avaliaÇÃo da influÊncia da difusÃo de oxigÊnio na …

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AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA FORMAÇÃO DE OCRE EM FILTROS GEOTÊXTEIS Luiza Gabriela Cruz dos Santos Correia Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil. Orientadores: Maurício Ehrlich Marcos Barreto de Mendonça Rio de Janeiro Junho de 2014

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AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA FORMAÇÃO

DE OCRE EM FILTROS GEOTÊXTEIS

Luiza Gabriela Cruz dos Santos Correia

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-graduação em Engenharia

Civil, COPPE, da Universidade Federal do Rio

de Janeiro, como parte dos requisitos necessários

à obtenção do título de Mestre em Engenharia

Civil.

Orientadores: Maurício Ehrlich

Marcos Barreto de Mendonça

Rio de Janeiro

Junho de 2014

Page 2: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA FORMAÇÃO

DE OCRE EM FILTROS GEOTÊXTEIS

Luiza Gabriela Cruz dos Santos Correia

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO

LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA

(COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROCOMOPARTE

DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE

EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL.

Examinada por:

________________________________________________

Prof. Maurício Ehrlich, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Marcos Barreto de Mendonça, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Ennio Marques Palmeira, Ph.D.

________________________________________________

Prof. Eliana Flavia Camporese Servulo, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

JUNHO DE 2014

Page 3: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

iii

Correia, Luiza Gabriela Cruz dos Santos

Avaliação da influência da difusão do oxigênio na

formação de ocre em filtros geotêxteis / Luiza Gabriela

Cruz dos Santos Correia. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE,

2014.

IX, 99 p.: il.; 29,7 cm.

Orientadores: Maurício Ehrlich

Marcos Barreto de Mendonça

Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de

Engenharia Civil, 2014.

Referências Bibliográficas: p. 96-98.

1. Geotêxteis. 2. Colmatação Biológica. 3. Ocre. I.

Ehrlich, Maurício et al. II. Universidade Federal do Rio de

Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia Civil. III.

Título.

Page 4: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

iv

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Antonio Cruz dos Santos e Giselda Maria Satyro Correia, pela

oportunidade fornecida de estudar e todo apoio imprescindível ao meu desenvolvimento

profissional e também pessoal.

Aos meus orientadores, Professores Maurício Ehrlich e Marcos Barreto de Mendonça,

pela seriedade e dedicação ao longo do desenvolvimento desta dissertação.

À comunidade acadêmica da COPPE/UFRJ, pelo companheirismo e ensinamento

obtidos.

Às pessoas do Laboratório de Geotecnia da COPPE/UFRJ, em especial ao Sérgio Iorio,

pelo auxílio técnico fornecido.

À equipe da Escola de Química da UFRJ, em especial à Professora Eliana Flavia

Camporese e ao Lindomar Araújo, pelo apoio dado no Laboratório de Microbiologia

além dos ensinamentos valiosos ao longo deste trabalho.

Aos colegas de mestrado da COPPE/UFRJ, em especial ao Marcos Leandro Nunes e

Josiane Brito pelos momentos de descontração ao longo desses dois anos de mestrado.

Aos colegas de pós-graduação da COPPE/UFRJ, em especial ao Jonathan Tenório,

Francesco Julhos e Mario Nacinovic pelos conselhos e diálogos enriquecedores.

À CAPES pelo auxílio financeiro concedido pela bolsa de estudo.

Durante o desenvolvimento da dissertação encontrei pessoas que me ajudaram de várias

formas, com sugestões, ideias ou críticas sempre construtivas. Obrigada a todosque

contribuíram para iluminar esse caminho percorrido durante o trabalho, que exige tanta

dedicação e serenidade.

Page 5: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

v

Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA FORMAÇÃO

DE OCRE EM FILTROS GEOTÊXTEIS

Luiza Gabriela Cruz dos Santos Correia

Junho/2014

Orientadores: Maurício Ehrlich

Marcos Barreto de Mendonça

Programa: Engenharia Civil

Este trabalho tem como objetivo a análise da influência da disponibilidade de

oxigênio por meio da difusão na formação do biofilme de ocre em filtros de sistemas

drenantes. É descrita a natureza químico-microbiológica que condiciona a formação do

ocre, abordando estudos de caso sobre sua ocorrência e seu efeito negativo em obras

geotécnicas como a colmatação. Foram realizados ensaios de permeabilidade do tipo

coluna de filtração sob fluxo ascendente variando a altura da lâmina d’água sobre o

geotêxtil do tipo tecido, utilizando nutrientes diluídos e introduzindo ferrobactérias. O

desenvolvimento do biofilme de ocre no geotêxtil é avaliado através de análises

químicas e microscopia eletrônica. As análises efetuadas evidenciaram que os

geotêxteis apresentaram em sua superfície a formação de ocre certo tempo depois do

contato com as ferrobactérias que foram inseridas no sistema. Os resultados mostraram

que a formação de biofilmes ocorreu em todas as configurações de ensaio estabelecidas.

Page 6: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

vi

Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

EVALUATION OF THE DISTRIBUTION OF OXYGEN IN THE

FORMATION OF OCHRE ON FILTERS GEOTEXTILES

Luiza Gabriela Cruz dos Santos Correia

June/2014

Advisors: Maurício Ehrlich

Marcos Barreto de Mendonça

Department: Civil Engineering

This study aims to analyze the influence of the availability of oxygen diffusion

in ochre biofilm formation in filter drainage systems. The chemical and microbiological

nature that affects the formation of ocher, addressing case studies on the occurrence and

its negative effect on geotechnical works such as clogging is described. Permeability

tests of the type column upflow filtration varying the height of the water depth on the

geotextile fabric type, using diluted nutrients and introducing Iron Bacteria are

performed. The biofilm development of ocher in geotextile is evaluated through

chemical analysis and electron microscopy. Analyses showed that the geotextiles

presented on its surface the formation of ochre time after contact with Iron Bacteria that

have been entered into the system. The results showed that the formation of biofilms

occurred in all configurations test established.

Page 7: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

vii

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 1

1.1 OBJETIVOS .................................................................................................. 2

1.1.1 GERAL ................................................................................................... 2

1.1.2 ESPECÍFICOS ........................................................................................ 2

1.3 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ............................................................ 2

2 FUNDAMENTOS DOS SISTEMAS DRENANTES ......................................... 4

2.1 APLICAÇÃO DOS SISTEMAS DRENANTES EM OBRAS

GEOTÉCNICAS ........................................................................................................... 4

2.2 A LEI DE DARCY E O FLUXO ADVECTIVO .......................................... 5

2.3 FILTROS DE PROTEÇÃO DOS SISTEMAS DRENANTES .................... 6

2.3.1 FILTRO GRANULAR ........................................................................... 6

2.3.2 FILTRO SINTÉTICO ............................................................................. 7

2.4 DEFICIÊNCIAS DOS SISTEMAS DRENANTES .................................... 15

2.4.1 O PIPING ............................................................................................. 15

2.4.2 A COLMATAÇÃO .............................................................................. 16

2.4 O PROCESSO DE DIFUSÃO E SUA INFLUÊNCIA NA FORMAÇÃO

DO OCRE ................................................................................................................... 20

2.4.1 EQUAÇÃO PARA O FLUXO DIFUSIVO ......................................... 21

2.5 ESTUDOS DE CASO SOBRE COLMATAÇÃO DE SISTEMAS

DRENANTES POR OCRE E SEUS FATORES CONDICIONANTES ................... 22

3 FUNDAMENTOS QUÍMICOS E MICROBIOLÓGICOS DA COLMATAÇÃO

DE SISTEMAS PELO OCRE ........................................................................................ 24

3.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 24

3.2 NOÇÕES DE EQUILÍBRIO QUÍMICO .................................................... 25

3.2.1 NOÇÕES DE EQUILÍBRIO ELETROQUÍMICO - REAÇÕES DE

OXI-REDUÇÃO ..................................................................................................... 28

Page 8: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

viii

3.2.2 O DIAGRAMA DE POURBAIX ......................................................... 31

3.3 FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE MICROBIOLÓGICA ..................... 34

3.3.1 A IMPORTÂNCIA DOS MICRORGANISMOS .................................... 34

3.3.2 O METABOLISMO E NUTRIÇÃO DOS MICRORGANISMOS ..... 35

3.3.3 CLASSIFICAÇÃO NUTRICIONAL DOS MICRORGANISMOS .... 37

3.3.4 AÇÃO CATALISADORA DOS MICRORGANISMOS NAS

REAÇÕES DE OXI-REDUÇÃO ........................................................................... 38

3.4 BIOGEOQUÍMICA DO FERRO APLICADA A FORMAÇÃO DO OCRE

EM SISTEMAS DRENANTES ................................................................................. 39

3.4.1 A PRESENÇA DO FERRO NO MEIO AMBIENTE NATURAL ...... 39

3.4.2 OS PROCESSOS PURAMENTE QUÍMICOS NO PROCESSO DE

FORMAÇÃO DO OCRE ........................................................................................ 40

3.4.3 A PARTICIPAÇÃO DOS MICRORGANISMOS NA

BIOGEOQUÍMICA DO FERRO............................................................................ 41

3.5. BIOFILMES ............................................................................................... 45

3.5.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE BIOFILMES RELACIONADAS À

COLMATAÇÃO MICROBIOLÓGICA................................................................. 45

3.5.2 O DESENVOLVIMENTO DO BIOFILME ........................................ 46

3.5.3 COMPOSIÇÃO E PROPRIEDADES DO BIOFILME ....................... 51

3.5.4 EFEITOS DO BIOFILME NA RESISTÊNCIA AO FLUXO DE

LÍQUIDOS .............................................................................................................. 52

3.5.5 A FORMAÇÃO DE BIOFILMES EM GEOTÊXTEIS ....................... 53

4 METODOLOGIA E MATERIAIS UTILIZADOS ........................................... 56

4.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 56

4.2 OBJETIVOS ................................................................................................ 56

4.3 COLETA DO OCRE EM CAMPO ............................................................. 56

4.3.1 O INÓCULO DE FERROBACTÉRIAS .............................................. 57

4.4 FLUIDO PERCOLANTE ........................................................................... 60

Page 9: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

ix

4.6 INÍCIO DO ENSAIO .................................................................................. 65

4.6.1 INJEÇÃO DAS FERROBACTÉRIAS .................................................... 65

4.7 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV) ................... 66

4.8 ESPECTROSCOPIA DE ENERGIA DISPERSIVA (EDS) ....................... 67

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................................ 67

5.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 67

5.2 RESULTADOS DOS ENSAIOS DE COLUNA ........................................ 68

5.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS APÓS O ENSAIO ................................. 76

5.4.1 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS PARA A MEV E EDS ............... 76

5.4.3 ANÁLISE DAS AMOSTRAS UTILIZANDO A ESPECTROSCOPIA

DE ENERGIA DISPERSIVA (EDS) ...................................................................... 83

6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ................ 94

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 96

APÊNDICE 1 ........................................................................................................ 99

Page 10: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

1

1 INTRODUÇÃO

O ocre é um produto de coloração alaranjada que resulta de reações químicas e

atividades microbiológicas sobre as substâncias presentes na água, em especial o

elemento ferro. O fenômeno de formação do ocre vem sendo estudado há muitos anos

devido aos efeitos negativos em sistemas de suprimento de água. Dentre estes efeitos

podemos destacar a redução significativa da vazão de poços tubulares devido ao

crescimento de microrganismos lodosos e o comprometimento da potabilidade da água.

O ocre também é encontrado aderido às superfícies sólidas de sistemas de drenagem,

resultando na redução dos espaços vazios disponíveis para a percolação da água. Visto

isso, a colmatação provocada pela formação do ocre é um fenômeno que pode trazer

sérios comprometimentos às obras nos quais os sistemas de drenagem têm elevada

importância. Fatores ambientais do meio, como pH, composição do fluido percolante,

potencial eletroquímico, aeração, temperatura e pressão, favorecem diferentes

interações entre as substâncias químicas e os microrganismos presentes, constituindo-se,

portanto, em condicionantes para a formação do ocre. Apesar das pesquisas

desenvolvidas na área da geotecnia, o conhecimento da influência de cada um desses

fatores condicionantes ainda é incipiente.

Os casos de formação do ocre em sistemas drenantes encontrados na literatura

referem-se, em sua maioria, a ocorrência em filtros granulares. Com a intensificação da

aplicação dos geotêxteis em obras geotécnicas por sua praticidade e eficiência, fazem-se

necessários estudos mais específicos sobre o fenômeno nestes materiais, que possuem

características bem diversas dos filtros granulares. Com efeito, mais recentemente têm

sido relatados casos de formação de ocre nesses materiais e sua colmatação.

Apesar de se ter avançado no estudo sobre os fatores condicionantes para a

ocorrência de tal fenômeno ainda persistem algumas questões que motivam pesquisas

como a apresentada neste trabalho.

Page 11: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

2

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 GERAL

O presente estudo teve como principal objetivo analisar a influência da

disponibilidade de oxigênio por meio da difusão na formação de biofilme de ocre em

filtros de sistemas drenantes de obras geotécnicas por meio de ensaios de coluna de

filtração.

1.1.2 ESPECÍFICOS

Os objetivos específicos são:

Realizar ensaios de permeabilidade do tipo coluna de filtração sob fluxo

ascendente variando a altura da lâmina d’água sobre o geotêxtil;

Avaliar a formação do biofilme de ocre no geotêxtil a partir de análises

microbiológicas e microscopia eletrônica;

Avaliar a influência da velocidade de difusão do oxigênio no meio filtrante na

formação do biofilme de ocre.

1.2 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

A dissertação está organizada em sete capítulos. No primeiro, é exposta a

problemática relacionada à colmatação de sistemas drenantes, os efeitos negativos

causados nas obras que envolvem drenagem, destacando a necessidade de mais estudos

relacionados ao tema.

No segundo capítulo são abordadas considerações importantes sobre os sistemas

drenantes, como suas aplicações em obras geotécnicas, exemplos de seus componentes

e as propriedades hidráulicas que os regem. O capítulo é encerrado com estudos de caso

sobre colmatação dos sistemas drenantes por ocre, descrevendo os fatores

condicionantes para a formação desta substância.

No terceiro capítulo são explicados os fundamentos químicos e microbiológicos

responsáveis pela ocorrência da colmatação dos sistemas pelo ocre: noções de equilíbrio

Page 12: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

3

químico, reações de oxi-redução dentre outros fatores necessários para o entendimento

do fenômeno, finalizando com a participação dos microrganismos no processo.

No capítulo seguinte são descritos a metodologia e materiais utilizados para

atingir o objetivo da dissertação. Foram definidas as condições do ensaio e as

ferramentas utilizadas para a geração dos resultados.

No quinto capítulo são apresentados os resultados e as discussões pertinentes ao

estudo, sendo abordada a caracterização do biofilme de ocre e os fatores que

comprovaram sua formação ao longo do estudo.

E finalizando, no sexto capítulo são feitas as considerações finais da dissertação,

bem como sugestões para futuras pesquisas.

Page 13: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

4

2 FUNDAMENTOS DOS SISTEMAS DRENANTES

2.1 APLICAÇÃO DOS SISTEMAS DRENANTES EM OBRAS

GEOTÉCNICAS

Na maioria dos casos abordados pela geotecnia, o solo quando submetido a um

processo de percolação deve desempenhar as seguintes funções:

Manter uma capacidade drenante eficiente permitindo uma capacidade de

fluxo adequada e promovendo a dissipação de carga hidráulica no solo.

Impedir que as partículas do solo sejam carreadas pelo fluido percolante,

garantindo a estabilidade do solo protegido.

Resumidamente, é de interesse para a geotecnia que o solo possua as

características de dreno e filtro. Para certos casos, o solo atende naturalmente aos

requisitos para um comportamento satisfatório no processo de percolação. Porém, em

outras situações é necessária a execução de um sistema artificial para esse fim.

Visando atender a tais necessidades, são executados na maioria das obras

geotécnicas sistemas drenantes mostrados nas Figuras 2.1 e 2.2.

Figura 2.1 – Emprego de sistema drenante para estruturas de contenção,

trincheiras drenantes, e drenos profundos sub-horizontais (MENDONÇA, 2000).

Page 14: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

5

Figura 2.2–Utilização de dreno para barragens (MENDONÇA, 2000).

O filtro de proteção é um componente presente nos sistemas drenantes e tem

como principal objetivo reter as partículas do solo protegido, mantendo a capacidade

drenante exigida. Para atender a estes objetivos existem dois tipos de filtros, o granular

e o sintético, que serão abordados no item 2.3.

2.2 A LEI DE DARCY E O FLUXO ADVECTIVO

Bastante utilizada para estudar a dinâmica dos fluidos, a lei de Darcy descreve o

fluxo de um fluido através de um meio poroso. A lei foi formulada por Henry Darcy em

1856, sendo baseada em resultados experimentais sobre o fluxo de água através de leitos

de areia em um permeâmetro. A lei de Darcy ficou conhecida pelo formato da Equação

2.1 a seguir:

(2.1)

Como

, temos que

(2.2)

onde,

vazão;

coeficiente de permeabilidade do solo;

gradiente hidráulico - razão entre a diferença de carga hidráulica ao longo do

fluxo e o comprimento do caminho de percolação;

= área da seção transversal ao fluxo;

Page 15: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

6

= velocidade de fluxo.

O coeficiente de permeabilidade expressa um valor que representa a

velocidade com que a água atravessa uma amostra quando o gradiente é unitário. Trata-

se de um índice bastante pequeno numericamente, geralmente expresso em m/s. Essa

proporcionalidade entre e é observada para fluxo em regime laminar.

Um dos índices físicos que deve ser destacado é a porosidade (n), que representa

a relação entre o volume de vazios e o volume total do solo. A velocidade de Darcy,

quando dividida pela porosidade expressa a velocidade advectiva, que representa a

velocidade com que o fluxo ocorre pelos vazios do solo.

2.3 FILTROS DE PROTEÇÃO DOS SISTEMAS DRENANTES

2.3.1 FILTRO GRANULAR

Os filtros granulares são constituídos de solo com granulometria arenosa a

pedregulhosa. A composição dos filtros naturais varia em função da necessidade de

filtração. O filtro pode ser constituído por uma só camada de solo bem graduado ou por

zonas de granulometria diferentes.

Os critérios de dimensionamento dos filtros granulares são geralmente baseados

em função da relação entre o diâmetro da partícula do filtro (D) e o diâmetro da

partícula do solo protegido (d). Exemplificando, as partículas de solo protegido com

diâmetro d15 correspondem a 15% em peso total de todas as partículas menores do que

ele. Geralmente os índices utilizam as relações d15, d50, d85, D15 e D50. A Tabela 2.1

apresenta alguns dos critérios de dimensionamento citados por FISCHER et al. (1990),

baseados na interpretação de resultados de ensaios desenvolvidos em laboratório.

Page 16: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

7

Tabela 2.1 – Critérios de filtro para solos não coesivos (FISCHER et al., 1990

apud MENDONÇA, 2000).

Critério

(1) (2)

Tipo de solo Referência

D15/d85 ≤ 4 a 5 Todos Terzaghi (1922)

Taylor (1948)

4 ≤ D15/d15 ≤ 9 Uniforme Terzaghi (1922)

Bertram (1940)

6 ≤ D15/d15 ≤ 18 não uniforme –

anguloso

USBR (1955)

12 ≤ D15/d15 ≤ 40 não uniforme – sub

arredondado

USBR (1955)

5 ≤ D50/d50 ≤ 10 Uniforme USBR (1955)

9 ≤ D50/d50 ≤ 30 não uniforme –

anguloso

USBR (1955)

12 ≤ D50/d50 ≤ 58 não uniforme USBR (1955)

O termo (1) da primeira coluna da Tabela 2.1, o critério determina o limite

inferior da relação para manter o filtro suficientemente permeável. Este valor expressa

indiretamente um critério para evitar a colmatação, uma vez que este limite determina

que o tamanho das partículas seja suficientemente grande para preservar a capacidade

drenante do filtro e não permitir que as partículas do solo protegido fiquem retidas. O

termo (2) da primeira coluna define o limite superior da relação ou o critério de

“piping”, quando as partículas do filtro são pequenas o bastante para impedir a

passagem de partículas maiores do solo protegido através dos poros do filtro.

2.3.2 FILTRO SINTÉTICO

Nos últimos tempos tem-se observado uma crescente utilização de materiais

geossintéticos no ramo da geotecnia devido a sua maior praticidade, economia e

desempenho. Tais materiais podem ser utilizados em obras de drenagem, solo reforçado

para estabilização de taludes, barragens entre outros, suprindo o papel dos materiais

naturais.

Page 17: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

8

Os filtros geossintéticos, também denominados geotêxteis, são mantas

permeáveis, flexíveis e finas produzidas a partir de fibras sintéticas. São produzidos a

partir de diferentes tipos de polímeros sob várias formas de fabricação. Os geotêxteis

podem ser aplicados em: drenagem e filtração (Figuras 2.3 e 2.4), reforço e

estabilização de solos, proteção de taludes contra erosão (Figura 2.5), obras costeiras,

separação de materiais, entre outras aplicações.

Figura 2.3 –Utilização de geotêxtil em dreno sub-horizontal. (FARIAS e PARANHOS,

2013).

Figura 2.4 – Utilização em trincheira drenante (FARIAS e PARANHOS,

2013).

Page 18: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

9

Figura 2.5 – Instalação de geotêxtil em talude para controle de erosão.

(BIDIM, 2014).

Os geotêxteis oferecem uma execução mais fácil e rápida, menor necessidade de

manutenção e menores custos em comparação com as soluções convencionais.

Uma síntese sobre os materiais constituintes, formas de manufatura, características e

propriedades dos geotêxteis são descritas a seguir baseando-se principalmente no

trabalho de SPADA (1991) e MENDONÇA (2000).

2.3.2.1 O MATERIAL CONSTITUINTE

Essencialmente o material principal das mantas geotêxteis são polímeros, porém

conjuntos com aditivos são acrescentados para melhorar o produto final.

Os polímeros abrangem três principais grupos: termoplásticos, termofixos e

elastômeros. Dentre estes, os termoplásticos são os que reúnem características

adequadas ao processo de fabricação do geotêxtil, uma vez que são capazes de sofrer

amolecimento e endurecimento sob a ação do calor ou resfriamento, respectivamente

(SPADA, 1991).

Os polímeros termoplásticos mais utilizados são o polietileno, poliamida

(Nylon), poliéster (Terylene) e polipropileno. Devido a sua composição, o polietileno e

o polipropileno são também chamados de poliolefinas. Os polímeros mais consumidos

na indústria geotêxtil são o poliéster e as poliolefinas.

As características e propriedades do geotêxtil dependem do tipo de polímero

utilizado e da forma de combinação entre suas fibras. Logo, a estrutura do material é

Page 19: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

10

determinada pelo método de fabricação, originando três tipos: tecido, não tecido e

tricotado.

Os tecidos são fabricados utilizando o processo tradicional de tecelagem, por

meio de teares mecânicos e pelos quais se obtêm dois conjuntos de fios entrelaçados,

em ângulo de 90o. Existem diversos tipos de entrelaçamento, o mais simples é o de uma

malha gerada com certa abertura entre as fibras e com um único tipo de fio, semelhante

a uma peneira (Figura 2.6). Há também o tipo de tecido cuja composição é por

laminetes (Figura 2.7). Neste tipo de tecido os espaços entre os laminetes não são vistos

olhando-se em direção perpendicular ao plano da manta.

Figura 2.6 – Geotêxtil de monofilamento (adaptado de SPADA, 1990).

Page 20: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

11

Figura 2.7 – Geotêxtil tecido de laminetes (adaptado de GOURC e FAURE,

1990– SPADA, 1991).

Os do tipo não tecidos são obtidos pela deposição de fibras (monofilamentos

contínuos ou cortados) que são submetidas a processos de ligação, que podem ser dos

seguintes tipos:

Mecânico – conhecido como agulhagem, consiste em uma ação repetida de

penetração, em toda a profundidade do material, de milhares de agulhas de

pontas curvas. Tal processo visa obter um maior entrelaçamento das fibras.

Térmico – a ligação é feita pela fusão dos filamentos no seu ponto de contato,

fornecendo coesão ao conjunto.

Químico – o processo de ligação entre as fibras é através da aplicação de resina

acrílica, feito por meio de imersão, aspersão ou molhagem. Esse tratamento é

menos utilizado.

Devido a sua estrutura mais complexa, os geotêxteis não tecidos não atuam

apenas como uma interface e sim como um meio tridimensional, já que a espessura

passa a ser outro parâmetro adicional.

Outro fator importante a ser considerado é a durabilidade do geotêxtil, definida

pela sua capacidade de manter ao longo do tempo o nível de integridade desejado. Em

suas aplicações, os geotêxteis estão sujeitos a diversos agentes ambientais que podem

afetar diretamente sua durabilidade ao longo do tempo.

Os geotêxteis podem sofrer degradação por ataques químicos e mecânicos. O

ataque mecânico pode ocorrer devido à ação abrasiva durante a instalação ou pela ação

Page 21: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

12

de animais e insetos. Já o ataque químico provém de substâncias e microrganismos

agressivos do meio que podem levar a fragilização do material, comprometendo seu

desempenho.

Outra forma de ataque ao geotêxtil que também deve ser citada é o ataque

biológico. O ataque biológico não deixa de ser um ataque químico, pois os

microrganismos extraem segmentos de moléculas do polímero para realizarem suas

atividades metabólicas.

2.3.2.2 PROPRIEDADES HIDRÁULICAS

Para desempenhar o papel de filtro granular, o geotêxtil deve ser provido de

aberturas pequenas o bastante para realizar a retenção das partículas do solo protegido e,

ao mesmo tempo, exercer uma função drenante, garantindo que sua permeabilidade se

apresente mais alta que a do solo protegido.

As propriedades hidráulicas influem significativamente no desempenho do filtro

geotêxtil. Tais propriedades são definidas pela sua capacidade de filtração, sua

permeabilidade e sua aptidão à embebição, descritas a seguir.

2.3.2.2.1 CAPACIDADE DE FILTRAÇÃO

O potencial de filtração de um geotêxtil é usualmente associado à porosidade ou

à porcentagem de área aberta e ao tamanho do poro.

A porosidade é uma propriedade dos geotêxteis não tecidos, com definição

similar à dos solos, sendo a relação entre o volume de vazios e o volume total da

amostra (Equação 2.3).

(2.3)

onde

= volume dos sólidos = massa/massa específica do material;

= volume total.

Page 22: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

13

A porcentagem de área aberta (PAA) (Equação 2.4) é uma propriedade dos

geotêxteis não tecidos, sendo definida por:

(2.4)

Para a determinação da porcentagem de área aberta, são utilizados métodos

diretos como a medição ótica direta, microscopia eletrônica e análise de imagem.

2.3.2.2.2 PERMEABILIDADE

A permeabilidade é uma propriedade que exprime a facilidade com que a água

atravessa um geotêxtil. Conceitualmente, o fluxo através de um geotêxtil pode ser

considerado similar ao fluxo de um meio poroso granular convencional. Segundo a

Norma ABNT 15223:2005, as características de permeabilidade normal ao plano de um

geotêxtil e produtos correlatos, em camada única, não confinada, podem ser

determinadas pelos métodos da carga hidráulica constante e de carga variável Logo,

analogamente ao solo, para a determinação da permeabilidade de um geotêxtil é

utilizado um permeâmetro de carga constante onde é aplicada a Lei de Darcy. Este

procedimento permite a comparação da permeabilidade do geotêxtil e do solo.

Porém, para a comparação do funcionamento de diferentes tipos de geotêxteis a

permeabilidade não pode ser utilizada. Isso porque nem sempre há proporcionalidade

entre o gradiente hidráulico e a velocidade de fluxo nos geotêxteis, o que faz variar o

coeficiente de permeabilidade. Ao se estabelecer um fluxo, mesmo com pequenas

diferenças de carga hidráulica, ao longo da espessura do geotêxtil o regime não possui

caráter laminar. Portanto, não se pode dizer que o fluxo através do geotêxtil obedece a

Lei de Darcy ou que sua permeabilidade seja constante. Pode-se, porém, obter um

coeficiente de Darcy aparente, sendo conservativo no caso de se ter um fluxo turbulento

no ensaio.

A Lei de Darcy para os geotêxteis pode ser escrita da seguinte forma (Equação

2.3):

Page 23: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

14

(2.5)

onde

= volume de fluxo por unidade de tempo;

= coeficiente de permeabilidade;

= gradiente hidráulico;

= área transversal total disponível para fluxo;

= variação de carga hidráulica ao longo do geotêxtil;

= comprimento do caminho de fluxo onde ocorre , ou seja, espessura do

geotêxtil.

A permeabilidade está diretamente ligada a tensão normal atuante sobre os

geotêxteis não tecidos, em função de possuírem uma estrutura deformável. No caso dos

tecidos, o efeito é muito menor (MENDONÇA, 2000).

Uma vez que a espessura de um geotêxtil tem influência direta no seu

comportamento hidráulico, geotêxteis de espessuras diferentes podem apresentar

valores de coeficientes de permeabilidade similares, mas diferentes vazões para mesma

carga hidráulica e mesma área drenante. Como a permeabilidade não apresenta uma

comparação correta entre os geotêxteis, procurou-se uma nova propriedade que melhor

pudesse representar sua capacidade drenante. Definiu-se assim, a permissividade

(Equação 2.6):

(2.6)

2.3.2.2.3 APTIDÃO À EMBEBIÇÃO

Trata-se de uma propriedade do geotêxtil relacionada à sua utilização como

filtro. A aptidão à embebição traduz a facilidade com que a água é penetrada no

geotêxtil, estando relacionada com a tensão superficial entre a água, o geotêxtil e o ar, a

porosidade do geotêxtil, a área específica das fibras e o estado da superfície das fibras.

Em função dessa propriedade, a água, sob um baixo gradiente, pode não conseguir

Page 24: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

15

molhar e transpor o geotêxtil. Observa-se que os geotêxteis não tecidos agulhados são

mais susceptíveis a essa dificuldade.

2.4 DEFICIÊNCIAS DOS SISTEMAS DRENANTES

A eficiência de um sistema drenante é considerada satisfatória quando sua

capacidade filtrante/drenante consegue ser mantida ao longo do tempo, com nível de

integridade desejado.

Logo, é importante que seja feita uma análise detalhada das características e

propriedades dos solos a serem protegidos, dos critérios de projeto para o

dimensionamento do filtro e dos métodos construtivos para que se tenha uma eficiente

interação solo/filtro/fluido percolante.

O desempenho de um sistema drenante quando comprometido, está geralmente

relacionado a dois fenômenos descritos a seguir: piping e colmatação.

2.4.1 O PIPING

No processo de piping as partículas do solo protegido são impelidas a se

deslocarem junto com o fluido percolante em função da força de percolação. A

intensidade em que esse fenômeno ocorre é determinada pela interação das

características das partículas do solo protegido com as propriedades dos geotêxteis,

como, também, pela magnitude das forças envolvidas. Estas características citadas

definem as regras do processo de estabilização na interface do solo geotêxtil. A

identificação de certa quantidade de piping durante esse processo é considerada como

normal, desde que ocorra estabilização do processo. A continuação deste fenômeno

destrói a estrutura do solo e pode acarretar a colmatação do dreno. O piping pode

resultar na erosão interna do solo ou na sufusão.

Na erosão interna do solo verifica-se que ocorre uma perda de partículas de

tamanhos variados, que podem atravessar o filtro fazendo com que surjam grandes

vazios. Com a progressão destes vazios formam-se canais onde o fluxo se intensifica

caracterizando um fenômeno progressivo de erosão. Desse processo pode resultar o

colapso da estrutura do solo, comprometendo a estabilidade do maciço.

Page 25: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

16

No processo de sufusão as partículas finas migram do interior da estrutura do

solo protegido em direção à saída do sistema drenante preservando a tecedura das

partículas maiores, mantendo assim, a estabilidade do solo protegido.

Normalmente, a sufusão está associada aos solos de graduação aberta, enquanto

a erosão interna está ligada aos solos de graduação uniforme (SPADA, 1991).

2.4.2 A COLMATAÇÃO

A colmatação é a redução da área transversal dos espaços vazios de um

determinado meio poroso disponíveis ao fluxo percolante. É um processo que ocorre ao

longo do tempo podendo comprometer a eficiência de um sistema drenante. A

colmatação pode ser verificada em uma ou mais partes do sistema drenante, ou seja, no

material filtrante (material granular ou geotêxtil), no material drenante propriamente

dito, nas aberturas da parede do tubo dreno e/ou no interior desse tubo.

Progressivamente, tem-se uma diminuição do fluxo à medida que os espaços

vazios do meio poroso também diminuem. Logo, a colmatação afeta diretamente a

capacidade drenante do meio poroso por onde ocorre o fluxo.

Apesar da diminuição da capacidade drenante ser um fenômeno reológico

puramente físico, as causas da colmatação podem ser de ordem química, física ou

químico-microbiológica. Em determinadas situações os três agentes causadores da

colmatação podem ocorrer simultaneamente.

2.4.2.1 CAUSAS FÍSICAS

A causa física da colmatação geralmente se deve ao posicionamento

desfavorável das partículas sólidas naturais do solo protegido, carreadas pelas forças de

percolação.

Em filtros geotêxteis existem três formas distintas de colmatação física, descritos

a seguir (SPADA,1991).

Bloqueamento (Figura 2.8) – As partículas do solo protegido se posicionam

sobre as aberturas do geotêxtil obturando-as totalmente ou parcialmente. O

bloqueamento é independente do tempo.

Page 26: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

17

Cegamento (Figura 2.9) – As partículas finas do solo protegido migram,

segundo o processo de sufusão, em direção ao geotêxtil. Casos as suas aberturas

não sejam suficientes para permitir a passagem dessas partículas, estas se

agruparão e formarão uma camada de baixa permeabilidade sobre a face do

geotêxtil.

Colmatação propriamente dita (Figura 2.10) – As partículas do solo protegido

migram junto com fluido percolante, penetram no geotêxtil, ficando retidas ao

longo de sua espessura.

De uma forma geral, é de se esperar uma colmatação física do geotêxtil de

intensidade branda, não comprometendo sua função. Verifica-se que se pode ter 75%

dos poros dos geotêxteis colmatados sem que isto ocasione prejuízo ao seu

funcionamento (JOHN, 1987 apud SPADA, 1991).

Figura 2.8– Desenho esquemático do bloqueamento (adaptado de ROLLIM E

LOMBARD, 1988) – SPADA,1991.

Page 27: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

18

Figura 2.9–Desenho esquemático do cegamento (adaptado de JOHN, 1987) –

SPADA, 1991.

Figura 2.10– Desenho esquemático da colmatação propriamente dita (JOHN,

1987) – SPADA, 1991.

O trabalho de SPADA (1991) apresenta o estudo do comportamento de filtros

geotêxteis e granulares como elemento de filtração, abordando os seguintes aspectos:

capacidade de retenção das partículas do solo protegido e possibilidade de colmatação

física dos filtros. Concluiu-se que os filtros tiveram comportamento satisfatório e que a

quando adotados os critérios técnicos adequados, a colmatação física não é preocupante.

A redução do espaço disponível para a passagem do fluido percolante pode ser

também provocada pela presença de bolhas de ar, posto que a água somente flui pelos

espaços ocupados por ela. O aumento do volume de ar dentro de um meio poroso,

resultante do aumento da sucção mátrica é, portanto uma outra causa física para a

redução da capacidade drenante do meio (MENDONÇA, 2000).

Page 28: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

19

2.4.2.2 CAUSAS QUÍMICAS

As principais causas da colmatação química estão relacionadas às reações que

ocorrem entre os elementos dissolvidos no fluido percolante, resultando na formação de

precipitados, o que diminui o espaço disponível para a passagem do fluido percolante.

MLYNAREK e ROLIN (1995) apud MENDONÇA (2000) citam o processo de

colmatação resultante da deposição de sais como carbonatos e sulfatos. Tal fenômeno

pode ocorrer quando o fluido percolante contém esses elementos em estado dissolvido

e, após a evaporação da água, formam-se cristais de sais que ocupam os vazios do meio

poroso.

Na literatura são encontrados estudos relevantes sobre as causas químicas da

colmatação. HALSE et al. (1987) realizaram uma campanha de ensaios para analisar o

efeito da alcalinidade da água na capacidade drenante de diferentes tipos de geotêxteis,

tecidos e não tecidos. Os ensaios foram realizados utilizando-se fluidos percolantes com

pH = 7; 10 e 12, fazendo-se dissolver CaO na água do abastecimento público.

Constatou-se, por observações microscópicas e por medidas da capacidade drenante ao

longo do tempo, que ocorreu colmatação devido à precipitação de Ca(OH)2 e de CaCO3

na estrutura dos geotêxteis.

2.4.2.3 CAUSAS MICROBIOLÓGICAS

As causas microbiológicas da colmatação são resultantes da colonização

microbiana do geotêxtil. A probabilidade de aderência de microrganismos a uma

superfície cresce quando aumenta-se a quantidade de microrganismos no meio e/ou

quando são fornecidas condições ambientais favoráveis.

A seguir são apresentadas diferentes formas sob as quais os microrganismos

podem provocar a colmatação (BAVEYE et al, 1998 apud MENDONÇA, 2000):

acúmulo de células microbianas e seus produtos extracelulares – As células

microbianas podem ocupar os espaços vazios pela geração de biofilmes ou

formando agregado de células. O biofilme consiste basicamente na formação de

comunidades biológicas embebidas em matrizes poliméricas produzidas por elas

próprias. A biomassa formada pelas células microbianas pode causar uma

colmatação severa quando se localiza em pontos estratégicos, como nos pontos

de estrangulamento dos interstícios do solo.

Page 29: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

20

produção de gases – Semelhante ao efeito da presença de bolhas de ar

atmosférico na queda de permeabilidade, os gases de origem biogênica

promovem a redução do espaços disponível para o fluxo do líquido percolante.

Embora os microrganismos produzam a partir do seu metabolismo uma grande

variedade de gases como CO2 (dióxido de carbono), N2 (nitrogênio), H2

(hidrogênio) e CH4 (metano), a queda de permeabilidade tem sido atribuída

principalmente à produção de N2.

acúmulo de sais insolúveis de sulfeto – Os sulfetos são precipitados resultantes

do processo químico de redução do sulfato catalisado pela ação das bactérias

redutoras de sulfato. Tais processos são comuns na natureza, ocorrendo

geralmente em meios anaeróbios ricos em matéria orgânica. O íon Fe2+

se

associa ao sulfeto formando o FeS, que apresenta uma forte tendência para se

precipitar como um colóide preto. O FeS se torna mais efetivo como agente

causador da colmatação quando está combinado com resíduos orgânicos,

microrganismos e óleo, apresentando uma consistência gelatinosa.

atividade de ferrobactérias – A colmatação provocada pela precipitação de

compostos de ferro é resultante do processo de oxidação de íons ferrosos

dissolvidos no fluido percolante em função de condições termodinâmicas do

meio favoráveis ao processo. Esse processo é intensificado e acelerado pelas

atividades metabólicas de determinados microrganismos que recebem o nome de

ferrobactérias.

2.4 O PROCESSO DE DIFUSÃO E SUA INFLUÊNCIA NA FORMAÇÃO

DO OCRE

Conforme será exposto no item 3.4.3.2.1, os microrganismos aeróbicos

classificados como microaerófilos são capazes de crescer em meios com quantidade de

oxigênio muito pequenas. Sendo assim, é necessário que haja uma concentração mínima

no meio para que este atinja a chamada zona adequada de oxigênio para o

microrganismo e que haja uma completa atividade microbiana (crescimento e

reprodução).

Portanto, é importante se conhecer como ocorre o transporte do oxigênio no

meio aquoso. A difusão é um exemplo de fenômeno de transporte de matéria que pode

Page 30: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

21

ser descrita matematicamente. Seus fatores condicionantes são destacados para o

presente estudo, abordando-se seus gradientes e constantes matemáticas.

2.4.1 EQUAÇÃO PARA O FLUXO DIFUSIVO

A transferência de massa consiste em um processo de transporte onde há a

migração de uma ou mais espécies químicas em um dado meio, podendo este ser sólido,

líquido ou gasoso. A transferência de massa está presente em muitos processos da

natureza como a aeração ou troca gasosa em solos, a cimentação de rochas e na

formação dos depósitos de ferro. Um dos mecanismos de transferência de massa é a

difusão, descrita a seguir.

A primeira Lei de Fick descreve o fenômeno da difusão de matéria em um meio

poroso natural, sendo definida pela Equação 2.7:

(2.7)

onde

= fluxo difusivo unidimensional do componente i (ML-2

T-1

);

= coeficiente de difusão da espécie no meio (L2T

-1);

= concentração do gás i (ML-3

); e

= profundidade no interior do solo (L).

O gradiente de concentração (

) da espécie fornece o potencial motriz para o

transporte dessa espécie. O coeficiente de difusão mede a taxa em que as moléculas se

espalham no meio. Do ponto de vista físico, esse coeficiente está relacionado com o

inverso da resistência que o meio oferece ao transporte de uma espécie i. A

transferência de massa ocorre até que seja atingido o equilíbrio e as concentrações

sejam iguais. Se o fluxo difusivo não variar ao longo do tempo dizemos que se trata de

um estado estacionário.

Page 31: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

22

2.5 ESTUDOS DE CASO SOBRE COLMATAÇÃO DE SISTEMAS

DRENANTES POR OCRE E SEUS FATORES CONDICIONANTES

As informações obtidas sobre a composição do ocre são baseadas em

observações e registros das características do material constatados em sistemas

drenantes.

PUIG et al (1986) estudaram dois casos típicos de colmatação de sistemas

drenantes por ocre empregados em obras rodoviárias na França. A Tabela 2.2 apresenta

a constituição das amostras de materiais coletadas no interior dos drenos. Foram

identificados microrganismos atuantes na geoquímica do ferro como Gallionella

ferruginea, Siderococus e Sphaerotilusnatans.

Tabela 2.2 – Constituição de ocres encontrados em sistemas de drenagem na

França (PUIG et al, 1986).

Determinação Local 1 Local 2

SiO2 (%) 16,5 50,0

Fe2O3 (%) 59,6 19,2

Al2O3 (%) 3,4 8,8

TiO2 (%) 0,2 0,6

CaO (%) - 0,6

MgO (%) - 0,3

K2O (%) 0,5 1,0

Na2O (%) 0,2 0,6

OH2 (%) 15 10,4

C (%) 1,98 4,73

N (%) 0,17 0,22

C/N (%) 11,6 21,5

SPADA (1991) também observou a formação de sedimentos ferruginosos na

superfície das amostras de solos contidas nos permeâmetros em seus ensaios de

filtração. Entretanto, a análise do material evidenciou a presença de ferro, argila e

microrganismos (bactérias, algas e fungos).

Em seu trabalho, FORRESTER (1995) discute sobre o processo de colmatação

(clogging) em sistemas drenantes subterrâneos. No estudo são apresentados dois fatores

Page 32: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

23

necessários para a formação do ocre: a presença de bactérias aeróbias filamentosas e

uma concentração considerável de íons de ferro (Fe2+

) em solução na água subterrânea.

MENDONÇA (2000) cita algumas investigações sobre o fenômeno da

colmatação em barragens e experiências em laboratório. De uma forma geral, os casos

de barragem descritos estão baseados em resultados de análises de amostras de água dos

reservatórios e de materiais ferruginosos encontrados em partes do sistema drenante.

Um dos casos é o da Barragem de Rio Grande, estudada por GUERRA (1980),

onde análises de amostras de água indicaram aumento de Fe+2

e Fe+3

, quantidades

grandes de ferrobactérias no reservatório e impregnações de compostos de ferro no sub-

dreno. No caso das Barragens do Pavor e de Santa Joana, descritas por CASTRO

(1991), os resultados sobre a análise da água acusam baixo pH, sendo esta condição

favorável a solubilização do ferro, e atividade biológica nos materiais coletados. Sobre a

Barragem de Jurumirim, MACIEL Fo (1982) concluiu que a fonte do elemento ferro era

do maciço de terra do corpo da barragem, pois não foi encontrado ferro dissolvido na

água do reservatório, porém na saída do dreno sua presença era relativamente

abundante.

Já sobre os estudos experimentais em laboratório, são descritos pelo menos dois

realizados no Brasil: o de FERREIRA (1978) e de MACIEL Fo (1982). O primeiro

consistiu em ensaios de simulação de percolação, utilizando três permeâmetros e

combinação de solo compactado da barragem cujo filtro podia estar apresentando

colmatação, argila e cascalho, estabelecendo uma região de aeração e drenagem no

sistema. Os ensaios foram feitos com ausência de luz e sob outras condições que

garantissem uma situação mais próxima a do campo. Foram feitos ensaios de

permeabilidade, análise química dos três corpos de prova entre outros procedimentos. A

análise dos resultados indicou queda no coeficiente de permeabilidade e formação de

óxidos de ferro (Fe2O3), sendo maior na região aerada do permeâmetro.

O segundo estudo em laboratório visou desenvolver uma metodologia de ensaio

procurando simular os condicionantes puramente químicos envolvidos na formação de

precipitados de ferro em filtros de barragens de terra. De uma forma geral o ensaio

consistiu em percolar água carregada de bicarbonato ferroso, mantendo o Eh baixo,

através da minimização do oxigênio dissolvido. Os indicadores de ocorrência de

colmatação química seriam as variações na permeabilidade, os resultados de análises

químicas e observações visuais. Constatou-se nas análises químicas que o teor de ferro

(bicarbonato ferroso) na água, após a percolação, sofreu uma considerável redução,

Page 33: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

24

evidenciando a precipitação do hidróxido de ferro e a fixação do mesmo no corpo de

prova, onde foi observada a formação de um material de cor ocre.

Um estudo feito pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA)

constatou a presença de ferrobactérias do gênero Gallionella em poços tubulares no

aquífero aluvionar de Amaro Lanari no Vale do Aço que “produzem com seus

filamentos enormes quantidades de flocos”. Os flocos aglomeravam-se ao longo da

adutora em forma de placas, que chegavam até a estação de tratamento de água,

causando enormes transtornos operacionais. Não foi encontrada uma solução definitiva

para a eliminação das ferrobactérias no local, e os procedimentos disponíveis consistiam

em tratamentos químicos ou físicos, que apresentavam eficácia no momento da

aplicação. Entretanto o problema persiste pois após um certo tempo as ferrobactérias

voltam a proliferar (DE FREITAS et al, 2002).

Um outro caso, estudado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de

São Paulo (SABESP), consistiu na intervenção em poços tubulares com aplicação de

CO2 do município de Elias Fausto - SP que apresentavam altos graus de colmatação

devido a atividade de ferrobactérias. Após a aplicação de CO2 os poços tubulares

ficaram limpos, diferente do estado de colmatação que estes se encontravam antes do

tratamento. Recomendou-se a manutenção a intervalos não superiores a 12 meses, a fim

de preservar as características do sistema (DE SOUZA et al., 2003).

3 FUNDAMENTOS QUÍMICOS E MICROBIOLÓGICOS DA

COLMATAÇÃO DE SISTEMAS PELO OCRE

3.1 INTRODUÇÃO

A partir de diversos estudos de caso envolvendo colmatação de sistemas

drenantes, observa-se que tal fenômeno envolve uma significativa influência

microbiológica. Os microrganismos participam das reações químicas que ocorrem no

meio ambiente, logo possuem grande influência ou até mesmo protagonizam a formação

do ocre.

Baseando-se no trabalho de MENDONÇA (2000), neste capítulo inicialmente

são apresentadas noções de equilíbrio químico e eletroquímico e em seguida são

discutidas asinterações entre as reações químicas e a atividade microbiana com o

Page 34: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

25

objetivo de compreender os processos químico-microbiológicos que ocorrem na

formação do ocre.

3.2 NOÇÕES DE EQUILÍBRIO QUÍMICO

Uma reação química denominada reversível é aquela que ocorre

simultaneamente nos dois sentidos. A reação de equilíbrio consiste em um processo de

troca contínua de íons entre duas fases, em que as velocidades se igualam nos sentidos

diretos e inversos de uma reação reversível. Para que ocorra o equilíbrio químico é

necessário que a equação esteja balanceada, ou seja, a quantidade de átomos reagentes

seja igual aoproduto. Cada participante da equação possui um determinado coeficiente

estequiométrico, que indica a proporção do número de mols necessários para que haja

reação química. Essa proporção é descrita por meio de uma relação matemática

mostrada na Equação 3.1.

(3.1)

onde

= espécies químicas envolvidas;

= coeficientes estequiométricos.

Quando o estado de equílibrio é alcançado em um determinado meio, grandezas

como temperatura, pressão e potencial químico convergem para um valor comum. Esta

última grandeza, o potencial químico (µ), consiste na taxa de variação de energia livre

de uma determinada substância com o número do moles (Equação 3.2) para pressão e

temperaturas constantes (Energia livre de Gibbs).

(3.2)

onde,

= energia livre;

= número de moles.

Page 35: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

26

Portanto, cada espécie química da Equação 3.1 possui um determinado potencial

químico que no equilíbrio químico convergem para um único valor. O potencial

também é determinado pela Equação 3.3:

(3.3)

onde,

= potencial padrão da substância;

= constante universal dos gases perfeitos;

= temperatura (em unidade Kelvin); e

= “atividade” ou concentração corrigida, para íons; pressão parcial ou

“fugacidade”; e 1 para substâncias puras.

No estado de equilíbrio o somatório dos potenciais, considerando os respectivos

coeficientes estequiométricos é nulo (Equação 3.4).

(3.4)

onde,

= coeficientes estequiométricos (a, b, y e z da Equação 3.1);

Substituindo-se a Equação 3.3 na Equação 3.4 obtém-se:

∑ ∑

(3.5)

Substituindo os valores de T = 298,16 K (equivalente a 25oC) e R = 1,987

cal/mol.K e transformando a base do logaritmo neperiano para decimal, define-se,

então, a equação do equilíbrio químico:

∑ ∑

(3.6)

Page 36: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

27

Onde

= constante de equilíbrio químico.

A seguir são apresentados exemplos de equilíbrio químico entre o Fe(OH)2

(substância sólida), o Fe+2

e o FeOH+1

(substâncias iônicas).

Equilíbrio entre o Fe+2

e o FeOH+1

:

Equação química:

(3.7)

Como potenciais-padrão das substâncias envolvidas tem-se:

Substituindo esses valores na Equação 3.6, resulta:

(3.8)

Sabe-se que log[H+] (logaritmo de concentração do cátion hidrogênio) é igual a

pH e que o H2O, por ser uma substância pura, implica em log [H2O] = 0, a equação de

equilíbrio entre as substâncias é:

(3.9)

De acordo com a Equação 3.9, no estado de equilíbrio sob pH = 6,78, as duas

substâncias iônicas possuem a mesma concentração. Para pH > 6,78, tem-se uma

concentração maior de FeOH+1

e para pH < 6,78 tem-se uma maior concentração de

Fe+2

.

Page 37: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

28

Equilíbrio entre o Fe(OH)2 (substância sólida) e o Fe+2

(substância iônica):

Da mesma forma que o procedimento anterior, tem-se:

(3.10)

Equilíbrio entre o Fe(OH)2 (substância sólida) e o FeOH+1

(substância iônica):

Igualmente, obtém-se:

(3.11)

Essas equações correspondem a retas que definem as concentrações iônicas

segundo o pH no estado de equilíbrio. Quando a concentração de uma determinada

substância iônica atinge as retas das equações de equilíbrio, alcançandoo produto de

solubilidade, a partir deste ponto a substância iônica é transformada em substância

sólida.

3.2.1 NOÇÕES DE EQUILÍBRIO ELETROQUÍMICO - REAÇÕES DE

OXI-REDUÇÃO

As reações químicas que envolvem transferência de elétrons são denominadas

reações de oxirredução. Tal processo envolve liberação ou fixação de elétrons, em

função do sentido da reação considerado. Quando na reação ocorre a liberação de

elétrons, recebe a denominação de reação de oxidação. Logo, quando ocorre a fixação

de elétrons, nomeia-se de reação de redução. A oxidação representa a perda de elétrons

por um elemento químico (doador de elétrons), enquanto que a redução é a fixação dos

mesmos num outro elemento químico (receptor de elétrons). Essas reações são

exemplificadas a seguir:

Page 38: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

29

(3.12a)

(3.12b)

De acordo com as Equações 3.12a e 3.12b, o elemento Fe+2

(redutor – doador de

elétrons) sofre oxidação para o estado Fe+3

e o O2 (oxidante-aceptor de elétrons) sofre

redução para O-2

.

A reação eletroquímica é uma reação de oxi-redução, porém com geração de

corrente elétrica. Para o equilíbrio eletroquímico da reação, a quantidade de energia

envolvida deve ser compensada pela geração de uma diferença de potencial entre os

eletrodos (doador e receptor de elétrons). De acordo com a Lei de Faraday:

(3.13)

onde

= diferença de energia livre, resultante da reação;

= número de elétrons liberados ou fixados;

= constante de Faraday: para T = 25oC e p = 1 atm, 1 faraday = 96.484

coulombs ou 23.060 cal/volt; e

= diferença de potencial entre os eletrodos ( .

Substituindo esses valores tem-se:

(3.14)

Uma vez que a diferença de energia livre resultante pode ser obtida da diferença

de potencial das substâncias químicas envolvidas, a Equação3.14 pode ser assim escrita:

∑ ∑

(3.15)

Page 39: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

30

onde

∑ = somatório dos potenciais das substâncias que se formam; e

∑ = somatório dos potenciais das substâncias que são consumidas.

Por sua vez, o potencial de um eletrodo é medido em relação a um eletrodo de

referência. Daí resulta:

∑ ∑

(3.16)

Utilizando como referência o Eletrodo-Padrão de Hidrogênio, ao qual é atribuído

arbitrariamente o potencial de zero volt, pode-se então reescrevera Equação 3.14 da

seguinte forma:

(3.17)

onde,

= diferença de potencial medido para o eletrodo a T = 25oC e P = 1 atm,

considerando = 0 volt. É denominado de potencial eletroquímico.

Substituindo o valor de (Equação3.3) na Equação3.17, resulta:

∑ ∑

(3.18)

Para o caso do equilíbrio dos íons ferroso (Fe+2

) e férrico (Fe+3

) temos a seguinte

equação química:

(3.19)

Page 40: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

31

Substituindo os valores = -18.850 cal/mol, = -2.530 cal/mol e n=1 na

Equação3.18, obtém-se a seguinte equação de equilíbrio:

[

]

(3.20)

De acordo com a Equação3.20, quando as concentrações de e são

iguais, o é igual a 0,771 volts. Quando volts, a concentração de é

maior que e quando ocorre o inverso.

De uma forma geral, a equação de equilíbrio eletroquímico define as

concentrações (e/ou pressões parciais, no caso de gases) das substâncias envolvidas na

reação de oxi-redução em equilíbrio com o potencial eletroquímico de um meio.

Quando se tem equilíbrio de íons, o recebe a denominação de potencial redox.

3.2.2 O DIAGRAMA DE POURBAIX

O equilíbrio químico e eletroquímico pode variar consideravelmente em função

das substâncias envolvidas, que podem interagir com o meio considerado. As possíveis

fases de equilíbrio entre essas substâncias podem ser representadas em um gráfico Eh x

pH denominado Diagrama de Pourbaix (Figura 3.1).

Page 41: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

32

Figura 3.1 – O diagrama de Pourbaix do sistema ferro-água (MENDONÇA,

2000).

A água existe a partir de reações eletroquímicas entre seus constituintes, o O2 e o

H2. O domínio de estabilidade da água é então definido a partir dos pares de equilíbrio

H2O (líquido)/H2 (gás) e H2O (líquido)/O2 (gás), cujas equações são:

(3.21)

(3.22)

Page 42: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

33

Empregando-se na Equação 3.18, obtém-se as equações de equilíbrio:

(3.23)

(3.24)

A estabilidade da água é definida quando o hidrogênio e o oxigênio existem sob

pressão menor que a atmosférica. Logo as pressões parciais dos gases hidrogênio e

oxigênio devem ser menores que 1 atm. Substituindo e

nas

Equação 3.23 e 3.24 temos:

(3.25)

(3.26)

Estas duas equações correspondem a duas retas num diagrama pH x Eh, que

definem o domínio de estabilidade da água.

Assim, equações de equilíbrio são definidas entre íons dissolvidos, entre as

substâncias sólidas e entre íons e substâncias sólidas. A partir dessa equações de

equilíbrio são elaboradas retas num diagrama pH x Eh, que determinam os domínios de

cada substância considerada. As retas de equilíbrio entre as substâncias sólidas ou

dissolvidas determinam a região de solubilização do corpo sólido num determinado

composto iônico e são denominadas “linhas de solubilidade”.

Em função do comportamento de um metal em determinado ambiente, o

Diagrama de Pourbaix indica três domínios básicos: o de imunidade, onde o metal é

mantido em sua forma sólida; o de solubilização, onde o metal sofre dissolução na

forma iônica; e o de passivação, quando o metal forma um recobrimento estável de

óxido ou outro sal em sua superfície.

Page 43: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

34

3.3 FUNDAMENTOS DA ATIVIDADE MICROBIOLÓGICA

3.3.1 A IMPORTÂNCIA DOS MICRORGANISMOS

À exceção dos vírus, a maioria dos microrganismos é capaz de realizar seus

processos vitais de crescimento, geração de energia e reprodução, independentemente

de outras células. Embora sejam as menores formas de vida, os microrganismos

constituem a maior massa de matéria viva na Terra, realizando muitos processos

químicos necessários a outros microrganismos (MADIGAN et al, 2010).

As populações microbianas interagem e cooperam de várias maneiras, algumas

de forma benéfica e outras de modo prejudicial. Por exemplo, os produtos de excreção

das atividades metabólicas de alguns organismos podem servir de nutrientes para

outros. Os principais ecossitemas microbianos são encontrados em ambientes aquáticos

(oceanos, lagoas lagos, riachos, gelo, fontes termais) e ambientes terrestres (solo,

ambientes da subsuperfície profunda), e em outros organismos, como plantas e animais

(MADIGAN et al 2010).

No universo dos microrganismos propriamente ditos existem quatro grupos

distintos: bactérias, algas, fungos e protozoários. Em função da sua estrutura celular, os

microrganismos dividem-se em duas categorias celular: os procariontes e os

eucariontes. Os seres procariontespossuem estrutura celular menos organizada enquanto

os seres eucariontes possuem uma estrutura celular mais organizada. As bactérias e as

cianobactérias são seres procariontes, já os fungos e as algas são eucariontes, assim

como os animais e os vegetais.

A seguir são descritas de uma modo geral as características básicas dos grupos

microbianos. As bactérias representam a maioria dos procariontes, devido a sua

abundância e diversidade entre as espécies. Morfologicamente, apresentam ampla

variedade de formas celulares:esféricas, cilíndricas ou espiraladas. Caracteristicamente,

as células bacterianas são pequenas. O diâmetro das esféricas varia de 0,5 µm a 4,0 µm,

enquanto que o comprimento das cilíndricas raramente ultrapassa 19,0 µm. A

morfologia individual e os agrupamentos das células bacterianas podem ser melhor

observados quando as bactérias apresentam-se coradas. O método mais usual de

coloração é o de Gram, que permite a divisão em dois grandes grupos: Gram-positivas e

Gram-negativas (BORZANI, et al., 2011).

Page 44: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

35

Os fungos são seres eucariontes, que não sintetizam clorofila, podendo ser

encontrados no ar, água, vegetais e animais. São heterotróficos, ou seja, alimentam-se a

partir de compostos orgânicos, produzidos por outros seres vivos. Do ponto de vista

morfológico, distinguem-se em leveduras e bolores. As leveduras são geralmente

unicelulares, de forma esférica, elíptica ou filamentosa, de tamanho variando de 1 a 5

µm de diâmetro a 5-30 µm de comprimento. Os bolores são constituídos por células

multinucleadas (cenócitos), que formam tubos chamados hifas (BORZANI et al., 2011).

Os protozoários são seres eucariontes, unicelulares. Como os animais, eles

ingerem partículas alimentares, não apresentam parede celular rígida e não contêm

clorofila. Alguns movem-se na água por meio do auxíio de apêndices curtos e finos

chamados cílios (PELCZAR, 2012).

As algas são consideradas semelhantes às plantas porque contêm o pigmento

verde clorofila que participa do processo de fotossíntese e apresentam parede celular

rígida. Estes organismos eucariontes podem ser unicelulares e microscópicos em

tamanho, ou multicelulares até vários metros de comprimento. As algas crescem em

muitos ambientes diferentes, sendo a maioria aquáticos, e constituem-se em fonte de

alimentos para os animais (PELZCAR, 2012).

3.3.2 O METABOLISMO E NUTRIÇÃO DOS MICRORGANISMOS

O metabolismo se refere ao conjunto de transformações que as substâncias

químicas sofrem no interior dos organismos vivos, de forma a possibilitar seu

crescimento e desempenho de todas as outras atividades vitais. Os microrganismos

utilizam o carbono como fonte de energia para o seu metabolismo, assim como outros

elementos.

O crescimento microbiano está associado ao aumento do número de células de

uma população. Os elementos químicos básicos necessários para o crescimento de uma

célula microbiana provêm do meio em que vivem, denominados nutrientes. Dentro da

célula, esses nutrientes são transformados por processos químicos em constituintes

específicos para cada microrganismo. A síntese de moléculas complexas a partir de

moléculas mais simples é chamada de anabolismo.

Os principais elementos químicos encontrados nos seres vivos incluem

hidrogênio, oxigênio, carbono, nitrogênio, fósfore e enxofre. Outros elementos também

Page 45: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

36

são encontrados porém em concentrações mais baixas e de acordo com a necessidade do

microrganismo como magnésio, potássio, cálcio e zinco. Esses elementos ligam-se de

várias formas para formar moléculas essenciais para a vida.

Os nutrientes, que são obtidos do meio ambiente, podem ser divididos em duas

classes: os macronutrientes, necessários em grande quantidade e os micronutrientes,

necessários em pequena quantidade. Os principais nutrientes são o carbono e o

nitrogênio. Enquanto o carbono corresponde a aproximadamente 50% do peso seco da

célula, o nitrogênio representa 12%. A Tabela 3.1 lista os nutrientes e as formas sob os

quais são encontrados na natureza.

Tabela 3.1 – Nutrientes existentes na natureza (MADIGAN et al., 2010).

Elemento Forma sob o qual o elemento é normalmente

encontrado na natureza

Carbono CO2; compostos orgânicos

Hidrogênio H2O; compostos orgânicos

Oxigênio H2O; O2; compostos orgânicos

Nitrogênio NH3; NO3; N2; compostos orgânicos de nitrogênio

Fósforo PO4-3

Enxofre H2S; SO4-2

; compostos orgânicos de enxofre; sulfetos

metálicos

Potássio K+ em solução; sais de potássio

Magnésio Mg+

em solução; sais de magnésio

Sódio Na+ em solução; NaCl, outros sais de sódio

Cálcio Ca+ em solução; CaSO4; outros sais de cálcio

Ferro Fe+2

ou Fe+3

em solução; FeS; Fe(OH)3; outros sais de

ferro

Além do fato de que cada microrganismo tem uma necessidade nutricional

específica, a energia necessária para o desenvolvimento de atividades como a

biossíntese, a mobilidade e o transporte de nutrientes também devem ser considerados.

Essa energia é obtida também do meio ambiente, através da energia luminosa ou da

energia liberada pelas reações químicas. O processo pelo qual se dá a obtenção de

energia é denominado catabolismo. A Figura 3.2 mostra uma ilustração de célula

microbiana e suas interações com o meio exterior.

Page 46: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

37

Figura 3.2 – Esquema simplificado do metabolismo celular (MADIGAN et al.,

2010).

A partir do conhecimento do padrão nutricional de um microrganismo é possível

prever as condições mais propícias para a ocorrência do mesmo. Basicamente esse

padrão nutricional é definido baseado nas necessidades principais do microrganismos,

ou seja, a fonte de energia e o seu constituinte principal, o carbono. Portanto,

resumidamente as duas demandas vitais dos microrganismos são suas substâncias

constituintes e energia.

3.3.3 CLASSIFICAÇÃO NUTRICIONAL DOS MICRORGANISMOS

Os organismos que utilizam compostos químicos para energia são chamados

quimiotróficos. Aqueles que dependem primariamente da energia radiante (luz) são

denominados fototróficos. Em função destes termos e da fonte de carbono, PELZCAR

(2012) subdivide os microrganismos nos seguintes grupos:

Page 47: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

38

Quimioautotróficos – aqueles organismos que utilizam substâncias químicas

(inorgânicas) como fontes de energia e dióxido de carbono como principal fonte

de carbono;

Quimioheterotróficos – aqueles que utilizam substâncias químicas (orgânicas)

como fontes de energia e os compostos orgânicos como fonte principal de

carbono;

Fotoautotróficos – aqueles que utilizam a luz como fonte de energia e dióxido de

carbono como fonte principal de carbono;

Fotoheterotróficos – aqueles que utilizam a luz como fonte de energia e

compostos orgânicos como fonte principal de carbono.

Conhecendo-se então as categorias nutricionais, pode-se assim caracterizar os

grupos de microrganismos (PELZCAR, 2012):

Bactérias: a maioria é quimioheterotrófica, porém também existem espécies

fotossintetizantes;

Algas: a maioria é fotoautotrófica;

Fungos: todos são quimioheterotróficos.

3.3.4 AÇÃO CATALISADORA DOS MICRORGANISMOS NAS

REAÇÕES DE OXI-REDUÇÃO

Em uma reação, para que ocorra o rearranjo entre os átomos envolvidos e a

geração de novas ligações é necessário haja uma quantidade mínima de energia inicial,

denominada energia de ativação. Espontaneamente, tal processo pode ocorrer de modo

bastante lento.

Um agente catalisador, por sua vez, consiste em uma substância que acelera a

velocidade de reação, e consequentemente reduzindo sua energia de ativação, sem ser

consumido durante o processo. Todos os organismos vivos dependem de catalisadores

complexos chamados enzimas que regulam as reações bioquímicas.

Normalmente as enzimas são capazes de aumentar a velocidade de reação

química em 108 a 10

20 vezes em relação ao tempo necessário para a reação ocorrer

espontaneamente (MADIGAN et al., 2010). Essa ação das enzimas que reduzem a

Page 48: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

39

energia de ativação de uma reação são essenciais para que haja a participação dos

microrganismos na formação do ocre.

3.4 BIOGEOQUÍMICA DO FERRO APLICADA A FORMAÇÃO DO

OCRE EM SISTEMAS DRENANTES

Após a explanação geral feita sobre os processo químicos que ocorrem na

natureza com a participação das atividades microbianas, neste tópico são abordados os

processos biogeoquímicos envolvendo o metal ferro na natureza e os respectivos

microrganismos que participam dos mesmos.

3.4.1 A PRESENÇA DO FERRO NO MEIO AMBIENTE NATURAL

Uma vez que consegue representar graficamente as possíveis fases de equilíbrio

estáveis de um sistema eletroquímico, o Diagrama de Pourbaix pode ser aplicado em

vários casos que ocorrem no meio ambiente, variando de acordo com os compostos de

ferro, temperatura e pressão.

No solo, o ferro pode existir sob a forma de cátion trocável ou de compostos

minerais. Esses compostos com diferentes susceptibilidades à hidrólise, podem ser, por

exemplo, o hidróxido ferroso, o carbonato ferroso (siderita), o sulfeto ferroso (pirita) ou

o fosfato ferroso (vivianita). Na presença do oxigênio, esses compostos ferrosos sofrem

oxidação para o estado férrico (KUNTZE, 1982).

Na água o ferro aparece principalmente em água subterrâneas devido à

dissolução do minério pelo gás carbônico da água gerando o carbonato ferroso,

conforme a reação:

(3.27)

Em águas superficiais, ricas em matéria orgânica, o ferro geralmente forma

complexos muito estáveis causando sérios problemas ao tratamento dessas águas. Além

disso, em períodos chuvosos, devido ao carreamento dos solos e aos processos de

erosão nas margens de corpos hídricos, o nível de ferro na água tende a aumentar. Os

Page 49: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

40

efluentes industriais, de indústrias metalúrgicas por exemplo, quando não são tratados

devidamente também podem contribuir para o aumento do nível de ferro devido ao

processo de decapagem, que consiste na remoção da ferrugem das peças antes de seu

uso.

Devido às condições de potencial eletroquímico e pH descritas anteriormente, e

sabe-se queo íon ferroso Fe+2

é mais solúvel que o férrico Fe+3

. Para as condições

ambientais mais comuns os íons Fe+2

são oxidados, resultando em íons Fe+3

precipitados. Logo, devido a facilidade de oxidação de íons Fe+2

espera-se que na água

a concentração de Fe+3

seja baixa.Em águas ricas em oxigênio, como a água corrente, o

íons Fe+3

podem ser encontrados em maiores concentrações apenas em condições de pH

muito baixo. Por outro lado, em águas pobres em oxigênio podem existir concentrações

consideráveis de Fe+2

e Fe+3

principalmente quando se tem presença de matéria orgânica

e enxofre no meio, consideradas substâncias redutoras (KUNTZE, 1982).

No solo existem uma série de agentes capazes de estabilizar os íons Fe+2

e Fe+3

sob a forma solúvel em água. Diversos compostos como ácido tartárico, ácido salicílico

e outros ácidos orgânicos formados a partir da biomassa são formados são capazes de

compor complexos ou quelatos com os íons de ferro, impedindo sua oxidação ou sua

precipitação, mesmo em presença de oxigênio.

3.4.2 OS PROCESSOS PURAMENTE QUÍMICOS NO PROCESSO DE

FORMAÇÃO DO OCRE

Os processos puramente químicos são aqueles que ocorrem exclusivamente em

função das condições eletroquímicas do meio como pH, Eh e concentração de

substâncias químicas. O Eh, por sua vez, está relacionado com a pressão parcial de

oxigênio. Os processos envolvidos (solubilização, oxidação e precipitação do ferro)

podem ser analisados a partir do Diagrama de Pourbaix, de acordo com os

condicionantes do meio considerado, conforme já foi exposto no item 3.2.2.

Segundo STUM e LEE (1961), a cinética de reação dos íons Fe2+

dependem de

parâmetros como pH, temperatura, concentração de oxigênio dissolvido e catalisadores.

Contudo, a presença de alguns constituintes químicos podem acelerar ou desacelerar as

reações de oxidação, e consequentemente a precipitação do ferro.

Page 50: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

41

Sabe-se que, em meios naturais, o íon bivalente (Fe+2

), em seu estado reduzido é

bem mais solúvel queo íon trivalente (Fe+3

), ou seja, oxidado. Para os casos comuns na

natureza, de acordo com o Diagrama de Pourbaix (Figura 3.1), para o meio neutro (pH

= 7,0), o Fe+2

se oxida para Fe+3

, precipitando-se em seguida. Logo, tem-se que o dois

processos distintos: o de oxidação e de precipitação.

Pela oxidação, ocorre a seguinte reação:

(3.28)

Os íons Fe+3

reagem com água, resultando em α-Fe2O3, a hematita, como mostra

o caso da Figura 3.1. Essa reação corresponde a:

(3.29)

Por ser rico em água, esse composto precipitado tem característica amorfa e

consistência gelatinosa. Substâncias com tais características são constatadas em

sistemas drenantes.

3.4.3 A PARTICIPAÇÃO DOS MICRORGANISMOS NA

BIOGEOQUÍMICA DO FERRO

Os microrganismos têm papel importante no estado em que um elemento

químico pode ser encontrado na natureza. Para o caso do ferro, a participação

microbiana exerce grande influência sobre os processos de solubilização e precipitação.

A velocidade de reação de oxidação do ferro é relativamente baixa se for puramente

química. Na maioria dos casos observados, a colmatação em sistemas drenantes ocorre

devido a processos químicos e microbiológicos simultaneamente.

De acordo HANERT (1974) e KHRUTSKAYA (1970) apud KUNTZE (1982),

aquantidade de carbono e a capacidade de aderência é mais intensa quando a origem do

ocre é químico-microbiológica.

Page 51: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

42

3.4.3.1 REDUÇÃO DO FERRO

Muitos estudos indicam que, ambientes anaeróbios, bactérias redutoras podem

usar as formas insolúveis de ferro e manganês presentes na água como aceptoras de

elétrons para obtenção de energia, transformando-os nas formas solúveis. Segundo

MADIGAN et al. (2010), o principal agente para o processo de redução do ferro na

natureza são as bactérias redutoras de ferro.

O ferro encontra-se nos solos na forma de óxidos primários como a hematita e a

magnetita. Sob condições de intemperismo avançado, o processo de laterização

promove uma alta concentração desses óxidos, formando uma camada semi permeável,

próxima a superfície de um perfil de alteração (MEUNIER e VEUDE, 2008). Em solos

bem aerados, a maior parte do ferro encontra-se no estado oxidado, mas, quando

ocorrem condições anaeróbias, aumenta rapidamente a concentração do íon ferroso,

numa reação primordialmente microbiológica, com pequena ou nenhuma ocorrência em

solo estéril, e cuja velocidade aumenta consideravelmente com a adição de matéria

orgânica. O processo pode também ocorrer em solos drenados com microssítios

temporariamente anaeróbios (HUNGRIA e UQUIARGA, 1992 apud MENDONÇA,

2000).

3.4.3.2 OXIDAÇÃO DO FERRO

Diversos estudos com o objetivo de entender a formação de depósitos

sedimentares de ferro indicam a participação de bactérias oxidantes. Sob condições

únicas, em determinado momento geológico da Terra, bactérias fotossintetizantes

produziram pela primeira vez oxigênio, que oxidaram o ferro reduzido dissolvido que

existia em abundância no momento.

Normalmente, a oxidação e a posterior precipitação do ferro, seja por ação

puramente química ou pela participação microbiológica, dependem, no entanto, do

oxigênio:quanto maior a aeração, mais rápido e complexo é o processo (MENDONÇA,

2000).

Page 52: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

43

3.4.3.2.1 AÇÃO QUIMIOTRÓFICA

Em meios ácidos

A oxidação do ferro ( é uma reação de oxi-redução catalisada por

algumas espécies de bactérias, que captam a energia liberada na reação.Porém, em pH

ácido, apenas uma pequena quantidade de energia é liberada por tal oxidação, sendo

necessário oxidar grandes quantidades de ferro para que as bactérias possam crescer.

Muitas bactérias oxidantes do ferro também oxidam enxofre, transformando

sulfetos insolúveis em sulfatos e ácido sulfúrico. Isso ocorre porque o íon Fe+2

em meio

ácido não sofre oxidação química, disponibilizando uma grande quantidade de íons

ferrosos ao meio e podendo servir ao metabolismo das bactérias. A bactéria mais

conhecida neste caso é a Thiobacillus ferroxidans, que é quimioautotrófica. Evidências

experimentais sugerem que a reação ocorre a face externa da membrana

citoplasmática da bactéria (MADIGAN, 2010).

Em pH neutro

Segundo KUNTZE (1982), a formação do ocre ocorre geralmente devido a

atividade de ferrobactérias filamentosas. O ambiente propício para as bactérias

filamentosas é na transição aeróbia e anaeróbia, com pH de 5 a 8 e Eh de +200 a

+500mv. Em meio levemente ácido tendendo a neutralidade, esses microrganismos

promovem a precipitação do ferro e/ou manganês fora da células, mantendo-os

incrustados na região superficial das células. Vale ressaltar que o processo de oxidação

puramente química também ocorre sob a ação desses microrganismos, logo tem-se a

formação do ocre por meio químico e microbiológico.

Alguns exemplos desses microrganismos podem ser citados a seguir:

Sphaerotilus natans e Leptothrix ochracea

São bactérias quimioheterotróficas e promovem a precipitação do ferro sob a

forma de óxidos hidratados, proporcionalmente à concentração do substrato orgânico.

que crescem relativamente bem em águas correntes, contaminadas organicamente. São

Gram-negativas, atuando em pH neutro,em temperaturas de 20oC a 30

oC.

Gallionella ferruginea

São bactérias quimioautotróficas facultativas e autotróficas. Possuem estrutura

provida de caule, e atuam como oxidante em pH neutro. São consideradas

Page 53: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

44

microaerófilas, ou seja, são capazes de crescer em meios com concentrações de

oxigênio muito baixas, porém em meios com normais concentrações de oxigênio não

conseguem crescer. Suas células são difíceis de observar pois geralmente encontram-se

misturadas com uma grande quantidade de ferro precipitado.

A Gallionella, a Sphaerotilus e a Leptothrix estão entre as bactérias oxidantes de

ferro mais comuns nos ocres com elevados teores de compostos férricos.

Thiothrix

As bactérias do gênero Thiothrix são quimioautotróficas facultativas e se

proliferam em meios anaeróbios e redutores, ricos em matéria orgânica. Além do ferro,

a Thiothrix também é oxidante de enxofre.

O processo de oxidação sob a ação de microrganismos quimioautotróficos gera

uma grande quantidade de ferro precipitado, devido a assimilação do carbono

inorgânico necessário à formação da matéria orgânica do próprio corpo do

microrganismo. Sendo formado em função desse processo, o ocre deveria conter cerca

de 1% de matéria orgânica em sua composição. Logo, uma maior fração de matéria

orgânica encontrada indica que, além da quimioautotrofia, outros mecanismos

biológicos estão envolvidos na formação do ocre.

3.4.3.2.2 AÇÃO FOTOTRÓFICA

Os íons ferrosos podem ser oxidados sob condições anaeróbicas por

determinadas bactérias fototróficas. Em meio de pH neutro essas bactérias catalisam a

oxidação do ferro sendo o íon Fe+2

utilizado como doador de elétrons necessários no

processo de fotossíntese, quando não se tem oxigênio no meio.

O grupo de bactérias que se caracterizam pela capacidade de precipitação do

ferro são denominadas “bactérias do ferro” ou “ferrobactérias”.

Algumas estruturas extracelulares dos microrganismos (pêlos, cápsulas, bainhas)

além de servirem como reservatório de alimentos também servem como local de

despejo de substâncias de escória. Logo, nos processos de interação com o ferro

geralmente o precipitado incrusta-se nessas ou na parede celular (PELZCAR, 2012).

As extrusões citoplasmáticas, como hastes e pendões, são características de

muitas bactérias envolvidas na geoquímica do ferro, sendo parte da célula. Tais

elementos facilitam a fixação dos microrganismos a superfícies sólidas, funcionando

Page 54: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

45

como órgãos adsorventes e possibilitando um crescimento mais eficiente em meios

aquáticos nutricionalmente diluídos (MADIGAN et. al., 2010).

3.5. BIOFILMES

No meio ambiente, os microrganismos raramente vivem em colônias isoladas de

uma única espécie. Naturalmente, eles vivem em comunidades denominadas biofilmes.

Os biofilmes residem em uma matriz composta essencialmente por polissacarídeos,

DNA e proteínas. Um biofilme também pode ser considerado um polímero complexo

contendo uma quantidade de água que corresponde a várias vezes o seu peso seco. Os

biofilmes podem ser considerados sistemas biológicos onde as bactérias organizam-se

em uma comunidade coordenada (TORTORA et al., 2012).

3.5.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE BIOFILMES RELACIONADAS À

COLMATAÇÃO MICROBIOLÓGICA

De uma forma geral, diversos estudos descrevema composição do ocre como

material de consistência lodosa, provido de matéria orgânica, compostos inorgânicos

,em sua maioria férricos, aderidos a uma superfície.

Como foi mencionado anteriormente, o ocre é o resultado da colonização de

microrganismos em uma determinada superfície.

A formação de biofilmes pode causar efeitos indesejáveis em várias situações da

engenharia. Em sistemas de desinfecção de água, os biofilmes podem ser encontrados

na parte inferior da tubulação,contaminando a rede de distribuição de água. Outros

efeitos negativos da formação dos biofilmes podem ser citados, como o aumento da

resistência ao fluxo de líquidos em tubulações e transformações químicas provocadas

pelos microrganismos no substrato.

Considerando as características descritas anteriormente e integrando-as ao nosso

objeto de estudo, pode-se dizer que o ocre é uma espécie de biolfime resultado da

colonização microbiana. E o fenômeno da colmatação seria a causa para a resistência ao

fluxoem sistemas drenantes.

Page 55: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

46

3.5.2 O DESENVOLVIMENTO DO BIOFILME

A formação do biofilme se inicia a partir do momento em que um material inerte

entra em contato com um ambiente líquido. A partir daí, seu desenvolvimento envolve

processos químicos, físicos e biológicos, podendo ser separados nos estágios descritos a

seguir.

3.5.2.1 TRANSPORTE DE MOLÉCULAS ORGÂNICAS E CÉLULAS

MICROBIANAS PARA A SUPERFÍCIE ÚMIDA

Havendo uma superfície limpa em contato com um meio aquoso, o primeiro

processo para o início da formação do biofilme é a migração de partículas (moléculas

orgânicas e células microbianas) em direção à superfície (Figura 3.3).

Em meios bastante diluídos, o transporte de células microbianas e nutrientes em

direção a superfície pode ser o estágio controlador da taxa de formação do biofilme. O

fluxo de partículas em direção aumenta de acordo com a concentração dessas partículas

no meio, sendo também fortemente influenciado pelas propriedades físicas das

partículas (CHARACKLIS, 1981).

Figura 3.3 – Migração de microrganismos, nutrientes e moléculas orgânicas em

direção a uma superfície limpa em contato com o líquido – δ: sub-camada viscosa

(adaptado de CHARACKLIS, 1981).

Page 56: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

47

3.5.2.2 ADSORÇÃO DE MOLÉCULAS ORGÂNICAS À SUPERFÍCIE

ÚMIDA

Segundo CAMMAROTA (1998) apud MENDONÇA (2000), as propriedades do

material de construção do biofilme, bem como sua rugosidade são condicionados pelas

substâncias adsorvidas no meio. Esse material inicial composto de moléculas orgânicas

se forma sobre a superfície limpa, formando uma camada denominada filme

condicionante. A formação desta camada afeta por conseguinte os estágios subsequentes

da formação do biofilme (Figura 3.4).

Figura 3.4–Transporte e adsorção de moléculas à superfície (CHARACKLIS,

1981).

Uma vez que esta camada inicial forma-se em função da composição do meio

aquoso presente, em uma mesma superfície podem ser formados diferentes filmes

condicionantes, gerando diversos tipos de biofilmes com características distintas como

taxa de formação e caracterísiticas físico-químicas da superfície original. FLETCHER e

PRINCLE (1982) em suas pesquisas, avaliaram a capacidade de adesão de bactérias

naturais de água doce em substratos hidrofílicos e hidrofóbicos. Vários condicionantes

foram avaliados visando refletir a natureza da interação de cada organismo com cada

substrato estudado.

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48

3.5.2.3 ADESÃO DE MOLÉCULAS MICROBIANAS À SUPERFÍCIE

CONDICIONADA

Entre a superfície e o meio aquoso é formada uma interface sólido-líquido que

proporciona um ambiente ideal para a adesão e o crescimento de microrganismos. De

uma forma geral, a fixação de microrganismos a um determinado substrato depende das

interações físico-químicas entre o substrato, a superfície do microrganismo e os

polímeros extracelulares que constituem o material adesivo do microrganismo.

De acordo com os estudos já feitos sobre a formação do biofilme, o estágio no

processo de adesão de células microbianas pode ser reversível ou irreversível (Figura

3.5). No estágio reversível a adesão das células microbianas sobre a superfície é

considerada sensível podendo ser removida com uma simples lavagem. Durante o

estágio de adesão reversível as moléculas estão ligadas à superfície pelas seguintes

forças: eletrostática, van-der-Walls, tensão superficial e ligação covalente. A adesão

irreversível trata-se da ligação permanente das células à superfície, normalmente

auxiliada pelos polímeros extracelulares, sendo removidas apenas sob a utilização de

tratamentos mecânicos mais severos (CHARACKLIS, 1981).

Figura 3.5 – Transporte e adesão de células microbianas à superfície condicionada

(CHARACKLIS, 1981).

CAMMAROTA (1998) apud MENDONÇA (2000) constatou, através de

ensaios de laboratório, que o aumento da diluição de nutrientes no meio aquoso provoca

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49

um aumento da taxa inicial de formação do biofilme, sugerindo que a adesão de

microrganismos a uma determinada superfície seria uma tática de sobrevivência dos

mesmos sob condições de limitação nutricional.

3.5.2.4 METABOLISMO E COLONIZAÇÃO DAS CÉLULAS

MICROBIANAS ADERIDAS

Quando aderidas a um determinado substrato, as células microbianas conseguem

assimilar do meio líquido os nutrientes necessários ao seu metabolismo. Para isso é

preciso que existam no meio concentrações de nutrientes necessárias para que sejam

desenvolvidas suas atividades vitais. O esgotamento dessa quantidade necessária de

nutrientes ou a presença de substâncias tóxicas pode ocasionar a morte e divisão das

células (CHARACKLIS, 1981).

A colonização microbiana se inicia após a adesão irreversível, proporcionada

pelos exopolímeros. Em seguida, uma matriz adesiva de exopolímeros é gerada

formando um emaranhado altamente hidratado envolvendo toda a comunidade

microbiana e possibilitando seu acesso aos nutrientes (Figura 3.6). Nesta etapa também

ocorre a formação de uma complexa estrutura composta por pilares de bactérias

rodeados por canais de água que permitem os nutrientes alcançarem o interior do

biofilme e permite que substâncias excretadas sejam difundam-se para fora do mesmo.

Figura 3.6 – Colonização das células microbianas aderidas à superfície e

continuação dos processos de transporte e adesão (adaptado de CHARACKLIS, 1981).

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50

O amadurecimento do biofilme e suas consequentes alterações das condições no

meio, como a ausência de oxigênio que causa uma região anaeróbiaem certas zonas, têm

bastante influência na comunidade microbiana. Essa alteração dentro do biofilme

possibilita a formação de novos nichos para a colonização de novos microrganismos.

Deve-se ressaltar também a participação de protozoários, que ligados ao biofilme

alimentam-se de bactérias, mantendo a estabilidade da comunidade microbiana

(CAMMAROTA, 1998 apud MENDONÇA, 2000).

3.5.2.5 DESPRENDIMENTO DO BIOFILME

À medida que o biofilme cresce tornando-se cada vez mais denso, a tensão de

cisalhamento do fluido sobre a interface do biofilme tende a aumentar. Esse aumento da

espessura limita a difusão do oxigênio e nutrientes para as camadas mais profundas do

biofilme. Essas limitações podem enfraquecer a matriz do biofilme, causando o

desprendimento do mesmo, como mostra a Figura 3.7 (CHARACKLIS, 1981).

Figura 3.7 – Desprendimento da massa acumulada do biofilme e continuação de

transporte, adesão e crescimento (adaptado de CHARACKLIS, 1981).

Segundo BRYES (1987) apud CAMMAROTA (1998), os biofilmes podem ser

removidos sob as seguintes formas: servindo de alimento para predadores (protozoários,

vermes e insetos); por abrasão e erosão; ou intervenção humana (por meios físicos ou

químicos). Com o desprendimento ocorre um aumento da concentração de material em

suspensão no líquido.

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51

É importante ressaltar que os diferentes estágios envolvidos na formação do

biofilme não seguem um padrão rígido, podendo ocorrer em série ou em paralelo.

3.5.3 COMPOSIÇÃO E PROPRIEDADES DO BIOFILME

Os biofilmes são sistemas complexos formados por células microbianas

dispostas em uma matriz de polímeros extracelulares, conhecidos como exopolímeros

ou EPS, cuja estrutura, composição e propriedades dependem da idade do biofilme e das

condições ambientais (Tabela 3.2). Segundo LAZZAROVA e MANEM (1995), na

composição dos biofilmes os polissácarídeos encontram-se em maior fração (65%), e

também podem ser observadas a presença de proteínas, ácidos nucléicos e lipídeos.

Devido a sua superfície altamente adsorvente, quantidades significativas de partículas

do meio externo como solo e outros detritos presentes em águas naturais.

Tabela 3.2 – Composição química inorgânica de biofilmes segundo dados

apresentados por CHARACKLIS (1981).

Substância Teor (%)

Água 85,6 - 96

Fração volátil 1,9 - 3,2

Fração fixa 0,8 - 11,7

Teor na fração

fixa (%)

Si 7,0 - 12,5

Fe 1,4 - 18,5

Al 3,9 - 7,5

Ca 1,0 - 5,6

Mg 2,5 - 3,2

Mn 4,9 - 59,5

Os elementos cálcio, magnésio e ferro podem interferir nas ligações

intermoleculares dos polímeros do biofilme, principais responsáveis por sua estrutura.

Outro componente importante a ser citado é o glicocálix, camada externa à

membrana celular, atribuindo-lhe caráter adesivo. O glicocálix protege a célula contra

agressões físicas e químicas e permite que esta possa aderir-se a uma determinada

superfície e interagir com o meio, retendo os nutrientes necessários.

Page 61: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

52

3.5.4 EFEITOS DO BIOFILME NA RESISTÊNCIA AO FLUXO DE

LÍQUIDOS

O acúmulo de biofilme em sistemas de transporte de fluidos provoca um maior

atrito entre o biofilme e o fluido adjacente em movimento, comprometendo tubulações e

causando assim uma maior perda de carga em relação ao que espera-se do sistema sem

o biofilme.

A Figura 3.8 mostra um exemplo de queda de vazão provocada pela formação de

biofilme verificado num sistema executado em laboratório.

Figura 3.8 – Exemplo da queda de capacidade de fluxo causada pela formação de

biofilme em um sistema drenante (reator tubular) sob carga hidráulica constante

(CHARACKLIS, 1981).

A Figura 3.9 ilustra o aumento de resistência do fluxo a medida que a espessura

do biofilme ultrapassa a sub camada de maior viscosidade que se situa junto à

superfície.

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Figura 3.9 – Exemplo da variação do coeficiente de atrito com a espessura do

biofilme, onde δ representa a espessura da sub camada viscosa (CHARACKLIS, 1981).

A partir destas constatações, sugere-se que o efeito da colonização microbiana

em aumentar a resistência ao fluxo seria o resultado do fenômeno de colmatação em

sistemas drenantes causado pela atividade microbiológica (MENDONÇA, 2000).

3.5.5 A FORMAÇÃO DE BIOFILMES EM GEOTÊXTEIS

Conforme abordado anteriormente, as propriedades físico-químicas da superfície

em contato com o meio aquoso influenciam na formação do biofilme. Para os

geotêxteis, algumas características como o tipo de polímero utilizado na sua fabricação,

a tecedura da manta e a distância entre as fibras exercem influência sobre o fenômeno

da colmatação. Logo, espera-se comportamentos diferentes no processo de formação de

biofilmes em função dos diferentes materiais e processos de confecção do geotêxtil.

FORD (1982) apud MENDONÇA (2000) realizou ensaios para analisar a

formação de biofilmes de ferrobactérias em geotêxteis visando avaliar seu potencial de

colmatação do ocre. Foram realizados ensaios de percolação de soluções com ferro,

carbono e ferrobactérias em diferentes tipos de geotêxteis. Os resultados dos ensaios

mostraram que a aderência a colonização das ferrobactérias varia em função do tipo de

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54

geotêxtil ensaiado, sendo esse fato atribuído à estrutura do material e à umectabilidade

do polímero empregado na fabricação.

Estudos sobre os fatores condicionantes para formação de ocre em filtros

geotêxteis foram feitos através de ensaios de permeabilidade e por testes de formação de

biofilme em Erlenmeyer. Os ensaios foram conduzidos utilizando diferentes tipos de

geotêxteis, onde foram introduzidos nutrientes e inóculo de ferrobactérias. O teste em

Erlenmeyer consistiu em inserir amostras de geotêxtil no mesmo com meio de cultura

próprio para ferrobactérias a aguardar a formação de biofilme. Realizando ensaios em

laboratório, concluiu-se que a atividade de ferrobactérias, tipo do geotêxtil e condições

ambientais (temperatura, pH) são os principais condicionantes para a formação do ocre.

Dentre as condições ambienais, o oxigênio exerce um papel importante como aceptor de

elétrons na oxidação do Fe+2

para Fe+3

e na precipitação, e que o ambiente mais propício

para a formação do ocre em condições naturais seria a interface entre uma região aerada

e não aerada. MENDONÇA et al. (2003) e MENDONÇA et al. (2006).

PALMEIRA et al. (2008) realizou testes de permissividade em geotêxteis do

tipo não tecidos visando avaliar a colmatação biológica utilizando lixiviado. Em seu

estudo foram utilizados três diferentes tipos de geotêxteis e modelos semi-empíricos

para avaliar a cinética de crescimento dos microrganimos. Os resultados dos testes

mostraram uma redução significativa na permeabilidade devido a colmatação biológica

e que os resultados das previsões dos modelos empíricos foram consistentes para o

estudo em questão.

FLEMING et al. (2010) estudou a ocorrência de colmatação em um sistema

drenante de aterro sanitário enfatizando sua diferença de carga hidráulica antes e após a

colmatação. As inspeções foram feitas através de filmagens no interior do dreno,

exumação de algumas regiões do sistema drenante e medições de condutividade

hidráulica. Os resultados sugerem diferentes combinações de design do sistema

drenante visando anular o efeito da colmatação no mesmo.

ALIMAHMOODI (2012) investigou a remoção de carbono e fósforo utilizando

o biofilmeformado em um geotêxtil em reatores de um sistema de tratamento de águas

residuais. O biofilme formado tinha como finalidade remover tais elementos,

melhorando a eficiência do sistema de tratamento. O estudo mostrou que a utilização do

geotêxtil promoveu uma rápida formação e crescimento de biofilme e

consequentemente uma elevada capacidade de retenção de biomassa.

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55

Mais recentemente, um trabalho de DA SILVA (2013) avaliou a colmatação

biológica de geotêxteis tecidos e não tecidos submetidos ao fluxo lixiviados de aterro

sanitário a partir de ensaios de permeabilidade de longa duração. Foi utilizada

microscopia eletrônica de varredura (MEV) para avaliar o fechamento dos poros em

geotêxteis. A partir dos ensaios realizados, foi possível constatar uma significativa

redução da condutividade hidráulica dos materiais, onde notou-se a predominância de

cegamento.

Page 65: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

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4 METODOLOGIA E MATERIAIS UTILIZADOS

4.1 INTRODUÇÃO

A abordagem da parte experimental do presente trabalho discorre sobre a

campanha experimental, os procedimentos em campo e em laboratório, equipamentos

utilizados e suas respectivas metodologias.

4.2 OBJETIVOS

Os objetivos da campanha experimental foram basicamente:

Constatar se há ocorrência de formação do ocre em filtros geotêxteis sob

condições submersas em laboratório;

Avaliar a influência da difusão do oxigênio na formação do biofilme de

ocre para diferentes profundidades dos geotêxteis submersos em relação

ao nível d’água;

Analisar a dinâmica do fenômeno sob a ótica da teoria dos biofilmes.

4.3 COLETA DO OCRE EM CAMPO

Primeiramente procurou-se coletar uma amostra de ocre em locais propícios para

a formação do mesmo. Durante a procura em campo, visou-se coletar um material com

as características típicas das descritas por MENDONÇA (2000). A coleta foi feita na

encosta do Soberbo, no Alto da Boa Vista, em canaletas de drenagem presentes no

local, mesmo local onde foi obtido o material para a campanha experimental realizada

por MENDONÇA (2000). Foi encontrado e coletado um material alaranjado gelatinoso

presente em algumas regiões das canaletas (Figuras 4.1 e 4.2).

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57

Figura 4.1 – Ocre aderido à base de canaleta de drenagem na encosta do Soberbo.

Figura 4.2 – Amostra de ocre coletada em campo.

4.3.1 O INÓCULO DE FERROBACTÉRIAS

O material coletado em campo possuía características indicativas de atividade

microbiológica. Logo, para comprovar a existência de ferrobactérias, retirou-se uma

alíquota de 1 mL do líquido coletado, que foi inserida em um tubo de ensaio com 9 mL

de meio de cultura próprio para ferrobactérias. O meio de cultura preparado possui

coloração amarelada, mas com a presença de ferrobactérias, após cerca de dois ou três

dias, passa a ter coloração alaranjada-avermelhada e forma um anel marrom nas laterais

do tubo de ensaio. A Figura 4.3 mostra dois tubos de ensaio, um apenas com meio de

cultura e outro com ferrobactérias inseridas.

Page 67: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

58

Figura 4.3 –Tubos de ensaio com meio de cultura, a esquerda com ferrobactérias

inseridas e a direita sem ferrobactérias.

Aproximadamente 14 dias após, o líquido passou a ficar acinzentado, com

precipitado de cor preta no fundo do tubo (Figura 4.4). Isso indica que os nutrientes

foram totalmente assimilados, havendo um decaimento da quantidade de células novas

no meio.

Figura 4.4 – Tubo de ensaio após 14 dias da inserção das ferrobactérias em meio

de cultura.

Page 68: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

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4.3.2 ENRIQUECIMENTO DE CULTURA

Para garantir uma cultura rica em ferrobactérias, após alguns dias verificado

crescimento no primeiro tubo de ensaio, foi feito novo repique, ou seja,1 mL do meio

anteriormente preparado foi inserido em um novo tubo de ensaio com 9 mL de meio de

cultura.

Dias depois, verificada a formação do anel alaranjado no segundo tubo, foi

retirado 1mL do meio e inserido em solução salina para conservar as células e feita uma

diluição do meio até a ordem de 10-16

. Posteriormente, 1 mL de cada meio diluído foi

inserido em uma placa de Petri contendo meio de cultura sólido. Observado o

crescimento de ferrobactérias nas placas de Petri (Figura 4.5), foi feita uma raspagem de

regiões onde havia o crescimento de ferrobactérias.

Figura 4.5 – Placas de Petri com presença de crescimento de ferrobactérias.

O material raspado foi inserido novamente em um meio de cultura para

ferrobactérias, dessa vez em um erlenmeyer, com objetivo de fazer um estoque de

ferrobactérias em crescimento disponível para os ensaios de filtração. Uma amostra do

meio gerado foi retirada e observada em microscópio óptico (Figura 4.6), onde os

pontos avermelhados representam as ferrobactérias.

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Figura 4.6 – Visualização das ferrobactérias em microscópio óptico.

4.4 FLUIDO PERCOLANTE

Visando um ambiente propício para a vida das ferrobactérias, o fluido percolante

deveria conter água como principal constituinte, ferro dissolvido e outros nutrientes

específicos para esses microrganismos. Os ensaios foram feitos utilizando água do

abastecimento público e adicionou um meio de cultura específico para ferrobactérias

com diluição de 1/50, visando uma melhor simulação das condições ambientais.

Optou-se pela utilização de um meio de cultura retirado das normas da CETESB

(1992), cuja composição é apresentada na Tabela 4.1.

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Tabela 4.1 – Composição do meio de cultura adicionado à água no fluido

percolante.

Substância Concentração (grama/Litro)

Sulfato de amônio - (NH4)2SO4 0,5

Nitrato de sódio - NaNO3 0,5

Fosfato de potássio dibásico – K2HPO4 0,5

Sulfato de magnésio - MgSO4.7H2O 0,5

Cloreto de cálcio di-hidratado 0,13

Cloreto de sódio - NaCl 9,5

Citrato férrico amoniacal 10

Obs.: No final da mistura, o pH é ajustado para 6,6.

4.5 ENSAIOS - METODOLOGIAS, MATERIAIS E EQUIPAMENTOS

Para simular o processo de percolação e a formação do ocre nos filtros geotêxteis

submersos, optou-se por utilizar ensaios de coluna de filtração de fluxo ascendente.

Foram aproveitados os permeâmetros utilizados por MENDONÇA (2000; 2007) em

seus ensaios de permeabilidade. Porém esses permeâmetros foram desmontados, de

modo que utilizaram-se somente suas partes inferiores, com alturas e diâmetros de 10

cm cada um. Os permeâmetros ficaram submersos em um aquário de acrílico, com o

objetivo de mantê-los sob as mesmas condições de carga hidráulica.

De acordo com a lei de transferência de massa (vide Equação 2.7), tendo-se uma

mesma diferença de concentração, a velocidade de difusão aumenta à medida que a

distância entre os pontos considerados diminui (Figura 4.7). A velocidade de difusão

inicialmente é alta, diminuindo progressivamente com o tempo devido a diferença de

concentração entre os dois meios que vai decaindo.

Sob a ótica do ensaio em questão, a difusão de oxigênio num determinado tempo t

ocorrerá mais lentamente a medida que se aumenta a lâmina d’água. Como o objetivo

do estudo era avaliar a influência da difusão do oxigênio, procurou-se utilizar uma

velocidade advectiva numericamente menor que a velocidade de difusão do oxigênio no

ensaio.

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Figura 4.7 - Transferência de massa por difusão do oxigênio ao longo da lâmina

d’água de espessura L.

Para o controle da velocidade, foram utilizadas três bombas peristálticas, uma para

cada par de permeâmetros (ensaios em duplicata). O ajuste da velocidade das bombas

garantiu que a velocidade advectiva fosse relativamente baixa em comparação com a

velocidade de difusão do oxigênio. Cada bomba estava ligada a um reservatório

cilíndrico de PVC, onde o fluido percolante era bombeado com a vazão estabelecida

pela mesma.

Quanto aos materiais que formam a coluna de filtração, foram utilizadas esferas

de vidro (Figura 4.8) em substituição ao solo e, no topo, foi escolhido um geotêxtil do

tipo tecido com as especificações apresentadas na Tabela 4.2 (Figura 4.9).

Figura 4.8 – Bolinhas de gude utilizadas em lugar do solo nos permeâmetros.

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Tabela 4.2 – Especificações do geotêxtil utilizado no ensaio.

Geotêxtil Polímero Tecedura Espessura

(mm)

Permeabilidade

(cm/s)

Permissividade

(s-1

)

Abertura

de filtração

Amoco

4004

Polipropileno tecido 0,4 3,6 x 10-2

0,9 AOS =

0,80 mm

Obs.: AOS = abertura aparente de poros.

Figura 4.9 – Amostra de geotêxtil tecido utilizado no ensaio.

Os permeâmetros possuem 5 cm de altura e 10 cm de diâmetro interno, em

função destas medidas e da velocidade estabelecida, estimou-se um tempo de 26 dias

para que o fluido percolante chegasse até a superfície do permeâmetro, atingindo o

geotêxtil. Foram utilizados no total seis permeâmetros, os quais foram atribuídos para

cada par alturas da lâmina d’água diferentes. Um par de permeâmetros ficou com o topo

coincidente com o nível d’água, visando garantir uma interface ar / água no geotêxtil

com saturação máxima de oxigênio. Nesta situação, a velocidade de difusão garante

aeração total, uma vez que é nula a distância de percurso das moléculas do oxigênio

para atingir a superfície do geotêxtil. O segundo e terceiro pares de permeâmetros

ficaram submersos com lâminas d’água de, respectivamente, 2,0 cm e 4,5 cm acima do

topo (Figuras 4.10 e 4.11).

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Figura 4.10 – Desenho esquemático do ensaio de percolação.

Figura 4.11 – Ensaio em andamento com permeâmetros submersos a diferentes

alturas de lâmina d’água.

Relacionando as condições do ensaio com o fenômeno de difusão do oxigênio

tem-se as seguintes considerações: na condição de contorno em que o topo do

permeâmetro está à altura do nível d’água, tem-se o chamado processo de aeração total;

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para os submersos a 2,5 cm do nível d’água, tem-se uma velocidade de difusão maior

que para os submersos a 4,5 cm e assim sucessivamente.

4.6 INÍCIO DO ENSAIO

Primeiramente foram feitos os cálculos necessários para encontrar uma

velocidade advectiva adequada no sistema. Em função da altura do permeâmetro, foi

encontrado o tempo de chegada do fluido bombeado até o geotêxtil, na superfície do

permeâmetro.

De acordo com SISSOM et al. (1992), o coeficiente de difusão do oxigênio no ar

é . Porém, para a mesma temperatura, esse valor em água é cerca de

11.300 vezes menor. Logo, em nosso sistema, exceto para os permeâmetros com topo

no nível d’água, o coeficiente de difusão do oxigênio é .

A partir do valor estimado do fluxo de oxigênio na água, procurou-se ajustar a

velocidade das bombas de forma a garantir um fluxo de oxigênio no sentido dos filtros.

A vazão das três bombas foi medida de modo a ajustar a velocidade devida, sendo, em

média, (Apêndice 1).

4.6.1 INJEÇÃO DAS FERROBACTÉRIAS

O ensaio foi iniciado apenas com o fluido percolante, e após 19 dias foi inserido

um meio de cultura com ferrobactérias. Foram injetados 10 mL desse meio de cultura

em cada par de permeâmetro (Figura 4.11). Para a quantificação de microrganismos foi

utilizado o método do número mais provável que consiste em diluições sucessivas da

amostra microbiológica seguido de sua estimativa com o auxílio de uma tabela para

contagem dos microrganismos. A população de ferrobactérias foi estimada em

celúlas/mL, um número relativamente alto de microrganismos.

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Figura 4.12– Seringas com meio de cultura e ferrobactérias.

4.7MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV)

Para avaliar a obstrução dos poros e visualizar os microrganismos aderidos aos

filamentos dos geotêxteis, após os ensaios de coluna de filtração foram realizados

ensaios de microscopia eletrônica de varredura (MEV). A escolha da MEV em relação a

outras técnicas de microscopia se deu pela necessidade de um grande aumento, de até

10.000 vezes para que fosse possível a visualização das colônias de bactérias e o

biofilme formado.

O microscópio utilizado na pesquisa foi o modelo DSM 940, disponibilizado

pelo Laboratório Multiusuário de Microscopia Eletrônica e Microanálise, do Programa

de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da COPPE, mostrado na Figura 4.13.

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Figura 4.13 – Microscópio eletrônico de varredura.

4.8 ESPECTROSCOPIA DE ENERGIA DISPERSIVA (EDS)

O Energy Dispersive X-ray Detector, conhecido como EDS ou EDX é uma

ferramenta utilizada no estudo e caracterização microscópica de materiais. A técnica

consiste basicamente em um feixe de elétrons que incide sobre um mineral, fazendo

com que os elétrons das camadas mais externas dos átomos e íons deste sejam

excitados, mudando níveis energéticos. Como os elétrons de um determinado átomo

possuem energias distintas das de outro átomo, é possível determinar quais os elementos

químicos estão presentes no material estudado, mostrando uma linha de medição de

intensidades de cada elemento em uma mesma amostra sob os mesmos padrões de

calibrações para conhecidas composições. As medições são normalmente dadas em

quilo elétron-volts (keV). O equipamento de EDS foi disponibilizado pelo Laboratório

Multiusuário de Microscopia Eletrônica e Microanálise, do Programa de Engenharia

Metalúrgica e de Materiais da COPPE.

5ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1 INTRODUÇÃO

A seguir são apresentados os resultados observados a partir dos ensaios

realizados. Os procedimentos utilizados, os resultados obtidos e análise dos mesmos são

mostrados de forma separada por ensaio realizado.

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68

5.2 RESULTADOS DOS ENSAIOS DE COLUNA

Foi considerado o início do ensaio no momento em que se iniciou a percolação

do fluido com nutrientes. Após 19 dias do início do ensaio efetuou-se a injeção de

ferrobactérias.

Após 29 dias de percolação do fluido ao longo do permeâmetro, foi possível

observar o surgimento de espuma com pequenos pontos alaranjados na superfície da

água (Figura 5.1). O material foi coletado, sendo inserido em dois tubos de ensaio com

meio de cultura próprio para ferrobactérias e observado por alguns dias. Após o tempo

de 3 dias, o meio de cultura apresentou mudança de coloração, com formação de um

anel vermelho-alaranjado na lateral do tubo com uma camada de biofilme na superfície

e deposição de material no fundo, como mostra a Figura 5.2.

Figura 5.1 –Material espumoso encontrado na superfície da água.

Page 78: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

69

Figura 5.2 – Tubos de ensaio com meio de cultura após a inserção do material

espumoso.

O material observado no tubo de ensaio com nutrientes possuía características

semelhantes ao que foi inoculado com ferrobactérias para a realização dos ensaios

inicialmente. A mudança de coloração para vermelho alaranjada no meio indica a

oxidação do ferro e o depósito abaixo da superfície a geração de substância poliméricas

extracelulares, geradoras de biofilme. Logo, a partir destas constatações sugere-se a

existência de ferrobactérias também fora dos permeâmetros, que migraram do seu topo

até a superfície.

Após 48 dias de injeção das ferrobactérias (67 dias após o início do ensaio) foi

possível observar uma leve mudança de coloração dos geotêxteis, ficando com regiões

amareladas, como mostram as Figuras 5.3 (a) a (c).

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Figura 5.3 (a) – Permeâmetros de lâmina zero, expostos a atmosfera.

Figura 5.3 (b)– Permeâmetros submersos a 2 cm.

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71

Figura 5.3 (c) – Permeâmetros submersos a 4,5 cm.

Durante o tempo de realização dos ensaios os permeâmetros foram observados

com o intuito de identificar qualquer tipo de modificação no sistema. Após 74 dias do

início do ensaio, foi possível observar melhor uma mudança de coloração dos

geotêxteis, devido a uma formação lodosa alaranjada de suas superfícies em contato

com a água (Figuras 5.4, 5.5 e 5.6).

Figura 5.4 – Permeâmetros que ficaram totalmente expostos a atmosfera.

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72

(a)

(b)

Figuras 5.5 (a) e (b) - Permeâmetros submersos a 2 cm.

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73

(a)

(b)

Figura 5.6 (a) e (b) – Permeâmetros submersos a 4,5 cm.

Observa-se que sobre o par de permeâmetros que ficou em contato direto com a

atmosfera, a visualização da mudança de cor não foi tão evidente quanto nos outros

permeâmetros. Os geotêxteis foram retirados após 84 dias de ensaio de percolação. Foi

retirado um geotêxtil de cada par para secagem e análise em laboratório. Uma boa parte

do material alaranjado estava fracamente aderido à superfície do geotêxtil sendo perdida

quando houve a retirada. As Figuras 5.7, 5.8 e 5.9 mostram os geotêxteis após a retirada

dos permeâmetros.

Page 83: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

74

(a)

(b)

Figura 5.7 (a) – Geotêxtil que ficou exposto a atmosfera.

(b) – Lado oposto do geotêxtil, que ficou em contato com as bolas de gude.

O geotêxtil que ficou em contato com a atmosfera apresentou algumas regiões

de mudança de coloração, bem como o surgimento de uma discreta substância

gelatinosa. Seu lado oposto, que ficou em contato direto com o fluido percolante e as

bolas de gude, também apresentou uma pequena formação alaranjada com tal

substância.

Page 84: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

75

Figura 5.8 –Geotêxtil que ficou submerso a 2 cm.

Figura 5.9 – Geotêxtil que ficou submerso a 4,5 cm.

De acordo com o que foi abordado no item 3.5.2, o material lodoso de cor

alaranjada ferruginosa fracamente aderido aos geotêxteis possui características típicas

de biofilmes, porém em seu estágio inicial, condição em que se desprende facilmente do

substrato.

Para se obter uma comprovação mais conclusiva sobre o material formado, é

necessário saber sua composição química, concentração de carbono, oxigênio,

principalmente, bem como outras concentrações em função da possível presença de

microrganismos. Para o caso em questão, concentrações de ferro e carbono indicam que

no sistema houve colonização, formação de exopolímeros e, consequentemente, geração

de biofilme.

Page 85: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

76

5.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS APÓS O ENSAIO

5.4.1 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS PARA A MEV E EDS

Para a observação em MEV e EDS foram obtidas amostras dos geotêxteis que

foram selecionadas das porções em que os mesmos estavam com a substância

alaranjada. Cada amostra apresentava um diâmetro de aproximadamente 2,5 cm. Devido

à necessidade de interação do feixe eletrônico do microscópio com a amostra, é

necessário que as amostras sejam condutoras. Caso estas não sejam, como ocorre com a

maioria de amostras biológicas, é possível torná-las condutoras através do recobrimento

por deposição de íons metálicos. Para a pesquisa em questão, as amostras utilizadas para

a visualização com MEV foram metalizadas com íons de ouro. Para o EDS, não deve

ser realizado esta preparação uma vez que o ouro sobressairia significativamente como

elemento presente no material, não possibilitando a identificação dos elementos

químicos presentes na amostra. A Figura 5.10, mostra as amostras preparadas.

Figura 5.10 – Amostras preparadas para observação no MEV e realização de

EDS: (1) Geotêxtil exposto a atmosfera; (2) Geotêxtil submerso a 2,0 cm. (3) Geotêxtil

submerso a 4,5 cm - As da esquerda estão recobertas com ouro.

Page 86: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

77

5.4.2 OBSERVAÇÃO DOS GEOTÊXTEIS COM MICROSCOPIA

ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV)

A microscopia eletrônica de varredura foi empregada para evidenciar detalhes da

formação do biofilme nos geotêxteis e sua configuração nas estruturas dos geotêxteis.

As Figuras 5.11, 5.12, 5.13 e 5.14 mostram as imagens dos geotêxteis observados sob

diferentes resoluções para as amostras 1, 2 e 3, respectivamente.

(a)

(b)

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78

(c)

(d)

Figura 5.11 – Imagem da amostra 1 (geotêxtil exposto a atmosfera) analisados na

MEV. Aumentos: (a) 30 vezes; (b) 1000 vezes; (c) 5000 vezes; (d) 10000 vezes.

Na Figura 5.11 (a), para o geotêxtil que ficou exposto a atmosfera, foi possível

notar a formação do biofilme para um aumento de 30 vezes. Essa imagem mostra que os

espaçamentos entre os filamentos do geotêxtil foram significativamente preenchidos

pela substância alaranjada. A medida que se aumenta a imagem é possível visualizar de

forma cada vez mais clara a presença de ferrobactérias agregadas e envolvidas por

exopolímeros na superfície do material.

A Figura 5.12 mostra as imagens da amostra 2, do geotêxtil que ficou submerso a

2 cm.

Page 88: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

79

(a)

(b)

(c)

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80

(d)

Figura 5.12 – Imagem da amostra 2 (geotêxtil submerso a 2 cm) analisados na

MEV. Aumentos: (a) 30 vezes; (b) 1000 vezes; (c) 5000 vezes; (d) 10000 vezes.

A amostra 2 apresentou formação de mesma característica que a visualizada na

amostra 1 para os diferentes aumentos, porém é possível notar que os vazios entre os

filamentos do geotêxtil não foram completamente preenchidos e não tão aderidos aos

filamentos como na amostra 1.

Na Figura 5.13 observa-se um não homogeneidade de formação de ocre na

amostra 2. Esta configuração foi também observada nas demais amostras.

Figura 5.13 – Amostra 2 com aumento de 30 vezes.

Page 90: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

81

A Figura 5.14 ilustra a amostra 3, o geotêxtil que ficou submerso a 4,5 cm, sob

diferentes aumentos.

(a)

(b)

Page 91: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

82

(c)

(d)

Figura 5.14 – Imagem da amostra 3 (geotêxtil submerso a 4,5 cm) analisados na

MEV. Aumentos: (a) 30 vezes; (b) 1000 vezes; (c) 5000 vezes; (d) 10000 vezes.

Assim como o caso da amostra 2, a amostra 3 indicou uma formação de biofilme

menos intensa e menos aderida que na amostra 1, provavelmente devido a menor

disponibilidade de oxigênio.

Entretanto, a análise das imagens indica que o biofilme de ocre está mais

fortemente aderido e mais espesso nas amostras de geotêxteis quanto mais próximo o

elemento de filtração se encontra do nível d’água, ou seja, da região aerada.

Page 92: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

83

5.4.3 ANÁLISE DAS AMOSTRAS UTILIZANDO A ESPECTROSCOPIA

DE ENERGIA DISPERSIVA (EDS)

Para constatar que o material formado nas superfícies dos geotêxteis é realmente

biofilme, alguns elementos essenciais devem estar presentes em quantidades

relativamente altas no material, como carbono, oxigênio, e para o estudo em questão, o

ferro.

Com a preocupação da análise por EDS detectar níveis de carbono provenientes

do próprio geotêxtil, procurou-se analisar regiões nas amostras onde foi evidenciada a

presença de biofilme e regiões onde isto não ocorreu. Os resultados da EDS são

dispostos em um espectro, como mostram as figuras a seguir. Para a amostra 1, foram

selecionados três pontos diferentes em que ocorreu formação de biofilme e em seguida,

um ponto onde sua formação não foi visualizada pela MEV (Figuras 5.15 a 5.18).

Figura 5.15 – Amostra 1, ponto 1.

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84

Figura 5.16 – Amostra 1, ponto 2.

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Figura 5.17 – Amostra 1, ponto 3.

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86

Figura 5.18 – Amostra 1, ponto onde não foi visualizada a formação de biofilme.

As Figuras 5.15, 5.16 e 5.17 mostram que os três pontos selecionados que

representam a amostra 1 possuem as composições químicas com concentrações

similares de carbono (C), oxigênio (O), ferro (Fe) e sílica (SiO2) principalmente. Além

dos elementos citados, a análise mostrou níveis de sódio (Na), cloro (Cl), magnésio

(Mg), potássio (K) e cálcio (Ca) entre outros, presentes no meio de cultura utilizado no

ensaio.

A Figura 5.18, representando uma região onde não foi visível a formação de

biofilme pelo MEV, apresentou baixos níveis de carbono (C), oxigênio (O), ferro (Fe) e

cálcio (Ca) em relação aos três primeiros pontos (Figuras 5.15 a 5.17). Nota-se também

que, diferente dos dois primeiros pontos, alguns elementos não foram detectados como

o sódio (Na), Cl (cloro) e magnésio (Mg) entre outros. Porém, o nível de silício

permaneceu praticamente inalterado em relação aos três primeiros pontos.

Page 96: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

87

Para a amostra 2, do geotêxtil que ficou submerso a 2 cm, foram escolhidas duas

regiões distintas e selecionados os pontos indicados nas Figuras 5.19 e 5.20.

Figura 5.19 – Amostra 2, ponto selecionado onde foi visualizada a presença de

biofilme.

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88

Figura 5.20 – Segunda região selecionada da amostra 2 onde foi visualizada a

presença de biofilme.

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89

Figura 5.21 – Região da amostra 2 onde não foi verificada visualmente a presença

de biofilme.

As Figuras 5.19 e 5.20 referentes a amostra 2 apresentaram níveis semelhantes

dos mesmos elementos identificados na maioria dos pontos da amostra 1, a exceção do

sódio (Na), que nem foi detectado na Figura 5.19. Novamente, aponta-se a presença

relativamente alta de silício. A Figura 5.21 ilustra uma região onde não ficou evidente a

formação de biofilme, novamente visando mostrar a diferença do geotêxtil com biofilme

e sem biofilme.

As Figuras 5.22 a 5.24 apresentam as análises da amostra 3.

Page 99: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

90

Figura 5.22 – Primeiro ponto selecionado na amostra 3.

Page 100: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

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Figura 5.23 – Segundo ponto selecionado da amostra 3.

Page 101: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

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Figura 5.24 – Ponto selecionado na amostra 3 onde não foi visualizada presença

de biofilme.

Assim como as amostras 1 e 2 analisadas, a amostra 3 apresentou características

semelhantes quanto aos níveis de carbono (C), oxigênio (O), ferro (Fe), silício e outros

elementos componentes do meio de cultura utilizado no ensaio. Apenas o sódio (Na)

não foi detectado em todos os pontos. O ponto onde não se observou a formação de

biofilme apresentou elementos parecidos que o ponto nestas condições na amostra 2.

No ponto da amostra 1 (Figura 5.18), onde visualmente só havia o geotêxtil sem

biofilme, baixos níveis de oxigênio (O), fósforo (P), cálcio (Ca) e ferro (Fe) foram

detectados pelo EDS. Como a amostra 1 encontrava-se totalmente exposta a atmosfera,

e com fluxo de percolação ascendente, provavelmente os nutrientes foram bombeados e

depositaram-se na superfície do geotêxtil, ao contrário dos outros dois permeâmetros

que ficaram submersos. Isto sugere o motivo da identificação de nutrientes ter ocorrido

somente em um ponto e não nos outros representados pelas Figuras 5.21 e 5.24, onde

também não se verificou a formação do biofilme.

Page 102: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

93

Uma vez que o biofilme é considerado uma estrutura bastante adsorvente e

porosa, sugere-se que o oxigênio (O) detectado no EDS tenha sido transferido por meio

dos canais existentes na estrutura. Os resultados indicaram que apesar de estarem em

condições submersas, houve a colonização de ferrobactérias nos geotêxteis sob esta

condição, o que mostra que a concentração de oxigênio disponível no meio foi

suficiente para promover a formação de biofilme de ocre para as três situações

estudadas.

As análises efetuadas evidenciaram que os geotêxteis apresentaram em sua

superfície a formação de ocre (material de cor alaranjado e lodoso), dias após o contato

com as ferrobactérias que foram inseridas no sistema. A formação de biofilmes ocorreu

tanto na interface ar-água (lâmina d’água zero) no sistema drenante ou quando este

encontra-se submerso.

Page 103: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

94

6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

As seguintes conclusões são sumariadas nesta pesquisa:

Os resultados e as análises permitiram observar a formação de biofilme de ocre

nos geotêxteis sob diferentes lâminas d’água (0cm; 2cm; 4,5cm). O material visualizado

nos geotêxteis em contato com a atmosfera tinha características físicas mais parecidas

com o ocre descrito na literatura. Já nos geotêxteis submersos encontravam-se menos

intensos, mais frágeis e, portanto, de fácil remoção.

O geotêxtil que ficou totalmente exposto à atmosfera não apresentou formações

de biofilme tão visíveis a olho nu, sendo essencial a análise pela microscopia eletrônica

de varredura para tal.

As avaliações das superfícies dos geotêxteis efetuadas por microscopia eletrônica

de varredura indicaram que os espaços entre filamentos dos geotêxteis submersos não

foram completamente obstruídos, o material formado encontrava-se, de maneira geral,

depositado na superfície dos filamentos. Porém para o geotêxtil que ficou exposto a

atmosfera e sob aeração total, as imagens da microscopia eletrônica de varredura

mostraram a obstrução completa dos espaços vazios entre os filamentos do geotêxtil.

Foram observadas pela MEV a colonização de bactérias na superfície do geotêxtil

contribuindo para evidenciar a formação de biofilme.

A análise pela Espectroscopia de Energia Dispersiva permitiu comprovar que o

material formado nos geotêxteis ao longo do ensaio de percolação possui composição

química típica de biofilme de ocre. Foram detectados níveis de carbono (C), oxigênio

(O), ferro (Fe)compatíveis com esse tipo de biofilme, indicando que houve deposição,

aderência e troca de nutrientes com o meio por parte dos microrganismos presentes.

São apresentadas as seguintes sugestões para futuras pesquisas:

Realização de ensaios de percolação por maior período de duração, visando

analisar se há mudança nas características físicas do biofilme com controle da

constituição do fluido percolante de forma a permitir a análise dos estágios e

formação do biofilme;

Utilização de outros tipos de geotêxteis objetivando a comparação de formação

de biofilme de ocre entre estes;

Page 104: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

95

Novos ensaios utilizando maiores vazões de percolação para identificar a

influência da quantidade de nutrientes disponíveis no processo de formação do

ocre.

Page 105: AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIFUSÃO DE OXIGÊNIO NA …

96

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99

APÊNDICE 1

Taxa de transferência por difusão considerando um estado estacionário e fonte

infinita

= velocidade advectiva

coeficiente de difusão

z (cm) (Cest - C1)/(C0-C1) (%)

k= 10^(-5) cm/s k=10^(-6) cm/s

0 100 100

2,5 8 78

5 0,7 61

7,5 0,06 47

10 0,005 37

15 3x10^(-5) 22

Condição transiente

Parcela de avanço (%) t

(horas)

0,1 0,2

0,2 0,9

0,4 3,5

0,8 1,4

1 ∞