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FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO CURSO DE LETRAS AULA DE PORTUGUÊS: O DESAFIO DE ENSINAR GRAMÁTICA Lídia Patrícia Alves dos Santos Sousa APARECIDA DE GOIÂNIA 2010

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FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO

CURSO DE LETRAS

AULA DE PORTUGUÊS: O DESAFIO DE ENSINAR GRAMÁTICA

Lídia Patrícia Alves dos Santos Sousa

APARECIDA DE GOIÂNIA

2010

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LÍDIA PATRÍCIA ALVES DOS SANTOS SOUSA

AULA DE PORTUGUÊS: O DESAFIO DE ENSINAR GRAMÁTICA

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Instituto Superior de

Educação da Faculdade Alfredo Nasser

como pré-requisito para obtenção do título

de licenciada em Letras, sob orientação

da Prof. Odália Bispo.

APARECIDA DE GOIÂNIA

2010

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AULA DE PORTUGUÊS: O DESAFIO DE ENSINAR GRAMÁTICA

Lídia Patrícia Alves dos Santos Sousa1

RESUMO: Este artigo propõe apresentar a importância do ensino de gramática nas aulas de língua portuguesa para o desenvolvimento da competência linguística do indivíduo, apontando as dificuldades que os professores encontram ao ensiná-la e identificar sugestões que tenham relevância para que o ensino de gramática traga um aprendizado de qualidade. Esta pesquisa será baseada nos autores: Luiz Carlos Travaglia (2003), que propõe um ensino de português voltado para que o falante possa utilizar a língua de forma interativa; Evanildo Bechara (2001), que trata a língua como um produto histórico e ao mesmo tempo uma unidade realizada; Irandé Antunes (2007), que defende que a escola deve ensinar e oferecer ao aluno condições para que faça o uso da língua de acordo com a situação vivenciada; Sírio Possenti (1996), que se preocupa com a gramática que se ensina na escola; entre outros que serão citados no decorrer da pesquisa.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino. Gramática. Aprendizado. Qualidade.

INTRODUÇÃO

A proposta deste artigo constitui-se em promover um estudo acerca das aulas

de língua portuguesa, reconhecendo os principais percalços por que passam os

professores desse segmento do ensino. Objetiva-se ainda apontar a relevância

deste assunto como forma de preparar o aluno para encarar e interagir

linguisticamente em seu meio social. Isto é, a pesquisa apresenta como ponto de

partida os seguintes elementos: a importância do ensino de gramática para os

alunos em todo seu processo de aprendizagem e a possibilidade de torná-los

capazes de usarem a língua e sua gramática de forma competente a partir das aulas

língua portuguesa.

Os objetivos a serem alcançados por meio deste estudo são: reconhecer o

ensino de gramática como formadora de cidadãos mais preparados linguisticamente

tanto na sua vida cultural como social; discutir as formas como as aulas de

1 Estudante do 8° período do Curso de Letras da Faculdade Alfredo Nasser, sob orientação da Profª

Odália Bispo.

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português trazem bons resultados aos alunos; conhecer as possibilidades de

trabalhar com a gramática de forma produtiva e satisfatória; compreender a

importância do docente no ato de ensinar gramática; ressaltar o que informam os

Parâmetros Curriculares Nacionais sobre o ensino de língua portuguesa e analisar a

proposta para uma aula de gramática com base em algumas atividades retiradas de

livros didáticos em diferentes níveis de ensino.

A metodologia utilizada para o desenvolvimento deste estudo será a pesquisa

bibliográfica baseada na análise e interpretação de estudiosos especializados no

assunto, tais como: Gramática: ensino Plural de Luiz Carlos Travaglia; Para uma

nova gramática do português de Mário Perini; Aula de português: discursos e

saberes de Antônio Augusto G. Batista; Aula de português; encontro e interação de

Irandé Antunes; os Parâmetros curriculares Nacionais, entre outros.

O estudo se apresenta dividido em cinco tópicos. No primeiro, discutiremos

diferentes conceitos de língua e gramática; no segundo tópico, destacaremos

questões sobre a aula de português e seus objetivos; no terceiro tópico trataremos

sobre os PCN`s enfocando o que eles dizem a respeito das aulas de língua

portuguesa; no quarto tópico, trataremos da questão do livro didático e sua

importância para o ensino de qualidade e, por fim, no quinto tópico, apresentaremos

uma breve análise de algumas atividades de gramática, em diversos níveis de

ensino.

Assim coloca-se em discussão a importância do ensino de gramática em

todos os níveis de aprendizado, principalmente o ensino de uma gramática descritiva

para que o falante se torne consciente do uso da sua língua.

LÍNGUA E GRAMÁTICA: ALGUMAS CARACTERÍSTICAS

Tendo em vista que uma aula de língua portuguesa precisa ser abrangente na

formação do bom usuário da língua materna e que um dos constituintes deve ser a

gramática, considera-se que, apesar de o ensino de gramática ser muito criticado e

posto a prova em vários sentidos, é necessário e essencial que haja essas aulas de

gramática, pois a gramática de uma língua é um dos recursos por intermédio dos

quais o falante vai orientar-se linguisticamente.

Compreende-se que, embora haja muitas discussões que apontam caminhos

diferentes para a melhoria nos resultados, o problema no ensino de gramática ainda

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é recorrente na grande maioria das escolas e causa inquietações em diversos

profissionais do ensino de língua portuguesa, constituindo-se como um desafio a ser

enfrentado continuamente. Apresentaremos a seguir alguns conceitos de língua e

gramática para que sejam melhor evidenciadas essas divergências.

De acordo com Bechara (2001), na língua há duas possibilidades: a língua

histórica e a língua funcional. Assim a língua seria um produto histórico, e ao mesmo

tempo uma unidade realizada, devido à possibilidade de alcançar, na verdade, uma

língua que se quer unitária. Bechara (2001), também afirma que a língua nunca é

um sistema único, mas um conjunto de sistemas, que encerra em si várias tradições,

e que ela nunca está plenamente pronta, mas se faz continuamente, ou, seja a

língua está sempre em processo de mudança, que contempla com cada falante, sua

cultura e meio social em que vive, isto é, a forma com que os indivíduos fazem seu

uso faz com que ela esteja sempre em evolução, pois a comunidade, à medida que

amplia seu relacionamento com o mundo, multiplica a sua capacidade de

comunicação.

Assim entendemos que a língua constitui-se como um código que integra as

relações humanas, ou seja, estabelece vinculo entre os falantes, proporcionando

uma ampla relação de interação. Isso acontece porque a língua é um sistema social

e não um sistema individual e é por isso que está sempre em processo de evolução,

em processo de mudança. Como a sociedade cria de acordo com sua necessidade

a melhor forma de usar a língua, por isso ela é e continuará sendo um dos meios

mais importantes de comunicação entre uma sociedade, permeando as relações

vividas pelos indivíduos.

Para Possenti (1996), a língua é um conjunto de variedades utilizadas pelos

falantes de uma determinada comunidade lingüística, variedades essas,

reconhecidas como diferentes entre si apesar de pertencerem a uma mesma língua.

Por isso vale ressaltar que a língua é indiscutivelmente uma das características mais

importantes da identidade e cultura de um povo, pois é ela um dos fatores

responsáveis para promover um processo dinâmico que modifica e move à

sociedade, a língua seria, portanto, elemento da cultura de um povo, pois uma

sociedade necessita da língua para que aconteça este processo de comunicação e

interação entre os falantes.

Portanto, podemos compreender que a língua é um meio de locomoção,

formação e desenvolvimento da sociedade, constituindo-se como um elo entre a

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sociedade e o homem, podendo ser a transmissora de conhecimento, de

informações e de interação, sendo, portanto o resultado das relações sociais

pertencendo a todos os membros de uma comunidade. Considerando-se a língua,

como principal fonte de comunicação e interação, vejamos agora como as

gramáticas também são importantes para que haja essa comunicação e interação

entre os falantes.

Possenti em seu livro Por que (não) ensinar gramática na escola, destaca três

definições de gramática que trazem três concepções distintas de língua: Gramática

normativa, gramática descritiva e gramática internalizada

Segundo Possenti (1996), “a gramática normativa é um conjunto de regras

que devem ser seguidas com o objetivo de falar e escrever corretamente”,

compreende-se que para o autor a gramática não abre novas expectativas para o

aluno, sendo somente regras impostas. Sobre esse mesmo assunto, Travaglia

(2002) afirma que “gramática normativa é aquela que estuda apenas os fatos da

língua padrão, da norma culta da língua. Essa gramática é uma espécie de lei que

regula o uso da língua em uma sociedade”.

Compreende-se que tais regras são necessárias à língua para manter de

certa forma a sua uniformidade. Assim, os usuários de uma língua podem se basear

nessas regras que se tornam proveitosas, durante o processo de aprendizagem. Isto

é, a gramática normativa pode se constituir como um meio viável para fazer um bom

uso da língua.

Possenti (1996) define a gramática descritiva como um conjunto de regras

que são seguidas, e que orienta o trabalho dos linguistas, cuja preocupação é

descrever e explicar as línguas como elas são faladas. Já em Travaglia (2002),

destaca que a gramática descritiva é a que descreve e registra para uma

determinada variedade da língua, um dado momento de sua existência.

Podemos observar que a gramática descritiva ocupa-se de colocar em

evidência características do funcionamento da língua. Pois conforme afirma Possenti

(1996), é ela que se preocupa em explicar como as línguas são faladas.

Compreende-se, então, que este tipo de gramática não se preocupa em apontar

erros, mas em descrever a língua como ela é falada e reunir as formas gramaticais

aceitas por determinadas comunidades, sendo assim para a gramática descritiva

não existe língua uniforme e não há necessidade de regras, mas sim a busca pelas

regularidades da língua em seus diferentes usos em uma sociedade.

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Percebemos, então, que a gramática descritiva abrange todo o funcionamento

da língua, não se preocupando, necessariamente, tal como propõe a gramática

normativa com as normas e regras que regem o seu funcionamento, mas sim como

a língua está sendo usada. Assim a gramática descritiva analisa a estrutura

gramatical tendo como referência a situação comunicativa, objetivando-se em

verificar como se obtém a comunicação com a língua e que os usuários dela se

utilizem para se comunicar entre si de maneira eficiente.

De acordo com Rodolfo IIari (2009), adotar a atitude descritiva fez com que

aparecessem, em pouco tempo, representações confiáveis do sistema fonológico e

dos principais recursos morfológicos (por exemplo, a flexão nominal e a conjugação

do verbo) utilizadas pelo português padrão. Mas essa adoção, por outro lado,

permitiu que as variedades não-padrão da língua fossem consideradas como objetos

legítimos de análise. E com isso entende-se que essas variedades não-padrão, não

são necessariamente pobres ou ineficientes, e sim possuem uma estrutura diferente.

Esse aspecto funcional que a gramática descritiva aborda permite que a língua

possa ser usada de acordo com a situação em que o falante se encontra.

Destaca-se, ainda, o conceito de gramática internalizada. Para Possenti

(1996), a gramática internalizada é um conjunto de regras internalizadas pelo

falante, ou seja, o falante já possui essas regras desde criança e as matém em suas

mentes para produzir frases ou seqüências de palavras, de um modo que essas

sequências de frases ou palavras sejam entendidas como pertencentes a uma

língua. Entretanto, para Travaglia (2002), a gramática internalizada é o próprio

objeto da descrição e não existe em livros, por essa razão recebe este nome, pois

não pode ser ensinada, ou seja, cada falante adquire de acordo com seu próprio

conhecimento e convivência com a língua. Pode inferir, portanto, que a gramática

internalizada pode ser adquirida de forma espontânea através do contato com a

língua, sem a necessidade de um ensino convencional.

Assim compreende-se que o profissional atuante no ensino de língua

portuguesa deve atentar-se para o que é língua e o que é gramática. Como vimos,

existem diferentes tipos de gramática e que a língua é um instrumento de

comunicação, um produto social que deve ser dominado pelos falantes para que a

comunicação seja realizada, e para que haja essa interação torna-se importante o

estudo da gramática descritiva como meio de adquirir competência comunicativa.

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Haja vista que, de posse desses conceitos, torna-se mais eficaz e segura a

atuação do docente concernente à formação de um aluno capaz de utilizar-se da

estrutura da língua a serviço de seus intentos comunicativos. Logo pode-se inferir

que o ensino de gramática se justifica se estiver pautado na busca pela reflexão em

torno da língua, pensada exclusivamente como instrumento de comunicação e

inserção social.

AULA DE PORTUGUÊS: PARA QUE SERVE?

Para Batista (2001), nas aulas de português, o que se ensina é produto de

uma visão, entre outras coisas, do fenômeno da língua e do papel de seu ensino

numa determinada sociedade. É a alteração do ponto de vista sobre esses e outros

fenômenos que pode, em parte, explicar as mudanças que vêm sofrendo o ensino

de português ao longo de sua história, sendo assim confirma-se a idéia de que cada

professor deve adequar o ensino a cada tipo de aluno, e traçar seu objetivo de

ensino. Dessa forma haverá diferentes práticas, diferentes objetos, com diferentes

objetivos.

A partir dessa questão sobre a aula de português, considera-se relevante uma

reflexão acerca do que se espera dos alunos com o ensino de língua portuguesa,

principalmente no que se refere ao ensino de gramática. Segundo Travaglia (2003),

certamente não se pretende que eles se tornem especialistas em gramática, mas

sim que desenvolvam a competência comunicativa e que possam utilizar cada vez

mais um maior número de recursos da língua de forma adequada a cada situação de

interação comunicativa. Então, destaca-se a importância de o aluno compreender a

estrutura da sua língua e saber usá-la de forma correta nos momentos propícios,

consequentemente, sendo capaz de interagir com a sociedade e o meio cultural em

que vive. Dessa forma, acredita-se que grande parte dos docentes e está sempre na

dúvida, acerca de qual gramática ensinar. Na sequência deste estudo, abordaremos

algumas questões que mostram o ensino da gramática descritiva como um meio, um

caminho viável para que haja um ensino de gramática, objetivando que o aluno

adquira uma melhoria na sua competência comunicativa.

Assim podemos dizer, tal como Travaglia (2003), que o ensino de gramática

tem grande influência na qualidade de vida das pessoas, pois ela seria um dos

meios pelos quais o falante pode desenvolver a sua competência comunicativa, isto

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é, a capacidade de se usar cada vez mais os recursos que a língua oferece, em

todos os seus planos. Desse modo, é importante que o ensino de gramática esteja

focado para que os alunos tenham uma perspectiva social e exercício de cidadania,

pois, com isso serão capazes de se comunicar com maior eficácia dentro da

sociedade e de sua cultura. Por esta razão acreditamos que a gramática descritiva

apresenta aspectos importantes para que esta perspectiva social possa acontecer,

haja vista que, como já citado anteriormente, a gramática descritiva não se preocupa

com as regras, mas com a descrição da forma como as línguas são utilizadas pelo

falante.

Nesse sentido, ressalta-se que o papel da gramática no ensino de língua

portuguesa é ampliar a capacidade de o aluno usar a sua língua, desenvolvendo a

competência comunicativa, pois ele irá se deparar ao longo de suas atividades

sociais ou profissionais com as mais diversas situações de comunicação. Logo, cabe

ao docente o discernimento acerca da forma de trabalhar a gramática na escola e

transformar o seu ensino em um processo de reflexão que leve a compreensão do

uso da língua.

O que queremos salientar é que se faz necessário o ensino de gramática

descritiva objetivando preparar os alunos para se inserirem de modo mais efetivo e

eficaz na sociedade, fazendo com que o uso da linguagem seja adequado às mais

diversas situações comunicativas em que eles estiverem inseridos, com base na

utilização de recursos diversos inerentes à própria estrutura da língua. Nessa

perspectiva Possenti afirma:

Para tal, é preciso superar a visão do ensino da língua como sendo ensino da gramática, e do ensino de gramática como ensino de regras. Há que se acrescentar aí algo novo: ensinar gramática é ensinar a língua em todas as suas variedades de uso, e ensinar regras é ensinar o domínio do uso (POSSENTI, 1996, p. 86).

Segundo Perini (1997), é necessário destacar os principais problemas no

ensino de gramática: objetivos mal colocados, metodologias inadequadas e falta de

organização lógica da matéria. São pontos de extrema importância nas aulas de

português, pois assim o professor consegue identificar a necessidade de seus

alunos e ministrar aulas mais produtivas e satisfatórias, onde os alunos possam

fazer o uso da língua a partir de uma perspectiva descritiva.

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Podemos perceber que o ensino da gramática é considerado diferente e

apesar da divergência de posicionamentos quanto a relevância do ensino de

gramática, neste estudo procuramos colocar em evidência o fato de que ela se faz

importante para a formação e crescimento do estudante de uma língua. Infere-se

que é relevante que o aluno saiba falar, escrever corretamente e sendo o português

sua língua materna, é importante que conheça e saiba fazer o seu uso adequado

para assim, se inserir, se comunicar e interagir de forma espontânea e concisa.

Portanto quando se ensina gramática, o objetivo deve ser o de que o aluno

domine a língua tendo assim uma competência comunicativa, e a gramática

descritiva seria um dos recursos lingüísticos para que isso aconteça, Pois conforme

compreendida neste estudo ela está inserida em um contexto que se preocupa com

a língua e as mais variadas formas de como esta língua é usada, está preocupada

com aspectos funcionais, que irão ajudar na formação da competência lingüística do

falante.

Neves (2000) postula que ensinar eficientemente a gramática é acima de tudo

propiciar e conduzir a reflexões sobre o funcionamento da linguagem, e de uma

maneira, óbvia indo pelo uso lingüístico, para chegar a resultados de sentido. Pois

as pessoas falam exercem a linguagem e usam a língua para produzir sentidos, e

desse modo, aprender à gramática seria importante para fazer um bom uso da

língua. Compreende-se então que os profissionais de língua portuguesa devem

procurar a melhor maneira de aplicar em suas aulas o ensino da gramática

descritiva, para que traga resultados positivos para os alunos, mostrando a

importância de se fazer o bom uso da língua, para falar e escrever corretamente.

Quando o aluno ingressa na escola, a gramática lhe é apresentada e

ensinada, não para ele se desfazer de sua cultura, mas sim, para que ele aprenda a

diferenciar as situações cotidianas. Ele deve ter a noção de que não pode falar e

escrever da mesma maneira quando se comunica com seus amigos, deve ter noção

de que necessita fazer o uso competente da língua em seus mais diferentes

contextos.

Segundo Irandé Antunes (2007), o dever da escola é ensinar e oferecer ao

aluno condições para que faça uso de acordo com a situação vivenciada, assim

sendo o ensino deve ser voltado para dar condições ao aluno, para que ele possa se

relacionar em diferentes ambientes e conseguir se situar e fazer o uso de sua língua

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de forma adequada e coerente. Assim, faz-se necessário um trabalho sério e

comprometido com o ensino de gramática.

Portanto diante dessas discussões, entende-se que a gramática descritiva se

torna importante nas aulas de português. Não se pretende defender aqui que as

aulas de língua portuguesa se tornem sinônimo de aula de gramática, já que uma

boa aula deve abranger todos os aspectos da língua: literatura, vocabulário, texto e

a gramática, mas que ela constitui-se como um recurso para melhorar a

competência comunicativa, visando propiciar recursos para um bom uso da língua.

Entende-se então que a aula de português é onde o aluno deve ser orientado

para que se sinta seguro quanto ao funcionamento da língua e assim poderá aplicar

esse conhecimento nas suas práticas sociais e seguir no mundo das certezas e não

das suposições. Portanto, pode-se inferir que o ensino de gramática não é apenas

para proteger ou conservar a língua, mas, sobretudo, para subsidiar o usuário em

suas necessidades textuais e orais, garantido que o falante conheça o

funcionamento de sua própria língua, possibilitando a noção de características

essenciais que pertencem à sua cultura.

O QUE DIZEM OS PCN`S

A discussão sobre o ensino de língua portuguesa, nos Parâmetros

Curriculares Nacionais, é orientada por fatores de caráter social. Por outro lado, o

ensino de língua portuguesa passa a ser repensado por razões internas que

orientam a discussão a partir de quem ensina e quem aprende; sobre como se

ensina e como se aprende sobre linguagem e língua, ou seja, além da preocupação

da formação do aluno entram em discussão vários aspectos importantes para as

aulas de língua portuguesa. Por isso os PCN`s enfatizam o seguinte:

Considerar a língua portuguesa como fonte de legitimação de acordos e condutas sociais e como representação simbólica de experiências humanas manifestas nas formas, de sentir, pensar e agir na vida social. (Brasil PCN, p.20).

De acordo com os PCN`s, as propostas de mudanças qualitativas para o

processo de ensino-aprendizagem indicam a sistematização de um conjunto de

disposições e atitudes, como pesquisar, selecionar informações, analisar, sintetizar,

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argumentar, cooperar de forma para que o aluno possa participar do mundo social,

incluindo-se aí a cidadania. Nessa perspectiva, o ensino de língua portuguesa, deixa

de ser exclusivamente o desenvolvimento de habilidades de leitura e de produção ou

o domínio da língua escrita padrões para passar a ser o domínio da competência

textual, além dos domínios escolares, na solução dos problemas da vida como no

acesso aos bens culturais e a participação em sua sociedade. Porém compreende-

se que não se deve deixar de lado à gramática, pois, assim como a gramática é um

dos meios que poderá ajudar o aluno a adquirir uma boa competência lingüística

acreditamos que a mesma pode também ajudar ao aluno a adquirir uma boa

competência textual.

Os PCN`s propõem que o ensino de língua portuguesa se organize em torno

da língua: do ensino da leitura, da produção de textos, e da gramática,

compreendida esta como uma prática de reflexão sobre a língua e seus usos,

necessária para o desenvolvimento dos alunos na leitura e na produção de textos.

Para isso o programa apresenta também a necessidade de os professores mudarem

as concepções de língua e gramática, conforme discutidos no primeiro tópico;

propõem também que os textos sejam trabalhados com base nos gêneros

discursivos orais ou escritos. Pois segundo eles, a perspectiva de estudos

gramaticais na escola, até hoje se centra, em grande parte, no entendimento da

nomenclatura gramatical como eixo principal fazendo assim uma confusão na

análise da frase, deslocada do uso, da função e do texto. Sendo assim o estudo da

gramática passa a ser uma estratégia para compreensão, interpretação e produção

de textos.

Para os PCN`s, a gramática normativa não pode ser referência para o ensino,

pois a metodologia não deve reproduzir o clássico percurso de definição,

classificação e exercitação, centrada na análise de unidades menores como

fonemas, palavras e frases. Logo as aulas de gramática devem ser focadas em uma

visão que se apóie nas contribuições de estudos lingüísticos e que amplie a visão

sobre a língua e a linguagem através de uma atitude reflexiva, pois permite uma

visão funcional da língua e representa a aquisição de uma boa competência

comunicativa. Ainda em relação à postura tradicional para o ensino de gramática os

PCN`s fazem uma crítica , pois entende-se que esta desconsidera a realidade e os

interesses dos alunos, nesse caso, as excessivas atividades de leitura e escrita são

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uma artificialidade e têm uma visão da língua como sistema fixo e imutável de

regras.

Ainda de acordo com os PCN`s, a escola deve oferecer aos alunos não só a

oportunidade de estudar a língua, mas também de introduzir e reforçar conceitos de

cidadania e trabalho, que farão parte de um futuro próximo e inevitável, e assim

torná-los mais preparados para exigências de toda vida. Isso significa dizer que o

ensino de língua portuguesa não deve ser um estudo descontextualizado, a língua

não deve ser abordada como algo fechado em si, sem expectativas do aluno, o

professor deve, assim, privilegiar um trabalho de preparação do aluno para

situações reais de uso da linguagem. Os PCN`s deixam claro o seu posicionamento

diante do ensino da gramática normativa e que as aulas devem ser centradas de

forma contextualizada e não por imposição de regras.

Então, podemos observar que os PCN´s esperam que os professores não

utilizem somente a gramática tradicional nas suas praticas de ensino, evitando que

ela se torne uma forma superficial de práticas de atividades de leitura e escrita, pois

acredita-se que a língua se realiza no uso das práticas sociais, no espaço em que os

homens, em diferentes lugares, momentos e contextos, se apropriam desses

conhecimentos e agem com e sobre eles, tal como estão postos no mundo em

situações de uso. Portanto, o falante usa a língua tanto oral, quanto escrita dentro de

uma concreta e determinada situação comunicativa.

Percebe-se que o ensino de língua portuguesa passa por muitas dificuldades,

não apenas com a forma de se ensinar a gramática, como também a maneira que o

professor atua em sua pratica. Portanto, devem-se encontrar métodos eficientes de

transmitir conteúdos, criar novas práticas de ensino que vão propiciar ao aluno um

aprendizado significativo. Esses conceitos que devem ser levados em consideração

nas aulas de língua portuguesa, a fim de deixar o aluno consciente de que é

necessária a competência comunicativa e que esta é resultante do bom uso da

língua, inclusive com o reconhecimento e com a utilização de recursos próprios da

gramática.

Dessa forma, existem várias maneiras para que ocorra um bom ensino de

gramática, uma delas é o docente tornar-se mediador do conhecimento do aluno

percebendo a distância entre o aluno e a gramática, tornando-a prazerosa e não

somente obrigatória. Para isso, deve-se transmitir tais informações de forma

interativa e criativa, estabelecendo a relação professor-aluno, acreditando sempre

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que o aluno é capaz de compreender os elementos estruturais de sua língua

descrevendo-os.

Conforme os PCN`s, a escola exerce o papel de formar sujeitos críticos,

capazes de investigar, articular, descobrir de forma ativa os objetos do mundo,

lidando com a linguagem a que eles são expostos. Mais do que oferecer o convívio

do aluno com a linguagem trata-se de oferecer-lhe o convívio com práticas sociais

de uso e compreensão da sua língua materna, nas modalidades orais e escritas, de

maneira constante e progressiva e em sua diversidade. Mais do que isso, trata-se

ainda de partir das possibilidades de aprendizagem do aluno, de suas necessidades

para a ampliação da sua competência lingüística.

O PAPEL DO LIVRO DIDÁTICO

Os recursos didáticos, mais especificamente o livro didático, têm um espaço

fundamental no processo de escolarização dos indivíduos, uma vez que, na maioria

das vezes, é o único material acessível aos alunos.

De acordo com Lajolo e Zilberman (1996), o livro didático talvez seja uma das

modalidades mais antigas de expressão escrita já que é uma das condições para o

funcionamento da escola, sendo assim devemos tomar o livro como recurso de

fundamental importância no ensino de língua portuguesa, pois é nele que o aluno vai

se prender durante as aulas e ter onde recorrer em caso de dúvidas. Porém

considera-se que o livro didático nem sempre é utilizado na forma adequada tendo

em vista que ainda há equívocos e inadequações presentes durante as aulas que

podem vir a atrapalhar dependendo do seu uso.

Haja vista que o desenvolvimento pessoal, intelectual e profissional do aluno

depende diretamente do seu aprendizado, e o livro, mesmo não sendo o elemento

central, mas tem uma parcela muito grande para que aconteça um aprendizado de

qualidade durante as aulas de língua portuguesa, espera-se que ele possa ser um

apoio que tanto o aluno quanto o professor possam recorrer para que as aulas

sejam mais produtivas. Compreende-se, então, que o professor deve criar

possibilidades de trabalhar o livro didático de uma forma satisfatória, não sendo

desprezado em função das novidades que nos acercam, como por exemplo, a

internet, revistas ou jogos, isto é o livro deve ser usado como qualquer outra

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tecnologia e precisa ser pensado e encarado de forma otimizada para as estratégias

de ensino.

Nesse sentido, cabe aos professores saberem que a utilização do livro

didático é uma ferramenta para tornar seu trabalho mais fácil e rápido, embora o

livro didático sozinho não tenha condições de possibilitar uma aprendizagem

adequada, sendo essencial a participação de um professor bem preparado e

determinado a realizar um bom trabalho. Visto dessa forma entende-se que

disponibilizado independente do livro qual lhe é dado como referência, o importante

é que o profissional saiba adequar o seu uso de forma satisfatória e produtiva. Assim

o livro didático deve ser visto como instrumento de ensino e passar a ser usado

como manual específico de práticas pedagógicas, sendo de uso essencial para o

professor. Portanto, os professores devem ser aliados do livro, fazendo dele um

instrumento de trabalho produtivo, constituindo-se como um suporte teórico e prático

para o aluno e um instrumento de apoio ao professor.

Em relação ao livro didático nas aulas de língua portuguesa, Perini (2007)

afirma que há necessidade de se usar um livro que abarque uma análise criteriosa,

que englobe o aspecto formal, que mostre os critérios morfológicos, sintático e o

semântico e que trabalha a relação do sentido. Entende-se então que primeiro deve

haver uma descrição formal, depois uma descrição semântica para depois relacionar

num mesmo sistema o plano formal com o plano semântico. Isto representa um meio

prático e eficiente para uma boa aula de gramática, pois seria abordada

primeiramente por suas unidades menores, criando assim uma possibilidade de

melhor aprendizado.

O livro didático que neste estudo é visto como uma ferramenta de trabalho

que pode propiciar ao aluno um bom aprendizado a partir de seu uso pode se tornar

em uma rica fonte de pesquisa e análise desde que trabalhado de forma correta e

coerente, não se pode abrir mão do uso do livro que neste estudo é visto como uma

ferramenta de trabalho que pode propiciar ao aluno um bom aprendizado a partir do

seu uso, trazendo assim bons resultados a alunos e professores que buscam um só

objetivo: o aprendizado. Assim compreende-se que desde a escolha do livro até o

seu fim, que seja vista com competência e preocupação se o mesmo trará para os

alunos conhecimentos importante para as aulas de língua portuguesa, que o livro

possa realmente trazer resultados significativos para aquisição de uma boa

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competência comunicativa e ser o suporte ideal aos professores, que buscam nele

orientar seus alunos de forma competente.

AULA DE GRAMÁTICA: ALGUMAS ATIVIDADES ANALISADAS

A seguir serão apresentadas algumas propostas de atividades de gramática

extraídas de livros didáticos em diferentes níveis de aprendizado.

A escolha das atividades deve-se ao fato de se priorizarem o bom uso da

língua e não somente em indicar regras e nomenclaturas aos alunos, pois

possibilitam o contato com diferentes elementos da língua desde pequenas unidades

como as sílabas, até a mudança que pode ocorrer em uma oração com o uso das

conjunções. Assim seria importante que as atividades de gramática fossem voltadas

para que o aluno pudesse, de fato, desenvolver a sua competência comunicativa,

reconhecer a estrutura da sua língua e não somente saber as regras, mas também

entendê-las e assim conseguir participar linguisticamente em seu meio social.

Dessa forma, as atividades retiradas dos livros didáticos permitem a

constatação de que as atividades de gramática podem ajudar para que o falante

faça um bom uso da língua.A primeira atividade proposta é para alunos do 5º ano (4º

série da Educação Infantil), referente ao ensino de ortografia. Vejamos o que a

atividade apresenta.

Atividade 1

1. Junte as sílabas seguindo a numeração indicada e forme palavras.

1

co

2

ra

3

ca

4

nha

5

me

6

da

7

be

8

to

9

nem

10

sou

11

sa

12

pre

13

ro

14

si

15

re

16

te

Vejamos a próxima atividade que é complementar a esta.

2. Escolha duas palavras da atividade anterior e forme frases com elas.

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Fonte: PASSOS, Cecília Maria Costa e SILVA, Zeneide Albuquerque. Eu gosto (integrado) 1. ed.

São Paulo: IBEP, 2009.

A atividade proposta pode mostrar ao aluno que, a partir de pequenas

unidades, podem ser formadas palavras, ao mesmo tempo pode ser explorado o

ensino da separação silábica, já uma criança começa a desenvolver sua oralidade

através das sílabas. Nesse sentido, torna-se relevante enfatizar ao aluno que uma

ou mais sílabas são importantes para formar uma palavra, e que a quantidade de

sílabas que podem ser formadas unindo caracteres é quase infinita. Compreende-

se, então, que desde criança já poderá começar a perceber a importância que a

língua traz em sua vida, identificando as diversas maneiras de como as palavras se

formam a partir de pequenas unidades.

Logo a segunda atividade proposta permite que o aluno dê um passo maior,

pois não criará somente palavras, mas sim frases, e também dar sentidos a elas de

acordo com sua criatividade. Essa é uma atividade em que o aluno pode usar seu

conhecimento adquirido, pois ele se baseará em fatos cotidianos para construir tais

frases, e assim usar diferentes recursos da língua e da gramática. A criança poderá,

agora, juntar as palavras que foram criadas e uni-las para formar unidades maiores

que, nesse caso, são as frases, que se constituem como um enunciado linguístico

que transmite uma ideia, um sentido. Nessa perspectiva, deve-se levar o aluno a

compreender que as construções da fala são produzidas a partir de palavras e

frases, unidades importante para que se estabeleça o processo de comunicação.

As próximas atividades propostas são para alunos do 6º ano do Ensino

Fundamental, sobre o estudo dos verbos e seus diferentes usos na língua. Entende-

se que o verbo é uma das unidades mais importantes da oração, pois é acerca dele

que se estrutura a oração, além do fato de que os outros elementos da oração estão

diretamente ligados ao verbo, que têm um papel importante, considerando-se que

todos os outros elementos, basicamente, giram em torno do verbo para que a

oração se efetive. Por essa razão, o verbo pode ser considerado uma das classes

gramaticais de maior importância, fazendo assim com que as orações adquiram um

sentido completo. Vejamos então a proposta da atividade.

Atividade 2

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Fonte: CEREJA, Wilian Roberto e MAGALHAES, Thereza Cochar. Português: Linguagens, 6 º ano.

5. ed. reformulada. São Paulo: Atual, 2009.

Observamos que a partir da pratica dessa atividade o aluno será capaz de

compreender o que indica o modo verbal citado, que nesse caso, é o imperativo, o

qual indica ordem, pedido. É através do uso desse modo que as pessoas podem

entender o que o anúncio quer transmitir, ou seja, induzir o interlocutor a realizar a

ação por ele expressa. Destaca-se que essa compreensão não seria possível se o

verbo estivesse em outro modo, como no indicativo, por exemplo.

Nessa atividade, o aluno poderá refletir acerca da forma verbal presente no

texto. Diferentemente da anterior, esse modo verbal é o subjuntivo que indica

possibilidade e hipótese e, por esse motivo, não seria possível o uso de outro modo

verbal, pois a oração transmite uma ideia de dúvida e incerteza.

O objetivo dessa atividade seria ampliar ainda mais a abordagem do conteúdo

gramatical. É o momento em que, partindo de situações concretas de comunicação,

como por exemplo, no estudo dos verbos abordados acima, a gramática preocupa-

se em mostrar os aspectos verbais ressaltando de modo objetivo o uso de fatos

linguísticos. Assim, promove um estudo que, por um lado, desenvolve a

competência comunicativa do aluno e, por outro lado, explicita os mecanismos de

1. Na parte inferior do anúncio, em letras menores, lemos:

“Ajude o Greenpeace a dar um basta na poluição industrial. Impedir descargas

industriais tóxicas no ar, na terra, nos rios e nos oceanos é impedir que elas se

acumulem no seu corpo”.

a) Em que modo estão as formas verbais Chega e ajude?

b) Considerando a finalidade do anúncio, responda: Por que o emprego desse

modo verbal é necessário?

2. No trecho “Impedir descargas industriais tóxicas no ar, na rua, na terra, nos rios

e nos oceanos é impedir que elas se acumulem no seu corpo”.

a) Em que modo está à forma verbal acumulem?

b) O que justifica o emprego desse modo verbal nesse enunciado?

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funcionamento da língua, a fim de que ele faça uso deles com maior consciência e

domínio.

A seguir apresentaremos atividades propostas para alunos do 3º anos do

ensino médio, em relação ao estudo do período composto por coordenação.

Atividade 3

1.Leia este poema:

O mundo é grande

O mundo é grande e cabe

Nesta janela sobre o mar.

O mar é grande e cabe

Na cama e no colchão de amar.

O amor é grande e cabe

No breve espaço de beijar.

(Carlos Drummond de Andrade)

No texto o poeta emprega a conjunção e com dois diferentes valores sintáticos

semânticos:

a)Em qual das ocorrências essa conjunção tem valor aditivo?

b)Nas demais ocorrências, que valor ela tem? Justifique sua resposta baseando-se

nas relações de sentido estabelecidas entre as orações ligadas por essa conjunção.

Fonte: FERREIRA, Mauro; LEITE, Ricardo; ANTONIO, Severino; AMARAL, Emília. Novas palavras:

Língua portuguesa: ensino médio, 2.ed. renov. São Paulo: FTD, 2005.

A atividade propõe que o aluno explore as diversas formas como as

conjunções podem ser usadas no período composto e observar que, se mudadas de

lugar, podem mudar o sentido da oração. Nesse caso, o aluno poderá perceber as

diversas formas que a língua pode ser utilizada através de suas funções gramaticais,

pois em um determinado momento, a conjunção foi usada com um valor dando um

sentido ao texto e em outro momento a mesma conjunção recebe outro valor e muda

o sentido da oração. Ou seja: no 4º verso, a conjunção e tem valor aditivo, enquanto

que, no 6º verso, essa mesma oração tem valor adversativo.

Podemos perceber que o uso da conjunção, conforme indica na atividade tem

valor sintático e semântico, ou seja, não pede somente que o aluno identifique qual é

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a conjunção usada no texto, mas sim que estabeleça valor que ela proporciona na

oração. Desse modo, a partir de atividades que realmente façam com que o aluno

pense nos diferentes modos de como a língua pode ser usada, que a partir de um

simples conectivo pode mudar todo o sentido de uma oração, os alunos poderão

compreender melhor a forma como eles mesmos se expressam e começar a refletir

sobre o funcionamento de sua língua.

Após as análises das atividades, podemos observar que todas as propostas

podem mostrar caminhos aos alunos e docentes para que aconteça um ensino

viabilizando a aquisição de uma boa competência comunicativa a partir das aulas de

gramática, com atividades que explorem as possibilidades de uso efetivo da língua e

representá-la de diversas maneiras, tanto na fala quanto na escrita. Visto dessa

forma, os docentes podem fazer das aulas de gramática um momento oportuno e

prazeroso para os alunos adquiram aspectos linguísticos que os façam participar e

interagir linguisticamente em seu meio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos apontamentos propostos neste estudo, procurou-se demonstrar a

importância do ensino de gramática nos diferentes níveis de ensino, desde a

Educação infantil até o Ensino Médio, na busca pela aquisição de uma boa

competência linguística, visto que a aula de gramática deve acontecer de forma que

os alunos usem a língua de maneira competente em suas diversas situações de uso,

podendo interagir e se comunicar de forma expressiva e coerente. Portanto pode

ampliar seus conhecimentos linguísticos e gramaticais numa perspectiva de

melhoria na sua qualidade de vida, interação e convívio social.

Assim a gramática deve ser vista como um recurso lingüístico para que haja

um ensino de qualidade e significativo para os alunos em todo o seu processo de

aprendizagem. Assim entende-se que a gramática deve ser um recurso importante

para que o aluno possa de fato interagir em seu meio social e ser capaz de usar a

língua em diferentes contextos.

Tendo em vista que um dos maiores desafios de um ensino significativo de

língua portuguesa é o de auxiliar os alunos a adquirirem uma competência

comunicativa e que os mesmos sejam capazes de se comunicar linguisticamente na

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sociedade em que estão inseridos compreende-se a relevância da especificidade da

aula de gramática como um instrumento de apoio que tornará esta pratica mais fácil

e eficiente.

Neste sentido, é que ressaltamos a importância de se mostrar o conceito de

língua e gramática conforme apresentado no primeiro tópico, vimos também o que

nos dizem os PCN`s a respeito das aulas de língua portuguesa que conforme

compreendido têm como intuito de ajudar a melhorar as aulas de língua portuguesa

e citamos também o livro didático que conforme vimos seria um apoio ao docente

para que suas aulas se tornem mais produtivas e eficientes.

Assim, esperamos que o trabalho apresentado possa ajudar aos docentes

deste seguimento de ensino a fazerem da aula de gramática um dos meios

eficientes para que os falantes da língua portuguesa adquiram uma boa

competência lingüística e possam interagir linguisticamente no seu meio social.

PORTUGUÉS CLASE EL RETO DE ENSENÃR LA GRAMÁTICA

Resumen: el presente trabajo propone presentar la importancia de la enseñanza de la gramática en las clases de lengua portuguesa objetivando el desarrollo de la competencia lingüística del individuo, poniendo de relleve las dificultades que los profesores encuentran al enseñarla e identificar sugerencias que tengan relevancia para que la enseñanza de la gramática traiga un aprendizaje de calidad. Esta pesquisa se ha basado en autores como: Luiz Carlos Travaglia (2003), que propone una enseñanza del portugués direccionada para que el hablante pueda utilizar la lengua de manera interactiva; Evanildo Bechara (2001), que considera la lengua como un producto histórico y, a la vez, una unidad realizada; Irandé Antunes (2007), que puntualiza que la escuela debe enseñar y ofrecer al alumno condiciones para que haga uso de la lengua de acuerdo con la situación vivenciada; Sírio Possenti (1996), que se preocupa con la gramática enseñada en la escuela; entre otros que se encuentran en la referencia bibliográfica.

Palabras – Clave: Enseñanza. Gramática. Aprendizado. Calidad.

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REFERÊNCIAS ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho, São Paulo: Parábola Editorial, 2007. BATISTA, Antonio Augusto G. Aula de Português: Discursos e saberes escolares, São Paulo: Martins Fontes, 2001. BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. Ed. Rio de Janeiro: Lucena, 2001. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa 3º e 4º ciclos. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Fundamental, 1998. _____. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Parte II: Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEMT, 2000. CEREJA, Wilian Roberto; MAGALHAES, Thereza Cochar. Português: linguagens, 6 º ano. 5. ed. reformulada. São Paulo: Atual, 2009. FERREIRA, Mauro; LEITE, Ricardo; ANTONIO, Severino; AMARAL, Emília. Novas palavras: Língua portuguesa: ensino médio, 2.ed. renov. São Paulo: FTD, 2005 LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1996. MUSSALIN, Fernanda; BENTES, Anna Christina. Introdução a Lingüística: Fundamentos epistemológicos, v.3. São Paulo: Cortez, 2009. NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: UNESP, 2000. PASSOS, Cecília Maria Costa; SILVA, Zeneide Albuquerque. Eu gosto (integrado) 1. ed. São Paulo: IBEP, 2009. PERINI, Mário A. Sofrendo a gramática: a matéria que ninguém aprende: Ensaios sobre a linguagem. São Paulo: Ática, 1997.

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_____. Para uma nova gramática do português. São Paulo: Ática, 2007 POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. São Paulo: Mundo das letras, 1996. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. 8. Ed. São Paulo: Cortez, 2002. _____. Gramática: Ensino plural. 1. Ed. São Paulo: Cortez, 2003.