avaliaÇÃo do adensamento urbano proposto pela lei de ... finais... · ... são porções do...

1
COEFICIENTE DE APROVEITAMENTO SKY VIEW FACTOR CONCLUSÃO GABARITO 2014, 8805 lançamentos residenciais verticais, sexto maior volu- me do Município (LONGARINE, 2017). Somado ao já consolidado processo de verticalização, a escolha da Vila Mariana parte da re- presentatividade das ZEUs, que compreendem aproximadamente 40% de seu território. As Zonas Eixo de Estruturação da Trans- formação Urbana (ZEUs) - especificadas no Plano Diretor do Mu- nicípio de São Paulo e na Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo - são porções do território articuladas com o sistema de transporte público destinadas a promover uso misto e dotadas do maior potencial construtivo previsto na cidade. É interessante notar que grande parte dos lançamentos regis- trados no recorte anteriormente mencionado não se encontram nas áreas de maior potencial construtivo previsto pelas novas le- gislações, já que foram aprovados sob influência da legislação urbanística imediatamente anterior. Essa constatação demons- tra como a atuação do mercado imobiliário e o adensamento se orientaram historicamente segundo condicionantes nem sempre relacionadas ao melhor aproveitamento do solo urbano. 2. METODOLOGIA A análise do adensamento construtivo atual e previsto no distrito da Vila Mariana compreende os dois primeiros quadrantes que orientam a Bolsa de Treinamento Técnico FAPESP em curso. O estudo pretende ir além da análise por distrito disposta em DUAR- TE; GUSSON; MADEIRA (2012) e extrair os Coeficientes de Apro- veitamento por quadra. Ao ampliar a escala de análise, é possível verificar com mais detalhe as especificidades de cada bairro, as- sim como simular com mais propriedade cenários futuros. Os dados produzidos são inéditos e foram gerados através do software de geoprocessamento QGIS 2.18.14, a partir de dados georreferenciados disponibilizados pela Prefeitura do Município de São Paulo e pelo Centro de Coleta, Sistematização, Armazena- mento e Fornecimento de Dados (CESAD - FAUUSP). 3. BIBLIOGRAFIA AMORIM, Rafael P.L; PEDROSA, Maria Luiza; CARVALHO, Homero J.M. Máscara de obstrução: uso de novas tecno- logias que facilitam a verificação da obstrução do céu visível. In: XV Encontro Nacional De Tecnologia do Ambiente Construído. Maceió, 2014. CHENG, Vicky Bo-Ki. Human perception of urban density. Department of Architecture, University of Cambridge, Cambridge. 2010. (PhD Thesis). DUARTE, D. Densidade e qualidade ambiental: o inevitável, o desejável e o possível. In: GALICIA, S.; FREIXANET, V. Habitat Sustentable. México, D.F.: UAM Azcapotzalco, 2012. p. 85-99. ELIASSON I. Urban Nocturnal Temperatures, Street Geometry and Land Use. Atmos. Environ., v. 30, p. 379-392, 1996. GUSSON, Carolina dos Santos. Efeito da densidade construída sobre o microclima urbano: construção de diferentes cenários possíveis e seus efeitos no microclima para a cidade de São Paulo. São Paulo, 2014. LONGARINE, Augusto. Caracterização da produção recente de edifícios residenciais multifamiliares na cidade de São Paulo: subsídios para estudos de desempenho térmico das unidades e de impactos na mobilidade urbana. Iniciação Científica, 2017. OKE, T. R. Boundary layer climates. London: Methuen, 1978. OKE, T.R. Canyon geometry and the nocturnal urban heat island: comparison of scale model and field observations. Journal of Climatology, 1. 1981. pp.237-254. RIBEIRO, C. A. M. ; FIDELIS, C. N ; CARVALHO, H. J. M. Fator de Visão de Céu e Ilhas de calor: Geoprocessamento aplicado ao conforto urbano. In: III Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte Nordeste de Educação Tec- nológica - CONNEPI - 2008, Fortaleza. Fortaleza, CONNEPI, 2008. ROAF, Susan. The sustainability of high-density. In: NG, Edward (ed.). Designing high-density cities for social and environmental sustainability. London: Earthscan. 2010. p. 27-37. ROGERS, R; GUMUCHDJAN, P. Cidades para um pequeno planeta. Barcelona: Gustavo Gili, 2001. SOUZA, L. C. L. Determinação e apresentação do fator de visão do céu através de um SIG 3 D. Bauru. Livre-docência – Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade de São Paulo, 2003. SOUZA, L. C. L. ; RODRIGUES, D. S. ; MENDES, J. F. G. Expandindo um SIG-D para aplicação em conforto ambiental em nível urbano. In: VII Encontro Nacional sobre Conforto no Ambiente Construído e III Conferência Latino-Ameri- cana sobre Conforto e Desempenho Energético de Edificações, 2003, Curitiba. Curitiba: ANTAC, 2003. p. 669-676. 1. INTRODUÇÃO 1.1 LPUOS 2016, adensamento e microclima urbano Nos últimos anos, a discussão acerca do adensamento e suas implicações, positivas ou não, tornou-se recorrente no debate do planejamento urbano e da sustentabilidade da ocupação urba- na no planeta. Para muitos, o adensamento é inevitável. Áreas adensadas implicam na otimização da infraestrutura urbana, na diversidade de usos e na redução dos tempos de deslocamen- to (DUARTE, 2012). O fenômeno de urban sprawl (espraiamento urbano), por outro lado, tende a onerar o orçamento das cidades (ampliando gastos com transporte de pessoas e serviços), am- pliar a pressão sobre as áreas rurais (ROGERS, GUMUCHDJAN, 2001 apud GUSSON, 2014) e torná-las energeticamente menos eficazes (ROAF, 2010). Em São Paulo, os impactos do processo de espraiamento urbano são visíveis: gigantescas áreas exclusi- vamente residenciais e supremacia do transporte individual nos deslocamentos internos. Para Duarte (2012), “é possível pensar uma São Paulo adensada, policêntrica, conectada por bons ser- viços de transporte público [...], com usos mistos em lugar das muitas áreas monofuncionais existentes”. O Plano Diretor do Município de São Paulo (Lei Municipal Nº 16.050/14) e a Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo (Lei Municipal Nº 16.402/16) respondem ao debate ao orientar, como uma de suas principais estratégias programáticas, o crescimento da cidade nas proximidades do transporte público, otimizando a ocupação das áreas no entorno de estações de trem, metrô e cor- redores de ônibus. Ao mesmo tempo, inexistem previsões do real impacto do adensamento proposto no microclima urbano, princi- palmente no que diz respeito a geometria das edificações. O adensamento afeta a UCL (Urban Canopy Layer) e consequen- temente o microclima na medida em que as superfícies urbanas tendem a absorver grande parte da radiação solar, aumentando a emissão de ondas longas (em razão da emissividade das superfí- cies e de suas temperaturas) e diminuindo a perda de radiação de onda curta (OKE, 1981). Há, assim, um acúmulo de calor sensível no tecido urbano, impactando no conforto ambiental dos espaços abertos. O fenômeno de Heat Trap - aprisionamento do calor em ambientes urbanos - é decorrência das condições atmosféricas e do desenho das cidades, podendo ser dimensionado através do conhecimento da materialidade das superfícies urbanas, sua ge- ometria e o chamado Sky View Factor - SVF (Fator de Visão de Céu - FVC, em português), já que o céu atua como importante sumidouro de calor. Oke (1978) define o SVF como “the ratio of the amount of the sky ‘seen’ from a given point on a surface to that potentially available”. Um ponto com céu totalmente desobs- truído possui SVF de 1, enquanto um ponto com céu totalmente obstruído possui SVF de 0. 1.2 Objetivo O objetivo é desenvolver, a partir de um estudo de caso, uma me- todologia para análise do adensamento construtivo atual e pre- visto na cidade de São Paulo, estabelecendo relações com o Sky View Factor (SVF) e, consequentemente, com o microclima urba- no. 1.3 Estudo de caso: Distrito da Vila Mariana O Distrito da Vila Mariana insere-se na Subprefeitura de mesmo nome, Zona Sul do Município de São Paulo. Parte do chamado centro expandido, passou por um intenso processo de verticaliza- ção residencial e comercial nas últimas décadas, principalmente ao longo das Avenidas Paulista e Vinte e Três de Maio e das Ruas Vergueiro e Sena Madureira. O distrito apresentou, entre 1985 e O cálculo do Coeficiente de Aproveitamento atual por quadra foi realizado a partir da justaposição dos shapefiles de quadras (a partir do qual extraiu-se as áreas das quadras), edificações (a partir do qual extraiu-se as áreas das projeções de cada edifica- ção, assim como seus gabaritos) e lotes (a partir do qual extraiu- -se as áreas de cada lote). Dada a impossibilidade de se analisar isoladamente cada caso, a área construída total de cada lote foi extraída a partir da fórmula abaixo, onde foi generalizado um pé- -direito de 3 metros para todas as edificações. Área Total Construída (LOTE) = Área Total das Projeções (LOTE) . Gabarito 3 A soma das Áreas Totais Construídas dos lotes inseridos em uma mesma quadra e a posterior relação com a Área Total da Qua- dra resulta no Coeficiente de Aproveitamento atual da unidade geográfica em análise. Posteriormente, o Coeficiente de Aprovei- tamento máximo previsto para as ZEUs foi aplicado. Como ob- servado, a grande maioria das quadras não utiliza-se do novo po- tencial construtivo máximo, indicando um cenário inevitável de adensamento nos próximos anos. A pesquisa concentrou-se em obter, a partir dos Eixos de Verticalização apresentados, seus respectivos SFV atuais e futuros, baseando-se no cenário de adensamento apre- sentado, para posterior análise comparativa. Diante das condições, foram excluídos de análise a obtenção do SVF por métodos analíticos (OKE, 1981 apud ELIASSON, 1996) e por métodos fotográficos (através de fisheye photos). Tentativa 1: SVF em ArcView 3.2 (plugin 3D SkyView) Através de uma base de dados 3D em SIG (Sistema de Informações Geográficas), Souza (2003) desenvolveu uma extensão para software ArcView 3.2 que permite a extração fácil e rápida do SVF de um ambiente parametrizado (SOUZA; RODRIGUES; MENDES; 2003). Esse método foi testado e apresentado também por Ribeiro, Fídelis e Carvalho (2008). Inviável por: defasagem do software, incompatível com os sistemas operacionais atuais. Tentativa 2: SVF em ArcGIS O software ArcGIS permite a extração do SVF e da máscara de sombreamento do entorno, através das ferramentas Skyline tool, Skyline barrier tool e Skyline graph. Inviável por: não familiaridade com o software e tempo de desenvolvimento limitado. Tentativa 3: SVF em Sketchup (extensão Vray) Amorim, Pedrosa e Carvalho (2014) apresentam o software de modelagem tridimensional Sketchup (muito difundido entre arquitetos) como opção. O trabalho conclui que o sof- tware é uma opção simples e viável para a obtenção das máscaras de sombreamento e do SVF. Embora seja a ferramenta mais limitada das apresentadas acima, mostrou-se viável diante da maior familiaridade com o software e da agilidade de obtenção dos resultados. O SVF influi diretamente no balanço térmico de espaços abertos, sendo seu conhecimento para projetos de arquitetura e paisagismo cada vez mais necessário (MINELLA; ROSSI; KRÜGER, 2009). Ao relacionar a altura dos edifícios (H, de height) com a largura das vias (W, de width), o fator é uma importante ferramenta para a análise do adensamento urbano e da verticalização no conforto térmico urbano, e sua influência na intensidade da Urban Heat Island (Ilha de Calor Urbano, em português). Embora não estabeleça uma relação direta com as variáveis térmicas dos Eixos de Ver- ticalização aqui apresentados, a pesquisa sugere que o adensamento previsto para a ci- dade de São Paulo deve ser objeto de estudo, já que o mesmo levará a um aumento das alturas e de massa edificável, reduzindo o SVF. Esse aumento será ainda mais perceptível em espaços urbanos ainda não verticalizados (como Vila Clementino) que passaram a possuir alto potencial construtivo. Bairros e ruas que já apresentam considerável índice de verticalização tendem a não apresentar grandes reduções no SVF (como na Chácara Klabin, Paraíso e Vergueiro). Agora, parâmetros puramente geométricos não são suficien- tes para descrever com plenitude o conforto térmico de determinado espaço. Questões relacionadas com o padrão de verticalização, a atuação do mercado imobiliário e a atrati- vidade das ruas são essenciais. A Chácara Klabin, por exemplo, apesar de apresentar SVF mais alto que o Paraíso, oferece ao pedestre uma caminhabilidade muito mais repulsiva. Por fim, essa pesquisa não pretende chegar a conclusões representativas, mas alertar e orientar para a importância de estudos de análise do adensamento previsto, utilizando-se tanto de embasamentos físicos como também urbanísticos e arquitetônicos. A partir dos dados obtidos, foi possível simular um cenário de adensamento no qual as edificações atuais subam em número de pavimentos até atingirem o Coeficiente de Aproveitamento máxi- mo previsto. Torna-se necessário salientar que essa simulação é claramente irreal diante da complexidade da organização espacial da forma urbana: o adensamento tende a ser incrementado me- diante um longo processo de rearranjo espacial dos lotes e subs- tituição das edificações que aos poucos se tornarem obsoletas. Porém, ela nos permite identificar tridimensionalmente quais os impactos que podemos esperar na paisagem urbana da cidade. Gabarito Máximo = Potencial Construtivo Máximo (LOTE) . 3 Área Total das Projeções (LOTE) Como disposto na Tabela de Parâmetros Urbanísticos, não há li- mite de gabarito para as ZEUs. É possível identificar, assim, que o distrito da Vila Mariana possui quatro principais Eixos de verticalização, cada qual dotado de ca- racterísticas que, de algum modo, são representativas do cenário de verticalização observado em toda cidade de São Paulo. 1 2 4 3 SVF 0,53 CENÁRIO ATUAL CHÁCARA KLABIN VERGUEIRO VERGUEIRO PARAÍSO CENÁRIO ATUAL CENÁRIO ATUAL CENÁRIO FUTURO CENÁRIO FUTURO ZEUs ZEUs 4. VILA CLEMENTINO 2. PARAÍSO 3. VERGUEIRO 1. CHÁCARA KLABIN VILA CLEMENTINO CENÁRIO ATUAL CENÁRIO ATUAL CENÁRIO ATUAL CENÁRIO FUTURO CENÁRIO FUTURO CENÁRIO FUTURO CENÁRIO FUTURO SVF 0,49 -0,04 -0,05 -0,04 -0,14 SVF 0,43 SVF 0,38 SVF 0,61 SVF 0,57 SVF 0,57 SVF 0,43 AVALIAÇÃO DO ADENSAMENTO URBANO PROPOSTO PELA LEI DE PARCELAMENTO, USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E IMPACTOS NO SKY VIEW FACTOR (SVF) ESTUDO DE CASO: DISTRITO DA VILA MARIANA Verticalização acentuada exclusivamente residencial. Leito carroçável único de três faixas (8 metros de largura). Calçadas estreitas (2 metros de largura). Torres com recuo frontal e laterais (5 a 15 metros de largura). Construções de baixo gabarito sem recuos. Ruas sem fachada ativa, longas extensões de muros e grades. Verticalização acentuada mista (residencial, comercial e serviços). Leitos carroçáveis duplo de quatro faixas cada (13 m. de largura). Calçadas largas (6 metros de largura). Torres sem e com recuos frontal e laterais (5 a 7 metros de lagura). Construções de baixo gabarito sem recuos. Ruas com fachada ativa. Verticalização acentuada mista (residencial, comercial e serviços). Leito carroçável único de três faixas (9 metros de largura). Calçadas medianas (4 metros de largura). Torres sem e com recuos frontal e laterais (2 a 5 metros de lagura). Construções de baixo gabarito sem recuos. Ruas com fachada ativa, pequenas extensões de muros e grades. Verticalização rarefeita mista (residencial, comercial e serviços). Leito carroçável único de quatro faixas (10 metros de largura) Calçadas medianas (3 metros de largura). Torres sem e com recuos frontal (5 a 15 metros de lagura). Construções de baixo gabarito sem recuos. Ruas com fachada ativa, pequenas extensões de muros e grades. AUT0225 Conforto Ambiental em Espaços Urbanos Abertos AUGUSTO LONGARINE Denise H. S. Duarte Ranny Loureiro X. N. Michalski . ZEUs Avenida Paulista Rua Vergueiro Rua Domingos de Morais Rua Sena Madureira Avenida Vinte e Três de Maio Lançamentos Imobiliários residenciais verticais (1985-2014) Vias principais GABARITO DAS EDIFICAÇÕES DISTRITO VILA MARIANA - SÃO PAULO 2010 presente - LPUOS 2016 futuro DENSIDADE CONSTRUÍDA DISTRITO VILA MARIANA - SÃO PAULO 2010 presente - LPUOS 2016 futuro 5+ ZEUs 4-5 3-4 4 2-3 1-2 0-1 CA

Upload: trinhkhue

Post on 15-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

COEFICIENTE DE APROVEITAMENTO SKY VIEW FACTOR

CONCLUSÃOGABARITO

2014, 8805 lançamentos residenciais verticais, sexto maior volu-me do Município (LONGARINE, 2017). Somado ao já consolidado processo de verticalização, a escolha da Vila Mariana parte da re-presentatividade das ZEUs, que compreendem aproximadamente 40% de seu território. As Zonas Eixo de Estruturação da Trans-formação Urbana (ZEUs) - especificadas no Plano Diretor do Mu-nicípio de São Paulo e na Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo - são porções do território articuladas com o sistema de transporte público destinadas a promover uso misto e dotadas do maior potencial construtivo previsto na cidade. É interessante notar que grande parte dos lançamentos regis-trados no recorte anteriormente mencionado não se encontram nas áreas de maior potencial construtivo previsto pelas novas le-gislações, já que foram aprovados sob influência da legislação urbanística imediatamente anterior. Essa constatação demons-tra como a atuação do mercado imobiliário e o adensamento se orientaram historicamente segundo condicionantes nem sempre relacionadas ao melhor aproveitamento do solo urbano.

2. METODOLOGIA

A análise do adensamento construtivo atual e previsto no distrito da Vila Mariana compreende os dois primeiros quadrantes que orientam a Bolsa de Treinamento Técnico FAPESP em curso. O estudo pretende ir além da análise por distrito disposta em DUAR-TE; GUSSON; MADEIRA (2012) e extrair os Coeficientes de Apro-veitamento por quadra. Ao ampliar a escala de análise, é possível verificar com mais detalhe as especificidades de cada bairro, as-sim como simular com mais propriedade cenários futuros.

Os dados produzidos são inéditos e foram gerados através do software de geoprocessamento QGIS 2.18.14, a partir de dados georreferenciados disponibilizados pela Prefeitura do Município de São Paulo e pelo Centro de Coleta, Sistematização, Armazena-mento e Fornecimento de Dados (CESAD - FAUUSP).

3. BIBLIOGRAFIA AMORIM, Rafael P.L; PEDROSA, Maria Luiza; CARVALHO, Homero J.M. Máscara de obstrução: uso de novas tecno-logias que facilitam a verificação da obstrução do céu visível. In: XV Encontro Nacional De Tecnologia do Ambiente Construído. Maceió, 2014.

CHENG, Vicky Bo-Ki. Human perception of urban density. Department of Architecture, University of Cambridge, Cambridge. 2010. (PhD Thesis).

DUARTE, D. Densidade e qualidade ambiental: o inevitável, o desejável e o possível. In: GALICIA, S.; FREIXANET, V. Habitat Sustentable. México, D.F.: UAM Azcapotzalco, 2012. p. 85-99.

ELIASSON I. Urban Nocturnal Temperatures, Street Geometry and Land Use. Atmos. Environ., v. 30, p. 379-392, 1996.

GUSSON, Carolina dos Santos. Efeito da densidade construída sobre o microclima urbano: construção de diferentes cenários possíveis e seus efeitos no microclima para a cidade de São Paulo. São Paulo, 2014.

LONGARINE, Augusto. Caracterização da produção recente de edifícios residenciais multifamiliares na cidade de São Paulo: subsídios para estudos de desempenho térmico das unidades e de impactos na mobilidade urbana. Iniciação Científica, 2017.

OKE, T. R. Boundary layer climates. London: Methuen, 1978.

OKE, T.R. Canyon geometry and the nocturnal urban heat island: comparison of scalemodel and field observations. Journal of Climatology, 1. 1981. pp.237-254.

RIBEIRO, C. A. M. ; FIDELIS, C. N ; CARVALHO, H. J. M. Fator de Visão de Céu e Ilhas de calor: Geoprocessamento aplicado ao conforto urbano. In: III Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte Nordeste de Educação Tec-nológica - CONNEPI - 2008, Fortaleza. Fortaleza, CONNEPI, 2008.

ROAF, Susan. The sustainability of high-density. In: NG, Edward (ed.). Designing high-density cities for social and environmental sustainability. London: Earthscan. 2010. p. 27-37.

ROGERS, R; GUMUCHDJAN, P. Cidades para um pequeno planeta. Barcelona: Gustavo Gili, 2001.

SOUZA, L. C. L. Determinação e apresentação do fator de visão do céu através de um SIG 3 D. Bauru. Livre-docência – Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade de São Paulo, 2003.

SOUZA, L. C. L. ; RODRIGUES, D. S. ; MENDES, J. F. G. Expandindo um SIG-D para aplicação em conforto ambiental em nível urbano. In: VII Encontro Nacional sobre Conforto no Ambiente Construído e III Conferência Latino-Ameri-cana sobre Conforto e Desempenho Energético de Edificações, 2003, Curitiba. Curitiba: ANTAC, 2003. p. 669-676.

1. INTRODUÇÃO

1.1 LPUOS 2016, adensamento e microclima urbano

Nos últimos anos, a discussão acerca do adensamento e suas implicações, positivas ou não, tornou-se recorrente no debate do planejamento urbano e da sustentabilidade da ocupação urba-na no planeta. Para muitos, o adensamento é inevitável. Áreas adensadas implicam na otimização da infraestrutura urbana, na diversidade de usos e na redução dos tempos de deslocamen-to (DUARTE, 2012). O fenômeno de urban sprawl (espraiamento urbano), por outro lado, tende a onerar o orçamento das cidades (ampliando gastos com transporte de pessoas e serviços), am-pliar a pressão sobre as áreas rurais (ROGERS, GUMUCHDJAN, 2001 apud GUSSON, 2014) e torná-las energeticamente menos eficazes (ROAF, 2010). Em São Paulo, os impactos do processo de espraiamento urbano são visíveis: gigantescas áreas exclusi-vamente residenciais e supremacia do transporte individual nos deslocamentos internos. Para Duarte (2012), “é possível pensar uma São Paulo adensada, policêntrica, conectada por bons ser-viços de transporte público [...], com usos mistos em lugar das muitas áreas monofuncionais existentes”. O Plano Diretor do Município de São Paulo (Lei Municipal Nº 16.050/14) e a Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo (Lei Municipal Nº 16.402/16) respondem ao debate ao orientar, como uma de suas principais estratégias programáticas, o crescimento da cidade nas proximidades do transporte público, otimizando a ocupação das áreas no entorno de estações de trem, metrô e cor-redores de ônibus. Ao mesmo tempo, inexistem previsões do real impacto do adensamento proposto no microclima urbano, princi-palmente no que diz respeito a geometria das edificações.

O adensamento afeta a UCL (Urban Canopy Layer) e consequen-temente o microclima na medida em que as superfícies urbanas tendem a absorver grande parte da radiação solar, aumentando a emissão de ondas longas (em razão da emissividade das superfí-cies e de suas temperaturas) e diminuindo a perda de radiação de onda curta (OKE, 1981). Há, assim, um acúmulo de calor sensível no tecido urbano, impactando no conforto ambiental dos espaços abertos. O fenômeno de Heat Trap - aprisionamento do calor em ambientes urbanos - é decorrência das condições atmosféricas e do desenho das cidades, podendo ser dimensionado através do conhecimento da materialidade das superfícies urbanas, sua ge-ometria e o chamado Sky View Factor - SVF (Fator de Visão de Céu - FVC, em português), já que o céu atua como importante sumidouro de calor. Oke (1978) define o SVF como “the ratio of the amount of the sky ‘seen’ from a given point on a surface to that potentially available”. Um ponto com céu totalmente desobs-truído possui SVF de 1, enquanto um ponto com céu totalmente obstruído possui SVF de 0.

1.2 Objetivo

O objetivo é desenvolver, a partir de um estudo de caso, uma me-todologia para análise do adensamento construtivo atual e pre-visto na cidade de São Paulo, estabelecendo relações com o Sky View Factor (SVF) e, consequentemente, com o microclima urba-no.

1.3 Estudo de caso: Distrito da Vila Mariana

O Distrito da Vila Mariana insere-se na Subprefeitura de mesmo nome, Zona Sul do Município de São Paulo. Parte do chamado centro expandido, passou por um intenso processo de verticaliza-ção residencial e comercial nas últimas décadas, principalmente ao longo das Avenidas Paulista e Vinte e Três de Maio e das Ruas Vergueiro e Sena Madureira. O distrito apresentou, entre 1985 e

O cálculo do Coeficiente de Aproveitamento atual por quadra foi realizado a partir da justaposição dos shapefiles de quadras (a partir do qual extraiu-se as áreas das quadras), edificações (a partir do qual extraiu-se as áreas das projeções de cada edifica-ção, assim como seus gabaritos) e lotes (a partir do qual extraiu--se as áreas de cada lote). Dada a impossibilidade de se analisar isoladamente cada caso, a área construída total de cada lote foi extraída a partir da fórmula abaixo, onde foi generalizado um pé--direito de 3 metros para todas as edificações.

Área Total Construída (LOTE) = Área Total das Projeções (LOTE) . Gabarito 3 A soma das Áreas Totais Construídas dos lotes inseridos em uma mesma quadra e a posterior relação com a Área Total da Qua-dra resulta no Coeficiente de Aproveitamento atual da unidade geográfica em análise. Posteriormente, o Coeficiente de Aprovei-tamento máximo previsto para as ZEUs foi aplicado. Como ob-servado, a grande maioria das quadras não utiliza-se do novo po-tencial construtivo máximo, indicando um cenário inevitável de adensamento nos próximos anos.

A pesquisa concentrou-se em obter, a partir dos Eixos de Verticalização apresentados, seus respectivos SFV atuais e futuros, baseando-se no cenário de adensamento apre-sentado, para posterior análise comparativa. Diante das condições, foram excluídos de análise a obtenção do SVF por métodos analíticos (OKE, 1981 apud ELIASSON, 1996) e por métodos fotográficos (através de fisheye photos).

Tentativa 1: SVF em ArcView 3.2 (plugin 3D SkyView) Através de uma base de dados 3D em SIG (Sistema de Informações Geográficas), Souza (2003) desenvolveu uma extensão para software ArcView 3.2 que permite a extração fácil e rápida do SVF de um ambiente parametrizado (SOUZA; RODRIGUES; MENDES; 2003).Esse método foi testado e apresentado também por Ribeiro, Fídelis e Carvalho (2008). Inviável por: defasagem do software, incompatível com os sistemas operacionais atuais.

Tentativa 2: SVF em ArcGISO software ArcGIS permite a extração do SVF e da máscara de sombreamento do entorno, através das ferramentas Skyline tool, Skyline barrier tool e Skyline graph. Inviável por: não familiaridade com o software e tempo de desenvolvimento limitado.

Tentativa 3: SVF em Sketchup (extensão Vray)Amorim, Pedrosa e Carvalho (2014) apresentam o software de modelagem tridimensional Sketchup (muito difundido entre arquitetos) como opção. O trabalho conclui que o sof-tware é uma opção simples e viável para a obtenção das máscaras de sombreamento e do SVF. Embora seja a ferramenta mais limitada das apresentadas acima, mostrou-se viável diante da maior familiaridade com o software e da agilidade de obtenção dos resultados.

O SVF influi diretamente no balanço térmico de espaços abertos, sendo seu conhecimento para projetos de arquitetura e paisagismo cada vez mais necessário (MINELLA; ROSSI; KRÜGER, 2009). Ao relacionar a altura dos edifícios (H, de height) com a largura das vias (W, de width), o fator é uma importante ferramenta para a análise do adensamento urbano e da verticalização no conforto térmico urbano, e sua influência na intensidade da Urban Heat Island (Ilha de Calor Urbano, em português).

Embora não estabeleça uma relação direta com as variáveis térmicas dos Eixos de Ver-ticalização aqui apresentados, a pesquisa sugere que o adensamento previsto para a ci-dade de São Paulo deve ser objeto de estudo, já que o mesmo levará a um aumento das alturas e de massa edificável, reduzindo o SVF. Esse aumento será ainda mais perceptível em espaços urbanos ainda não verticalizados (como Vila Clementino) que passaram a possuir alto potencial construtivo. Bairros e ruas que já apresentam considerável índice de verticalização tendem a não apresentar grandes reduções no SVF (como na Chácara Klabin, Paraíso e Vergueiro). Agora, parâmetros puramente geométricos não são suficien-tes para descrever com plenitude o conforto térmico de determinado espaço. Questões relacionadas com o padrão de verticalização, a atuação do mercado imobiliário e a atrati-vidade das ruas são essenciais. A Chácara Klabin, por exemplo, apesar de apresentar SVF mais alto que o Paraíso, oferece ao pedestre uma caminhabilidade muito mais repulsiva. Por fim, essa pesquisa não pretende chegar a conclusões representativas, mas alertar e orientar para a importância de estudos de análise do adensamento previsto, utilizando-se tanto de embasamentos físicos como também urbanísticos e arquitetônicos.

A partir dos dados obtidos, foi possível simular um cenário de adensamento no qual as edificações atuais subam em número de pavimentos até atingirem o Coeficiente de Aproveitamento máxi-mo previsto. Torna-se necessário salientar que essa simulação é claramente irreal diante da complexidade da organização espacial da forma urbana: o adensamento tende a ser incrementado me-diante um longo processo de rearranjo espacial dos lotes e subs-tituição das edificações que aos poucos se tornarem obsoletas. Porém, ela nos permite identificar tridimensionalmente quais os impactos que podemos esperar na paisagem urbana da cidade. Gabarito Máximo = Potencial Construtivo Máximo (LOTE) . 3 Área Total das Projeções (LOTE)

Como disposto na Tabela de Parâmetros Urbanísticos, não há li-mite de gabarito para as ZEUs.

É possível identificar, assim, que o distrito da Vila Mariana possui quatro principais Eixos de verticalização, cada qual dotado de ca-racterísticas que, de algum modo, são representativas do cenário de verticalização observado em toda cidade de São Paulo.

1 2 43

SVF 0,53

CENÁRIO ATUAL

CHÁCARA KLABIN VERGUEIRO

VERGUEIRO

PARAÍSO

CENÁRIO ATUAL

CENÁRIO ATUAL

CENÁRIO FUTURO

CENÁRIO FUTURO

ZEUs

ZEUs

4. VILA CLEMENTINO

2. PARAÍSO

3. VERGUEIRO

1. CHÁCARA KLABIN

VILA CLEMENTINO

CENÁRIO ATUAL CENÁRIO ATUAL CENÁRIO ATUALCENÁRIO FUTURO CENÁRIO FUTURO CENÁRIO FUTURO CENÁRIO FUTURO

SVF 0,49-0,04 -0,05 -0,04 -0,14SVF 0,43 SVF 0,38 SVF 0,61 SVF 0,57 SVF 0,57 SVF 0,43

AVALIAÇÃO DO ADENSAMENTO URBANO PROPOSTO PELA LEI DE PARCELAMENTO, USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E IMPACTOS NO SKY VIEW FACTOR (SVF) ESTUDO DE CASO: DISTRITO DA VILA MARIANA

Verticalização acentuada exclusivamente residencial.Leito carroçável único de três faixas (8 metros de largura).Calçadas estreitas (2 metros de largura).Torres com recuo frontal e laterais (5 a 15 metros de largura).Construções de baixo gabarito sem recuos.Ruas sem fachada ativa, longas extensões de muros e grades.

Verticalização acentuada mista (residencial, comercial e serviços).Leitos carroçáveis duplo de quatro faixas cada (13 m. de largura).Calçadas largas (6 metros de largura).Torres sem e com recuos frontal e laterais (5 a 7 metros de lagura). Construções de baixo gabarito sem recuos.Ruas com fachada ativa.

Verticalização acentuada mista (residencial, comercial e serviços).Leito carroçável único de três faixas (9 metros de largura).

Calçadas medianas (4 metros de largura).Torres sem e com recuos frontal e laterais (2 a 5 metros de lagura).

Construções de baixo gabarito sem recuos.Ruas com fachada ativa, pequenas extensões de muros e grades.

Verticalização rarefeita mista (residencial, comercial e serviços).Leito carroçável único de quatro faixas (10 metros de largura)

Calçadas medianas (3 metros de largura).Torres sem e com recuos frontal (5 a 15 metros de lagura).

Construções de baixo gabarito sem recuos.Ruas com fachada ativa, pequenas extensões de muros e grades.

AUT0225 Conforto Ambiental em Espaços Urbanos Abertos AUGUSTO LONGARINE Denise H. S. Duarte Ranny Loureiro X. N. Michalski.

ZEUs

Avenida Paulista

Rua Vergueiro

Rua Domingos de Morais

Rua Sena Madureira

Avenida Vinte e Três de Maio

Lançamentos Imobiliários residenciais verticais (1985-2014)Vias principais

GABARITO DAS EDIFICAÇÕESDISTRITO VILA MARIANA - SÃO PAULO2010 presente - LPUOS 2016 futuro

DENSIDADE CONSTRUÍDADISTRITO VILA MARIANA - SÃO PAULO2010 presente - LPUOS 2016 futuro

5+

ZEUs

4-5 3-44 2-3 1-2 0-1 CA