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BLACK SABBATH

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Com mais de quarenta anos de história, o Black Sabbath revolucionou a história do rock dando o impulso inicial para a criação e propagação do heavy metal. Em quatro décadas de sucesso, a banda liderada por Tony Iommi tem seu reconhecimento em clássicos do metal como “Sabbath Bloody Sabbath” e “Paranoid”. O Sabbath teve vários integrantes, mas foi na voz e na figura excêntrica de Ozzy Osbourne que o grupo ganhou peso no cenário musical. Nesta biografia não autorizada, o leitor vai conhecer toda a trajetória da banda que tingiu o rock com tons mais obscuros e letras que falavam sem medo do mundo das trevas. Traz ainda a discografia completa, curiosidades e fotos sensacionais.

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BLACK SABBATH

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Universo dos Livros Editora Ltda.Rua do Bosque, 1589 • 6º andar • Bloco 2 • Conj. 603/606Barra Funda • CEP 01136-001 • São Paulo • SPTelefone/Fax: (11) 3392-3336www.universodoslivros.com.bre-mail: [email protected] no Twitter: @univdoslivros

© 2013 by Universo dos LivrosTodos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.

1ª edição – 2013

Diretor editorialLuis Matos

Editora-chefeMarcia Batista

Assistentes editoriaisCássio Yamamura

Raíça AugustoRaquel Nakasone

ColaboraçãoPedro Zambarda de Araújo

PreparaçãoRodolfo Santana

RevisãoAna Luiza Candido

Claudia Valeria Ortega

Arte e capaFrancine C. SilvaValdinei Gomes

Foto de capaPaul Bergen/Redferns

13- CDD 782.4216

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Angélica Ilacqua CRB-8/7057

B564 Black Sabbath – Biografia Ilustrada/elaborado pela equipe Universo dos Livros – São Paulo: Universo dos Livros, 2013.

184 p.

Bibliografia

ISBN: 978-85-7930-606-8

1. Black Sabbath (conjunto musical) - biografia 2. Rock 3. Música

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São Paulo2013

B I O G R A F I A I LU S T R A DABLACK SABBATH

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INTRODUÇÃO

CAPÍTULO 1QUE SE FAÇAM AS TREVAS!

CAPÍTULO 2DO PÓ AO ROCK, DO ROCK AO PÓ

CAPÍTULO 3

A INSTABILIDADE DOBLACK SABBATH E O SUCESSO DA

CARREIRA SOLO DE OZZY

CAPÍTULO 4OZZY, O RETORNO (?)

CAPÍTULO 5HEAVEN & HELL

ENFIM, BLACK SABBATH13

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INTRODUÇÃO

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8 Retrato de Ozzy Osbourne durante uma entrevista em Londres, em 1975.

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Eles eram pobres, esquisitos e fãs de Beatles. Surgiram em Bir-mingham, uma região operária da Inglaterra, e tingiram o rock com tons negros e obscuros após a overdose cultural trazida pelo

Flower Power e pelo movimento hippie.Ozzy, Geezer, Tony e Bill foram as quatro marcas vivas do Black Sabbath

e do rock’n’roll dos anos 1970. Tornaram-se os pais do heavy metal ao decidir que suas guitarras distorcidas e suas letras refletiriam temas densos, indo além de desilusões amorosas e dos hinos contra a Guerra do Vietnã que seus antecessores cantavam.

O Black Sabbath se transformou em uma banda que vendeu mais de 70 milhões de discos ao redor do mundo. Mesmo após quarenta anos de estrada, eles continuam promovendo turnês ao vivo e novos álbuns, como 13, lançado em 2013.

A banda definiu uma estética que consagrou os metaleiros de cabe-los compridos, roupas escuras e que cantam, sem medo algum, sobre o diabo, as trevas e a melancolia. O maior inimigo da carreira do Sab-bath não é o longo tempo de estrada ou a idade dos músicos, mas sim as intrigas internas que vivem separando a formação original.

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Ozzy Osbourne, por abusar de drogas e álcool, foi demitido pelos próprios amigos do Black Sabbath nos anos 1980 e decidiu se lançar em carreira solo. A empreitada foi um sucesso absoluto, e rendeu 100 milhões de discos vendidos. Mesmo assim, o cantor voltou a se reunir com seus antigos colegas em 1997. Atualmente, devido ao câncer do guitarrista Tony Iommi, Ozzy Osbourne decidiu unir esforços com o Sabbath entre 2012 e 2013 para a criação de novos materiais.

O Black Sabbath sobreviveu com outras formações além de Ozzy nos vocais. Ronnie James Dio transformou a banda em um novo fenômeno nos anos 1980. Mas, assim como seu antecessor, Dio descobriu que poderia fazer sucesso sozinho e também saiu da banda. O Sabbath teve uma breve contribuição de Ian Gillan, a voz do Deep Purple, e de Glenn Hughes, outro grande nome do hard rock.

A fase mais baixa do grupo foi com os vocalistas Ray Gillen e Tony Martin, sendo este último o segundo cantor que ficou mais tempo com o Sabbath, perdendo apenas para Ozzy. Eles não possuíam o mesmo carisma de seus antecessores, e a banda ficou sem o baixista Geezer But-ler e o baterista Bill Ward. Durante esses anos, entre 1987 e 1990, o Black Sabbath foi mantido por Tony Iommi, o guitarrista canhoto que tem dois dedos da mão direita parcialmente amputados.

Tony Martin tocou com o Sabbath entre 1993 e 1995. Nas décadas de 1990 e de 2000, a banda se reuniu com Ozzy e Dio. Entre 2006 e 2009, Dio transformou o Black Sabbath no projeto Heaven and Hell. Depois, o cantor descobriu um câncer no estômago e faleceu em 2010.

A morte de Dio serviu para reunir novamente Bill, Geezer, Ozzy e Tony. Três deles permaneceram juntos, mas o baterista brigou com os demais. Bill Ward se sentiu secundário no Black Sabbath, sem o devido crédito, mesmo com a reunião do grupo original. O baterista saiu, mas baixista, guitarrista e vocalista continuam levando a música do Sabbath ao mundo todo.

Hoje o Black Sabbath tem 45 anos de estrada. Eles são responsáveis por um rompimento sem precedentes no rock, tendo criado um sub-es-

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tilo completo: o metal. A história da banda é marcada por abuso de drogas e álcool, pela fama e por grandes concertos. As músicas vivem nos acordes estridentes com um fundo de tempestade da música “Black Sabbath”, e até na letra punk de “Paranoid”. “Heaven and Hell” mostra que o Sabbath existe muito além de Ozzy Osbourne.

A biografia do Black Sabbath é sobre quatro músicos de preto, sobre um grupo que se reinventou com as trocas dos integrantes e sobre uma mudança drástica – e permanente – no rock. Sabbath é a própria metamorfose de um estilo musical.

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CAPÍTULO 1

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14 Black Sabbath reunido, em janeiro de 1970.

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QUE SE FAÇAMAS TREVAS!

“Antes, eu estava mais interessado em ficar chapado e bêbado pra caralho do que fazer música. É fácil cair na armadilha de pensar: ‘Como vou criar sem uma garrafa de vodca ao lado?’. É uma falácia, porque você é viciado em substância e se engana, achando que, se tirar as substâncias, não consegue fazer.”1

Ozzy Osbourne.

Terence Michael Joseph Butler nasceu em 17 de julho de 1949 em Aston, na região metropolitana de Birmingham. Chamava todas as pessoas de “Geezer”, o nome que virou seu apelido aos oito

anos de idade. De acordo com o baixista, geezer era uma gíria para homens maduros na Inglaterra. No Reino Unido, também é uma palavra para designar homens velhos e excêntricos.

Geezer se tornaria conhecido por utilizar uma variedade de contra-baixos em sua carreira, desde o Fender Precision Bass até o Rickenbacker 4001. No entanto, ele mesmo afirma que nunca tinha experimentado um baixo elétrico até entrar no Black Sabbath. Ele sabia apenas tocar guitarra.

Em meados de 1967, Geezer Butler formou com Ozzy Osbourne uma banda chamada Rare Breed. O cantor conheceu o baixista após public-ar um anúncio em um jornal, que dizia: “ozzy zig precisa de uma banda. Vo-calista com experiência, possui um sistema de PA*. Lodge Road, núme-ro 14”. Ozzy recebia os interessados entre 18h e 21h, nos dias de

* Sigla para power am-plifier, termo em inglês para amplificador.

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semana. Não tinha telefone para atender porque sua família era muito pobre.

Ozzy Osbourne tinha sido preso após roubar uma televisão e queria fazer sucesso como cantor de rock depois de ter ouvido Beatles. Geezer já estava no Rare Breed, tocando guitarra, mas não tinha um cantor para completar a banda. “Você é... Ozzy Zig? Acabamos de perder nos-so vocalista”, disse Geezer Butler, ao se apresentar ao pretenso cantor. E Ozzy disse que já conhecia o som do Rare Breed. “Vocês são os caras com luzes estroboscópicas e com o cara hippie com bongôs ou algo assim, certo?”

O rock progressivo, com composições que fugiam da simplicidade de John Lennon e Mick Jagger no começo de suas carreiras, era a musi-calidade predominante da época, inspirada pelo uso abusivo de dro-gas sintéticas. Não era aquilo que Ozzy queria para ele, mas o Rare Breed foi a primeira oportunidade de sua carreira. No entanto, foi Gee-zer Butler quem aproveitou melhor essa banda principiante, nas pala-vras do próprio cantor: “Geezer tocava guitarra base no Rare Breed e não era ruim. Mas o mais importante era que ele tinha a imagem ade-quada, com o cabelo de Jesus e o bigode de Guy Fawkes*”.

“Não me pergunte de onde surgiu o ‘Zig’ em ‘Ozzy Zig’. Só surgiu na minha cabeça, um dia. Depois que saí da prisão, estava sempre pensan-do em novas formas de me promover como cantor. A chance de con-seguir era uma em um milhão – e mesmo assim eu era otimista. Eu faria qualquer coisa que pudesse me salvar do destino”, afirma Ozzy Os-bourne em sua autobiografia, ao conhecer o músico chamado Terence Michael Joseph “Geezer” Butler, em meados de 1960. O baixista, segun-do Ozzy, tinha o rosto idêntico à figura histórica de Guy Fawkes, com cabelos longos e barbicha chamativa. Fawkes inspirou, anos depois, o escritor Alan Moore na criação da graphic novel V de Vingança, história que criticou o governo inglês da primeira-ministra Margaret Thatcher.

* Fawkes (1570-1606) foi um conspirador

católico do Reino Unido que tentou detonar o Parlamento inglês na

famosa Conspiração da Pólvora, em 1605. Ele foi

condenado à morte e executado em Westmin-

ster, em Londres. Seu corpo foi esquartejado e

espalhado pela cidade.

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Ozzy não tinha consciência disso em 1967, tampouco o próprio Gee-zer, mas o visual com cabelos compridos e aparência extravagante se-ria fundamental para o sucesso deles nos anos seguintes.

Ozzy chegou a afirmar que não via problema em ser (ou tentar ser) o próximo Pink Floyd. Mas o cantor sabia que essa era uma banda de elite, ouvida por estudantes universitários de classe alta. Por mais que ele curtisse ouvir “Interstellar Overdrive” sob o efeito de drogas, Ozzy entendia que a sua música era o oposto daquilo.

*

Anthony Frank “Tony” Iommi era mais velho que Ozzy e Geezer. Nasceu no dia 19 de fevereiro de 1948, também na cidade operária de Birming-ham. Tony cresceu querendo tocar bateria, mas, pelo barulho, acabou escolhendo a guitarra elétrica. Foi influenciado por Hank Marvin, guitar-rista de Newcastle e integrante de uma banda chamada The Shadows.

Seus pais, Anthony Frank e Sylvia Maria Iommi, eram católicos, mas não muito praticantes. O pai de Tony nasceu no Reino Unido, segundo o próprio instrumentista, mas sua avó paterna teria nascido no Brasil, uma terra distante de Birmingham. Já a mãe Sylvia Maria tinha vindo da Itália, outro país tipicamente cristão. Dessas origens familiares, Tony Iommi herdou uma crença em Deus, mas sem filiação a nenhuma igreja.

Apesar de ser um profundo admirador de música pesada, Tony tinha medo do escuro quando pequeno e costumava dormir com uma lan-terna ou com alguma luz da casa acesa. Quando tinha entre oito e nove anos de idade, teve o lábio superior cortado quando brincava com o amigo Bobby Nuisance, em Bennetts Road. Por esse motivo, mais tarde, o jovem Tony passou a cultivar o famoso bigode.

A família de Tony era musical, visto que o pai e os tios tocavam acord-eão. Iommi afirma que seu sonho era ter um kit de bateria, mas sua casa não comportava tal equipamento (além de ser impossível tocar esse instrumento sem incomodar os que moravam com ele). Tocar

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acordeão era a solução para o menino que aos dez anos já se interessa-va por música.

Mais tarde, Tony Iommi ficaria conhecido por tocar com sua guitarra SG da marca Gibson,1que era pouco usada no começo dos anos 1970. Ele popularizaria o modelo nas cores vermelha e preta, principalmente.

Além do guitarrista do Shadows, Tony gostava de Beatles, Cliff Richard e um pouco de Elvis. Na opinião de Iommi, Cliff foi um músico muito maior no Reino Unido se comparado com Elvis Presley, que provocou um estouro de rock’n’roll nos anos 1950. “Eu conversei com Cliff algu-mas vezes em minha vida, mas nunca disse ao cara: ‘Sou um grande fã seu’”, confessou Tony em sua autobiografia.

Filho único, desde cedo Tony foi obrigado a trabalhar para ajudar no sustento da casa. Sofreu um acidente que mudaria sua vida aos dezessete anos, em 1965. O rapaz de Birmingham teria parte do dedo anelar e do dedo médio da mão direita arrancados por uma prensa de metal da fábrica onde trabalhava, justamente em seu último dia como empregado. Como Tony resolveu tocar guitarra, ele quase pen-sou em largar o instrumento.

“As coisas ocorreram tranquilas pela manhã. Depois de voltar do meu almoço, pela tarde, empurrei o pedal e a prensa caiu direto em minha mão direita. Os ossos dos meus dedos estavam expostos. Eu não con-seguia acreditar. Havia sangue em todo canto. O choque foi tanto que não doeu de cara.”2

Tony Iommi

Tony colocou próteses na mão e foi estimulado a ouvir um artista chamado Django Reinhardt, um guitarrista que tocava com os dedos, abusando do dedo médio e não utilizando tanto a palheta. O estilo do músico de jazz inspirou o compositor de Birmingham a utilizar seu in-strumento invertido, com a postura de um músico canhoto, mesmo

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sem ter parte dos dedos, e sem precisar se esforçar para tocar como um destro, como era comum na época.

“As pessoas dão crédito à perda dos meus dedos pelo som profundo e pela afinação diferente que trouxe ao Black Sabbath, que virou modelo para a maioria das músicas pesadas criadas a partir daquela época. Eu ad-mito que doía como o inferno tocar guitarra do jeito convencional com os ossos dos meus dedos, e eu tive que reinventar meu estilo de tocar para amenizar a dor. Nesse processo, o Black Sabbath começou a soar como nenhuma banda soava antes – ou a partir daquela época. Agora, se o heavy metal foi criado por causa dos meus dedos? Bom, isso é muito exa-gero”, disse Tony*. Para ele, sua guitarra ajudou a caracterizar a melodia do grupo, mas foi apenas isso.

Na época do acidente, Tony Iommi tocava em uma banda chamada Rockin’ Chevrolets, que começou em 1964 e acabou no ano seguinte. O grupo, que se inspirava em rock e blues, chegou a fazer sucesso no Reino Unido e a viajar para a Alemanha, forçando Tony a abandonar seu emprego como operário na Inglaterra.

Nessa banda, Tony tocava uma guitarra modelo Stratocaster, da mar-ca Fender. Ele ainda não planejava fazer um som pesado e nem sonha-va em ter sua SG vermelha. O instrumentista tinha uma guitarra elétri-ca básica para blues, com um amplificador Vox AC 30.

“Eu tinha 16 anos de idade [na época do Rockin’ Chevrolets]. Na minha mente, eles eram realmente profissionais. Eles conseguiam tocar as músicas do The Shadows perfeitamente e, porque a maioria dos caras era mais velho do que eu, eles faziam um bom rock’n’roll. Eu nunca fui um fã de Chuck Berry, Gene Vincent ou Buddy Holly, mas daquela forma eu conheci a música deles.”3

Tony Iommi

* Iron Man. Tradução para o português de trecho de “Introduction: The Sound of Heavy Metal”.

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O guitarrista tocou muito blues e aprendeu os primórdios do rock nessa primeira banda. Saindo do Chevrolets, Tony entrou em uma ban-da chamada The Rest, entre 1966 e 1967. Lá ele conheceu um baterista potente e cabeludo chamado Bill Ward. Em sua companhia, ele funda-ria o futuro Earth, que se tornaria o Black Sabbath.

*

Entre os nascimentos de Tony e Ozzy, veio William Thomas “Bill” Ward, no dia 5 de maio de 1948, também em Aston. Ele aprendeu a tocar bateria influenciado pela música dos anos 1940, ainda criança. Ouvia as batidas de Gene Krupa, Buddy Rich e Louie Bellson.

Bill conheceu Tony na banda The Rest, mas ficou pouco tempo com o guitarrista naquele grupo. Os dois decidiram participar de outra ban-da, chamada Mythology, entre 1967 e 1968. Nesse grupo, eles tiveram seus primeiros problemas com drogas.

No mês de janeiro de 1968, Tony Iommi entrou como guitarrista no Mythology. Um mês depois, em fevereiro, Bill Ward assumiu a bateria da banda. Em maio, eles foram detidos pela polícia por porte de resina de maconha. O processo rendeu uma multa de 15 libras e uma condi-cional para Bill, Tony e seus colegas de banda, Neil Marshall e Chris Smith.

O último concerto deles foi em 13 de julho, no Queen’s Hotel, em Silloth.

*

John Michael “Ozzy” Osbourne nasceu em 3 de dezembro de 1948 também em Aston. Aos catorze anos, se tornou fã de Beatles, um vício musical que levou para o resto da vida, e que sempre influen-ciou sua carreira e a trajetória do Black Sabbath. Na adolescência, era considerado maluco pelas garotas. Ou, em suas próprias pala-vras: “Não era exatamente um Romeu na escola”. Aos quinze, após

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problemas escolares, foi empurrado pelo pai para começar a tra-balhar. Foi assistente de obras, encanador, aprendiz de fábrica, afi-nador de buzinas de automóveis (que ele considerou como seu “primeiro trabalho na indústria musical”) e até funcionário de um matadouro de animais (um de seus trabalhos prediletos).

Desde pequeno, Ozzy odiava a escola. Ele lembra com trauma de seu primeiro dia de aula no Prince Albert Juniors, quando foi ar-rastado pelo colarinho aos prantos por não querer entrar. O garoto tinha dificuldade para ler e não tirava boas notas.

O apelido Ozzy Zig veio na escola primária e se tornou seu nome artístico, sendo que apenas sua primeira esposa, Thelma, o chamava pelo nome original: John.

Mesmo começando a trabalhar cedo, os empregos não impediram que Ozzy Osbourne tivesse um breve momento como ladrão de televi-sores. O cantor subiu com a TV em cima de um muro e caiu com ela sobre o próprio peito. Acabou preso.

“Meu pai sempre disse que eu iria fazer algo importante algum dia. ‘Sinto isso, John Osbourne’, ele me dizia, depois de algumas cervejas. ‘Ou você vai fazer algo muito especial ou vai acabar na cadeia’. E ele estava certo, meu velho pai. Fui parar na cadeia antes de completar 18 anos. Roubo – foi assim que acabei lá. Ou, como estava escrito no documento de acusação: ‘Invasão de domicílio e roubo de bens no valor de 25 libras’. O que equivale a umas 300 libras nos dias de hoje.”4

Ozzy Osbourne

Ozzy ficou preso por algumas semanas em Winson Green e saiu no in-verno de 1966. Lá, o jovem cortou os cabelos e tatuou o corpo, com medo de parecer muito feminino diante dos outros detentos e acabar sendo es-tuprado. Quando saiu da prisão, decidiu se dedicar à carreira de cantor.

Ao lado de Geezer Butler, Ozzy formou o Rare Breed, que fez apenas dois shows antes de desmanchar. Ao conhecer o baterista Bill Ward e o

* Técnica de extrair sons utilizando um pequeno cilindro de metal ou plástico no braço do instrumento.

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guitarrista Tony Iommi, o quarteto decidiu formar o Polka Tulk Blues Company. A banda tinha mais dois integrantes: o guitarrista de slide*

Jimmy Phillips e o saxofonista Alan “Aker” Clarke.Com mais dois shows, Aker e Jimmy foram demitidos. Ozzy, Tony e o

grupo rebatizaram a banda de Polka Tulk, apenas. Mas, mesmo com essa mudança, o nome não se fixou. Então eles a rebatizaram com o nome de Earth, mesmo com a rejeição quase instantânea que veio logo em seguida, em setembro de 1968.

“Nós tocávamos blues, como Ten Years After, e Fletwood Mac original. Tínhamos uma perua cheia de equipamento e íamos aos shows esper-ando que as outras bandas não conseguissem nada, o que aconteceu diversas vezes. Costumávamos tocar por dinheiro nenhum. Fazíamos recepções para casamentos.”5

Ozzy Osbourne,

Tony Iommi saiu temporariamente do Earth, em dezembro daque-le ano, para tocar guitarra no Jethro Tull em um show batizado de “The Rolling Stones Rock & Roll Circus”, com participação de John Len-non, Keith Richards, Mick Jagger, Yoko Ono e do The Dirty Mac, banda formada por Lennon, Eric Clapton, Mitch Mitchell e Keith Richards apenas para tocar uma jam nesse show.2

A saída de Tony foi recebida com espanto, desejos de boa sorte e tris-teza pelos amigos do Polka Tulk. Eles chegaram a ir a um bar para encher-am a cara. Segundo Ozzy, “só havia um Tony Iommi e sabíamos disso”.

Em dezembro daquele ano, o guitarrista voltou aos amigos Geezer, Ozzy e Bill. Ele queria ter um projeto original e fazer algo mais profundo além de tocar guitarra com John Lennon, Keith Richards ou Eric Clapton – homens até hoje considerados deuses do rock’n’roll. Sua volta foi re-cebida com alegria e espanto.

Tony disse que Ian Anderson (líder do Tull e a pessoa que entrou em contato com o guitarrista) era um cara divertido, mas que não provoca-

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va risadas como seus amigos de banda amadora. Um ano depois, em dezembro de 1969, desentendimentos com outra banda chamada Earth no Reino Unido forçaram os garotos de Birmingham a trocar de nome. Ou seria assim, ou eles seriam processados.

*

Tony Iommi, assim que saiu do Tull e voltou a se reunir com seus amigos, disse: “Olha, esqueça o nome. Só precisamos concordar que queremos algo sério. Não podemos ficar zoando. Vi como os caras do Jethro Tull trabalham. E eles trabalham: quatro dias de ensaio para um show. Precisamos começar a fazer isso”6. Quando o grupo de Ozzy deix-ou de ligar para o nome da banda, uma ideia boba surgiu e ficou. Um filme de terror de qualidade duvidosa iria inspirá-los.

A ideia do nome partiu do baixista Geezer Butler, que assistiu a um filme de terror de baixo orçamento chamado Black Sabbath, do diretor Mario Bava, originalmente lançado em 1963. O longa-metragem deu ideias para Tony Iommi, que resolveu comentar que não entendia como alguém podia assistir àquele tipo de produção: “Por que gastam dinheiro para ver coisas que dão medo? Talvez a gente devesse parar de fazer blues e começar a escrever músicas de medo”7, disse Tony. A pergunta do guitarrista ficou, e o nome “Black Sabbath” inspirou Bill e Ozzy a criarem uma música e a mudarem o direcionamento da banda.

O baixista Geezer teve um pesadelo naquele ano de 1969 com uma figura obscura perseguindo-o, como se fosse o próprio diabo. Ele e Ozzy acharam que aquela história resultaria em uma boa música, rece-bendo ajuda de Bill Ward. Tony Iommi contribuiu com o que aprendeu a fazer de melhor: frases na guitarra elétrica. Com um intervalo musical chamado trítono, Tony popularizou o que seria chamado de “timbre do demônio”, um tipo de sonoridade que havia sido banida pela Igreja Católica na Idade Média porque provocava medo nos fiéis.

As letras de Ozzy Osbourne, que narravam o desespero de Geezer Butler no pesadelo, contagiaram os ouvintes da música que consagrar-

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