beatriz hellwig neunfeld cultura do povo … defesa... · agradeço primeiro a deus pela vida, ......
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE – FURG
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO – PROPESP
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA INFORMAÇÃO – ICHI
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – PPGH
MESTRADO PROFISSIONAL EM
HISTÓRIA, PESQUISA E VIVÊNCIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM.
BEATRIZ HELLWIG NEUNFELD
A HISTÓRIA ORAL NA ESCOLA: MEMÓRIAS E ESQUECIMENTOS NA
CULTURA DO POVO TRADICIONAL POMERANO E NO ENSINO DE
HISTÓRIA EM SÃO LOURENÇO DO SUL/RS
RIO GRANDE
2016
2
BEATRIZ HELLWIG NEUNFELD
A HISTÓRIA ORAL NA ESCOLA: MEMÓRIAS E ESQUECIMENTOS NA
CULTURA DO POVO TRADICIONAL POMERANO E NO ENSINO DE
HISTÓRIA EM SÃO LOURENÇO DO SUL/RS
Dissertação de Mestrado em História apresentada à banca
avaliadora como prova de defesa final do curso de
Mestrado Profissional em História, pesquisa e vivências de
ensino-aprendizagem do Programa de Pós-Graduação em
História da Universidade Federal do Rio Grande – FURG,
sob a orientação da professora Dr.ª Adriana Kivanski de
Senna.
RIO GRANDE
2016
3
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE – FURG
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO-PROPESP
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA INFORMAÇÃO-ICHI
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA-PPGH
MESTRADO PROFISSIONAL EM HISTÓRIA, PESQUISA E VIVÊNCIAS DE
ENSINO-APRENDIZAGEM.
BANCA EXAMINADORA
-----------------------------------------------------------
PROF.ª DR.ª ADRIANA KIVANSKI SE SENNA
-----------------------------------------------------------
PROF.ª DR.ª JÚLIA MATTOS
-----------------------------------------------------------
PROF.ª DR.ª CASSIANE PAIXÃO
-----------------------------------------------------------
PROF.ª DR.ª CAROLINA LÓPEZ ISRAEL
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“A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas
faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não
pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da
alegria.”
Paulo Freire
5
Dedico este trabalho a todos os professores que tive ao
longo da minha caminhada que foram grandes mestres do
saber e da vida.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiro a Deus pela vida, saúde e a bênção de realizar esse sonho.
Ao meu esposo Leomar pelo incentivo, amor e por todo auxílio e apoio nos momentos
críticos das nossas vidas.
Às minhas filhas Vanessa e Andressa pelo carinho e auxílio nas traduções.
Aos meus pais Harri e Selda (in memorian) por me ensinarem os maiores valores de
vida no seu exemplo. Por me transmitirem a cultura pomerana e, principalmente, por me
ensinarem a língua pomerana.
À minha querida e excelente orientadora Professora Adriana. A minha eterna gratidão
pelos ensinamentos, apoio, conselhos e discussões.
À minha nobre banca os professores Cassiane, Dreher e, especialmente, à querida
professora Júlia historiadora/pesquisadora que admiro muitíssimo.
A todos professores da FURG que contribuíram com os seus ensinamentos nas aulas.
Aos muitos amigos que me incentivaram e torceram para chegar a tão sonhada
conclusão do mestrado.
À querida amiga e brilhante professora de História Regina Bauer que me permitiu
realizar a pesquisa nas suas turmas de alunos na Escola Rodolfo Bersch.
À coordenação e aos colegas do PAED em nome da professora Carla e Caroline e
demais colegas que me apoiaram e ajudaram nesse período.
À professora Dr.ª Rosani, da UFSM, que acreditou na minha competência e me auxiliou
no mundo acadêmico.
Aos meus queridos familiares, principalmente, meu tio professor de História Dr. Paulo
Wille Buss pelas inúmeras discussões sobre os pomeranos. Essencialmente, pelo apoio e
acolhida em sua casa que ele a querida tia Marli S. Buss concederam a mim no início da
primeira graduação na ULBRA/Canoas. Esse período foi importante na minha
caminhada e contribuiu para a conclusão do mestrado.
A todos os colegas do Mestrado, mas principalmente aquelas que com certeza serão
amigas para toda vida; a Dinhora, Carla e Luana.
À minha amiga e comadre Ileia que contribuiu através de diálogos e lembranças do
nosso tempo de infância na colônia pomerana.
À minha teacher de inglês Aloi pelo auxílio na correção da escrita pomerana.
À querida Treyce que realizou a revisão da escrita do trabalho e na qual encontrei uma
nova amiga, muito obrigada.
A todos da Escola Rodolfo Bersch que contribuíram com a pesquisa, muito obrigada.
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RESUMO
NEUNFELD, Beatriz Hellwig. A HISTÓRIA ORAL NA ESCOLA: MEMÓRIAS E
ESQUECIMENTOS NA CULTURA DO POVO TRADICIONAL POMERANO E
NO ENSINO DE HISTÓRIA EM SÃO LOURENÇO DO SUL/RS. 2016. 109 Fs.
Dissertação de Mestrado Profissional em História. Universidade Federal do Rio Grande,
Rio Grande, 2016.
A presente pesquisa se propõe, por um lado, à análise de como os alunos do 3º ano do
Ensino Médio da Escola Estadual Rodolfo Bersch, localizada no interior do município
de São Lourenço do Sul, expressam suas memórias e olhares sobre o passado e suas
identidades étnico-culturais. Por outro lado, também foram interrogados os registros
orais da comunidade escolar e local em torno de suas opiniões sobre a relevância da
cultura pomerana para o ensino de História na escola. Este estudo optou por um recorte
temporal do tempo presente e, por isso, está concentrado nas narrativas dos alunos e
comunidade registradas durante sessões de história oral, realizadas em 2015. Os
estudantes são descendentes de imigrantes pomeranos e preservam muitos dos aspectos
culturais trazidos pelos seus antepassados. Além disso, por meio da forma como
estruturam suas visões sobre a cultura pomerana, foram apreendidos os componentes da
consciência histórica expressos pelos jovens.
PALAVRAS-CHAVE: Consciência Histórica. História Oral. Cultura Pomerana.
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ABSTRACT
NEUNFELD, Beatriz Hellwig. THE ORAL HISTORY IN SCHOOLS:
MEMORIES AND THE MISSEDCULTURE OF TRADITIONAL
POMERANIAN PEOPLE AND HISTORY OF EDUCATION IN SÃO
LOURENÇO DO SUL/RS. 2016. 109 F. Master of Professional Masters in
History.Universidade Federal of Rio Grande , Rio Grande , 2016 .
This research aims, firstly, to analyze how Students from the third grade of High School
from Escola Estadual Rodolfo Bersch, located in County of São Lourenço do Sul,
express their memories and views about the past and their ethnic and cultural identities.
On the other hand, they were also considered oral records from the School and local
community about their opinions, regarding the relevance of Pomeranian Culture to
history teaching in school. In this study we chose a timeframe of this and therefore is
concentrated in the narratives of students and community recorded during sessions of
unwritten history, conducted in 2015. The students are descendants of Pomeranians
immigrants, and preserve many of the cultural aspects brought by their ancestors.
Besides that, through the way they structure their views on the Pomeranian Culture, the
historical consciousness of the componentes reported by young people were recorded.
KEY-WORDS: Historical Consciousness. Unwritten History. Pomeraniana Culture.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12
CAPÍTULO I - HISTÓRIA ORAL: ENSINO, MEMÓRIAS, POMERANOS ............. 19
1.1 Processo de Ensino Aprendizagem ....................................................................... 19
1.2 Povo Tradicional Pomerano .................................................................................. 20
1.3 Educação histórica, consciência histórica e as narrativas ..................................... 24
CAPÍTULO II - A HISTORIOGRAFIA POMERANA E POSSIBILIDADES PARA O
ENSINO DE HISTÓRIA LOCAL ................................................................................. 35
2.1 Levantamento de publicações sobre os pomeranos. ............................................. 35
2.2 História oral e as suas possibilidades no ensino. .................................................. 44
CAPÍTULO III - O QUE PENSAM OS ALUNOS: CULTURA POMERANA EM
DISCUSSÃO .................................................................................................................. 48
3.1 Escola em que o projeto de pesquisa foi desenvolvido ........................................ 48
3.2 Apresentação do Livro Didático utilizado pela Escola ......................................... 54
3.3 A experiência de pesquisa e os resultados das entrevistas realizadas ................... 56
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 65
ANEXOS ........................................................................................................................ 74
ANEXO 1: TABELA COM AS PUBLICAÇÕES SOBRE POMERANOS EM
ÂMBITO NACIONAL ............................................................................................... 74
ANEXO 2: TABELA COM AS PUBLICAÇÕES SOBRE POMERANOS EM
ÂMBITO INTERNACIONAL ................................................................................... 79
ANEXO 3: ENTREVISTA COM A DIRETORA DA ESCOLA ............................... 80
ANEXO 4: ENTREVISTA COM A PROFESSORA TITULAR DA DISCIPLINA DE
HISTÓRIA ................................................................................................................. 82
ANEXO 5: NARRATIVAS DOS ALUNOS .............................................................. 85
ANEXO6:CARTA DE CESSÃO DE DIREITOS SOBRE DEPOIMENTO ORAL105
ANEXO 7: AUTORIZAÇÃO PARA USO DO NOME E IMAGEM DA ESCOLA106
ANEXO 8: ROTEIRO DE ENTREVISTA COM A DIRETORA DA ESCOLA......107
ANEXO 9: ROTEIRO DE ENTREVISTA COM A PROFESSORA......................108
ANEXO 10: ROTEIRO DE ENTREVISTAS DOS ALUNOS E COMUNIDADE.109
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LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1. APRESENTA A IDADE DOS ALUNOS.................................................57
GRÁFICO 2 . APRESENTA OS DADOS DE QUANTOS ALUNOS CONHECEM
A CULTURA POMERANA............................................................................................58
GRÁFICO 3. APRESENTA COM QUEM OBTIVERAM A INFORMAÇÃO SOBRE
A CULTURA POMERANA............................................................................................58
GRÁFICO 4. APRESENTA O QUE OS JOVENS PENSAM SOBRE A
MANUTENÇÃO DA CULTURA POMERANA.........................................................59
GRÁFICO 5. APRESENTA OS RESULTADOS DO QUE OS ALUNOS
IDENTIFICAM COMO IGUAL OU PARECIDO NA CULTURA POMERANA COM
A BRASILEIRA E VICE-VERSA.................................................................................59
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CELSUL – Circulo de estudos Linguísticos do Sul
EMATER- Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
EMESCAM - Escola Superior De Ciências Da Santa Casa De Misericórdia
ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio
EPEA- Encontro Pesquisa em Educação Ambiental
FURG – Universidade Federal do Rio grande
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
IELB – Igreja Evangélica Luterana do Brasil
UCPEL - Universidade Católica De Pelotas
UFES - Universidade Federal do Espírito Santo
UFPEL – Universidade Federal de Pelotas
UFRGS- Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFV – Universidade Federal de Viçosa
UNICAMP- Universidade Estadual de Campinas
UNISINOS- Universidade do Vale do Rio dos Sinos
PAVE – Programa de Avaliação Escolar da UFPEL
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INTRODUÇÃO
O grande desafio de tornar o ensino de História mais interessante para o
educando no processo de ensino aprendizagem faz parte dos anseios dos educadores e
pesquisadores que se debruçam sobre essa temática e estão comprometidos com uma
educação de qualidade. Atualmente é muito mais recorrente a preocupação com ensino
da História local, pois o progresso nessa área já nos comprovou que não devemos estar
atrelados apenas à História dos ―grandes homens e grandes feitos‖ e sim, que todas as
pessoas têm e fazem história. Mesmo que exista carência de material didático para
trabalhar com a história de vida das pessoas da comunidade ou dos grupos étnicos
minoritários, é possível preencher essa lacuna com a utilização de metodologias que
suprem essa necessidade, e dessa forma recorremos à História Oral que nos fornece
subsídios e alternativas para que outras vozes possam ser ouvidas. A utilização da
metodologia de História Oral é um mecanismo que nos permite acessar e revisitar o
passado dos alunos e seus familiares.
No caso especifico deste trabalho, os sujeitos são alunos descendentes de
pomeranos1, da Escola Estadual de Ensino Médio e Fundamental Professor Rodolfo
Bersch, situada na localidade da Boa Vista, no 6º Distrito de São Lourenço do Sul/RS.
Além desses, também foram ouvidos membros da comunidade escolar e local que, a
partir de suas experiências e vivências no cotidiano, foram interrogados sobre as
relações possíveis entre a história e cultura2 pomerana e o ensino histórico na escola. A
instituição localiza-se na região central do município de São Lourenço, na área rural3.
Atualmente, funciona nos três turnos e oferta o ensino fundamental e médio. Por sua
localização geográfica, é freqüentada por filhos de agricultores de várias localidades do
entorno.
Os alunos entrevistados estudam no turno da noite e, durante o dia, a maior parte
trabalha na atividade agrícola junto a seus familiares. Todos são descendentes de
pomeranos e, nos dias atuais, ainda vivem a cultura e preservam muitos dos hábitos
trazidos por seus tataravôs. Essas permanências podem ser encontradas na culinária,
1 A definição sobre os povos pomeranos será mais largamente apresentada no capítulo I desta dissertação.
2 A cultura pode ser definida como formas de comportamento e atitudes característicos de uma sociedade.
Ela se manifesta de diversas formas no seu modo de sentir, pensar e atuar no grupo. ―Existem múltiplas
correntes transculturais que irrigam as culturas, ao mesmo tempo em que as superam, e que formam algo
que quase chega a ser uma cultura planetária.‖ (MORIN, 2002, p. 17). 3 Conforme poderá ser observado no mapa de São Lourenço do Sul, apresentado no capítulo III.
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arquitetura, organização familiar, no trabalho, no modo como organizam o sistema de
rotatividade de plantação para preservar o solo, na música, nas danças e principalmente
na língua pomerana.
A pesquisa teve início em 2013, após minha aprovação no Mestrado Profissional
em História na Universidade Federal do Rio Grande - FURG. Entretanto, já havia
desenvolvido outras pesquisas nesta Instituição durante a graduação e a especialização
em História. Durante a pós graduação, realizei, juntamente com os alunos, uma pesquisa
sobre os desdobramentos no cotidiano da comunidade pomerana da campanha de
nacionalização durante o Governo Vargas e a conseqüente proibição das línguas
estrangeiras em território nacional. Busquei interrogar os impactos sofridos assim como
lembranças que esta população específica mantinha. Já neste momento, foi utilizada a
metodologia de história oral nas quais os estudantes envolvidos realizaram sessões,
inspiradas neste viés metodológico, com seus familiares mais idosos. Foi uma
experiência que considerei bastante produtiva e foi posteriormente publicada em
Revista4. A partir daí, surgiram outros questionamentos sobre a história e os anseios dos
jovens da comunidade pomerana que estimularam a continuidade nas pesquisas com
referência na história local destes estudantes. A partir desta trajetória, comecei a trilhar
os caminhos da pesquisa apresentada nesta dissertação com o objetivo de indagar,
sobretudo, como os jovens significavam sua cultura pomerana e quais os
desdobramentos dessa apropriação no processo de ensino aprendizagem da história
local.
A motivação e interesse pelo tema pesquisado dão-se ao fato de ser descendente
de imigrantes pomeranos e ter a História e a cultura desse povo presente no modo de
vida familiar desde a mais tenra idade, a língua pomerana é a minha língua mãe. Na
atuação profissional da docência foi possível reafirmar e comprovar que a busca pela
própria história e identidade cultural reafirmam uma das necessidades mais latentes dos
indivíduos na educação.
Meus pais eram agricultores e assim como ocorre até hoje nas famílias pomeranas
trabalhávamos todos na atividade familiar e com muita satisfação produzíamos a
maioria dos nossos alimentos. Os hábitos alimentares comuns aos pomeranos sempre
estiveram presentes à mesa, como, por exemplo, o Rievelsback (bolinho de batata
ralada), Spickbost (peito de ganso defumado), Wust (lingüiça) Rollmops (filé de
4 Revista de Educação Histórica – REDUH. Laboratório de Pesquisa de Educação Histórica da
UFPR/LAPEDUH, 2014.
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arenque), /Kuuchen/ (cuca), /Hiner-sup/ (sopa de galinha), /Ingebrårdflaish/ (carne suína
conservada na banha dentro de recipientes de barro para carne frita e recipientes de
cimento para carne salgada ainda crua). Esse método utilizado para guardar a carne se
devia ao fato de não ter energia elétrica e nem geladeiras para conservar alimentos.
Também era comum fazer conservas de pêssego, pepinos, entre tantas outras iguarias. A
casa da minha infância era decorada nas paredes internas com panos bordados pela
minha mãe, que além de decorar traziam mensagens e pensamentos. Era uma prática
comum entre as mulheres pomeranas: bordar os panos normalmente para o enxoval e
colocá-los para decorar a residência.
Uma prática curiosa da qual recordo é o de procurar vertentes de água, algumas
pessoas da comunidade tinham a capacidade de encontrar a localização da água no
subsolo com a utilização de uma forquilha a qual impunham nas mãos e saíam
caminhando à procura de água. Era algo tão interessante ainda mais para o universo
infantil que de repente a forquilha se movia involuntariamente sem que a pessoa que a
impunha fizesse qualquer movimento para tal e, depois de localizar exatamente o local
da vertente, abriam alguns metros de fundura e encontravam água para fazer um poço
que abastecia a casa da família e muitas vezes até as casas da vizinhança. Dentro da
comunidade pomerana lourenciana se mantêm algumas datas comemorativas como é o
caso do segundo e terceiro dia de feriado ou segundo e terceiro ―dia de festa‖ como é
dito pelo grupo. Estes dias são comemorados de acordo com o calendário Cristão, se
preservam nos dias do Natal, Páscoa e Pentecostes. Algumas escolas do interior do
município seguem este calendário e realizam o feriado ―de segundo dia de festa‖ não
tendo aula nessas segundas-feiras que culminam com os calendários escolares no
feriado da Páscoa e Pentecostes. O município de São Lourenço do Sul adotou o feriado
anual no dia 25 de julho em comemoração ao dia do colono e da imigração alemã.
A arquitetura e pintura externa das casas, suas cores e padrões, durante minha
infância e até os anos 1980, era no estilo próprio do povo pomerano. Era muito
recorrente as casas serem pintadas de branco nas paredes e as janelas e portas na cor
azul claro. Com a mesma tinta, era feito o contorno nas janelas e, no lado de baixo, na
parte externa da casa, era desenhado uma espécie de triângulo que imitava um bordado,
logo abaixo de cada janela. Em todo contorno da casa, na parte da fundação, que
costumava ter em torno de uns 50 centímetros, também era pintada com a cor azul claro.
Com o passar dos anos, começaram a mudar as cores das pinturas, mas prevalecendo a
diferença das cores nos contornos da casa e janelas.
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A maneira como estava distribuída geograficamente as plantações no entorno da
casa também era bastante peculiar. Era comum a presença de um jardim florido com
várias espécies de flores, uma horta que abastecia a família, a criação de animais como
vacas leiteiras, galinhas, patos, gansos, marrecos, porcos que eram para consumo dos
moradores da casa. O excedente era vendido, garantindo geração de renda familiar,
composta, sobretudo, pela venda do leite. Da mesma forma, ocorria com a produção e
venda dos grãos como feijão, soja, milho, amendoim, trigo, além de outros cultivos
agrícolas tais como batata e mandioca. O trabalho era realizado em família onde todos
os integrantes de várias gerações (tanto crianças como idosos) se ajudavam e
trabalhavam de segunda a sábado. No domingo, era dia de ir para igreja e visitar os
familiares ou vizinhos. A vida religiosa era e ainda é fundamental no modo de vida
pomerano. Os ritos de batismo, confirmação de fé5, casamento e a organização dos atos
fúnebres fazem parte da história e do modo de vida desse povo.
A história do povo tradicional pomerano é marcada pelas narrativas de episódios
de extrema dificuldade e trabalho árduo em busca da construção de uma vida com
acesso pleno à dignidade. Desde sua origem até a atualidade, os pomeranos tiveram a
influência de muitos povos. A partir da antiga Pomerânia, que já não existe mais no
mapa europeu, migraram e se espalharam por vários países, conforme pesquisa e
levantamento bibliográfico. Entretanto, apesar desta migração para diversas partes do
mundo, mantém a cultura, sobretudo a língua que continua sendo falada por milhares de
pessoas.
Os primeiros imigrantes pomeranos chegaram a São Lourenço do Sul/RS, no
século XIX, após atravessar o Oceano Atlântico em condições bastante precárias.
Naquele momento, trouxeram recursos mínimos para se alojar. No início, construíram
galpões coletivos e, posteriormente, cada família construiu a sua casa e começaram a
trabalhar na terra. Abriram picadas na mata e iniciaram a plantação das sementes
trazidas na embarcação, o que garantiu a sobrevivência e o alimento para estas famílias.
Após situarem-se minimamente em território lourenciano, era preocupação premente a
educação das crianças, já que estavam fora das escolas e não havia quem as ensinasse
porque todos os adultos ocupavam-se com o cultivo na roça. Por esta razão, os registros
historiográficos relatam que foi uma prática recorrente a construção de uma escola e
5 Este ritual religioso foi abordado na dissertação de Mestrado ―Educação patrimonial: Projetos de ensino
por meio de bens patrimoniais do município de são Lourenço do Sul (RS)‖ de Carla R. B. R. Schneid,
apresentada em 2014, na Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Para a autora, a confirmação de
fé é um rito de passagem não somente dentro da vida religiosa, mas também dentro da cultura pomerana
local.
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uma igreja em cada comunidade. Neste momento, era comumente nomeada para a
função de professor e pastor uma pessoa da comunidade.6
Na obra ―A Colônia de São Lourenço do Sul e seu fundador Jacob Rheingantz‖
de Vivaldo Coaracy, publicada em 1957, é apresentado o histórico de fundação do
município e assim como a biografia de seus fundadores. Nesta obra, encontra-se
relatada a história da construção da primeira escola na Colônia de São Lourenço do Sul,
no ano de 1862, na localidade de Picada Moinhos, 6º Distrito. Essa primeira escola,
fundada pelos imigrantes, pertencia à comunidade de Picada Moinhos, posteriormente
filiada à IECLB. No ano de 1890, o Sínodo de Missouri dos Estados Unidos organizou
uma congregação na localidade de Bom Jesus no 4º Distrito do município de São
Lourenço do Sul e enviou um pastor luterano para atender aquela comunidade de
imigrantes onde foi fundado um Seminário de Teologia, nomeado Seminário Concórdia.
Esta instituição atendia cinco alunos, dentre os quais se encontrava meu bisavô materno
Emílio Wille. Atualmente o Seminário Concórdia tem sua sede em São Leopoldo e é
administrado pela IELB.7
Outro aspecto que parece relevante a ser destacado, e que surgiram durante as
narrativas dos sujeitos desta pesquisa, foram os episódios ocorridos no ano de 1942,
durante a campanha de nacionalização do governo de Getúlio Vargas e a II Guerra
Mundial. Nestes períodos, em que houve a proibição de qualquer língua estrangeira, os
pomeranos de São Lourenço do Sul e região foram perseguidos, atacados e acusados de
nazistas, ainda que não mantivessem contato algum com o grupo alemão (FACHEL,
2002). Em 2012, tive a oportunidade de desenvolver uma pesquisa com membros da
comunidade local em que foi possível registrar narrativas de medo. Os entrevistados
relataram que as famílias, temerosas, ficavam escondidas no mato e demoravam dias
para retornar para as atividades e ao cultivo da agricultura. Essas memórias seguem
referenciando a identidade pomerana, assim como a língua e a prática agrícola, em torno
da qual organizam, no presente, as suas vidas.
No município de São Lourenço do Sul existe uma diversidade étnica e cultural
muito significativa. Neste sentido, é possível observar que, cada vez mais, os grupos
estão procurando conhecer a história local e as suas origens a fim de estabelecer melhor
6 Até hoje, essa prática é exercida no interior do município de São Lourenço do Sul nas comunidades
Independentes ou Livres (Freigemeinde). 7 A criação das primeiras escolas comunitárias, confessionais e religiosas são abordadas por Patrícia
Weiduschadt na tese ―A revista ―O Pequeno Luterano‖ e a formação educativa religiosa luterana no
contexto pomerano em Pelotas- RS (1931-1966)‖ apresentada para UNISINOS, no ano de 2012. Em seus
escritos, a autora destaca a formação das primeiras comunidades e o campo religioso.
17
compreensão de sua própria história. Nesse contexto, a história oral é um terreno fértil
porque permite o diálogo do presente com o passado e ressiginificação das lembranças a
partir das memórias individuais e coletivas.
A História Oral, enquanto procedimento metodológico, busca registrar, e,
portanto, perpetuar registros, impressões, vivências, lembranças daqueles indivíduos
que se dispõem a compartilhar sua memória com a coletividade. Dessa forma, permite
uma aproximação e apropriação do vivido que é marcadamente dinâmica e, desta forma,
colore o narrado com os significados atribuídos por aquele que conta, de forma peculiar,
aquilo que, de outra forma, não conheceríamos (ALBERTI, 2004).
Os registros gerados, a partir desta metodologia, com os encontros individuais
com estudantes, professora e gestora resultaram em significativo material sobre o qual
me debrucei a partir de viés analítico-interpretativo da análise de conteúdo. A análise de
conteúdo pode ser entendida como um conjunto de instrumentos metodológicos que se
aplicam a informações escritas diversificadas. Seu uso consiste na operação das
mensagens (conteúdo e expressão desse conteúdo), para evidenciar os indicadores que
permitem inferir sobre outra realidade que não a da mensagem (BARDIN, 1977). Além
disso, pode ser percebida de duas formas: qualitativa e quantitativa. Com relação ao
primeiro formato, preconiza-se que a inferência seja fundada na presença do índice
(tema, palavra, personagem, etc.). Em torno destes elementos descobrem-se os núcleos
de sentido que compõem a comunicação. Por outro lado, a análise quantitativa tem
como eixo determinante a frequência com que o índice se apresenta no discurso. Tendo
em vista estes caminhos analíticos, decidimos, minha orientadora e eu, nos
aproximarmos dos registros orais dos sujeitos com uma abordagem quali-quantitativa.
Neste sentido, as narrativas foram organizadas em blocos a partir dos enunciados e
sentidos que as aproximavam. A partir disso foram criadas três unidades analíticas, as
quais sejam: importância da cultura pomerana, língua pomerana e sofrimento coletivo.
A exposição realizada até o momento buscou expor os caminhos que me levaram
até a escola e ao tema desta dissertação, assim como o viés teórico metodológico a partir
do qual foi possível a aproximação com as narrativas dos sujeitos da pesquisa. Sendo
assim, no sentido de apresentar os resultados e reflexões possibilitadas durante o
processo de pesquisa em si, esta dissertação será dividida em três capítulos. O Capítulo
I, intitulado História Oral: ensino, memórias e pomeranos, contém o levantamento
sobre Cultura Pomerana, assim como a discussão conceitual sobre narrativas,
consciência histórica e cultura histórica. Além dos desdobramentos da técnica analítica
18
da análise de conteúdo na pesquisa relatada aqui.
No Capítulo II, intitulado A historiografia Pomerana e possibilidades para o
ensino de história local, é apresentado levantamento bibliográfico sobre os pomeranos,
além de apresentar nesta seção a discussão teórica sobre a História Oral, como uma
metodologia que pode ser um auxílio frutífero no ensino de História Local.
No terceiro e último capítulo, O que pensam os alunos:Cultura pomerana em
discussão é feita uma breve apresentação sobre a história da Escola Estadual de Ensino
Médio Professor Rodolfo Bersch. Além de explanar alguns aspectos do Projeto Político
Pedagógico (PPP) e a Proposta Pedagógica Curricular do Ensino de História da Escola.
Também é apresentada a análise dos Livros Didáticos utilizado no ensino médio, na
Disciplina de História com os alunos da Escola. E são interrogadas as narrações
históricas a partir dos significados atribuídos pelos sujeitos desta pesquisa sobre a
cultura pomerana no cotidiano escolar. Esta seção ainda abordará mais alargadamente as
unidades analíticas possibilitadas pelas narrativas.
Objetivamos nesta pesquisa, com as reflexões propostas, preencher as lacunas
existentes na história local com as narrações históricas produzidas nas sessões de
história oral. Esses dados serão considerados e complementados com o levantamento
bibliográfico referente aos aspectos históricos e culturais do povo tradicional pomerano.
19
CAPÍTULO I
HISTÓRIA ORAL:
ENSINO, MEMÓRIAS, POMERANOS
Neste primeiro capítulo, pretendemos expor os aspectos teóricos e
metodológicos que direcionaram o trabalho tendo por eixos orientadores os conceitos de
narrativas, Consciência Histórica e Cultura Histórica e povo tradicional pomerano.
1.1 Processo de Ensino Aprendizagem O ensino e pesquisa da História local trazem a possibilidade de melhor
compreensão e conhecimento do grupo pomerano e de sua cultura. A partir da inclusão
destas temáticas nos currículos escolares seria incentivada, principalmente aos jovens, a
sua compreensão enquanto pertencentes ao grupo pomerano e, sobretudo, como sujeitos
integrantes na formação da histórica local – desenvolvimento do município de São
Lourenço e região - e na diversidade brasileira. Neste processo, a investigação dos
vestígios do passado é relevante à medida que permite aos alunos esse reconhecimento
que dá sentido ao presente. Conforme sublinha Schmidt, ―Pensar a História permite
estabelecer relações de causa e efeito entre acontecimentos de períodos sucessivos e,
para o aluno, apresenta a vantagem de dar sentido ao mundo em que vive.‖ (2004, p.75)
Nesta direção, estabelecer essas relações e dar sentido ao tempo presente, a partir de um
passado referencial, é o cerne da utilidade social da História (SCHMIDT, 2004).
Sendo assim, o processo de ensino-aprendizagem permite as condições para que
os alunos se engajem no ensino de História. A partir de diversas metodologias de
trabalho, dentre as quais ressaltamos as possibilitadas pela história oral, o aluno pode
ser estimulado a realizar pesquisas com familiares/pessoas da sociedade e, dessa forma,
a dar sentido, tornando interessante, aquilo que aprende na disciplina de História. Nessa
seara, o que a educação histórica possibilita é, exatamente, a motivação para que o
aluno se reconheça em seu espaço de vida. No caso desta pesquisa, a proposta foi a de
percebermos como os alunos estabelecem estas aproximações entre a produção de uma
reflexão teórica sobre a história de vida e a cultura local da comunidade pomerana, do
município de Lourenço do Sul/RS. Além disso, procuramos identificar como as
20
memórias sociais e suas representações podem contribuir para a educação histórica.
Tendo em vista essas discussões, buscamos apresentar nessa seção a importância
do ensino de história a partir da aproximação com o cotidiano dos estudantes assim
como os objetivos dessa pesquisa. Passaremos agora à descrição do lócus em que a
pesquisa foi desenvolvida assim como a população na qual os sujeitos dessa
investigação se inserem.
1.2 Povo Tradicional Pomerano
O município brasileiro de São Lourenço do Sul está localizado na região sudeste
do estado do Rio Grande do Sul com uma área 2.036,125 km² o que corresponde a
aproximadamente 0,8 % do território do estado do Rio Grande do Sul. Atualmente conta
com 43.114 habitantes conforme os últimos dados do IBGE. No Mapa se pode verificar
a localização do município banhado pela Lagoa dos Patos e cercado pela Serra dos
Tapes.
Figura 1: Mapa de localização do município de São Lourenço do Sul.
Fonte: Google Maps
21
A população está distribuída majoritariamente na área urbana (57% reside na
área urbana) e os 43% restantes moram na área rural e retiram sua subsistência das
atividades ligadas atividades agrícolas. Conforme ilustra o mapa abaixo, a organização
geográfica do município é composta com o Distrito sede, na zona urbana e os Sete
Distritos, na zona rural. As escolas estão distribuídas pelo território, entretanto há mais
escolas na zona urbana. A Escola Rodolfo Bersch está localizada no 6º Distrito e está
marcada no mapa pelo triangulo vermelho.
Figura 2: Mapa dos Distritos do município de São Lourenço do Sul.
Fonte: Acervo da Prefeitura Municipal de São Lourenço do Sul.
A diversidade cultural está fortemente presente no município de São Lourenço
do Sul. Da mesma forma, a história da região é marcada pela diversidade étnica,
sobretudo pela presença de Povos Tradicionais que recentemente foram reconhecidos
pelas políticas nacionais8.
8 A Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. Foi
instituída pelo Decreto 6.040 de 7 de fevereiro de 2007. Cabe salientar que, segundo relatos da
22
Os Pomeranos, imigrantes europeus que chegaram à região a partir do ano de
1958 eram oriundos da já extinta Pomerânia. Este país deixou de existir ao final da 2ª
Guerra Mundial, com a ocupação das tropas do exército vermelho. Conforme sublinha
Wachholz, ―após a Segunda Guerra Mundial, quando a região foi ocupada por tropas
soviéticas, [...] desalojando-se cerca de dois milhões de pomeranos e incorporando-se
cerca de 70% da área geográfica da Pomerânia à Polônia‖ (2008, p. 1).
Recentemente os Pomeranos foram reconhecidos pelo Ministério do
Desenvolvimento Social como grupo de povos e comunidades tradicionais, ao lado dos
Povos Indígenas, Quilombolas, Seringueiros, Ciganos, Pescadores artesanais entre
outros. Em 2007, o Governo Federal instituiu o Decreto n. 6.040 que implementa a
Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e comunidades
Tradicionais. Neste Decreto, as populações tradicionais são definidas como:
grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que
possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios
e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social,
religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e
práticas gerados e transmitidos pela tradição. (BRASIL, 2007).
O principal objetivo dessa política é;
promover o desenvolvimento sustentável dos Povos e Comunidades
Tradicionais, com ênfase no reconhecimento, fortalecimento e garantia dos
seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais, com
respeito e valorização à sua identidade, suas formas de organização e suas
instituições. (BRASIL, 2007).
Os pomeranos mantiveram a tradição com relação à educação e contribuíram
para a região de São Lourenço e Pelotas. Esta característica foi destacada por Dreher,
quando o autor afirma que ―Como súditos do estado prussiano, os pomeranos vinham de
região na qual havia obrigatoriedade de ensino desde meados do século XVII e essa
tradição foi mantida‖ (DREHER, 2008, p.3). Dreher também ressalta que os pomeranos
mantinham a tradição de pintar suas casas de branco e azul, as cores da bandeira
comunidade, no município de São Lourenço, os Povos Tradicionais estão presentes de forma muito
significativa. Entre outros são recorrentemente citados: as famílias de Pescadores Artesanais que são em
geral descendentes de imigrantes portugueses originários de Póvoa do Varzim, que se instalaram no
entorno da Lagoa dos Patos; há vestígios Indígenas Tupis Guarani que, acredita-se, migraram para a
cidade vizinha, Camaquã; os Açorianos que realizam anualmente a festa do Divino Espírito Santo que,
em sua 126ª edição, é considerada uma das festividades mais tradicionais no calendário de atividades do
município. Há, ainda, seis comunidades quilombolas no município: Quilombo Picada, localizado no 3º
Distrito na localidade de Santa Tereza composta por 17 famílias; Quilombo Rincão das Almas, localizado
no 5º Distrito, composto por 70 famílias; Quilombo Monjolo, localizado no 2º Distrito, na localidade de
Campos Quevedos e Faxinal, composto por 25 famílias; o Quilombo do Torrão, localizado na vila do
Torrão, no 7º Distrito, na localidade do Canta Galo, composto por 19 famílias; o Quilombo do Boqueirão,
localizado no 3º Distrito, na localidade do Boqueirão e Quilombo Coxilha Negra, localizado no 6º
Distrito, agregando 30 famílias. (BRASIL, 2010, pp. 28-33).
23
pomerana.
Os imigrantes que chegaram a São Lourenço do Sul foram instalados na Serra
dos Tapes que abrange a região serrana de alguns municípios9. Já a região que hoje
pertence ao município de São Lourenço do Sul pertencia ao município de Pelotas e
estava localizada de forma peculiar: a colônia estava encravada em uma zona de
estâncias e fazendas, situação no mínimo sui generis, já que a maioria das colônias
gaúchas mantivera-se afastada das regiões onde a pecuária predominou.
O processo de colonização de São Lourenço do Sul iniciou em 1858 quando da
fundação do município por Jacob Rheingantz, na Serra dos Tapes, então município de
Pelotas, no Rio Grande do Sul (COARACY, 1957:24). Rheingantz foi agenciador de
imigrantes e administrador da Colônia de São Lourenço do Sul por alguns anos. Sobre
este episódio, Bosenbecker afirma que
A história da família Rheingantz é uma história de ascensão social. São um
grupo empreendedor, que investe ao longo do tempo e através das gerações
familiares na colonização, imigração industrialização e, consequentemente,
na urbanização (2014, p. 5).
O começo da colônia de São Lourenço foi marcado por adversidades para os
primeiros imigrantes. Quando chegaram à Serra dos Tapes, foram conduzidos para a
picada São João da Reserva onde foram alojados em um galpão:
A realidade era adversa, o imigrante foi mais do que um comprador de terras;
na verdade foi um ―fazedor de terras‖, pois, o que obteve, foi ganho no
trabalho braçal na mata virgem e o preço para muitos foi altíssimo.
Enfermidades os prostravam no leito, quando não os matavam. Diarréias
matavam os recém-nascidos. [...] Picadas de cobras peçonhentas, quando não
matavam, deixavam muitos aleijados pelo resto da vida (Cartilha dos 150 anos
de imigração, 2008, p.13).
Os pomeranos compoem a maioria dos habitantes que vieram para essa região
no século XIX, atraídos pelas políticas brasileiras da época. Instalados nas regiões
rurais, começaram a trabalhar nas lavouras juntamente com toda a família e esse quadro
permanece até os dias de hoje já que a principal atividade de subsistência está ligada ao
trabalho na lavoura em que, comumente, participa toda família. Os alunos, em geral,
estudam em um turno e no outro ajudam os pais na atividade familiar, como é o caso
dos sujeitos da escola em que essa pesquisa foi realizada. Além disso, cabe salientar que
estes povos, assim como outros também tradicionais, preservam a sua cultura,
identidade e principalmente a língua que é utilizada entre as pessoas do município. É
9 A denominação da região serrana, que abrange os municípios de Canguçu, Pelotas e São Lourenço do
Sul, está relacionada ao contexto histórico de pré-colonização europeia. A região era ocupada pelos índios
Tapes, pertencentes à família lingüística Tupi Guarani. Correlacionou-se, assim, as características físicas
da ocupação, dando surgimento a Serra do Tapes. (CERQUEIRA, 2011 apud SALAMONI &
WASKIEVICZ, 2013:77).
24
comum entre as pessoas mais idosas que a única falada seja o pomerano e esta forma de
comunicação é bastante usual entre os estudantes, na escola, ainda que todos saibam
português.
Tendo em vista esses aspectos históricos e culturais, parece-nos que o grande
desafio, quando trabalhamos com grupos hegemonicamente minoritários, seja o de não
essencializar suas narrações históricas enquanto folclores. Da mesma forma, é
importante termos cuidado com o enaltecimento destes povos tradicionais, o que
também os essencializa e pode gerar anacronismos. Por outro lado, colaboram no
processo de pesquisa junto à escola o comprometimento e a sensibilidade para que as
investigações se engajem na resolução de problemas urgentes, tais como os diversos
preconceitos que seguem hierarquizando os diversos grupos que compõem o Estado
brasileiro. Sem dúvida, estas problemáticas afetam o cotidiano escolar e as
possibilidades de ensino-aprendizagem na escola, em geral, e da disciplina histórica, em
específico.
Quando debruçamo-nos sobre as discussões em torno da definição de
comunidades tradicionais, algumas reflexões parecem, ainda, carecer de uma
problematização. Afinal, o que define um grupo como sendo tradicional? Quando
pensamos nos Pomeranos, o que define melhor esse grupo? É a língua pomerana? As
práticas, saberes e fazeres? A culinária, a dança, a música, a arquitetura? As
lembranças?A religião? O seu sentimento de pertencimento? E ainda, o que tem em
comum os povos tradicionais? Provavelmente historizar o conceito, o referencial, ou
conceito histórico desse grupo é importante para que, dentro da sala de aula, possamos
lidar com esse desafio.
Sendo assim, parece-nos relevante aos elementos trazidos sobre a organização da
comunidade pomerana em solo lourenciano enquanto povo tradicional, passarmos à
discussão em torno dos conceitos de educação, consciência e narrativa histórica. A
partir destes eixos conceituais - e em diálogo, sobretudo, com Rüsen e Cerri -
apresentaremos a discussão dos referenciais teórico-metodológicos que orientaram essa
investigação.
1.3 Educação histórica, consciência histórica e as narrativas
Possibilitar uma aprendizagem em que os alunos sejam participativos, motivados
e gostem dos conteúdos de História tem permeado os debates sobre a qualidade da
25
educação. Neste contexto, os professores configuram-se enquanto uma das engrenagens
no enfrentamento aos desafios propostos à escola. Dentre estes, salientamos a busca
pela garantia do direito ao desenvolvimento da compreensão sobre o processo histórico
e como ―as ações do homem no tempo‖, como definiu Marc Bloch (2001, p. 55),
influenciam a vida prática de cada ser humano.
O ensino de História pode se configurar enquanto uma possibilidade para esse
movimento dialógico e reflexivo entre presente e passado. O professor da Universidade
de Londres Arthur Chapman (2014, p. 21) explica que através das perguntas que são
feitas ao passado que é produzido o conhecimento. Portanto, para o autor é considerável
o papel fundamental que a História tem na trajetória da vida humana. A História está
sempre presente em nossa vida, conforme Walter Benjamim (1994), filósofo alemão,
nos adverte. É no passado que encontramos a nossa razão de viver, nossa ideia de
felicidade. Ao lembrarmos e refletirmos sobre o que aconteceu no passado, construímos
o sentido para o presente e criamos uma perspectiva para o futuro. ―O passado é, por
definição, um dado que nada mais modificará. Mas o conhecimento do passado é uma
coisa em progresso, que incessantemente se transforma e aperfeiçoa‖ (BLOCH, 2001, p.
75).
As discussões em torno dos significados atribuídos ao passado e ao papel do
profissional da área da história encontram-se presentes, também, nas palavras de
Pesavento:
No campo da História Cultural, o historiador sabe que a sua narrativa pode
relatar o que ocorreu um dia, mas que esse mesmo fato pode ser objeto de
múltiplas versões. A rigor, ele deve ter em mente que a verdade deve
comparecer no seu trabalho de escrita da História como um horizonte a
alcançar, mesmo sabendo que ele não será jamais constituído por uma verdade
única ou absoluta. O mais certo seria afirmar que a História estabelece regimes
de verdade, e não certezas absolutas (PESAVENTO, 2005, p. 51).
O historiador pode contribuir para que a história seja orientada pelo
compromisso com os horizontes de verdade, mesmo que esses não sejam absolutos.
Nessa seara, o Ensino de História pode contribuir para que se construa a identidade do
individuo e do coletivo: ―cada estudante precisa se perceber, de fato, como sujeito
histórico, e isso só se consegue quando ele se dá conta dos esforços que nossos
antepassados fizeram para chegarmos ao estágio civilizatório no qual nos encontramos.‖
(PINSKY e PINSKY, 2010, p. 21). A aproximação da história ciência com a história da
vida do aluno faz com que eles se percebam como participantes e integrantes da história
e da comunidade que os cerca, praticando a inclusão histórica além de ser um agente
transformador em seu meio.
26
Todos têm história, independentemente da condição social, econômica ou seu
grau de instrução, pois ela é inseparável à condição humana. Para Rüsen e Heller, este
processo é mediado pela consciência histórica que é ―uma condição da existência do
pensamento histórico em que os sujeitos se formam a partir das relações sociais, sendo
esta inerente à condição humana‖ (Heller, 1993, p. 41). Para isso, o ensino de história
pode fornecer os meios que possibilitem ao estudante a reflexão sobre o passado. Dessa
maneira, poderia colaborar, através das narrativas históricas, na construção de sentido
por parte do aluno convidado a se debruçar sobre seu presente e expectativas de um
futuro possível. Essa elaboração que vincula o conhecimento histórico à vida cotidiana
os orientaria no tempo, facilitando a sua percepção identitária por meio da consciência
histórica.
Os autores Agnes Heller e Jörn Rüsen concordam que ―pensar historicamente é
um fenômeno, antes de qualquer coisa, cotidiano e inerente à condição humana‖
(CERRI, 2011, p. 29). Da mesma forma, ―Nas relações humanas, a consciência
histórica ocupa um lugar específico e este pode ser percebido indiretamente pelos
resultados da identidade coletiva, pois dela deriva uma série de outros acontecimentos
no campo do pensamento‖ (CERRI, 2011 p. 41). A consciência histórica, apresentada
por Rüsen (2001), é definida como ―modo de orientação‖ nas situações reais da vida e
como mediadora para as diversas formas de reconhecer e significar o passado.
Rüsen, na obra Razão histórica, apresenta a importância de entender ―a história
como campo de aplicação do conhecimento histórico, trata-se da história entendida
como o objeto próprio do pensamento histórico em seu modo especificamente
científico‖ (RÜSEN, 2001, p.53). Para o entendimento do pensamento histórico dos
sujeitos, Rüsen propõe uma matriz disciplinar da História que represente o conjunto
sistemático dos princípios e fatores do pensamento histórico que formam a constituição
da ciência histórica. Nessa estão agrupados cinco elementos: ideias, métodos, formas,
funções e interesses. Sendo assim,
O conceito de consciência histórica é ligado, ainda segundo Rüsen, à mudança
de paradigma da didática da história nos anos 1960, de acordo com o qual o
foco da disciplina passa do ensino para a aprendizagem histórica, e propõe
outra mudança no nosso modo de ver o ―fazer‖ da disciplina na escola. Se o
ensino da história implica o gerenciamento dos objetivos curriculares e das
concepções de tempo e de história que os alunos já trazem consigo desde fora
da escola, então o professor de história definitivamente não é um tradutor de
conhecimento erudito para o conhecimento escolar, um simplificador de
conteúdos. É, sim, um intelectual capaz de identificar os quadros de
consciência histórica subjacentes aos sujeitos do processo educativo - inclusive
o seu próprio - e de assessorar a comunidade na compreensão crítica do tempo,
da identidade e da ação na história (CERRI, 2011: 18).
27
Além disso, Rüsen afirma que a aprendizagem em história vai além do
conhecimento do passado: é, sim, uma das dimensões e manifestações da consciência
histórica. Conforme podemos observar na passagem seguinte,
A aprendizagem histórica é uma das dimensões e manifestações da consciência
histórica. Está articulada ao modo como a experiência do passado é vivenciada
e interpretada de maneira a fornecer uma compreensão do presente e a
construir projetos de futuro. (RÜSEN, 2001, p. 16)
Este processo de experimentação do passado e projeção do futuro a partir do
tempo presente aponta para a utilização de metodologias específicas no ensino de
história, o qual tem como elementos fundamentais alunos e professores enquanto
sujeitos construtores do conhecimento. Nessa relação, a narrativa histórica é o modo
como o conhecimento se apresenta e se comunica com os outros sujeitos, sendo
considerado um ―modo específico da constituição de sentido sobre a experiência do
tempo‖ (RÜSEN, 2001, p. 155). Com Rüsen, podemos verificar ainda que
O conhecimento histórico possui um modo de pensamento complexo porque a
história possui uma lógica específica de desenvolvimento que tem como
objetivo a compreensão dos sujeitos e processos históricos bem como as
relações dos diversos grupos humanos em diferentes espaços temporais.
(RÜSEN, 2001, p. 53)
Podemos verificar em Cerri (2011, p. 29) que ―a base do pensamento histórico,
portanto, antes de ser cultural ou opcional, é natural‖. Rüsen complementa este
pensamento quando afirma que
A consciência histórica não é algo que os homens podem ter ou não - ela é algo
universalmente humano, dada necessariamente junto com a intencionalidade
da vida prática dos homens. A consciência histórica enraíza-se, pois, na
historicidade intrínseca à própria vida humana prática. Essa historicidade
consiste no fato de que os homens, no diálogo com a natureza, com os demais
homens e consigo mesmos, acerca do que sejam eles próprios e seu mundo,
têm metas que vão além do que é o caso. (RÜSEN, 2001, p. 29)
A intenção de ir além do que temos e somos também é sublinhado por Cerri
(2011). Segundo o autor, a historicidade apresenta-se como condição própria de nossa
humanidade, é constitutiva daquilo que representa a espécie a que pertencemos.
Entretanto, são variadas as formas pelas quais apreendemos esta historicidade. Ainda
conforme este autor, em diálogo com Rüsen, o ato de atribuir sentido à experiência no
tempo é um fenômeno que se dá no âmbito da vida e está intimamente ligado à prática
(CERRI, 2011:30). Trata-se, portanto, de uma operação mental que, através da
consciência histórica, dá sentido também ao conjunto de pontos de vista considerados
no momento de escolha dos objetivos e de tomada de decisão por parte dos sujeitos
(CERRI, 2011: 30).
28
Rüsen (2001) ainda explica que a Consciência Histórica é uma condição da
existência do pensamento histórico e os sujeitos formam-se a partir das relações sociais.
Ou seja, é
[...] o modo pelo qual a relação dinâmica entre experiência do tempo e intenção
no tempo se realiza no processo da vida humana. (O termo ―vida‖ designa,
obviamente, mais do que o mero processo biológico, mas sempre também – no
sentido mais amplo da expressão – um processo social.) Para essa forma de
consciência, é determinante a operação mental com a qual o homem articula,
no processo e sua vida prática, a experiência do tempo com as intenções no
tempo e estas com aquelas. Essa operação pode ser descrita como orientação
do agir (do sofrer) humano no tempo. (RÜSEN, 2001, p. 58)
Rüsen define a experiência histórica como ato de experimentar o passado a partir
de uma necessidade da vida prática no presente. O passado é perspectiva para o futuro,
mas, é importante ressaltar que, para Rüsen, o passado de significância é diferente do
passado de sentido – diferença teórica (conceitos).
A narrativa não é sempre e basicamente histórica, no sentido coloquial do
termo. ―Histórico‖ significa aqui que o passado é interpretado, com relação à
experiência, no construto próprio a uma ―história‖ e que essa interpretação
passa a ter uma função na cultura contemporânea. Como nem toda narrativa de
histórias está relacionada com a experiência do passado e serve para torná-la
presente, é necessário especificar a narrativa histórica no conjunto dos
elementos comuns às narrativas históricas e não históricas. É comum ambas
atuarem como um modo específico de constituição de sentido sobre a
experiência do tempo (RÜSEN, 2010, p. 155).
A narrativa histórica tem que estar pautada em evidências. Para Rüsen a
explicação é a forma de narrar a história científica. Para que as narrativas assumam o
caráter histórico deveria
[...] negar-se a si própria, tem de superar-se como narrativa para poder
convencer como constituição histórica de sentido no horizonte das experiências
modernas do tempo. Em nossos dias, a narrativa só convence quando o
construto significativo de uma história, por ela configurado, torna transparentes
e cognoscíveis a ausência, a lacuna ou a negação de sentido nos conteúdos
interpretados do passado experimentado. (RÜSEN, 2010, p. 170)
A narrativa tem três competências: de experiência (recorre às lembranças para
interpretar o passado); de interpretação (rememora o passado para alinhar o agir no
presente e criar as representações de continuidade); e a de orientação (pergunta pelo
significado da criação de representações de continuidade que sintetizam as diferentes
temporalidades). As narrativas históricas assumem o papel de orientação temporal, ou
seja, "é a forma linguística dentro da qual a consciência histórica realiza a sua função de
orientação temporal" (RÜSEN, 2001, p. 59). Nesses termos, a competência da
orientação é a que torna o homem capaz de perceber e relacionar as possibilidades de
29
interpretação com as experiências vividas.
(...) às vezes, temos a impressão de que a história procura se comunicar, nesse
seu retorno à narrativa, como este seu elo perdido, que é a tradição dos relatos
orais que tiveram e ainda tem grande significado para a manutenção das
memórias coletivas. Narrar é uma maneira que nossa cultura encontrou de lidar
com o tempo e com o anunciado retorno da narrativa, talvez seja um sinal de
uma reorientação das relações entre passado, presente e futuro. (DECCA, 1998,
p. 24).
As interpretações de Decca parecem dialogar com aquilo que Rüsen e Cerri
sublinham sobre o papel das narrativas para a significação do passado. É neste sentido
que retomamos aquilo que destaca Rüsen sobre as metodologias específicas do ensino
de história, sobretudo àquela escolhida para execução desta pesquisa, ou seja, a história
oral. É essencial a compreensão prática da utilidade do ensino de História. ―A questão
básica é como o passado é experienciado e interpretado de modo a compreender o
presente e antecipar o futuro‖ (RÜSEN, 2006, p.16). A disciplina de História deve ser
útil na vida prática do aluno e isso é possível através do uso do saber histórico, ou seja,
é importante considerarmos que a ― disciplina da história não pode mais ser considerada
uma atividade divorciada das necessidades da vida prática‖ (RÜSEN, 2006, p. 12). É
dentro dessa perspectiva que consideramos que a metodologia de história aponta
possibilidades para os usos do saber histórico na educação.
Conseguir entender a sua própria história e narrá-la dentro do contexto local e
global contribui para nos entendermos culturalmente. ―As narrativas históricas reforçam
a experiência e a intersubjetividade na orientação cultural. Assim, tornam o peso da vida
- quem sabe - um pouco mais suportável‖ (RÜSEN, 1994, p. 46). Nesse sentido, o ato
de narrar-se pode contribuir para que os alunos se entendam como sujeitos históricos
capazes de incidir sobre a sua realidade. E, nessa etapa, é muito significativa a atuação
do professor. Por esta razão, concordamos com Ana Maria Monteiro quando a autora
afirma em seu livro Professores de História: entre saberes e práticas que os
―professores de história são muitos, centenas, alguns milhares de profissionais que
trabalham, militam no cotidiano, que ao ensinar mantém viva a possibilidade de um
mundo melhor, mais justo, mais humano e solidário‖ (MONTEIRO, 2007, p.9).
A globalização, por outro lado, deixa os indivíduos submersos em inúmeras
informações sem que exista o tempo necessário para o processamento adequado dessas.
Esta conjuntura afeta diretamente a forma como construímos nossas memórias:
Num tempo veloz e fugaz, em que a alienação, o isolamento e o silenciamento
das experiências, nos forçam a perder nossa memória coletiva, rememorar e
30
compartilhar memórias é uma ação rebelde que adquire um caráter de
resistência política – a memória compartilhada é uma forma de não sucumbir
ao esquecimento que o tempo acelerado da vida social nos impõe.(PÉREZ,
2003, p.1).
As memórias ajudam a manter a história viva e dinâmica. E a memória vai
guardar aquilo que elegemos como significativo para ser salvo ou esquecido. Portanto, é
relevante que a reflexão sobre ―para quê serve a história que estou ensinando?‖ faça
parte do trabalho do professor de história. Encontrar esta resposta pode auxiliar na busca
pela realização mais plena dos indivíduos.
Os homens são influenciados pelos grupos com os quais convivem. A partir
desse convívio, desenvolvem as características como seres humanos, tais como a cultura
e o pertencimento. Entretanto, para narrar a história e os modos de vida é necessário o
conhecimento do contexto histórico. Nesse processo de conhecimento e convívio em
sociedade a escola desenvolve papel fundamental. Na disciplina de história temos a
oportunidade de trabalhar com os alunos para que sejam os, tão almejados, sujeitos
críticos e reflexivos. É importante, portanto, que o professor de história também seja um
historiador-pesquisador que reconheça a relevância da pesquisa dentro do processo
educativo a partir de um viés mais dinâmico do ensino de história. Quando o aluno se
entende como sujeito e constrói sua narrativa histórica, ele pode orientar a vida prática
através do tempo. É importante que
[...] o aluno seja entendido como agente de sua formação, com ideias prévias
e experiências diversas e o professor como investigador social e organizador
de atividades problematizadoras; o conhecimento histórico é visto a partir de
sua natureza multiperpectivada e nos seus vários níveis: senso comum.
(SCHMIDT; GARCIA, 2006, p.23).
De várias formas podem ser apresentados os conteúdos escolares e, neste
cenário, a história oral é uma relevante ferramenta para a preservação da história e da
memória
Em História, não se entende como apreensão de conteúdo apenas a
capacidade dos alunos em dominar informações e conceitos de determinado
período histórico, mas também a capacidade das crianças e jovens em fazer
comparações com outras épocas, usando, por exemplo, dados resultantes da
habilidade de leitura de tabelas, gráficos e mapas ou de interpretação de
textos. Os conteúdos escolares correspondem também às formas de
apresentação de determinado saber escolar, as quais podem ser por escrito ou
pela oralidade, via debates, atividades em grupo, apresentação de uma peça
teatral, etc. (BITTENCOURT, 2005, p. 106)
Para que o ensino de história seja algo prazeroso, é necessário que os alunos
atribuam sentido ao conteúdo. Quando se percebem integrantes da história e conseguem
realizar comparações com outras épocas desenvolvem habilidades de compreensão da
31
experiência do tempo. Os saberes são construídos pelos sujeitos da educação – docentes
e discentes – no cotidiano escolar em diálogo com a sociedade em que estamos
inseridos. É recorrente no processo de ensino que muitos alunos não se identifiquem
com o ensino de história, isso porque não encontram a finalidade do estudo. E, nesse
processo, o professor de história pode fornecer elementos que colaborem para a criação,
por parte do aluno, de uma perspectiva mais contextual/historicizada de sua vida no
presente.
A prática docente exige que o profissional planeje, reflita sobre suas atividades,
pense sobre o que faz, antes, durante e depois (LEAL, 2001: 01). No processo de
ensino-aprendizagem é fundamental que o professor estude e faça o planejamento das
aulas utilizando a criatividade para tornar o conteúdo mais próximo de seu educando.
Mesmo que constantemente criticados, os livros didáticos são o material mais utilizado
para estudo nas escolas em todas as redes de ensino. Portanto, cabe ao professor o olhar
crítico sobre os conteúdos que serão trabalhados para tornar a história viva, e não
maçante ou mecanizada. Em Davies (1991), podemos verificar que, normalmente, os
livros didáticos trazem registrada apenas a memória oficial:
Os livros didáticos de História procuraram e procuram ainda construir uma
memória oficial, onde têm vez os "grandes homens" das classes dominantes,
o nacionalismo, e onde os conflitos sociais são omitidos ou atenuados. O
professor se tiver uma formação teórica e política sólida, poderá trabalhar as
limitações do LD. Em síntese, o livro didático deve ser compreendido apenas
como um elemento do processo de ensino-aprendizagem escolar. O seu efeito
real, positivo ou negativo, não está apenas no seu conteúdo, mas também no
modo de utilizá-lo. (DAVIES, 1991, p.1)
Se nos modelos oficiais é contemplada apenas parte da história e normalmente
aquela dominante, é necessário um investimento por parte dos agentes sociais para a
preservação das memórias dos diversos grupos sociais, sobretudo daqueles que,
normalmente, ficam a margem da sociedade. Nesse sentido, ressaltamos que
A memória é vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela
está em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do
esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a
todos os usos e manipulações, susceptível de longas latências e de repentinas
revitalizações (NORA, 1993, P.9).
Embora muitas vezes a memória de determinados grupos não tenha sido
registrada na História, não significa que não exista, ela está à espera de um registro. É
nessa direção que o professor e historiador Martin Dreher fala dos esquecimentos e
lembranças e defende que a história regional do Rio Grande do Sul merece ser reescrita,
para apresentar aqueles que foram esquecidos, invisibilizados.
32
Silêncio não é, necessariamente, o que foi esquecido, calado ou apagado da
memória. Em algumas localidades do Rio Grande do Sul, houve tentativas de
―apagar‖ memória, de silenciá-la. Elas o experimentaram durante o ―Estado
Novo‖ de Getúlio Vargas. Sua polícia pensava: Silenciou, esqueceu. Agora,
silenciar não significa dizer que algo não tenha acontecido, não tenha existido.
Nada disso. Há sempre motivos para se silenciar. No entanto, o silencio existe,
está em repouso, esperando para ser despertado, como o sugere a etimologia da
palavra silêncio. (DREHER, 2014, p. 7)
A campanha de nacionalização do governo Vargas parece ter sido um momento
da história de nosso país, que se traduziu no município de São Lourenço do Sul, e que
ilustra a tentativa de silenciamento e apagamento de uma identidade em prol de um
nacionalismo. No caso dos pomeranos lourencianos, as gerações mais novas não
aprendem o alemão em casa como ocorria antes da campanha de Vargas. Durante este
período, os ―Pomeranos, assim como outros descendentes de imigrantes, foram
proibidos de falar a sua língua e eram perseguidos, as famílias com medo se escondiam
no mato levando a literatura.‖ (SENNA & NEUNFELD, 2014: 29). Os livros que o
grupo tentava proteger eram escritos em língua alemã e tratavam-se, basicamente, de
bíblias e hinários cristãos, quando o material era apreendido, era queimado pelo exército
de Vargas. Também nesse momento as famílias começaram a falar pouco ou
praticamente nada em alemão com medo das represálias da policia da época.
A assimilação forçada começou formalmente em 1937, com a proibição do
ensino de língua estrangeira e prosseguiu em 1939, com o fechamento de todas
as instituições comunitárias que pudessem remeter a sentimentos de
pertencimento primordial às nações de origem. Logo depois houve a proibição
do uso de línguas maternas em público e o cerceamento geral das liberdades
individuais de todos os que não fossem considerados suficientemente
brasileiros. (SEYFERTH, 2000, p.92)
José Plínio Fachel destaca em seu livro As violências contra alemães e seus
descendentes que
Os anos de 1937 a 1945 foram especialmente marcados pela busca da
construção da identidade nacional. A região sul do Brasil, em especial o Rio
Grande do Sul, era objeto de preocupação do governo federal devido à forte
presença de imigrantes, que se manteriam fechados à cultura nacional. Os
alemães constituiriam o maior problema, pois o idioma dificultava a
integração. Com o objetivo promover a assimilação dos estrangeiros foi
desenvolvida a Campanha de Nacionalização. Sendo a educação um dos seus
principais instrumentos. No Rio Grande do Sul, polícia e sistema educacional
estavam alinhados durante o Estado Novo na execução do projeto
nacionalizante tendo como modelo a Alemanha nazista. (FACHEL, 2002, p.
238)
Essa política brasileira afetou diretamente os descendentes de imigrantes já que
poucas famílias continuaram ensinando para os seus filhos o idioma alemão, que antes
era ensinado tanto o escrito como o falado. Contudo, é interessante observar que a
língua pomerana continuou a ser praticada dentro das comunidades. Por outro lado, nas
33
cantigas e hinos dos cantos e corais, que estão fortemente presentes no município de
São Lourenço do Sul - é predominante o uso da língua alemã e poucos hinos são em
língua pomerana. Conforme destaca o pesquisador Danilo Kuhn da Silva
Ainda que as pessoas de origem pomerana do interior do município de São
Lourenço do Sul sejam bastante próximas à música, tendo em vista sua
massiva participação em corais de igreja e o elevado número de conjuntos
musicais na região, não são muitas as músicas em pomerano que sejam de
conhecimento da comunidade. Em sua maioria, são consideradas de origem
exclusivamente alemã algumas músicas instrumentais e, quanto às canções, a
maior parte delas é cantada em alemão. (SILVA, 2014:5)
O processo histórico narrado acima apresenta a relevância em estudarmos a
partir de uma perspectiva da história local. Nesta direção,
O trabalho com a história local no ensino da História facilita, também, a
construção de problematizações, a apreensão de várias histórias lidas com
base em distintos sujeitos da história, bem como de histórias que foram
silenciadas, isto é, que não foram institucionalizadas sob forma de
conhecimento histórico, ademais, esse trabalho pode favorecer a recuperação
de experiências individuais e coletivas do aluno, fazendo-o vê-las como
constitutivas de uma realidade histórica mais ampla produzindo um
conhecimento que, ao ser analisado e trabalhado, contribui para a construção
de consciência histórica. (SCHMIDT, CAINELLI, 2004, p. 114)
Já existem diversos estudos em torno dos grupos historicamente relegados à
margem da sociedade. Tais comunidades têm buscado, sobretudo, o reconhecimento da
contribuição dos diversos povos para formação e construção da história nacional.
Entretanto, ainda é necessário que estas discussões sejam refletidas na garantia de seus
direitos;
No campo da história há uma preocupação por reconhecer os coletivos
populares como sujeitos de história, não como um fardo negativo na história
nacional. Pesquisas, reconstruções históricas tentam mostrar a ―história dos
vencidos‖, as lutas de resistência a tantas segregações e preconceitos, à
escravidão, à ocupação de seus territórios ou à destruição de suas formas de
produção na agricultura familiar. Trabalhadores, camponeses, povos indígenas,
quilombolas, favelados, sem-teto, sem-terra, sem-escola, sem-universidade,
sem-igualdade de gênero, de orientação sexual... tantas lutas históricas de
tantos coletivos pensados na inferioridade e negatividade que ao longo de
nossa história se mostram presentes, afirmativos, em defesa de seus direitos.
(ARROYO, 2011, p. 280)
Nestes termos, a história local, a partir do processo narrativo da consciência
histórica, pode fornecer aos educandos e as suas comunidades auxílio na construção de
sua auto-estima e de um contexto social pautado pela igualdade.
Por um viver mais digno e justo. Essa diversidade de formas de narrar a
história e suas histórias é assumida pelos professores como uma pedagogia rica
na garantia do direito dos educandos a saber-se com uma imagem positiva. Os
coletivos docentes mais sensíveis a essa realidade por compromisso
pedagógico ou porque fazem parte desses coletivos e dessas memórias
inventam projetos em que são ressignificadas. A partir da ressignificação
34
dessas memórias, a história e memória nacional é outra História e outra
memória, mais rica porque mais tensa. Educadores e educandos quando sabem
essa história, se sabem e se reconhecem cidadãos, sujeitos legítimos não como
um fardo da nação. (ARROYO, 2011, P 280).
É necessário que o conhecimento da história e das diferenças sirva para unir e
aproximar e não para excluir e afastar os diferentes grupos que compõem a nossa
diversidade brasileira. Os homens e mulheres conhecedores de sua história reconhecem-
se como cidadãos que contribuem para escrever a história da sua comunidade e do seu
país. A educação é alavanca para que as mudanças sociais possam transformar a
sociedade, conforme já disse Paulo Freire. Para isso, os professores têm a oportunidade
de auxiliar em uma educação mais solidária e humana.
Nesse capítulo buscamos apresentar reflexões em torno da história local dos
pomeranos a partir do eixo das memórias e das narrativas. Ao compreenderemos que o
passado só tem sentido quando ressignificado pelos sujeitos, ressaltamos a história oral
enquanto um campo de possibilidades e ferramenta para a interpretação do vivido.
Nesse sentido, parece-nos relevante a formação de professores-pesquisadores dispostos
e habilitados para o estabelecimento de uma relação crítica e dinâmica para com o
narrado.
Com esses elementos em perspectiva, o capítulo seguinte, intitulado A
Historiografia Pomerana e Possibilidades para o Ensino de História Local, apresenta o
levantamento bibliográfico realizado durante o processo de investigação. Esse
movimento de pesquisa teve como interesse conhecer o panorama das discussões em
torno da historiografia pomerana. Sobremaneira, buscamos uma aproximação com
aquelas investigações realizadas no âmbito da educação. Em tempo, traremos também a
História oral como possibilidade teórico-metodológica para o ensino de história local.
35
CAPÍTULO II
A HISTORIOGRAFIA POMERANA E POSSIBILIDADES PARA O
ENSINO DE HISTÓRIA LOCAL
Neste capítulo, apresentamos o levantamento bibliográfico sobre os pomeranos
no qual discorremos sobre as várias pesquisas que estão sendo desenvolvidas sobre essa
população. Sobretudo, daremos enfoque àqueles trabalhos que estão sendo realizados
junto às escolas. Além disso, apresentaremos a discussão teórica sobre a História oral e
suas possibilidades no processo de ensino da história local.
2.1 Levantamento de publicações sobre os pomeranos.
Nos últimos anos, foram publicados vários trabalhos científicos e também
obras literárias que apresentam a história dos pomeranos. Essas investigações
contribuem para as problematizações em torno do processo históricos e da cultura desse
povo. Nesse sentido, foi necessário realizar uma busca pelo material já produzido sobre
a temática aqui apresentada. Dessa forma, além de artigos e acervo bibliográfico,
próprio e de bibliotecas, foram consultados - utilizando as palavras-chave ―educação‖ e
―pomerano‖ - os bancos de dados de universidades brasileiras e estrangeiras assim como
o Banco de Teses e Dissertações da Capes10
. Esse movimento de pesquisa resultou em
39 investigações brasileiras e 15 produzidas por estrangeiros. Dentre essas,
selecionamos as que mais dialogavam com a proposta desta dissertação, sobretudo
aquelas que permitiam conhecermos o contexto histórico e cultural dos alunos, da
escola e da comunidade na qual esta pesquisa esteve inserida.
A história de vida do povo pomerano é relatada na dissertação ―Pomerano e
Luterano: com muita Honra! Identidade Religiosa e étnica em Santa Maria de Jetibá no
estado do Espírito Santo: Um estudo de caso‖, de Glason Pereira Cunha, de 2010. O
autor destaca que a história dos pomeranos não é marcada por grandes heróis e
vencedores, mas foi feita por pessoas simples que passaram por guerras e invasões de
10
Para uma melhor contextualização, consta, ao final deste trabalho, uma tabela com o levantamento das
obras que foram analisados para escrita e pesquisa deste trabalho.
36
todos os lados uma vez que a localização territorial da Pomerânia, na Europa, era
próxima ao mar e passagem para muitos grupos. De acordo com o livro ―Pomeranos no
Sul do Rio Grande do Sul: Trajetória - Mitos- Cultura‖ de Leopoldo Wille, publicado
em 2011, a palavra Pommern é de origem eslava, Po-Morje que significa ―os que
habitam perto do mar‖ A formação da Pomerânia ocorreu no ano 300 d. C., quando os
grupos nômades eslavos se fixaram na costa do Mar Báltico. Entretanto, os mais antigos
habitantes da região remontam ao ano 100 a. C., quando os nômades escandinavos
viveram naquele local.
Mapa da localização da antiga Pomerânia.
Fonte: revistagloborural.globo.com
Com uma área territorial de 38.409 Km² e 519 Km de extensão litorânea, a
Pomerânia era alvo de conquista para muitos grupos do entorno por sua proximidade
com o mar, o que traria vantagens comerciais e bélicas. Ainda de acordo com o Wille, o
exército do Imperador Carlos Magno (747-814) invadiu a Pomerânia Ocidental no ano
de 789 d. C., mas a conquista foi fracassada já que a Dinamarca auxiliou a Pomerânia a
deter e expulsar o exército. Na Guerra dos trinta anos (1618 -1648), quando o general
Wallenstein invadiu a Pomerânia, tentando exterminar os protestantes luteranos, os
pomeranos contaram com apoio e coligações que impediram o extermino da população
protestante luterana (WILLE, 2011).
O Pomerano foi espectador de 22 Guerras. Os exércitos inimigos não só
passavam pela Pomerânia, como também ali, ao se encontrarem, travavam
37
batalhas. A cada vez que isso acontecia, a Pomerânia tinha sua terra arrasada,
saqueada e suas cidades queimadas e reduzidas a cinzas. E foi dessa forma
que, por dura experiência, eles aprenderam que é melhor desconfiar e ficar
calado do que sofrer as consequências de serem perseguidos. [...] Entretanto, a
índole pomerana manifesta o seu caráter firme e positivo de outras formas. O
pomerano cumpre os compromissos assumidos com fidelidade, é hospedeiro,
tem um profundo amor ao trabalho, fator principal de sua prosperidade.
Imprescindível aos pomeranos é morar bem, ter diante da sua casa um lindo
jardim[...] a sua horta, onde planta hortaliças e verduras que enriquecem os
alimentos que vão à mesa.(WILLE, 2011:84)
Ainda de acordo com Wille, em 1400, a Pomerânia foi absorvida política,
econômica e culturalmente pela Alemanha, oficializando a língua alemã. Em 1525,
Johannes Bugenhagen, amigo de Martinho Lutero, traduziu a Bíblia para a língua do
baixo alemão, o Plattdeutsch. A Pomerânia foi também uma província do Reino da
Prússia, administrada durante anos por ducados (WILLE, 2011).
De acordo com Wilhelm Wachholz (2008), em ―Triglaw: a proteção
pomerana‖ os pomeranos descenderam do povo Wende, pagãos que tinham a deusa de
três cabeças Triglav como divindade. A cristianização dos pomeranos é datada de
aproximadamente 1168. Em 1534, a Pomerânia se tornaria luterana, razão pela qual a
maioria dos pomeranos são, atualmente, luteranos (WACHHOLZ, 2008). É marcante o
número de membros pomeranos nos quadros da IECLB, em menor número da IELB e
as Igrejas Luteranas Livres (neste caso, especialmente, na região de São Lourenço do
Sul). Wachholz reafirma também que os pomeranos têm uma história milenar permeada
de guerras e submissões às imposições estrangeiras. A região foi disputada por
poloneses, dinamarqueses, saxões entre outros que estavam interessados no seu
território próximo ao Mar Báltico.
No século XIX a Europa estava arrasada como podemos ver na obra
―Imigração Alemã 180 anos – História e cultura‖ de 2004. Na obra de autoria da
historiadora Hilda Flores, é destacado que, nesse período, as cenas eram ―dramáticas‖.
O exército do Imperador Napoleão Bonaparte (1769-1821) havia espalhado morte e
terror. Além das guerras napoleônicas, a socialista (1848) e, posteriormente, as guerras
de unificação da Alemanha, em 1871, causaram devastação e fome. A culminância de
todos esses fatos fez com que, ao longo do século XIX, muitas pessoas imigrassem pelo
mundo. Flores esclarece, ainda, que, antes de 1871, os imigrantes que vieram para o
Brasil não eram ―alemães‖, mas sim prussianos, bávaros, renanos, westfalianos,
pomeranos, austríacos, boêmios, etc. Esse fato da história da imigração também é
relatado por Martin N. Dreher na obra ―190 anos de Imigração Alemã no Rio Grande do
38
Sul‖, de 2014. Nela o autor afirma que os imigrantes ―alemães‖ só serão após 1871,
com o surgimento do Império Alemão os que chegaram aqui antes eram hamburgueses,
saxões, mecklenburgueses, hannoveranos, birkenfeldianos, etc.
Martin Dreher explica que o processo de migração dos pomeranos para colônia
de São Lourenço do Sul ―é implantada no mesmo período em que estão surgindo
colônias semelhantes no Brasil. Santa Cruz do Sul, Blumenau, Domingos Martins e
Santa Leopoldina foram colônias para as quais veio grande contingente de pomeranos
(DREHER, 2008, p.1). O autor ainda frisa que ―a Pomerânia foi a última das regiões
alemãs em que foi eliminada a servidão da gleba. Ali também foi promovida a reforma
agrária, pelas autoridades prussianas‖ (DREHER, 2008, p.1). Os alemães que migraram,
em 1824, viviam na Europa do final da era Napoleônica em condições precárias.
Conforme Dreher destaca,
Há muitos soldados desincorporados, sem trabalho. Como os produtos
ingleses industrializados invadem o continente europeu, os artesãos alemães
não conseguem concorrer, aumenta o numero de pobres, mendigos, vadios.
(DREHER, 2008, p.2).
O autor explica ainda que para os imigrantes que vieram ao Brasil em 1850, a
situação era outra. Eram desempregados da indústria:
Os que sobram em 1850 já sofreram o impacto das revoluções liberais de
1848, receberam outra formação escolar, fizeram outros aprendizados
técnicos, e são distintos daqueles que vieram antes da Revolução Farroupilha
(1835-1845). (DREHER, 2008, p.2)
O modelo feudal ao qual os pomeranos estavam submetidos na Europa
influenciou o estilo de vida deles nas colônias de São Lourenço e Pelotas:
Servos são pessoas muito sofridas, pois estão constantemente submetidos aos
desmandos dos senhores. Os pomeranos experimentaram isso de muitas
maneiras eram explorados física e espiritualmente. (DREHER, 2008, p.2).
As mulheres eram as maiores vítimas da exploração dos Senhores feudais
―pois aos senhores estava reservado o direito à primeira noite (ius prima nox)‖
(DREHER, 2008, p.3). Para garantir ao noivo a primeira noite com a mulher, o casal de
namorados, com o consentimento dos pais, tinha relações sexuais pré-matrimoniais e
assim passavam os senhores feudais para trás. Quando chegaram ao Brasil, a igreja
luterana tentou inserir nas comunidades a tradição religiosa. Naquele momento, ―eles
não negaram suas raízes luteranas, mas não quiseram a igreja de estrutura episcopal.
Optaram pelo modelo congregacional de igreja local, escolheram pastores do próprio
meio.‖ (DREHER, 2008, p. 3). Os pomeranos mantiveram a tradição com relação à
39
educação e contribuíram para a região de São Lourenço e Pelotas ―Como súditos do
estado prussiano, os pomeranos vinham de região onde havia obrigatoriedade de ensino
desde meados do século XVII e essa tradição foi mantida‖ (DREHER, 2008, p.3). O
historiador lembra, também, a tradição que os pomeranos mantiveram de pintar as suas
casas de branco e azul, as cores da bandeira pomerana.
Conforme o artigo ―A Pomerânia é aqui‖ publicado na Revista de História da
Biblioteca Nacional, em setembro de 2008, por Filipe Monteiro e Igor Mello, depois da
II Guerra Mundial, o território pomerano foi extinto na Europa sendo ocupado pela
Polônia e Alemanha. O povo pomerano se espalhou pelos Estados Unidos, Canadá e,
sobretudo, no Brasil. O artigo também esclarece que a língua pomerana é distinta da
língua alemã, porque o seu tronco lingüístico está mais próximo do inglês e do
holandês, conforme o etnolinguista Ismael Tressman, autor do dicionário Português-
Pomerano. Tressman ainda reforça que o pomerano é uma língua da família germânica
ocidental e da subfamília Baixo-Saxão (Low Saxon) Oriental. Também fazem parte
desta subfamília linguística o Saxônio, o Holandês, o Flamengo, o Vestfaliano e o
Afrikâner, entre outras línguas. A língua pomerana foi utilizada como língua franca na
Europa Medieval entre os anos de 1200 e 1600 e se tornou moribunda na Alemanha,
após a II Guerra Mundial. Contudo, permanece viva em várias regiões brasileiras.
O pomerano é uma língua baixo-saxônica, isto é, uma língua saxônica das
terras baixas da região do Mar Báltico. Também integram o grupo das línguas
baixo-saxônicas o Vestfaliano, o Platt Menonita, o Saxônio, o Neerlandês,
entre outras. O Inglês e o Escocês são, por sua vez, línguas anglo-saxônicas,
também aparentadas com o Pomerano. Já o Alemão pertence a um outro grupo
de línguas; descende do Alto-Alemão (das regiões altas, montanhosas da
Alemanha e da Suíça (TRESSMANN, 2008, p:1).
É bastante comum a língua pomerana ser confundida com a língua alemã.
Existe em torno dessas discussões uma visão pejorativa sobre a língua pomerana, a
relegando a um dialeto. Essa percepção pode ser encontrada no artigo ―O Bilinguismo
Pomerano-português na Região de Pelotas‖, publicado no CELSUL, escrito por Paulino
Vandresen e Adriane Rodrigues Corrêa, é destacado que a língua alemã é uma ―língua
padrão‖ e o pomerano um ―dialeto‖. No Brasil, por muito tempo, esse consenso se
legitimou em torno da preeminência alemã. Entretanto, de acordo com os falantes
nativos, a pronúncia da língua pomerana é completamente diferente da alemã. O status
criado sobre a língua alemã (o ―hochdeutsch‖) que ganhou o valor simbólico de língua
culta enquanto o pomerano é considerado um dialeto também é abordado na tese
―Educação, História e Memória: silêncios e reinvenções pomeranas na Serra dos
Tapes‖, apresentada na UNISINOS no ano de 2009, por Carmo Thum. Na tese, Thum
40
pesquisou aspectos da história e cultura local no âmbito rural junto às escolas Martinho
Lutero, da localidade de Santa Augusta, no município de São Lourenço do Sul; escola
Carlos Soares da Silveira, da localidade de Nova Gonçalves no município de Canguçu;
e na escola Santo Ângelo, da localidade de Solidez também no município de Canguçu.
Não foi diferente com os imigrantes alemães que imigraram para São
Lourenço do Sul, no século XX. Esse grupo falava Hochdeutsch (língua alemã), que era
diverso da língua falada pelos pomeranos que vieram no século XIX, o Plattdeutsch
(língua pomerana). A maioria dos pomeranos também falava, lia e escrevia em língua
alemã. Por muitos anos, dentro da comunidade lourenciana, a língua alemã foi
considerada superior à língua pomerana que não tinha o reconhecimento como língua e
vista como um dialeto mesmo pela comunidade pomerana. Esta visão fez com que
muitos falantes do pomerano tivessem receio em falar a língua fora do contexto familiar
e da comunidade.
Pensa-se, muitas vezes, que o preconceito étnico é exclusivo a negros e índios,
entretando Patrícia Weiduschat, Marcos Teixeira Souza e Cássia Raquel Beiersdorf
apontam outras possibilidades de interpretação. No artigo publicado em 2013, intitulado
―Afro-pomeranos: entre a Pomerânia lembrada e a África esquecida‖ muitos brancos
estrangeiros foram vítimas de preconceito. "O preconceito étnico, no Brasil, não esteve
restrito aos negros e aos indígenas, mas também aos brancos, em alguns contextos."
(WEIDUSCHADT; SOUZA; BEIERSDORF, 2013, p.253).
Atualmente, no Brasil, encontramos grupos pomeranos em vários estados. De
forma mais significativa, estão localizado em Rondônia, Espírito Santo, Minas Gerais,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No Espírito Santo, foi implementado nas escolas
públicas de cinco municípios capixabas o ―Programa de Educação Escolar Pomerana –
PROEPO‖. Esse é um programa pedagógico que trabalha com a valorização e o
fortalecimento da cultura e da língua pomerana, conforme pode ser constatado no
trabalho publicado no II Congresso Consad de Gestão Pública - Inovações em
programas educacionais por Síntia Bousen Kuster, Lúzia F. Daleprome e Ismael
Tressmann. As autoras afirmam que a língua pomerana e seus falantes sofreram muito
preconceito no estado do ES e foram estereotipados. Assim, para resguardar os direitos
lingüísticos, foi criado o projeto para trabalhar com os alunos e as famílias que,
conforme as autoras, passaram a apresentar maior interesse na vida escolar e sentiram-
se mais valorizados no contexto.
41
Conforme o antropólogo Evander Eloí Krone destaca em sua dissertação
apresentada na UFPEL, em 2014, intitulada ―COMIDA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO
CULTURAL: A construção da Pomeraneidade no extremo Sul do Brasil‖, o modo
como os colonos pomeranos contemporâneos vivem, celebram e comem realiza um
diálogo constante entre passado e presente, preservação e inovação. O autor ressalta,
ainda, que, mesmo que os pomeranos sejam o coletivo humano que predomina na
formação social em São Lourenço do Sul, eles continuam sendo um grupo
―estigmatizado e inferiorizado‖. Esse tratamento advém, sobretudo, de seus pares mais
próximos, os alemães. Por outro lado, Krone também sublinha a autoimagem negativa
que o próprio pomerano tem de si mesmo.
A baixa autoestima é tema do artigo ―Os Pomeranos e a violência: a percepção
de descendentes de imigrantes pomeranos sobre o alto índice de suicídios e homicídios
na comunidade de Santa Maria de Jetibá‖, publicado em 2013, por Mariana Carneiro
Capucho e Adriano Pereira Jardim. Os autores concluem que os pomeranos se
apresentam como um povo não agressivo, mas introspectivo, desconfiado e depressivo.
Essas características, conforme a sua observação, estão relacionados a vários fatores,
mas principalmente à falta de apoio social.
A dissertação ―A comida na cultura pomerana: simbolismo, identidade e
sociabilidade‖ de Adriele Schmidt, apresentada para UFV, em 2015, chama a atenção
para o fato da herança cultural que os rituais alimentares transportam. Nesse cenário,
tanto à comida cotidiana quanto à festiva são atribuídos simbolismos que são
importantes marcadores da identidade pomerana.
O artigo ―A trajetória de uma fisioterapeuta camponesa: notas acerca do uso
de plantas medicinais entre colonos pomeranos de São Lourenço do Sul‖, publicado em
2012, no 5º Encontro da Rede de Estudos Rurais escrito por Maurício Schneider, Renata
Menasche e Lorena Almeida Gill apresenta a prática da utilização de inúmeras plantas
para cura de doenças. Essa tradição é transmitida de geração em geração pela história
oral e memória coletiva do grupo pomerano. A autora destaca a preparação do
maishnaps que é conhecido como a cachaça de maio preparado com trinta ervas
diferentes e matura pelo período de um ano quando está pronta para o consumo indicada
principalmente para dar energia, para problemas digestivos e para fazer uma boa
digestão.
No romance ―O pescador de arenques‖, de 2007, escrito por Jairo Scoll Costa
é narrada a saga, a partir do Mar Báltico, dos imigrantes pomeranos pela Europa,
42
Estados Unidos e Brasil, principalmente a imigração para São Lourenço do Sul. Nos
Estados Unidos11
há um grande número de descendentes de imigrantes pomeranos e sua
presença é marcada anualmente no mês de junho quando ocorre o festival "Pomeranian
Day", na cidade de Mequon/USA. Na obra Pommern Revisited, de 2009, escrita por
Paul Sternberg e Janice e Jerry Savage é descrita a História e lembranças da vida
doméstica solar, vida na fazenda, estações e feriados dos descendentes de imigrantes
pomeranos de cada Pommern no Condado de Minnesota/USA.
O site estadunidense “Genealoger Family History and Genealogy Services”
apresenta a imigração pomerana para vários países como podemos verificar no banco de
dados “Pomeranian Immigrants in America, Brazil, South Africa and Other Places”.
Podemos constatar, através da citação de várias referências bibliográficas, que ocorreu a
imigração pomerana para muitos países como Estados Unidos para Wisconsin, Illinois,
Michigam, Milwaukel. Para Austrália, imigraram pomeranos para o estado de Victoria e
começaram a chegar a Melbourne, em 1840, onde muitos se tornaram agricultores e
alguns viticultores. O Chile recebeu imigrantes pomeranos, na década de 1820, que se
instalaram no Sul ao Norte do arquipélago de Chiloé. O Sul da África teve imigração de
colonos pobres da pomerania, em 1858. O grupo não prosperou na região, porque
encontrou terras improdutivas, além de ser discriminado pelos fazendeiros britânicos
devido a sua condição de pobreza.
O historiador José Carlos Heinemann (2008) explica em ―Bons soldados
excelentes agricultores‖ que o maior legado de elementos culturais que os pomeranos
acrescentaram à cultura brasileira é o trabalho. Outro aspecto interessante trazido pelo
autor se refere à mulher pomerana. Heinemann a descreve com características bem
peculiares: uma mulher relativamente reservada e com certa desconfiança frente ao
desconhecido, de certo modo característica comum às mulheres do interior, ciosas da
manutenção dos contatos familiares e temerosas às influencias exteriores. Isso, no
entanto, não torna essas mulheres recolhidas e apartadas da sociedade, o que é
perceptível no acolhimento às visitas, por exemplo. Heinemann destaca ainda o
importante e vital papel que a mulher pomerana teve na manutenção da língua
pomerana quando afirma que se o pomerano é falado nas casas de descendentes, em
grande parte, deve-se ao hábito das mulheres em incentivar o uso da língua pomerana
nas conversas domésticas.
11
Agradeço pela colaboração dos membros da biblioteca da Wisconsin Historical Society com quem tive
a oportunidade de troca emails e que forneceram material para a pesquisa.
43
Heinemann (2008) descreve, ainda, que as mulheres pomeranas são muito ativas
na comunidade religiosa onde participam de encontros de senhoras, estudos bíblicos e
ensaios do coral, entre outras atividades. Este fato é bem característico das mulheres do
povo pomerano. A mulher trabalha excessivamente: ela limpa a casa, costura, cuida da
cozinha, do jardim, da horta, do pomar, ordenha as vacas, trata as galinhas, patos e
marrecos, cuida dos filhos, trabalha na lavoura junto com o marido. A historiadora
Hilda Flores afirma que a mulher encontra tempo para
bordar, ponto a ponto e as vivas cores, panos de parede com dizeres e
pensamentos da cultura germânica. Pendurados atrás do fogão e pelas
paredes da cozinha e da sala, esses dizeres ajudavam a nortear a vida e a
educar os filhos. (FLORES; ROCKENBACK, 2004, p. 59).
Estas construções em torno do feminino são encontradas comumente na
comunidade pomerana do interior do município de São Lourenço do Sul.
A dissertação ―Organização espacial e reprodução social da agricultura
familiar: um estudo de caso na localidade de Harmonia I, São Lourenço do Sul, RS‖,
apresentada por Losane H. Schawartz, em 2008, na UFPEL, é um estudo que analisa a
agricultura familiar dos descendentes de pomeranos ―ethos camponês‖. Para a autora,
esses estão submetidos ao sistema produtivo das indústrias fumageiras. Desde a década
de 1980 até a atualidade, em São Lourenço, o fumo é o principal produto comercial
cultivado nas propriedades das famílias pomeranas.
Alguns dos projetos e pesquisas atuais realizadas nas escolas mostram também
a preocupação com o meio ambiente, conforme encontramos no artigo ―Escola Pública
Rural e Questões Ambientais: Um estudo entre alunos de origem pomerana no Espírito
Santo, Brasil‖. O trabalho, publicado em 2015, no VIII Encontro de Pesquisa em
Educação Ambiental, de autoria de Bárbara de Almeida Silva e Daniela Grynszpan,
trata-se de estudo realizado entre os alunos de uma escola rural, situada no Espírito
Santo que promoveu a relação entre a produção do conhecimento e a valorização da
natureza.
A dissertação ―Cultura e língua Pomeranas: Um estudo de caso em uma escola
do ensino fundamental no município de Santa Maria do Jetibá – Espírito Santo – Brasil‖
apresentada em julho de 2015 na UFES configura-se enquanto uma pesquisa de cunho
bibliográfico sobre os pomeranos. Ao mesmo tempo, nesse trabalho Síntia Kuster
também apresentou o relato de atividades desenvolvidas com o ensino.
A pesquisadora Vânia Grim Thies (2008) na entrevista ―Uma cultura ameaçada‖
aborda as promessas que os pomeranos receberam quando imigraram: essencialmente,
44
terras a serem cultivadas para garantir o sucesso e a prosperidade familiar. Entretanto,
era preciso desbravar os matos, construir uma moradia, iniciar o plantio para pagar as
próprias terras (a juros altos). Somente após finalizarem os pagamentos, ganhavam a
escritura e a posse da colônia.
Difícil era começar onde tudo estava por fazer. Precisavam aprender a derrubar
o mato, esperar que secasse atear fogo, construir a primeira choupana
provisória em meio à fuligem da queimada, semear e plantar as primeiras
lavouras e esperar pela primeira safra. Dificuldades, muita saudade e
frustações se misturavam com alegria e esperança. Havia a terra própria, o
pequeno galpão, os primeiros animais, o galinheiro, o chiqueiro e o potreiro,
algum milho no paiol e a casa melhorada - tudo parecia um sonho e era, ao
mesmo tempo, um passo concreto para o tão desejado futuro melhor.
(FLORES; ROCKENBACK, 2004:14)
Uma das grandes carências encontradas dentro da comunidade é referente ao
conhecimento de sua própria história. Mesmo com várias pesquisas já publicadas e a
iniciativa de muitas escolas rurais em trabalhar a história local, ainda se percebe essa
lacuna por parte dos habitantes. É fundamental conhecer a própria história para poder
valorizá-la.
No levantamento bibliográfico realizado, foi possível verificar que estão sendo
desenvolvidas várias ações e projetos junto às escolas de algumas regiões brasileiras
para trabalhar a positivação da história, cultura e a língua do povo tradicional pomerano.
Entretanto, para esse processo é fundamental que seja problematizado e considerado a
relevância da reconstrução da memória desse grupo. No Ensino de História, estudamos
e refletimos sobre as várias civilizações ao longo da história da humanidade e como
suas trajetórias dialogam com o tempo presente. Por essa razão, é fundamental que o
estudante conheça a história global, regional, mas sem perder de vista, a local. Sobre
essa última, acreditamos que a ferramenta da história oral apresenta-se enquanto
possibilidade para a aproximação, por parte de docentes e discentes, com as narrativas
que registram as experiências dos pomeranos no tempo, sobretudo aquelas não
abarcadas por outras fontes históricas.
2.2 História oral e as suas possibilidades no ensino.
A história oral dentro desse processo de ensino da História Local colabora com o
conhecimento da história de vida das pessoas da comunidade a partir do sentido,
atribuído pelos sujeitos, de pertencimento à história. Conforme ressalta Thompson,
A história oral é uma história construída em torno de pessoas. Ela lança a vida
para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação [...] Estimula
45
professores e alunos a se tornarem companheiros de trabalho. Traz a história
para dentro da comunidade e extrai a história de dentro da comunidade. Ajuda
os menos privilegiados, e especialmente os idosos, a conquistar dignidade e
autoconfiança. Propicia o contato - e, pois, a compreensão – entre classes
sociais e entre gerações. E para cada um dos historiadores e outros que
partilhem das mesmas intenções, ela pode dar um sentido de pertencer a
determinado lugar e a determinada época. Em suma, contribui para formar
seres humanos mais completos. (THOMPSON, 1992: 44).
Esse importante papel que a história oral pode desempenhar e conquistar dentro
do contexto de ensino aprendizagem contribui para que sejam criadas as condições para
que os alunos apreciem e valorizem o pesquisar na história e possam sentir que são
parte integrante da história. Da mesma forma, há o intento de valorizar os familiares e
vizinhos. Conforme destaca Neves,
[...] o maior desafio da história oral [...] é contribuir para que as lembranças
continuem vivas e atualizadas, não se transformando em exaltação ou crítica
pura e simples do que passou, mas sim em meio à vida, em procura permanente
de escombros, que possam contribuir para estimular e reativar o diálogo do
presente com o passado (NEVES, 2003, 27-38).
A história oral é uma excelente aliada para aqueles que foram colocados às
margens da história oficial nacional. Conforme Lucian Febvre ―A história se faz com
documentos escritos, sem dúvida, quando eles existem. Mas ela pode ser feita, ela deve
ser feita com tudo o que a engenhosidade do historiador lhe permitir utilizar‖
(FEBVRE, 1974, p. 21). As pessoas mais velhas têm muitos saberes e memórias para
compartilhar. Nesse sentido, as entrevistas de história oral oferecem oportunidades para
uma abordagem plural da história e compreensão do passado. A história oral tem esse
privilégio da vivacidade como explica Alberti;
A história, como toda atividade de pensamento, opera por descontinuidades:
selecionamos acontecimentos, conjunturas e modos de viver, para conhecer e
explicar o que se passou. Uma entrevista de história oral não é exceção nesse
conjunto. Mas há nela uma vivacidade, um tom especial, característico de
documentos pessoais. É da experiência de um sujeito que se trata; sua narrativa
acaba colorindo o passo com um valor que nos é caro: aquele que faz do
homem um indivíduo único singular em nossa história, um sujeito que
efetivamente viveu – e, por isso dá vida a – conjunturas e estruturas que de
outro modo parecem tão distantes. E, ouvindo-o falar, temos a sensação de
ouvir a história sendo contada em um contínuo, temos a sensação de que as
descontinuidades são abolidas e recheadas com ingredientes pessoais:
emoções, reações, observações, idiossincrasias, relatos pitorescos. (ALBERTI,
2004, p. 14)
A aceitação da história oral como fonte constituiu-se em um processo de críticas
que questionavam a confiabilidade da história oral. Contudo, nos processos de
investigação histórica, podemos afirmar que mesmo os documentos escritos podem ser
alvo de manipulações. Conforme Matos & Senna,
46
Há alguns aspectos críticos que envolvem a utilização da fonte oral. Críticas
quanto à confiabilidade da fonte, pois muitos dizem que os depoimentos orais
são fontes subjetivas, relativas à memória individual, às vezes falível ou
fantasiosa. Paul Thompson argumenta que nenhuma fonte está livre da
subjetividade, seja ela escrita, oral ou visual. Todas podem ser insuficientes,
ambíguas ou até mesmo passíveis de manipulação. (MATOS & SENNA, 2011,
p. 102)
No Brasil, a história oral se fortaleceu com a criação da Associação Brasileira de
História Oral, em 1994. Esse reconhecimento da história oral como fonte de pesquisa,
além de contribuir para ressignificar o vivido, também auxilia para ampliar o alcance
das vozes de ―pessoas comuns‖. Ou seja, dos grupos colocados à margem do processo
histórico brasileiro. Sobre essas problemáticas Meihye & Holanda afirmam que
Pode-se dizer que a história oral em sua origem teve uma luta importante que a
definiu: superar o exclusivismo da história de figuras exemplares. A inscrição
de pessoas comuns foi uma etapa significativa e que serviu de ponto de apoio
para a outra tendência, a história de grupos que de alguma maneira ficaram à
margem do processo de integração social. (MEIHYE & HOLANDA, 2013,
p.106)
A História oral é provavelmente uma das formas mais antigas de contar a
história. A oralidade era a forma que as antigas civilizações utilizavam para transmitir
verbalmente, de geração para geração, os conhecimentos. Como salientam Matos &
Senna,
O que conhecemos como história oral é uma prática muito antiga, intimamente
ligada aos contos populares, ao universo da comunicação humana. A História
surgiu contada, até constituir-se na escrita do depoimento realizado, das
impressões registradas, da legislação disciplinada em sólidas escritas que a
legitimam. Tudo isso numa nítida vontade de perpetuar, de maneira mais
segura e perene, nosso passado. (MATOS & SENNA, 2011, p. 97)
A utilização da história oral torna possível o diálogo reflexivo do presente com o
passado. Dessa forma, o método registra a riqueza das memórias e lembranças que
permanecem vivas e atualizadas na história de vida dos seus agentes.
A história não é todo o passado, mas também não é tudo aquilo que resta do
passado. Ou, se o quisermos, ao lado de uma história escrita, há uma história
viva que se perpetua ou se renova através do tempo e onde é possível encontrar
um grande número dessas correntes antigas que haviam desaparecido somente
na aparência. (HALBWACHS, 1990, p. 67)
Através da história oral, existe a possibilidade de registrar a trajetória das
―histórias de movimentos sociais populares, de lutas cotidianas encobertas ou
esquecidas, de versões menosprezadas‖ (FERREIRA & AMADO, 2005, p. 14).
Portanto, a história oral tem essa característica própria de dimensionar as histórias
populares, proporcionando o sentimento de identidade e pertencimento ―com frequência
47
a escrita, como modalidade de expansão, deixa a busca identitária incompleta‖
(CANDAU, 2012:109). Para Pollak, ―há uma ligação fenomenológica muita estreita
entre memória e o sentimento de identidade‖ (1989, p.12). Segundo o autor a memória é
um elemento ―constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva.
Isso se dá à medida que é considerada, também, um fator extremamente importante para
o sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua
reconstrução de si‖ (POLLAK, 1989, p.16). O sentimento de continuidade é propagado
e anunciado nos depoimentos de história oral. Nestes termos, a história oral, enquanto
registro da narrativa histórica, é produto da consciência histórica. E, no que tange à
educação, é terreno fértil ainda a ser explorado.
Nesse capítulo, discutimos a historiografia pomerana a partir do cenário de
investigações já realizadas com o tema. A partir dos dados levantados com as pesquisas
selecionadas foi possível historicizarmos a trajetória dos povos pomeranos desde a
Europa até os diversos movimentos migratórios. No que tange à história dos pomeranos
em solo brasileiro, salientamos, principalmente, sua presença na região sul do país.
Além disso, aproximamo-nos das discussões teóricas sobre história oral em diálogo com
o processo de ensino a partir da noção de consciência histórica.
Nesta direção, o próximo capítulo O que pensam os alunos: cultura pomerana
em discussão contextualiza esses debates a partir das narrativas dos sujeitos da
investigação. Sendo assim, será apresentado o perfil dos estudantes da escola Prof.
Rodolfo Bersch assim como suas narrativas. No que tange ao contexto da Instituição,
analisaremos os livros didáticos utilizados no Ensino Médio na disciplina de História; o
Projeto Político Pedagógico, aproximado com a entrevista da diretora; e a Proposta
Curricular para a Disciplina de História em diálogo com a fala da professora titular da
turma com que a investigação foi desenvolvida.
48
CAPÍTULO III
O QUE PENSAM OS ALUNOS:
CULTURA POMERANA EM DISCUSSÃO
Neste capítulo, é apresentada a escola em que foi desenvolvida a pesquisa assim
como seu contexto geográfico e sócio cultural. Da mesma forma, serão analisados os
livros didáticos utilizados na disciplina de História. A partir deste artefato cultural, será
abordada a presença dos aspectos da História local e interrogado: que história é
ensinada sobre São Lourenço do Sul? Em que momento da escolarização essa história
local é trabalhada?
Também são apresentadas e interpretadas as narrativas dos alunos sobre a
presença da cultura pomerana no ambiente escolar. As narrações foram reunidas a partir
de três unidades analíticas, as quais sejam: importância da cultura pomerana, língua
pomerana e sofrimento coletivo. Foram elaborados alguns gráficos para apresentar os
resultados das narrativas orais. Também são abordados os depoimentos orais cedidos
pela diretora da escola e pela professora titular da disciplina de história dos alunos
entrevistados.
3.1 Escola em que o projeto de pesquisa foi desenvolvido
A Escola Estadual de Ensino Médio Professor Rodolfo Bersch está situada na
localidade da Boa Vista, no 6º distrito de São Lourenço do Sul/RS. A instituição atende
alunos do interior do município nos turnos da manhã, tarde e noite. No mapa, podemos
constatar a localização da escola e as várias comunidades das quais os alunos são
oriundos.
49
Mapa da localização da EEEM Prof. Rodolfo Bersch e a abrangência dentro do
município de São Lourenço do Sul.
Fonte: Capa do Livro ―Conhecendo e Valorizando a vida rural do município de São Lourenço do Sul‖,
publicado em 2013.
A história da escola teve seu início em 1880 quando famílias residentes na
Picada Boa Vista, Picada Quevedos, Birkenfeld e Coxilha Negra fundaram a Sociedade
Escolar Boa Vista atendendo o ensino primário de seus filhos. No ano de 1935, com a
divisão da mesma, membros católicos fundaram a Sociedade Católica Escolar de Boa
Vista e a Escola particular Padre Manoel da Nóbrega. Já no ano e 1939, foi criado o
Grupo Escola de Boa Vista que foi instalado no mesmo prédio e atendia alunos da 1ª a
5ª série. No ano de 1972, a escola começou a ofertar também a 6ª, 7ª e 8ª série do ensino
Fundamental. Posteriormente, as duas escolas se fundiram, tornando-se uma única
instituição que recebeu um novo prédio e passou a ser de responsabilidade do estado.
50
No ano de 1996, atendendo aos pedidos da comunidade, foi autorizado o funcionamento
do 1º e 2º Grau da Escola Estadual Professor Rodolfo Bersch.
Segundo os documentos da escola, existe a preocupação em valorizar a vida
rural e mobilizar docentes e discentes para o desenvolvimento de práticas que buscam a
inserção social dos jovens agricultores como protagonistas da sua comunidade. Além
disso, a instituição os incentiva para que permaneçam no campo e atuem de forma
crítica e construtiva. Visa proporcionar, também, uma proposta pedagógica construída
em uma perspectiva de valorização do ser humano de forma a contemplar as
diversidades sociais, culturais, políticas, econômicas, de gênero e etnia. Dessa forma, é
de interesse da escola o estabelecimento de relações entre a escola e a comunidade
local, os movimentos sociais e o mundo do trabalho, buscando a valorização das
peculiaridades do campo. De acordo com o seu Projeto Político e Pedagógico/PPP a
Escola está comprometida com alguns princípios básicos, dentre os quais ressaltamos:
• Exercício da democracia e da cidadania;
• Articulação com políticas públicas para qualificar o ensino do campo;
• Busca do conhecimento técnico;
• Resgate e valorização do saber local;
• Vivência ambiental.
No atendimento do Ensino Médio, a Escola oportuniza condições que favoreçam:
• A ampliação e aprofundamento dos conhecimentos, experiências e
habilidades;
• A autoconfiança;
• A liberdade e autenticidade do ser e agir;
• O desenvolvimento da capacidade de liderança, assumindo-a com
responsabilidade;
• O aperfeiçoamento das formas de comunicação e, em especial da Língua
Portuguesa, considerando-a como expressão da cultura brasileira;
51
• O domínio de recursos científicos e tecnológicos que permitam ao aluno situar-
se criticamente diante da realidade e comprometer-se com sua transformação.
Ainda conforme o PPP da escola, a construção do conhecimento é estabelecida a
partir de aspectos epistemológicos e metodológicos da teoria construtivista
interacionista. Nesta perspectiva, é incentivada a aproximação nas relações de trabalho
de modo a considerar as experiências sociais, sobretudo no que tange ao
desenvolvimento sócio cultural e econômico dos trabalhadores do campo. Por outro
lado, visa o desenvolvimento do cidadão, através da práxis. Nesse sentido, busca o
crescimento do educando e a melhoria da qualidade da prática docente, enquanto uma
tendência política transformadora e de atuação no contexto histórico.
Por fim, a avaliação de aproveitamento é realizada em relação a objetivos que
envolvam as áreas cognitiva, afetiva e psicomotora. O processo avaliativo é realizado ao
longo do período letivo, a fim de propiciar a coleta de um maior número de evidências
quanto às aprendizagens do aluno.
Após essa exposição, acreditamos ser relevante para melhor compreensão das
dinâmicas de ensino-aprendizagem e gestão da Escola Estadual de Ensino Médio
Professor Rodolfo Bersch, trazermos para reflexão a fala da diretora Carla.
Não resido próximo da Escola Rodolfo Bersch, moro na cidade, mas quando
comecei a carreira morava perto da escola eu sou do interior, sou da Boa
Vista, estudei na Escola, fui aluna da Rodolfo Bersch, conheço a realidade
dos alunos, conheço os pais. Na Escola não trabalhamos a cultura dos
pomeranos, mas tentamos trabalhar e intensificamos o aluno no meio rural, a
realidade que ele vive. Eu acredito que o maior desafio de trabalhar em uma
escola rural primeiramente são os professores de conhecer a realidade dos
alunos do meio rural, apesar de termos um grupo que já está há bastante
tempo e que já está inteirado e que vê como é e o que pode ser feito de
acordo com a realidade. Mas como escola do campo, acredito que deve haver
mais coisas voltadas para a escola. Acho que os nossos governantes estão
deixando muito a desejar. Agora a coordenadoria está propondo fazer um
trabalho mais conjunto com a EMATER sobre a questão da Educação do
campo porque a escola tem dois hectares, temos uma horta, mas não temos
pessoas qualificadas para isso. Esse é um grande desafio porque temos a
horta e no último ano não funcionou porque faltou quem trabalhasse nisso.
[...]
Acho que a escola tenta fazer o papel dela eu acredito muito nisso é uma
equipe que trabalha unida. Temos professores que estão buscando a
qualificação, tem um professor que vai fazer mestrado em Matemática outra
professora que está concluindo a Pós. Sempre tem alguém fazendo formação.
Estamos fazendo o melhor pelo nosso educando é nossa profissão. Sabemos
que temos as nossas falhas na escola do campo no campo. A escola Rodolfo
Bersch é no campo, mas ela não é do campo pela questão dos nossos
professores que na grande maioria são da cidade. Mas buscamos elaborar o
nosso calendário escolar de acordo com os feriados locais, da cultura local...
os alunos comemoram o dia de Ascensão, segundo dia de
Pentecostes...sempre cuidamos isso, elaborando o nosso calendário de
acordo com estas datas da cultura local.
52
Conforme pode ser observado nas colocações da diretora, a escola está
preocupada com a realidade dos seus alunos, apesar de não estar trabalhado
especificamente um projeto voltado com a cultura pomerana. Evidenciamos a partir da
fala da professora que a profissional conhece o contexto social dos alunos e, do mesmo
modo, a instituição adéqua o calendário escolar aos feriados próprios da cultura local.
Para ela, o desconhecimento desta realidade por parte dos docentes é o principal desafio
em se trabalhar em uma escola rural, já que a maioria dos professores reside na área
urbana do município. Dessa forma, a escola localiza-se no campo, mas não trabalha com
questões voltadas para o campo. Nesse sentido, mesmo os saberes locais como o da
agricultura não são aproveitados na escola, como podemos apreender a partir da
situação da horta que está inativa.
No que se refere à Proposta Pedagógica da Escola Estadual de Ensino Médio
Professor Rodolfo Bersch da disciplina de História para o 3º ano do ensino médio, essa
busca desenvolver competências e habilidades para que o aluno tome consciência do
lugar que ocupa na sociedade e reflita criticamente sobre as múltiplas relações entre
passado e presente. Portanto, conforme a Proposta, o ensino de História visa
desenvolver:
Habilidades e competências:
• Comparar problemáticas atuais com outros momentos históricos.
• Identificar as transformações e permanências históricas produzidas
pelos movimentos sociais, considerando as especificidades dos contextos em que
ocorreram.
• Interpretar textos e documentos sobre as condições sociais do trabalho no
passado e no presente. Refletir sobre as tensões sociais e políticas nos processos
de constituição dos Estados e nações.
Conteúdos:
• O impacto social da industrialização nas sociedades contemporâneas, ciência e
saber nas sociedades industriais.
• Os sistemas de organização do trabalho.
• O movimento operário e o mundo do trabalho na Europa e na América.
• Crise do capitalismo e globalização.
53
Por outro lado, em seu depoimento oral, a professora titular da disciplina
História da Escola Rodolfo Bersch, traz uma apresentação do que tem sido realizado,
dentro das possibilidades da Escola.
[...] foi realizado com os alunos um trabalho sobre a língua pomerana, uma
vez que os alunos falam a língua e se identificam com ela. O trabalho foi
desenvolvido pelos alunos e professores que, através do diálogo com a
comunidade escolar, encontraram a senhora Ana Frömming Pilatti com 103
anos vida e com o auxílio da Historia Oral ela apresentou na entrevista em
língua pomerana com os relatos da sua história de vida. Essa entrevista
resultou na elaboração de um livro que também foi lançado na feira do Livro
da Escola em 2013, o titulo do livro é “Resgatando nossas raízes através de
recortes de uma história de vida” onde são apresentadas as transcrições da
entrevista realizada pelos alunos, essa transcrição foram feitas foneticamente,
ou seja, de acordo com os sons das palavras. A entrevista apresentou fatos
dos usos e costumes da tradição pomerana, além de trazer fragmentos de
versos e cantigas em pomerano dos quais a Dona Ana se lembrava
parcialmente de alguns trechos. Foi um trabalho muito gratificante que se
tornou possível graças ao entusiasmo e a participação de várias pessoas
envolvidas. Com este trabalho observamos que infelizmente a geração dos
alunos estava perdendo essa importante herança cultural que foi possível
registrar nesse livro que buscou apresentar os recortes dos relatos da história
de vida dos pomeranos, em São Lourenço do Sul, no início do século
passado.
[...]
Os livros didáticos não contemplam a História da comunidade Local por isso
a necessidade de produção de material didático apropriado para realidade
como foi o caso dos livros que fizemos porque é importante trabalhar com os
alunos a valorização da sua História para conhecerem de onde vem e poder
modificar a realidade, acredito que é importante estudos voltados para a sua
comunidade para poderem auxiliar a atividade da família que na grande
maioria é voltada a atividade da agricultura. Na Escola é trabalhando a
questão da valorização e o conhecimento da cultura pomerana para poder
mostrar para os visitantes. Nos primeiros anos é abordada questão da língua
pomerana buscando a continuidade da língua para as futuras gerações. Nas
séries inicias as professoras fazem o resgate da história de vida dos alunos
que geralmente é feito expondo fatos e fontes históricas da cultura pomerana.
Penso que é importante incluir estudos da língua alemã e pomerana na sala
de aula. Gostaríamos de ter a Universidade cada vez mais próxima da
realidade da escola.
De acordo com o relato da professora, no momento, não há projetos sendo
executados que contemplem a história local. Em 2012, desenvolveu-se uma proposta de
estudo da história local e da língua pomerana. É possível afirmar que a docente
considera relevante a inclusão do estudo da língua alemã e pomerana na escola,
sobretudo a partir da experiência já desenvolvida anteriormente. Para a docente, a
iniciativa incidiu sobre o processo de perda dessa herança cultural pomerana. Também
podemos observar que o trabalho da docente Regina é na perspectiva de professora-
pesquisadora. As atividades já desenvolvidas por ela na escola demonstram seu
interesse em articular a história oral de figuras significativas da comunidade local com
os conteúdos desenvolvidos com os alunos.
54
Nessa seção, foram elencados os diálogos possíveis entre os documentos da
escola e as narrativas docentes no sentido de apresentarmos o contexto escolar assim
como sua localização geográfica em São Lourenço do Sul. Dessa forma, no sentido de
apresentarmos outros elementos para a reflexão em torno do cotidiano da escola,
traremos, a seguir, a apresentação analítica do livro didático utilizado pelas turmas do
Ensino Médio da E. E. E. F. M. Prof. Rodolfo Bersch, na disciplina de História.
3.2 Apresentação do Livro Didático utilizado pela Escola
O Livro Didático utilizado na Escola Estadual Professor Rodolfo Bersch no
Ensino Médio, na disciplina de história, é a Coleção História Geral e do Brasil, de
autoria de Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo. PNLD 2015, 2016, 2017. A Coleção
apresenta a história cronológica linear, integrando a História do Brasil e a História
Geral, abordando aspectos da economia, política e sociedade.
Sumário da coleção:
1º ANO: 264 páginas – 3 Unidades – 9 Capítulos: Unidade 1 - OS PRIMEIROS
AGRUPAMENTOS HUMANOS: Em busca dos nossos ancestrais; A ocupação do
continente em que vivemos. Unidade 2 - CIVILIZAÇÕES ANTIGAS: a vida em
cidades; A Grécia Antiga; A Civilização Romana. Unidade 3 - A EUROPA,
PERIFERIA DO MUNDO: O Império Bizantino, o Islã e o panorama mundial; O
surgimento da Europa; Economia, sociedade e cultura medieval; O mundo às vésperas
do século XVI.
2º ANO: 288 páginas – 2 Unidades – 19 Capítulos: Unidade 1 - EUROPA, O
CENTRO DO MUNDO: A expansão europeia; A colônia portuguesa; A diáspora
africana; Arte e tecnologia; Cristianismo e transformação; O caminho das monarquias
europeias; América portuguesa: expansão e diversidade econômica; A América
espanhola e a América inglesa; Apogeu e desagregação do sistema colonial; O
iluminismo e a independência das colônias inglesas da América do Norte. Unidade 2 -
PARA ENTENDER NOSSO TEMPO: O século XIX: uma era de revoluções;
―Colando cacos‖ do poder monárquico; Brasil: surge um país; As independências na
América espanhola; Novos projetos políticos: liberalismo, socialismo e nacionalismo;
55
Europa e Estados Unidos no século XIX; A construção do Estado brasileiro; África e
Ásia no século XIX; O Segundo Reinado no Brasil.
3º ANO: 288 páginas – 2 Unidades – 13 Capítulos: Unidade 1 - PARA ENTENDER
NOSSO TEMPO: O século XX: o Brasil, uma República (1889-1914); Um mundo em
guerra (1914-1918); A Revolução Russa; Uma jovem república velha (1914-1930); A
crise de 1929 e o nazifascismo; Vargas de 1930 a 1945; A Segunda Guerra Mundial.
Unidade 2 - DO PÓS-GUERRA AO SÉCULO XXI: o período liberal democrático
(1945-1964); O Pós-Guerra; Descolonização e lutas sociais no ―terceiro mundo‖; O
Regime Militar; O fim da Guerra Fria e a nova ordem mundial; O Brasil no século XXI.
A proposta pedagógica da coleção do Livro Didático História Geral e do Brasil
utiliza diversos recursos para desenvolver as habilidades cognitivas e o pensamento
histórico. Os recursos textuais e visuais auxiliam o desenvolvimento das competências e
habilidades. Na análise dos três volumes da coleção, percebemos que a história e cultura
africana e indígena estão presentes a partir dos aspectos festivos e culturais destes
povos. No que se refere à diversidade e pluralidade étnica, cultural e social brasileira,
não está contemplada, apenas aparecem nas imagens de maneira desencontrada nos
volumes e referenciadas ao passado. Os dados produzidos com os livros didáticos
também nos permitem afirmar a ausência inclusive das discussões mais amplas sobre
comunidades tradicionais que poderiam contribuir para as reflexões já desenvolvidas em
torno da população pomerana. Esse cenário corrobora a fala da docente Regina assim
como ratifica a relevância do movimento de pesquisa e produção de outros materiais
didáticos na Escola.
Tendo em vista essas problemáticas, apresentaremos a seguir os caminhos
possíveis percorridos com essa investigação a partir da narrativa do processo de
pesquisa em si. A seguir, traremos sistematizados os perfis dos estudantes, assim como
suas percepções sobre o ensino de história e cultura pomerana na escola.
56
3.3 A experiência de pesquisa e os resultados das entrevistas realizadas
O primeiro passo da investigação consistiu no contato informal com a docente
Regina, com quem mantinha laços de amizade anteriores à pesquisa. Marcamos um
horário para que eu fosse à escola conversar diretamente com os estudantes do curso
noturno, do 3º ano do ensino médio. Neste primeiro contato com os jovens, me
apresentei como estudante do mestrado, expliquei como seria a pesquisa, realizei uma
oficina sobre história oral e as justificativas para a investigação. Combinamos que
haveria uma sessão de história oral com a turma e outro encontro subseqüente em que
eles trariam os registros das entrevistas que fariam com seus familiares. Naquele
momento, a proposta foi aceita e o único questionamento dos sujeitos foi relativo à
gravação em vídeo, o que assegurei que não haveria, apenas o registro das falas em
áudio.
Conforme combinado, na semana seguinte retornei à escola para as entrevistas.
Com a professora, decidimos que a pesquisa seria desenvolvida no período de aula da
docente, que liberava os alunos individualmente. Cada entrevista durou em média cinco
minutos e foi organizada a partir de um roteiro semi-aberto de questões que envolviam
as percepções dos discentes sobre as expressões da cultura pomerana em seus cotidianos
escolares e em suas famílias. Os discentes, em geral, ativeram-se ao roteiro e foram
diretos em suas respostas. Ao final de cada entrevista, entreguei ao estudante o roteiro
para que ele aplicasse com outra pessoa que fosse familiar/vizinha e preferencialmente
idosa. Para isso, o estudante era instruído a realizar uma sessão de história oral, registrar
o áudio com celular e transcrever a fala do entrevistado.
Duas semanas depois, retornei à escola e apenas uma discente havia trazido o
roteiro com as perguntas respondidas, transcrita diretamente na folha que havia
recebido. O restante da turma comprometeu-se em encaminhar o material respondido e,
por isso, solicitei seus contatos telefônicos e das redes sociais. Após este encontro,
várias tentativas de contato foram feitas, entretanto ocorreram impedimentos por parte
dos discentes e não houve retorno da atividade proposta.
Após as atividades feitas com os alunos, marquei encontro com a diretora e a
professora titular da disciplina de história. Neste encontro busquei conhecer e interrogar,
a partir da aplicação de um roteiro semi-aberto, suas percepções sobre o cotidiano de
uma escola rural e como esse se reflete na gestão educativa e na prática docente. As
57
sessões duraram, respectivamente, 15 e 25 minutos, ocorreram na casa das entrevistadas
e foram posteriormente transcritas.
Gráfico 1- Idade dos alunos entrevistados
Conforme podemos verificar no gráfico acima, a maior parte dos discentes
envolvidos com a pesquisa é jovem. De acordo com o Estatuto da Juventude, Lei Nº
12.852, de 5 de agosto de 2013, ―são consideradas jovens as pessoas com idade entre 15
(quinze) e 29 (vinte e nove) anos de idade‖. É interessante ressaltarmos que ainda que
sejam comuns os discursos que atribuem à juventude a imagem de irresponsabilidade,
imaturidade e transição, esse não é o cenário apreendido durante a pesquisa relatada
aqui. Minha percepção é a de que os jovens que permanecem no campo, poucos são os
que fazem o Exame Nacional do Ensino Médio/ENEM e dão continuidade aos estudos.
A maioria termina o ensino médio e continua trabalhando na lavoura, juntamente com
as suas famílias. É comum que a partir deste local constituam o seu núcleo familiar e
permaneçam desempenhando a atividade agrícola.
5%
32%
26%
16%
5% 11% 5%
Idade dos alunos entrevistados
16 ANOS
17 ANOS
18 ANOS
19 ANOS
21 ANOS
22 ANOS
36 ANOS
58
Gráfico 2- Quantos alunos conhecem a cultura pomerana
De acordo com o gráfico acima, constatamos que todos os alunos apresentaram
em suas narrativas referencias sobre a história e cultura pomeranas. Além disso, os
jovens trazem em suas narrações a percepção da diferença entre pomeranos e alemães.
Gráfico 3- Apresenta com quem obtiveram a informação sobre a cultura pomerana.
Podemos observar que a maioria dos discentes aprende sobre história e cultura
pomerana no âmbito familiar e com seus parentes mais diretos, ou seja, pai, mãe, avô e
avó. Nesse sentido, a continuidade desses costumes está atrelada a vivência da cultura
dentro das residências pomeranas.
100%
Conhecem a história e cultura pomerana
SIM
NÃO
27%
27%
2%
7%
34%
3%
Com quem conheceu a história e cultura pomerana
PAI
MÃE
IRMÃO/IRMÃ
PROFESSOR(A)
AVÓS
BISAVÓS
59
Gráfico 4- Apresenta o que os jovens pensam sobre a manutenção da cultura pomerana.
Este dado causou bastante estranhamento. Á princípio, acreditamos que os
jovens não teriam interesse em aprender na escola sobre a história e cultura pomerana.
Entretanto, a totalidade dos sujeitos ressaltou que gostaria de aprender mais sobre estas
questões no espaço escolar.
Gráfico 5- Semelhança entre cultura pomerana e brasileira
100%
0% 0% 0%
Acham importante aprender sobre a história, cultura e língua
pomerana na escola
SIM
NÃO
NÃO OPINOU
21%
79%
A cultura pomerana é igual ou parecida com a acultura brasileira
Sim
Não
60
As narrativas dos discentes, em sua maioria, afirmam diferenças entre a cultura
pomerana e a brasileira. Dentre as semelhanças apontadas, destacam-se aquelas que
sublinham as festividades, a alegria, o trabalho e o futebol. Por outro lado, quando é
afirmada a diferença, muitos dos discentes não precisam em que ela consiste.
Entretanto, são ressaltados os costumes, as danças, a língua, a comida e a origem
europeia da cultura pomerana.
A partir desse córpus, as narrativas foram selecionadas e organizadas em três
unidades analíticas: importância do ensino de história e cultura pomerana, história
difícil e língua. Esses eixos analíticos foram os mais predominantes nas falas dos
sujeitos da pesquisa, e sobre eles nos debruçaremos a seguir.
3.4 Anseios dos jovens estudantes e da comunidade escolar e pomerana
Tabela 1 – Apresenta algumas das respostas e os anseios dos jovens alunos e das
pessoas da comunidade expressaram nas entrevistas
UNIDADE
ANALÍTICA NARRATIVA
DEPOENTE
HIS
TÓ
RIA
E C
UL
TU
RA
PO
ME
RA
NA
IMP
OR
TÂ
NC
IA D
O E
NS
INO
DE
HIS
TÓ
RIA
PO
ME
RA
NA
"Acho muito importante apreender mais de onde vieram, todos
tem que saber de onde vem."
D. 9
"É importante aprender sobre a história nas escolas, para
valorizar as coisas que foram feitas pelos nossos antepassados."
D. 20
"Seria legal saber um pouco mais na escola sobre a história dos
pomeranos."
D. 7
―Seria bom se a gente conhecesse mais sobre nossas origens." D. 13
―Acho que é importante valorizar a cultura pomerana porque é
a gente."
D. 6
"A nossa cultura deveria ser mais valorizada pois diz respeito à
nossa história."
D. 20
―Seria interessante aprender mais na escola, pois em casa
muitas vezes não nos é contado tudo.‖
D. 10
"É super importante os jovens saber de onde vieram, a cultura
tem que continuar, é muito bonito."
D. 5
HIS
TÓ
RIA
DIF
ÍCIL
"A vó conta muito sobre a história dos pomeranos; de como
eles vieram e como foi difícil o início aqui (Brasil)‖
D. 6
"A minha vó sempre conta que eles não podiam falar
pomerano, e que escondiam os cavalos no mato (durante o
governo Vargas)."
D. 6
61
"Ouvi que quando chegaram não tinham médicos e muitas
crianças morriam, era muito triste."
D. 12
"Meus avós contam que foi proibido falar pomerano e que foi
uma época bem difícil aquela (durante a Campanha de
Nacionalização) porque tinham soldados."
D. 7
LÍN
GU
A
"Gostaria que aqui na escola também tivesse o ensino da língua
pomerana, 'pra' gente aprender a escrever."
D. 12
"Seria bem bom que aqui no interior se aprendesse a escrever
em língua pomerana na escola. Porque é bem importante, pois
aqui tem muitos que só sabem falar o pomerano e para que não
termine no futuro."
D. 7
"Eu gosto da cultura, de falar pomerano em casa, é tradição." D. 19
"Com a vó. A vó fala alemão e o meu pai fala também e a mãe
fala pomerano. Lá em casa, a gente não fala em português só
em pomerano. Nós não aprendemos a falar o alemão, só o
pomerano, mas entendemos tudo em alemão, só não falamos."
D. 18
―Sim, sim porque faz parte da cultura e quem não fala como eu
não falo e não entende nada faz falta até para que a gente possa
se comunicar depois e como eu vou ser professora depois.‖
D. 10
―Sim, porque muitos idosos ainda não dominam o português e
os jovens praticamente só se comunicam dessa forma. Então o
entendimento entre idosos e adolescentes, muitas vezes, é
complicado. É importante também para que possamos
compreender o presente e valorizar as coisas feitas pelos
nossos antepassados.‖
D. 9
―Com os pais deles. Quando a gente começo a falar primeiro
nós falamos o pomerano, o português a gente aprendeu depois,
na escola.‖
D. 7
Acho que seria bem bom porque aqui no interior a maioria fala,
acho que seria importante.‖
D. 7
Acho que aqui na colônia é muito importante porque tempo a
tempo ―ta‖ cada vez menos. Vai chegar um ponto que vai
desaparecer
D. 20
De acordo com as narrativas, organizadas sob a unidade analítica ―Importância
do ensino de história pomerana‖ podemos perceber que um dos anseios que o grupo
apresenta se refere ao aprendizado sobre a história e cultura dos pomeranos na escola.
Conforme os relatos, constatamos que os depoentes sublinham a relevância de a escola
incluir no currículo oficial a história local.
62
Com relação à unidade analítica ―história difícil‖, evidenciamos a recorrência
dos discursos em torno de uma história de sofrimento coletivo entre os pomeranos.
Nesse sentido, as falas estão marcadas, principalmente, pelo começo difícil, em
referência à chegada dos primeiros imigrantes. Também percebemos nos relatos a
questão histórica das conseqüências que afetaram a comunidade durante a campanha de
nacionalização, durante o Governo Vargas.
Por fim, a categoria ―Língua‖ reúne falas que afirmam o desejo de a língua ser
ensinada na escola, tal como ocorre com outras línguas estrangeiras, como o inglês, por
exemplo. Além disso, relatam que muitos falam o pomerano em suas casas, em âmbito
familiar. Ressaltamos que, inclusive, os discentes comunicam-se em pomerano em sala
de aula. Também foi apresentado o anseio em aprender a escrita do idioma pomerano.
Esse capítulo tencionou apresentar de forma mais abrangente os aspectos do
contexto da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Prof. Rodolfo Bersch
assim como os caminhos realizados durante o processo de investigação e seus
resultados. Neste sentido, foi elencada tanto a história quanto a localização geográfica
da Instituição. Ao mesmo tempo, pareceu-nos relevante aproximar as falas da docente
titular da disciplina de História e da diretora aos documentos da escola para tensioná-los
mutuamente. Por outro lado, os livros didáticos utilizados também trouxeram elementos
significativos para a reflexão e apreciação das atividades narradas pelas docentes
durante as entrevistas. A esse panorama, somamos a tabulação das narrativas dos
estudantes sujeitos da pesquisa, posteriormente reunidas em unidades analíticas.
63
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa procurou trabalhar com o Ensino de História local,
analisando, sobretudo, como os jovens de uma escola no campo significam sua cultura
pomerana e quais os desdobramentos dessa apropriação no processo de ensino
aprendizagem. A pesquisa avançou de forma desafiadora no que se refere à questão
prática e levantou várias questões ligadas diretamente ao modo de vida dos habitantes
de São Lourenço do Sul.
De acordo com as várias pessoas ouvidas nas entrevistas de História oral no
decorrer desta investigação, percebemos que a preocupação com a permanência e
valorização da cultura local é unânime. Principalmente, encontramos nas narrativas o
anseio pela continuidade da língua pomerana. As falas dos depoentes demonstram essa
vontade, pois os valores que lhe são próprios os identificam dentro do contexto em que
estão inseridos. Muitos foram os depoimentos que sugeriram a necessidade do ensino da
escrita da língua no contexto escolar para que seja possibilitada a sua permanência. Por
outro lado, a pesquisa apresentou o contexto em que os alunos estão inseridos, assim
como os seus interesses para fornecer aos educadores instrumentos que possam auxiliar
na interpretação do modo de vida de seus educandos.
Da mesma forma, a perspectiva da Consciência Histórica nos permitiu a
compreensão sobre as necessidades e preocupações dos alunos. Ficou nítido o interesse
por parte dos educandos em aprender na escola conhecimentos significativos para eles,
e que colaborem em sua inserção enquanto agentes em seus cotidianos. Acreditamos
que o trabalho contribuiu para apresentar o que pensam e querem as novas gerações no
que se refere à identidade étnica pomerana.
Neste momento de conclusão, muitas são as inquietações que me afligem e
preocupam. Enquanto professora, pomerana e lourenciana reconheço que o modo que
caminha a agricultura familiar na qual os alunos estão inseridos é prejudicial, ainda que
orientada por uma noção de progresso material. A economia dos produtores rurais está
em progresso em São Lourenço do Sul e é visível a melhoria que os ―colonos‖
alcançaram atualmente em suas propriedades. Isso se deve à produção do tabaco. A
grande maioria planta fumo, mas, junto com esse cultivo, vem o uso excessivo de
agrotóxicos também utilizados no plantio da batata, do feijão e da soja transgênica.
64
Além disso, é muito comum a derrubada das matas nativas. Atualmente, o que
restou da mata Atlântica nessa região tem sido substituído pelo eucalipto e acácia, cuja
madeira é queimada para secagem da folha de fumo. A questão não está em procurar
culpados, mas sim em encontrar soluções por parte das políticas publicas que
incentivam as produções. Acredito que poderia haver a substituição do plantio do fumo
por outro que pudesse servir de alimento, por exemplo. Deste modo, seria beneficiada
tanto a saúde dos colonos, quanto o meio ambiente e, ao mesmo tempo, os produtores
não teriam prejuízo em seus ganhos econômicos.
A escola não se encontra à parte desta conjuntura social. Necessitamos refletir se
as escolas estão preparadas para os grandes desafios de compreender o passado para
resignificar o presente e preparar um futuro melhor. Infelizmente, para o governo a
educação não está no nível de prioridade que ela deveria ter.
Percebemos, com a pesquisa, a fragilidade que a Escola apresenta em trabalhar,
no componente curricular, os aspectos da história local. É importante que a escola
forneça meios para que seus professores utilizem metodologias que abordam a história
local no dia a dia da sala de aula. A falta de projetos voltados à realidade dos alunos,
tanto dos anos finais como do ensino médio, prejudica e limita o conhecimento dos
estudantes sobre a sua própria história e o seu modo de vida. Diversas são as
justificativas utilizadas sobre as dificuldades de trabalhar continuamente projetos que
atendam a demanda da comunidade. Uma das questões apresentadas para justificar a
carência dessa abordagem da história local é a falta de tempo na carga horária dos
professores.
Na conclusão deste trabalho sabemos que ainda existem muitas questões sobre a
cultura e história local ligadas ao processo de ensino que necessitam ser trabalhadas e
pesquisadas. Mas dentro do que foi possível realizar nesta pesquisa acreditamos
contribuir para reflexão do que a comunidade espera da educação. Além da experiência
prática da didática da história, foi possível apreendermos a história oral como produto
da Consciência Histórica através das narrativas.
65
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74
ANEXOS
ANEXO 1: TABELA COM AS PUBLICAÇÕES SOBRE POMERANOS EM
ÂMBITO NACIONAL
Ano Autor Obra
1957
Vivaldo Coaracy A Colônia de São Lourenço do Sul e seu Fundador
Jacob Rheingantz. São Paulo. Ed. Saraiva.
1969 Jean Roche A colonização alemã e o Rio Grande do Sul.
Porto Alegre: Ed. Globo.
1992
Jorge Kuster
Jacob A Imigração e aspectos da cultura pomerana no
Espírito Santo. v.3. Vitória.
1995
Giancarla
Salamoni Valores culturais da família de origem pomerana no
Rio Grande do Sul – Pelotas e São Lourenço do Sul.
UFPEL Ed. Universitária.
1995
Maria do Socorro
Pessoa Ontem e hoje: Percurso Linguísticos dos pomeranos
de Espigão D’oeste - RO. Dissertação de Mestrado-
UNICAMP.
1996
Helmar Reinhard
Rölke Descobrindo raízes; aspectos geográficos e históricos
da Pomerânia.Vitória: UFES.
1998
Gerlinde
Merklein Weber A escolarização entre descendentes de pomeranos em
Domingos Martins/ES. Dissertação de Mestrado –
UFES.
2000
Joana D‟Arc
Valle Bahia O tiro da bruxa: identidade, magia e religião entre
camponeses pomeranos do Estado do Espírito Santo. [Tese de Doutorado]. Rio de Janeiro: UFRJ/Museu
Nacional.
2000
Nilo Bidone
Kolling
Educação e Escolas em contextos de imigração
pomerana no Sul do Rio Grande do Sul. Dissertação
de Mestrado FaE/UFPEL, Pelotas.
2002
Ismael
Tressmann Da sala de estar a sala de baile: estudo etnolinguistico
das comunidades camponesas do estado do Espírito
Santo. Rio de Janeiro: Tese de Doutorado em
Linguística - UFRJ.
2004
Leonardo
Romlow Conflitos no processo de ensino-aprendizagem escolar
de crianças de origem pomerana: diagnósticos e
perspectivas. Dissertação de Mestrado – UFES.
2007
Patrícia
Weiduschadt O Sínodo de Missouri e a educação pomerana em
Pelotas e
São Lourenço do Sul nas primeiras décadas do século
XX l-identidade e cultura escolar. FAE/UFPEL,
Dissertação de Mestrado.
75
2008
Jairo Scholl
Costa ; Breno
Dietrich e José
Sydney Nunes
Almeida
150 anos de Imigração Alemã-Pomerana em São
Lourenço do Sul, 1858-2008. São Lourenço do Sul:
Comunicar Brasil.
2008
Martin Dreher Há entre os pomeranos uma ética de trabalho muito
acentuada. Revista do Instituto Humanista Unisinos.
IHU On-Line – Unisinos.
2008
Losane Hartwig
Schwartz
Organização espacial e reprodução social da
agricultura familiar: um estudo de caso na localidade
de Harmonia I, São Lourenço do Sul, RS. Dissertação-
Mestrado em Ciências Sociais – UFPEL.
2008
Ludimilla Rupf
Benincá
Dificuldades no domínio de fonemas do português
por crianças bilíngües de português e pomerano.
Dissertação de Mestrado - UFES
2008
Eduardo Iepsen Jacob Rheingantz e a colônia São Lourenço: da
desconstrução de um mito à reconstrução de uma
história. Dissertação (Mestrado em História)
UNISINOS.
2008
Michelle Fonseca
Nasr
Banda de metais pommerchor: uma reflexão
etnomusicológica sobre a música pomerana de
Melgaço - Domingos Martins, ES. Dissertação de
Mestrado - UFMG.
2009
Maria Leticia
Mazzucchi
Ferreira
e Roberto Heiden
Políticas patrimoniais e reinvenção do passado: os
pomeranos de São Lourenço do Sul, Brasil.
Cuadernos de Antropología Social. FFyL – UBA.
2009 Guilherme
Peglow Klumb A Cultura Dos Imigrantes Pomeranos Como Atrativo
Do Turismo Rural Em São Lourenço Do Sul/RS.
2009
Klauz Granzow Pomeranos sob o Cruzeiro do Sul: colonos alemães no
Brasil. Vitória (ES): Arquivo Público do estado do
Espírito santo. Tradução: Selma Braum Título original:
Pommeranos Unter Dem Kreuz Des Südens -
Deutsche Siedler in Brasilien. (obra publicada na
Alemanha por Horst Erdmann Verlag/Tübingen und
Basel, 1975).
76
2009
Losane Hartwig
Schwartz e
Giancarla
Salamoni
Organização E Reprodução Social Da Agricultura
Familiar Entre Descendentes De Imigrantes
Pomeranos No Município De São Lourenço Do Sul,
RS.
2009
Carmo Thum Educação, História e Memória: silêncios e
reinvenções pomeranas na Serra dos Tapes – Tese de
Doutorado UNISINOS, São Leopoldo.
2010
Gladson Pereira
da Cunha
Pomerano e Luterano: com muita Honra! Identidade
Religiosa e étnica em Santa Maria de Jetibá no estado
do Espírito Santo: Um estudo de caso. Dissertação de
Mestrado. Universidade Presbiteriana Mackenzie São
Paulo.
2010
Beate Höhmann Sprachplanung und Spracherhalt innerhalb einer
pommerischen Sprachgemeinschaft: Eine
soziolinguistische Studie in Espírito Santo/Brasilien
(Duisburger Arbeiten zur Sprach- und
Kulturwissenschaft). Universität Duisburg – Essen.
2010
Daniele Behling
Luckow
Arquitetura urbana e inventário: São Lourenço do
Sul. RS. Dissertação de Mestrado em Arquitetura e
Urbanismo – UFPEL.
2011
Adriana Vieira
Hartuwig Guedes
Professores(As) Pomeranos(As): Um Estudo De Caso
Sobre O Programa De Educação Escolar Pomerana
Proepo Desenvolvido Em Santa Maria De Jetibá/ES.
Dissertação De Mestrado - UFES
2011
Andressa Ramos
Teixeira
A Contribuição Das Associações Caminho Dos
Pomeranos E Porto Alegre Rural Para O
Desenvolvimento Da Atividade Turística No Espaço
Rural. Dissertação De Mestrado Em Desenvolvimento
Rural/Ciências Econômicas – UFRGS.
2011
Paula Cristiane
Bueno Kuhn
A Percepção De Vogais Do Inglês Por Falantes
Monolíngues (Português) E Bilíngues
(Pomerano/Português) E O Papel Do Bilinguismo No
Processamento Grafo-Fônico-Fonológico Da L3.
Dissertação De Mestrado Acadêmico Em Letras.
UCPEL.
2011
Patrícia
Bosenbecker
Uma colônia cercada de estâncias: imigrantes em São
Lourenço/RS (1857-1877). Dissertação de Mestrado em
História – Programa de Pós-Graduação em História -
UFRGS.
2011
Gabriela Barcelos
Delpino da Rocha
Simbologia do uso de plantas medicinais por
agricultores familiares descendentes de pomeranos no
Sul do Brasil. Dissertação (Mestrado) Programa de Pós
Graduação em Enfermagem. UFPEL - Pelotas.
77
2011
Gabriele Schek
Plantas Medicinais E O Cuidado Em Saúde Em
Famílias Descendentes De Pomeranos No Sul Do
Brasil Dissertação De Mestrado Em Enfermagem –
UFPEL.
2011
Jamily Fehlberg Trabalho, Igreja E Boteco: Identidades Em
Transformação Entre Descendentes De Pomeranos
Do Interior Do Espírito Santo. Tese De Doutorado em
Psicologia – UFES.
2011 Leopoldo Wille Pomeranos no Sul do Rio Grande do Sul: trajetória,
mitos, cultura. Ed. ULBRA. Canoas.
2012
Patricia
Weiduschadt
A revista “O Pequeno Luterano” e a formação
educativa religiosa luterana no contexto pomerano
em Pelotas - RS (1931-1966). UNISINOS- Tese de
Doutorado.
2012
Elry Cristine
Nickel Valerio O Idoso Pomerano Hipertenso E A Estratégia Saúde
Da Família: A Experiência De Uma Comunidade Rural
Dissertação de Mestrado Em Políticas Públicas E
Desenvolvimento- EMESCAM.
2012
Vanessa Patzlaff
Bosenbecker
Influência cultural pomerana: permanências e
adaptações na arquitetura produzida pelos
fundadores da Comunidade Palmeira, Cerrito
Alegre, terceiro distrito de Pelotas (RS). Dissertação
(Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural) -
UFPEL.
2012
Luiz Fernando
Guimaraes
Rohnelt
Os Teuto-Gaúchos No Bairro Três Vendas - Pelotas-
Rs: Uma Abordagem Sobre Cultura, Espaço E
Lugar. Dissertação de Mestrado em Geografia – FURG.
2012
Silvana De Matos
Bandeira
A Dinâmica Do Capitalismo Na Produção Do Espaço
Urbano: Os Impactos Da Atividade Fumageira Para
O Setor Comercial No Município De Canguçu (Rs
Brasil) Dissertação de Mestrado em Geografia –FURG
2012
Shirlei Conceição
Barth Schaeffer Descrição fonética e fonológica do pomerano falado
no Espírito Santo. Dissertação de Mestrado – UFES.
2013
Mariana Carneiro
Capucho e
Adriano Jardim
Pereira
Os Pomeranos e a Violência. Revista Interinstitucional
de Psicologia.
2014
Marciane Cosmo
Rhein
Ser pomerana: histórias que desvendam a memória a
experiência e os sentidos de ser professora.
Dissertação de Mestrado – UFES.
2014
Martin N. Dreher
190 Anos de imigração alemã no Rio Grande do Sul:
esquecimentos e lembranças. 2ª ed. São Leopoldo:
Oikos.
78
2014
Jandira Marquadt
Dettmann Práticas e Saberes da Professora Pomerana: um
estudo sobre interculturalidade. Dissertação de
Mestrado em Educação - UFES.
2014
Carla Rejane
Barz Redmer
Schneid
Educação Patrimonial: Projetos de ensino por meio
de bens patrimoniais do município de são Lourenço
do Sul(RS). Dissertação de Mestrado - FURG.
2014
Edilberto L.
Hammes
A imigração para São Lourenço do Sul: formação de
sua colônia aos primeiros anos do Sesquicentenário.
São Leopoldo: Sttudio Zeus.
2014
Elizana Schaffel
Bremenkanp
Análise sociolingüística da manutenção da língua
pomerana em Santa Maria do Jetibá Espírito Santo.
Dissertação de Mestrado da UFES.
2015
Adriele Schmidt A Comida Na Cultura Pomerana: Simbolismo,
Identidade E Sociabilidade. Dissertação de Mestrado
UFV, Minas Gerais.
2015
Sintia Bausen
Kuster
Cultura E Língua Pomeranas: Um Estudo De Caso
Em Uma Escola Do Ensino Fundamental No
Município De Santa Maria De Jetibá –Espírito Santo
– Brasil. Dissertação de Mestrado – UFES.
79
ANEXO 2: TABELA COM AS PUBLICAÇÕES SOBRE POMERANOS EM
ÂMBITO INTERNACIONAL
País Estado Referência Bibliográfica
Estados
Unidos
Wisconsin Freeman, Samuel. The Emigrant's Hand Book and Guide to
Wisconsin: Comprising Information Respecting
Agricultural and Manufacturing Employment, Wages,
Climate, Population &C.; Sketch of Milwaukee, the Queen
City of the Lakes, Its Rise and Progress, Business and
Population, List of Public Officers, with a Full and
Accurate Table of Statistical Information of That and Other
Ports on Lake Michigan : Also Table of Routes from New-
York, Boston, &C., to Milwaukee, Racine and Kenosha;
List of Steamboats &C., and Other General Information to
Emigrants. La Crosse, Wis: Brookhaven Press, 1998
Gruenwald, Myron E. Baltic Teutons: Pioneers of
America's Frontier. Hubertus, Wisconsin: Gayle Gruenwald
O'Connell, 1998. Life of the Pomeranian pioneers in
America.
Guenwald, Myron E. Pomeranians: The Persistent Pioneers
/ Pommern: die beharrlichen Pioniere. Hubertus,
Wisconsin: Gayle Gruenwald O'Connell, 1987. A detailed
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Pomeranian Immigration to Wisconsin. Compiled by Doug
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Illinois Remus, William. "Pomeranians Impact Life in Danville,
Illinois," Die Pommerschen Leute (Fall 2002)
Michigan Stockman, Robert Lee. North Germany to North America:
19th Century Migration. Alto, Michigan (USA): Platt
Dütsch Press (10748 100th Street, Alto, MI 49302; tel. 616
891-8932)
Zuehlsdorff, Donald C. "Pomeranians Who Settled in
Michigan!!" Die Pommerschen Leute. 27, 3 (Fall 2004) 47-
50.
Australia - Clark, C.M.H. A History of Australia. Volume III.
Melbourne University Press, 1973.
Rose, A.J. The Geographical Pattern of European
Immigration in Australia. Geographical Review, October
1958.
Schliefert, John. "Pomeranians in Australia: Living Their
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Brasil - Fausel, E. July 25th: The Day of the German Brazilian.
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Heuser, Carlos A. "From Brazil: Searching for My
Pomeranian Roots." Die Pommerschen Leute. 28, 3 (Fall
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Schroeder, Marcos. "Pomeranians Settle in Brazil in the
1800's," Die Pommerschen Leute (Spring 2000).
80
Jordan, Terry G. Aspects of German Colonization in
Southern Brazil. University of Illinois Press, 1990.
África
do Sul
- Pienaar, Stephanie. "The Pomeranians Who Emigrated to
South Africa: How They Kept Traditions Alive," Die
Pommerschen Leute (Fall 2001).
ANEXO 3: ENTREVISTA COM A DIRETORA DA ESCOLA
—―Meu nome é Carla Rosane Krüger Porepp, sou graduada em Educação Física pela
Universidade Federal de Pelotas/UFPEL e tenho Pós-Graduação em Tecnologia da
Informação pela Universidade Federal do Rio Grande/FURG. São formações distintas,
mas temos que nos atualizar... anos atrás tínhamos muito medo de lidar com o
computador e agora já domamos mais as tecnologias.
Me formei na Graduação em 1982, já estou aposentada em uma matrícula e agora estou
na direção por mais dois anos, vou ficar esse tempo para incorporar e me aposentar com
mais 20 horas...já tenho tempo e tudo para pedir a aposentadoria.
Praticamente toda a minha vida trabalhei na Escola Estadual Rodolfo Bersch, trabalhei
um ano na Escola Walter Thofehrn e Vicente Dittola ambas escolas estaduais. Também
trabalhei concomitantemente em contratos temporários em escolas municipais, mas por
pouco tempo e trabalhei seis anos no colégio das Irmãs – Escola Notre Dame.
Não resido próximo da Escola Rodolfo Bersch, moro na cidade, mas quando comecei a
carreira morava perto da escola eu sou do interior, sou da Boa Vista, estudei na Escola,
fui aluna da Rodolfo Bersch, conheço a realidade dos alunos, conheço os pais.
Na Escola não trabalhamos a cultura dos pomeranos, mas tentamos trabalhar e
intensificamos o aluno no meio rural, a realidade que ele vive. Temos uma professora, a
Ileia, que sempre cultua essa questão dos pomeranos. Nós fizemos um livro na Escola
sobre a cultura de cada um, a agricultura, a escola tem essa preocupação, sobre todos os
Distritos, pois a nossa escola tem alunos de todos os Distritos do município.
Eu acredito que o maior desafio de trabalhar em uma escola rural primeiramente são os
professores de conhecer a realidade dos alunos do meio rural, apesar de termos um
grupo que já está a bastante tempo e que já está inteirado e que vê como é e o que pode
ser feito de acordo com a realidade. Mas como escola do campo, acredito que deve
haver mais coisas voltadas para a escola. Acho que os nossos governantes estão
deixando muito a desejar. Agora a coordenadoria está propondo fazer um trabalho mais
conjunto com a EMATER sobre a questão da Educação do campo porque a escola tem
dois hectares, temos uma horta, mas não temos pessoas qualificadas para isso. Esse é
81
um grande desafio porque temos a horta e no último ano não funcionou porque faltou
quem trabalhasse nisso.
Acredito que existe integração da cultura pomerana no dia a dia da escola pois nossos
alunos vem todos juntos de ônibus para escola. Eles conversam em pomerano na sala
de aula. Os alunos pequenininhos do primeiro ano têm uma característica própria, eles
têm muito sotaque, eles puxam muito uma letra a mais fica mais pesado, mas depois vão
se adequando.
Acho que temos que resgatar essa cultura pomerana...esse ano temos a professora Ileia
que vai trabalhar com um projeto voltado para esse resgate na disciplina de
Desenvolvimento Rural.
Acredito que o que falta para a inclusão da cultura pomerana na escola é a formação
continuada dos professores e os próprios alunos, às vezes ficam com vergonha, com
receio da sua cultura. Acho que eles têm que melhorar a autoestima deles, eles têm que
valorizar essa cultura, o que os alunos querem? Com que eles lidam? É com o fumo.
Eles trabalham muito e ir para escola acaba sendo uma folga do trabalho pesado essa é
a realidade que vivemos e temos o noturno que é uma realidade em que os alunos
trabalham durante o dia na agricultura e de noite vão para aula. Batalhamos muito para
ter o turno noturno na escola para que os alunos possam trabalhar durante o dia e
estudar para ter uma qualificação melhor para o jovem inclusive temos vários alunos
que passaram para graduação nos cursos de Jornalismo, Engenharia Agrícola,
Odontologia, Letras Alemão, Matemática. Acho que é pela influência dos professores
que incentivam para eles continuarem e ter uma carreira.
É bem delicada essa questão da permanência no campo porque o agricultor não é
valorizado pelos governantes e nós professores temos o grande desafio de lidar com
essas questões porque os alunos questionam muito eles não são mais como antigamente
em que só escutavam hoje eles querem saber o porquê das coisas.
Acho que a escola tenta fazer o papel dela eu acredito muito nisso é uma equipe que
trabalha unida. Temos professores que estão buscando a qualificação, tem um professor
que vai fazer mestrado em Matemática outra professora que está concluindo a Pós.
Sempre tem alguém fazendo formação. Estamos fazendo o melhor pelo nosso educando
é nossa profissão. Sabemos que temos as nossas falhas na escola do campo no campo. A
escola Rodolfo Bersch é no campo, mas ela não é do campo pela questão dos nossos
professores que na grande maioria são da cidade. Mas buscamos elaborar o nosso
calendário escolar de acordo com os feriados locais, da cultura local...os alunos
82
comemoram o dia de Ascensão, segundo dia de Pentecostes...sempre cuidamos isso,
elaborando o nosso calendário de acordo com estas datas da cultura local.‖
ANEXO 4: ENTREVISTA COM A PROFESSORA TITULAR DA DISCIPLINA
DE HISTÓRIA
—―Meu nome é Regina Bauer me formei há vinte e oito anos em Licenciatura em
História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGRS e estou lecionando
há 27 anos. Tenho Pós-Graduação em Psicopedagogia pela Universidade Católica de
Pelotas/UCPEL e Pós-Graduação em Produção de Material Didático para Diversidade
pela Universidade Federal de Rio Grande/FURG.
Trabalho 60 horas na Escola Rodolfo Bersch. Resido próximo da escola na
localidade do Boqueirão que fica a 18 km da Escola que é na Boa Vista. A cultura local
sobre os pomeranos é abordada na escola e na sala de aula, mas não é o viés central da
proposta pedagógica da Escola.
Foram realizadas iniciativas sobre a cultura local junto com os colegas onde foi
desenvolvido um projeto “Conhecendo e valorizando a vida rural do município de São
Lourenço do Sul”. Este trabalho de pesquisa foi realizado com os alunos do ensino
médio para conhecer e valorizar a vida rural, uma vez que a Escola está inserida no
meio rural com alunos provenientes de vários Distritos de São Lourenço do Sul. A
realidade desses alunos para chegar na escola é andar vários quilômetros todos os dias,
pois 95% dos alunos utilizam o transporte escolar.
Quando aplicamos a proposta sobre a cultura local o resultado foi muito
gratificante, pois resultaram em vários materiais como livros e folders. Os alunos
realizarem uma pesquisa sobre a sua localidade e depois foi realizado um seminário
com todos os alunos e com estes resultados foi publicado um livro com o mesmo titulo
do projeto “Conhecendo e valorizando a vida rural do município de São Lourenço do
Sul” que apresenta 36 localidades da zona rural do município destacando os aspectos
sociais, históricos, ambientais e econômicos de cada localidade. Este livro foi lançado
na I Feira do Livro da Escola realizada no dia 20 de novembro de 2013. Outra atividade
desenvolvida no projeto de pesquisa “Conhecendo e valorizando a vida rural do
município de São Lourenço do Sul” foi desafiar os alunos a produzirem um folder
abordando o que o grupo destacaria de mais atrativo da sua localidade para apresentar
para as pessoas, surgiram vários aspectos interessantes no olhar dos alunos de dentro
83
das suas comunidades.
Também foi realizado com os alunos um trabalho sobre a língua pomerana, uma
vez que os alunos falam a língua e se identificam com ela. O trabalho foi desenvolvido
pelos alunos e professores que, através do diálogo com a comunidade escolar,
encontraram a senhora Ana Frömming Pilatti com 103 anos vida e com o auxílio da
Historia Oral ela apresentou na entrevista em língua pomerana com os relatos da sua
história de vida. Essa entrevista resultou na elaboração de um livro que também foi
lançado na feira do Livro da Escola em 2013, o titulo do livro é “Resgatando nossas
raízes através de recortes de uma história de vida” onde são apresentadas as
transcrições da entrevista realizada pelos alunos, essa transcrição foram feitas
foneticamente, ou seja, de acordo com os sons das palavras. A entrevista apresentou
fatos dos usos e costumes da tradição pomerana, além de trazer fragmentos de versos e
cantigas em pomerano dos quais a Dona Ana se lembrava parcialmente de alguns
trechos. Foi um trabalho muito gratificante que se tornou possível graças ao entusiasmo
e a participação de várias pessoas envolvidas. Com este trabalho observamos que
infelizmente a geração dos alunos estava perdendo essa importante herança cultural que
foi possível registrar nesse livro que buscou apresentar os recortes dos relatos da
história de vida dos pomeranos, em São Lourenço do Sul, no início do século passado.
No início do projeto os alunos não se interessaram muito, mas no transcorrer das
atividades eles se identificaram e com muito orgulho apresentaram a autoria das suas
produções nos folders e fotos além dos vídeos que produziram e apresentaram no
seminário onde também colocaram as suas autorias.
No geral a dificuldade para trabalhar a cultura local na escola devesse ao fato da
falta de carga horária para desenvolvimentos dos trabalhos extras dos conteúdos
programáticos que precisam ser vencidos e a situação dos professores cuja 80% moram
na cidade e dão aulas muito voltadas para área urbana descontextualizadas do meio rural
isso acaba dificultando o trabalho com os aspectos da realidade dos alunos, o fato dos
professores serem provenientes da realidade urbana faz com que as aulas sejam voltadas
para preparar os alunos para prova do ENEM e do PAVE. Nos índices da avaliação da
nota do ENEM para o município de São Lourenço do Sul a Escola Professor Rodolfo
Bersch está em primeiro lugar das escolas municipais de Ensino Médio.
Os livros didáticos não contemplam a História da comunidade Local por isso a
necessidade de produção de material didático apropriado para realidade como foi o
caso dos livros que fizemos porque é importante trabalhar com os alunos a valorização
84
da sua História para conhecerem de onde vem e poder modificar a realidade, acredito
que é importante estudos voltados para a sua comunidade para poderem auxiliar a
atividade da família que na grande maioria é voltada a atividade da agricultura.
Na Escola é trabalhando a questão da valorização e o conhecimento da cultura
pomerana para poder mostrar para os visitantes. Nos primeiros anos é abordada questão
da língua pomerana buscando a continuidade da língua para as futuras gerações. Nas
séries inicias as professoras fazem o resgate da história de vida dos alunos que
geralmente é feito expondo fatos e fontes históricas da cultura pomerana. Penso que é
importante incluir estudos da língua alemã e pomerana na sala de aula.
Gostaríamos de ter a Universidade cada vez mais próxima da realidade da
escola. Quando me formei os estudos eram muito voltados para a decoreba
principalmente na disciplina de História e hoje já vivemos uma realidade em que são
trabalhados com os alunos a identificação da sua história de vida e vejo que a FURG
está preocupada e voltada para esta realidade dos alunos e da educação.‖
85
ANEXO 5: NARRATIVAS DOS ALUNOS
Aluno 1
— ―Eu já ouvi bastante coisa sobre a história dos pomeranos, de como os alemães
vieram até aqui, até a Coxilha do Barrão. Ouvi bastante história também. Não sei muito
bem como é a cultura pomerana, eu nunca prestei muita atenção.
A história sobre os pomeranos eu aprendi com a professora, minha irmã é que mais sabe
lá em casa, com meu avô, também a mãe e o pai. E os meus pais aprenderam com meus
avôs, os pais deles no caso. Eles sabem falar em língua alemã o pomerano não tanto,
mas o alemão sim.
Eu acho importante aprender sobre a história e a língua na escola, ainda mais que aqui
tipo, só tem professor de inglês, eu acho que o alemão deveria ter e também a língua de
origem daqui o pomerano para continuar a cultura também eu acho.
É difícil dizer se tem alguma coisa parecida da cultura pomerana com a cultura
brasileira , a comida alemã eu acho melhor.‖
86
Aluno 2 –
— ―Sobre a história e a cultura pomerana já ouvi como foi a chegada deles, como tudo
começou, que fugiram das guerras. Essas coisas quem conta é a minha vó foi com ela
que aprendi. E a minha avó aprendeu com os pais dela.
Eu acho que seria bom aprender mais sobre a história na escola para saber falar mais
sobre isso. A cultura pomerana tem parecido com a cultura brasileira as festas, mas o
jeito de festejar é diferente.‖
87
Aluno 3
—―O que conheço da história dos pomeranos é que vieram para cá e que vieram de
navio, que não tinha nada aqui q que aí começaram a construir as coisas. Acho que tem
muita cultura pomerana aqui é interessante.
Essa informações que sei eu aprendi com a minha bisavó, os pais dela vieram da
Alemanha.
Na escola tinha que ter o ensino do pomerano é sempre uma matéria a mais, e é uma
cultura a mais que a gente aprende. Em muitos lugares na cidade eles contratam quem
sabe falar em pomerano. ―Tu‖ tem uma implementação a mais no teu currículo.
Acho que a cultura brasileira e a pomerana são totalmente diferente.‖
88
Aluno 4
—―Sobre a história e cultura pomerana eu conheço pouco, a minha família é mais
alemã, sobre os pomeranos foi muito pouco falado lá em casa.
Penso que a cultura pomerana é bem bonita é bem interessante também, mas o modo de
falar é bem diferente do alemão.
Acho que é importante aqui na colônia aprender na escola sobre a história e a língua,
porque tempo a tempo ta cada vez menos e vai chegar um ponto que vai desaparecer.
A cultura brasileira com a pomerana é bem dividida.‖
89
Aluna 5
—―Da história pomerana já ouvi tantos relatos, de como eles vieram ―prá‖ cá de barco.
Acho que foi uma época bem difícil para eles assim, porque não conheciam nada e
construir uma família num lugar em que não sabiam nada é ―brabo‖. Acho que é
basicamente isso assim que eu escuto da vinda que foi em janeiro aqui para São
Lourenço do Sul.
Aprendi sobre a história e a cultura com meus avós, pais e professores. Os meus avós
aprenderam com os nossos antepassados.
Acho que na escola seria super importante aprender sobre a história e a língua, porque
os jovens precisam saber da onde eles vieram, coisas assim. E tem que continuar a
cultura que é da gente da nossa casa, não pode deixar uma coisa assim ―pra‖ trás
abandonada, eu acho muito importante, acho bonito quando as pessoas falam de
antigamente de como era.
A cultura pomerana e a cultura brasileira não têm nada parecido, eu acho que a cultura
pomerana tem seu estilo de vida, tem seus gostos e a cultura brasileira tem outros
gostos. Acho que não tem muito assim em comum.‖
90
Aluna 6
—―A ―vó‖ conta bastante sobre a história dos alemães, que eles vieram e que foi difícil.
A minha vó fala alemão e eu não sei falar direito em alemão. Penso que a cultura
pomerana ―tá‖ se desvalorizando. E o ensino da língua alemã também, só sei de duas
escolas de São Lourenço que tem alemão ainda, e muitas pessoas falam só o português
só os pais ainda falam a língua em casa.
Eu aprendi essa história com a vó, a vó fala alemão e pomerano o meu pai também fala,
a minha mãe fala só pomerano. Lá em casa a gente não fala em português só em
pomerano, mas entendemos tudo em alemão também só não aprendemos a falar em
alemão. A minha ―vó‖ foi passando a história, no caso eu acho que os meus bisavós
vieram da Alemanha e a minha ―vó‖ conta a história, o meu pai não fala muito sobre
isso.
Acho que na escola tinha que aprender mais sobre essas coisas porque é da gente, tem
gente que não valoriza.
Sinceramente eu não sei o que tem de parecido na cultura brasileira com a pomerana.‖
91
Aluna 7
—―Ouvi da história dos pomeranos com meus avós que não moram comigo, mas eles
contam que foi proibido por muito tempo falar o pomerano e que foi bem difícil aquela
época porque tinham soldados que faziam coisas com aqueles que falavam e que depois
disso foi mais tranqüilo, agora nessa época já falam quem sabe e consegue falar.
Eu acho que a cultura pomerana tem que continuar é uma coisa boa e também era bom
estudar pomerano assim como aprende inglês deve continuar o pomerano, tem
professores que ensinam em outra escola.
Aprendi sobre a história dos pomeranos mais com meu avô e ele aprendeu com os pais
dele. Lá em casa nós falamos pomerano quando nós aprendemos a falar foi em
pomerano o português aprendemos depois na escola.
Acho muito importante aprender pomerano na escola, lá na minha outra escola de
ensino fundamental até tinha um projeto que resgatava as coisas, aqui já não tem, mas
eu acho importante porque fica ―pros‖ futuros saber um pouco mais sobre a história,
porque não é mais tanto como no passado, acho que está se esquecendo um pouco.
Eu acho que não tem nada de parecido da cultura pomerana com a cultura brasileira.‖
92
Aluna 8
—―Nunca ouvi nada sobre a historia dos pomeranos eu nunca procurei nada, mas acho
que é uma cultura interessante. Sim eu sei falar pomerano.
Acho que seria bom aprender na escola sobre isso, mas nunca tive oportunidade de
estudar.
Acho que a cultura brasileira e pomerana são parecidas, tem brasileiro que trabalha
assim como os pomerano, só não falam assim, o jeito é o mesmo.‖
93
Aluno 9
—―Escutei sobre a história dos pomeranos que eles vieram em 1850 num barco, mas
nem todos vieram juntos os meus parentes vieram depois. Acho que foi bem difícil, mas
é legal manter a cultura ―pra‖ não deixar acabar, resgatar um pouco essa história.
Aprendi um pouco com o meu pai e a mãe e também alguma coisa com os professores.
Os meus pais eles aprenderam com os antepassados.
Eu acho importante aprender mais sobre a língua e a história porque todos tem que
saber mais o menos da onde vieram e porque vieram.
Entre a cultura pomerana e a brasileira acho que os pomeranos são mais ―paradões‖
assim, são mais quietos, não sei... são até parecidos.‖
94
Aluna 10
—―Sobre a história dos pomeranos eu não ouvi muita coisa, só ouvi pouco mesmo, em
casa não falam nada sobre isso só se perguntamos. Mas é uma cultura bem iteressante e
foi um tempo difícil quando começaram aqui. O que aprendi foi com meus pais e meus
avós e eles aprenderam com os avós deles.
Seria bom e interessante aprender sobre isso na escola ia ser legal saber um pouco mais
e também aqueles que não ouviram sobre isso aprender também.
Entre a cultura pomerana e brasileira não sei se tem algo igual, acho que não ―uh‖ não
tem nada parecido.‖
95
Aluno 11
—―Sobre a história dos pomeranos eu ouvi que vieram da Alemanha. Eu penso que a
cultura tem haver com tradição. O que sei aprendi com meus avós e foi sendo passado
de geração em geração.
Acho que é importante aprender na escola.
A cultura pomerana e a cultura brasileira não tem nada parecido, nada mesmo.‖
96
Aluna 12
—―Já escutei toda história de como os pomeranos chegaram aqui, como tudo aconteceu,
já que não tinha terra pronta ―pra‖ eles. Eles tiveram que fazer tudo... não tinham
médicos aí muitas vezes as crianças morriam, era triste o passado.
Eu acho legal a história, muitos acham assim que não vale a pena, mas eu acho
interssante assim. Aprendi o que eu sei sobre os pomeranos com os meus avós e os
meus pais. Também assisti o DVD que tem sobre a história dos pomeranos (o DVD foi
produzido pela prefeitura municipal). A gente olha a história e nossa! É lindo! Eu
gostaria muito que fosse expandido para mais pessoas conhecer. Os meus avós
aprenderam a história com os pais deles sempre de geração em geração.
Seria interessante aprender na escola sobre a história e a língua, mesmo não sabendo
toda trajetória deles, mas poderia ir avançando porque muitas vezes não é falado tudo
em casa, deixam algumas coisas de fora. Acho que a cultura pomerana foi um pouco
esquecida aqui porque não ensinam a língua pomerana e eu gostaria que tivesse aqui na
escola também, pelo menos para a gente aprender a escrever, tem alguns estado do
Brasil que estão optando pela língua pomerana.‖
97
Aluno 13
—―Eu conheço mais sobre o Jacob Rheingantz muito mais eu não sei porque não é
passado na escola sobre a história dos pomeranos, mais é na família mesmo que eu
aprendi. Com meus pais e avós todos são de origem pomerana e eles aprenderam com
os parentes e antepassados.
Seria bom aprender mais na escola sobre as nossas origens, porque daí a gente conhece
mais.
Não sei muito o que tem de parecido da cultura pomerana com a brasileira, não conheço
muito e não tenho como falar também, mas a hospitalidade, a alegria e as festa eu
acho.‖
98
Aluno 14
—―Ouvi sobre como os pomeranos vieram ―pra‖ cá, sobre a história do Jacob
Rheingantz, mais o menos isso assim que sei. É uma cultura interessante.
Aprendi sobre os pomeranos com meus pais um pouco na festa dos pomeranos. E os
meus pais eles aprenderam com os parentes, os pais deles... Acho interessante aprender
a história e língua pomerana na escola.
A cultura pomerana e brasileira tem umas coisas parecidas, como o futebol e as danças,
gostar de dançar, essas coisas assim.‖
99
Aluna 15
—―Na verdade eu conheço muito pouco sobre a história e a cultura pomerana porque
não fui criada nesse meio eu era da cidade e vim para colônia depois de casada, eu acho
que eu devo ter descendência pomerana porque a minha materna avó tem sobrenome
pomerano.
Eu acho que a cultura pomerana está se perdendo um pouco pelo menos é que eu vejo
os meus vizinhos os mais novos já estão deixando de lado e talvez, talvez não, com
certeza deveria ser resgatado.
Acredito que deveria ser ensinado na escola sim, porque faz parte da cultura daqui e
quem não fala como eu não falo em pomerano e não entendo nada faz falta até para que
a gente possa se comunicar depois e como eu vou ser professora depois. Eu senti falta
de aprender a língua pomerana.
Sobre a cultura brasileira e pomerana serrem parecidas não sei sinceramente acho que
não tem haver, a cultura pomeran é européia e é totalmente diferente. O que eu noto nos
meus vizinhos é que é um mundo bem fechado, eles são muito fechados e nós
brasileiros somos mais receptivos.‖
100
Aluno 16
—―Isso sobre a história dos pomeranos não é quando eles tiveram que esconder no mato
os livros que estavam escritos em alemão? Porque levavam as bíblias e queimam? Não
sei, mas acho que a cultura pomerana é uma cultura boa assim. O que sei eu aprendi
com meu pai minha mãe e minha avó e eles devem ter aprendido com os pais deles.
Acho que é importante aprender na escola sobre a história e a língua pomerana. Não sei
assim se tem alguma coisa parecida da cultura brasileira com a pomerana, acho que até
tem, mas não é muita coisa.‖
101
Aluno 17
—―Eu acho que é um futuro assim aprender sobre pomerano, que tem que ter bastante,
porque tem pessoas que só sabem falar pomerano né?, então não pode terminar. Hoje
em dia já tem dentro das famílias pomerana quem não sabe falar pomerano, mas eu acho
que tem que continuar é importante. O que eu aprendi sobre os pomeranos foi com
meus pais e meus avós e acho que eles aprenderam com os pais deles também.
Acho que seria bem bom aprender pomerano na escola porque aqui no interior a maioria
fala, acho que seria bem importante.
Acho que tem alguma coisa parecida da cultura pomeran com a cultura brasileira, mas
não sei dizer, cada um tem o seu jeito, ―né‖?!‖
102
Aluno 18
—―O que sei sobre a história ah, que a minha vó sempre conta que aquela época não
podia falar em pomerano e os cavalhos escondiam no mato. Acho que a cultura
pomerana é que nem as outras culturas, normal.
O que sei aprendi com a vó e ela aprendeu com os pais dela.
Acho que é importante sim aprender mais sobre isso na escola.
Não sei acho que não tem nada de parecido da cultura pomerana com a cultura
brasileira.‖
103
Aluno 19
—―Sobre os pomeranos sei que eles chegaram aqui, claro depois não sei mais. É uma
cultura assim que eu gosto de falar pomerano em casa porque é tradição.
O que sei sobre os pomeranos aprendi com meus avós e eles aprenderam com os pais
deles.
Acho que aprender a língua pomerana na escola é que nem aprender o português.
Muitas professoras não gostam que falem em pomerano na escola depende do lugar.
Muda algumas coisas da cultura pomerana para cultura brasileira.‖
104
Senhor pomerano - 76 anos
—―Os pomeranos e alemães quando chegaram no Brasil, sofreram muito. A língua foi
proibida. Os pomeranos tem uma cultura muito diversificada e no longo dos anos a
alimentação sofreu diversas modificações. Essa cultura deveria ser mais valorizada. Pois
é uma coisa que diz respeito à nossa história.
A história e cultura pomerana foi passada de geração em geração dos pais, avós...
Acredito que o pomerano deveria ser ensinado na escola, porque muitos idosos ainda
não dominam o português, e os jovens, praticamente só se comunicam dessa forma,
então o entendimento entre idoso e adolescentes, muitas vezes, é complicado. É
importante também para que possamos compreender o presente e valorizar as coisas
feitas pelos nossos antepassados.‖
105
ANEXO 6- CARTA DE CESSÃO DE DIREITOS SOBRE DEPOIMENTO ORAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE – FURG
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO – PROPESP
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA INFORMAÇÃO – ICHI
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – PPGH
MESTRADO PROFISSIONAL EM HISTÓRIA, PESQUISA E VIVÊNCIAS DE
ENSINO-APRENDIZAGEM
CESSÃO GRATUITA DE DIREITOS DE DEPOIMENTO ORAL
Pelo presente documento, eu______________________RG_____________emitido pelo
(a)_____________Domiciliado/residente
em________________________________declaro ceder à pesquisadora Beatriz Hellwig
Neunfeld sem quaisquer restrições quanto aos seus efeitos patrimoniais e financeiros, a
plena propriedade e os direitos autorais do depoimento de caráter histórico e documental
que prestei à pesquisadora/entrevistadora aqui referida, na cidade de são Lourenço do
Sul, RS, em ____/____/____, como subsídio à construção de sua Dissertação de
Conclusão do Mestrado Profissional em História da Universidade Federal do Rio
Grande. A pesquisadora acima citada fica consequentemente autorizada a utilizar,
divulgar e publicar, para fins acadêmicos e culturais, o mencionado depoimento, no
todo ou em parte, bem como permitir a terceiros o acesso ao mesmo para fins idênticos,
com a única ressalva de garantia da integridade de seu conteúdo e identificação de fonte
e autor.
São Lourenço do Sul, ______ de ____________________ de 2015.
--------------------------------------------
Assinatura/depoente.
106
ANEXO 7- AUTORIZAÇÃO PARA USO DO NOME E IMAGEM DA ESCOLA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE – FURG
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO – PROPESP
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA INFORMAÇÃO – ICHI
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – PPGH
MESTRADO PROFISSIONAL EM HISTÓRIA, PESQUISA E VIVÊNCIAS DE
ENSINO-APRENDIZAGEM
AUTORIZAÇÃO PARA USO DO NOME E IMAGEM DA ESCOLA
Pelo presente documento, eu______________na qualidade de responsável legal pela
Escola declaro ceder à pesquisadora Beatriz Hellwig Neunfeld sem quaisquer restrições
a autorizo por meio deste termo o direito de divulgar, utilizar e dispor, na íntegra ou em
partes para fins institucionais, educativos, informativos, técnicos e culturais, os
materiais disponibilizados, relativos às pesquisas e trabalhos realizados na escola. Como
subsídio à construção de sua Dissertação de Conclusão do Mestrado Profissional em
História da Universidade Federal do Rio Grande. A pesquisadora acima citada fica
consequentemente autorizada a utilizar, divulgar e publicar, para fins acadêmicos e
culturais.
São Lourenço do Sul, ______ de ____________________ de 2015.
--------------------------------------------
Assinatura/diretora da escola.
107
ANEXO 8- ROTEIRO DE ENTREVISTA COM A DIRETORA DA ESCOLA
RODOLFO BERSCH.
1- Nome
2- Formação
3- Tempo que está formada
4- Locais onde trabalha(jornada de trabalho)
5- Há quanto tempo está na direção
6- Reside próximo à escola
7- Tem setor pedagógico na escola, que diretrizes possui da SEC ou SMED sobre o
trabalho com a cultura local?
8- Quais são os desafios de trabalhar em uma escola rural?
9- Que ações a escola promove para integrar a cultura pomeranos no seu cotidiano?
10- Se não ocorreram atividades nesse sentido. Por que?
11- O que falta para essa inclusão? A formação continuada de professores prevê esses
aspectos culturais peculiares do município? O que poderia ser feito?
12- A escola possibilita aos alunos a valorizados da sua cultura e a importância para
sociedade do trabalho desempenhado pela família junto a agricultura familiar?
13- Você acredita que é importante trabalhar com os alunos a permanência na atividade
dos pais? Ou seja, na agricultura familiar?
108
ANEXO 9- ROTEIRO DE ENTREVISTA COM A PROFESSORA TITULAR DA
DISCIPLINA DE HISTÓRIA.
1- Nome
2- Formação
3- Tempo em que está formada
4- Locais onde trabalha (jornada de trabalho)
5- Há quanto tempo leciona
6- Reside próximo à escola
7- A cultura local sobre os pomeranos é abordada na escola e na sala de aula?
8- Quais iniciativas você ou os colegas já desenvolveram sobre a cultura local?
9- Qual foi a sua impressão quando aplicou a proposta sobre cultura e história
local?
10- Quais são as dificuldades que você encontra para abordar esses conteúdos em
sala de aula? Os professores no geral se sentem preparados para trabalhar esses
aspectos? O que falta?
11- Os livros didáticos contemplam a História da comunidade Local?
12- Você acredita que é importante trabalhar com os alunos a valorização da sua
História de vida e a permanência na atividade familiar? Na agricultura?
13- Você acredita que seria importante trabalhar na sala de aula com os alunos a
cultura pomerana como forma de turismo?
14- Sugestões para incluir aspectos da cultura local na sala de aula?
109
ANEXO 10- ROTEIRO DE ENTREVISTAS REALIZADAS COM OS ALUNOS E
PESSOAS DA COMUNIDADE.
1- Data
2- Nome
3- Turma
4- Idade
5- O que você já ouviu sobre a História e cultura pomerana?
6- Como é a cultura pomerana? O que você pensa sobre ela?
7- Se você conhece a cultura pomerana de quem obteve essas informações? Pai?
Mãe? Avós? Professores?
8- As pessoas de quem você obteve as informações elas conhecem e aprenderam so
a história e cultura pomerana com quem e de que forma?
9- Você acha importante aprender sobre a história, cultura e língua pomerana na
escola?
10- O que você já ouviu sobre a cultura pomerana que acha parecido com a cultura
brasileira e vice versa.
11- Colocações sobre mais algum aspecto da cultura pomerana que você gostaria de
destacar.