑣𝑅𝑑=
0,5 ∗ 𝐴𝑏 ∗ 𝑓𝑢𝑏
𝛾
Onde:
ɣ - 1,35;
fub - resistência a ruptura do parafuso à tração, verificada na Tabela 1 e ilustrada na
Figura 12;
Ab - para a NBR 14762 (ABNT, 2010) é a área bruta da seção transversal do parafuso.
Para a NBR 8800 (ABNT, 2008), é definido por:
𝐴𝑏 = 0,25 ∗ 𝜋 ∗ 𝑑𝑏2
Onde:
Ab - área bruta;
Abe - área efetiva de um parafuso;
db - diâmetro do parafuso.
Figura 12 Ruptura do parafuso nas ligações parafusadas. Fonte: Adaptado de Esteves (1989).
Eq. (14)
Eq. (15)
Eq. (13)
29
3.8.2.6.2 Pela ANSI AISI S100:2007-S
De acordo com a AISI, a força resistente nominal do parafuso (Pn) resultante do
cisalhamento ou tração deve ser calculada de acordo com a Equação 16. Os condizentes
fatores de segurança e de resistência são fornecidos na Tabela 10.
𝑃𝑛 = 𝐴𝑏 ∗ 𝑓𝑛
Onde:
Ab - é a área bruta da seção transversal do parafuso;
fn - é a resistência à ruptura nominal em MPa. Quando sujeitos ao cisalhamento ou à
tração, fn é dado por fnv ou fnt indicados na Tabela 10.
Tabela 10 Tensão de tração e cisalhamento em parafusos
Resistência a Tração Resistência ao Cisalhamento
Fator de Segurança
Ω (ASD)
Fator de Resistência
Φ (LRFD)
Tensão Nominal Fnt, ksi (MPa)
Fator de Segurança
Ω (ASD)
Fator de Resistência
Φ (LRFD)
Tensão Nominal Fnv, ksi (MPa)
Parafuso A307 Grade A 6,40mm ≤ d < 12,70mm
2,25
0,75
40,5 (279)
2,4 0,65
24,0 (165)
Parafuso A307 Grade A d ≥ 12,70mm
2,25 45,0 (310)
27,0 (186)
Parafuso A325, quando o cisalhamento não passa pela rosca
2,0
90,0 (621)
54,0 (372)
Parafuso A325, quando o cisalhamento passa
pela rosca
90,0 (621)
72,0 (496)
Parafuso A354 Grade BD 6,40mm ≤ d <
12,70mm quando o cisalhamento não passa
pela rosca
101,0 (696)
59,0 (407)
Parafuso A354 Grade BD 6,40mm ≤ d <
12,70mm quando o cisalhamento passa
pela rosca
101,0 (696)
90,0 (621)
Parafuso A449 6,40mm ≤ d < 12,70mm quando o cisalhamento não passa pela rosca
81,0 (558)
47,0 (324)
Parafuso A449 6,40mm ≤ d < 12,70mm quando o cisalhamento
passa pela rosca
81,0 (558)
72,0 (496)
Parafuso A490 quando o cisalhamento não passa pela rosca
112,5 (776)
67,5 (465)
Parafuso A490 quando o cisalhamento
passa pela rosca
112,5 (776)
90,0 (621)
Fonte: Tabela E3.4-1 extraído da AISI S100 (2007).
Eq. (16)
30 Os correspondentes fatores de segurança e resistência utilizados quando o parafuso
sofrer a combinação de tração e cisalhamento, Ω e Φ, devem estar de acordo com a Tabela
10 e devem ser calculados de acordo com as equações E3.4-2 e E3.4-3 da respectiva norma.
3.8.2.6.3 Pelo EUROCODE 3 – Parte 1.3:2006
O Eurocode 3 – Design os Steel Structures, Part 1-3: Suplementary rules for cold
fomed members abd sheeting (EN, 2010) define a força resistente ao cisalhamento (FvRd) do
parafuso:
a) Quando o plano de corte passar pela rosca:
𝐹𝑣𝑅𝑑=
0,5 ∗ 𝐴𝑠 ∗ 𝑓𝑢𝑏
𝛾𝑀2
b) Quando o plano de corte não passar pela rosca:
𝐹𝑣𝑅𝑑=
0,6 ∗ 𝐴𝑠 ∗ 𝑓𝑢𝑏
𝛾𝑀2
Onde:
ɣM2 - 1,25;
fub - resistência última à tração do parafuso;
As - área transversal ao plano de corte do parafuso.
3.8.2.6.4 Pelo método da resistência dos materiais
A análise de tensões, esforços e as propriedades mecânicas dos materiais são os
principais aspectos da resistência dos materiais. Por se tratar de pesquisa, as tensões de
cisalhamento podem ser escritas na análise pura de resistência dos materiais.
A tensão é uma grandeza vetorial introduzida na resistência dos materiais em 1822,
por Augustin Louis Cauchy. Conforme Beer e Johnston (1995), quando duas forças são
aplicadas na direção transversal ao eixo de uma barra resultam na força cortante. Ao
dividirmos a força constante (F) pela área da seção transversal (A), obtemos a tensão média
de cisalhamento na seção (𝜏), conforme Equação 19:
𝜏 = 𝐹
𝐴
Eq. (17)
Eq. (18)
Eq. (19)
31
3.9 Determinação das propriedades mecânicas dos materiais metálicos
Para a determinação das propriedades mecânicas de um material metálico são
necessários vários ensaios, destrutivos ou não destrutivos. Os ensaios destrutivos promovem
a ruptura ou a inutilização do material, como os ensaios de tração, dobramento, flexão, torção,
fadiga, impacto, compressão e outros. Os ensaios não destrutivos, como o próprio nome
sugere, preservam a integridade do material, são utilizados para determinar algumas
propriedades físicas do metal e para detectar falhas internas do mesmo (SOUZA, 1982).
Dependendo da análise das forças atuantes, os ensaios mecânicos são realizados
para determinar a resistência do material a cada um dos possíveis esforços: tração,
compressão, flexão, torção, cisalhamento e pressão interna (SOUZA, 1982).
O ensaio mecânico adequado depende da finalidade do uso, dos tipos de esforços e
propriedades mecânicas do material analisado. A ABNT regulamenta alguns ensaios a
realizar em materiais metálicos, como:
a) NBR ISO 6892-1: Ensaio de tração à temperatura ambiente (ABNT, 2013);
b) NBR ISO 6892-2: Ensaio de tração à temperatura elevada (ABNT, 2013);
c) NBR ISO 148-1: Ensaio de impacto por pêndulo Charpy (ABNT, 2013);
d) NBR NM ISO 6507-1: Ensaio de dureza Vickers (ABNT, 2008);
e) NBR NM ISO 6506-1: Ensaio de dureza Brinell (ABNT, 2010);
f) NBR NM ISO 6508-2: Ensaio de dureza Rockwell (ABNT, 2008).
A ASTM F606 – Métodos de teste padrão para determinar as propriedades mecânicas
dos parafusos, arruelas e rebites (métrico) (ASTM, 2009) estabelece os procedimentos para
a realização de testes na determinação das propriedades mecânicas externas e internas de
parafusos roscados métricos, arruelas e rebites.
3.9.1 Determinação das propriedades mecânicas de parafusos métricos – ASTM F606 e ASTM A143M
A norma brasileira EB-168 (1991) agrupa os parafusos em classes de propriedades
mecânicas, levando em conta os valores de resistência à tração, alongamento e tensão de
escoamento, bem como estabelece as prescrições de peças roscadas, com diâmetro ISO
inferior a 39mm, de qualquer forma geométrica de aço-carbono ou aço-liga.
A ASTM F606 (ASTM, 2009) não referencia os ensaios para a determinação da carga
de ruptura por cisalhamento do parafuso. Pertinente a este estudo, preconiza a realização de
no mínimo três leituras em cada amostra de produto acabado.
32 Segundo o fabricante de parafusos Industrial Rex Ltda., a normativa para este caso é
a ASTM A143M – Prática padrão para a proteção contra fragilização de produtos siderúrgicos
estruturais galvanizados e processo para determinar a fragilização (ASTM, 2014).
A prática da ASTM A143M (ASTM, 2014) abrange os procedimentos que podem ser
seguidos para proteger os aços zincados por imersão a quente contra eventual fragilização
após sua fabricação e descreve procedimentos de teste para a detecção de fragilização. É
aplicável tanto em polegadas-libras ou unidades do Sistema Internacional de Medidas (SI).
O ensaio consiste na utilização de uma máquina universal de ensaios ou por meio de
uma prensa com a carga aplicada lentamente, até a fratura do corpo de prova.
33
4 MATERIAL E MÉTODOS
Esta dissertação foi desenvolvida utilizando como objeto de estudo dois elementos de
fixação: parafuso silo tradicional e parafuso silo alternativo (Figura 13), através de um modelo
de ligação parafusada em chapas metálicas, instrumentadas por meio de montagem manual
e ensaiadas em prensa hidráulica, permitindo a verificação da resistência ao cisalhamento de
ambos os tipos de parafusos.
Figura 13 Parafusos para silo tradicional e parafuso alternativo.
As cargas solicitantes nas chapas metálicas foram aplicadas até ocorrer a ruptura do
parafuso. A interpretação dos dados coletados deu-se pelas análises estatísticas pertinentes.
O parafuso tradicional possui rosca inteira (Figura 13a) e rosca parcial (Figura 13b).
Nota-se que o formato da cabeça pode variar, desde que dentro das especificações
normativas. Comparou-se o parafuso alternativo, Figura 13c, com o parafuso tradicional de
rosca parcial mais resistente que o parafuso tradicional de rosca inteira. O conjunto de porca
e arruela apresentam-se na Figura 13 d.
4.1 Resistência ao cisalhamento de cálculo dos parafusos
A análise da tensão de cisalhamento foi efetuada através da Equação 19. No entanto,
visando a utilização em silos metálicos, calculou-se a resistência ao cisalhamento através das
Equações 14, 16 e 18, para ambos os tipos de parafuso, a fim de se obter dados para posterior
comparação.
4.1.1 Resistência ao cisalhamento de cálculo do parafuso tradicional
Verificou-se a resistência ao cisalhamento de cálculo recomendado pelas quatro
normativas e definiu-se o valor teórico dado pela Equação 19, utilizando Ab e fub conforme
c) Parafuso alternativo
d) Porca com arruela
a) Parafuso tradicional sextavado M10x25 com rosca inteira
b) Parafuso tradicional sextavado M10x25 com rosca parcial
34
definidos na Tabela 11, tem-se uma força de cisalhamento de 62,83 kN. Como para o
dimensionamento pela ANSI AISI S100 não traz a tensão nominal de resistência ao
cisalhamento do parafuso ISO 898-1 (2013) e ou ISO 4016 (2000), utiliza-se o similar descrito
pela NBR 8800 (ABNT, 2008) como sendo os contemplados na ASTM A325 – portanto, fub
com 372 MPa. Os resultados obtidos provindos das quatro normativas apresentam-se na
Tabela 11:
Tabela 11 Resistência ao cisalhamento de cálculo do parafuso tradicional diâmetro 10 mm
Norma
Dimensões do
parafuso – mm:
Área bruta do parafuso no plano de corte (Ab) –
mm²:
Coeficiente de
ponderação
das ações - ɣ - adm:
Resistência de ruptura do parafuso - fub
- MPa:
Resistência ao cisalhamento de
cálculo do parafuso
tradicional – kN:
NBR 8800 – FvRd Φ 10 78,54 1,35 800 23,27 NBR 14762 –
FvRd Φ 10 78,54 1,35 800 23,27
ANSI AISI S100 - Pn
Φ 10 78,54 - 372 (Fnv) 29,22
EUROCODE 3 – Parte 1:3 – FvRd
Φ 10 78,54 1,25 800 30,16
4.1.2 Resistência ao cisalhamento de cálculo do parafuso alternativo
Para a apresentação ao mercado de um parafuso alternativo e mostrar as suas
vantagens, a análise deve basear-se em dados de resistência ao cisalhamento juntamente
com seu custo de venda. O preço do aço, em nível mundial, é avaliado basicamente pelo seu
peso; portanto, o parafuso alternativo possui a mesma massa que o parafuso tradicional.
Como o mesmo será montado sob forma de pino, o tamanho e o formato da cabeça do
elemento tornam-se irrelevantes. Assim, retirou-se a massa dessas áreas e as implantou no
plano de corte do oblongo, obtendo as dimensões no plano de corte com 10 mm por 15 mm,
totalizando uma área bruta de 128,50 mm² (Figura 14).
Figura 14 Representação 3D do parafuso alternativo.
A área efetiva do parafuso no plano de corte (Ab), pela verificação das normativas
brasileiras NBR 8800 e NBR 14762, mantendo-se os mesmos parâmetros que os utilizados
no parafuso circular, apresenta redução de 25% da área bruta do parafuso no plano de corte.
35 Utilizam-se a equação para determinar a tensão média de cisalhamento (τ) utilizando
Ab e fub conforme definidos na Tabela 12, tem-se a resistência ao cisalhamento de cálculo de
77,10 kN. Para a resistência ao cisalhamento de cálculo do parafuso alternativo, verificou-se
um aumento superior a 50% em ambas as normas, conforme Tabela 12.
Tabela 12 Resistência ao cisalhamento de cálculo do parafuso alternativo seção 15x10 mm
Norma Dimensões do parafuso
– mm:
Área bruta do parafuso no plano de corte (Ab) –
mm²:
Coeficiente de
ponderação
das ações - ɣ - adm:
Resistência de ruptura do parafuso - fub
- MPa:
Resistência ao cisalhamento de
cálculo do parafuso
alternativo – kN:
NBR 8800 – FvRd
15X10 128,50 1,35 800 38,07
NBR 14762 – FvRd
15X10 128,50 1,35 800 38,07
ANSI AISI S100 - Pn
15X10 128,50 - 372 (Fnv) 47,80
EN3 – Parte 1:3 – FvRd
15X10 128,50 1,25 800 49,34
4.2 Confecção das amostras do parafuso alternativo
A partir da determinação do limite de resistência ao cisalhamento de cálculo do
parafuso confeccionaram-se as amostras buscando haver conformidade mássica entre o
parafuso tradicional e o parafuso alternativo. Realizaram-se testes na tentativa de aferir a
montagem das chapas laterais dos silos, utilizando, primeiramente, amostras impressas em
polietileno e usinadas em aço, conforme Figura 15 a) e b). Inicialmente observou-se apenas
o aumento da resistência do parafuso; porém, devido ao aumento de massa, o custo x
benefício os tornaram inviáveis.
Figura 15 Amostras de parafusos até a obtenção do parafuso alternativo ideal. a) Amostras em plástico ABS. b) Amostras em aço e plástico ABS.
A matéria prima utilizada para a confecção das amostras do parafuso alternativo foi a
mesma que a utilizada para a fabricação dos parafusos tradicionais, inclusive o fornecimento
da barra de aço pelo próprio fabricante de parafusos. O processo de fabricação foi através da
(a) (b)
36
usinagem de cada elemento em torno CNC. Para o processo automático de fabricação, o
parafuso alternativo foi elaborado em arquivo digital, com especificações de rosca e cabeça
de acordo com as recomendações normativas e a descrição detalhada do oblongo (Figura
16):
Figura 16 Vistas do parafuso alternativo, arruela de vedação e cabeça hexolobular.
Conforme visualiza-se nas Figuras 17a e 17b, devido à complexidade ferramental não
foram executados o rebaixo para a arruela de vedação e a cabeça tipo hexolobular. Estas
alterações não interferem na análise ao cisalhamento do parafuso. Após a confecção das
amostras, para atingir as propriedades mecânicas e a proteção foram realizados os mesmos
procedimentos de têmpera e bicromatização que as dos parafuso tradicional.
37
Figura 17 a) Amostra do parafuso alternativo usinado. b) Amostras após têmpera e bicromatização.
4.3 Ensaio de cisalhamento direto dos parafusos tradicional e alternativo
Os ensaios foram realizados no laboratório da Industrial Rex Ltda através da máquina
universal de ensaios do fabricante Emic modelo DL60000, calibrada pelo INMETRO em abril
de 2016. Ensaiaram-se 23 amostras do parafuso tradicional e, devido ao tamanho do lote
fabricado, ensaiaram-se 16 amostras do parafuso alternativo, seguindo os procedimentos
normativos recomendados pela ASTM A143M (ASTM, 2014), conforme visualiza-se na Figura
18.
Devido ao formato oblongo no plano de corte do parafuso alternativo, se fez necessária
a confecção de um dispositivo para o ensaio de cisalhamento direto. Sua conformação se deu
pela usinagem e têmpera a partir de um bloco de aço, conforme Figura 18d.
O parafuso tradicional apresentou os resultados individuais ao cisalhamento direto,
descritos na Tabela 13:
Tabela 13 Resistência ao cisalhamento direto do parafuso tradicional
Amostra Carga de
ruptura – kN: Amostra
Carga de ruptura – kN:
Amostra Carga de
ruptura – kN:
01 44,02 09 46,25 17 47,28 02 45,26 10 46,74 18 47,73 03 46,19 11 45,28 19 48,92 04 45,17 12 47,65 20 48,96 05 46,98 13 47,85 21 46,27 06 46,11 14 47,26 22 47,99 07 46,43 15 47,32 23 46,67 08 48,09 16 47,36
(a) (b)
38
Figura 18 Ensaio de cisalhamento direto dos parafusos. a) Máquina universal de ensaios. b) Dispositivo para ensaio de cisalhamento direto do parafuso tradicional. c) Forma de inserção do parafuso no dispositivo. d) Dispositivo confeccionado para o ensaio de cisalhamento direto do parafuso alternativo.
Na Tabela 14 estão apresentados os resultados individuais de cada amostra do
parafuso alternativo ensaiados por cisalhamento direto:
Tabela 14 Resistência de cisalhamento direto do parafuso alternativo
Amostra Carga de ruptura –
kN: Amostra
Carga de ruptura – kN:
Amostra Carga de ruptura –
kN:
01 107,31 07 102,12 13 111,18 02 110,11 08 108,85 14 107,84 03 104,54 09 109,34 15 111,26 04 102,96 10 111,59 16 104,92 05 102,41 11 107,52 06 105,00 12 107,07
4.4 Chapas metálicas do corpo do silo
A determinação da resistência dos elementos de fixação é necessária para garantir a
segurança dos componentes utilizados na construção do silo, especificamente as chapas
metálicas. As características geométricas de um modelo de chapa lateral apresentam-se nas
Figuras 19 e 20.
(a)
(d) (c)
(b)
39
Figura 19 Geometria das chapas onduladas.
As paredes dos silos metálicos são formadas por chapas corrugadas e onduladas,
presas onda por onda em chapas previamente calandradas e perfuradas.
Figura 20 Modelo de chapa metálica.
As costuras das ligações geralmente são duplas, quádruplas e sêxtuplas com 11, 13,
17 e 19 linhas de parafusos. Para cada empresa fabricante de silos, o modelo de chapa
40
metálica utilizado é variado, atrelando as características geométricas de acordo com os
maquinários para fabricação.
Sendo a ruptura dos parafusos um dos critérios na determinação da resistência final
do conjunto do corpo do silo, neste estudo foram determinadas apenas as resistências
provindas do elemento parafuso, avaliando apenas se há influência da chapa metálica.
4.5 Resistência de cálculo das chapas de ligação para simulação do efeito da chapa lateral de silo metálico
O propósito deste ensaio foi determinar a carga real de ruptura do parafuso quando
submetido ao contato com a chapa lateral utilizada pelos fabricantes de silo, com o intuito de
averiguar possíveis divergências entre o cisalhamento direto do parafuso e o cisalhamento
por contato com a chapa lateral. Não se levou em consideração o modelo da costura das
chapas laterais, e sim somente o cisalhamento do parafuso quando em contato com a chapa.
Pré determinadas as resistências ao cisalhamento de cálculo de ambos os tipos de
parafusos, fez-se necessário o dimensionamento das chapas de apoio, pré-definidas pelos
fabricantes de silo, que serviram como base para o ensaio de cisalhamento dos parafusos,
sendo elas no mínimo mais resistentes que a resistência ao cisalhamento de cálculo do
parafuso.
4.5.1 Determinação da tensão de ruptura das chapas de ligação – Ensaio de tração
Para estabelecer a real resistência ao esmagamento e rasgamento, fez-se necessário
definir o limite de ruptura do aço da chapa de apoio através do ensaio de tração das amostras.
Os procedimentos utilizados nos ensaios à tração à temperatura ambiente foram os
descritos na NBR 6892 – Materiais e Métodos – Ensaio de tração, Parte 1: Método de ensaio
à temperatura ambiente (ABNT, 2013), os quais consistem em solicitar o corpo de prova com
esforço de tração até a ruptura, a fim de determinar as propriedades mecânicas do material.
Para a chapa de apoio do parafuso tradicional retiraram-se 4 amostras de chapa com
espessura 3,35 mm de classe estrutural G450 e moldaram-se os corpos de prova conforme
as recomendações da NBR 6892 (ABNT, 2013), e as características conforme a Figura 21.
41
Figura 21 Corpo de prova para ensaio a tração com espessura superior a 3 mm. Fonte: NBR 6892 (ABNT, 2013).
Os ensaios foram realizados com o auxílio de uma prensa hidráulica com capacidade
de 100 toneladas, calibrada pelo INMETRO e disponível no Laboratório de Construção Civil
da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus Cascavel. O ensaio foi realizado à
temperatura ambiente, entre 10 e 35 °C.
Para as amostras ensaiadas, Figura 22, obteve-se uma tensão média de ruptura de
675,28 MPa, aproximadamente 41% superior ao indicado na Tabela 4, conforme a norma
AS1397 (AS, 2011).
Figura 22 Ensaio de tração do aço utilizado nas chapas de apoio 3,35 mm.
Devido ao esmagamento da chapa 3,35 mm G450 aproximou-se do limite último de
resistência ao cisalhamento do parafuso alternativo, utilizaram-se 6 amostras de chapa com
espessura 4,00 mm de classe estrutural LNE550, moldando os corpos de prova e ensaiando-
os conforme as recomendações acima citadas.
As amostras ensaiadas, Figura 23, resultaram em uma tensão média de ruptura de
783,16 MPa, aproximadamente 31% superior ao indicado na Tabela 4, conforme a norma
AS1397 (AS, 2011).
42
Figura 23 Ensaio de tração do aço utilizado nas chapas de apoio 4,00 mm.
4.5.2 Verificação do esmagamento e rasgamento das chapas de ligação
Determinada a tensão média de ruptura das chapas de apoio, verificou-se as
resistências ao rasgamento (Equação 10) e ao esmagamento (Equação 11) para ambos os
modelos de chapas de apoio, conforme Tabela 15. A definição das distâncias entre furo e
borda se deu interativamente até a obtenção de um valor superior ao limite último de
resistência ao cisalhamento do parafuso definido na Tabelas 11 e 12.
Tabela 15 Resistência ao esmagamento e rasgamento das chapas de apoio
Tipo do parafuso:
Espessura – mm:
Diâmetro do parafuso no sentido da
carga – mm:
Ruptura do aço – MPa:
Distância entre furo e
borda - mm:
Resistência ao esmagamento
(Eq. 11) NBR8800 - kN:
Resistência ao rasgamento
(Eq. 10) NBR8800 -
kN:
Tradicional 6,70 10 675,28 70 80,43 80,44 Alternativo 8,00 10 783,16 70 111,38 111,38 Alternativo 8,00 15 783,16 70 167,07 167,07
Verificou-se que há influência do posicionamento na chapa de apoio do parafuso
alternativo devido ao mesmo apresentar duas seções distintas. O diâmetro dos furos foi
determinado a partir das tolerâncias estabelecidas na NBR 14762 (ABNT, 2010) apresentadas
na Tabela 7, caracterizando-os como furo alargado. Prevendo a montagem no silo metálico,
posicionou-se o parafuso alternativo com a menor face no sentido paralelo a solicitação dos
esforços, conforme Figura 24b:
43
Figura 24 Modelos de chapa apoio para ensaio de cisalhamento dos parafusos. A) Chapa de apoio para o parafuso tradicional. B) Chapa de apoio para o parafuso alternativo.
4.6 Ensaio de cisalhamento dos parafusos utilizando a chapa de ligação
A montagem do aparato para o ensaio de cisalhamento se deu pela união das chapas
de apoio através do conjunto de um parafuso, arruela e porca (Figura 25). Para o aperto dos
parafusos utilizou-se o torque de aperto de 54 kN.m de acordo com o diâmetro e classe de
resistência 8.8, para ambos os tipos de parafusos. Realizaram-se 27 ensaios com o parafuso
tradicional e três ensaios com o parafuso alternativo, número mínimo requerido por norma.
Figura 25 a) Conjunto do parafuso tradicional para ensaio de cisalhamento. b) Conjunto do parafuso alternativo para ensaio de cisalhamento.
(b) (a)
(b) (a)
Direção do esforço
44
4.6.1 Resistência ao cisalhamento do parafuso tradicional utilizando a chapa de ligação
Na Tabela 16 apresentam-se os resultados individuais de cada amostra do parafuso
alternativo ensaiados com a utilização da chapa lateral:
Tabela 16 Resistência ao cisalhamento do parafuso tradicional utilizando chapas de apoio 3,35 mm
Amostra Carga de ruptura –
kN: Amostra
Carga de ruptura – kN:
Amostra Carga de ruptura –
kN:
01 51,59 10 51,27 19 56,34 02 57,73 11 58,30 20 53,38 03 57,23 12 52,51 21 56,05 04 57,76 13 52,66 22 55,12 05 51,55 14 59,41 23 55,09 06 57,70 15 51,12 24 52,59 07 55,95 16 56,45 25 53,34 08 56,02 17 58,60 26 55,99 09 52,23 18 53,66 27 51,91
4.6.2 Resistência ao cisalhamento do parafuso alternativo utilizando a chapa de ligação
Utilizaram-se duas chapas de apoio de 4 mm, uma para cada apoio do equipamento,
e uma terceira chapa, que serviu como arruela. Não foi possível realizar a amostragem
prevista para o parafuso alternativo por consequência das deformações excessivas nas
chapas de apoio ao término de cada ensaio, conforme Figuras 26 e 30.
Realizaram-se três ensaios até a constatação do esmagamento e rasgamento
ocorrerem, anterior à ruptura do parafuso, conforme Tabela 17, encerrando o número de
amostras ensaiadas.
Figura 26 Conjunto do parafuso alternativo após o ensaio de cisalhamento.
45 Devido ao tamanho da amostra, a interpretação desta análise pode sofrer a
interferência do erro amostral. A utilização de uma amostra implica na aceitação de uma
margem de erro, denominada erro amostral. Não é possível evitar a ocorrência do erro
amostral, porém há como limitar seu valor através da escolha de uma amostra de tamanho
adequado. Quanto maior for o tamanho da amostra, menor será o erro padrão e mais perto
os valores das duas médias estarão um do outro.
Tabela 17 Resistência de cisalhamento do parafuso alternativo utilizando chapas de apoio 4,00 mm
Amostra Carga de ruptura –
kN: Amostra
Carga de ruptura – kN:
Amostra Carga de ruptura –
kN:
01 77,50 02 78,48 03 79,76
4.7 Análise estatística pelo ensaio de cisalhamento direto dos parafusos
Por ser um material experimental confeccionado da mesma matéria prima, mesmo
processo de conformação, têmpera, bicromatizagem e ensaio de cisalhamento, tem-se a
homogeneidade das condições experimentais, permitindo uma comparação de médias pelo
Teste t de Student.
Para a aplicação do teste, a comparação de médias só pode ser feita após a análise
de variância. Isto porque todos os procedimentos para obter a diferença mínima significativa
(d.m.s) exigem o cálculo do quadrado médio do resíduo. Contudo, a análise de variância
também dá o valor de F, que permite decidir se as médias são ou não iguais, a determinado
nível de significância.
Quando a fonte sendo testada não for uma interação e se reduzir a apenas um grau
de liberdade, o teste F é adequadamente aplicado ao teste t de Student.
Assim, as 23 amostras dos parafusos dos tipos tradicional e alternativo que receberam
os respectivos tratamentos foram distribuídas de forma inteiramente aleatória através de
sorteio, para que cada unidade experimental tivesse a mesma probabilidade de receber
qualquer um dos tratamentos avaliados, sem nenhuma restrição ou tendência no critério de
casualização, podendo cada tratamento apresentar quantidades iguais ou diferentes de
repetições.
Por apresentar somente um fator na análise do experimento, utilizou-se o experimento
com um fator de efeito fixo, definido pela resistência ao cisalhamento do parafuso. Nesta
situação, foram testadas hipóteses sobre as médias dos tratamentos e as conclusões obtidas
foram aplicáveis somente aos níveis dos fatores considerados na análise. As suposições
realizadas para validar o modelo foram: normalidade dos dados, aleatoriedade e
independência.
46 No entanto, como as amostras são réplicas, é possível a obtenção de uma estimativa
da variabilidade devido ao erro experimental.
4.7.1 Erro de modelo ou coeficiente profissional
Por se tratar de um comparativo entre resultados experimentais (Fexp), obtidos em
laboratório por meio de ensaios, e resultados teóricos (Fteo), obtidos com base em modelos
matemáticos segundo previsões normativas, a variável aleatória erro de modelo (Me) é obtida
considerando os valores do limite último de resistência ao cisalhamento de cálculo, através
da Equação 20.
𝑀𝑒 =𝐹𝑒𝑥𝑝
𝐹𝑡𝑒𝑜
Sendo:
Fexp - a força resistente do parafuso obtida experimentalmente;
Fteo - a força resistente do parafuso obtida teoricamente.
Esse procedimento consistiu em analisar os resultados da resistência ao cisalhamento
obtidos nos ensaios previstos por determinado modelo analítico, para que com isso fosse
possível a correta avaliação da variável erro de modelo.
Após o cálculo da variável aleatória Me, construíram-se testes de aderência e ajustes
para definir a melhor distribuição de probabilidades que se adequem à variável, de modo que
toda a informação estatística possa ser obtida e posteriormente processada (BOLANDIM,
2011).
A média da variável erro de modelo (Me mean) podem ser calculada para indicar o caráter
de tendenciosidade do modelo, seja ele conservador ou inseguro. Através da Me mean, caso o
modelo resulte unitário, o mesmo será exatamente o fenômeno mecânico estudado, revelando
o quão conservador ou inseguro se encontra o modelo, de modo que possíveis correções
possam ser feitas.
Logo, pode-se corrigir o modelo matemático fazendo-se uso do Me mean,
proporcionando um modelo corrigido e resultando na força resistente correta (Equação 21).
𝐹𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑡𝑜 = 𝑀𝑚𝑒𝑎𝑛 ∗ 𝐹𝑡𝑒𝑜
Eq. (20)
Eq. (21)
47
4.7.2 Carta de controle – Gráfico de valores individuais a amplitude móvel
Devido ao fato do parafuso tradicional ser fabricado em um processo contínuo por uma
empresa especializada e o parafuso alternativo ser moldado em torno CNC, elaborou-se o
gráfico de valores individuais e amplitude média, para certificar-se da existência ou não de
desvios no processo de fabricação do parafuso alternativo.
Atendida a suposição de normalidade dos dados, utilizou-se a carta de controle dos
valores individuais, limitado pela linha superior (limite superior de controle) e uma linha inferior
(limite inferior de controle), além de uma linha média. O objetivo foi verificar, por meio do
gráfico, se o processo estava sob controle, isto é, isento de causas especiais.
Para a amplitude móvel verificou-se a diferença entre as duas mensurações
sequenciais, a fim de monitorar a variabilidade.
4.8 Análise estatística para o ensaio de cisalhamento dos parafusos utilizando as chapas de apoio
Para verificar a resistência da ligação parafusada utilizando ambos os tipos de
parafusos, primeiramente elaborou-se uma análise exploratória a fim de analisar o desvio
padrão e coeficiente de variação.
Foram verificadas e validadas as suposições do modelo e, então, se realizou o teste t
de Student. O teste permite que duas médias obtidas de grupos experimentais com número
de observações diferentes possam respectivamente ser comparadas.
48
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Características físicas da ruptura na área de cisalhamento de ambos os tipos de parafusos
5.1.1 Ensaio de cisalhamento direto
As características de fratura de ambos os tipos de parafuso se assemelharam na
região do plano de corte, conforme Figuras 27 e 28. Permaneceram intactas as cabeças dos
parafusos, indicando a não influência do formato da mesma na resistência ao cisalhamento,
não prejudicando os resultados do parafuso alternativo, visto que ocorreu uma redução de
volume da cabeça para o preenchimento no oblongo do corpo.
Figura 27 Corpos de prova do parafuso tradicional após ruptura por ensaio de cisalhamento direto.
Os parafusos tradicionais apresentaram cisalhamento a meia altura do corpo,
consideração ideal de acordo com as recomendações normativas; porém, nem sempre o que
ocorre na montagem das chapas laterais de silos metálicos ou outras estruturas parafusadas.
Para as amostras do parafuso alternativo nem todas tiveram a ruptura a meia altura
do corpo, sendo o dispositivo com as mesmas características do parafuso tradicional. Na
Figura 28 nota-se que a amostra após o ensaio apresentou duas fraturas. A fratura entre a
cabeça e o corpo refere-se à região de cisalhamento testada. A região entre o corpo e a rosca
foi efetuada após o ensaio para a retirada das amostras do dispositivo.
49
Figura 28 Corpos de prova do parafuso alternativo após ruptura por ensaio de cisalhamento direto.
5.1.2 Ensaio de cisalhamento utilizando as chapas de apoio
A ruptura no plano de corte do parafuso tradicional assemelhou-se para as 27
amostras (Figura 29), com corte reto e levemente escoado na face oposta à aplicação da
carga. Segundo a NBR 8800 (ABNT, 2008), este tipo de ruptura caracteriza-se como
cisalhamento com corte simples, conforme o esperado.
Figura 29 Corpos de prova do parafuso tradicional após ruptura por ensaio de cisalhamento com chapas de apoio.
No parafuso alternativo, após a desmontagem do conjunto verificou-se, anterior à
ruptura por cisalhamento do parafuso, o rasgamento da chapa de apoio, conforme Figura 30a.
50
No parafuso alternativo constatou-se a deformação plástica no plano de corte do oblongo, não
havendo visíveis interferências na cabeça e na rosca do mesmo – Figura 30b.
Figura 30 a) Rasgamento das chapas de apoio 4,00 mm. b) Deformação plástica no parafuso alternativo.
5.2 Análise estatística do parafuso tradicional por cisalhamento direto
A análise exploratória teve como objetivo organizar, conhecer e apresentar algumas
características do conjunto de dados observados. A Tabela 18 apresenta o valor médio
experimental da resistência de 46,86 kN para as 23 amostras do parafuso tradicional
ensaiadas pelo método do cisalhamento direto.
Tabela 18 Análise exploratória da carga de ruptura (kN) do parafuso tradicional por cisalhamento direto
Mínimo Mediana Média Máximo Variância Desvio Padrão Coeficiente de Variação
%
44,02 46,98 46,86 48,96 1,48 1,22 2,60
Esta média sobrepõe aproximadamente 155% em relação a resistência de ruptura do
parafuso obtida através do Eurocode 3 (Tabela 11) e 268% em relação a NBR 8800 e NBR
14762. Contudo, os valores apresentados pelas normativas utilizam os coeficientes parciais
de segurança que ponderam essas forças.
Outro fato importante a ser citado foi que, para a avaliação das cargas resistentes dos
parafusos, todos os coeficientes parciais de segurança que ponderam essas forças e a área
bruta foram tomados como unitários, proporcionando dessa forma valores nominais da carga
resistente quando a marcha de cálculo presente nessas prescrições normativas é seguida.
(a) (b)
51
Utilizando, portanto, a teoria da resistência dos materiais, a média experimental preteriu-se
cerca de 25% em relação às amostras ensaiadas.
Segundo Bolandim (2006), estes resultados não representam a informação estatística
coerente, pois não foram realizados testes de aderência e ajustes para encontrar uma
distribuição de probabilidades que melhor se adeque à variável. Por se tratar de uma
comparação entre resultados experimentais, obtidos em laboratório por meio de ensaios, e
resultados teóricos, obtidos com base em modelos matemáticos segundo previsões
normativas, a variável erro do modelo foi obtida considerando os valores médios de resistência
dos materiais sem a consideração dos coeficientes parciais de segurança.
A variância é uma medida de dispersão estatística e indica o quanto afora em geral
seus valores se encontram desviados do valor esperado. Conforme a Tabela 18, neste
experimento tem-se uma pequena diferença entre os valores da carga de ruptura do parafuso
em relação à média. Para conservarmos as unidades do desvio e dos dados, calculou-se o
desvio padrão no qual não se evidenciou variação ou dispersão existentes em relação à
média.
O experimento possui alta precisão, com um coeficiente de variação de 2,60%, pois,
segundo Pimentel Gomes (2000), quando inferior a 10% é considerado baixo. O histograma
representado pela Figura 31 demonstra visualmente a análise exploratória geral dos
resultados da carga de ruptura do parafuso tradicional pelo método do cisalhamento direto.
48,848,047,246,445,644,844,0
Median
Mean
47,447,247,046,846,646,446,2
95% Confidence Intervals
Summary for Cisalhamento trad. direto - kN
Figura 31 Histograma das amostras de parafuso tradicional por cisalhamento direto.
A análise de simetria indicou um pequeno grau de distorção, caracterizando-se como
uma assimetria negativa para a esquerda e a medida de curtose indicou uma curva com
achatamento platicúrtico.
52
5.2.1 Suposições do modelo
Para a análise das suposições do modelo considerou-se o nível de significância de
5%. Foram satisfeitas as pressuposições de normalidade, aleatoriedade e independência.
5.2.1.1 Análise de normalidade
Os testes paramétricos partem do pressuposto que a população da qual as amostras
foram retiradas sejam normalmente distribuídas para se decidir pelo uso do teste paramétrico
ideal. Para isso, utilizaram-se os testes de normalidade de Shapiro-Wilk, Anderson-Darling e
Kolmogorov-Smirnov, conforme Tabela 19. Para ambos os testes foram tomadas duas
hipóteses:
H0: a carga de ruptura do parafuso tradicional por cisalhamento direto seguiu a
distribuição normal;
H1: a carga de ruptura do parafuso tradicional por cisalhamento direto não seguiu a
distribuição normal.
Portanto, sendo p-valor < α, rejeitou-se H0, e sendo p-valor ≥ α, não se rejeitou H0.
Tabela 19 Aplicação dos testes de normalidade para as amostras de parafuso tradicional por cisalhamento direto
Testes de normalidade Ruptura – P-valor Nível de significância
α=5% Distribuição Normal
Shapiro-Wilk 0,100 > 0,05 Sim Anderson-Darling 0,774 > 0,05 Sim Kolmogorov-Smirnov 0,150 > 0,05 Sim
Obteve-se p-valor > α, portanto para as 23 amostras ensaiadas não se rejeitou H0 ao
nível de 5% de significância, concluindo que os dados da variável resposta seguem a
distribuição normal, com nível de confiança de 95%. Através da Figura 32, evidenciou-se a
distribuição normal dos dados.
53
515049484746454443
99
95
90
80
70
60
50
40
30
20
10
5
1
Cisalhamento trad. direto - kN
Pe
rce
nt
Probability Plot of Cisalhamento trad. direto - kNNormal - 95% CI
Figura 32 Papel de probabilidade das amostras de parafuso tradicional por cisalhamento
direto.
5.2.1.2 Análise da aleatoriedade
Para a análise de aleatoriedade utilizaram-se as seguintes hipóteses:
H0: se p-valor > 0,05, não se rejeitou Ho a um nível de 5% de significância, ou seja,
os dados foram aleatórios;
H1: se p-valor < 0,05, então se rejeitou Ho a um nível de 5% de significância, ou seja,
os dados não foram aleatórios.
Através do software Minitab se obteve p-valor igual a 0,137, resultando em um valor
maior que 0,05, não se rejeitando a hipótese de aleatoriedade.
5.2.1.3 Análise de independência
Na análise de independência averiguou-se, através da Figura 33, a não tendência dos
dados, verificando a existência da independência entre o número de amostras e as medidas
das cargas de ruptura do parafuso tradicional por cisalhamento direto.
O gráfico de dispersão foi usado para indicar a independência. Neste caso, a hipótese
só foi garantida por não existirem fatores estranhos e a aleatorização no sorteio das amostras,
dado que o comportamento dos pontos não se repetiu de maneira relacionada, tendo, assim,
indícios de independência.
54
494847464544
49
48
47
46
45
Cisalhamento trad. direto - k_1
Cis
alh
am
en
to t
rad
. d
ire
to -
kN
Scatterplot of Cisalhamento trad. diret vs Cisalhamento trad. diret
Figura 33 Análise de independência do parafuso tradicional utilizando a chapa de apoio.
Através da autocorrelação das amostras pela Figura 33 também não há evidências no
padrão nos pontos, demonstrando a aleatoriedade dos mesmos.
222018161412108642
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
-0,2
-0,4
-0,6
-0,8
-1,0
Lag
Au
toco
rre
lati
on
Autcorrelação - Cisalhamento trad. direto - kN
Figura 34 Autocorrelação do parafuso tradicional por cisalhamento direto.
5.3 Análise estatística da resistência do parafuso alternativo ao cisalhamento direto
A Tabela 20 apresenta os dados da análise exploratória das 16 amostras ensaiadas
do parafuso alternativo pelo método do cisalhamento direto.
55
Tabela 20 Análise exploratória da carga de ruptura (kN) do parafuso alternativo por cisalhamento direto
Mínimo Mediana Média Máximo Variância Desvio Padrão Coeficiente de Variação
%
102,12 107,41 107,13 111,59 10,11 3,18 2,97
A média experimental de 107,13 kN em relação à resistência de ruptura do parafuso
obtido através do Eurocode 3 (Tabela 11) sobressaiu em aproximadamente 281% e 375% em
relação às NBR 8800 e NBR 14762; porém, os valores apresentados pelas normativas utilizam
os coeficientes parciais de segurança que ponderam essas forças.
As cargas resistentes dos parafusos foram analisadas da mesma maneira que a
utilizada no parafuso tradicional, tomando como unitário as ponderações das forças e a
redução da área bruta. Assim, a resistência calculada, de 77,10 kN, foi inferior em 39% em
relação à resistência experimental obtida.
Nos resultados experimentais obtidos tem-se uma pequena diferença entre os valores
da carga de ruptura do parafuso em relação à média. O desvio padrão não evidenciou
variação significativa ou dispersão existente em relação à média.
O experimento também se enquadrou com baixa variação e alta precisão nas
respostas obtidas, segundo Pimentel Gomes (2000), com coeficiente de variação de 2,97%.
Através da Figura 35, visualiza-se a distribuição das amostras ensaiadas e a curva de
frequência da carga de ruptura do parafuso alternativo pelo método do cisalhamento direto.
112110108106104102
Median
Mean
110109108107106105
95% Confidence Intervals
Summary for Cisalhamento alt. direto - kN
Figura 35 Histograma das amostras de parafuso alternativo por cisalhamento direto.
A análise de simetria indicou um pequeno grau de distorção, caracterizando-se como
uma assimetria negativa para a esquerda e a medida de curtose indicou uma curva com
achatamento platicúrtico.
56
5.3.1 Suposições do modelo
Atenderam-se as pressuposições: normalidade, aleatoriedade e independência. As
análises das suposições do modelo consideraram o nível de significância de 5%.
5.3.1.1 Análise de normalidade
Os testes paramétricos necessitaram de alguns pressupostos, como a população da
qual as amostras foram retiradas serem normalmente distribuídas para se decidir pelo uso do
teste paramétrico ideal. Utilizaram-se os mesmos testes de normalidade que os do parafuso
tradicional: Shapiro-Wilk, Anderson-Darling e Kolmogorov-Smirnov apresentados pela Tabela
21. Para ambos os testes foram tomadas duas hipóteses:
H0: a carga de ruptura do parafuso alternativo por cisalhamento direto segue a
distribuição normal;
H1: a carga de ruptura do parafuso alternativo por cisalhamento direto não segue a
distribuição normal.
Portanto, sendo p-valor < α rejeitou-se H0 e sendo p-valor ≥ α, não se rejeitou H0.
Tabela 21 Aplicação dos testes de normalidade para as amostras de parafuso alternativo por cisalhamento direto
Testes de normalidade Ruptura – P-valor Nível de significância
α=5% Distribuição Normal
Shapiro-Wilk 0,100 > 0,05 Sim Anderson-Darling 0,519 > 0,05 Sim Kolmogorov-Smirnov 0,150 > 0,05 Sim
Obteve-se p-valor > α, portanto, para os três testes realizados, assim como a análise
do parafuso tradicional, não se rejeitou H0 ao nível de 5% de significância, concluindo que os
dados da variável resposta seguem a distribuição normal, com nível de confiança de 95%.
Através da Figura 36, evidenciou-se a distribuição normal dos dados.
57
120115110105100
99
95
90
80
70
60
50
40
30
20
10
5
1
Cisalhamento alt. direto - kN
Pe
rce
nt
Probability Plot of Cisalhamento alt. direto - kNNormal - 95% CI
Figura 36 Papel de probabilidade das amostras de parafuso alternativo por cisalhamento
direto.
5.3.1.2 Análise da aleatoriedade
Para a análise de aleatoriedade utilizaram-se as seguintes hipóteses:
H0: se p-valor > 0,05, não se rejeitou Ho a um nível de 5% de significância, ou seja,
os dados são aleatórios;
H1: se p-valor < 0,05, então se rejeitou Ho a um nível de 5% de significância, ou seja,
os dados não são aleatórios.
Obteve-se p-valor igual a 0,130 resultando em um valor maior que 0,05, ou seja, não
se rejeitou a hipótese de aleatoriedade.
5.3.1.3 Análise de independência
A Figura 37 foi utilizada para indicar a independência dos dados. Neste caso, a
hipótese só foi garantida por não existirem fatores estranhos e a aleatorização no sorteio das
amostras, dado que o comportamento dos pontos não se repetiu de maneira relacionada,
tendo, assim, indícios de independência.
58
112110108106104102
112
110
108
106
104
102
Cisalhamento alt. direto - kN_1
Cis
alh
am
en
to a
lt.
dir
eto
- k
N
Scatterplot of Cisalhamento alt. direto vs Cisalhamento alt. direto
Figura 37 Análise de independência do parafuso alternativo por cisalhamento direto.
Para se ter a confiança desta condição, analisou-se a autocorrelação das amostras
pela Figura 38, não evidenciando padrão nos pontos e demonstrando aleatoriedade dos
mesmos.
151413121110987654321
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
-0,2
-0,4
-0,6
-0,8
-1,0
Lag
Au
toco
rre
lati
on
Autcorrelação - Cisalhamento alt. direto - kN
Figura 38 Autocorrelação do parafuso alternativo por cisalhamento direto.
5.4 Comparações de média para os parafusos por cisalhamento direto - Teste t de student
Os resultados do teste T de student apresentaram p-valor zero. Assim, ao nível de 1%
de significância há evidências muito fortes de se rejeitar a hipótese H0. Ou seja, o tipo do
parafuso é significativo, pois apresenta diferença entre as médias das amostras ensaiadas,
como mostra a Figura 39. A estimativa da diferença estatística de ambos os modelos de
59
parafuso pelo método do cisalhamento direto foi de 60,27 kN, abrangendo um intervalo de
confiança com nível de significância de 5% de 62,02 a 58,51 kN.
Cisalhamento alt. direto - kNCisalhamento trad. direto - kN
120
110
100
90
80
70
60
50
40
Da
ta
Boxplot of Cisalhamento trad. direto - kN; Cisalhamento alt. direto - kN
Figura 39 Box plot da comparação da carga de ruptura de ambos os tipos de parafusos por cisalhamento direto.
Para as amostras ensaiadas, o aumento da área de cisalhamento no plano de corte
do parafuso alternativo aparenta ter produzido efeitos positivos na resistência ao cisalhamento
do parafuso tradicional. A média de 107,13 kN dos parafusos alternativos que receberam este
acréscimo de área foi significantemente melhor (α = 0,01) do que o grupo que não recebeu
(com média de 46,86 kN).
5.5 Análise comparativa da resistência dos parafusos por cisalhamento direto
Por se tratar de comparações teóricas e experimentais, utilizou-se como referência a
ruptura descrita pela teoria da resistência dos materiais para efetuar as comparações de
resistência da ruptura. A descrição desta teoria é a simplificação das recomendações
normativas, retirados apenas os coeficientes de ponderação das forças e a redução da área
de corte.
O parafuso tradicional apresentou força de ruptura média experimental para as 23
amostras de 46,86 kN 25% inferior ao definido teoricamente (62,83 kN), porém superior aos
dados recomendados normativamente.
Quanto ao parafuso alternativo a força média experimental obtida de 107,13 kN
sobressaiu a resistência teórica dada de 77,10 kN em 39%, inversamente ao que aconteceu
com o parafuso tradicional, no qual ocorreu uma redução de 25% da resistência experimental
comparada com a resistência teórica.
60 A média experimental obtida pelo parafuso alternativo foi superior à resistência ao
cisalhamento descrito pelas normativas (Tabela 11), mesmo apresentando os coeficientes
parciais de segurança. A amplitude das variações presentes nas normativas foram em torno
de 281% e 375%, sobressaindo a resistência do parafuso ensaiado em relação às normas.
Conforme a estimativa dada no Teste t, a diferença estatística de ambos os parafusos
(60,27 kN) com ganho percentual de 128% na resistência do parafuso alternativo supera o
aumento de área na parte oblonga do parafuso alternativo de 64% (78,53 mm² para 128,50
mm²).
5.6 Erro modelo do parafuso alternativo pelo método do cisalhamento direto
Após as amostras terem sido verificadas de acordo com os documentos normativos,
nos quais foram utilizados valores médios da resistência dos materiais por meio da
consideração de um intervalo de confiança de 95% para os resultados experimentais e
coeficientes parciais de resistência unitários, a variável aleatória erro de modelo (Me) foi
calculada.
No entanto, a verificação da variável Me foi abordada apenas para o parafuso
alternativo, visto que o mesmo se encontra em caráter experimental em relação ao parafuso
tradicional normatizado.
Calculou-se a variável Me para as 16 amostras ensaiadas do parafuso alternativo, para
então determinar a média da variável erro de modelo (Me mean). A Tabela 22 traz os resultados
do erro de modelo utilizando como Fteo o valor de 77,10 kN definido pela Equação 19:
Tabela 22 Determinação da média da variável erro de modelo do parafuso alternativo - Mmean Amostra: Fexp – kN: Me – adm: Mmean – adm:
01 107,31 1,39
1,393
02 110,11 1,43 03 104,54 1,36 04 102,96 1,34 05 102,41 1,33 06 105,00 1,36 07 102,12 1,32 08 108,85 1,41 09 109,34 1,42 10 111,59 1,45 11 107,52 1,39 12 107,07 1,39 13 111,18 1,44 14 107,84 1,40 15 111,26 1,44 16 104,92 1,36
É importante comentar que a variável aleatória erro de modelo, ou, para ser mais
preciso, a média do erro de modelo (Me,mean), tem a capacidade de indicar um possível caráter
61
conservador ou inseguro de modelos analíticos, quando inserido corretamente em uma
análise de confiabilidade.
Como Me mean não resultou em um valor unitário verifica-se que o valor teórico definido
em cálculo (Equação 19) não se aplica exatamente ao fenômeno mecânico estudado. O valor
de 1,393 indica o percentual de 39,30% na variação dos valores ensaiados em relação aos
valores obtidos teoricamente.
Logo, corrigindo o modelo matemático fazendo uso do Me mean, tem-se a força
resistente correta do parafuso alternativo (Equação 21), como:
𝐹𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑡𝑜 = 1,393 ∗ 77,10 𝑘𝑁
𝐹𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑡𝑜 = 107,40 𝑘𝑁
5.7 Carta de controle de ambos os tipos de parafusos
Atendido o pressuposto de normalidade de ambos os modelos de parafusos, verificou-
se através da carta de controle individual e amplitude móvel a aleatoriedade dos pontos em
torno da média.
Para o parafuso tradicional verificou-se, na Figura 40, que na amplitude móvel os
valores estiveram dentro dos limites de controle e apresentaram um comportamento aleatório,
indicando controle do processo estatístico. Porém, no gráfico de valores individuais a primeira
observação se encontrou fora do limite inferior de controle, sendo que os pontos
subsequentes apresentaram variação aleatória, o que pode indicar a presença de uma causa
especial de variação no processo.
62
2321191715131197531
50
48
46
44
Observation
In
div
idu
al
Va
lue
_X=46,86
UC L=49,567
LC L=44,153
2321191715131197531
3
2
1
0
Observation
Mo
vin
g R
an
ge
__MR=1,018
UC L=3,325
LC L=0
1
I-MR Chart of Cisalhamento trad. direto - kN
Figura 40 Carta de controle do parafuso tradicional por cisalhamento direto.
Segundo Montgomery (2009), os critérios suplementares geralmente são utilizados até
que o processo esteja sob controle. Depois disso, pode-se adotar apenas o critério básico (1
ou mais pontos fora dos limites de controle), mas fica a cargo do analista responsável decidir
quais regras serão empregadas pelo laboratório.
Nestes termos, adotou-se a primeira observação como variável excepcional do
processo, visto que o valor experimentado de 44,02 kN se aproximou do limite inferior de
44,15 kN para três desvios padrão. Tendo a variável excepcional como primeira amostra
ensaiada, pode-se caracterizá-la como um erro aleatório por variáveis no ajuste da amostra
no dispositivo, calibração das mesas e/ou velocidade do ensaio.
O parafuso alternativo não apresentou tendências ou causas especiais, evidenciando
a não existência de que o processo esteve fora de controle para as cartas de controle dos
valores individuais e amplitude móvel (Figura 41).
63
15131197531
116
112
108
104
100
Observation
In
div
idu
al
Va
lue
_X=107,13
UC L=115,49
LC L=98,76
15131197531
10,0
7,5
5,0
2,5
0,0
Observation
Mo
vin
g R
an
ge
__MR=3,14
UC L=10,27
LC L=0
I-MR Chart of Cisalhamento alt. direto - kN
Figura 41 Carta de controle do parafuso alternativo por cisalhamento direto.
5.8 Análise estatística do parafuso tradicional utilizando a chapa de apoio 3,35 mm
O resultado experimental para as 27 amostras do parafuso tradicional ensaiadas
utilizando a chapa de apoio apresenta-se na Tabela 23 e seu histograma pela Figura 43.
A média de 54,87 kN sobrepõe aproximadamente 182% em relação a resistência de
ruptura do parafuso obtida através do Eurocode 3 (Tabela 11) e 236% em relação a NBR 8800
e NBR 14762. Porém, como já mencionado, os valores apresentados pelas normativas
utilizam os coeficientes parciais de segurança que ponderam essas forças. A média obtida
preteriu-se cerca de 13% ao utilizar a teoria da resistência dos materiais, dada pela Equação
19.
Tabela 23 Análise exploratória da carga de ruptura (kN) do parafuso tradicional utilizando a chapa de apoio
Mínimo Mediana Média Máximo Variância Desvio Padrão Coeficiente de Variação
%
51,50 55,12 54,87 59,41 6,63 2,58 4,69
Em relação à variância, observou-se que as medidas da dispersão estatísticas
encontraram-se dentro do valor esperado. Conforme a Tabela 23, o desvio padrão não
evidenciou variação ou dispersão existente em relação à média. O experimento indicou alta
precisão com um coeficiente de variação de 4,69%.
64
58565452
Median
Mean
56555453
95% Confidence Intervals
Summary for Cisalhamento trad. chapa - kN:
Figura 42 Histograma das amostras de parafuso tradicional utilizando a chapa de apoio.
A análise de simetria indicou um pequeno grau de distorção, caracterizando-se como
uma assimetria negativa para a esquerda, e a medida de curtose indicou uma curva com
achatamento platicúrtico.
5.8.1 Suposições do modelo
Foram satisfeitas determinadas pressuposições ao nível de significância de 5% de
normalidade, aleatoriedade e independência.
5.8.1.1 Análise de normalidade
Assim como nos demais testes de normalidade utilizaram-se: Shapiro-Wilk, Anderson-
Darling e Kolmogorov-Smirnov. Para ambos os testes foram assumidas duas hipóteses:
H0: a carga de ruptura do parafuso tradicional com chapa de apoio seguiu a
distribuição normal;
H1: a carga de ruptura do parafuso tradicional com a chapa de apoio não seguiu a
distribuição normal.
Conforme indicou a Tabela 24, com p-valor < α rejeitou-se H0 e com p-valor ≥ α, não
se rejeitou H0.
Tabela 24 Aplicação dos testes de normalidade para as amostras de parafuso tradicional com chapa de apoio
Testes de normalidade Ruptura – P-valor Nível de significância
α=5% Distribuição Normal
65
Shapiro-Wilk 0,100 > 0,05 Sim Anderson-Darling 0,071 > 0,05 Sim Kolmogorov-Smirnov 0,150 > 0,05 Sim
Como p-valor > α para os três testes realizados não se rejeitou H0 ao nível de 5% de
significância, concluindo que os dados da variável resposta seguem a distribuição normal,
com nível de confiança de 95%. Através da Figura 43, evidenciou-se a distribuição normal dos
dados.
6560555045
99
95
90
80
70
60
50
40
30
20
10
5
1
Cisalhamento trad. chapa - kN:
Pe
rce
nt
Probability Plot of Cisalhamento trad. chapa - kN:Normal - 95% CI
Figura 43 Papel de probabilidade do parafuso tradicional utilizando a chapa de apoio.
5.8.1.2 Análise da aleatoriedade
Para a análise de aleatoriedade utilizaram-se as seguintes hipóteses:
H0: se p-valor > 0,05, não se rejeitou Ho a um nível de 5% de significância, ou seja,
os dados foram aleatórios;
H1: se p-valor < 0,05, então se rejeitou Ho a um nível de 5% de significância, ou seja,
os dados não foram aleatórios.
Através do software Minitab foi possível obter o p-valor de 0,289, resultando em um
valor maior que 0,05, não se rejeitando a hipótese de aleatoriedade.
5.8.1.3 Análise de independência
66
Na análise independência averiguou-se, através da Figura 44, a não tendência dos
dados no gráfico de dispersão, verificando a existência da independência entre o número de
amostras e as medidas das cargas de ruptura do parafuso tradicional. Neste caso, a hipótese
só foi garantida por não existir fatores estranhos e a aleatorização no sorteio das amostras,
sendo que o comportamento que não se repetiu de maneira relacionada.
60595857565554535251
60
59
58
57
56
55
54
53
52
51
Cisalhamento trad. chapa - kN_1
Cis
alh
am
en
to t
rad
. ch
ap
a -
kN
:
Scatterplot of Cisalhamento trad. chapa vs Cisalhamento trad. chapa
Figura 44 Análise de independência do parafuso tradicional utilizando a chapa de apoio.
A análise da autocorrelação das amostras, pela Figura 45, não evidenciou padrão nos
pontos, mostrando que os mesmos se distribuíram de forma aleatória.
2624222018161412108642
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
-0,2
-0,4
-0,6
-0,8
-1,0
Lag
Au
toco
rre
lati
on
Autocorrelação - Cisalhamento trad. chapa - kN
Figura 45 Autocorrelação do parafuso tradicional utilizando a chapa de apoio.
5.9 Análise estatística do parafuso alternativo com a utilização das chapas de apoio 4,00 mm
67 A análise exploratória deste experimento refere-se aos resultados de 3 amostras
ensaiadas. A Tabela 25 retrata o resultado experimental do parafuso alternativo utilizando a
chapa de apoio com média de 78,58 kN, sobrepondo-se 159% em relação à resistência de
ruptura do parafuso obtida através do Eurocode 3 (Tabela 12) e 206% em relação a NBR 8800
e NBR 14762, considerando que ambas as comparações utilizam coeficientes parciais de
segurança. Para tanto, a média obtida retraiu cerca de 2% ao utilizar a teoria da resistência
dos materiais.
Por se tratar de uma população pequena, a dispersão estatística na análise da
variância e desvio padrão tornam-se implausíveis. Contudo, as amostras ensaiadas ainda
indicam um baixíssimo coeficiente de variação (1,44%), caracterizando o experimento como
de alta precisão.
Tabela 25 Análise exploratória da carga de ruptura (kN) do parafuso alternativo utilizando a chapa de apoio
Mínimo Mediana Média Máximo Variância Desvio Padrão Coeficiente de Variação
%
77,50 78,48 78,58 79,76 1,28 1,13 1,44
5.9.1 Suposições do modelo
Considerando as suposições de normalidade e aleatoriedade do modelo do parafuso
alternativo, há um nível de significância de 5%.
Na análise de independência se faz necessário o cruzamento dos dados, verificando
se há independência entre as variáveis linha e coluna. Uma vez que a distribuição da
estatística de teste é apenas aproximada, para amostras pequenas o valor do p-valor poderá
conter um erro apreciável.
5.9.1.1 Análise de normalidade
Utilizaram-se os testes de normalidade de Shapiro-Wilk, Anderson-Darling e
Kolmogorov-Smirnov representados na Tabela 26. Para ambos os testes utilizaram-se duas
hipóteses:
H0: a carga de ruptura do parafuso alternativo com chapa de apoio seguiu a
distribuição normal;
H1: a carga de ruptura do parafuso alternativo com chapa de apoio não seguiu a
distribuição normal.
68
Tabela 26 Aplicação dos testes de normalidade para as amostras de parafuso alternativo com chapa de apoio
Testes de normalidade Ruptura – P-valor Nível de significância
α=5% Distribuição Normal
Shapiro-Wilk 0,100 > 0,05 Sim Anderson-Darling 0,601 > 0,05 Sim Kolmogorov-Smirnov 0,150 > 0,05 Sim
Para o p-valor obtido, temos que p-valor > α, portanto para os três testes realizados
não se rejeitou H0 ao nível de 5% de significância, concluindo que os dados da variável
resposta seguem a distribuição normal, com nível de confiança de 95%. Através da Figura 46,
evidencia-se a distribuição normal dos dados através da distribuição linear das 3 amostras.
85,082,580,077,575,0
99
95
90
80
70
60
50
40
30
20
10
5
1
Cisalhamento alt. chapa - kN
Pe
rce
nt
Probability Plot of Cisalhamento alt. chapa - kNNormal - 95% CI
Figura 46 Papel de probabilidade do parafuso alternativo utilizando a chapa de apoio.
5.9.1.2 Análise da aleatoriedade
Para a análise de aleatoriedade utilizaram-se as seguintes hipóteses:
H0: se p-valor > 0,05, não se rejeitou Ho a um nível de 5% de significância, ou seja,
os dados foram aleatórios;
H1: se p-valor < 0,05, então se rejeitou Ho a um nível de 5% de significância, ou seja,
os dados não foram aleatórios.
Através do software Minitab obteve-se p-valor de 0,480, resultando em um valor maior
que 0,05, não rejeitando-se a hipótese de aleatoriedade.
5.9.2 Comparações de média para os parafusos utilizando a chapa de apoio – Teste t de student
69 Os resultados do teste T de student apresentaram p-valor zero. Assim ao nível de 1%
de significância há evidências muito fortes de se rejeitar a hipótese H0, ou seja, o tipo do
parafuso é significativo pois apresenta diferença entre as médias das amostras ensaiadas,
conforme mostra a Figura 47.
Cisalhamento alt. chapa - kNCisalhamento trad. chapa - kN:
80
75
70
65
60
55
50
Da
ta
Boxplot of Cisalhamento trad. chapa - kN:; Cisalhamento alt. chapa - kN
Figura 47 Box plot da comparação da carga de ruptura de ambos os tipos de parafusos utilizando a chapa de apoio.
A estimativa da diferença estatística de ambos os modelos de parafuso utilizando
chapa de apoio circundou-se em 23,71 kN, abrangendo um intervalo de confiança entre 25,98
e 21,43 kN com nível de significância de 5%.
Para esta pequena amostra, o aumento da área de cisalhamento no plano de corte do
parafuso e a utilização da chapa de apoio de 4 mm produziu efeitos positivos na resistência
ao cisalhamento do parafuso. A média de 78,58 kN dos parafusos alternativos que receberam
este acréscimo de área foi significantemente melhor (α = 0,01) do que o grupo que não
recebeu, com média de 54,87 kN.
5.10 Análise comparativa da resistência de ambos os tipos de parafusos utilizando a chapa de apoio
Em ambos os modelos de parafuso notou-se que há influência da chapa de apoio na
resistência ao cisalhamento do parafuso. Porém, a quantificação desta influência não é
significativa devido à pequena população amostral do parafuso alternativo e à não ruptura do
mesmo.
70 Por se tratar de comparações teóricas e experimentais, utiliza-se como referência a
ruptura descrita pela teoria da resistência dos materiais para efetuar as comparações da
resistência a ruptura.
O parafuso tradicional apresentou força de ruptura média experimental para as 27
amostras de 54,76 kN, 13% inferior ao definido teoricamente (62,83 kN). Mesmo a resistência
ao esmagamento e rasgamento da chapa de apoio resultando em 80,44 kN, valor este
superior à média experimental obtida, não se pode desconsiderar que a chapa de apoio não
influenciou a resistência ao cisalhamento do parafuso.
A média experimental obtida pelo parafuso tradicional foi superior à resistência ao
cisalhamento descrito pelas normativas (Tabela 11). Entretanto, as normativas possuem
coeficientes parciais de segurança que ponderam essas forças. A amplitude das variações
presentes nas normativas foram em torno de 206% e 313%, sobressaindo a resistência do
parafuso.
Quanto ao parafuso alternativo, a média experimental obtida de 78,58 kN sobressaiu
a resistência teórica dada de 77,10 kN, inversamente ao que aconteceu com o parafuso
tradicional. Quando analisada a resistência ao cisalhamento utilizando os coeficientes de
ponderação das forças (Tabela 12), o parafuso alternativo apresentou um percentual superior
variando entre 156% e 270%; porém, 30% inferior a resistência ao esmagamento e
rasgamento de 111,38 kN.
Diz-se então, que a resistência de ambos os tipos de parafusos utilizando a chapa de
apoio foram superiores à resistência ao cisalhamento estabelecida pelas normativas; porém,
inferiores aos valores de esmagamento e rasgamento definidos pelas mesmas.
Conforme a estimativa dada no Teste t, a diferença estatística de ambos os tipos de
parafusos (23,71 kN) com ganho percentual de 43%, não supera os 64% do aumento de área
na parte oblonga do parafuso alternativo, passando de 78,53 mm² para 128,50 mm². Contudo,
as 3 amostras do parafuso alternativo sofreram apenas deformações plásticas, não rompendo
as amostras por cisalhamento no plano de corte. Sendo assim, a estimativa de 78,58 kN
refere-se à resistência do conjunto da ligação e não da análise individual do parafuso
alternativo.
A influência da chapa de apoio, como parte conjunta da simulação da chapa lateral de
silo, na resistência do parafuso deverá ser abordada em trabalhos futuros e com população
amostral significativa. Buscando, a princípio, uma ligação parafusada diferenciada, capaz de
romper o parafuso alternativo.
5.11 Discussão geral
71 Este trabalho apresentou o comparativo de um modelo de parafuso tradicional de
classe de resistência 8.8 regido pela ISO 4016 (2000) utilizado nas ligações das chapas do
corpo de silos metálicos e um parafuso alternativo. O dimensionamento teórico de ambos os
modelos se basearam nas recomendações de quatro normativas (NBR 14762 (2010), NBR
8800 (2008), ANSI AISI S100 (2007) E EUROCODE 3 Parte 1.3 (2010)). Por se tratar de um
comparativo entre resultados experimentais obtidos em laboratório por meio de ensaios e
resultados teóricos, obtidos com base em modelos matemáticos segundo previsões
normativas, adotou-se como unitários os coeficientes de ponderação das forças e a redução
da área de cisalhamento no plano de corte.
Para a viabilidade do parafuso alternativo, manteve-se a mesma massa do parafuso
tradicional e as mesmas recomendações normativas para o enquadramento da norma ISO e
classe de resistência. Retirou-se massa da cabeça do parafuso tradicional (sextavada) para
a inserção na área do plano de corte do parafuso alternativo, tornando-o com seção oblonga
e cabeça redonda. Diversas configurações geométricas foram analisadas, na tentativa de
investigar ao máximo o comportamento do elemento e seu comportamento nas ligações das
chapas dos silos.
O estudo envolveu a análise de 23 parafusos tradicionais e 16 amostras do parafuso
alternativo pelo ensaio de cisalhamento direto. Atendidas as suposições do modelo e o
controle do processo de fabricação através das cartas de controle individual e da amplitude
móvel, verificou-se através da comparação múltipla de médias a estimativa da diferença
estatística de 60,27 kN, abrangendo um intervalo de confiança entre 62,02 e 58,51 kN, com
nível de significância de 5%. Para as amostras ensaiadas, o aumento de 64% de área na
parte oblonga do parafuso alternativo produziu efeitos positivos na resistência do parafuso
tradicional, superando em 128% o aumento da resistência do mesmo.
Uma análise de erro do modelo foi contemplada no trabalho para a construção da
variável aleatória erro de modelo (Me) do parafuso alternativo, de modo que, ao ser inserida
nas análises de confiabilidade, a incerteza de modelo fosse considerada quando da avaliação
do nível de segurança do modelo matemático avaliado. A média da variável Me não resultou
em um valor unitário, indicando que o resultado experimental obtido não aplicou-se
exatamente ao fenômeno mecânico estudado. Sendo assim, a presença do erro de modelo
(Me) na análise de confiabilidade do modelo mostrou que existe um aumento significativo de
39% na resistência do parafuso tradicional em relação ao modelo matemático avaliado.
Encontrou-se o Fcorreto do parafuso alternativo através da análise da média da Me e do valor
teórico, acertando-se a confiabilidade dos resultados do experimento.
Tendo como intuito a utilização em chapas do corpo de silos metálicos, verificou-se a
influência da chapa do corpo na resistência ao cisalhamento dos parafusos. Foram analisadas
72
27 amostras do parafuso tradicional, com chapas de apoio 3,35 mm, e 3 amostras do parafuso
alternativo, com chapas de apoio 4 mm.
Para os conjuntos do parafuso tradicional, adotou-se a mesma resistência ao
cisalhamento do parafuso que a obtida pelo ensaio de cisalhamento direto e a verificação do
esmagamento e rasgamento da chapa de apoio utilizando as recomendações da NBR 14762
(ABNT, 2010), sendo esta superior ao cisalhamento do parafuso. Atendidas as suposições do
modelo, verificou-se que há influência da chapa de apoio na resistência ao cisalhamento do
parafuso tradicional.
O conjunto do parafuso alternativo utilizando as chapas de apoio apresentou resultado
inverso ao mesmo procedimento adotado pelo parafuso tradicional. As chapas de apoio
rasgaram-se anterior ao cisalhamento esperado do parafuso, levando o mesmo apenas até a
deformação plástica.
Atendidas as suposições do modelo para ambos os experimentos, aplicou-se o teste
de comparação múltipla de médias e, ao nível de 1% de significância, há evidencias muito
fortes de que o parafuso alternativo seja significativo, pois apresentou diferença entre as
médias ensaiadas. A estimativa da diferença estatística circundou-se em 23,71 kN, com 5%
de significância o intervalo de confiança abrange 26,82 e 20,59 kN.
Para esta pequena amostra, o aumento da área na região de corte do parafuso
alternativo e o formato do furo na chapa de apoio produziram efeitos significativos na
resistência ao cisalhamento em relação ao parafuso tradicional.
Em virtude dos fatos mencionados, de uma maneira geral, as análises realizadas
mostraram que o aumento da área no plano de corte do parafuso alternativo apresentou
diferenças significativas em relação ao modelo tradicional, assim como houve influência das
chapas de apoio na resistência do conjunto.
73
6 CONCLUSÕES
Nas condições em que foram realizados os ensaios, pode-se concluir que:
I. O aumento da área no plano de corte do parafuso alternativo apresentou
diferenças significativas em relação ao modelo tradicional, elevando a
resistência ao cisalhamento de 46,86 kN para 107,13 kN;
II. A viabilidade econômica do parafuso alternativo foi mantida devido à
conservação da mesma massa de aço do parafuso tradicional;
III. O acréscimo de 64% de área no plano de corte do parafuso alternativo
significou um ganho de 128% na resistência ao cisalhamento do mesmo;
IV. A determinação da média da variável aleatória erro de modelo do parafuso
alternativo indicou um comportamento experimental seguro e conservador.
Porém, os resultados obtidos não se aplicaram unitariamente ao fenômeno
mecânico estudado. A confiabilidade dos resultados elevou em 39% o
dimensionamento teórico, utilizando as normativas vigentes, retirando-se os
coeficientes de ponderação das forças e a redução da área do plano de corte;
V. O aumento da área na região de corte do parafuso alternativo e o formato do
furo na chapa de apoio produziram aumentos significativos na resistência ao
cisalhamento em relação ao parafuso tradicional, elevando de 54,87 kN para
78,58 kN;
VI. Não ocorreu o cisalhamento do parafuso alternativo utilizando a chapa de
apoio. A força máxima experimentada referiu-se ao esmagamento e
rasgamento da chapa e à deformação plástica do parafuso alternativo.
74
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados obtidos na pesquisa e no embasado no aporte literário neste
texto dissertativo, recomenda-se, como estímulo ao desenvolvimento e à inserção de novas
tecnologias e metodologias na confecção de silos metálicos, um estudo baseado na
otimização das chapas laterais utilizando em suas costuras o parafuso alternativo.
Concluídos até o momento o ganho significativo de resistência ao cisalhamento e a
expectativa da viabilidade econômica devido ao parafuso alternativo possuir o mesmo peso
do parafuso tradicional, atestou-se neste trabalho que o parafuso alternativo se torna uma
provável solução nas ligações parafusadas das chapas metálicas utilizadas no corpo dos
silos.
Visto, a priori, que em silos com menor ou maior capacidade a resistência da chapa
lateral depende do tipo de costura, das distâncias entre parafusos, das quantidades e da
resistência dos parafusos. Portanto, sugere-se para trabalhos futuros:
Propor um modelo de ligação da chapa lateral visando o aumento da resistência;
a) Reduzir o custo de um conjunto de chapa lateral de espessura fina parafusada
utilizando menos parafusos alternativos, mas mantendo a mesma resistência que
quando utilizado o parafuso tradicional;
b) Maximizar a resistência das chapas laterais com espessuras superiores
a 4,75 mm, visando o aumento do número de anéis dos silos e por consequência
sua capacidade de armazenamento;
c) Comparar a resistência das ligações parafusadas para ambos os modelos de
parafusos;
d) Verificar a redução de custo com a implantação do elemento alternativo;
e) Confrontar tempos de montagem do corpo do silo utilizando ambos os tipos de
parafusos.
75
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