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TEORIA DA COMUNICAÇÃO AUTOR: PROF. RICARDO FORTUNATO AULA 3 - O surgimento da Teoria Funcionalista Síntese: Nesta aula, falaremos sobre o surgimento da Teoria Funcionalista. Mas antes de iniciarmos uma abordagem sobre ela, é necessário explicar a você qual era o contexto no qual o Funcionalismo se insere. Lembrando que para fazermos essa contextualização, como foi explicado na primeira aula, é necessário reconstituirmos os principais fatos históricos, políticos, sociais e culturais, pois, do contrário, não ficará claro a importância que esses primeiros estudos sobre a comunicação representaram naquele período. Contexto Histórico: positivismo Auguste Comte (1798-1857) criou uma doutrina chamada positivismo, e que teve por princípio interpretar todos os fatos ocorridos com os seres humanos a partir de uma abordagem que tinha como referencial as ciências naturais. Ou seja, o filósofo acreditava que tudo aquilo que ocorria com o homem era determinado pela natureza. Este pensamento contribuiu para o desenvolvimento das ciências humanas. (Saiba mais. http://educacao.uol.com.br/biografias/u lt1789u203.jhtm) A sociologia de Émile Durkheim As idéias iniciadas por Comte abriram caminho para o surgimento de outras abordagens que também tinham como objetivo analisar os fenômenos que aconteciam na sociedade. A principal delas é a sociologia desenvolvida por 1

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TEORIA DA COMUNICAÇÃO AUTOR: PROF. RICARDO FORTUNATO

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Page 1: AULA 3 - O surgimento da Teoria Funcionalista

TEORIA DA COMUNICAÇÃO

AUTOR: PROF. RICARDO FORTUNATO

AULA 3 - O surgimento da Teoria Funcionalista

Síntese:

Nesta aula, falaremos sobre o surgimento da Teoria Funcionalista. Mas antes de iniciarmos uma abordagem sobre ela, é necessário explicar a você qual era o contexto no qual o Funcionalismo se insere. Lembrando que para fazermos essa contextualização, como foi explicado na primeira aula, é necessário reconstituirmos os principais fatos históricos, políticos, sociais e culturais, pois, do contrário, não ficará claro a importância que esses primeiros estudos sobre a comunicação representaram naquele período.

Contexto Histórico: positivismo

Auguste Comte (1798-1857) criou uma doutrina chamada positivismo, e que teve por princípio interpretar todos os fatos ocorridos com os seres humanos a partir de uma abordagem que tinha como referencial as ciências naturais. Ou seja, o filósofo acreditava que tudo aquilo que ocorria com o homem era determinado pela natureza. Este pensamento contribuiu para o desenvolvimento das ciências

humanas. (Saiba mais. http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u203.jhtm)

A sociologia de Émile Durkheim

As idéias iniciadas por Comte abriram caminho para o surgimento de outras abordagens que também tinham como objetivo analisar os fenômenos que aconteciam na sociedade. A principal delas é a sociologia desenvolvida por Émile Durkheim. Este modelo foi chamado de sociologia funcionalista, pois fazia parte de sua metodologia positivista as comparações entre o corpo humano e a sociedade. Isto é:

“ele acaba definindo a sociedade como um organismo, composto por partes que garantem a sobrevivência do todo por meio do desempenho de funções específicas. Funções, nesse caso, são os efeitos provocados no todo por uma das partes constituintes” (Vilalba, 2006, p. 73).

Para que você entenda de que maneira era possível analisar a sociedade comparando-a com um corpo humano, cito um trecho do trabalho de Dráuzio Varella, no qual ele nos relata um pouco de sua experiência cuidando de pacientes em estado terminal. Escreveu o autor:

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"Imaginar a morte como um fardo prestes a desabar sobre nosso destino é insuportável. Conviver com a impressão de que ela nos espreita é tão angustiante que organizamos a rotina diária como se fôssemos imortais e, ainda, criamos teorias fantásticas para nos convencer de que a vida é eterna" (VARELLA, Dráuzio. Por um fio. São Paulo: Cia. das Letras, 2004, p. 8).

Este trecho deixa claro que a única certeza que temos é a de que vamos morrer. No entanto, organizamos a nossa vida pensando, somente, na vida. Um bom exemplo é você que participa desta aula. O que será que te levou a escolher um curso que só poderá ser concluído a longo prazo? Sim, porque quatro anos é um longo prazo.

Você faz isso porque tem a certeza de que estará vivo para receber o diploma ao término do curso. O seu objetivo e o da sociedade são os mesmos: sobreviver. Quer outro exemplo? Então vamos lá. O nosso sistema imunológico conta com a participação dos glóbulos brancos, que entram em ação toda vez que um organismo estranho invade o nosso corpo. É o mesmo papel que a polícia desempenha na sociedade. Do contrário, tanto ela, quanto o nosso organismo não conseguiriam cumprir seus objetivos, ou seja, sobreviverem.

Pelas nossas veias e artérias circulam o sangue levando oxigênio para todos os nossos órgãos. Agora, se uma pessoa tiver uma vida sedentária, certamente, apresentará índices elevados de colesterol nocivo, o que impedirá que o sangue circule corretamente. O mesmo ocorre com a sociedade. Em muitas regiões, nos horários de pico, o trânsito não flui como deveria. Isso faz com que o "corpo social" apresente problemas parecidos com aqueles verificados no corpo humano.

Espero que tenha ficado claro para você que na teoria funcionalista o corpo humano e o corpo social são colocados frente a frente, sendo que os órgãos de um possuem a mesma correspondência com as instituições de outro. Agora, falaremos sobre outro conceito inerente ao funcionalismo, que é o "fato social".

Fato Social

Durkheim organiza a sua doutrina influenciado pelas idéias positivistas e conceitua o “fato social” como algo perceptível e interpretável mediante a comparação com outros fatos sociais que se constituem independentemente da existência de uma consciência individual. Ou seja, para Durkheim, todos os fatos passíveis de interpretação só faziam sentido se analisados em conjunto. Isto é, a sociedade era vista somente como um todo,

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desprezando as características de cada indivíduo que a constitui.

"Essa distinção entre fato social e consciência individual é importante para a autonomia do campo de estudos sociológicos, pois distancia a sociologia da psicologia. Tal distanciamento é acatado por outros importantes pesquisadores, como Bronislaw Malinowski (antropologia) e o americano Harold Lasswell (sociologia funcionalista da mídia, ciência política)" (Idem, 2006, p. 73).

Função e Disfunção

O conceito de função utilizado pelos funcionalistas apresentava alguns problemas, sendo que o principal deles era o fato de apenas os fenômenos considerados funcionais serem contemplados. Ou seja, funcional era o conceito atribuído a tudo aquilo que na estrutura social realiza o seu trabalho (função) de forma repetitiva garantindo, assim, a estabilidade do sistema.

“O funcionalismo sociológico parte do princípio segundo qual todo elemento, que componha o (que é) social, é solidário aos demais, não podendo ser compreendido fora da totalidade que ele institui e que o constitui como parte. (...) Tomado como princípio metodológico, o funcionalismo se compara ao procedimento científico típico do domínio da sociologia. Pressupõe a seu modo, que haja permanente tendência para a integração e para um equilíbrio funcional, ambos assegurados por um consenso acerca dos valores em vigência em determinada sociedade. Esses valores se acham na origem das condutas, assim como na de toda organização social” (Idem, 2006, p. 85).

Um exemplo, no contexto humano, é o que faz o coração ao bombear sangue para todos os nossos órgãos. Caso esse bombeamento não fosse feito de forma sistêmica, certamente, causaria muitos danos ao corpo humano. Só que o fato de tudo aquilo que é disfuncional não incorporar as análises da Escola Funcionalista, certamente, causaria uma falsa interpretação de um fenômeno social. Como exemplo, eu tenho um caso que aconteceu em uma de minhas aulas. Falava, por coincidência, sobre o Funcionalismo, quando depois de fazer a chamada uma aluna me procurou para dizer que não voltaria no segundo

horário. Ela havia sido furtada no seu trabalho e as suas perdas materiais a chatearam. Não percebi nada na fisionomia da aluna, durante as minhas explicações. Às vezes, ela até fazia um gesto com a cabeça para mostrar que estava entendo. Isso ilustra bem o que é uma análise baseada apenas naquilo que funciona. O contexto no qual a aluna se inseriu, antes de ir para a aula, interferiu na sua concentração, mas só percebi isso depois de ouvir o se desabafo. Em suma, nem tudo funcionou.

Funções: manifesta e latente

Agora que você já sabe o conceito de função, vamos distingui-la em dois tipos: a função latente a função manifesta.

Saiba mais:http://www.portal-rp.com.br/bibliotecavirtual/outrasareas/publicidadeepropaganda/0022.htm

“isto é, para além das funções (ou disfunções) diretas, existem funções (ou disfunções) indiretas; finalmente, as funções e disfunções podem ser manifestas ou latentes: manifestas são as que são desejadas e reconhecidas; latentes são as que não são reconhecidas nem conscientemente desejadas” (Wolf, 1985, p. 65).

Para ficar mais fácil de você perceber como cada um desses conceitos se apresenta na prática, formularei um exemplo para cada um. Imagine uma propaganda sobre a saúde pública que incentiva a população a se vacinar contra uma determinada doença, para que ela não se transforme numa epidemia. A população atende ao chamado e uma epidemia é evitada. Este é um exemplo de uma função manifesta, ou seja, desejável.

Permanecendo como o mesmo exemplo, imagine se a população, assustada com a probabilidade de uma epidemia, desloca-se para os postos de vacinação logo no primeiro dia de campanha, fazendo com que a demanda supere as expectativas de seus organizadores. O saldo disso é um grande tumulto em frente aos postos de vacinação. Este é um exemplo de função latente.

Para encerrarmos este tema, vale ressaltar uma informação. As funções podem ser desejadas e reconhecidas (manifestas) ou não reconhecidas e nem desejadas (latentes). Neste segundo caso, o não reconhecimento de uma função latente está relacionado ao fato de a Teoria Funcionalista ocupar-se, somente, daquilo que funciona, Ou seja, aquilo que não funciona é uma patologia (disfuncional) e, por isso, não faz parte dos estudos empreendidos por essa escola.

Bibliografia:

VARELLA, Dráuzio. Por um fio. São Paulo: Cia. das Letras, 2004VILALBA. Rodrigo. Teoria da Comunicação: conceitos básicos. São Paulo: Ática, 2006.

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WOLF. Mauro. Teorias da Comunicação – Mass media: contextos e paradigmas. Lisboa: Editora Presença, 1985.

Internet:KUNSCH. Margarida Maria. Intencionalidade e transintencionalidade na comunicação publicitária. http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u203.jhtm

AULA 4 - O primeiro modelo de análise do processo de comunicação proposto pelos funcionalistas

Síntese:

Após discutirmos, na aula anterior, algumas questões sobre a Escola Funcionalista, chegou o momento de revelarmos as suas principais contribuições no campo da comunicação. Para isso, apresentaremos a você o primeiro modelo de análise do processo de comunicação proposto pelos funcionalistas. Trata-se da Teoria Hipodérmica ou Teoria das Balas Mágicas.

Contexto Histórico

O contexto histórico no qual a Teoria Hipodérmica se insere é o das duas guerras mundiais. Além delas, chamava a atenção algumas transformações ocorridas na sociedade americana. Elas tinham a ver com o processo de industrialização que se acentuava desde a Revolução Industrial, no século XVIII, e com o surgimento de uma nova sociedade, logo chamada de massa.

Sociedade de Massa

(...) a sociedade de massa é, sobretudo a consequência da industrialização progressiva, da revolução dos transportes e do comércio, da difusão de valores abstratos de igualdade e liberdade. (...) O enfraquecimento dos laços tradicionais (de família, comunidade, associações de ofício, religião etc) contribuiu, por seu lado, para afrouxar o tecido conectivo da sociedade e para preparar as condições

que conduzem ao isolamento e à alienação das massas" (Wolf, 1985, p. 24).

Saiba mais: Abstratos (Glossário.Abstrato: adj (lat abstractu) 1 Que resulta de abstração. 2 Que significa uma qualidade com exclusão do sujeito. 3 Demasiado obscuro, sutil, vago. 4 Diz-se dos seres ou dos fatos imaginários, admitidos por suposição.

Para que essas idéias não pareçam abstratas demais, falarei sobre algumas característica da sociedade de massa verificadas hoje, em pleno século XXI. Para ilustrar o que pretendo dizer, contarei uma história que ocorreu comigo. Outro dia, encontrei um colega de longa data, que me falou estar desempregado a seis meses. Ao saber que eu trabalho na Uninove, não perdeu tempo em perguntar: "lá está precisando?" Quis saber o que ele fazia, em qual área atuava. A sua resposta foi: "qualquer coisa, faço qualquer coisa!" Confesso que aquilo me deixou surpreso. Como uma pessoa se sujeita a fazer qualquer coisa para sobreviver?

A explicação para isso está no surgimento da sociedade industrial, moderna e de massa. Esta sociedade não mantém as referências do passado, do período em que a sua cultura era tradicional. Naquele tempo, a profissão exercida pelo pai era ensinada para o filho. Assim, todos mantinham uma identidade profissional. O marido, ao saber da gravidez da esposa, se prontificava a construir um berço para o seu filho. Esse berço era feito artesanalmente e trazia as marcas impressas pelo seu produtor - o pai -. O nome do futuro filho poderia ser entalhado no berço, reforçando ainda mais a identidade daquela família.

Saiba mais: Identidade (Glossário. Identidade: sf (lat identitate) 4 Dir Conjunto dos caracteres próprios de uma pessoa, tais como nome, profissão, sexo, impressões digitais, defeitos físicos etc., o qual é considerado exclusivo dela e, conseqüentemente, considerado, quando ela precisa ser reconhecida. I. pessoal: consciência que uma pessoa tem de si mesma.

"Com a perda do acesso à terra e com a substituição das ferramentas artesanais pelas máquinas, como os principais instrumentos de produção, aos trabalhadores não restou outra alternativa senão transformarem-se em assalariados a serviço dos proprietários rurais e dos industriais. Ocorreu uma ruptura entre a participação dos trabalhadores no processo produtivo e a capacidade deles mesmos produzirem os seus meios de subsistência" (Coelho, 2003, p. 06).

Sem a possibilidade de produzir tudo o que era necessário para o sustento de sua família, o "marido", agora, passava a depender das indústrias. Esse processo fez com que fossem verificados na sociedade americana alguns problemas nunca antes vistos, mas que especialistas apontavam como sendo típicos efeitos da modernização. Em outras palavras, a sociedade, aos poucos, deixava suas características tradicionais e passava a incorporar outras impulsionadas pela

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industrialização.

Mas, diante desses fatos, você deve estar se perguntando: o que tudo isso tem a ver com que vínhamos estudando? Respondo. O objetivo principal da Escola Funcionalista era entender os efeitos que a modernização causava na sociedade. O método adotado no período levou alguns teóricos a compará-la com o corpo humano, como você estudou na aula passada.

Nessa sociedade, as instituições sociais eram associadas aos orgãos humanos e os Meios de Comunicação de Massa (M.C.M.) desempenhavam, do ponto de vista funcional, um papel importante e merecedor de análise que, consequentemente, exigia uma referência teórica que desse conta desse fenômeno.

Saiba mais: Instituições sociais -(Glossário. Instituição:sf (lat institutione) 1 Ato ou efeito de instituir. 2 Instituto. 3 Coisa instituída ou estabelecida. 4 Regra, norma. 5 Nomeação de herdeiro. sf pl Leis fundamentais de uma sociedade política. I. social, Sociol: complexo integrado por idéias, padrões de comportamento, relações inter-humanas e, muitas vezes, um equipamento material, organizados em torno de um interesse socialmente reconhecido)

Teoria Hipodérmica (GLOSSÁRIO: A palavra "hipo" significa abaixo. A palavra "Dérmica" ou derme significa pele. Isto é, abaixo da pele. Esse significado tem a ver com aquilo que acreditavam que era a função da mídia: agir como uma seringa injetando informações na mente de um receptor).

A Teoria Hipodérmica foi também a teoria da propaganda. No início dos anos 20 alguns autores escreveram livros revelando quais eram as estratégias capazes de fazer com que uma mensagem alcançasse seus objetivos. Ganhou corpo a idéia de que os seres humanos obedeciam a certos estímulos e que isso tinha relação com a nova sociedade que se desenvolvia. Esta sociedade, destituida de suas caracterísitcas tradicionais, era vista como alienada e dispersa, se considerarmos os indivíduos que a compunham. E a única maneira de se comunicar com ela era através dos meios de comunicação, cada vez mais presentes e mais dignos de inquietações, tanto que um modelo teórico foi desenvolvido com o intuito de descobrir até que ponto poderia chegar seu poder de atuação.

"Na realidade, mais do que um modelo sobre o processo de comunicação, dever-se-ia falar de uma teoria da ação elaborada pela psicologia behavorista. O seu objetivo é o estudo do comportamento humano com os métodos de experimentação e observação das ciências naturais e biológicas" (Idem, 1985, p. 27).

Isso passou a significar que todo gesto verificado no ser humano era resultado de algum estímulo. Logo, passou-se a fazer essa relação tendo o meio de comunicação como o produtor de estímulos, cheios de intencionalidade, e uma reação do ser humano ao ser pego pelo estímulo produzido pelo meio de

comunicação.

Para que você possa compreender melhor, imagine a seguinte situação. Um político deseja ser eleito. Ele cria uma mensagem e a veicula pelo rádio, por exemplo. A sua intenção é a de fazer com que todos aqueles que tiverem acesso a propaganda votem nele. Ao ser eleito, o político atribuirá o seu sucesso ao poder dos meios de comunicação. Em outras palavras, de acordo com a Teoria Hipodérmica, o poder que os meios de comunicação exercem na sociedade é ilimitado.

Behavorismo

Espero que você tenha entendido as principais características da Teoria Hipodérmica e o contexto histórico no qual ela se insere. Agora, falaremos sobre a matriz da Teoria das balas mágicas. Ela não surgiu do nada. A sua referência foi o behaviorismo ou psicologia comportamental.

De acordo com essa teoria, o ser humano poderia ser condicionado. Para isso, bastava enviar o estímulo adequado que a atitude da pessoa seria previsível. É como uma relação causal ou de causa-efeito, em que a causa/estímulo é representada pela mensagem e o efeito/ resposta é o comportamento da pessoa atingida por ela, a mensagem.

As características do receptor, o contexto no qual a comunicação ocorre, nada disso é contemplado na Teoria Hipodérmica. Isso fez com que alguns teóricos, também funcionalistas, tentassem atribuir um pouco mais de complexidade a ela, pois do jeito que propunha a relação emissor/receptor parecia que a comunicação ocorria como num processo de mágica.

A mais conhecida tentativa de tornar complexa uma teoria simplista foi realizada por Harold Lasswell. Seu trabalho é o tema da próxima aula.

Bibliografia

VARELLA, Dráuzio. Por um fio. São Paulo: Cia. das Letras, 2004VILALBA. Rodrigo. Teoria da Comunicação: conceitos básicos. São Paulo: Ática, 2006. WOLF. Mauro. Teorias da Comunicação – Mass media: contextos e paradigmas. Lisboa: Editora Presença, 1985. COELHO, Cláudio Novaes Pinto. Publicidade: é possível escapar?São Paulo: Paulus, 2003.

Internet

DicionárioMichaelis. http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=

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AULA 5 - O trabalho desenvolvido pelo teórico Harold Lasswell.

Síntese

Na aula passada, você estudou os principais conceitos da Escola Funcionalista e conheceu o contexto histórico em que seu surgimento se inseriu. Também aprendeu sobre a teoria hipodérmica, principalmente, no que diz respeito à maneira como ela conceitua o receptor de uma mensagem. Nesta aula, daremos continuidade aos estudos desenvolvidos pelos funcionalistas. Para isso, falaremos sobre o trabalho desenvolvido pelo teórico Harod Lasswell.

Harold Lasswell - (Saiba mais: http://pt.wikipedia.org/wiki/Harold_Lasswell )

Lasswell, por volta dos anos 30, elaborou uma teoria que ficou conhecida como o “paradigma de Lasswell”. Ela representou um avanço nas pesquisas no campo da comunicação, pois aquilo que havia antes era o modelo simplista proposto pela Teoria Hipodérmica.

Você deve se lembrar que essa teoria colocava os meios de comunicação em ampla vantagem em relação ao receptor. É como se eles tivessem o poder de transformar as pessoas em marionetes, destituídas de qualquer vontade, que só pudessem reagir às mensagens da mídia de acordo com os interesses emitidos por ela.

Para contrapor esta idéia, Lasswell, com seu paradigma, inicia um tipo de análise conhecida como "análise de conteúdo". Isto é, enquanto a Teoria Hipodérmica focava o poder dos emissores neste novo paradigma a proposta era verificar todas

as características de uma mensagem, desde a sua elaboração até a sua difusão, como no modelo a seguir:

1- Quem?2- O que?3- Canal?4- A quem?5- Com que efeitos?

“Qualquer uma destas variáveis define e organiza um setor específico da pesquisa: a primeira caracteriza o estudo dos emissores, ou seja, a análise do controle sobre o que é difundido. Quem, por sua vez, estudar a segunda variável, elabora a análise do conteúdo das mensagens, enquanto o estudo da terceira variável dá lugar à análise dos meios. Análises da audiência e dos efeitos definem os restantes setores de investigação sobre os processos comunicativos de massa” (Wolf, 1985, p.p. 30-31).

Ao fazer essas perguntas, o teórico pretendia analisar a comunicação começando pelo seu emissor. Segundo ele, o emissor tem de emitir uma mensagem que tenha a ver com ele. Caso o emissor seja um político, a mesma seriedade com que costuma aparecer e se portar em público deve fazer parte de seu discurso.

A segunda pergunta diz respeito aquilo que está sendo dito. Ou seja, a mensagem tem de estar de acordo com o emissor. Por exemplo, o jeito espontâneo de o presidente Lula se manifestar tem a ver com a sua origem. Os mesmos exemplos, as mesmas metáforas não combinariam com o presidente anterior, Fernando Henrique, pois ele, por ter uma imagem de intelectual, deve emitir um discurso de acordo com ela.

A terceira pergunta refere-se ao canal ou meio que servirá de suporte para a mensagem. Um exemplo atual e que ilustra muito bem o que estamos explicando é a tentação que alguns alunos sentem ao escrever mensagens em suportes diferentes. Isto é, ao escrever uma carta é possível que você insira uma palavra abreviada, tal como faz na internet. Só que o caderno é um suporte que exige uma linguagem normativa. Abreviações combinam com a linguagem de chat, mas não com a linguagem normativa. Por essa razão, você deve sempre verificar se a sua mensagem está ou não de acordo com o meio de comunicação escolhido.

O público diz respeito à quarta pergunta. Toda mensagem possui um destinatário. E como comunicar, de acordo com o que você estudou na primeira aula, significa tornar comum, é necessário adaptar a mensagem de acordo com as suas características e isso inclui o seu repertório cultural. Pois se utilizarmos expressões que o nosso interlocutor desconhece, não conseguiremos realizar o objetivo de todo ato comunicacional.

Para ficar mais claro, é só você imaginar uma aula presencial. Quando o professor quer saber a sua idade, em que trabalha etc. não é mera curiosidade e sim uma

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maneira de saber o mínimo de informações a respeito do público para o qual a aula foi preparada. O perfil do aluno poderá se encaixar num exemplo, num comentário, para que ele compreenda melhor aquilo que está sendo dito. Agora você entendeu o motivo daquelas indagações?

E para encerrarmos temos a pergunta “com que efeito?”. Ela representa o objetivo que estabelecemos ao nos comunicarmos com alguém. Por exemplo. Você que está interagindo com esta aula talvez não perceba, mas todo este conteúdo foi feito pensando em você. Porque o meu objetivo é fazer com que você entenda, da melhor maneira possível, os princípios básicos desta disciplina. E é dessa maneira que devemos proceder em todo ato comunicacional.

Ao preparar esta aula, tive de me recordar das principais dúvidas que os alunos manifestaram nos cursos presenciais e de uma maneira bem objetiva tentei respondê-las, pois imagino que você poderia manifestar questionamentos semelhantes. Ou seja, tudo aqui é feito com um objetivo e mesmo que não estejamos conversando pessoalmente não significa que não haja possibilidade de comunicação. Claro que há. E a prova é você aí do outro lado da tela aprendendo um pouquinho deste conteúdo.

“O esquema de Lasswell organizou a communication research, que começava a aparecer, em torno de dois dos seus temas centrais e de maior duração – a análise dos efeitos e a análise dos conteúdos – e, ao mesmo tempo, individualizou os outros setores de desenvolvimento da matéria, sobretudo a control analysis (Glossário: análise de controle) Se, por um lado, o esquema revela abertamente o período em que nasceu e os interesses cognicistivos em relação aos quais foi elaborado, surpreende, por outro lado, a sua duração, a sua sobrevivência, por vezes ainda efetiva, como esquema analítico “adequado” a uma pesquisa que se desenvolveu largamente em oposição à teoria hipodérmica de que é devedor” (Idem, 1985, p. 31).

Saiba mais sobre Communication research no site: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010019651998000300012&script=sci_arttext&tlng=

Acredito que você tenha percebido as diferenças entre as afirmações típicas da Teoria Hipodérmica e as referentes ao paradigma de Lasswell. Este fez com que a análise da comunicação adquirisse um pouco mais de complexidade. Ou seja, cada pergunta que integra o paradigma é um componente da comunicação que deve ser analisado. Na Teoria Hipodérmica, somente a mensagem e os efeitos desejados eram contemplados. Com esta simplicidade não demorou muito até a sua superação, como veremos melhor na próxima aula.

Bibliografia:

WOLF. Mauro. Teorias da comunicação: contextos e paradigmas. Lisboa: Editorial

Presença, 1985.

Internet:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Harold_Lasswell

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010019651998000300012&script=sci_arttext&tlng=pt

AULA 6 - O teórico Paul Lazarsfeld.

Síntese

Na aula passada, você aprendeu um pouco mais sobre as primeiras contribuições que os funcionalistas deram aos estudos da comunicação.

Você viu que a Teoria Hipodérmica teve sua superação devida às inquietações que os teóricos funcionalistas sentiram ao perceberem as limitações que seu modelo propunha.

Nesta aula, você conhecerá o teórico Paul Lazarsfeld que com seu paradigma contextualizou o processo de comunicação e também voltou o seu olhar para o público receptor, ao contrário daquilo que era proposto nos modelos anteriores ao seu.

Paul Lazarsfeld

O Funcionalismo, como já mencionamos, tinha como princípio analisar a sociedade comparando-a ao corpo humano. Suas instituições eram associadas a cada órgão presente em nosso corpo. Neste contexto, coube aos funcionalistas explicarem as funções que os meios de comunicação exercem na sociedade.

“(...) a idéia de função aplicada aos meios de comunicação de massa diz respeito à sua importância na manutenção da ordem da sociedade. O teórico funcionalista norte-americano Charles R. Wright determinou as diversas funções da comunicação:

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- Informar (notícia);- Transmitir cultura de uma geração a outra (ensino);- Persuadir (propaganda, editorial);- Manter a harmonia social”. (Santos, 2003,p. 82).

O propósito, neste caso, era entender de que maneira todas essas funções eram cumpridas. Daí a importância de se reorganizar a forma de analisar os meios de comunicação, já que os modelos teóricos propostos, até então, estavam superados.

No Paradigma de Lasswell, vimos que ele analisou cinco etapas correspondentes ao processo de comunicação, mas em nenhuma delas o processo foi contextualizado. Era como se a comunicação ocorresse num vazio. Mas não é assim. Para entendermos melhor este item, é necessário você recordar alguns conceitos vistos na primeira aula. Nela, você aprendeu o significado das palavras “decodificação e interpretação” e que esta segunda ocorre, somente, quando usamos o nosso repertório cultural para contextualizarmos uma mensagem, pois ela foi emitida num contexto e recebida em outro, como explicado.

Lazarsfeld se preocupará com isso, ao contrário daquilo que vimos nas outras teorias.

Os efeitos limitados dos meios de comunicação

A Teoria Hipodérmica colocava os meios de comunicação em grande vantagem em relação aos receptores. Seus efeitos, de acordo com o que acreditava-se na época, eram ilimitados. No entanto, Lazarsfeld, incomodado com a simplicidade presente nas teorias até então existentes, decidiu pesquisar um pouco mais sobre o tema “comunicação” e percebeu que os M.C.M. causarão no público efeitos distintos, de acordo com o contexto em que todo processo se inserir. Uma de suas afirmações diz respeito ao ambiente político, pois quando o processo de comunicação

“(...) se dá em uma sociedade liberal (como a norte-americana), em que prevalecem as leis de mercado (de oferta e procura), seus efeitos são limitados, uma vez que no sistema democrático e capitalista há uma pluralidade de fontes de informação. Mas em sociedades em que predominam sistemas políticos ditatoriais, que restringem e censuram os meios de comunicação, o uso desses meios serve a fins autoritários” (Idem, 2003, p. 84).

O que Lazarsfeld percebeu é que a grande quantidade de fontes de informação existia para suprir demandas específicas. Isto é, se há diferentes programas de rádio, televisão e impressos é porque o público estava, de alguma maneira, sendo representado, ou seja, tendo as suas necessidades atendidas. Só restava saber de que maneira, como demonstrarei a seguir.

Atenção seletiva

Paul Lazarsfeld notou, ao analisar o público, que ele não se interessava por tudo aquilo que era veiculado pela mídia. O tempo de exposição dos receptores as mensagens midiáticas poderia causar um efeito indesejável, se considerarmos os propósitos de quem as emite. Esse feito equivale ao princípio da narcotização –efeito narcotizante – em que a pessoa presta atenção somente nas mensagens que reiterarem os seus valores; enquanto que as demais cairiam no esquecimento.

Como assim? Você deve ter perguntado. Explico. Imagine você ouvindo uma rádio que só toca música brasileira. Ele está ligado a quatro horas. De repente, eu lhe pergunto: quais foram as últimas cinco músicas tocadas? Será que você se lembrará de todas? Provavelmente, apenas as suas prediletas terão ficado na sua memória. As demais foram ouvidas, mas não percebidas.

Formadores de opinião

Se o público é seletivo, talvez não faça parte de sua seleção algumas informações de interesse coletivo. Por exemplo, é possível que você se interesse por esporte, mas será que se interessa por economia ou por política? Neste caso, Lazarsfeld inclui no processo uma figura muito importante, que são os formadores de opinião. Eles são pessoas bastante influenciadoras até mesmo pelo papel social que exercem. Os pais, professores, amigos podem desempenhá-lo. Mas como se dá isso na prática?

Imagine uma propaganda sobre o filme “Ensaio sobre a cegueira”, de Fernando Meirelles. Talvez ela não desperte a sua atenção, mesmo tendo sido bem elaborada. Agora, se um professor, que ganhou a sua admiração, fizer um comentário positivo sobre esse filme, é muito provável que você se sinta motivado a assisti-lo. Mas, qual é a diferença? A diferença é que toda emissora recebe para exibir uma propaganda que fale bem de um filme. O mesmo não ocorre com as pessoas. Ou seja, seu professor não ganhou cachê para divulgá-lo e você sabe disso. Portanto, a opinião dele é sincera.

“Assim, se as mensagens elaboradas e transmitidas pela mídia nem sempre atingem os potenciais receptores de forma direta, isso se dá em função de um repasse informativo que fazem pessoas bem informadas, socialmente influentes, de elevado grau de instrução e que inspiram confiança. Seus juízos, suas opiniões, suas atitudes e o gosto que revelam contagiam o corpo social” (Polistchuk e Trinta, 2003, p. 92).

Com estes exemplos, podemos supor que os efeitos causados pela mídia são muito mais um reforço daquilo que já é defendido pela sociedade, incluindo aqui as suas várias características, do que de mudança. Na verdade, a mídia, principalmente a comercial, é que está a reboque da sociedade e não o contrário.

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Para que você entenda isso melhor, é só recordar a minha primeira aula em que expliquei o motivo que fez com que a audiência da novela “Laços de família” tenha se identificado com a personagem Capitu ou fazer a leitura do artigo sugerido na bibliografia. Certamente, isso fará com que as análises que fazemos da mídia relativize o seu poder, ao contrário daquilo que fora proposto pelos hipodérmicos. Espero que esta aula tenha despertado o seu interesse por este tema. Para que a sua compreensão seja maior, é necessária a consulta da bibliografia usada durante as aulas, pois, certamente, permitirá que o seu conhecimento no tema seja mais amplo, além de você se beneficiar de tudo aquilo que somente a leitura poderá lhe oferecer.

BibliografiaPOLISTCHUK, Ilana e TRINTA, Aluízio Ramos. Teorias da comunicação: o pensamento e a prática da comunicação social. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

SANTOS, Roberto Elísio. As teorias da comunicação: da fala à internet. São Paulo: Paulinas, 2003.

WOLF, Mauro. Teorias da comunicação. Lisboa: Editorial Presença, 1985.

AULA 7 - A Escola de Frankfurt

Síntese

Nesta aula, apresentarei um pouco do trabalho desenvolvido na Escola de Frankfurt. Assim como fiz nas outras, explicarei o contexto histórico no qual a Escola se insere e indicarei seus principais teóricos e os trabalhos mais significativos feitos por eles.

Escola de Frankfurt

Os estudos desenvolvidos na Escola de Frankfurt se dividem em duas fases. Na primeira a pesquisa foi social, na segunda, sobre a indústria cultural. Nosso foco será na segunda.

Os estudos frankfurtianos começaram a partir de 1923 com a criação, naquela Escola, do Instituto para a Pesquisa Social, que abrigava pensadores marxistas. “Mas só a partir de 1930, quando Max Horkheimer assumiu a direção do Instituto, é que seria adotada a postura que o caracterizaria: a investigação crítica da sociedade capitalista moderna” (Santos, 2003, p. 87). Além das idéias marxistas, os frankfurtianos também foram influenciados pelo movimento sindical, que era muito atuante naquele período, talvez impulsionado por fatos como a Revolução Russa, em 1917, e pelas idéias propostas por intelectuais como: Kant, Hegel, Nietzsche e Freud.

Com esse referencial fica fácil imaginar o que ocorreu com esses teóricos alguns anos depois, durante a ascensão do partido nazista. As críticas tecidas pelos frankfurtianos contra os integrantes daquele partido explicam porque eles tiveram de sair da Alemanha e pedir guarida em outros países. Inicialmente, na França, e, em seguida, nos Estados Unidos.

“O contato com a sociedade de massa norte-americana direcionou os estudos empreendidos pelos teóricos frankfurtianos para a cultura de massa. Esses pensadores elaboraram, então, uma teoria crítica da sociedade, que se colocava em oposição às teorias de tendência positivista” (Idem, 2003, p. 88).

Em outras palavras, ao se depararem com os conceitos desenvolvidos pela Escola Funcionalista, principalmente, no que dizem respeito às idéias de função, os frankfurtianos passaram a acreditar que por não contemplar os antagonismos de classes, vigentes naquela sociedade, essa teoria, baseada apenas naquilo que funciona, passou a ser considerada uma teoria do consenso. Em outras palavras, de um lado a teoria influenciada pelo positivismo, do outro, as idéias influenciadas pelo marxismo. Esta última chamada de Teoria Crítica.

Teoria Crítica

Uma das divergências entre as Teorias Crítica e Funcionalista é que a primeira aplica a dialética em todos os fenômenos que analisa. Isto é, os frankfurtianos acreditavam que a divisão da sociedade em classes sociais justificava muitas de suas características, mas que isso somente seria evidenciado caso a metodologia empregada na análise de determinado fenômeno contemplasse esse antagonismo.

Saiba mais: Dialética - sf (lat dialectica) 1 A arte de discutir. 2 Argumentação dialogada, segundo a filosofia antiga. 3 Teoria hegeliana segundo a qual no universo tudo é movimento e transformação e as transformações das idéias determinam as transformações da matéria.

O mesmo não se pode dizer do Funcionalismo que, ao considerar cada instituição um órgão com uma função específica, determina um tipo de análise que contempla a parte e não o sistema como um todo.

“A identidade central da teoria crítica configura-se, por um lado, como construção analítica dos fenômenos que investiga e, por outro, e simultaneamente, como capacidade para atribuir esses fenômenos às forças sociais que os provocam. Segundo este ponto de vista, a pesquisa social levada a efeito pela teoria crítica, propõe-se como teoria da sociedade entendida como um todo; daí, a polêmica constante contra as disciplinas setoriais, que se especializam e diferenciam progressivamente campos distintos de competência. Procedendo assim, essas

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Page 10: AULA 3 - O surgimento da Teoria Funcionalista

disciplinas – vinculadas a sua correção formal e subordinadas à razão instrumental – desviam-se da compreensão da sociedade como um todo e, por conseguinte, acabam por desempenhar uma função de manutenção da ordem social existente” (Idem, 1985, p. 82).

Em outras palavras, se para o Funcionalismo o status quo é um exemplo de que a estrutura social vigente funciona, para os frankfurtianos, não.

Saiba mais: Status quo - loc (lat) Locução que significa situação inalterada. Var: status quo.

A aproximação com os sindicatos, na época em que iniciaram pesquisas sociais, fez com que eles percebessem que se há, de um lado, a concentração da riqueza nas mãos de poucos e, de outro lado, o aumento da pobreza entre a classe operária, isso nada teria de natural, mas sim de social. E a única maneira de entender esse fenômeno era colocando frente a frente às classes em questão. Mas isso somente seria possível numa perspectiva dialética. Foi com esse tipo de reflexão que os frankfurtianos passaram a analisar outro fenômeno: a indústria cultural.

Indústria Cultural

O termo indústria cultural foi criado pelos frankfurtianos como uma oposição a outro termo muito utilizado na época: o de cultura de massa. Este último poderia passar a falsa idéia de que os produtos culturais eram produzidos pela massa e que eles representariam uma espécie de cultura contemporânea. No entanto, os frankfurtianos, a esse respeito, tinham outra visão.

“A realidade da indústria cultural é totalmente diferente: filmes, rádio e semanários constituem um sistema. Cada setor se harmoniza entre si e todos se harmonizam reciprocamente –“ (Idem, 1985, p. 85). Ou seja, a lógica da produção industrial de mercadorias determinou o tipo de produção que teria como produto final bens culturais. Isto é, a serialização típica do processo produtivo geraria bens culturais padronizados com o objetivo de rebaixar os gosto das pessoas e fazer com que seus pontos de vista, no que diz respeito à cultura, perdessem cada vez mais a veia crítica.

Estas idéias podem parecer um pouco complicadas. Mas tentarei comentá-las de outra maneira. Na primeira aula sobre o funcionalismo, expliquei as características de uma sociedade tradicional em que as pessoas possuíam tudo aquilo que era necessário para suprir as suas necessidades. No plano cultural ocorria a mesma coisa. Uma família tinha condições de produzir a própria cultura, pois o seu trabalho era para suprir suas próprias necessidades. A partir do momento em que essa família se insere numa sociedade moderna ela deixa de produzir soluções e passa a consumi-las, como você viu naquela aula.

E a grande diferença nesse processo é que quando algo é produzido artesanalmente leva a marca ou a identidade de seu produtor artesão. Quando algo é produzido industrialmente essa identidade não existe, pois os produtos industrializados são feitos em série. Ou seja, as características de um serão as mesmas características dos demais.

Sem tempo para produzir a sua cultura restava a essa nova sociedade partir para o seu consumo. Se antes as estórias eram inventadas (causos) agora elas são produzidas. E o consumo desses novos bens culturais, de acordo com os frankfurtianos, faria com que a sociedade empobrecesse intelectualmente. E o resultado disso seria o retorno da sociedade ao estágio de barbárie.

Na próxima aula, você saberá quem foram os frankfurtianos responsáveis por uma visão tão pessimista da sociedade industrial e conhecerá os principais trabalhos que trazem em si essas críticas contundentes.

BibliografiaPOLISTCHUCK, Ilana e TRINTA, Aluizio Ramos. Teorias da comunicação: o pensamento e a prática da comunicação social. Rio de Janeiro: Campus, 2003.WOLF , Mauro. Teorias da comunicação. Lisboa: Editorial Presença, 1985.

AULA 8 - Theodor Adorno e Max Horkheimer e o ensaio “Dialética do

Esclarecimento”.

SínteseNa aula passada, você conheceu um pouco da história da Escola de Frankfurt.

Nesta, falaremos sobre alguns de seus principais teóricos, como Theodor Adorno

e Max Horkheimer. Destes, destacaremos o ensaio “Dialética do Esclarecimento,

que foi escrito a quatro mãos e é, sem dúvida, uma das obras, da Escola de

Frankfurt, mais conhecida e discutida. Por isso, merecerá um pouco de nossa

atenção.

Adorno e Horkheimer

Ambos criaram os conceitos “dialética do esclarecimento” e “indústria cultural”. O

primeiro é uma crítica feita às promessas do iluminismo que não foram cumpridas.

Ou seja, essa doutrina filosófica, surgida na França no século XVIII, defendia a

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Page 11: AULA 3 - O surgimento da Teoria Funcionalista

idéia de que o homem deveria se afastar do mito e se aproximar da razão, pois o

domínio da razão permitiria a ele desenvolver a técnica e com ela conhecer e

dominar a natureza, com o objetivo de proporcionar felicidade para a humanidade.

No entanto, não foi isso o que aconteceu. O homem desenvolveu a técnica

(tecnologia), porém, ficou aprisionado a ela.

“Se o iluminismo do século XVIII chegara a libertar o homem do misticismo e da

mitificação, também lhe havia assegurado os benefícios do acesso à razão.

Todavia, a racionalidade técnica – hoje tecnológica - vigente em sociedades

capitalistas e industrializadas, longe de garantir a seus membros o exercício de um

livre arbítrio, os submeteu à dominação ideológica; no mais, aprofundou contrastes

sociais pelo desnivelamento socioeconômico” (Polistchuck e Trinta, 2003, p. 111).

Do lado da indústria cultural, esses dois teóricos afirmaram que a cultura

produzida, de acordo com a lógica industrial, colocava no mercado uma série de

bens culturais que não mais traziam as marcas de seus antigos produtores, pois

estes se transformaram em consumidores de uma produção cultural que se possui

alguma marca, esta é definida pela padronização inerente a qualquer indústria.

Saiba mais: Inerente - adj (lat inhaerente) 1 Ligado estruturalmente. 2 Que por natureza é inseparável de alguma coisa. 3 Inseparável.

“(...) a identidade do domínio que a indústria exerce sobre os indivíduos; aquilo

que a indústria cultural oferece de continuamente novo não é mais do que a

representação, sob formas sempre diferentes, de algo que é sempre igual; a

mudança oculta um esqueleto, no qual muda tão pouco como no próprio conceito

de lucro, desde que este adquiriu o predomínio sobre a cultura” (Wolf, 1985, p. 85).

Adorno e Horkheimer também discutiram o papel que as ideologias exercem na

sociedade. Segundo eles, as ideologias veiculadas pelos meios de comunicação

em forma de entretenimento, visam reforçar os interesses das classes dominantes

no que tange a permanência do status quo. Isto é, a indústria cultural consegue

fazer com que os seus consumidores se tornem incapazes de perceber a

opressão de que são vítimas, passando a acreditar que a posição que ocupam na

sociedade é algo que pode ser explicada não como um fenômeno social, mas

natural.

Saiba mais: Ideologia - sf (ídeo1+logo2+ia1) 1 Filos Ciência que trata da formação das idéias. 2 Tratado das idéias em abstrato. 3 Filos Sistema que considera a sensação como fonte única dos nossos conhecimentos e único princípio das nossas faculdades. 4 Maneira de pensar que caracteriza um indivíduo ou um grupo de pessoas: Ideologia socialista. Var: ideologismo.

Saiba mais: Status quo - loc (lat) Locução que significa situação inalterada. Var: status quo.)

“Agentes da ‘barbárie cultural’, os meios de comunicação seriam veículos

propagadores de ideologias próprias às classes dominantes, impondo-as às

classes populares pela persuasão ou pela pura e simples manipulação” (Idem,

2003, p. 111).

Fica claro, nesse caso, a visão pessimista que os frankfurtianos tinham sobre a

indústria cultural e, sobretudo, em relação às massas que, cada vez mais

destituídas de senso crítico, eram apenas alvos fáceis dos algozes mantenedores

do sistema capitalista.

Dialética do Iluminismo

Outro importante trabalho desenvolvido por Adorno e por Horkheimer foi a

“Dialética do Iluminismo”. “Nesse ensaio, Adorno e Horkheimer assinalam os

perigos decorrentes de uma pretensa socialização total do homem por intermédio

dos novos meios de produção cultural” (Idem, 2003, p. 112). Sem dúvida que uma

das passagens mais polêmicas desse trabalho é quando os autores substituem a

expressão “cultura de massa” por indústria cultural, como já mencionamos. Isso foi

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Page 12: AULA 3 - O surgimento da Teoria Funcionalista

feito para deixar claro que a nova cultura industrial, até então chamada de massa,

não emergia das massas; como o antigo conceito poderia sugerir, mas sim da

perversa lógica industrial.

“Na era da indústria cultural, o indivíduo deixa de decidir autonomamente; o

conflito entre impulsos e consciência soluciona-se com a adesão acrítica aos

valores impostos. (...) O homem encontra-se em poder de uma sociedade que o

manipula ao seu bel prazer – o consumidor não é soberano, como a indústria

cultural queria fazer crer, não é o seu sujeito, mas o seu objeto” (Idem, 2003, p.

86).

Em outras palavras, quando o trabalhador, durante o seu tempo de lazer, acredita

se livrar das amarras existentes no seu ambiente de trabalho, na verdade, se

submete a ela, só que de outra maneira.

Por exemplo, o trabalhador quando se diverte olha para o seu relógio não para

saber que horas são, mas sim para saber quanto tempo falta. Ou quando vai se

alimentar escolhe o restaurante que anuncia sua comida como sendo caseira.

Agora, como isso é possível se aquela comida foi feita numa cozinha industrial e

por pessoas totalmente de fora do convívio desse trabalhador; agora em período

de lazer?

Adorno e Horkheimer explicariam esses exemplos como a prova de que o

trabalhador se encontra em estado de total alienação, não somente do ponto de

vista produtivo, mas, sobretudo, do cultural.

“Divertir-se significa estar de acordo (...); significa sempre: não deve pensar,

esquecer a dor mesmo onde essa dor é exibida. Na sua base, está a impotência. É

efetivamente, fuga; não, como se pretende, fuga da feia realidade mas da última

idéia de resistência que a realidade pode ainda ter deixado” (Idem, 1985,p. 86).

Em suma

Nesta parte, farei algumas considerações, pois imagino que você tenha percebido

o quanto à proposta criada pela Escola de Frankfurt é complexa. Portanto, não

estranhe, já que não é fácil transformar numa linguagem palatável algo, do ponto

de vista intelectual, difícil de digerir. No entanto, isso não significa que estudar a

Escola de Frankfurt seja algo impossível. Muito pelo contrário. Quero somente

reforçar que a análise daquilo que foi proposto, tanto por Adorno, quanto por

Horkheimer pode ser revelador, mas certamente exigirá um pouquinho mais de

empenho de sua parte.

Saiba mais: Palatável: pa.la.tá.vel adj m+f (ingl palatable) 1 Agradável ao paladar. 2 fig Aceitável, tolerável.

Na próxima aula, continuaremos a falar de Frankfurt. Apresentaremos outros

teóricos que também foram muito importantes na construção da imagem que

aquele instituto possui. Então, até Lá.

BibliografiaPOLISTCHUK, Ilana e TRINTA, Aluízio Ramos. Teorias da comunicação: o

pensamento e a prática da comunicação social. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

WOLF, Mauro. Teorias da comunicação. Lisboa: Editorial Presença, 1985.

Internethttp://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-

portugues&palavra=palatável

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Page 13: AULA 3 - O surgimento da Teoria Funcionalista

AULA 9 – A Escola de Frankfurt e os teóricos Walter Benjamin e Herbert Marcuse

Síntese

Na aula passada você aprendeu mais sobre a Escola de Frankfurt e conheceu os

teóricos Adorno e Horkheimer. Falamos da importância de seus trabalhos e da

radicalidade de suas contra a indústria cultural, conceito que, aliás, foi criado por

ambos. Na aula de hoje finalizaremos o tema Escola de Frankfurt apresentando

mais dois de seus teóricos: Walter Benjamin e Herbert Marcuse.

Walter Benjamin (Saiba mais: http://www.scielo.br/pdf/ea/v16n45/v16n45a13.pdf)

A Escola de Frankfurt revelou uma série de pesquisadores da sociedade e da

cultura. Alguns, como Adorno e Horkheimer, viram no novo modelo cultural surgido

com a industrialização, uma espécie de aniquilação da sociedade que imersa

naquele novo contexto não conseguiria mais do que retornar ao tempo da

barbárie.

É fato que essas opiniões tenham sido formuladas fora do seu contexto. Ou seja,

os critérios de análise da indústria cultural formuladas por Adorno e Horkheimer

eram mais adequados aos fenômenos típicos de uma sociedade pré-industrial e

não industrial, já que ao se inserir neste novo ambiente não restaria a sociedade

outra alternativa a não ser aquela que contemplasse os novos tempos. Seria difícil,

principalmente, para as novas gerações sentirem saudade daquilo que não

viveram. Isto é, elas nasceriam num ambiente conturbado, industrializado e tais

características teriam de contemplar essa nova sociedade e a maneira como ela

lida com as produções culturais.

Esta introdução é necessária para que você entenda que nem todos os

frankfurtianos partilhavam as mesmas idéias e que isso não deve ser visto com

estranhamento. As propostas filosóficas criadas por um estudioso sempre servirão

de base para o surgimento de outros paradigmas, como a proposta formulada por

Walter Benjamin sobre a indústria cultural, só que, dessa vez, com menos

radicalidade, como você verá.

“Antes da saída da Alemanha, os teóricos frankfurtianos já abordavam temas

relativos à produção e recepção de bens culturais na sociedade capitalista. É o

caso de Walter Benjamin, que no ensaio “A obra de arte na era da

reprodutibilidade técnica”, escrito na década de 1930, concebeu o conceito de

“aura”, característica da obra de arte legítima, que desapareceria quando

reproduzida” (Santos, 2003, p. 90).

Ou seja, ao invés de criticar a nova forma de cultura, Benjamin decidiu investigar

as principais diferenças entre ela e as culturas que surgiram no período pré-

industrial.

O que ele notou é que a obra de arte convencional é única. Todas as informações

que integram o ambiente em que a obra está sendo concebida influenciarão o

artista. É o contexto, é o aqui e agora que ocorrerá somente uma vez. Essa

mesma obra de arte perde a sua aura (aqui e agora) no momento em que ela é

reproduzida. Ou seja, o contexto em que ela foi criada é um e o de sua

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Page 14: AULA 3 - O surgimento da Teoria Funcionalista

reprodução, é outro. É por essa razão que a obra original sempre será mais

valiosa do que a sua réplica.

Apesar da perda da aura, Benjamin acreditava que a reprodutibilidade de uma

obra de arte poderia democratizar o seu acesso. O original, muitas vezes, integra o

acervo de um museu ou de um colecionador, enquanto que a réplica permitirá que

o público não especialista tenha contato a cópia de uma obra importante.

Neste exemplo, você poderá se perguntar: “mas é a mesma coisa?”.

Evidentemente que não. A obra original é a obra original, a cópia é apenas uma

cópia. No entanto, há produções culturais que tiram o peso das críticas feitas por

Adorno e Horkheimer, principalmente, se forem analisadas do ponto de vista de

sua reprodutibilidade. Um bom exemplo é o cinema, que também foi alvo de

interesse de Benjamin.

“O foco do autor recai sobre o cinema, um produto cultural que se diferencia da

obra de arte tradicional, uma vez que, apesar da quantidade de cópias existentes

de um filme, não possui um original (nem a interpretação dos atores é única, até

porque atuam para a câmera e não para o público) e consiste em um trabalho

coletivo, para o qual diversos profissionais contribuem, ao contrário da produção

individual e solitária de escritores e pintores” (Idem, 2003, p. 90).

Como já havia mencionado, uma crítica que contempla as características atuais de

uma sociedade não como uma patologia, mas sim como uma adequação,

consegue ser interessante, profunda e, nem por isso, radical.

Herbert Marcuse (Saiba mais: http://www.culturabrasil.pro.br/frankfurt.htm)

Agora que você conheceu um pouco sobre o pensamento de Benjamin, chegou o

momento de lhe apresentar as idéias de outro pensador frankfurtiano importante:

Herbert Marcuse.

Ele foi muito influenciado pelos movimentos de contestação dos anos 1960, que

pregavam desde o direito ao amor livre ao fim da guerra do Vietnã.

“Com base no marxismo e na psicanálise o teórico criticava a sociedade industrial, que tornaria, por meio do princípio da realidade e eliminando o princípio do prazer, o ser humano unidimensional, submetido a uma ordem baseada na produtividade e na eficiência, manipulando as suas necessidades e mecanizando suas ações” (Idem, 2003, p. 90).

Saiba mais: Psicanálise - sf (psico+análise) 1 Análise da mente; separação da psique em seus elementos constitutivos. 2 Psicol Sistema de psicologia e método de tratamento de desordens mentais e nervosas, criado e desenvolvido por Sigmund Freud (1856-1939), psicanalista austríaco; caracteriza-se por uma visão dinâmica de todos os aspectos da vida mental, conscientes ou inconscientes, salientando no entanto o papel destes últimos; as técnicas de investigação e tratamento, características da psicanálise, consistem na observação das expressões de associações livres e dos fatos de transferência emocional. 3 Conjunto de fatos descobertos nesse método pela análise dos sonhos e das memórias e desejos inconscientes. 4 Ciência do inconsciente que se baseia nesses fatos e procura interpretá-los.)

Saiba mais: Unidimensional - adj m+f (uni+lat dimensione+al3) Que possui, ou que envolve uma só dimensão.

Em outras palavras, ele disse que a sociedade industrial perdeu a oportunidade de

fazer uma escolha, ou seja, entre o ambiente moderno, internalizado nas pessoas

que o viam como sendo a única possibilidade de vida existente e o tradicional,

mais humano e escasso, a sociedade optava pelo primeiro, mas sem conhecer

profundamente as características do segundo. E essa incapacidade de enxergar

um estilo de vida diferente daquele proposto pela modernização era o reflexo de

uma sociedade aprisionada num sistema de valores que, apesar de não ser o

único, imperava sem sofrer algum tipo de ameaça.

“Marcuse se deteve na análise crítica de um mundo moderno no qual a

instrumentalização das coisas contagiou os homens. Desencantado, mas lúcido,

afirmou que as formas habituais de discurso dos meios de comunicação muito

contribuíram para que tal situação, filosoficamente ruinosa, viesse a se

institucionalizar” (Polistchuck e Trinta, 2003, p. 114).

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Page 15: AULA 3 - O surgimento da Teoria Funcionalista

Em sumaO que podemos concluir, depois da exposição dessas idéias extremamente

densas e, também, inquietadoras, é que tanto a Escola Funcionalista, quanto a de

Frankfurt direcionaram seus pensamentos no que diz respeito ao papel que os

meios de comunicação exercem na sociedade. Em alguns momentos isso foi feito

com passividade, na visão que Frankfurt tinha sobre a Funcionalista; e em outros,

de forma radical, mas não totalitária, como nas análises propostas por Adorno e

Horkheimer em contraponto com as idéias de Benjamin. Esses teóricos não

chegaram a formular uma sugestão de mudança que pudesse ser praticada pela

sociedade. Quem mais próximo chegou disso, por culpa de uma situação

contextual, foi Marcuse. Já que tudo aquilo que o incomodava também causava

indignação nos jovens contestadores que, ajudaram a escrever parte da história

dos Estados Unidos e, mais tarde, de outros países, também.

BibliografiaPOLISTCHUK, Ilana e TRINTA, Aluízio Ramos. Teorias da comunicação: o

pensamento e a prática da comunicação social. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

SANTOS, Roberto Elísio. As teorias da comunicação: da fala à internet. Paulinas:

São Paulo, 2003.

WOLF. Mauro. Teorias da Comunicação – Mass media: contextos e paradigmas.

Lisboa: Editora Presença, 1985.

Internethttp://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-

portugues&palavra=palatável

http://www.scielo.br/pdf/ea/v16n45/v16n45a13.pdf

http://www.culturabrasil.pro.br/frankfurt.htm

AULA 10 - Teoria culturológica - A Escola Sociológica Européia

Síntese

Nas aulas anteriores, você aprendeu um pouco sobre as escolas Funcionalista e

de Frankfurt. Agora, discutiremos algumas características da Escola Sociológica

Européia. Alguns de seus teóricos realizaram trabalhos com o intuito de corrigir os

estudos produzidos anteriormente ao seu surgimento. Você verá de que maneira

isso foi feito.

Escola Sociológica Européia

A teoria culturológica foi desenvolvida pelos teóricos da Escola Sociológica

Européia. A sua principal característica foi a abordagem dada aos produtos da

indústria cultural. Seus estudiosos tinham uma percepção diferente daquela

desenvolvida pelos frankfurtianos. Para os culturologistas, os produtos da indústria

cultural faziam parte do dia a dia do homem moderno, já de algum modo imerso

naquele ambiente complexo e, ao mesmo tempo, polêmico, principalmente ao

verificarmos os apontamentos que os frankfurtianos fizeram a esse respeito.

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Page 16: AULA 3 - O surgimento da Teoria Funcionalista

O que mais atraia as atenções dos estudiosos europeus eram as produções

culturais que atraiam um grande público. Ou seja, ser algo significativo, do ponto

de vista do público, mereceria a atenção daqueles pesquisadores. “A culturologia

corrige a teoria crítica, ao situar-se no âmbito da antropologia cultural e da análise

estrutural, podendo ser considerada, sob certos aspectos, precursora de um

modelo teórico recepcional” Polistchuck e Trinta, 2003, p. 126).

Podemos afirmar que os estudos desenvolvidos pelos culturologistas foram

impulsionados pelas repercussões em torno da Pop Art. Andy Warhol e Roy

Lichtenstein, seus precursores, utilizavam em suas obras imagens que já haviam

se disseminado graças a sua exposição feita pelos meios de comunicação.

Saiba mais: Pop Art - http://www.historiadaarte.com.br/popart.html

Saiba mais: Roy Lichtenstein

http://mixbrasil.uol.com.br/cultura/panorama/roy/roy.shtm

Este movimento artístico conseguiu despertar a atenção dos teóricos

culturologistas pelo fato de eles terem uma visão aberta em relação às produções

culturais industrializadas. Aquilo que mais eles tinham em comum era “(...) o

entusiasmo, o perfeito domínio de uma escrita, a ausência de atitudes

preconceituosas e o espírito aberto em relação à indústria da cultura” (Idem, 203,

p. 126)

Como você deve ter percebido, os culturologistas davam mais atenção aos

produtos da indústria cultural do que aos meios de comunicação. Mas para que

isso fique mais evidente falaremos um pouco sobre os principais estudiosos da

escola européia e das suas contribuições na análise dessa nova forma de cultura.

Edgar Morin

Inicialmente, falaremos sobre o teórico Edgar Morin. Podemos afirmar que a sua

grande contribuição, no início dos estudos culturológicos, foi da com a publicação

do livro “Cultura de Massas no Século XX”.

Saiba mais: Edgar Morin - http://edgarmorin.sescsp.org.br/

Com este trabalho, Morin começou a se interessar pela imensa quantidade de

imagens, símbolos, ideologias e mitos que faziam parte das produções da

indústria cultural, principalmente, aquelas veiculadas pelo cinema.

“O sociólogo francês se detém no estudo de aspectos da cultura difundida pelos

meios de comunicação. E mostra, com abundantes exemplos, que nessa forma de

cultura se delineia uma mitologia, em contraste às exigências de realismo factual e

à rapidez com que os acontecimentos se sucedem” (Idem, 2003, p. 127).

Morin, ao analisar o cinema, passa a acreditar que a vida das personagens é

muito mais interessante do que a de seus espectadores. Talvez seja por essa

razão que as suas produções tenham se tornado tão significativas.

Segundo o teórico, havia no cinema uma magia que recheava de fascínio as suas

personagens. É como se as atrizes fossem contaminadas pelas suas personagens

e vice-versa. Em outras palavras, é como se aquilo que as personagens do cinema

vivenciavam na tela, naquelas estórias fascinantes, ocorresse também nas suas

vidas reais. Em contato com o público, ficaria, certamente, a dúvida deste estar

diante da atriz ou da sua personagem.

Para que este exemplo fique mais claro para você, citarei algo mais próximo de

nosso tempo. A atriz Susana Vieira, na novela “Mulheres Apaixonadas”, de Manoel

Carlos, que está sendo reapresentada no período vespertino, no Vale a pena ver

de novo, interpreta uma personagem que decidiu se relacionar com um homem

mais novo. Não se importou com as possíveis críticas que poderia sofrer e levou

adiante o seu romance, que terminou quando ela descobriu que o seu namorado

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Page 17: AULA 3 - O surgimento da Teoria Funcionalista

estava se relacionando com uma mulher mais nova do que ela. Isso tudo se

passou com a personagem. No entanto, recentemente, a atriz foi destaque de

algumas publicações e sites ao divulgar que estava em processo de separação de

seu marido; bem mais novo do que ela. Ou seja, a vida da atriz, guardadas as

proporções de tempo, se misturou com a de sua personagem e de acordo com

Morin essa era uma das características que faziam com que as atrizes fossem tão

interessantes.

“A estrela determina as múltiplas personagens dos filmes: encarna nelas e as

transcende. Por sua vez, estas também as transcendem: suas qualidades

excepcionais se refletem na estrela. Todos os heróis que Gary Cooper traz dentro

de si o empurram para a presidência dos Estados Unidos e, reciprocamente, Gary

Cooper enobrece e engrandece seus heróis, Garycooperiza-os. O representante e

o representado se determinam mutuamente. A estrela é mais que um ator

encarnando personagens; ela se encarna nelas e elas se encarnam nela” (Morin,

1989, p.24).

Morin acredita que os espectadores se projetam nas vidas de suas personagens

prediletas, pois elas são capazes de fazerem e vivenciarem todas as experiências

possíveis e imagináveis, mas que estão distantes do cotidiano do público comum.

Ou seja, as personagens gozam de uma liberdade que falta a muita gente. Gozam

de uma felicidade que falta a muita gente.

Os heróis do cinema, por exemplo, adquirem características de semideuses

“(...) como nas mitologias antigas, nos contos populares de todos os tempos, nas

histórias em quadrinhos modernas, nos seriados de televisão e na publicidade

cotidiana. Em seu realismo próprio, a cultura “de massa” oferece uma visão da

liberdade que pouco ou nada tem em comum com a lei social vigente” (Idem,

2003, p. 127).

Os olimpianos presentes nas telas de cinema vivenciam situações bem diferentes

da realidade de milhares de espectadores. E se esses heróis possuem algum tipo

de defeito ou se não conseguem resolver todos os seus grandes problemas é para

que o público tenha alguma chance de se identificar com eles. Isto é, mesmo

diante de uma personagem radiante é possível encontrar nele traços que se

assemelham a algumas características de seus fãs. Do contrário, caso não

houvesse a necessidade dessa identificação, tais personagens seriam perfeitos e,

ao invés de serem chamados de semideuses, se tornariam deuses.

Essas são algumas características da Escola Sociológica Européia e de um de

seus principais colaboradores, Edgar Morin. Na próxima aula, você conhecerá

outra figura importante desta escola, o teórico italiano Umberto Eco.

Até lá.

BibliografiaMORIN, Edgar. As estrelas: mito e sedução no cinema. São Paulo: José

Olympio, 1972.

POLISTCHUK, Ilana e TRINTA, Aluízio Ramos. Teorias da comunicação: o

pensamento e a prática da comunicação social. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

Internethttp://edgarmorin.sescsp.org.br/

http://www.historiadaarte.com.br/popart.html

http://mixbrasil.uol.com.br/cultura/panorama/roy/roy.shtm

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