betim/ mg - funarbe · metropolitana de belo horizonte. com um território de 346 km2, ......
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Q U A D R O I I I
Dossi de Tombamento Imvel
CINE TEATRO GLRIA
COLNIA DE SANTA ISABEL
EXERCCIO 2017
BETIM/ MG
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PREFEITURA MUNICIPAL DE BETIM
DOSSI DE TOMBAMENTO CINE TEATRO GLRIA
EXERCCIO 2017 PGINA 1 / 121
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Rubrica
SUMRIO
INTRODUO 03
HSTRICO DO MUNICPIO 04
HISTRICO DO BEM CULTURAL 22
DESCRIO DETALHADA E ANLISE DO BEM CULTURAL 40
DESCRIO DA DELIMITAO DO PERMETRO DE TOMBAMENTO 44
DELIMITAO DA REA DO PERMETRO DE TOMBAMENTO 46
JUSTIFICATIVA DA DEFINIO DO PERPETRO DE TOMBAMENTO 47
DESCRIO DA DELIMITAO DO ENTORNO DE TOMBAMENTO 48
DELIMITAO DA REA DO PERMETRO DE ENTORNO DE TOMBAMENTO 50
JUSTIFICATIVA DA DEFINIO DO ENTORNO DE TOMBAMENTO 51
FICHA DE INVENTRIO DO BEM E ACERVO 52
DOCUMENTAO CARTOGRFICA 77
DOCUMENTAO FOTOGRFICA 86
DIRETRIZES DE INTERVENO E CONSERVAO PARA O BEM TOMBADO 91
PLANO DE GESTO DAS MEDIDAS DE SALVAGUARDA 92
LAUDO DE AVALIAO SOBRE ESTADO DE CONSERVAO 93
DEPOIMENTOS DE MORADORES 114
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 115
FICHA TCNICA 119
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ANEXOS
DOCUMENTO CONCLUSIVO
ATA DA REUNIO DO CONSELHO APROVANDO O TOMBAMENTO
RECEBIMENTO da NOTIFICAO DE TOMBAMENTO
ATA DA REUNIO INFORMANDO O TOMBAMENTO DEFINITIVO
INSCRIO DO BEM CULTURAL NO LIVRO DE TOMBO MUNICIPAL
PUBLICAO DO ATO DO TOMBAMENTO
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Rubrica
INTRODUO
O dossi contm basicamente um conjunto de informaes sobre o municpio de
Betim, enfatizando as que dizem respeito ao Cine Teatro Glria localizado na Colnia Santa
Isabel na regional Citrolndia, aqui tambm analisado historicamente, artisticamente e
iconograficamente.
O trabalho realizado pelos tcnicos responsveis foi baseado em bibliografia
especfica sobre o tema, pesquisa de campo, levantamento in loco e principalmente
entrevista oral com a populao, bem como atravs de consulta aos rgos municipais,
estaduais e federais competentes.
Somam-se ao material documentao grfica constituda por um vasto acervo
cartogrfico e fotogrfico, laudo tcnico avaliando as condies do bem em questo, definio
de permetros e diretrizes de proteo entre outros.
O objetivo do trabalho fornecer o material suficiente, devidamente analisado, para se
criar os subsdios necessrios ao tombamento do Cine Teatro Glria, pelo Conselho
Municipal do Patrimnio Histrico e Cultural de Betim e Prefeitura Municipal de Betim.
Devido importncia histrica, arquitetnica e cultural, alm dos valores simblicos
atribudos ao edifcio, suas caractersticas arquitetnicas, estilsticas e iconogrficas, foi-se
proposto o tombamento do bem, como forma mais eficaz de conservao e preservao.
O tombamento garante uma proteo legal, fazendo com que o bem tenha a garantia
de ser restaurado por especialistas, de forma a no prejudicar suas caractersticas to
singulares, alm de reconhecer sua real propriedade, evitando assim o abandono,
descaracterizao e at mesmo a perda total do monumento histrico.
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Figura 01: Localizao geogrfica de Betim. Cidades IBGE. IN:
http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?lang=&codmun=310670&search=minas-
gerais|betim|infograficos:-dados-gerais-do-municipio, acesso em 10072015.
HISTRICO DO MUNICPIO
O municpio de Betim-MG situa-se na Zona Metalrgica e integra a Regio
Metropolitana de Belo Horizonte. Com um territrio de 346 km2, distante 31 km de Belo
Horizonte por rodovia e 38 km por ferrovia. Segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatstica (IBGE) do censo de 2014, Betim apresenta uma populao de 412.003
habitantes, ocupando a quinta posio entre as cidades mais populosas do Estado de Minas
Gerais. Segundo dados do censo de 2010, a populao rural de 2.758 habitantes e a
densidade demogrfica (habkm2) de 1.102,80
1.
A sede do municpio est localizada, em mdia, a 860 m de altitude. Sua posio
determinada pelas coordenadas geogrficas de 195752 Latitude Sul e 441154
Longitude Oeste. A rea rural da cidade composta por vrias comunidades, como, por
exemplo, os Bairros Flores, Aroeiras, Charneca, Liberatos, Marimb, Santo Afonso,
Pimentas, Icaivera, Aude, Saraiva, Casa Amarela, Estncia do Sereno, Bandeirinhas,
Gorduras, Vianpolis, Quebra, Vrzea das Flores, Serra Negra, Vrzea do Portugues. O
municpio faz divisas com Esmeraldas, Contagem, Juatuba, Igarap, Ibirit, So Joaquim de
Bicas, Mrio Campos e Sarzedo.
1 Dados fornecidos pelo IBGE:
http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=310670&search=||infogr%E1ficos:-
informa%E7%F5es-completas, acessado em 10072015.
http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?lang=&codmun=310670&search=minas-gerais|betim|infograficos:-dados-gerais-do-municipiohttp://www.cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?lang=&codmun=310670&search=minas-gerais|betim|infograficos:-dados-gerais-do-municipiohttp://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=310670&search=||infogr%E1ficos:-informa%E7%F5es-completashttp://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=310670&search=||infogr%E1ficos:-informa%E7%F5es-completas
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Figura 02: Mapa Hidrogrfico de
Betim. (EMATER MG, 2006).
A rea do municpio apresenta um relevo de planaltos ondulados no imenso tabuleiro
que se estende pelos contrafortes2 da Serra do Curral at Oeste de Minas Gerais. O relevo
acidentado, principalmente nas vertentes da Serra Negra terminando em vales e reas com
menores declividades. A topografia de Betim pode ser caracterizada pela seguinte maneira:
15% do relevo plano, 25% montanhosa e a grande maioria 60% ondulada.
Betim se insere na bacia hidrogrfica do Rio Paraopeba com o ribeiro Betim
cortando a cidade. A nascente do ribeiro de Betim est situada na altitude de 920 m, no
Municpio de Contagem. Sua bacia tem uma rea de drenagem total de aproximadamente 172
km2. Da sua rea total, aproximadamente 139 km
2 ou 80% esto no Municpio de Betim,
numa regio de maior concentrao de ocupao urbana. Num trecho, os principais afluentes
so os crregos Saraiva, Bom Retiro, Vrzea das Flores e o Riacho das Areias.
O clima definido como tropical de altitude ameno e seco, com dias ensolarados e
noites com temperaturas amenas. O vero mido e o inverno seco. A regio fora coberta
pelas florestas de galeria, floresta mesfila (secas) e cerrados, sendo o bioma da regio
constitudo por Cerrado e Mata Atlntica. Porm, destaca-se que a ocupao do territrio mais
2 Contrafortes: termo de natureza descritiva utilizado pelos geomorflogos e gelogos ao tecerem consideraes
sobre o relevo de regies serranas. Denominao dada s ramificaes laterais de uma cadeia de montanhas. Os
contrafortes quase sempre esto em posio perpendicular ou pelo menos oblqua, ao alinhamento geral das
serras. Glossrio Geolgico. Servio Geolgico do Brasil (CPRM). IN:
http://www.cprm.gov.br/Aparados/glossario_geologico.htm#C, acessado em 15/07/2015.
http://www.cprm.gov.br/Aparados/glossario_geologico.htm#C
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as atividades de agropecuria e silvicultura provocaram reduo nas formaes vegetais, tanto
em termos de rea quanto em termos de biodiversidade.
Conforme Lopes (2004), at os anos 40, Betim tinha uma economia rural
razoavelmente diversificada, uma indstria siderrgica de pequeno porte e algumas outras
indstrias, o que possibilitou o desenvolvimento de uma cidade pequena, mas
significativamente diversificada do ponto de vista social. A instalao, na dcada de 1960, da
Refinaria Gabriel Passos (REGAP) da Petrobras, promoveu o desenvolvimento de muitas
atividades complementares, a exemplo do comrcio atacadista de combustveis. O
planejamento da Regio Metropolitana de Belo Horizonte resultou no reforo das
potencialidades de localizao industrial e de desenvolvimento urbano em Betim.
A criao do Distrito Industrial Paulo Camilo, na dcada de 1970, por meio da
instalao da Fiat Automveis S/A, em 1972, e suas indstrias satlites, fez surgir o segundo
plo industrial automobilstico do pas. A partir de 1990, em consequncia do programa de
mineirizao dos componentes da Fiat Automveis, houve novo crescimento de Betim.
Portanto, o municpio considerado um importante plo de concentrao industrial do estado
mineiro, sendo o setor industrial bastante diversificado e com empresas do porte.
Os principais processos produtivos industriais do municpio so: metal-mecnico;
automobilstico; eletroeletrnico; qumico e petroqumico; produtos de materiais de plstico;
indstria do vesturio; calados e artefatos de tecidos; material eltrico, eletrnico e
comunicao; construo; madeira; material de transporte; papel e papelo; mecnica e
metalrgica. A minerao tem como principal bem explorado o gnaisse extrado dos domos
da regio. Destaca-se que areia, pedras britadas e ornamentais so as principais reservas
minerais exploradas.
Afora as atividades industriais, a economia de Betim compreende as atividades
econmicas de agropecuria e agricultura, o artesanato e o turismo. Os principais setores da
economia do municpio so: indstria, comrcio e prestao de servios. Destarte, as
mudanas na estrutura econmica da cidade se refletem tanto no crescimento da populao
quanto na evoluo da distribuio de sua populao economicamente ativa (LOPES, 2004).
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Figura 03: Refinaria Gabriel Passos (REGAP) em Betim. IN: http://www.petrobras.com.br/pt/nossas-
atividades/principais-operacoes/refinarias/refinaria-gabriel-passos-regap.htm, acessado em 10072015.
No setor agrcola, predomina a produo de amendoim, arroz, banana, cana-de-
acar, caf, laranja, mandioca, milho e tomate. Na agroindstria se destacam a produo de
aguardente artesanal e a comercializao de doces e compotas. A pecuria em Betim
constituda por rebanhos de bovinos, sunos, equinos e a criao de aves. As atividades mais
expressivas compreendem a criao de rs, aves exticas, e orquidrio, afora a criao de
gado (EMATER, 2006).
No municpio h a fundao Artstica Cultural de Betim, que proporciona oficinas
de arte e cultura das mais diversas, de acordo com a demanda existente, e o Salo do
Encontro, que capacita artesos em atividades de marcenaria, tecelagem, tapearia, cermica,
cestaria, confeces de bonecas de pano e estofamento de mveis. Estas instituies servem
de instrumento para a preservao das tradies artsticas e culturais de Betim. Nesse sentido,
Betim tem foi apontada como cidade potencial para o turismo ecolgico, com destaque para
esportes nuticos, devido a represa Vrzea das Flores construda na dcada de 1960, e para o
turismo de negcios.
http://www.petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/principais-operacoes/refinarias/refinaria-gabriel-passos-regap.htmhttp://www.petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/principais-operacoes/refinarias/refinaria-gabriel-passos-regap.htm
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HISTRICO
O povoamento da regio onde hoje se encontra o municpio de Betim surgiu em
consequncia das expedies bandeirantes3 em busca de ouro e pedras preciosas no interior da
colnia, ao final do sculo XVII. A primeira bandeira a que tradicionalmente se atribui a
descoberta de ouro na regio das Minas Gerais a de Antnio Rodrigues Arzo que, em 1693,
localizou o metal nos sertes do Rio Casca (CAMPOS; FARIA, 2005). A notcia da
descoberta de ouro aumentou significativamente o nmero de bandeiras a entrar pelo serto
mineiro, onde se acharam novas minas de ouro e, futuramente, jazidas de pedras preciosas.
Antes da chegada dos bandeirantes, a regio do atual territrio de Betim era
provavelmente ocupada por diferentes tribos indgenas seminmades, que foram dizimadas
em decorrncia dos conflitos com os bandeirantes. Conforme Campos e Faria (2005), no
incio do perodo colonial, os ndios foram chamados primeiramente de aimors, sendo
numerosos na poca das primeiras incurses portuguesas. Distribuam-se pelo sul da Bahia,
regio Nordeste de Minas Gerais e norte do Esprito Santo.
Depois, passaram a ser conhecidos como botocudos, denominao genrica dada a
diferentes grupos indgenas pertencentes ao tronco macro-j, isto , grupo no tupi, de
diversas filiaes lingusticas, cujos indivduos, em sua maioria, usavam botoques labiais e
auriculares.
3 As Bandeiras foram expedies organizadas, inicialmente, para apresar ndios no interior do Brasil. Depois,
surgiram as Bandeiras de Contrato e, por ltimo, as de prospeco de pedras e metais preciosos. Antes da
existncia das Bandeiras, foram designadas as Entradas que constituram, simultaneamente, operaes de
reconhecimento do territrio brasileiro em busca de ouro, prata e pedras preciosas que ali deveriam existir e de
consolidao do domnio portugus na Amrica. Chamavam-se Bandeiras em funo do costume tupiniquim de
levantar uma bandeira em sinal de guerra. Para combater os indgenas, valeram os portugueses das rivalidades
entre algumas das principais tribos, atirando-as umas contras as outras, da a expresso utilizada por Anchieta
levantar bandeira, depois difundida por Capistrano de Abreu. (CARVALHO, 2012:91).
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Fig.04: Povos que viviam em
Minas Gerais (2 metade do
Sculo XVI). Destaque para os
botocudos, grifos meus.
(CAMPOS; FARIA, 2005:25).
Neste ambiente de constante mobilidade espacial, rotas e caminhos foram criados
para a passagem de bandeirantes e aventureiros, atrados pelo desejo de enriquecimento, e das
tropas de abastecimento, que traziam consigo gneros e vveres para a manuteno e
abastecimento da regio. Profissional comum na regio, ao tropeiro cabia transportar gneros
alimentcios oriundos de diferentes territrios, segundo a necessidade do mercado minerador.
Para abastecer as aglomeraes que se formavam, desenvolveu-se uma intensa rede
comercial, com produtos de primeira necessidade trazidos da regio porturia do Rio de
Janeiro e de outras capitanias, como So Paulo, Bahia, Pernambuco e Rio Grande (do Sul).
Alm da existncia, desde os primeiros anos das Minas, de roas e paragens que se dedicavam
produo e escoamento de produtos agrcolas (alimentos e bebidas notadamente
aguardente), pastoris (bois, vacas e ovelhas) e txteis (tecidos grosseiros), direcionados ao
abastecimento interno da capitania mineira
A formao do povoado de Capela Nova de Betim, atualmente Betim, poca,
iniciou-se nesse perodo, quando a regio fazia parte desse entrecruzar de caminhos,
integrando parte da rota dos bandeirantes que partiam de So Paulo e se dirigiam a Pitangui.
A localidade era destino dos escravos transferidos do nordeste para as Minas e onde se
registrava o gado entrado na regio, destinado a abastec-la, que eram registrados no povoado
das Abboras, que passou a ser conhecido como Contagem das Abboras. A contagem era
realizada, evidentemente, com objetivos fiscais.
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Para controlar e ampliar a explorao aurfera nas Minas Gerais, a Coroa portuguesa
proibiu qualquer tipo de plantao de alimentos e criao de gado na zona. Os garimpos,
portanto, tornaram-se importantes centros consumidores de alimentos e animais de transporte.
Destaca-se que essa proibio no era respeitada, visto que a regio de Betim constituiu-se
como local de instalao de criadores de gado no incio do sculo XVIII. Em um dos
primeiros ncleos da povoao do atual municpio, foi construdo um casaro4 destinado ao
uso como pousada e venda de secos e molhados, especialmente para as tropas que por ali
passavam.
Em 1711, Joseph Rodrigues Betim, ligado por parentesco e amizade ao destacado
bandeirante Borba Gato, solicitou a Coroa portuguesa a doao de uma sesmaria na regio. O
pedido foi atendido no mesmo ano e a regio, demarcada s margens do Ribeiro da
Cachoeira, passou a ser conhecida como Ribeiro do Betim. Porm, segundo apontamentos de
Fonseca (1975), no se pode asseverar que Joseph Rodrigues Betim tenha sido responsvel
pelo desenvolvimento do povoado de Betim e pela construo de duas capelas na sesmaria,
uma vez que mudou-se para Pitangui em 1711 (FONSECA, 1975).
Nas primeiras dcadas aps a doao da sesmaria a Betim, a regio consolidou-se
como local de passagem e parada dos tropeiros. Ressalta-se que, afora o sesmeiro Joseph
Betim, o territrio foi dividido entre os sesmeiros Joo de Souza Sotto Mayor (criador de
gado) e Joo Leite da Silva Ortiz (FONSECA, 1975). Nesse perodo, recebeu diversos
ncleos de povoao, coincidentes com os pontos de parada dos tropeiros. Tais ncleos
tinham por funo o plantio de roas e criao de gado, destinados como suprimento aos
bandeirantes em expedio pelo interior. Desse modo, o arraial da Bandeirinha foi o primeiro
de Betim a constar na documentao oficial, ao pedir autorizao para a construo de uma
capela em 1753.
A autorizao foi obtida em 1754 e a capela erigida5 imediatamente com o nome de
Capela de Nossa Senhora do Monte do Carmo, demonstrando a prosperidade do local. Betim
4 Destaca-se que este casaro atualmente abriga a casa de Cultura Josephina Bento, inaugurada em 1987 em
homenagem a uma das mais antigas professoras da regio. Tombada como patrimnio histrico e cultural, em
1997, o imvel est localizado na Rua Padre Osrio Braga, nrio Braga, n 18, onde se realizam diversas
atividades culturais. IN:
http://www.betim.mg.gov.br/prefeitura_de_betim/secretarias/turismo/pontos_turisticos/39100%3B59205%3B07
243603%3B0%3B0.asp, acessado em 15/07/2015. 5 A edificao foi instalada onde atualmente se encontra a Praa Milton Campos, com os fundos para o futuro
centro histrico de Betim.
http://www.betim.mg.gov.br/prefeitura_de_betim/secretarias/turismo/pontos_turisticos/39100%3B59205%3B07243603%3B0%3B0.asphttp://www.betim.mg.gov.br/prefeitura_de_betim/secretarias/turismo/pontos_turisticos/39100%3B59205%3B07243603%3B0%3B0.asp
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Figura 05: Capela de Nossa
Senhora do Monte do
Carmo. IN:
http://imphic.ning.com/profi
les/blogs/linha-do-tempo-
de-betim, acessado em
15/07/2015.
aparece como local essencial para o abastecimento das tropas que ali passavam para
transportar o ouro. A oficializao do arraial se deu em 1754 atravs do estabelecimento da
Capela Nossa Senhora do Monte do Carmo, a Capela Nova, que mais tarde emprestaria seu
nome ao arraial Arraial Capela Nova do Betim (FONSECA, 1975). Pois, havia outras
capelas na regio, em Mateus Leme e Santa Quitria, atual cidade de Esmeraldas. A partir de
1760, o arraial cresceu em importncia, sendo elevado a distrito em 1797 e comportando a
instalao de foras policiais reais.
Ao final do sculo XVIII, a decadncia do ciclo do ouro provocou forte impacto na
regio mineradora, levando a um processo de rpido esvaziamento da populao e
substituio da agropecuria comercial pela agricultura de subsistncia (RODRIGUES, 1980).
A decadncia da explorao aurfera acarretou na retrao econmica de diversas cidades da
regio das Minas Gerais. Capela Nova do Betim, que tambm teve sua economia afetada pela
crise, passou a desenvolver atividade econmica de subsistncia. s margens do Rio Betim,
se instalaram olarias e moinhos de fub, em aproveitamento das quedas dgua. Em 1851, a
povoao foi elevada a distrito com a denominao de Capela Nova do Betim, por meio da
Lei Provincial n 522, de 23/09/1851.
poca, o territrio mineiro recebeu diversas incurses de viajantes estrangeiros,
que fizaram importantes descries do cenrio e das cidades que visitavam. Destarte, o
viajante James Wells (1995) fornece a seguinte descrio sobre a regio:
http://imphic.ning.com/profiles/blogs/linha-do-tempo-de-betimhttp://imphic.ning.com/profiles/blogs/linha-do-tempo-de-betimhttp://imphic.ning.com/profiles/blogs/linha-do-tempo-de-betim
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Figura 06: Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo, sculo XVIII. IN:
http://imphic.ning.com/profiles/blogs/linha-do-tempo-de-betim, acessado em 15/07/2015.
Capela Nova do Betim avistada muito antes que eu a alcance. Sua longa rua de
casas brancas e telhas vermelhas fica situada proeminentemente sobre um morro
alto, cercado de vales fundos e de morros mais altos e cadeias de montanhas. A
estrada desce da regio alta que eu tinha atravessado, cruza um vale e sobe por uma
ladeira larga e ngrime, com casas separadas, casebres e ranchos de cada lado.
Chegando ao topo, ela se une a outra rua em ngulo reto, ou melhor, a uma longa
praa aberta, com filas de casas de porta e janela amontoadas e uma igreja simples,
caiada, em uma extremidade. H diversas vendas e armazns de secos e molhados e
ranchos abertos para tropas de mula. (...) Uns poucos matutos, em seus matungos
esqulidos, montados com seus dedes do p enfiados em pequenos estribos e
usando o inevitvel poncho de baeta ou tecido azul listrado de vermelho; umas
poucas mulheres negras ou mulatas, vestidas com saias de algodo e xales
espalhafatosos e batas brancas, apregoando frutas ou doces em tabuleiros de porta
em porta; uns poucos vadios nas vendas e armazns; algumas cabeas nas janelas
assistindo apticas cena para a qual passam diariamente olhando e os numerosos
porcos, bodes, cachorros, galinhas, perus e galinhas dangola da rua constituem a
restrita vida presente nesta vila sonolenta. (WELLS, 1995:121-122).
Destaca-se tambm que o desenvolvimento da localidade, a partir da segunda metade
do sculo XVIII, pode ser percebido pela construo da Matriz de Nossa Senhora do Cormo,
concluda em 1867. A Matriz foi construda em substituio da capela erguida em 1754, uma
vez que j no comportava mais o pblico religioso, que havia crescido significativamente.
Ao final do sculo XIX, o Brasil vivenciara a mudana de regime poltico com a
implantao do regime republicano em 1889, que originou a diviso poltica dos estados e
municpios atravs da Constituio Federal. Minas Gerais passa de provncia para condio de
http://imphic.ning.com/profiles/blogs/linha-do-tempo-de-betim
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Figura 07: Capela de Nossa Senhora do Rosrio,
sculo XVIII. IN:
http://imphic.ning.com/profiles/blogs/linha-do-
tempo-de-betim, acessado em 15/07/2015.
Estado, formado por apenas 11 municpios. Um deles era o municpio de Santa Quitria,
representado pelos atuais municpios de Esmeraldas, Contagem, Ibirit e Betim (ASSIS, 1996,
p.15). Em 1901, o ento denominado Distrito da Segunda Companhia da Capela Nova do
Betim passou a integrar o municpio de Santa Quitria, deixando de se subordinar Vila de
Sabar.
Em 1894 comeou a construo da Capela de Nossa Senhora do Rosrio. A iniciativa
da construo da capela partiu da Irmandade de Nossa Senhora do Rosrio, existente em
Betim desde 1814. poca, j havia uma imagem de Nossa Sra. do Rosrio localizada na
Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Porm, a devoo dos negros era afetada, pois no se
sentiam vontade para realizar suas preces e oferendas Senhora do Rosrio (FONSECA,
1975:162). Assim, em fevereiro de 1897, a capela recebia vidraaria e nela j se celebravam
os atos religiosos. A instalao da capela, portanto, serviu como elemento de afirmao do
bairro Angola, onde a maioria dos negros de Betim residia nesse perodo.
A estagnao econmica do distrito de Capela Nova do Betim, durante todo o sculo
XIX, no fugiu s caractersticas conjuntura econmica de Minas Gerais, no perodo. O
desfavorvel cenrio econmico do municpio somente seria alterado a partir do final do
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Figura 08: Foto da Estao Ferroviria
de Capela Nova do Betim, de 1915. IN:
http://www.estacoesferroviarias.com.br/r
mv_garcas/betim.htm, acessado em
15/07/2015.
sculo XIX, com a mudana da capital mineira, em Ouro Preto, para a regio da antiga Curral
dEl-Rei:
Apesar das obras de implementao da nova capital absorverem as principais
iniciativas polticas e econmicas do governo, empenhado em fazer em Belo
Horizonte um centro moderno que refletisse os ideais republicanos de ordem e
progresso, esse processo repercute nas regies prximas e alcana Betim que, aos
poucos, sai do seu relativo isolamento (RUGANI, 2001, p. 56).
O desenvolvimento de Betim nesse momento, portanto, pode ser compreendido
como reflexo da implantao da nova capital mineira (CAMARGOS, 2006). Assim, destaca-
se a construo da Estrada de Ferro Oeste de Minas, em 1909, que ligava Belo Horizonte a
Divinpolis, como resultado da concesso de 155 km para a Schnoor Engenharia. Outra
importante construo do perodo foi a Usina Hidreltrica, inaugurada em 1914, iniciativa do
engenheiro Antnio Gonalves Gravat, funcionrio da Schnoor. Alm de sugerir a
construo da hidreltrica, cedeu parte de suas terras para o empreendimento, na Fazenda
Cachoeira. A usina foi construda com recursos prprios de Antnio Gravat e seu
empregador, Emlio Schnoor, fornecendo energia tambm s cidades de Henrique Galvo
(atual Divinpolis) e de Contagem, em 1945 (CAMARGOS, 2006).
http://www.estacoesferroviarias.com.br/rmv_garcas/betim.htmhttp://www.estacoesferroviarias.com.br/rmv_garcas/betim.htm
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Figura 09: Usina Hidreltrica. Foto do
acervo da Casa da Cultura Josephina
Bento, que retrata o perodo inicial de
funcionamento da usina, em 1914.
Tais acontecimentos no alteraram o quadro econmico da regio, j que o Distrito
de Betim apenas definia sua especializao na produo agrcola, que permaneceu
especializada na produo de gneros alimentcios, principalmente, arroz, milho, mandioca,
feijo, cana de acar e algum gado (RODRIGUES,1980). A partir de 1910, com o
funcionamento da Estao Ferroviria, a cidade desenvolveu um novo desenho urbano,
implantada prxima a Praa Milton Campos, compreendida como regio central. O
crescimento urbano, desse modo, deslocou o eixo central da cidade para a confluncia das
avenidas Governador Valadares e Amazonas, em detrimento ao antigo centro.
Resultado da poltica sanitria do pas, em 1922 foi instalado o Sanatrio Santa
Isabel, para o internamento e isolamento de doentes com lepra. O Sanatrio surge da reao
poltica de interveno para o controle da doena a nvel nacional. Foi uma das 33 colnias
implantadas em todo o Brasil, localizado numa regio afastada de Betim, conhecida
atualmente como Citrolndia (ASSIS, 1996).
No ano de 1938, Betim passa condio de municpio e comarca, composto pelas
cidades de Ribeiro das Neves, Contagem, Ibirit e Betim, conforme a Lei Estadual n 148, de
17/12/1938. Na dcada de 40, Contagem e Ribeiro das Neves so emancipadas de Betim.
Finalmente, em 1962, Betim se desmembra de Ibirit, passando a ter, atualmente, uma rea de
372 km2.6 Em 1941, a criao da Cidade Industrial, em terras desapropriadas de Betim
7,
6 Na legislao de 1939-1943, o municpio constitudo de 5 distritos: Betim, Campanha, Contagem, Ibirit e
Neves. Pelo Decreto-lei Estadual n. 1.058, de 31/12/1943, os distritos de Campanha e Ribeiro das Neves (ex-
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Figura 10: Foto de Betim, na dcada de 1940. IN:
http://www.cidade-brasil.com.br/foto-betim.html,
acessado em 15/07/2015.
Figura 11: Foto da
Colnia Sanitria Santa
Isabel, apesar de uma
regio isolada, integrante
do municpio de Betim,
na dcada de 1940. IN:
http://imphic.ning.com/pr
ofiles/blogs/linha-do-
tempo-de-betim,
acessado em 15/07/2015.
comprova a inteno do governo estadual de consolidar o centro econmico em torno da
capital. Com a construo das rodovias para So Paulo e Uberaba, Betim ampliou as
facilidades de escoamento para esses mercados, favorecendo a explorao das pedreiras da
regio.
Neves) foram transferidos do municpio de Betim para Pedro Leopoldo. E, ainda pelo mesmo Decreto-lei, o
distrito de Ibirit passou a ser grafado Ibirit. No quadro fixado para vigorar no perodo de 1944-1948, o
municpio constitudo de 3 distritos: Betim, Contagem e Ibirit (ex-Ibirit).
Pela Lei n. 336, de 27/12/1948, criado o distrito de Sarzedo e anexado ao municpio. Em diviso territorial
datada de 01/07/1950, o municpio constitudo de 4 distritos: Betim, Contagem, Ibirit e Sarzedo. Pela Lei
Estadual n. 1.039, de 12/12/1953, desmembrado o municpio de Betim o distrito de Contagem e elevado
categoria de municpio. Em diviso territorial datada de 01/07/1955, o municpio constitudo de 3 distritos:
Betim, Ibirit e Sarzedo. Em diviso territorial datada de 1-VII-1960, o municpio constitudo de 3 distritos:
Betim, Ibirit e Sarzedo. Pela Lei Estadual n. 2.764, de 30/12/1962, desmembrado do municpio de Betim os
distritos de Ibirit e Sarzedo, para constituir o novo municpio de Ibirit. Em diviso territorial datada de
31/12/1963, o municpio constitudo do distrito sede. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
(IBGE). Cidades@: Betim. IN:
http://www1.ibge.gov.br/cidadesat/painel/historico.php?lang=_EN&codmun=310670&search=minas-
gerais%7Cbetim%7Cinphographics:-history, acessado em 15/07/2015. 7 A Cidade Industrial foi criada em terras que pertenciam Betim, passando a fazer parte de Belo Horizonte e
depois passando a integrar o territrio de Contagem, atravs do Decreto Lei n.336, em 1948 (RUGANI, 2002).
http://www.cidade-brasil.com.br/foto-betim.htmlhttp://imphic.ning.com/profiles/blogs/linha-do-tempo-de-betimhttp://imphic.ning.com/profiles/blogs/linha-do-tempo-de-betimhttp://imphic.ning.com/profiles/blogs/linha-do-tempo-de-betimhttp://www1.ibge.gov.br/cidadesat/painel/historico.php?lang=_EN&codmun=310670&search=minas-gerais%7Cbetim%7Cinphographics:-historyhttp://www1.ibge.gov.br/cidadesat/painel/historico.php?lang=_EN&codmun=310670&search=minas-gerais%7Cbetim%7Cinphographics:-history
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Enquanto isso, a industrializao no municpio ganha uma maior participao no
setor secundrio da economia na tentativa de reforar o parque siderrgico do Vale do
Paraopeba (DINIZ, 1981). Algumas indstrias de refratrios so instaladas no municpio,
como a Cermica Saffran (1942), Ikera (1945) e a Cermica Minas Gerais (1947), ligadas por
dois eixos de articulao entre o municpio: a Avenida Amazonas e a Ferrovia, fazendo
ligao de Belo Horizonte a Divinpolis (ASSIS, 1996).
Destaca-se que, paralelo ao crescimento industrial, a agropecuria tambm se
desenvolveu, especialmente na produo de hortifrutigranjeiros, visando ao abastecimento da
capital. Todavia, essa primeira industrializao pode ser atribuda a uma elite industrialista
local, mais integrada comunidade, comprometida com a absoro da mo-de-obra da regio
e, por seu carter mais tradicionalista, menos agressiva sobre o tecido urbano.
Logo, entre 1940 a 1950, Betim passa a ter importante funo como local de
passagem das rotas de abastecimento, desta vez destinadas capital, Belo Horizonte. O
planejamento Estadual destinou ao municpio a funo de comportar a indstria de base ou de
bens de capital, representada pelas siderrgicas, e a produo de alimentos para o
abastecimento da capital. Destaca-se que o municpio fez parte da constituio do Parque
Siderrgico Nacional, por meio da criao da Cidade Industrial de Contagem, cuja extenso
abrangeu Betim.
O governo Estadual, no intento de superar a estagnao econmica, associa-se ao
Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e Companhia Energtica de Minas
Gerais (CEMIG) para a criao do Instituto de Desenvolvimento Industrial (INDI). O instituto
tinha por objetivo principal a criao e instalao de um parque industrial mineiro, meta
conquistada com a fundao da Cidade Industrial, em 1941 (RUGANI, 2001). Assim, novas
indstrias se instalaram na RMBH, principalmente em Contagem, e mais tarde, Betim.
A intensificao do processo de urbanizao no Brasil foi acompanhada pelo
acelerado processo de industrializao da economia brasileira em meados da dcada de 1950.
Com o objetivo de melhorar o desempenho da economia, a CEPAL (Comisso Econmica
para a Amrica Latina) foi orientadora fundamental, apoiado pelo governo Juscelino
Kubitschek (1956-1960). Com isso, no s a economia alcanava um novo patamar, onde
predominavam os setores de bens de capital e de bens de consumo durveis, como tambm os
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sistemas de transportes e virio se modernizavam, promovendo a articulao entre diversas
regies do pas (DINIZ, 1981).
Na dcada de 1950, a industrializao brasileira tem seu eixo alterado, com a
diminuio do investimento nas indstrias de bens de capital (as siderrgicas) e o aumento do
investimento para a produo de bens de consumo durveis, para substituio das
importaes. Detentora de uma localizao estratgica, Betim tornou-se plo de atrao das
indstrias. Essa poca foi marcada pelo programa de governo de Juscelino Kubitschek, cuja
meta era tornar Minas mais autnoma em relao gerao de energia. Em 1954, portanto,
era instalada uma central geradora de energia da CEMIG em Betim.
Tambm foi objetivo do governo estadual e federal modernizar o sistema de
transporte para integrar o ncleo do estado ao cenrio nacional. Belo Horizonte e Contagem
beneficiaram-se com os investimentos aplicados, mas Betim continuou com sua economia
voltada para o setor agropecurio, insuficiente para promover dinamismo econmico no
municpio (CAMARGOS, 2006). Contudo, a pavimentao da Rodovia Ferno Dias (BR 381)
e da BR-262 induziria o surgimento de vrios ncleos econmicos ao longo das rodovias.
Alm disso, o mercado imobilirio j sinalizava o futuro da incorporao do municpio ao
processo de metropolizao (RUGANI, 2003).
A Rodovia Ferno Dias, construda no governo presidencial de Juscelino Kubitschek,
foi significativa para o desenvolvimento da regio, provocando um considervel nmero de
loteamentos na poro central da cidade, durante a dcada de 1960. O bairro PTB (Posto
Telegrfico Brasileiro) percebido como um dos maiores exemplos da expanso da ocupao
urbana nessa poca. A partir de 1960, delineava-se uma nova configurao urbana em Betim,
embasada nas aes de demarcao dos lotes e bairros novos, sendo em maioria implantados
s margens da Rodovia.
Nesse perodo, chegaram a Betim algumas indstrias de mdio porte, quase todas de
capital privado, excetuando-se a Refinaria Gabriel Passos, instaladas no Bairro Cachoeira,
local tradicional da primeira industrializao de Betim, vinculado presena da Av.
Amazonas, do Rio Betim e da Ferrovia Oeste de Minas. Assim, destacam-se as seguintes
indstrias: Cortume Morumbi (1960), Fabril de Minas (sabes,1962), Riomar (artigos de
pesca, 1962), Fbrica So Geraldo mveis, 1962), Fbrica So Joo (biscoitos, 1962),
Frigorfico Silveli Torres (1964), Confeces Dora (1964), Siderrgica Amaral (1965),
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Refinaria Gabriel Passos (1968), Asfalto Chevron (emulso asfltica, 1969), Sidero Mangans
de Pellets (1969, a partir de 1974, chamou-se Siderrgica Wilson Raid).
A Refinaria Gabriel Passos, REGAP, foi instalada em 1968 em Betim devido ao
ponto estratgico de sua localidade: uma confluncia de condies favorveis redistribuio
de combustveis. Ademais, a disponibilidade de uma grande rea cedida pelo governo local,
juntamente com a privilegiada localizao geogrfica, facilitaria o escoamento da produo
(CAMARGOS, 2006). Alm disso, sua proximidade com Contagem e Belo Horizonte, centro
dinmico da regio, garantiria a demanda de um centro consumidor e tambm o fornecimento
de mo de obra. Primeiro empreendimento industrial do municpio, tornou-se responsvel
pelo desenvolvimento de muitas atividades complementares, a exemplo do comrcio
atacadista de combustveis.
Contudo, a implementao da Refinaria no trouxe mudanas na oferta de empregos
para a populao residente do municpio nem contribuiu para a dinamizao da economia.
Segundo RODRIGUES (1980), cerca de 80% de seus empregados residiam em Contagem e
Belo Horizonte. Por outro lado, a implementao dessa empresa j sinalizava uma tendncia
de expanso do municpio em direo a Contagem. Na dcada de 1970, apenas uma indstria,
a Asfaltos Chevron, havia sido atrada para o municpio em funo da REGAP.
Na dcada de 1970, a poltica econmica estadual, conhecida como Nova
Industrializao Mineira, permitiu que Betim ocupasse uma posio de destaque no cenrio
nacional. Planejada pelos polticos mineiros, esse projeto pretendia retirar o estado da posio
de centro industrial perifrico, fornecedor de insumos para o eixo Rio/So Paulo, tornando-o
um centro autnomo. Por isso, foi criada a Companhia de Distritos Industrias de Minas Gerais
(CDI), que planejou cinco distritos industriais na Regio Metropolitana de Belo Horizonte:
Betim, Vespasiano, Contagem, Santa Luzia e Belo Horizonte.
O distrito de Betim, denominado Paulo Camilo, recebeu mais investimentos, com o
intuito de se tornar o 2 polo automobilstico do pas. Logo, no incio da dcada de 1970, a
prefeitura municipal de Betim contraiu emprstimo junto Caixa Econmica Federal para
adquirir terrenos que seriam doados tanto Fiat Automveis quanto Krupp. A instalao
dessas indstrias no municpio deveu-se as boas condies de infraestrutura apresentadas e o
esgotamento do espao de Contagem. Segundo dados da CDI at 1979, Betim havia recebido
72,60% dos investimentos nos distritos industriais da RMBH e gerara 64,11% dos empregos
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diretos criados nestes mesmos distritos. importante ressaltar que Betim sofreu uma alta
especializao produtiva, isto , grande parte de sua industrializao nesta poca deu-se em
funo da indstria automotiva.
A instalao da Fiat Automveis em Betim resultou na formao do segundo maior
plo industrial automobilstico do pas, atraindo outras indstrias ligadas ao setor para o novo
Eldorado Industrial de Minas Gerais (RODRIGUES, 1980). Nesse sentido, a instalao
desse empreendimento repercutiu significativamente na reestruturao do espao urbano e
desenvolvimento econmico de Betim. Segundo Rodrigues (1980), o governo municipal, em
momento nenhum, participou das negociaes para instalao da Fiat em Betim, sendo um
acordo firmado entre o governo estadual e a Fiat.
Aps uma dcada de instalao da Fiat, Betim teve alterada definitivamente sua
participao no quadro econmico nacional: passando da posio de municpio relativamente
bem dotado de algumas indstrias de pequeno porte, para um centro de convergncia da
industrializao moderna, que vai se instalando no Estado. Esse desenvolvimento resultou
num crescimento vertiginoso da populao do municpio, que mais cresceu na RMBH desde
ento (CAMARGOS, 2006).
Porm, concomitante expanso industrial, percebe-se um crescente processo de
favelizao no municpio, principalmente nas reas urbanas centrais e nas adjacncias das
grandes industriais de Betim. A ausncia de interveno da poltica local e atuao do
mercado imobiliria acarretaram num processo de periferizao extensiva, por meio da oferta
de loteamentos populares em reas pouco valorizadas. Pois, essas regies por no serem foco
de investimento pblico, tornaram-se financeiramente acessveis s camadas de baixa renda
(ASSIS, 1996).
A ocupao de Betim, nesse sentido, no apresentou um desenvolvimento
homogneo. Enquanto algumas localidades tiveram significativas taxas de crescimento, outras
tiveram nveis bastantes baixos de aumento populacional. Assim, quatro regionais foram
responsveis por quase 88% do crescimento populacional de Betim: Alterosas, PTB, Norte e
Imbiruu (CAMARGOS, 2006). Sobremaneira, a concentrao da populao em Betim
encontra-se na regio sul, leste e central. Portanto, Betim apresenta uma formao histrica,
social e cultural, a partir da dcada de 1950, ligada aos processos de industrializao que
vivenciou.
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A partir da instalao da Fiat e da Regap e de demais indstrias, em consequncia,
Betim teve seu desenvolvimento econmico e crescimento populacional acelarados. Na
dcada de 1970, a taxa de crescimento populacional da cidade foi de 8,33%. Entre as dcadas
de 1980 aos anos 2000, a taxa de crescimento populacional se manteve aproximadamente
constante em 6,60% (CAMARGOS, 2006). De acordo com o censo demogrfico do ano
2000, a populao de Betim era composta por 306.317 pessoas, sendo um dos municpios
mais populosos de Minas Gerais (CAMARGOS, 2006).
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HISTRICO DO CINE TEATRO GLRIA
O Cine Teatro Glria um importante monumento, ao representar o testemunho de
uma poca, um lugar de memria8 dos moradores do bairro Colnia Santa Izabel. A
edificao, nesse sentido, personifica aquilo que comum a um determinado grupo social,
uma identidade social que faz com que a comunidade se sinta parte deste local, do espao
que traz a lume a histria de todos (TOMAZ, 2010). A construo em Art Dco9, nesse
sentido, carrega em si, no somente os elementos de sua composio, mas toda uma gama de
significados, dramas, experincias, vivncias que ali foram experimentadas, especialmente
durante o perodo de funcionamento da colnia sanitria, imbricadas em um determinado
contexto histrico, social e cultural.
Os relatos sobre o Cine Teatro indicam a importncia da construo para a Colnia
Santa Izabel, percebido como um dos poucos locais de lazer dentro de uma pequena cidade
do interior. Preservado at hoje, somado s memrias de seus frequentadores, compreende
um dos mais significativos elementos para a histria e cultura da comunidade local. Para
complementar o uso de fontes documentais e bibliogrficas, a pesquisa, portanto, foi
desenvolvida com base nos relatos de antigos moradores do lugar. Pois, compreende-se a
memria em sua funo antropolgica como instrumento na investigao das memrias
afetivas, das identidades sentimentais, e dos cdigos culturais e, em destaque, das memrias
coletivas e como meio eficaz de revisitao, reatualizao das lembranas e do passado
vivido e meio de produo de saberes histricos (CAVALCANTI, 2010). Conforme
Halbawachs (1990), recorre-se aos testemunhos orais para a produo de saberes histricos, o
reforo ou complementao sobre um evento j conhecido. Para Santos (2005),
8 Os lugares de memria so espaos, segundo a definio de Pierre Nora, que acabam por ser sacralizados em
determinados grupos nas sociedades urbanas (PESAVENTO, 2002). Esses lugares de memria assumem
importante significado por fazerem parte da memria coletiva de uma dada sociedade; por evocar lembranas de
um passado que, mesmo remoto, capaz de produzir sentimentos e sensaes que parecem reviver momentos e
fatos ali vividos, que fundamentam e explicam a realidade presente. (TOMAZ, 2010). 9 O Art Dco marcou significativamente, entre as dcadas de 1930 e 1940, a arquitetura das cidades brasileira,
que se firmou como uma expresso de modernidade acessvel s diferentes classes sociais. A inovao desse
estilo compreende a frequente simplificao geometrizante de seus elementos decorativos e na diversificao de
suas fontes de referncia ornamental, a exemplo das recuperaes e influncias que carrega da arquitetura
Beaux-Arts expresso na volumetria em composies marcadas pelo jogo de formas geomtricas eou em
fachadas com elementos de conotao ornamental (CORREIA, 2010).
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no obstante suas limitaes, a histria oral deve ser entendida como um mtodo
capaz de produzir interpretaes sobre processos histricos referidos a um passado
recente, o qual muitas vezes, s dado a conhecer por intermdio de pessoas que
participaram ou testemunharam algum tipo de acontecimento.
Nesse sentido, conforme Chau (1992), a cultura compreendida como a inveno
coletiva e temporal de prticas, valores, smbolos e ideias que marcam a ruptura do humano
em face das coisas naturais com a instituio das linguagens, do trabalho, da conscincia da
morte e do tempo, do desejo como diverso da necessidade, do poder como diverso da fora e
da violncia, do pensamento como diferenciao entre o necessrio e o possvel, entre o
contraditrio e o idntico, entre o justo e o injusto, entre o verdadeiro e o falso, entre o belo e
o feio, entre o bom e o mau; a determinao tica da existncia pela liberdade e pela culpa, a
determinao poltica da existncia pelo trabalho realizado sobre as diferenas e conflitos
sociais. Em outras palavras, cultura diz respeito aos objetivos, valores e imagens do mundo
que se manifestam no curso, no direito e nas prticas rotineiras de grupos que se auto
monitoram, sendo uma linguagem que se constri a fim de pautar as relaes sociais.
Desta forma, no se pde precisar com riqueza de detalhes informaes sobre a
construo e funcionamento do Cine Teatro Glria, integrante do Pavilho de Diverses da
colnia. O cine teatro localiza-se rua Prof. Antnio Aleixo, n 43, na Colnia Santa Izabel.
A colnia foi criada por meio da Lei N 801 de 22091921, que autorizava o Estado a instalar
leprosrios em diversos Estados da Federao, de acordo com a poltica sanitria preconizada
por Oswaldo Cruz. Projetada pelo engenheiro-sanitarista Lincoln Continentino e pelos
mdicos Antnio Aleixo e Samuel Libnio (BETIM, 2010), foi percebida como um dos mais
significativos exemplos da poltica sanitria de preveno e tratamento da hansenase10
,
poca, denominada por lepra; com o objetivo de isolar portadores dessa doena11
. Santa Izabel
10
A imagem social da hansenase histrica, ligada s noes de pecado, castigo, hereditariedade e, muito
posteriormente, compreendida como doena infectocontagiosa, conforme as descobertas realizadas por Armauer
Hansen, em fins do sculo XIX (MATOS, 2005). Durante todo o perodo colonial e imperial brasileiro, at
meados do sculo XX, a prtica de excluir os leprosos foi recorrente e corroborada pela cincia, pela religio e
pela cultura popular (CURI, 2002). 11
A eficcia do tratamento profiltico contra a hansenase por meio do isolamento compulsrio dos leprosos foi
questionada nos Congressos Internacionais j na dcada de 1950. Porm, no Brasil, esta prtica persistiu at a
dcada de 1980. Embora no tenha havido um consenso geral em torno do isolamento, ele foi legitimado como
prtica necessria ao combate a doena. A convivncia entre sadios e doentes fora considerada pela sociedade
cientfica como extremamente perniciosa. Por isto, para resguardar os sadios era preciso segregar o leproso da
sociedade, cerceando sua liberdade em grandes instituies de isolamento (CARVALHO, 2011).
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integra o conjunto de colnias12
, construdas no Brasil, cujo objetivo foi abrigar grande
nmero de doentes, tornando-se verdadeiras cidades (MATOS, 2005). Em geral foram
construdas em locais de difcil acesso, com muros altos, cercas de arames, portes trancados
e vigilncia para capturar fugitivos e novos doentes (OLIVEIRA; MENDES; TARDIN;
CUNHA; ARRUDA, 2003).
O local escolhido para sua instalao foi o terrao do rio Paraopeba, prximo
jusante do rio Bandeirante, cujo vale foi tambm ocupado pela construo (RUGANI, 2002)..
A Colnia, na poca de sua construo, tinha como via de acesso principal a ferrovia que
ligava Belo Horizonte a Brumadinho, com uma estao em Mrio Campos (Ibirit), prximo
do seu porto de entrada, por onde chegavam diversos doentes trazidos de outras localidades.
Para a constituio da sede do leprosrio, atravs do Decreto n 6.038 de 21/03/1922, o Estado
desapropriou, a ttulo de utilidade pblica, os terrenos, mananciais e benfeitorias da Fazenda
do Motta, no municpio de Santa Quitria. A pedra fundamental da Colnia foi inaugurada
em 12/10/1922, porm, seu funcionamento s se dar a partir de 23 de dezembro de 1931
(RUGANI, 2002).
12
No final da dcada de 1950, o Brasil possua 36 leprosrios localizados em quase todos os estados, 102
dispensrios em atividade e 31 preventrios, com a denominao de educandrios (ROCHA, VEIGA, 2004).
Fotos da Colnia Santa Izabel, dcada de 1930,
incio de sua construo. Arquivo digital do
Instituto da Memria e do Patrimnio Histrico
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A organizao do local remete a disposio de um campo de concentrao de
sade, constituindo-se como uma cidade-leprosrio de caractersticas urbanas e
arquitetnicas exclusivas s colnias desta natureza (ROCHA, VEIGA, 2004). Conforme
Diniz (1961), o combate lepra se amparava precariamente no trip institucional composto
pelo dispensrio, com a funo de descobrir, selecionar, internar os doentes, examinar os seus
comunicantes e educar as massas; leprosrio, destinado ao isolamento, assistncia material e
moralmente , tratamento e recuperao dos doentes, no intuito de devolv-los ao meio social;
preventrio, que recolhe os filhos sadios dos hansenianos, tanto os nascidos nos leprosrios,
como os oriundos dos lares de onde saram os doentes.
De acordo com o projeto de Continentino, inspirado nas experincias europeias
anteriores, a lgica urbana seguia a lgica do tratamento, materializando um rgido
zoneamento funcionalista. A localidade, portanto, foi subdividida em trs reas contguas na
seguinte disposio: Zona Sadia (alto risco de novo contgio): casa do diretor, casa dos
mdicos, residncia dos funcionrios, administrao, almoxarifado, garagem, padaria, escola,
farmcia, laboratrio, usina, casa das irms e capela. Zona Intermediria (mdio risco de novo
contgio): pavilho de recepo, pavilho de observao, parlatrio e cozinha geral. Zona
Doente (risco nulo de contgio, j que nestas alas permaneciam apenas os doentes): pavilho
de diverses e praa de esportes, refeitrio, pavilho infantil, pavilho para moas, pavilho
para mulheres, pavilho dos homens, casas geminadas, dispensrio, intendncia, hospital de
homens, hospital de mulheres, igreja, necrotrio, cemitrio, caixa beneficente, residncias
particulares (ROCHA, VEIGA, 2004).
Plano de Urbanismo da
Colnia Santa Izabel, dcada
de 1930, projeto de Lincoln
Continentino. Arquivo digital
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Desde seu planejamento a Colnia foi pensada para ser funcional e autossuficiente,
sendo os servios urbanos abastecimento de gua e energia eltrica, esgotamento sanitrio,
limpeza pblica , primeira preocupao do projeto. Desse modo, foi instalada uma usina
geradora, composta de 2 grupos Otto-Diesel para 75 HP cada uma. Um depsito com
capacidade para 5.000 litros de leo combustvel e outro para gua garantiram a refrigerao
dos motores. Posteriormente, sero substitudos por uma usina hidreltrica (RUGANI, 2002).
A instalao de um incinerador deveria completar o sistema de limpeza pblica baseada nos
parmetros rigorosos dos hospitais e sanatrios para tuberculosos (CONTINENTINO,
1937B:266-267), porm no chega a se materializar.
A finalidade desse aparato era promover o total isolamento de leprosos do convvio
com a sociedade. Rugani (2002), sobremodo, afirma que a colnia foi idealizada como uma
estrutura complexa, com setores destinados aos pacientes casados, solteiros. Havia setores
para quem tinha condio de pagar aluguel ou construir habitaes privadas. Existncia de
pavilhes para os indigentes, separados para cada sexo; pavilhes para servio clnico coletivo
com enfermaria geral; enfermaria para intercorrncias e outra para mutilados, alm de sala de
cirurgias. Outros pavilhes foram construdos para abrigar crianas, casos em observao,
pacientes agitados e portadores de outras doenas infecciosas.
A estrutura de apoio dividia-se em hidroterapia, farmcia, laboratrio com biotrio,
administrao, casas para funcionrios, para religiosos, lavanderia, diverses e, naturalmente,
um cemitrio. Destaca-se o Portal da antiga entrada que foi construdo, em estilo espanhol,
hoje desativado. Trata-se de uma arquitetura com ornamentao clssica, destacando a
inscrio Hicmane binus potime (Aqui estaremos bem). Esse portal, durante anos foi o
nico meio de entrada e sada, um divisor entre a comunidade sadia e a dos pavilhes,
proibindo o contato dos moradores hansenianos e seus familiares com a sociedade
(CHAGAS, 2008 apud AQUINO, 2008). A excluso social ali se fazia por meio da
institucionalizao do espao teraputico, cuja administrao, fundamentada no saber
mdico e na presso da sociedade civil, era de carter coercitivo, com leis, regras e
regulamentos prprios. (RUGANI, 2002).
O medo do contgio, amplamente difundido entre a sociedade, obrigou constituio
de mo de obra local, fornecedora de todo o tipo de servio, inclusive o cuidado e vigilncia
dos doentes. Destarte, foi montada uma infraestrutura econmica de produo prpria, onde
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foram olarias, serrarias, unidades de produo agrcola para cultivo e criao de animais com
fins de auto abastecimento. Os doentes foram aproveitados como mo-de-obra nos trabalhos
de construo civil, reparos, fabricao de tijolos, serraria, agricultura e pecuria. Destaca-se
que a independncia poltico-administrativa da colnia em relao ao municpio foi um fato
desde o primeiro momento (SOUSA, 2010).
Em 1937, a Colnia Santa Izabel chegou a abrigar cerca de 3.886 enfermos dentro de
seu permetro urbano, sendo muito mais populosa que vrias cidades do interior de Minas
Gerais (CARVALHO, 2011). Segundo Hlio Aparecido Dutra13
, a partir de 1931, a colnia
13
Hlio Aparecido Dutra, nascido em 27/07/1967, viveu toda a vida na Colnia Santa Izabel, trabalhou na
Fundao Hospitalar durante 17 anos e atualmente trabalha coordenao da Associao Comunitria do bairro
Foto da fbrica de tijolos da Colnia de
Santo Izabel, dcada de 1930. Arquivo
digital do Instituto da Memria e do
Patrimnio Histrico Cultural de Betim
(IMPHIC).
Foto da olaria Colnia de Santo Izabel, ao
fundo localizava-se a fbrica de tijolos,
dcada de 1960. Arquivo digital do Instituto
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recebeu inmeras pessoas de diferentes regies do estado mineiro, do pas e, inclusive, do
exterior. H registros de moradores oriundos da Itlia e da Alemanha, entre outros lugares,
que optaram pela internao no local. Notrio exemplo entre as instituies sanitrias desse
gnero, a ampla divulgao da recm- inaugurada Colnia Santa Izabel promoveu
significativo fluxo de imigrao em sua direo. Conforme Jos Andr Vicente14
, em 1940, a
Colnia Santa Izabel era conhecida como a maior do Brasil.
A administrao da convivncia social na Colnia ficava a cargos das irms de
caridade. No campo espiritual, as freiras e demais religiosos assistiam os enfermos, na
tentativa de humanizar um espao construdo e regido por duras normas impostas
(ROCHA,VEIGA, 2004). Destaca-se que os franciscanos fizeram a opo de conduzir seu
trabalho religioso junto aos leprosos. Assim, as irms eram responsveis pelo pavilho das
crianas, coordenavam as escolas, os refeitrios, e zelavam pela conduta moral e espiritual
dos internos. As irms do Monte Calvrio, portanto, impediam os relacionamentos amorosos,
sendo que namoros ou casamentos ocorriam mediante sua autorizao. Elas selecionavam os
doentes internos para os mais diversos trabalhos necessrios para o funcionamento do lugar,
inclusive para a prestao de cuidados de Enfermagem (DINIZ, 1961). Nesse sentido, os
internos no tinham opes, eram obrigados a obedecer s normas da instituio, caso
contrrio seriam punidos pelas irms de caridade, coordenadoras da Colnia (GUSMO,
2007)15
.
Colnia Santa Izabel e na coordenao do Centro Popular de Cultura, localizado no Cine Teatro Glria.
Entrevista concedida em 12/07/2015. 14
Jos Andr Vicente, nascido em 1936, foi internado em 1942 na Colnia Sanitria do Esprito Santo, junto
com sua me. Por serem mineiros, pediram transferncia para a Colnia Santa Izabel, vista com uma
infraestrutura melhor. A transferncia foi feita por trem, por meio de transporte extremamente precrio, e
caminho, sendo instalados na colnia em 1944. Trabalhou na enfermaria, no pavilho mdico e tocava Sax nos
grupos musicais que se apresentavam no Cine Teatro Glria. Entrevista concedida em 12/07/2015. 15
Segundo informaes de Hlio Aparecido, as irms de caridade eram bastante rgidas com os pacientes.
Atuaram em todas os espaos e tipos de servios da colnia, exceto na administrao do Pavilho de
Diverses/Pavilho do Cine Teatro Glria. A severidade do tratamento s crianas resultou no uso de remdios
para problemas psiquitricos. Justificava-se essa postura severa com os internos devido ao grande volume de
trabalho: eram muitas crianas para cuidar, afora os pacientes, sendo que nos anos iniciais a taxa de mortalidade
era altssima. N.A.
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Jos Vicente afirmou que conviveu com diversas pessoas, destacando aquelas
oriundas de classes sociais mais elevadas ou de maior poder aquisitivo. Contudo, segundo o
entrevisto, era comum os internados alterarem seus nomes e sobrenomes. A doena um
estigma terrvel. [...] Os familiares dos doentes eram mais sofredores ainda do que o prprio
doente, porque na casa que se descobria um doente, o resto da cidade isolava aquela casa. [...]
Aqui a gente j teve muitas pessoas famosas que escondiam o nome para que a famlia no
fosse alvejada. Indicou que a internao era compulsria e obrigatria e, em muitos casos, a
famlia no ia visitar os parentes acometidos pela hansenase.
Para Aquino (2008), o cotidiano das colnias era permeado pela angstia diria dos
doentes verem seus corpos mutilados pela hansenase que, poca, no tinha cura. Era
evidente e comum o preconceito vivenciado pelos doentes e o estigma familiar em relao
doena associado aos efeitos do isolamento social. Destarte, ocorre a perda da identidade
nesse tipo de instituio (GOFFMAN, 1961). A construo de uma nova identidade revela a
violncia das polticas sanitrias aplicadas para o controle da doena e legitimada pelas
crenas e valores culturais. A hansenase, portanto, produz a perda fsica e a perda social,
vislumbrada na perda da identidade (AQUINO, 2008). A nova identidade somente viria no
interior da Colnia, onde todos se reconheceriam como iguais diante do infortnio da doena
(MATOS, 2005).
Para minorar o sofrimento causado pela recluso na colnia, foram criados ambientes
agradveis para os doentes, oferecendo-lhes um meio propcio vida sem constrangimento,
Foto das irms de caridade de Nsa. do Monte Calvrio na Colnia de Santa Izabel,
dcada de 1930. Arquivo digital do Insitituto da Memria e do Patrimnio Histrico
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onde pudessem exercer suas atividades cotidianas e divertir-se, mantendo relaes gregrias
(RUGANI, 2002). Segundo os preceitos humanitrios da poca, foram construdos
equipamentos destinados ao lazer coletivo, uma preocupao com o conforto e o bem-estar do
doente percebidos, contudo, como mecanismos de preveno das fugas e de implantao de
esquemas disciplinares necessrios ao isolamento.
Foram criados, dessa maneira, os clubes recreativos, a Igreja Matriz de Santa Izabel,
erigida em 1934, o bairro bomio16
, e o Cine Teatro Glria, consubstanciando o ambiente que
possibilitaria a vida social e a socializao dos internos. Uma das prticas culturais
incentivada entre os doentes era o teatro, que possibilitou a mobilizao para a construo de
um edifcio prprio para as apresentaes. O prdio destinado ao teatro e ao cinema foi o
primeiro espao erigido para as atividades de socializao e de lazer da Colnia. Destaca-se
que foi o primeiro cinema de Betim, que ainda no havia se emancipado municipalmente, e o
primeiro local de lazer da colnia. Porm, restrito apenas ao uso dos doentes. Sua construo
comeou a ser idealizada no incio dos anos de 1930, sendo finalizada em 1934.
A mobilizao para a construo da edificao contou com a participao de Alice
Toledo Ribas Tibir17
, conforme Hlio Aparecido, e fundamental apoio do municpio de Juiz
de Fora (DINIZ,1933). Alice Tibiri assumiu a organizao da Campanha da
Solidariedade em Juiz de Fora em prol da construo do Cine Teatro Glria, uma medida
para diminuir a dor causada pela perca da relao com as famlias. A campanha de
arrecadao de fundos envolveu toda a cidade Juiz de Fora, a exemplo do Lions Clube. Em
Juiz de Fora estava localizado um preventrio, erguido na dcada de 1940, no qual eram
16
O bairro bomio foi consolidado a partir das exigncias dos internos por um lugar para seus encontros com as
mulheres que se prostituam, ali mesmo, dentro da colnia. Apesar da oposio das religiosas que atendiam aos
doentes, o ento Diretor acabou por anuir, para evitar conflitos maiores e a fuga dos doentes em direo cidade
(LANA, 1997:83). 17
Alice Toledo Ribas Tibir, nascida em Ouro Preto em 1886, foi uma importante ativista poltica e militante
feminista brasileira. Ao acompanhar o marido, Joo Tibiri Neto, durante a construo de uma estrada de ferro
no Maranho, comoveu-se com a situao precria dos doentes de hansenase. Desde ento passou a lutar pela
melhora das condies de vida dos doentes, internados nas colnias sanitrias. Fundou a Sociedade de
Assistncia s Crianas Lzaras, mais tarde Sociedade de Assistncia aos Lzaros e Defesa contra a Lepra
(SALDCL), alm de instituies similares em todo o pas. Foi a primeira presidenta da Federao das
Sociedades de Assistncia aos Lzaros e Defesa contra a Lepra (SALDCL). Faleceu em 1950, deixando um
importante legado em relao ao trabalho a favor dos leprosos, do combate a Tuberculose, sendo chamada de
Santa Leiga por Austregsilo de Atade, afora sua significativa atuao no movimento feminista (SAYEG,
1986).
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instalados os filhos dos pacientes de hansenase. E prxima ao municpio esta em construo
a Colnia de Ub, que foi inaugurada em 1945.
Nesse sentido, Hlio Aparecido descreveu o apoio municipal de Juiz Fora, no era
motivado apenas pela sensibilidade humana. Havia o intuito de que os doentes notificados
com hansenase na regio pudessem ser enviados para a Colnia Santa Izabel, uma vez que a
colnia de Ub ainda no estava pronta para funcionamento. Todo o recurso financeiro
adquirido pela campanha de Alice foi entregue a Orestes Diniz, ento diretor da Colnia Santa
Izabel, para dar continuidade ao projeto da construo do Cine Teatro. Os entrevistados no
souberam informar quem projetou a edificao. Mas afirmaram que na construo
trabalharam apenas os moradores da colnia, sendo que at os tijolos utilizados foram
produzidos pela olaria local.
Fotos da Construo do Pavilho de DiversesPavilho Juiz de Fora, dcada de 1930. Imagem do Cine
Teatro Glria dcada de 1960 (ltima foto). Arquivo digital do Insitituto da Memria e do Patrimnio
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A edificao passou a ser chamada de Pavilho Juiz de Fora, composta por cinema,
teatro, bar e salo de jogos, o famoso cassino. Assim, passou a ser conhecida por Cine Teatro
Glria. O empreendimento foi pensado para o lazer dos colonos, de modo que o espao era
penas frequentados pelos moradores da zona dos doentes. Os mdicos e a diretoria
administrativa assistiam aos filmes na pequena sala de projeo, a qual o paciente no tinha
acesso. O responsvel pela redistribuio das cenas era sadio, apenas quando as mquinas
deu problema que foi consentida a um dos moradores a entrada no local, para consert-las.
O maquinrio de projeo e todo o mobilirio do espao foram adquiridos por meio
de doaes da Sociedade de Assistncia aos Lzaros, instituio que repassava recursos para
as quatro colnias sanitrias existentes em Minas Gerais. Atualmente esto guardadas trs das
mquinas de projeo no Centro de Memria do Cine Teatro Glria, uma da primeira gerao
e as demais da dcada de 1960. Os filmes transmitidos eram doados pelos cinemas de Belo
Horizonte, que j no estavam mais em sua programao. Da mesma forma eram adquiridos
os roteiros para uso do grupo de teatro e os instrumentos para os grupos musicais, por meio de
doaes a Colnia. Destaca-se que no havia patrocnios a esses grupos, pagos apenas com
recursos da Caixa Beneficente, responsvel pela administrao financeira do local.
Os filmes eram exibidos duas vezes durante a semana, s quartas-feiras e aos
domingos. No tinham uma classificao prpria, sendo apropriados para todos os pblicos.
Eram filmes que continham histrias de super-heris, faroestes, gibis, homem morcego,
novelas. Conforme Jos Vicente, Toda quarta-feira transmitiam seriados. Era comum as
crianas faltarem s aulas para ir ao cinema, de acordo com os entrevistados; pois no
pagavam ingresso. Conforme Jos Vicente, os sadios operavam as mquinas e buscavam os
rolos de filmes em Belo Horizonte.
Embora o espao fosse destinado aos doentes, destaca-se que seu uso era
hierarquizado segundo o nvel financeiro dos frequentadores18
. O salo nobre e o cassino
eram frequentados pelos moradores mais ricos, o grupo elitizado dos pacientes. Destaca-se
que o servio ofertado dentro do salo nobre e do cassino era todo realizado por pacientes.
18
A estratificao financeira poderia ser vista tambm no espao da moradia, hierarquizada entre os doentes da
colnia. A rea asilar, compreendendo os diversos pavilhes de homens, mulheres, moas, meninos e meninas,
abrigavam aqueles doentes de origem humilde e no casados. A rea comunitria compreendia as moradias para
os doentes pensionistas, solteiros e casados. Situar-se nesta ltima, assim como os fatores de renda e da
escolaridade, determinavam um status mais elevado do interno, implicando em maior liberdade dentro da
colnia (LANA, 1997:86-88).
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Ao lado, estava instalado o cinema que poderia ser frequentado por todos os moradores, por
um preo mdico19
, sendo que as crianas e os funcionrios, mdicos e enfermeiros sadios,
no pagavam. No espao destinado ao cinema fora montado um palco para as apresentaes
de teatro. Os grupos que atuavam eram da prpria colnia. Neste local e no salo nobre
ocorriam os shows de bandas e grupos de jazz. Era no pavilho de diverses, que ocorriam os
gritos de carnavais, os bailes danantes e todo o tipo de atividade voltada para o lazer dos
colonos.
Em frente ao pavilho de diverses estava localizado o Coreto, uma praa com
jardins e uma caixa de alto falante, que continha o servio de rdio da Colnia. A rdio servia
para transmitir msicas, recados entre namorados, notas de falecimento, anncio de visitantes.
Os jardins eram o ponto de encontro dos moradores, dos namorados e dos casais. Os solteiros
eram obrigados a se sentarem separados por sexo. Conforme Jos Vicente, afora as freiras, o
comportamento dos moradores tambm era vigiado pelos guardas, responsveis pela
manuteno da ordem moral do lugar. Os guardas tambm vigiam a compostura dos casais
dentro do teatro e do cinema, sendo que se algum atentasse contra as regras estabelecidas era
retirado imediatamente do local.
Desse modo, importante destacar que a administrao do pavilho de diverses,
isto , do Cine Teatro Glria, do Cassino e do Salo Nobre, estava a cargo dos prprios
moradores da Colnia. Por isso, conforme Jos Vicente as freiras no interferiam nos festejos
realizados durante o carnaval no local ou na existncia da jogatina no interior do cassino. O
Cine Teatro Glria e os demais atrativos do Pavilho Juiz de Fora representam o corao da
colnia, considerados como o local mais querido da comunidade. Segundo os entrevistados,
todos tm alguma lembrana marcante, uma experincia, uma vivncia dentro e ao redor do
espao. Pois,
19
Todos os servios eram feitos mediante trocas monetrias. Havia comrcio e associao comercial na Colnia
Santa Izabel. Dessa forma, o local funcionava sob uma organizao econmico-financeira prpria. Destaca-se
que mo havia uma moeda nica para todos os leprosrios brasileiros. Assim, a atividade comercial no interior
dos asilos-colnias era controlada pela existncia de uma moeda prpria que permitia a diretoria do leprosrio
monitorar todas as entradas e sadas. Havia tambm o receio, mais da sociedade do que dos mdicos verdade,
de manusear dinheiro que havia sido tocado por leprosos, por isso o dinheiro da colnia representava tambm
uma tranquilidade para os sos. Portanto, a moeda nacionalmente vigente no podia ser utilizada no interior da
colnia. (CURI,2002).
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A vida cultural na colnia era intensa, sendo que grande parte da mesma girava em
torno do Cine Teatro Glria, do Clube Recreativo e do Salo de jogos, situados no
pavilho de Juiz de Fora. Havia sesses de cinema, festivais teatrais, horas
danantes e bailes aos sbados e domingos, animados pelos conjuntos de jazz,
fo