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CLIMA E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NO NOROESTE DO PARANÁ – BRASIL Prof. Dr. Messias Modesto dos Passos / [email protected] Dpto. de Geografia da UEM – Maringá/PR / Grupo NASA-R Profa. Dra. Margarete C. de Costa Trindade Amorim / [email protected] Progr. Pós-Graduação em Geografia da UNESP / Grupo NASA-R – Campus de Presidente Prudente/SP – Brasil. Profa. Dra. Leonor Marcon da Silveira / Dpto. de Geografia da UEM – Maringá/PR Prof. Dr. João Lima Sant´anna Neto / / [email protected] - Progr Pós-Graduação em Geografia da UNESP / Grupo NASA-R – Campus de Presidente Prudente/SP – Brasil. EIXO TEMÁTICO: Clima e Planejamento Urbano e Rural. Resumé : Dans l'Etat du Paran au Brésil,le climat est un climat de transition entre le monde tropical et le monde subtropical.Bien que les pluies et températures moyennes sont très supportables pour l'agriculture et de nombreuses espèces végétales,les interruptions momentanées dela période pluvieuse et les gelées d'hiver peuvent causer des dommages très sérieux à la végétation;Pour évaluer les conditions climatiques locales nous avons utilisé pour ce travail les les observations des dégats causés par les gelées sur les plants de café en l'an 2000. Mots-clés : climat local, biogéographie, Parana, Brésil Abstract : In the state of Parana, Brazil, the climate is a transition between tropical and subtropical conditions. Although rainfall and temperatures means appeared to be suitable for many plants and agriculture, breaks during the rainy season and frosts during winter may be dramatic for vegetation. In order to evaluate the local climatic conditions we used for this work observations of damages caused by frosts in coffee-plants during year 2000. Key-words : local climate, biogeography, Parana, Brazil

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CLIMA E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NO NOROESTE DO

PARANÁ – BRASIL

Prof. Dr. Messias Modesto dos Passos / [email protected] Dpto. de Geografia da UEM – Maringá/PR / Grupo NASA-R

Profa. Dra. Margarete C. de Costa Trindade Amorim / [email protected] Progr. Pós-Graduação em Geografia da UNESP / Grupo NASA-R – Campus de

Presidente Prudente/SP – Brasil. Profa. Dra. Leonor Marcon da Silveira / Dpto. de Geografia da UEM – Maringá/PR

Prof. Dr. João Lima Sant´anna Neto / / [email protected] - Progr Pós-Graduação em Geografia da UNESP / Grupo NASA-R – Campus de Presidente Prudente/SP – Brasil.

EIXO TEMÁTICO: Clima e Planejamento Urbano e Rural.

Resumé : Dans l'Etat du Paran au Brésil,le climat est un climat de transition entre le monde tropical et le monde subtropical.Bien que les pluies et températures moyennes sont très supportables pour l'agriculture et de nombreuses espèces végétales,les interruptions momentanées dela période pluvieuse et les gelées d'hiver peuvent causer des dommages très sérieux à la végétation;Pour évaluer les conditions climatiques locales nous avons utilisé pour ce travail les les observations des dégats causés par les gelées sur les plants de café en l'an 2000.

Mots-clés : climat local, biogéographie, Parana, Brésil Abstract : In the state of Parana, Brazil, the climate is a transition between tropical and subtropical conditions. Although rainfall and temperatures means appeared to be suitable for many plants and agriculture, breaks during the rainy season and frosts during winter may be dramatic for vegetation. In order to evaluate the local climatic conditions we used for this work observations of damages caused by frosts in coffee-plants during year 2000.

Key-words : local climate, biogeography, Parana, Brazil

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Introdução

O Brasil: um território tropical

O território brasileiro (8 513 844 km2) estende-se de 5º 16´ de latitude norte a 33º

45´de latitude sul, situando-se, portanto, em sua quase totalidade na faixa intertropical. É,

pois, um país tropical.

Conti (2001), apresenta cinco características do ambiente tropical, apontando o

papel de cada uma no espaço geográfico brasileiro:

Características Papel no espaço brasileiro

1. Temperaturas médias superiores a

18ºC e diferenças sazonais marcadas pelo

regime de chuvas.

Ocorre em 95% do território

2. Amplitude térmica anual inferior a 6º c

(isotermia)

Registra-se desde o extremo norte até o paralelo

de 20º de latitude sul, aproximadamente.

3. Circulação atmosférica controlada pela

ZCIT, baixas pressões equatoriais

(doldrums), alísios e altas pressões

subtropicais.

Afeta quase todo o espaço do nosso país, exceto

ao sul do trópico de Capricórnio e onde a ação

da frente polar é mais relevante.

4. Cobertura vegetal que vai do deserto

quente à floresta ombrófila, passando

pela savana.

Embora os desertos quentes estejam ausentes, a

floresta ombrófila e as savanas cobriam 94% do

território brasileiro originariamente1.

1 Apenas 5,63% eram ocupados por formações não tropicais: araucárias e campos meridionais.

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5. Regimes fluviais controlados pelo

comportamento da precipitação.

É o que se verifica em todas as bacias

hidrográficas, com exceção da Amazônia, onde

alguns afluentes dependem da fusão das neves

andinas.

A tropicalidade do território brasileiro é, ainda, reforçada por duas variáveis

significativas: (a) o relevo moderado, predominante de planaltos e planícies; (b) forma do

território: mais largo na sua porção, ou seja, na sua porção mais próxima da linha do

Equador; mais estreito em sua porção extratropical, ou seja, no Brasil meridional.

A percepção do topoclima

Encontramos em Waibel (1958) uma das mais bem elaboradas percepção da

influência do relevo no clima local-regional:

"Em contrastes com as precipitações, a temperatura varia

consideravelmente, de acordo com a latitude e a altitude. Pode-se

distinguir três faixas diferentes de temperatura, que eu gostaria de

classificar com os termos usados pelos espanhóis na América tropical e

subtropical.

No litoral do estado do Paraná e na extremidade norte do litoral de Santa

Catarina temos condições de temperatura que se assemelham às da tierra

caliente tropical. É uma baixada quente e úmida, na qual a malária e

outras moléstias tropicais são difundidas. Embora o inverno seja mais

fresco do que o verão, a geada é desconhecida e aí se podem cultivar todas

as árvores de frutas tropicais, com exceção do cacaueiro.

No litoral sul de Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul, bem como

nos vales das serras e planaltos até uma altitude entre 400 e 500 metros,

temos o tipo de clima ou faixa de temperatura da tierra templada. Aí, os

verões também são quentes. Mas no inverno ocorrem geadas noturnas

esporádicas mesmo no nível do mar. Devido à drenagem do ar e à inversão

de temperatura, as geadas são mais freqüentes e mais fortes nas baixadas e

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nos vales do que nas encostas, em altitudes mais elevadas. Por esta razão,

a cana-de-açúcar, que aqui está perto do limite polar de sua distribuição,

evita as baixas terras aluviais com seus solos férteis e cresce nos terraços

mais altos e nas montanhas até uma altitude entre 400 e 500 metros. Mas a

planta realmente característica desta região é a laranjeira, que é abundante

por toda parte, em torno das residências rurais. O clima é muito mais

saudável aqui do que na tierra caliente e a malária é menos freqüente.

Dos 400 ou 500 metros para cima, as condições de temperatura mudam

quase abruptamente. O verão ainda é muito quente, especialmente durante

o dia, mas no inverno, de abril a novembro, as geadas ocorrem com

freqüência e são muitas vezes tão severas )-5º a –7º C) que acarretam

danos consideráveis às lavouras e causam desconforto aos animais e à

gente. A cana-de-açúcar e as laranjas são substituídas por plantas

cultivadas da zona temperada, tais como pêras, maçãs, trigo, centeio,

batata-inglesa etc., e na vegetação natural aparece o pinheiro (Araucária

sp). Em vastas áreas, especialmente nos planaltos do Paraná, o

povoamento e as vias de comunicação, em virtude da inversão de

temperatura, estão localizados nas elevações mais altas e nos divisores de

águas, enquanto nos vales, onde o ar frio se acumula, a mata original, rica

em araucárias, tem sido aqui preservada. Esta é a tierra fria, que cobre

todos os planaltos do sul do Brasil, acima de uma altitude de cerca de 300

metros no Rio Grande, 400 a 500 metros em Santa Catarina e 500 a 700

metros no Paraná. No norte do Paraná, o seu limite inferior fica entre os

800 e 900 metros; como aí a maior parte dos planaltos tem altitudes

inferiores àquele limite, situam-se na tierra templada. É esta uma das

razões pelas quais o norte do Paraná é uma importante região produtora de

café". (Waibel, pp. 207-208).

No sentido de comprovarmos a noção e a relevância que a Companhia de Terras

Norte (CNTP) do Paraná tinha do papel do topoclima na produção agrícola, passamos a

relatar, resumidamente, o modelo de colonização implantado no Noroeste do Paraná.

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O modelo de colonização CTNP

Até 1923, o Norte do Paraná era uma região de difícil acesso, em grande parte recoberta pelas matas exuberantes peculiares às áreas de terra roxa. Aqui e ali se abriam grandes clareiras, onde os pioneiros da colonização plantavam café.

"A empresa britânica Paraná Plantation ltd., atualmente "Companhia de Terras Norte do Paraná", comprou do Estado cerca de 13.000 km2 de terras florestais ao sul do estado de São Paulo, no triângulo entre os rios Paranapanema, Paraná e Ivaí. O povoamento começou em 1929 na extremidade oriental da área adquirida, em Londrina, a uma altitude de 600 metros. Seis anos mais tarde, a Companhia tinha construído uma estrada de ferro ligando a colônia com o sistema ferroviário da cidade de São Paulo, a leste. Para oeste, foram construídas estradas seguindo o divisor de águas entre o Paranapanema e o Ivaí, a altitudes entre 700 a 900 metros, e ao longo delas, o povoamento se expandiu rapidamente para oeste. Hoje em dia, a frente pioneira está a oeste de Maringá, a cerca de 130 quilômetros de Londrina, a uma altitude aproximada de 600 metros. Metade das terras está vendida a perto de 16 000 colonos de origem européia, japonesa e luso-brasileira, estes de quase todos os estados do Brasil. Cerca de 200.000 pessoas vivem na área da Companhia, que há 20 anos atrás era desabitada; destas, uns 50% vivem em comunidades urbanas. Em virtude do clima de tierra templada, o café e o algodão são os principais produtos comerciais da região e esta é a razão da sua grande riqueza e prosperidade"2

A Companhia de Terras Norte do Paraná adotou diretrizes bem definidas. As cidades destinadas a se tornarem núcleos econômicos de maior importância seriam demarcadas de cem em cem quilômetros, aproximadamente. Entre estas, distanciados de 10 a 15 quilômetros um do outro, seriam fundados os patrimônios, centros comerciais e abastecedores intermediários. Tanto nas cidades como nos patrimônios a área urbana apresentaria uma divisão em datas residenciais e comerciais. Ao redor das áreas urbanas se 2Extraído de : WAIBEL, L. (1958) - Capítulos de Geografia Tropical e do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE / CNG; pp. 222-3

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situariam cinturões verdes, isto é, uma faixa dividida em chácaras que pudessem servir para a produção de gêneros alimentícios de consumo local, como aves, ovos, frutas, hortaliças e legumes. A área total seria cortada de estradas vicinais, abertas de preferência ao longo dos espigões, de maneira a permitir a divisão da terra da seguinte maneira: pequenos lotes de 10, 15 ou 20 alqueires, com frente para a estrada de acesso e fundos para um ribeirão. Na parte alta, apropriada para plantar café, o proprietário da gleba desenvolveria sua atividade agrícola básica: cerca de 1.500 pés por alqueire. Na parte baixa construiria sua casa, plantaria a sua horta, criaria os seus animais para consumo próprio, formaria o seu pomar. Água seria obtida no ribeirão ou em poços de boa vazão. As casas de vários lotes contíguos, alinhados nas margens dos cursos d’água, formariam comunidades que evitassem o isolamento das famílias e favorecessem o trabalho em mutirão, principalmente na época da colheita do café, que para a maioria dos pequenos agricultores representaria lucro líquido de sua atividade independente, porquanto no decorrer do ano ele viveria – consumindo o necessário e vendendo o supérfluo – das culturas paralelas: arroz e milho plantados por entre as fileiras de café novo, legumes e hortaliças, frutas diversas, porcos e galinhas. Esse pequeno proprietário não agiria como o grande fazendeiro de café, que produzia grandes safras e as comercializava nos grandes centros, diretamente em São Paulo ou em Santos. Ele venderia seu pequeno lote de sacas de café nos patrimônios, aos pequenos maquinistas, que por sua vez comercializavam a sua produção nas cidades maiores, já com representantes das casas exportadoras. Por outro lado, esse pequeno proprietário não gastaria o dinheiro recebido como o grande fazendeiro, nas grandes cidades. Ele o gastaria ali mesmo, no comércio estabelecido nos patrimônios, gerando assim uma distribuição de interesses e uma circulação local de dinheiro que constituiriam um salutar fator de progresso local e regional. “É preciso não esquecer, também, que alguns proprietários –

contrariando a política de vendas da Companhia – conseguiram reunir vários lotes rurais e formar fazendas, mas onde isso ocorreu em número maior a comunidade próxima estacionou. A razão do êxito das cidades do Norte do Paraná está na pequena propriedade dirigida pelo seu dono, que nela reside e vai gastar o produto do seu trabalho na povoação mais próxima”. (Extraído do depoimento do Sr. Fox Rule – o mais antigo funcionário em atividade da Companhia -. In: Colonização e Desenvolvimento do Norte do Paraná, p. 87).

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MORO (1991)3 faz uma descrição do Norte do Paraná muito apropriada aos nossos objetivos de caracterização dessa parcela do território:

"O território do Norte do Paraná compreende a área formada pelos afluentes da margem esquerda dos rios Paraná e Paranapanema, confinada por um arco que se estende de Cambará a Guaíra e, segundo a época e a origem da colonização, é tradicionalmente dividido em três sub-regiões: Norte Velho, Norte Novo e Norte Novíssimo.

........................................................................................

........................................................................................

3MORO, D.A. (1991) - Substituição de culturas, modernização agrícola e organização do espaço rural, no Norte do Paraná. IGCE-UNESP, Rio Claro. Tese de Doutorado; pp. 39-46.

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0 35 70 140 210 280km

IIIIII 12

3

4

56

7

I - NORTE VELHO

II - NORTE NOVO

III - NORTE NOVÍSSIMO

1 - NORTE VELHO DE JACAREZINHO 2 - ALGODOEIRA DE ASSAÍ

3 - NORTE NOVO DE LONDRINA 4 - NORTE NOVO DE APUCARANA 5 - NORTE NOVO DE MARINGÁ

6 - NORTE NOVÍSSIMO DE PARANAVAÍ 7 - NORTE NOVÍSSIMO DE UMUARAMA

FONTE: IBGE

DIVISÃO DO NORTE DO PARANÁEM MICRORREGIÕES HOMOGÊNIAS

FIGURA 1 – Os nortes do Paraná

No geral, todo o território, cerca de 55.419 km2, apresenta uma série de condições favoráveis ao estabelecimento humano: solo fértil, relevo pouco movimentado, abundância

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de cursos d' água. Aí, a cultura do café encontrou solo e clima favoráveis ao seu desenvolvimento (CAMBIAGHI, p. 52, 81 e 84). Na realidade, a ocupação desse território é resultado de um povoamento recente, afora o Norte Velho, conseqüência da expansão cafeeira paulista (MULLER, p. 55). "Como extensão direta da economia cafeeira paulista, o desenvolvimento do Norte do Paraná baseou-se firmemente no "know how", capital e trabalho qualificado das regiões cafeeiras mais antigas de São Paulo". (NICHOLLS, p.37). No processo de colonização do Norte-Paranaense, o Norte Novo e o Norte Novíssimo - sobretudo o primeiro - foram loteados predominantemente em pequenas e médias propriedades, com tamanho médio de 10 a 15 alqueires paulistas. O maior número de lotes representados por pequenas propriedades de 5, 10, 15 e 20 alqueires (LUZ e OMURA, p. 32). No quadro geral do Norte do Paraná, em especial no Norte Novo4 e Norte Novíssimo5, verificou-se a mais rápida ocupação humana da história do Brasil, devido à expansão da lavoura cafeeira, em particular, a partir do final da década de quarenta (PAIVA, SCHATTAN e FREITAS, p. 319). E, conforme constatou NICHOLLS, p. 36, os milhares de imigrantes que para aí se dirigiram, provenientes, sobretudo dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro, em poucas décadas transformaram o norte do Paraná, de uma área desabitada, na mais próspera região do Estado. Nessa região, desde o início de sua ocupação, instalou-se, na maioria dos estabelecimentos rurais, a monocultura comercial do café, voltada para o mercado externo; associada, durante a fase de formação dos cafezais, a uma policultura comercial de sustentação de produtos como feijão, milho, arroz e mandioca, além da pecuária leiteira. Posteriormente, quando então o cafezal já estava em plena produção, essa policultura e a pecuária leiteira tornaram-se apenas de subsistência (MORO, p. 25). Simultaneamente, um número reduzido de estabelecimentos seria ocupado por outras atividades produtivas como a cultura do algodão, cultura do milho e pecuária6. Esta última, já em ampliação nos anos sessenta, em função de uma conjuntura desfavorável à manutenção da cafeicultura como principal atividade produtiva, em gradativa decadência na região. Já em meados da década de setenta - além da cultura associada da soja e trigo -, a 4 Considera-se como Norte Novo, a região de Maringá, cujo povoamento se deu alguns anos após a ocupação e povoamento do Norte Velho, ou seja, da região de Londrina, mais a leste. 5 Considera-se como Norte Novíssimo, a região de Paranavaí, cujo povoamento se deu alguns anos após a ocupação e povoamento do Norte Novo, ou seja, a partir de 1950. 6 O Norte Novíssimo, no que diz respeito ao processo de capitalização gerada pela cultura cafeeira, é duplamente desfavorecido: primeiro, pelas condições morfo-pedológicas, isto é, pela ocorrência de latossolos arenosos (Arenito Caiuá) e, segundo, pela chegada tardia do café em suas terras, ou seja, quando a cultura já estava em plena crise de mercado.

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avicultura, a sericicultura, a fruticultura de mesa, em menor escala, ganhavam espaço na paisagem regional. E, mais recentemente, a lavoura da cana-de-açúcar (TEIXEIRA, 1981). No estado do Paraná, as lavouras de café chegaram a atingir em 1968 a área de 1.187.532 ha, correspondendo a 46,22% da área do café cultivado no Brasil, e em 1969, 58,12% da produção cafeeira brasileira. O norte do Paraná sempre participou com mais de 85% da área cultivada de café no Estado, com área superior a 900.000 ha, até o início dos anos setenta do século XX. Nas safras de 59/60 e 65/66 produziram-se 20,4 milhões de sacas de café, produção superior à dos demais estados somados (PAIVA, SCHATTAN e FREITAS, 1976. p.320). Com respeito ao comportamento do processo de substituição das lavouras cafeeiras, assim como do seu caráter dinâmico nos quadros da agricultura paranaense e especificamente na sua principal região produtora de café - o norte do Estado -, por outras atividades produtivas, assim concluíram os técnicos do BADEP - Banco de Desenvolvimento do Paraná - (1977), p. 13:

"O café que até 1969 representou cerca de 40% do produto do setor agrícola paranaense, não é mais isoladamente o fator dinâmico preponderante da agricultura do Estado. Outros produtos, que há uma década tinham reduzida importância no conjunto da economia agrícola, passaram a ter significativa participação nos últimos anos".

A rapidez do processo de transformação pelo qual passou o norte do Paraná, em

menos de meio século, desde o pioneirismo paulista, seguido pela monocultura comercial do café, até a moderna cultura de cereais, implicou em significativas transformações na sua organização espacial, notadamente em nível do seu espaço rural. A substituição da cafeicultura fez-se, especialmente, pela lavoura mecanizada da

soja e trigo e, em menor escala, por outras atividades produtivas com o emprego de novas

técnicas agrícolas. Estas contribuíram nas transformações da organização do espaço rural.

A formação sócio-espacial do norte-noroeste do Paraná foi, de modo significativo,

influenciada por alguns agentes conjunturais, notadamente: o modelo de colonização da

Companhia de Terras Norte do Paraná/Companhia Melhoramento Norte do Paraná e o

mercado internacional, especificamente em relação à cafeicultura. E, também, por

"agentes" estruturais, notadamente o clima.

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Um clima marcado pela transição: tropical – subtropical

A tentativa de se esboçar as características climáticas do noroeste do Paraná depara-se com inúmeras limitações, entre as quais (a) a baixa densidade de estações meteorológicas; (b) o curto período de tempo dos dados registrados. A análise regional da dinâmica climática será objetivada a partir dos diagramas ombrotérmicos, elaborados a partir das normais climáticas fornecidas pelas Estações da UEM7 – Maringá e IAP8 – Paranavaí.

Posição subtropical, tipo mesotérmico, forte amplitude anual, farta distribuição anual das chuvas sem ocorrência de período seco são fatos que emprestam ao clima do noroeste do Paraná o caráter de transição.

A dinâmica atmosférica regional está sustentada no embasamento teórico elaborado por Monteiro (1963) que, ao analisar a influência das massas de ar na América do Sul afirma: “... as três principais massas de ar da vertente atlântica, pelas suas trajetórias e orientação do relevo, têm atuação saliente na Região Sul do Brasil...................................................................................................................................

A Massa Tropical Atlântica (Ta) individualiza-se no anticiclone semifixo do Atlântico Sul. Por suas propriedades na fonte é uma massa quente, úmida e com tendência à estabilidade pela subsidência superior daquela célula oceânica de altas pressões dinâmicas. Graças ao sistema de emissão contra-horário daquele anticiclone austral, tem grande poder de penetração para o interior do continente. .............................................................................................................................................

A Massa Polar Atlântica (Pa) se bem que de atividade mais no inverno, graças aos efeitos que produz, apresenta participação de realce na circulação regional. ............................................................................................................................................. É uma massa fria e úmida, mercê de sua origem marítima.

A Massa Equatorial Continental (Ec) tem sua fonte na planície amazônica. É uma célula de divergência dos alísios – doldrum – que tende a manter-se durante todo o ano naquela zona. Trata-se de uma massa quente, de elevada umidade específica. ............................................................................................................................................. No verão austral, atraída pelos sistemas depressionários (térmicos e dinâmicos) do interior do continente, tende a avançar do NW ora para SE ora para ESE, de acordo com a

7 Universidade Estadual de Maringá. 8 Instituto Ambiental do Paraná.

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posição da Frente Polar Atlântica. Durante esta estação, a Região Sul do Brasil recebe a interferência desta massa. A Massa Tropical Continental (Tc), de ocorrência bem menos conspícua.” (Monteiro, 1963, págs. 123-5). Focalizando as diferentes situações no decorrer do ano, Monteiro (1967) distingue as sucessões típicas mais características do tempo na Região Sul. No inverno, o anticiclone migratório polar se desloca até as latitudes baixas, produzindo as constantes ondas de frio do sul que, agravadas pelos fenômenos frontológicos, definem as especificidades dessa estação. Diagnóstico bioclimático

Mesmo que algumas classificações do clima repousem sobre uma ou duas variáveis, o clima age a todo momento sobre o homem, o animal, a planta ou a rocha, pelo conjunto das variáveis que o compõe (uma temperatura de 0º C é percebida diferentemente segundo o ar é seco ou úmido, o vento sopra ou não, o sol brilha ou não...

Joly Daniel, 1987

O presente diagnóstico bioclimático apóia-se nos fundamentos teórico-metodológicos segundo parâmetros apresentados por Passos (1998), páginas 221-6. As relações entre o clima regional e os climas locais são mais bem apreendidas a partir dos gráficos ombrotérmicos (Figuras 2 e 3). É bem verdade que o território do noroeste paranaense apresenta uma reduzida rede de postos/estações climáticas. Em termos da dimensão regional, o quadro das temperaturas salienta-se pelo seu caráter mesotérmico, compreendido entre valores de 16º e 20ºC de média anual. Nessa região brasileira extratropical, de amplitude acentuada (variando entre 7º e 13º C) a observação da temperatura é mais agressiva através do confronto de seus valores máximos e mínimos. O traçado das isolinhas, referentes à média das máximas e mínimas, reflete a influência exercida pelos aquecimentos e resfriamentos que se produzem através das correntes perturbadas das massas intertropicais, sob a influência da altitude. Os maiores aquecimentos (média das máximas) encontram-se relacionados às superfícies mais baixas. Nota-se, no entanto, a variação de valores, que se produz em função da posição dessas em face das grandes correntes de aquecimento. Verifica-se que os valores mais elevados se encontram mais a oeste, na calha do rio Paraná, onde as ondas de

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calor causadas pelos avanços da Ec e Tc, durante o verão, são bem mais fortes que ao longo do litoral, mais sob o domínio da Ta. Os maiores resfriamentos, resultantes do avanço das massas polares para o norte, no inverno, revelam menor diferença entre os índices verificados no litoral e no oeste, já que aquele avanço, canalizado pelo interior e pelo litoral, se traduz por índices que variam de 8º a 10º C no Rio Grande do Sul e de 16º a 18º C no noroeste Paulista, deixando ver a ocorrência de índices mais elevados nas altitudes mais elevadas. Quanto às localidades do Planalto, elas revelam na marcha anual da temperatura, além da influência de sua posição latitudinal em face das grandes descontinuidades da região, uma influência nítida do fator altitude. A zona menos úmida na região vem a ser o oeste Paulista e noroeste do Paraná, pois aí é que se encontra maior deficiência de dados. De modo geral, os índices pluviométricos anuais da região são superiores a 1000 mm e, não raro, a 2000 mm. Entretanto, como se sabe, a pluviosidade, em que pesem as correntes gerais da atmosfera, desencadeadora dos tipos de tempo, está sujeita a importantes variações segundo os fatores locais. O noroeste do Paraná e a parte ocidental do estado de São Paulo constituem o trecho da Região Sul que, em afinidade com as Regiões Centro-Oeste e Sudeste, possui um inverno seco. Dentro da explicação genética da análise de massa de ar, dois fatos são de importância fundamental na compreensão desse fenômeno: (a) de um lado a Massa Tropical Atlântica que, juntamente com a Massa Polar Atlântica, lidera a circulação nessa época do ano ao atingir o continente, agora em via de resfriamento, a uma temperatura inferior à de sua fonte, sofre resfriamento basal tendendo a estabilizar-se. É importante acentuar, ainda, que o teor de umidade que apresentava na sua fonte, já menos elevado que no verão, ao sofrer o efeito orográfico das serras do Mar e Mantiqueira, condensa sua umidade, acarretando precipitações (menores que no verão) e, assim, chega ao oeste paulista e noroeste paranaense já bem mais seca; (b) por outro lado, as precipitações frontais produzidas no avanço da Massa Polar, são mais abundantes nas proximidades do litoral no contato mais direto com a Massa Tropical Atlântica. Assim, durante o inverno, os índices pluviométricos nessa porção mais setentrional da Região Sul são advindos apenas da Frente Polar.

Apesar das limitações desta análise, imposta pelos valores médios dos dados das normais climatológicas, pode-se perceber que as variações dos elementos do clima estão ligadas à influência dos fatores geográficos locais.

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O fator altitude9 responde, em primeiro lugar, por variações locais dos “resultados” daqueles fenômenos, ou seja, por variação dos índices de aquecimento, resfriamento, nebulosidade, pluviosidade etc. Algumas associações vegetais são indicadoras das variações térmicas: (a) a palmácea Euterpe edulis (Içara ou Palmito) tinha um nível de abundância-dominância mais elevado nas matas perenifólias tropicais e subtropicais; sendo sensível ao frio, era substituída nos vales por outra palmácea, a Arecastrum romanzoffiana (Jerivá); (b) A Araucaria angustifolia (Pinheiro do Paraná) tinha densidade maior de ocorrência na vertente sul dos espigões, nos vales profundamente dissecados e, ainda, nos vales mais abertos. O vale do rio Cambé a partir de Arapongas, ao sul de Londrina e Rolândia, representa uma linha marcante de escoamento do ar frio10, notabilizada pela ocorrência de Euterpe edulis no interior da exuberante mata pluvial-tropical. Aqui, as associações de araucária e jerivá se apresentavam debilitadas no seu porte; (c) A Araucaria angustifolia posiciona-se ao longo dos canais de escoamento do ar fio na zona da mata de pinheiros vale abaixo, ultrapassando seu limite inferior de altitude, de aproximadamente 500 metros, no norte do Paraná.

Seria muito significativo o mapeamento das áreas de ocorrência de geadas mais freqüentes a partir, sobretudo, de depoimentos dos pioneiros que ainda hoje se encontram na região. Por exemplo, o Sr. João Lopes, que em 1944 passou a residir e a dedicar-se ao cultivo do café num lote adquirido pelo seu pai, da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, fez as seguintes observações:

“a forte geada que atingiu o norte do Paraná, em 1953, não impediu a realização da colheita do café; contudo, a geada de 1955 obrigou a grande maioria dos proprietários a cortar as plantas de café, devido à forte geada. No governo JK11, o preço do café foi reduzido em cerca de 40% do seu valor anterior. Muitos cafeicultores queimaram os cafezais em resposta a esta

9 Durante o dia o calor diminui com o aumento da altitude, em vista de que o solo não pode emitir as radiações de calor com suficiente rapidez para as camadas superiores do ar, e mesmo porque, com a ascensão, o ar quente esfria; nota-se durante a noite o processo inverso. Com o aumento da altitude, a temperatura do ar também aumenta nas camadas inferiores. O ar frio, que se forma acima do solo esfriando mais rapidamente nos espigões, acompanha determinadas linhas topográficas do terreno e desliza para os vales. Por essa razão, as regiões mais elevadas são mais quentes durante a noite. Essa relação da compartimentação topográfica e temperaturas do ar interfere marcadamente na organização do espaço cafeeiro no Norte paranaense. 10 As primeiras perdas pelas geadas foram registradas em 1933, logo após o início do cultivo do café, em todo o vale do rio Cambé. Há registros de efeitos mais negativos provocados pelas geadas nos canais de escoamento em 1942 e 1948. A partir desses episódios os cafeicultores passaram a evitar os fundos de vales para o plantio do café. 11 A referência a determinado governo, revela, a “quase-cultura” brasileira de culpar os governantes por todo tipo de vicissitudes, inclusive, pelas intempérides.

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imposição governamental. Em 1969, geou novamente, porém com menor intensidade. A geada de 1975 foi arrasadora, obrigando os proprietários a podarem o cafezal no tronco. Em 1994, ocorreu nova geada, obrigando os proprietários a cortarem a planta no tronco, outra vez. As geadas provocavam crises no mercado, no entanto, os Lopes souberam amenizar os efeitos negativos a partir, inclusive, da união com os demais membros da família”.

O Sr. Lopes lembra que a colheita de 1955 foi muito boa, dando condições para

adquirir mais lotes rurais, por duas razões: (a) alta do preço do café e (b) oferta de lotes rurais a preços baixos. A geada de junho-julho de 2000, a exemplo das anteriores, tem um aspecto social muito forte, ou seja, motiva o êxodo rural para a cidade. Das quinze famílias que trabalham e moram nas propriedades dos Lopes, três solicitaram “rescisão do contrato” e foram morar em áreas urbanas. As temperaturas mais elevadas são observadas ao longo do mês de janeiro e, as

temperaturas mais baixas ocorrem ao longo do mês de julho, predominantemente.

Em relação às geadas noturnas periódicas, é importante lembrar que a entrada da

frente polar na região cafeeira, em 1918, procedia de São Paulo. A geada de 1953 destruiu

220.858.339 de cafeeiros em plena produção no norte do Paraná. E pior, foi seguida, em

1955, por outra geada que destruiu 100% das plantações novas e 240.000.000 pés de café

em plena produção. Na noite de 30 para 31 de julho de 1955 registraram-se temperaturas de

–5º C e –9º C na área compreendida entre Arapongas e Maringá.

As fotos 1, 2 e 3 se prestam para demonstrar os contrastes topoclimáticos no

noroeste do Paraná. A parcela da foto 3 (fundo de vale) está a apenas 700 m da foto 1

(espigão). As geadas são classificadas quanto à intensidade: (a) geada de baixada – ocorre

no fundo de vale, praticamente todos os anos; nesses locais nunca se planta café; (b) geada

de capote – provoca a perda parcial das folhas da parte superior da planta, atinge, também,

o ponteiro; (c) geada negra – atinge todo o cafeeiro, e só é possível a recuperação da planta

a partir do corte no seu tronco, a aproximadamente 30 cm acima do solo, de onde sairão

novos brotos. Todos esses tipos de geadas se manifestaram no noroeste do Paraná, no ano

de 2000, ou seja, elas foram muito intensas nas proximidades dos vales - exigindo o corte

da planta, no tronco, conforme mostrado na foto 3 - e, à medida que a superfície vai da

vertente para o espigão, os efeitos vão se atenuando. Os procedimentos necessários para

recuperar o cafeeiro, após uma geada, são relativamente simples: uma poda parcial. O

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maior problema é ficar sem a colheita do ano seguinte. Além do que os serviços de manejo

aumentam muito, pois, todos os galhos podados têm que ser amontoados para facilitar a

capina. O fato novo, em relação às geadas de 2000 é que, ao contrário dos anos anteriores,

poucas famílias abandonaram o campo em favor da cidade. Nas propriedades dos Lopes,

das quinze famílias “meeiras”, três romperam o compromisso e foram para a cidade; no

entanto, muitas outras famílias se ofereceram para ocupar o lugar dessas. A crise de

emprego na cidade concorre para o retorno ao campo.

Foto 1: parcela de café situada no espigão da propriedade dos Lopes, revelando que, nessa posição topográfica, os efeitos das geadas são amenizados. PASSOS, 13/07/2000.

Foto 2: registro da geada que atingiu a propriedade dos Lopes (Município de Mandaguari/Noroeste do Paraná. PASSOS, 13/07/2000.

Foto 3: no fundo do vale, as geadas se manifestam de forma mais agudizada e, regra geral, provocam a necessidade de corte da planta no tronco. PASSOS, 13/07/2000.

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FIGURA 2 – Gráfico ombrotérmico de Maringá/PR. Observar: (a) a temperatura média mensal das máximas

absolutas do mês mais quente: T’= 40,0ºC; (b) a temperatura média mensal das mínimas absolutas do mês

mais frio: m’= 10,2ºC. Portanto, o período de atividade vegetal (PAV) é favorável ao longo dos 12 meses do

ano; (c) a linha das temperaturas médias mensais acusa poucas oscilações. Na verdade, o grande impacto das

baixas temperaturas (geadas) se manifesta, de forma mais concreta, sobre a vegetação, diluindo-se nos

gráficos climáticos; (d) a distribuição das precipitações, ou seja, todos os meses são contemplados com

alguma quantidade de chuva. No entanto, a forte insolação, associada à elevadas temperaturas e à litologia

(terra roxa/argilosa) provoca stress hídrico nos cultivos, sobretudo por ocasião dos “veranicos” de primavera-

verão.

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FIGURA 3– Gráfico ombrotérmico de Paranavaí. Observar: (a) a temperatura média mensal das máximas

absolutas do mês mais quente: T’= 35,3ºC; (b) a temperatura média mensal das mínimas absolutas do mês

mais frio: m’= 12,4ºC. Portanto, o período de atividade vegetal (PAV) é favorável ao longo dos 12 meses do

ano; (c) a linha das temperaturas médias mensais acusa poucas oscilações. Na verdade, o grande impacto das

baixas temperaturas (geadas) se manifesta, de forma mais concreta, sobre a vegetação, diluindo-se nos

gráficos climáticos; (d) a distribuição das precipitações, ou seja, todos os meses são contemplados com

alguma quantidade de chuva. No entanto, a forte insolação, associada à elevadas temperaturas e à litologia

(arenito Caiuá) provoca stress hídrico nos cultivos, sobretudo por ocasião dos “veranicos” de primavera-

verão.

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Conclusão

O topoclima foi determinante para a organização do espaço do noroeste paranaense,

notadamente na alta bacia do rio Pirapó, em especial no município de Mandaguari. As

vertentes norte-noroeste, mais ensolaradas resistiram e ainda mantém significativas parcelas

cultivadas com o café; no entanto, as vertentes sul-sudeste redefiniram o uso do solo e,

atualmente, se destacam por culturas mais apropriadas/mais tolerantes às baixas

temperaturas, notadamente o cultivo da uva.

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