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Infoproletariado — Notas para café filodófico Rodrigo Esteves de Lima-Lopes 20 de junho de 2012 Sumário Discussões preliminares 1 Antigos discursos 2 Novo e Rápido capitalismo 3 Discussões preliminares 1. Explicar meu contexto de análise, (a) Análise do discurso: mundo do discurso vs. mundo da reali- dade e construção da realidade 2. Iniciar: • Construir o infoproletariado é construir uma nova ordem de dis- curso e identidade; Estou usando discurso no sentido de conhecimento e práticas — palavras, atitudes perante o mundo, ideologias, comportamen- tos etc.. Discurso cria oportunidade para que nós reconheçamos pessoas ou melhor tipos de pessoas, permite o processo de agrupamentos em categorias sociais * Esse conceito vai além de classes sociais, no sentido marxista do termo, pois permite grupamentos de todo tipo e sorte • Esses discursos pode ser assumidos — quando nós os escolhemos —, ou projetados — quando nos são atribuídos por outrem. • O infoproletariado estaria relacionado a um tipo de discurso que parece originado, de forma articulada, a partir de meados dos anos 90 Não que ele não tivesse em construção anteriormente, mas sua plenitude nasce da disponibilização dos computadores. * A ideia de pensar esse novo capitalismo de forma discursiva é pensar na forma como ele organiza esse mundo no nível do parecer ser, não necessariamente naquilo que ele é

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Infoproletariado — Notas para café filodóficoRodrigo Esteves de Lima-Lopes20 de junho de 2012

Sumário

Discussões preliminares 1

Antigos discursos 2

Novo e Rápido capitalismo 3

Discussões preliminares

1. Explicar meu contexto de análise,

(a) Análise do discurso: mundo do discurso vs. mundo da reali-dade e construção da realidade

2. Iniciar:

• Construir o infoproletariado é construir uma nova ordem de dis-curso e identidade;

– Estou usando discurso no sentido de conhecimento e práticas —palavras, atitudes perante o mundo, ideologias, comportamen-tos etc..

– Discurso cria oportunidade para que nós reconheçamos pessoasou melhor tipos de pessoas, permite o processo de agrupamentosem categorias sociais

* Esse conceito vai além de classes sociais, no sentido marxistado termo, pois permite grupamentos de todo tipo e sorte

• Esses discursos pode ser assumidos — quando nós os escolhemos—, ou projetados — quando nos são atribuídos por outrem.

• O infoproletariado estaria relacionado a um tipo de discurso queparece originado, de forma articulada, a partir de meados dosanos 90

– Não que ele não tivesse em construção anteriormente, mas suaplenitude nasce da disponibilização dos computadores.

* A ideia de pensar esse novo capitalismo de forma discursivaé pensar na forma como ele organiza esse mundo no nível doparecer ser, não necessariamente naquilo que ele é

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· É estabelecida uma relação entre o ser e o parecer, eleparece uma revolução tecnológica totalmente benéfica semcontratempos; mas na verdade é uma divisão do trabalhotão opressora quanto o sistema taylorista.

Antigos discursos

• O antigo capitalismo se caracteriza por possuir um discurso deexclusão, baseado na capacidade de compra de bens de consumo eacúmulo de capital

– Indivíduos são divididos em classes não apenas pelo seu poderde compra, mas pelo discurso de seu poder de compra

* Isso inclui bens culturais, não apenas materiais

– Esses indivíduos tem uma relação externa com seu trabalho, sãodefinidos por termos como empregados e se relacionam comuma camada intermediária de chefes que representam os donosda empresa

* Temos um processo discursivo que ressalta o construto deuma hierarquia forte e centralizadora, na qual o poder emanade uma relação de dominância no local de trabalho;

* A relação interpessoal é discursivamente organizada porum código de conduta implícito (acordado) ou explícito(regimental) e obedece funções claras

· Isso se reflete nas funções exercidas dentro desse ambientediscursivo: o processo de dominação emana de uma pro-dução discursiva necessariamente Top-down e se caracterizapor uma impessoalidade funcional, cumpre-se aquilo queé determinado

· Ao passo que o procedimento de resistência é Bottom-up,nascendo de uma organização coletiva que se caracterizapelo todo. Existem barreiras discursivas e essas participa-ções são forçadas.

– Isso acontece porque esses indivíduos formam uma cadeia dis-cursiva, com menos voz ativa aos indivíduos que estão em suabase. Neck down employees — não são contratados para pensarou agir criticamente.

– Funcionários são treinados, ensinados, sua formação é sobrestadaapós cursos de formação básica. Quando o há.

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Novo e Rápido capitalismo

• Uma primeira grande mudança no discurso é a construção deuma empresa que não necessariamente tem como seu objetivodiscursivo o lucro. Isso não aparece como elemento básico paramotivação dos colaboradores tampouco dos consumidores

– Há um grande esforço em alinhar as práticas capitalistas àspráticas sociais valorizadas pelas comunidades em que essasempresas atuam.

– A competição é considerada global, numa noção que parece sermaior do que as somas locais.

• Novas formas de organização discursiva. Introduz-se a noção deGlocal, que se refere à presença da dimensão local na produção deuma cultura global.

– Bens de consumo generalizados são trocados por produtos comuma ideia de bens locais e personalizados para os indivíduos ougrupos sociais a que servem

* Pela primeira vez os desejos dos clientes parecem ser dis-cursivamente levados em conta. Seu interesses e desejospromovem rápidas mudanças

* Customização é a palavra de ordem, perfeição se transformano padrão e a transformação ou mudança a normalidade.

– A informação passa a ser um bem de consumo igual aos produ-tos.

– Cria-se uma falsa impressão de localismo e pequenês.

• Como as empresas não podem criar imagens baseadas apenasno lucro, elas passam a defender discursos que anteriormenteeram exclusivos de movimentos sociais, como igrejas, partidospolíticos, ONGs, associações etc. (citar sustentabilidade, educação,patrocínio da cultura)

– Criam-se um conjunto de valores que pressupõem a filiação deconsumidores e empregados

* Nessa perspectiva consumir uma empresa é consumir seusvalores, algo que fideliza

* Nessa perspectiva, fazer parte de uma empresa é ajudar aconstruir seus valores.

• A definição do cliente passa não mais por classes de consumode produtos, mas por classes de consumo de informação, cria-se uma ideia de hipersegmentação: o mesmo grande grupo de

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consumidores massificados agora se sente exclusivo, por estarconectado a um grupo informacional específico.

– Cria-se uma pseudo-noção de exclusividade e diferenciação,graças a produtos que não possuem diferenças técnicas muitosignificativas

– Cresce a preocupação pela produção de bens e serviços cadavez mais diferenciada de forma promover essa mesma dife-rença.

• O proletariado passa agora a ter uma relação interna e intrínsecacom o seu trabalho,

– Ele agora é tratado como colaborador, alguém que, em termosapenas discursivos, e não de fato, constrói um conjunto orgânicode indivíduos que cultivam e representam a imagem dessaempresa em um novo capitalismo.

* Esses indivíduos assimilam esse novo discurso e se sentemvalorizados por ele.

– O trabalho deixa de ser encarado como um sistema de produçãoalienante e passa, apenas no âmbito discursivo, a ser tratadocomo um elemento significativo na construção dessa entidademaior que é a empresa.

– Há toda uma reestruturação da nomenclatura (processo que seinicia coma reengenharia) de forma a melhor representar essanova situação discursiva (termos muitas vezes assimilados emportuguês com anglicismo):

* Coaches, líder, parceiros, staff, associados, colaborador.

– A estrutura hierárquica é discursivamente quebrada graças àtecnologia digital. Menos indivíduos são necessários para acomunicação entre as esferas e para o controle de funcionários.Parte das atribuições desses escalões intermediários passa paraos colaboradores.

– Como agora não são mais empregados, mas discursivamenteindivíduos ativos que podem ter seu potencial "desenvolvido"em funções que melhor o possibilite

– Há uma construção discursiva de um lugar de trabalho menosstressante e menos opressor. Dependendo da ação discursivaassumida, regras e normas são flexibilizadas. Essa flexbilizaçãoleva a:

* A um proletário conectado com a empresa tempo integral(seja pela presença física, seja pela conexão de suas exten-sões corpóreas (redes sociais, mídias locativas, email). Esse

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processo leva a uma conexão direta entre suas vidas pessoale profissional, não há necessariamente o estabelecimento deuma diferença entre elas.

* Esses indivíduos são cobrados em ter um postura crítica, cri-ativa, pensadora que não se aplica a um questionamento realde sua situação de trabalho: essa nova subida para "alémdos pescoço" está relacionada inteiramente a melhoria dosserviços oferecidos e prestados. O objetivo é preparar parasituações profissionais e para solução de problemas na ambi-ência do trabalho.

– Esses funcionários são constantemente avaliados em termos desua performance no atendimento de nossas "ditas necessidades"

* Obviamente os menos felizes em suas avaliações são descar-tados ou re-treinados.

• O processo de exclusão agora não se dá apenas pela nacionalidade(no caso de um proletariado globalizado) ou em termos de classes(em um infoproletariado interno). Alguns critérios importantesagora seriam:

– Pertencimento a um grupo de "referência" tecnológica e dereferência cultural

– Pertencimento a determinados grupos profissionais, como em-presas que se internacionalizam e criam próprias nacionalidades

• Apesar dessa ênfase no pertencimento, incentiva-se um discursocontraditório, o da construção de uma narrativa individual e nãocoletiva, o que acontece de forma interna como externa:

– Criação de escritórios offshore (tradutores, call centers, programa-dores, designers, profissionais de educação – EAD)

* Explorar força de trabalho menos qualificada e que não per-tence a esse discurso de bens culturais, agora sob o discursoda oportunidade

– Desarticulação da noção de classe:

* Colaboradores pertencem a uma classe ainda mais excluídaque a tercerizada: o freelancer

· Não há nenhuma construção sindical e nenhuma garantiade direitos de nenhuma sorte

· Grupos que muitas vezes trabalham por Job e não porsalários fixos, sem garantia até mesmo de rendimentosfísicos

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• Naturalmente o discurso da falsa inclusão no sistema capitalista deconsumo é o que justifica esse tipo de exploração

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