banner conecte
DESCRIPTION
Banner Apresentado no CONCTE 2013TRANSCRIPT
Desde a implementação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia nas
terras do Recôncavo, especificamente nas cidades de Amargosa, Cachoeira, Cruz das
Almas, Santo Antônio de Jesus e mais recentemente nas cidades de Feira de Santana
e Santo Amaro, que os jovens de origem popular, oriundos das zonas rurais, bairros
periféricos e pequenas cidades do interior vêm contrariando com a lógica
meritocrática e excludente da educação e assim rompendo com a frequente tradição
de uma escolaridade de pouca duração e obtendo trajetórias de êxito escolar. A renda
per capita da família, a escolaridade dos pais, o trabalho na infância e na juventude, a
má qualidade da educação básica e a baixa quantidade de vagas nas instituições de
ensino superior sempre foram às principais variáveis que implicavam no processo de
escolarização desses jovens oriundos de classes populares e consequentemente
contribuía para que uma grande maioria de brasileiros fossem excluídos do sistema de
ensino superior. Entretanto, nos últimos anos, o Brasil vem passando por uma série de
transformações naquilo que tange as formas de ingresso nas universidades públicas e
as políticas de meritocracia escolar. A interiorização das universidades federais, a
expansão e democratização da educação superior, e as políticas desenvolvidas pelo
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades
Federais, o REUNI, estão mudando a cara da universidade publica, e contribuindo
para o acesso desses estudantes ao ensino superior.
Diante do exposto, esse trabalho objetiva realizar uma reflexão teórica, baseada na
literatura nacional e na análise das autobiografias de 20 estudantes de origem
popular, membros do Programa de Educação Tutorial, PET Conexões de Saberes da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, publicadas no livro
“Currículo, Formação e Universidade: autobiografias, permanência e êxito acadêmico
de estudantes de origem popular”, no intuito de compreender de que forma, esses
estudantes oriundos do interior, das favelas, das margens e entornos do Recôncavo e
interior da Bahia, acessaram o ensino superior e trilharam a sua permanência na UFRB.
Com isso, pretende-se identificar os impactos das políticas de inclusão e afiliação na
excelência da vida acadêmica desses estudantes, criando um diálogo analítico entre a
auto-definição e a cidade de origem, compreendendo melhor o perfil
socioeconômico, geográfico e racial desses estudantes, para assim depreender como se
deu/se dá a sua trajetória na universidade.
Nas auto-biografias dos estudantes que analisamos, podemos perceber que
a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, caminha para a valorização
daquilo que eles são e do lugar que eles vêem. Por está situada no Recôncavo da
Bahia, a UFRB, assim como as outras instituições de ensino, sejam elas da
educação básica ou de ensino superior, não pode simplesmente ocupar o
Recôncavo, ela tem que ser do Recôncavo e incorporar em suas atividades de
ensino, pesquisa e extensão a história, a cultura, as tradições e saberes do
Recôncavo e do seu povo. A universidade não pode apenas ocupar o espaço
físico dessas cidades e dessa região, ela precisa vincular-se às histórias, aos
saberes edificados nessas terras, e levá-los para dentro das salas de aulas, assim
como, levar as salas de aulas para os espaços onde esses saberes foram
construídos e constituídos. Por fim, acreditamos que as autobiografias colocam
os sujeitos no centro da construção do conhecimento, suas
práticas, fazeres, carreiras, condutas, experiências e subjetividades
possibilitaram-nos interpretar e compreender as políticas de
inclusão, permanência e afiliação acadêmica da Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia.
COULON, Alain. Condição de Estudante: A Entrada na vida
Universitária. Salvador: EDUFUBA, 2008, pp. 31-46.
NASCIMENTO, Cláudio Orlando Costa do. JESUS, Rita de Cássia Dias
Pereira de. Currículo e Formação: diversidade e educação das relações étnico-
raciais. Curitiba: Progressiva, 2010, 338pgs.
ROMERO, Tania Regina de Souza. Autobiografias na (re)construção de
identidades de professores de línguas: o olhar crítico-reflexivo. Campinas, SP:
Pontes, 2010. 348p. (Colecao Novas Perspectivas em Linguistica Aplicada).
ZAGO, Nadir. Do acesso à permanência no ensino superior: percursos de
estudantes universitários de camadas populares. Revista Brasileira de
Educação, V. 11, Nº 32, 2006.
BUENO, Belmira Oliveira. O método autobiográfico e os estudos com
histórias de vida de professores: a questão da subjetividade. Revista Educação e
Pesquisa, São Paulo, V. 28, Nº1, pp 11-30.
Através das auto-biografias, esses estudantes gritam as suas identidades, as
marcas sociais e culturais que carregam e os caminhos da sua formação, desde a
entrada na universidade, aos percalços para a permanência e conclusão. Foi possível
perceber, que todos os estudantes que escreveram as suas histórias de vida são
oriundos de comunidades populares urbanas, que estudaram em escolas públicas,
adentraram a universidade através da política de cotas, que seus pais sacrificam-se
para manter os mesmos nas universidades, que a entrada no PET impacta
diretamente no seu êxito acadêmico, e que sua permanência na universidade está
condicionada não somente a obtenção de auxílio financeiro, qual é de extrema
importância para os mesmos permanecerem estudando, como também a
identificação com o espaço universitário, este que em muitas das vezes acaba sendo
um lugar estranho, onde o estudante não se identifica, nem mesmo afilia-se com o
mesmo.
O estudante acaba tendo que adaptar-se aquela estrutura pré-estabelecida. É
por isso, que uma parcela dos estudantes de origem popular acabam evadindo das
universidades, porque suas identidades não são legitimadas naquele espaço, seus
saberes não são reconhecidos, restando sempre para eles o local de estranhamento
Rita de Cássia Pereira Dias de Jesus¹
Elder Luan dos Santos Silva¹
Iansmin de Oliveira Gonçalves²
Ao se fazer a opção pelas histórias de vida, pelo vivido e narrado no campo
dos atos formativos é legitimar o direito do sujeito-pesquisador escrever em
primeira pessoa. É uma escrita e leitura de si, os autores são objetos e sujeitos de
suas próprias narrativas. Ao analisar as trajetórias de vida dos estudantes de origem
popular, que compõe o PET conexões de saberes, buscou-se compreender, a partir de
um empreendimento historiográfico (JESUS, 2010, pp. 26) o processo de formação
desses indivíduos sob a perspectiva dos ensinamentos adquiridos ao longo de sua
vida, aquilo que foi apreendido a partir de suas vivências e experiências, e que
contribuíram para formar socialmente e culturalmente esses indivíduos.
¹Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia, Professora Adjunta I da Universidade Federal da Bahia e Tutora do PET-Conexões de Saberes – Acesso, Permanência e Pós
Permanência/UFRB.
²Graduandos do curso de Licenciatura Plena em História da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia membro do grupo PET-Conexões de Saberes – Acesso, Permanência e Pós
Permanência/UFRB