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O LADO SURPREENDENTE DE DEUS

O que podemos aprender do conflito que surgiu entre Jesus e algumas

das pessoas mais religiosas de Sua época? Esta pergunta é importante para aqueles dentre nós, que lutamos com o sentimento de que Jesus não atingiu nossas próprias expectativas. Algumas questões que confundiram os compatriotas de Jesus também nos confundem hoje. Pensando nisto, Bill Crowder, Diretor de Ministérios com Igrejas, nos ajuda a dar mais uma olhada àquele que prometeu que em Seu tempo iria exceder, maravilhosamente, todas as nossas esperanças e sonhos. Em termos práticos, Bill nos ajuda a perceber que, como o nosso Deus não muda, podemos esperar que Ele também nos surpreenda hoje.

Martin R. De Haan II

SUMÁRIOBuscando a Deus .................... 2

O lado surpreendente de Deus .................................... 9

A majestade envolvendo a simplicidade .....................10

A grandeza envolvendo a insignificância...................15

A integridade envolvendo a ruína ...................................17

O propósito envolvendo a imprevisibilidade .............21

A suficiência envolvendo a insuficiência ......................24

A pureza envolvendo a pecabilidade .....................27

Encontrando Deus na cruz ....................................30

Onde encaixo nisso? .......................................31

Título Original: The Surprising Side Of God ISBN: 978-1-60485-055-0Ilustração da Capa: Terry Bidgood PORTUGUESEAs citações bíblicas são extraídas da Ed. Revista e Atualizada de J. F. de Almeida © 1993 Soc. Bíblica do Brasil. © 2009 RBC Ministries, Grand Rapids, Michigan, USA Printed in USA

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BUSCANDO A DEUS

Quando garoto, era fascinado por um filme de ficção

científica chamado O Homem Invisível. Era a história de alguém que enrolava bandagens na face, usava um chapéu, luvas e roupas normais, para dar a si mesmo uma aparência de ser humano. Mas, quando queria desaparecer, simplesmente removia as peças de roupa e as bandagens. Era como se estivesse brincando de um sofisticado jogo de esconde-esconde. De certa forma, o homem invisível reflete a natureza imaterial daquele que, de acordo com a Bíblia e um conhecido hino é:

Deus sábio, invisível,perfeito, imortal, poder

intangível da luz celestial,glorioso e bendito do tempo Senhor, a ti, Deus excelso,

cantemos louvor.

Embora estes versos tão amados inspirem adoração e deslumbramento, também podem nos deixar atônitos por um sentimento de desconexão do nosso Criador. Ao celebrar aquele que é inacessível e invisível, podemos ter um sentimento errado de que Deus, a quem devemos amar e em quem devemos confiar, está muito longe e fora de nosso alcance.

Admiramo-nos sobre, como

poderemos ter um relacionamento

com um Deus que é fisicamente

inacessível.

Talvez seja por isso que muitas pessoas estejam interessadas em livros como God Came Near (Deus está perto) de Max Lucado. Nós temos a necessidade

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de um Deus que pode ser encontrado e alcançado através dos nossos pensamentos. Admiramo- -nos sobre, como poderemos ter um relacionamento com alguém que é fisicamente inacessível. Estas preocupações são as razões pelas quais precisamos entender a surpreendente continuação da história. Embora Deus permaneça invisível, a Bíblia nos assegura que Ele está mais perto, querendo ser mais conhecido e facilmente alcançado pelas nossas orações do que jamais poderíamos imaginar.

COMO É DEUS?A Bíblia mostra que o Senhor dos céus sabe que é muito difícil nos relacionarmos com um Deus invisível. De acordo com o Novo Testamento, esta é uma razão pela qual o Filho de Deus se fez Filho do Homem. Revestindo-se de carne humana, Jesus refletiu a face e o coração

de Deus para nós (Colossenses 1:15). Mas se Jesus personificou o Deus de Abraão, por que tantos líderes religiosos de Israel o rejeitaram? Para entender como as pessoas que esperavam pelo seu Messias prometido puderam pedir a Sua morte, vamos tentar olhar para vida de Jesus sob o ponto de vista deles.

Revestindo-se de carne humana,

Jesus espelhou a face e o coração de Deus para nós.

Ao invés de admitir que não tinham razão para serem tão hostis a Jesus, vamos pensar sobre o que as pessoas que esperavam pelo Messias estavam buscando. Qual a representação de Deus que eles esperavam ver?

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O QUE ISRAEL ESPERAVA?Os relatos das testemunhas oculares no Novo Testamento mostram que as pessoas do primeiro século esperavam por um Messias que cumpriria o que os profetas do Velho Testamento tinham profetizado. Eles esperavam que o Messias os libertasse dos seus inimigos. Também criam que exibiria o caráter e o poder do Deus de Israel. No entanto, havia outras coisas pelas quais não esperavam. Não esperavam que o Messias afirmasse que era Deus. Por conseguinte, não sonhavam que o seu tão esperado Libertador envergonharia e enfureceria tantos líderes religiosos. Também não esperavam que o Messias lhes mostrasse o quanto entendiam mal a Deus e Sua atitude para com a lei moral. O Velho Testamento relatava sobre o Servo do Senhor que viria para

demonstrar a vontade e o poder de Deus. De fato, uma das principais passagens do Velho Testamento que descreve a missão do Messias prometido, era um texto que Jesus alegou ser Seu quando pregou na sinagoga de Nazaré, Sua cidade natal. Lucas a descreve assim:

Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num sábado, na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. Então, lhe deram o livro do profeta Isaías, e, abrindo o livro, achou o lugar onde estava escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor. Tendo fechado o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e todos na sinagoga tinham

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os olhos fitos nele. Então, passou Jesus a dizer-lhes: Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir (Lucas 4:16-21; Isaías 61:1-2).

Lucas então disse: Todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que lhe saíam dos lábios (Lucas 4:22).

Nos dias que se seguiram, aqueles que ouviram Jesus continuaram a sentir a verdade que lhes fora ensinada (Lucas 20:21).

Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?

—Marcos 4:41

Nas águas da Galiléia viram-no acalmar uma tormenta que se abatia sobre eles e então: “...possuídos de grande temor, diziam uns aos outros: Quem é este

que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Marcos 4:41). Quando o viram derrotando demônios, se maravilharam dizendo: “Jamais se viu tal coisa em Israel!” (Mateus 9:33). As multidões viram um homem que sustentava Suas palavras com o poder e autoridade de Deus. Mateus escreveu:

Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo (Mateus 4:23).

As pessoas que viram Jesus testemunharam de muitas maneiras, o que deveriam ter esperado ver no Messias:

autoridade

verdade O Velho Testamento tinha falado claramente ao povo

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de Deus sobre Seu caráter e poder — e o Jesus que viram exibiu verdade e poder de formas tão inegáveis que se maravilharam com o que fez e disse. O que ouviram ecoou poderosamente com o seu entendimento do que deveriam esperar de Deus e Seu Messias. Então, se Jesus lhes mostrou o que procuravam, porque não o reconheceram? Foi só porque Jesus lhes disse que não estava pronto para libertá-los da opressão política de seus inimigos? Foi porque lhes disse que tinha que sofrer e morrer por seus pecados? Ou algo mais os cegava?

POR QUE NÃO CONSEGUIAM VER?O Velho Testamento tinha dado ao povo judeu bastante informação para prepará-los para a chegada do Messias. Então por que não o viam claramente? A razão dessa dissociação pode servir como um aviso para todos nós. Suspeito

que o problema não fora simplesmente uma questão de perspectiva, mas de pressuposições. O fato é que na maioria das questões, não começamos com uma folha em branco. Chegamos à discussão com um acúmulo de ideias colecionadas durante a vida inteira através de nossa experiência, cultura, formação e treinamento, que predispõe nossa maneira de pensar e limitam nossa visão. É claro que este problema influenciou a habilidade dos líderes religiosos do primeiro século, pois eles não reconheceram que Jesus era o seu Messias. Apesar dos ensinamentos imutáveis de Moisés e dos profetas, eles somaram, pouco a pouco, uma complicada tradição oral àquilo que as Escrituras de fato diziam. Muitas destas adições à Lei pareciam, superficialmente, honrar as Escrituras, mas frequentemente as mudanças enfocavam

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questões de concordância externa e não o sentimento e o espírito da Lei. O resultado foi que os líderes religiosos de Israel encontraram maneiras de se desculpar de seus motivos errados, salientando os ritos ao invés do espírito da Lei. Muitos, gradualmente, admitiram a possibilidade de acertar-se com Deus em seus próprios termos e por suas próprias forças.

Quando Jesus apresentou uma visão

de Deus que não coincidiu com suas expectativas, eles

não aceitaram Sua autenticidade.

Este tipo de pensamento está presente nos dias de hoje. O que vemos é de muitas maneiras influenciado pelo que queremos ver. O resultado de

tais conjeturas é previsível e poderia ser expresso através do princípio da proximidade. Este princípio afirma que quanto mais próximos de Deus estivermos, mais seremos conscientes de nosso pecado, fraqueza e fragilidade. De modo oposto, quanto mais longe de Deus estivermos, mais claramente enxergaremos o pecado, fraqueza e fragilidade dos outros. Vemos um exemplo deste princípio na rejeição dos líderes religiosos por Jesus. Com implicações que não eram vistas por eles...

afirmar e praticar exteriormente a Lei os tornava melhores do que os impuros gentios e pecadores.

defensores da justiça e que estavam resistindo bravamente à influência pagã.

de sacrifício de sangue era a solução para o

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problema de pecado pessoal e da nação.

inimigos e outros povos que não consideravam dignos de Deus.

os libertasse da ocupação de seu território, não do pecado cometido.

afirmaria Sua liderança e compromisso com a Lei.

Messias lhes daria um sinal assim que exigissem.

que Jesus lhes dirigia.

Jesus sobre as quais eles exerciam controle.

Quando Cristo veio como Resgatador, não admitiram sua necessidade por resgate pessoal. Na verdade, não procuravam o perdão e a misericórdia pessoal; queriam um Messias que os afirmasse e reforçasse os padrões que erroneamente achavam que poderiam atingir.

Como resultado, quando Jesus apresentou uma visão de Deus que não coincidiu com suas expectativas, eles não aceitaram Sua autenticidade. Tragicamente suas pressuposições eram eternamente inconsistentes. Em seu papel como a “imagem do Deus invisível” (Colossenses 1:15), Jesus apresentou uma visão do Pai, aquela que as Escrituras ensinavam aos israelitas que aguardassem. Porém, o que viram foi-lhes surpreendente. Era a perspectiva que continuamente tirava as pessoas do seu equilíbrio — e ainda hoje o faz. Por quê? Porque Jesus não somente revelou o caráter e o poder de Deus, lhes revelou (e a nós também) a intimidade de Deus. Ele veio trazer o perfeito equilíbrio entre a graça e a verdade para uma geração que pensava, erroneamente, que podia lidar com a verdade e não necessitava da graça de Deus. Por essa razão, o que viram em Cristo foi uma surpresa tão grande.

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O LADO SURPREENDENTE DE DEUS

A s surpresas podem ser bem interessantes. Às vezes elas

são maravilhosas e emocionantes — como a pessoa que trabalha muito e sem esperar nenhuma recompensa ou reconhecimento, mas é surpreendida por uma cobiçada promoção. É um momento de choque e alegria, e um sorriso de ponta a ponta moldura sua face por vários dias. Que surpresa! Há outras ocasiões em que as surpresas podem ser doloridas, até mesmo assustadoras — como a pessoa que ao fazer seu check-up de rotina sentindo- -se ótima, descobre que há um problema sério que terá que enfrentar. As surpresas, sejam boas ou más, têm o potencial de nos sacudir. Elas, sem

misericórdia, desafiam nossas confortáveis pressuposições sobre a vida. Estes resultados inquietantes acontecem também conosco, quando Jesus nos revela Deus, pois esta revelação vai além do que as pessoas de Sua época esperavam, ou que nós em nossa época esperamos. Jesus nos levou para um canto do universo e permitiu que vislumbrássemos a sala do trono do Pai. E o que vemos ali é muito mais maravilhoso e perturbador do que jamais esperamos. O lado surpreendente de Deus nos desafia a repensar os nossos paradigmas espirituais e bíblicos. Jesus nos ajuda a considerar a visão de Deus que pode ser bem diferente do que teríamos imaginado. Estas expressões do coração de Deus — as quais estão fora das normas esperadas — podem explicar porque as pessoas que viviam nos dias de Jesus não o reconheceram

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totalmente. Isto nos ajuda a entender por que as pessoas continuam a não compreender, nem descrevê- -lo corretamente até os dias de hoje.

A revelação do próprio Deus

em Cristo é mais maravilhosa

— e surpreendente — do que qualquer

pessoa possa imaginar.

Jesus revelou Deus de maneiras tão inesperadas que, simplesmente, não temos rótulos adequados para descrever a intimidade do Pai revelada por Jesus. Então, o que Jesus nos diz sobre Deus que é tão surpreendente? É claro que um pequeno livreto como este só pode contar o começo da história. Mas,

nas páginas seguintes veremos algumas maneiras pelas quais a revelação do próprio Deus em Cristo é mais maravilhosa — e surpreendente — do que qualquer pessoa possa imaginar.

A MAJESTADE ENVOLVENDO A SIMPLICIDADENa primeira vez que fui a Israel, fiquei admirado a maior parte do tempo da minha visita às terras bíblicas:

da Galiléia pela primeira vez, onde Jesus passou tanto tempo durante Seu ministério e vida nesta terra, me senti estupefato.

a lindíssima vista da cidade velha de Jerusalém, vista do topo do Monte das Oliveiras.

história da fortaleza na montanha de Massada.

sentimento de terror

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e tristeza ao visitar o memorial do Holocausto de Yad Vashem em Jerusalém.

Com todas as maravilhas que tinha visto, no entanto, foi surpresa ficar tão pouco impressionado com dois dos lugares bíblicos mais conhecidos — Belém e Nazaré. Eram locais tão comuns e sem expressão, cidades sujas, tão longe da pitoresca “pequena vila de Belém”, que imaginara a cada ano no Natal. Eu não estava preparado para a simplicidade que vi naqueles lugares históricos. Apesar da minha decepção pessoal, é precisamente este sentimento que as torna tão significativas. São como uma metáfora do Cristo cuja encarnação misteriosa e inexprimível deu significância àquelas adormecidas e antigas vilas. Foi bom que a vida terrena de Jesus fosse ligada a lugares tão comuns. Apesar da glória de Sua

identidade, o próprio Cristo foi muitas vezes visto como alguém familiar e comum pelas pessoas do Seu tempo. Até o profeta Isaías alertou que seria assim:

Porque foi subindo como renovo perante ele e como raiz de uma terra seca; não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse (Isaías 53:2).

As palavras de Isaías não são o que esperávamos. O pensamento de que nada havia em Sua aparência que deixasse a desejar, fala da aparência absolutamente comum, com a qual o Messias — Filho de Deus se apresentaria. Como menino, lembro-me de meu pai levando-me para assistir ao filme Reis dos Reis. O ator Jeffrey Hunter, que era, sem dúvida, um homem muito bonito, fazia o papel de Jesus. Em sua representação de Cristo, Hunter tinha um cabelo avermelhado, longo,

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esvoaçante, e penetrantes olhos azuis — que causavam uma constrangedora impressão.

O pensamento de que não havia

nada em sua aparência para que o desejássemos, fala do absoluto modo

comum que o Messias — Filho

de Deus se apresentaria.

Jesus, no entanto, não veio ao mundo com a beleza de um astro de cinema. As palavras de Isaías dizem exatamente o oposto. Ele teria a aparência de um judeu comum, simples como os outros, com cabelos e olhos escuros, e pele cor-de-oliva. Isaías tinha preparado o povo à vinda do Messias da forma como

de fato aconteceu, mas não conseguiram captar o significado de suas palavras. A simplicidade com a qual Jesus, intencionalmente, se apresentou é mais tarde observada no lugar comum onde viveu. Com relação à reputação da vila de Nazaré, o professor Adam Clarke escreveu:

Supomos que Nazaré, nesse tempo, tornou-se tão abandonada que nada de bom se esperava daqueles que lá viviam e que devido à sua maldade criou-se um provérbio: “Pode alguma coisa boa ser encontrada em Nazaré?”

Este pensamento certamente explicaria a reação de Natanael à afirmação de Filipe sobre encontrar alguém especial de Nazaré:

Filipe encontrou a Natanael e disse-lhe: Achamos aquele de quem Moisés escreveu na lei, e a quem se referiram

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os profetas: Jesus, o Nazareno, filho de José. Perguntou-lhe Natanael: De Nazaré pode sair alguma coisa boa? Respondeu-lhe Filipe: Vem e vê (João. 1:45-46).

Ser de Nazaré da Galiléia colocou um estigma em Cristo. Os galileus eram considerados atrasados e ignorantes pela aristocracia religiosa de Jerusalém. Assim, alguém da Galiléia não seria considerado como um candidato digno para o papel de Messias. Note o que diz o texto:

Então, os que dentre o povo tinham ouvido estas palavras diziam: Este é verdadeiramente o profeta; outros diziam: Ele é o Cristo; outros, porém, perguntavam: Porventura, o Cristo virá da Galiléia? Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi e da aldeia de Belém, donde era Davi? (João 7:40-42).

A análise final da tradição de Jesus é registrada em

João 7:52, quando os líderes religiosos disseram a Nicodemos:

Examina e verás que da Galiléia não se levanta profeta.

Tragicamente, suas conclusões basearam-se em pensamentos imperfeitos; de fato, houve outro profeta da Galiléia; Jonas era da vila de Gate-Hefer (2 Reis 14:25) que fica a 3,2 km de Nazaré. Porém, em sua inabilidade em aceitar um Cristo comum, simples, abandonaram a verdade sobre quem Jesus realmente era — e perderam Sua verdadeira identidade. A realidade da encarnação nos ensina que as pessoas não viam na aparência exterior de Jesus Cristo a história completa. O restante da história é mencionado no livro de Mateus no capítulo 17. Nessa passagem, Jesus foi para uma montanha na Galiléia com três dos Seus discípulos: Pedro, Tiago e João. Os registros de Mateus

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sobre os momentos na montanha foram intensos quando descreveu a verdadeira natureza de Jesus, aquele que tantos pensavam ser muito comum. Veja o seguinte texto:

Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro e aos irmãos Tiago e João e os levou, em particular, a um alto monte. E foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram- -se brancas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele. Então, disse Pedro a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, farei aqui três tendas; uma será tua, outra para Moisés, outra para Elias. Falava ele ainda, quando uma nuvem luminosa os envolveu; e eis, vindo da nuvem, uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi.

Ouvindo-a os discípulos, caíram de bruços, tomados de grande medo (Mateus 17:1-6).

A verdadeira natureza de Cristo foi reafirmada pela extraordinária aparência de Moisés e Elias. Porém, mais importante que isso, aquela natureza foi revelada numa demonstração de Sua glória “foi transfigurado” e a declaração do Pai “Meu Filho amado”. A majestade de Cristo foi exposta naquela montanha. Apesar de Sua aparência comum, Sua educação e origem simples, uma história familiar comum, nada havia que fosse absolutamente comum em Cristo. Sua majestade não diminuiu com a forma simples através da qual escolheu se revelar. Ele ainda era o Rei dos céus, mesmo estando em carne, revestido de aparência humana.

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A GRANDEZA ENVOLVENDO A INSIGNIFICÂNCIAUma vez ouvi uma história sobre o Dr. Harry Ironside, quando era pastor da Igreja Memorial Moody em Chicago. Uma família tinha sido muito influenciada pelos ensinos do Dr. Ironside e por isso, economizaram durante meses para levar seus filhos numa viagem especial a Chicago para que pudessem ouvir o tão conhecido pregador no púlpito de sua igreja. Quando finalmente visitaram a igreja, os pais ficaram entusiasmados com o culto de adoração e muito felizes por terem ouvido, pessoalmente, os ensinamentos dados pelo pastor Ironside. Ao deixarem o culto, pensavam que seus filhos também estivessem entusiasmados com a experiência, e lhes pediram que compartilhassem seus pensamentos. Depois de alguma reflexão, um deles disse: “Sempre ouvi dizer

que o Pastor Ironside era um grande pregador, mas não é tanto assim; pois entendi tudo o que disse.” De certa forma, era assim que acontecia com Jesus. Os grandes líderes religiosos de Seus dias, não estavam propensos, nem eram capazes de se relacionar bem com as pessoas aparentemente insignificantes do mundo. Jesus, no entanto, demonstrou como a verdadeira grandeza transpõe esta lacuna de maneira aparentemente natural e sem esforço. Em Israel no primeiro século, poucas coisas eram vistas como sendo mais insignificantes do que as crianças. Porém, Jesus amou-as e elas sentiam-se confortáveis com Ele. Jesus até usou uma criança como exemplo de verdadeira grandeza:

Mas Jesus, sabendo o que se lhes passava no coração, tomou uma criança, colocou-a junto a si e lhes

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disse: Quem receber esta criança em meu nome a mim me recebe; e quem receber a mim recebe aquele que me enviou; porque aquele que entre vós for o menor de todos, esse é que é grande (Lucas 9:47-48).

Até hoje estamos condicionados a pensar que crianças devem ser “vistas, mas, não ouvidas”. Nossa tendência é ter o mesmo sentimento que alguém já teve quando disse: “Vá embora criança, você me chateia.” Mas as crianças tinham importância para Jesus. Na verdade, do menor pardal (Mateus 10:29), aos lírios do campo que hoje estão aqui e amanhã já se foram (Mateus 6:28-30), Jesus consistentemente valorizou coisas que o mundo vê como insignificantes. Ironicamente, à medida que Jesus admitia a insignificância, expunha abertamente a relativa

insignificância daqueles que buscavam se apresentar como grandes. Em Mateus 20:25-26, Jesus se expressa claramente sobre esta questão:

Então, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva.

Jesus buscou trazer uma perspectiva celestial aos nossos paradigmas terrenos, relembrando-nos do perigo de sermos consumidos pelas riquezas, quando lidou com o jovem rico (Marcos 10:22). Ele alertou contra medirmos a grandeza das pessoas por suas conquistas; que não durarão, quando Ele expõe a natureza temporal do templo (Marcos 13:1-2). Alertou até mesmo contra a tendência de pessoas que se consideravam importantes, de exibir sua religião como se fosse o emblema e

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distintivo de sua grandeza (Mateus 6:1-5).

Ironicamente, à medida que Jesus abraçava a insignificância,

Ele expunha abertamente a

relativa insignificância daqueles que buscavam se

apresentar como grandes.

Jesus surpreendeu as pessoas de Seu tempo porque redefiniu os termos e padrões daquilo que era realmente grande e o que era de fato insignificante. E porque Ele era (e é) realmente grande, Seu desejo de dar valor àquilo que o mundo via como sem importância era desconcertante. Ele deixou as pessoas que

viviam naquela época sentindo-se desconfortáveis, desdenhando continuamente o grande para admitir o insignificante.

A INTEGRIDADE ENVOLVENDO A RUÍNACerta vez, durante uma viagem missionária para Jacarta, na Indonésia, viajávamos a uma cidade para assistir a sessão noturna da conferência bíblica. Enquanto dirigíamos, os cenários ao lado da estrada variavam de um tanto quanto engraçados a profundamente perturbadores. Era engraçado ver homens vendendo revistas americanas, sobre reforma de casas, aos motoristas que paravam devido ao tráfego na estrada. Era tremendamente perturbador ver famílias, indivíduos e crianças vivendo em pobreza extrema, obviamente; sem casa, roupas, comida, água ou saneamento adequado.

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Ao ver aquele tipo de pobreza, tive vontade de virar as costas e sair correndo. Aquelas cenas frequentemente criam reações que nos movem da culpa à raiva, ao descaso e apatia. Mas, na maioria dos casos, simplesmente desviamos nossos olhos e nada fazemos. Vemos as ruínas da vida neste mundo e achamos que é mais do que podemos suportar. Mas Jesus era diferente, pois se envolvia com a destruição deste mundo e investia Sua vida nele. Na verdade, Ele transformou as ruínas da vida em algo radicalmente diferente. Poucas coisas deixaram o povo da geração de Jesus mais perplexos do que o desejo dele em investir Sua vida e cuidado, nos desprezados e rejeitados da sociedade. Jesus dirigiu Sua compaixão e interesse às pessoas sofridas, enquanto outros se afastavam delas. Talvez em nenhum outro lugar isto possa ser visto

mais claramente do que na Sua interação com um leproso, em particular. Devemos lembrar que nos dias de Jesus a lepra era uma doença terrível, destruidora, e era temida como altamente contagiosa.

Jesus dirigiu Sua compaixão e interesse

às pessoas sofridas enquanto outros se afastavam delas.

Quando uma pessoa desenvolvia uma camada de pele seca, ela era examinada pelos sacerdotes, e então isolada por um período de tempo. Se num segundo exame fosse comprovado que a mancha na pele de fato era lepra, a pessoa seria afastada de sua família, casa, carreira, comunidade e sinagoga para perambular fora do alcance da sociedade. O doente era

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frequentemente enviado ao exílio, em comunidades com outros infectados, e nunca mais lhe era permitido participar da vida como antes de contrair a lepra. Se tal indivíduo passasse perto de seres normais, teria que gritar alertando as pessoas: “Impuro! Impuro!” Os leprosos eram as pessoas mais desprezadas daqueles dias — o retrato da ruína de um povo degradado em um mundo degradado. Viviam em isolamento, tristeza, vergonha e angústia. Tudo isto nos fornece um cenário para a natureza extraordinária do encontro de Jesus com um leproso em particular. Note como Mateus descreve a cena:

E eis que um leproso, tendo-se aproximado, adorou-o, dizendo: Senhor, se quiseres, podes purificar- -me. E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra. Disse-lhe, então, Jesus: Olha, não

o digas a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e fazer a oferta que Moisés ordenou, para servir de testemunho ao povo (Mateus 8:2-4).

Duas atitudes saltam da página quando leio aquele relato. A primeira é a ousadia do leproso. Quase posso imaginá-lo gritando na direção de Jesus, enquanto a multidão se abria como o Mar Vermelho e o homem aflito corria no meio dela. Sua confiança na capacidade de Cristo em livrá-lo de sua lepra foi uma poderosa motivação para que viesse ao Salvador. A segunda atitude que noto, é a compaixão de Cristo — mesmo que a palavra compaixão não seja usada no texto. Jesus poderia ter curado aquele homem de muitas maneiras diferentes. Poderia ter sido através de um pensamento, palavra, gesto, ou com uma inclinação de Sua cabeça. Mas não o fez assim. Jesus violou todas as proibições

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sociais e religiosas daqueles tempos quando curou o leproso tocando-o pessoalmente.

Jesus violou todas as proibições sociais e religiosas daqueles tempos quando curou o

leproso tocando-o pessoalmente.

Para uma pessoa que não tinha sentido o toque de outro ser humano em anos, o toque compassivo do Mestre contribuíra mais para a cura do coração solitário do leproso, do que para a cura da doença de seu corpo. É maravilhoso ver a que grau chegou o desejo de Jesus de impactar profundamente uma vida tão despedaçada. Mas por quê? Por que Jesus iria tão longe para cativar um mundo

arruinado? Talvez possamos ter um palpite para esta resposta no Novo Testamento, na carta aos Hebreus:

Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna (Hebreus 4:15-16).

Jesus experimentou a vida em seus momentos mais desafiadores e o fez, em parte, para que quando estivéssemos despedaçados pelas lutas da vida voltássemos a Ele buscando conforto e ajuda e, saberíamos que nos entende. Jesus nos entende, pois por vontade própria inseriu-se na vida — comprometendo- -se, experimentando e

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tocando pessoas feridas em suas necessidades. Usando a metáfora de uma “chuva que cura”, Michael W. Smith canta eloquentemente sobre o impacto causado por Cristo em vidas estraçalhadas, em sua canção Healing Rain (Chuva que Cura):

Chuva que cura desce sobre nós;

Que vem resgatar o perdido e achá-lo.Lágrimas de alegria,

e lágrimas de vergonhaSão para sempre enxugadas

em nome de Jesus.¹ (Tradução livre)

Jesus foi capaz de impactar vidas, pois estava disposto a deixar Sua integridade divina penetrar na ruína humana — o que foi outra surpresa para as multidões que o assistiam.

O PROPÓSITO ENVOLVENDO A IMPREVISIBILIDADEVladimir Baluev é um exemplo de alguém que tem objetivo e disciplina,

e demonstra a persistência necessária para correr a maratona da vida. Vladimir é um implantador de igrejas na Rússia, profundamente, preocupado com o bem-estar espiritual de seu povo — tanto assim, que quando o encontrei, implantava igrejas em seis vilas diferentes ao mesmo tempo. Ele passava um dia por semana em cada vila, e um dia em sua própria casa. Algumas pessoas podem questionar se é sábio tentar fazer tanto. Mas Vladimir estava só dando vazão ao propósito que o seu coração lhe indicava, pois tinha o compromisso de alcançar seu povo para Cristo — custasse o que custasse. Mesmo havendo muitas pessoas ao redor do mundo com objetivos admiráveis, e que se sacrificam para atingir seus alvos, não é natural que mantenhamos nossos olhos fixos em servir Cristo a qualquer preço. Quando a questão é servir a Deus com todo

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coração, no Seu tempo e com Seus recursos expomos a nossa verdadeira natureza através da pequena capacidade que temos em manter nossa atenção em foco. As Escrituras refletem nossa fraqueza descrevendo- -nos como ovelhas, que são animais notáveis por sua visão curta e sem foco permanente. Elas são definidas como animais errantes. Assim sendo, o profeta Isaías escreveu da parte de Deus que nos ama:

Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos (Isaías 53:6).

E Mateus adicionou:Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor (Mateus 9:36).

Estas inspiradas afirmações são lembretes de nossa tendência humana e

básica em nos desviarmos. Somos distraídos pelos sons das sirenes do mundo e pelos barulhos da sonoplastia da vida. Perdemos de vista o nosso objetivo e seguimos por nossos próprios caminhos — nem sempre certos de onde chegaremos. Esta realidade ecoa nas palavras de um belo hino “Fonte és Tu de Toda Bênção” de Robert Robinson:

Devedor à tua graça cada dia e hora sou.

Teu cuidado sempre faça com que ame a Ti, Senhor.

O meu ser é vacilante: toma-o, prende-o com amor,

para que a todo instante, glorifique a ti, Senhor.

O autor claramente reconheceu nossa tendência de nos desviarmos das coisas de Deus (O meu ser é vacilante) ao invés de sermos dirigidos por elas. É esta fragilidade humana e básica que expõe o quanto precisamos desesperadamente da Sua graça para unir-mo-nos

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a Ele, para que não nos percamos pelo caminho. Em contraste com as vidas imprevisíveis que Jesus encontrou, em tudo que fez Ele demonstrou determinação absoluta e a inclinação do Seu coração a cumprir os propósitos do Pai. Isto foi verdadeiro especialmente na marcha firme e inexorável para a cruz — mesmo enquanto Seus discípulos buscavam desviá-lo do destino que o Pai lhe traçara para o Calvário. A tensão que esta pressão criou chegou ao pico quando Jesus foi desafiado por Pedro em Mateus 16:21-23:

Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia. E Pedro, chamando-o à parte, começou a reprová-lo, dizendo: Tem

compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá. Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens.

Jesus veio com um propósito claro — dar luz e orientação àqueles que vagavam como ovelhas errantes. Foi um modelo de determinação “era necessário seguir para Jerusalém”pondo de lado qualquer coisa que o distraísse da vontade do Seu Pai e colocando-se no caminho da obediência — mesmo sabendo que tal obediência o levaria à cruz. Tal propósito era desconcertante para os líderes religiosos que tinham aproveitado as oportunidades políticas. Ao invés de serem desafiados pela determinação de Jesus, buscavam explorá-lo para atingirem seus próprios objetivos políticos.

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A determinação de Jesus pode ser vista em Filipenses 2:8, onde Paulo escreveu:

A si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz.

Jesus foi obediente ao plano de Seu pai — até a Sua morte na cruz. A compreensão do propósito divino de Cristo trouxe a única resposta adequada ao nosso vaguear imprevisível que nos levou para longe de Deus.

A SUFICIÊNCIA ENVOLVENDO A INSUFICIÊNCIAHá um adesivo que diz: “Quando você chegar ao final da corda; dê um nó e pendure-se nela.” Parece um bom conselho — até que o mundo desmorone ao seu redor. Às vezes, a vida se torna opressora, não conseguimos suportar o sofrimento e a dor causada por trágicas circunstâncias em nossas famílias sem sermos afetados. Isto nos renova o

entendimento sobre nossa inabilidade em compreender a vida em um mundo arruinado. Porém, a menos que estejamos à beira de um desastre, frequentemente, tendemos a viver de um modo que exala independência e autoconfiança. Erguemo- -nos por nossos próprios esforços e seguimos em frente convencidos de que pela nossa força de vontade podemos fazer o que quisermos. Que trágico engano! Podemos até propagar, que tudo fizemos à nossa maneira, mas permanece o fato de que quando confiamos em nossa autossuficiência, nos colocamos em grande risco. Ao escrever para uma congregação satisfeita consigo mesma na cidade de Corinto, o apóstolo Paulo advertiu:

Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia (1 Coríntios 10:12).

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O apóstolo entendeu que simplesmente não temos a suficiência que pensamos ter, quando enfrentamos as questões sérias da vida. Nenhum desafio pode compensar a falta de sabedoria, força e justiça necessárias para navegar na dor deste mundo.

A menos que estejamos à beira de um desastre, frequentemente

tendemos a viver de um modo que exala

independência e autoconfiança.

Talvez seja por isso que tantos ex-atletas lutam para ajustar-se à vida ao deixarem os esportes. No campo tudo está sob controle, tudo faz sentido, tudo é administrado. Mas na aposentadoria a vida muda

de arena — para uma, onde a perícia atlética tem menos valor. Quando os atletas vivem a maior parte de suas vidas no mundo artificial em que suas habilidades são desenvolvidas para gerir um tipo específico de vida controlada, eles podem desenvolver um tipo de confiança, que na realidade é uma ilusão. Uma vez aposentados, as coisas que lhes deram equilíbrio na vida são jogadas, tal como uma boneca de pano presa em um redemoinho. Tais atletas simbolizam que não estamos preparados para administrarmos nossas vidas em nossa própria força e sabedoria. Cristo respondeu à desventurada autossuficiência demonstrada pelo povo que Ele criou, de forma dramática. Nos dias de Jesus esta tendência à autossuficiência foi incorporada à instituição religiosa —, e a instituição religiosa foi identificada

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com a cidade de Jerusalém. Após sua entrada triunfal em Jerusalém, Jesus olhou aquela cidade de modo descrito poderosamente por Lucas:

Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou e dizia: Ah! Se conheceras por ti mesma, ainda hoje, o que é devido à paz! Mas isto está agora oculto aos teus olhos (Lucas 19:41-42).

Por que Jesus chorou? Talvez parte da razão de Sua tristeza para com a cidade seria percebida nos dias que se seguiram à Sua entrada. Quando Jesus ensinou no templo também confrontou os líderes religiosos de Israel (Mateus 23) acusando-os de orgulho religioso e arrogância — em essência, autossuficiência religiosa. Era uma deficiência que não somente os destruiria, mas destruiria todos que neles buscassem direção espiritual. No final, entretanto, não foi com ódio, mas com dor

que Jesus lhes falou. Ao ver a autoconfiança deles com seu poder destrutivo disse:

Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes! (Mateus 23:37).

“Vós não o quisestes!” Aqui vemos o Cristo todo- -poderoso quebrantado pela autossuficiência dos seres humanos caídos. Aquele quebrantamento foi visto nas lágrimas que escorriam de Sua face ali nos portões de Jerusalém — as lágrimas de um Deus cujo coração estava quebrantado. As pessoas certamente não estavam preparadas para encontrar este tipo de Deus. Mesmo hoje, ainda lutamos com a idéia de um Deus que tenha o coração quebrantado. O músico Michael Card compreendeu a surpresa que

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aqueles que observavam Cristo experimentaram e cantou sobre isto em To a Broken God (A Um Deus Quebrantado):

Eu desconhecia como seria um Deus quebrantado;

imaginava-te acima da minha dor;

Perdido em meu desespero, como um coração

quebrantado; nunca sonhei que Você

pudesse sentir o mesmo.² (Tradução livre)

O Senhor Jesus Cristo — o Filho de Deus e Criador do universo — experimentou um profundo quebrantamento quando sofreu com a teimosa autossuficiência que fez, e ainda faz, com que homens e mulheres que são objetos do Seu amor, o rejeitem. O contraste é poderoso!

A PUREZA ENVOLVENDO A PECABILIDADEQuando estudava na faculdade teológica, nosso pastor sempre dizia, “Uma

boa maçã ao lado de uma ruim, não a transforma em boa maçã. É sempre o contrário.” Ele estava falando do poder da influência, particularmente, quando é uma influência corrupta. E, em termos da maioria de nossos relacionamentos na vida, estava certo. A corrupção infecta tudo que toca. No caso de Cristo, no entanto, vemos o contrário desse conceito. Jesus não se corrompeu de modo algum por causa de Sua associação com pessoas que eram consideradas espiritualmente como maçãs ruins — corruptas. Ao contrário, Sua missão era redimi-las, purificando-as da corrupção que caracteriza a degradação humana. Isto, francamente, foi algo que os líderes religiosos lutaram para entender. Eles trabalharam longa e arduamente para manter a aparência de pureza pessoal e cerimonial, e parte significativa desse

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esforço era manter distância saudável de qualquer contato com pecadores. Em contraste, Jesus acolheu a oportunidade de associar-se com aquelas pessoas impuras mantidas à distância pela instituição religiosa. Note o que diz o texto:

E sucedeu que, estando ele em casa, à mesa, muitos publicanos e pecadores vieram e tomaram lugares com Jesus e seus discípulos. Ora, vendo isto, os fariseus perguntavam aos discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? Mas Jesus, ouvindo, disse: ...Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos; pois não vim chamar justos, e sim pecadores [ao arrependimento] (Mateus 9:10-11,13).

Para os líderes religiosos dos dias de Jesus, era impensável que um Deus santo se associaria livre e espontaneamente com

conhecidos pecadores. Porém, na realidade, a absoluta justiça de Cristo tornou possível essa associação. Por causa de Sua inata santidade e pureza, Jesus estava longe de ser contaminado por pecados das pessoas que encontrava. Ao contrário, marcou claramente suas vidas tirando-as dos seus pecados e fazendo-as comprometerem-se com um modo de viver que agrada a Deus. Como resultado, Jesus ao lidar com os pecadores utilizou-se de compaixão ao invés de condenação. Ele os alcançou, ao invés de afastar- -se deles. Vemos isto no encontro de Jesus com uma mulher pecadora em João 8:

De madrugada, voltou novamente para o templo, e todo o povo ia ter com ele; e, assentado, os ensinava. Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no

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meio de todos, disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? Isto diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo. Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra. E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos, ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava. Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu

ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais (vv.2-11)

Os líderes religiosos tentaram usar aquela mulher como armadilha para incriminar Jesus. Eles a viam como uma estratégia para criar um dilema para o Mestre. Será que Ele concordaria com Moisés de que as mulheres adúlteras mereciam morrer? Se assim fosse, deveria permitir a execução praticada pelos judeus, a qual desafiaria as leis dos invasores romanos. Jesus expôs a hipocrisia deles sem desculpar o pecado daquela mulher. Sua compaixão fez mais do que livrá-la do apedrejamento por aquela multidão religiosa. Ele, gentilmente convidou-a para tirar proveito da falta de condenação de Sua parte, como uma oportunidade para aceitar os caminhos melhores do Deus que a amava.

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ENCONTRANDO DEUS NA CRUZ

No premiado filme A Lista de Schindler, somos confrontados

com os horrores e maldades do Holocausto. No processo, aprendemos a verdadeira história de Oskar Schindler, um homem que era um paradoxo. Ele era membro do partido nazista e a guerra lhe trazia lucros, no entanto, resgatou 1.100 judeus dos campos de concentração, comprando suas vidas com um alto custo pessoal. O clímax da história acontece quando Itzhak Stern, o contador judeu de Schindler, compila uma lista de prisioneiros para que Schindler os resgatasse. De repente, ele percebe que os nomes daquela lista representavam pessoas que seriam resgatadas dos fornos nazistas, e, que seriam compradas com os lucros auferidos por Schindler. Qual foi o comentário de Stern? “A lista é uma

mercadoria preciosa. É vida.” Isto era verdade porque a lista representava uma demonstração de incomensurável amor e surpreendente compaixão frente àquela extrema maldade. De todas as coisas surpreendentes que Cristo nos diz a respeito de Deus, esta pode ser a maior. Em termos da expectativa do homem a respeito de Deus e da representação que Cristo fez de Seu Pai, talvez o maior contraste de todos seja visto no que Cristo fez na cruz. Jesus disse, “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (Lucas 19:10), e foi na cruz que isto finalmente aconteceu. Mas aconteceu de modo que trouxe propósitos às necessidades mais profundas dos nossos corações. O Salmista escreveu:

Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram (Salmo 85:10).

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Na cruz foi determinado o equilíbrio perfeito entre misericórdia e verdade. O Filho de Deus, em divina misericórdia tomou o nosso lugar. Pelo sacrifício de Sua vida, Ele nos resgatou da natureza que realmente temos e do julgamento que merecemos. Lá no Calvário, Jesus pagou por nossos pecados e nos livrou de uma vez por todas, do que, de outra forma, seria o nosso destino:

É na cruz que verdadeiramente vemos a “glória de Deus, na face de Cristo” (2 Coríntios 4:6). O perfeito amor equilibrado pela justiça perfeita; a verdade perfeita em equilíbrio com a perfeita graça. Esse foi o maior presente e a maior surpresa que precisávamos desesperadamente.

ONDE ENCAIXO NISSO?

Suponho que em algum momento, somos forçados a perguntar:

“O que tudo isso significa para mim?” Para responder a essa questão duas considerações são necessárias. Se você não conhece Cristo pessoalmente, nunca pediu que perdoasse os seus pecados, isto significa que há uma resposta. Há esperança, porque há um Deus que deu Seu Filho para mostrar-lhe quem Ele é, e o quanto Ele o ama. Esse Deus lhe oferece o presente do Seu perdão e amor — um presente que pode ser aceito somente através da fé. Para o filho de Deus, no entanto, o desafio é diferente. Assim como Jesus veio para demonstrar quem é Deus, também somos convocados a fazer o mesmo. Não podemos fazer isto com nossas próprias

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forças, mas pela Sua força e graça. Paulo disse:

De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus (2 Coríntios 5:20).

Embaixadores de Cristo; Seus representantes para um mundo necessitado! Este desafio é um privilégio e uma responsabilidade, que a banda de música gospel “4Him” (Para Ele) confirma em uma das suas canções chamada Visible (Visível). Nessa canção reconhecemos claramente nossa missão:

Fazê-lo conhecidoFazê-lo visto

Ser Suas mãosSer Seus pés

Quero ser uma revelação de amor

Quero tornarO Deus invísivel — visível.³

(Tradução livre)

1. Michael W. Smith, Martin Smith, and Matt Bronleewe, ©2004 Word Music/Smittyfly Music/Curious?Music (ASCAP).2. Michael Kelly Blanchard, ©2002 Gotz Music (ASCAP).3. Mark Harris, ©2003 New SpringPublishing, Inc. Ryanlynn Publishing(ASCAP).

O texto inclui o acordo ortográfico conforme Decreto n.º 6.583/08.