bergson em memoria

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    Imagens da imanenciaEscritos em memoria de H. Bergson

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    OrganizadoresEric LecerfSiomara Borba

    Walter Kohan

    Imagens da imanenciaEscritos em memoria de H. Bergson

    Inclui "Spinoza", texto ineditoem portugues de Henri Bergson

    autentica

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    Copyright 2007 by os autores

    EDITORA

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    Sumario

    7 Atualidade de BergsonDebora Morato Pinto; Siomara Borba; Walter Kohan

    27 SpinozaHenri Bergson

    39 Bergson hoje: virtualidade, corpo, memoriaMaria Cristina Franco Ferraz

    59 Flutuacoes da atencao no processo de criacaoVirginia Kastrup

    73 0 infinitamente simples (na obra de Bergson,a intuicao e as diferencas de natureza}Mdrio Bruno

    87 De Bergson a Deleuze. Do mecanismo cinematognifico do pensa-mento como ilusao mecanicista a imagem do pensamento atraves docinematografoAdridn Cangi

    97 Do universo bergsoniano das imagensas imagens do cinema em DeleuzeJamesAreas

    109 Psicologia e ontologia: Bergson, Sartre, Merleau-PontyFranklin Leopoldo e Silva

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    123 Como expressar 0 espirito? Derivas do problema da metaforaem alguns leitores de Bergson: Machado, Ricoeur, DeleuzeAxel Cherniavsky

    135 A duracao pura como esboco da temporalidade ekstatica:Heidegger, leitor de BergsonCamille Riquier

    155 Existencia, direito, resistencia,De J.-F. Lyotard a H. Bergson, uma aproximacaoAmparo Vega

    165 Nega

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    Atualidad e d e BergsonDebora Morato Pinto

    Siomara BorbaWalter Kohan

    As satisfacoes que a arte somente fornecera a privilegiados pelanatureza e pela fortuna, e apenas de vez em quando, a filosofia assimentendida oferecera a todos, em todos os momentos, reinsuflando a

    vida nos fantasmas que nos rodeiam e revivendo a nos mesmos. Eassim ela se tornara complementar a ciencia tanto na pratica quanto na

    especulacao, Com suas aplicacoes que visam apenas a comodidade daexistcncia, a ciencia nos promete 0bem-estar, ate mesmo 0prazer.

    Mas a filosofia poderia ja nos dar a alegria.H. Bergson, A i71tuifi io jilosrJjica

    Em 2007 comemoram-se os 100 anos da publicacao de A e vo lu ra o c ria -dora, de Bergson. Foi urn acontecimento que teve repercussoes diversas emtodo 0mundo, nao apenas no que diz respeito ao numero crescente de estudose de textos por e1edespertados, mas tambem pe1apolemica que 0 texto levan-tou nos mais diversos meios culturais. Certamente a producao anterior deBergson ja tinha recebido atencao significativa, mas e1aestava mais restrita aacademia, nos campos disciplinares que cada urn dos seus trabalhos abordava.Por exemplo, antes da publicacao deA evo lurao criadora em 1907, praticamen-te todo especialista na atividade cerebral que se prezasse conhecia as tesesapresentadas por Bergson em M at eria e m em oria (1897). Nos meios artisticos,o riso (1900), consagrado a definir 0 que pode ser "0 objeto da arte", era lidoe ao mesmo tempo respeitado pela sua perspectiva de proporcionar uma rela-s:ao harmoniosa entre arte e filosofia. Contudo, a publicacao de A e vo lu ra ocriadora faz com que esse movimento se amplie exponencialmente, tanto aointerior da filosofia - onde os fil6sofos sentem a necessidade de tomar posicaoperante essa nova tentativa de constituir uma filosofia geral focada ate mesmonas condicoes de emergencia da vida quanto em outros campos disciplinares,nos quais 0 estudo da obra de Bergson torna-se uma ocasiao para 0 cruzamento

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    de saberes e para se pensar as condicoes de possibilidade de uma teoria doconhecimento que escape aos compartimentos estanques surgidos com a emer-gencia das novas ciencias ao longo do seculo XIX.

    Assim, 0 interesse pe1a obra de Bergson nao se limitou apenas aos c1aus-tros universitarios, onde despertou urn mimero significativo de estudos - al-guns mais entusiastas e outros mais criticos -, mas tambem fora de1es, reen-viando a filosofia a sua tarefa mais classica de doadora de sentido numa cultura.Bergson e lido nos cinco continentes e, depois da publicacao de A evolufaocriadora ate 0 final da primeira guerra mundial, torna-se 0 autor de linguafrancesa mais traduzido no mundo. 0 periodo entre-guerras marca urn reco-nhecimento institucional importante, uma atuacao publica ativa de Bergson(presidente da comissao pe1a cooperacao inte1ectual da Sociedade das N acoes,Prernio Nobel) e tambern uma serie de polemicas que sua obra provoca, emtorno de sua suposta vontade de refutar as teses de Einstein e de seu tardioDuas fontes da moral e da religiao, que provoca muitos problemas tanto paraseus detratores quanta para seus seguidores. Participam dessa polernica nomesreconhecidos como Politzer, Nizan, Benda e Maritain. Abundam as refuta-coes e os panfletos, bern como os textos onde 0 intuicionismo atribuido aBergson, desprovido da dinamica interna que porta a intuicao bergsoniana, esimplesmente rotulado de anti-racionalista.

    A morte de Bergson, em 4 de janeiro de 1941, marca urn giro. A ausen-cia de comernoracao pe1a ocupacao alema e 0 anti-semitismo de Estado tor-nam mais significativa ainda a homenagem que the oferece Paul Valery naAcademia Francesa no dia 9 de janeiro, alguns dias ap6s sua morte. Sempretender discutir sua filosofia, Valery destaca suas linhas essenciais e chamaBergson de "ultimo grande nome da hist6ria da inteligencia europeia". Essetexto, divulgado em muitos paises, torna-se simbolo da resistencia a ocupacaonazista da Franca, A Revue deMetaphysique et deMorale consagra urn numeroespecial a Bergson, e 0 tom da maioria dos autores e critico, como se fossenecessario estabelecer os limites de uma filosofia que tinha marcado tao forte-mente os espfritos de uma epoca que a ideologia dominante procurava estig-matizar. A Revue philosophique de la France et de l'itranger tambem consagra aBergson urn mimero especial em tom de homenagem. Sob a direcao do sobri-nho de Bergson, Floris De1attre, a publicacao e intitulada Etudes bergsoniennese torna-se 0 primeiro mimero de uma serie que ate hoje tern papel de destaquena difusao do pensamento de Bergson.Imediatamente depois da Segunda Guerra Mundial, come

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    Bergson, em 1959, abre uma nova etapa. A reedicao das obras de Bergson acargo de Andre Robinet em 3 volumes permite uma nova difusao do seupensamento, que coincide com uma renovacao dos leitores. Entre eles, apare-cern com forca Maurice Merleau- Ponty e, particularmente, Gilles Deleuze,que escreve em 1956 0 verbete dedicado a Bergson num celebre dicionario defi16sofos organizado pelo pr6prio M. Merleau-Ponty' e urn livro, L e B erg so -nisme, em 1966.2

    Desde entao numerosos co16quios e encontros internacionais sao cons a-grados a obra de Bergson. Entre eles, adquire destaque 0 Co16quio de Cler-mont-Ferrand de 1989, em ocasiao dos 100 anos da publicacao dos E ss ai s urle s d on ne es im m ed ia te s d e la c on sc ie nc e, urn dos ultimos textos que se propoe apensar as condicoes de possibilidade de uma filosofia geral. Outros encontrosprovern de diversos campos de saber, como a estetica ou a neurologia. Emabril de 2000 a revista M a ga zi ne L it te ra ir e dedica urn dossie inteiro a Bergson.Atualmente, a obra de Bergson, depois desse percurso alternado de sucesso eesquecimento, parece ter encontrado certa posicao de momenta essencial nahist6ria da metafisica.

    Bergson e a 6losofia no BrasilA introducao dos estudos do Bergson no Brasil tern nome e sobrenome.

    Com efeito, a leitura da filosofia bergsoniana com enfase na ligacao indissociavelentre critica da razao e retorno a experiencia tern na obra P re se nc a e c am p otranscendental, de Bento Prado Junior, sua fonte de inspiracao, 0 autor e res-ponsavel, juntamente com Franklin Leopoldo e Silva, pela formacao da maiorparte dos pesquisadores na area da filosofia sobre a obra de Bergson no Brasil,e esse livro representa pape1 central nessa trajet6ria. Alern disso, sua hist6ria eparadigmatica no que diz respeito a pesquisa em filosofia no Pais e suas rela-coes umbilicais com a formacao francesa. 0 solo em que foi escrito envolve aestadia na Franca de 1961 a 1963, periodo em que Bento teve acesso as notasde urn curso ministrado por Victor Goldschimdt na Universidade de Rennesdurante 0 ana escolar de 1959-1960. Tratava-se de urn curso sobre Bergsoncom enfase no primeiro capitulo de M at eria e m em oria e sua famosa teoria dasimagens - delineava-se ali a nocao-chave de "campo transcendental sem su-jeito", sobre a qual Presenca funda 0 imago da sua reflexao, A obra alia rigor

    1DE LEUZE, G. Bergson. In: MERLEAU-PONTY, M. (Org.). Les ph il osophe s ce leb re s . Paris:Mazenod, 1956, p. 292-299. [Traducao para 0 potugues in: DELEUZE, G. Bergsonismo. SaoPaulo: Editora 34, p. 125-139].

    2 DELEUZE, G. Le Berg son isme . Paris: PUF, 1966.

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    academico e originalidade filosofica, na medida em que surge a partir dodialogo entre seu autor e as exigencias do metodo de leitura estrutural.

    Sabemos que Goldschimdt e Gueroult contribuiram de modo capitalpara 0 desenvolvimento do departamento de filosofia da USP por oferecer aosseus pesquisadores 0 metodo baseado nas analises estruturais de texto. To-mando-as apenas como certa direcao de trabalho, Bento aplica algumas ami-lises desse estilo a obra de Bergson, mas com uma diferenca especial: ele 0 faza luz de urn amplo horizonte de autores e questoes e, portanto, utilizando-asem proveito de urn esforco de reflexao cujas preocupacoes ultrapassam larga-mente a mera intencao de "explicar 0 autor". Essa diferenca se expressa numaambiguidade constitutiva da obra, a da mistura entre a analise imanente con-forme a formacao uspiana e, segundo os proprios termos de Bento, "a pulsacaoe a pressao permanente de minhas proprias obsessoes filosoficas't.! Nesse con-texto, 0 modo como escolheu seu objeto de tese tern amplo significado, ja queuma de suas motivacoes essenciais residiu na decisao de desconfiar de si e desua adesao entusiasmada a fenomenologia francesa, particularmente a filosofiade Sartre. Seguindo urn conselho sartreano, Bento procurou suspeitar de suasinclinacoes, pensar contra si mesmo, isto e, "contra Sartre"," e a formacaogueroultiana foi 0 instrumento mais adequado para tanto, 0 "caminho idealpara esse exercicio de ascese". Essa origem tern relacao direta com os desdo-bramentos do estudo de urn filosofo cuja ressonancia na segunda metade doseculo XX foi extremamente problernatica. A originalidade e a riqueza daleitura precisa que Bento dedicou aos nos conceituais do pensamento bergso-niano contribuiram para a sua recuperacao num momento em que esse pensa-mento conhecia urn ostracismo de raizes rmiltiplas. Nao e exagero enfatizarque Presenca devolve as obras bergsonianas a devida importancia na filosofiaconternporanea. Essa dirnensao da analise de Bento nao escapou a seus leito-res mais atentos: ao comentar ter entrado em contato com 0 livro numa aulana Sorbonne, em 1997, Renaud Barbaras aproveitou a oportunidade para lem-brar seus alunos de que a germanofilia do "milieu philosophique" frances so viuem Heidegger, 0 autor crucial para 0 seculo XX, aquele que soube infletir ametafisica e de1a fazer a critica mais decisiva, 0 que nao deixa de significar quee1e foi urn grande metafisico; esqueceram-se assim da importancia de Bergson.E 0 livro de Bento tomava-se, nessa medida, crucial para ressignificar 0 papelda filosofia da duracao no horizonte da filosofia frances a conternporanea ou,

    3 Intervencao de Bento Prado Junior na abertura do debate realizado em Paris sabre seu livro,no College International de Philosophie em janeiro de 2002. Publicado em Worms, F. (Ed.).Annates Bergsoniennes 1. Paris: PDF, 2002, Epimethee, p. 331-335.

    4 Ibidem, p.331.

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    como bern notou Marilena Chaui, para tornar explicito como "a filosofia deBergson cria urn campo de pensamento no qual se moved. a filosofia francesaposterior"," operando como "fundo silencioso" na interpretacao de autores sem-pre considerados centrais ao trabalho filos6fico da segunda metade do seculo,como Husserl, Nietzsche, Marx, Freud e Heidegger. Bergson e 0 mestreoculto da suspeita.

    Acompanhemos entao 0 trajeto do livro e de sua receptividade nos doispaises. As datas de publicacao pedem urn comentario: escrito em 1964, emrazao das turbulencias e dos prejuizos que a ditadura militar impos ao exerci-cio intelectual- particularmente aquele que se praticava no meio academico -,somente foi publicado em 1989. Muito mais tarde, em 2002, foi publicado naFranca, gras:as ao empenho e a traducao de Renaud Barbaras.' Com a publi-cacao do livro, concentrado na analise do que podemos chamar "aspectostranscendentais" da filosofia bergsoniana, encontramos urn modo de pensar arelacao estreita entre essa filosofia e a fenomenologia. A convergencia estaexplicita na necessidade de urn retorno a experiencia cuja verdade foi de algummodo perdida ou esquecida, ocultada pela tradicao metafisica que formata, assuas expensas, 0 vivido, nele inserindo categorias ou conceitos a priori, juizosantecipadores, prejuizos, numa palavra. Assim, para as duas vertentes filos6fi-cas, a critica do conhecimento e tarefa imprescindivel e mesmo condicao doretorno as coisas mesmas ou a experiencia direta em sua temporalidade imediata.Em Bergson, isso significou denunciar e superar a origem pratica do conhe-cer, que implica negar aspectos da realidade que escapam a determinacaoconceitual, isto e, tudo 0 que, na nossa experiencia real, aparecer como mu-danca, movimento, transformacao, dinamicidade, em proveito de uma repre-sentacao estavel e tendendo a identidade. A passagem direta de uma represen-tacao comum ou natural do mundo e de n6s mesmos a reflexao filos6fica quebusca a verdadeira realidade determina as direcoes da metafisica e da teo ria doconhecimento - a negacao da duracao esta, segundo Bergson, no micleo dahist6ria da filosofia, e 0 seu fio condutor. Os filosofos nao desconfiaram dosprincipios que os dirigiam quando se colocavam questoes radicais e seguiramassim impulsionados por urn motor invisive1 do pensamento. Trazer a luz ospressupostos que direcionam a metafisica e a contribuicao do trabalho critico,e 0 coracao da vertente negativa do bergsonismo. A critica do conhecimentoconsiste, assim, no esforco para desmascarar as ilusoes naturais ao entendi-mento nas quais esta mergulhada a filosofia. Sua licao primordial, justamente5 Prefacio a Presenca e campo t ran scendent a l. Sao Paulo: Edusp, 1989, p. 12-13.6 0 fato de que Renaud Barbaras domina plenamente a lingua portuguesa lhe permitiu conhe-

    cer plenamente a livro e, em seguida, traduzi-lo,

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    aque1a que Presenca toma como foco central de analise, reside em reconhecerque e indispensavel a filosofia urn trabalho de desconstrucao para impedir queconcepcoes ja sedimentadas operem tacitamente na descricao do real: "e pre-ciso desfazer as ilusoes que servem de horizonte a praxis humana e the em-prestam vigor".7 Esta e a enfase e 0 trunfo da leitura de Bento: mostrar quecada trabalho de dissociacao analitica de conceitos e cada explicitacao de pres-supostos comuns a alternativas dialeticamente constituidas no tratamento classicode problemas filosoficos apontam para urn funcionamento ilusorio da razao,A dialetica produzida pe10 entendimento se efetiva a luz da "miragem da au-senoia" de maos dadas com a obsessao pe1a imobilidade, urn pano de fundoque reve1a como figura a determinacao mais essencial da duracao, sua de1imi-tacao ontologica como presenfa.o que estamos sublinhando aqui e 0 modo como essa interpretacao dafilosofia de Bergson engendra urn dialogo extremamente frutifero e ineditoem solo frances ate entao, Trata-se de uma conversa filosofica "ultramar'" quee inaugurada por Victor Goldschmidt e Bento Prado Junior e retomada, 30anos mais tarde, por Renaud Barbaras e Frederic Worms, com 0 curio sopape1 mediador de Gerard Lebrun. Membro do ''jury de these' de Bento e deWorms, Lebrun apresenta reservas similares em relacao aos dois trabalhos,que foram defendidos justamente nesse intervalo de 30 anos, assinalando umadificuldade de leitura cujo alcance engloba 0 am ago das relacoes entre teoriado conhecimento e metafisica, 0 que significa tambern 0 micleo das conver-gencias e diferencas entre Bergson e os fenomenologos, Antes da publicacaodo livro na Franca, a relacao franco-brasileira parece ter uma so direcao: 0estudo de autores franceses pelos pesquisadores brasileiros que e alimentado emesmo dirigido pelas interpretacoes, algumas vezes can6nicas, dos historia-dores da filosofia na Franca, Com 0 livro de Bento, 0 fluxo adquire uma novadirecao, Urn efeito dela e a publicacao do curso de Goldschmidt, que perma-neceu curiosamente inedito na Franca ate que 0 debate brasileiro fosse reto-mado em solo frances no inicio de 2000. Sua tese foi avaliada por Lebrun,cujas reservas se concentravam justamente nesse vies "transcendentalista" au-torizado em parte pela famosa teoria da percepcao pura que Bergson desen-volve em concomitancia com a nocao de campo de imagens.

    No Brasil, os desdobramentos do golpe de 1964levaram Bento ao exiliona Franca: cassado de seu cargo, e1ese dedica ao estudo de Rousseau de 1969 a1974, como pesquisador do CNRS ( Cent re N a ti na l d e fa R ech er ch e Sc ient if iq ue ).

    7 Presenca e campo transcendental, p. 89.8 E a adjetivo que Paulo Arantes atribui ao departamento da USP em sua famosa analise dessa

    hist6ria de formacao, Ver ARANTES, P. E. Um departamento frances de ultramar. 1. ed. SaoPaulo: Paz e Terra, 1994.

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    A volta ao Pais e a retomada da docencia e do trabalho academico na Universi-dade Federal de Sao Carlos adiaram ainda mais 0 projeto da publicacao, So-mente em 1989, 25 anos depois da redacao, Bento resolve publica-lo, comalguma hesitacao, talvez devido as proprias condicoes de sua redacao, muito liga-da ao periodo conturbado do ano de 1964. Ocorre que aquilo que na mesma notapreliminar e apontado como a razao de publicar 0 texto - a possibilidade de que 0livro atraia leitores para a obra de Bergson - efetiva-se num grau inesperado.

    A partir do inicio da decada de 1990, as orientacoes de tese (tanto na USPquanto da UFSCar) comes:am a ganhar alunos que desejam estudar a filosofiada duracao: a leitura de Preserua esta at para marcar significativamente essespesquisadores. E importante ressaltar uma consequencia direta dessa marca: urninteresse agudo pelas etapas criticas de cada livro, iluminadas pela bela analiseda "critica dos principios" e inseridas no campo de questoes prementes a filoso-fia francesa contemporanea, 0 papel da hist6ria da filosofia na espacializacaodo tempo e recuperado como ponto essencial a ser compreendido para que adescricao estrutural e genetica da inteligencia que Bergson nos oferece reassumasua importancia e possa ser enfrentada. E sempre ao Ultimo capitulo de A euo-lU fao c ri adora que a leitura de Presenca nos envia, pois nele se configura comclareza 0 modo como Bergson responde aos impasses da filosofia moderna. Ametafisica conceitual de braces dados com a ciencia e visada em sua amplitude,e os estudos das analises criticas explicitam suas consequencias para a filosofiado seculo XX. A dimensao propriamente contemporanea do pensamento deBergson e recuperada, assim como sua influencia sobre Merleau-Ponty. A ex-plicitacao da critica da ideia de N ada mostra-se indispensavel ao devido equacio-namento do problema da negatividade,justamente 0 ponto crucial das divergen-cias de Merleau-Ponty, concentradas na suposta adesao bergsoniana ao "serpositivo" da tradicao. Essa questao foi 0 que chamou a atencao de RenaudBarbaras, transformando-o num dos leitores mais atentos da obra de Bento eposteriormente em seu tradutor. A segunda consequencia remarcavel da influenciado livro e 0 incentivo ao estudo de Materia e memoria, obra ate entao bastanteignorada pela literatura corrente e praticamente inexplorada no Brasil. Seguin-do a sugestao do capitulo sobre as relacoes entre presens:a e representacao, algunspesquisadores tomam como objetivo compreender e explorar 0 papel de Materia ememoria no conjunto da obra bergsoniana e assim no coracao da filosofia da dura-s:ao. Esse e 0 livro capital para a discussao com a fenomenologia, 0 que bern econfirmado pelo interesse de Sartre (mesmo crftico) e Merleau-Ponty.?

    9 A relacao tensa entre percurso transcendental e acesso ao absoluto se insere no "espaco deconfrontacao com a fenomenologia", discutido mais detalhadamente pelos debatedores dolivro na Franca, especialmente Renaud Barbaras e Frederic Worms. Ver Annales I, p. 337-341 e p. 356-362.

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    Ainda na decada de 90, Franklin Leopoldo e Silva publica sua livre-docencia, Berg son - intui ft 'i o e d iscur sof il os r if ico, 10 estudo concentrado em mos-trar que, para bem compreender a critica bergsoniana da linguagem, e precisodesvendar 0 movimento de fixacao de significados seguindo idealmente a ge-nese e a constituicao da linguagem como ferramenta pratica. Mais que isso, efundamental examinar 0 trabalho de apropriacao sem cri ti ca pe1a filosofia, des-de 0 seu nascimento, dessa linguagem desenvolvida e sedimentada. Isso signi-fica analisar 0 movimento pelo qual a filosofia surge seguindo as direcoes dalinguagem, que ja terminou e aprofundou 0 trabalho de fixacao enquanto "fer-ramenta das ferramentas" da consciencia intelectual. Ou seja, a reflexao queencontramos no livro nos oferece pistas para entender a proposta de uma lin-guagem conveniente a filosofia, bem como a defesa da aproximacao entrelinguagem filosofica e linguagem poetica, 0 livro explicita ainda a necessida-de do exame detalhado das teorias tradicionais do tempo para a apreensao dosentido mais fundamental do metodo da intuicao e de sua complexa relacaocom 0 discurso, ja que nos mostra 0 papel fundamental da linguagem mode-lando 0 pensamento do tempo, ou seja, operando na propria constituicao detais teorias (como as de Aristoteles e Kant, por exernplo). A licao de Bergsone exposta e explorada: a filosofia tradicional nao faz senao ampliar a simboli-zacao ao desenvolver uma inteligibilidade formal que tem grande eficacia nocampo cientffico, mas que, em filosofia, acaba por desnaturalizar seu objetocentral: 0 tempo real.

    Voltemos a 2002: 0 que se passa a partir da publicacao de Presenia naFranca? 0 dialogo franco-brasileiro se engaja numa dupla direcao. A leiturade Bergson realizada por um autor brasileiro revigora um debate e impulsionaum trabalho em curso na Franca, precisamente a retomada de Bergson nomeio acadernico frances. Um dos artifices desse movimento de recuperacao dobergsonismo e Frederic Worms, que defende seu doutorado sobre Bergson epublica, em 1997, 0 livro Introduction a Matiere et memoire d e B ergson pelacolecao Epimethee da PUF. Faz parte do dialogo que se estabelece a epoca 0interesse de Renaud Barbaras por Bergson, tomado pe10 fenomenologo comocontraponto de sua posicao no contexto da fenomenologia atual- 0 livro V ie e tintentionalite apresenta-nos os resultados dessa reflexao,

    A origem da reflexao de Presenia e campo transcenden ta l nunca abandonouo horizonte filosofico de Bento Prado Junior: recentemente escreveu um be-lissimo prefacio a traducao brasileira de S it ua fo es I , de Sartre, e um enormenumero de alunos 0 procurou durante muitos anos de sua docencia para de-senvolver teses sobre Sartre e Merleau- Ponty, mais ainda do que Bergson.

    10 SILVA, F. L. Bergson: int u if ii o e d i sc urs a f il os 6 fi co . Sao Paulo: Loyola, 1994.

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    Tambem Franklin direcionou seu trabalho para Sartre, especialmente 0modocomo esse autor estabelece a relacao entre filosofia e literatura.!' Os alunosorientados por ambos formaram uma rede de pesquisadores, enriquecida pe-los estudiosos da obra de Merleau-Ponty formados sobretudo por Carlos Al-berto Ribeiro de Moura, da USP. Essa rede de pesquisa vern se instituciona-lizando desde 0 inicio de nossa decada, com a formacao do Grupo de TrabalhoANPOF "Filosofia Francesa Contemporanea" em 2002 e, posteriormente, 0Grupo de Pesquisa do Diretorio CNPq com 0 mesmo nome. Varios livrossobre Bergson, Merleau- Ponty e Sartre foram publicados no Brasil, e as tesessobre esses autores vern se multiplicando, assim como vern aumentando 0numero de alunos que viaja a Franca para estagioa com Renaud Barbaras.

    A educ3.fio e a atualidade do pensamento de BergsonComo destacamos no inicio deste texto, 0 pensamento de Bergson extra-

    pola amplamente 0 campo estrito da filosofia.Com efeito, Bergson e urn dessesfilosofos para os quais a filosofia nao se afirma em oposicao a "nao-filosofia",mas em dialogo com e1a.A diversidade e a produtividade dos ecos de sua obraem outros campos que 0 filosofico (literatura, artes, fisica, medicina, antropo-logia, cornunicacao) convalidam essa apreciacao, Nesta secao exploraremos al-gumas implicacoes do pensamento de Bergson para 0 campo da educacao,

    Antes, alguns esclarecimentos. Como re1acionar urn pensador, ou me-lhor, urn pensamento, com a educacao? Haveria muitas possibilidades. Aprimeira e mais direta e examinar 0 que Bergson diz explicitamente a respeitoda educacao, seja em obras mais teoricas ou em intervencoes publicas, comoquando, em 1927 ao receber 0 Prernio Nobel, manifestou sua admiracao pelofato de 0 povo sueco considerar a educacao seu primeiro problema. Trata-sedo trabalho que fez, por exemplo, R.-M. Mosse-Bastide" ou, entre nos, 0professor Rubens Murillio Trevisan," ambos produtos de teses de doutora-mento. Como 0 proprio Trevisan sugere, embora Bergson tenha tido umaextensa vida de professor e tinha feito diversas intervencoes diretas em ques-toes educacionais (participa do movimento de reforma educacional na Franca;e membro do Conselho Superior de Instrucao Publica; a partir de seu dialogocom os pragmatistas, em particular com W. James, influencia representantes do

    11 Publicou recentemente: SILVA, F. L.Etica eliteratura em Sartre. Sao Paulo: Editora UNESP,2004.

    12 MOSSE-BASTIDE, R.-M. Bergson educateur. Paris: PUF, 1955.13 TREVISAN, R. Murillio. B er gs on e a e du ca cd o. Piracicaba: Unimep, 1995. Notadamente seu

    capitulo 6 "0 esboco de uma filosofia bergsoniana da educacao",

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    movimento da "Escola Nova" na Franca), nao hi obras especificas sobre aeducacao e tambem nao hi ne1e um sistema ou uma teoria educacional acaba-da. Porern, se 0 "fazer" da educacao se sustenta em alguma teoria sobre 0conhecer em geral, entao desprende-se da centralidade que Bergson outorgoua questao do conhecimento a relevancia implicita do fenorneno educacional euma teoria educacional subjacente.

    Hi outra possibilidade de reunir Bergson e a educacao, ji nao tentandoreconstruir seu pensamento ou sistema acerca da educacao, mas se aproprian-do de alguns dos seus conceitos fundamentais e deslocando-os para 0 campoda educacao, seja em nive1 teorico, seja em nive1 pratico, Nesse sentido, tern-se apontado as ideias bergsonianas para defender a educacao como "formacaointegral"," a escola publica em horatio integral,15 para estudar a dimensaopedagogics da intuicao," a memoria e 0 quotidiano escolar," ou ainda, comonum texto presente neste mesmo livro, para considerar a atencao no processode criacao."

    Por fim, hi uma terceira possibilidade de re1acionar Bergson e a educa-s;ao: 0 que se pode aprender de um pensamento como 0 de Bergson? 0 quenos ensina Bergson? Qual experiencia pedagogics pode promover hoje a lei-tura de Bergson? Nesta terceira alternativa, 0 que esta em jogo nao e seupensamento na medida em que ele toma a educacao como objeto; tambem naoe a aplicacao de seu pensamento ao campo educacional, mas a forca educacio-nal de seu pensamento; sua potencia para promover aprendizados. Desta ter-ceira possibilidade diremos algumas palavras.

    Hi tambem varias possibilidades para sentir essa forca, A primeira seriapelos "aprendizes" (nao precisamos dizer que 0 nome "discipulo" soa quaseirreverente neste contexto se lembrarmos que Bergson nao gerou uma "escola"

    14Cf., por exemplo, de T. Araujo, "Contribuicoes do pensamento bergsoniano para 0 estudo dasconviccoes pedagogicas do professor universitario: apontamentos de formacao", texto publicadonos Anais em CD-Rom do Coloquio Internacional Henri Bergson (UERJ, novembro 2007).

    15 COELHO, Ligia Martha Coimbra da Costa. Escola publica de horario integral: urn tempo(fundamental) para 0 ensino fundamental. Texto apresentado no site da Escola Fundamen-tal do Centro Pedagogico da UFMG: http://www.cp.ufmg.brl.

    16 T. Pinto, texto publicado nos Anais em CD-Rom do Coloquio Internacional Henri Bergson(UERJ, novembro 2007).

    17 Barone, A. F. C. Memoria, quotidiano e educacao, In: CONGRESSO BRASILEIRO DECIENCIAS DA COMUNICAC;Ao, 27. Anais do.. . , 2004. Sao Paulo: Intercom, 2004. CD-ROM.

    18 C V. Kastrup, "Flutuacoes da atencao no processo de criacao", A mesma autora dedica urncapitulo ("Bergson, critico do cognitivismo") de seu livro A invenfiio de si e do mundo (BeloHorizonte: Autentica, 2007, p. 113-128).

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    de pensamento ou nao teve discipulos em sentido estrito), Se empreendesse-mos essa via, alguns dos nomes em que 0 imp acto da obra de Bergson enotorio (como Merleau-Ponty, Sartre, Politzer, Peguy, Levinas, Deleuze etantos outros) mostram a fertilidade de empreender tal caminho nas profundi-dades dessa obra, para alern dos reconhecimentos explicitos.

    E ainda podemos sugerir outro caminho, em parte andado em parte porandar, a partir da leitura de seu pensamento. Urn caminho que cada leitor fazao confrontar-se diretamente com a obra de Bergson e deixar-se ensinar porela. Ha tantos caminhos e tantos aprendizados nessa obra que parecem infini-tos. Num dos textos deste livro, A. Cherniavsky toma emprestada a palavra"pedagogico" de A. Philonenko para qualificar 0 gesto bergsoniano que afir-rna 0 carater indizivel da duracao; tratar-se-ia de nao dize-lo todo e deixarque 0 leitor faca seu proprio trabalho; por fim, lembra que D. Maingueneaufala de urn certo "estilo pedagogico", em Bergson.

    Vamos explorar 0 caminho da propria filosofia. Numa conferencia emcongresso de filosofia em Bolonha (depois publicada como capitulo do livroopensamento e 0 mouente), Bergson se ocupa do sentido que pode orientar 0espfrito filosofico." As principais teses que afirma sao: a) toda filosofia e umaintuicao infinitamente simples que ela nao consegue expressar; b) ler urn filo-sofo desde dentro significa captar uma imagem interrnediaria entre a simplici-dade da intuicao concreta e a abstracao dos conceitos que a traduzem no filo-sofo em questao; c) a intuicao e uma forca que diz "nao" na orelha do filosofo:ela recomenda "nao fazer", como 0 daimon socratico, nao pensar 0 que sepensa; nao aceitar como valido esse conhecimento que se passa por cientffico;d) a filosofia afirma 0 novo que se exprime em funcao do antigo: sobre osproblemas ja colocados e as solucoes ja fornecidas, 0 filosofo procura dizeruma unica coisa que, ela mesma, nao se desprende de sua epoca, Bergson dacomo exemplo Spinoza e Berkeley: 0 spinozismo e uma intuicao simples,

    o sentimento de uma coincidencia entre 0 ato pelo qual nossoespfrito conhece perfeitamente a verdade e a operacao pelaqual Deus a engendra [...J e que quando 0 homem, que saiuda divindade, chega a reentrar nela, somente percebe urn mo-vimento unico onde havia visto primeiramente dois movimen-tos inversos de ir e de retornar."

    Compreender Spinoza, 0 spinozismo, e se aproximar 0 maximo possfveldessa intuicao simples, na complexidade dos sofisticados raciodnios da Etiea.

    19 BERGSON, H. A intuicao filos6fica".In: O s p e n s a d o r e s . Sao Pau1o:Abril Cu1tural, 1979, p. 55-68.20 Ibidem, p. 59.

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    De fato, a escrita de Spinoza depende de sua epoca; 0 spinozismo, nao, 0mesmo com Berkeley, 0mesmo com qualquer fi16sofo: 0 estilo da escrita, asteses, os argumentos dependem de urn contexto; a intuicao simples, nao,

    Assim, a essencia da filosofia e 0 espfrito de simp1icidade; a complicacaoe superficial, acess6ria, puro ornamento; filosofar e urn ato essencialmentesimples, 1igado a vida; filosofar e urn ato de sensibi1idade: "0 filosofo naoobedece nem comanda; e1eprocura simpatizar"." Em filosofia, trata-se de sersensive1 e comparti1har urn pathos.

    Como sua condicao, Bergson argumenta que 0 filosofar requer uma cer-ta experiencia do tempo: exige sentir 0 tempo nao como uma descontinuidadede momentos consecutivos numa 1inha infinitamente divisive1, mas como umaduracao que flui em forma continua e indivisiveL Assim, 0 espfrito filosoficopercebe 0 tempo como devir, movimento que se prolonga por si, estabilidademobil da vida que pode ser di1atada indefinidamente para 0 passado e 0 futuro.

    Imaginamos urn 1eitor sensibi1izado pela educacao. Concebemos urn 1eitorabrumado pelo tempo sucessivo, quieto, descontinuo, dividido ate sua minimaexpressao das instituicoes esco1ares. Sentimos a vida que se oculta nessas ins-tituicoes, Percebemos 0 imperio das cornplicacoes e comp1exidades superfi-ciais que ali tudo parecem abarcar; a sensacao de que por baixo de tanta apa-rente agitacao tudo esta profundamente quieto, nada se move, nada se pas s a.Convidamos esse 1eitor a 1er Bergson, a aprender com ele as possibilidades deoutra experiencia do tempo e, com ela, de outra vida.

    Bergson neste livroEm novembro de 2007 0 Program a de Pos-Graduacao em Educacao da

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro e a Universidade de Paris VII I orga-nizaram conjuntamente no Rio deJaneiro urn Coloquio Internacional para apre-sentar e discutir diferentes dimens6es e possibilidades do pensamento de HenriBergson. Os trabalhos apresentados nas mesas do coloquio comp6em este 1ivro.Sao autores de diferentes campos, com trajet6rias diversas. Urn trace comumnos trabalhos apresentados e a opcao de buscar as influencias de Bergson sobrediferentes autores ou problemas, de pensar os efeitos do pensamento de Berg-son, de entender a sua filosofia a partir de uma analise que coloca em relacaoBergson e pens adores tais como George Sorel, De1euze, M. Heidegger, E.Levinas, M. Merleau-Ponty, J . P. Sartre, e ate 0 ja distante Parrnenides,

    Como comp1emento singular, oferecernos urn texto inedito em portuguesdo proprio Bergson, extraido das aulas comp1ementares de Filosofia e Hist6ria

    21 BERGSON, H. A i n tu i cao f il o so f ica" , In: Os pensadures. Sao Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 66.

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    da Filosofia, ministradas em Clermont-Ferrand, entre os anos de 1884 e 1886.Essas anotacoes de aula foram traduzidas e comentadas pelo Pro Paulo Dome-nech Oneto, Tratam-se de aulas sobre 0 pensamento de Spinoza. Bergson co-menta algumas obras de Spinoza, destacando especialmente a questao do objetoda filosofia spinoziana e apresentando urn resumo da obra intitulada Etica.

    Com relacao ao objeto da filosofia de Spinoza, Bergson compara 0 seupensamento ao de Descartes, identificando as diferencas entre esses dois file-sofos. A preocupacao de Spinoza com a questao da moral, com 0 bern agir,com 0 bern verdadeiro e 0 bern ilusorio esta distante da preocupacao de Des-cartes com a questao do entendimento, com 0 jufzo correto, com 0 discerni-mento entre 0 jufzo falso e 0 juizo verdadeiro.

    Bergson aponta problemas metafisicos no pensamento de Descartes econtrapoe a essas dificuldades a concepcao de Spinoza sobre a a

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    autora desenvolver suas duas linhas principais de argumentacao: a) a criacaonao e espontanea, mas fruto de urn longo trabalho em que a atencao tern urnpapel singular; b) a criacao e sempre urn processo de auto-criacao, 0 quesignifica que toda criacao e tarnbern criacao de si.

    Mario Bruno busca em Henri Bergson uma forma especffica de lidarcom a filosofia. Uma forma que nao seja nem a forma nem 0 modelo da acaoartistica, nem a forma nem 0 modelo da racionalidade cientifica. Para Berg-son, a opcao para uma nova relacao do pensamento com 0 mundo e possivelatraves da intuifiio como metodo,o seu trabalho, intitulado "0 infinitamente simples na obra de Bergson,a intuicao e as diferencas de natureza", examina a ideia de intuicdo, comometodo, em Bergson e, a partir das indicacoes de Gilles Deleuze, argumentaque, no processo de pensamento, ela permite chegar a urn ponto injinitamentesimples. Assim, Mario Bruno organizou seu trabalho em torno de quatro te-mas: 1) [ ... J as relacoes entre intuicao e duracao [ ... J ; 2) a [... J indagacaosobre os verdadeiros problemas e as nuan~as ou verdadeiras diferencas danatureza [... J ; 3) a teoria de Bergson [ ... J da diferenca e das linhas de diferen-ciacao [... J e 4) a [... J circularidade e as relacoes entre materia e duracao, sobo ponto de vista de uma ontologia politica.

    A sua analise da diflrenfa merece destaque. Ela e pens ada examinando asrelacoes entre intuicao e duracao e entre materia e duracao. A partir de Bergson,pode-se entender a "diferenca", categoria central da vida, que e feita de difl-rencas, como sendo uma categoria injinitamente simples:

    [ . . . J Mas as diferencas nao sao obscuras nevoas, nem intangi-veis realidades, nem etereos corpos em distantes presenc;as. Asimplicidade da diferenca, se nao a dialetizarmos, perpassanos intcrsticios de nossos gestos, habita 0 coracao das pedras,dos homens e faz com que tudo tenha urn sentido ou umarazao de ser, sem aquem nem alem. ..

    No trabalho "De Bergson a De1euze. Do mecanismo cinematograficodo pensamento a imagem moderna do pensamento", Adrian Cangi consideraa ontologia da imanencia a partir da atividade do pensamento em Bergson eem Deleuze. Ne1es, longe de 0 pensamento, como imanencia, ser urn meca-nismo cinematografico, e, portanto, edijicado em urn tempo, de.finido por urnenquadramento, construido a partir dos limites de uma perspectiva do parado-xo verdade/nao-verdade e uma representafiio categorial do mundo, 0 pensa-mento e criacao a partir da experiencia da intuicdo, do tempo que e vividocomo duracdo, mas que nao e experimentado como ininterrupto. E uma tensao

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    que, ao libertar 0 tempo de urn movimento, ao permitir que 0 tempo exista semurn movimento, faz do pensamento urn devir, urn porvir. Para Cangi, essa novaimagem do pensamento, possive1 na ontologia da imanencia de Bergson e De-leuze, des creve 0 pensamento como urn paradoxo, negando "[ ... J a imagem dopensamento como cadeia que faz umas imagens escravas de outras no circuitoimagimirio de urn espas;o determinado [...J " .

    A mesma linha, da recuperacao deleuziana de motivos bergsonianos,recorre J . Areas em "Do universo bergsoniano das imagens as imagens docinema em De1euze". Com efeito, as imagens de nosso tempo indicam novosmodos de subjetivacao que permitem reencontrar os grandes temas bergsoni-anos da imagem, do movimento e do tempo. J . Areas contextualiza 0 pensa-mento de Bergson dentro da discussao no campo da psicologia no final doseculo XIX a respeito das relacoes entre consciencia e mundo. Entre 0 mate-rialismo que dava ao mundo prioridade sobre a consciencia e 0 idealismo queprivilegiava as imagens da consciencia, Areas escuta, com De1euze, dois gri-tos: a consciencia intencional de Husserl (toda consciencia e "consciencia de"algo) e a ontologia da consciencia de Bergson (toda consciencia e algo). Berg-son afirma, entao, a identidade da imagem com a materia e 0movimento: paraBergson, a imagem e materia e movimento ou, para dize-lo com Deleuze, amateria e imagem-movimento e 0 universo, urn plano de imanencia de ima-gens em movimento, imagens-movimento.

    Nesse universo de imagens em movimento hi imagens especiais, queBergson denomina "imagens vivas" ou moveis, que introduzem uma diferen-ca, urn e1emento de outra natureza e ainda uma tipologia em tres: imagem-percepcao, imagem-afeccao, imagem-acao, 0 que impacta Deleuze e a apli-cacao que Bergson faz dessas ideias ao cinema descrevendo "0 proprio universodas imagens como urn cinema do universo", universo maquinico, infinito eaberto contraposto ao universo limitado e fechado do mecanicismo.

    A partir dali, Areas acompanha 0 pensamento de De1euze sobre 0 que 0cinema faz pensar, com especial atencao ao impacto do cinema no propriopensamento, na forca do automatismo de suas imagens-movimento que nostorna incapazes de continuar a pensar 0 que queremos e que introduz assim adiferenca no pensamento. 0 automatismo do cinema, a rmimia, como novaimagem do cinema moderno, sao as ideias fortes da ultima parte do texto paraencontrar, de1euzianamente, razoes para acreditar no mundo.

    Em "Psicologia e ontologia: Bergson, Sartre, Merleau-Ponty", FranklinLeopoldo e Silva explora justamente as relacoes entre psicologia e ontologia apartir de uma coincidencia entre esses tres autores: todos e1es questionam osmetodos e os procedimentos de representacao do objeto na producao de

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    conhecimento. Em outras palavras, "trata-se de examinar se as formas inte-lectuais que sao as mediacoes pelas quais 0 conhecimento se constitui na re-presentacao nao implicam de alguma maneira urn distanciamento da realidadeque acabaria por distorce-la". Frente a esse problema, Bergson adota umapostura decididamente critica da racionalidade instrumental que, tanto noambito da representacao quanto da propria subjetividade, seprojeta numa ati-tude objetivante. Sartre e Merleau -Ponty, seguindo as linhas tracadas pelafenomenologia de Husserl, coincidem com Bergson no movimento de tentarvoltar as coisas mesmas, de perceber a consciencia na pureza dos seus atos, ouseja, no mundo e junto as coisas que intenciona. Com Merleau- Ponty ganhadestaque a relacao entre psicologia eidetic a e psicologia empirica, a intuicaoda essencia e a experimentacao dos fatos.

    o grande esforco de Bergson foi para superar essa oposicao, mos-trando que a relacao entre sujeito e objeto se constitui, e1amesma,a partir de urn "campo de imagens", que Bento Prado JUniorllchamou de 'campo transcendental', anterior a propria relacao,

    Em "Como expressar 0 espirito? Derivacoes do problema da metaforaem alguns leitores de Bergson: Machado, Ricceur, Deleuze", Axel Cherniavskyreflete sobre 0 lugar que a metafora poderia ter numa linguagem imaterialcomo aquela afirmada por Bergson para dar conta de sua ontologia espiritua-lista. A partir da critica deleuziana, mostra os limites da metafora, seja pelaocultacao do termo comparado, seja pela relacao de significacao que instauraentre linguagem e mundo. Como ja mencionamos, 0 uso que Bergson faz daspseudo-metdforas teria 0 valor pedagogico de abrir espa

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    modo como Bergson articulou as tres dimensoes temporais tern sido uma inspira-cao privilegiada, urn modelo, na hora de pensar a temporalidade na analiticaexistencial do Dasein. E, no final, os dois coincidem em uma acida critica ametafisica, urn, por que ela esquece 0 ser, 0 outro, por ela negar a duracao,

    A professora Amparo Vega, da Universidade Nacional de Colombia,propoe relacoes significativas entre H. Bergson e J.-F. Lyotard em "Existen-cia, direito, resistencia, De J.-F. Lyotard a H. Bergson, uma aproximacao",o faz a partir de duas referencias a Bergson em dois textos de Lyotard distan-ciados no tempo, escritos com diferenca de quase 20 anos. As duas referencias- a primeira e de Discursofigura (1971) e a segunda de "Linha Geral" (1991.In: Moralidades posmodernas, 1993), estao mediadas pelo giro lingiHstico dopensamento de Lyotard, que 0 fazem se deslocar de uma abordagem critica auma em que 0 que prima e a analitica e a pragmatica da linguagem.Em todo caso, na primeira das duas referencias a Bergson, Lyotard re-cupera uma expressao bergsoniana ("diferenrya no tempo") no marco de suamais ampla reivindicacao da diferenfa como forma de "decifrar 0 aconteci-mento, reconhecer 0 desconhecido, significar a desordem"; na segunda, arecuperacao se traduz na analise do diferendo, como conflito impossivel de sesuperar entre as linguagens e que se expressa, por exemplo, em alguns termoscom prefixo de ausencia: "indeterminado", "intratduei', "inumano", "inespera-do", "inconsciente", "impossive!', "inarticulado", "iriflmcia". As relacoes entre inu-mano, indeterrninacao e resistencia, sob a forma de urn "direito absoluto",ocupam a ultima parte do texto.

    Em "Negacao e nada na metafisica bergsoniana, uma reescritura de Par-menides", Eric Mechoulan procura mostrar que, para alem da decantada opo-siryao entre Bergson e a escola de Eleia, e possfvel encontrar uma ancoragemprofunda da reflexao bergsoniana na "metaflsica parmenidiana", sob a condi-ryaode nao aplicar sobre 0 pensamento de Eleia concepcoes que nao encon-tram nele senao 0 hieratico profeta do Ser. Assim, urn pouco como Bergsondiscute a ciencia de seu tempo e a critica desde uma perspectiva filosofica,Parmenides propoe manifestamente elementos de cosmologia, adotando umaposicao critica que desmonta as ilusoes de seus adversaries. E preciso, portan-to, revisar nossas "opinioes" sobre Parrnenides antes de ver nele 0 adversariopor excelencia de Bergson.

    A hipotese original de Mechoulan e capaz de mostrar que podemoscaptar uma proximidade surpreendente entre as reflexoes de Bergson sobre aideia do Nada e a relacao com 0 Ser na filosofia de Parmenides, is so se acei-tarmos re-introduzir esse pensamento naquilo que era justamente uma dasprimeiras tentativas especulativas de pensar uma "evolucao criadora". Bergson

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    recupera a l6gica do Ser, ainda que, para ele, as critic as da linguagem e dainteligencia nao devam, por isso, deixar lugar a nada alern de uma plenitudedada de antemao, Eis porque, ao contrario de Parrnenides, que mobiliza osrecursos do participio presente, t6 o n , Bergson afirma a necessidade de que aconsciencia abandone a fixacao no ja feito e volte sua atencao ao "fazendo-se".Para os dois autores, em sum a, trata-se de remontar ao principio originarioexplorando - sem deixar, ao mesmo tempo, de se desfazer das falsas eviden-cias - urn instrumento critico de primeira importancia: a linguagem.

    Pierre Montebello, em "Materia e luz em A evolufiio criadora", mostra 0forte dialogo mantido por Bergson com a ciencia, em particular com a fisicade seu tempo. Porern, tambern mostra como, para 0 fil6sofo parisiense, afilosofia deve ir para alern da ciencia e 0 faz por meio da intuicao que alcancaao mesmo tempo a essencia da vida e da materia, a duracao que lhes e imanente.Assim, a filosofia faz da materia uma forma da duracao, Contudo, Bergson naoconsidera 0 universo como objetivo, fixo e imutavel. Ao contrario:

    Ele se deduz de nossa percepcao, daquilo que se transforma ee experimentado em nossa experiencia de vida consciente. Naomudamos sem que as coisas mudem, 0 mundo nao se transfor-rna sem que nos disso sejamos informados, porque a vida, ma-teria e consciencia sao duracoes, e porque hi comunicacao entreessas duracoes, nossa percepcao sendo ela mesma apenas umarelacao de duracoes,

    Assim, Bergson evidencia uma epoca que busca perceber 0 impercepti-vel que anima as coisas do mundo. A evolufiio criadora faria parte entao de urnmais "amplo movimento de desmaterializacao da materia", na ca'ra do movi-mento Intimo e secreto das coisas.o trabalho "A 'recuperacao metafisica' como figura concreta da emanci-pacao: ensaio sobre 0 bergsonismo de George Sorel", de Eric Lecerf, terncomo principal preocupacao indicar pressupostos da filosofia de Henri Berg-son que inspiraram 0 pensamento de George Sorel que, segundo Eric, foi" [ . . . J levado a se inspirar nesse pensamento para produzir suas pr6prias teo-rias, [ ... ]". Podemos acompanhar a analise de Eric que, ao longo do trabalho,vai pontuando, de forma didatica, os momentos de confluencia entre Bergsone Sorel. Em outras palavras, vai definindo os pontos do pensamento de Berg-son que inspiraram as discuss6es de Sorel.o ponto principal da filosofia de Bergson que influencia 0 pensamentode Sorel sao os fundamentos metafisicos "bergsonianos". A discussao bergso-niana de metafisica ajuda a pensar a possibilidade da emancipacao fora dos

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    limites positivistas na medida em que pode "[ ... J constituir urn metodo capazde apreender 0 movimento continuo e imperceptivel do real". A critica queBergson faz a metafisica e retomada por Sorel a partir da distincao entrepossiveis formas metafisicas de abordar 0 real. Sorel, com argumentos cons-truidos a partir da filosofia de Bergson, separa a metafisica em metafisicatradicional, a que ele se refere como sendo "falsas metafisicas" e a metafisica"rnovente".

    Ao considerar a metafisica tradicional, Sorel argumenta que ela apresentadois equivocos centrais para 0processo de significacao do mundo. Por urn lado,ela esta assentada sobre abstracoes que ela mesma tinha criado. Por outro, elanega a possibilidade de conhecimento de todas as partes do real. Para essa folsametaftsica existe uma parte, uma dimensao do real que nao pode ser conhecida.N a critica a esse entendimento, Sorel compreende que toda "[ ... J referencia aurn incognosc1vel constata apenas uma remincia, ou melhor, uma incapacida-de de se munir do instrumento adequado capaz de permitir 0 acesso a talconhecimento". N a critica a metafisica tradicional, Lecerf argumenta que Sorelbusca em Bergson a ideia de metaftsica mouente, isto e , uma forma metafisicade significar 0 mundo que reconhece a dinamica da existencia, a evolucao dacriacao em oposicao ao determinismo, a objetivacao da virtualidade, 0 movi-mento do trabalho como acao criadora de si e do mundo.

    Em "Tempo, diferenca e alteridade. Levinas, leitor de Bergson", Ma-nuel Mauer busca mostrar que Levinas ve na critic a bergsoniana ao espas:o apossibilidade de uma alianca que rompe com 0 primado que 0 discurso filos6-fico dominante outorga as categorias dele, do hornogeneo, da presens:a. As-sim, mesmo que alguns aspectos indiquem uma aparente incompatibilidade(Levinas, fil6sofo da transcendencia, da preocupacao etica, critico dos saberesfrente a urn Bergson fi16sofo da irnanencia, que s6 muito tardiamente escrevesobre etica, buscando sempre 0 conhecimento absolute), em verdade trata-sede empreendimentos cumplices, Mauer desdobra essa cumplicidade em tresdimensoes: a duracao como novo modo de inteligibilidade; a duracao como novaforma de saber; 0 impulso vital como modo de enfrentar 0 ser-para-a-morte deHeidegger.

    Eis urn livro-tentativa: a de oferecer uma atualidade de Bergson, emdialogo com seus conternporaneos, com seus leitores, com seu tempo, comseus problemas, com sua epoca, Se algum leitor encontrar neste livro inspira-s:ao para seguir pensando, ou melhor, para nao seguir pensando como pensa-va, ou seja, para pensar de outra maneira, ele tera alcancado uma nova vida.

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