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INSTITUTO DE INVESTIGAO E FORMAO AVANADA
VORA, 20 DE JUNHO DE 2013
ORIENTADOR: Professor Doutor Paulo Quaresma
Tese apresentada Universidade de vora
Para obteno do Grau de Doutor em
Cincias da Informao e Documentao
Paula Cristina Sousa Saraiva
REENGENHARIA DE ESPAOS, SERVIOS E COMPETNCIAS NAS BIBLIOTECAS
UNIVERSITRIAS DO SCULO XXI
BIBLIOTECAS FSICAS OU VIRTUAIS?
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BIBLIOTECAS FSICAS OU VIRTUAIS?
Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI
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La bibliothque en feu Vieira da Silva
As palavras no mudam a realidade. Mas ajudam-nos a pensar, a conversar, a tomar conscincia. E a conscincia, essa sim, pode mudar a realidade.
(Prof. Doutor Antnio Nvoa, 2012)
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BIBLIOTECAS FSICAS OU VIRTUAIS?
Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI
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Em memria da minha Me
Aida Sousa
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Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI
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AGRADECIMENTO
Quero manifestar em primeiro lugar o meu profundo agradecimento ao meu orientador, Prof. Doutor
Paulo Quaresma, pelo acompanhamento e orientao neste trabalho e pelo incentivo constante que
me impeliu sempre a prosseguir. Obrigado, por acreditar no meu trabalho e por me fazer acreditar
que era possvel chegar ao fim.
s bibliotecas e utilizadores inquiridos e aos responsveis das bibliotecas que me acolheram nas
visitas que efetuei, sem os quais este trabalho no seria possvel, pela pacincia em responder s
minhas questes e pela delicadeza com que me receberam.
Dra. Emlia Clamote, chefe de diviso aposentada da Biblioteca da Faculdade de Medicina de
Lisboa, pelo companheirismo e por tudo o que aprendi com ela nesta profisso de ser bibliotecria ao
longo da minha vida, por ser uma referncia sempre constante, um apoio permanente e um exemplo
de vida para mim.
A uma amiga e colega de profisso muito especial, Lgia Neto, por partilhar comigo, pensamentos,
textos, dvidas e anseios e por estar presente na minha vida sempre que eu preciso.
Dedico este trabalho memria da minha me e dos meus padrinhos Henrique e Iva, pois foi por eles
que eu continuei, honrando aquilo que sempre me ensinaram e o incentivo que sempre me deram para
que eu nunca desistisse de prosseguir viagem pelos caminhos da aprendizagem e do conhecimento.
Este trabalho a prova que as asas que me deram continuam abertas, voando nos trilhos desta vida
apesar da sua ausncia.
E por ltimo, porque so e sempre sero os primeiros, aos meus filhos Andr e Beatriz e ao meu
companheiro de viagem Joaquim, um obrigado muito especial por me permitirem continuar a voar e
por me apoiarem incondicionalmente, mesmo quando o tempo que lhes dediquei por vezes foi mais
curto que o desejvel e merecido. Agora com a misso cumprida, hoje o primeiro dia do resto da
nossa vida, para juntos vivermos a vida com novas experincias, outros voos e inmeros desafios.
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Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI
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RESUMO
O novo modelo de ensino-aprendizagem introduzido por Bolonha e a implementao de tecnologias
nas bibliotecas acadmicas, trouxeram mudanas profundas ao modo como o conhecimento
produzido e disseminado e conduziram necessidade de uma reengenharia de espaos, servios e
competncias, conferindo s bibliotecas um maior dinamismo e inovao nos servios que oferecem,
cada vez mais centrados nas necessidades reais dos seus utilizadores.
Este estudo, analisa as tendncias conjeturais centradas na triologia utilizadores/ bibliotecas/
tecnologias, recorrendo triangulao de dados, baseada na reviso de literatura, na realizao de
inquritos aos utilizadores e bibliotecas portuguesas e europeias e na observao de bibliotecas
atravs de visitas de estudo, anlise das homepages e planos estratgicos.
Os resultados obtidos, permitiram delinear um modelo de biblioteca acadmica inserida numa rede de
bibliotecas, demonstrando-se que a colaborao entre instituies e a integrao comum de servios
so essenciais para o desenvolvimento futuro destas estruturas acadmicas, produtoras e geradoras de
conhecimento.
Palavras-chave
Bibliotecas acadmicas Modelo; Bibliotecas Fsicas; Bibliotecas Digitais; Biblioteca 2.0; Biblioteca
3.0; Reengenharia de espaos; Competncias dos bibliotecrios; Redes de Bibliotecas
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Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI
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ABSTRACT
PHYSICAL OR VIRTUAL LIBRARIES?
Spaces, services and expertise reengineering in the university libraries of 21st century
The new teaching and learning model introduced by Bologna process and the implementation of
technologies in academic libraries, changed the way how knowledge is produced and disseminated
and have created within academic libraries, new needs of space reengeneering, new services and new
librarian skills that increased the offer of dynamic and innovating services with high level quality,
based on new technologies and user centered.
This study is focused in the library trends and based in the analysis of the triology: users / libraries /
technologies and applied as methodology, the data triangulation method, based on the literature
review, user survey / questionnaires to portuguese and european libraries and observation of libraries
in study visits and analysis of their homepages and strategic plans.
The results, brings to the light a new model for the academic library in 21st century embedded in a
network of libraries, showing us that collaboration between institutions and the integration of
services (shared services) are essential for the future development of these academic structures
responsible for producing and sharing knowledge.
Keywords
Academic Libraries Model; Physical Libraries; Digital Libraries; Library 2.0; Library 3.0; Library
Spaces; Librarian Skills; Library Networks
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Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI
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SUMRIO
NDICE DE FIGURAS ...
NDICE DE TABELAS...
NDICE DE GRFICOS....
SIGLAS
INTRODUO .
9
12
13
18
20
Captulo 1 Enquadramento terico e contextual .. 27
1.1. Da antiguidade era da sociedade da informao: breve histria das bibliotecas. 28
1.2. As bibliotecas universitrias como centros dinmicos de aprendizagem e modelo
colaborativo....
42
1.3 Tecnologias, utilizadores e bibliotecrios: atores da mudana nas bibliotecas
acadmicas ...
51
1.3.1. Perfil do utilizador das bibliotecas acadmicas 51
1.3.2. Profisso bibliotecrio: desafios e novos modelos de competncia nas
bibliotecas acadmicas....
58
1.3.3. Otimizao de tecnologias e suportes, facilitadores de comunicao entre
utilizador e biblioteca ....
68
1.4. Gesto e preservao de colees: ontologias, web semntica e curadoria de dados
....
88
1.5. Novos servios, novos espaos: reengenharia dos espaos nas bibliotecas acadmicas
e sua afirmao como local de convergncia de saberes, servios e suportes fsicos e
digitais...
105
1.5.1. A biblioteca sem fronteiras: servios de apoio ao utilizadores baseados em
novas tecnologias ..
105
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1.5.2. Reengenharia dos espaos nas bibliotecas acadmicas: exemplos de boas
prticas na arquitetura de bibliotecas...
125
Captulo 2 Metodologia de investigao.. 135
2.1.Mtodos de Investigao .
2.1.1. Anlise documental..............................................
136
137
2.1.2.Observao 139
2.1.3. Mtodo de investigao quantitativo.... 140
2.1.3.1 Inquritos por questionrio a bibliotecrios e a utilizadores de bibliotecas
acadmicas.....
140
2.2. Triangulao de mtodos ......
2.3. Norma bibliogrfica adotada.
141
142
Captulo 3 Apresentao e discusso de resultados .... 143
3.1. Apresentao dos resultados dos inquritos por questionrio dirigidos s bibliotecas
portuguesas e europeias.....
144
3.2.Observao das homepages das bibliotecas inquiridas..... 209
3.3. Interpretao dos planos estratgicos das bibliotecas acadmicas 211
3.4. Anlise das bibliotecas observadas em visita de estudo . 222
3.4.1.Casos de boas prticas selecionados no grupo das bibliotecas visitadas.
3.5. Apresentao dos resultados dos inquritos por questionrio dirigidos aos
utilizadores
226
243
3.6. Sntese dos resultados obtidos... 266
Captulo 4 Proposta de um modelo de biblioteca acadmica....
270
4.1. Definio do modelo de biblioteca acadmica . 271
4.2. Definio de um modelo para as redes de bibliotecas acadmicas.... 276
CONCLUSO.
282
BIBLIOGRAFIA. 290
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ANEXOS....
Anexo A Questionrio s bibliotecas portuguesas ......
Anexo A1 Questionrio s bibliotecas estrangeiras .....
Anexo B Questionrio aos utilizadores ...
Anexo1 Oramento das bibliotecas inquiridas .....
Anexo 1 a Oramento das Bibliotecas portuguesas disponvel para peridicos
impressos e para peridicos eletrnicos ...........
Anexo 1 b Oramento das Bibliotecas estrangeiras disponvel para peridicos
impressos e para peridicos eletrnicos ........
Anexo 2 - Transio das aquisies impressas para eletrnicas (questes 2.3.1. e
2.3.1.1.)...................................................................................................................................
Anexo 2 a Caso das bibliotecas portuguesas .
Anexo 2 b Caso das bibliotecas europeias .
Anexo 3 - Caracterizao do espao fsico ..
Anexo 3 a Caso das bibliotecas portuguesas ..
Anexo 3 b Caso das bibliotecas europeias..
Anexo 4 Anlise dos sites das bibliotecas inquiridas realizado em 2012 .........
Anexo 5 Anlise dos planos estratgicos de bibliotecas estrangeiras recolhidos em
2012.
Anexo 6 Matrizes de anlise das visitas a bibliotecas acadmicas .
320
321
333
344
351
351
351
352
352
352
353
353
354
355
364
372
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NDICE DE FIGURAS
Fig. 1: Ilustrao retratando o trio de entrada da Biblioteca de Ninve. 30
Fig. 2: ilustrao retratando a Biblioteca de Alexandria.. 31
Fig. 3: Fotografia da Biblioteca de Celso, fesus, Turquia. 31
Fig. 4: Jean Milot dans son scriptorium. 32
Fig. 5: Imagem da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra 33
Fig. 6: Merton College Library OXFORD. 33
Fig. 7: Fotografia da Bblia de Gutenberg. Cpia existente na Biblioteca do Congresso
EUA
34
Fig. 8: Imagem da Biblioteca Real do Palcio Nacional de Mafra... 35
Fig. 9: Obra pertencente ao acervo histrico da Faculdade de Medicina de
Lisboa.
35
Fig. 10: Ilustrao da Classificao da Biblioteca do Congresso USA. 36
Fig. 11: Imagem representando uma biblioteca hbrida 37
Fig. 12: Abordagem centrada no utilizador .. 54
Fig. 13: Quadro resumo de aptides e competncias do Euro-referencial ID . 61
Fig 14: Competncias dos bibliotecrios no sculo XXI ... 63
Fig.15: Diferenas entre culturas: Informticos e bibliotecrios ... 65
Fig.16: Evoluo tecnolgica das Bibliotecas. 68
Fig. 17:Perfil tecnolgico dos alunos ..... 76
Fig.18: Modelo conceptual de Academic Library 2.0 .... 78
Fig. 19: Contexto genrico da catalogao numa biblioteca ..... 89
Fig. 20: O tringulo da Information Retrieval. . 96
Fig. 21 Arquitectura da web semntica na perspectiva do consrcio W3C.. 97
Fig. 22: Modelo do ciclo de vida da Curadoria Digital . 104
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Fig. 23: Os percursos da Biblioteca Digital .... 107
Fig.24 : Computao em Nuvem . 111
Fig..25: Papeis na computao em nuvem .. 112
Fig.26: Sete pilares da literacia da informao .. 121
Fig. 27: Conceptualizao do CRAI ......
128
Fig. 28: Hunt Library NC State University .. 130
Fig 29: University of California, Los Angeles - The College Library Instructional
Computing Commons (CLICC) 131
Figura 30: Triangulao de metodologias definidas para o presente estudo 142
Fig. 31: Karolinska University Library: Plo de Huddinge e Plo de Solna... 226
Fig. 32: Estrutura orgnica da Karolinska University Library 227
Fig 33: Sistema self-service de emprstimos e devoluo de livros 231
Fig. 34: Plo de Solna: Cmara obscura 232
Fig. 35: Plo de Solna: rea recreativa: coleces escritas por mdicos/investigadores
do KI sobre literatura, culinria e hobbies.. 232
Fig. 36: Plo de Solna: Sala de leitura individual: isolada do som do corredor, por
paredes de vidro... 233
Fig.37: Plo de Solna: Salas de trabalhos de grupo. 233
Fig. 38: Plo de Solna: rea em open space com quiosques de computadores para
pesquisa no catlogo bibliogrfico 233
Fig. 39: Plo de Solna: Balco de atendimento e helpdesk isolado por vidro atrs do
balco 234
Fig. 40: Plo de Solna: Postos de pesquisa 234
Fig. 41: Plo de Huddinge: Vista geral do trio de entrada .. 234
Fig. 42: Plo de Huddinge: Zonas de trabalhos de grupo e postos pesquisa bibliogrfica.. 235
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Fig. 43: Plo de Huddinge: Postos de helpdesk e apoio a pesquisas bibliogrficas 235
Fig. 44: Plo de Huddinge: Salas de formao da biblioteca... 236
Fig. 45: Plo de Huddinge: Estantes em livre acesso com espaos para leitura informal e
sala de estudo individual.. 236
Fig. 46: Entrada principal da Central Library 238
Fig. 47: Internet Caf.. 239
Fig. 48: rea de trabalho de grupo tipo 1 denominado Think tanks 239
Fig. 49: rea de trabalho de grupo tipo 2 em espao aberto.. 240
Fig. 50: rea de trabalho de grupo tipo 3 em gabinete fechado e equipado com
computador e quadro 240
Fig. 51: Salas de estudo (quiet study) e estantes em open space.. 240
Fig. 52: Salas de Computadores denominados Computer cluster space. 241
Fig. 53: Mathematics Learning Centre.. 241
Fig. 54: Core text collection 241
Fig. 55: Servio de referncia. 242
Fig. 56: Espaos de leitura Informal 242
Fig.57: A evoluo do modelo de organizao da biblioteca acadmica. 272
Fig.58: Modelo de servios integrados de uma rede de bibliotecas acadmicas. 277
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NDICE DE TABELAS
Tabela 1: Modelo de ensino pr e ps Bolonha ... 46
Tabela 2: Metadata Dublin Core .. 73
Tabela 3: mbito dos elementos do formato Dublin Core 74
Tabela 4: Caractersticas da web. 3.0 ou web semntica .. 87
Tabela 5: Evoluo da Internet da Web 1.0 web 3.0... 94
Tabela 6: Modelos de servios de cloud computinge suas permisses de acesso. .... 112
Tabela 7: Servios da Z. Smith Reynolds baseados em Cloud Computing . 116
Tabela 8: Competncias e atitudes dos 7 pilares da literacia da informao 123
Tabela 9: Listagem de Bibliotecas universitrias estrangeiras participantes no inqurito 145
Tabela 10: Listagem de bibliotecas universitrias portuguesas participantes no inqurito 147
Tabela 11: Horrios praticados nas bibliotecas participantes no inqurito 153
Tabela 12: Tipologias do fundo documental das Bibliotecas. 161
Tabela 13: BIBLIOTECAS: Competncias dos profissionais de informao previstas no
Euro-referencial I-D Caso Portugus . 182
Tabela 14: BIBLIOTECAS: Competncias dos profissionais de informao previstas no
Euro-referencial I-D Caso Europeu. 184
Tabela 15: Anlise SWOT a trs tipologias diferentes de Bibliotecas Caso portugus. 204
Tabela 16: Anlise SWOT a trs tipologias diferentes de Bibliotecas Caso Europeu 206
Tabela 17:Servios disponibilizados pelas Bibliotecas que os utilizadores utilizam 247
Tabela 18: UTILIZADORES: Opinio sobre as competncias dos profissionais de
informao previstas no Euro-referencial I-D 260
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NDICE DE GRFICOS
Grfico 1: Ano de fundao das bibliotecas portuguesas e estrangeiras.. 149
Grfico 2: Tipologia das bibliotecas portuguesas e estrangeiras .. 150
Grfico 3: Tipologia dos utilizadores .... 150
Grfico 4: N de utilizadores nas bibliotecas. 151
Grfico 5: Adequao do horrio das bibliotecas.. 153
Grfico 6: Servios disponibilizados nas bibliotecas acadmicas. 154
Grfico 7: N de colaboradores nas bibliotecas 155
Grfico 8: Fundo histrico das bibliotecas (anterior ao sculo XVIII e obras raras)... 156
Grfico 9: Documentao intermdia das bibliotecas (do sculo XVIII a 1960) . 157
Grfico 10: Documentao corrente das bibliotecas (posterior a 1960) ... 158
Grfico 11: Colees de peridicos impressos das bibliotecas. 158
Grfico 12: Colees de peridicos eletrnicos das bibliotecas... 159
Grfico 13: N de bases de dados existentes nas bibliotecas. 160
Grfico 14: Tipologia dos suportes documentais... 162
Grfico 15: Postos de pesquisa disponveis nas bibliotecas.. 163
Grfico 16: Caso portugus: forma de disponibilizao da informao eletrnica e tipo de
acesso remoto. 164
Grfico 17: Caso portugus: forma de disponibilizao da informao eletrnica e tipo de
acesso remoto. 165
Grfico 18: Afluncia de utilizadores com a implementao do acesso VPN e Wireless. 165
Grfico 19: Tipo de recursos eletrnicos existentes nas bibliotecas..... 166
Grfico 20: caso Portugus: contedos eletrnicos mais consultados nas bibliotecas. 166
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Grfico 21: caso europeu: contedos eletrnicos mais consultados nas bibliotecas 167
Grfico 22: caso portugus: acesso aos contedos da B-ON e da Web of Knowledge 168
Grfico 23: caso europeu: acesso aos contedos da Web of Knowledge.. 168
Grfico 24: Acesso aos documentos eletrnicos vs. acesso aos documentos eletrnicos 169
Grfico 25: Processo de envio dos documentos para o exterior da biblioteca... 169
Grfico 26: Implantao da biblioteca... 170
Grfico 27: Remodelaes e reas das bibliotecas. 171
Grfico 28: N total de lugares nas salas de leitura 172
Grfico 29: Tipologia de espaos nas bibliotecas. 173
Grfico 30: Adequao do espao da biblioteca 174
Grfico 31: Mudanas desejadas para a biblioteca 175
Grfico 32: Dimenso da biblioteca no seu espao fsico v.s espao digital 176
Grfico 33: Caso portugus: necessidades diagnosticadas para a execuo de obras.. 177
Grfico 34: Caso europeu: necessidades diagnosticadas para a execuo de obras. 178
Grfico 35: Novas funcionalidades da biblioteca aps a execuo das obras.. 179
Grfico 36: Acesso distncia aos documentos em formato eletrnico v.s acesso aos
espaos fsicos da biblioteca. 180
Grfico 37: PORTUGAL: Competncias das equipas : Grupo I - Informao do Euro-
referencial I-D . 184
Grfico 38: EUROPA: Competncias das equipas : Grupo I - Informao do Euro-
referencial I-D .. 185
Grfico 39: PORTUGAL: Competncias das equipas : Grupo T - Tecnologias do Euro-
referencial I-D . 186
Grfico 40: EUROPA: Competncias das equipas : Grupo T - Tecnologias do Euro-
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referencial I-D 186
Grfico 41: PORTUGAL: Competncias das equipas : Grupo C - Comunicao do Euro-
referencial I-D 187
Grfico 42: EUROPA: Competncias das equipas : Grupo C - Comunicao do Euro-
referencial I-D 188
Grfico 43: PORTUGAL: Competncias das equipas : Grupo M - Gesto do Euro-
referencial I-D 189
Grfico 44: EUROPA: Competncias das equipas : Grupo M - Gesto do Euro-referencial
I-D .. 190
Grfico 45: Competncias essenciais das equipas no futuro face ais desafios da era digital. 191
Grfico 46: PORTUGAL: Aptides das equipas das bibliotecas atuais e futuras.. 192
Grfico 47: EUROPA: Aptides das equipas das bibliotecas atuais e futuras.. 193
Grfico 48: PORTUGAL: Na era digital os bibliotecrios sero substitudos por
informticos e acabar a biblioteca fsica.. 194
Grfico 49: EUROPA: Na era digital os bibliotecrios sero substitudos por informticos
e acabar a biblioteca fsica 195
Grfico 50: PORTUGAL: Modelo de biblioteca acadmica nos prximos 50 anos 197
Grfico 51: EUROPA: Modelo de biblioteca acadmica nos prximos 50 anos. 198
Grfico 52: Recursos disponibilizados nos sites das bibliotecas em 2012 209
Grfico 53: Servios divulgados nos sites das bibliotecas em 2012.. 210
Grfico 54: Representatividade das bibliotecas acadmicas estrangeiras com planos
estratgicos na Internet.. 213
Grfico 55: Abrangncia temporal dos planos estratgicos... 214
Grfico 56: Viso das bibliotecas.. 215
Grfico 57: Objetivos estratgicos das bibliotecas 216
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Grfico 58: Estudos prvios e inquritos aos utilizadores.. 216
Grfico 59: Aes a implementar pelos planos estratgicos.. 217
Grfico 60: Conceitos subjacentes s frases estratgicas... 217
Grfico 61: Espaos fsicos das bibliotecas visitadas 223
Grfico 62: Espaos virtuais das bibliotecas visitadas.. 223
Grfico 63: Recursos disponibilizados pelas bibliotecas visitadas 224
Grfico 64: Servios disponibilizados pelas bibliotecas visitadas 224
Grfico 65: Perfil dos utilizadores quanto idade e tipologia... 244
Grfico 66: Tipologia das bibliotecas frequentadas pelos utilizadores inquiridos 244
Grfico 67: Horrios das bibliotecas frequentadas pelos utilizadores... 245
Grfico 68: Adequao do horrio da biblioteca na perspetiva do utilizador 245
Grfico 69: Propostas alternativas aos horrios praticados pelas bibliotecas 246
Grfico 70: Comparao de respostas bibliotecrios v.s. utilizadores relativamente aos
horrios das bibliotecas 246
Grfico 71: Servios existentes na biblioteca 248
Grfico 72: Servios da biblioteca que o utilizador utiliza efetivamente...... 249
Grfico 73: Frequncia de utilizao da biblioteca por parte dos utilizadores que usam
VPN e Wireless.. 250
Grfico 74:Grfico comparativo relativo frequncia de utilizao do espao da
Biblioteca face utilizao de VPN e Wireless ... 250
Grfico 75: Contedos digitais disponibilizados pelas bibliotecas 251
Grfico 76: Contedos digitais que os utilizadores consultam... 252
Grfico 77: Diminuio do procura de documentos impressos com o acesso aos
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Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI
17
documentos eletrnicos.. 253
Grfico 78: Grfico comparativo da diminuio do procura de documentos impressos com
o acesso aos documentos eletrnicos. 253
Grfico 79: Espaos fsicos das bibliotecas. 254
Grfico 80 : Adequao do espao da biblioteca.. 254
Grfico 81: Mudanas que os utilizadores fariam nas bibliotecas 255
Grfico 82: Opinio relativamente utilizao do espao fsico se a biblioteca se tornasse
totalmente digital 256
Grfico 83: As bibliotecas digitais podero afastar os utilizadores e levar ao encerramento
das bibliotecas?.................................................................................................................. 256
Grfico 84: UTILIZADORES: Opinio sobre as competncias das equipas : Grupo I -
Informao do Euro-referencial I-D.. 261
Grfico 85: UTILIZADORES: Opinio sobre as competncias das equipas : Grupo T -
Tecnologias do Euro-referencial I-D . 262
Grfico 86: UTILIZADORES: Opinio sobre as competncias das equipas : Grupo C -
Comunicao do Euro-referencial I-D.. 263
Grfico 87: UTILIZADORES: Opinio sobre as competncias das equipas : Grupo M -
Gesto do Euro-referencial I-D. 263
Grfico 88: UTILIZADORES: Opinio sobre as competncias essenciais das equipas no
futuro face aos desafios da era digital 264
Grfico 89 : UTILIZADORES: Opinio sobre as aptides das equipas das bibliotecas
atuais e futuras 265
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Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI
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SIGLAS
ACRL- Association of College and Research Libraries
ALA American Library Association
APDSI Associao para a Promoo e Desenvolvimento da Sociedade da Informao
API - Application Programming Interface
ARL Associatiom of Research Libraries
B-ON Biblioteca do conhecimento Online
CILIP Council on Libraries and Information Resources
CRAI Centro de Recursos para la Aprendizage y la Investigacin
DC Dublin Core
ECTS - European Credit Transfer and Accumulation System
EEES Espao Europeu de Ensino Superior
EEI Espao Europeu de Investigao
FCT Fundao para a Cincia e Tecnologia
FTP File Transfer Protocol
HEFCE - Higher Education Funding Council for England
HTML - HyperText Markup Language
IaaS Infrastructure as a Service
IFLA- International Federation of Libraries Association and Institutions
ILS Integrated Library System
IM Instant Messaging
JISC Joint information Systems Committee
NLM National Library of Medicine
OAIS Open Archive Information System
OCLC Online Computer Library Center
OIL Ontology Inference Layer
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Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI
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OWL Web Ontology Language
PaaS Platform as a Service
RCAAP Repositrio Cientfico de Acesso Aberto em Portugal
RDF - Resource Description Framework
REST - Representational State Transfer
RSS Real Simple Syndication
SaaS Software as a Service
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BIBLIOTECAS FSICAS OU VIRTUAIS?
Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI
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INTRODUO
Vieira da Silva
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BIBLIOTECAS FSICAS OU VIRTUAIS?
Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI
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DELIMITAO DO TEMA
Learning is changing in the 21st century. Technologies used in learning, such as interactive
whiteboards, personal learning environments, wireless networks and mobile devices, plus the
internet and high-quality digital learning resources and the ability to access many of these
from home and the workplace are altering the experiences and aspirations of learners.
(Higher Education Funding Council for England [HEFCE], 2006)
A emergncia da sociedade da informao centrada nos avanos tecnolgicos e na inovao,
imprimiu um maior dinamismo e transformaes profundas no seio das bibliotecas acadmicas,
possibilitando entre outras mudanas, o desenvolvimento de contedos e colees digitais a par da
oferta de novos servios de alta qualidade, baseados no uso de novas tecnologias emergentes que
permitem aos utilizadores, obterem a informao cientfica que necessitam com maior rigor, rapidez
e eficcia, e se assim o entenderem, sem terem que se deslocar fisicamente s suas bibliotecas. Nas
ltimas dcadas, emergiram gradualmente as bibliotecas digitais e os servios virtuais de referncia,
facto que obrigou reflexo por parte dos bibliotecrios, sobre as novas necessidades de redefinirem
e adaptarem os seus espaos fsicos e virtuais, de modo a que se tornem simultaneamente rentveis
para as suas instituies, mas ao mesmo tempo funcionais e apelativos para os utilizadores, que
assumem agora duas facetas: os que procuram um espao fsico onde possam trabalhar, pesquisar,
socializar e interagir e os que por condicionalismos de localizao e de rentabilizao do seu tempo,
necessitam de aceder aos recursos da sua biblioteca distncia.
Para alguns, as bibliotecas virtuais substituiro gradualmente as bibliotecas fsicas, outros, defendem
a emergncia de um novo modelo para as bibliotecas acadmicas, o que sugere um equilbrio entre o
mundo fsico e o digital em contexto hbrido tornando-se consensual a ideia, de que quer o espao
fsico, quer o virtual, cumprem funes diferentes face s necessidades tambm dspares dos
utilizadores, detentores de perfis tambm diferentes e que neste contexto de hibridez podero ver
mais personalizada e adequada ao seu perfil a satisfao das suas necessidades de informao.
O presente estudo emergiu da discusso em torno de um conceito-chave: Library as place
apresentado pela primeira vez no Symposium de Bethesda, patrocinado pela National Library of
Medicine em 2003 (NLM, 2005) e desenvolvido num estudo em 2005 pelo Council on Libraries and
Information Resources, (CILIP, 2005), onde se discutia o futuro das bibliotecas, a reengenharia de
espaos e a influncia cada vez mais vincada das novas tecnologias no seio das bibliotecas.
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Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI
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sabido, que todas as transformaes tecnolgicas, de gesto e marketing dos servios e de novos
procedimentos no tratamento documental, conduziram a um novo redimensionamento, alterao e
reformulao dos espaos fsicos, no seio das bibliotecas, conforme os novos servios prestados e as
necessidades de novos grupos de utilizadores. Quer na anlise de literatura cientfica produzida
acerca da temtica, quer pelas experincias partilhadas mundialmente pelos bibliotecrios, notria
uma tendncia comum, em que se afirma que a biblioteca virtual no ir nunca conseguir substituir a
biblioteca fsica, por mais que essa fosse uma conjuntura muito ambicionada pelos gestores e
administradores das instituies, lutando com dificuldades de gesto global de espaos e servios nas
instituies. Haver sim, a redefinio de espaos. Vejamos como exemplo, o caso de uma instituio
acadmica que decide fechar a sua biblioteca, pois os recursos passaram a estar disponveis a
qualquer hora e qualquer lugar atravs da Internet. Existem duas condies importantes que no
devem ser ignoradas: a primeira que sendo uma escola, tero sempre que proporcionar aos seus
alunos espaos onde estes se possam dirigir, ligar o seu porttil, em modo wireless, ou no, solicitar
apoio especializado para proceder corretamente s pesquisas e onde se possam concentrar no seu
trabalho individual ou em grupo. Ora, se no existir biblioteca como espao fsico, restar aos alunos,
tentarem concentrar-se nos seus estudos, em espaos pblicos e desadequados (ainda que com
wireless) como o jardim da instituio ou mesmo, um qualquer bar ou refeitrio, pois por vezes
mesmo nas suas casas no tm condies econmicas para aceder Internet. A segunda condio
que a introduo de novas tecnologias, novas bases de dados e novos equipamentos, iro conduzir os
utilizadores ao balco da biblioteca, para pedir frequentemente suporte na parametrizao de
equipamentos e formao para aprenderem a potenciar as suas pesquisas nos novos recursos. Assim,
continuam a ser necessrios espaos fsicos para pesquisa, trabalho individual e de grupo e para
suporte, formao e tambm socializao.
No simposium de Bethesda, patrocinado pela National Library of Medicine em 2003 e intitulado
The library as place: building and revitalizing health sciences library in the digital age (National
Library of Medicine [NLM], 2005), reafirmou-se a ideia de que as bibliotecas iro permanecer na era
digital, porm com uma reorganizao de espaos e recursos tcnicos e humanos e funcionando como
facilitadoras da comunicao. Esta reorganizao conduzir nesta perspetiva a:
Mais espaos de interao da biblioteca com os utilizadores, destinados a suporte tcnico e
formao de utilizadores;
Espaos com controlo de rudo, para trabalhos e leituras individuais e espaos mais dinmicos
e interativos destinados a trabalhos de grupo;
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Espaos pblicos atrativos e funcionais;
Disponibilidade permanente de equipas de biblioteca bem formadas e peritas em responder
com celeridade aos problemas tcnicos e tecnolgicos bem como auxiliando na pesquisa de
informao.
A representante da Biblioteca do Congresso, no Symposium de Bethesda, Deena Marcum,
afirmou nessa ocasio que:
Place is very important. (...) since antiquity, libraries and information media, have survived
together and that although entire libraries now can be put on a disk, physical libraries will still be
needed because they connect learners with learning, link knowledge seekers with librarian-guides,
serve as repositories of scholarly information, provide spaces for scholars to congregate and spur
incubation of new methods of information sharing and distribution. (NLM, 2005)
Tambm no mesmo Symposium de Bethesda, Eugene Prime da Hewlett-Packards menciona uma
tentativa falhada de implementao de uma biblioteca virtual na empresa que correspondesse a
todas as necessidades dos seus empregados:
I was wrong! (..) The role of libraries is to restore the sense of place because more and more, people
are coming together to think, dream and work, you cannot have a world-class organization without a
world-class library. Libraries built communities of practice where disciplines come together and
things happen. (NLM, 2005)
MOTIVAO PARA A ELABORAO DO ESTUDO
Learners have been shown to benefit academically from social interaction with their peers.
Open-plan informal learning areas provide individualised learning environments which also
support collaborative activities, and they can often be created from previously underutilised
spaces (...). If we are to foster truly flexible, creative and adaptable minds, we need to look
more critically at the extent to which learning space design promote innovative ways of
thinking. (HEFCE, 2006)
A motivao para a elaborao deste estudo, est relacionada com o eclodir de mudanas quase a um
ritmo vertiginoso no seio das bibliotecas, que o impacto dos novos ambientes de ensino-
aprendizagem baseados na implementao de novas tecnologias, vieram proporcionar.
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Assim, mudam os ambientes de aprendizagem, mudam tambm as necessidades dos utilizadores em
termos de acesso a novos servios, sobretudo os de acesso distncia e que condicionaro
necessariamente as bibliotecas a terem que repensar a mdio prazo na reengenharia dos seus espaos,
dos seus servios e das competncias das suas equipas, de forma a melhor se adaptarem e
sobreviverem s transformaes impostas pela sociedade da informao. Este condicionalismo,
conduz-nos a outro tipo de reflexes no mbito das bibliotecas universitrias (espaos por excelncia
do ensino e da investigao), sobre o modelo futuro das bibliotecas acadmicas. Qual o melhor
modelo para as bibliotecas universitrias tendo em conta a emergncia das tecnologias e contedos
digitais e as novas necessidades dos utilizadores? O modelo ser fsico ou virtual? ou em alternativa,
evoluir-se- para uma coexistncia pacfica entre fsico e digital em contexto hbrido? Iro as
bibliotecas fsicas desaparecer face aos avanos das tecnologias que permitem ao utilizador recorrer a
bibliotecas digitais sem ter que se deslocar universidade? O que pensam os bibliotecrios e os
utilizadores da informao sobre esta problemtica?
A par desta realidade comearam a surgir nos ltimos 5 anos, sobretudo nos EUA, debates em
congressos e seminrios e em literatura da especialidade, em torno do conceito: Library as place,
que defende a teoria que as bibliotecas (sobretudo as acadmicas) nunca podero prescindir dos seus
espaos fsicos se quiserem corresponder s reais necessidades dos seus clientes os utilizadores.
Existir porm, uma necessria reengenharia de espaos que permitir s bibliotecas e aos
bibliotecrios continuarem a fornecer novos servios e a desenvolverem competncias de modo a
cumprirem a sua misso com excelncia, adaptando-se positivamente s transformaes da ltima
dcada. A explorao deste conceito, de modo a chegar a algumas respostas mais concretas sobre
estas questes, esto na base da motivao para a elaborao deste estudo.
DEFINIO DA PROBLEMTICA DE ESTUDO
A problemtica para a elaborao deste estudo, adveio da experincia de trabalho da doutoranda em
bibliotecas acadmicas, onde a informao cientfica est constantemente a ser atualizada,
recorrendo-se para isso ao acesso a potentes bases de dados que permitem fornecer informao
pertinente e credvel a toda a comunidade acadmica. Por outro lado, alguns utilizadores so
autnomos na pesquisa de informao e requerem com frequncia o acesso informao contida na
biblioteca virtual, a partir de suas casas (atravs de VPN Virtual Private Network).
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Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI
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Os bibliotecrios so constantemente confrontados com as seguintes questes: iro as bibliotecas
fsicas ser suplantadas pelas bibliotecas digitais? Que reengenharia de espaos ser necessria para
cativar continuamente os utilizadores motivando-os para no deixarem de frequentar a Biblioteca?
Em que sentido, devero as bibliotecas acadmicas evoluir para continuarem a ser determinantes na
vida acadmica dos seus utilizadores, chamando-os para os seus espaos? Estar a profisso de
bibliotecrio em risco, suplantada por novas profisses na rea da informtica? Que novos servios
podero oferecer os bibliotecrios e que competncias tero que desenvolver para continuarem a
evoluir com as novas tendncias tecnolgicas, provando simultaneamente o seu valor e a necessidade
de manterem os espaos fsicos em funcionamento?
Quando inicimos o nosso estudo, pensmos restringi-lo apenas s bibliotecas universitrias.
Posteriormente, verificmos que incluindo as restantes bibliotecas do ensino superior,
conseguiramos obter resultados mais abrangentes de uma realidade global em mudana sujeita s
novas regras ditadas pelo processo de Bolonha e dada a disponibilidade e interesse que estas
bibliotecas demonstraram em participar neste trabalho de investigao, decidimos alargar o mbito e
abrangncia da nossa investigao..
DEFINIO DE OBJETIVOS
So objetivos deste estudo:
a) Contribuir para uma reflexo mais aprofundada sobre o modo como as bibliotecas acadmicas
evoluiro neste sculo XXI, em termos de servios, tecnologias, competncias e redefinio
de espaos de modo a cativarem e manterem o seu pblico-alvo.
a) Avaliar se os bibliotecrios e utilizadores de bibliotecas do ensino superior tm alguma noo
prpria, sobre o modo como estas evoluiro no futuro.
b) Com base na metodologia proposta (reviso da literatura, inquritos dirigidos aos utilizadores
e s bibliotecas acadmicas, anlise de websites, planos estratgicos e visitas s bibliotecas),
propor um modelo de biblioteca acadmica adequado aos resultados obtidos neste estudo e
que seja aplicvel numa perspetiva futura s bibliotecas, enquanto organismos isolados ou
enquadradas numa rede de bibliotecas.
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CONTRIBUIES PREVISTAS
Pretende-se que este estudo contribua para a clarificao e definio de um modelo de biblioteca
acadmica neste incio de sculo XXI, onde se entrecruzam espaos e servios tradicionais e virtuais,
gerando no seio dos bibliotecrios novas competncias que possam dar resposta s novas imposies
decorrentes deste contexto hbrido. tambm nosso intuito, contribuir para uma discusso mais
consciente e baseada na reviso de literatura pertinente, sobre a questo da evoluo dos espaos das
bibliotecas num mundo em que o digital se impe e os contactos entre os indivduos se fazem cada
vez mais distncia com recurso utilizao de novas tecnologias.
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CAPTULO 1 - ENQUADRAMENTO
TERICO E CONTEXTUAL: A
REVISO DA LITERATURA
Vieira da Silva
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1.1. DA ANTIGUIDADE ERA DA SOCIEDADE DA INFORMAO: BREVE HISTRIA
DAS BIBLIOTECAS
A Biblioteca existe ab aeterno. Dessa verdade, cujo corolrio imediato a eternidade futura do
mundo, nenhuma mente razovel pode duvidar. O homem, o bibliotecrio imperfeito, pode ser
obra da sorte ou dos demiurgos malvolos; o universo, com sua elegante dotao de prateleiras, de
tomos enigmticos, de escadas infatigveis para o viajante e de latrinas para o bibliotecrio
sentado, somente pode ser criao de um deus () suspeito que a espcie humana - a nica - est
por extinguir-se e que a Biblioteca perdurar: iluminada, solitria, infinita, perfeitamente imvel,
armada de volumes preciosos, intil, incorruptvel, secreta. (Borges, 2009)
Para Jorge Lus Borges, a Biblioteca era a representao do universo, o incio e o fim das coisas e a
ordenao perfeita dos saberes que geram conhecimento. Assim, a Biblioteca infinita, nunca
acabar e atravessar todos os tempos, sofrer mutaes, mas estar sempre presente na vida humana
pois o bero e simultaneamente, guardi e transmissora do saber inteligvel. Assim, nunca poder
extinguir-se, mas antes perdurar para alm da existncia humana, porque o conhecimento ainda que
em constante transformao, tambm infinito.
De fato, as bibliotecas tm tido atravs dos tempos uma presena forte na sociedade, funcionando
como centro do saber e do conhecimento e ponto de ligao entre a cincia, o progresso e a evoluo
da humanidade.
Assim, para Virgil (2007), a Biblioteca de Babel de Jorge Lus Borges,
Apresenta um retrato da sociedade da informao (e no apenas do ciberespao) sob vrios aspectos:
A sociedade da informao estrutura-se em rede, com ligaes que apontam infinitamente para
outros conectores, numa forma de comunicao de todos e para todos. A possibilidade de se
efetuarem conexes com todos os pontos da rede, contudo, no permite que se tenha uma viso geral
do contexto que a rede assume. () A sociedade da informao a cultura do virtual. A virtualidade
desempenha um papel importantssimo, uma vez que responsvel pela criao de uma supra
realidade que quebra duas limitaes existentes no passado: o espao e o tempo. Obviamente, a
superao dessas duas barreiras cria a mobilidade, uma forma gil de preservar-se contra o que se
constitui uma ameaa. No entanto, a mobilidade s tem valor quando se tem poder sobre os estoques
de informao (). A sociedade da informao alienante. Existe uma tendncia natural utilizao
de metalinguagens para configurar meta-informaes. Toda a forma de criptografia ou de regras, no
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claras e definidas se revela uma maneira perversa de dominao. A tecnologia tambm atua como
meio condicionante (p.11-12).
H ento, subjacente ao conceito de Biblioteca, o carter eterno, cclico mas de perenidade e de
cumplicidade entre o mundo fsico e o virtual, sendo ambos indispensveis sociedade do
conhecimento.
Por conseguinte, falar da histria das bibliotecas no dever ser apenas um mero enumerar de dados
cronolgicos que se sucedem, nem de confinar a sua misso, definio tradicional do conceito
segundo a terminologia grega (Bibliothk que significa depsito de livros), mas antes um exerccio
de evidenciar as mudanas e tendncias que ao longo da histria estiveram subjacentes ao evoluir do
conhecimento e sua transformao, desde o ato simples na antiguidade, de registar na pedra de
argila os clculos do dia-a-dia, as histrias e as memrias e de as guardar em lugar seguro (a
Biblioteca) para prova e transmisso futura, at ao plano digital que se vive atualmente na sociedade
da informao, mas que continua a valorizar a biblioteca, simultaneamente, como fonte difusora do
saber, quer em forma fsica, quer digital, mas tambm como entidade que preserva a memria do
passado.
Deste modo, as bibliotecas atualmente, no so meros repositrios guardies do saber, mas so
sobretudo, centros difusores do conhecimento humano e gestores da informao nos mais diversos
tipos de suporte (fsicos e digitais) e utilizando os mais diversos equipamentos (fixos ou mveis).
A evoluo a que assistimos nas bibliotecas marcante e sofreu transformaes profundas ao longo
das pocas, desde as primeiras bibliotecas da antiguidade, ditas minerais, pois os acervos eram
constitudos por placas de argila e que comearam por aparecer na regio da mesopotmia em 5000
a.C., evoluo para um tipo de organizao como a biblioteca de Assurbanipal (em Nnive), que
consistiu na primeira biblioteca sistemtica e organizada com um acervo de cerca de 30.000
exemplares em vrias reas do conhecimento humano) passando pelas bibliotecas egpcias
constitudas por suportes vegetais (documentos em suporte de papiro), clebre biblioteca de
Alexandria j no perodo helenstico (sc. III a.C.), tambm organizada em rolos de papiro e
passando ainda pelas bibliotecas em pergaminho (de matria animal). As bibliotecas passaram
sistematicamente de repositrios do saber, mantidos exclusivamente nas mos das elites sociais
(nobreza e clero), para uma maior liberalizao do acesso aos documentos, a partir da fundao das
universidades nos sculos XII e XIII (com o objetivo primordial de apoiar o ensino e a investigao)
e sobretudo aps 1455, com a inveno da imprensa por Gutenberg.
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Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI
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As bibliotecas enquanto instituio, passam assim por vrias mudanas cclicas na histria e esto
tambm ligadas ao tipo de organizao poltica e social da poca, destacando-se os seguintes
perodos histricos, muitos deles percursores da realidade existente ainda hoje nas bibliotecas:
a) As Bibliotecas enquanto repositrios do saber, guardis da memria humana (Mesopotmia,
Sumria, Nnive) onde o conhecimento e o saber so sinnimo de poder, aparecendo com
Assurbanipal em Nnive, a primeira tentativa de classificao e organizao temtica.
Fig. 1: Ilustrao retratando o trio de entrada da Biblioteca de Nnive. In: Ninve Livraria (2010, 24
de maio). Porqu Ninve? (blogue). Disponvel em: http://livrariadasede.blogspot.pt/2010/05/livraria-da-
sede.html
b) Na Grcia clssica e helenstica, as bibliotecas so repositrios do saber, mas tambm espaos
sociais para discusso e partilha de ideias entre letrados, onde o aparecimento pela primeira vez
do conceito de democracia, conduz ao gosto pela partilha de saberes (biblioteca de Atenas e
biblioteca de Alexandria). O caso da Biblioteca de Alexandria, de facto notvel com o seu
objetivo de reunir num s espao, uma biblioteca com todos os livros e todo o conhecimento, de
todos os povos da terra. Assim, neste caso, o conceito de universalidade est bem presente. J a
sua rival, a Biblioteca de Prgamo, ter tido um acervo documental estimado entre duzentas a
trezentas mil obras, o qual ter sido doado em 30.a.C. a Alexandria, por Marco Antnio, como
prenda a Clepatra.
http://livrariadasede.blogspot.pt/2010/05/livraria-da-sede.htmlhttp://livrariadasede.blogspot.pt/2010/05/livraria-da-sede.html
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Fig. 2: Ilustrao retratando a Biblioteca de Alexandria. In: Um mundo de letras (2001, 28 de Dezembro).
Curiosidade: biblioteca de Alexandria reuniu o maior acervo da antiguidade (blogue). Disponvel em:
http://blogs.mundolivrefm.com.br/mundodeletras/2011/12/28/curiosidade-biblioteca-de-alexandria-reuniu-o-
maior-acervo-da-antiguidade/
c) No Imprio Romano, as bibliotecas surgem como um instrumento poltico de domnio intelectual,
sob a forma das primeiras bibliotecas pblicas do imprio romano em 30 d.C. Eram por outro
lado, smbolo de poder e prestgio de uma minoria pertencente elite social que no l os livros
apenas os coleciona, sucedendo neste perodo o apogeu das bibliotecas particulares.
Fig. 3: Fotografia da Biblioteca de Celso, Efsus, Turquia. Fotografia de Djenan Kozic, disponibilizada na
Wikipedia com a licena wikimedia commons, a 21 de Junho de 2007, em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Celsiuslibrary-DK.JPG
http://blogs.mundolivrefm.com.br/mundodeletras/2011/12/28/curiosidade-biblioteca-de-alexandria-reuniu-o-maior-acervo-da-antiguidade/http://blogs.mundolivrefm.com.br/mundodeletras/2011/12/28/curiosidade-biblioteca-de-alexandria-reuniu-o-maior-acervo-da-antiguidade/http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Celsiuslibrary-DK.JPG
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d) Na alta idade mdia, as bibliotecas passam novamente a viver um ciclo de retrocesso, com a
instabilidade poltica vivida no fim do Imprio Romano, sendo que as obras que escapam
destruio, permanecem enclausuradas nos conventos, onde apesar da dificuldade de acesso
informao, os monges copistas nos seus scriptoria, prosseguem o esforo de reproduo das
obras e so percursores de uma forma rudimentar de emprstimo interbibliotecas, fazendo
circular as cpias das obras entre os mosteiros. Mais tarde, o perodo de inquisio, censura e
extino das ordens monsticas, marcaram novamente, um retrocesso na histria das bibliotecas
pela destruio massiva de acervos, que constituam repositrios nicos do pensamento humano
atravs dos tempos.
Fig. 4: Jean Milot dans son scriptorium. In : Miracles de Notre Dame, inventrio Fr 9198, f.19. Bibliothque
Nationale de France e disponibilizado na wikipedia, com a licena wikimedia Commons, a 9 de janeiro de
2006, em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_das_bibliotecas
e) O aparecimento das universidades, marca o incio da circulao da informao cientfica, da
partilha do conhecimento entre os que frequentam as universidades e o aumento da produo
literria e cientfica, o que conduz a uma maior abertura das bibliotecas que se tornam centros de
partilha e circulao de informao cientfica em permanente atualizao e transformao e
tambm locais de estudo e reflexo.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_das_bibliotecas
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Fig. 5: Imagem da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra. In: Internet Nations (s.d.). Bibliotecas no
mundo (blogue). Disponvel em: https://sites.google.com/site/internetnations/Home/bibliotecas-pelo-mundo
A par da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra em Portugal, outra das mais antigas
bibliotecas ainda em funcionamento nos dias de hoje, a Biblioteca de Merton College na
Universidade de Oxford e que remonta a 1276, cujo acervo foi enriquecido com o contributo pessoal
dos alunos, que foram convidados pelo Arcebispo de Canterbury, a deixar os livros que traziam com
eles ou que adquiriram durante o seu percurso acadmico na Universidade (Normans, 2004-2013):
Fig. 6: Merton College Library OXFORD. In: Normans , J (2004-2013). The World's Oldest Continuously
Functioning Library for University Academics and Students" (1276). From cave paintings to the internet:
chronological and thematic studies on the history of information and media (website). Disponvel em:
http://www.historyofinformation.com/expanded.php?id=2267
https://sites.google.com/site/internetnations/Home/bibliotecas-pelo-mundohttp://www.historyofinformation.com/expanded.php?id=2267
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Clark, (1901), afirma que as bibliotecas universitrias distinguem-se das demais, ao provocarem no
ser humano um sentimento de associao. E este sentimento, pode ser entendido como associao ao
passado, numa espcie de viagem no tempo, onde o leitor de hoje ao partilhar os mesmos espaos e
ler as mesmas obras, que os grandes mestres de outrora leram, est a associar-se a essa mesma
dimenso do conhecimento e em termos mais latos, se pensarmos que a biblioteca universitria um
espao de associao entre seres humanos, para alcanarem juntos, partilhando saberes, novos
patamares no desenvolvimento da investigao cientfica:
When we enter the library of Queens' College, or the older part of the University Library, at
Cambridge, where there has been continuity from the fifteenth century to the present day, are we not
moved by feelings such as I have tried to indicate, such in fact as moved John Leland when he saw
the library at Glastonbury for the first time? Moreover, there is another sentiment closely allied to
this by which members of a College or a University are more deeply moved than others I mean
the sentiment of association. The most prosaic among them cannot fail to remember that the very
floors were trodden by the feet of the great scholars of the past; that Erasmus may have sat at that
window on that bench, and read the very book which we are ourselves about to borrow (p. 318)
f) A inveno da imprensa por Gutenberg, marca a par das universidades, a revoluo do livro na
Idade Moderna e o ponto de viragem para uma maior liberalizao do acesso informao, com a
reproduo e distribuio das obras em larga escala e a sua exportao para a Europa e resto do
mundo.
Fig. 7: Fotografia da Bblia de Gutenberg. Cpia existente na Biblioteca do Congresso dos EUA. Disponvel
na Wikipedia, com a licena wikimedia Commons, a 2 de janeiro de 2005, em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Gutenberg_Bible.jpg
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Gutenberg_Bible.jpg
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Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI
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Comearam tambm a aparecer entre o sc. XIV a XVI as bibliotecas senhoriais e reais como
smbolo de riqueza e prestgio.
Fig. 8: Imagem da Biblioteca Real do Palcio Nacional de Mafra. Internet Nations (s.d.). Bibliotecas no
mundo (blogue). Disponvel em: https://sites.google.com/site/internetnations/Home/bibliotecas-pelo-mundo
O sculo das luzes, veio trazer novo fulgor cultura e s bibliotecas, verificando-se um maior
desenvolvimento nas bibliotecas universitrias com o aumento das colees nos seus catlogos e
recorrendo a tcnicas de tratamento documental cada vez mais
especializado numa tentativa de organizar e gerir toda a
informao e disponibiliz-la ao pblico, sobretudo alunos e
investigadores. Cincias como a medicina, vieram enriquecer as
colees, pois os alunos necessitavam para os seus estudos de
obras e manuais tcnicos muito atualizados e escritos pelos
grandes mestres e especialistas nestas matrias, comeando a
circular nas bibliotecas de obras estrangeiras de autores de
renome e pertencentes s grandes escolas universitrias da
poca, o que enriqueceu em termos de dimenso e qualidade os
acervos documentais.
Fig. 9: Obra pertencente ao acervo histrico da Faculdade de Medicina de Lisboa. Abreu, J.R. (1733-1752).
Historiologia medica, fundada, e estabelecida nos princpios de George Ernesto Stahl. Lisboa Occidental:
Officina da Musica. Disponvel em: http://coleccoes-digitalizadas.fm.ul.pt/repo/ULFM-res400-4/ULFM-
res400_4_item2/ULFM-res400-a/ULFM-res400-a_item2/index.html
https://sites.google.com/site/internetnations/Home/bibliotecas-pelo-mundohttp://coleccoes-digitalizadas.fm.ul.pt/repo/ULFM-res-400-4/ULFM-res-400_4_item2/ULFM-res-400-a/ULFM-res-400-a_item2/index.htmlhttp://coleccoes-digitalizadas.fm.ul.pt/repo/ULFM-res-400-4/ULFM-res-400_4_item2/ULFM-res-400-a/ULFM-res-400-a_item2/index.html
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g) No sculo XIX e XX, assistiu-se ao desenvolvimento dos grandes sistemas de classificao e
tentativa de organizao sistemtica da informao: desde a Classificao Decimal de Dewey em
1876, Classificao Decimal Universal, desenvolvida no final do sc. XIX pelos belgas Paul
Otlet e Henri la Fontaine e Classificao da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos
tambm desenvolvida no final do sculo XIX, tornaram-se classificaes universais.
Fig. 10: Ilustrao da Classificao da Biblioteca do Congresso USA. In : Pot of Gold: Information Literacy
Tutorial. Hesburgh Libraries, University of Notre Dame (website). Disponvel em:
http://www.library.nd.edu/instruction/potofgold/locating/?page=5
h) Nos sculos XX e XXI com o apogeu da sociedade da informao, a emergncia das novas
tecnologias e o aparecimento da Internet, assiste-se informatizao dos sistemas das bibliotecas,
o que conduziu a uma maior eficcia na gesto documental e na recuperao da informao.
indiscutvel que a histria das bibliotecas e a sua evoluo para a era digital, esteja diretamente
relacionada com a histria da Internet.
Castells (2004), refere que a criao e desenvolvimento da Internet uma extraordinria aventura
humana. Mostra a capacidade das pessoas para transcender as regras institucionais, superar as
barreiras burocrticas e subverter os valores estabelecidos no processo de criao do novo mundo.
Serve tambm para reafirmar a ideia de que a cooperao e a liberdade de informao podem
favorecer mais a inovao do que a concorrncia e os direitos de propriedade (p.25).
http://www.library.nd.edu/instruction/potofgold/locating/?page=5
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Para este autor, o aparecimento da internet comeou em 1969 com a ARPANET, uma rede de
computadores da agncia ARPA pertencente ao Departamento de Defesa dos EUA, que tinha por
objetivo repartir o tempo de trabalho online dos computadores, entre os vrios centros de informtica
interativa e grupos de investigao da agncia. A ARPANET converte-se em 1983 em ARPA-
INTERNET depois de ter sido substituda no campo militar por outro sistema, e passa a dedicar-se
apenas investigao e em 1990 o aparecimento da world wide web veio potenciar a partilha de
informao a nvel planetrio.
Assim, graas aos avanos tecnolgicos do sc. XX, o acesso informao democratiza-se e surgem
vrias tipologias de bibliotecas ao alcance de todos os tipos e perfis de utilizadores. a era digital a
impor-se e que imprimir um dinamismo diferente s bibliotecas que deixam de ser definitivamente
meros repositrios do saber e passam a ser difusoras de informao, pertinente, credvel e de alta
qualidade, atravs de uma diversidade de novos servios presenciais, digitais e mveis consoante o
perfil e as necessidades dos seus utilizadores. Presentemente as bibliotecas partilham um
compromisso hbrido entre o fsico e o virtual, duas facetas distintas, mas que se complementam, na
eterna tentativa de organizar o universo catico do excesso de informao.
Fig. 11: Imagem representando uma biblioteca hbrida. In: Hybrid library (2011, 8 de Fevereiro). Hybrid
library (blogue). Disponvel em : http://hybridlibrary.blogspot.pt/
Interessante a perspetiva de Cohen (2006), que pela interpretao do pensamento de Jorge Lus
Borges, relativo ao caos informacional, vem propor que a este caos produto da sociedade da
informao em que vivemos, se dever aplicar uma nova ordem, trazida pelo advento das novas
tecnologias, que tm por misso ordenar o universo catico gerado pelo excesso de informao
existente nas bibliotecas:
http://hybridlibrary.blogspot.pt/
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Borges's nightmare, of course, is a cursed vision of the research methods of disciplines such as
literature, history, and philosophy, where the careful reading of books, one after the other, is
supposed to lead inexorably to knowledge and understanding. Computer scientists would approach
Borges's library far differently. Employing the information theory that forms the basis for search
engines and other computerized techniques for assessing in one fell swoop large masses of
documents, they would quickly realize the collection's incoherence though sampling and statistical
methods and wisely start looking for the library's exit. These computational methods, which allow
us to find patterns, determine relationships, categorize documents, and extract information from
massive corpuses, will form the basis for new tools for research in the humanities and other
disciplines in the coming decade (p.2).
As tendncias e os ciclos de evoluo, na histria das bibliotecas atravs dos tempos, so variveis,
possuindo avanos e recuos, porm, em todas as pocas a informao foi e sinnimo de poder,
numa tentativa de controlar o mundo atravs do conhecimento profundo do sentido das coisas.
Assim, atualmente a boa gesto do conhecimento e a governao da sociedade da informao,
tambm uma condio poltica dos governos. Em Portugal, algumas medidas tm vindo a ser
tomadas na ltima dcada, surgindo no XVII Governo Constitucional (2005-2009), o Plano
Tecnolgico (PT), para potenciar a utilizao das novas tecnologias, nos atos simples da vida dos
cidados1.
Enquadrada no Plano Tecnolgico, foi anunciada em 2010 e aprovada em Conselho de Ministros de
20 de dezembro de 2012, a Agenda Digital 2015, seguindo a tendncia precedida pela Comisso
Europeia, de implementao de uma Agenda Digital para a Europa2, no mbito do programa
Estratgia Europa 20203.
A Agenda Digital Nacional Portugal Digital, imps como objetivo, desenvolver e impulsionar a
economia digital e a sociedade do conhecimento, centrando estes dois vetores na inovao e no
conhecimento e direcionando a economia e a indstria para os mercados internacionais, onde a aposta
1 Programa do Plano Tecnolgico disponvel em : http://www.ei.gov.pt/iniciativas/detalhes.php?id=29
2 COM(2010)245 final de 19.05.2010 - Comunicao da Comisso ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comit Econmico e
Social Europeu e ao Comit das Regies Uma Agenda Digital para a Europa
3 COM(2010) 2020 final de 03.03.2010 Comunicao da Comisso EUROPA 2020: Estratgia para um crescimento inteligente,
sustentvel e inclusivo
http://www.ei.gov.pt/iniciativas/detalhes.php?id=29
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Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI
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mais forte se verifica no setor das TIC (Tecnologias de Informao e Comunicao), com interveno
nas seguintes reas4:
Acesso banda larga e ao mercado digital;
Investimento em investigao, desenvolvimento e inovao;
Melhorar a literacia, a qualificao e incluso digitais;
Combater a fraude e a evaso fiscais, contributivas e prestacionais;
Resposta aos desafios da sociedade;
Empreendedorismo e internacionalizao do setor das TIC.
No mbito das bibliotecas, a Agenda Portugal Digital, vem implementar medidas numa rea
fundamental para o desenvolvimento do setor, que a rea que visa melhorar a literacia, qualificao
e incluso digitais, com objetivos de implementao at 2015.
E neste sentido, o plano de ao prometedor, segundo o que transcrevemos do site do Programa
Portugal Digital (http://www.portugaldigital.pt/index/) e salientamos a negrito, o que mais se
relaciona com a rea das bibliotecas:
a) Desenvolver competncias para a Economia Digital - Promover a utilizao das TIC, na
educao e na formao. Desenvolver qualificaes avanadas e de talento para a Economia
Digital, nomeadamente de nvel superior e com a especializao adequada s necessidades da
competitividade global. Adaptar as competncias digitais s reas emergentes, como as
tecnologias verdes, smartgrids, computao em nuvem, segurana da Internet e
indstrias culturais e criativas. Promover o desenvolvimento de competncias
multidisciplinares, assumindo as TIC com transversalidade, no mbito das reas
cientficas. Fomentar alianas entre empresas TIC e associaes empresariais, no sentido de
mobilizar a introduo das TIC no tecido empresarial e com o objetivo de aumentar a
capacitao do tecido laboral das PME. Uma das iniciativas a lanar no mbito desta medida
ser a Academia Digital, que visa dotar os formandos de conhecimentos prticos e avanados na
gesto digital de negcios (incluindo comrcio eletrnico, marketing digital, desenvolvimento
de produtos e servios digitais, legislao e propriedade digital, tecnologia e
empreendedorismo).
4 Vid Agenda Portugal Digital em: http://www.portugaldigital.pt/index/
http://www.portugaldigital.pt/index/
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b) Promover a incluso digital e a utilizao regular da Internet Promover a utilizao das
TIC para a incluso social (TIC e Sociedade), de forma a permitir uma ampla penetrao das
tecnologias e da Economia Digital na populao e reforar a cidadania digital,
inclusivamente para cidados em zonas remotas, nveis baixos educacionais, idosos ou com
necessidades especiais, numa lgica de aprendizagem ao longo da vida.
c) Promover a disponibilizao e utilizao de ebooks (livros eletrnicos) - Promover
polticas de aluguer de ebooks escolares e de carter tcnico, que so hoje j uma realidade
em alguns pases. A promoo de uma poltica de aluguer ter impacto ao nvel da
reduo dos custos para os leitores, promover a adaptao das obras para pblicos com
necessidades especiais e, por outro lado, ser um desincentivo cpia violadora dos
direitos de autor, devido ao baixo custo das obras.
d) Promover a criao e a digitalizao massiva de contedos - Estimular a criao e o
desenvolvimento de contedo em lngua portuguesa. No sentido de assegurar a qualidade
necessria dos contedos a digitalizar, sero adotados formatos tcnicos interoperveis e de
acordo com normas abertas, para a disponibilizao de contedos digitais na Internet de forma
aberta.
d) Definir uma poltica de acessibilidade para os contedos e plataformas digitais
portuguesas a disponibilizar na Internet - Promover a adoo de medidas legislativas no
mbito da adoo de diretrizes de acessibilidade aplicadas web que potenciem um acesso
universal aos contedos e plataformas disponibilizados, nomeadamente, pelos seguintes setores-
chave: administrao central e local, instituies de ensino, banca online, utilities, media
(televiso, rdio, jornais), comrcio eletrnico (grandes cadeias comerciais, incluindo a
hotelaria).
Por conseguinte, esto expressas nesta agenda digital, muitas oportunidades de interveno para as
bibliotecas (num futuro que se vislumbra muito prximo), no mbito do desenvolvimento de novos
contedos digitais (uma tendncia que j se verifica nas bibliotecas europeias, com a produo dos
seus prprios contedos) e disponibilizao de documentos em suporte digital (eBooks). A expanso
dos servios de literacia da informao / formao, passam tambm para o plano digital, no sentido
de se formar um cidado digital, que saiba utilizar as tecnologias de informao existentes para lhe
simplificar a vida diria e as suas pesquisas e necessidades informacionais, havendo aqui um
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potencial de mercado para as bibliotecas, que podem intervir nesta rea e chegar mesmo ao pblico
mais remoto atravs de processos como o eLearning5.
esta a tendncia evolutiva da histria das Bibliotecas, um percurso vivido lado a lado, com as novas
tecnologias e o mundo digital, num ambiente de hibridez, pois os espaos fsicos, embora sofrendo
um processo de reengenharia, continuaro a ser importantes, pois a varivel sempre presente neste
processo, o ser humano, um ser cada vez mais tecnolgico mas tambm e acima de tudo - um ser
social.
5 O eLearning ou ensino eletrnico, um modelo de ensino no presencial ministrado distncia e utilizando para o
efeito plataformas e ferramentas tecnolgicas no processo de ensino aprendizagem e recorrendo au uso da internet como
suporte de comunicao e na distribuio/produo de contedos.
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1.2. AS BIBLIOTECAS UNIVERSITRIAS COMO CENTROS DINMICOS DE
APRENDIZAGEM E MODELO COLABORATIVO
La biblioteca es el corazn de la Universidad
(Orera Orera, 2005)
As bibliotecas universitrias, marcaram um ponto de viragem e de abertura na histria das bibliotecas
assumindo-se como espao de partilha de saberes e de investigao geradora de novo conhecimento
cientfico.
Orera Orera (2005), afirma que:
Entre los cambios que afectan atualmente a las bibliotecas universitarias y que condicionan el nuevo
modelo destacamos: El character hbrido de su coleccin; la presencia cada vez ms fuerte de las
tecnologas de la informacin y la comunicacin; la cooperacin interbibliotecaria a travs de
modelos ya existentes como las redes y la potenciacin de otros de aparicin ms reciente como los
consorcios; la preocupacin creciente por la bsqueda de la calidad en los processos de gestin,
potenciando su planificacin y evaluacin (p.31).
Porm, a biblioteca universitria muito mais que isso, como veremos adiante, pois tem estado
constantemente exposta a mudanas sociais e culturais profundas, tendo que se adaptar e evoluir no
seu modelo, de modo a acompanhar o processo de ensino-aprendizagem, tambm em permanente
mudana, numa espiral de exigncia rumo qualidade, que obriga as bibliotecas universitrias a
adaptarem-se continuamente, conforme as tendncias, para poderem oferecer servios atrativos e em
consonncia com as novas necessidades dos seus utilizadores.
As novas tendncias que se fazem sentir na sociedade so diversificadas e constituem um desafio
para as bibliotecas universitrias no sentido de se adaptarem e corresponderem a estas transformaes
sociais. Alguns dos principais desafios para os quais as instituies acadmicas devem estar despertas
so os seguintes:
a) Desafios ambientais com repercues na investigao - Com o consequente crescimento
populacional estimado em 9 bilies de pessoas em 2050, a investigao crescer a um ritmo
acelerado, tentando fazer face ao aparecimento de novas doenas, alteraes climticas,
escassez de gua, alimentos e energia. E neste contexto, j hoje prtica corrente, as
universidades serem financiadas de acordo a qualidade dos seus projetos de investigao, o
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que torna fundamental para a investigao, quer os suportes, quer os recursos proporcionados
pelas bibliotecas aos investigadores.
O Movimento Open Access6, veio tambm proporcionar uma difuso mais rpida da
informao cientfica que circulando livremente nas redes, permite elevar os ndices de
citao dos investigadores e consequentemente, aumentar quer o impacto quer o
posicionamento no ranking das universidades.
b) A globalizao da informao e a mobilidade de alunos e investigadores, faz com que o
utilizador da biblioteca universitria, queira aceder informao de qualquer parte do mundo.
Aqui o desafio no ser apenas a nvel do desenvolvimento da biblioteca digital, com acesso
remoto, mas tambm o encetar de parcerias, consrcios nacionais e internacionais e projetos
de cooperao, de modo a que de uma forma partilhada, se possa alargar o acesso a mais e
melhores contedos, que cubram as necessidades de investigao dos utilizadores, podendo
estes usufruir do seu acesso, onde quer que se encontrem. No podemos pensar nos nossos
utilizadores universitrios, como pertencentes apenas nossa universidade, mas temos que
v-los como cidados do mundo, interagindo com seus pares internacionais, em projetos
cooperativos e alm-fronteiras.
c) O processo educativo est em transformao profunda e os novos modelos de ensino-
aprendizagem, enfatizam o valor da literacia da informao e do papel a desempenhar pelas
bibliotecas neste mbito, recorrendo quer a mtodos de formao mais tradicionais em modo
presencial, ou recorrendo a tcnicas eLearning e bLearning7 (blend learning). Tambm a
integrao nos currcula acadmicos, das reas relacionadas com a literacia de informao
ministradas por tcnicos especializados das bibliotecas acadmicas, constitui um desafio, que
tem vindo a ser bem acolhido no seio das instituies de ensino superior, constituindo uma
mais-valia comprovada para os alunos.
6 Este movimento teve na base duas declaraes internacionais sobre o acesso livre, a Budapest Open Access Initiative em
2002 e a Berlin Declaration on Open Access to Knowledge in the Sciences and Humanities em 2003.
Em novembro de 2011, a UNESCO aprovou por ocasio da sua 36 Conferncia Geral realizada em Paris, o Global Open
Access Portal, GOAP (http://www.unesco.org/new/en/communication-and-information/portals-and-platforms/goap/),
cujo objetivo apresentar os mais de 2 mil projetos de acesso livre informao cientfica nos 148 pases membros da
UNESCO.
O movimento Open Access (OA) contribuiu para uma das maiores mudanas sociais vividas no incio deste sc. XXI - o
acesso livre ao conhecimento cientfico, permitindo a qualquer cidado do mundo pesquisar, consultar, descarregar,
imprimir, copiar e distribuir, o texto integral de artigos e outras fontes de informao cientfica, ou seja, participar em
pleno numa sociedade da informao de todos e para todos.
A edio em Open Access pode ser feita atravs de duas formas: As revistas disponibilizam livremente os seus artigos no
momento da publicao (a iniciativa surge por parte dos editores) sendo esta apelidada a via dourada, ou por outro lado, o
acesso livre feito por autoarquivo dos autores que disponibilizam livremente os seus artigos, depositando uma cpia
num repositrio temtico ou institucional, sendo esta apelidada a via verde.
7O ensino bLearning um modelo que engloba aulas distncia utilizando as plataformas tecnolgicas e aulas
presenciais.
http://www.unesco.org/new/en/communication-and-information/portals-and-platforms/goap/
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d) O permanente desenvolvimento tecnolgico, torna quase impossvel prever a evoluo a
longo prazo e como estaremos daqui a 20 anos. O futuro a nvel tecnolgico, mede-se a curto
prazo, uma vez que o avano tecnolgico progressivo e obriga a constante adaptao. A
penetrao da Internet e das comunicaes mveis na vida pessoal dos indivduos, obriga a
que as instituies acompanhem este ritmo, numa sociedade da informao onde atualmente
quase tudo mvel (os recursos, as pessoas, as comunicaes, os servios, o conhecimento,
etc.).
A aplicao dos jogos e da realidade virtual aos game labs, permitem hoje em dia, a
utilizao destes recursos no apoio investigao em laboratrios de experimentao e em
contexto de ensino-aprendizagem.
A web 2.0 e as ferramentas colaborativas, marcaram a transio nos indivduos, de meros
consumidores de informao, para produtores de contedos e da sua prpria informao, a par
do aparecimento de ferramentas e sistemas open source de acesso totalmente livre, que
permitiram no s desenvolver novos contedos, mas tambm um acesso gratuito e mais
democratizado da informao.
A web semntica, veio introduzir no s uma ordem relacional aos contedos informacionais,
mas introduziu o conceito de web 3.0, ao proporcionar a interao dos utilizadores com os
computadores, evidenciando as suas reas de interesse, de modo a que se possa oferecer-lhes
produtos direcionados exclusivamente para o seu perfil.
Assim, as tecnologias permitem a permanente conetividade e partilha de informao,
independentemente do espao e do tempo, projetando-nos do espao fsico para o virtual. Para
vencer este desafio, a cooperao, as parcerias e os consrcios so preciosos, pois permitem
reforar as equipas em ambientes multidisciplinares, com uma diversidade de competncias,
que permitiro enfrentar os desafios tecnolgicos, colocando-os ao servio do saber, da
investigao e das prprias pessoas.
A par destas tendncias, a grande mudana deu-se a nvel das polticas de educao europeias, que
introduziram vrias medidas, que condicionaram a evoluo do conceito de biblioteca universitria:
a) O processo de Bolonha, viabilizado atravs da declarao conjunta dos Ministros da
Educao Europeus de 19 de junho de 19998, introduziu o conceito de Espao Europeu de
Ensino Superior (EEES), implementando um sistema de graus acadmicos equiparados e
reconhecidos em todo o Espao Europeu; promovendo a mobilidade de toda a comunidade
8 Declarao de Bolonha de 9 de junho de 1999 Disponvel em:
http://europa.eu/legislation_summaries/education_training_youth/lifelong_learning/c11088_pt.htm
http://europa.eu/legislation_summaries/education_training_youth/lifelong_learning/c11088_pt.htm
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Reengenharia de espaos, servios e competncias nas Bibliotecas Universitrias do sculo XXI
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acadmica (alunos, professores e investigadores), assegurando a elevada qualidade no ensino
superior.
b) O Comunicado de Praga de 19 de maio9, complementou o Processo de Bolonha, no que diz
respeito introduo do conceito de aprendizagem ao longo da vida como fator-chave do
Espao Europeu do Ensino Superior, para aumentar a competitividade econmica e envolver
toda a comunidade acadmica, nomeadamente os estudantes na criao do EEES.
c) O Comunicado de Berlim de 19 de setembro de 200310, articulou o EEES com o EEI (Espao
Europeu de Investigao), integrando-os no Processo de Bolonha e vincando a importncia da
mobilidade universitria a nvel dos investigadores para a partilha de conhecimentos.
d) A Declarao de Budapeste-Viena de 12 de maro de 201011, oficializou o EEES tal como
havia sido preconizado no processo de Bolonha, reiterando princpios como a liberdade
acadmica, a autonomia das instituies de ensino superior e o envolvimento de toda a
comunidade acadmica, desde os dirigentes ao pessoal no docente, docentes, investigadores
e alunos, para tornarem real o Espao Europeu do Ensino Superior, reforando a garantia da
qualidade atravs da cooperao.
As polticas europeias, trouxeram uma maior exigncia ao ensino universitrio, transformando o
espao da biblioteca num novo espao de ensino-aprendizagem e um aliado da investigao
institucional. A biblioteca universitria agora um organismo prestador de servios diversificados e
no apenas um mero repositrio de saber e um guardio de livros.
O processo de Bolonha e o sistema de crditos europeus (ECTSs), foram assim, fundamentais para
modificar os hbitos de estudo e de aprendizagem dos alunos.
Area Moreira (2005), apresenta um quadro comparativo do modelo tradicional de aprendizagem
anterior a Bolonha, que apelida de instrucionista e o novo modelo cooperativo/construtivista que se
imps aps Bolonha:
9 Comunicado de Praga de 19 de maio de 2001 Rumo ao espao europeu. Disponvel em:
http://www.ond.vlaanderen.be/hogeronderwijs/bologna/documents/MDC/PRAGUE_COMMUNIQUE.pdf
10 Comunicado de Berlim de 19 de setembro de 2003 - Realizao do Espao Europeu do Ensino Superior. Disponvel
em: http://www.ond.vlaanderen.be/hogeronderwijs/bologna/documents/MDC/Berlin_Communique1.pdf
11 Declarao de Budapeste-Viena de 12 de maro de 2010. Disponvel em:
http://www.ond.vlaanderen.be/hogeronderwijs/Bologna/2010_conference/documents/Budapest-Vienna_Declaration.pdf
http://www.ond.vlaanderen.be/hogeronderwijs/bologna/documents/MDC/PRAGUE_COMMUNIQUE.pdfhttp://www.ond.vlaanderen.be/hogeronderwijs/bologna/documents/MDC/Berlin_Communique1.pdfhttp://www.ond.vlaanderen.be/hogeronderwijs/Bologna/2010_conference/documents/Budapest-Vienna_Declaration.pdf
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ELEMENTOS DEL MODELO DE ENSEANZA INSTRUCCIONISTA CONSTRUCTIVISTA/COOPERATIVO
NFASIS En los Contenidos En el Proceso
CONCEPCIN Bancaria Transformadora, Emprendedora
MOTIVACIN Exgena Endgena
QUIEN SE FORMA ES Objeto a Formar Sujeto Protagonista
EJE DEL APRENDIZAJE Profesor Texto Sujeto/Grupo
OBJETIVO Ensear-Aprender-Repetir Pensar-Transformar
CLAVE FORMATIVA Transmisin de los Conceptos Reflexin/Accin
CLAVE FORMATIVA Transmisin Informacin Comunicacin/Dialogo
QUIEN FORMA Enseante/Instructor Facilitador/Animador
PARTICIPACIN Mnima/ No Discusin Mxima
CREATIVIDAD Bloqueada Estimulada
PAPEL DEL ERROR Fallo/Repeticin Camino Bsqueda
METODOLOGIA Clases Magistrales
Proyectos de Aprendizaje, Resolucin
de Problemas, Investigacin y
Desarrollo, Informes, Trabajos
ESCENARIOS DE APRENDIZAJE Presencial Presencial, no presencial(CRAI), On
Line
RECURSOS Transparencias, Libros De Texto,
Apuntes
Off Line (Guas Didticas,
Presentaciones, libros, videos, audios,
CDs), y online( Internet, Archivos, ,
Etc..)
TECNOLOGIA Refuerzo a la Transmisin Generadores de Actividad: Bsqueda,
Transformacin, Difusin
EVALUACIN Examen Examen, Trabajo, Exposiciones,
Presentaciones, Publicaciones
Tabela 1: Modelo de ensino pr e ps Bolonha (Area, 2005, p.10)
Martins e Martins (2012), evocam o novo modelo trazido por Bolonha sublinhando que este,
Est focalizado no aluno e no no docente, o que exige da parte do estudante, o desenvolvimento de
capacidades de aprendizagem autnoma e de competncias interpessoais, no mbito acadmico e na
sociedade. As bibliotecas de ensino superior tm por isso cada vez mais um papel ativo e dinmico
quer ao nvel da criao de mecanismos alternativos que facilitam o acesso informao aos
utilizadores com necessidades e