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AVALIAÇÃO DO TRATAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
URBANOS PELA INCINERAÇÃO, ATRAVÉS DO MÉTODO DE ANÁLISE
Área temática: Pesquisa Operacional
Renato Ferreira
Carla Rodrigues
Sergio Fiuza
Dalessandro Vianna
Resumo: O presente trabalho apresenta à aplicação do Método de Análise Hierárquica (AHP) na escolha da melhor
alternativa possível no que se refere aos sistemas de tratamento de resíduos sólidos existentes atualmente no mercado,
e sua real utilização no cenário existente na cidade de Niterói – R.J. Desta forma, fatores relacionados ao ambiente
físico disponível, à política, à logística e ao cumprimento da legislação pertinente ao referido assunto tornam ainda
mais complexas as tomadas de decisões. O presente trabalho concentra-se, principalmente, na forma da especificação
dos critérios usados para selecionar a melhor alternativa que atenda a demanda e a necessidade existente na região de
Niterói, tornando conhecidos as principais peculiaridades da região e sobretudo tomando como auxílio o conhecimento
do corpo de engenharia da Companhia de Limpeza da cidade CLIN. Para este processo, fora utilizado um questionário
como forma de obtenção de levantamento de dados, que preenchido pelos profissionais da CLIN, envolvidos com a
realidade em questão, serviu como base investigatória para a identificação das qualidades e deficiências das
alternativas sugeridas como sistema de tratamento de resíduos sólidos. Assim, após avaliação e análise da prática da
metodologia AHP clássica, identificou-se então, a melhor escolha. E portanto, identificou-se também a contraposição
existente em face ao cenário atual praticado.
Palavras-chaves:
ISSN 1984-9354
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1. INTRODUÇÃO
A grande evolução demográfica e o crescimento gerado pela sociedade moderna, especialmente
residente nos grandes centros urbanos, estabelecem o surgimento de uma grande massa de resíduos
gerados a partir da necessidade da manutenção de serviços e produtos voltados diretamente para a
estruturação de uma população cada vez mais heterogênea e com maior poder aquisitivo per
capita. A grande variedade de resíduos, sejam eles sólidos, líquidos ou gasosos refletem potenciais
inconvenientes de ordem não somente social, mas de saúde pública e de meio ambiente.
A geração de resíduos sólidos domiciliares no Brasil, segundo Monteiro et al. (2001), pode
atingir valores na ordem de 1,3 Kg/habitante/dia nas grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro.
De acordo com Pereira Neto (2013), estima-se que o Brasil produza atualmente cerca de 115.000
toneladas de lixo por dia. Desse total, aproximadamente 85.000 toneladas são de lixo domiciliar. A
quase totalidade desse lixo (80%) é despejada no solo, e pequena quantidade (30%) vai para os aterros
sanitários e ou aterros com algum grau de controle (cobertura da massa de lixo com terra). O restante
(aproximadamente 70%) vai para os despejos a céu aberto (terrenos baldios, fundos de vales, valas,
depressões naturais do terreno, voçorocas, encostas, etc.), denominados lixões. Nesses lixões, famílias
inteiras sobrevivem da catação do material reciclável (plástico, papel, papelão e metais). Com exceção
de alguns poucos locais, não somente é depositado o lixo urbano, mas também há o despejo de lixo
industrial tóxico, hospitalar e qualquer outro dejeto que a região venha a produzir. Contudo, como o
teor de aproximadamente 65% do lixo é orgânico, ocorre que em condições anaeróbicas (ao ar livre)
há liberação de gases tóxicos (que carreiam dioxinas e furanos) e um líquido altamente poluente,
denominado “chorume”, que é em média dez vezes mais poluente do que o esgoto domiciliar.
Assim, o lixo urbano possui grande reflexo no desenvolvimento de nosso país,
contribuindo diretamente para a mortalidade infantil, pois está relacionado há mais de 25 tipos de
doenças diferentes, transmitidas por insetos, roedores e outros pequenos mamíferos que venham a se
alimentar do lixo. Todavia, é essencial que se aponte que a concretização das cooperativas de
catadores de lixo não deve ser encarada como um processo empresarial lucrativo, mas como uma
poderosa ferramenta aliada na disseminação da cultura da reciclagem e triagem espontânea do lixo
urbano doméstico. Segundo Pereira Neto (2013), o que faz com que o Brasil configure em primeiro
lugar do mundo na reciclagem de latas de alumínio (96,2%); garrafas PET (47%); vidro (45%);
embalagem longa vida (23%); papel e papelão (77,4%) e plástico (20%). Então, a partir da reciclagem,
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alguns fatores diretos podem ser citados: valorização dos materiais; minimização dos resíduos nos
aterros; controle da poluição; melhoria na saúde pública; eliminação dos lixões; geração de empregos;
mobilização e participação comunitária; atividades de educação ambiental e melhoria na qualidade de
vida da população.
A partir então, da problematização oriunda da criação e manejo do Resíduo Sólido Urbano
(RSU), esta pesquisa tem como foco a mensuração e avaliação de três dos principais métodos de
tratamento destinados a estes resíduos (Compostagem, Incineração e Pirólise), à luz de cinco critérios
base, pré-estabelecidos e organizados conforme a atuação necessária a área de estudo direcionada: a
cidade de Niterói, localizada no estado do Rio de Janeiro, com população estimada em 495.470
habitantes, área territorial de 133.916 km², e uma produção diária de 700t de resíduos sólidos, sendo
estes: 55,12% resíduos domiciliar; 13,69% resíduos de construção civil; 8,56% resíduos comerciais;
21,43% resíduos públicos; 0,06% resíduos de serviços de saúde e 1,14% resíduos de coleta seletiva,
conforme informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Plano Municipal
de Resíduos Sólidos de Niterói, 2012.
Para o reconhecimento e alcance da melhor alternativa a ser abordada, será utilizado o
Método de Análise Hierárquica (Analytic Hierarchy Process - AHP), proposto por Saaty em 1980.
Assim, a configuração deste artigo inicia-se por sua parte introdutória, transcorrendo para a
apresentação do método AHP; descrição dos métodos de tratamento de resíduos sólidos, aqui
chamados de sistemas: (Compostagem, Incineração e Pirólise); exposição dos critérios atribuídos
(Custo de Implementação, Viabilidade, Eficiência, Manutenção e Volume de Tratamento), aplicação
do método AHP para o problema sugerido e por último as considerações finais acerca do
desenvolvimento do trabalho e ou proposição de sugestões de melhoria
O MÉTODO AHP
O Analytic Hierarchy Process (AHP) foi desenvolvido por Thomas L. Saaty em meados da
década de 1970 no intuito de promover a superação das limitações cognitivas dos tomadores de
decisão, de acordo com Abreu et al. (2000). Segundo Barbarosoglu e Pinhas (1995), ele é aplicado
para sistematizar a uma ampla gama de problemas de decisão nos contextos: econômico, político,
social e ambiental, devido a sua simplicidade, sólida base matemática e capacidade de avaliar fatores
qualitativos e quantitativos, sejam eles, tangíveis ou intangíveis. Consequentemente, é um dos métodos
mais conhecidos e utilizados mundialmente (JANSEN; SHIMIZU; JANSEN, 2004). Conforme Toma
e Asharif (2003), o AHP baseia-se na capacidade humana de usar a informação e a experiência para
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estimar magnitudes relativas através de comparações par a par. Trata-se de uma abordagem flexível
que utiliza a lógica aliada à intuição, com a finalidade de obter julgamentos através de consenso
(SCHMIDT, 1995). Seu uso é indicado para problemas que envolvem a priorização de soluções
potenciais através da avaliação de um conjunto de critérios (ASAHI; TURO; SHNEIDERMAN, 1994;
FINNIE; WITTIG, 1999; KIM, 1999).
A aplicação do método AHP pode ser dividida em duas fases: estruturação e avaliação
(VARGAS, 1990 APUD ABREU et al., 2001). A primeira envolve a decomposição do problema em
uma estrutura hierárquica que mostra as relações entre as metas, os critérios que exprimem os
objetivos e sub-objetivos, e as alternativas que envolvem a decisão. Relaciona-se, portanto, à
apresentação, descrição e justificativa do problema e pontos de vista e, consequentemente, à busca do
consenso (SCHMIDT, 1995). A segunda fase – avaliação – é caracterizada pela definição do tipo de
problema a ser adotado, determinando assim se as ações serão: a) analisadas em termos relativos ou
absolutos; b) ordenadas ou escolhidas, c) aceitas ou rejeitadas (BANA; COSTA, 2001 APUD
SCHMIDT, 1995). Essencialmente, o AHP procura decompor um problema em uma estrutura
hierárquica descendente que se assemelha a uma árvore genealógica, conforme demonstrado a seguir,
na Figura1. As hierarquias geralmente são utilizadas em situações que envolvem incerteza, a exemplo
dos problemas ambientais, e devem ser construídas de tal forma que: a) incluam todos os elementos
importantes para a avaliação, permitindo que, se necessário, eles possam ser modificados ao longo do
processo; b) considerem o ambiente que cerca o problema; c) identifiquem as questões ou atributos
que contribuam para a solução; d) identifiquem os participantes envolvidos com o problema.
Figura 1: Estrutura hierárquica de decomposição de um problema segundo o método AHP
META DE DECISÃO
CRITÉRIO 1 CRITÉRIO 2 CRITÉRIO 3 CRITÉRIO 4 CRITÉRIO 4 ALTERNATIVA 1 ALTERNATIVA 2 ALTERNATIVA 3
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Fonte: Adaptado de Gomes e Moreira (1998).
Os principais inputs para a construção de uma hierarquia são as respostas obtidas para uma
série de perguntas que, normalmente, possuem a forma geral: “Qual é a importância do critério 1 em
relação ao critério 2?” (DODGSON et al., 2001). Esse procedimento, conhecido por comparação par a
par (pairwise comparison), é utilizado para estimar a escala fundamental unidimensional em que os
elementos de cada nível são medidos (SCHMIDT, 1995). O método, portanto, baseia-se na
comparação entre pares de critérios e sub-critérios, se existirem, e na construção de uma série de
matrizes quadradas, onde o número na linha i e na coluna j dá a importância do critério Ci em relação à
Cj, (KATAYAMA; KOSHIISHI; NARIHISA, 2005).
Nessas matrizes, aij indica o julgamento quantificado do par de critérios (Ci, Cj) e α o valor
da intensidade de importância. As seguintes condições devem ser atendidas (ABREU et al., 2000;
PAMPLONA, 1999):
* se aij = α, então aji = 1/α, α ≠ 0;
* se Ci é julgado como de igual importância relativa a Cj, então aij = 1, aji = 1 e aii = 1, para
todo i.
As comparações par a par, expressas em termos linguísticos/verbais, são convertidas em
valores numéricos usando a Escala Fundamental de Saaty para julgamentos comparativos, onde a
quantificação dos julgamentos é feita utilizando-se uma escala de valores que varia de 1 a 9, como
exibe o Quadro 1. Desta forma, é medido o grau de importância do elemento de um determinado nível
sobre elementos de um nível inferior.
As duas atividades contribuem igualmente para
o objetivo
A experiência e o julgamento favorecem
levemente uma atividade em relação à outra
A experiência e o julgamento favorecem
fortemente uma atividade em relação à outra
Uma atividade é muito fortemente favorecida
em relação à outra
A evidência favorece uma atividade em relação
à outra com o mais alto grau de certeza
Quando se procura uma condição de
compromisso entre as duas definições
1
3
5
7
9
2,4,6,8
Igual importância
Importância pequena de uma para a outra
Importância pequena de uma para a outra
Importância grande ou essencial
Importância muito grande
Importância absoluta
Valores intermediários
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Quadro1: Escala Fundamental de Saaty para comparação para a par
Fonte: Saaty (1980).
Em seguida, as matrizes são submetidas a uma técnica matemática denominada autovetor,
que calcula os pesos locais e globais para cada critério/indicador nos diversos níveis hierárquicos e em
relação às alternativas em análise (LISBOA; WAISMAN, 2003). Segundo Pamplona (1999), o
autovetor da matriz pode ser estimado pela expressão:
iji aW
De acordo com Laininen e Hämäläinen (1999), os resultados obtidos com a utilização desta
fórmula devem ser normalizados. O processo consiste no cálculo da proporção de cada elemento em
relação à soma, como pode se observar na expressão a seguir, onde T é o autovetor normalizado.
i
n
ii w
w
w
w
w
wT ,...,, 21
Isto resulta no autovetor de prioridades para ordenação (SAATY, 1991 APUD ABREU et
al., 2000). Esta operação deve ser repetida até que a diferença entre o resultado normalizado da última
operação seja bem próxima do resultado da operação precedente o que ocorre, por exemplo, com
diferenças pequenas após a terceira casa decimal (ABREU et al., 2000). O autovetor, por conseguinte,
fornece a hierarquia ou ordem de prioridade das características estudadas. A qualidade ou consistência
da solução obtida, entretanto, deve ser testada através do cálculo do autovalor. Esta medida indica se
os dados estão logicamente relacionados (PAMPLONA, 1999). Saaty (1977 APUD PAMPLONA,
1999) propõe o seguinte procedimento:
I) Estima-se inicialmente o autovalor (λmáx), através da expressão (λmáx = T . w), onde w é calculado
pela soma das colunas da matriz de comparações;
II) Calcula-se o Índice de consistência (IC), através da expressão: IC= (λmáx -n)/ n-1, onde n
representa a ordem da matriz;
III) A razão de consistência (RC) é calculada através da equação IC/CA, onde CA é um índice de
consistência aleatória, apresentado no Quadro 2, proveniente de uma amostra de 500 matrizes
recíprocas positivas, de tamanho até 11 por 11, geradas aleatoriamente. Considera-se aceitável uma
razão de consistência menor que 0,10. Para valores de RC maiores que 0,10 sugere-se uma revisão na
matriz de comparações.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
0,0
0
0,0
0
0,5
8
0,9
0
1,1
2
1,2
4
1,3
2
1,4
1
1,4
5
1,4
9
1,5
1
1,4
8
1,5
6
1,5
7
1,5
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Quadro2: Valores de CA em função da ordem da matriz Fonte:
Pamplona (1999).
Para a determinação do nível de preferência das alternativas, estas devem ser comparadas
par a par em cada um dos critérios, de modo análogo ao descrito para a obtenção da importância
relativa dos critérios. Com estas importâncias relativas e os níveis de preferência das alternativas,
efetua-se, em seguida, a valoração global de cada uma das alternativas, de acordo com o método da
soma ponderada, expresso pela equação que se segue:
),...,1(101),()(11
njpepcomavpaV j
n
j
jj
n
j
j
Onde V(a) corresponde ao valor global da alternativa analisada; pj à importância relativa
do critério j e vj ao nível de preferência da alternativa analisada no critério j (ABREU et al., 2000).
Com a execução de todos os procedimentos descritos, obtêm-se subsídios consistentes para a tomada
de decisão sobre um problema complexo.
MÉTODOS DE TRATAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
A literatura especializada cita como métodos de tratamento de resíduos sólidos a
incineração, a pirólise e a compostagem, já como método de disposição final, o aterro sanitário, de
acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT NBR 8419, versão 1996). Em suma,
esses métodos podem ser a grosso modo compreendidos como: queimar tudo, enterrar tudo ou
reaproveitar parte dos resíduos (compostagem).
Nos dias atuais, diante da obrigatoriedade de preservação dos recursos naturais, da
necessidade de economizar energia, e principalmente, da brusca mudança ocorrida na composição do
lixo (que contém componentes tóxicos perigosos), queimar o lixo e enterrar material que pode ser
reaproveitado torna-se um contrassenso ambiental, uma incoerência econômica e um grande perigo à
saúde pública. Não obstante ao problema gerado pelo RSU, o seu tratamento decorre de três principais
métodos:
Compostagem (Sistema 1) – É um dos processos biológicos de tratamento mais antigos que o homem
conhece. Trata-se da transformação de matéria orgânica em húmus (adubo orgânico) para posterior
utilização agrícola. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), a
compostagem é uma tecnologia que visa a aumentar a eficiência desses processos, proporcionando
condições ideais para a transformação de resíduos e subprodutos em fertilizantes orgânicos
humificados, ricos em nutrientes e isentos de contaminação química e biológica. Apesar de sua
importância, a compostagem é pouco conhecida no Brasil, pois as tecnologias utilizadas foram
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desenvolvidas em outros países. É a maneira mais eficiente de se obter a biodegradação controlada dos
resíduos. Os resíduos devem ser bem misturados, formando o que se chama de massa de
compostagem, que é disposta em montes de forma cônica (pilhas de compostagem), ou de forma
prismática (leiras de compostagem) em pátios, onde o material é submetido a tratamento e
humificação. Essa massa permanece nesse processo por aproximadamente 110 dias. Durante este
período, observam-se duas fases principais:
Degradação ativa: aproximadamente 70 dias, e a temperatura fica na faixa de 50 a 65º C,
caindo para menos de 40º C no final da fase;
Maturação: período em que o material sofre o processo de humificação entre 30 e 50 dias.
Matéria orgânica e resíduo orgânico são denominações dadas a todo composto de carbono
suscetível de degradação; degradação ou biodegradação de resíduos diz respeito à decomposição
desses resíduos por microrganismos (decomposição biológica).
Incineração (Sistema 2) – É um processo de queima de lixo em unidades especialmente projetadas
para este fim, denominadas incineradores. O objetivo é efetuar a queima total, controlada, do lixo em
temperatura que pode variar de 800 a 1200º C, transformando-o em material inerte, diminuindo então,
seu peso e volume. É um método de uso muito restrito, para lixos especiais como o hospitalar, não é
mais aconselhável como processo de tratamento do lixo urbano. O lixo urbano contém alguns objetos
que, embora aparentemente inertes (plástico, resinas, pilhas, dentre outros), quando queimados ou
atacados por ácidos, liberam subprodutos tóxicos de alta periculosidade para a saúde dos seres vivos.
Por isso, incineradores modernos são dotados de equipamentos altamente sofisticados de controle de
poluição do ar e dos líquidos, o que resulta em elevados custos de implementação e manutenção.
Ainda, ao final do processo de incineração é gerado uma cinza altamente tóxica, que deve ser
encapsulada antes de sua destinação final.
Pirólise (Sistema 3) – É um processo de decomposição física e química da matéria orgânica em alta
temperatura (700 a 1.100º C), em ausência total de oxigênio, ou seja, é a queima de resíduos. Dentro
de sua concepção teórica, este método não somente objetiva a redução do volume do lixo orgânico,
mas também o coloca como uma forma utilizável de energia. Assim, de acordo com as características
opcionais de cada sistema pirolítico, podem ser extraídos óleo e carvão ou gás e carvão. Contudo, o
tratamento dos resíduos através da pirólise envolve tecnologia sofisticada e elevados custos
associados.
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APLICAÇÃO DO MÉTODO AHP
Perante a necessidade do proposto ao qual se envolve este estudo, o método AHP será
utilizado para que, a partir da experiência do corpo de engenheiros da Companhia de Limpeza de
Niterói (CLIN), se possa alcançar o melhor sistema/alternativa dentre as três expostas, para o
tratamento de resíduos sólidos. Contudo, é necessário que se aponte que, para a inclusão e viabilização
de criação de quaisquer sistemas envolvidos com o tratamento de resíduos sólidos, muitos outros
critérios deverão ser levados em consideração. O que indiscutivelmente se faz relevante, então, é
mencionar que os dados aqui transformados para matrizes quadráticas foram extraídos de um
questionário preenchido por profissionais envolvidos com o serviço de coleta e destinação de resíduos,
e tal resultado não deve ser encarado separadamente da realidade da cidade de Niterói. Assim, é
preciso que sejam observados fatores governamentais, políticos e estruturais, principalmente
socioeconômicos, para que o resultado mencionado pelo método AHP possa ser somado a experiência
dos profissionais relatores e à realidade da cidade.
A aplicação do método AHP se fará através de 3 sistemas distintos, descritos anteriormente
em Métodos de Tratamento de Resíduos Sólidos, vinculados aos 5 critérios abaixo, organizados
estruturalmente na Figura 2, apresentada logo após os critérios:
Custo de Implementação: Descreve o critério ao qual se baseia o valor do reembolso real
que será utilizado para implementar o sistema escolhido. Assim, este critério deve considerar a
compra de equipamentos necessários, despesas com consultoria e todos os custos intrínsecos a
pré-implantação do sistema;
Viabilidade: É neste critério que será mensurado a possibilidade real da necessidade de
escolha do sistema. Assim, fatores ligados a quantidade de produção de resíduos, tipo de
resíduos produzidos, densidade demográfica e crescimento população deverão ser levados em
consideração;
Eficiência: O fator eficiência condiciona a escolha do sistema a ser capaz de suprir a
necessidade de resíduos produzidos. Assim, este critério, estará intimamente ligado a
viabilidade e ao custo da tecnologia versus eficiência pretendida;
Manutenção: Este critério posiciona os custos que serão dispostos para a funcionalidade do
sistema escolhido de forma segura e responsável. Deverá ser considerado como fator regular de
custos, o que implica diretamente à viabilidade e eficiência do sistema;
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Volume: Critério técnico ligado a quantidade possível de processamento do sistema, ou
seja, a capacidade em processar certa quantidade de resíduos pode influenciar na viabilidade do
sistema, em sua eficiência e até mesmo em seu custo de implementação.
Figura 2: Organização do método quanto a perspectiva de resolução do problema
Fonte: Adaptado de Saaty (1980).
Após a coleta dos dados provenientes dos questionários, as informações foram organizadas
conforme matrizes de comparações paritárias entre os critérios de avaliação, e posteriormente entre os
critérios de avaliação e os sistemas envolvidos no método, gerando as Tabelas comparativas de 1 a 6 a
seguir, e por fim a Tabela 7, de análise de consistência dos julgamentos informados pelos avaliadores
participantes.
Critérios C1 C2 C3 C4 C5 Prioridade
Custo 1 0,143 0,500 0,143 0,200 0,045155
Viabilidade 7 1 0,111 0,200 0,111 0,092993613
Eficiência 2 9 1 0,143 0,125 0,124468475
Manutenção 7 5 7 1 0,200 0,244623261
Volume 5 9 8 5 1 0,492759651
Tabela 1: Comparação paritária entre os critérios de avaliação.
Custo (C1) Sistema 1 Sistema 2 Sistema 3 Prioridade
Sistema 1 1 0,143 0,111 0,05675422
Sistema 2 7 1 0,333 0,29463497
Sistema 3 9 3 1 0,64861081
Tabela 2: Comparação paritária entre o critério Custo de Implementação e as alternativas.
Viabilidade Sistema 1 Sistema 2 Sistema 3 Prioridade
Selecionar o melhor método de
tratamento de resíduos para a cidade de
Niterói
CUSTO DE
IMPLEMENTAÇÃO VIABILIDADE EFICIÊNCIA MANUTENÇÃO VOLUME
SISTEMA 1 SISTEMA 2 SISTEMA 3
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(C2)
Sistema 1 1 1 0,200 0,15777343
Sistema 2 1 1 0,333 0,18669276
Sistema 3 5 3 1 0,65553381
Tabela 3: Comparação paritária entre o critério Viabilidade e as alternativas.
Eficiência
(C3)
Sistema 1 Sistema 2 Sistema 3 Prioridade
Sistema 1 1 0,143 0,333 0,08821488
Sistema 2 7 1 3 0,66874379
Sistema 3 3 0,333 1 0,24304134
Tabela 4: Comparação paritária entre o critério Eficiência e as alternativas.
Manutenção
(C4)
Sistema 1 Sistema 2 Sistema 3 Prioridade
Sistema 1 1 0,143 0,200 0,07380124
Sistema 2 7 1 3 0,64336702
Sistema 3 5 0,333 1 0,28283174
Tabela 5: Comparação paritária entre o critério Manutenção e as alternativas.
Volume (C5) Sistema 1 Sistema 2 Sistema 3 Prioridade
Sistema 1 1 0,111 0,143 0,057747864
Sistema 2 9 1 2 0,595488352
Sistema 3 7 0,500 1 0,346763784
Tabela 6: Comparação paritária entre o critério Volume e as alternativas.
Critério julgado λ Max IC = (λ Max-n)/n-1 IAM RC = IC/IAM
Custo 3,080 0,040 0,58 0,0689655
Viabilidade 3,029 0,015 0,58 0,025862
Eficiência 3,007 0,004 0,58 0,0068965
Manutenção 3,065 0,032 0,58 0,0551724
Volume 3,022 0,011 0,58 0,0189655
Tabela 7: Análise de Consistência dos julgamentos informados pelos avaliadores participantes.
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A observação acerca dos resultados obtidos para RC, cujos valores não ultrapassaram 0,10,
indica que o teor do julgamento advindo destes resultados apresentam a consistência necessária para
que seja válido este estudo, e assim, tornar plausível a identificação de uma escolha de forma coerente.
Contudo, a seguir serão demonstrados os resultados dos cálculos globais de cada sistema, para que se
possa visualizar de forma distinta os valores alcançados e a escolha proposta. Segundo Freitas et al.
(2006), neste momento realiza-se uma síntese dos dados obtidos e elabora-se um ranking entre as
supostas possibilidades trabalhadas.
Prioriade Global (Sistema 1 - Compostagem):
(0,045155.0,05675422)+( 0,092993613.0,15777343 )+( 0,124468475.0,08821488)+
(0,244623261.0,07380124)+( 0,492759651.0,057747864) = (0,074723947)
Prioriade Global (Sistema 2 - Incineração): (0,045155.0,29463497)+(0,092993613.0,18669276 )+(
0,124468475.0,66874379)+ (0,244623261.0,64336702)+( 0,492759651.0,595488352 ) =
(0,564718167)
Prioriade Global (Sistema 3 - Pirólise):
(0,045155.0,64861081 )+( 0,092993613.0,65553381)+( 0,124468475.0,24304134)+
(0,244623261.0,28283174)+( 0,492759651.0,346763784) = (0,360557887)
CONSIDERAÇÕES ACERCA DO RESULTADO
De acordo com o estudo realizado e após análise utilizando a metodologia AHP, o sistema
determinado foi o de número 2, ou seja, Incineração. Contudo, deixar de levar em consideração que
este resultado reflete em seu propósito a cidade de Niteroi/RJ, então, por qual motivo o tratamento de
resíduos sólidos urbanos a partir da incineração, embora tenha características que melhor atenderiam a
região, não é implementado? Antes, é preciso que se compreenda que a Compostagem não figura entre
os possíveis métodos de tratamento de RSU capazes de atender às necessidades da região. Ora por
despender elevado espaço físico para aplicação, ora por despender elevado tempo para sua conclusão.
Lembrando, que este sistema é o mais correto a nível ecológico e ambiental.
Então, diante da observação das matrizes apresentadas, critérios como custo e viabilidade
são critérios de essencial importância para a implementação do tratamento de RSU a partir do método
de Pirólise. Pois, este método inviabiliza o seu uso em países em desenvolvimento.
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Então, por outro lado, a metodologia de tratamento por incineração demonstra que critérios
como eficiência, manutenção e capacidade de volume são fatores chave para a aplicação deste
método. Porém, a grande eficiência do método e sua capacidade de redução de maneira rápida do
RSU, esbarram no perigo iminente de lançamento de partículas tóxicas (ex. furanos e dioxinas) no ar,
o que pode ocasionar:
Alteração do sistema imunológico (facilidade para ter infecções);
Dores de cabeça, tremores, irritabilidade, alteração de memória;
Alteração no desenvolvimento dos fetos, geração de abortos;
Geração de diabetes, aumento de colesterol, esterilização, atrofia testicular;
Surgimento de câncer no fígado, no timo, na medula óssea, na tireoide, na mama e linfático
Desta forma, por sua complexidade, falta de segurança absoluta e custos elevados a
exemplo da pirólise, o método de tratamento do RSU a partir da incineração está indiscutivelmente
descartado para aplicação na região, o que se explica no real motivo deste método não ser utilizado, ou
viabilizado para projetos futuros. Assim, a escolha apontada para o sistema 2 referiu-se
particularmente às suas qualidades positivas e propriedades de larga escala em espaços físicos
reduzidos, o que implica diretamente na grande produção de RSU gerados pelas grandes cidades e ao
desenvolvimento de métodos de tratamento capazes de absorver as qualidades de eficiência da
Incineração e Pirólise, com os custos e o respeito ambiental proposto pela Compostagem.
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