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The Bauru Bauru: A Springfield Brasileira Dezembro/2010 ACONTECIMENTOS Fatos bizarros e situações en- graças marcam tanto Sprin- gfield quanto Bauru, além de semelhanças assustadoras. PERSONALIDADES P elé, Geisel, Maurício de Sou- sa, Marcos Pontes e muitos outros que nasceram ou pas- saram pela cidade lanche. E MUITO + CURIOSIDADES

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Trabalho de jornalismo para Unesp/Bauru

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The Bauru

Bauru: A Springfield BrasileiraDezembro/2010

ACONTECIMENTOSFatos bizarros e situações en-graças marcam tanto Sprin-gfield quanto Bauru, além de semelhanças assustadoras.

PERSONALIDADESPelé, Geisel, Maurício de Sou-sa, Marcos Pontes e muitos outros que nasceram ou pas-saram pela cidade lanche.

E MUITO

+ CURIOSIDADES

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2 Bauru: A Springfield Brasileira

EditorialVocê, leitor, deve estar se perguntando que grandes semelhanças Bauru poderia ter com a cidade dos Simpsons, Springfield. Pois nós te respondemos: muitas, enormes, gigantemente assustadoras, e para provar selecionamos as mais interessantes e de maior relevância. Para começar, as duas são do Interior, médias para pequenas, e por isso poderia se esperar que os acontecimentos dessas cidades não tives-sem muita repercussão no âmbito nacional. Mas na prática não é isso que acontece, direta ou indiretamente, elas têm grande influência além de seus territórios. Como você poderá ver em matérias como do apagão, do Pelé, do Maurício de Sousa, do Marcos Pontes e do acidente ocorrido com o presidente Geisel em 1977. Outro fator em comum entre Bauru e Springfield são os acontecimentos absurdos e alguns até engraçados que você não poderia imaginar que seriam possíveis de serem reais (pelo menos no caso de Bauru eles são), como o carro que caiu em uma cratera, a mobilização que o bordel da Eny causou na região, o ex-prefeito Izzo Filho que foi preso por ameaça de bomba contra a oposição e a falta de gerador na maior mater-nidade local. Outras pessoas já haviam percebido essas paridades antes deste suplemento, como se pode ver na comunidade do Orkut “Bauru, Springfield Brasileira” que já tem mais de 1.400 membros. Gabriela Valderramas, a dona da comunidade, disse que percebeu as semelhanças durante um papo com seu marido e um amigo to-mando uma cervejinha num barzinho. “Tanta coisa estranha que fica impossível não comparar, né?”, diz Gabriela. É verdade! Então espe-ramos que gostem e se divirtam com essas peculiaridades que tornam esses dois lugares tão especiais.

Da Redação

Charge

Edgar

Saraiva

Paula

Lopes

Patrícia

Vergara

Marina

Crespo

Equipe

D D D D D

Dezembro/2010

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3Bauru: A Springfield Brasileira

Bauru guarda uma sé-rie de singularidades e excentricidades – a começar pelo próprio símbolo que leva seu nome: um sanduíche. Quer dizer, você já pa-rou para pensar sobre como é engraçado mo-rar em uma cidade que é reconhecida princi-palmente pelo nome de um lanche? Acredite ou não, muita gente conhe-ceu primeiro Bauru, o sanduíche e só depois Bauru, a cidade. Mas não somos os únicos com um símbolo engraçado. Se isso faz de Bauru mais comum, saiba que nossa Springfield tem como símbolo nada mais nada menos que um limo-eiro. Nada comum, certo? Começam por aí as se-melhanças entre Bauru e a terra natal de Homer Simpson. Mas agora va-mos conhecer um pouco mais sobre a origem de nosso famoso lanche e entender porque ele leva o nome da cidade.É só chegar à Rodoviária de Bauru que os turistas já se deparam com nosso

famoso Baruzinho, uma réplica do lanche feito de pão francês sem mio-lo, fatias de rosbife, quei-jo derretido, rodelas de tomate e picles. É impos-sível passar pela cida-de sem experimentar o sanduíche conhecido por todo o Brasil. O principal responsável pela fama de Bauru é José Francisco Junior, o Zé do Esquinão, que trouxe o lanche – cria-do em 1934, pelo estu-

dante de direito Casimiro Pinto Neto na lanchone-te Ponto Chic, SP – para Bauru. Inaugurado em 1971, na Rua Rodrigues Alves, no Centro, o Ski-não foi uma vitória para Zé, que antes trabalhava como garçom. “Quando o Ponto Chic fechou, em 1973, meu pai viu nos jornais e achou que o sanduíche não podia morrer. Ele sabia da receita,

começou a fazer o lanche e entregar para as seus clientes experimentarem. Sem saber, meu pai foi fazendo um trabalho de marketing”, conta o sim-pático Marquinhos, que comanda o local desde

Bauru e seu lanche, Springfield e seu limoeiro

Restaurante Ponto Chic, 19xx, onde foi criado o lanche bauru. Imagem doada pelo Ponto Chic

Episódio citado

# O Limoeiro de Tróia - 23o episódio da 6a Temporada

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a morte de seu pai, Zé do Esquinão, em 2002. Atualmente, a lancho-nete está localizada na Rua Rio Branco, esquina com a Júlio Maringoni, e segundo Marquinhos, sua clientela é formada por pessoas de todos os lugares da cidade, do Brasil e até de ou-tros países, conseguindo atender desde jovens que buscam uma refei-ção depois da balada até famílias que vem para o almoço de do-mingo. “Vem muita gente de fora para conhecer o

lanche, principalmen-te quando estão mu-dando para a cidade. Hoje, é um ponto de

referência em Bauru, mesmo que outros lugares façam o lanche. Nós somos a primeira lanchonete a fa-zer o sanduíche. Somos mais tradi-cionais”, conclui Marquinhos.

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4 Bauru: A Springfield Brasileira

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Que bela noite em Springfield! Bart Simpson precisava de algo empol-gante para melhorar sua semana, que tinha começado com aulas na escola dominical – sem revistas em quadrinhos e sem estilingadas. E lá vai o skatista mais travesso de Springfield aprontar uma das gran-des para impressionar sua gangue de trombadinhas. Inspirado pelos dizeres de seu honroso pai – “Ser popular é a coisa mais importante do mundo” – Bart resolve roubar a cabeça da estátua do fundador da cidade, Jebediah Springfield. E daí que o tal Jebediah tinha matado um urso com as próprias mãos? Eis que Springfield amanhece com-pletamente chocada e apagada. Onde estaria a cabeça do valente Jebediah? Acompanhado por um Homer arrependido de seus conse-lhos, Bart tenta devolver a cabeça quando percebe o dano que causou à honra da cidade. Mas os dois são

pegos no flagra por um

exército munido de tochas e foices. O que restava agora? Havia outra possibilidade senão a morte? Bart toma coragem e se explica diante dos moradores, pedindo desculpas e devolvendo a cabeça ao seu dono. Mas vamos deixar a ficção de lado para falar de desventuras mais in-felizes e não menos travessas que as de Bart Simpson. Bauru, a cidade literalmente sem li-mites, também é palco frequente de algumas excentricidades que aca-bam causando muito prejuízo. Não é difícil perceber que a maior par-te dos estudantes forenses tem uma estranha tendência a roubar coisas aparentemente inúteis que fazem parte do patrimônio público. Na maioria dos casos, essas imprudên-cias são cometidas furtiva e humil-demente. Quer dizer, quase todos ficam contentes e realizados com simples cones sinalizadores e placas de trânsito discretas. Carrinhos de supermercado, no máximo.

Entretanto, não satisfeitos com isso e cansados da rotina, alguns estudantes resolveram ser Bart por um dia, investindo em uma operação mais de-safiadora e perigosa: roubar o símbolo da cidade. Com seus olhos de picles, seus pés

feitos de tomates, um palito espeta-do na testa e sua língua de rosbife, o Bauruzinho encantava a todos os que passavam pelo parque Vitória Régia, até a madrugada do dia 5 de agosto de 2008, quando sofreu o atentado. Mas esses estudantes não imaginavam que a réplica do sanduíche – criada por um morador bauruense – não seria um alvo as-sim tão fácil. Seu tamanho indiscreto e suas cores pouco camufláveis com certeza não ajudaram na opera-ção: a aventura acabou no xadrez e foi notícia nos principais jornais do país. De acordo com o comandante da Polícia Militar, William Carlos Viei-ra, os estudantes Rafael Rodrigo de Oliveira Filho, Marcelo Henrique Fu-rini, William Massao Obata e Paulo Otávio de Azevedo foram presos em flagrante. Um deles cursava Ad-ministração de Empresas na USC, dois estudavam Engenharia Civil e Biologia na UNESP e um era aluno de mestrado na mesma universida-de. “Os indivíduos foram presos em flagrante como tentativa de furto e conduzidos até o plantão. Quando perguntamos o motivo do roubo, disseram que iriam enfeitar a re-pública”, relembra o comandante William Vieira.Os elementos, entre seus 20 e 25 anos, além de terem sido pegos no

pulo, ainda tiveram outras aquisi-ções descobertas. Os policiais pre-cisaram de um furgão para levar os outros bens roubados encontrados na república. Placas de trânsito, cavaletes, cones, carrinhos de su-permercado e por aí vai. Nada de decapitação de estátuas, pelo me-nos. Como punição, os universitários tiveram que descarregar o furgão e devolver tudo aos seus devidos lu-gares. “A gente não imaginou que isso fosse causar a repercussão que causou. Foi uma coisa meio impulsi-va”, comenta Marcelo Furini. Os estudantes não possuíam antece-dentes criminais e responderam ao processo em liberdade. Apesar de não terem sido presos e nem ame-açados por tochas e foices, a dor de cabeça não foi pequena para nenhum dos infratores. “Depois dis-so encontramos formas menos peri-gosas de decorar nossa república”, brinca Paulo de Azevedo. Para os jovens universitários, a popularida-de não compensou o preço alto, diferentemente do que acreditou Bart. A partir do episódio, o sandu-íche não voltou mais para seu lugar original. Atualmente, ele dá boas vindas, de braços abertos, aos que chegam ao movimentado terminal rodoviário de Bauru.

O Roubo do Bauruzinho

Universitários roubando o Bauruzinho. Imagem doado pelos próprios que não quiseram se identificar.

Episódio citado # Conversa Fiada - 8o episódio da 1a Temporada

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Quem já assistiu algum episódio de Simpsons já deve ter visto “Comichão e Coçadinha”, que é o desenho animado mais popular entre as crianças da sé-rie. É uma sátira clara de “Tom e Jerry”, só um “pouquinho” mais violento (algo como um cortar a cabeça fora do outro, ou se ma-tarem a facadas ou a tiros). Mas nosso foco não vai tanto para o gato e o rato, mas sim para Chester J. Lampwick, criador do Comichão e do Coçadinha, que é, nada mais nada menos, nasci-do em Springfield. Deixando de lado a di-ferença de estilo dos desenhos, podemos fazer uma relação com um dos maiores desenhistas in-fantil que o Brasil tem: Maurício de Sousa. E parte da biogra-fia desse gênio das histórias em quadrinhos foi vivida em Bauru,

aproximadamente do final da década de 50 e início da déca-da de 60. Seu casamento com a primeira mulher foi realizado aqui e sua filha que deu origem à sua maior criação é uma bau-ruense, a dentucinha Mônica. “Bauru foi minha primeira tentativa de trabalhar fora de São Paulo”, disse Maurício em entrevista recente. Na época ele já publicava tirinhas em jornais, mas acabou voltando para a ca-pital por sentir falta da cidade grande. Além de sua filha Mo-nica, Bauru também rendeu ins-piração para mais alguns perso-nagens dele: o Titi e o Franjinha, que eram seus sobrinhos e mora-vam na cidade lanche. No Portal da Turma da Monica (www.turmadamonica.com.br), o desenhista e escritor publica crônicas sobre diversos

5Bauru: A Springfield Brasileira

Um Desenho dentro de Outro

Da direita para a esquerda: Monica e Magali. Imagem retirada do Twitpic do Maurício de Sousa.

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A garota de Bauru, não é apenas um adjetivo para falar apenas de garotas que nasce-ram ou moram na cidade. Desde que um dos ícones do rock na-cional passou pela cidade, essa frase tornou-se também, nome de uma música. Até hoje não se sabe quem é a famosa garota citada nas letras do poeta, con-tudo, poucas rádios tocavam a canção. A letra com palavras pejo-rativas, foi censurada pela gran-de maioria das rádios da cidade

e até hoje é um pouco rejeitada. Na animação, houve o in-verso. Uma letra depreciando uma pessoa de Springfield virou hit na cidade e dela, várias ver-sões foram criadas. A pessoa ci-tada é Ned Flanders, vizinho ca-tólico de Homer que nunca é bem vindo com suas teorias e que des-sa vez, tenta ajudá-lo a compor uma música natalina. Homer ao invés de criar a música para ho-menagear o nascimento de Jesus, decide criar uma canção para zombar da cara de Ned. Até o

próprio fica feliz com a popula-ridade que ganhou. Programas como do já fa-lecido Flávio Pedroso, da rádio Auri-Verde, boicotava a canção e afirmava que a música era um acinte para a cidade tocar algo assim, depreciativo. Quem ajudou Cazuza a compor a mú-sica da garota que não era um sanduíche, foi João Rebouças. No entanto, ainda hoje continua o grande mistério: Quem seria a tal Garota de Bauru? Só ela mesma poderia responder..

assuntos, e alguns tratam de sua passagem por Bauru. Em uma delas ele ainda conta que teve que convencer o Pelé a deixá-lo fazer histórias em quadrinhos sobre seus tempos de menino, no

fim ele conseguiu fazer o “Pelézi-nho”. Ele ainda fala sobre as ve-zes em que encontrou o jogador e eles recordaram os momentos vividos em Bauru.

Musa do CazuzaEpisódios citados

# O dia em que a violência

morreu - 18o episódio da

7a Temporada

# Cara, cadê meu rancho -

18o episódio da 14a

Temporada

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6 Bauru: A Springfield Brasileira

As coisas não iam nada bem para Homer Simpson. Por toda a sua carreira, ele havia esperado ganhar o prêmio “Operário da Semana” – que a propósito já honrara todos os funcionários da Usina Nuclear de Springfield – mas nem mesmo o ar-tigo 26 do sindicato pôde garantir que esse sonho se realizasse para o pobre Simpson – Todo empregado deve ganhar pelo menos uma vez o prêmio “Operário da Semana”, não importa se é um incompetente, obe-so e fedorento. Por falta de quem premiar, o Sr. Burns homenageia com o título uma bela barra de car-vão inanimada. Em casa, nem a família de Homer o respeitava mais. Um pouco irritado por não ter conseguido ler o que Bart escrevera em sua nuca durante o jantar – “Coloque um cé-rebro aqui” – Homer resolve se en-tregar a sua fiel TV. Mas ultimamen-te os canais só passavam tediosos lançamentos de foguetes. “Alô, é da NASA?” – Homer não poderia atu-rar mais um desaforo – “Olha aqui, eu estou farto desses seus lança-mentos chatos!”. Mas, o que ele não esperava era que a NASA estava à procura de uma personalidade po-

pular que atraísse a audiência para os lançamentos de foguetes. A disputa para ser o primei-ro astronauta de Springfield não foi nada fácil. De lutas com lanças a competições de traje de banho, Homer acaba sendo selecionado para ir em missão ao espaço. Mal o Simpson tinha decolado – fazen-do a audiência do lançamento ser a maior dos dez últimos anos – e já estava danificando os instrumentos espaciais com batatas chips. E isso era só o começo. Homer ainda con-segue destruir um aquário de for-migas em experimento e estragar a maçaneta da saída principal da nave. É quando, por acaso, Homer consegue trancar a porta com uma barra de carvão inanimado, salvan-do a vida de todos. Entretanto, no fim da missão, todos os créditos do grande feito vão para a bela barra de carvão e Homer não recebe ne-nhum reconhecimento. A única coisa que lhe restava naquele momento era voltar para o aconchego de seu lar – onde Bart escreveria Hero em sua nuca na hora do jantar. Agora, você deve estar se perguntando o que essa história ma-luca tem a ver com Bauru, certo? Pois bem, digamos que de Springfield Bauru tem quase tudo – inclusive um astronauta. Nossa sorte (e da NASA também) é que de Homer, Marcos Pontes não tem nada. O cara é nin-guém mais ninguém menos que o Tenente Coronel Aviador da Força Aérea Brasileira (FAB), e seu gran-de feito – ser o primeiro astronau-ta do Brasil e de todo o Hemisfério Sul – não é apenas uma conquista pessoal, mas para todo o país e também para sua terra natal: Bau-ru. Filho caçula de Virgílio e Zuleika Pontes, Marcos foi apaixonado pelo céu desde sua infância. “Ele vivia no Aeroclube admirando a Esquadrilha da Fumaça. Marcos também gosta-va muito de visitar a Academia das Forças Aéreas, onde o tio dele era sargento da equipe de manutenção

de aeronaves”, relembra Marivaldo Campos Brito, amigo de infância de Marcos. Aos 14 anos, o bauruense co-meçou a trabalhar como aprendiz de eletricista para pagar seu curso de Eletrônica no Colégio Liceu Noro-este. Por três anos, Marcos frequen-tou um curso técnico na Rede Ferro-viária Federal durante a tarde e se dedicou à Eletrônica no período da noite. No fim de seus cursos, Marcos Pontes passou no processo seletivo da Academia das Forças Aéreas e em 1984 recebeu o bacharelado em Tecnologia Aeronáutica. No ano seguinte, foi transferido para Natal para fazer um curso de piloto de caça. Em 1986, Marcos integrou-se ao “Esquadrão Centauro”. Três anos depois, retornou para o inte-rior de São Paulo, onde se forma-ria em Engenharia Aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáuti-ca (ITA). Em 1988, o Brasil entrou para o Programa Estação Espacial Internacional, abrindo uma seleção de astronautas para representar o país. Marcos Pontes foi escolhido pela Agência Espacial Brasileira e foi morar nos Estados Unidos, onde faria sete anos de treinamento na NASA. Declarado como astronauta oficial da NASA, Marcos decolou com destino a Estação Espacial In-ternacional, no dia 29 de Março de 2006, a bordo da Soyuz TMA-8. O astronauta brasileiro homenageou Santos Dumont pelo centenário de seu primeiro voo, levando com ele para o espaço o chapéu e o reló-gio do inventor. Com duração de 10 dias, a missão alcançou o sucesso e oito experimentos científicos criados por universidades e centros de pes-quisas brasileiros foram realizados. Em seu retorno para a Terra, Mar-cos foi prestigiado com a Medalha de Ouro Yuri Gagarin, pela Fede-ração Aeronáutica Internacional e com a Medalha Santos Dumont. No dia 20 de Abril, O astronauta foi

condecorado pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva recebendo a Ordem Nacional do Mérito. No dia seguinte, Marcos Pontes foi homena-geado em Bauru por um público de cinco mil pessoas e pela Esquadrilha da Fumaça – o que, cá entre nós, faria Homer Simpson ter uma crise de ciúmes, já que Springfield não foi nem um pouco receptiva com ele. Atualmente, Marcos trabalha para o Programa Espacial Brasileiro e continua suas atividades no Centro Espacial Johnson, em Houston, Texas. “Marcos lutou muito pelos seus ideais desde a infância e hoje é motivo de orgulho nacional. Ele sem dúvidas é um grande amigo, um grande pai, marido, filho e um grande brasilei-ro”, diz Marivaldo quando pergun-tado sobre o significado de Marcos como pessoa e como profissional.

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Bauru e Springfield vão para o espaço

O astronauta Marcos Pontes. De acer-vo digital.

Episódio citado

# Homer Astronauta - 15o

episódio da 5a Temporada

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7Bauru: A Springfield Brasileira

“Os Simpsons” é uma série que tem grandes participações de artistas e pessoas famosas (como em Bauru) e o nosso rei do futebol não poderia faltar (como em Bau-ru, de novo). Apesar de não ter muito do que se orgulhar de sua aparição, já que ele é satirizado no breve momento em que apare-

Pelé, de Bauru a Springfield

Carteirinha de Pelé na Liga Bauruense de Futebol, em 1956. Do livro: Pelé - Minha vida em imagens

z z z z z z z z z

Episódio citado# Família Cartucho - 5o episódio da

9a Temporada

ce. No episódio “Família Cartucho” Pelé aparece antes de uma par-tida de futebol para fazer pro-paganda de um produto. Ele fala durante alguns segundos e logo depois um responsável pelo even-to vai lá e entrega um saco de dinheiro para ele, dando a enten-der que ele é um mercenário. Mas enfim, tirando a pia-dinha, o fato importante é que Pelé, considerado por muitos como o melhor jogador de futebol do mundo, esteve em Springfield, uma cidadezinha pequena do in-terior. E o que muita gente não sabe é que Pelé também deu uma “passadinha” por Bauru. Quer di-zer, essa “passadinha” significa que ele morou durante 12 anos nessa cidade (1944 a 1956) e ainda jogou no Bauru Atlético Clu-be (BAC) O historiador e jornalista Luciano Dias Pires, editor do Bau-ru Ilustrado (publicação mensal no Jornal da Cidade), é uma das pessoas mais consultadas sobre o jogador. Pires acompanhou a “carreira” de Pelé na cidade lan-che. Como ele mesmo diz “não é uma redundância falar que Pelé nasceu para o futebol em Bauru”. Em uma recente coletiva de imprensa em comemoração aos seus 70 anos, Pelé falou de pri-

meira sobre sua vida em Bauru, o que surpreen-deu muita gen-te, já que está é uma parte da

vida dele que não

é muito comentada pelo jogador. E ainda desmistificou o fato de que muitos achavam que ele não gostava da cidade. “Em Bauru, tinha que ven-der jornal (na época, a moleca-da vendia os jornais de São Paulo que chegavam a Bauru por trem) e amendoim para comprar uma camisa. Fazíamos jogos na esqui-na da rua 7 de setembro com a Rubens Arruda. Os meninos que moravam ali faziam os campinhos e os campeonatos. E eu me lembro, logo que cheguei em Bauru, que meu pai falou: ‘Não tem nada de começar a fazer esses joguinhos não, você vai ter de ir para a es-cola senão não vai jogar. Fui para o grupo escolar Ernesto Monte, que foi o primeiro grupo que fui estudar, no primeiro ano”, recor-dou Pelé na coletiva. Outra curiosidade de sua vida que também não é muito co-nhecida, é a origem do seu ape-lido “Pelé”, que só existe graças à essa cidade de passagens. Em Três Corações, cidade mineira em

que ele nasceu, tinha um jogador que chamavam de Bilé. Como em Bauru não conheciam Edson di-reito, então não pronunciavam o apelido certo e ao invés de “Bilé” falavam “Pelé”. “Mas um garoto me cha-mou de Pelé e fui e briguei com ele. Peguei três dias de suspen-são, chamaram meu pai e foi uma briga danada. Daí o grupo todo, todos os meninos, começaram a me chamar de Pelé, e aí não teve jeito mais de tirar o apelido. De-pois é que você vai começando a imaginar que o que acontece, às vezes, na vida da gente não tem muita explicação. E assim vem acontecendo na minha vida. Mui-tas vezes as pessoas não sabem e nem a gente sabe por que você é encaminhado para certas coisas”. Realmente, tem pequenas coisas que podem mudar comple-tamente a vida de uma pessoa. Se Edson Arantes do Nascimento não tivesse vindo morar em Bau-ru, provavelmente ele não teria se tornado o “Pelé” que nós conhece-mos, pelo menos não com o mesmo nome.

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8 Bauru: A Springfield Brasileira

No dia 13 de agosto de 1976, um trecho da avenida Na-ções Unidas explodiu de repente. De acordo com o historiador Cé-lio Losnack, o trecho afetado pela explosão atingiu do que hoje é a escola SENAC, até o Supermer-cado Paulistão. Segundo a versão oficial, um ca-minhão de combustível teria tom-bado na avenida Duque de Ca-xias, próximo ao semáforo da parte lateral da igreja Santa Rita e o combustível do caminhão teria esparramado para as ga-lerias da cidade. No parque Vi-tória Régia, há a nascente de um córrego que descia pela avenida. Esse córrego foi canalizado e foi para esses dutos soterrados que o combustível acabou escoando e resultou na formação de gases que provocaram as explosões na maior e principal avenida da ci-dade. Uma bituca de cigarro te-ria causado o estrago.Não há re-gistros de vítimas, mas o estrago foi grande. Devido à força da explo-são, tampas de concreto de buei-ros, foram jogadas a metros de

distância do seu local de origem, caindo e cravando em pé na ter-ra. O canteiro central da aveni-da, em quase toda sua extensão, ficou destruído. O acidente na Nações Unidas le-vou, de ime-diato, a ima-ginar que se tratava de um tremor de terra ou aten-tado. Isso por-que naquele dia Bauru, em plena ditadu-ra militar, re-cebia a visita do então presidente Ernesto Gei-sel, que havia passado pela Ro-drigues pouco antes, com destino a Jaú. Em Springfield, diversos presidentes já deram a honra de sua presença pela cidade mais famosa dos desenhos animados. Bill Clinton, Barack Obama, Jor-ge W. Bush, são as mais recentes aparições, sem contar os inúmeros outros presidentes mais marcantes da história norte-americana que

foram citados. Vale lembrar, que cada pessoa que se torna perso-nagem nos Simpsons, é dublada por ele mesmo, ou seja, os pró-prios presidentes dublaram a ver-são original. A diferença desses

presidentes que passaram pela cidade e de Geisel por Bauru, é que ninguém quis explodir o ca-minho por onde eles passaram. Até porque J. Kennedy foi a s sa s s i nado fora de Sprin-gfield.

TEORIA DA CONSPIRAÇÃO:

SEXTA-FEIRA 13 Esse suposto atentado te-ria sido armado na ocasião pelo MR8, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro, planejava explodir a Avenida Nações Unidas quando o comboio presidencial passasse. Houve uma série de investigações sobre o caso. Seria muita coinci-dência acontecer um acidente des-se porte, justamente quando o pre-sidente ditatorial está na cidade?

Por mais que a Arena, base gover-nista fosse maioria na cidade, os grupos de esquerda faziam certo barulho na região.

PRETEXTO PRA NASCER A NOVA NAÇÕES

A Avenida Nações Unidas, sempre foi feita aos pedaços. O então prefeito da cidade, na épo-ca da explosão da avenida, Alcides Fransiscato, conseguiu, com a ajuda do Governo Federal, o investimen-to necessário para a reconstrução e o prolongamento da avenida. O fato do acidente ter sido causado justamente quando o presidente da república passava pela cidade e as investigações feitas após aquele 13 de agosto, ajudaram na libera-ção dos recursos e a ampliação da avenida. Hoje a Avenida Nações Uni-das começa atualmente na Avenida Moussa Tobias e termina na Rodo-via Bauru-Ipauçú, com um projeto a ser executado para seu prolonga-mento: a Nações Unidas Norte, que hoje começa na confluência com a Av. Nuno de Assis, será construída no fundo de vale entre o Jardim Godoy e a Bela Vista, ligando a região central à Rodovia Bauru-Marília (Distrito Industrial III).

O dia em que Bauru Tremeu!

Um dos pontos mais controver-sos das histórias de Bauru é se o guerri-lheiro Che Guevara teria passado pela cidade sanduíche ou não. Os que afir-mam que ele deu um pulinho por aqui afirmam com toda a certeza, e os que dizem que ele nem chegou perto, tam-bém afirmam com toda a certeza. Versão 1: Ele passou, sim! O Ministro da Secretaria Na-cional de Direitos Humanos, Paulo Va-nucchi, declarou em 19 de Setembro de 2010, na OAB: Che Guevara de fato prestigiou esse solo no ano de 1966, em plena Ditadura Militar. Paulo Vanucchi conversou com um ex-soldado de Che, após uma pa-

lestra a respeito da vida do revolu-cionário. Quando perguntado sobre a trajetória secreta feita pelos dois, o ex-ordenança – como se chamavam os soldados cubanos – disse a Vanucchi que se lembrava da passagem pela cidade. De acordo com o ex-soldado, Che pegou um trem em São Paulo, ao chegar de sua missão na África, de-sembarcando em Bauru, de onde se-guiria com rumo à Bolívia, onde tinha o objetivo de estabelecer uma base guerrilheira, através da qual planeja-va unificar a América Latina.

Versão 2: Ele não passou, não! Em meados de outubro de 1966 Che estava em Cuba, já novamente dis-

farçado na figura do velho Ramón, se despediu de sua esposa Aleida, dos fi-lhos e amigos. Sentia uma tristeza. Che pegou um avião de Havana para a Europa, e somente depois de lá partiu para a Bolivia entrando via Peru. Uma base em Salta, estava sendo montada para a guerrilha. Em novembro Che já estava em terras bolivianas e no dia 2 de dezembro de 1966 Aleida recebe uma das primeiras cartas de Che envia-da pelo peruano Juan, que depois foi se juntar a guerrilha em Ñacahuasú. O Brasil como podemos ver nunca foi rota nos planos de Che, a idéia era justamente evitar rotas co-nhecidas, sem contar que uma visita ao Brasil militar e se encontrar com Ma-

riguela seria chamar muita atenção e correr riscos desnecessários. Há ainda o tempo que se levaria um percurso de trem naquela época até a Bolívia, não havia trem bala, nem uma linha direta sem paradas, é inconsistente até nesse ponto de tempo. Isso faz com que o sonho da passagem pelo revolucionário pelo Brasil e principalmente por terras bau-ruenses, vá por água abaixo. Até mes-mo a afirmação do Ministro da Secre-taria Nacional de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, em sua passagem por Bauru em julho deste ano, fica sem ar-gumentos perante os dados citados nos dizeres da ex-mulher de Che.

Diários De La Controvérsia

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9Bauru: A Springfield Brasileira

Não há como negar, que em toda cidade do mundo, existe algu-ma “casa do prazer”, “prostíbulo”, “Casa de Borlesco”. Claro que em Bauru não seria diferente. Porém, o que chama a atenção é que não é apenas uma casa para tais feitos. Bauru teve nada mais, nada menos que o Grande Bordel brasileiro.

A dona do recinto, Eny Ce-sarino, era filha dos imigrantes José Cesarino, italiano, e de Angelina Bassoti Cesarino, francesa. Nasceu em 1916 no bairro da Aclimação em São Paulo, morou em Uruguaia-na e, aos 23 anos, em 1940, tra-balhou como inquilina de Nair, na Pensão Imperial. Passou a gerente, arrendou e finalmente comprou o “ponto” e a casa da antiga zona de meretrício, na rua Rio Branco 5-50, esquina com a Costa Ribeiro, em Bauru-SP, tendo logo se destacado dos demais lugares do ramo, pela sofisticação e luxo que seu bordel oferecia. A Springfield brasileira ti-nha, assim como a da animação, uma casa muito luxuosa. Os servi-ços mais destacados eram a quali-dade das mulheres, o sigilo e dis-crição garantidos pela proprietária. Na verdade, sua marca registrada. Vinham as lindas moças de toda a parte, recrutadas até do Paraguai, Argentina e Uruguai. Eny investia nelas: adiantava-lhes dinheiro para

roupas finas, jóias caras e salões de beleza. Tudo do bom e do me-lhor para a clientela constituída por gente muito rica, famosa, políticos e afins. Segundo se diz, passaram pelos aposentos da Eny, dois terços de todas as assembléias legislativas do Estado de São Paulo nos últimos anos, muitos governadores de Esta-do e prefeitos da região, boa parte dos grandes plantadores de cana e os filhos deles e pelo menos um Pre-sidente da República. Na memória de quem trabalhou lá, como garçons e novas donas de bordéis locais, ini-ciadas por Eny, são citados nomes de personalidades como Chico Aní-sio, Juca Chaves, Clodovil, Roberto Carlos, Vinicius de Morais, Jô Soa-res, Laudo Natel, Paulo Maluf, José Sarney, Orestes Quércia, para citar os mais conhecidos. O fato é que a Casa de Eny era usada como “centro de conven-ções” do estado, muito antes de te-rem sido criados os primeiros deles. Bauru já era o lugar escolhido para fechamento de grandes acordos de empresas e indústrias de porte. Ao menos é o que noticiava a imprensa local inúmeras vezes. As comemora-ções de grandes negócios na Casa da Eny, tinham que ser fechadas com chave de ouro. A Bardahl e a Dedini promoviam no Bordel suas conven-ções de final-de-ano para diretores e representantes, além das reuniões para os delegados das convenções políticas, no período da ditadura militar. O bordel de Springfield tam-bém tinha a visita de várias perso-nagens da cidade. Desde o faxinei-ro da escola, o Diretor da escola, a irmã da Marge, homens casados e até o prefeito, que de forma al-guma, queria impedir que mani-festantes demolissem e acabassem com a casa de burlesco da cidade. Uma situação parecida aconteceu no grande bordel brasileiro. Nicola Avallone Junior, ex-prefeito de Bau-ru, conta que delegado de polícia, querendo agradar o Jânio Quadros,

o grande derrotado nas eleições pelo colégio eleitoral bauruense, fechou a Casa da Eny. O fechamen-to durou três horas. Avallone reabriu com a presença do Juiz Otávio Stu-chi, uma personalidade fantástica. Foi feito um comício em prol da Eny e foi provado ao Juiz que a gran-de meretriz era um elemento agre-gador e não desagregador para a cidade. Só faltou a música cantada por Homer Simpson para o real ser totalmente imitado pela comédia norte-americana. Eny Sarino, como também era conhecida, foi muito mais que uma meretriz. Ela teve tanta visão que transformou-se na Dama da Caridade. Queriam tirar a zona da 5-50 da rua Rio Branco, porque ficava a 50 metros do cinema, na área central. A prefeitura ajudou a transferência do bordel para a ro-dovia Bauru-Ipaussu. Quem decidiu o local foi o próprio Nicola Avallo-ne. Ela financiava escolas, creche, entidades de freiras. Uma mulher fantástica, de marcante presença na vida fraterna de Bauru. O maior e mais luxuoso bor-del do Brasil e provavelmente da América Latina, tinha 5.000 m² de área construída, distribuídos em 12 conjuntos, 7.000 m² de jardins e alamedas floridas, protegidas por muros, com a maior piscina particu-lar da cidade, sauna, restaurante e lanchonete, além dos 40 quartos e suítes, com cama redonda e poltro-nas Luís XV, e uma suíte presidencial, com entrada privativa. A pista de dança, ao ar livre, tinha formato de violão, cujo “braço” era a entrada para a churrascaria. Tal pista reme-tia à imagem do corpo das mulheres que ali estavam: Corpo Violão, com a cinturinha bem fina, com bustos e coxas que levavam os homens de vá-rias partes do país à loucura. Tudo de uma beleza e requinte inconcebí-veis para um bordel, em 1963 (anos antes do La Licorne, um dos maiores bordeis do Brasil, na rua Maria An-tônia, na capital).

Por duas décadas (1963 – 1983), o Casarão teve sua fase áurea situa-do junto ao trevo rodoviário que liga as rodovias Mal. Rondon, Cte. João Ribeiro de Barros e Eng. João Batis-ta Cabral Rennó – hoje oficialmente denominado Trevo da Eny. Quando comprado por Nicola Avallone, o local estava abandonado. Era um posto de gasolina. A Casa da Eny foi uma refe-rência na cidade, quase tão famosa quanto o lanche. Até poucos anos atrás, no tempo dos viajantes, era só falar de Bauru, que a sacanagem era logo pensada. Esse pensamento se deve justamente a ela. O interes-sante é que Eny traz para a memó-ria dos cidadãos bauruenses que vi-veram aquela época, uma saudade diferente. Podemos afirmar que Eny nos faz ter a saudade do pecado.

Eny e a “Casa de Borlesco”

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Eny. Imagem retirada do livro.

Episódio citado

# Bart Trabalha à Noite - 5o

episódio da 18a Temporada

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Tudo em nome de um raio

O dia nasceu e em Springfield e nem o girassol agüenta o calor. Sabe aquela sensação de estar gru-dando de tão quente? A maioria dos bauruenses sabe bem como é isso. Al-tas temperaturas durante o dia e até a noite. Nos Simpsons, por conta da onda de calor, a cidade inteira está vivendo a base do ar-condicionado, sobrecarregando o sistema elétrico. Mesmo estando na capacidade má-xima, o prefeito, Mrs. Burns, garante que a usina nuclear consegue supor-tar a grande demanda. Sem ar con-dicionado em casa, Homer decide ligar seu papai-noel que canta para que eles tenham um gostinho do in-verno. É só colocar o papai-noel na tomada que pronto: Homer causa um blecaute em toda a Springfield. É as-sim que começa “Tudo em Nome da Lei” (Papa’s Got a Brand New Bad-ge) episódio 17 da 13ª temporada. Em 1999, Bauru ficou conhe-

De repente, tudo escuro. De novo? Será que é só minha casa ou a cidade inteira? Ao olhar para as ruas, tudo apagado também. Ligo para o prefeito, mas ele diz saber apenas que a falta de luz é em todo o país. Corta. Cena 1: País sem energia, hospital sem energia. Aparelhos ligados à pa-cientes param de funcionar, médi-cos e enfermeiras não sabem o que fazer enquanto parentes andam pelos corredores tentando enten-der o que está acontecendo. Cena 2: Cadê o gerador? Dinheiro exis-tiu, mas local para instalação está às moscas. Cena 3: uma emissora

de tv é que empresta um pequeno gerador para que ninguém tenha que ser transferido para outro lu-gar. E pra completar: os pacientes são bebês, já que o hospital é uma maternidade. Uma maternidade, sem ge-rador? Coisa de Springfiel, Os Simpsons adoram exagerar em tudo. Springfield, só se for a brasi-leira: todas as cenas acima aconte-ceram em 2009, em Bauru. Dez anos depois de um dos maiores blecautes da história do Brasil, onde Bauru foi apontado como ‘culpado’, a falta de luz vol-tou a assombrar as autoridades

gunda vez, raios foram apontados como os culpados. A cidade esco-lhida dessa vez como culpada foi a pequena Itaberá, também no inte-rior de São Paulo, mas nem por isso Bauru ficou de fora dos noticiários. Seis bebês estavam interna-dos na UTI da Maternidade Santa Isabel - única da cidade e referên-cia na região- quando aconteceu o blecaute, por volta das 22h. Sem gerador, o prédio ficou às escuras por cerca de 40 minutos e a equipe médica teve que agir rapidamente para salvar os bebês que precisa-vam de ajuda para respirar. Sem saber quando a energia voltaria, e nervoso com a situação que não pa-recia ter solução, Sérgio Henrique Antônio, diretor clínico e técnico da maternidade, conseguiu entrar em contato com a rede afiliada à rede Globo, a TV Tem, e pediu ajuda. “Nunca passei por uma situação

Curiosidades

cida por ter sido a última a usar a tomada - e causar um dos maiores blecautes da história do Brasil. Até agora ninguém sabe exatamente o que foi ligado – e quem foi o Hom-mer da vez – para deixar o país inteiro às escuras. Apesar do forte calor característico de Bauru e do período de seca que o país inteiro se encontrava, não foi o uso dos ares-condicionados que causou o grande apagão. E mesmo assim, na época, colocaram a culpa no clima – mas ao contrário, em uma tempestade de

raios. O blecaute aconteceu no dia 11 de novembro, por volta das 22h; 31 milhões de pessoas ficaram sem luz por até quatro horas; semáfaros pararam de funcionar, trazendo caos no trânsito das principais capitais; trens e metrôs ficaram paralisados, deixando presos seus passageiros, emissoras de rádio e TV saíram do ar. Depois do apagão, o gover-no brasileiro começou a buscar res-postas para o que tinha acontecido. Foi aí que surgiu a versão onde o cul-pado era uma tempestade de raios, que atingiu uma subestação da Com-panhia Energética de São Paulo, em Bauru. Desculpa essa que se mostrou tão improvável como algumas histó-rias de Springfield. “A chance de um raio provocar um apagão é de uma em um milhão. Como não havia uma rede de monitoramento estabelecida

na época, demorou dois meses para provar que a tempestade não ocor-reu”. Explica Osmar Pinto Júnior, co-ordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O Ministério das Minas e Ener-gia acabou admitindo que havia re-dução dos níveis de segurança e dos padrões de serviço de manutenção. Bem à cara de Springfield, houve até rumores que faltavam peças para re-posição. A situação foi agravada por um longo período de escassez de chu-vas que derrubou o nível dos reser-vatórios dos quais depende a matriz hidrelétrica do país. Bauru ficou conhecida no país inteiro como a cidade do raio, e mui-ta gente ainda acredita que ele foi o Homer da história– ou o culpado por tudo que aconteceu onze anos atrás. Mas a relação da cidade com a ener-gia (ou a falta dela), assim como em Springfield, não para por aí.

Quando a luz acaba, Moe, dono do bar, diz “Eu vou perder FOX Celebrity Boxing!”, que é um programa exibido no mesmo horário dos Simpsons. No Brasil, a Rede Globo teve que exibir dois episódios seguidos da série “Chi-quinha Gonzaga”, que estava nos ca-pítulos finais.

Mais um Apagão,Mais uma Manchete

da cidade - e de todo o país. Cer-ca de 40% do território brasileiro foi afetado no apagão do dia 10 de novembro de 2009, e pela se-

Curiosidades

No episódio O Conto de duas Springfields, da 12ª temporada dos Simpsons, Hommer desliga a ener-gia elétrica de metade da cidade. O hospital, também sem gerador, fica sem luz no meio de uma cirurgia. Na cena, há o diálogo:Enfermeira: Oh, não! Você não pode fazer uma cirurgia de coração no es-curo

(Doutor) Hibbert: Soa como um desa-fio para mimKrusty (na mesa de cirurgia) : Eu gos-taria de um pedaço disso!

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Bauru: A Springfield Brasileira 11

Imagine você passeando com seu carro, num dia ensola-rado, os passarinhos cantando, sua esposa grávida do seu lado cantando Lady Gaga. Quando de repente, “ploft”, seu veícu-lo cai dentro de uma cratera no meio da rua. Sim isso aconteceu de verdade em Bauru (tirando a parte da Lady Gaga).

O casal disse que o buraco foi abrindo enquanto o carro pas-sava por cima, a profundidade chegou a passar de 1 metro. O provável motivo da abertura teria sido o rompimento da tubulação. Mas a verdadeira “simpsada” foi quando o DAE (Departamento de Água e Esgoto) apareceu no lo-cal para verificar a situação, mas

o veículo do departamento tam-bém caiu no buraco. Um guincho teve que tirar os dois automóveis de lá. Os bauruenses já estão cansados de saber que o asfal-to da cidade é um dos piores do estado de São Paulo, mas não é o único lugar do mundo com esse problema. Sim, Springfield também é uma “buracolândia”, e a semelhança não poderia ser mais surpreendente. No episódio “Marge contra o monotrilho”, em uma das cenas aparece a aveni-da principal completamente es-buracada, e um dos carros cai dentro de uma das crateras. Acontece que o Simpsons é um desenho satírico e para fa-zer humor exagera a maior par-

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tão difícil”, disse na tarde de ontem, ainda sem dormir. “Tive que ter bastante lucidez para não provocar pânico nas outras pessoas”, disse, na épocam, em entrevista ao Jornal BOM DIA. Com ajuda dos técnicos da emissora, um pequeno ge-rador foi emprestado para que os aparelhos da UTI voltassem a funcionar. Mesmo assim, qua-tro bebês - um de dois anos, um de um ano e sete meses e dois récem-nascidos - foram transfe-ridos para o Hospital de Base, próximo a região - e com gera-dor. Âmbulancias do Samu foram usadas para levar os pacientes, berços e camas. Apenas uma criança de 20 dias ficou no local, pois seu estado era grave. Sem qualquer equipamen-te, enfermeiras pediam lanternas

para os jornalistas da emissora que estavam no local, enquanto médicos iluminavam os corredo-res do hospital com celulares.E o gerador? Segundo o diretor clínico, Sérgio Henrique, o pedido da compra de um gerador já ha-via sido feita dois anos antes do apagão, mas a resposta obtida pela Associação Hospitalar de Bauru era que não havia local adequado para a instalação do aparelho. Foi necessário a doação de um gerador pelo empresário Jad Zogheib, do Grupo Confian-ça para que a maternidade ob-tivesse o aparelho. O grupo se comprometeu a instalar o equi-pamento, mesmo sendo preciso uma reforma no prédio para isso.

Investigações Na época do apagão, a maternidade já estava sob de-núncias de desvio de verba. O Ministério Público entrou com in-vestigação para apurar a falta de gerador, o que resultou em cerca de seis pessoas presas e uma nova diretoria para a As-sociação Hospitalar de Bauru. Mais de um ano depois, ape-sar das prisões, ainda não há uma denuncia formalizada no Ministério Público. Estima-se que foi desviado 16 milhões de reais, e que, atualmente, a dívida da AHB supera os 150 milhões. Além da mater-nidade, o Hospital de Base, um dos principais de Bauru, também está envolvido nos escândalos de desvio de verbas.

Problema de outro mundo?Não é de hoje que

a cidade tem ‘dificuldades’ relacionadas à energia elétrica. Segundo Sociedade Brasileira de Estudos de Discos Voa-dores, em 1968, o recém-contratado funcionário da Companhia Elétrica do Estado de São Paulo, Daildo de Oli-veira, encontrou em seu escritório, na sub-estação de Bauru, três seres estra-nhos, que seriam extraterrestres. Os ETs atacaram o funcionário e diziam palavras desconhecidas; depois, fugi-ram em uma aeronave, que segundo o relato, pareça um furgão – mas que voava. Autoridades militares exami-naram o local, e encontraram apenas marcas estranhas de mãos em um dos arquivos do local. Daildo de Olivei-ra foi entrevistado pela Aeronáutica, pelo Repórter ESSO da TV Canal 4, de São Paulo, e por vários jornais do país.

Bauraco

Episódios citados(PAGS. 10 E 11)

# Tudo em Nome da Lei” - 17o episódio da 13a Temporada.

# Um conto de Duas Springfields - 2o episódio da 12a Temporada.

# Marge Contra o Monotrilho - 12o episódio da 4a TemporadaCarro caído em cratera de Bauru Veículo caindo em cratera de Springfield

te das situações. Ou seja, o que os roteiristas usaram como uma circunstância absurda e extre-ma, ocorreu de verdade em Bau-ru. Ponto para a Cidade Lanche. Até o grupo A-Ha ficou admira-do com nossos buracos, e tiraram uma foto ao lado de um deles como recordação em sua visita à cidade.

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12 Bauru: A Springfield Brasileira

A cidade de Springfield tem entre seus vários personagens politi-camente incorretos um que os repre-senta da forma mais literal possível: um político completamente incorreto. O prefeito Joe Quimby é Democrata e conhecido por ser corrupto e po-pulista. Existem muitos episódios em que ele aparece, e sempre fazendo algo ilegal, como se apropriar dos impostos ou aceitar propina. Em um deles ele chega até a admitir que usa o dinheiro da cidade para pa-gar os assassinos de seus inimigos. Mas o episódio em que mais mostra as ações ilegais do prefeito é “Homer, o guarda-costas”. Nele, Homer se torna segurança de Quim-by, e por isso presencia vários atos de corrupção. Em uma cena eles vão para o bar do Moe, que os atende super bem, e serve diversas bebi-das de graça para eles, quando o

Prefeito de um, focinho de outro

CuriosidadesApós a cena o balcão, Homer está em casa contando para família que depois do bar eles passaram na lanchonete do Krusty e o prefeito saiu com “mais uns trocados”, ele ainda diz que pediu um sanduíche duplo, e eles deram um quádruplo. Ele termina falando que o Apu, dono da mercearia, também deu uns trocados pro prefeito. Bart: “Pai, você não entende o que está acontecendo?” Lisa: “Esses trocados são propinas!” Homer: “oh, querida, não seja tão ingênua! É assim que o mundo funciona! É claro que o prefeito aceita algumas propinas, mas ele ‘faz os trens andarem no horário’, ora bolas.” Lisa: “Não senhor, está enganado! Os trens são fiscalizados pelo departa-mento federal de transportes, e estudos recentes mostram que...” Homer usa sua técnica que aprendeu na escola de guarda-costas para pa-ralisar Lisa.

prefeito diz: “Sua generosidade é enormemente apreciada em espe-cial durante a época de inspeção sanitária”. Moe entende a indireta e paga propina para que ele não faça a inspeção. Ironicamente, neste momento, aparece um monte de ba-ratas em cima do balcão. Mas o desfecho da história acontece quando o prefeito está negociando com Tony Gordo (o ‘po-deroso chefão’ da cidade), e na fala mostra que ele concedeu o di-reito de fornecer leite para a escola de Springfield aos mafiosos. Homer acaba descobrindo que o leite é de rata, fica em choque e sai gritan-do isso por onde passa. O prefeito diz: “Ratas? Mas que trapaça! Você prometeu que seria de cachorro”. E o que isso tem a ver com Bauru? Tudo! A cidade também teve um prefeito com muitas provas de corrupção, e que chegou até a ser preso por isso. Izzo Filho cumpriu 5 anos de prisão (de 1999 a 2004) pela acusação de ter desviado ver-ba federal na aplicação de recursos em infra-estrutura dos lotes urbani-zados e aceitar propina da empre-sa de transporte público municipal. Em novembro de 2005 a Jus-tiça determinou a volta dele à pri-são após a condenação pelos aten-tados a bomba contra vereadores.

Por esse crime, Izzo recebeu pena de 8 anos e 10 meses. Desde 2009 que ele está solto em condicional. Tudo começou logo em que Izzo foi eleito, em 1997, e prome-teu um aumento de salário de até 46% para 75% dos servidores pú-blicos. Essa notícia saiu em vários jornais, foi muito discutida e causou muita euforia para esses trabalha-dores. Porém o que se concretizou foi o oposto. Por assumir o cargo após um governo bastante endivi-dado, ele usou isso como desculpa para atrasar o pagamento do sa-lário dos servidores. Como sua po-pularidade era grande na época, a população ainda aceitou bem no começo. O problema é que a cada mês que se passava, a prefeitura atrasava ainda mais para fazer o pagamento. Até que chegou a um ponto em que esses servidores não receberam o seu salário. O que o governo alegava é que não tinha dinheiro para fazer os pagamentos, mas para outras dívi-das, que deveriam ser secundárias ele tinha. Como no caso da Coesa Empreiteira, que foi o que levou à sua primeira cassação. Essa empre-sa surgiu “do nada” cobrando uma dívida milionária que, segundo ela, a prefeitura devia desde o primeiro mandato de Izzo, que foi de 1989 a 1992. Isso fez com que algu-mas pessoas começassem a se per-guntar o porquê dessa empreiteira aparecer cobrando essa dívida de-pois de tantos anos e exatamente no governo do mesmo prefeito. E uma dessas pessoas foi Sandro Fer-nandes, que na época tinha acaba-do de ser eleito diretor do Sinserm (Sindicado dos Servidores Públicos Municipais de Bauru). Sandro, que é advogado, foi até o Fórum Municipal para tentar descobrir o que estava acontecendo na reali-dade. E qual não foi sua surpresa ao desarquivar o acordo feito entre o prefeito Izzo Filho e a empreiteira

Coesa. O prefeito havia feito uma alegação oficial dizendo que devia R$1,8 milhões para a Coesa, mas a empresa não aceitou, alegando na verdade que eram R$4,5 milhões. E nesse acordo constava que os dois chegaram ao valor intermediário de R$2,5 milhões que deveria ser pago em 4 parcelas. Toda essa his-tória já era suspeita, primeiro pela demora da cobrança, segundo pela prefeitura aceitar pagar mais do que ela achava que devia, e tercei-ro, o mais estranho de tudo, é que as 4 parcelas eram no mesmo mês. Esse ocorrido foi o que levou ao seu primeiro pedido de cassação. Mas ele ainda se livrou dessa. Porém, logo depois Izzo sofreu a acusação de participar de um esquema de co-brança de propina da empresa que cuidava do transporte coletivo na época. O Ministério Público apon-tou que as empresárias Carmem Quággio Bresolim e Nerle Quággio Bresolim eram obrigadas a pagar propina mensal, sob a ameaça de não serem liberados os valores ob-tidos com a venda de passes. Eram ameaçadas ainda com a perda da permissão para o transporte coleti-vo. De acordo com o MP, o esquema teria obtido indevidamente cerca de R$ 2,3 milhões. A empresa de transporte coletivo acabou falindo. O segundo mandado de prisão foi feito também por Sandro Fernan-des, do Sinserm, que acabou forta-lecendo o sindicato dos servidores e praticamente dobrou o número de filiados após essas ações. Tudo isso significa que além de tudo Bauru está a frente de Springfield, porque conseguiu uma peculiaridade: punir os atos ilegais de um político.

Episódio citado# Homer, o guarda-costa - 9o episódio da 10a Temporada

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Bauru: A Springfield Brasileira 13

A madrugada estava muito quente em Bauru, especialmente na famosa Casa da Eny. O homenagea-do da noite era o recém-chegado do espaço, Marcos Pontes. Com seus ca-belos grisalhos e seu sorriso carismáti-co, Pontes estava sentado em um longo e luxuosos estofado, sob a luz aver-melhada das luminárias de parede. Aquela era uma noite especial, muitos convidados ainda estavam por che-gar. As luzes coloridas que piscavam sem parar faziam os movimentos das dançarinas parecerem quase surreais. Longos balcões de bebidas serpea-vam as extremidades do salão, onde uma variedade incrível de bebidas era servida. Lindas mulheres desfila-vam por todos os lados. Suas curvas sob as roupas elegantes hipnotizavam e suas joias brilhavam altivas. Marcos deixou a companhia de seus amigos e fãs e resolveu sair, pela primeira vez na noite, daquele sofá. Já estava particularmente can-sado das fotos e autógrafos. Preci-sava encontrar seus convidados mais importantes. Como eles podiam ter se atrasado tanto? O motivo começava a preocupá-lo. Ele se infiltrou na massa de gente, se sentindo contagiado pelo ritmo da música. Quando chegou à ou-tra extremidade do salão, sentou em um dos banquinhos estofados e pediu uma bebida. – Lugar improvável, Puentes – uma voz carregada pelo sotaque es-panhol o fez olhar para o ocupante do banco ao lado. Um homem de traços marcantes, barba por fazer e cabelos crescidos o observava. Sua expressão parecia ser natural e permanentemente intrigada. Marcos via nele uma semelhança que sua memória não conseguia recupe-rar. O estranho ergueu as sobrance-lhas, tomou sua dose em um único gole e depois sorriu, voltando a observar Marcos. – Bela noite – comentou – Pena que estou apenas de passagem. – Para onde está indo? – per-guntou Marcos. Uma ânimo um tanto quanto maroto tomou seu rosto. Ele limpou o suor da testa e se levantou. – Sólo Dios sabe, mi amigo – disse erguendo as palmas das mãos –

Algum lugar não tão longe quanto o espaço. Antes que Marcos pudesse dizer algo, o homem deu uma piscadela e virou as costas, desaparecendo em meio à massa de pessoas. O astronauta riu e um insight inundou sua mente. A seme-lhança era realmente incrível. O ho-mem que deixara o balcão há pou-co poderia ser irmão ou filho de Che Guevara. – ELES FORAM POR ALÍ! – o gri-to fez Marcos sair sobressaltado de sua reflexão. Policiais invadiam o salão e se infiltravam entre os convidados. As pessoas continuavam dançando e rin-do, embaladas pela bebida. Mas que diabos estaria acontecendo? – O que está havendo, você sabe? – perguntou Marcos confuso, para a bela moça que estava atrás do balcão. – A Eny autorizou a entrada dos policiais. Parece que uns trombadinhas invadiram a festa... Ouvi algo sobre eles terem roubado um tal de Bauru-zinho. Você sabe o que é isso? – ela parecia mais confusa do que o próprio Marcos. Com uma pontada de preocupação, ele deixou o balcão. Seu celular to-cou. – Oi, Marcos? Aqui é o Maurí-cio. – O que aconteceu, vocês se perderam no caminho? – perguntou Marcos rindo. – Cara, você não vai acreditar. Um caminhão de combustível tombou e a Nações Unidas explodiu. O corpo de bombeiros está cercando toda a região. – A Nações explodida? Cara, isso é inacreditável... Mas não tem como você chegar aqui? Todos estão esperando, eu disse que Maurício de Sousa estaria aqui. – Na verdade, já estou no ca-minho para casa. O Pelé também não vai consegui chegar. Parece que o car-ro dele caiu em um buraco causado pela tempestade de ontem... Acredite se quiser amigo... – Como assim? O carro foi en-golido por um... buraco? Mas ele se feriu? Como está? – agora o pânico realmente começava a tomar conta

dele. – Não, não... Está tudo bem. Ele deve estar no num helicóptero para São Paulo agora. – Tudo bem. Me ligue se souber de algo... A gente se vê em outra oca-sião então. – Ok. Desculpe Marcos, eu real-mente sinto muito. Até mais. Ótimo. Lá estavam seus dois principais convidados, apanhados pe-los excêntricos acasos de Bauru. Em pensar que seria tão interessante reu-nir naquela noite seus dois amigos que como ele, haviam começado suas car-reiras naquela singular cidade... Marcos olhou para o outro lado do salão e viu que os policiais haviam apreendido os quatro jovens que pro-curavam. A festa corria ainda mais animada, como se a normalidade nun-ca tivesse sido sequer ameaçada. No momento em que Marcos pensou em sair para ir embora – Com medo de que mais alguma coisa desse errado naquela noite – o palco acendeu e a música cessou. Todos se viraram curio-sos. Eny apareceu com um microfone, extremamente bela e elegante. – Nessa noite, estamos reunidos por um motivo especial – começou com um sorriso cordial – É uma honra ter como convidado o primeiro astronauta desse país, Marcos Pontes. No momento seguinte, todos se viraram para a direção onde Marcos estava, ainda fazendo menção de sair. Os policiais do outro lado também pa-reciam interessados nele. Marcos sor-riu e acenou quando um foco de luz atingiu seu rosto. – E para demonstrar o tamanho de nossa honra, preparamos algo para você, Marcos – disse Eny olhando para o fundo do palco, onde, no segundo seguinte, letras enormes se acenderam em letras de néon, formando a frase “Bauru tem orgulho de seu filho Mar-cos Pontes”. Nesse instante, as luzes de todo o salão piscaram e apagaram, fazen-do tudo mergulhar na escuridão. Um falatório se seguiu e Marcos ouviu os policiais gritarem que os jovens apre-endidos haviam fugido. Um apagão. Era tudo o que faltava para comple-tar a noite. Marcos riu interiormente. Bauru continuava a mesma.

Crônica: Uma Noite em BauruDezembro/2010

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14 Bauru: A Springfield Brasileira

“Bom, esse quadro realmente mostra aquilo que parece ser.”*

+Mais Curiosidades

Confira os acontecimentos à La Springfield

mais marcantes que Bauru revelou

nos últimos anos

Já imaginou Bauru como a capital do Estado de São Paulo? Pois é, alguns políticos já. Paulo Maluf, nos anos 80, sugeriu a mudança da Capital para a re-gião central do Estado, mais para Oeste, para con-trabalancear e homogeneizar a população, criando assim um novo pólo de desenvolvimento na região. Foi então que surgiu os boatos que Bauru seria a ci-dade perfeita para abrigar a capital, por estar no centro do Estado, e ter vis de aceso rápidas a outras cidades importantes, como Riberão Preto, Presidente Prudente, Campinas e mesmo São Paulo. O assunto voltou em 2008, com o Deputado Gilson De Souza, mas não foi pra frente. Outras cidades cotadas como possíveis capitais foram Pirassununga e Santos.

1

2Bauru agrega o maior campus da Universidade Estadual Paulista , com 19 cursos e mais de 6 mil estudantes. Diferente o que aconteceu com os outros campus, a Unesp em Bauru foi criada a partir da estatização de uma instituição de ensino privado, a Universidade de Bauru. O que talvez “explique” a falta de um Restaurante Uni-versitário e Moradia para os alunos – obras que são prometidas e reivindicadas há décadas.

3Dança do Quadrado: Criada no primeiro Inte-rUnesp (jogos universitários que reúnem todos os campus da universidade durante quatro dias) por alunos de Bauru, virou tradição nos jogos, e a idéia acabou se tornando sucesso no país in-teiro quando foi gravada pela cantora Sharon, no carnaval de 2008.

Construído em 1978, um dos “pontos turísticos” de Bauru pode ser encontrado em frente à ou-tra grande universidade da cidade: uma répli-ca da Torre Eiffel, do Instituto Toledo de Ensino, a ITE. Segundo os fundadores da universidade, a réplica representa os valores da Revolução Francesa, liberdade, igualdade e fraternida-de.

4Francisco de Assis Pereira, o Maníaco do Parque, passou por Bauru em 1995, como professor de patinação. Segundo a Revista Época divulgou (edição 13, de 17/08/1998), Francisco recebeu uma quei-xa na delegacia da cidade após tomar os patins de Jonas Moreira para entregá-los a um de seus alunos, que havia tido o ape-trecho roubado. 5

*Sábia frase proferida por Hommer J. Simpsons.

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Bauru: A Springfield Brasileira 15

Além de Pelé, Mônica e Marcos Pontes, Bauru foi berço de outras personalidades conhecidas em todo o Brasil. Não sabe quem? Dá uma olhada:• Palmirinha Onofre – sim, a querida vovó da televisão brasileira nasceu em 1931, e ficou em Bauru até os anos 40, quando mudou para São Paulo.• Edson Celulari também nasceu aqui, em 1958, e se mudou aos 16 anos, para estudar na USP, aos dezesseis anos.• O jornalista Luiz Carlos Azanha, atualmente na Rede Record. Foi o primeiro repórter estrangeiro a fazer uma entrevista improvisada com um líder soviético, ao conversar com Mikhail Gorbatchev, no Kremlin, em 1988.• Toninho Guerreiro. Jogador de futebol começou sua carreira no Noroeste, e fez história no São Paulo e Santos. Centro-avante foi um dos parceiros de mais sucesso do Pelé.• Ozires Silva , oficial da Aeronáutica e engenheiro formado pela ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica). Ajudou na criação do grupo Embraer, foi presidente da Petrobrás até 1989 e da Varig, por três anos.• Antônio Carlos Barbosa, dirigiu a seleção brasileira feminina de basquete por oito anos, conquistando o bronze nas Olimpíadas de 2000.• Luiz Edmundo Carrijo Coube. Foi prefeito de Bauru, e filho do fundador da Tilibra – que está na cidade até hoje. 6

No aeroclube de Bauru encontra-se o maior cen-tro de vôo a vela do Brasil, com o maior número e variedade de planadores do país. Nesse esporte, Bauru ocupa atualmente a liderança do ranking nacional. O atual campeão nacional da modali-dade é o bauruense Henrique Navarro.

A cidade quase foi responsável pelo fim da banda de rap Ra-cionais MCs. Em 2005, um jovem foi assassinado em um show da banda em Bauru; após uma cena aterrorizante, o vocalista Mano Brown decidiu acabar com o con-junto – e depois, em conversa com o restante do grupo, voltou atrás.

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Bauru é sede nacional e sul-americana do Templo Tenrikyo, reli-gião de origem japo-nesa.

9Lembra da propaganda em que um homem tentava com-prar passagens para um vôo em Bauru, mas o sistema não identificava a cidade? Na épo-ca, o aeroporto de Bauru era o único que não tinha nenhuma companhia aérea funcionan-do. Atualmente, a cidade conta com três linhas.

A banda A-HA também anunciou a última turnê de sua carreira, e o primeiro show no Brasil foi em Bauru, no Shopping Alameda Quality Cen-ter.

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