bandeirantes e pioneiros

427
7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros http://slidepdf.com/reader/full/bandeirantes-e-pioneiros 1/427

Upload: aeirado

Post on 13-Apr-2018

237 views

Category:

Documents


4 download

TRANSCRIPT

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    1/427

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    2/427

    iipfARY

    cr

    rRiNCFTon

    FEB

    2

    O

    ?nni

    THECLOGICAL

    SM;ARY

    F

    2510

    .M66

    1957

    Moog,

    Clodomir

    Vianna,

    19061

    Bandeirantes

    e

    pioneiros

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    3/427

    1Digitized

    by

    the

    Internet

    Archive

    in 2014

    https://archive.org/details/bandeirantesepioOOmoog

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    4/427

    A

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    5/427

    VIANNA

    MOOG

    BANDEIRANTES

    E

    PIONEIROS

    Paralelo

    entre

    duas

    culU

    Uas

    cuuuras

    4/

    EJio

    EDITORA

    GLOBO

    RIO

    DE

    JANEIRO

    -

    PRTO

    ALEGRE

    -

    SO

    PAULO

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    6/427

    LIBHAHYOF

    'iiiNLtl

    UG

    1

    5

    2000

    THEOLOGICAL SEMINARY

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    7/427

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    8/427

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    9/427

    BANDEIRANTES

    E

    PIONEIROS

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    10/427

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    11/427

    Vianna

    Moog

    BANDEIRANTES

    E

    PIONEIROS

    Paralelo

    entre

    duas

    culturas

    4.

    Edio

    LIBRARY

    OF

    PRINCETON

    MAY

    2

    2000

    THEOLOGICAL

    SEMINARY

    E

    D

    I

    r

    R

    A

    GLOBO

    Rio

    de

    Janeiro

    Prto

    Alegre

    So Paulo

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    12/427

    i

    I

    1957

    DIREITOS

    KXCLUSIVOS

    UK EDIO.

    I)A

    EDITEA fiLOBO

    S.

    A.

    PRTO

    ALEGRE

    RIO

    GRANDE

    DO SUL

    ESTADOS

    UNIDOS DO

    BRASIL

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    13/427

    A Anna Maria,

    Gilberto

    e

    Geraldo, na

    expectativa de

    que encontrem

    neste livro al-

    gum ensinamento

    e

    inspirao.

    gente

    nova

    do

    Brasil, pelo

    mesmo

    motivo.

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    14/427

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    15/427

    PREFCIO

    Be

    7i muito que

    esta penjunta anda no

    ar em

    busca de

    uma resposta em

    grande

    :

    como

    foi

    possvel aos

    Estados-Uni-

    dos,

    pas

    mais

    novo

    do que o

    Brasil

    e

    menor em superfcie

    con-

    tinental

    contnua,

    realizar

    o

    progresso

    quase

    milagroso que rea-

    lizaram

    e

    chegar

    aos

    nossos dias,

    vanguarda

    das

    naes, como

    a

    prodigiosa realidade

    do

    presente,

    sob

    muitos aspectos a mais

    estupenda

    e

    prodigiosa

    realidade de todos

    os

    tempos, quando

    o

    nosso pais,

    com

    mais

    de um

    sculo

    de

    antecedncia

    histrica,

    ainda

    se

    apresenta,

    mesmo

    luz

    das

    interpretaes e

    profecias

    mais otimistas,

    apenas

    como

    o

    incerto pas do

    futuro?

    Como

    foi

    isto possvel?

    Que

    que

    aconteceu?

    Que

    fatos

    tero

    condicionado

    o

    processo

    das

    duas

    histrias

    para

    que se

    produzisse

    tamanho

    contraste?

    No h evitar as interrogaes

    ou

    formul-las

    de

    modo

    di-

    verso.

    Estas

    repontaro,

    a todo

    momento

    e

    a

    cada

    passo,

    ao

    aca-

    so

    dos

    mais

    variados

    pretextos,

    a

    propsito

    de tudo e s

    vezes

    at sem propsito

    algum,

    com a persistncia

    de leit-motives

    obri-

    gatrios

    e

    indesviveis.

    Trata-se, portanto,

    de

    uma

    indagao

    que

    existe

    e

    que,

    proporo que se

    ampliam

    as relaes entre Brasil

    e

    Estados-

    Vnidos,

    e

    com

    elas

    as

    possibilidades

    de confronto entre as duas

    civilizaes,

    em

    lugar

    de

    cessar,

    se

    vai

    cada

    vez

    mais

    entranhan-

    do

    na

    conscincia

    nacional,

    tornando

    a bem dizer imperiosa

    o

    necessidade

    de

    procurar-lhe,

    se

    no

    uma resposta

    definitiva,

    pe-

    lo

    menos

    uma

    explicao

    altura

    de sua

    importncia.

    Bandeirantes

    e

    Pioneiros,

    fruto

    antes

    da observao direta

    dos

    dois

    pases

    que

    de

    investigaes

    livrescas

    ainda

    que

    pot

    vezes possa

    dar

    a

    impresso

    do

    contrrio

    nada

    mais

    ,

    na

    sua

    intransigente

    sinceridade,

    do

    que uma tentativa

    honesta neste

    sentido

    Inspirado

    inicialmente

    no

    propsito

    de

    estudar

    os

    Es-

    iados-Unidos,

    cuja

    cultura

    resultou,

    em grande

    parte,

    do

    tra-

    balho

    do

    pioneiro,

    tendo

    em

    vista

    o

    Brasil,

    que

    na

    mesma

    me-

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    16/427

    dida olra do

    bandeirante,

    seu ohjetivo

    principal

    acabou

    sendo

    este:

    compreender

    criticamente

    o

    fenmeno

    global norte-ameri-

    cano, para

    melhor

    encontrar

    a

    decifrao

    das

    incgnitas

    de

    nos-

    sa

    civilizao

    e

    do

    nosso

    prprio

    destino.

    Ter conseguido ou vir

    a

    conseguir

    o

    seu

    ohjetivo?

    No

    tenho

    grandes

    iluses

    a esse respeito. O

    tema,

    essencialmente

    di-

    nmico,

    com um

    nmero

    quase

    ilimitado

    de

    incgnitas,

    todas a

    variarem

    umas em

    funo

    das outras, no

    propriamente

    dos

    que

    comportam

    pronunciamentos

    definitivos ou

    julgamentos

    isen-

    tos

    de

    erros de

    observao,

    de

    emoo

    e de interpretao. No

    importa.

    O

    que

    importa

    que

    Bandeirantes

    e

    Pioneiros,

    livro

    a

    que

    tambm

    se

    podia dar

    o

    titulo

    de Conquistadores

    e

    Colo-

    nizadores, tanto este

    paralelo

    entre

    o

    Brasil

    e

    os Estados-Uni-

    dos

    aplicvel

    aos

    contrastes entre

    os

    Estados-Vnidos

    e

    outros

    pases da

    Amrica Latina,

    em

    meio

    a suas possveis contradi-

    es,

    erros

    e

    equvocos, contm provvclmente

    algumas

    ideias

    novas

    e

    algumas

    ideias boas. Se disserem,

    porm,

    a

    maneira de

    Leibnitz,

    que

    as

    boas

    no

    so

    novas

    e as

    novas

    no

    so boas,

    claro

    que

    no

    tenho

    o

    direito

    de

    zangar-me. Quem

    lida

    com

    ma-

    terial

    combustvel, como

    alguns

    dos

    temas

    sobre que versa este

    livro

    essencialmente

    polmico,

    ainda

    que

    o

    faa

    com

    a

    melhor

    das

    intenes e

    apenas com

    propsitos

    de estudo e

    investigao,

    deve

    estar

    preparado

    para

    muito mais.

    Mxico,

    julho

    de

    1954.

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    17/427

    NDICE

    Captulo

    I

    RAA E

    GEOGRAFIA

    15

    1

    o progresso

    dos

    Estados-Unidos

    e

    o

    atraso

    do

    Brasil.

    2

    A

    explicao

    racial.

    Chamberlain

    e

    Gobineau.

    Reedio

    das teorias raciais.

    Miscigenao.

    3

    A

    geografia

    como

    fator

    de civilizao:

    orografia,

    hidrografia

    e

    clima.

    A afirmao

    de

    Pero Vaz

    de Caminha.

    4

    -A experincia

    de

    Henry

    Ford

    na

    Amaznia.

    A luta

    pola

    borracha.

    O malogro

    da

    Fordlndia.

    5

    Causas

    do insucesso.

    6

    0

    problema racial

    do

    Brasil. 7

    Imi-

    grao

    de

    norte-americanos

    para

    o

    Brasil.

    Confederados

    em

    So

    Paulo. Confederados

    na

    Amaznia.

    8

    Destino

    das

    colonizaes

    aliengenas

    no

    Brasil. 9

    Prevalncia

    dos fatres

    geofsicos

    s6-

    bre

    os tnicos.

    10

    Os

    alemes

    na

    Amaznia

    peruana. Katzel

    o

    a antropogeografia.

    Concluses.

    Captulo II

    TICA E

    ECONOMIA

    67

    1

    A explicao

    geogrfica

    no esgota

    o

    problema. Natu-

    reza e

    histria. O

    positivismo

    e

    a

    lei

    dos

    trs

    estados.

    2

    A

    in-

    terpretao

    materialista

    da histria. Importncia

    do

    subsolo: o

    carvo.

    3

    A

    Idade

    Mdia

    e

    os fatres

    econmicos.

    O

    conceito

    medieval de

    propriedade, trabalho,

    comrcio,

    lucro

    e

    usura. 4

    Eeligio

    e

    economia.

    Protestantismo

    e

    capitalismo.

    Protestantis-

    mo

    e

    nacionalismo.

    A

    doutrina

    cannica

    e o

    ealvinismo.

    Calvino

    8

    Karl

    Marx.

    5

    Hierarquizao

    das causas histricas. Ma-

    terialismo e

    idealismo. 6

    A

    questo

    racial

    e a

    ocupao

    mou-

    risca de

    Portugal.

    Homens

    da

    Renascena

    e

    homens

    da

    Reforma.

    7

    Caramuru

    e

    Paraguau.

    John

    Smith

    e

    Poeahontas. 8

    A

    comunidade

    e

    o

    problema

    lacial. A

    tristeza

    do

    ndio,

    do

    negro

    e

    do

    portugus.

    9

    A

    aventura atlntica

    do

    portugus. Origem

    de

    sua

    tristeza. 10

    Interpretao

    da

    decadncia

    econmica dos

    povoa

    peninsulares.

    11

    Os

    reis

    catlicos.

    A

    Inquisio

    e

    a

    por-

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    18/427

    12

    BANDEIEANTES

    E

    PIONEIROS

    seguio

    ao

    onzenrio.

    12

    Compatibilidade

    do

    capitalismo

    com

    o

    calvinismo.

    Lutero,

    Zwinglio

    e

    Calvino.

    Calvinismo

    e determinismo.

    Economia

    catlica

    e

    economia

    protestante.

    13

    Causalidade

    e

    histria.

    Captulo III

    CONQUISTA

    E

    COLONIZAO

    125

    1

    Documentrio

    histrico

    no Brasil

    e

    nos

    Estados-UnidoB.

    Alfabetizao

    e

    analfabetismo.

    2

    Sentido

    orgnico

    da formao

    norte-americana

    e

    sentido

    predatrio

    da

    formao

    brasileira. 3

    Conquistadores

    e

    colonizadores.

    Calvinistas

    o

    judeus.

    Contribuio

    das vrias

    seitas na estruturao

    econmica

    dos Estados-Unidos. 4

    Marta

    e

    Maria. Identificao

    entre judasmo

    e

    calvinismo. Escra-

    vos

    e

    servos

    da gleba. Metodistas,

    quacres

    e

    luteranos.

    5

    Ame-

    ricanos, crvollos

    e

    mazombos.

    6

    Teoria do mazombo.

    7

    Novos

    aspectos

    do

    mazombismo.

    O

    mazombo

    e

    o

    bandeirante. 8

    Ma-

    zombos

    e

    americanos.

    A inventividade

    do

    americano. 9

    Antepas-

    sados do

    mazombo.

    Origens

    do

    desamor

    ao

    trabalho manual.

    Eru-

    ditismo

    e

    educao

    cientfica. 10

    O

    americano

    e

    o passado.

    Eu-

    ropeus

    e

    portugueses

    em face

    do

    passado. 11

    O

    pioneiro

    e o

    passado. A

    casa

    americana

    e

    a

    log-cabin.

    O

    living-room.

    12

    Conventions.

    O

    homem

    de

    Oklahoma.

    13

    Basements.

    O

    sonho

    ile Francis Bacon.

    Tcnica

    e

    erudio.

    Captulo

    IV

    IMAGEM

    E

    SMBOLO

    191

    1

    Persistncia dos

    smbolos.

    2

    A imagem do pioneiro

    e

    a

    civilizao

    americana. Pioneiros

    e

    ianques. Pioneiros

    e

    sulistas.

    Jefferson

    e

    Hamilton. 3

    lanquizao

    dos

    Estados-Unidos.

    4

    Os

    Estados-Unidos antes

    da

    guerra

    de

    Secesso:

    Walt

    Whitman

    e

    Lincoln.

    5

    Os

    Estados-Unidos

    depois

    da

    guerra de

    Secesso:

    o

    Lincoln

    da

    realidade

    e

    o

    Lincoln

    da

    lenda. 6

    O

    padre-nosso

    ame-

    ricano.

    Verses

    de

    S.

    Lucas

    e S.

    Mateus. 7

    O

    smbolo

    do

    ban-

    deirante.

    Bandeirantes

    e

    jesutas. 8

    0

    jesuta

    e

    a

    moralidade

    colonial.

    O

    drama

    do

    mestio.

    Oportunismo

    da

    coroa. 9

    A

    idea-

    lizao do

    senhor de

    engenho.

    A

    Crte

    a

    favor do

    bandeirante.

    Auri

    sacra

    fames.

    10*^

    Vantagens e

    desvan

    tagens

    do

    bandeirismo.

    Oportunidade

    na

    descoberta

    das

    minas.

    11

    A

    epopeia

    das

    ban-

    deiras.

    Ausncia

    de

    gosto

    pela

    vida

    rural

    nos

    primeiros

    sculos.

    So

    Paulo

    e

    o

    Jbandgirante.

    Magnificaes

    da

    imagem.

    13^

    Imagem

    promovida

    a

    smbolo.

    O

    Rio

    Grande

    do

    Sul

    e

    a

    imagem

    d

    o

    bandeirante

    .

    14

    O

    bandeirismo

    na

    Amaznia. A

    ilha de

    Mara-

    pat.

    O

    regato.

    15

    O

    bandeirismo

    no

    centro

    e

    no

    nordeste.

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    19/427

    NDICE

    13

    Migraes

    internas.

    16

    O

    Rio

    de

    Janeiro,

    cidade

    de

    ocupao.

    17

    O

    rasto da

    bandeira

    e

    suas repercusses

    na

    cultura

    brasileira.

    18

    fieai^o

    contra

    o passado.

    Exame

    de

    conscincia

    nacional.

    1

    Permanncia

    das

    linhas fundamentais

    nas

    culturas

    bra-

    sileira

    e

    norte-americana. 2

    Rompimento

    com

    o

    passado nos

    Estados-Unidos.

    A

    arquitetura

    americana.

    3

    Dignificao

    do

    trabalho. 4

    Crena

    na perfectibilidade.

    Wilson

    e

    a

    Liga

    das

    Naes. 5

    O

    americano

    e

    o presente.

    O

    carter

    antitrgieo

    do

    americano.

    6

    Teoria

    do

    poor

    boy. A Bblia

    dos Gcdees.

    O

    mito do

    happy-end.

    7

    O

    pessimismo

    calvinista

    e o

    atual

    oti-

    mismo americano.

    8

    O brasileiro

    e

    o

    passado.

    O

    europesmo

    doa

    antigos

    e o

    americanismo

    dos

    novos. 9

    Rousseau

    e

    Maquiavel.

    O

    pessimismo

    brasileiro.

    10

    Religiosidade

    americana

    e

    irreligiosi-

    dade

    brasileira.

    11

    Desamor

    ao

    trabalho

    orgnico. Conse(|ii cias

    da

    Abolio.

    12

    Jos

    Dias,

    smbolo

    da

    malandragem

    nacional.

    13

    Diagnstico

    do

    malandro. 14

    Olhar sbre

    o

    futuro.

    1

    Imaturidade de

    brasileiros

    e

    americanos.

    Delicadeza

    e

    neurose.

    2

    Os

    desajustamentos

    americanos.

    3

    Motivos

    dsses

    desajustamentos.

    4

    Origens

    das

    imaturidades

    brasileiras.

    5

    Origens

    das

    imaturidades

    americanas.

    6

    Declnio

    dos

    desajus-

    tamentos

    brasileiros. Recrudescimento

    dos

    desajustamentos

    ame-

    ricanos. Crise do

    capitalismo

    e do

    protestantismo.

    Revigoramento

    do

    esprito

    catlico.

    7

    Imaturidades

    decorrentes

    do

    mazombismo.

    O

    movimento modernista

    e

    a

    revoluo

    de

    1930. 8

    Imaturidades

    decorrentes

    do

    desamor

    ao

    trabalho.

    Imigraes

    de

    tipo

    pioneiro.

    Problemas

    de

    tcnica

    e

    problemas

    de

    conscincia.

    Possibilidades

    eatrticas

    da

    reviso

    histrica.

    9

    Necessidade

    de

    retificaes

    na

    cultura americana. A nacionalizao

    e a

    rejeio

    da

    Europa.

    10

    Sua

    Alteza Roal

    o

    Cornuvan Man. O

    mamismo

    o

    amazoniza-

    o

    dos

    Estaaos-

    Unidos, li

    A mulher

    brasileira.

    Mazombos,

    americanos

    e

    mulatos.

    12

    O

    liberalismo

    rousseauniano

    como

    fonte de

    desajustamentos.

    Pluto.

    13

    0 pato

    Donald,

    vtima dos

    slogans

    da

    civilizao

    americana. 14

    Progresso

    e

    sabedoria.

    Accomplishment. Crticas ao

    American

    way

    of

    life.

    O

    narcisismo

    americano.

    15

    Ao

    e

    contemplao.

    IG

    O

    americano

    no

    sabe

    descansar.

    O caso

    Forrestal. 17

    Uma sugesto

    de

    TJnarauno.

    Captulo

    V

    F

    E

    IMPRIO

    251

    Captulo

    VI

    SINAIS

    DOS

    TEMPOS 303

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    20/427

    14

    BANDEIRANTES

    E

    PIONEIEOS

    ErLOGO

    3G9

    1

    Romarias

    americanas

    e

    brasileiras.

    O

    Lincoln Memorial

    c

    as

    obras

    do

    Aleijadinho.

    2

    Lincoln

    e a

    civilizao

    americana,

    3

    A

    neurose

    de

    Lincoln.

    4

    Lincoln

    e

    a

    unidade

    americana.

    5

    Lincoln, Freud

    e

    os Evangelhos. 6

    O

    Aleijadinho

    e a

    civi-

    lizao

    brasileira.

    7

    As

    duas

    fases na vida

    do

    Aleijadinho.

    8

    As lies do Aleijadinho.

    9

    Normalidade

    e

    santidade.

    10

    Sentido das romarias.

    BIBLIOGRAFIA

    405

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    21/427

    Captulo

    I

    RAA

    E

    GEOGRAFIA

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    22/427

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    23/427

    1

    A

    mais

    autiga

    e

    provavelmente

    a

    mais constante explicao

    para

    o

    fato de

    os

    Estados-Unidos

    terem

    prosperado em quase

    to-

    dos

    os setores

    da

    atividade

    humana, incomparavelmente mais

    do

    que

    o

    Brasil, baseia-se

    na

    ideia

    da

    superioridade

    racial.

    Haviam

    os

    Estados-Unidos

    prosperado

    mais

    do

    que o Bra-

    sil? A resposta era

    simples,

    simplicssima: os Estados-Unidos,

    apesar

    de

    contarem,

    no

    tempo,

    um

    atraso de

    mais

    de

    um

    sculo

    que a tanto

    montam

    os

    anos

    decorridos entre

    a

    descoberta do

    Brasil

    e

    a

    chegada

    dos

    imigrantes

    do Mayflowcr

    ao

    Novo

    Mun-

    do,

    marco inicial

    terico da

    histria

    americana

    e, no

    espao,

    a

    desvantagem

    de

    territrio

    mais

    reduzido,

    tinham

    sido po-

    voados

    pela raa

    superior

    dos

    anglo-saxes,

    ao

    passo

    que o

    Brasil

    fra

    povoado

    e

    conquistado pelos retrgrados portugue-

    ses, povo que

    em matria

    de

    pureza

    tnica

    nem

    longinquamente

    podia conrontar-se com os primeiros. Mais ainda: o

    anglo-

    saxo preservara

    sua

    pureza

    racial,

    no

    cruzando com

    o

    ndio

    e

    o

    negro seno

    por

    exceo,

    ao

    passo

    qvie

    o

    portugus levara

    a

    extremos nunca

    vistos

    as possibilidades

    do

    cruzamento.

    E

    pronto,

    o

    assunto

    estava

    resolvido,

    definitivamente

    re-

    solvido,

    6

    no se pensava

    mais

    no caso. Era

    como

    se o

    pro-

    blema

    no

    existisse,

    ou

    no

    se tratasse

    propriamente

    de

    pro-

    blema,

    visto

    que para

    a pergunta

    havia

    uma

    soluo quase

    nnivcrsalmento

    consagrada

    e

    consentida. Em casos de

    dvi-

    da,

    l

    estava

    a

    imensa autoridade

    do

    Conde

    de Gobineau

    ou

    a

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    24/427

    18

    BANDEIRANTES E PIONEIROS

    e

    absorver

    cultura,

    independentemente

    das

    condies

    de clima^

    meio

    fsico,

    antecedentes

    sociais

    c

    perodo

    histrico,

    resolvia

    o

    resto. Resolvia

    no

    s

    o

    problema

    dos contrastes

    entre

    o

    Brasil

    e

    os

    Estados-Unidos, mas tambm

    o

    das diferenas

    en-

    tre

    estes

    e

    a

    Argentina ou

    o

    Mxico.

    E

    as

    mesmas

    complexas

    diferenas

    entre

    a

    Amrica Anglo-Saxniea

    e

    a

    Amrica La-

    tina, com

    a

    atordoante enormidade

    de incgnitas

    incgnitas,

    geogrficas,

    polticas,

    sociais

    e

    econmicas

    que porventura

    as

    tenham

    engendrado ou

    condicionado,

    eram

    sumriamente

    re-

    solvidas

    pela

    doutrina

    racial.

    Sob

    ste

    aspecto,

    nem

    mesmo

    as

    teorias

    de

    Alxis

    de

    Tocqueville,^

    que

    tanta aceitao

    tiveram

    no sculo

    passado

    e

    tanto contriburam

    para transformar

    as

    constituies

    latino-americanas

    em

    verdadeiras

    parfrases

    da

    Constituio

    Americana,

    com

    atribuir

    a causas

    primacialmente

    polticas

    e institucionais

    as

    preeminncias

    da

    civilizao norte-

    americana

    sobre

    as

    demais do

    continente,

    gozaram

    de

    igual pres-

    tgio.

    Na Alemanha

    como

    na

    Inglaterra,

    na Inglaterra como

    nos

    Estados-Unidos,

    nos

    Estados-Unidos

    como

    no Canad, na Argen-

    tina,

    no

    Chile,

    no

    Mxico, na Bolvia

    e

    no Peru, no mundo

    an-

    glo-saxo como

    no

    mundo

    latino,

    di-scpulos

    de

    Gobineau

    que

    no

    faltavam.

    Se nos

    Estados-Unidos

    les constituam legio,

    na

    Amrica

    Latina

    les primavam pela

    qualidade. E

    dizendo-se

    que

    na

    Argentina

    foi

    o

    racismo

    uma

    das

    principais fontes

    de

    inspirao

    da

    obra

    sociolgica

    e

    poltica

    de

    um Sarmiento

    ou

    no

    Chile

    e

    na

    Bolvia

    teve apologistas

    como Nicolas

    Palacios a

    Alcides

    Arguedes,

    pode-se

    avaliar

    o

    resto.

    Havia

    resistncia,

    aqui

    e

    ali,

    aceitao

    dos

    primores

    de-

    mocrticos da

    Constituio

    Americana

    como

    causa

    principal

    e

    quase

    exclusiva da

    prosperidade

    dos

    Estados-Unidos.

    Mas

    pa-

    ra

    acreditar

    na

    doutrina,

    ou

    melhor,

    no

    mito

    das

    superiorida-

    des

    e

    inferioridades

    raciais,

    no se

    exigia

    prova alguma,

    nem

    bio-

    lgica,

    nem

    sociolgica,

    nem

    antropolgica,

    nem

    histrica.

    Bas-

    tava a

    palavra.

    Era

    tudo

    sob

    palavra.

    2.

    Alxis

    de

    Tocquevillc,

    7)e la

    Bmocratie

    en

    Awriqve.

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    25/427

    EAA E

    GEOGRAFIA

    lU

    Portanto,

    nada

    havia que

    fazer

    seno

    tirar

    de Gobineau

    as

    inevitveis

    concluses

    : a

    responsabilidade

    pelo nosso

    atraso

    em

    relao

    aos

    Estados-Unidos

    cabia

    nossa

    descendncia

    de

    portu-

    gueses e

    tambm, e

    principalmente,

    ao

    aviltante cruzamento

    de

    portugueses

    com

    as duas

    outras raas

    que entraram

    em

    nossa

    formao : o

    ndio

    e o

    negro.

    Tudo explicado,

    tudo

    perfeita-

    mente resolvido.

    Como

    s

    a raa

    branca sabia

    criar

    progresso,

    a

    nica

    esperana

    para as

    raas

    inferiores era

    continuar o

    cru-

    zamento

    com

    os

    brancos

    superiores.

    Se

    stes

    perdiam

    os

    nobres

    atributos primitivos, em compensao aqueles hicravam, sempre

    que no produto

    predominassem

    as

    qualidades

    do

    mais nobre

    e do

    mais forte.

    O

    mais

    curioso em

    tudo

    isto

    no

    foi que

    a tese

    vingasse

    na

    Alemanha, na

    Inglaterra,

    nos Estados-Unidos,

    no

    Canad

    ou

    mesmo

    na Argentina,

    no

    Chile,

    no Peru

    ou

    no

    Mxico.

    O es-

    pantoso

    foi

    que

    vingasse

    e

    tivesse

    livre

    curso

    entre

    ns.

    Porque

    rea-

    o contra

    as

    doutrinas

    racistas, prpriamente, no

    havia.

    E

    quando

    havia,

    no

    era para contestar

    as

    pseudo

    bases

    cientfi-

    cas

    em

    que assentavam, mas

    para

    opor

    emocionalmente

    supe-

    rioridade

    do

    branco

    e

    do

    europeu

    a

    superioridade do

    autcto-

    ne,

    maneira

    dogmtica

    e

    demaggica

    dos

    vrios

    nacionalis-

    mos que o

    liberalismo

    protestante

    eonseguivi

    instilar

    e

    fomen-

    tar

    na Amrica

    Hispnica, ao

    tempo

    em

    que, a pretexto

    de

    apressar

    o processo

    de

    sua

    emancipao,

    de fato

    precipitava

    o de

    sua

    desagregao em pequenas repblicas incapazes

    de re-

    sistir-lhe

    aos

    ditames.

    De sorte que, de um modo

    ou

    de outro

    modo,

    \nis

    mais,

    outros

    menos,

    todos acabavam

    sucumbindo

    ao

    sortilgio dos mitos raciais.

    A

    rigor,

    a

    reao

    contra

    os postulados

    da

    pureza

    tnica

    e

    da

    superioridade

    ariana comea

    prtieamente, entre

    ns, nas

    ltimas

    dcadas. De

    feito,

    foi

    s recentemente

    e

    isto

    se

    deve

    em

    grande

    parte

    aos estudos

    que

    Nina

    Rodrigues

    andou reali-

    zando no campo

    da

    antropologia

    que no Brasil se

    comeou

    a

    suspeitar

    da

    excelncia

    da

    explicao racial

    para

    fenme-

    nos

    sociais

    e

    diferenas

    de

    nvel

    entre as culturas dos

    diversos

    pases.

    Coube,

    porm,

    a

    ensastas

    mais

    modernos,

    com

    Gilber-

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    26/427

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    27/427

    BAA K

    GEOGRAFIA

    21

    hereditrias,

    preponderar

    neste

    cruzamento

    o

    eiigenismo do

    tipo

    branco.

    Quer

    dizer

    :

    quando

    do

    cruzamento

    no

    resultar o

    pre-

    domnio

    do

    eugenismo

    branco, no haverc

    uma

    combinao

    fe-

    liz, porque

    a

    ambio de

    riqueza, o

    desejo de

    ascenso,

    dominan-

    tes

    no

    ariano,

    desaparecem no

    mestio,

    destrudos

    pela ao

    re-

    gressiva

    dos

    atavismos brbaros.

    *

    Bem

    se v

    que,

    direta

    ou

    obliquamente, a

    doutrina racista,

    sob esta ou aquela

    forma,

    estava

    at h

    bem

    pouco

    em

    plena

    vi-

    gncia alhures

    como

    aqui,

    e,

    a

    muitos

    respeitos,

    talvez

    mais

    aqui

    do

    que alhures.

    2

    Alis,

    autores em

    que

    os

    arianistas

    ortodoxos possam am-

    parar-se

    parece

    que

    nunca

    ho

    de

    faltar.

    Agora

    mesmo,

    decor-

    ridos

    apenas

    seis

    anos

    sbre

    a

    ltima

    guerra, quando

    parecia

    que

    as

    doutrinas

    de

    superioridade

    tnica estavam

    para

    semi:)re

    liqui-

    dadas

    e

    o mundo

    para

    sempre reposto da catstrofe, eis

    que es-

    tas

    ressurgem

    em

    Teutonic

    Unity,

    de

    Earnest

    Sevier

    Cox, livro

    que nada

    mais

    nada menos

    que

    um

    tardio

    rebento

    da velha

    teoria

    de

    Gobineau.

    Voltou

    acaso

    mudada,

    disposta

    a

    fazer

    concesses?

    Qual

    nada

    Novinha em

    folha,

    envolta em papel

    celofane,

    veio mais

    provocante do

    que

    nunca, sem

    qualquer

    mudana

    de ttica

    ou

    de

    objetivos.

    No

    fundo, Tetttonic

    Unity,

    de Earnest Sevier

    Cox,

    de

    Ricliuioud,

    capital

    da

    Virgnia, um

    dos

    rediitos mais

    fortes

    de

    discriminao

    racial

    contra o

    negro

    e,

    secundariamente,

    con-

    tra os

    judeus,

    confessadamente

    e corajosamente racista,

    racista

    e

    arianista,

    arianista

    e

    anticrist.

    Quanto

    a

    este antieristia-

    nismo, o

    livro

    no

    deixa

    ver bem

    se se

    est

    em presena

    de ura

    ateu

    convicto

    ou de

    um pago anacrnico, ainda

    empenhado,

    com

    uma

    pe(iuena

    diferena

    de uns

    2000

    anos, em

    restituir

    aos

    povos

    teutnicos

    os

    deuses

    germnicos

    do tempo

    de

    Tcito.

    O

    mais

    pro-

    4.

    Oliveira

    Viana,

    Populaes

    Meridionais

    o

    Brasil,

    pgs.

    146-150,

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    28/427

    22

    BANDEIRANTES E PIONEIROS

    vvel

    que se

    trate

    de um

    pago. Em

    todo caso, o

    certo

    que

    as

    preocupaes

    de preservao

    da

    pureza

    racial

    teutnica

    sobre-

    levam no

    novo

    profeta

    as preocupaes religiosas. A

    raa

    branca

    a sua devoo,

    a

    sua

    religio,

    o motivo predominante,

    se

    no

    ex-

    clusivo,

    de suas cogitaes.

    Basta

    dizer

    que

    le

    tambm

    o

    autor

    de

    White America, ainda

    cita com

    freqiincia

    Houston

    Stewart Chamberlain,

    e

    dedica

    o seu atual

    Teutonic

    TJnity

    a

    Teodorico,

    o

    Grande,

    (493-526),

    rei

    gdo

    da

    Itlia,

    que

    procu-

    rou

    formar

    a

    liga

    dos

    povos

    teutnicos,

    a

    fim

    de

    pr

    cbro

    s

    guerras

    que travavam entre si, diminuindo-se

    e

    enfraquecendo-se

    era presena

    de outros

    povos e

    de outras raas menos dotadas

    do

    que les.

    S

    uma

    coisa Earnest

    Sevier

    Cox

    no

    perdoa

    raa bran-

    ca : o

    haver

    adotado

    uma religio

    tomada

    de

    emprstimo

    aos se-

    mitas.

    Isto

    se

    lhe

    afigura

    tanto

    mais

    inexplicvel quanto lhe

    parece

    certo

    que

    tudo

    quanto

    o

    mundo

    tem

    de

    melhor

    veio

    da

    raa

    branca,

    sob

    a

    liderana

    dos teutnicos.

    Cultura

    e

    capacidade

    de

    criar civilizaes

    superiores s

    os

    brancos

    as

    tm.

    Capacidade

    de

    inveno,

    s

    na raa branca,

    mais

    particularmente nos

    bran-

    cos

    nrdicos,

    nos

    teutnicos.

    E os grandes

    descobrimentos

    martimos

    dos

    sculos

    XV

    e

    XVI,

    de

    portuguses

    e

    espanhis

    ?

    Resposta

    :

    isto

    s

    foi

    poss-

    vel

    porque

    Portugal

    e

    Espanha

    eram

    dirigidos

    por

    elites prov-

    velmente

    teutnicas.

    E

    a Renascena italiana? Ah,

    isto

    se

    deve

    aos

    louros lombardos, tribo

    de

    origem

    germnica.

    E Cames

    e

    Dante,

    Vasco da

    Gama

    e

    Ferno

    de Magalhes, Cristvo

    Co-

    lombo

    e

    Amrico

    Vespcio?

    Lombardos

    uns,

    gdos

    outros,

    de

    origem

    provvelmente

    germnica

    quase todos. E

    o

    destino

    geo-

    grfico

    de

    Portugal,

    apertado entre

    a

    Espanha

    e

    o

    Atlntico,

    no

    teria

    algo

    que

    ver

    com

    a

    sua vocao para as

    viagens

    ma-

    rtimas?

    No

    houve

    determinismo

    geogrfico, mas

    raa. En-

    quanto

    os

    nrdicos

    se

    preservaram,

    tudo

    foi

    bem.

    A

    decadncia

    teve

    incio

    quando comeou

    a

    miscigenao.

    Miscigenao

    racial A

    est outro ponto

    em

    que

    Mr.

    Cox

    como

    os

    arianistas

    em

    geral

    no

    admite

    tergiversaes.

    Para

    le

    o

    cruzamento

    de

    raas

    diferentes,

    alm

    de

    degradar

    os

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    29/427

    EAA

    E

    GEOGEAFIA

    23

    indivduos

    que

    nle

    participam,

    degrada

    o

    produto,

    improprian-

    do-o

    para

    a

    civilizao

    e

    a

    cultura.

    E

    explica

    o

    espetacular

    pro-

    gresso

    dos

    Estados-Unidos

    em confronto com o

    atraso mais ou

    menos

    geral

    dos

    pases da

    Amrica

    Latina

    entre

    os

    quais

    o

    Brasil,

    naturalmente

    pela absoluta preponderncia da

    raa

    branca

    nos

    Estados-Unidos,

    numa

    proporo

    de

    90%

    sobre

    o

    to-

    tal

    da

    populao, em

    contraste com

    o

    alastramento

    da

    mestia-

    gem nas Amricas

    do

    Sul

    e

    Central. O que

    conta para le

    a

    raa.

    Condies

    geofsicas

    a

    orografia,

    a

    hidrografia,

    a

    geolo-

    gia,

    a

    botnica

    e

    a

    climatologia

    para

    no

    falar nas condies

    precedentes

    sociais, nas

    intenes que

    presidiram

    s

    duas

    mi-

    graes,

    a

    nrdica

    e

    a

    ibrica,

    nada

    disso tem importncia.

    o

    nosso autor antijudaico,

    antinegro,

    antieslavo?

    Rigoro-

    samente talvez

    no

    se

    possa

    dizer

    nem

    uma coisa nem outra. A

    no

    ser anticristo

    talvez

    fsse melhor

    dizer anticatlico

    no

    anti

    coisa

    alguma.

    B,

    isto

    sim,

    pr

    raa

    tevitnica,

    pr

    depurao

    da raa

    branca,

    pr

    retorno

    dos

    negros da

    Amrica

    ao

    seu

    habitat

    de

    origem,

    pr

    ampliao

    do

    espao vital desti-

    nado

    emigrao

    dos

    brancos

    da

    superpovoada Europa. Ser,

    portanto,

    antieslavo,

    antinegro

    ou

    anti-semita,

    apenas

    em fun-

    o e

    na

    medida

    em

    que o

    africanismo,

    o

    eslavismo

    e o

    judasmo

    ponham em

    xeque

    a raa a

    que pertence

    ou

    pelo

    menos

    se

    julga

    pertencer.

    E

    agora?

    Bem,

    agora

    estaramos em

    presena

    de

    um fato

    realmente

    alarmante,

    se as

    teorias

    de

    Teutonic

    Vnity, com a

    su-

    gesto de

    devolver s

    selvas africanas

    e

    aos seus

    habitats primi-

    tivos

    todos

    aqules que

    acusarem pinta de sangue

    negride, air. la

    fossem

    levadas

    a

    srio pelo

    conjunto

    do

    povo americano. Em

    verdade,

    porm,

    j

    no

    isto

    o

    que

    se

    passa.

    De

    resto,

    o

    fato

    de

    Teutonic Unity haver

    sido

    editado

    pelo

    prprio

    autor,

    numa

    modesta

    edio

    de

    mil

    exemplares, nenhum

    dos

    quais

    destinado

    venda, para ser distribuda entre

    os

    funcionrios

    do

    governo

    de

    Washington

    e

    um seleto

    grupo

    de indivduos,

    principalmen-

    te historiadores,

    nas naes

    situadas

    na rea

    teutnica

    e

    nos

    di-

    versos

    pases

    formados

    durante

    as

    migraes

    teutnicas,

    consti-

    tui

    excelente

    indicao

    de

    que

    para

    as

    desenvolturas

    do

    racismo

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    30/427

    24

    BANDEIRANTES E PlONEiliOS

    j

    iiao n a

    mesma

    acstica

    de

    outrora.

    Com efeito,

    o racismo

    americano

    vai

    perdendo

    terreno

    dia

    a

    dia.

    Se

    certo

    que

    a

    rea-

    eo

    emocional

    de milhares, talvez

    de

    milhes

    de

    americanos,

    ainda

    se

    manifesta irredutvel

    no

    manter

    a

    segregao

    e

    a

    discrimina-

    o, enquanto outros

    so

    pelo absurdo

    da segregao sem dis-

    criminao

    (de

    acordo

    com

    a

    esdrxula doutrina

    dos

    iquais,

    mas separados)

    no

    menos

    certo

    que

    a

    segregao

    j

    no se

    mantm

    na

    base

    doutrinria

    da

    superioridade racial

    do

    branco,

    mas

    sob color

    de

    defesa

    da

    prerrogativa dos Estados

    de

    legis-

    lar

    sbre

    direito

    substantivo nos limites

    de sua

    prpria juris-

    dio.

    a

    pretexto

    de

    defender

    a

    autonomia

    dos Estados con-

    tra

    o

    intervencionismo,

    espontneo

    ou

    solicitado,

    do

    governo

    federal,

    que

    os

    sulistas,

    batendo

    em

    retirada,

    tm

    conseguido

    retardar

    a inevitvel

    incorporao

    dos negros

    e

    de

    outras

    mi-

    norias

    raciais

    cultura americana, enquanto

    o

    que

    h

    de

    me-

    lhor

    na

    cincia

    e

    no

    pensamento

    dos

    Estados-Unidos,

    na

    sua

    poltica,

    na

    sua

    anti-opologia,

    na

    sua literatura,

    prossegue im-

    placA'elmente

    cm

    favor

    da

    democratizao racial

    do

    pas.

    ^

    Ao

    passo

    que os

    livros

    pr

    di.scriminao

    no

    encontram

    editor

    e

    vo

    constituindo raridade,

    a

    bibliografia contrria

    torrencial.

    A

    verdade

    que

    o

    racismo

    americano

    perdeu

    a

    batalha

    doutri-

    nria

    e

    sabe

    que

    a

    perdeu.

    O

    resto uma questo

    de

    tempo.

    Enquanto,

    porm,

    o

    trmo

    final

    da

    capitulao

    no

    fr

    as-

    sinado

    e

    as

    coisas continuarem na

    legislao,

    nos costumes

    e

    nos

    regulamentos migratrios, como

    se a

    doutrina

    da superioridade

    tnica

    de

    anglo-saxes

    sbre

    os

    outros

    grupos humanos estives-

    se em

    plena vigncia,

    talvez

    no

    seja

    de

    todo

    fora

    de

    propsito

    ir

    apelando

    de

    suas sentenas

    em

    favor

    das

    demais

    interpreta-

    es que o confronto entre

    a

    civilizao americana

    e

    a

    brasileira

    comporta.

    Afinal

    de

    contas,

    num

    paralelo

    entre o

    progresso

    realizado

    pela

    civilizao

    norte-americana em

    contraste

    com

    a

    brasileira,

    talvez no

    haja muita

    heresia em

    abrir

    um

    modesto

    crdito

    qne-

    5.

    A

    17

    dc

    maio

    de

    1954,

    em

    histrica

    deciso,

    a

    Suprema

    Crte doa

    Estados-Unidos

    proscreveu

    a

    segregao

    racial em

    tdas

    as

    escolas

    pbli-

    cas,

    acabando

    de

    vez

    com

    a

    doutrina

    da

    igualdade

    com

    separao.

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    31/427

    RAA

    E

    GEOGKAFIA

    2

    les

    fatres

    que,

    como a

    orografia,

    a

    hidrografia,

    a

    botnica,

    a

    geologia

    e

    o

    clima,

    tm

    sido

    tambm

    invocados

    na

    interpretao

    dos

    fatos

    sociais.

    Alis,

    o

    difcil

    no o

    trazer

    estes

    fatres

    linha

    de

    couta,

    mas

    ignor-los,

    porque,

    num

    confronto

    entre

    Bra-

    sil

    e

    Estados-Unidos,

    eles

    entram a

    cada

    passo

    pelos olhos do

    observador

    mais desatento.

    3

    A) Para

    comear,

    a

    est,

    por

    exemplo,

    o

    fator

    orogrfico.

    o

    primeiro

    a

    reclamar

    a

    ateno do

    observador. Logo

    che-

    gada nos Estados-Unidos,

    na

    costa

    atlntica,

    quem viaja

    de

    trem

    de

    Miami

    a Nova

    York ou de

    Nova

    York

    a

    Filadlfia,

    Washington

    ou

    Chicago,

    surpreendido

    pelas

    planuras

    a

    perder

    de

    vista. Nada

    de

    montanhas

    a enegrecer

    ou

    barrar

    os

    horizontes.

    Uma

    ou

    outra

    suave

    elevao

    a

    grandes

    intervalos,

    e

    logo

    o trem ganha

    de

    novo

    a

    plancie

    rasa.

    Nada

    de

    antemurais

    de granito,

    tneis

    ou

    viadu-

    tos de

    cortar

    a

    respirao.

    No mximo, uma

    ou outra obra de

    engenharia

    nas

    diferenas

    de

    nvel

    necessrias

    ao entrecruza-

    mento

    das

    vias frreas

    e

    rodovias.

    Que

    contraste

    com as

    viagens

    do

    Rio

    a Belo

    Horizonte,

    do

    Rio

    a

    So

    Paulo, de

    Paranagu

    a Curitiba,

    ou

    de

    So Paulo

    a

    Santos

    Nestas, a

    planura

    a

    exceo

    ;

    a

    regra so as mon-

    tanhas, os

    despenhadeiros, os

    tneis,

    os

    viadutos,

    as curvas

    emol-

    duradas

    pela antemural de

    serras

    inspitas.

    Entretanto, sses

    contrastes

    nada

    mais

    so

    do

    que a

    tra-

    duo

    exata

    dos

    relevos geogrficos

    do

    Brasil

    e

    dos Estados-

    Unidos.

    Vai-se aos mapas

    e

    verifica-se

    que nos Estados-Unidos-

    tda a costa

    atlntica,

    da

    Florida

    ao

    Estado

    de

    Nova

    York,

    constituda por

    uma plancie ininterrupta,

    e que as

    cadeias

    dos

    Alleghenies e

    dos

    Apalaches distam

    da

    costa cerca

    de 300 qui-

    lmetros.

    Transpostos ou contornados,

    porm,

    os

    Alleghenies,

    novas

    cadeias de

    montanhas,

    as Montanhas Rochosas,

    s iro

    aparecer

    muito alm

    do

    Mississipi,

    j

    para

    os

    lados

    do

    Pacfico.

    Atente-se

    agora

    para

    o

    mapa

    do

    Brasil.

    Do

    ponto

    de

    vista

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    32/427

    26

    BANDEIKANTES E PIONEIROS

    da construo

    de estradas

    de

    ferro

    e

    de

    rodagem na zona tem-

    perada,

    um

    relvo

    geogrfico bastante

    mau

    do

    centro

    para

    o

    sul

    e

    apenas

    sofrvel do

    centro para

    o

    oeste.

    A

    partir

    do

    Rio

    d(3 Janeiro rumo

    ao

    sul,

    o

    Maieo Atlntico,

    compreen-

    dendo

    trs

    sistemas mais ou

    menos

    distintos

    a

    serra

    do

    Mar,

    a serra

    Geral

    e

    a

    serra

    da

    Mantiqueira

    em tda

    a

    extenso

    da

    costa, sempre vista,

    acompanhando

    o

    mar

    a

    uma

    distn-

    cia

    mdia talvez

    de 30

    quilmetros,

    nunca

    se

    afastando mais

    do que

    einqiienta.

    E

    sempre

    a

    pique,

    por

    vzes

    avanando

    at

    o

    oceano, a dificultar

    a

    penetrao do

    homem.

    Ferno Cardim,

    que

    fz

    em quatro

    dias

    a

    viagem

    de

    So

    Vicente

    a

    So

    Paulo em

    1585,

    nas

    melhores

    condies

    possveis

    para

    a

    poca, pois acompanhava

    o

    visitador

    da

    Companhia

    de

    Jesus,

    o

    Padre

    Cristvo

    de

    Gouveia,

    assim

    se

    refere

    ao

    roteiro

    percorrido

    : O

    caminho

    to ngreme que

    s

    vzes amos

    pe-

    gando

    com

    as

    mos.

    Todo

    o

    caminho

    cheio

    de

    tijucos,

    o

    pior

    que nunca vi,

    e

    sempre

    amos subindo

    e

    descendo serras

    altssimas

    e passando rios

    e

    caudais

    de gua

    frigidssima.

    '

    '

    No dizer

    do cronista Simo de

    Vasconcelos,

    nossas

    serras

    inspiravam

    temor

    aos primeiros povoadores :

    '

    '

    Chegaram a sus-

    peitar

    as

    gentes

    agrestes

    que

    estavam armados

    aqules

    montes

    para

    defenso

    sua.

    '

    '

    ^

    Que

    soma

    de

    impossveis

    no

    foi

    preciso vencer na

    construo

    de

    nossas estradas

    de

    ferro

    e

    de

    rodagem

    Que

    prodgios

    de

    engenharia

    no

    foram

    necessrios

    para

    a

    construo

    das

    estra-

    das

    de

    ferro

    de So

    Paulo

    a Santos

    ou

    de

    Paranagu

    a Curi-

    tiba

    Onde

    no

    a

    montanha, a

    eroso,

    o

    charco

    ;

    onde

    no

    o

    charco

    ou

    o

    pantanal,

    o

    excesso

    de

    calor

    e

    de

    umidade.

    A

    Madeira-Mamor,

    iniciada pelos

    engenheiros

    ingleses

    com

    operrios barbadianos e

    concluda

    pelos cearenses, sob

    a

    che-

    fia de

    engenheiros

    nacionais,

    um

    smbolo. A

    acreditar

    na

    le-

    6.

    J.

    Capristano de

    Abreu, Caminhos

    Antigos e

    Povoamento

    do

    BraSili

    pg.

    64.

    7.

    Simo de

    Vasconcelos,

    Vida do

    Venervel

    Padre

    Jos

    de

    Anchieta,

    1

    vol.,

    pg.

    67.

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    33/427

    RAA E

    GEOGRAFIA

    27

    genda,

    cada

    dormente

    da

    Madeira-Mamor

    representa

    a

    vida

    de

    um

    homem.

    Nada

    semelhante a

    isto

    ocorreu

    nos

    Estados-Unidos,

    do

    lado

    do

    Atlntico,

    que

    foi

    o

    lado da

    penetrao.

    B

    certo

    que

    os

    americanos

    tiveram de

    enfrentar

    no

    lado do

    Pacfico os

    pro-

    blemas

    das

    Montanhas

    Rochosas, que

    no

    eram

    poucos

    nem pe-

    quenos.

    Acontece,

    porm, que,

    quando

    o

    fizeram,

    j

    haviam

    conquistado o

    resto do

    pas

    e

    j

    estavam

    tecnicamente

    prepa-

    rados

    para

    a

    tarefa.

    No

    tiveram

    de

    ficar

    arranhando

    o

    li-

    toral,

    detidos

    pela

    montanha,

    no

    limiar

    da

    conquista.

    Nestas

    condies, no ser

    preciso

    mviita ousadia

    para

    con-

    cluir

    que

    a

    conquista

    da

    terra

    nos

    Estados-Unidos, no

    que

    diz

    respeito

    a

    possibilidades de

    penetrao, ter

    sido

    imensamente

    mais

    branda que no

    Brasil.

    Os

    earroes

    e

    as

    diligncias

    j

    cru-

    zavam

    e

    recruzavam

    os

    Estados-Unidos,

    articulados

    num

    sis-

    tema

    unificado

    de

    comunicaes,

    qviando

    o

    indgena,

    o

    negro, o

    burro

    e

    o

    jumento

    ainda

    eram

    o

    nosso

    nico meio

    de

    transporte

    possvel.

    E no

    responder em

    parte

    a

    orografia pela

    aterradora

    diferena

    entre

    os

    sistemas

    de

    transporte

    dos

    Estados-Unidos

    e

    do

    Brasil,

    cerca

    de

    364

    300

    quilmetros

    de

    estradas

    de

    ferro e

    5

    000 000 de

    quilmetros

    de

    estradas

    de

    rodagem

    nos

    Estados-

    Unidos,

    tudo

    de

    primeira

    ordem,

    e

    precarssimos 35

    000 quil-

    metros

    de

    estradas

    de

    ferro

    e

    apenas

    240

    000 quilmetros

    de

    estradas

    de

    rodagem

    no

    Brasil?

    B) E

    no

    sistema

    hidrogrfico melhorar

    a

    situao

    do

    Brasil

    1

    Eis

    a outro

    aspecto

    em

    que

    incide,

    independentemente de

    mapas,

    a ateno

    do

    observador.

    Nos

    Estados-Unidos,

    por

    tda

    parte,

    ao

    longo

    das

    vias

    frreas

    ou das

    estradas de

    rodagem,

    le

    ir encontrando nas

    cidades

    do

    interior

    magnficos

    rios

    na-

    vegveis

    e

    portos

    excelentes,

    alguns

    at com navios

    de

    guerra

    e de

    transporte

    ao

    largo

    ou atracados

    nos

    trapiches.

    Entre

    Miami

    e

    Nova York

    encontrar

    o

    Tndian,

    o St.

    John,

    o

    Alta-

    maha,

    o

    Savannah,

    o Santee,

    o

    Cape Fear,

    o

    Roanok,

    o Manves,

    o

    Potomac,

    o

    Susquehanna,

    o

    Delaware

    e

    o

    Hudson,

    alguns

    dos

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    34/427

    28

    BANDEIRANTES E

    PIONEIEOS

    quais

    ainda

    francamente

    navegveis, apesar

    de os

    transnorto ?

    fluviais

    estarem

    sendo

    cm

    alguns

    casos

    relegados

    a

    segundo

    pla-

    no.

    E entre

    Nova

    York

    e

    Chicago,

    o

    Hackensack.

    o

    Pasaic,

    o

    Lamington, novamente o

    Delaware e

    o

    Susquehanna,

    o

    Patuxent

    e

    o

    Patapsko.

    Impossvel

    qualquer hesitao

    : os

    Estados-Unidos

    possuem

    a melhor

    rde

    hidrogrfica

    do mundo.

    Milhares

    de

    rios;

    mi-

    lhares

    de

    lagos.

    O

    americano

    pode

    ir pelo leito

    de

    seus

    rios

    e

    de

    seus lagos

    e

    canais aos

    pontos

    mais

    extremos

    do

    pas:

    de

    Nova York

    a

    Chicago

    ou

    ao Canad;

    de

    Saint

    Paul,

    Minnesota,

    a

    Nova Orlees, na

    Luisiana.

    De resto, o que

    faziam

    os

    pio-

    neiros dos

    tempos

    coloniais,

    como ainda o

    fazem

    os

    moradores

    ribeirinhos

    de

    hoje.

    As

    duas

    clebres viagens

    de

    Abrao

    Lincoln,

    ao

    sabor

    da

    correnteza,

    em

    jangadas

    construdas

    por suas pr-

    prias

    mos,

    primeiro uo

    Sangamon Rivcr,

    depois

    no

    Ohio

    e

    por

    fim

    no

    Mississipi,

    para

    ir

    vender

    em

    Nova

    Orlees,

    alm

    dos

    produtos do

    Illinois, a

    prpria

    madeira

    das jangadas,

    no so

    mais do que

    repeties

    das

    inumerveis

    viagens do

    mesmo

    g-

    nero que se

    faziam

    durante

    todo o

    perodo

    colonial,

    no

    Hudson,

    no So

    Loureno,

    no

    Ohio,

    no

    Mississipi.

    O

    Mississipi

    Como se

    no

    bastassem aos americanos

    dois

    oceanos

    laterais,

    o

    Atlntico

    e

    o

    Pacfico,

    foram

    ainda

    brinda-

    dos

    com sse

    prodigioso mar interior, o

    Mississipi,

    ste,

    sim,

    o

    verdadeiro

    rio

    de

    uma unidade

    nacional.

    Repare-se

    agora

    no

    caso

    do

    Brasil.

    Pobreza de

    rios, quase

    inexistncia

    de

    lagos. Onde

    os

    rios francamente navegveis?

    E

    os lagos? E onde

    a

    possibilidade

    de

    control-los, para

    fins

    de

    irrigao

    e

    proveito da agricultura? No

    os

    h

    propriamen-

    te

    na

    zona

    temperada; no

    os

    havia

    na

    faixa

    ocupada

    no

    pri-

    meiro

    perodo de nossa

    formao,

    pois

    nesse tempo

    o

    Rio

    Gran-

    de do

    Sul,

    com

    seu

    magnfico

    sistema

    potamogrfico

    e

    orogr-

    fico,

    seus

    esplndidos vales,

    suas

    quatro

    estaes

    definidas,

    suas

    planuras

    a perder

    de

    vista,

    entreaberta paradisaca extraviada

    no

    continente, mal era conhecido.

    So todos

    rios

    encachoeira-

    dos, com alucinante regime

    de

    cheias

    e

    vazantes. Ao

    contrrio

    dos

    rios

    americanos,

    no

    servem

    aos

    conquistadores

    e

    bandei-

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    35/427

    BAA E

    GEOGRAFIA

    29

    rantcs

    em sua

    penetrao,

    seno

    como pontos

    de

    referncia nas

    marchas

    rumo

    ao

    serto.

    Havia,

    certo, o

    So

    Francisco. Mas este mesmo,

    inter-

    rompido

    a

    crca

    de

    250

    quilmetros

    do

    Atlntico pela

    cachoeira

    de

    Paulo

    Afonso, estava

    longe

    de

    ser

    o

    rio

    de

    nossa

    unidade

    nacional.

    O

    mesmo

    se pode

    dizer

    do

    Paran,

    no qual as

    Sete

    Quedas

    comprometem

    irremediavelmente

    a

    navegabilidade. Hoje,

    com os

    processos

    de

    aproveitamento

    da

    energia

    hidroeltriea,

    as

    quedas

    de

    gua

    constituem

    um

    dos

    nossos

    melhores

    patri-

    mnios.

    Entretanto,

    durante

    a

    colonizao eram

    antes um

    es-

    torvo

    que

    um

    instrumento

    de

    progresso.

    E o

    Amazonas?

    O

    maior

    rio do

    mundo.

    Mas

    s

    em vo-

    lume

    de guas.

    Econmieamente, no

    vale

    o

    Mississipi,

    no

    vale

    o

    Nilo.

    Corre errado,

    pela

    linha

    do

    Equador, por

    terras

    onde

    se

    processa, na sntese

    de

    Euclides

    da

    Cunha,

    o

    ltimo

    captulo

    do

    Gnesis .

    Um

    rio monstruoso

    e

    indmito,

    e

    muito

    mal preparado

    para o

    advento

    de

    uma cultura estvel. Zangado,

    engole

    terra,

    lguas

    e

    lguas de terra,

    salta

    do

    leito,

    levando

    tudo

    de

    roldo.

    Ademais, um rio impatritico, pois,

    a

    acredi-

    tar

    nos

    entendidos,

    as

    terras

    que

    engole para

    despejar

    depois

    no

    Atlntico,

    carreadas pelo

    Gnlf

    Strcam,

    vo acrescentar

    novas

    terras

    ao

    Mxico e aos

    Estados-Unidos, nas

    formaes

    aluvi-

    nicas

    do

    Yueatn

    e

    da

    Florida.

    Tudo,

    pois, soma

    a

    favor

    dos

    Estados-Unidos.

    Alm

    dos

    sistemas

    orogrfico

    e

    hidrogrfico,

    tm

    ainda

    os

    americanos

    a

    favorec-los a

    vantagem,

    no

    pequena,

    de

    um

    clima

    mais

    ou

    menos idntico ao europeu, com

    quatro estaces definidas a

    fa-

    cilitarem

    a

    adaptao das avalanchas

    humanas

    que a

    Europa

    despejou

    no

    Novo

    Mundo.

    C)

    O

    clima

    dos

    Estados-Unidos

    Tdas

    as

    temperaturas

    imaginveis para

    os

    efeitos

    das

    mais variadas

    transplantaes

    humanas, zoolgicas

    ou

    vegetais. Quereis

    o

    frio

    da Sibria? No

    ser necessrio ir

    ao

    Alasca para enfrent-lo.

    No

    mesmo

    Es-

    tado

    de

    Nova

    York,

    na

    Nova

    Inglaterra

    e

    por

    todo

    o

    Meio-

    Oeste,

    por

    ocasio

    das

    grandes

    nevadas,

    o

    frio

    siberiano

    dar

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    36/427

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    37/427

    RAA

    E

    GEOGKAFIA

    31

    A

    propaganda

    que

    se

    fazia na Europa

    era

    que

    o

    clima

    do

    Bra-

    sil

    constitua

    ameaa

    sade

    e

    vida.

    Enquanto

    nos

    pases

    frios a

    doena

    era

    considerada

    uma

    fatalidade independente

    do

    clima,

    nos

    trpicos

    o

    clima

    tinha

    de

    responder por tudo.

    Atribua-se-lhe

    a

    responsabilidade

    da

    febre amarela,

    do

    impa-

    ludismo e

    das

    doenas tropicais,

    contra as

    quais

    a

    poltica se-

    guida at

    havia pouco era

    a da quarentena

    e

    do

    cordo

    sani-

    trio.

    Hoje, felizmente,

    j

    se sabe que

    o

    clima

    nada

    tem

    que

    ver

    com

    as

    impropriamente

    chamadas

    doenas

    tropicais

    e

    que

    tudo

    se reduz

    a

    uma questo de

    higiene.

    Sabe-se

    mais:

    sabe-se

    que

    o

    clima

    do

    Brasil

    principalmente

    o

    das

    regies tropi-

    cais, onde

    o

    calor

    mdio,

    em

    virtude

    de

    uma

    combinao provi-

    dencial

    de

    situao

    geogrfica, regime

    de

    ventos

    e

    de chuvas,

    no

    vai alm

    de

    28,

    no

    apresentando

    carter

    alarmante

    as

    temperaturas

    mximas

    tem sido verdadeiramente um cli-

    ma

    caluniado .

    Da,

    porm,

    a

    concluir

    que

    seja

    excelente

    de

    Norte

    a

    Sul ou que possa suportar confronto

    vantajoso

    com o

    clima

    dos

    Estados-Unidos

    sobretudo

    se se

    fizer

    o

    confronto

    do

    ponto

    de

    vista das

    relaes entre

    o

    clima

    e

    a

    ecologia,

    ou

    (ntre clima

    e

    capacidade

    de produo

    s

    magnificando

    as

    impresses.

    Sob

    este

    aspecto,

    preciso

    desde

    logo

    notar

    que

    em

    mais

    de dois

    teros

    do

    territrio

    nacional,

    no h

    nem

    inverno,

    nem

    primavera,

    nem

    outono.

    Em

    outros termos:

    no h

    estmulo

    para

    a

    produo

    de aquecimento,

    estmulo

    que talvez consti-

    tua

    o primeiro

    momento

    de todo

    o

    desenvolvimento

    industrial.

    O

    que

    h

    um

    perene vero.

    Vero primaveril,

    vero

    outonal,

    vero

    com chuva,

    vero

    sem chuva,

    mas

    sempre vero.

    Isto

    em duas

    teras

    partes

    do

    Brasil.

    Na

    outra

    tera

    par-

    te,

    verdade, as

    coisas

    mudam bastante

    de

    figura.

    No

    tanto,

    porm,

    que

    se

    possa

    dizer

    que

    o

    nosso

    inverno,

    do Centro

    para

    o

    Sul, constitua uma

    provocao

    incontornvel

    para

    pensar

    em

    termos

    de

    aquecimento

    e

    carvo. Ao invs

    disso,

    mesmo

    no

    Rio

    Grande

    do

    Sul,

    onde

    o

    frio

    mais rigoroso, pensa-se apenas

    em

    termos

    da

    resistncia

    pessoal

    e

    de

    cobertores

    de

    l,

    e

    at

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    38/427

    82

    BANDEIRANTES

    E

    PIONEIROS

    nas

    casas

    ricas ainda

    se

    considera

    que

    lareira

    ou calefao

    luso.

    Consequncia

    :

    quando

    chega

    o

    ms

    de

    agsto,

    crescem

    09

    ndices

    de

    mortalidade,

    tal

    como

    acontece, alis,

    no inverno

    em

    Portugal

    e

    em

    todo

    o

    Mediterrneo,

    onde

    o

    frio

    no

    suficien-

    temente rigoroso nem

    para

    acautelar

    o

    homem

    contra

    as

    ins-

    dias

    da

    pneumonia

    e

    da

    tuberculose,

    nem

    para

    estimul-lo

    mais

    decisivamente

    a

    produzir

    aquecimento

    e

    energia,

    como

    ocorre

    cora

    o

    frio

    do

    Norte

    da

    Europa

    e

    dos

    Estados-Unidos.

    E aqui

    temos

    outra

    vantagem

    o frio

    a somar

    eco-

    nomicamente

    a

    favor

    dos

    Estados-Unidos,

    na

    sua

    melhor

    prfr

    parao

    para

    o

    advento

    da

    era

    industrial.

    Isto

    para

    no

    fa-

    lar

    nos

    efeitos

    do

    frio

    e do

    calor

    sbre

    a produtividade

    dos in-

    divduos.

    Nos

    pases

    de

    clima

    quente

    ou

    temperado

    talvez

    ainda

    seja

    possvel

    ignorar

    a

    tremenda

    importncia

    do

    fator clima;

    no

    assim

    nos de clima frio,

    como

    os

    Estados-Unidos. Ali, em ple-

    no inverno,

    a neve

    a

    cair,

    a

    temperatura

    a

    baixar,

    basta

    que

    os mineiros

    de carvo entrem em

    greve

    para que

    tda a

    dvida

    se

    dissipe. Entraram

    em

    greve os mineiros

    de

    carvo?

    o

    alarma geral,

    o

    pnico.

    O

    americano

    suporta

    bem

    as outras

    greves, mas,

    quando

    a

    greve

    na

    indstria

    do carvo,

    fica

    a

    pique

    de

    perder

    o

    controle.

    Que o

    ao

    j

    no possa

    ser

    fabri-

    cado ou que

    as fbricas cuja

    energia depende

    do

    carvo para-

    lisem,

    le

    pode

    perfeitamente

    suportar.

    Mas

    que

    lhe falte

    o

    aquecimento em casa,

    ao

    recolher-se

    noite, transido de frio,

    perspectiva que no

    lhe sorri. Nestas

    horas

    no

    haver ne-

    nhum

    americano

    que

    tenha

    dvida

    em incluir

    o

    frio

    e

    a

    geof-

    sica

    entre

    os

    fatres

    que

    aceleram

    ou retardam

    a

    marcha

    das

    civilizaes.

    Nenhum?

    No,

    haver

    naturalmente

    muitos, sobretudo

    no

    Sul

    dos

    Estados-Unidos,

    capazes

    de

    contestar a

    importncia

    do

    clima: um dles

    ser Mr.

    Earncst Sevier

    Cox,

    de

    Riehmond,

    na

    Virgnia,

    autor

    de

    Teutonic Vnity.

    Bom racista,

    Mr. Se-

    vier Cox,

    tal como

    Gobineau.

    no

    tolera

    muito

    a

    geografia

    e

    de-

    testa

    as

    explicaes

    mesolgicas

    e

    geofsicas.

    Para

    le,

    cultura

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    39/427

    RAA E

    GEOGEAFIA

    33

    e

    progresso como

    que

    independem

    por completo

    do

    meio,

    e,

    portanto,

    do

    clima

    e

    da

    geografia.

    E

    a

    fim

    de

    provar

    qne

    as-

    sim

    ,

    cita

    o

    caso da

    Islndia

    em

    confronto

    com

    o

    da Siclia.

    A

    Siclia

    diz C4e

    antes

    que a

    Islndia,

    devia ser

    o

    local

    propcio

    ao

    avano

    da

    cultura

    civilizada,

    se

    aceitarmos

    a

    hiptese

    daqueles que

    atribuem

    o

    progresso cultural

    ao meio

    de

    preferncia

    raa. Aplicando

    o

    critrio

    dos

    partidrios

    do

    meio, verificamos que

    o

    clima

    da Siclia

    ideal

    para o

    i)ro-

    gresso

    cultural,

    mas

    no

    o

    o

    da

    Islndia.

    Verificamos

    que

    a

    Siclia fica na

    encruzilhada

    de

    migraes

    tnicas

    e

    est

    ex-

    posta

    a

    contatos

    raciais.

    Mas tambm verificamos

    que

    durante

    mil

    anos o

    analfabetismo foi

    prticamente

    desconhecido na Is-

    lndia, enquanto durante

    os

    mesmos mil anos

    o analfabetismo

    foi, com uma ou outra exceeo,

    a

    herana universal

    da Sic-

    lia.

    A

    est:

    o

    clima

    da

    Siclia

    ideal

    para

    o

    desenvolvimento

    da

    cultura

    Mas, onde a

    prova

    de

    que a

    Siclia possui essas

    condies

    ideais

    e

    a

    Islndia

    no as

    possui?

    Onde

    a

    prova

    de

    que os

    climas

    quentes

    e

    temperados

    se

    coadunam

    mais

    com a

    concentrao

    do

    pensamento

    e

    as atividades da imaginao

    do

    que

    os

    climas

    frios? No

    ser

    antes

    o

    contrrio,

    pelo

    menos

    no que

    toca ao

    pensamento cientfico?

    E

    acaso

    ser diferente

    no que

    diz

    respeito

    ao

    desenvolvimento

    industrial

    ?

    Vistas as

    coisas

    por

    este

    prisma,

    no ser

    o

    caso

    de

    dizer

    que a

    Islndia

    e

    no a

    Siclia

    que

    tem condies ideais

    para

    o

    desenvolvimento de

    uma cultura prpria?

    que

    a

    Siclia,

    prxima de dois

    continentes

    como sucede com

    a

    Crsega

    dos

    Bonapartes,

    exemplo

    que

    por

    sinal Teutonic

    Unity

    no

    se dig-

    na

    de

    contemplar

    apenas

    um

    ponto

    de

    pas.sagem

    das

    mi-

    graes

    da

    frica para

    a

    Europa

    e

    vice-versa.

    Outro tanto

    no ocorre

    com

    a

    Islndia.

    Durante sculos

    o

    insulamento

    ali

    quase

    absoluto,

    condenando

    os

    habitantes

    a

    criarem

    a

    sua

    prpria

    cultura,

    ao

    invs

    de

    assimilar,

    j

    corrompidas,

    as

    cul-

    turas

    alheias,

    ou para elas

    emigrar.

    8.

    Earnest

    Sevier

    Cox,

    Teutonic

    Unity,

    pg.

    128.

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    40/427

    34

    BANDEIKANTES

    E PIONEIROS

    E

    quanto

    ao

    clima

    da

    Siclia

    em

    relao

    ao

    desenvolvi-

    mento

    indastrial

    :

    os

    climas

    quentes

    ou

    temperados,

    por

    isso-

    que

    no

    obrigam

    a

    pensar

    em

    termos

    de

    fogo

    e aquecimento,

    no

    devem

    acelerar

    o

    advento

    industrial

    na

    mesma

    medida

    dos-

    climas frios,

    onde

    o

    homem

    periodicamente

    obrigado

    a

    pen-

    sar em trmos

    de

    aquecimento

    e combustvel.

    Em

    outras

    pala-

    vras:

    aquilo

    que

    do

    ngulo

    do bem-estar

    fsico

    parece

    um

    mal,,

    do

    ponto

    de

    vista

    da

    elaborao

    de

    progresso

    acaba

    sendo

    uma

    grande

    bno.

    Em

    consequncia,

    no

    possvel vacilar:

    considere-se

    a

    ques-

    to sob

    o

    aspecto

    orogrfico,

    como

    sob

    o

    hidrogrfico,

    ou sob-

    o climtico,

    e as

    vantagens

    dos

    Estados-Unidos

    .so bvias.

    Quando-

    em

    1607,

    John

    Smith,

    o famoso

    fundador

    do Estado

    da

    Virg-

    nia,

    dizia

    dos

    Estados-Unidos

    que

    o

    cu

    e

    a

    terra

    nunca

    se

    pu-

    seram

    to

    de

    acordo

    para criar

    para

    o

    homem

    um

    lugar

    habit-

    vel ,

    sabia o

    que

    estava dizendo,

    e

    o

    futuro

    lhe

    confirmaria

    as.

    impresses.

    Infelizmente,

    no

    ste o

    caso

    da clebre afirmao

    de

    Pero

    Vaz

    de Caminha,

    o

    cronista

    oficial

    do descobrimento,

    quando-

    escreve

    que no Brasil

    a

    terra era

    to

    boa

    que, querendo aprovei-

    t-la, dar-se-

    nela

    tudo .

    Vaz

    de Caminha

    foi

    evidentemente-

    um

    exagerado. Cronista

    oficial

    de

    bordo,

    sua

    grande

    preocupa-

    o,

    que

    transparece da clebre carta

    a

    D. Manuel, era agradar

    ao

    rei,

    seu

    amo

    e

    senhor.

    Como?

    A

    melhor

    maneira,

    provavel-

    mente

    a

    nica,

    seria anunciar-lhe

    minas

    de

    ouro,

    pedras

    pre-

    ciosas, riquezas

    faustosas, opulncias

    como

    na

    ndia

    ou na Nova

    Espanha.

    Uma

    vez

    que

    isto

    no

    foi possvel, pois, como diz

    a

    carta,.

    Nela,

    at

    agora,

    no

    pudemos

    saber

    que

    haja

    ouro,

    nem

    prata,,

    nem

    coisa alguma

    de

    metal

    ou

    ferro ,

    e

    a

    decepo

    do

    rei,

    a

    quem desejava

    fazer

    um pedido,

    precisava

    ser abrandada,

    da

    terra

    recm-descoberta era

    necessrio

    proclamar

    alguma

    exceln-

    cia. Da

    provavelmente aquele

    precipitado

    querendo-a

    apro-

    9.

    Apud

    Jaime

    Corteso,

    Carta

    de

    Pero

    Vaz

    de

    Camivha.

    pg.

    2-iO.

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    41/427

    KAA E

    GEOGRAFIA

    35

    veitar,

    dar-se-

    nela tudo ,

    destinado

    a

    tamanha voga ainda

    em

    nossos

    dias.

    Agora,

    base

    concreta

    para

    a

    sua

    simptica

    afirmativa,

    Ca-

    minha no

    a

    apresenta.

    Viu

    le

    por

    acaso

    as roas

    plantadas

    pe-

    los

    ndios?

    Entendia le

    de

    agricultura

    ou

    era assistido

    por al-

    gum

    iniciado nos

    segredos

    das

    terras

    de

    natureza

    tropical?

    De-

    morou-se

    le no

    Brasil

    tempo bastante para

    ver

    o

    pas

    de ura

    modo

    e de outro

    modo, como

    convinha

    ao

    autor

    de

    uma sentena

    que

    atravessaria

    os

    sculos

    e

    contra

    a

    qual

    os

    sculos

    no

    preva-

    leceriam?

    No

    houve nada

    disso.

    A carta

    datada

    de

    Prto Seguro,

    na ilha

    de

    Vera

    Cruz,

    a

    1

    de

    maio

    de

    1500.

    O

    Brasil fora

    entrevisto

    a 21 de

    abril.

    De

    21 de

    abril

    a

    1 de

    maio

    contam-se

    apenas dez

    dias.

    E

    stes

    Caminha

    decididamente no os

    aproveitou em

    investigaes

    no do-

    mnio da

    agricultura

    ou

    sequer em

    excurses terra adentro. Nem

    houve

    tempo

    para

    tanto.

    A

    21

    de

    abril

    foram encontrados

    os

    primeiros sinais

    de ter-

    ra ;

    a

    22 a costa

    finalmente avistada.

    Primeiro

    avistaram

    um

    grande monte,

    muito alto

    e

    redondo,

    e

    ao

    sul dle outras

    serras

    mais

    baixas;

    ao

    monte alto

    o

    capito

    ps

    nome

    o

    MONTE

    PASCOAL

    e

    terra

    a

    TERRA

    DA

    VERA

    CRUZ , Neste

    dia,

    porm,

    a

    frota

    de

    Cabral

    ancorou ao

    largo. Ningum

    de-

    sembarcou.

    E

    foi s a

    23

    que seguiram

    direito

    terra,

    lanando

    ncoras

    em frente bea de um rio.

    Mas

    ainda

    neste

    dia

    e

    no

    seguinte

    no

    desceu

    o

    nosso

    cronista. Ficou

    na

    amurada esprei-

    tando

    o que

    se

    passava na

    praia.

    Ainda

    a

    24,

    Caminha

    no

    sai

    de

    bordo. Passa

    o dia

    a

    ob-

    servar a

    mudana

    da

    frota para

    um

    prto

    mais

    abrigado,

    o Prto

    Seguro, e

    as

    peripcias

    do

    encontro dos

    ndios

    com

    o

    Capito-Mor.

    Est

    encantado com os

    nativos

    e

    no se

    cansa

    de os

    descrever:

    A

    feio

    dles

    serem

    pardos,

    maneira de avermelhados,

    de

    bons

    rostos

    e

    bons

    narizes,

    bem

    feitos.

    Andam nus,

    sem

    cober-

    tura

    alguma.

    No

    fazem

    o

    menor caso

    de

    encobrir

    suas

    vergo-

    nhas

    ;

    e

    nisso

    tm tanta

    inocncia

    como

    em

    mostrar

    o

    rosto.

    '

    10.

    Id., ihid.,

    pg.

    201.

    11. Id.,

    ibid.,

    pg.

    204.

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    42/427

    36

    BANDEIRANTES

    E

    PIONEIROS

    A

    25,

    sbado,

    a

    mesma

    coisa:

    tarde

    saiu

    o

    Capito-Mor

    em

    seu

    batel

    com

    todos

    ns

    outros

    e

    com

    os

    outros

    capites

    das

    naus

    em

    seus

    batis

    a

    folgar pela baa,

    em

    frente

    da praia. ]\Ias

    ningum saiu

    em

    terra porque

    o

    Capito

    o

    no

    quis,

    sem

    embar-

    go de

    ningum nela

    estar.

    Caminha s

    foi

    a

    terra

    a

    26

    de

    abril, domingo da

    Pseo;i,

    para

    ouvir

    missa,

    a

    famosa primeira

    missa

    celebrada por

    Frei

    Henrique

    de

    Coimbra.

    E de

    26

    de

    abril

    a

    1 de

    maio,

    data

    da

    carta,

    nada

    indica

    estivesse

    le

    particularmente

    interessado

    em

    questes

    agrcolas. Parecia antes

    impressionado com

    o

    aspecto

    das

    ndias,

    que por

    sinal

    lhe

    pareceram bem

    moas

    e

    bem. gen-

    tis, com

    cabelos muito pretos

    e

    compridos pelas

    espduas

    e

    suas

    vergonhas to

    altas,

    to

    cerradinhas

    e to

    limpas

    das

    cabeleiras

    que

    de as

    muito

    bem olharmos,

    no tnhamos nenhuma vergo-

    nha.

    Qual

    ento a

    justificativa

    do

    seu

    querendo-a

    aproveitar,

    dar-se-

    nela

    tudo?

    Caminha

    explica:

    dar-se-

    nela tudo,

    por

    bem das

    guas

    que

    tem.

    Como se v, puro

    impressionismo, provavelmente

    a mesma

    qualidade

    de

    impressionismo

    que

    levu

    Alexandre Hiunboldt

    a

    anunciar,

    diante

    da

    vegetao luxuriante

    da

    Amaznia,

    que

    o

    grande vale seria

    o

    '

    '

    celeiro

    do

    mundo

    '

    '. Com esta

    diferena

    :

    em

    I'ero

    Vaz

    de

    Caminha, cronista

    de

    bordo,

    o

    impressionismo

    perfeitamente tolervel e

    compreensvel

    ;

    no

    assim

    em

    Hum-

    boldt,

    homem

    de

    cincia

    e

    objetividade.

    A

    cincia

    moderna,

    se

    tivesse

    de se pronunciar

    sobre

    o

    assunto, certamente no se

    pronunciaria

    com

    o

    mesmo

    otimis-

    mo,

    porque

    o

    que

    se

    tem experimentalmente

    coinprovado

    que

    os

    solos

    tropicais

    (solos

    de

    laterita)

    so

    sumamente

    pobres.

    As

    grandes chuvas lavam

    a

    terra

    do

    seus componentes

    qumicos

    e

    a

    empobrecem,

    num

    forte contraste com os

    solos quimicamente

    ricos dos

    prados

    euro-asiticos

    (frios

    e

    temperados) do

    Dan-

    bio,

    da

    Ucrnia e

    do

    Meio-Oeste dos

    Estados-Unidos.

    12.

    Td.,

    ibi.,

    pfig.

    212.

    13.

    Id.,

    ibid.,

    pg.

    210.

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    43/427

    KAA

    E

    GEOGEAFIA

    Z1

    Iliimboldt.

    porm, no

    seria

    o

    primeiro

    nem

    o

    ltimo

    a

    dei-

    xar-se

    enganar

    pelas

    aparncias

    do

    trpico

    e

    da

    Amaznia.

    Que

    o

    digam

    os

    tcnicos

    da

    Ford

    Motor

    Company,

    ainda

    h

    pouco

    empenhados

    em

    revalidar

    as

    profecias

    de

    Humboldt

    e Pero

    Vaz

    de

    Caminha,

    um episdio

    que,

    pela sua

    fora

    de

    sugesto,

    vale

    a

    pena

    recordar.

    4

    Por

    volta

    de

    1928,

    Henry

    Ford debatia-se

    com

    mna

    ideia

    fixa

    :

    queria

    encontrar

    uma

    frmula salvadora para

    o

    angus-

    tiante

    problema

    do

    suprimento

    de

    borracha

    para

    a

    sua inds-

    tria. Estava cansado de

    aturar os

    preos

    que os

    ingleses de

    Ceilo

    e

    tambm

    os

    holandeses

    de

    Java

    lhe

    impunham.

    E

    deci-

    dira

    que

    o

    imprio

    da

    borracha na

    mo

    dos

    ingleses era

    imoral

    e que

    a

    maneira

    de

    purific-lo

    e

    redimi-lo era

    transferir

    este

    imprio

    da

    tutela retrgrada

    do

    capitalismo ingls para

    a

    tutela

    progressista

    do

    jovem

    e

    saudvel

    capitalismo americano.

    Como?

    Plantando

    borracha na

    Amaznia.

    No havia

    o

    sdito ingls

    Henry

    Wiekham

    transportado

    s escondidas para

    a

    Ingla-

    terra

    as

    mudas

    da

    seringueira

    da

    Amaznia?

    E

    no

    tinham

    estas mudas,

    depois

    de

    aclimadas

    nas

    estufas

    de

    Kew

    Gardeu

    o

    jardim botnico

    de

    Londres

    vingado perfeitamente no

    Oriente,

    transformando-se nas

    maiores

    plantaes

    de

    borracha

    do

    mundo

    ?

    Ora,

    se,

    transplantadas,

    as

    mudas

    da

    hevea

    brasiliensis

    vin-

    gavam dessa

    maneira,

    deslocando de

    Belm

    do

    Par para

    Ceilo

    o eixo

    dos

    fabulosos

    negcios

    de borracha,

    que

    prodgios no

    operariam estas

    mesmas

    mudas

    uma

    vez

    plantadas simtricamente

    no solo

    original?

    Tudo

    estava

    em

    organizar

    seringais

    homog-

    neos om

    terras

    apropriadas.

    Por conseguinte,

    rumo

    ao

    Brasil,

    rumo

    Amaznia.

    O

    ideal

    seriam

    as Everglades,

    nos

    Estados-Unidos

    ;

    mas

    Henry

    Ford,

    qvie

    sabia

    do malogro

    das

    experincias

    do

    seu

    amigo

    Thomas

    Edison

  • 7/21/2019 Bandeirantes e Pioneiros

    44/427

    38

    BANDEIEANTES

    E

    PIONEIROS

    no sentido

    de

    plantar

    borracha

    em territrio

    americano,

    era

    pragmtico demais

    para

    insistir.

    A

    coisa

    tinha

    de

    ser

    mesmo

    na

    Amaznia;

    e

    na

    Amaznia,

    no

    Par;

    e

    no

    Par,

    s

    margens

    do

    Tapajs

    ; e

    nas

    margens

    do

    Tapajs,

    exatamente

    no local

    em

    que

    Henry

    Wickham recolhera,

    em

    1892,

    com

    as

    mudas

    da

    seringueira,

    o

    futuro

    ttulo

    de

    lorde.

    Era lamentvel,

    mas infe-

    lizmente aquelas

    rvores to cobiadas

    pela

    indstria

    americana,

    talvez

    por

    terem

    o

    sangue

    branco como

    os

    deuses, e que, por

    isso

    mesmo,

    no

    plano

    vegetal,

    deviam

    corresponder

    ao

    ariano

    no

    plano

    a