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ATUALIZA ASSOCIAÇÃO CULTURAL
Pós – Graduação Lato Sensu em Enfermagem em Saúde Pública
ANA MARTA LOPES DA SILVA
A ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM NO PROCESSO DE ALÍVIO DA DOR EM PACIENTES ONCOLÓGICOS
SALVADOR – BAHIA2010
ANA MARTA LOPES DA SILVA
A ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM NO PROCESSO DE ALÍVIO DA DOR EM PACIENTES ONCOLÓGICOS
Monografia apresentada à Atualiza Associação Cultural, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Enfermagem em Saúde Pública sob orientação do Professor Doutor Fernando Reis do Espírito Santo.
SALVADOR - BAHIA2010
ANA MARTA LOPES DA SILVA
A ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM NO PROCESSO DE ALÍVIO DA DOR EM PACIENTES ONCOLÓGICOS
Monografia para obtenção do grau de Especialista em Enfermagem em Saúde Pública.
Salvador, 28 de Junho de 2010.
EXAMINADOR:
Nome: Fernando Reis do Espírito Santo.
Titulação: Doutor em Educação
PARECER FINAL:___________________________________________________________________________
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DEDICATÓRIA
Dedico este estudo exclusivamente aos profissionais de enfermagem que atuam ou
pretendem atuar em instituições de saúde, no serviço de Oncologia, para que
consigam, mesmo em condições adversas, oferecer um tratamento digno aos
pacientes com Câncer.
AGRADECIMENTOS
A Deus, fonte de luz e inspiração na qual me iluminou e me deu força nos momentos
difíceis.
A minha irmã Ana Paula, pela grande ajuda na realização deste estudo.
A minha família, pelo simples fato de existir.
Aos meus colegas pela ajuda e experiências compartilhadas.
E ao meu orientador Fernando Reis, pela paciência e atenção dispensadas.
“Não se contente em trilhar o caminho estabelecido.Ao contrário, vá para onde não há caminho algum e deixe seu rastro.”
MURIEL STRODEL
RESUMO
Este trabalho trata da Dor oncológica, tendo como objetivo avaliar de que forma a Enfermagem pode intervir no alívio da dor de pacientes com câncer, a fim de proporcionar um tratamento adequado na busca de um bem – estar com uma maior qualidade de vida ao portador de neoplasias. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e qualitativa, ocorrida na base de dados da BIREME, LILACS e SCIELO, de artigos publicados entre 1999 a 2006. A análise foi subsidiada com a formulação de três categorias pré-definidas: percepção, avaliação e tratamento / alívio da dor oncológica. Observou-se que na percepção da dor, é fundamental que a Enfermagem acredite nas queixas do paciente. Quanto à avaliação, existem várias técnicas importantes, as quais a Enfermagem deve ter conhecimento de todas para sistematizar a avaliação. Já seu tratamento, deve-se associar o farmacológico a técnicas não invasivas dentro dos cuidados humanizados e paliativos, com a participação da equipe multiprofissional e o apoio familiar
Palavras – Chave: Avaliação; Tratamento; Dor; Câncer; Enfermagem.
ABSTRACT
This work deals with the pain cancer, aiming to assess how nursing can help with pain relief for cancer patients, to provide adequate treatment in search of welfare with a higher quality of life for patients with cancer. This is a literature search and qualitative, which occurred in database of BIREME, LILACS and SCIELO of articles published from 1999 to 2006. The analysis was supported by the formulation of three predefined categories: perception, assessment and treatment / pain relief. It was observed that the perception of pain, it is essential that Nursing believe the patient's complaints. About the evaluation, there are several important techniques, which nursing must be aware of all for the systematic evaluation. Have your treatment, you should link the drug to non-invasive techniques in humanized and palliative care, with the participation of the multidisciplinary team and family support.
Key-Words: Evaluation; Treatment; Pain; Cancer; Nursing.
.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 9
1. REVISÃO DE LITERATURA 12
1.1. Oncologia e o seu conceito 12
1.2. Dados Epidemiológicos do Câncer 13
1.3. Fatores que predispõem ao Câncer 13
1.4. Sinais e Sintomas de um paciente Oncológico 14
1.5. Tratamento do Câncer 14
1.6. Conceito de Dor 16
1.7. Dor x Oncologia 19
1.8. Atuação da Enfermagem no alívio da dor ao paciente Oncológico 22
2. METODOLOGIA 27
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 30
CONSIDERAÇÕES FINAIS 36
REFERÊNCIAS 38
INTRODUÇÃO
Apresentação do Objeto de estudo:
A dor é um sintoma freqüente em pacientes oncológicos, e pode ser reduzida
significativamente, com avaliação e tratamentos adequados. No entanto, a dor é
vista como inútil e desumanizante, o que acarreta grande estresse e sofrimento aos
doentes e aos que os rodeiam. Este quadro, freqüentemente, resulta em
perspectivas emocionais, sociais e econômicas desfavoráveis ao doente e até
mesmo aos seus familiares. (PIMENTA, 1997).
A Enfermagem tem buscado estudar e contribuir para a ampliação dos
conhecimentos sobre o tema. Em 1990, a Oncology Nursing Society adotou uma
posição sobre a dor do paciente oncológico, definindo objetivos de prática,
considerações éticas e recomendações. (CALLIET, 1999).
Na assistência de enfermagem a fim de suprir as necessidades fisiológicas e
psicossociais do paciente oncológico com dor crônica, a Oncology Nursing Society
destaca a necessidade dos enfermeiros contribuírem para o avanço da assistência
ao paciente com dor crônica. (CALLIET, 1999).
Para Benoliel (1995), a forma como os profissionais de saúde atuam, comunicam-se
entre si e como lidam com a dor do paciente são aspectos influenciados por suas
definições.
Segundo Pimenta (1997), o fluxo de comunicação deve ser estabelecido entre os
integrantes da equipe. Se a dor é identificada, mas a informação não circula entre os
profissionais, ou circula de modo irregular e lento, a proposta analgésica ou seu
ajuste ficam comprometidos. As ações a serem realizadas após a identificação da
dor ou de sua piora devem permitir rapidez.
Justificativa:
O número de casos de câncer tem aumentado de maneira considerável em todo o
mundo, principalmente a partir do século passado, configurando-se, na atualidade,
como um dos mais importantes problemas de saúde pública mundial. (GUERRA;
GALLO; MENDONÇA, 2005).
A dor também representa um importante problema de saúde pública em decorrência
da elevada prevalência, dos altos custos da comunidade e de ser a razão
predominante de procura dos sistemas de saúde, pois milhões de reais são gastos
com internações hospitalares de pacientes sem que haja melhoria na sua qualidade
de vida. (INCA, 1997).
Sabe-se que a presença do câncer altera, indiscutivelmente, todos os aspectos da
vida do individuo e pode acarretar profundas alterações no modo de viver habitual,
conforme o comprometimento da capacidade e habilidade para execução de
atividades inerentes ao seu cotidiano. As alterações da integridade físico-emocional
por desconforto, dor, desfiguração, dependência e perda da auto-estima são
relatados por esses clientes que percebem a qualidade de vida alterada, em um
curto período de tempo.
Assim, a escolha do tema baseou-se nas observações realizadas durante minha
vivência profissional, quando identificava em algumas instituições, nas quais
existiam Unidades de Oncologia, a forma como os profissionais de enfermagem
muitas vezes não sabiam como perceber e avaliar a dor oncológica, e
conseqüentemente não exerciam outras técnicas de tratamento, além do tratamento
medicamentoso.
Problema:
Baseado nessas reflexões este estudo levanta o seguinte questionamento: Será que
a Enfermagem pode intervir no alivio da dor em pacientes oncológicos de outras
formas, além do simples tratamento medicamentoso?
Objetivo:
Avaliar de que forma a enfermagem pode intervir no alívio da dor de pacientes com
câncer, a fim de proporcionar um tratamento adequado na busca de um bem – estar
com uma maior qualidade de vida ao portador de neoplasias.
Estrutura do Trabalho:
Este estudo está constituído de quatro momentos. No primeiro, faz-se uma
fundamentação teórica sobre Oncologia, dados epidemiológicos do Câncer, fatores
que predispõem ao Câncer, sinais e sintomas de um paciente Oncológico,
tratamento do Câncer, conceito de Dor, Dor x Oncologia e atuação da enfermagem
no alívio da dor ao paciente com câncer; no segundo, descreve-se a metodologia
utilizada para realização deste trabalho; no terceiro, são apresentados os resultados,
através de quadros, e discussão dos dados obtidos nos artigos selecionados; e no
quarto momento são relatadas as considerações finais.
1. REVISÃO DE LITERATURA
1.1. Oncologia e o seu Conceito
De acordo com o Ministério da Saúde (1993), o câncer é tido como uma doença
crônica degenerativa (DCD), apresentando uma evolução prolongada e progressiva,
quando não interrompida em algumas de suas fases. Ela se caracteriza por um
longo período de latência; fase assintomática prolongada: envolvimento de múltiplos
fatores de risco; além de acarretar alterações patológicas irreversíveis com
conseqüente incapacidade residual, caso seu curso não seja paralisado ou
interrompido. Atualmente, o câncer é a DCD mais temida, apesar de ser a única com
real possibilidade de cura, principalmente se diagnosticado precocemente. (BRASIL,
2007).
Neoplasia, ou seja, o câncer significa “crescimento novo” e descreve uma massa
tecidual anormal, que se expande além dos limites do tecido e não consegue
cumprir a função normal das células daquele tecido. As neoplasias caracterizam-se
por funcionamento descontrolado, divisão e crescimento não regulado e motilidade
anormal. Os crescimentos neoplásicos são denominados neoplasias benignas ou
neoplasias malignas. As neoplasias benignas incluem, por exemplo, papilomas ou
verrugas. As neoplasias malignas incluem tumores sólidos e leucemia. (OTTO,
2002).
Continua o mesmo autor, câncer é o termo comum para todas as neoplasias
malignas, as quais se caracterizam pelo crescimento acelerado, descontrolado e
desorganizado da célula. O processo pelo quais as células normais são
transformadas em células cancerosas é chamado de carcinogênese.
Segundo Brunner & Suddarth (1994, p.292):Câncer é um processo mórbido que se inicia quando células anormais surgem de células normais do organismo, em conseqüência de algum mecanismo de alteração mal compreendido. À medida que a doença evolui
localmente, essas células anormais proliferam-se, ignorando os sinais regulares do crescimento no microambiente que circunda a célula.
1.2. Dados Epidemiológicos do Câncer
Mais de 1.200.000 casos novos são diagnosticados nos EUA a cada ano. (América
Câncer Society: Câncer facts and figures – Atlanta, 1994). De acordo com o INCA, a
estimativa no Brasil para o ano de 2006 das taxas brutas de número de casos novos
por câncer, atingiu um total de 472.050 da população brasileira, sendo 234.570
pertencentes à população masculina e 237.480 à população feminina numa
incidência de 100.000. (INCA, 2007).
Já na Bahia, o INCA relata que a representação espacial de taxas brutas de
incidência por 100.000 homens é estimada em 127.97 casos e por 100.000
mulheres é estimada em 134.42 casos para o ano de 2006. (INCA, 2007).
É importante destacar que a qualidade destes dados é totalmente dependente da
informação gerada pelos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP). O
Ministério da Saúde (MS), através do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e da
Secretaria de Vigilância à Saúde (SVS) tem estimulado o trabalho dos registros de
câncer no país, entendendo que eles são fundamentais no processo de vigilância de
doenças crônicas. (INCA, 2007).
No sexo feminino ocorrem com maior freqüência o câncer de mama, cólon, e
pulmão. Já no sexo masculino, os locais de maiores incidência são: próstata,
pulmão, e cólon. Os cânceres de cólon e reto são as neoplasias malignas mais
freqüentemente diagnosticadas. (Dados da América Câncer Society: Câncer facts
and figures – 1994, Atlanta, 1994, American Câncer Society).
1.3. Fatores que Predispõem ao Câncer
São vários os fatores que predispõem um indivíduo ao câncer, dentre eles, cita-se a
idade, fatores hereditários, nutrição inadequada, stress, tabaco, álcool, lesões pré-
cancerosas e até mesmo os fatores sócio-econômicos, como a dificuldade de
acesso à prevenção e detecção precoce. (OTTO, 2002).
Brunner & Suddarth (1994), relata que além destas causas citadas acima, certas
categorias de agentes ou fatores têm sido responsabilizadas pelo processo de
carcinogênese, como os vírus, agentes físicos, agentes químicos, e agentes
hormonais.
Otto (2002), ressalva que o câncer pode ocorrer devido à ação conjunta desses
fatores ou devido a apenas um fator.
1.4. Sinais e Sintomas de um Paciente Oncológico
O câncer é uma patologia com localizações e aspectos clínico-patológicos múltiplos
e não possui sintomas ou sinais patognomônicos, podendo ser detectado em vários
estágios de evolução histopatológica e clínica. Destes fatos resulta, em grande
parte, a dificuldade do seu diagnóstico e a afirmativa de que a suspeita de câncer
pode surgir diante dos sintomas os mais variados possíveis. (INCA, 2007).
De acordo com Otto (2002), há enumeras manifestações das neoplasias, porém, de
um modo geral cita-se anemia, emagrecimento, inapetência, fraqueza, aumento ou
diminuição dos glóbulos brancos do sangue e hipercalemia. Já a febre,
principalmente em linfomas e leucemias agudas, e o aumento dos linfonodos podem
surgir como manifestação inicial de tumores ou infecções. Além destes, existem
também fraturas com pouco ou nenhum traumatismo, infecções freqüentes,
alterações nas plaquetas e na coagulação, dor, depressão e ansiedade, medo, e
integridade da pele prejudicada. Sendo valido ressaltar que esses sintomas são de
uma forma geral. Cada neoplasia apresenta determinados sintomas específicos.
Dor é um dos sintomas mais comumente vivenciados e temidos pelo paciente com
câncer avançado, mas pode ocorrer nos estágios iniciais da doença. Sendo referida
por cerca de 60% dos doentes, e 30% a relatam como moderada ou intensa, apesar
de freqüente, a dor oncológica não é tratada corretamente. (PIMENTA, 1997).
1.5. Tratamento do CâncerA detecção e a prevenção se fazem com a intervenção imediata para conter o
processo canceroso. (OTTO, 2002).
Segundo BRUNNER; SUDDARTH (2002, p.260):As opções de tratamento oferecidas para os pacientes com câncer devem basear-se em metas realistas e alcançáveis para cada tipo de câncer específico. A gama de metas possíveis visadas pelo tratamento pode incluir a erradicação completa da doença maligna (cura), sobrevida prolongada e contenção do crescimento da célula (controle) ou alívio dos sintomas associados à doença (paliativo).
Segundo o mesmo autor, múltiplas modalidades podem ser empregadas no
tratamento do câncer. Há uma vasta quantidade de terapias, incluindo cirurgia,
radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia e terapia com modificadores das
respostas biológicas (MRB), podem ser utilizados nas várias etapas de tratamento.
Resultados de numerosas pesquisas demonstraram que existem medidas efetivas
de prevenção primária e secundária que podem reduzir substancialmente o número
de casos novos de câncer e prevenir muitas mortes atribuídas á doença.
Na visão de Brunner; Suddarth (2002), a prevenção primária preocupa-se com a
redução de risco ou prevenção do desenvolvimento do câncer nas pessoas
saudáveis. Enquanto que, a prevenção secundária envolve os esforços de detecção
e rastreamento no sentido de chegar ao diagnóstico precoce e estabelecer uma
pronta intervenção para interromper o processo canceroso.
Para reduzir o impacto do câncer, é necessário que se reduza a prevalência dos
fatores comportamentais, como o ato de fumar, alimentação, sedentarismo, ingestão
de bebidas alcoólicas, e ambientais, como exposição à luz solar, radiação,
substâncias químicas, entre outros, que aumentam seu risco. (OTTO, 2002).
A Organização Mundial de Saúde preconiza como tratamento, além da radioterapia,
quimioterapia e cirurgia, o transplante de medula óssea que se constitui em um
tratamento proposto para algumas doenças malignas que afetam as células do
sangue. (INCA, 2007).
1.6. Conceito de Dor
A história está repleta de casos em que a dor influiu na vida de várias pessoas,
desde filósofos e generais até mesmo de figuras bíblicas. (CALLIET, 1999).
As descobertas mais importantes sobre dor ocorreram após a II Guerra Mundial,
decorrentes da expansão do conhecimento sobre anatomia e fisiologia, e a utilização
do método cientifico para investigar o sentido da dor. (BENOLIEL, 1995).
(PIMENTA, 2000, p.06), historia que:
Em 1960, Melzack definiu dor como uma sensação e, em 1979, a Organização Mundial de Saúde (OMS) complementou essa definição, afirmando que dor é “uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a um dano real ou potencial dos tecidos, ou descrita em termos de tais danos. Cada indivíduo aprende a utilizar este termo através de suas experiências anteriores.
Segundo a mesma autora, ela serve como um sinal de alerta que ajuda a proteger,
indicando que algo não está bem, se constituindo de uma experiência subjetiva e
pessoal. Essa definição é atualmente utilizada, por se tratar também da definição
preconizada pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP).
Para Teixeira; Pimenta (apud, TEIXEIRA et al, 2001, p.04):A dor é uma experiência multidimensional que envolve aspectos quantitativos, sensitivos e hedônicos e que gera repercussões biopsicossociais. A quantificação das intensidades, qualidades, duração, localização e fatores de melhora e piora da dor deve ser somada à avaliação das repercussões sócio-psicocomportamentais dela decorrentes.
Porém, não se deve esquecer nunca que, as variações de intensidade e
manifestações psicofisiológicas da dor são diferentes em cada paciente.
(CARVALHO; CRUZ, 2000).
Platão (427 a. C. - 347 a.C.) acreditava que a dor não surgia apenas por estimulação
periférica, mas também por uma experiência emocional que residia no coração. Já
Hipócrates, afirmou “Divino é o trabalho de aliviar a dor”.
A depender de fatores culturais, o limiar da dor pode ser influenciado.
Em cerimônias hindus uma pessoa pode ser escolhida para representar o poder dos deuses, abençoando as crianças e a colheita em vilarejos. O ritual consiste em prender ganchos na pele e músculos da região lombar e
suspender a pessoa através de cordas, de modo que ela fique balançando dependurada. Não havendo evidência da dor durante o ritual, ao contrário, há um estado de exaltação”. (MELZACK, 1973, p.203)
O significado da dor será totalmente diverso, pois cada cultura apresenta o seu
modo peculiar de expressar idéias e conceitos, podendo gerar confusão na
comunicação, perplexidade e animosidade entre pessoas quando as reações não
estão conforme as expectativas. (BENOLIEL, 1995).
Segundo Potter (2002), a dor é uma experiência subjetiva e altamente
individualizada e sua interpretação e significado envolvem vários fatores
psicossociais e culturais. A pessoa que está vivenciando a dor é a única autoridade
sobre o assunto.
De acordo com MCCAFFERY, 1980 (apud Calliet, 1999, p.149), dor é tudo que o
indivíduo que a experimenta diz que é e existe sempre que este assim o afirmar.
Cabendo, então ao profissional de saúde, como única forma de poder aliviar a dor é
confiar nas palavras e no comportamento do paciente, além de acreditar que a dor
existe.
Para os pacientes, a dor é um mistério, por ser uma experiência subjetiva, a equipe
de enfermagem não pode ignorar o que ela significa para o paciente. No passado ou
em muitas culturas atuais a dor precisa ser interpretada, pois possui um significado
espiritual também, afinal a dor por mínima que seja, leva o individuo a pensar, os
acontecimentos passam a ser interpretados em função dela, nos colocamos próximo
à morte. (MELZACK, 1973).
A dor pode ser classificada em dor aguda, dor crônica e dor do câncer, esta por sua
vez tem propensão de tornar-se crônica, sendo que o enfermeiro deve estar
informado em relação às mesmas a fim de saber distinguir cada uma delas e atuar
para sua melhoria. (CALLIET, 1999).
A dor aguda indica que ocorreu comprometimento ou lesão. Sendo significante, pelo
fato de que ela chama a atenção para sua existência. Quando não existe lesão e
não há doença sistêmica, a dor aguda usualmente diminui com a cura, geralmente
em menos de seis meses e usualmente em menos de um mês. (BRUNNER;
SUDDARTH, 2000).
Segundo o mesmo autor, observa-se então, que, para fins de definição, a dor aguda
é descrita como aquela que dura de segundos a seis meses.
Segundo Potter (2002), a dor aguda tem duração breve e pode ceder com ou sem
tratamento. Sendo seu início imediato e seu fim, esperado. Se tratando, então, de
uma experiência nova, assustadora e com reações comportamentais evidentes.
Com isso, independentemente de sua natureza, padrão ou causa, a dor que é
tratada de forma inadequada apresenta efeitos nocivos, além do desconforto
causado.
Calliet, 1999 (apud PETROIANU, 2002), a dor aguda segue a instalação da lesão
tecidual e geralmente desaparece com a resolução do processo casual. Apresenta-
se bem delineada, espacial e temporalmente, e associa-se a alterações
neurovegetativas gerais que incluem a bradi ou taquicardia, hiper ou hipotensão
arterial, sudorese ou anidrose, palidez ou vasodilatação generalizadas, retardo do
transito gastrintestinal, retenção urinária, expressão facial de desconforto, agitação
psicomotora e anormalidades neuroendócrinas (liberação de ACTH, hormônio
melanotrófico, hormônio antidiurético). A alteração do humor mais marcante é a
ansiedade.
Brunner (2002) define a dor crônica como a dor constante ou intermitente que
persiste certo período de tempo, sendo este tempo superior a seis meses. Durando
além do tempo previsto e com freqüência, não pode ser atribuída a uma lesão ou
causa específica.
Já Miceli (2002), afirma que a dor crônica por não apresentar um início bem definido,
sendo em geral, difícil de tratar porque sua origem ou causa pode ser desconhecida.
Constitui-se usualmente um problema por si próprio.
De acordo com Calliet (1999, p.256):
A dor crônica é um problema nacional envolvendo sofrimento desnecessário, incapacitação esmagadora, deficiência pessoal e despesas enormes a dor crônica não é meramente um sintoma, tendo ela própria se transformado em doença.
A dor crônica é uma importante causa de incapacidade física e psicológica que
resulta em problemas que podem afetar todos os aspectos da vida do indivíduo.
(MICELI, 2002, p.365).
Potter (2002), afirma que: “a vida de uma pessoa com dor crônica pode ser terrível”.
Afinal, a busca desesperada pelo alívio da dor pode fazer com que o paciente fique
suscetível ao charlatanismo, ao uso excessivo de álcool e a efeitos colaterais
indesejáveis em função da mistura de medicamentos prescritos por numerosos
médicos.
Conforme Calliet, 1999 (apud PETROIANU, 2002), a dor crônica decorre da
perpetuação da dor aguda. Sendo geralmente vaga, mal delineada e agravada por
vários estressores ambientais ou psicopatológicos. Devido à adaptação funcional
dos sistemas, não se associa às anormalidades neurovegetativas gerais
características da dor aguda.
Segundo o mesmo autor, a dor crônica caracteriza-se pela pequena expressão dos
aspectos racionais neuroendócrinos ou neurovegetativos próprios da dor aguda e
pela ocorrência de depressão, ansiedade, hostilidade, adoção de posturas
particulares, aumento das preocupações somáticas e do período de repouso, com
as óbvias conseqüências financeiras e sociais para os doentes e seus cuidadores.
1. 7. Dor x Oncologia
Constitui-se em um evento freqüente na doença oncológica. Considera-se a dor do
câncer como resultante do tumor, do seu crescimento e/ou seu tratamento.
(POTTER, 2000).
Entretanto, nas últimas décadas o conhecimento, o conceito e as intervenções
terapêuticas para a dor crônica do paciente oncológico tiveram uma grande
evolução, porém, a capacitação do enfermeiro ainda é inadequada. (PIMENTA,
1997).
Segundo a mesma autora, a dor no câncer apresenta etiologias variadas. Advém do
próprio câncer (46-92% das vezes), relaciona-se ao câncer (12-29%), decorre do
tratamento antitumoral (5-20%) e de distúrbios concomitantes (8-22%).
Calliet (1999), afirma que, a dor do câncer está associada a uma doença de
prognóstico mau ou duvidoso, com propensão a tornar-se crônica, sem remissão e,
algumas vezes, de intensidade crescente. É a dor crônica que exige maior atenção
do profissional de saúde, pois esta limita a vida das pessoas no que se refere à
movimentação, a agilidade, a atividade e o bem-estar, prejudicando assim a
qualidade de vida dos seres humanos.
A dor crônica hoje é conceituada como um fenômeno complexo e multifatorial, que
envolve aspectos orgânicos e psicossociais. O tratamento neurofisiológico e
neurofarmacológicos são considerados eficazes, mas a abordagem multidisciplinar,
que surgiu na década de 80, a psico-oncologia, tem importância impar para a
qualidade de vida do paciente oncológico com dor crônica. Essa abordagem
emprega modalidades de intervenções fisiológicas, emocionais, cognitivas e sociais.
(CALLIET, 1999).
Calliet (apud BARACAT, 2000), afirma que a avaliação e a medicação da dor em
câncer necessitam da compreensão adequada do fenômeno fisiopatológico, além do
perfeito conhecimento do desenvolvimento psicocomportamental do organismo em
relação à doença que o atingiu.
Relacionam-se ao Câncer, três tipos de dor: a dor somática, a dor visceral e a dor
neuropática ou de deaferentação, suas características são particulares, assim como
seus mecanismos e exemplos. (SCHULZE, 1997).
Segundo o mesmo autor, a dor somática se constitui em uma dor aguda constante e
bem localizada, tendo como mecanismos estímulos dos nociceptores, superficiais e
profundos e como exemplo a metástase óssea.
Já a dor visceral, é constante, aguda, mal localizada, muitas vezes referida a locais
distantes, tendo seu estímulo nos nociceptores viscerais e, exemplificada pelo tumor
hepático e a dor referida em ombro em neoplasia gástrica. (OTTO, 2002).
Assim sendo, e por último, a dor de deaferentação é obtida como surtos
paroxísticos, em choque, formigamento, ardor e latejamento, sendo advinda de
descargas espontâneas do Sistema Nervoso Central e Autônomo Simpático e tendo
como exemplo a plexopatia braquial pós-hepática e dor fantasma. (OTTO, 2002).
Existem vários motivos que levam o paciente oncológico a sentir dor. De acordo com
Schulze (1997), a dor é provocada por reações fisiológicas, psicológicas, afetivas e
psicossociais.
Devido ao fato dos pacientes cancerosos apresentarem problemas de sono, perda
de apetite, depressão, debilidade física associados à ansiedade, hipocôndrio,
neurotismo, vivência de sentir-se mutilado e desfigurado, passar por certas
dificuldades de acesso aos serviços de saúde e angústia espiritual, como o
questionamento do significado da vida e do sofrimento, levam ao aumento da
percepção da dor. (SCHULZE, 1997).
Segundo o mesmo autor, tudo isso favorece a hipótese de que no câncer a dor é um
fenômeno complexo multidimensional, com componentes sensoriais, afetivos,
cognitivos e comportamentais. A dor que coexiste com o câncer interfere com o
funcionamento fisiológico e aumenta a descompensação psicológica.
1.8. Atuação da Enfermagem no alivio da dor ao paciente Oncológico
Ao considerar que sentir dor não é natural, ainda que compreensível, e que ausência
de dor é um direito do paciente, deve-se agrupar esforços no sentido de aliviar e
controlar a sua dor, sabendo-a múltipla e dinâmica e adequando periodicamente o
tratamento oferecido. (MICELI, 2002).
Segundo Arruda (1997), para cuidar do paciente oncológico é preciso conhecer,
saber o que o outro necessita e como podemos ajudá-lo nesse processo.
A Enfermagem tem buscado estudar e contribuir para a ampliação dos
conhecimentos sobre o tema. Em 1990, a Oncology Nursing Society adotou uma
posição sobre a dor do paciente oncológico, definindo objetivos de prática,
considerações éticas e recomendações. (CALLIET, 1999).
Na assistência de enfermagem a fim de suprir as necessidades fisiológicas e
psicossociais do paciente oncológico com dor crônica, a Oncology Nursing Society
destaca-se a necessidade dos enfermeiros contribuírem para o avanço da
assistência ao paciente com dor crônica. Para Benoliel (1995), a forma como os
profissionais de saúde atuam, comunicam-se entre si e como lidam com a dor do
paciente são aspectos influenciados por suas definições.
Porém, os tratamentos inadequados da dor crônica e dos outros sintomas do câncer
geram problemas sérios, são negligenciados pelos profissionais de saúde, e todo
paciente com câncer deveria obter o controle da sua dor como parte de seu cuidado.
(BENOLIEL, 1995).
Segundo Pimenta; Mota (2006):O fluxo de comunicação deve ser estabelecido entre os integrantes da equipe. Se a dor é identificada, mas a informação não circula entre os profissionais, ou circula de modo irregular e lento, a proposta analgésica ou seu ajuste ficam comprometidos. As ações a serem realizadas após a identificação da dor ou de sua piora devem permitir rapidez.
Pressupõe-se com base na afirmação de Pimenta; Mota (2006) que o Enfermeiro
deverá exercer seu papel no controle da dor, tendo responsabilidade na avaliação
diagnóstica, na intervenção e monitorização dos resultados do tratamento, na
comunicação das informações da dor no paciente como membro da equipe de
enfermagem.
A literatura médico - científica mundial apresenta diferentes protocolos de avaliação
já desenvolvidos e avaliados, como proposto pelo Instituto Nacional do Câncer –
INCA, divulgado em 1997, que compreende todos os elementos fundamentais da
avaliação. (ARRUDA, 1997).
Para Pereira; Souza (2000, p.579):O processo de avaliação da dor é amplo e envolve a obtenção de informações relacionadas com a data de início, localização, intensidade, duração e periodicidade dos episódios dolorosos, qualidades sensoriais e afetivas do mesmo: fatores que iniciam, aumentam ou diminuem a intensidade da dor, significado desta para o paciente e sua família; interferência nas atividades diárias, nos relacionamentos afetivos e no trabalho; expectativas em relação à doença e ao tratamento; comportamento habitual em situações de estresse: tipos e resultados de tratamentos anteriormente realizados.
Para Sofaer (1994), a dor deve ser avaliada pelo enfermeiro juntamente com cada
paciente. As experiências dolorosas anteriores ou observações em outras situações
não devem influenciar essa avaliação.
Segundo Brunner; Suddarth (2002), um importante papel do enfermeiro é o de
avaliar as características de dor e desconforto, transmitir confiança ao paciente,
avaliar outros fatores que contribuem para a dor do paciente, administrar
analgésicos conforme prescrição médica, avaliar as respostas do paciente à dor e a
experiência dolorosa, encorajar estratégias eficazes usadas em experiências
anteriores e estimular novas estratégias para alívio da dor do paciente, como
relaxamento, distração, entre outras.
Segundo Chaves (2004), o paciente oncológico exige atuação eficaz dos
profissionais de saúde para o controle dos sintomas, pois o seu sofrimento pode não
estar relacionado somente à dor, mas a uma combinação de fatores denominada
“Dor Total”, porque envolve outros sintomas físicos, bem como problemas
psicológicos, sociais, culturais e espirituais.
Essa abordagem, que surgiu na década de 80, é empregada para reduzir a dor por
meio de modalidades terapêuticas fisiológicas, emocionais, cognitivas e sociais, para
que o cuidado seja resgatado com qualidade. (CALLIET, 1999).
A enfermeira deve ter em mente a idéia de câncer como doença crônica, que possui
exacerbações agudas, em vez de considerá-la como sinônimo de morte e
sofrimento. Incentivar, e se possível até participar, das estratégias de prevenção
primária e secundária, sendo que é papel da enfermeira auxiliar o paciente e a
família no controle de determinados problemas, como manter a integridade tecidual,
explicar a alopecia, controlar as lesões cutâneas malignas, promover a nutrição,
diminuir a fadiga. A fadiga também se origina do estresse de lidar com o câncer. Às
vezes os pacientes pensam que o câncer está progredindo ou que o tratamento está
falhando, no entanto não é nada disso. Deve-se melhorar a imagem corporal, a auto-
estima, e aliviar a dor, que conseqüentemente diminuirá a ansiedade. (OTTO, 2002).
O cuidado humanizado deve emergir com freqüência na atuação da enfermagem no
alívio da dor em pacientes oncológicos, se constituindo uma abordagem pautada em
pressupostos humanísticos quem tem acompanhado a profissão nas últimas
décadas, ainda como característica ideológica. (MARTIN, 2004).
O mesmo autor afirma que a humanização dos cuidados em saúde pressupõe
considerar a essência do ser, o respeito à individualidade e a necessidade da
construção de um espaço concreto nas instituições de saúde, que legitime o humano
das pessoas envolvidas. O pressuposto subjacente a todo o processo de
atendimento humanizado é facilitar que a pessoa vulnerabilizada enfrente
positivamente os seus desafios.
No Brasil já existem alguns programas voltados para a humanização em saúde. Um deles é o Programa Nacional de Humanização dos Serviços de saúde, lançado em 24 de maio de 2000, que tem como proposta reduzir as dificuldades encontradas durante o tratamento, favorecer a recuperação da comunicação entre a equipe dos profissionais de saúde e o usuário, incluindo a família, diante do momento de fragilidade emocional do paciente. Segundo pesquisas do Ministério da Saúde junto aos usuários do SUS – Sistema Único de Saúde, o avanço científico, a utilização de sofisticados aparelhos de diagnóstico, técnicas cirúrgicas avançadas e desenvolvimento de ações preventivas não vêm sendo acompanhadas de atendimento humanizado. Por essa razão, o Ministério da Saúde objetiva por meio deste programa estabelecer condições de melhoria do contato pessoal entre os pacientes, para que sejam atendidos de forma humana e solidária. (PESSINI, 2004, p.21)
O Ministério da Saúde (MS) em 2000 implementou a Política Nacional de
Humanização - PNH, vinculada à Secretaria de Atenção à Saúde - SAS/MS, que
institui uma política pública de saúde que visa à universalidade, ao aumento da
equidade e à incorporação de novas tecnologias e especialização dos saberes. O
Humaniza SUS é um programa que tem como objetivo levar um atendimento mais
acolhedor aos usuários dos serviços de saúde pública, garantir seus direitos
enquanto pacientes e implantar de forma mais efetiva a atenção básica.
A fim de buscar uma maior integração no cuidado, envolvendo família e pacientes no
tratamento, além é claro de levar qualidade de vida aos profissionais da saúde,
valorizando seu trabalho e passando recursos para que terapias mais humanas
possam ser implantadas sem sacrifícios por esses profissionais, como uma
brinquedoteca dentro de um hospital infantil, ou um espaço para musicoterapia e
tantos outros tratamentos humanos que auxiliam no tratamento clínico. (PESSINI,
2004).
Além da humanização no cuidado, podemos também estar interferindo na qualidade
de vida do paciente através dos Cuidados paliativos. De acordo com a OMS (1999),
os cuidados paliativos utilizam de uma abordagem trans, multi e interdisciplinar;
abrangem o cuidado com o paciente, a família e a comunidade. Almeja-se avaliar as
expectativas e as necessidades físicas, sociais e espirituais da pessoa, bem como
integrar ao cuidado os valores, crenças e práticas culturais e religiosas por ela
professadas.
Afinal, às vezes, trata-se de pessoas doentes fora da possibilidade de
restabelecimento integral de sua saúde, tendo que enfrentar a morte iminente e
inevitável, quando a tentativa de busca de cura torna-se frustrante.
Com a incurabilidade das doenças e conseqüentemente sua progressão, os pacientes evoluem com uma gama devastadora de sintomas de ordem física, emocionais e psicológicas de forma dinâmica e ativa, o que requer a necessidade de diagnóstico precoce e terapêuticas paliativas também dinâmicas e ativas, respeitando-se os limites do próprio paciente frente a sua situação terminal. (BRANDÃO, 2003, p.68).
2. METODOLOGIA
A metodologia utilizada foi um estudo do tipo qualitativo, tendo como técnica de
pesquisa uma revisão de literatura sobre a intervenção da enfermagem no alivio da
dor oncológica. Lakatos e Marconi (2004) relatam que, a pesquisa qualitativa
preocupa-se em analisar e interpretar aspectos, na tentativa de uma compreensão
detalhada dos significados.
Segundo Ander-Egg, 1978(apud Marconi; Lakatos, 2001, p.43):A pesquisa pode ser considerada um procedimento formal com método de pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais. Significa muito mais do que apenas procurar a verdade: é encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos científicos. Especificamente é “um procedimento reflexivo sistemático, controlado e crítico, que permite descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo de conhecimento.
A revisão de literatura foi realizada a partir de material já elaborado, constituindo-se
principalmente de livros e monografias. Já a fonte de dados, para a análise, foi
realizada a partir de artigos científicos das bases de dados da Bireme, Lilacs e
Scielo.
Os artigos científicos se constituem de pequenos estudos, porém completos, que
tratam de uma questão verdadeiramente científica, mas que não se constituem em
matéria de um livro. Apresentando o resultado de estudos ou pesquisas e
distinguem-se dos diferentes tipos de trabalhos científicos pela sua reduzida
dimensão e conteúdo, sendo publicados em revistas ou periódicos especializados e
formam a seção principal deles. (MARCONI; LAKATOS, 2001, p.84).
Foram selecionados alguns artigos, feita uma análise dos mesmos para identificar o
objeto de estudo, e a partir daí, realizada uma seleção de acordo com as categorias
escolhidas: percepção, avaliação e tratamento / alívio da dor oncológica.
Os artigos foram analisados a partir de seus conteúdos com a finalidade de
descrever, sistematicamente, o conteúdo das comunicações, sendo definido por
Berelson (In: Selltiz et alii, 1965:391) como “uma técnica de pesquisa para a
descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo evidente da
comunicação”.(MARCONI; LAKATOS, 1999, p.130).
Esse conteúdo, então foi analisado a partir das categorias sistemáticas, previamente
determinadas, que levam a resultados objetivos. Segundo MARCONI; LAKATOS
(1999, p.131) “é uma técnica que visa aos produtos da ação humana, estando
voltada para o estudo das idéias e não das palavras em si.”
Encontrou-se 24 artigos, dos quais foram excluídos 14 por estarem fora do perfil
seletivo, permanecendo assim 10 artigos que se enquadravam na proposta para a
realização deste presente estudo.
Os artigos selecionados foram: O Cuidado do paciente oncológico com dor crônica
na ótica do Enfermeiro, Silva; Zago (2001); Assistência à criança e ao adolescente
com câncer: a fase da quimioterapia intratecal, Lemos et. al., (2004); A
existencialidade da pessoa com neoplasia em tratamento quimioterápico, Sales et.
al. , (2003); Avaliação do doente com dor crônica em consulta de enfermagem:
proposta de instrumento segundo diagnósticos de enfermagem, Cruz; Pimenta,
(1999); Intervenções de enfermagem ao paciente com dor, Rigotti; Ferreira, (2005);
O enfermeiro no manejo da dor do câncer, Chaves, (2004); Análise clínica e
terapêutica dos pacientes oncológicos atendidos no programa de dor e cuidados
paliativos do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho no ano de 2003,
Salamonde et. al. , (2006); O conhecimento do diagnóstico de câncer não leva à
depressão em pacientes sob cuidados paliativos, Diniz et. al., (2006); Dor: quinto
sinal vital, um desafio para o cuidar em enfermagem, Pedroso; Celich, (2006); Dor
crônica e subjetividade em oncologia, Miceli, (2002).
Os artigos foram analisados e discutidos de acordo com as categorias selecionadas,
buscando as afirmações e negações trazidas pelos autores a respeito do objetivo
proposto. Os resultados foram expressos através de quadros elaborados no
programa Word 2003.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os artigos foram analisados e discutidos de acordo com três categorias, a primeira
percepção, a segunda avaliação, e a terceira o tratamento e alívio da dor oncológica.
3.1. Percepção
Quadro 1 – Percepção da dor oncológica referida pelos autores selecionados
AutoresSilva; Zago, 2001.
Lemos et. al. , 2004.
Sales et. al. , 2003.
Cruz; Pimenta, 1999.
Rigotti; Ferreira, 2005.
Chaves, 2004.
Salamonde et. al. , 2006.
Diniz et. al. , 2006.
Pedroso; Celich, 2006.
Miceli, 2002.
Expressõesfaciais + + +
Relatos verbais+ + + +
Estado físico e emocional(atitudes e comporta-mentos)
+ + +
Desconfortos ++
Prejuízos em atividades diaria
+ +
Fonte: Quadro elaborado pela autora deste estudo
O enfermeiro é o profissional da área de saúde que permanece mais tempo próximo
ao paciente, assim sendo tem responsabilidade no manejo da dor. Devido a esta
aproximação, os autores Chaves (2004); Pedroso; Celich (2006) e Rigotti; Ferreira
(2005) identificam algumas características definidoras da existência da dor, dentre
as quais, podemos citar: as expressões faciais, se o paciente chora, como encara e
como reage ao sentir a dor.
No entanto, os autores Silva; Zago (2001); Chaves (2004); Pedroso; Celich (2006) e
Cruz; Pimenta (1999) afirmam que a chave para a afirmação diagnóstica é o relato
verbal, sendo que o primeiro passo é acreditar na queixa verbal do paciente , afinal o
relato da experiência dolorosa pelo paciente aos profissionais de saúde é
fundamental para a compreensão do quadro álgico, implementação de medidas
analgésicas e avaliação da eficácia terapêutica.
Conforme Silva; Zago (2001); Diniz et. al. (2006) e Rigotti; Ferreira (2005) atitudes e
comportamentos dos pacientes tendem a levar uma maior percepção da dor, pois
não são apenas os mecanismos fisiológicos que estão envolvidos na sua avaliação
como também aspectos culturais e psicológicos.
Chaves (2004) e Diniz et. al. (2006) relatam que os desconfortos e prejuízos da vida
diária, no sono, higiene, deambulação, humor, apetite e outros, se constituem em
indicativos do quadro álgico e auxiliam na avaliação da qualidade da analgesia.
3.2. Avaliação
Quadro 2 – Avaliação da dor oncológica referida pelos autores selecionadosAutores
Silva; Zago, 2001.
Lemos et. al. , 2004.
Sales et. al. , 2003.
Cruz; Pimenta, 1999.
Rigotti; Ferreira, 2005.
Chaves, 2004.
Salamonde et. al. , 2006.
Diniz et. al. , 2006.
Pedroso; Celich, 2006.
Miceli, 2002.
Escala Álgica + + + + +
Anamnese e Exame físico + + + +
Localização, intensidade, freqüência, e duração da dor
+ + + +
Equipe Mutiprofis-sional
+ + + +
Registros de Enfermagem +
Comuni-cação entre o doente e os profissionais
+
Monitori-zação dos resultados do tratamento e fatores associados a melhora ou piora
+ + +
Uso do Diagnóstico de enfermagem proposto pela Nanda
+
Fonte: Quadro elaborado pela autora deste estudo
Inicialmente no processo de avaliação da dor, Chaves (2004); Miceli (2002); Cruz;
Pimenta (1999) e Pedroso; Celich (2006), identificam a anamnese e o exame físico
do paciente como primordial para identificação dos diagnósticos de enfermagem,
pois os aspectos psicossociais e familiares se relacionam com a avaliação da dor,
afinal o paciente é um “expert” neste assunto por vivenciá-la.
Os autores Chaves (2004); Salamonde et. al. (2006); Pedroso; Celich (2006); Rigotti;
Ferreira (2005) e Miceli (2002), utilizam de alguns instrumentos, como as escalas
numérica e visual, já preconizados pela Organização Mundial de Saúde – OMS, que
podem ser utilizados na avaliação da dor, e sua escolha depende da capacidade do
paciente em compreender tal instrumento. Salamonde et. al. (2006) e Miceli (2002)
defendem apenas a utilização da escala visual de faces, os demais autores
identificam as escalas numérica e visual de face como fundamentais para uma maior
compreensão do quadro álgico.
Na avaliação da dor, Salamonde et. al. (2006); Silva; Zago (2001); Rigotti; Ferreira
(2005) e Miceli (2002) afirmam que, é de suma importância identificar os seguintes
pontos: localização, extensão, irradiação e intensidade da dor, para saber quando
ela ocorre e como esta afeta o paciente, tornando possível assim, um maior
acompanhamento no processo de evolução ou regressão da dor.
Rigotti; Ferreira (2005); Salamonde et. al. (2006) e Diniz et. al. (2006) relatam que, a
monitorização dos resultados do tratamento, associados à fatores de melhora ou
piora da dor, servem de indicativos para análise da avaliação da dor oncológica.
Segundo Lemos et. al. (2004), a comunicação entre o doente e os profissionais da
equipe de saúde é primordial para avaliação da dor, pois se constitui numa
estratégia utilizada como possibilidade ativa de controle do que está sendo oferecido
no tratamento e sua progressão na avaliação.
Os registros de enfermagem em prontuários dos doentes hospitalizados, propicia
uma identificação de problemas relativos ao controle da dor, subsidia propostas de
soluções calçadas na realidade do paciente, e permite que os outros profissionais
também obtenham informações a respeito da evolução do caso, ou seja, funciona
como uma forma de comunicação entre os próprios profissionais. (Rigotti; Ferreira,
2005).
Silva; Zago (2001); Salamonde et. al. (2006); Pedroso; Celich (2006) e Miceli
(2002), defendem a idéia de que, para uma boa avaliação da dor é essencial a
participação de uma equipe multiprofissional, composta por psiquiatras, clínicos,
anestesiologistas, psicólogos, fsioterapeutas, enfermeiros, assistentes sociais e
farmacêuticos, com o objetivo de postular a qualidade do viver, em confronto com a
quantidade de vida, proporcionando assim, uma diminuição do sofrimento.
Dentre os artigos analisados somente Cruz; Pimenta (1999), abordaram o uso do
diagnóstico de enfermagem proposto pelo Nanda, o qual fundamenta-se no
pressuposto de que o uso de uma linguagem padronizada para expressar situações
clínicas, favorece o desenvolvimento do raciocínio diagnóstico. Afinal, a classificação
do Nanda é ampla e prevê fenômenos clínicos de interesse para a enfermagem nos
domínios físico, emocional e social.
3.3. Tratamento / Alívio da dor oncológica
Quadro 3 – Tratamento / Alívio da dor oncológica referido pelos autores selecionadosAutores
Silva; Zago, 2001.
Lemos et. al. , 2004.
Sales et. al. , 2003.
Cruz; Pimenta, 1999.
Rigotti; Ferreira, 2005.
Chaves, 2004.
Salamonde et. al. , 2006.
Diniz et. al. , 2006.
Pedroso; Celich, 2006.
Miceli, 2002.
Apoio Familiar + + + +
Cuidados Paliativos + + +
Cuidados Humani-zados + +
Conheci-mento da doença
+ +
Trata-mento Farmaco-lógico
+ + +
Cuidado Multiprofis-sional
+ + +
Continuação do Quadro 3 – Tratamento / Alívio da dor oncológica referido pelos autores selecionados - Autores
Silva; Zago, 2001.
Lemos et. al. , 2004.
Sales et. al. , 2003.
Cruz; Pimenta, 1999.
Rigotti; Ferreira, 2005.
Chaves, 2004.
Salamonde et. al. , 2006.
Diniz et. al. , 2006.
Pedroso; Celich, 2006.
Miceli, 2002.
Ações de Enfer-magem
+
Cirurgia+
Radiote-rapia +
Fonte: Quadro elaborado pela autora deste estudo
No tratamento para alívio da dor oncológica é essencial o conhecimento do doente
sobre sua patologia, de acordo com Diniz et. al. (2006) e Miceli (2002), quando o
diagnóstico de câncer é conhecido pelo paciente há uma maior relevância na
correlação da sintomatologia apresentada por ele, levando-o a interferir
positivamente no seu tratamento juntamente com a equipe profissional que o
acompanha.
Segundo Rigotti; Ferreira (2005); Lemos et. al. (2004); Sales et. al. (2003) e Miceli
(2002), é imprescindível a interação da família com o doente, pois é dela que virá o
maior suporte para o enfrentamento de situações vivenciadas com o câncer,
considerandp , então, seu contexto mais amplo.
No cuidado ativo e total das doenças que não respondem mais ao tratamento
curativo, os autores Salamonde et. al. (2006); Diniz et. al. (2006) e Miceli (2002),
relatam que muitos pacientes passam a necessitar de cuidados que visam além do
controle da dor e de sintomas adversos, é necessário um investimento na melhora
da sua qualidade de vida através de cuidados paliativos, pois trará uma ampla
reabilitação do paciente oncológico em todas as esferas de sua vida.
No entanto, os cuidados humanizados, de acordo com Silva; Zago (2001) e Pedroso;
Celich (2006), envolve atos humanos no processo de assistir ao paciente,
promovendo uma interação entre os membros da equipe e o cliente, na qual sua
dignidade seja valorizada, respeitando sua singularidade e seu modo próprio de
existir.
A terapêutica do câncer é composta, basicamente, por três modalidades: tratamento
medicamentoso, cirurgia e radioterapia. Somente Lemos et. al. (2004) abordam a
radioterapia e cirurgia como procedimentos no tratamento do câncer. Já os autores
Chaves (2004); Salamonde et. al. (2006) e Sales et. al. (2003), concordam que o
tratamento medicamentoso, incluindo as drogas denominadas anti-neoplásicas ou a
utilização de opióides fracos é de extrema importância no tratamento para alívio da
dor oncológica, enfocando a importância dos cuidados paliativos e humanização na
administração destas medicações como uma proposta de proporcionar um melhor
resultado, visto que é na quimioterapia que o paciente passa a enxergar uma
possibilidade de obter a cura do câncer e voltar a ser uma pessoa normal e sem dor.
Segundo Rigotti; Ferreira (2005), a enfermagem pode estar desenvolvendo ações
com o intuito de promover o alívio da dor, são elas: criação de um ambiente calmo;
mudanças de posição; promoção de autoconfiança e auto-estima; distração para
desviar a atenção da dor; estabelecimento de uma boa comunicação – empatia; e
incentivo a participação ativa da família no acompanhamento ao paciente.
Observa-se a grande importância, da participação de uma equipe multiprofissional
no tratamento para alívio da dor oncológica, uma vez que não é apenas a
determinação do problema físico do paciente, mas também elementos psicológicos,
sociais e emocionais do seu sofrimento que deverão ser analisados em conjunto
com todos os profissionais que acompanham este paciente. (Silva; Zago, 2001;
Salamonde et. al. , 2006 e Miceli, 2002).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo conclui que no Câncer, a morte passa a não mais ser vista como
fracasso ou erro médico, e sim como decorrência da vida, conseqüência de um
processo de adoecimento, e se a vida continua até o momento da morte, cabe ao
profissional buscar a melhor qualidade de vida possível, atendendo as demandas do
paciente, propondo uma comunicação mais aberta, favorecendo-o uma morte com
dignidade.
É possível afirmar, após esta pesquisa que, a melhor forma de proporcionar o alívio
da dor oncológica é saber percebê-la, avaliá-la, e só depois intervir com o
tratamento adequado. Lembrando que, o compromisso da enfermagem vai além das
intervenções biológicas, o enfoque deve estar voltado para aspectos existenciais
onde haja espaço para a expressão dos sentimentos, de forma que as
subjetividades sejam afloradas. A compreensão do que efetivamente está sendo
expresso e comunicado, quer pela linguagem verbal, escrita ou silenciosa, ou
mesmo pelas expressões corporais é imprescindível na Enfermagem. Para isso, é
necessário ouvir a pessoa com dor e buscar alternativas que amenizem seu
sofrimento, que melhorem sua qualidade de vida.
Com a realização deste trabalho, foi possível compreender o quanto é importante
que o profissional de Saúde entenda a necessidade de compartilhar, ainda que por
momentos, do mundo pessoal da pessoa com dor, o mundo de sua auto-realização,
para, só então, ter condições de compreendê-la. Para a concretização deste
esforço, necessita ser preparado no que tange à dimensão humanista e com o olhar
voltado para o mundo, enfocando a dor como uma facticidade que não diminui a
integridade do ser humano.
Percebeu-se que aliviar a dor é e sempre foi inerente ao “fazer” da enfermagem.
Cuidar, educar, acolher, amparar, aliviar desconfortos, controlar sintomas e
minimizar o sofrimento são ações cotidianas na vida dos profissionais. Sensibilizar
os profissionais que lidam com pessoas com doenças fora de possibilidades de cura
sobre o compromisso de aliviar a dor, o sofrimento psíquico, espiritual e físico é
fundamental. Mas, é também fundamental auxiliar os profissionais na aquisição de
conhecimentos clínicos que favoreçam essa prática.
Por fim, com a realização deste estudo é possível concluir que, além do
conhecimento adquirido a respeito da amplitude de fatores que contribuem para a
experiência da dor, e as influências que ela exerce na vida da pessoa com câncer e
em todos à sua volta, percebeu-se também que a cada dia que passa está mais
visível de que a enfermagem é a profissão da área de saúde cuja essência e
especificidade é o cuidado ao ser humano. Saber que somos capazes de ajudar
alguém a se sentir melhor, sem tecnologia e máquinas e somente com duas mãos,
coração e mente, este é o maior privilégio que podemos usufruir.
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