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AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE ENXERTIA PARA A GRA VIOLEIRA EM VIÇOSA-MG ANA DA SILVA LEDO 1 e JOS~ MAURrCIO FORTES2 Termospara Indaxaç40: fnldcultunJ tropical, Annona muricata L, propagll\=áo vegetativa, mdtodos de enxertia. RESUMO- Visando oblat'lnfonnllljl6es sobre 1Iknicas de enxenia em gravioleira (Annona muricata U, foram Mllad~ neste trabalho. nove m6todos de enxertia: garfagem 1\ inglesa simples com e sem parafina; garfagem li ing_ com entalhe com e 118II1 parafina; garfagem no topo em fenda cheia com e sem parafina; borbulhia em placa;borbulhia em janela aberta e borbulhia em T invertido. Os mêlodos de garfagem 1\ inglesa simples e de garfagemno topo em fenda cheia, ambos com e sem garfos parafinados, apresentaram maiores Indicas no P8": gamentoe brotamento do enxerto. Apesar de nAo diferirem entre si, os métodos com uso de garfos parafinados podemser recomendados por proporcionarem menor c:usto na produção de mudas enxertadas de gravioleirL EVALUATION OF GRAFTING METHODS FOR SOURSOP IN ViÇOSA - MG Indextenns: tropical fruticulture, Annona muricata L, vegetative propagative propagation, grafting methods. SUMMARV - Nine grafting methods - whip grafting, complic:ated whip grafting, top cleft grafting, ali of these wIthand without paraflin; green strip budding, patch budding and inverted T budding-were compared of soursop (Annonamuricata U. Higher survival pen:entage was obtained with whip and top cleft grafting methods with and wIthoutparaflin. INTRODUÇÃO A gravioleira (Annona muricata L.), pertencente à família Annonaceae e origi- nária da América Central (LEAL, 1970), vem sendo cultivada nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. A fruta é de grande importância no Ceará e Pernambuco, onde é muito utilizada na indústria de sucos e sorvetes. De acordo com ESPINOZA (1972), os principais problemas para o aproveitamen- to da graviola na indústria de processa- mento decorrem das irregularidades na frutificação, na produção e no tamanho dos frutos. Para a preservação de qualidades de- sejáveis de gravioleiras e obtenção de maior uniformidade das plantas na produ- ção e tamanho de frutos, além de outras características, é importante o uso da pro- pagaçãopor meio de enxertia. Para a gravioleira, têm sido recomen- dadasa garfagem e a borbulhia como pro- cessos de enxertia. Os métodos de borbu- Ihia em T-invertido, borbulhia em placa, borbulhia tipo Forkert, garfagem lateral, garfagem à inglesa simples e garfagem no topo em fenda cheia, têm apresentado bons resultados em diversos locais do mundo (BOURKE, 1976). No entanto, vá- rios autores, enxertando graviola em di- versas condições climáticas, obtiveram re- sultados contrastantes (CASAS et alii, 1984; IGLESIAS & SANCHEZ, 1985; PINTO & DONI, 1975; FERRE IRA & CLEMENT, 1988; LEDO, 1991). O trabalho teve como objetivo avaliar di- versos métodos de enxertia para a gravio- leira, nas condições climáticas de Viço- sa-MG. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi conduzido na Universi- dade Federal de Viçosa, em Viçosa-MG, em área que apresenta clima tipo Cwa, segun- do a classificação de Kõppen. A região lEng~ Agr!!, M.Sc., EMBRAPA - Centro de Pesquisa Agroflorestal do Acre, Caixa Postal 392,69900 - Rio Branco, Acre. 2Eng!! Agr!!1I Phü., Professor Titular do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa, 36570 - Viçosa, MG. Rev.bras.Frutic.,Cruz das Almas,v.13,n.1,p.63-66,out.1991.

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AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE ENXERTIA PARA A GRA VIOLEIRA EM VIÇOSA-MG

ANA DA SILVA LEDO 1 e JOS~ MAURrCIO FORTES2

Termospara Indaxaç40: fnldcultunJ tropical, Annona muricata L, propagll\=áo vegetativa, mdtodos de enxertia.

RESUMO- Visando oblat'lnfonnllljl6es sobre 1Iknicas de enxenia em gravioleira (Annona muricata U, foramMllad~ neste trabalho. nove m6todos de enxertia: garfagem 1\ inglesa simples com e sem parafina; garfagem liing_ com entalhe com e 118II1 parafina; garfagem no topo em fenda cheia com e sem parafina; borbulhia emplaca; borbulhia em janela aberta e borbulhia em T invertido. Os mêlodos de garfagem 1\ inglesa simples e degarfagem no topo em fenda cheia, ambos com e sem garfos parafinados, apresentaram maiores Indicas no P8":

gamento e brotamento do enxerto. Apesar de nAo diferirem entre si, os métodos com uso de garfos parafinadospodemser recomendados por proporcionarem menor c:usto na produção de mudas enxertadas de gravioleirL

EVALUATION OF GRAFTING METHODS FOR SOURSOP IN ViÇOSA - MG

Indextenns: tropical fruticulture, Annona muricata L, vegetative propagative propagation, grafting methods.

SUMMARV- Nine grafting methods - whip grafting, complic:ated whip grafting, top cleft grafting, ali of thesewIthand without paraflin; green strip budding, patch budding and inverted T budding-were compared of soursop(Annonamuricata U. Higher survival pen:entage was obtained with whip and top cleft grafting methods with andwIthoutparaflin.

INTRODUÇÃO

A gravioleira (Annona muricata L.),pertencente à família Annonaceae e origi-nária da América Central (LEAL, 1970),vem sendo cultivada nas regiões Norte eNordeste do Brasil. A fruta é de grandeimportância no Ceará e Pernambuco, ondeé muito utilizada na indústria de sucos esorvetes.

De acordo com ESPINOZA (1972), osprincipais problemas para o aproveitamen-to da graviola na indústria de processa-mento decorrem das irregularidades nafrutificação, na produção e no tamanhodos frutos.

Para a preservação de qualidades de-sejáveis de gravioleiras e obtenção demaior uniformidade das plantas na produ-ção e tamanho de frutos, além de outrascaracterísticas, é importante o uso da pro-pagaçãopor meio de enxertia.

Para a gravioleira, têm sido recomen-dadasa garfagem e a borbulhia como pro-

cessos de enxertia. Os métodos de borbu-Ihia em T-invertido, borbulhia em placa,borbulhia tipo Forkert, garfagem lateral,garfagem à inglesa simples e garfagem notopo em fenda cheia, têm apresentadobons resultados em diversos locais domundo (BOURKE, 1976). No entanto, vá-rios autores, enxertando graviola em di-versas condições climáticas, obtiveram re-sultados contrastantes (CASAS et alii,1984; IGLESIAS & SANCHEZ, 1985; PINTO& DONI, 1975; FERRE IRA & CLEMENT,1988; LEDO, 1991).

O trabalho teve como objetivo avaliar di-versos métodos de enxertia para a gravio-leira, nas condições climáticas de Viço-sa-MG.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi conduzido na Universi-dade Federal de Viçosa, em Viçosa-MG, emárea que apresenta clima tipo Cwa, segun-do a classificação de Kõppen. A região

lEng~ Agr!!, M.Sc., EMBRAPA - Centro de Pesquisa Agroflorestal do Acre, Caixa Postal392,69900 - Rio Branco, Acre.

2Eng!! Agr!!1I Phü., Professor Titular do Departamento de Fitotecnia da UniversidadeFederal de Viçosa, 36570 - Viçosa, MG.

Rev.bras.Frutic.,Cruz das Almas,v.13,n.1,p.63-66,out.1991.

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apresenta, de acordo com dados climáticosde 29 anos, 80% de umidade relativa médiaanual, temperatura média anual de 19<.?C,com mínima de 14<.?Ce máxima de 26<.?Ceprecipitação média anual em torno de 1300mm.

O trabalho teve lnlclo em março de1989, com o plantio da semente para aformação do porta-enxerto. As sementesforam obtidas a partir de frutos de gra-violeiras coletados na Estação Experimen-tal da Universidade Federal de Viçosa, emVisconde do Rio Branco-MG. O substratopara o en dilrnento dos recipientes foi for-mulado na seguinte proporção: 1 m3 deterriço, 0,375 m3 de esterco curtido de ga-do, 2 kg de calcario dolomítico, 5 kg de su-perfosfato simples e 1 kg de cloreto de po-tássio. A semeadura foi realizada, direta-mente em recipientes de polietileno preto.Utilizaram-se 1500 sementes, duas por re-cipiente, semeadas a 2cm de profundidade.Os recipientes foram alinhados, conformeo delineamento experimental adotado, co-bertos, até a germinação, com palha e dis-postos em fileiras duplas.

Em julho de 1989, foram realizados aseleção e o desbaste, deixando-se a plantamais vigorosa em cada repiente. As mudasreceberam regas frequentes durante todoo decorrer do experimento.

Em fevereiro de 1990, foi realizada aenxertia, quando os porta-enxertos esta-vam com aproximadamente, 1,2 em dediâmetro a 10 cm do nlvel do solo. Os gar-fos e borbulhas foram obtidos de ramoscom um ano de idade, oriundos de quatroplantas com vigor e idades semelhantes, epreparados no dia de execução da enxer-tia.

O experimento foi conduzido no deli-neamento de blocos ao acaso, com novetratamentos e cinco repetições, utilizando-se dezesseis plantas por parcela.

Os tratamentos constituiram-se emnove métodos de enxertia: garfagem à in-glesa simples; garfagem à inglesa com pa-rafina; garfagem à inglesa com entalhe;garfagem à inglesa com entalhe e parafina;garfagem no topo em fenda cheia; garfa-gem no topo em fenda cheia com parafina;borbulhia em placa; borbulhia em janelaaberta e borbulhia em T-invertido.

Os enxertos foram executados em

condições de tempo nublado e úmido. Osenxertos realizados com garfos parafina-dos não foram cobertos com sacosplasticosenem sombreados. Após 30 dias da enxertia,as fitas plásticas de amarração foram reti-radas das borbulhas, juntamente com ossacos plasticos que cobriram os garfos. Asfitas plásticas de amarração dos garfos s6foram retiradas aos 60 dias ap6sa enxer-tia, para garantir a estabilidade da regene-ração dos tecidos.

Os dados obtidos em percentagem fo-ram transformados em arco-seno VX7iõõ(GOMES, 1981) e submetidos à análise devariância, sendo as médias comparadaspelo teste de Tukey ao nívelde 5% de pro-babilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Pela análise de varlãncla realizadapara a percentagem de pegamento do en-xerto aos 30 dias ap6s a enxertia e percen-tagem de brotamento do enxerto aos 60dias ap6s a enxertia, verificam-se diferen-ças significativas entre os métodos de en-xertia (P L. 0,05).

Por meio da Tabela 1, pode-se avaliaro desempenho dos métodos em estudo, en-tre eles o de garfagem à inglesa simplescom parafina, que apresentou maior per-centagem de pegamento, sendo, porém,superior estatisticamente somente aos mé·todos de borbulhia e de garfagem à ingle·sa com entalhe com e sem parafina;

Os métodos de garfagem à inglesasimples e de garfagem no topo com fendacheia, ambos sem garfos parafinados, ob-tiveram percentagens de pegamento infe-riores aos observados por LEOO (1991),que atingiram, respectivamente, a ordemde 90,97% e 79,86%. No entanto FERREIRAe CLEMENT (1988) verificaram baixo Indi-ce de pegamento (25,6%), usando o méto-do de garfagem no topo em fenda cheia.

As baixas percentagens de pegamen-to verificadas também para os métodos deborbulhia não eram esperadas. ConformeBOURKE (1976), estes deveriam ser tãoeficientes quanto os de garfagem. Por ou-tro lado, FERREIRA e CLEMENT (1988) ob-tiveram excelentes resultados (81,3%) coma borbulhia em placa.

Rev.bras.Frutic.,CruzdasAlmas,v.13,n.1,p.63-66,0ut.1991.

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TABE LA 1 - Médias estimadas da percentagem de pegarnento do enxerto, aos 30 diasapós a enxertia, em função do método de enxertia. Viçosa-MG, 19901

Métodos de Enxertia Percentagem de Pegamento

Garfagem à Inglesa Simples com ParafinaGarfagem à Inglesa SimplesGarfagem no Topo em Fenda Cheia com ParafinaGarfagem no Topo em Fenda CheiaBorbulhia em PlacaGarfagem à Inglesa com Entalhe e ParafinaBorbulhia em Janela AbertaGarfagem à Inglesa com EntalheBorbulhia em T-invertido

61,25a56,25ab50,OOab46,25abc35,40bc26,25cd23,75cd10.00d8.75d

DMS (5%)CV(%)

13.865330.9925

--------------------------------------------------------------------------------1As médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao níveide 5% de probabilidade.

TABELA 2 - Médias estimadas de percentagem de brotarnento do enxerto, aos 60 diasapós a enxertia, em função do método de enxertia. Viçosa-MG, 19901

Métodos de Enxertia Percentagem de Brotamento

Garfagem à Inglesa Simples com ParafinaGarfagem no Topo em Fenda Cheia com ParafinaGarfagem à Inglesa SimplesGarfagem no Topo em Fenda CheiaBorbulhia em PlacaBorbulhia em Janela AbertaGarfagem à Inglesa com Entalhe e ParafinaGarfagem à Inglesa com EntalheBorbulhia em T-invertido

84.16a79.39a77.89ab70.35ab57.44bc46.66c35.70c31.66c31.66c

DMS (5%)CV (%)

13.495119.7956

1As médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nívelde 5% de probabilidade.

Rev.bras.Frutic.,Cruz das Almas,v.13,n.1,p.63-66,out.1991.

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Os resultados de baixa percentagemde pegamento, verficados neste estudo,podem ser explicados pelo fato de não tersido realizado o desfolhamento dos ramos,antes da coleta dos garfos e borbulhas,prática esta que promove intumescimentodas gemas e, por conseguinte, maior acú-mulo de reservas essenciais para o caleja-mento e diferenciação de tecidos:(BOUR-KE,·'976; HARTMANN & KESTER, 1983). Épossível, também, que na época de coletado material vegetativo para enxertia, apósa frutificação, os ramos se encontravamcom baixo nlvel de reservas de fatores decresci mento.

Os métodos de garfagem à inglesasimples e de garfagem no topo com fendacheia, ambas com garfos parafinados,apresentaram maiores percentagens debrotamento sendo, porém, estatisticamenteiguais aos mesmos métodos com variaçãoapenas no uso de garfos não parafinados(Tabela 2). Provavelmente, o uso de para-fina promoveu melhor conservação dosgarfos quanto ao ressecamento e menortaxa de transpiração.

CONCLUSÕES

Os métodos de garfa.gem à inglesasimples e a garfagem no topo em fendacheia, ambos com e sem garfos parafina-dos, apresentaram os maiores Indlces depegamento e brotamento do enxerto;

Apesar de não diferirem estatistica-mente entre si, os métodos com uso degarfos parafinados podem ser recomenda-dos por proporcionarem menor custo naprodução de mudas enxertadas de gravio-leira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOURKE, 0.0.0. Annona spp. In: GAR-NER, R.J. The propagation of tropicalfruit trees. Farnham Royal, England,FAO/CAB,1976 566p.

Rev.bras.Frutic.,Cruz das Almas,v.13,n.1,p.63-66,out.1991.

CASAS, H.M.; VICTORIA, M.A.S. & ZARO-TE, R.O.R. Ensayos preliminares depropagacion sexual y asexual de gua-nábana (Annona rooricata l.). Actaagron.34 (4): 66-81,1984.

ESPINOZA, V.R. Problemas para el epro-vechamento tecnológicó de Ia guan6ba-na (Annona muricata L.). Caracas, Ve·nezuela, Facultad de Ciências, Escuelade Biologia, 1972. 3~.

FH.;""\EIRA, S.A.N. & CLEMENT, C.R. Ava·liação de diferentes porta-enxertos paragraviola na Amazônia Central. I. Méto·dos de Enxertia. In: CONGRESSO BRA·SILEIRO DE FRUTICULTURA, 9, Cam-pinas, 1987. Anais ••• Campinas, S8F,1988. p.475-9.

GOMES, F.P. Curso de estatfstiea experi-mental,9 ed. Piracicaba, ESALO-USP,1981. p.254-9.

HARTMANN, H.T. & KESTER, D.E. Plantpropagation: Principies and practices.New Jersey, Prentice Hall, 1983. 720p.

IGLESIAS, A.A. & SANCHEZ, L.A. Propa-gacion dei "guanabano" Annona muri-cata L., por medio de injerto sobre dlfe-rentes patrones de anonaceas. ActaAgron.35 (3):53-8, 1985.

LEAL, F.J. Notas sobre Ia guanábana(Annona muricata L. ) en Venezuela.Proc. Trop. Amer.Soc.Hort.Sci.,14: 118·21,1970.

LEDO, A. da S. Resposta de três gravilei-ras (Annona muricata L.) a dois méto-dos de enxertia. Viçosa, UFV, 1991.52p. (Tese de Mestrado).

PINTO, A.C. de O. & DONI, E. Estudo so-bre propagação de fruteiras tropicais.Conceição de Almeida, BA, Estação Ex-perimental de Fruticultura Tropical,1975. n.p. (Relatório Técnico, 2).