avaliacao do efeito farmacologico - tcc...
TRANSCRIPT
AVALIAÇÃO DO EFEITO FARMACOLÓGICO DO CREME PRODUZIDO COM
EXTRATO DAS FOLHAS DE ERVA MATE (Ilex paraguariensis A St. Hillare), EM
SUTURAS DE VASECTOMIA EXECUTADA EM BEZERROS
PHARMACOLOGICAL EVALUATIONS AND EFFECT OF THE CREME PRODUZE
WITH EXTRACT FROM THE LEAVES OF YERBA MATE (Ilex paraguariensis A St.
Hillares), IN VASECTOMY SUTURES PERFOMED IN CALVES
Schayana de Oliveira Maciel¹ e Roseli Aparecida de Mello²
¹ Acadêmico do Curso Superior de Tecnologia em Bioprocessos e Biotecnologia,
Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba-Pr, Brasil.
² Mestre em Processos Biotecnológicos. Professora. Orientadora e Adjunto da Faculdade de
Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba-Pr, Brasil.
Endereço eletrônico para correspondência: Roseli Aparecida de Mello, [email protected].
2
Resumo
A uma grande variedade de plantas com um imenso potencial medicinal agregado. Das quais
a planta erva mate possui inúmeras propriedades farmacológicas e é considerada uma planta
quase que completa como efeitos medicinais, isso se da em sua maioria aos seus compostos
bioativos. Dentre seus benefícios está a atividade cicatrizante, onde pesquisas tem-se
intensificado no tratamento com produtos naturais e atividade antimicrobiana, que através de
experimentos realizados “in vitro” dentro da Universidade nos trouxeram resultados
satisfatórios. Estudos indicam que em incisões cirúrgicas de animais, mesmo com assepsia no
pós operatório, podem ocorrer infecções provocadas por microrganismos. Com isso, apartir
destes dados foi proposto e realizado um teste “in vivo”, onde o objetivo do presente trabalho
foi verificar a ação cicatrizante e antimicrobiana do creme produzido com extrato bruto
hidroalcoólico com folhas in natura da erva mate em suturas de vasectomia de bezerros em
comparação ao uso do Bactrovet (produtos controle).
Palavra-chave: ação cicatrizante; ação antimicrobiana; suturas; deiscência de sutura.
Summary
A wide variety of plants with an immense potential medicinal aggregate. Of which the yerba
mate plant possess many pharmacological properties and is considered a plant almost
complete as medicinal purposes, this is mostly to all its composed bio-actives. Among its
benefits is the cicatrisive activity, where research has been intensified in the treatment with
natural products and antimicrobial activity, which through experiments performed "in vitro"
inside the University, brought us satisfactory results. Studies indicate that in surgical incisions
of animals, even with aseptic post-operative infections may occur caused by micro-organisms.
With this, since these data was proposed and carried out a test "in vivo", where the aim of the
present study was to verify the action scarring and antimicrobial cream produced with crude
extract with Sanitizer hydro alcoholic gel sheets in nature yerba mate in sutures of vasectomy
calves compared to using Bactrovet (control products).
Keyword: cicatrisive action; antimicrobial action; sutures; suture dehiscence.
3
1. INTRODUÇÃO
O Brasil abriga mais de 55 mil espécies de plantas nativas, aproximadamente um quarto
de todas as espécies conhecidas. Destas, 10 mil podem ser consideradas aromáticas e úteis
para a saúde humana e animal com o uso medicinal. Alem de serem usados na indústria
química, alimentícia e farmacêutica, entre outras. Segundo pesquisas, o mercado mundial de
produtos farmacêuticos, cosméticos e agroquímicos soma aproximadamente U$ 400 bilhões
ao ano, o que dá a dimensão da enorme oportunidade existente para os produtos brasileiros. O
Brasil detém mais de 20% da biodiversidade mundial das espécies vegetais, animais e de
micro-organismos. A biota brasileira - total de espécies conhecidas e não conhecidas foi
estimada entre 1,4 a 2,4 milhões de espécies. Apesar do crescente interesse internacional pela
megabiodiversidade brasileira, sabemos que ela por si só não é garantia de crescimento
econômico, tampouco de desenvolvimento sustentável. No entanto, espera-se que o país, além
de importante exportador de matéria-prima, se converta no protagonista de uma nova
economia mundial, a da biotecnologia.
A utilização das plantas como uso medicinal é antiga, bem como a preocupação na cura de
doenças ao longo da historia da humanidade e até os dias atuais. Isso porque as plantas
apresentam propriedades terapêuticas ou toxicas, onde vêm adquirindo fundamental
importância na medicina popular (ALONSO, 1999). No entanto, muitas plantas são utilizadas
sem nenhuma evidência científica de sua eficácia terapêutica (CAMARGO, 2010). Por este
fato inúmeras plantas e seus derivados com grande potencial medicinal vêm sendo estudado,
mas ainda é um grande desafio para as áreas de pesquisas envolvidas.
Segundo Barbosa et al. (2009) o própolis esta ligada a varias ações com efeito medicinal,
entre elas nas atuações relacionadas a cicatrização e ação antimicrobiana. Já a planta erva
mate é rica em compostos bioativos (HECK e MEJIA 2007), que dentre eles esta os
alcalóides, cafeína, teobromina e teofilina, taninos, flavonóides e várias saponinas, onde a
maior concentração de cafeína encontra-se em suas folhas (LORENZI e MATOS, 2002). Suas
propriedades farmacológicas têm sido muito estuda e demonstram ter ações terapêuticas
descritas pela medicina popular para o tratamento de artrites, reumatismo, doenças hepáticas e
gastrointestinais, diurético, além de ser estimulante do sistema nervoso central, também
possuem funções biológicas, tais como ação antioxidante, antiinflamatória, imunomodulatória
e anticancerígena (CAMARGO, 2010). Com isso, esta planta acaba sendo uma planta quase
que completa como efeitos medicinais.
4
Da Croce e Floss (1999), explica que a planta erva mate (Ilex paraguariensis A St. Hil.)
pertence à família Aquifoliaceae, que esta representada por aproximadamente 600 espécies,
sendo que 400 pertencem ao gênero Ilex. Atualmente no Brasil são encontradas
aproximadamente 60 espécies (paraguariensis) desta família (CANSIAN, 2008). É
considerada cosmopolita, ocorrendo principalmente no Sul da America e com grande
importância na área de bebidas por infusão (CARVALHO, 1994). Um dos primeiros estudos
brasileiros com a erva-mate descrita por Joaquim Monteiro Caminhoá (1877 e 1884) mostrou
que sua composição química é complexa, o que acaba sendo alvo de novos estudos e grandes
descobertas.
A erva mate possui muitas propriedades farmacológicas já descritas anteriormente,
destacando a atividade antiinflamatória, cicatrizante, antioxidante e diurética (DICKEL et al.,
2007 e GONÇALVES et al., 2005), alem do potencial antimicrobiano
(HONGPATTARAKERE & JONHSON, 1999) estudado em trabalhos científicos realizados
in vitro, trazendo assim muitas perspectivas.
De acordo com Roush (1996) nas incisões ocasionadas nas cirurgias em animais, mesmo
com assepsia no pós operatório, pode ocorrer infecções provocadas por microrganismos.
Fatores estes que se não tratados levam a um quadro onde a cicatrização não acontece ou até
mesmo a disseminação do agente infeccioso por todo o organismo, levando-o ao
comprometimento do organismo ou a sua morte.
Com relação à cicatrização de feridas, que é um processo fisiológico que envolve reações
químicas, físicas e biológicas. O tratamento tem-se intensificado em pesquisas com produtos
naturais no auxilio de cicatrizações, um exemplo é o óleo de copaíba (CORRÊA, 1984;
EURIDES & MAZZANTI, 1995) e a papaina (SANCHEZ NETO et al., 1993). Com isso, as
propriedades farmacodinâmicas dos produtos naturais vêm sendo testadas, com intuito de
auxiliar no processo de reparação tecidual (REYNOLDS & DWECK, 1999, KILIÇ, 2005).
Vários estudos utilizando fitoterápicos demonstram efeitos terapêuticos em animais, entre
eles podemos destacar o uso da erva mate (Ilex paraguariensis), pois a mesma demonstra
potencial farmacológico para uso em humanos e animais, com este intuito foi proposto um
experimento utilizando uma formulação à base de creme produzido com extrato bruto
hidroalcoólico das folhas in natura da erva mate, onde este foi utilizado nas suturas do saco
escrotal de bezerros resultantes de uma vasectomia, para determinação de uma possível ação
cicatrizante e antimicrobiana da planta em teste “in vivo” e assim contribuir com os estudos
na procura de produtos mais eficientes que não agridam o animal e nem o meio ambiente.
5
2. MATERIAL E MÉTODO
2.1. Obtenção do extrato
O extrato bruto hidroalcoólico das folhas in natura da erva mate (Ilex paraguariensis
A St. Hil.), foi produzido em trabalhos anteriores de TCCs, por alunos do curso de
Bioprocessos e Biotecnologia da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). As folhas de erva
mate foram colhidas de um erval nativo da região de Imbituva do estado do Paraná. As
mesmas passaram pelo processo de extração dos compostos descrito na farmacopéia brasileira
e em seguida realizou-se a liofilização até obtenção do extrato bruto em pó.
2.2. Preparo do creme
O creme foi produzido no laboratório de Farmacotécnica da UTP com auxilio da
Professora, Mestre e Farmacêutica Neiva Cristina Lubi, onde produziu-se 49,35 gramas de
produto. A formulação seguiu descrições da Farmacotécnica, que foi elaborado com a
incorporação da fase oleosa (6% de Cera Lanete, 2,5% de Óleo Animal e 0,025% de Nipazol)
com a fase aquosa (0,05% de Nipagin, 2,5% de Propilenoglicol e 38 gramas de água destilada
(q.s.p.)). Em seguida foram adicionados 6% do extrato bruto hidroalcoólico das folhas in
natura de erva mate para obtenção do produto final.
2.3. Animais
Com a colaboração da Professora e Medica Veterinária Elza Maria Galvão Ciffoni da
UTP, que nos cedeu os animais bem como o espaço para o experimento. Foram utilizados
dois Bezerros denominados conforme brinco de identificação como 06 com 123 kg e 05 com
128 kg, da espécie dos bovinos, ambos da raça Holandês Preto e Branco (HPB) que habitam a
Fazenda Pé da Serra da UTP, localizada na região de São José dos Pinhais, Pr. Na clínica da
fazenda, estes animais passaram pelo procedimento cirúrgico de vasectomia descrito por
STEINACH (1927) e depois por THARP (1955), realizado pelos Médicos Veterinários
Residentes Liedge Camila e Fernando Augusto Sella e pelos alunos do 9° período do curso de
Medicina Veterinária (2012/1) da UTP.
2.4. Aplicação dos produtos
Logo após o procedimento cirúrgico as suturas foram avaliadas para determinar seus
aspectos e tamanhos iniciais, onde fizemos o uso de um paquímetro e visualização a olho nu
para posteriormente à aplicação dos produtos. Como foram realizadas duas suturas em cada
6
animal, na visualização foi observada a deiscência da sutura do lado direito em ambos e que
esse rompimento da sutura no animal 05 ficou mais exposta. Ambos os animais submeteram-
se a aplicação do creme com erva mate produzido e Bactrovet® prata spray Koing 500 ml
(Larvicida, Bernicida, Repelente, Cicatrizante, Antisséptico e Hemostático que é usualmente
utilizado no pós operatório). Nas suturas onde ocorreu a deiscência foi administrado o creme
com erva mate e as suturas sem rompimento o Bactrovet®. No animal 05 foram
administrados os produtos tópicos duas vezes ao dia e no animal 06 uma vez ao dia. O
experimento ocorreu durante vinte e cinco dias, que subdividiram-se em duas etapas, a
primeira com onze dias de aplicação dos produtos tópicos junto com medicamentos injetáveis
(antibiótico Tylan 200 6 ml e antiinflamatório Flunamine 3 ml, ) administrados uma vez ao
dia durante sete dias e a segunda com treze dias, onde houve apenas a limpeza do local com
Clorexidina 2% por cinco dias e aplicação dos produtos tópicos. As medições e avaliações das
suturas foram realizadas três vezes a cada etapa. Todos os procedimentos e aplicações dos
antibióticos e produtos tópicos foram executados e acompanhados pelo Medico Veterinário
Residente Lucas Lleco e a Técnica de veterinária Maria Aparecida Weidlich Souza.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Este estudo avaliou o possível efeito cicatrizante e antimicrobiano do creme com erva
mate em procedimento de vasectomia em bezerros. Os animais utilizados neste estudo foram
animais do plantel de animais da Fazenda Escola do curso de Medicina Veterinária da
Universidade Tuiuti do Paraná.
Uma vez escolhido o local e animal, optou-se em realizar o teste em suturas de vasectomia
que consiste na remoção bilateral do segmento de cada ducto deferente localizado no saco
escrotal do órgão reprodutor do animal. Este procedimento é comumente utilizado em aula
prática com a turma de Alunos do Curso de Medicina Veterinária da Tuiuti, otimizando assim
o uso dos animais em experimentos “in vivo”. Para o experimento foi utilizado dois animais
do agropastoril, da espécie dos bovinos (chamados neste trabalho de animal 5 e animal 6,
conforme o brinco de identificação de cada um). Para o teste, o creme com erva mate foi
administrado em suturas após o procedimento cirúrgico de vasectomia. O procedimento
cirúrgico foi realizado em ambos os lados da bolsa escrotal dos animais, onde teve a
participação dos alunos de medicina veterinária, que realizaram a cirurgia no lado direito do
saco escrotal e dos residentes de medicina veterinária que realizaram no lado esquerdo em
ambos os animais.
7
Ao iniciar o experimento, foi analisada a deiscência das suturas no lado direito do saco
escrotal de ambos os animais, ou seja, ocorreu a abertura das suturas cirúrgicas e/ou ruptura
dos pontos, havendo a separação das bordas dos tecidos que foram unidos por pontos. Este
fato pode ter ocorrido por interferências técnicas.
Também foi observado que no animal 05 com a ruptura dos pontos, a sutura ficou
mais exposta, sendo determinado através desta observação que o creme com erva mate e o
Bactrovet® neste animal seriam aplicados duas vezes ao dia, já no animal 06 apenas uma vez
ao dia. Também decidiu-se que nas deiscências das suturas (lado direito do saco escrotal)
seria aplicado o creme de erva mate e no lado esquerdo o Bactrovet® (medicamento
comercial) nas suturas sem seu rompimento (lado esquerdo do saco escrotal) dos animais.
Com isso iniciou-se o experimento, onde seguiram-se os parâmetros de aplicação dos
produtos injetáveis e tópicos, analises e medições, conforme demonstrado na tabela 1.
Mesmo com aplicação dos produtos tópicos e injetáveis, no quarto dia no animal 05
foi detectado o aparecimento de secreção o que indicava um foco inflamatório, já no animal
06 este apareceu no décimo primeiro dia, conforme demonstra a figura 07. É possível
observar nas figuras 01, 07 e 08 que houve um processo inflamatório no lado direito de ambos
os animais, comprometendo o experimento nos animais. Esta inflamação pode ter ocorrido
por problemas técnicos no momento da cirurgia (assepsia incorreta do animal e cirurgiões,
despreparo, falta de cuidados e indumentária correta, entre outros) e até mesmo pela falta de
cuidados no pós operatório (local adequado de instalação dos animais, manuseio das suturas,
entre outros). Estes produtos que foram administrados não indicam que não ocorrerá
inflamação ou infecção, pois se é necessário que todo processo seja bem executado para um
experimento satisfatório. E mesmo na ferida limpa o pico da resposta inflamatória pode
aparecer em cerca de três a quatro dias (BANKS, 1992) e fatores celulares são responsáveis
por sua eliminação.
Na ocorrência do foco inflamatório nas deiscências das suturas e sem sua diminuição,
foi necessário realizar um novo procedimento com critérios diferentes para obtenção de
resultados. Esta nova etapa deu inicio no décimo segundo dia, onde foi realizado somente a
limpeza do local das suturas abertas e aplicação dos produtos tópicos uma vez ao dia em
ambos os animais. Nesta limpeza foi utilizado o Clorexidina 2% (anti-séptico químico, com
ação antifúngica e bactericida, elimina todas as bactérias e inibe sua proliferação) por quatro
dias, produto usado na medicina veterinária para limpeza de regiões infeccionadas ou com
foco inflamatório e no pré e pós operatório. Apartir desta segunda etapa começou-se uma
nova avaliação para determinar os possíveis efeitos farmacológicos do creme com erva mate.
8
Com a realização de uma nova etapa foi possível verificar e analisar, que a aplicação
do creme com erva mate nas deiscências das suturas foi eficaz, ocorrendo com mais rapidez à
cicatrização por segunda intenção (figura 02, 03, 08, 09, 10 e 11), esta que ocorreu devido à
ruptura dos pontos, não sendo possível a junção do tecido implicando no reparo tecidual.
A cicatrização por segunda intenção acontece quando ocorre à perda de tecido das
feridas e as extremidades das peles ficam distantes umas das outras, sendo necessária
formação de tecido de granulação até que a contração e epitelização aconteçam. Esta
cicatrização é complicada e demorada, sem os cuidados específicos podem ocorrer defeitos
cicatriciais. É importante ressaltar que uma série de agentes tópicos, tais como anti-sépticos,
antibióticos e curativos exercem algum efeito no local da ferida, sendo em alguns casos tão
adversos que prejudicam a cicatrização.
Nas suturas sem o rompimento dos pontos com uso do Bactrovet®, a cicatrização foi
normal, ocorrendo dentro dos quinze aos vinte e dois dias. Através das medições e
visualizações realizadas nas suturas com uso de Bactrovet® e o creme com erva mate,
puderam ser observadas diferenças e alterações, conforme descrito na tabela 1 e nas figuras
abaixo:
Tabela 01: Avaliação do efeito cicatrizante e antimicrobiano do creme com erva mate com
relação ao Bactrovet®, administrados nas suturas de vasectomia dos bezerros.
Bactrovet® Creme com
erva mate
Bactrovet® Creme com
erva mate
1° 40 mm/ 0% 40 mm/ 0% 21 mm/ 0% 70 mm/ 0%
8° 34 mm/ 15% 39 mm/ 2,5% 15 mm/ 28,5% 50 mm/ 28,5%
1°
ETAPA
em dias 11° 30 mm/ 25% 13 mm/ 38% 47 mm/ 33%
14° 23 mm/ 42,5% 10 mm/ 52,3% 47 mm/ 32,8%
18° 18 mm/ 55% 21 mm/ 47,5% 8 mm/ 61,9% 45 mm/ 35,7%
20° 14 mm/ 65% 12 mm/ 70% 7 mm/ 66,6% 22 mm/ 68,5%
2°
ETAPA
em dias
25° 0 mm/ 100% 0 mm/ 100% 0 mm/ 100% 0 mm/ 100%
Legenda: a tabela mostra as medições realizadas em três dias de cada etapa nas suturas com uso dos produtos
tópicos Bactrovet® e o creme com erva mate nos dois animais. Os resultados estão expressos em milímetros
convertidos em porcentagem. No 11° e 14° dia do experimento no bezerro 05, não foi possível realizar as
medições pela presença do foco inflamatório, inviabilizando a medição da sutura.
9
As figuras abaixo mostram com detalhes e especificam os dados mais importantes do
experimento e descritos neste trabalho.
Figura 01: 8° dia/ animal 05 Figura 02: 13° dia/ animal 05
Fig. 03: 20° dia/ animal 05/ sutura uso do Figura 04: 25° dia/ animal 05
creme com erva mate
Figura 5: 1° dia/ animal 06 Figura 06: 8° dia/ animal 06
10
Figura 07: 11° dia/ animal 06/ sutura uso do Figura 08: 14° dia/ animal06/ sutura uso do
creme com erva mate creme com erva mate
Figura 09: 18° dia/ animal 06/ sutura uso Figura 10: 20° dia/ animal 06/ sutura uso do
do creme com erva mate creme com erva mate
Figura 11: 25° dia/ animal 06
O processo de cicatrização ocorre para restaurar integridade anatômica e funcional do
tecido. Isso se da à resposta tecidual à lesão, processo de reparação tecidual ao qual é divido,
de modo geral, em três fases: 1° a inflamação, 2° formação do tecido de granulação com
deposição de matriz extracelular e 3° remodelação.
Este processo não é um processo degenerativo, nem neoplásico, logo se enquadra no
processo inflamatório, que quando iniciado é apenas um mecanismo de defesa contra um
agente agressor, simultaneamente, também se dá início aos mecanismos desencadeadores de
11
cicatrização e regeneração, quer dizer, a inflamação vai evoluir de forma distinta, no que diz
respeito à regeneração e à cicatrização (Schimitt, 2006). E se a lesão tecidual for extensa,
também pode ocorrer sua reparação por cicatrização, dependendo da intensidade da agressão.
Conforme demonstrou a tabela e as figuras, na primeira etapa não pode ser observada
ação farmacológica esperada do creme com erva mate em comparação ao Bactrovet utilizado
normalmente em suturas e feridas de animais, devido ao comprometimento do experimento
causado pelo foco inflamatório, mostrando somente ação significativa para o Bactrovet. Na
segunda etapa com a limpeza e aplicação dos produtos tópicos nos animais, pode ser
observado e determinado que o creme com erva mate possui propriedades de cicatrização
positiva em deiscência de suturas. Com aplicação do Bactrovet o efeito foi o esperado para
este produto.
Com relação à atividade antimicrobiana, na primeira etapa não pode ser observado
nenhuma ação do creme com erva mate pelo fato do aparecimento da inflamação, mas no uso
do Bactrovet foi positivo, sem o aparecimento de infecção ou inflamação. Já na segunda
etapa, houve uma regressão no processo inflamatório no local onde foi utilizado o creme com
erva mate, sendo possível propor que houve uma ação antimicrobiana, inibindo microbiota
oportunista bem como um elevado processo de cicatrização, sem qualquer vestígio de
infecção. No lado onde foi utilizado o Bactrovet, como cicatrizante sua reação foi idêntica à
primeira etapa. Ambos os produtos tópicos tiveram ação positivas esperadas. Com os
resultados encontrados é possível propor que o creme com erva mate demonstrou um possível
potencial de ação cicatrizante e antimicrobiano neste experimento. Pois somente com a
limpeza do local da sutura de ambos os animais e aplicação do creme com erva mate, não
surgiu qualquer foco de infecção ou inflamação. Com a aplicação do Bactrovet foi observado
ação esperada para este produto.
Este estudo veio confirmar o grande potencial medicinal da planta erva mate. Mas nos
dias de hoje, está havendo um crescente interesse em produtos medicinais naturais. Um
exemplo é a Quinabra (Química Natural Brasileira Ltda.), que desenvolveu uma pomada anti-
séptica e cicatrizante (Creamex®) de origem orgânica natural (fitoterápica), que aproveita de
forma sinergética a associação biológica do CITREX-líquido (extrato cítrico), considerado
bacteriostático e fungistático, com o extrato de confrei, considerado cicatrizante e regenerador
da pele. Além desses componentes, a pomada tem como coadjuvantes o óleo de fígado de
bacalhau, o óxido de zinco e um veículo inerte (QUINABRA, 1998). A confrei (Symphytum
officinale), é uma planta com propriedades anti-séptica, bactericida e fungicida e, em menor
grau, antiinflamatória, antipruriginosa, cicatrizante e emoliente (TIAGO, 1995). O suco
12
extraído de suas raízes pode ser utilizado, externamente, como detergente e calmante de
feridas, tumores, inchaços e contusões (MORGAN, 1979). Também podemos citar o óxido de
zinco, componente de muitas pomadas, pós, pastas e loções dermatológicas, tendo
basicamente quatro propriedades no tratamento de lesões cutâneas: proteção, leve
adstringência, fraco poder anti-séptico e ausência de toxicidade (BOOTH, 1977). Swaim
(1980) afirmou que os resultados dos efeitos do sulfato de zinco em feridas são variáveis e
quando foi usado topicamente para tratar ulcerações crônicas da perna não melhorou a
cicatrização.
4. CONCLUSÃO
Os resultados obtidos nas condições experimentais do presente estudo permitem concluir
que:
- o creme fitoterápico produzido a base de extrato bruto hidroalcoólico das folhas in natura da
erva mate, pode demonstrar uma possível melhora na cicatrização de suturas cirúrgicas de
vasectomia bovina após ao 14° dia mesmo com processo inflamatório.
- o creme fitoterápico sugere possível ação antimicrobiana, tendo em vista que o tempo da
cicatrização a partir da segunda etapa foi muito menor que o esperado. Demonstrando que
devido a sua ação, chegou-se a inexistência de infecção ou inflamação.
- o creme fitoterápico de erva mate demonstrou possível efeito benéfico na fase inflamatória e
na fase de reparação tecidual.
- após a realização de outros testes e comprovação de seus efeitos, os fitoterápicos de erva
mate podem ser utilizados no tratamento tópico de feridas na espécie bovina.
A planta erva mate em trabalhos anteriores “in vitro”, demonstrou ação antimicrobiana
para patógenos oportunistas.
Novos experimentos como este realizado e o fracionamento do extrato de erva mate para
identificação de quais compostos estão associados deverão ser realizados, para comprovar o
efeito cicatrizante e ação antimicrobiana em patógenos oportunistas de bovinos.
5. AGRADECIMENTOS
Agradeço a professora Neiva Cristina Lubi por disponibilizar seu tempo e laboratório para
elaboração do composto ativo, a professora e veterinária Elza Maria Galvão Ciffoni pela
disposição do local e animais para o experimento, pelo Lucas Lleo residente de medicina
13
veterinária e técnica de veterinária Maria Aparecida Weidlich Souza da Fazenda da Tuiuti
pela ajuda no manuseio e aplicação dos produtos nos bezerros para realização do
experimento. Agradeço também as professoras Luciana Cristina Nowacki e Roseli Aparecida
de Mello no auxilio do desenvolvimento do trabalho e a meu noivo Mauricio Miranda pelo
auxilio e paciência em todo processo de realização deste trabalho.
6. REFERENCIAS
AMORIM, M. R.; SANTOS, L. C. Tratamento da vaginose bacteriana com gel vaginal de
Aroeira (Schinus terebinthifolius Raddi): ensaio clínico randomizado. Ver. Bras. Ginecol.
Obstet. [online]. 2003, vol. 25, n. 2, PP. 95-102. ISSN 0100-7203.
HTTP://dx.doi.org/10.1590/S0100-72032003000200004.
BARBOSA, M. H.; ZUFFI, F. B.; MARUXO, H. B.; JORGE, L. L. R. Ação terapêutica da
própolis em lesões cutâneas. Acta Paul Enferm. 2009;22(3):318-22.
BERGMANN, L. K.; GONÇALVES. T. T. S.; HÖRNKE, G. A.; MUELLER, E. N.;
NOBRE, M. O. Avaliação do uso de extrato aquoso de triticum vulgare 0,2% no tratamento
da otite externa experimental. CIC 2011UFPEL.
BEZERRA, K. B.; PEREIRA, H. M.; JUNIOR, F. S. F.; SANTOS, H.P.; RODRIGUES, T. H.
C.; SOUZA, V. E. Avaliação da técnica cirúrgica de fixação da curvatura caudal de flexura
sigmoide e miectomia do músculo retrator do pênis no preparo de rufiões em bovinos. Acta
Veterinária Brasílica, v.1, n.4, p.130-136, 2007.
BLANCO, R. A. Ilex paraguariensis: a planta da Pholia Negra.
http://www.jardimdeflores.com.br/floresefolhas/A57ilexparaguariensis.htm Acesso em 29
maio 2012.
CAMARGO, E. R. Avaliação da atividade antimicrobiana dos extratos brutos, resíduos
aquosos e das frações de acetato de etila de ilex paraguariensis st. hil. (erva mate). Programa
de Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Saúde da Universidade São
Francisco. Bragança Paulista 2010.
14
DUART, M. C. T. Atividade antimicrobiana de plantas medicinais e aromáticas utilizadas no
Brasil. Unicamp, Multi Ciência, Outubro de 2006.
GALERA, P. D.; FALCÃO, M. S. A.; RIBEIRO, C. R.; VALLE, A. C. V.; LAUS, J. L.
Utilization of the aqueous extract of Triticum vulgare (BANDVET®) after superficial
keratectomy in domestic cats afflicted with corneal sequestrum. Ciência Animal Brasileira, v.
9, n. 3, p. 714-720, 2008.
GNOATTO, S. C. B.; BASSANI, V. L.; COELHO, G. C.; SCHENKEL, E. P. Influência do
método de extração nos teores de metilxantinas em erva-mate (Ilex paraguariensis a. St.-Hil.,
aquifoliaceae). Revista Química Nova vol. 30 no.2 São Paulo Mar./apr.2007.
JUNIOR, D. F.; PALHANO. G. K. P.; GALINDO, T. M.; FONSECA, W.G. Isolamento e
identificação de bactérias em feridas cirúrgicas de castração. Universidade Federal de Mato
Grosso (UFMT), Campus Sinop – MT.
LAGO, A. L. Isolamento e caracterização de microorganismos endofíticos com potencial
antibacteriano.15 p. Trabalho de Conclusão de curso (Biotecnologia)- Faculdade de Ciências
Biologicas e de Saúde, Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2010.
MACIEL, M. A. M,; PINTO, A. C.; JUNIOR, V. F. V.; GRYNBERG, N. F.;
ECHEVARRIA, A. Plantas medicinais: a necessidade de estudos multidiciplinar. Revista
Química Nova vol. 25 no. 3 São Paulo may 2002.
MANUAL DE FORMULAS PADRÕES. MANUAL DE FORMULAS.
www.farmatecnica.com.br.
MARTINS, D. R.; BORTOLUZZI, R. L. C.; MANTOVANI, A. Plantas medicinais de um
remanescente de Floresta Ombrófila Mista Altomontana, Urupema, Santa Catarina, Brasil.
Revista Brasileira de Plantas Medicinais vol. 12 no. 3 Botucatu July/sept. 2010.
MELO, S. R. Os efeitos locais e sistêmicos da vasectomia. Arq. Ciênc. Saúde Unipar,
3(1):39-42, 1999.
15
MONTES, L. V.; BROSEGHINI, L. P.; ANDREATTA, F. S.; SA, M. E. S.; NEVES, V. M.
& SILVA, A. G. (2009). Evidências para o uso do óleo-resina de copaíba na cicatrização de
ferida – uma revisão sistemática. Natureza on line 7 (2): 61-67. [on line].
http://www.naturezaonline.com.br. Acesso em 30 novembro 2011.
NAVARRO, V.; VILLARREAL, M. L.; ROJAS, G.; XAVIERB, L. (1996). Antimicrobial
evaluation of some plants used in Mexican traditional medicine for the treatment of infectious
diseases, J. of Ethnopharmacol 53(3): 143-147.
RAHAL, S. C.; ROCHA, N. S.; BLESSA, E. P.; IWABE, S.; CROCCI, A. J. Pomada
orgânica natural ou solução salina isotônica no tratamento de feridas limpas induzidas em
ratos. Ciências Rural, Santa Maria, v.31, n.6, p.1007-1011, 2001.
RIBEIRO, R. V. Influencia do sumo de Chenopodium Ambrosioides L. (erva de santa maria)
na contração de feridas cutâneas induzidas em dorso de ratos da linhagem wistar. Especialista
em Saúde Pública e Ambiental pelo UNIVAG.
SCHIMITT, F. Regeneração e Cicatrização. Aula de Biopatologia. 16 de Outubro de 2006.
SHALE, T. L.; STIRK, W. A.; VAN, S. J. (1999). Screening of medicinal plants used in
Lesotho for anti-bacterial and anti-inflammatory activity, J. of Ethnopharmacol. 67:347-354.
THARP, V. L. 1955. Vasectomy in the bull. J. Am. Vet. Med. Assoc. 126(3):194-197.
TURNER, A. S.; MCILWRAITH, C. W. Técnicas Cirúrgicas em Animais de Grande Porte.
São Paulo: Ed. Roca, 1985, p. 341.