avaliaÇÃo da sequÊncia de ativaÇÃo da musculatura...
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MARCELA DA SILVA CARVALHO
AVALIAÇÃO DA SEQUÊNCIA DE ATIVAÇÃO DA MUSCULATURA
LOMBOPÉLVICA APÓS A APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE ANALGESIA
UBERABA
2016
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Marcela da Silva Carvalho
AVALIAÇÃO DA SEQUÊNCIA DE ATIVAÇÃO DA MUSCULATURA
LOMBOPÉLVICA APÓS A APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE ANALGESIA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em
Educação Física, área de concentração “Educação Física,
Movimento Humano e Saúde (Linha de pesquisa:
Comportamento motor e análise do movimento humano), da
Universidade Federal do Triângulo Mineiro como cumprimento
ao requisito parcial para obtenção do título de mestre.
Orientadora: Dra. Luciane Fernanda Rodrigues Martinho
Fernandes
UBERABA
2016
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Marcela da Silva Carvalho
Avaliação da sequência de ativação da musculatura lombopélvica após a
aplicação de técnicas de analgesia
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em
Educação Física, área de concentração “Educação Física,
Movimento Humano e Saúde (Linha de pesquisa:
Comportamento motor e análise do movimento humano), da
Universidade Federal do Triângulo Mineiro como cumprimento
ao requisito parcial para obtenção do título de mestre.
Orientadora: Dra. Luciane Fernanda Rodrigues Martinho
Fernandes
Uberaba, 26 de fevereiro de 2016.
Banca examinadora:
______________________________________________________________
Dra. Luciane Fernanda Rodrigues Martinho Fernandes
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)
______________________________________________________________
Dra . Lilian Ramiro Felício
Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
______________________________________________________________
Dra. Andrea Licre Pessina Gasparini
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)
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AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeço Àquele que me criou, a Ele que a cada dia cuida de mim
me dando forças e esperança para seguir em frente. Obrigada meu Deus!
Aos meus pais Regina e Marcelo, pelo amor incondicional e por tudo que fazem por
mim, mesmo sem eu merecer, obrigada eternamente, vocês são fundamentais em tudo que
faço, essa conquista é nossa. Aos meus irmãos, por me aguentarem tanto nos dias de estresse
quanto nos dias de euforia extrema, minha família muito obrigada!
A minha irmã Vanessa, que sempre me incentivou a estudar, que é minha referência
de humildade e inteligência, você é meu exemplo, mulher guerreira e professora exemplar.
Agradeço a todos os professores da minha vida acadêmica, todos sem exceção, com
vocês aprendi a fazer o que amo, ser Fisioterapeuta, obrigada por cada ensinamento!
Agradeço ao Prof Alcimar pela atenção e contribuição neste trabalho. Prof Luciane Sande por
me ouvir e aconselhar!
De uma maneira especial agradeço a minha orientadora-mãe, Profa Luciane
Fernandes, que me acolheu nesta jornada, sua calma e paciência me iluminaram em vários
momentos de desespero, “por sua causa não desisti”, obrigada por todos os dias de orientação,
você é fundamental na minha vida acadêmica.
Agradeço também aos meus colegas de mestrado, juntos chegamos onde tanto
sonhamos, em especial agradeço quatro amigos: Rafael, Najara, Paula e Ruan, obrigada pelos
momentos de lazer e os momentos de estudo, vocês me ensinaram muito também! Levo vocês
debaixo de sete chaves dentro do meu coração!
Às minhas amigas de profissão da Clínica Posturale, muito obrigada por compreender
a minha ausência e por me dar condições de fazer este mestrado, sem a ajuda de vocês eu não
teria conseguido.
Aos meus amigos, os verdadeiros, muito obrigada por me incentivar a dar este passo
na minha vida profissional, vocês fizeram meus dias mais leve quando tudo parecia muito
escuro, vocês me trouxeram o sorriso quando ele não aparecia no meu rosto. Obrigada
sempre!
A todos os funcionários do nosso Laboratório de Biomecânica e Controle Motor
(LABCOM), o cafezinho de toda reunião sempre foi muito especial, e sempre no momento
certo! Aos alunos da graduação envolvidos neste trabalho meu muito obrigada!
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Agradeço a todos os lutadores de jiu-jitsu que colaboraram com este estudo,
especialmente aos professores Leonardo Ferreira, Rafael Pinheiro e Marco Túlio, que abriram
espaço em suas academias, sem vocês nada disso seria possível, muito obrigada!!
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“Seu trabalho vai ocupar uma grande parte da sua vida, e
a única maneira de estar verdadeiramente satisfeito é
fazendo aquilo que você acredita ser um ótimo trabalho. E
a única maneira de fazer um ótimo trabalho é fazendo o
que você ama fazer.”
Steve Jobs
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RESUMO
Com o intuito de conhecer o comportamento eletromiográfico da musculatura lombopélvica
em lutadores de jiu-jitsu com e sem dor lombar e a influência da analgesia no sinal
eletromiográfico foram elaborados dois artigos. No primeiro artigo foram avaliados 18
lutadores de jiu-jitsu, sendo 6 lutadores sem dor e 12 lutadores com dor lombar foi realizada a
avaliação eletromiográfica com a finalidade de conhecer a sequência de ativação da
musculatura lombopélvica buscando determinar diferenças entre os grupos. Posteriormente
apenas os 12 lutadores com dor foram randomizados aleatoriamente em dois grupos: grupo
TENS e grupo manipulação da coluna vertebral. Neste momento foi avaliado o efeito de
ambas as técnicas no alívio da dor e na manifestação da sequência de ativação lombopélvica.
No segundo artigo foi realizado um ensaio clínico randomizado com o objetivo de verificar o
efeito imediato e após 10 sessões de aplicação das técnicas analgésicas no alívio da dor, na
incapacidade funcional e na atividade muscular lombopélvica de lutadores de jiu-jitsu com
dor lombar crônica, que foram divididos em dois grupos com seis lutadores em cada grupo:
TENS e TENS associado a manipulação lombar. Em ambos os artigos a aplicação da TENS
foi realizada no modo acupuntura por 20 minutos e a manipulação da coluna lombar realizada
por uma fisioterapeuta especialista na técnica. Para avaliação da dor foi aplicada a escala
visual analógica e para obtenção do sinal eletromiográfico foi utilizado um aparelho de 8
canais (Modelo: EMG830C, EMG System do Brasil Ltda, São José dos Campos, São Paulo,
Brasil), posicionado sobre os eretores espinhais ao nível de L1, glúteo máximo e bíceps
femoral do membro inferior dominante. No primeiro artigo concluímos que existe diferença
na sequência de ativação entre lutadores com e sem dor lombar porém o alívio da dor não foi
suficiente para modificar a sequência de ativação dos músculos lombopélvicos no grupo com
dor. No segundo artigo verificamos que a associação das duas técnicas foi capaz de manter o
alívio da dor durante o período estudado e com relação a atividade muscular lombopélvica, no
grupo TENS associada a manipulação houve diminuição da ativação muscular dos eretores
espinhais e maior ativação de glúteo máximo durante o teste de extensão do quadril, porém
não significativos.
Palavras-chave: TENS. Manipulação da coluna. Eletromiografia. Dor lombar crônica.
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ABSTRACT
Aiming to meet the electromyographic behavior of lumbopelvic muscles in jiu-jitsu fighters
with and without low back pain and the influence of analgesia in electromyographic signals
were prepared two articles. In the first article were evaluated fighters jiu-jitsu, and 6 fighters
painlessly and 12 fighters with low back pain was performed electromyographic evaluation in
order to know the activation sequence lumbopelvic muscles searching to determine
differences between groups. Later only fighters with pain were randomly assigned randomly
into two groups: TENS group and group manipulation of the spine. At this time, the effects of
both techniques in relieving pain and manifestation of lumbopelvic activation sequence. In the
second article we conducted a randomized clinical trial in order to determine the immediate
effect and after 10 application sessions of analgesic techniques to relieve pain, functional
disability and lumbopelvic muscle activity jiu-jitsu fighters with chronic low back pain, they
were divided into two groups of six fighters in each group: TENS, TENS associated lumbar
manipulation. In both articles TENS application was performed in order acupuncture for 20
minutes and manipulation of the lumbar spine performed by a therapist skilled in the art. For
evaluation of pain was applied to visual analog scale and to obtain the electromyographic
signal was used an -channel device (Model: EMG 830C, EMG System of Brazil Ltda, São
José dos Campos, São Paulo, Brazil), positioned on the erector spinal the L1 level, gluteus
maximus and biceps femoris of the dominant leg. In the first article we concluded that there is
a difference in the activation sequence between wrestlers with and without back pain but the
pain relief was not sufficient for changing the activation sequence of lumbopelvic muscles in
the group with pain. In the second article we found that the combination of the two techniques
was able to maintain pain relief during the study period and in relation to lumbopelvic muscle
activity in the TENS group associated with handling was decreased muscle activation of the
erector spinae and greater gluteus maximus activation hip extension during the test but is not
significant.
Keywords: TENS. Spinal manipulation. Electromyography. Chronic low back pain.
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LISTA DE FIGURAS
Artigo 1
Figura
1 – Teste de extensão do quadril ............................................................................................. 23
2 – Manipulação da coluna ...................................................................................................... 24
3 - Sinal eletromiográfico e onset ............................................................................................ 25
4 – Média e desvio padrão do Onset relativo avaliado no momento 1 para os grupos
de lutadores sem dor e com dor ............................................................................................... 27
5– Onset relativo (média e desvio padrão) em M2 .................................................................. 29
Artigo 2
Figura
1 - Fluxograma para elaboração do ensaio clínico .................................................................. 39
2 – Teste de extensão do quadril ............................................................................................. 41
3 – Valores médios e desvios padrões dos valores da RMS normalizada dos músculos
eretor espinhal ipsilateral, eretor espinhal contralateral e glúteo máximo, nos três
momentos da avaliação para os lutadores do Grupo 1 ............................................................ 45
4 – Valores médios e desvios padrões dos valores da RMS normalizada dos músculos
eretor espinhal ispilateral, eretor espinhal contralateral e glúteo máximo, nos três
momentos da avaliação para os lutadores do Grupo 2 ............................................................ 45
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LISTA DE TABELAS
Artigo 1
Tabela
1 - Caracterização dos lutadores .......................................................................................... 22
2 - Valores do onset relativo [ms] de cada músculo e sequência de ativação muscular
para cada lutador .................................................................................................................. 27
3 - Valores das médias e desvios padrões da EVA nos dois momentos para cada grupo ... 28
4 - Médias de onset relativo de cada músculo em M1 e M2 ............................................... 28
5- Valores médios e desvios padrões das diferenças dos valores da EVA nos momentos
1 e 2 .................................................................................................................................... 29
6 – Valores do onset relativo [ms] do glúteo máximo para M1 e M2 e a diferença entre os
dois momentos para todos os lutadores ............................................................................... 30
Artigo 2
Tabela
1 – Valores das médias e desvios padrões da EVA nos três momentos para cada grupo ... 43
2 – Valores médios e desvios padrões das diferenças dos valores da EVA nos 3 momentos
da avaliação ........................................................................................................................ 44
3 – Valores médios do Índice de Incapacidade Funcional de Oswestry (ODI) ................... 44
4 – Representação do aumento ou diminuição da dor atividade eletromiográfica ............. 46
5 – Valores médios e desvios-padrão das variáveis analisadas, limites do intervalo
de confiança, valores de P, Cohen’s d e magnitude do efeito para a análise intergrupo..... 46
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BF – Bíceps Femoral
CIVM - Contração Isométrica Voluntária Máxima
EC – Eretor Contralateral
EI – Eretor Ipsilateral
EMG – Eletromiografia de Superfície
EVA – Escala Visual Analógica
GCDL – Grupo Com Dor Lombar
GM – Glúteo Máximo
GMANIP – Grupo Manipulação
GSDL – Grupo Sem Dor Lombar
GTENS – Grupo TENS
M1 – Momento 1
M2 – Momento 2
M3 – Momento 3
ODI – Índice de Incapacidade Funcional de Oswestry
RMS – Root Mean Square
TENS - Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12
2 ARTIGOS PRODUZIDOS ............................................................................................ 18
2.1 ARTIGO 1 ..................................................................................................................... 18
2.2 ARTIGO 2 ..................................................................................................................... 35
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 53
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 54
APÊNDICES ...................................................................................................................... 59
ANEXOS ............................................................................................................................ 64
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1 INTRODUÇÃO
Na metade do século 20, a dor lombar tornou-se um dos maiores problemas de saúde
pública global. A maioria das pessoas experimentará esta dor em algum momento de suas
vidas (BALAGUE; DUDLER, 2012). Esta morbidade é comum em países industrializados
sobretudo em indivíduos economicamente ativos, estimativas apontam 30 % de prevalência
da dor lombar crônica em adultos jovens, sendo assim uma das maiores causas de
afastamento do trabalho e isto implica em grande queda na economia e no lucro proveniente
das atividades laborais (HARVEY; DESCARREAUX, 2013).
No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, traçou o panorama de saúde
do país onde foi constatado que a dor lombar é a segunda doença crônica mais comum,
ficando atrás apenas da hipertensão arterial sistêmica (MAGALHÃES et al., 2012). Salvetti
(2013), realizou um estudo transversal em três centros de saúde e duas indústrias por um
período de 10 meses na cidade de São Paulo e encontraram que de 215 participantes da
pesquisa 87% referiu sua dor de moderada a intensa e para 45,6% a dor já persistia por seis
anos, além disso de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no
ano de 2008, a dor lombar é a segunda doença crônica mais comum, ficando atrás apenas da
hipertensão arterial sistêmica.
Esse tipo de dor é definida como a que ocorre entre o último arco costal e a prega
glútea (FRANKE; FRANKE; FRYER, 2014) e acomete, em maior escala, adultos e idosos
devido as grandes alterações biomecânicas impostas durante toda a vida.
De acordo com Fairbank et al., (2011) a dor lombar pode ser classificada de acordo
com o diagnóstico, prognóstico, tratamento e duração dos sintomas, sendo que nesta ultima
classificação citada, o autor caracteriza como dor lombar crônica a dor que persiste por um
período maior a 12 semanas (3 meses).
A dor lombar pode surgir de várias estruturas incluindo os discos (secundária a
hérnias), os corpos vertebrais (fraturas ou infecções), raízes nervosas lombares (compressão
por causas mecânicas), estenose espinhal, causas viscerais e causas de origem muscular
(PATEL; WASSERMAN; IMANI, 2015), sendo que esta ultima é definida como dor lombar
de origem mecânica ou inespecífica, (ALSCHULER et al., 2009) a dor lombar de origem
mecânica aparece em 85% dos casos e não há um mecanismo de lesão ou agente etiológico
propriamente dito (NELSON-WONG et al., 2012), podendo ser causada por lesões musculo-
esqueléticas, desequilíbrios na coluna lombar e instabilidade dos músculos pélvicos. Segundo
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Panjabi (1992) a estabilidade da coluna vertebral é responsabilidade de três subsistemas sendo
eles: subsistema passivo que consiste nos elementos estruturais estáticos da coluna vertebral,
tais como as vértebras e ligamentos; subsistema ativo formado pelos músculos e tendões e o
subsitema neural constituido por elementos do sistema nervoso central e periférico que
coordenam a atividade muscular, a impotência de um destes sistemas sobrecarrega os outros,
sendo assim considerada causa de dor lombar.
Segundo Sheeran et al., (2013) os fatores determinantes para o desenvolvimento da
dor são: má posturas mantidas durante o dia-a-dia e a alteração no controle motor da coluna
vertebral, existem diferenças com relação ao controle neuromuscular do movimento realizado
em indivíduos com dor lombar e indivíduos sem dor lombar.
Em uma revisão sistemática Goss et al. (2012) afirmaram que a dor induz a um
aumento da atividade muscular paravertebral levando ao espasmo. Esse mesmo espasmo
aumenta o nível da dor, sendo assim o indivíduo entra no ciclo dor-espasmo-dor. Em
contraposição a esta teoria Arab et al. (2011) definem que movimentos inadequados e
repetitivos, assim como o mau alinhamento postural poderá alterar as características
musculares levando a uma disfunção da coordenação da atividade muscular.
Entre as pessoas acometidas pela dor lombar estão aquelas que praticam atividade
física regularmente, e nesse caso, a principal etiologia da dor são movimentos executados
durante a prática de tênis e golfe , sobretudo, movimentos que envolvam a extensão e a
rotação lombar associada a movimentos da articulação do quadril (CHIMENTI; SCHOLTES;
VAN DILLEN, 2013), tais como observado em lutadores de jiu-jitsu.
O jiu-jitsu brasileiro é uma arte marcial de autodefesa baseada no princípio de dominar
o adversário através de combate direto com golpes de alavanca, torções e submissões para
levar o oponente ao chão, assim a incidência de lesões traumáticas em lutadores de jiu-jitsu é
relativamente alta, além de traumas diretos em articulações como joelhos, cotovelos, orelhas e
falanges das mãos (KREISWIRTH; MYER; RAUH, 2014), também estão suscetíveis a
desenvolver a dor lombar crônica (REIS et al., 2015). Purcell e Micheli (2009) enumeram
como fator de risco para o desenvolvimento da dor em atletas os movimentos repetitivos no
esporte, o volume e a intensidade do treino, além de gesto esportivo mal executado.
Uma pesquisa de prevalência da dor lombar em lutadores de jiu jitsu brasileiros foi
desenvolvida na cidade do Rio de Janeiro envolvendo tanto lutadores recreacionais como
lutadores profissionais, foram investigados 72 lutadores, 80,6% destes lutadores apresentavam
dor lombar crônica, nos lutadores profissionais houve uma maior prevalência da dor em
decorrência do ritmo e intensidade de treinamento a que são submetidos (REIS et al., 2015).
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O tratamento da dor lombar envolve uma gama elevada de terapias medicamentosas e
não medicamentosas, Delitto; Erhard; Bowling, (1995) propuseram que os indivíduos com
dor lombar fossem classificados em subgrupos que direcionam o tipo de intervenção
fisioterapêutica que será utilizada sendo elas exercícios de estabilização segmentar,
manipulação vertebral, tração mecânica, exercícios direcionais e mobilização neural.
Além destas técnicas destacamos o uso da terapia de analgesia utilizando a
estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) que apresenta evidência científica entre
moderada e baixa, Van Middelkoop et al., (2011) realizaram uma revisão sistemática sobre a
eficácia dos tipos de intervenção física e reabilitação para dor lombar crônica não específica e
concluíram que a respeito da terapia com TENS as evidencias científicas são de baixa
qualidade quando compara-se o efeito analgésico da dor para grupos tratados com TENS e
grupos tratados com TENS placebo, os estudos relatados nesta revisão não demonstraram
diferenças significativas.
A TENS é a aplicação da corrente elétrica por meio de eletrodos posicionados na pele,
cujo objetivo é reduzir a dor referida pelo indivíduo. Esta modalidade elétrica de tratamento
pode variar de acordo com suas frequências de aplicação, sendo que a frequência baixa
(menor que 10Hz), além de promover efeito analgésico mais duradouro é também a
modulação indicada para o alívio de dores crônicas. A intensidade da corrente varia entre a
percepção sensitiva e a percepção motora, onde a percepção motora é a sensação leve e
confortável em que visualiza-se contrações musculares rítmicas porém confortável
(DESANTANA et al., 2008).
O alívio gerado pelo uso da corrente é explicado basicamente por duas teorias, a
primeira se fundamenta na ação da corrente elétrica sobre a “Teoria das Comportas”,
postulada por Melzack e Wall em 1965, que explica o mecanismo pelo qual alguns
instrumentos conseguem atenuar a dor. No caso da aplicação da TENS, o estímulo sensorial
gerado pela corrente é conduzida até o encéfalo através de fibras de grosso calibre do tipo A e
de rápida condução. Enquanto que a dor é conduzida em fibras do tipo C que são fibras de
menor calibre e de velocidade mais baixa. Dessa forma pela condução mais rápida e em fibras
de maior calibre, a aplicação da TENS inibe o portal da dor, fechando a via de condução da
mesma (WHITE, 1995).
A outra teoria fundamenta-se no fato de que a aplicação da corrente elétrica de alta
intensidade e baixa frequência sobre a pele estimula a liberação de opióides endógenos no
sistema nervoso central que são liberados por uma via inibitória descendente através da
estimulação de vias aferentes que recebem o nome de fibras aferentes A-delta, por essa razão
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a TENS que utiliza frequências baixas são amplamente utilizadas no tratamento da dor
crônica (BJORDAL; JOHNSON, 2011).
Apesar das evidências científicas serem consideradas de moderada a baixa a TENS
ainda apresenta-se como uma terapia de escolha para o tratamento da dor, pois é considerada
uma modalidade não-invasiva, não-farmacológica, de baixo custo e sem efeitos colaterais.
Segundo terapeutas manuais o desarranjo, o mau alinhamento e a subluxação
vertebral são as principais causas de dores na coluna vertebral, é pratica comum do terapeuta
manual a avaliação diária dos movimentos intervertebrais nos segmentos dolorosos bem como
elaborar protocolos de tratamento baseados no reposicionamento vertebral (HENDERSON,
2012).
Molina-Ortega et al. (2014) relatam que a manipulação da coluna tem como
característica principal o movimento em alta velocidade e a baixa amplitude, o que
comumente recebe o nome de “thrust”. O estimulo mecânico promovido pelo “thrust” tem a
capacidade de interromper o ciclo dor-espasmo-dor que ocorre em indivíduos com dor lombar
crônica, a teoria deste ciclo define que a dor causa aumento da atividade muscular que por sua
vez provoca mais dor, esta atividade muscular aumentada induz a isquemia vascular que, por
sua vez, levara a um acúmulo de metabolitos dolorosos (LEHMAN, 2012a).
Franke H., Franke JD. e Fryer (2014) realizaram uma metanálise e concluíram que a
manipulação da coluna é eficiente tanto para o tratamento da dor lombar aguda, subaguda e
crônica. O autor cita que seis entre dez estudos, que compara o uso da manipulação da coluna
e o uso de outras técnicas que promovem o alívio da dor, demonstraram que a manipulação da
coluna promove maior alívio da dor. Com relação a avaliação funcional os estudos,
pesquisados neste metanálise, demonstraram uma avaliação positiva na melhora da função
para indivíduos tratados com a manipulação da coluna, porém estes dados não tem evidência
científica devido a falta do grupo controle, cegamento e follow-up adequado. Dessa forma
nesta metanálise o autor conclui que para confirmar os efeitos fisiológicos da manipulação da
coluna são necessários estudos com grupos de comparação maiores tanto para o alívio da dor
crônica como para a avaliação funcional.
Petering e Webb (2011) desenvolveram uma revisão sistemática sobre as opções de
tratamento para os praticantes de atividade física regular com dor lombar e concluíram que o
calor superficial apresenta evidência cientifica moderada no que diz respeito ao alívio da dor,
com relação a manipulação da coluna há evidência moderada no alívio da dor a curto prazo na
dor lombar aguda e no tratamento da dor lombar crônica a manipulação da coluna é tão eficaz
quanto a terapia medicamentosa com o uso de antinflamatório não esteroidal, e mais eficaz do
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que a fisioterapia convencional.
Existe uma grande preocupação por parte dos profissionais da saúde acerca da
reabilitação da coluna lombar. Prioriza-se fundamentalmente o ganho de força e resistência da
musculatura paravertebral, porém grande importância deve ser dada também ao controle
neuromuscular ou seja à coordenação da atividade muscular. Para avaliação da coordenação
muscular existe um teste clínico amplamente utilizado que recebe o nome de extensão do
quadril com o indivíduo em posição pronada. A finalidade deste teste é avaliar a sequência de
ativação dos músculos lombopélvicos durante a extensão do quadril pois a sequência que
ocorre durante o teste simula o padrão de contração durante atividades funcionais como a
marcha, neste teste a sequência de ativação esperada é: glúteo máximo, isquiotibiais, eretor
espinhal contralateral a perna testada e eretor espinhal ipsilateral (BRUNO; BAGUST, 2007).
Para mensurar esse padrão de contração muscular existe uma ferramenta não invasiva
amplamente utilizada nas pesquisas que envolvem ativação muscular, que é a eletromiografia
de superfície (EMGs), que nada mais é do que um instrumento de avaliação que capta e
registra a somatória dos potenciais de ação que são gerados pelo sistema nervoso central
através do neurônio motor proporcionando assim a contração muscular (BASMAJIAN; DE
LUCA, 1985). Os eletrodos utilizados na eletromiografia de superfície devem ser
posicionados sobre o ponto médio do ventre muscular e entre a zona de inervação e a região
tendinosa, longitudinalmente às fibras musculares, com distância limite de 20mm para ter a
amplitude da EMGs maximizada, caso contrário, o sinal de EMGs poderá também ter sua
morfologia alterada (HERMENS et al, 2000).
Para a captação de um bom sinal eletromiográfico é viável que haja baixa impedância,
porém todas as formas de matérias apresentam impedância para a transmissão de uma
corrente elétrica em especial o tecido gorduroso (BASMAJIAN; DE LUCA, 1985), neste
sentido a quantidade de tecido adiposo no local que será avaliado torna-se então uma
preocupação importante.
Desta forma uma avaliação eletromiográfica em lutadores de jiu-jitsu se torna
importante para delimitar as diferenças na coordenação muscular entre lutadores com e sem
dor lombar, sendo esta uma população com boa força e resistência muscular, porém altamente
propensos ao surgimento de dor devido ao gesto esportivo e à frequência de treinamento.
Neste contexto, entender como os músculos lombopélvicos se comportam diariamente é
fundamental para conduzir o tratamento fisioterapêutico, tendo em vista que a principal
abordagem fisioterapêutica em indivíduos com dor lombar é a promoção de alívio da mesma,
melhorando, por conseguinte, a capacidade funcional.
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Este estudo justifica-se pois pouco se sabe sobre a influência do alívio da dor na
resposta muscular e escassos são os estudos que avaliam este tipo de intervenção e suas
implicações eletromiográficas. Sendo assim, o objetivo geral deste estudo foi compreender as
diferenças na ativação muscular de lutadores de jiu-jitsu com e sem dor lombar, bem como
avaliar a influência imediata e a longo prazo do alívio da dor na atividade eletromiográfica
dos músculos lombopélvicos.
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2 ARTIGOS PRODUZIDOS
2.1 ARTIGO 1
Efeito imediato do alívio da dor na sequência de ativação muscular em lutadores de Jiu-
Jitsu com dor lombar crônica
RESUMO
O teste de extensão do quadril com o indivíduo em posição pronada permite a avaliação do
controle motor lombar, pois o padrão de contração muscular durante o teste simula o padrão
de contração durante a marcha. Indivíduos com dor lombar apresentam alteração nesta
sequência de ativação. O objetivo deste estudo foi avaliar a sequência de ativação dos
músculos lombopélvicos dos lutadores de jiu-jitsu com e sem dor lombar e a influência do
alívio da dor na sequência de ativação muscular lombopélvica. A sequencia de ativação foi
avaliada através da eletromiografia de superfície em 18 lutadores de jiu-jitsu, sendo 6
lutadores sem dor e 12 lutadores com dor lombar, os lutadores com dor lombar foram
randomizados aleatoriamente em dois grupos, grupo TENS e grupo manipulação da coluna,
neste momento foi avaliado o efeito de ambas as técnicas tanto no alívio da dor quanto na
mudança da sequência de ativação lombopélvica. A diferença entre o onset pré e pós
intervenção foi calculada para cada músculo avaliado. Concluímos que lutadores com dor
lombar crônica apresentam uma antecipação dos eretores e atraso na ativação de glúteo
máximo, o alívio da dor não alterou a sequência encontrada previamente a aplicação das
técnicas.
Palavras-chave: eletromiografia, dor lombar crônica, TENS, manipulação da coluna.
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Immediate effect of pain relief in muscle activation sequence in Jiu-Jitsu fighters with
chronic low back pain
ABSTRACT
The hip extension test with the individual prone position allows the evaluation of lumbar
motor control, because the pattern of muscle contraction during the test simulates the
contraction pattern during gait. Individuals with low back pain have change in this activation
sequence. The aim of this study was to evaluate the activation sequence of lumbopelvic
muscles of jiu-jitsu fighters with and without low back pain and the influence of pain relief in
lumbopelvic muscle activation sequence. The activation sequence was assessed by surface
electromyography 18 fighters jiu-jitsu, and 6 fighters painlessly and fighters with low back
pain, 12 fighters with low back pain were randomly assigned randomly into two groups, the
TENS group and spinal manipulation group at this time, the effects of both techniques so as to
relieve pain in the lumbopelvic change activation sequence. The difference between the pre
and post intervention onset was calculated for each assessed muscle. We conclude that
fighters with chronic back pain have a foretaste of the erector and delay in gluteus maximus
activation, pain relief did not alter the sequence previously found the application of the
techniques.
Keywords: electromyography, chronic back pain, TENS, spinal manipulation.
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20
1 INTRODUÇÃO
As pesquisas que têm como foco a reabilitação da dor lombar investigam a ativação da
musculatura estabilizadora do tronco. Nos últimos 10 anos houve um interesse cada vez maior
por compreender alguns aspectos do controle motor, já que indivíduos com dor lombar
apresentam a coordenação da ativação muscular diferente dos indivíduos sem dor (LAIRD;
KENT; KEATING, 2012; NELSON-WONG et al., 2012).A dor lombar é muito comum em
atletas jovens tendo como principal etiologia traumas diretos e contusões (BURNS et al.,
2011), além disso a dor lombar nesta população pode também ser resultado de gestos
esportivos executados de maneira inadequado e excesso de treinamento (PURCELL, 2009).
O teste clínico de extensão do quadril com o indivíduo em posição pronada permite a
avaliação do controle motor lombar, pois o padrão de contração muscular durante o teste
simula o padrão de contração durante atividades funcionais como a marcha. A sequência
esperada de ativação dos músculos lombopélvicos é: glúteo máximo, isquiotibiais e eretores
espinhais (BRUNO; BAGUST, 2007), se o indivíduo apresenta uma hiperativação dos
músculos eretores espinhais e isquiotibiais e um atraso na ativação de glúteo máximo, a
sequência do teste estará alterada deixando o indivíduo mais susceptível a desenvolver a dor
lombar .
Uma das teorias que explica a dor lombar é que a hiperativação muscular dos eretores
espinhais levará o indivíduo a desenvolver o ciclo dor-espasmo-dor onde a dor conduz a
hiperatividade muscular (espasmo) que por sua vez levará a dor (GOSS et al., 2012). O atraso
na ativação do glúteo máximo durante a marcha também está associado a gênese da dor
lombar pois este músculo exerce função importante na distribuição de forças compressivas
sobre a articulação sacroilíaca, ou seja, o atraso na ativação deste músculo durante a marcha
resultará em menor absorção de impacto pela articulação sacroilíaca sobrecarregando a região
lombar (CHANCE-LARSEN; LITTLEWOOD; GARTH, 2010). Como consequência do
atraso de glúteo máximo em indivíduos com dor lombar, os isquiotibiais contraem-se
antecipadamente (KANG et al., 2013).
Entre as abordagens conservadoras para o tratamento da dor lombar a estimulação
elétrica nervosa transcutânea (TENS) desponta como a primeira escolha dos profissionais que
lidam com a dor, principalmente por este ser um método seguro e de baixo custo (ATALAY
et al., 2013). É uma modalidade terapêutica não invasiva que não apresenta efeitos colaterais
e o alívio da dor é a resposta da estimulação de nervos periféricos com liberação de opióides
endógenos, reduzindo sobretudo a dor crônica (FRANCIS; MARCHANT; JOHNSON, 2011).
-
21
Outros recursos apropriados para o tratamento de dor lombar aguda e crônica são a
manipulação e a mobilização da coluna vertebral (GOSS et al., 2012). Dentre as possíveis
explicações para a melhora da ativação muscular gerada pela manipulação da coluna é a
capacidade que esta técnica possui de quebrar aderências articulares e reduzir o espasmo
muscular (HARVEY; DESCARREAUX, 2013). Haavik e Murphy (2012) após uma revisão
sistemática propuseram que existe um mecanismo central de ação da manipulação, onde a
mesma levaria a mudanças na integração sensório motora a nível de sistema nervoso central.
Os autores também concluíram que a manipulação é capaz de gerar resposta neurofisiológica
diminuindo a atividade do motoneurônio alfa, reduzindo assim o espasmo nos músculos
invervados pelo segmento manipulado.
Com base nos estudos apresentados construímos 3 hipóteses: 1) Os lutadores com dor
lombar crônica apresentarão uma antecipação da atividade muscular de eretores espinhais e
um atraso na ativação de glúteo máximo. 2) O alívio imediato da dor será capaz de normalizar
a sequência de ativação nos indivíduos que tem dor lombar. 3) A normalização imediata da
sequência de ativação acontecerá no grupo submetido a manipulação da coluna lombar. Neste
sentido o objetivo do estudo foi avaliar a sequência de ativação dos músculos lombopélvicos
dos lutadores de jiu-jitsu com dor e sem dor lombar e a influência do alívio da dor na
sequência de ativação muscular lombopélvica.
2 MÉTODOS
2.1 Paticipantes
Participaram deste estudo 18 lutadores de jiu jitsu, que foram inicialmente alocados
em 2 grupos: Grupo sem dor (GSDL) com 6 lutadores que não apresentavam queixa de dor;
Grupo com dor lombar (GCDL) com 12 lutadores com queixa de dor lombar há pelo menos
12 semanas. Posteriormente GCDL foi randomizado aleatoriamente em dois grupos de
intervenção, grupo TENS (GTENS) e grupo manipulação (GMANIP) com seis indivíduos em
cada grupo. Os critérios de inclusão para a participação do estudo nos três grupos foram:
homens, idade entre 20- 45 anos, praticantes de jiu-jutsu há mais de 6 meses, ausência de
disfunção sacroilíaca, sem história de cirurgia prévia na coluna vertebral, fraturas da coluna
vertebral, doenças neurológicas, neoplasias, osteoporose e osteoartrose avançada e síndrome
da cauda equina. Especificamente para GTENS e GMANIP os lutadores deveriam apontar
registro de dor maior que 0 segundo a escala visual analógica há pelo menos 12 semanas. A
caracterização dos lutadores está demosntrada na tabela 1.
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22
Tabela 1 – Caracterização dos lutadores
Variáveis GSDL GTENS GMANIP
Idade (anos) 28 ± 4 30 ±6 28 ± 7
IMC (kg/m2) 24,71 ± 1,84 25,74 ±1,37 25,38 ± 2,57
Tempo de prática (meses) 71 ± 23 80 ± 29 72 ± 25 Valores em média e desvio padrão.GSDL:Grupo Sem Dor Lombar; GTENS: Grupo TENS; GMANIP: Grupo
Manipulação
De acordo com as normas e preceitos adotados nas pesquisas realizadas com seres
humanos, este estudo foi encaminhado e aprovado pelo Comitê de tica em esquisa CE
da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (Resolução CNS N° 466/2012), conforme
parecer 1.075.067/2015.
2.2. Avaliação da dor e da sequência de ativação muscular
Para avaliação da dor foi utilizada a Escala Visual Analógica (EVA) que é um
instrumento simples, sensível e reprodutível, permitindo análise contínua da dor, que consiste
em uma linha reta, não numerada, indicando-se em uma extremidade a marcação de "ausência
de dor' e na outra, "pior dor imaginável" (HJERMSTAD et al., 2011).
A sequência de ativação foi avaliada por meio do onset do sinal eletromiográfico de
cada músculo avaliado. O equipamento utilizado foi o eletromiógrafo de 8 canais (Modelo:
EMG830C, EMG System do Brasil Ltda, São José dos Campos, São Paulo, Brasil ) e o sinal
captado pelos eletrodos circulares foi amplificado 2000 vezes. A colocação dos eletrodos
circulares seguiu as orientações do protocolo SENIAM (http://www.seniam.org) (HERMENS
et al., 2000) que determina que previamente à colocação dos eletrodos (Ag/AgCl) deve ser
realizada a tricotomia dos pelos, desengorduramento da pele, abrasão com uma lixa fina, nova
limpeza com álcool, posteriormente fixação dos eletrodos. Para os eretores espinhais da
coluna lombar contralateral a perna testada (EC) e ipsilateral (EI) os eletrodos foram
posicionados a 2 centímetros do processo espinhoso da primeira vértebra lombar (L1); para
glúteo máximo ipsilateral a perna testada (GM) os eletrodos foram posicionados no ponto
médio da linha entre o grande trocanter do fêmur e a segunda vertebra sacral e para bíceps
femoral (BF) os eletrodos foram posicionados no ponto médio entre a tuberosidade isquiática
e o epicôndilo lateral da tíbia. O eletrodo referência foi posicionado no dorso da mão, a
distância entre os eletrodos foi de 2 cm de centro a centro. Foi realizada uma coleta em
repouso para verificar a presença de ruídos e o valor limite do Root Mean Square (RMS) de
todas as coletas foi de até 2 mV.
http://www.seniam.org/
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23
2.3 Procedimento experimental
Os lutadores foram posicionados em decúbito ventral com seus braços ao longo do
corpo, cabeça posicionada na linha média e pés fora da maca, foram instruídos, por meio de
um comando de voz, gravado previamente, a executar o movimento de extensão do quadril,
em velocidade normal até que a porção distal do membro inferior dominante tocasse a barra
posicionada limitando a amplitude em 10 graus de extensão (BRUNO; BAGUST, 2007)
(Figura 1). Ao atingir a barra o lutador manteve esta posição por 4 segundos e retornava para
posição inicial. O lutador realizou esse movimento 3 vezes. A coleta do sinal eletromiográfico
foi realizada durante todo o movimento.
Figura 1 – Teste de extensão do quadril Fonte: Arquivo pessoal
Após a primeira avaliação os lutadores do grupo com dor foram submetidos a
intervenção fisioterapêutica para o alívio da dor. Os 6 lutadores do GTENS foram submetidos
a aplicação da TENS, por meio de um equipamento Neurodyn portátil de TENS/Estimulação
elétrica funcional (FES) da marca Ibramed (Brasil), previamente calibrado pelo fabricante. O
equipamento foi registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) sob o
protocolo 10360310012. A modalidade de aplicação da TENS escolhida foi o modo
acupuntura, ou seja, uso de frequência baixa (4Hz), largura de pulso alta (250us) e intensidade
alta (suficiente para gerar abalos musculares visíveis porém confortável), a corrente foi
aplicada durante 20 minutos na disposição tetrapolar, (LIEBANO et al., 2011), através de
eletrodos de material à base de borracha carbonada, umedecida com gel de acoplamento à
base de água e conectadas a pele, na região lombar, através de esparadrapos.
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24
Para os 6 lutadores do GMANIP foi aplicada a manipulação da coluna lombar (Figura
2), por uma fisioterapeuta especialista em manipulação da coluna. Na técnica utilizada o
lutador foi posicionado em decúbito lateral com o joelho superior flexionado e aduzido além
da linha média, fisioterapeuta faz contato com a mão ativa (mão que manipula) na região
glútea e a mão de apoio estabiliza o ombro do paciente. A mão ativa realiza a rotação da
coluna lombar de maneira precisa em alta velocidade e baixa amplitude enquanto a outra mão
somente estabiliza o movimento do ombro (GOERTZ et al., 2013).
Figura 2 – Manipulação da coluna lombar Fonte: Arquivo pessoal
Os lutadores do GSDL foram avaliados pela EMG somente no momento inicial (M1),
para garantir a paridade os lutadores deste grupo também responderam a EVA. Os lutadores
do GCDL que foram divididos em GTENS e GMANIP realizaram a EVA e a EMG em dois
momentos: no momento inicial (M1) e imediatamente após a intervenção (M2).
2.4. Processamento dos dados
Os dados do sinal eletromiográfico foram filtrados por um filtro passa-banda de 20 a
500Hz, com uma taxa de amostragem de 2000 Hz para cada canal no próprio hardware.
Para aquisição do onset foi implementada uma rotina no software Matlab®
(MathWorks, Inc., Natick, MA) que compara a atividade de regiões de referência com as
demais regiões do sinal. Para isso, aplica-se um método conhecido como Empirical Mode
Decomposition (EMD) para filtragem do sinal, eliminando do mesmo as características
existentes na região de referência. Após isso, calcula-se a envoltória do sinal resultante, pela
Transformada Hilbert (TH). O Onset do sinal é então calculado comparando-se os valores da
envoltória com valor de limiar definido em termos do desvios padrão da atividade EMG do
sinal filtrado pela EMD. A rotina recebe como parâmetros o sinal EMG bruto, sua frequência
-
25
de amostragem, um intervalo de tempo (T0-T1) indicando uma região do sinal sem atividade
EMG (ANDRADE; NASUTO; KYBERD, 2007), um fator para ajuste da relação sinal-ruído
do sinal (usado pelo filtro EMD), a frequência de corte e o número de pólos do filtro de
cálculo da envoltória (via TH) e o valor do limiar para detecção do onset (SILVA, M.B,
2013). O processamento do sinal eletromiográfico e a determinação do onset está
demonstrado na figura 3.
Figura 3 – Sinal eletromiográfico e onset Fonte: Arquivo pessoal
Os dados brutos foram filtrados por um filtro passa banda (10-950 Hz), na sequência a
retirada do ruído (filtro Notch) posteriormente localizada a área de processamento e a
localização do onset.
Para investigar a sequência de ativação dos músculos avaliados em função do tempo,
foi calculada a diferença entre o tempo de onset de cada músculo em relação ao tempo do
onset do primeiro músculo a ser ativado (bíceps femoral) (SUEHIRO et al., 2015; CHANCE-
LARSEN; LITTLEWOOD; GARTH, 2010). A equação para o cálculo do tempo de onset
relativo está abaixo:
Tempo do onset relativo (s) = onset músculo avaliado (s)– onset bíceps femoral.
De acordo com a equação, se o resultado for negativo, significa que o músculo
avaliado iniciou o movimento antes do músculo bíceps femoral e sendo postivo significa que
o músculo iniciou após a ação do bíceps femoral
2.5 Análise estatística
O teste de Shapiro-Wilk foi aplicado para verificação da normalidade da amostra, e
tanto a variável onset quanto os valores da EVA apresentaram distribuição normal. Para a
análise de onset, foi calculada a média entre as 3 repetições do movimento, para os 4
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26
músculos, de cada indivíduo e posteriormente foi calculada a média e desvio padrão do onset
de cada grupo. O nível de significância adotado para todos os testes foi de 5%.
Hipótese 1: Para avaliar se os lutadores com dor lombar crônica apresentarão uma
antecipação da atividade muscular de eretores espinhais e um atraso na ativação de glúteo
máximo foram determinadas como variáveis independentes os grupos (GSDL e GCDL) e
variável dependente o onset dos músculos eretores espinais, glúteo máximo e bíceps femoral e
aplicado o Teste T de Student para amostras independentes.
Hipótese 2: Para avaliar se houve alívio imediato da dor e se este alívio da dor dor
normalizou a sequência de ativação nos indivíduos que tem dor lombar, foi realizada uma
análise intragrupos em que as variáveis independentes eram os momentos (M1 e M2) e as
variáveis dependente eram os valores da EVA e o onset. Para essa análise foi aplicado o
Teste T de Student para amostras pareadas.
Hipótese 3: Para avaliar se houve a normalização imediata da sequência de ativação no
grupo submetido a manipulação da coluna lombar foi realizada a análise intergrupos em que a
variável independente eram os grupos (GTENS e GMANIP) e as variáveis dependentes as
diferenças entre os valores da EVA e do onset nos momentos M1 e M2.
3 RESULTADOS
3.1 Sequência de ativação dos músculos lombopélvicos nos grupos sem dor (GSDL) e
com dor (GCDL) avaliada no momento 1.
As médias dos valores do onset das 3 repetições para cada músculo e de cada lutador
estão apresentados na Tabela 1. Nesta tabela também está apresentada a sequência de ativação
desses músculos.
Nesta análise qualitativa da sequência de ativação muscular verificamos que no grupo
dos lutadores sem dor lombar (GSDL), 66% ativaram primeiramente o bíceps femoral e 50%
ativaram o glúteo máximo em segundo lugar. Apenas um indivíduo apresentou a ordem
esperada de ativação. No grupo com dor (GCDL) o glúteo máximo é o último a iniciar o
movimento em 83% dos indivíduos avaliados.
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Tabela 2 – Valores do onset relativo [ms] de cada músculo e sequência de ativação muscular
para cada lutador
Grupo Lutadores EC EI GM BF SEQUÊNCIA DE
ATIVAÇÃO
GSDL
1 143,3 163,3 80 0 BF-GM-EC-EI
2 283,3 310 -140 0 GM-BF-EC-EI
3 226,7 226,7 453,3 0 BF-EC-EI-GM
4 146,7 180 36,6 0 BF-GM-EC-EI
5 193,3 213,3 16,67 0 BF-GM-EC-EI
6 130 123,3 -76,6 0 GM-BF-EI-EC
GCDL
7 106,7 150 1313,3 0 BF-EC-EI-GM
8 53,3 53,3 140 0 BF-EC-EI-GM
9 143,3 140 360 0 BF-EI-EC-GM
10 10 86,7 66,7 0 BF-EC-GM-EI
11 -36,7 -86,7 103,3 0 EI-EC-BF-GM
12 163,3 123,3 120 0 BF-GM-EI-EC
13 110 80 190 0 BF-EI-EC-GM
14 100 20 200 0 BF-EI-EC-GM
15 -50 0 270 0 EC-BF-EI-GM
16 230 220 850 0 BF-EI-EC-GM
17 -10 -10 170 0 EC-EI-BF-GM
18 70 -30 620 0 EI-BF-EC-GM
Sequência normal de ativação durante o teste de extensão do quadril é GM-BF-EC-EI segundo Bruno e Bagust
(2007).
A análise descritiva está apresentada na forma de gráfico de barras (Figura 4) com os
valores das médias e desvios padrões dos onsets relativos de cada músculo, para cada grupo
(GSDL e GCDL). Notamos que no GSDL o glúteo máximo é ativado antes dos eretores
espinhais e em GCDL acontece o inverso, porém essa diferença não foi significativa, no
entanto em GCDL observamos uma antecipação significativa dos eretores espinhais (GM p =
0,06, EC p = 0,01, EI p =0,003).
Figura 4 – Média e desvio padrão do Onset relativo avaliado no momento 1 para os grupos
de lutadores sem dor e com dor
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28
3.2 Avaliação da dor e da sequência de ativação dos músculos lombopélvicos para os
grupos GTENS e GMANIP nos momentos M1 e M2.
Para a análise intragrupos os valores da EVA e do onset relativo, nos momentos M1 e
M2, foram comparados separadamente nos dois grupos (GTENS e GMANIP). Em relação a
análise dos valores da EVA, as duas técnicas promoveram o alívio significativo da dor
quando analisada os valores antes e após as intervenções (Tabela 2).
Tabela 3 – Valores das médias e desvios padrões da EVA nos dois momentos para cada grupo EVA p value
GRUPO M1 M2 M1XM2
GTENS 5,3 ± 1,2 2,2 ± 1,2 0,001*
GMANIP 5,8 ± 1,2 2 ± 1,3 0,000*
As médias do onset relativo de cada músculo nos momentos 1 e 2 estão apresentadas
na Tabela 3. Podemos notar um atraso no glúteo máximo, para ambos os grupos, em GTENS,
observamos aumento do atraso na ativação do glúteo máximo enquanto que em GMANIP
obtivemos uma discreta antecipação na ativação deste músculo, ainda assim a sequência de
ativação permanece inalterada.
Tabela 4 - Médias de onset relativo de cada músculo em M1 e M2
Onset [ms]
M1
Onset [ms]
M2
M1XM2
p value
GRUPO EC EI GM EC EI GM EC EI GM
GTENS 70 80 183 120 100 233 0,24 0,39 0,39
GMANIP 70 40 383 90 60 223 0,86 0,79 0,16
* ≤ 0,05 pelo teste T de Student para amostras pareadas;
3.3. Avaliação do efeito imediato dos recursos analgésicos no alívio da dor e na
sequência de ativação dos músculos lombopélvicos comparando o GTENS e GMANIP
Para a análise intragrupos foi calculada a diferença entre os valores da EVA,
encontramos que ambos os grupos apresentaram efeito positivo significativo ou seja tanto a
analgesia pela TENS (p = 0,001) quanto a analgesia pela manipulação da coluna ( p= 0,000)
diminuíram significativamente a dor dos lutadores.
A diferença entre o onset relativo nos momentos 1 e 2 de cada músculo para ambos os
grupos não apresentou alteração significativa (GMANIP: EC p = 0,86, EI p = 0,77 e GM p=
0,16. GTENS: EC p = 0,24, EI p = 0,39 e GM p = 0,39) . Conforme demonstrado na figura 4
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29
o glúteo máximo no GMANIP apresenta uma antecipação na ativação com relação ao GTENS
no momento 2.
Figura 5 – Onset relativo (média e desvio padrão) em M2
Em relação ao efeito imediato das técnicas analgésicas para o alívio da dor não
encontramos diferença significativa na análise intergrupos, como demonstrado na tabela 4.
Tabela 5 - Valores médios e desvios padrões das diferenças dos valores da EVA nos
momentos 1 e 2 EFEITO ANALGÉSICO IMEDIATO
EVA M1-M2
GTENS 3,2 ( 1,2)
GMANIP 3,8( 0,8)
GTENS x GMANIP p = 0,26
Ao avaliarmos a diferença no onset relativo de cada músculo não encontramos
diferença significativa na análise intergrupo (EC p = 0,58, EI p = 1,0 e GM p = 0,09),
conforme demonstrado na tabela 5 considerando a análise do glúteo máximo calculamos a
diferença entre as médias do onset relativo através da seguinte formula: M1-M2, de maneira
que resultados com numero positivo indica que a ativação do glúteo máximo, em relação ao
bíceps femoral, foi mais lenta no momento 1 e resultado negativo indica que a ativação do
glúteo máximo foi mais lenta no momento 2.
0 100 200 300 400 500 600 700
EC
EI
GM
Onset relativo (ms)
GMANIP
GTENS
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Tabela 6 – Valores do onset relativo [ms] do glúteo máximo para M1 e M2 e a diferença entre
os dois momentos para todos os lutadores
GTENS GMANIP
M1 M2 DIFERENÇA
M1 M2 DIFERENÇA
A1 310 150 160 B1 190 107 83
A2 140 133 7 B2 200 77 123
A3 360 573 -213 B3 270 100 170
A4 67 320 -253 B4 850 233 617
A5 103 57 47 B5 170 260 -90
A6 120 167 -47 B6 620 563 57
MÉDIA 183 233 -50
383 223 160
A: lutadores do GTENS; B lutadores do GMANIP
Em GTENS verificamos um aumento de 27% no atraso de ativação do glúteo máximo
e em GMANIP obtivemos uma antecipação de 41% na ativação deste músculo.
4 DISCUSSÃO
O presente estudo demonstrou que no grupo de indivíduos que tem dor há um atraso
na ativação do glúteo máximo, vários autores encontraram o mesmo atraso na ativação deste
músculo (SAKAMOTO et al., 2009; LEHMAN et al., 2004; SUEHIRO et al., 2015), o atraso
na ativação do glúteo máximo induz a coluna lombar a realizar movimentos anormais como
extensão ou rotações sobrecarregando os estabilizadores passivos (SUEHIRO et al., 2015)
sendo assim possível causa da dor lombar, uma vez que o teste de extensão do quadril
reproduz o padrão de recrutamento muscular durante a marcha podemos afirmar que durante
esta atividade há uma insuficiência da ação do glúteo máximo, levando assim a antecipação
da musculatura eretora do tronco, além disso a insuficiência de glúteo máximo gera
sobrecarga na região lombar já que não haverá nestas condições absorção do impacto pela
articulaçãoo sacroiliaca (CHANCE-LARSEN; LITTLEWOOD; GARTH, 2010).
Outra explicação para a a antecipação da atividade muscular dos eretores espinhais é
que, em condições biomecânicas estáveis os estabilizadores locais, como o transverso do
abdome, contraem se primariamente aos estabilizadores globais, os eretores espinhais, que
agirão como sinergistas no intuito de aumentar a estabilidade segmentar (BRUNO; BAGUST,
2007) já em situações onde o indivíduo apresenta algum tipo de lesão ou dor, um padrão de
recrutamento anormal poderá ser encontrado, neste caso os estabilizadores globais antecipam
sua atividade muscular para compensar a disfunção dos estabilizadores locais (ARAB et al.,
2011).
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31
Além disso o ciclo dor-espasmo-dor encontra-se em pleno funcionamento nos
indivíduos que tem dor lombar, uma das explicações neurofisiológicas para isso é que o
reflexo de estiramento nos músculos da coluna vertebral está hiperativo, porém a manipulação
da coluna vertebral age mecanicamente no segmento doloroso, aliviando a dor e
consequentemente dimimui a hiperatividade do reflexo de estiramento, inibindo assim o
espasmo muscular (GOSS et al., 2012).
No entanto em nossos resultados verificamos que o alívio imediato da dor não
interferiu no padrão de contração muscular dos lutadores de jiu-jitsu, os eretores continuaram
em antecipação ao glúteo máximo durante o teste evidenciando assim o quadro de espasmo
dos músculos da coluna lombar, há uma tendência porém de que a manipulação da coluna
consiga melhorar o tempo de ativação do glúteo máximo já que no grupo submetido a esta
técnica obtivemos uma antecipação de 41% do onset inicial enquanto que em GTENS
obtivemos um atraso de 27% do onset inicial. Acreditamos que, por ser uma intervenção
imediata cujo número de participantes foi pequeno, a diferença pré e pós intervenção ficou
pouco evidente.
Em nossos achados o bíceps femoral foi o primeiro músculo a ser ativado durante o
teste de extensão do quadril, fato que pode ser explicado pelo estudo de Kang et al., (2013),
que investigaram a influência da abdução do quadril no onset de glúteo máximo durante o
teste de extensão do quadril com o joelho flexionado, concluíram neste estudo que, tanto a
ativação quanto o onset do bíceps femoral foram alterados pela flexão do joelho, pois neste
poscionamento acontece o isolamento muscular ativo, bíceps femoral deixa de ser o primeiro
músculo a ser ativado dando lugar ao glúteo máximo, além disso verificaram também que a
abdução do quadril a 30° facilita a ativação do glúteo máximo bem como melhora seu onset
durante o teste.
Nossos resultados sugerem que o alívio da dor não é suficiente para que haja a
normalização da sequência de ativação em indivíduos com dor lombar crônica. Williams,
Haq, Lee (2013), realizaram um ensaio clínico randomizado cujo objetivo era verificar a
influência do alívio da dor lombar, por analgésicos administrados via oral, no onset muscular
dos eretores lombares, neste estudo o alívio da dor também não influenciou no onset de
eretores, tanto em indivíduos com dor lombar aguda como em individuos com dor lombar
crônica.
Sugerimos que para que ocorra a normalização do padrão de ativação muscular deve-
se inserir ao protocolo de tratamento o trabalho de estabilização segmentar caracterizada por
isometria, baixa intensidade e sincronia dos músculos profundos do tronco, com o objetivo de
-
32
estabilizar a coluna lombar, pois esta técnica é apontada como a intervenção capaz de
modificar o padrão de ativação em indivíduos com recrutamento considerado anormal, o
treinamento muscular isolado deve ser utilizado no intuito de restaurar o onset ideal da
musculatura trabalhada, é recomendado a realização de três séries de dez contrações
isométricas mantidas por 5 a 10 segundos até duas vezes ao dia (CROW; PIZZARI;
BUTTIFANT, 2011).
5 CONCLUSÃO
Os lutadores com dor lombar crônica apresentam a sequência de ativação dos
músculos lombopélvicos diferente dos lutadores que não tem dor, nos lutadores que têm dor
lombar notamos a antecipação dos eretores espinhais e o atraso na ativação do glúteo máximo
durante o teste aplicado.
Ambas as intervenções analgésicas promoveram alívio imediato da dor porém não
encontramos diferenças na sequência de ativação dos músculos lombopélvicos nos grupos
estudados.
REFERÊNCIAS
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from electromyographic signals through generative topographic mapping. Journal of the
Franklin Institute, v. 344, n. 3-4, p. 154–179, maio 2007.
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33
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2.2 ARTIGO 2
Avaliação da ativação muscular lombopélvica após programa de analgesia lombar
utilizando a TENS e a manipulação da coluna lombar
RESUMO
Objetivo: avaliar o efeito da TENS e da manipulação da coluna sobre a dor, a incapacidade
funcional e a atividade muscular lombopélvica de lutadores de jiu-jitsu com dor lombar
crônica.
Método: ensaio clínico randomizado unicego realizado para verificar o efeito das técnicas
analgésicas no alívio da dor, na incapacidade funcional e na atividade muscular lombopélvica
de lutadores de jiu-jitsu com dor lombar crônica, que foram divididos em dois grupos: TENS
e TENS associado a manipulação lombar. A intensidade da dor avaliada utilizando a escala
visual analógica, a incapacidade funcional foi avaliada através do Índice de incapacidade
funcional e a ativação muscular foi investigada através das médias do RMS normalizado e
calculada a diferença entre os momentos testados.
Resultados: A intervenção TENS associada a manipulação promoveu o alívio significante da
dor e melhora da capacidade funcional, foi também mais eficaz na reorganização da ativação
muscular lombopélvica ao término das 10 sessões.
Conclusão: a associação entre a TENS e a manipulação da coluna lombar foi capaz de manter
o alívio da dor assim como melhorar a execução das atividades de vida diária. No grupo
TENS associada a manipulação houve diminuição da ativação muscular dos eretores
espinhais e maior ativação de glúteo máximo durante o teste de extensão do quadril.
Palavras–chave: eletromiografia, ativação muscular, dor lombar crônica, manipulação da
coluna, estimulação elétrica nervosa transcutânea
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Evaluation of muscle activation lumbopelvic after lumbar analgesic sessions
using TENS and lumbar spine manipulation
ABSTRACT
Objective: This study aimed to evaluate the effect of TENS and manipulation of the lumbar
spine for pain, functional disability and muscle activity lumbopelvic jiu-jitsu fighters with
chronic low back pain.
Methods: A randomized clinical trial unicego was conducted to check the effect of analgesic
techniques to relieve pain, functional disability and lumbopelvic muscle activity jiu-jitsu
fighters with chronic back pain were divided into two groups: TENS (G1 ) TENS associated
lumbar spine manipulation (G2). Pain intensity was measured using a visual analog scale,
functional disability was assessed using the disability index and the muscle activity was
assessed using the average of the normalized RMS and calculated the difference between the
tested times.
Results: pain relief and reduction of disability were significantly higher in G2, the
intervention of TENS associated with manipulation was more effective in the reorganization
of muscle activation lumbopelvic at the end of 10 sessions.
Conclusion: The association between TENS and lumbar spine manipulation was able to keep
the relief of pain as well as improve the performance of daily activities of these individuals
during the study period. Regarding lumbopelvic muscle activity in the TENS group associated
with spinal manipulation was decreased muscle activation of the erectors spinae and greater
activation of the gluteus maximus during hip extension test.
Keywords: electromyography, muscle activation, chronic back pain, spinal manipulation ,
transcutaneous electrical nerve stimulation
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INTRODUÇÃO
A dor na região lombar é reconhecida como um problema de saúde pública mundial
que atinge aproximadamente 80% da população global (MILLER et al., 2013). Atualmente,
observa-se no cenário mundial a prevalência da dor de origem musculoesquelética definida
como dor lombar de origem mecânica ou inespecífica, pois não apresenta uma etiologia
completamente identificável sendo então atribuída a disfunções biomecânicas (ALSCHULER
et al., 2009). Nela ocorre um desequilíbrio entre a carga funcional, que seria o esforço para
executar atividades de vida diária e a capacidade funcional (KARAYANNIS; JULL;
HODGES, 2012). Praticantes de atividade física também são alvos da dor lombar uma vez
que a intensidade do treino, movimentos rotacionais associados a extensão da coluna lombar,
como acontece no jiu-jitsu, são fatores que predispõem ao aparecimento da dor (CHIMENTI;
SCHOLTES; VAN DILLEN, 2013).
Na tentativa de organizar as propostas de tratamento da dor lombar Delitto et al.
(1995) propuseram um sistema de classificação em subgrupos baseados em condutas de
tratamento, são eles: estabilização segmentar, manipulação vertebral, tração mecânica,
exercícios direcionais e mobilização neural.
Existem diversos tratamentos não-farmacológicos, que promovem a analgesia lombar,
entre eles a estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) e a manipulação da coluna
lombar. O recurso terapêutico mais utilizado é a TENS que, apesar das evidências científicas
serem consideradas de moderada a baixa, é ainda utilizada por ser uma modalidade não-
invasiva, não-farmacológica, de baixo custo e sem efeitos colaterais (VAN MIDDELKOOP et
al., 2011; THIESE; HUGHES; BIGGS, 2013). Outro recurso é a manipulação da coluna
lombar, nesta técnica a melhora da dor é explicada pelas alterações biomecânicas geradas pelo
impulso rápido a que são submetidos. Esse impulso tem a capacidade de liberar aderências
articulares, melhorar a hidratação de discos intervertebrais e reduzir o espasmo muscular
(HARVEY; DESCARREAUX, 2013).
Além da analgesia, outra grande importância deve ser dada à coordenação e a
harmonia do movimento que está intimamente relacionada a ação equilibrada entre agonistas
e antagonistas de cada movimento executado. Arab et al (2011), concluíram que movimentos
repetitivos executados de maneira inadequada e a má postura mantida por longo tempo,
contribuem de forma efetiva para que aconteçam alterações no padrão de ativação muscular.
Esta alteração pode ser verificada durante o teste de extensão do quadril com o indivíduo na
posição pronada em que há hiperativação dos músculos eretores espinhais e um atraso na
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38
ativação do agonista do movimento testado que é o glúteo máximo(TATEUCHI et al., 2012).
Acreditamos que tanto a TENS quanto associação da TENS com a manipulação
lombar diminuirão a dor e incapacidade funcional, porém a mudança no padrão de ativação da
musculatura lombopélvica será mais proeminente no grupo submetido a associação das duas
técnicas pois a manipulação da coluna irá atuar diretamente na mecânica muscular corrigindo
as assimetrias musculares, sobretudo nos músculos espinhais, por meio da atenuação da ação
do fuso muscular e redução do reflexo de contração, levando assim a redução da atividade
eletromiográfica nestes músculos (GOSS, 2012). Neste contexto o presente estudo avaliará o
efeito da TENS e da TENS associada a manipulação vertebral no alívio da dor, na
incapacidade funcional e na atividade muscular lombopélvica de lutadores de jiu-jitsu com
dor lombar crônica.
MÉTODOS
Sujeitos
Um ensaio clínico randomizado unicego foi realizado para verificar o efeito das
técnicas analgésicas para dor lombar crônica no alívio da dor, na incapacidade funcional e na
atividade muscular lombopélvica de lutadores de jiu-jitsu. Um estudo piloto, analisando a
diferença do RMS de glúteo máximo pré e pós intervenção, foi realizado com 3 lutadores com
dor lombar para estimar o tamanho da amostra. Uma amostra com 4 lutadores em cada grupo
foi determinada, pelo cálculo amostral, para alcançar um poder de 90% e de 0,05.
Um total de 12 lutadores de jiu-jitsu, com queixa de lombar crônica inespecífica, com
idade entre 20 a 45 anos, ausência de cirurgia prévia e fraturas da coluna vertebral, doenças
neurológicas, neoplasias, osteoporose, osteoartrose avançada e síndrome da cauda equina
foram incluídos no estudo. Os lutadores foram, randomizados aleatoriamente em 2 grupos: no
grupo 1 (G1) os lutadores foram submetidos a aplicação da TENS e no grupo 2 (G2) foi
utilizada a TENS associada à manipulação da coluna lombar. Porém, 2 foram excluídos após
a coleta dos dados, sendo um deles por desistência e o outro foi excluído devido à presença de
um sinal eletromiográfico muito baixo, próximo ao sinal coletado em repouso.
Acreditamos que o excesso de tecido adiposo na região lombar tenha contribuído para
a redução do sinal uma vez que o tecido gorduroso representa uma das formas de matéria que
oferecem impedância, diminuindo assim a captação do sinal eletromiográfico (BASMAJIAN;
DE LUCA, 1985). Os grupos foram submetidos a 10 sessões de tratamento com uma média
de 30 minutos de duração e frequência de duas vezes por semana. O recrutamento, alocação e
seguimento dos indivíduos neste estudo estão especificados seguindo as recomendações do
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39
Consolidated Standards of Reporting Trials (CONSORT) (MOHER, SCHULZ, ALTMAN,
2001), demonstrado na figura 1.
Figura 1 - Fluxograma para elaboração do ensaio clínico
Em G1 a média de idade dos lutadores foi de 33 anos (±2,5), IMC = 26,06 kg/m2
(±1,34), e em G2 a média de idade foi de 29 anos (±10), IMC = 25,66 kg/m2 (±1,91).
De acordo com as normas e preceitos adotados nas pesquisas realizadas com seres
humanos, este estudo foi encaminhado e aprovado pelo Comitê de tica em esquisa CE
da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (Resolução CNS N° 466/2012), conforme
parecer 1.075.067/2015. O estudo foi submetido no Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos
(ReBEC) em 07/07/2016 e encontra-se em processo de autorização.
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Avaliação clínica
A rotina inicial para ambos os grupos incluiu uma avaliação clínica contendo
informações pessoais, história pregressa da dor lombar, coleta dos dados antropométricos,
mensuração da dor e a avaliação da incapacidade funcional.
O instrumento utilizado para mensurar a dor foram a Escala Visual Analógica (EVA)
que é um instrumento simples, sensível e reprodutível, permitindo análise contínua da dor,
que consiste em uma linha reta, não numerada, indicando-se em uma extremidade a marcação
de "ausência de dor' e na outra, "pior dor imaginável" (HJERMSTAD et al., 2011) e no verso
uma régua graduada de zero a dez, em que o zero significa ausência de dor e dez, a pior dor
imaginável.
A incapacidade funcional é diretamente quantificada por meio do Índice de
Incapacidade Funcional de Oswestry (ODI), que foi desenvolvido por John O’Brien em 1976
e publicado em 1980 (FAIRBANK; PYNSENT, 2000), traduzido e validado para a língua
portuguesa (VIGATTO; ALEXANDRE; FILHO, 2007). É um questionário confiável e
consiste em dez itens que referenciam o estado funcional do paciente e cada item contém seis
declarações, o índice é calculado somando-se o escore total (cada seção vale de zero a cinco)
e o total equivale à soma dos pontos das 10 seções. A interpretação é realizada por meio de
porcentagem onde 0-20% incapacidade mínima, 21% a 40% incapacidade moderada, 41% a
60 incapacidade severa, 61% a 80% invalidez, 81% a 100% paciente acamado.
Avaliação eletromiográfica
Para obtenção do sinal eletromiográfico foi utilizado um aparelho de 8 canais
(Modelo: EMG830C, EMG System do Brasil Ltda, São José dos Campos, São Paulo, Brasil),
o sinal captado pelos eletrodos foi amplificado 2000 vezes.
A colocação e posicionamento dos eletrodos circulares seguiu as orientações do
protocolo SENIAM (HERMENS et al., 2000) que determina que previamente à colocação dos
eletrodos (Ag/AgCl) deve ser realizada a tricotomia dos pelos, desengorduramento da pele,
abrasão com uma lixa fina e nova limpeza com álcool e posteriormente a fixação dos
eletrodos.
Para o eretores da coluna lombar contralateral (EC) e ipsilateral (EI) a perna testada os
eletrodos foram posicionados à 2 centímetros do processo espinhoso de primeira vértebra
lombar (L1); para glúteo máximo ipsilateral (GM) a perna testada os eletrodos foram
posicionados no ponto médio da linha entre o grande trocanter do fêmur e a segunda vertebra
sacral (HERMENS et al., 2000), o eletrodo referência foi posicionado no dorso da mão. A
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41
distância entre os eletrodos foi de 2 cm de centro a centro. Foi realizada uma coleta em
repouso para verificar a presença de ruídos e o valor limite do Root Mean Square (RMS) de
todas as coletas foi de até 2 mV.
Os lutadores permaneceram em decúbito ventral com seus braços ao longo do corpo,
cabeça posicionada na linha média e pés fora da maca. Foram instruídos por meio de um
comando de voz gravado previamente, para executar o movimento de extensão do quadril, em
velocidade normal até que a porção distal do membro inferior dominante tocasse a barra
posicionada para que o movimento não ultrapassasse 10 graus de amplitude, ao atingir a barra
o lutador manteve esta posição por 4 segundos e retornava para posição inicial. Cada lutador
repetiu 3 vezes o teste de extensão do quadril e o sinal eletromiográfico foi coletado a cada
repetição (Figura 2).
Tanto a avaliação da dor quanto a eletromiografia foram coletados em 3 momentos:
antes da intervenção (M1), imediatamente após a intervenção (M2) e após 10 sessões de
tratamento (M3). O ODI foi aplicado somente nos momentos M1 e M3.
Foi realizada uma coleta da contração isométrica voluntária máxima (CIVM) de cada
músculo por meio do teste de força muscular manual segundo Kendall et al.(1995) sendo que
durante os testes de força o lutador foi devidamente posicionado e estabilizado e o valor da
RMS da CIVM foi utilizado para o procedimento de normalização dos dados. Este método
apresenta uma medida de alta confiabilidade para determinar diferenças na amplitude de
ativação muscular, quando comparada a outros métodos de normalização (BOLGLA; UHL,
2007).
Figura 2 – Teste de extensão do quadril Fonte: Arquivo pessoal
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Intervenção
A TENS foi aplicada em ambos os grupos por meio de um equipamento Neurodyn
portátil de TENS/FES (Estimulação elétrica funcional) da marca Ibramed (Brasil),
previamente calibrado pelo fabricante. O equipamento foi registrado na Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) sob o protocolo 10360310012.
A modalidade de aplicação da TENS escolhida para o estudo foi o modo acupuntura,
ou seja, uso de frequência baixa (4Hz), largura de pulso alta (250us) e intensidade alta
(suficiente para gerar abalos musculares visíveis porém confortáveis) e a corrente foi aplicada
durante 20 minutos (LIEBANO et al., 2011) na disposição tetrapolar sobre a região lombar.
Foram utilizados eletrodos à base de borracha carbonada, umedecidos com gel de
acoplamento e fixados na pele da região lombar por meio de esparadrapos antialérgicos.
Para o G2 foi associada a manipulação da coluna lombar, realizada da seguinte forma:
o lutador foi posicionado em decúbito lateral com o joelho flexionado e aduzido além da linha
média, o fisioterapeuta realizou o contato com a mão ativa (mão que manipula) na região
glútea e a mão de apoio estabilizou o ombro. A mão ativa realizou a rotação da coluna lombar
de maneira precisa, em alta velocidade e baixa amplitude enquanto a outra mão somente
estabilizou o movimento do ombro (GOERTZ et al., 2013). A manipulação foi realizada
imediatamente após a aplicação da TENS.
Análise estatística
Para avaliar o efeito da TENS e da TENS associada a manipulação lombar para o
tratamento da dor lombar crônica de lutadores de jiu-jitsu, foram definidas como variáveis
independentes os Grupos (G1 e G2) e os 3 momentos da avaliação (M1, M2 e M3) e como
variáveis dependentes os valores da EVA, ODI e da RMS.
Na avaliação do efeito analgésico foi realizado o cálculo da diferença entre os
momentos M1, M2 e M3, sendo considerado o efeito imediato pela diferença entre o M1 e
M2; a manutenção do efeito pela diferença entre M2 e M3 e o efeito após as 10 sessões pela
diferença entre M1 e M3. Os valores negativos representam o aumento da dor e os valores
positivos a redução da dor.
Para quantificar a magnitude do efeito (Effect Size) do tratamento foi calculado o
Cohen’s d tanto para o desfecho principal RMS dos músculos avaliados), quanto para os
desfechos secundários (EVA e ODI). Nesta análise foram considerados os valores da
diferença entre os momentos M1 e M3 para os grupos G1 e G2.
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O teste de Shapiro-Wilk foi aplicado para verificação da normalidade da amostra,
apenas os valores da EVA, ODI e RMS do glúteo máximo não apresentaram distribuição
normal.
Para as análises intragrupos os valores do RMS dos músculos eretores contralateral e
ipsilateral foram submetidos ao teste T de Student para amostras pareadas. Os valores da
EVA, ODI e RMS do glúteo máximo foram submetidos ao teste de Wilcoxon. Para a análise
intergrupos dos eretores contralateral e ipsilateral foi utilizado o teste T de Student para
amostras independentes. Os valores da EVA, ODI e RMS do glúteo máximo foram analisados
pelo teste U de Mann-Whitney. O nível de significância adotado para todos os testes foi de
5%.
RESULTADOS
Avaliação da dor
Análise intragrupos: Para ambos os grupos houve redução significativa da dor da
avaliação pré intervenção (M1) para a imediatamente após (M2). Na avaliação após as 10
sessões (M3), para o G1 houve aumento da dor e para o G2 houve redução da dor em relação
ao M2. Para ambos os grupos houve redução significativa d