caderno violencia idoso atualizado 19jun
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Caderno de Violncia
Contra a Pessoa Idosa
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2 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa
Caderno de
Violncia contra Pessoa Idosa
ORIENTAES GERAIS
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COORDENADORIA DE DESENVOLVIMENTO EPOLTICAS DE SADE - CODEPPS
Caderno de
Violncia contra a Pessoa Idosa
ORIENTAES GERAIS
Coordenao Geral
rea Tcnica Cultura de Paz, Sade e Cidadania - CODEPPS/SMS
Coordenador: Nelson Figueira Jnior
Equipe Tcnica
Jonas Melman
Maria Ermnia Celiberti
Mariangela Aoki
Organizao
rea Tcnica Sade do Idoso / CODEPPSSrgio Mrcio Pacheco Paschoal - Coordenador
Equipe Tcnica
Maria das Graas Lira Oliveira
Marilia Anselmo Viana da Silva Berzins
ElaboraoMarlia Anselmo Viana da Silva Berzins
Colaborao
IMSERSO - Instituto de Mayores y Servicios Sociales - Ministerio de Trabajo
y Asuntos Sociales - Espanha
Secretaria Municipal da SadeSo Paulo
2007
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FICHA CATALOGRFICA
S241ca So Paulo (Cidade). Secretaria da Sade.
Violncia domstica contra a pessoa idosa: orientaes gerais.
Coordenao de Desenvolvimento de Programas e Polticas de Sade -
CODEPPS. So Paulo: SMS, 2007
68 p.
1. Violncia domstica. 2. Idoso. I. Coordenao de Desenvolvi-
mento de Programas e Polticas de Sade - CODEPPS. II. Ttulo.
CDU 616.89-442
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Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 5
2007 - Secretaria Municipal da Sade
permitida a reproduo parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte
e que no seja para venda ou qualquer fim comercial.
Srie Cadernos Violncia e SadeVolume 3 - Violncia contra a Pessoa Idosa
Prefeito da Cidade de So Paulo
Gilberto Kassab
Secretrio Municipal da Sade
Januario Montone
Coordenador da Coordenao de Desenvolvimento de Programas e
Polticas de Sade - CODEPPS
Cssio Rogrio Dias Lemos Figueiredo
Ficha Tcnica
Editorao - Uni - Repro Solues para Documentos LTDA
Reproduo - Uni - Repro Solues para Documentos LTDA
Edio
1 edio - 2007
Tiragem: 3.000
Coordenao de Desenvolvimento de Programas e Polticas de Sade
Rua General Jardim n 36 - 5 andar
Vila Buarque - So Paulo/SP
CEP: 01223-906Telefone: (11) 3218-4112
E-mail: [email protected]
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Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 7
SUMRIO
Apresentao
Envelhecer com dignidade, um direito humano fundamental ..................... 13
Algumas reflexes sobre o lugar social da velhice do velho ...................... 16
Quem cuida de quem cuida? ...................................................................... 18
Violncia contra a pessoa idosa: uma realidade oculta ............................. 21
Violncia contra a pessoa idosa: vamos romper o pacto do silncio! ........ 23
Princpios orientadores................................................................................ 26
Definindo Violncia contra a Pessoa Idosa ................................................ 28
Tipologia da violncia.................................................................................. 29
Como prevenir a violncia contra a pessoa idosa ...................................... 31
Perfil da vtima e do agressor ..................................................................... 33
Avaliao na prtica assistencial ................................................................ 34
Atuao preventiva ..................................................................................... 37
Como detectar a violncia contra a pessoa idosa ...................................... 39
Indicadores de violncia contra a pessoa idosa ......................................... 42
Sugestes para facilitar a comunicao ..................................................... 45
Violncia constatada: sugestes para a entrevista ................................... 50
Interveno profissional .............................................................................. 55
Violncia institucional .................................................................................. 59
Declarao de Buenos Aires ...................................................................... 62
Concluses ................................................................................................. 64
Referencia bibliogrfica ............................................................................... 65
Anexo .......................................................................................................... 66
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AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao IMSERSO - Instituto de Mayores y Servicios Sociales -
rgo do Ministrio de Trabajo y Asuntos Sociales do governo da Espanha, na
pessoa da Dra. Ana Buron que autorizou a traduo livre de partes do docu-
mento da Coleccin Manuales y Guias - Serie Personas Mayores: "Malos tratos
a persona mayores: Guia de Actuacin" publicado em 2006, 2 edio.
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NADA IMPOSSVEL DE MUDAR
Bertolt Brecht
Desconfiai do mais trivial,
Na aparncia singela.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
No aceiteis o que de habito como coisa natural,
Pois em tempo de desordem sangrenta,
De confuso organizada, de arbitrariedade consciente,
De humanidade desumanizada,
Nada deve parecer natural
Nada deve parecer impossvel de mudar.
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APRESENTAO
Os problemas relativos violncia vm ganhando cada vez mais visibilida-
de, tendo se tornado uma questo importante para a Sade Pblica em nossa
cidade. Diminuir o ndice de morbimortalidade causada pelas formas mais
freqentes de violncia e de acidentes constitui um grande desafio para o setor
sade.
Ao mesmo tempo, a compreenso da complexidade do fenmeno exige
uma abordagem intersetorial e interdisciplinar na formulao de polticas pbli-
cas integradas de superao da violncia e preveno dos acidentes.
Nesta perspectiva, a gravidade e a abrangncia do fenmeno exige quetodos participem ativamente deste movimento. Trata-se de envolver a comuni-
dade, estimulando o compromisso e a responsabilidade de todos na preserva-
o dos direitos das pessoas e na construo da cultura de paz na cidade de
So Paulo.
Para minimizar o impacto da violncia sobre os cidados que procuram as
unidades de sade, a Secretaria Municipal da Sade est implementando arede de cuidado de ateno integral s pessoas em situao de violncia,
articulada com outras redes sociais, que possa oferecer uma ateno de qua-
lidade s pessoas em situao de violncia em cada regio da cidade. Da
mesma forma, est implantando um sistema de informao que possibilite a
produo do conhecimento das diversas formas de violncia e acidentes para
se dimensionar o seu impacto na vida das pessoas e nos servios de sade.
Est realizando aes de preveno e promoo da sade que visem garantirdireitos, valorizar e respeitar a todas as crianas, os adolescentes, as mulheres
e os homens, com a participao da comunidade.
Este Manual faz parte de uma srie de outros manuais para apoiar os
profissionais da sade no atendimento s pessoas em situao de violncia,
principalmente dos grupos mais vulnerveis violncia domstica e sexual:
criana e adolescente, mulher e pessoa idosa.
Cssio Rogrio Dias Lemos Figueiredo
CODEPPS/SMS
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ENVELHECER COM DIGNIDADE, UM DIREITOHUMANO FUNDAMENTAL
Srgio Mrcio Pacheco Paschoal1
Velhice tem sido pensada, quase sempre, como um processo degenerativo,
oposto a qualquer progresso, como se nessa etapa da vida deixasse de existir
o potencial de desenvolvimento humano. O esteretipo tradicional da velhice
o de pessoas doentes, incapazes, dependentes, demenciadas, rabugentas,
impotentes, um problema e nus para a sociedade.Envelhecer um processo, inerente a todos os seres humanos, que se
inicia na concepo e perpassa todos os dias de nossas vidas. A cada instante
tornamo-nos mais velhos que no instante anterior. Todos envelhecemos e, os
mais jovens, um dia, sero os idosos de seu tempo. Esse processo pode
resultar em duas situaes-limite: uma com excelente qualidade de vida e outra
com qualidade de vida muito ruim. Entre esses dois extremos, diversas situa-
es intermedirias. Em qual extremo vamos chegar depende de inmerasvariveis, algumas pertencentes a ns mesmos como indivduos e, as demais,
dependentes da sociedade e do meio em que vivemos.
Este Caderno pretende contribuir para compreender a situao de violncia
que boa parte dos idosos brasileiros vivencia. O recente interesse sobre o tema
est vinculado ao acelerado crescimento nas propores de idosos em quase
todos os pases do mundo, o Brasil no fugindo regra. Esse fenmeno
quantitativo repercute nas formas de visibilidade social desse grupo etrio e na
expresso de suas necessidades. H um fenmeno paradoxal, em que o en-
velhecimento populacional visto, de um lado, como conquista da humanidade
e, de outro, como um problema, com enormes demandas para a sociedade,
como a aposentadoria, a epidemia de doenas crnicas com suas seqelas e
complicaes, a necessidade de oferta aumentada de servios sociais e de
sade, a necessidade de cuidados de longa durao e assim por diante. H um
1Coordenador da rea Tcnica de Sade do Idoso - CODEPPS/SMS
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"desinvestimento" poltico e social na pessoa do idoso. A maioria das culturas
tende a separar esses indivduos, segreg-los e, real ou simbolicamente, a
desejar sua morte (Minayo, 2003).
Quando se fala em violncia contra as pessoas idosas, pensa-se imediata-mente na violncia fsica, mas esta no a nica, pois h inmeras formas de
violncia, veladas e mascaradas. A violncia tambm pode manifestar-se como
psicolgica, econmica, moral, sexual, pode ser familiar, social, institucional,
estrutural e pode resultar de atos de omisso e negligncia. Muitas vezes no
a reconhecemos, pois os idosos tm importncia menor num mundo que valo-
riza o vigor e a beleza da juventude. Sem perceber, tornamos os idosos cida-
dos de segunda classe. Mesmo com leis avanadas, seu descumprimentodesqualifica sua importncia como cidados: "Apesar da existncia do Estatuto
do Idoso, os idosos continuam a ter seus direitos desrespeitados, sendo trata-
dos, por vezes, como crianas ou pessoas incapazes" (Mirian Trindade, CMI de
Joo Pessoa, PB).
Pessoas idosas no querem mais do que as outras: desejam eqidade, um
direito humano. Querem um tratamento digno, independentemente de sexo,
raa, origem tnica, deficincia, situao econmica. necessrio mudar ati-tudes, prticas e polticas, para concretizar as potencialidades do envelheci-
mento, favorecendo-o como digno e seguro e criando oportunidades de desen-
volvimento pessoal. fundamental garantir a participao dos idosos na vida
econmica, poltica e social, participao como cidados em plenos direitos e
desenvolver plenamente seu potencial, mediante acesso a recursos culturais,
espirituais, educativos e recreativos. Para eliminar a violncia e a discrimina-
o, preciso valorizar a famlia, garantir a igualdade entre gneros e criarmecanismos de proteo social.
Deve-se reconhecer as contribuies dos idosos frgeis, doentes e vulne-
rveis e garantir seus direitos de ateno e segurana, para se construir "uma
sociedade para todas as idades", onde mesmo os mais dependentes possam
dar alguma contribuio, no mnimo dos exemplos de vida.
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O que importa dignidade! Uma velhice digna e respeitosa, que valha a
pena ser vivida! Vivida com conforto, segurana, carinho, ateno, respeito,
amor, alegria, felicidade, autonomia e que favorea o envelhecimento ativo.
Independentemente do passado que tiveram, todos merecem respeito nesse
instante da vida.
Como profissionais de sade temos enorme responsabilidade na preven-
o, diagnstico e tratamento da violncia contra as pessoas idosas. Organizar
nossos servios para ateno a esse grupo etrio em todos nveis, oferecer
condutas adequadas atravs de profissionais preparados e sensibilizados,
garantir acesso e acessibilidade, tratar com respeito e dignidade, so condi-
es necessrias para garantia do direito sade e condies importantespara que tambm no sejamos ns os perpetradores de violncia contra essas
pessoas, que merecem respeito e dedicao.
Que os sonhos se transformem em conquistas. Sonhos de uma velhice
plena, com direito vida, paz, diversidade, incluso social, cidadania,
boa aposentadoria, boa qualidade de vida e boa qualidade de morte.
preciso levar dignidade aos dias finais!
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ALGUMAS REFLEXES SOBRE O LUGAR SOCIALDA VELHICE E DO VELHO
Elisabeth Frohlich Mercadante2
A longevidade humana apresenta-se atualmente como uma grande con-
quista histrica e social.
Viver a longevidade revela o aumento da vida humana em sua durao
cada vez mais temos velhos mais velhos e tambm aponta para o crescimen-
to de um nmero maior de pessoas idosas. Esses dados so indicadores
seguros que evidenciam os idosos como compondo um dos grupos que mais
cresce na sociedade brasileira.
Diante do crescimento populacional do segmento idoso e do aumento do
nmero de anos de vida, impe-se hoje pensar e analisar a velhice, no como
o fim da vida mas, como uma nova etapa a ser vivida.
A nossa sociedade prioriza o novo, destaca a juventude como um valor
cultural a ser perseguido por todos e apresenta o futuro como algo prprio que
pertence ao jovem.
O velho aparece como o oposto do jovem, sem futuro, vivendo de lembran-
as de uma vida passada j vivida como adulto e jovem.
Essa viso da velhice geradora de representaes sociais que a
homogenezam, podendo desenvolver atitudes discriminatria em relao ao
segmento idoso.
A discriminao presente nos olhares e atitudes manifesta-se nas diversas
esferas da vida social famlia, trabalho, sade criando diferentes formas de
violncia em relao a pessoa idosa.
Diante desse quadro importante chamar a ateno do profissional da
sade que lida diretamente com idosos, para o papel que deve desempenhar
2Antroploga. Coordenadora do curso de Ps Graduao em Gerontologia da Pontifica da UniversidadeCatlica de So Paulo.
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como sujeito social ativo, como agente de mudana cultural no sentido de
desconstruir uma viso estereotipada da velhice.
Certamente para essa desconstruo o profissional da sade dever (ou
poder) contar com o idoso, no como um "outro" que com o profissionalcontrasta, mas, como um "outro" que est ao seu lado e que tambm est
sujeito ao processo biosociocultural e histrico do envelhecimento.
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18 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa
QUEM CUIDA DE QUEM CUIDA?
Zally P.V. Queiroz2
O aumento da expectativa de vida da populao brasileira, conquistadograas aos avanos tecnolgicos e da medicina, no garantiu, no entanto, a
qualidade dessa existncia prolongada. J so significativos, no contexto da
populao brasileira, os percentuais de nonagenrios e at mesmo de cente-
nrios, na sua maioria portadores de comprometimento da capacidade funcio-
nal, exigindo dessa forma cuidados especiais, mais freqentemente em domi-
clio, ou em instituies de longa permanncia.
Essa situao fez emergir um novo personagem no cenrio da ateno aesses idosos: o cuidador domstico, geralmente um familiar pouco preparado
para essa funo, que assumida em decorrncia dos arranjos familiares
estabelecidos a partir da situao de dependncia a ser enfrentada. Fraturas
de fmur e de quadril, artroses, acidentes vasculares cerebrais, doenas reu-
mticas, demncias, so eventos freqentes em idosos muito idosos, determi-
nando inmeras limitaes e alterando a dinmica, a economia e muitas vezes
a sade das famlias desses idososDe acordo com Caldas (1995), a sobrecarga fsica, emocional e scio-
econmica decorrente dessa situao muito grande, no se podendo esperar
que os cuidadores familiares dem conta dessa situao, sem dispor de algu-
ma forma de suporte.
Em estudo realizado por Medeiros(1998), os cuidadores entrevistados
mencionaram que, por ocasio da alta hospitalar, muito poucos receberam
informaes claras a respeito da doena dos seus idosos, bem como orienta-
o para o cuidado em casa. De maneira bastante superficial, esses cuidadores
foram orientados apenas sobre medicao, alimentao e retornos.
Algumas pesquisas que vm sendo realizadas nos ltimos anos tm mos-
trado que, em geral, so as mulheres que assumem esse cuidado e essa
funo considerada natural, pois percebida como um prolongamento do
3Assistente social, especialista em Gerontologia pela SBGG, coordenadora do Curso de Especializao emGerontologia do Centro Universitrio So Camilo (SP).
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Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 19
papel de me. Cuidar dos seus familiares idosos , portanto mais uma tarefa
que as mulheres assumem, acumulando com todas as outras que tradicional-
mente so da sua responsabilidade.
Os estudos tm mostrado tambm que a maioria dessas mulheres so
filhas desses idosos, esto na meia-idade ou j so idosas jovens, tm algunsproblemas de sade como hipertenso, diabetes e problemas de coluna. A
maioria dedica muitas horas do seu dia para o cuidado de seu familiar, poucas
tm revezamento com outra pessoa nessa funo de cuidar, por isso mesmo
muitas sentem-se deprimidas e estressadas.
Com certeza, esse quadro geral aponta para a necessidade de suporte
para essas cuidadoras, cuja situao se enquadra nos fatores de risco para
violncia contra idosos, particularmente para as situaes de negligncia do-mstica.
A ateno ao cuidador, e quase poderamos dizer s cuidadoras uma vez
que so muito poucos os cuidadores do sexo masculino, torna-se uma deman-
da crescente em nossa sociedade que envelhece to rapidamente. Enquanto
no dispomos em nosso pas de polticas efetivas para a promoo do enve-
lhecimento ativo, que afastaria a velhice dependente para o extremo final da
vida, preciso pensar na formulao de uma poltica de ateno ao idosofragilizado e funcionalmente comprometido, que inclua a ateno ao cuidador
informal, geralmente um familiar, por meio do estabelecimento de uma rede de
suporte institucional. Como refere Caldas (2003) o cuidador informal poderia e
deveria ser visto como um agente de sade, recebendo orientaes relaciona-
das prestao de cuidado adequado ao idoso e preservao da sua prpria
sade.
Sabendo como atuar de forma adequada, esses cuidadores no s estari-am contribuindo para uma melhor qualidade de vida do idoso dependente como
estariam preservando a sua integridade fsica e emocional e, desta forma,
envelhecendo de maneira mais saudvel.
Um outro aspecto a ser considerado que a implementao de programas
de orientao e apoio ao cuidador, promoveria tambm a preveno da negli-
gncia domstica, que corre um srio risco de ser praticada por cuidadores
estressados, como apontam alguns estudos (Machado e Queiroz, 2006).
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Finalizando, gostaramos de citar Karsch (2003); "Neste pas, a velhice sem
independncia e autonomia ainda faz parte de uma face oculta da opinio
pblica, porque vem sendo mantida no mbito familiar dos domiclios ou nas
instituies asilares, impedindo qualquer visibilidade e, conseqentemente,
qualquer poltica de proteo social."
Este , sem dvida alguma, mais um novo desafio para o setor de Sade
Pblica em nosso pas, desafio que se coloca de forma pungente para os
profissionais de sade do Brasil.
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VIOLNCIA CONTRA PESSOAS IDOSAS:UMA REALIDADE OCULTA
Nelson Garca Araneda4
Vivemos em um mundo onde impera a violncia, produto de uma crise
geral, poltica, social e econmica que afeta todos os setores da vida social.
Neste contexto est includo um grande nmero de seres humanos pertencen-
tes s camadas mais vulnerveis da populao: crianas, jovens, pessoas
portadoras de deficincia, mulheres e pessoas idosas. Estes grupos so os que
mais sofrem a violncia social em suas mltiplas facetas.
Durante os ltimos anos tm aumentado consideravelmente o grau desensibilidade social pelo fenmeno da violncia e o maltrato. No princpio, a
ateno foi focada na violncia criana, depois na violncia domstica e
recentemente tem despertado interesse o maltrato e negligncia de que so
vitimas as pessoas idosas.
Este no um fenmeno recente. importante que da comunidade cientifica
aos profissionais da sade haja cada vez mais ateno ao problema, envolven-
do tambm os prprios idosos na conscientizao do problema.Entretanto, para a maioria das pessoas h uma dificuldade de compreender
a ocorrncia do problema, porque consideram que somente nas instituies
que os idosos sofrem violncia e lhes parece improvvel que as mesmas
possam ser maltratadas em suas prprias casas.
A violncia contra pessoas idosas uma violao aos direitos humanos e
uma das causas mais importantes de leses, doenas, perda de produtivida-
de, isolamento e desesperana.Os direitos, concomitantes com os deveres pessoais e sociais que temos,
no so distintos nos ciclos de nossas vidas. A nfase na proteo aos DIREI-
TOS HUMANOS das pessoas idosas deve superar as desvantagens existentes
e evitar que perpetuem as discriminaes e as situaes de inferioridade dadas
socialmente e culturalmente aos idosos.
A violncia que os idosos sofrem em todo o mundo se caracteriza por ser
4Assistente Social. Mestre em Cincias Sociais. Professor da Univesidad del Bio-Bio no Chile onde coordenao Programa de Polticas Pblicas para pessoas idosas.
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generalizada, habitualmente no se denuncia e tem custos econmicos e hu-
manos muito difceis de serem pagos pelos governos.
Os custos da violncia contra pessoas idosas ainda que no estejam sufi-
cientemente documentados tm implicaes diretas e indiretos. Os custos di-
retos podem estar associados preveno e interveno, assim como a pres-tao de servios, processos jurdicos, assistncia institucional e programas de
preveno, educao e interveno. Os custos indiretos referem-se a menor
produtividade, baixa qualidade de vida, dor e sofrimento emocional, a perda de
confiana e autoestima, as incapacidades e a morte prematura.
Para a abordagem e reduo dos abusos e violncias contra as pessoas
idosas, necessrio um atuao multisetorial e multidisciplinar e que participe
os profissionais da justia e dos direitos humanos, segurana pblica, profissi-onais da sade, da assistncia, instituies religiosas, organizaes e associ-
aes de idosos, poder legislativos e tantos outros atores e protagonistas
sociais.
A dificuldade para definir e reconhecer a violncia contra a pessoa idosa
no deve ser obstculo para continuar investigando e intervindo.O conheci-
mento das manifestaes dos diferentes tipos de violncia crucial para a
interveno. A avaliao deve ser completa e realizada por um ou vrios mem-bros da equipe multidisciplinar que, entre outras habilidades, deve estar prepa-
rados para entrevista e a avaliao.
Existem muitas razes para que as pessoas sofram violncia, entre a mais
freqentes, est a deteriorizao e fragilizao das relaes familiares. Outras
causas esto associadas ao estresse do cuidador, ao isolamento social e
tambm no desequilbrio de poder entre a vitima e o agressor. A ateno a uma
pessoa enferma e dependente um peso para qualquer pessoa. Quando oscuidadores tm um escasso apoio da comunidade podem sofrer um estresse
e apresentar comportamentos que levem ao abuso e violncia.
Diante da violncia contra a pessoa idosa, a sociedade como um todo,
dever prestar mais ateno a pessoa idosa, elaborando alternativas com o fim
de erradicar as causas das diversas violncias que este contingente populacional
sofre. Tenhamos em mente que todas as melhorias investidas nos idosos de
hoje com certeza uma melhora para todos ns que mais tarde deveremoschegar a esta etapa da vida.
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VIOLNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA: VAMOSROMPER O PACTO DO SILNCIO
Meu Mundo... Seu Mundo... Nosso Mundo -
Sem violncia pessoa idosa.
A violncia contra a pessoa idosa um fenmeno universal e representa
um importante problema de sade pblica e cujo interesse tornou-se evidenteapenas nas ltimas dcadas. Nenhuma sociedade, por mais ou menos desen-
volvida que seja, est imune a ocorrncia da violncia e maus-tratos as pesso-
as mais velhas. Infelizmente, os inmeros abusos cometidos so sub-notifica-
dos, no revelando a magnitude desse fenmeno. Simone de Beauvoir no
clssico livro A Velhice afirma que h uma "conspirao do silncio" contra a
velhice, manifestada por alguns grupos sociais que perpetuam uma imagem de
velhice como fase temida e apavorante da vida. A violncia contra a pessoaidosa parte dessa conspirao.
Os diversos abusos e o maltratos as pessoas idosas representam um grave
problema. Infelizmente um fenmeno pouco reconhecido e denunciado. So
graves as suas conseqncias, principalmente aquela que leva a um no
reconhecimento do abuso. A sociedade e muitos dos idosos consideram que as
condutas so normais da idade. H resistncia e dificuldade nos idosos, nos
profissionais e na sociedade em falar sobre o tema e conseqentemente a suanegao. preciso romper com este silncio.
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A violncia contra a pessoa idosa uma violao dos direitos humanos e
uma causa importante de leses, doenas, isolamento e falta de esperana.
Enfrentar a violncia a pessoa idosa requer um enfoque multidisciplinar.
O 5INPEA, instituio de reconhecida relevncia internacional na defesa
dos direitos da pessoa idosa, em parceria com a Organizao das NaesUnidas declarou o dia 15 de Junho como o Dia Mundial de Conscientizao
da Violncia Pessoa Idosa com o principal objetivo de sensibilizar a socieda-
de civil para lutar contra as diversas formas de violncia pessoa idosa. O ano
de 2006 foi a primeira vez que esse dia foi celebrado no mundo e o slogan
escolhido foi "Violncia contra a pessoa idosa: vamos romper o pacto do siln-
cio". Foi um desafio lanado cujo contedo extremamente atual e cuja reper-
cusso no mundo foi eficiente e oportuno. O tema do ano de 2007 foi "Vamos
em frente" entendendo que o pacto do silncio ainda no foi rompido e que
existe muita coisa para ser feita na defesa dos direitos das pessoas idosas.
preciso romper o vu do silncio que cobre o assunto. A violncia
pessoa idosa ocorre na sua grande maioria no contexto familiar, praticada por
um membro da famlia da pessoa idosa. Muitas vezes, em defesa do agressor
(filho, filha, neto, neta...) o idoso se cala, omite e muitas vezes, somente a morte
cessar a cadeia dos abusos e maus tratos sofridos. muito difcil penetrar naintimidade da famlia. Se para mulheres em situao de violncia, em muitas
situaes, difcil denunciar o marido agressor, para as pessoas idosas a
dificuldade acentua-se muito mais em denunciar ou declarar que seus filhos
so os agressores. Muitas pessoas idosas se culpabilizam pela violncia sofri-
da ou ento ou acham que normal da idade sofrer a violncia.
Este Caderno Temtico do Idoso uma ferramenta para os profissionais de
sade intervirem na violncia contra a pessoa idosa. Os servios de sade solocais privilegiados de interveno nas mais variadas manifestaes da violn-
cia. O Caderno pretende colaborar para a melhor qualificao dos nossos
5The Internation Network for the Prevention Elder Abuse (Rede Internacional de Preveno de Maus-Tratos a
Idosos) foi fundado em 1997 e se dedica disseminao global de informaes como parte do seu compromissocom a preveno de violncia a idosos em todo o mundo. Reconhecendo as diferenas culturais, educacionaise de estilo de vida das diferentes populaes no mundo, o INPEA busca capacitar a sociedade, por meio dacolaborao internacional, a reconhecer e responder aos maus-tratos a idosos em qualquer situao queocorram, para que os ltimos anos de vida das pessoas sejam livres de maus-tratos, negligncia e explorao.Maiores informaes no site www.inpea.net
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profissionais, habilitando-os para uma prtica fundamentada no respeito e na
dignidade humana.
Todas as formas de violncia precisam ser enfrentadas. Minayo considera
que o maior antdoto contra a violncia a ampliao da incluso na cidadania.
Como prev o Estatuto do Idoso, todas as formas de aumentar o respeito, todasas polticas pblicas voltadas para sua proteo, cuidado e qualidade de vida
precisam considerar a participao dos idosos, grupo social que desponta
como ator fundamental na trama das organizaes social do sculo XXI.
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PRINCPIOS ORIENTADORES
O tema da violncia contra a pessoa idosa comporta uma complexidade
muito grande, a comear pelo recente reconhecimento do fenmeno pela so-
ciedade. Para facilitar a compreenso dos diversos fatores que envolvem a
violncia contra a pessoa idosa, chamamos a ateno para os seguintes prin-
cpios orientadores:
Toda pessoa idosa, at que se prove o contrrio, competente para tomar
decises sobre sua vida. preciso respeitar o princpio da autonomia, con-
dio inerente ao ser humano e que deve percorrer a existncia. Envelheci-
mento no sinnimo da perda de autonomia. Entretanto, sabemos que apresena da violncia pode promover o medo e inibir a capacidade de
deciso da pessoa idosa. Deve-se garantir a deciso da pessoa idosa nas
intervenes.
Em alguns casos, a avaliao profissional, a partir da situao apresentada,
poder nos levar a concluso de que existe a violncia contra a pessoa
idosa, mas a prpria pessoa idosa, no tem a percepo de que ela esteja
acontecendo. Essas situaes exigem do profissional maior cuidado e pru-dncia.
Preveno deve ser a palavra chave. A melhor forma de prevenir oferecer
recursos eficientes e adequados para as pessoas idosas, famlias, institui-
es e profissionais que superem a precariedade e a falta de sensibilidade.
preciso investir numa cultura que oferea atitudes positivas na sociedade
sobre a velhice e envelhecimento. Diversos estudos apontam que a violncia contra a pessoa idosa em muitas
vezes passa despercebida por profissionais. Para a deteco da violncia
indispensvel a prontido e ateno para identificar os sinais de alerta.
Quando houver a suspeita da ocorrncia de violncia a pessoa idosa, lem-
brar que a suspeita, por si s no a prova da existncia da violncia. No
podemos dar aos indcios identificados a natureza de prova. preciso inves-
tigar para se chegar confirmao da violncia.
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O diagnstico e interveno na violncia a pessoa idosa requer a participa-
o de diversas categorias profissionais, bem como diversos servios e
instituies. Torna-se imprescindvel o estabelecimento de critrios ticos
inte-rprofissional e inter-institucional para evitar que se provoque incmodos
ou danos a pessoa idosa que j est passando por situaes difceis econstrangedoras.
Para a abordagem da violncia pessoa idosa deve-se partir de uma tica
baseada no respeito e na considerao ao ser humano. A atuao profissio-
nal exige compromisso e responsabilidade para analisar os princpios morais
envolvidos e tambm nas conseqncias das decises tomadas.
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DEFININDO VIOLNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA
So muitos os termos utilizados para definir o que a violncia contra a
pessoa idosa. So exemplos: maus-tratos, abuso, negligncia, omisso, aban-
dono etc. Cada um destes termos possui significados distintos, dependendo da
situao onde utilizado e existem diferentes percepes sociais, culturais e
tnicas sobre o que eles podem definir.
Neste Caderno, usaremos a expresso Violncia contra a Pessoa Idosa
(VCPI) e optamos em utilizar a definio da International Network for the
Prevention of Elder Abuse (INPEA) e adotada pela Organizao Mundial de
Sade:
A violncia contra a pessoa idosa se define como qualquer
ato, nico ou repetitivo, ou omisso, que ocorra em qualquer
relao supostamente de confiana, que cause dano ou inc-
modo pessoa idosa.
Podemos observar no conceito que existem trs fatores determinantes:
1. Um vnculo significativo e pessoal que gera expectativa e confiana;2. O resulto de uma ao: dano ou o risco significativo de dano;
3. A intencionalidade ou no intencionalidade.
Para melhorar a compreenso do conceito, Minayo amplia a definio da
OMS e assim define a violncia a pessoa idosa:
A violncia pessoa idosa pode ser definida como aes ou
omisses cometidas uma vez ou muitas vezes, prejudicandoa integridade fsica e emocional das pessoas desse grupo
etrio e impedindo o desempenho de seu papel social. A vio-
lncia acontece como uma quebra de expectativa positiva
dos idosos em relao s pessoas e instituies que os cer-
cam (filhos, cnjuge, parentes, cuidadores e sociedade em
geral).
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TIPOLOGIA DA VIOLNCIA
Na cartilha produzida pela Secretaria Especial de Direitos Humanos "Vio-
lncia contra Idosos o Avesso de Respeito Experincia e Sabedoria"
escrita pela professora Maria Ceclia Minayo so definidas as tipologia das
diversas formas de violncia contra a pessoa idosa. So elas:
Violncia Fsica: o uso da fora fsica para compelir os idosos a fazerem
o que no desejam, para feri-los, provocar dor, incapacidade ou morte.
Violncia Psicolgica: corresponde a agresses verbais ou gestuais com
o objetivo de aterrorizar, humilhar, restringir a liberdade ou isolar do convvio
social.
Violncia Sexual: refere-se ao ato ou jogo sexual de carter homo ou
hetero-relacional, utilizando pessoas idosas. Esses abusos visam a obter
excitao, relao sexual ou prticas erticas por meio de aliciamento, vio-
lncia fsica ou ameaas.
Abandono: uma de violncia que se manifesta pela ausncia ou desero
dos responsveis governamentais, institucionais ou familiares de prestaremsocorro a uma pessoa idosa que necessite de proteo e assistncia.
Negligncia: refere-se recusa ou omisso de cuidados devidos e neces-
srios aos idosos por parte dos responsveis familiares ou institucionais. A
negligncia uma das formas de violncia mais presente no pas Ela se
manifesta, freqentemente, associada a outros abusos que geram leses e
traumas fsicos, emocionais e sociais, em particular, para as que se encon-
tram em situao de mltipla dependncia ou incapacidade.
Violncia Financeira ou econmica: consiste na explorao imprpria ou
ilegal ou ao uso no consentido pela pessoa idosa de seus recursos finan-
ceiros e patrimoniais.
Auto-negligncia: diz respeito conduta da pessoa idosa que ameaa sua
prpria a sade ou segurana, pela recusa de prover cuidados necessrios
a si mesma.
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Violncia Medicamentosa: administrao por familiares, cuidadores e
profissionais dos medicamentos prescritos, de forma indevida, aumentando,
diminuindo ou excluindo os medicamentos.
Violncia Emocional e Social: refere-se a agresso verbal crnica, incluin-do palavras depreciativas que possam desrespeitar a identidade, dignidade
e autoestima. Caracteriza-se pela falta de respeito intimidade; falta de
respeito aos desejos, negao do acesso a amizades, desateno a neces-
sidades sociais e de sade.
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COMO PREVENIR A VIOLNCIA CONTRAA PESSOA IDOSA?
A preveno tem como principal objetivo evitar as diversas manifestaes
da violncia contra a pessoa idosa, detectando situaes e fatores de risco e
a efetiva interveno nas suas conseqncias.
Para prevenir preciso ferramentas que subsidiem a prtica assistencial
cotidiana em busca da melhoria integral da qualidade de vida das pessoas
idosas, incluindo a valorizao dos riscos e sobretudo a interveno dos pro-
fissionais, preferencialmente quando feita por uma equipe interdisciplinar.
Situaes e Fatores de Risco
Entre as diversas circunstncias que podem favorecer a VCPI podemos
destacar:
A dependncia em todas as suas formas (fsica, mental, afetiva,
socioeconmica);
Desestruturao das relaes familiares;
Existncia de antecedentes de violncia familiar;
Isolamento social;
Psicopatologia ou uso de dependncias qumicas (drogas e lcool);
Relao desigual de poder entre a vtima e o agressor.
Alm das situaes anteriores, podemos destacar ainda:
Comportamento difcil da pessoa idosa;
Alterao de sono ou incontinncia fecal ou urinria que podem causar um
estresse muito grande no cuidador.
A enumerao de uma srie de caractersticas pode nos ajudar a ter uma
idia do perfil das pessoas idosas e dos cuidadores com maior risco de situa-
es de violncia, tendo-se o cuidado de que eles no sejam fatores de acu-
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saes. Precisamos usar com muita cautela e cuidado. O propsito para
servir de alerta sobre a necessidade de prestar um apoio aos profissionais que
lidam com a questo e no promover uma "caa s bruxas".
SITUAES DE RISCO
Associadas a vtima
Dependncia fsica sem condies
de desenvolver suas AVDs
Dependncia psquica: alterao
das funes cognitivas
Dependncia emocional:
associada a transtornos
emocionais
Isolamento social
Associadas ao agressor
Estresse e isolamento social do
cuidador
Problemas econmicos ou
dependncia econmica da vitima
Abuso de dorgas
Diferentes tipos de transtorno mental
nico cuidador
Associadas a questes estruturais Pobreza absoluta
Discriminao etria
Esteretipos da velhice
Relaes intergeracionais
desrespeitosas
Descumprimento das leis que
protegem os idosos
Violncia Institucional Profissionais sem formao
profissional
Baixos salrios
Sobrecarga de trabalho ou nmero
insuficiente de profissionais
Escassez de recursos materiais
Normas de funcionamento
inadequadas
Falta de controle e fiscalizao
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PERFIL DA VITIMA E DO AGRESSOR
Os diferentes estudos realizados apontam que na violncia intrafamiliar, o
perfil da vtima e do agressor so os seguintes:
Perfil da Vtima:
Mulher, viva, maior de 75 anos;
Vive com a famlia;
Renda de at dois salrios mnimos;
Idoso frgil ou em situao de fragilidade;
Depende do cuidador para suas atividades de vida diria;
Presena de vulnerabilidade emocional e psicolgica.
Perfil do Agressor:
Filho, filha ou cnjuge da vtima; Consome lcool ou droga;
Transtorno mental;
Apresenta conflito relacional com a pessoa idosa.
Minayo lembra citando Chaves e Costa que:
Dentre todos os fatores de vulnerabilidade dos idosos violncia familiar,
a grande maioria dos estudiosos ressalta a forte associao entre maus tratos
e dependncia qumica. Segundo Anetzberger et al (2004), 50% dos abusadores
entrevistados por seu grupo tinham problemas com bebidas alcolicas. Esses
autores e Chavez (2002) assinalam que os agressores fsicos e emocionais
dos idosos usam lcool e drogas numa proporo trs vezes mais elevada que
os no abusadores. Isso foi tambm assinalado no estudo de Chaves e Costa
(2003).
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AVALIAO NA PRTICA ASSISTENCIAL
Os profissionais de sade em muitas situaes so as nicas pessoas que
tm contato com as pessoas idosas e muitos deles so os nicos que so
autorizados a entrar nas casas e domiclios dos idosos (equipe de Sade da
Famlia). A responsabilidade destes profissionais aumenta muito na preveno
nas diversas situaes de violncia.
A preveno de possveis situaes de violncia contra a pessoa idosa nas
equipes de sade deve partir de uma avaliao global, considerando e detec-
tando os fatores de risco e elaborando estratgias eficientes e respeitosas de
interveno.
Avaliando uma vtima em potencial
Incluir na anaminese uma avaliao focada em possveis situaes de
risco. Isto no requer um aumento substancial de tempo. preciso classificar
e ordenar os possveis fatores de riscos fsicos, psicolgicos, sociais e econ-
micos.
Avaliao Fsica
Grau de dependncia: necessita de ajudar para realizar a maioria das suas
atividades de vida diria (vestir, tomar banho, alimentao etc)?
Idade: tem mais de 75 anos? Quanto mais idade, maior o risco de dependn-
cia.
Sono: Altera o sono do resto da famlia? Levanta-se diversas vezes noite?
Dor: Tem alguma dor crnica que no est sendo tratada de forma adequa-
da?
Higiene pessoal: Apresenta-se em condies satisfatrias de higiene? Tem
forte odor? Suas roupas esto limpas ou muito velhas?
Alimentao: come bem? Perde peso freqentemente?
Quedas: a casa est preparada para evitar quedas?
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Avaliao Psicolgica
Solido: passa muitas horas sozinho? Tem horrios diferentes dos demais
membros da famlia para alimentar, dormir ou realizar a higiene pessoal?
Comunicao: incapaz de comunicar suas emoes, desejos, sentimen-
tos? Mostra-se inibido? Quando lhe feita uma pergunta, olha para o cuidador
antes de responder, para observar a reao dele, como se tivesse "pedindo
autorizao" para poder responder?
Estado de nimo: Parece assustado, desconfiado, tmido, como medo? Chora
com facilidade, muda de humor de forma inexplicvel?
Intimidade: a sua intimidade respeitada?
Autopercepo: diz que se sente maltratada? Expressa desgosto quando se
refere a convivncia com a famlia?
Avaliao Financeira
Autonomia: Necessita de ajuda para fazer uma compra ou vender seu
patrimnio, controlar sua conta bancria ou carto de segurado? Administraseus recursos financeiros com total liberdade ou delega a uma outra pessoa
para administrar este assunto?
Condies de moradia: reside com algum membro da famlia sem ajudar
economicamente?
Escassez de recursos: reclama que est sempre sem dinheiro?
Avaliao do possvel agressor
Tempo do cuidado: O cuidador est na funo h mais de dois anos?
Capacitao: a pessoa que cuida est capacitada para faz-lo? Tem os
conhecimento, habilidades e atitudes precisas para a realizao da tarefa?
Diviso da tarefa: o principal ou o nico cuidador? H revezamento na
tarefa?
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Alterao da rotina de vida: foi necessrio renunciar um trabalho, frias,
estudo para ser o cuidador da pessoa idosa? Tem dificuldades de encontrar
tempo para si mesmo? Est isolado, sem relacionamento social, absorvido
pela responsabilidade de cuidar?
Alterao fsica e psicolgica: apresenta sintomas de cansao no exerccio
da tarefa? Tem sentimentos de desespero, de impotncia, chora ou se irrita
com facilidade quando fala do trabalho que realiza como cuidador? Tem
problemas de sade e sente que no pode cuidar de si porque est cuidando
da pessoa idosa?Sofre dores crnicas que no tm explicao orgnica?
Impacto econmico: realiza de forma gratuita a funo? Tem dificuldades
econmicas?
Relacionamento com a pessoa idosa: no se comunica com a pessoa idosa?
Recebe da pessoa idosa sinais de agradecimento pelo trabalho que o cuidador
presta?
Relao com os servios pblicos: permite que sejam realizadas visitas
domiciliares? Dificulta a interveno dos profissionais?
Sade mental: tem problemas com o uso de substancias qumicas? Temantecedentes de problemas relacionados com sade mental? Est passan-
do por algum problema de ordem pessoal de extrema importncia?
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ATUAO PREVENTIVA
Recomendaes aos profissionais:
Avaliar periodicamente o nvel de independncia nas suas atividades de vida
diria. Lembra sempre que quanto maior a dependncia, maior ser o risco
da ocorrncia de violncia;
Estimular a preservao da independncia e autonomia para decidir as
questes que envolvem a vida dos idosos;
Incentivar que os idosos participem de atividades sociais, de lazer e re-creao;
Promover atividades para a informao e preveno da violncia.
Recomendaes s pessoas idosas
Evitar o isolamento social por meio das seguintes aes: Manter em contato com velhos amigos;
Ter um bom amigo com quem possa falar abertamente dos seus proble-
mas;
Ter amigos que possam lhe visitar em casa;
Aceitar as oportunidades que aparecem para coisas novas, inclusive a
novas amizades;
Participar de atividades sociais da comunidade (grupos de idosos, centros
de convivncia etc);
Participar dos servios voluntrios;
Realizar suas necessidades pessoais;
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Ter controle dos seus pertences;
Abrir e enviar sua prpria correspondncia;
Ter o controle do seu carto bancrio, no fornecendo a senha para estra-
nhos ou terceiros;
Procurar ajuda legal quando necessitar;
Ter algum a quem recorrer quando se sentir maltratado.
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COMO DETECTAR A VIOLNCIA CONTRAA PESSOA IDOSA
Dificuldades para a Deteco
No fcil detectar a VCPI e por muitas vezes, o fenmeno permanece
velado e escondido pelos protagonistas. Entretanto, detectar a violncia uma
necessidade e uma responsabilidade do profissional de sade.
Os profissionais devem estar conscientes de que enfrentaro alguns obs-
tculos e barreiras que podero dificultar ou interferir. preciso reconhecer e
superar as dificuldades. Elas podem vir das prprias pessoas idosas, das
famlias, dos cuidadores, dos prprios profissionais e ate mesmo da sociedadeque no enxerga a violncia contra a pessoa idosa.
1. Dificuldades advindas da pessoa idosa
O no reconhecimento da existncia da violncia contra a pessoa idosa. A
negao uma das dificuldades mais comuns e frustrantes para a deteco e
informao da violncia contra a pessoa idosa. A vtima mostra-se reticente a
admitir que est sofrendo o maltrato e da situao vivenciada.As principais dificuldades que as pessoas idosas manifestam so as se-
guintes:
Medo da vtima de possveis represlias. Por exemplo: o aumento da violn-
cia, a institucionalizao, a perda da liberdade, etc.
Medo que ao revelar a existncia da violncia, o agressor (geralmente mem-
bro da famlia da vtima) torne-se mais violento e ponha em risco a sua vida.
Sentimento de culpa. A pessoa idosa pode pensar que sua a culpa por
estar sofrendo os maus tratos, pois no foi um bom pai ou uma boa me e
agora est colhendo os resultados.
Vergonha. A vtima pode sentir vergonha por no ter conseguido controlar ou
superar a situao em que se encontra. O fato dela romper a cadeia de
violncia poder abalar a reputao da famlia.
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Chantagem emocional por parte do agressor.
Pensar que se relatar o fato ningum acreditar na sua palavra.
Dficit cognitivo. A vtima no capaz de informar a situao que se encon-
tra pelo fato de sofrer de problemas de memria, comunicao e outrosdistrbios.
Acreditar que buscar ajuda o reconhecimento do fracasso.
Isolamento social. A pessoa idosa que vive no isolamento social tem menos
oportunidade de pedir ajuda.
Dependncia exclusiva do cuidador para prover suas necessidades de vida
diria.
Acreditar que ser maltratada faz parte do processo do envelhecimento: "isso
normal da idade".
2. Dificuldades advindas do agressor
As principais dificuldades so:
Negao. O agressor tem o mesmo sentimento da vtima: nega a ocorrncia
da violncia.
Isolamento. O agressor pode tentar impedir que a vtima tenha acesso ao
sistema de sade e servios sociais para evitar que os profissionais detec-
tem a violncia.
Medo do fracasso. Da mesma forma que a vtima, o agressor pode pensar
que ao admitir a existncia da violncia e a busca de ajuda, estar atestando
que as coisas no esto indo como deveria, e portanto, h o fracasso.
3. Dificuldades advindas dos profissionais
Assim como a vtima e o agressor, os profissionais tambm tm dificulda-
des. Relatamos algumas delas:
Falta de informao adequada para identificar corretamente os sinais, os
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indicadores e os procedimentos adequados para a interveno na violncia
contra a pessoa idosa.
Ausncia de protocolos para a deteco, avaliao e interveno nas situa-
es de VCPI. Ausncia de meios adequados para diagnosticar de forma diferencial a vio-
lncia quando se apresentar leses e traumatismos ou quando do apareci-
mento de desidratao, desnutrio, hipotermia ou quedas.
Acreditar no mito de que a famlia sempre proporciona apoio e amor aos
idosos. A existncia deste mito impede que os profissionais considerem
possveis situaes abusivas.
Medo de que a pessoa responsvel pelo idoso tome represlias contra a
pessoa idosa.
No querer envolver-se com questes legais.
Inexistncia ou desconhecimento de recursos disponveis.
Sentir-se impotente mediante as situaes de violncia.
No dispor de tempo necessrio para a realizao de uma avaliao minu-ciosa da situao.
Manter determinadas atitudes, tais como:
Ambivalncia: pensar, por exemplo: "roupa suja se lava em casa";
Tendncia a culpar a pessoa idosa pelo que est passando: "ela deve
estar pagando o que fez na vida" ou " no fcil cuidar de pessoa idosa";
Acreditar que se a vtima quisesse, ela poderia ter sado da situao
sozinha.
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INDICADORES DE VIOLNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA
H mltiplas situaes, condutas, sintomas e sinais que podem levar a
suspeitas da existncia de violncia. A prpria queixa por parte da pessoa
idosa um dos indicadores mais sensvel e especifico, comum a todos os tipos
de violncias.
Mas, um indicador de suspeita no pode converter-se num definidor de
violncia. A suspeita no confirma por si s a existncia da violncia. Ela se
caracteriza como um aviso e recomendando ir em busca de mais informao
para a definio do diagnstico.
Damos a seguir os principais indicadores existentes.
O que observar?
Determinados comportamentos ou condutas de uma pessoa idosa ou de
seus cuidadores podem indicar a possibilidade de que esteja vivenciando uma
situao de violncia.
Na pessoa idosa
Parece ter medo de um familiar ou de um cuidador profissional
No querer responder quando se pergunta, ou olha para o cuidador antes
de responder
Se comportamento muda quando o cuidador entra ou sai do espao fsico
onde se encontra
Manifesta sentimento de solido, diz que precisa de amigos, famlia, di-
nheiro, etc
Expressa frases que indicam baixo autoestima: "no sirvo pra nada", "s
estou incomodando"
Se refere ao cuidador como uma pessoa com "gnio forte" ou que est
freqentemente "cansada"
Mostra exagerado respeito ao cuidador
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No cuidador, possvel agressor
Sofre um importante nvel de estresse ou sobrecarga nos cuidados com
a pessoa idosa
Dificulta ou evita que o profissional e a pessoa idosa conversem emparticular
Insiste em contestar as perguntas dirigidas a pessoa idosa
Pe obstculos para que se proporcione no domicilio a assistncia neces-
sria a pessoa idosa
No est satisfeito com o fato de ter de cuidar da pessoa idosa
Mostra descontrole emocional, fica sempre na defensiva
Mostra-se excessivamente "controlador" nas atividades que a pessoa ido-
sa realiza na vida cotidiana.
Tenta convencer aos profissionais de que a pessoa idosa "louca" ou
"demenciada"
Culpabiliza o idoso por tudo que acontece, inclusive nas suas condiesde sade.
Na interao da pessoa idosa e o cuidador
Observar as histrias divergentes, contraditrias ou estranhas acerca de
como um determinado fato ocorreu
Observar se h relao conflitiva entre o cuidador e a pessoa idosa, com
freqentes discusses, insultos, etc Se houve conflitos ou crises familiares recentes
O cuidador mostra-se hostil, cansado ou impaciente durante a entrevista
e a pessoa idosa est demasiadamente agitada ou indiferente na sua
presena
A relao entre os dois de indiferena mtua.
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44 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa
O quadro abaixo consta no Relatrio Mundial sobre Violncia e Sade,
elaborado pela Organizao Mundial de Sade e pode auxiliar os profissionais
a estarem atentos aos indicadores de violncia relativos a pessoa idosa:
Tabela 5.1
INDICADORES RELATIVOS AOS IDOSOS INDICADORESRELATIVOS SPESSOAS QUECUIDAM DOS
IDOSOS
COMPORTAMENTAISE EMOCIONAIS
FSICOS SEXUAIS FINANCEIROS
Retiradas de dinheirosque so incomuns ouatpicas do idoso.
Retiradas de dinheiro
que no esto de acor-do com os meios do ido-so.
Mudana de testamentoou de ttulos de proprie-dade para deixar a casaou bens para "novosamigos ou parentes".
Bens que faltam.
O idoso "no consegueencontrar" as jias oupertences pessoais.
Atividade suspeita emconta de carto de cr-dito.
Falta de conforto quan-do o idoso poderia ar-car com ele.
Problemas mdicos ou
de sade mental queno so tratados.
Nvel de assistncia in-compatvel com a rendae os bens do idoso.
A pessoa que cuida doidoso aparece cansadaou estressada.
A pessoa que cuida do
idoso parece excessiva-mente preocupada oudespreocupada.
A pessoa que cuida doidoso censura o idosopor atos tais como in-continncia.
A pessoa que cuida doidoso se comportaagressivamente.
A pessoa que cuida doidoso o trata como umacriana ou de modo de-sumano.
A pessoa que cuida doidoso tem uma histriade abuso de substnciasou de abusar de outros.
A pessoa que cuida doidoso no quer que oidoso seja entrevistadosozinho.
A pessoa que cuida doidoso responde de mododefensivo quando ques-tionada; ela pode serhostil ou evasiva.
A pessoa que cuida doidoso tem estado cuidan-do dele por um longo
perodo de tempo.
Queixas de ter sido se-xualmente agredido.
Comportamento sexualque no combina com os
relacionamentos comunsdo idoso e com a perso-nalidade antiga.
Mudanas de comporta-mento inexplicveis, taiscomo agresso, retrai-mento ou auto-mutila-o.
Queixas freqentes dedores abdominais;
sangramento vaginal ouanal inexplicvel.
Infeces genitais recor-rentes ou ferimentos emvolta dos seios ou da re-gio genital.
Roupas de baixo rasga-das com ndoas ou man-chadas de sangue.
Mudanas no padro daalimentao ou proble-mas de sono.
Medo, confuso ou apa-
tia.
Passividade, retraimen-to ou depresso crescen-te.
Desamparo, desespe-rana ou ansiedade.
Declaraes contradit-rias ou outrasambivalncias que noresultam de confusomental.
Relutncia para falarabertamente.
Fuga de contato fsico,de olhar ou verbal coma pessoa que cuida doidoso.
O idoso isolado pelosoutros.
Queixas de ter sido fisi-camente agredido.
Quedas e lesesinexplicveis.
Queimaduras e hemato-mas em lugaresincomuns ou de tipoincomum.
Cortes, marcas de dedosou outras evidncias dedominao fsica.
Prescries excessiva-mente repetidas ousubutilizao de medica-o.
Desnutrio ou desidra-tao sem causa relaci-onada a doena.
Evidncia de cuidadosinadequados ou padresprecrios de higiene.
A pessoa procura assis-tncia mdica de mdi-
cos ou centros mdicosvariados.
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Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 45
SUGESTES PARA FACILITAR A COMUNICAOCOM A PESSOA IDOSA VTIMA DE VIOLNCIA
A suspeita da presena de indicadores da existncia de VCPI deve levar o
profissional a estabelecer estratgias para romper as barreiras de comunica-
o. importante lembrar que o profissional dever oferecer um ambiente
seguro que possibilite a pessoa idosa expressar o que est passando. Apre-
sentamos algumas recomendaes.
Princpios chaves
Adaptar a linguagem ao nvel cultural da pessoa idosa, de forma que seja
claro e compreensvel, para que ela entenda a informao relevante quese pretende transmitir e para que eficiente a forma de comunicao.
Propiciar um ambiente relaxado. Observar para que o lugar da entrevista
oferea as condies mnimas de segurana.
No julgar as opinies, crenas ou pensamentos da pessoa idosa.
Estabelecer uma relao emptica (pr-se o lugar do outro). A pessoa
idosa se sentir mais compreendida, no sentir criticada e poder expres-
sar realmente o que a preocupa. Cabe ao profissional dar o primeiro passo
nesta relao.
Estratgias na entrevista
Manter uma postura que aproxime o profissional da pessoa idosa
Manter o contato visual Cuidar dos outros aspectos da comunicao no verbal como por exem-
plo a expresso facial, o tom de voz.
Mostrar ateno, dizendo por exemplo, "sim", "entendo",quando a pessoa
idosa estiver relatando o fato
Mostrar uma atitude tranqila, tanto quando estiver perguntando (utilizan-
do um tom de voz sereno, bem modulado, evitando parecer surpreso oucansado) ou ouvindo as respostas, independentemente do que ela relate.
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Repetir alguma idia expressada pela pessoa idosa, com as mesmas
palavras que ela utilizou ou com suas prprias palavras, para compreen-
der melhor e para que ela perceba o que est contando.
Realizar uma sntese final para confirmar se a informao est correta.Esta sntese tambm poder servir para captar a informao mais impor-
tante.
Formular perguntas que comecem com: "como que..." som mais produ-
tivas que aquelas que comeam com "por que" pois podem dar um tom
acusatrio e portanto, levar a pessoa se colocar numa situao defensiva.
Dicas de perguntas e comentrios durante a realizao da entrevista:
Assegurar a confidencialidade da informao:
"O que o senhor est comentando comigo confidencial. Garanto
que, se o senhor desejar, a informao ficar entre ns".
Utilizar perguntas abertas e gerais como por exemplo "o que mais o
preocupa...?" para possibilitar a abertura e confiana. importante
contextualiz-las:
"Vejo que o senhor no pode se levantar da cama e que passa a
maior parte do tempo sozinho, sem a presena da sua famlia. O
que mais o preocupa sobre este assunto?"
Associar o que o preocupa subjetivamente com o que se objetiva como
um possvel maltrato sob a tica profissional.
"Essa preocupao que o senhor me expressou - que cada vez
mais depende dos outros - me sugere o quo difcil para o
senhor depender das outras pessoas que no so da sua famlia,
principalmente nos cuidados com a sua higiene pessoal."
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Utilizar perguntas abertas e objetivas. Algumas mais gerais e outras mais
especificam. As perguntas devem propiciar um clima de escuta e confian-
a:
O que o senhor conversa com o seu filho quando ele no vaitrabalhar?
Interessa-me muito saber a sua opinio de como a senhor est
vivendo, suas dificuldades, suas facilidades.
Validar o direito que tem a seus sentimentos, especialmente aos seus
medos:
"Voc tem o direito de estar triste e desapontado com seu filho
quando este te trata mal..."
"Entendo que esteja preocupado por no poder administrar o seu
carto bancrio que est em poder do seu filho e tenha medo de
que precise comprar alguma coisa e no possa...".
Apresentar-se como algum que pretende ajudar e apoiar a pessoa idosa,
independente da categoria profissional, expressando a disponibilidade deapoio:
"O que voc me contou muito importante. Aqui estamos para
ajud-la. Se voc tem alguma outra coisa importante que a preo-
cupa, estamos a sua disposio para ouvir... "
No emitir juzo de valor sobre as pessoas e mostrar sensibilidade diante
das necessidades de todos os membros da famlia.
"De fato, estamos diante de uma situao difcil, para vocs e para
alguns dos membros da sua famlia..."
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48 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa
Se conseguirmos superar as barreiras da comunicao, ser mais fcil
continuar nas busca de informaes que nos permita confirmar a suspeita de
violncia, para posterior interveno.
TCNICAS DE ESCUTA
Aclarao Uma pergunta que pode
ser:
- Quer dizer que...
- Est dizendo que...
- Comprovar com preciso
o que estamos entenden-
do.
- Favorecer a elaborao
da mensagem por parteda pessoa idosa.
- Tornar mais claras as
mensagens vagas ou
confusas emitidas.
- Ajudar a possvel vtima
a centrar no contedo da
sua mensagem
- Extrair o contedo quan-
do dos sentimentos ain-
da prematuro.
Repetio do contedo da
mensagem (com outras
palavras).
Repetio
Reflexo Repetio da parte afetiva
da mensagem
- Incentivar a possvel viti-
ma a expressar e conhe-cer seus sentimentos
- Ajudar a ser mais cons-
ciente dos seus senti-
mentos
- Ajudar a definir seus sen-
timentos com mais preci-
so
TCNICA DEFINIO OBJETIVO
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TCNICA DEFINIO OBJETIVO
Sntese ou Resumo a sntese das mensa-
gens e reflexes feitas
pela possvel vitimam
- Identificar um tema co-
mum
- Interromper a ambigida-de
- Resumir o processo
Auto-revelao Informao que o pro-
fissional transmite a pos-
svel vtima sobre si mes-
ma.
- Reduzir a distncia emo-
cional entre o profissional
e possvel vtima
- Aumentar a confiana e
a empatia
Comunicao no verbal - Manter contato visual
- Tom de voz audvel e
suave
- Postura relaxada e aten-
ta
- Distncia adequada
- Expresses faciais con-
gruentes com a mensa-
gem do interlocutor
- Aumentar a confiana e
a empatia e favorecer, a
relao entre o profissio-
nal e possvel vtima.
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Que no devemos fazer?
Sugerir resposta s perguntas que so formuladas.
Pressionar a pessoa idosa que responda a perguntas que no quer respon-
der.
Julgar ou insinuar que a pessoa idosa pode ser a culpada pela situao.
Mostrar-se horrorizado diante do relato que ela faz da situao que se en-
contra.
Fazer promessas que no pode ser cumprida.
Criar expectativas que podem no ser reais, sobre a resoluo da situao.
Falando com o agressor
Que podemos fazer?
Tentar estabelecer uma relao de confiana, ainda que isso parea difcil.
Realizar entrevista em local reservado, dependendo da situao com ou sema presena de outro profissional.
Entrevistar aps ter entrevistado a pessoa idosa, para evitar que haja troca
de informaes sobre o que foi perguntado a pessoa idosa.
Se a pessoa mantiver-se numa atitude defensiva, repetir que a informao
ser de grande ajuda para a situao.
Que no devemos fazer?
Fazer perguntas que possam ser interpretadas como provocadoras ou acu-
sadoras para evitar que o agressor se ponha na defensiva.
Mostrar ira, horror ou desaprovao diante da situao em que se encontra
a pessoa idosa.
Culpabilizar ou fazer juzos de valor que podem fechar as portas para ainterveno.
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52 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa
O QUE PERGUNTAR
No h modelos fixos de perguntas ante a suspeita de violncia, mas
existem algumas recomendaes. Em primeiro lugar, recomenda-se formular
perguntas gerais, atravs das quais se poder obter informaes do bem-estargeral da pessoa idosa. Posteriormente, formular perguntas mais especificas
para a deteco dos diferentes tipos de violncias (fsica, psicolgica, financei-
ra, abandono etc).
O que perguntar a possvel vtima
Perguntas gerais
Vive sozinho?
Como esto as coisas em casa?
Gostaria de falar alguma coisa em especial?
Se sente seguro onde vive?
Descreva um dia normal em sua vida.
Perguntas especficas: explicar previamente que so perguntas
formuladas a pessoas que se encontram em situaes similares a
sua e portanto, torna-se necessrio formul-las para o auxilio das
providncias que sero dadas.
Violncia Fsica
Algum bateu ou agrediu o senhor?
Alguma vez o senhor ficou amarrado ou preso em sua casa?
Tem medo de algum em sua casa?
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Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 53
Violncia Psicolgica
Se sente s?
Alguma vez foi ameaado com castigos?
Alguma vez gritaram com o senhor de forma que se sentiu cons-
trangido ou mal consigo mesmo?
O que acontece quando algum familiar est em desacordo com a
forma que a senhora pensa sobre um determinado assunto?
A senhora tratada de forma pejorativa?
Violncia Sexual
Alguma vez algum tocou em seu corpo ou rgos genitais sem
o seu consentimento?
J foi forado a manter relaes sexuais sem o seu consentimento
Violncia Financeira
Quem administra os seus assuntos econmicos?
O seu dinheiro usado por outras pessoas sem a sua permisso?
O senhor j foi obrigado assinar alguma procurao ou outro do-
cumento?
O seu dinheiro j foi usado para fazer compras para outras pesso-as sem que houvesse a sua concordncia?
A pessoa que cuida do senhor depende do seu dinheiro para as
despesas pessoais?
A senhora j foi obrigada a fazer emprstimo consignado?
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Abandono/Negligncia
Alguma vez j negaram comida ou medicao que estava neces-
sitando?
O senhor tem passado necessidade de roupas, alimentao, me-
dicamentos?
Fica sozinho a maior parte do tempo?
Pode receber a visita de parentes e amigos?
Suas chamadas telefnicas so controladas?
Tem algum em sua casa que dependente de lcool ou droga?
O que perguntar ao possvel agressor
Poderia me descrever como um dia tpico em sua vida (para
avaliar o nvel de sobrecarga ou estresse no cuidado com a pes-
soa idosa).
Que tipo de ajuda e apoio tem de outros familiares e que ajudagostaria de receber?
Como est a sua sade, tanto fsica como mental?
Que faz quando se est cansado?
Que compromissos tem fora de casa?
Obs: se houver evidncia de violncia, fazer perguntas diretas comopor exemplo, "como foi que sua me adquiriu aquele hematomas?"
ou "voc acha que seu pai est desnutrido ou mal alimentado?"
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Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 55
INTERVENO PROFISSIONAL
Que fazer quando h suspeita de violncia contra a
pessoa idosa?
1. Como e o que avaliar antes de intervir?
Se h suspeita da pessoa idosa est sendo vtima de violncia ou sofrendo
negligncia e abandono, recomenda-se realizar uma avaliao pormenorizada
da situao da possvel vtima, preferencialmente realizada por uma equipe
multidisciplinar que inclua aspectos mdicos, psicolgicos, sociais e etc. Oprincipal objetivo da avaliao ser a busca de provas ou indicadores que
confirme ou no as nossas suspeitas.
A avaliao pode ser realizada em um s encontro ou de forma gradual
durante um determinado perodo, respeitando-se a situao e ainda as rela-
es familiares, o nvel de cooperao que a famlia demonstra. Em ltimo
caso, a avaliao dever sr realizada o mais rpido possvel, para intervir o
quanto antes.A avaliao deve incluir, alm da possvel vtima, o possvel agressor,
outros familiares, amigos, outros profissionais, com o objetivo de conhecer o
entorno e a dinmica familiar.
importante observar o comportamento e a comunicao verbal e no
verbal entre a possvel vtima e o possvel agressor, assim como a interao
entre ambos. possvel que este possa dificultar o contato dos profissionais
com a pessoa idosa, ou negar-se a sair do espao fsico onde ser realizadaa avaliao. Geralmente, a chave para o acesso a pessoa idosa a persistn-
cia que demonstra o profissional.
A avaliao deve incluir:
Realizao de exame fsico da pessoa idosa, com o objetivo de identificar
possveis leses ou sinais que requeiram interveno mdica. Deve-se se-
guir alguns princpios:
- Solicitar, previamente, a autorizao e consentimento da pessoa idosa
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- Realizar o exame, sempre que possvel, sem a presena do cuidador e
preferencialmente com outro profissional presente (mdico e enfermeira)
- Usar uma atitude sensvel
Usar tempo suficiente para a pessoa idosa sentir-se cmoO principal objetivo da interveno ser a garantia da segurana da pessoa
idosa, evitando que as situaes de violncia se mantenham ou se repitam.
PRNCIPIOS GERAIS DE INTERVENO
Vrios princpios importantes podem ser enumerados para uma interven-
o ativa e eficiente. Manter o equilbrio entre a proteo vtima e o respeito a sua autonomia.
Avaliar o risco de morte ou leso grave para a vtima e decidir se neces-
srio ou no uma interveno urgente.
Observar a intencionalidade ou no do agressor quando h suspeita da
violncia.
Lembrar que a ocorrncia de violncia reconhecidamente um fator de risco
para a ocorrncia de novos episdios.
Quando possvel, levar o agressor a entender que ele parte da situao
problema e que com a sua cooperao, a soluo pode ser mais fcil.
Registrar detalhadamente todos os dados da histria.
Realizar a interveno em conjunto com equipe interdisciplinar. A existncia
de uma equipe interdisciplinar no significa a anulao da responsabilidade
individual de atuao de cada profissional.
O plano de interveno deve contemplar as condies fsicas, emocional,
social e familiar da pessoa idosa .
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Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 57
ESTRATGIAS DE COMUNICAO PARA FACILITARA TOMADA DE DECISES
A seguir, alguns aspectos mais relevantes no momento da interveno,
aps ter sido confirmado a presena da violncia:
Respeitar a vtima e conquistar a sua confiana
imprescindvel o respeito vtima. O profissional deve informar desde o
incio da interveno o seu desejo de ajud-la na situao que est vivenciando.
O estabelecimento de uma relao de confiana uma condio primordial
para a interveno. Em muitas situaes a pessoa idosa pode sentir-seconstrangida com a situao que est passando e apresentar dificuldades em
relatar o que est lhe acontecendo. responsabilidade do profissional favore-
cer uma atmosfera de confiana para a pessoa idosa.
Assegurar a confidencialidade
O profissional deve assegurar a confidencialidade das informaes queesto sendo relatadas a ele, evitando que se ponha em situao de maior risco
a pessoa idosa em situao de violncia. Dentro do possvel, realizar a entre-
vista em lugar que favorea o sigilo.
Respeitar as decises da pessoa idosa
Se a pessoa idosa est em pleno exerccio das suas capacidades cognitivas,deve-se respeitar as suas decises,mesmo que no estejam de acordo com a
dos profissionais envolvidos.
Infelizmente, muitas pessoas idosas que esto sendo em situao de vio-
lncia, escolham continuar na situao, devido aos laos afetivos que ela tem
com o agressor.
Esta situao pode resultar em frustrao para os profissionais e um sen-
timento de impotncia. Apesar da escolha da pessoa idosa no ser a maisapropriada, cabe ao profissional continuar mostrando seu apoio, dando nfase
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que a pessoa idosa no precisa necessariamente continuar nesta situao e
proporcionar algumas alternativas para cessar a cadeia da reproduo da
violncia. Por exemplo:
"Quando o senhor (a) se sentir preparado para..., estarei dispostoa ajud-lo (a). Pode me procurar."
Confrontar a resistncia a interveno
A resistncia em aceitar a interveno pode acontecer com a vtima, com
o responsvel pela agresso ou em ambos.
A resistncia da pessoa idosa pode ocorrer porque ela tem medo e isso semanifesta com expectativas pessimistas da interveno. A forma de proceder
mais vivel ser na resposta de argumentos pessimistas.
Por exemplo, em lugar de dizer a pessoa idosa "Me parece que a senhora
no tem muita esperana de que pode melhorar a situao, mas possvel que
tenhamos uma soluo", prefervel dizer "Vamos por parte. Vamos admitir
que as coisas no vo melhorar num abrir e fechar de olhos e que pode ser que
no consigamos nada do seu filho no momento...".A pessoa idosa pode ter pensamentos do tipo "Se as pessoas descobrirem
que meu filho me maltrata, pensaro que eu fui uma m me e portanto,
mereo isso". A este pensamento, o profissional pode responder: "Conte-me
como a senhora chegou a esta idia. Culpar a ns mesmos uma reao
normal em situaes como a senhora est vivendo; agora o que precisamos
de ajud-la a acabar com esta situao."
Promover a expresso dos sentimentos da vtima
importante que antes de qualquer interveno, a pessoa idosa em situa-
o de violncia deve falar e manifestar os seus sentimentos. A expresso dos
sentimentos pode promover uma descarga da tenso vivida. Diante da mani-
festao dos sentimentos, evitar emitir juzo de valor sobre eles.
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VIOLNCIA INSTITUCIONAL
H prticas violentas exercidas por instituies pblicas e privadas, cujo
principal objetivo deveria ser a prestao de servios aos cidados que delas
necessitam e dependem, principalmente nas instituies de prestao de ser-
vios de sade, assistncia e previdncia. Segundo a Secretaria Especial de
Direitos Humanos, estas instituies so as campes de queixas e reclama-
es nas delegacias de proteo a pessoas idosas.
Segundo o Ministrio da Sade violncia institucional aquela exercida no
e pelos prprios servios pblicos, por ao ou omisso. Esta violncia pode
incluir desde a dimenso mais ampla da falta de acesso, m qualidade dos
servios. Ela abrange abusos cometidos em virtude das relaes de poder
desiguais entre usurios e profissionais dentro das instituies. Abaixo, alguns
exemplos de como a violncia institucional pode ser manifestada nos servios
de sade:
Peregrinao por diversos servios at receber atendimento;
Falta de escuta e tempo para a clientela;
Frieza, rispidez, falta de ateno, negligencia;
Maus tratos dos profissionais para com os usurios, motivados por discrimi-
nao, abrangendo questes de raa, idade, opo sexual, gnero, deficin-
cia fsica, doena mental;
Desqualificao do saber prtico, da experincia de vidas diante do saber
cientifico;
Violncia fsica (por exemplo: negar acesso anestesia como forma de
punio, uso de medicamentos para adequar o paciente a necessidades do
servio ou do profissional);
Detrimento das necessidades e direitos da clientela;
Proibio ou obrigatoriedade de acompanhantes ou visitas com horrios
rgidos e restritos;
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Criticas ou agresses dirigidas a quem grita ou expressa dor e desespero,
ao invs de se promover uma aproximao e escuta atenciosa visando
acalmar a pessoa, fornecendo informao e buscando condies que lhe
tragam maior segurana do atendimento e internao.
Diagnsticos imprecisos, acompanhados de prescrio de medicamentos
inapropriados ou ineficazes, desprezando ou mascarando os efeitos da vio-
lncia.
A omisso e inexistncia dos servios de sade so tambm uma forma de
violncia institucional. Esta causalidade repercute nos servios, pois os servi-
os so afetados pela violncia na forma de precrias condies de trabalho,
na superlotao de seus leitos com os feridos por acidentes e agresses, mastambm pelos riscos sofridos pelos profissionais na ateno aos envolvidos em
conflitos que buscam atendimento. Seria uma relao de causa e efeito que se
retroalimentam. Violncia gerando violncia. Isso nos faz lembrar de Arendt
que afirma que a violncia dramatiza causas.
Os idosos e as crianas so os principais usurios dos servios de sade.
As demandas na rea de sade dos idosos diferem radicalmente das observa-
das para o restante da populao. Dado que o seu perfil de morbidade caracterizado, principalmente por enfermidades crnicas. Os custos direitos e
indiretos so em geral, mais elevados, pois os procedimentos apresentam uma
durao mais longa. Os idosos consomem mais remdios, mais servios de
sade, suas internaes em hospitais so mais freqentes do que as do res-
tante da populao e, bem como sua permanncia os mesmo mais
longa.(Secretaria Especial de Direitos Humanos, 2005).
Esta constatao pode provocar uma a discriminao dos idosos comocategoria social. Os idosos so vistos como uma carga pesada para o sistema
de sade pblica, incentivando um gerontofobismo ou etarismo no qual est
implcito a idia de que os idosos j cumpriram a sua misso na vida, so
improdutivos e portanto no so mais merecedores de investimentos sociais
pois no daro o retorno.
A questo da violncia praticada contra a pessoa idosa sem dvida
alguma um problema de natureza histrico-social e ao mesmo tempo de natu-
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Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 61
reza da sade. Ela de natureza social-histrica porque envolver as relaes
dos sujeitos na vida social. A violncia ocupa cada vez mais lugar nas relaes
e chega-se ao ponto da banalizao. A violncia nos aterroriza e atemoriza e
nutre no interior da sociedade e conseqentemente no seu imaginrio o medo
de perder a vida.Ela de natureza da sade porque so nas portas dos servios de sade
que ela bate para receber o socorro. A violncia produz diariamente centenas
de vtimas no pas e na especialmente na nossa cidade. A violncia, nas suas
mais diversas manifestaes uma questo da sade pblica, notoriamente j
reconhecida pela Organizao Mundial de Sade, Organizao Panamericana
de Sade rgos nacionais. O grande nmero de vitimas provoca uma deman-
da imediata e tambm complexa de necessidades de assistncia, recuperaoe reabilitao da sade.
A violncia contra idosos tem sido identificada em instituio de cuidados
continuados em quase todos os pases onde estas instituies existem (ONU,
2002). No Brasil, como j mencionado anteriormente, h poucos trabalhos que
analisam esta situao e na sua maioria referem-se a instituies asilares.
O Relatrio Mundial nos adverte que importante fazer uma distino entre
os atos individuais de abuso praticados por agentes institucionais e negligncianas instituies e aquele que se refere a abuso institucionalizado, ou seja, o
regime prevalecente na prpria instituio quando se caracteriza abusivo ou
negligente.
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DECLARAO DE BUENOS AIRES SOBREA VIOLNCIA PESSOA IDOSA6
Reunidos no "Projeto Compromisso com a Vida" organizado pela Defensora
do Povo da Cidade de Buenos Aires, pela Sociedade Iberoamericana de
Gerontologia e pelo Parlamento da Terceira Idade com o apoio, entre outros, do
Ministrio de Desenvolvimento Social da Nao, com a Direo Geral da Terceira
Idade da Cidade Autnoma de Buenos Aires e do Instituto de Maiores e Servios
Sociais da Espanha, os abaixo-assinados no abrimos mo da nossa condio de
cidados que formam parte das organizaes envolvidas com a temtica de En-
velhecimento e dos Direitos Humanos, sensibilizados pela extenso e gravidade
da Violncia contra a Pessoa Idosa:
Acordamos que:
1. A violncia contra a pessoa idosa supera amplamente as expresses familia-
res e cotidianas, descritas nos tratados e informes dos especialistas na mat-
ria.
2. Acrescenta-se que existem semelhanas entre os diferentes pases representa-dos no Encontro, a propsito da envergadura e gravidade da Violncia contra a
Pessoa Idosa e apesar das especificidades culturais, econmicas e polticas
destes pases.
3. Na realidade dos nossos pases, resultam prevalentes e distintas formas de
violncia estrutural, institucional e cultural, que assumem status de violao dos
direitos humanos das pessoas idosas, resultante das organizao fragmentria
e excludente da vida social.
4. Somos conscientes de que o enfrentamento exige mltiplas intervenes ligadas a
prticas tradicionais e no tradicionais na matria, que vai desde o uso de indicado-
res e guias de interveno, at aes no mais alto nvel por parte dos dirigentes
polticos, passando por intervenes sociais e organizadas nos meios de difuso,
cultura, educao, trabalho, previdncia, justia, etc.
6Declarao assinada em 20 de Julho de 2007 quando da realizao do Projeto Compromisso com a Vida,realizado na cidade de Buenos Aires, na Argentina.
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64 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa
CONCLUSES
O Relatrio Mundial sobre Violncia e Sade no captulo que trata da violnc