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Boletim Educação Empreendedora Nº 13 NOTÍCIA Cenário Ensino Médio Tudo começou com uma pergunta. Como fazemos uma empresa de sabonetes? E a essa se seguiu outra centena que está pintada em cores berrantes no mural do fundo da classe. Durante o último semestre, 19 alunos de química do 9º ano do colégio High Tech High de San Diego (EUA) formaram a própria empresa: a Wicked Soap Company. A garotada, de 14 e 15 anos, já vendeu mais de 4.000 sabonetes de lavanda, laranja e limão. Aprender a fazer sabonete, gravar curtas-metragens e vídeos de esportes para postar no YouTube ou elaborar uma campanha política paralela são coisas que cabem no High Tech High, uma das referências mundiais da chamada inovação educacional, a corrente que tenta mudar a forma tradicional de ensinar, com adeptos e opositores distribuídos pelo mundo. O colégio aplica métodos de aprendizagem com base em projetos. “A aprendizagem com base em projetos começa com um problema”, explica o diretor, Abe Correa. A partir do problema, os jovens fazem pesquisas, entrevistam profissionais da comunidade e políticos. Segundo Abe Correa, “A ideia é que a garotada tenha uma formação bastante orientada ao mundo de hoje. São agentes ativos de sua educação”. No Brasil, algumas escolas públicas, como a estadual Amorim Lima, de São Paulo, já utilizam o modelo de aprendizagem por projeto, inspiradas na referência mundial Escola da Ponte, em Portugal. No colégio High Tech High, as vagas são sorteadas. No total, 40% dos alunos vêm de famílias humildes. Os docentes também são selecionados pelo centro. “Este sistema não é para todo tipo de professor. Nem todo mundo consegue criar um programa novo, ou dois, ou três, a cada semestre. É preciso ter uma mente inovadora, e, sem dúvida, assumir riscos”, explica a professora de Humanidades do colégio, Ady Kayrouz. Os opositores dessas técnicas de inovação educacional consideram que se trata de sistemas que não foram ainda suficientemente avaliados e que com eles o aprendizado corre o risco de se banalizar. Para Alberto Royo, autor do livro ‘Contra la nueva educación. Por una enseñanza basada em el conocimiento’, “O aluno é que define aquilo que se aprende, e os professores é que tem de se adaptar permanentemente aos interesses dos estudantes. Além disso, escolhem um tema que é bastante trabalhado, mas, dessa forma, não conseguem tratar de todos”. Royo avalia que este modelo seria mais apropriado para o ensino primário, onde os conteúdos não são tratados com tanta profundidade. Na High Tech High, a totalidade dos estudantes se forma e vai para a universidade. O diretor Correa defende que eles saem preparados para a vida real: “Nossos estudantes se formam com uma habilidade incrível para se comunicar com adultos, profissionais e políticos, pois, durante quatro anos, praticaram isso o tempo todo”. Fonte: Aqui não se estuda, se faz (El Pais, 20 julho 2016). Cenário Ensino Superior São poucos os empreendedores que conhecem a fundo a área de educação. E são poucos os educadores que entendem de empreendedorismo. Os fundadores da Universidade Francisco Marroquín (UFM), na Guatemala, criaram um novo conceito de educação empreendedora, resultado de uma feliz intersecção entre esses dois universos. A UFM é conduzida como uma organização educativa inserida no mundo dos negócios, e não como uma instituição acadêmica lecionando sobre economia. Ela foi fundada em 1971 por empreendedores, e não por educadores. Logo nos primeiros anos, ficou decidido que todos os alunos, independentemente do curso, teriam acesso a disciplinas relacionadas a empreendedorismo, aprendendo sobre inteligência de mercado, propriedade privada e também sobre as relações entre governo e economia. Todos os departamentos reavaliam seus cursos constantemente, seguindo a premissa de que qualquer produto pode ser aprimorado – não em um futuro próximo, mas em real time. O reitor Gabriel Calzada, descreve a missão da UFM: “Precisamos manter sempre vivo o espírito das empresas iniciantes”. Segundo o reitor, a UFM é uma instituição com fins lucrativos, mas que opera como um negócio social. Ou seja, é 100% focada em gerar lucro, mas todos os dividendos são reinvestidos na escola, para ampliar e aprimorar

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Boletim Educação Empreendedora Nº 13

NOTÍCIA

Cenário Ensino Médio

Tudo começou com uma pergunta. Como fazemos uma empresa de sabonetes? E a essa se seguiu outra centena que está pintada em cores berrantes no mural do fundo da classe. Durante o último semestre, 19 alunos de química do 9º ano do colégio High Tech High de San Diego (EUA) formaram a própria empresa: a Wicked Soap Company. A garotada, de 14 e 15 anos, já vendeu mais de 4.000 sabonetes de lavanda, laranja e limão. Aprender a fazer sabonete, gravar curtas-metragens e vídeos de esportes para postar no YouTube ou elaborar uma campanha política paralela são coisas que cabem no High Tech High, uma das referências mundiais da chamada inovação educacional, a corrente que tenta mudar a forma tradicional de ensinar, com adeptos e opositores distribuídos pelo mundo. O colégio aplica métodos de aprendizagem com base em projetos. “A aprendizagem com base em projetos começa com um problema”, explica o diretor, Abe Correa. A partir do problema, os jovens fazem pesquisas, entrevistam profissionais da comunidade e políticos. Segundo Abe Correa, “A ideia é que a garotada tenha uma formação bastante orientada ao mundo de hoje. São agentes ativos de sua educação”. No Brasil, algumas escolas públicas, como a estadual Amorim Lima, de São Paulo, já utilizam o modelo de aprendizagem por projeto, inspiradas na referência mundial Escola da Ponte, em Portugal. No colégio High Tech High, as vagas são sorteadas. No total, 40% dos alunos vêm de famílias humildes. Os docentes também são selecionados pelo centro. “Este sistema não é para todo tipo de professor. Nem todo mundo consegue criar um programa novo, ou dois, ou três, a cada semestre. É preciso ter uma mente inovadora, e, sem dúvida, assumir riscos”, explica a professora de Humanidades do colégio, Ady Kayrouz. Os opositores dessas técnicas de inovação educacional consideram que se trata de sistemas que não foram ainda suficientemente avaliados e que com eles o aprendizado corre o risco de se banalizar. Para Alberto Royo, autor do livro ‘Contra la nueva educación. Por una enseñanza basada em el conocimiento’, “O aluno é que define aquilo que se aprende, e os professores é que tem de se adaptar permanentemente aos interesses dos estudantes. Além disso, escolhem um tema que é bastante trabalhado, mas, dessa forma, não conseguem tratar de todos”. Royo avalia que este modelo seria mais apropriado para o ensino primário, onde os conteúdos não são tratados com tanta profundidade. Na High Tech High, a totalidade dos estudantes se forma e vai para a universidade. O diretor Correa defende que eles saem preparados para a vida real: “Nossos estudantes se formam com uma habilidade incrível para se comunicar com adultos, profissionais e políticos, pois, durante quatro anos, praticaram isso o tempo todo”.

Fonte: Aqui não se estuda, se faz (El Pais, 20 julho 2016).

Cenário Ensino Superior

São poucos os empreendedores que conhecem a fundo a área de educação. E são poucos os educadores que entendem de empreendedorismo. Os fundadores da Universidade Francisco Marroquín (UFM), na Guatemala, criaram um novo conceito de educação empreendedora, resultado de uma feliz intersecção entre esses dois universos. A UFM é conduzida como uma organização educativa inserida no mundo dos negócios, e não como uma instituição acadêmica lecionando sobre economia. Ela foi fundada em 1971 por empreendedores, e não por educadores. Logo nos primeiros anos, ficou decidido que todos os alunos, independentemente do curso, teriam acesso a disciplinas relacionadas a empreendedorismo, aprendendo sobre inteligência de mercado, propriedade privada e também sobre as relações entre governo e economia. Todos os departamentos reavaliam seus cursos constantemente, seguindo a premissa de que qualquer produto pode ser aprimorado – não em um futuro próximo, mas em real time. O reitor Gabriel Calzada, descreve a missão da UFM: “Precisamos manter sempre vivo o espírito das empresas iniciantes”. Segundo o reitor, a UFM é uma instituição com fins lucrativos, mas que opera como um negócio social. Ou seja, é 100% focada em gerar lucro, mas todos os dividendos são reinvestidos na escola, para ampliar e aprimorar

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o impacto social da organização. Seus gestores acreditam que a UFM deve se manter autônoma, dependendo apenas do seu próprio esforço de rentabilidade. Outra inovação se refere à estrutura da universidade. Ela atua como uma holding, em que cada departamento acadêmico corresponde a uma empresa, e precisa sempre operar no azul. Cada professor, por sua vez, atua como um autônomo. Ele propõe sua matéria, se for aprovada, ele ganha o direito de dar aulas na universidade, mas terá que alugar a sala. Da mesma maneira, seus ganhos serão proporcionais à quantidade de matrículas nos seus cursos. Para o professor Mark Lund autor da matéria, “... em nenhum outro lugar encontrei um exemplo mais acabado de universidade que coloca em prática o espírito das startups. Eu diria que, nesse campus da Guatemala, as salas de aula são como pequenas empresas, e a Universidade Francisco Marroquín é um grande negócio, que comprova a viabilidade de uma educação empreendedora”.

Fonte: A nova educação empreendedora (Pequenas Empresas & Grandes Negócios, junho 2016) Veja Anexo.

LEGISLAÇÃO

A Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) promoveu a leitura na terça-feira (12) do relatório do projeto que muda a Lei de Diretrizes e Bases da Educação para prever o estudo do empreendedorismo nos currículos dos ensinos fundamental e médio, e na educação superior (PLS 772/2015). Para o autor da proposta, senador José Agripino (DEM-RN), esses conhecimentos não serão úteis apenas para os jovens que vão se tornar empresários, mas para desenvolver um ensino mais criativo e formar pessoas com mais iniciativa. O texto ainda será discutido e votado e, se aprovado, tem decisão terminativa e pode seguir diretamente para análise da Câmara dos Deputados. Segundo matéria publicada na Exame, alguns especialistas ressaltaram que veem algumas atividades empreendedoras nas escolas brasileiras – porém, elas são escassas e muito concentradas nas escolas particulares. Para eles, ainda falta um planejamento sistêmico para incentivar o pensamento inovador. Se as escolas brasileiras ensinassem a empreender, a sociedade brasileira ganharia: pessoas que são protagonistas e executam; uma cultura de inovação, que aprende com erros; empresas com funcionários melhores; empresas e pessoas mais comprometidas e responsáveis; pessoas que pensariam mais na coletividade e menos no “cada um por si” e os empreendimentos brasileiros iriam sobreviver mais. Para Ricardo Yogui, coordenador da pós-graduação em empreendedorismo, inovação e negócios do IBMEC-RJ, uma sugestão para contornar a demora legislativa é estabelecer mais pontes entre o ensino superior e a educação básica. É algo que já acontece do Massahusetts Institute of Technology (MIT): o instituto oferece cursos de verão sobre os fundamentos do empreendedorismo para estudantes do ensino médio, em uma iniciativa chamada MIT Launch. Outra ação que as escolas poderiam adotar é levar estudantes para conhecerem não apenas universidades, mas aceleradoras e espaços de coworking.

Fontes: O que o Brasil perde ao não ensinar a empreender na escola (Exame, 13 julho 2016). Avança inclusão do empreendedorismo em currículo escolar (Agência Senado, 21 julho 2016)

EVENTO

Nos dias 10 e 11 de agosto, o Centro Paula Souza promoveu seu 3º Simpósio dos Ensinos Médio, Técnico e Tecnológico (Semtec). O evento foi realizado na Fatec Sebrae. O encontro deste ano teve como tema o trabalho e a educação técnica e tecnológica no mundo contemporâneo. Com o objetivo de permitir a divulgação e o debate de estudos, práticas e reflexões dos professores e gestores das Etecs e Fatecs, o simpósio incluiu palestras e apresentação de artigos e pôsteres, alguns sobre educação empreendedora: “Uma experiência de educação empreendedora com os alunos do curso de Gestão Comercial na Fatec Itaquaquecetuba” de Priscila Balbina de Oliveira, “A educação profissional e o perfil empreendedor na formação do discente” de Evelin Finke Croce, “Simulação de mercado - prática didática para aliar a teoria à ação empreendedora” de Patricia da Silva e José Roberto Medeiros de Faria, “Introdução do empreendedorismo na educação profissional do Senai” de Moacir Aparecido Rossi.

Fonte: Centro Paula Souza promove 3º Simpósio dos Ensinos Médio, Técnico e Tecnológico (CPS, 11 agosto 2016).

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