calvino e o anticristo
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Calvino e o anticristoTRANSCRIPT
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JO
COMENTRIO EM 2 TESSALONICENSES, CAPTULO 2
Joo Calvino
CALVINOCALVINOCALVINOCALVINO eeee
o o o o ANTICRISTOANTICRISTOANTICRISTOANTICRISTO
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Comentrio em 2Tessalonicensses, captulo 2
Joo Calvino (sem notas de rodap)
Traduzido e revisado por Diagramado por
Rodrigo Reis de Faria Fabio Martins
Original aqui: http://www.ccel.org/ccel/calvin/calcom42.toc.html
Imagem de capa: http://www.dw.de/image/0,,1325141_4,00.jpg
Fontes:
Calvins Commentaries (traduzido para o ingls por John King), disponvel no site: http://www.sacred-texts.org
Monergismo.com: (http://www.monergismo.net.br/textos/jcalvino/Calvino_1_2_Tessalonicenses-livro.pdf)
Brasil 2013
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"Ora, irmos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunio
com ele," (2 Tessalonicenses 2:1)
Ora, rogamo-vos, pela vinda. Isto pode na verdade ser lido, conforme notei na margem, como:
concernente vinda, mas mais conveniente consider-lo como um pedido srio, a partir do assunto em
questo como em 1 Co 15:31, quando, discursando a respeito da esperana de uma ressurreio, ele faz
uso de um juramento por aquela glria que deve ser esperada pelos fiis. E isto tem muito maior eficcia,
quando conjura os fiis, pela vinda de Cristo, a que no imaginem temerariamente que o seu dia esteja
prximo, pois ao mesmo tempo ele nos admoesta a no pensarmos nisto seno com reverncia e
sobriedade. Pois costumeiro conjurar pelas coisas que so consideradas por ns com reverncia.
Portanto, o sentido : Assim como atribus grande valor vinda de Cristo, quando ele nos reunir
consigo, e realmente aperfeioar aquela unidade do corpo que at agora nutrimos apenas em parte,
atravs da f; do mesmo modo rogo-vos gravemente pela sua vinda a que no sejais demasiadamente
crdulos, caso algum afirme, sob qualquer pretexto, que o seu dia est prximo.
Como, na sua Epstola anterior, ele havia se referido, at certo ponto, ressurreio, possvel que, a
partir disto, alguns fanticos e inconstantes tomassem ocasio para determinar um dia prximo e fixo. Pois
no provvel que este erro tivesse se originado entre os tessalonicenses antes. Pois Timteo, ao voltar de
l, havia informado a Paulo toda a sua condio, e, como homem prudente e experimentado, no havia
omitido nada que fosse de importncia. Ora, se Paulo tivesse recebido notcia acerca disto, ele no teria
se silenciado quanto a uma questo de to graves consequncias. Assim, sou da opinio de que, quando
fora lida a Epstola de Paulo, a qual continha uma vvida descrio da ressurreio, alguns que estavam
dispostos a favorecer a curiosidade filosofaram inoportunamente quanto ao seu tempo. Contudo, esta era
uma fantasia absolutamente destrutiva, assim como eram tambm outras coisas da mesma natureza, que
depois se disseminaram, no sem artifcio por parte de Satans. Pois, quando se diz que algum dia est
prximo, se no chegar rapidamente, sendo a humanidade por natureza impaciente com maiores dilaes,
seus espritos comeam a definhar, e logo depois essa languidez seguida pelo desespero.
Portanto, isto era uma sutileza de Satans; como ele no podia subverter abertamente a esperana de uma
ressurreio, com vistas a solap-la secretamente, como que por meio de buracos subterrneos, ele
prometera que o seu dia estaria prximo, e logo chegaria. Em seguida, tambm, ele no cessara de in-
ventar vrias coisas com vistas a ofuscar das mentes dos homens, pouco a pouco, a crena de uma
ressurreio uma vez que no podia erradic-la abertamente. De fato, algo plausvel dizer que o dia da
nossa redeno est definitivamente fixado, e por esta causa isto recebido com o aplauso por par- te da
multido, tal como sabemos que os devaneios de Lactncio e dos quiliastas antigamente causaram grande
deleite; e, contudo, eles no tiveram outra tendncia seno a de subverter a esperana de uma
ressurreio. Este no era o propsito de Lactncio, mas Satans, conforme a sua sutileza, perverteu a sua
curiosidade, e a dos seus semelhantes, no deixando nada definido ou fixo na religio, e at os dias atuais
ele no deixa de empregar os mesmos meios. Agora vemos quo necessria era a admoestao de Paulo,
uma vez que, no fosse por isso, toda a religio teria sido subvertida entre os tessalonicenses sob um
pretexto plausvel.
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"Que no vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por
esprito, quer por palavra, quer por epstola, como de ns, como se o dia de Cristo estivesse
j perto." (2 Tessalonicenses 2:2)
Que no vos movais facilmente do vosso entendimento. Ele emprega o termo entendimento para denotar
a f estabelecida que se apoia na s doutrina. Ora, atravs daquela fantasia que ele rejeita, eles teriam sido
levados como que ao xtase. Ele tambm observa trs tipos de embuste, contra os quais de- veriam estar
de guarda esprito, palavra e epstola espria. Pelo termo esprito, ele se refere a pretensas profecias, e
parece que este modo de falar era comum entre os fiis, de modo que aplicavam o termo esprito a
profecias, com vistas a lhes dar honra. Pois, para que as profecias tenham a devida autoridade, devemos
olhar antes para o Esprito de Deus do que para os homens. Mas, como o diabo costuma transformar-se em
anjo de luz (2 Co 11:14), os imposto- res roubaram este ttulo, a fim de se imporem sobre os simples. Mas,
embora Paulo pudesse t-los privado desta mscara, ele preferiu falar desta maneira, por concesso, como
se tivesse dito: Por mais que possam pretender ter o esprito de revelao, no creiais neles. Joo, de
modo semelhante, diz: Provai os espritos, se so de Deus (1 Jo 4:1).
Palavra, em minha opinio, inclui todo o tipo de doutrina, enquanto os falsos mestres insistam em matria
de razes ou conjecturas, ou de outros pretextos. O que ele acrescenta quanto a epstola uma evidncia
de que esta impudncia antiga a de falsificar os nomes dos outros. Tanto mais maravilhosa a
misericrdia de Deus para conosco, pelo fato de que, embora o nome de Paulo fosse usado falsamente em
escritos esprios, seus escritos, no obstante, foram preservados intactos at os nossos tempos. Isto, sem
sombra de dvida, no poderia ter ocorrido acidentalmente, ou como efeito da mera atividade humana, se
o prprio Deus, pelo seu poder, no tivesse restringido Satans e todos os seus ministros.
Como se o dia de Cristo estivesse j perto. Isto pode parecer estar em desacordo com muitas passagens da
Escritura, nas quais o Esprito declara que aquele dia est prximo. Mas a soluo fcil, pois est perto em
relao a Deus, para quem um dia como mil anos (2 Pe 3:8). Ao mesmo tempo, o Senhor queria que o
aguardssemos constantemente, de tal modo a no limit-lo a certo perodo de tempo. Vigiai, diz ele,
pois no sabeis o dia, nem a hora (Mt 24:36). Por outro lado, aqueles falsos profetas que Paulo
desmascara, em- bora devessem ter mantido as mentes dos homens em expectativa, mandavam que
estivessem certos do seu rpido advento, para que no se cansassem com o aborrecimento da demora.
"Ningum de maneira alguma vos engane; porque no ser assim sem que antes venha a
apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdio," (2 Tessalonicenses 2:3)
Ningum vos engane. A fim de que no prometessem a si mesmos infundadamente a vinda do alegre dia
da redeno em to curto espao de tempo, ele lhes apresenta uma melanclica descrio quanto futura
disperso da Igreja. Este discurso corresponde plenamente ao que Cristo fez em presena dos seus
discpulos, quando estes lhe perguntaram a respeito do fim do mundo. Pois ele os exorta a se prepararem
para suportar duros combates (Mt 24:6); e, depois de discursar acerca da mais terrvel e antes inaudita das
calamidades, pela qual a terra seria reduzida praticamente a um deserto, ele acrescenta que o fim ainda
no est prximo, mas que estas coisas so os princpios das dores. Do mesmo modo, Paulo declara que os
fiis devem exercer guerra por um longo perodo, antes de alcanarem um triunfo.
Contudo, aqui temos uma passagem notvel, e que , no mais alto grau, digna de observao. Esta era uma
terrvel e perigosa tentao, que poderia abalar at os mais confirmados, e faz-los escorregar ver a
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Igreja, que tivera, por meio de tantos trabalhos, se levantado gradualmente e com dificuldade at certa
posio considervel, abater-se repentinamente, como se afundada por uma tempestade. Concordemente,
Paulo fortalece de antemo as mentes, no apenas dos tessalonicenses, mas de todos os que so piedosos,
para que, quando a Igreja viesse a estar em uma condio dispersa, eles no ficassem alarmados, como se
isto fosse algo novo e inesperado.
Como, porm, os intrpretes tm distorcido esta passagem de vrias maneiras, devemos antes de tudo nos
esforar por determinar o verdadeiro sentido de Paulo. Ele afirma que o dia de Cristo no vir, enquanto o
mundo no tiver cado em apostasia, e o reinado do Anticristo se estabelecido na Igreja; pois, quanto
exposio que alguns tm dado a respeito desta passagem, como se referindo queda do Imprio Romano,
simplria demais para exigir uma refutao extensa. Tambm fico surpreso de que tantos escritores, em
outros aspectos instrudos e perspicazes, tenham incorrido em erro em um assunto que to fcil no
fosse que, quando algum comete um erro, outros o sigam em bandos sem considerao. Portanto, Paulo
emprega o termo apostasia no sentido de um abandono traioeiro de Deus, e isto no por parte de um ou
alguns indivduos, e sim como algo que se estenderia em toda a parte entre uma grande multido de
pessoas. Pois, quando apostasia mencionada sem qualquer complemento, no pode ser restringida a
poucos. Ora, ningum pode ser denominado apstata, seno aqueles que anteriormente fizeram uma
confisso acerca de Cristo e do evangelho. Portanto, Paulo prediz certa revolta geral da Igreja visvel. A
Igreja deve ser reduzida a um assustador e horrvel estado de runa, antes que sua plena restaurao seja
cumprida.
A partir disto podemos prontamente deduzir quo til esta predio de Paulo pois poderia parecer que
no pudesse ser um edifcio de Deus, aquilo que fosse subitamente subvertido, e permanecesse por tanto
tempo em runas, se Paulo no tivesse muito antes sugerido que isto seria assim. Mais ainda, muitos nos
dias atuais, quando consideram consigo mesmos a disperso de longo tempo da Igreja, comeam a vacilar,
como se isto no tivesse sido determinado pelo propsito de Deus. Os romanistas tambm, com vistas a
justificar a tirania do seu dolo, fazem uso deste pretexto que no era possvel que Cristo desamparasse a
sua esposa. Contudo, os fracos tm algo aqui em que se apoiar, quando aprendem que o estado
inconveniente das coisas que contemplam na igreja foi h muito predito; enquanto, por outro lado, a
impudncia dos romanistas abertamente desmascarada, porquanto Paulo declara que ocorrer uma
revolta, quando o mundo for trazido sob a autoridade de Cristo. Ora, veremos em breve por que o Senhor
permitiu que a Igreja, ou ao menos o que parecia ser tal, decasse de maneira to vergonhosa.
Se manifeste. No era melhor do que uma fbula de velhas que se concebeu a respeito de Nero que ele
fora arrebatado do mundo, destinado a voltar novamente para afligir a Igreja atravs da sua tirania; e,
contudo, as mentes dos antigos estavam to enfeitiadas, que eles imaginavam que Nero seria o Anticristo.
Contudo, Paulo no fala de um indivduo, mas de um reino, que seria apoderado por Satans, para que
ele estabelecesse um trono de abominao em meio ao templo de Deus o que vemos cumprido no
Papado. verdade que a rebelio se espalhou mais extensamente, pois Maom, como era um apstata,
desviou de Cristo os turcos, seus seguidores. Todos os hereges tm quebrado a unidade da Igreja pelas suas
seitas, e assim tem havido correspondente nmero de rebelies contra Cristo.
Todavia, Paulo, ao dar o alerta de que haveria tal disperso, que a maior parte se revoltaria contra Cristo,
Paulo acrescenta algo mais srio que haveria tal confuso, que o vigrio de Satans manteria o poder
supremo na Igreja, e a presidiria ali no lugar de Deus. Ora, ele descreve esse reinado de abominao sob o
nome de uma nica pessoa porque apenas um reinado, embora um suceda ao outro. Meus leitores
agora entendem que todas as seitas pelas quais a Igreja tem sido reduzida desde o princpio tm sido
tantas correntes de rebelio que comearam a drenar a gua do curso original; mas que a seita de Maom
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foi como que um jorro impetuoso de gua, que removeu quase a metade da Igreja pela sua violncia.
Restava, ainda, que o Anticristo infectasse a parte restante com o seu veneno. Assim, vemos com os nossos
prprios olhos que esta predio memorvel de Paulo tem se confirmado pelo evento.
Na exposio que apresento, no h nada de forado. Os fiis naquele tempo sonhavam que seriam
transportados para o cu, aps terem sofrido dificuldades durante um breve perodo de tempo. No
entanto, pelo contrrio, Paulo prediz que, depois de terem inimigos estranhos molestando-os por algum
tempo, eles teriam de suportar mais males dos inimigos em casa, porquanto muitos daqueles que fizeram
uma confisso de dedicao a Cristo seriam levados abjeta traio, e porquanto o prprio templo de Deus
seria contaminado por sacrlega tirania, de modo que o maior inimigo de Cristo exerceria o seu domnio ali.
O termo manifestao tomado aqui para denotar manifesta posse da tirania como se Paulo tivesse
dito que o dia de Cristo no viria enquanto esse tirano no tivesse se manifestado abertamente, e tivesse,
por assim dizer, propositalmente subvertido toda a ordem da Igreja.
"O qual se ope, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que
se assentar, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus." (2 Tessalonicenses 2:4)
O qual se ope, e se levanta. Os dois eptetos homem do pecado e filho da perdio sugerem, em
primeiro lugar, quo terrvel seria a confuso, a fim de que a sua indecncia no desencorajasse as mentes
fracas; e ainda, elas tendem a incitar os que so piedosos a um sentimento de abominao, para que no
se degenerem com os demais. Contudo, Paulo traa agora, como em um quadro, um surpreendente retrato
do Anticristo; pois pode-se facilmente deduzir a partir destas palavras qual a natureza do seu reino, e de
que coisas consiste. Pois, quando o chama de adversrio, quando diz que ele reivindicar para si as coisas
que pertencem a Deus, de modo que adorado no templo como Deus; ele pe o seu reino em oposio
direta ao reino de Cristo. Por isso, assim como o reino de Cristo espiritual, do mesmo modo deve haver
essa tirania sobre as almas, a fim de rivalizar o reino de Cristo. Tambm o encontraremos depois
atribuindo-lhe o poder de enganar, por meio de doutrinas mpias e pretensos milagres. Se, concordemente,
quereis conhecer o Anticristo, deveis v-lo como diametralmente oposto a Cristo.
Onde traduzi: tudo o que chamado Deus, a leitura mais comumente recebida entre os gregos : todo o
que chamado. Contudo, pode-se conjecturar, tanto a partir da traduo antiga, como de alguns
comentrios gregos, que as palavras de Paulo foram corrompidas. O equvoco, tambm, de uma nica letra
prontamente se introduziu, especialmente quando o formato da letra era muito semelhante; pois, onde
estava escrito (tudo), algum copista, ou leitor muito atrevido, transformou em (todos). Esta
diferena, porm, no de tanta importncia para o sentido, pois Paulo, sem sombra de duvida, quer dizer
que o Anticristo tomaria para si as coisas que pertencem a Deus somente, de modo que se exaltaria acima
de toda reivindicao divina, para que toda a religio e todo o culto a Deus estivessem aos seus ps. Neste
caso, a expresso: tudo o que se chama Deus, equivalente a tudo o que se reconhece como Divindade, e
ou seja, aquilo em que consiste a venerao devida a Deus.
Aqui, porm, o assunto tratado no propriamente o nome de Deus, e sim a sua majestade e adorao; e,
em geral, tudo o que ele reivindica para si. A verdadeira religio aquela pela qual o verdadeiro Deus
exclusivamente adorado; isto, o filho da perdio transferir para si. Ora, todo aquele que aprendeu pela
Escritura quais so as coisas que pertencem mais especialmente a Deus, e, por outro lado, observar o que o
Papa reivindica para si ainda que fosse um menino de dez anos de idade no ter grande dificuldade em
reconhecer o Anticristo. A Escritura declara que Deus o nico Legislador (Tg 4:12) que pode salvar e
destruir; o nico Rei, cujo ofcio governar as almas pela sua palavra. Ela o apresenta como o autor de
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todos os ritos sagrados; ela ensina que a justia e a salvao devem ser buscadas de Cristo somente; e
designa, ao mesmo tempo, o meio e o modo. No existe nenhuma destas coisas que o Papa no afirme
estar sob sua autoridade. Ele se orgulha de que cabe a ele impor s conscincias as leis que lhe paream
boas, e sujeit-las ao castigo eterno. Quanto aos sacramentos, ou ele institui novos, de acordo com a sua
prpria inclinao, ou corrompe e deforma aqueles que foram institudos por Cristo sim, descarta-os
completamente, para por em lugar deles os sacrilgios que inventou. Ele inventa meios de alcanar a
salvao que esto completamente em desacordo com a doutrina do Evangelho; e, por fim, no hesita em
mudar toda a religio de acordo com a sua vontade. Dizei-me, o que exaltar-se acima de tudo o que se
chama Deus, se o Papa no faz isto? Quando deste modo priva a Deus de sua honra, ele no lhe deixa nada
alm de um ttulo vazio de Divindade, enquanto transfere para si todo o seu poder. E isto o que Paulo
acrescenta logo depois, que o filho da perdio querer parecer Deus. Pois, conforme foi dito, ele no
insiste no simples termo Deus, mas sugere que o orgulho do Anticristo seria tal que, levantando-se acima
do nmero e posio dos servos, e subindo na tribuna de Deus, reinaria, no com autoridade humana, mas
divina. Pois sabemos que tudo o que levantado em lugar de Deus um dolo, ainda que no traga o nome
de Deus.
No templo de Deus. Apenas por este termo h uma refutao suficiente do erro; mais ainda, da estupidez
daqueles que consideram que o Papa seja o Vigrio de Cristo, pelo fato de ter o seu trono na Igreja, seja
de que maneira possa se conduzir; pois Paulo no pe o Anticristo em nenhum outro lugar seno no
prprio santurio de Deus. Pois este no um inimigo estranho, mas domstico, que se ope a Cristo sob
o prprio nome de Cristo. Mas, questiona-se, como pode a Igreja ser apresentada como covil de tantas
supersties, ao passo que foi destinada para ser a coluna da verdade (1 Tm 3:15)? Respondo que ela
assim representada, no pelo fato de reter todas as qualidades da Igreja, e sim porque tem algo dela
remanescente. Concordemente, admito que esse o templo de Deus em que o Papa tem domnio, mas ao
mesmo tempo profanado por inmeros sacrilgios.
"No vos lembrais de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco?
"(2 Tessalonicenses 2:5)
No vos lembrais? Isto acrescentou no pouco peso doutrina que anteriormente eles a tinham ouvido
pela boca de Paulo para que no pensassem que havia sido inventada por ele no momento. E, como ele
lhes havia dado um aviso inicial quanto ao reino do Anticristo, e a devastao que sobreviria Igreja,
quando nenhuma questo ainda havia sido levantada quanto a tais coisas, ele considerou fora de dvida
que era especialmente til conhecer a doutrina. E, sem sombra de dvida, isto realmente assim. Aqueles
a quem se dirigira estavam destinados a ver muitas coisas que os afligiria; e, quando a posteridade visse
uma grande proporo daqueles que haviam feito confisso da f de Cristo se rebelarem contra a piedade,
enlouquecidos como que por uma mosca, ou antes, por uma fria, o que poderiam fazer, seno vacilar?
Porm, esta era uma muralha de fogo que as coisas foram assim designadas por Deus porque a ingratido
dos homens era digna de tal vingana. Aqui podemos ver como os homens so esquecidos em questes
que afetam a sua salvao eterna. Tambm devemos notar a mansido de Paulo; pois, embora pudesse ter
veementemente se enfurecido, ele apenas os repreende mansamente; pois um modo paternal de
censur-los dizer que haviam consentido que o esquecimento de uma questo to importante e to til
entrasse furtivamente em suas mentes.
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"E agora vs sabeis o que o detm, para que a seu prprio tempo seja manifestado"
(2 Tessalonicenses 2:6)
E agora o que o detm. significa aqui propriamente um impedimento ou ocasio de demora.
Crisstomo, que pensa que isto s se pode entender em referncia ao Esprito, ou ao Imprio Romano,
prefere apoiar esta ltima opinio. Ele aponta uma razo plausvel porque Paulo no teria falado do
Esprito em termos enigmticos, mas, ao falar do Imprio Romano, queria evitar despertar um sentimento
desagradvel. Ele explica tambm a razo pela qual o estado do Imprio Romano retarda a revelao do
Anticristo porque, assim como a monarquia da Babilnia foi subvertida pelos persas e medos, e os
macednios, tendo conquistado os persas, novamente tomaram posse da monarquia, e os macednios
foram finalmente subjugados pelos romanos; do mesmo modo o Anticristo tomaria para si a supremacia
vacante do Imprio Romano. No h nenhuma destas coisas que no tenha sido confirmada depois pelos
acontecimentos reais. Portanto, Crisstomo fala com verdade at onde diz respeito histria. Contudo, sou
da opinio de que a inteno de Paulo era diferente disto que a doutrina do evangelho precisava se
espalhar aqui e ali, at que praticamente todo o mundo estivesse convencido de obstinao e malcia
deliberada. Pois no pode haver dvida de que os tessalonicenses haviam ouvido da boca de Paulo quanto
a este impedimento, seja de que natureza fosse, pois ele evoca recordao deles o que havia
anteriormente ensinado em sua presena.
Que os meus leitores considerem agora qual dos dois mais provvel ou que Paulo declarou que a luz do
evangelho deve ser difundida por todas as partes da terra antes que Deus assim d rdeas soltas a Satans;
ou que o poder do Imprio Romano permaneceu no caminho da ascenso do Anticristo, porquanto ele s
poderia abrir caminho para um domnio vacante. Ao menos tenho a impresso de ouvir Paulo discursando
quanto ao chamado universal dos gentios que a graa de Deus deve ser oferecida a todos; de que Cristo
deve iluminar a todo o mundo pelo seu evangelho, a fim de que a impiedade dos homens fosse mais
plenamente atestada e demonstrada. Portanto, esta foi a demora, at que a carreira do evangelho fosse
completada porque um convite gracioso salvao era o primeiro na ordem. Por isso acrescenta: a seu
tempo, porque a vingana estaria madura depois que a graa tivesse sido rejeitada.
"Porque j o mistrio da injustia opera; somente h um que agora resiste at que do meio
seja tirado;" (2 Tessalonicenses 2:7)
O mistrio da iniquidade. Isto oposto revelao; pois, como Satans ainda no havia reunido tanta
fora, para que o Anticristo pudesse oprimir, abertamente, a Igreja, ele diz que ele est realizando secreta e
clandestinamente o que faria abertamente em seu devido tempo. Portanto, naquele tempo ele estava
lanando, secretamente, os fundamentos sobre, os quais, posteriormente levantaria o edifcio, tal como
realmente aconteceu. E isto tende a confirmar mais plenamente o que eu j disse que no um indivduo
que representado sob o termo Anticristo, e sim um reino, que se estende por muitas eras. No mesmo
sentido, Joo afirma que o Anticristo vir, mas que j havia muitos em seu tempo (1 Jo 2:18). Pois ele
admoesta aqueles que viviam naquela ocasio a estarem de guarda contra essa pestilncia mortal, que
ento estava crescendo de diversas formas. Pois estavam nascendo seitas que eram, por assim dizer, as
sementes daquela erva desgraada que quase sufocou e destruiu toda a lavoura de Deus. Mas, embora
Paulo transmita a ideia de uma forma secreta de operao, ele fez uso do termo mistrio ao invs de
qualquer outro, aludindo ao mistrio da salvao, do qual fala em outro lugar (Cl 1:26); pois ele insiste
atentamente na luta de repugnncia entre o Filho de Deus e esse filho da perdio.
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Somente um que agora resiste. Embora faa ambas as declaraes em referncia a uma s pessoa que
ela manter a supremacia por um perodo de tempo, e que logo ser tirada do caminho no tenho
dvida de que ele se refere ao Anticristo; e o particpio resistindo deve ser explicado no tempo futuro.
Pois, em minha opinio, ele acrescentou isto para a consolao dos fiis que o reinado do Anticristo ser
temporrio, seus limites tendo sido designa- dos por Deus; pois os fiis poderiam objetar: De que vale que
o evangelho seja pregado, se Satans agora est incubando uma tirania que ele exercer para sempre?
Concordemente, ele exorta pacincia, porque Deus aflige sua Igreja apenas por um tempo, para que
possa um dia dar-lhe o livramento; e, por outro lado, a perpetuidade do reinado de Cristo deve ser
considerada, a fim de que os fiis possam repousar nisto.
"Porque j o mistrio da injustia opera; somente h um que agora resiste at que do meio
seja tirado;" (2 Tessalonicenses 2:8)
E ento ser revelado, ou seja, quando aquele impedimento ( ) for removido; pois ele no
assinala o tempo da revelao como sendo quando aquele que agora tem a supremacia for tirado do
caminho, mas tem em vista o que havia dito antes. Pois ele dissera que havia certo impedimento no
caminho do Anticristo para que este chegasse posse declarada do reino. Em seguida, acrescentou que
ele estava incubando uma obra secreta de impiedade. Em terceiro lugar, intercalou uma consolao, com
base em que esta tirania chegaria a um fim. Ele agora repete novamente que aquele que ainda estava
oculto seria revelado neste tempo; e a repetio tem este objetivo que os fiis, estando equipados com a
armadura espiritual, possam, no obstante, lutar valorosamente sob Cristo, e no se permitirem vencer,
ainda que a avalanche de impiedade seja to difusa.
A quem o Senhor. Ele havia prenunciado a destruio do reinado do Anticristo; agora, assinala o modo da
sua destruio que ele ser reduzido a nada pela palavra do Senhor. Contudo, incerto se ele fala da
apario final de Cristo, quando ele ser manifestado desde o cu como o Juiz. As palavras, de fato,
parecem ter este sentido, mas Paulo no quer dizer que Cristo realizaria isto em um s momento. Por onde
devemos entend-lo no sentido de que o Anticristo seria totalmente e em cada aspecto destrudo quando
aquele dia final da restaurao de todas as coisas chegasse. Contudo, Paulo sugere, ao mesmo tempo, que
Cristo colocar em fuga, atravs dos raios que emitir antes do seu advento, a escurido em que o
Anticristo reinar; assim como o sol, antes de ser visto por ns, afugenta as trevas da noite pela emanao
dos seus raios.
Portanto, esta vitria da palavra se revelar neste mundo, pois o esprito da sua boca simplesmente se
refere palavra, assim como tambm em Is 11:4 passagem a que Paulo parece aludir. Pois ali o Profeta
toma no mesmo sentido o cetro da sua boca, e o sopro dos seus lbios, e tambm prov Cristo destas
mesmas armas, a fim de que ele aniquile seus inimigos. Esta uma notvel recomendao da verdadeira e
s doutrina que ela seja apresentada como suficiente para pr um fim a toda a impiedade; e como
destinada a ser, invariavelmente, vitoriosa em oposio a todas as maquinaes de Satans; como tambm
quando, pouco depois, a sua proclamao expressa como a vinda de Cristo a ns.
Quando Paulo acrescenta: esplendor da sua vinda, ele sugere que a luz da presena de Cristo ser tal que
tragar as trevas do Anticristo. Ao mesmo tempo, ele sugere indiretamente que o Anticristo ter
permisso para reinar por um tempo, quando Cristo, de certa forma, se tem retirado, como geralmente
acontece quando, ao se apresentar, voltamos nossas costas para ele. E, sem sombra de dvida, este um
triste afastamento de Cristo quando ele retira sua luz dos homens, a qual foi imprpria e indignamente
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recebida, de acordo com o que se segue. Ao mesmo tempo, Paulo ensina que, apenas pela sua presena,
todos os eleitos de Deus estaro abundantemente seguros, em oposio a todas as sutilezas de Satans.
"A esse cuja vinda segundo a eficcia de Satans, com todo o poder, e sinais e prodgios
de mentira," (2 Tessalonicenses 2:9)
Cuja vinda. Ele confirma o que disse atravs de um argumento a partir de opostos. Pois, como o Anticristo
no pode permanecer de outro nodo seno atravs dos embustes de Satans, ele deve necessariamente
desaparecer to logo Cristo resplandea. Por fim, como apenas nas trevas que ele reina, a aurora do dia
pe em fuga e extingue as densas trevas do seu reinado. Agora estamos de posse do propsito de Paulo,
pois ele queria dizer que Cristo no teria dificuldade em destruir a tirania do Anticristo, o qual no era
apoiado por outros recursos seno os de Satans. Ao mesmo tempo, porm, ele indica as marcas pelas
quais aquele mpio pode ser distinguido. Pois, aps ter falado acerca da operao ou eficcia de Satans,
ele a assinala particularmente, quando diz: com sinais e prodgios de mentira, e com todo o engano. E,
certa- mente, para que possa ser oposto ao reino de Cristo, isto deve consistir, parcialmente, de falsa
doutrina e erros, e parcialmente de pretensos milagres. Pois o reino de Cristo consiste da doutrina da
verdade, e do poder do Esprito. Concordemente, Satans, tendo em vista se opor a Cristo na pessoa do seu
Vigrio, veste a mscara de Cristo, enquanto, ao mesmo tempo, escolhe uma armadura com que possa se
opor diretamente a Cristo. Cristo, pela doutrina do seu evangelho, ilumina nossas mentes na vida eterna; o
Anticristo, treinado sob a instruo de Satans, por meio de perversa doutrina, envolve os mpios em runa;
Cristo apresenta o poder do seu Esprito para salvao, e sela o seu evangelho por meio de milagres; o
adversrio, pela eficcia de Satans, nos aliena do Esprito Santo, e pelos seus encantamentos confirma os
homens miserveis no erro.
Ele d o nome de prodgios de mentira, no apenas queles que so falsa e enganosamente concebidos
por homens astutos, com vistas a se impor sobre os simples um tipo de engano com que abunda todo o
Papado, pois eles fazem parte do seu poder, do qual anteriormente tratou; mas toma a mentira como
consistindo disto que Satans leva a um fim contrrio obras que de outro modo so realmente obras de
Deus, e abusa dos milagres para obscurecer a glria de Deus. Ao mesmo tempo, porm, no pode haver
dvida de que ele engana atravs de encantamentos dos quais temos um exemplo nos magos do Fara
(Ex 7:11).
"E com todo o engano da injustia para os que perecem, porque no receberam o amor da
verdade para se salvarem." (2 Tessalonicenses 2:10)
Para os que perecem. Ele limita o poder de Satans, como no sendo capaz de prejudicar os eleitos de
Deus assim como Cristo tambm os isenta deste perigo (Mt 24:24). A partir disto se mostra que o
Anticristo no tem um poder to grande, seno pela sua permisso. Ora, esta consolao era necessria.
Pois todos os que so piedosos, se no fosse por isto, necessariamente seriam dominados pelo temor, se
vissem um abismo escancarado permeando todo o caminho pelo qual devem passar. Por isso Paulo, por
mais que deseje que eles estejam em um estado de ansiedade, a fim de que estejam de guarda para que
no voltem atrs devido a uma negligncia excessiva sim, at mesmo se lancem em runa; no obstante,
os manda nutrir boa esperana, porquanto o poder de Satans est restringido, a fim de que ele no
envolva em runa ningum seno dos mpios.
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Porque no receberam o amor. Para que os mpios no se queixem de que perecem inocentemente, e de
que foram destinados morte mais por crueldade da parte de Deus, do que por qualquer erro da parte
deles, Paulo explica com que bons motivos vir sobre eles to severa vingana da parte de Deus porque
no receberam na moderao de esprito que deveriam a verdade que lhes fora apresentada; mais ainda,
rejeitaram a salvao por sua prpria vontade. E a partir disto se mostra mais claramente o que j tenho
explicado que o evangelho precisava ser pregado ao mundo antes que Deus desse a Satans tanta
permisso; pois ele nunca teria permitido que seu templo fosse to abjetamente profanado, se no tivesse
sido provocado pela extrema ingratido por parte dos homens. Em suma, Paulo declara que o Anticristo
ser o ministro da justa vingana de Deus contra aqueles que, sendo chamados salvao, rejeitaram o
evangelho, e preferiram aplicar sua mente impiedade e ao engano. Por isso, agora no h razo para os
papistas objetarem que est em desacordo com a clemncia de Cristo deixar cair a sua Igreja desta
maneira. Pois, embora o domnio do Anticristo tenha sido cruel, ningum pereceu, seno aqueles que
foram merecedores disto; mais ainda, por sua prpria vontade escolheram a morte (Pv 8:36). E, sem
sombra de dvida, ainda que a voz do Filho de Deus tenha soado por toda a parte, ela acha os ouvidos dos
homens moucos sim, obstinados; e, embora uma confisso do Cristianismo seja comum, existem, no
obstante, poucos que verdadeiramente e de corao tm se entregado a Cristo. Por isso, no de se
surpreender, se semelhante vingana rapidamente suceder a um desprezo to criminoso.
Questiona-se se o castigo da cegueira no cai seno sobre aqueles que, deliberadamente, se rebelaram
contra o evangelho. Eu respondo que este juzo especial pelo qual Deus tem vingado uma clara obstinao
no o impede de abater com estupidez, tantas vezes quanto lhe parea bom, aqueles que nunca ouviram
uma nica palavra a respeito de Cristo; pois Paulo no discursa de um modo geral quanto s razes pelas
quais Deus permitiu desde o princpio que Satans siga vontade com as suas mentiras, e sim quanto a que
vingana horrvel paira sobre os desprezadores grosseiros da nova e, anteriormente, incomum graa.
Ele usa a expresso: recebendo o amor da verdade, no sentido de aplicar a mente ao seu amor. Por onde
aprendemos que a f sempre est associada a uma doce e voluntria reverncia a Deus porque no
cremos, devidamente, na palavra de Deus, a menos que ela seja amvel e agradvel a ns.
"E por isso Deus lhes enviar a operao do erro, para que creiam a mentira;"
(2 Tessalonicenses 2:11)
A operao do erro. Ele quer dizer que o engano no apenas ter um lugar, mas os mpios sero cegados,
de modo que se precipitaro runa sem considerao. Pois, assim como Deus nos ilumina interiormente
pelo seu Esprito, para que a sua doutrina seja eficaz em ns, e abre os nossos olhos e coraes, para que
ela faa o seu caminho, do mesmo modo, por um justo juzo, ele entrega a uma mente rproba (Rm 1:28)
aqueles que destinou destruio, para que, com olhos fechados e uma mente insensata, eles possam,
como se estivessem enfeitiados, se entregar a Satans e seus ministros para serem enganados. E,
certamente, temos uma amostra notvel disto no Papado. Nenhuma palavra pode expressar que antro
monstruoso de erros existe ali, que absurdo grosseiro e vergonhoso de supersties existe ali, e que iluses
em desacordo com o senso comum. Ningum que possua at mesmo um senso moderado da s doutrina
pode pensar em coisas to monstruosas sem o maior terror. Ento, como o mundo todo poderia se perder
de espanto com eles, se no fosse porque os homens tm sido feridos de cegueira pelo Senhor, e converti-
dos, por assim dizer, em tocos de madeira?
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"Para que sejam julgados todos os que no creram a verdade, antes tiveram prazer na
iniquidade." (2 Tessalonicenses 2:12)
Para que sejam julgados todos. Ou seja, para que recebam o castigo devi- do sua impiedade. Assim,
aqueles que perecem no tm nenhum motivo justo para discutir com Deus, porquanto alcanaram o que
buscavam. Pois devemos ter em vista o que dito em Dt 13:3, que os coraes dos homens so sujeitos
prova, quando surgem falsas doutrinas, porquanto elas no tm poder, exceto entre aqueles que no
amam a Deus com um corao sincero. Ento, que aqueles que tm prazer na injustia colham o seu fruto.
Quando ele diz todos, significa que o desprezo a Deus no acha escusa no grande nmero e multido
daqueles que se recusam obedecer ao Evangelho; pois Deus o Juiz do mundo todo, de modo que infligir
castigo a cem mil no menos do que a um nico indivduo.
O particpio (tm prazer) significa, por assim dizer, uma inclinao voluntria para o mal,
pois deste modo removida toda a desculpa dos ingratos, quando tm tanto prazer na injustia que
preferem-na justia de Deus. Pois, atravs de que violncia diro ter sido impelidos a se alienarem por
uma louca rebelio contra Deus, em direo a quem eles eram conduzidos pela orientao da natureza? Ao
menos fica manifesto que eles, voluntria e conscientemente, deram ouvidos a mentiras.
"Mas devemos sempre dar graas a Deus por vs, irmos amados do Senhor, por vos ter
Deus elegido desde o princpio para a salvao, em santificao do Esprito, e f da
verdade; " (2 Tessalonicenses 2:13)
Mas devemos dar graas. Agora ele separa mais abertamente os tessalonicenses dos rprobos, a fim de
que a f deles no vacilasse pelo temor da rebelio que deveria acontecer. Ao mesmo tempo, ele tinha em
vista considerar no apenas o bem-estar deles, mas tambm o da posteridade. E ele no apenas os
confirma para que no caiam no mesmo precipcio com o mundo, mas atravs desta comparao, exalta
ainda mais a graa de Deus para com eles, pelo fato de que, embora vejam praticamente todo o mundo
compelido ao mesmo tempo para a morte, como que por uma violenta tempestade; eles so, pela mo de
Deus, mantidos em uma condio de vida tranquila e segura. Assim, devemos contemplar os juzos de
Deus sobre os rprobos de tal modo que possam ser para ns como que espelhos, para considerarmos a
sua misericrdia para conosco. Pois devemos deduzir esta concluso de que exclusivamente devido
graa singular de Deus que no perecemos miseravelmente com eles.
Ele os chama de amados do Senhor por esta razo para que melhor considerem que a nica razo pela
qual esto isentos da runa quase que universal do mundo porque Deus exerceu para com eles amor
imerecido. Assim Moiss admoestou os judeus: Deus no vos exaltou to magnificamente porque fosseis
mais fortes do que outros, ou fosseis numerosos, mas porque amou a vossos pais (Dt 7:7-8).
Pois, quando ouvimos o termo amor, aquela declarao de Joo deve imediatamente ocorrer nossa
mente no que o amamos primeiro (1 Jo 4:19). Em suma, aqui Paulo faz duas coisas; pois ele confirma a
f, para que os que so piedosos no se deixem vencer pelo temor, e os exorta gratido, para que
valorizem tanto mais a misericrdia de Deus para com eles.
Por vos ter elegido. Ele declara a razo pela qual nem todos so envolvidos e tragados na mesma runa
porque Satans no tem poder algum sobre aqueles que Deus escolheu, de modo a impedi-los de serem
salvos, ainda que o cu e a terra sejam confundidos. Esta passagem lida de diversas maneiras.
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O intrprete antigo traduziu-a como primeiros frutos, como estando no grego ; mas como quase
todos os manuscritos gregos trazem , segui de preferncia esta leitura. Se algum preferir
primeiros frutos, o sentido ser de que os fiis foram, por assim dizer, postos de lado para uma oferta
sagrada por uma metfora tirada do costume antigo da lei. Contudo, mantenhamos o que mais
geralmente recebido que ele afirma que os tessalonicenses foram escolhidos desde o princpio.
Alguns entendem que o sentido de que eles foram chamados entre os primeiros; mas isto estranho ao
sentido de Paulo, e no est de acordo com o contexto da passagem. Pois ele no isenta do temor apenas
alguns indivduos, que haviam sido levados a Cristo logo no princpio do evangelho, mas esta consolao
pertence a todos os eleitos de Deus, sem exceo. Portanto, quando diz: desde o princpio, ele quer dizer
que no h perigo de que a salvao deles, que est fundamentada na eleio eterna de Deus, seja
subvertida, sejam quais forem as mudanas tumultuosas que possam ocorrer. Por mais que Satans
possa misturar e confundir todas as coisas no mundo, vossa salvao, apesar disso, foi colocada em uma
posio de segurana, antes da criao do mundo. Portanto, aqui est o verdadeiro porto de segurana
que Deus, que nos escolheu desde a antiguidade, nos livrar de todos os males que nos ameaam. Pois
somos eleitos para a salvao; portanto, estaremos seguros da destruio. Mas, como no cabe a ns
penetrar no conselho secreto de Deus, para encontrar a a certeza da nossa salvao, ele especifica sinais e
indcios de eleio, que deveriam nos bastar para a certeza acerca dela.
Em santificao do esprito, diz ele, e f da verdade. Isto pode ser explicado de duas maneiras com
santificao, ou por santificao. No de muita importncia qual dos dois escolheis, pois certo que
Paulo pretendia simplesmente apresentar, em conexo com a eleio, aqueles sinais mais imediatos que
manifestam a ns o que em sua prpria natureza incompreensvel, e esto associados a ela por um elo
indissolvel. Por isso, a fim de que saibamos que somos eleitos por Deus, no h razo para inquirirmos
quanto ao que ele decretou antes da criao do mundo; mas encontramos em ns mesmos uma prova
satisfatria de que ele nos tem santificado pelo seu Esprito se ele nos tem iluminado na f do seu
evangelho. Pois o evangelho para ns uma evidncia da nossa adoo; e o Esprito o sela; e aqueles que
so guiados pelo Esprito estes so filhos de Deus (Rm 8:14); e aquele que pela f possui a Cristo tem a vida
eterna (1 Jo 5:12). Estas coisas devem ser atentamente observadas para que, desprezando a revelao da
vontade de Deus, com a qual ele nos manda permanecermos santificados, no mergulhemos em um
labirinto profundo por um desejo de extra-la a partir do seu conselho secreto, de cuja investigao ele nos
afasta. Por isso, convm que fiquemos satisfeitos com a f do evangelho, e com aquela graa do Esprito
pela qual temos sido regenerados. E, deste modo, refutada a impiedade daqueles que fazem da eleio
de Deus um pretexto para todo o tipo de iniquidade ao passo que Paulo a relaciona com a f e a
regenerao de tal modo que ele no queria que a julgssemos sobre qualquer outro fundamento.
"Para o que pelo nosso evangelho vos chamou, para alcanardes a glria de nosso Senhor
Jesus Cristo." (2 Tessalonicenses 2:14)
Para o que nos chamou. Ele repete a mesma coisa, embora em termos um tanto diferentes. Pois os filhos
de Deus no so chamados crena da verdade de outro modo. Contudo, Paulo pretendia mostrar aqui
quo competente testemunha ele para confirmar aquilo de que era ministro. Concordemente, ele se
apresenta como uma garantia, a fim de que os tessalonicenses no duvidem de que o Evangelho, no qual
haviam sido instrudos por ele, a reconfortante voz de Deus, pela qual so despertados da morte, e
salvos da tirania de Satans. Ele o chama de seu evangelho, no como se tivesse se originado com ele, e
sim porque a pregao dele lhe havia sido confiada.
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O que ele acrescenta, para a aquisio ou possesso da glria de Cristo, pode ser entendido quer em um
sentido ativo ou passivo ou como significando que eles so chamados para que um dia possuam uma
glria em comum com Cristo, ou que Cristo os adquiriu tendo em vista a sua glria. E assim ser um
segundo meio de confirmao o fato de que ele os defender, como sendo nada menos do que sua prpria
herana; e, ao manter a salvao deles, se apresentar em defesa da sua prpria glria; este ltimo
sentido, em minha opinio, est mais de acordo.
"Ento, irmos, estai firmes e retende as tradies que vos foram ensinadas, seja por
palavra, seja por epstola nossa." (2 Tessalonicenses 2:15)
Retende as tradies. Alguns restringem isto a preceitos de conduta exterior; mas isto no me contenta,
pois ele aponta para o modo de permanecer firme. Ora, estar equipado com fora invencvel muito mais
do que disciplina exterior. Por isso, em minha opinio, ele inclui toda a doutrina sob este termo, como se
tivesse dito que eles tm um fundamento sobre o qual podem permanecer firme, desde que perseverem
na s doutrina conforme o que haviam sido instrudos por ele. No nego que o termo seja
adequadamente aplicado s ordenanas que so estabelecidas pelas igrejas, com vistas promoo da paz
e manuteno da ordem; e admito que empregada neste sentido quando se tratam de tradies
humanas (Mt 15:6). Contudo, Paulo ser encontrado no prximo captulo fazendo uso do termo tradio,
no sentido da regra que havia formulado, e a prpria significao do termo genrica. O contexto, porm,
conforme eu disse, exige que ela seja entendida aqui no sentido da totalidade daquela doutrina na qual
eles haviam sido instrudos. Pois o assunto tratado o mais importante de todos que a f deles
permanecesse segura em meio a uma terrvel agitao da Igreja.
Os papistas, porm, fazem papel de loucos ao deduzir a partir disto que suas tradies deveriam ser
observadas. Na verdade, eles raciocinam da seguinte maneira que, se era permissvel para Paulo
prescrever tradies, tambm era permissvel para outros mestres; e que, se era algo piedoso observar as
primeiras, as ltimas tambm no deveriam ser menos observadas. Contudo, concedendo-lhes que Paulo
fala de preceitos pertencentes ao governo exterior da Igreja, digo que, no obstante, eles no foram
inventados por ele, mas comunicados divinamente. Pois ele declara em outro lugar (1 Co 7:35) que no era
sua inteno prender as conscincias, pois isto no era lcito, nem para si, nem para todos os apstolos
juntos. Eles fazem um papel ainda mais ridculo, ao fazer do seu objetivo passar, sob isto, o escoadouro
abominvel de suas prprias supersties, como se fossem as tradies de Paulo. Mas, adeus para essas
ninharias, quando estamos na posse do verdadeiro sentido de Paulo. E podemos julgar, em parte atravs
desta Epstola, que tradies ele recomenda aqui, pois diz: quer por palavra, ou seja, discurso, ou por
epstola. Ora, o que estas Epstolas contm seno a pura doutrina, que subverte o prprio fundamento de
todo o Papado, e toda a inveno que esteja em desacordo com a simplicidade do Evangelho?