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Ativando a memória, formando a cidade.

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by Patrícia Bragatto / UFES

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Ativando a memória,formando a cidade.

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Ativando a memória, formando a cidade:um estudo sobre o Centro de Vitória em fotos produzidas por personagens deste lugar.

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Ativando a memória, formando a cidade:um estudo sobre o Centro de Vitória em fotos produzidas por personagens deste lugar.

Projeto de Graduação II apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito final para obtenção do título de graduação em Arquitetura e UrbanismoOrientadora: Prof.ª Dr.ª Renata Hermanny de AlmeidaCo-Orientador: Prof.º David Protti

Patrícia Bragatto Guimarães

Universidade Federal do Espírito SantoCentro de ArtesDepartamento de Arquitetura e Urbanismo

Vitória, 2009/01

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Sumário

Introdução .......................................................................................... 07

1. Olhar, Memória, Fotografia, Percurso ............................................... 111.1 Objeto de estudo ......................................................... 111.2 Objetivo ........................................................................ 121.3 Justificativa .................................................................. 13

2. Metodologia .................................................................................... 17 2.1 Olhar Periférico ........................................................... 17 2.2 O Método .................................................................... 20

2.2.1 Abordagem ........................................ 222.2.2 Escolha dos Participantes ................. 242.2.3 Quanto à análise ................................. 25

3. Ativando a memória ........................................................................ 273.1 Participante 1: Bebete Loss .......................................... 29

3.1.1 Descrição ............................................ 313.1.2 O lado bom .......................................... 39

3.2 Participante 2: Camila Tangerino .................................. 41

3.2.1 Descrição ............................................ 433.2.2 Rua Sete .............................................. 49

3.3 Participante 3: Érico Perim ........................................... 513.3.1 Descrição ............................................ 533.3.2 Cidade Inventada de Érico ................... 61

3.4 Participante 4: Maria Britto .......................................... 633.4.1 Descrição ........................................... 653.4.2 Um Centro de coisas velhas ................ 69

3.5 Participante 5: Randrique ............................................ 71

3.5.1 Descrição ............................................ 733.5.2 O Centro à noite .................................. 79

3.6 Participante 6: Gisele Bernardes ................................. 81

3.6.1 Descrição ........................................... 833.6.2 A Catedral ........................................... 87

3.7 Participante 7: Babá/ Conceição .................................. 89

3.7.1 Descrição ............................................ 913.7.2 O Centro em conserva ......................... 97

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Sumário

3.8 Participante 8: Bira ....................................................... 993.8.1 Descrição ............................................. 1013.8.2 Design datado ...................................... 107

3.9 Participante 9: Luiz Cláudio ........................................... 1093.9.1 Descrição ............................................. 1113.9.2 A praça Ubaldo Ramalhete ................... 115

3.10 Participante 10: Waldete Nunes ................................... 1173.10.1 Descrição ........................................... 1193.10.2 Os sinos da Igreja São Gonçalo ......... 125

3.11 Participante 11: Monalisa ............................................. 127

3.11.1 Descrição ............................................ 1293.11.2 Praça Costa Pereira / Creche / Casa ... 136

3.12 Participante 12: Raphael Araújo ................................... 137

3.12.1 Descrição ............................................ 1393.12.2 Pela janela, entre frestas ...................... 145

3.13 Participante 13: Nelson Gonçalves ............................... 1473.13.1 Descrição ............................................ 1493.13.2 Limites ............................................... 153

3.14 Participante 14: Arlinda Schena .................................... 1553.14.1 Descrição ............................................ 1573.14.2 Parque Moscoso ............................... 163

3.15 Participante 15: Jeferson............................................... 1653.15.1 Descrição ............................................ 1673.15.2 A Vila Rubim......................................... 169

4. Formando a cidade ............................................................................. 171

Referências Bibliográficas ..................................................................... 177

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Introdução

A princípio havia uma certeza: trabalhar com a memória. Uma memória coletiva, adormecida, esperando

um pequeno ruído para voltar a ser presente. No processo de se pensar qual maneira trabalhar com esta

memória, qual o meio de comunicação utilizar, surgiu a possibilidade do uso da fotografia como ponte

para chegar ao registro desta memória. A memória precisava ser situada em algum ponto e estar

relacionada a alguma coisa. Ela precisava ter limites: ancorei-a no Centro de Vitória. A partir de então, o

que me interessava era a memória relacionada ao Centro, que seria transformado em laboratório para

experimentar a memória de pessoas envolvidas com este lugar. Outro meio, para complementar o

trabalho, foi criar uma metodologia para servir de roteiro e ordenar o processo e que seria alterada com

acertos e erros durante o trabalho.

Em linhas gerais, o trabalho propõe analisar a área central de Vitória através de fotografias de

personagens da própria região, moradores e usuários, que constituem “fotógrafos” de diferentes

formatos, classes sociais e faixas etárias. O trabalho partiu do princípio de que qualquer pessoa, de

maneira amadora, pode fazer o uso de uma máquina fotográfica e registrar o que deseja. A memória é

revelada através destas fotografias, produto de um percurso consciente dos participantes em busca de

pontos relevantes no Centro, salientando aspectos positivos e negativos do urbano e o que mais isso

possa envolver, respeitando os limites geográficos que cada participante formulou.

A análise, despretensiosamente, busca encontrar critérios de leitura que justifique a escolha dos ângulos,

das formas expressas da informação registrada e também a variedade dos olhares, os significados que a

cidade assume nos seus diversificados habitantes.

A percepção urbana é uma prática cultural que concretiza certa compreensão da

cidade e se apóia, de um lado, no uso urbano, de outro, na imagem física da cidade,

da praça, do quarteirão, da rua, estes entendidos como fragmentos habituais da

cidade. Uso é hábito, reunidos, criam a imagem perspectiva da cidade que se

sobrepõe ao projeto urbano. (FERRARA, 1993, p. 18)

Em outra obra, “Ver a Cidade”, Lucrécia Ferrara também fala que “A percepção urbana é condição

indispensável para que a cidade atue enquanto fonte de informação nova: outros hábitos, outra forma de

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viver, outra qualidade espacial (...) é por este uso que o homem se apropria do espaço ambiental,

identificando-o e se identificando com ele. É o uso que dinamiza o espaço e o concretiza como modo de

ser de uma cidade ou de um modo de viver. A cidade adquire identidade através do uso que conforma e

informa o ambiente .” (FERRARA, 1988, p. 75)

Este trabalho é uma análise indireta do Centro, tendo como foco real a diversidade dos olhares, e a

diferença de opiniões. Existe grande expectativa em saber sobre o imaginário das pessoas dessa cidade

em relação ao Centro e como essas fotos podem se relacionar com motivações afetivas, preconceitos e

paixões. Pode acontecer de os escolhidos mostrarem um lado violento, sujo e cheio (trânsito, pedestre,

comércio caótico). Outros poderão defender o Centro e uma relação mais intimista com a região, como o

prazer de morar na localidade, fazer boas compras e opções de lazer.

As habitações no Centro de Vitória revelam alguns tipos de relação com o local. A população mais

envelhecida mostra-se mais comprometida com a região e suas residências revelam isso. Muitas são as

casas próprias, já que há pouca oportunidade de espaço para aluguel. As memórias dessas pessoas estão

representadas pelos vizinhos de longa data e uma noção clara do que foi alterado, degradado ou

melhorado no Centro.

A partir destas observações, estava posto o desejo de realizar o projeto. Entretanto, o desafio era criar um

método e, ao mesmo tempo, como abordar pessoas diversas para serem personagens dessa

empreitada?

Foi a partir de uma visita ao site da produtora paulista “Olhar Periférico”, que produziu para o programa

Rumos Audiovisual do Itaú Cultural o documentário “História de morar e demolições”, que encontrei pela

primeira vez menção ao livro homônimo da professora da FAU-USP, Lucrécia Ferrara. O livro “Olhar

Periférico” é resultado de uma pesquisa em uma região suburbana de São Paulo – São Miguel Paulista

(dividida em três bairros), Jardim Helena, Jardim Martinho e Parque Paulistano, em que parte do resultado

é realizada sobre registros fotográficos de moradores dos três locais.

O livro norteou minha pesquisa, orientando possíveis direções que o trabalho poderia tomar. A

metodologia de “Ativando a memória, formando a cidade” foi auxiliada pela forma detalhada da

metodologia exposta no trabalho de Lucrécia.

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Quatro capítulos dividem este trabalho. No primeiro, exponho a fotografia enquanto objeto de estudo, a

busca por diversos olhares em relação ao Centro e justifico os caminhos que o trabalho seguiu e suas

referências, ligadas a três outros trabalhos. Já no segundo capítulo, exponho o método adotado, onde

seleciono quinze participantes em categorias diferentes para mostrarem seus olhares através de

fotografias e um percurso pelo Centro.

No terceiro, chamado “Ativando a Memória”, descrevo as fotografias dos quinze participantes envolvidos

e realizo uma leitura do material de cada um deles. No quarto e último capítulo, “Formando a cidade”, faço

as considerações finais envolvendo o resultado de todos os participantes.

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1. Olhar, Memória, Fotografia, Percurso1.1 Objeto de estudo

Originada através de motivações de ordem pessoal ou profissional, a fotografia é o objeto de estudo,

apresentando-se como expressão elaborada num processo individual que agrega o cultural, estético e

técnico de cada um dos participantes. Interessa saber o que as fotografias dos participantes têm a dizer

sobre a região estudada, o que cada um deles quer mostrar, falar sobre.

A fotografia tem status de credibilidade, pois registra aspectos selecionados do real, a partir de fragmento

escolhido da aparência das coisas, das pessoas, dos fatos, tal como foram (estética e ideologicamente)

congelados num dado momento de sua existência. Apesar disso, não se pode confundir os registros

imagéticos como espelhos fiéis dos fatos. A fotografia é plena de ambiguidades e cheia de significados às

vezes não explícitos e de omissões calculadas. Os fragmentos, assuntos selecionados do real, expostos

precisam ser contextualizados, pois a fotografia é construída e codificada. Não é ingênua.

A partir de uma construção ao fotografar, que inclui a seleção do assunto, dramatizando ou valorizando os

cenários, omitindo ou introduzindo detalhes, a seleção do equipamento, e por fim a seleção do momento,

no planejado instante, chegamos na fotografia, nosso produto. Deve-se destacar que neste trabalho não

existe nenhum participante que seja um fotógrafo profissional, que fotografe pensando como se

comportar com a luz, cor, contraste e textura. Porém, não se pode ser subestimada também a

possibilidade de haver participantes que saibam manusear devidamente a máquina fotográfica, atingindo

melhores resultados nos seus registros.

Boris Kossoy, arquiteto paulista que se dedicou à fotografia, em seu livro “Realidades e Ficções na Trama

Fotográfica”, separa a realidade da fotografia em realidade exterior (1ª realidade) que é o que está claro,

explícito; e realidade interior (2ª realidade) que é o que você não vê. A realidade da fotografia não

corresponde (necessariamente) a verdade histórica, apenas ao registro expressivo da aparência.

(...) a nossa percepção da cidade não é íntegra, mas sim, bastante parcial,

fragmentária, envolvida noutras referências. Quase todos os sentidos estão

envolvidos e a imagem [mental] é o composto resultante de todos eles. (LYNCH, 1960,

p. 12)

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A construção da realidade faz parte do processo de construção da interpretação, dependendo de quem aprecia, a leitura é plural, não havendo um padrão. Neste trabalho, o que surge através da fotografia é o produto das opiniões a respeito da temática escolhida, neste caso, o Centro. É uma questão de opinião, de fantasia e de convivência.

A percepção de cada participante convidado, obviamente, é distinta. Para o trabalho interessa a diversificação do resultado das fotos, motivado pelas distintas noções de fotografia e nível de interesse.

Cada um de nós em seus itinerários urbanos diários deixa trabalhar a memória e a imaginação: anota as mínimas mudanças, a nova pintura de uma fachada, o novo letreiro de uma loja; curioso com as mudanças em andamento, olhará pelas frestas de um tapume para ver o que estão fazendo do outro lado; imagina e, portanto, de certa forma projeta, que aquele velho casebre será substituído por um edifício decente, que aquela rua demasiado estreita será alargada, que o trânsito será mais disciplinado ou até mesmo proibido naquele determinado ponto da cidade; lembra-se de como era a rua quando, menino, a percorria para ir à escola ou quando, mais tarde, por ela passeava com a namorada; ou o famoso incêndio, o crime de que falaram todos os jornais, etc. (ARGAN, 1992, p. 232)

1.2 Objetivo

Busca-se mostrar a diversidade do olhar através de cada foto dos participantes, envolvendo a comunidade em análises sobre a região que habitam. Transformando este exercício do olhar numa opinião mais crítica sobre a nossa volta.

Deseja-se com isso, o exercício de voltar em lugares que normalmente já se frequenta, mas agora para lembrar e registrar as coisas que diariamente incomodam. Como exemplos: A calçada que faz tropeçar, o bueiro que não tem tampa e a sujeira concentrada em algum ponto. Está nessa liberdade para fotografar o que quiser também a possibilidade do convidado despertar novos olhares, como a reforma de alguma fachada ou praça, um monumento ou o pastel com caldo de cana de costume. É um incentivo ao olhar crítico, colocando a memória em evidência.

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Outro ponto é estabelecer uma metodologia de análise da região do Centro de Vitória através do produto

de fotografias dos moradores e usuários do mesmo com uma descrição detalhada de todo o processo de

trabalho, o instrumental utilizado, os problemas que aconteceram durante o caminho, o tempo previsto, o

que deu certo, o que precisou ser alterado para que esta metodologia possa ser aplicada e adequada a

outras regiões, realidades e possibilidades. Levando em consideração que não é uma análise científica,

ela depende da leitura de quem interpreta. É uma análise poética, livre de resultados precisos, podendo

ser aplicado a outras regiões.

A partir dos resultados obtidos, identifica-se na memória ativada das pessoas, através também de

depoimentos e entrevistas, referências sedimentadas ou latentes do inconsciente que revelam a cidade.

1.3 Justificativa

(...) o estudo da experiência urbana individual é o princípio de qualquer pesquisa

sobre os modos de vida urbana de uma sociedade real. (ARGAN, 1992, p. 233)

A princípio eu já estava decidida a trabalhar com a memória, esse acúmulo de detalhes inexplicáveis,

pequenas coisas guardadas que fazem um sentido muito individual, que pode se tornar coletivo sem nos

darmos conta. Acredito que o levantamento dessa memória, muito além do seu aspecto pitoresco e

nostálgico, é informação sobre o presente.

A simples presença de um determinado azulejo com estampas marcantes e locais que revelam afetividade

das pessoas, como no banheiro ou cozinha da casa da avó ou do bar que o pai frequentava. A cada ano

que a lembrança se distância fica mais difícil encontrar um azulejo com a mesma estampa para sem o

menor esforço acessar a lembrança de um lugar anterior. Porém, as casas sofrem reformas, a indústria

muda o direcionamento suas produções. Essa lembrança é individual, mas não é exclusiva. Dois trabalhos

que me inspiraram também apontam para isso, ativam minha memória por me fazer identificar com cada

história contada pelas famílias paulistanas e com cada cenário dos interiores das casas do conjunto

habitacional documentado por Raul Garcez.

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Todo cidadão possui numerosas relações com algumas partes da sua cidade e a sua

imagem está impregnada de memória e significações. (LYNCH, ANO, p. 11)

“História de morar e demolições”, dirigido por Andre Costa em 2007, é um vídeo-documentário que conta

a história de quatro famílias paulistanas que estão de mudança. Suas antigas casas foram vendidas e

serão demolidas por incorporadoras imobiliárias. Para fixar as histórias guardadas sob esses tetos os

moradores são convidados a registrar os objetos, cômodos e recantos preferidos.

A produção do documentário espalhou anúncios pela cidade a fim de localizar essas famílias e as

convidou a produzir o vídeo-registro, com imagens e depoimentos sobre algumas lembranças vividas na

casa. O resultado foi apresentado em Vitória no começo de 2008. As coincidências conceituais com o livro

“Olhar Periférico”, de Lucrécia Ferrara eram evidenciados com o nome da produtora que assina o filme,

“Olhar Periférico”. Ao conversar com o diretor, que veio ao Cine Metrópolis no lançamento, contei da

minha vontade de fazer um trabalho sobre registros de memória e perguntei sobre o nome “Olhar

Periférico”. Andre, que também é professor do curso de cinema da FAAP (Fundação Armando Álvares

Penteado), revelou que foi aluno de Ferrara quando fez mestrado na FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e

Urbanismo – Universidade de São Paulo) e que a sua produtora levava o mesmo nome não por acaso.

O outro trabalho que encontrei referências foi o livro “FOTOPORTÁTIL” de Raul Garcez, onde estão

reunidas fotos que abordam o cotidiano de um conjunto residencial de classe média em São Paulo no final

da década de 1970. Com um pequeno estímulo, vem à tona as lembranças de um cenário que já foi

alterado com o tempo, entretanto permanece em nosso inconsciente através de pequenos detalhes,

como o estilo dos móveis, as estantes com suas enciclopédias Barsa, as samambaias penduradas e as

flores de plástico. Em seu prefácio, o livro revela que o contato inicial com os moradores aconteceu num

clube de recreação do local. A partir de lá, passou a fotografar uma vez por semana de outubro de 1979 a

abril de 1980.

Garcez apresenta o resultado em fotos internas e externas, que revelam os cômodos, móveis e pessoas, na maioria delas idosas e crianças, e também áreas comuns de lazer do conjunto habitacional. Tudo isso surge como um painel que expressa a distância e a proximidade na tristeza misteriosa e amorosa dessas imagens.

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A realidade desse conjunto habitacional é muito diversificada, assim como resultado

dos processos de transformação pelos quais passam a cidade e a sociedade. Na

minha análise, não pretendi, com minhas fotos, esgotar essa realidade, nem creio que

a fotografia se preste a isso. A partir do material produzido, elas constituem uma

seleção de alguns momentos que considero significativos, ainda que parciais, no

sentido de se entender quem são e como vivem os moradores do local. (GARCEZ,

2005)

Em “Ativando a memória, Formando a cidade” não optei por uma construção individual por acreditar e

tentar evidenciar a importância ao se projetar, do “formar a cidade”, em haver contato direto com outras

pessoas, por achar enriquecedor a troca de experiências vividas, agregando vários olhares para a

construção de uma nova concepção. Tudo é encharcado de memória, entendendo o presente e o

passado. Auxiliado pela documentação fotográfica, realizada pelos participantes, de caráter seletivo e

tendente a flagrar contrastes e semelhanças. Um recurso que tende a ser um filtro de informação.

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2. Metodologia

Começo esse capítulo dedicando espaço ao livro de Lucrécia D'Alessio Ferrara, “Olhar Periférico”, que

como já exposto, norteou a minha metodologia aplicada. Exponho agora o que foi o trabalho realizado pela

equipe de Ferrara e parte do seu desenvolvimento, com descrições do que me foi útil. Em seguida,

apresento o método utilizado em Ativando a memória, formando a cidade.

2.1 Olhar Periférico

A pesquisa de Ferrara é de caráter empírico e tem como corpo de análise três bairros de São Miguel

Paulista e como problema “a capacidade que o morador de grandes cidades tem de desenvolver

informação nova a partir de impactos ambientais próprios àqueles centros e de, a partir deles, criar

sistemas de representação e de linguagem que correspondem a sua escala de valores e seu padrão de

comportamento.” (FERRARA, 1993, p. 11)

Mesmo prevendo que pesquisas dessa natureza não têm produzido efeitos e resultados planejados, e

tendem a se transformar numa somatória de pesquisas com resultados duvidosos, Ferrara preferiu

enfrentar os desafios e seguir com essa análise que privilegia aspectos interpretativos, mais qualitativos

do que quantitativos.

Desde já, se enfrentou a dificuldade de trabalhar com a totalidade de São Miguel Paulista (região extensa,

densamente povoada e com características muito diversas). Um contato direto com a área em questão

permitiu constatar as suas diferenças e procurar compreender a sua dinâmica. Optou-se, portanto, por

trabalhar com uma fração do bairro.

(...) a percepção ambiental não se opera como totalidade, mas como processo que se

desenvolve entre signos aglomerados sem convenções que criam uma membrana de

opacidade, de neutralidade significativa da linguagem urbana. A semiótica do

ambiente urbano, enquanto estudo lógico da l inguagem, tem se

Page 22: Ativando a memória, Formando a cidade

desenvolvido utilizando os conceitos teóricos de Charles Sanders Peirce e procura

pesquisar a relação entre três unidades básicas e independentes: características

físicas, uso e transformação do ambiente urbano, ou seja, três operações básicas,

percepção, leitura e interpretação. (FERRARA, 1993, p. 18)

O elemento que aciona a percepção é o usuário e o uso, é a sua linguagem. E nos faz perceber o que

pensa, deseja e despreza em relação às suas escolhas.

“Em cada espaço serão selecionados quarenta usuários moradores há mais de cinco

anos e há menos de dez anos, com idade variável entre vinte e quarenta anos; estas

variáveis estão sendo consideradas como básicas com interação do usuário com o

ambiente. Estes usuários serão selecionados por sorteio, a partir de cadastros

encontrados em agências de informação (censos, postos de saúde, sociedades de

bairro etc.) Obviamente, estes usuários não figurarão como amostragem da

população local, de, em médias, 620.000 habitantes, mas, apenas, como exemplos

característicos e controlados de um percepção urbana ambiental rigorosamente

contextualizada."(FERRARA, 1993, p. 22)

(...)uma pesquisa didática em que a formação teórica e metodológica decorreu da

própria atividade concreta. Aprender a fazer, fazendo. (FERRARA, 1993, p. 39)

A partir das tentativas, entre acertos e erros, e da descrição detalhada do processo e da metodologia

criada e aplicada por Ferrara, não foi necessário passar por algumas etapas nas quais ela descreveu os

erros ocorridos. Por exemplo, a pesquisa de Ferrara tinha previsão de acontecer em dias úteis, porém

constatou-se que moradores na faixa de 20 a 40 anos só eram encontrados nos fins-de-semana, pois

durante a semana cumpriam sua jornada de trabalho.

Outra tentativa falha foi a de utilizar como ponto de partida os desatualizados cadastros existentes em

posto de saúde. A solução encontrada por sua equipe foi convidar as pessoas abordando-as diretamente

em suas residências.

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Verificou-se uma indisposição das pessoas a participar do projeto, por não verem retorno e avaliarem

perda de tempo. Com isso o número de participantes não passava de 20 voluntários. Dada situação, a

equipe começou a solicitar que os entrevistados indicassem mais pessoas, com isso os indiciados ficaram

mais suscetíveis a participarem.

(...) entrevistas foram em forma de questionários abertos, seguros e claros para

permitir em uma conversa informal, colher as informações básicas. (FERRARA, 1993,

p. 48)

A cada participante foi entregue uma máquina fotográfica de manipulação simples, não apresentando

nenhum relato de problema com o uso do equipamento, para tirarem 48 fotografias externas ou internas.

Posteriormente as fotos foram organizadas em temas básicos; como habitação, trabalho, transporte,

educação e lazer. Ao analisar o volume total chegaram à conclusão de que os temas se repetiam muito e a

quantidade de fotos era desnecessariamente grande, reduzindo para 24 o número de fotografias de cada

participante.

A revelação dos filmes recolhidos foi inicialmente feita em preto e branco no laboratório da própria FAU,

optando-se depois pela revelação colorida em laboratório comercial para evidenciar mais informações.

Em um último momento os participantes eram convidados a participarem de um debate para comentar a

situação fotografada. Vários filmes foram devolvidos intactos.

A partir de um profundo mergulho na experiência de “Olhar Periférico”, com suas tentativas, erros e

acertos, pude chegar a metodologia deste trabalho, exposta no sub-capítulo seguinte.

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2.2 O Método

Com o objetivo de propor uma análise geral e subjetiva sobre uma determinada região urbana este projeto

toma como base investigativa fotos de pessoas relacionadas a esta região. O resultado seria uma leitura

sobre esses diversos olhares e pontos de vista disfarçadas de fotografias. A fotografia aponta com o dedo

o que se quer mostrar, segundo Roland Barthes.(página 14, Câmara Clara)

Como estudo de caso foi escolhida a região do Centro de Vitória, localidade que é vista com um certo

saudosismo pelos habitantes da cidade. Também é a parte mais antiga da cidade e a que contém mais

memória (caso fosse possível uma quantificação), casarios antigos, um porto e vista para o mar. É,

sobretudo, região que guarda a origem de Vitória e o seu desenvolvimento, marcada no traçado de suas

ruas, nas fachadas de seus prédios e na população que ainda lá reside. O Centro é o lugar que escolhi para

morar e que me desperta curiosidade e me motiva a saber como é visto pelos meus vizinhos, amigos e

pessoas em geral.

O Centro é um lugar de forte e resistente comércio de rua, transeuntes em múltiplas direções, muitas

pessoas, pedintes, guardadores de carro, calçadas ocupadas por carros, por camelôs e trabalhadores

informais de todo o tipo. O Centro é uma região que concentra as noites culturais mais importantes da

cidade, distribuídas pelos principais equipamentos públicos ligados a arte como o Teatro Carlos Gomes, o

Teatro Glória, o Museu de Arte do Espírito Santo, a galeria Homero Massena, a galeria Virgínia Tamanini, a

Casa Porto de Artes Plásticas, a FAFI (antiga Faculdade de Filosofia, hoje concentra aulas de dança e

teatro), o novo Estação Porto, entre outros que surgem.

Quanto aos participantes que fotografariam, a princípio, seriam cinco, todos moradores da região central,

de faixas etárias distintas. Entretanto, diante da necessidade da multiplicação desses pontos de vista,

esse número subiu. A questão é buscar a diversidade de olhares que não sejam somente as de moradores,

ir atrás de informações e opiniões de quem vem de longe também, de quem vive o Centro em outros

formatos. Afinal de contas, a identidade multifacetada do Centro não é formada só por seus moradores,

como poderia ser experimentada em outro estudo de caso.

A partir daí foi pensada uma organização dos participantes com uma divisão em três categorias; a de

moradores do Centro, a de visitantes e a de trabalhadores. E cada categoria participa da pesquisa com

um representante de uma fase etária (cinco fases ao todo). São eles: uma criança, um adolescente, um

jovem, um adulto e um idoso, totalizando quinze (3x5) participantes.

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Como moro no Centro, a escolha dos participantes apareceu através de oportunidades que foram

surgindo através de pedidos a meus amigos moradores do Centro e a partir desses amigos e de outros,

busquei indicação para contactar outras pessoas que se encaixassem no perfil do participante sugerido,

seguindo de maneira adaptada, a metodologia aplicada na pesquisa de Lucrécia Ferrara em “Olhar

Periférico”, já citada antes.

Categorias de participantes

Essas categorias marcam a relação das pessoas que participarão do

processo com o local escolhido a ser analisado: o Centro.

São três as categorias:

Morador do Bairro - Pessoas que tem um convívio diário e frequente

com a região estudada.

Trabalhador - Pessoas que trabalham na região diariamente e que

podem morar em outra parte da cidade de Vitória, mas existe uma

relação diária e obrigatória com o Centro, em horários fixos, em dias

úteis.

Visitante - residentes na cidade de Vitória e que visitam e usam a

estrutura do Centro por diversos motivos em horários incomuns

(comércio, lazer, entretenimento, educação).

Em cada categoria, é escolhida uma pessoa de uma das cinco faixas

etárias, para atingir visões diferentes e complementares do mesmo

lugar. As fases etárias divididas em cinco:

Criança: até 12 anos

Adolescente: de 12 a 18 anos

Jovem: de 18 a 30 anos

Adulto: de 30 a 60 anos

Idoso: Acima de 60 anos

Page 26: Ativando a memória, Formando a cidade

2.2.1 Abordagem

1A abordagem se inicia com uma entrevista, em meio a uma conversa informal, com o objetivo de colher as

informações básicas. Nesse momento o participante fica ciente do procedimento. O pedido é que ele tire

fotos do que o Centro lhe proporciona, situações que lhe agradem ou não, mas que de um certo modo, não

lhe são indiferentes em seu cotidiano. Não é feita sugestão do percurso. Pode acontecer da maneira que o

participante escolher, de carro, ônibus ou a pé. A princípio (nos dois primeiros participantes), não

determinei quantidade de fotos, mas pelo fato da segunda participante, Camila Tangerino, ter me

entregado apenas dez fotografias, a partir de então pedi em torno de vinte para poder ter uma visão melhor

do todo.

2Cada participante recebe uma máquina fotográfica analógica de manipulação extremamente simples com

um filme de 24 poses já incluso, pronto para fotografar. Alguns dos participantes optam por usar suas

próprias máquinas digitais domésticas, bastante popularizadas. Esse uso de máquina digital facilita o

processo, já que não há o trabalho de revelação para digitalizar em seguida. Mas a opção de trabalhar com

uma máquina analógica é pelo simples manuseio, para evitar a possibilidade do participante de se

confundir com as múltiplas funções e prejudicar a qualidade da sua fotografia.

3A cada filme devolvido, a revelação colorida é feita em seguida. Lembrando, que os participantes que

usaram máquina digital, entregaram o produto em arquivo digital, em mídia de CD ou por e-mail.A partir da

sétima participante, a revelação foi simplificada da seguinte forma, pedi que a loja responsável pela

revelação me entregasse o material já em arquivo digital, para que a qualidade melhorasse não precisando

passar pelo meu scanner.

4É feito um mapeamento no programa de computador Auto Cad das fotos a partir do percurso feito pelo

participante. A ordem é dada pelo rolo do filme revelado. É utilizado o mapa base do centro cedido pela

SEDEC / PMV (Secretaria de Desenvolvimento da Cidade / Prefeitura Municipal de Vitória).

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Page 27: Ativando a memória, Formando a cidade

5As fotos serão numeradas em ordem cronológica, a partir dos participantes que forem entregando seu

material

1 – Bebete Loss – adulto, categoria morador

2 – Camila Tangerino – jovem, categoria visitante

3 – Érico Perim – jovem, categoria morador

4 – Maria Britto – criança, categoria visitante

5 – Randrique – adolescente, categoria morador

6 – Gisele Bernardes – adolescente, categoria visitante

7 – Conceição / Babá – idoso, categoria trabalhador

8 – Bira – adulto, categoria visitante

9 – Luiz Cláudio – criança, categoria morador

10 – Waldete – idoso, categoria visitante

11 – Monalisa – criança, categoria trabalhador

12 – Raphael Araújo – jovem, categoria trabalhador

13 – Nelson Gonçalves – adulto, categoria trabalhador

14 – Arlinda Schena – idoso, categoria morador

15 – Jeferson - adolescente, categoria trabalhador

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Page 28: Ativando a memória, Formando a cidade

2.2.2 Escolha dos participantes

Como a princípio eram cinco participantes e todos eles moradores, rapidamente foram numeradas

algumas possibilidades de pessoas por mim conhecidas, mas que não se conheciam entre si. A primeira

pessoa foi Bebete Loss, minha madrinha e referência mais antiga do centro para mim. Hoje somos

também vizinhas de porta e de janela. A única separação é uma escadaria. Está claro, para mim, o quanto o

Centro é importante para Bebete e que ela não trocaria facilmente por outro lugar. Surgiu uma certa

curiosidade de ver o que se revelaria em suas fotos. Ela aceitou de prontidão, mas queria tirar fotos com a

câmera do celular, entretanto concordou com a sugestão de usar a câmera analógica automática por

entender a importância de uma maior qualidade de resolução no material final. Demorou mais de um mês

para entregar, talvez dois, mas tirou 21 fotos (aparentemente todas no mesmo dia).

Os outros participantes foram surgindo aos poucos, a maioria conhecidos, outros semi-conhecidos e/ou

casualmente abordados, indicados por amigos e por participantes do trabalho. Algumas possibilidades de

participantes são mais difíceis, como as crianças e os idosos. Um exemplo disso é conseguir uma criança

que tenha uma relação de trabalho com o centro, existe, alguns guardadores de carro por exemplo, ou

aqueles que acompanham os pais para uma jornada de trabalho informal. Ultimamente não se vê mais

crianças pela cidade guardando carros, nem como pedintes. A prefeitura está encaminhando essas

crianças para abrigos, orfanatos ou para suas próprias casas. Idosos que ainda trabalham também é mais

raro, por isso a dificuldade. Por causa dessa dificuldade, os representantes criança e idoso na categoria

trabalhador, foram duas pessoas que moram no Centro e ao mesmo tempo tem uma relação de trabalho

com ele.

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Page 29: Ativando a memória, Formando a cidade

25

2.2.3 Quanto à Análise

Para analisar uma mensagem, em primeiro lugar devemos nos colocar do lado em que

estamos, ou seja, do lado da recepção, o que é claro, não nos livra de recorrer ao

histórico dessa circunstância.(...) interpretar uma mensagem, analisá-la, não consiste

certamente em tentar encontrar ao máximo uma mensagem preexistente, mas em

compreender o que essa mensagem, nessas circunstâncias, provoca de

significações aqui e agora, ao mesmo tempo que se tenta separar o que e pessoal do

que é coletivo. De fato, são necessários, é claro, limites e pontos de referências para

uma análise. A mensagem está aí: devemos contemplá-la, examiná-la, compreender

o que suscita em nós, compará-la com outras interpretações. (JOLY, 1986)

A análise pode ser feita por qualquer pessoa, e a cada pessoa, um resultado diferente, uma leitura única. E

a partir de uma falta de técnica ou imprecisão para analisar uma imagem, provavelmente por conta da

polissemia, que são os vários sentidos que ela pode alcançar, surge a necessidade de uma descrição

sobre o registro do participante fotógrafo para complementar a análise. Uma espécie de legenda, não tão

precisa, completa, mas no momento que conhece suas próprias fotos impressas, essas informações vão

surgindo espontaneamente. A comunicação existe quando o receptor entende o que o emissor quis

transmitir. A imagem só diz o que eu consigo ver.

O Boris Kossoy traz outros pontos em questão, que são a primeira e segunda realidade. A primeira

realidade é quando acontece o ato de fotografar, a hora do clique e a segunda realidade quando o receptor

faz a sua interpretação. Não existe precisão. A fotografia termina na recepção. E a realidade da fotografia

não corresponde (necessariamente) a verdade histórica, às vezes, apenas ao registro expressivo da

aparência.

Roland Barthes, semiólogo francês, que foi o precursor na análise da imagem, lança seu último livro em

vida, “Câmara Clara”, se colocando no lugar do espectador e cria uma técnica de analisar imagens sem

técnica. Barthes afirma que a fotografia é inclassificável, pois não há como prever as reais razões desse

instante. Ele diz não poder falar do que ele desconhece, não se unir aos que falam da foto-segundo-o-

fotógrafo. Ele tinha duas experiências e pontos de partida: a do sujeito olhado e a do sujeito que olha.

Separa como Operator (fotógrafo), o Spectator (espectador), o Spectrum (palavra que tem relação com

“espetáculo”, o que vai ser fotografado), o Studium (é o campo muito vasto de desejo diversificado,

codificado, a busca pelas reais intenções do fotógrafo) e finalmente o Punctum (lance de dados,

o detalhe, o que te salta, que atinge o Spectator).

Page 30: Ativando a memória, Formando a cidade

Cabe a mim, assim como ao Barthes, “misturar duas vozes: a da banalidade (dizer o que todo mundo vê e

sabe) e a da singularidade (salvar essa banalidade de todo o ardor de uma emoção que só pertencia a

mim).” (BARTHES, pág. 114, 1984)

E a partir dessa falta de técnica para identificar com precisão o que o sujeito quis mostrar com tal

fotografia, sinto a liberdade de fazer uma interpretação própria, buscando coerência com o todo e com o

que foi transmitido por eles na abordagem.

No próximo capítulo, os participantes aparecem separadamente na ordem de recebimento das

fotografias. É feita uma descrição de todas as fotografias, uma narrativa dos detalhes registrados. Em

seguida, é marcado o percurso do participante feito pela cidade ao fotografar. Esse trajeto percorrido é

feito sobre o mapa da região estudada e a ordem é dada pelo rolo do filme revelado. O próximo passo é a

análise, uma leitura da região sobre as fotografias. Para cada participante seguinte, a repetição do mesmo

procedimento.

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Ativando a memória,

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participante 1: Bebete Loss

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3.1.1 Descrição

Bebete tem cerca de 50 anos, mora no Centro há mais de trinta. Fez seu percurso de carro e em alguns

momentos, fotografou de dentro dele. Ela tirou 21 fotos das 24 poses do rolo de filme que recebeu com a

missão de registrar o Centro da cidade.

Nas quatro primeiras fotografias o olhar está voltado para a sua própria residência, uma casa bem

conservada, de dois andares, pintada na cor amarelo claro nas paredes contrastantes com as portas e

janelas em marrom escuro, casa sem afastamento frontal, sem muro frontal, a porta principal abre para

rua.

Essa face frontal da casa é mostrada na primeira foto (foto 1) com interferências sutis de fios de alta tensão

compondo horizontalmente, sobre a casa um pedaço pequeno do céu azul. A lateral da casa é revelada na

segunda (foto 2) restando um pedaço da frente, seguindo os fios interferindo e mais um pouco de céu azul.

A foto 3 evidencia o pé de goiaba do quintal, acompanhada de parte do muro lateral e fragmento das

fachadas, e a última (foto 4) mira o quintal, mostrando o cachorro atrás do muro, árvores, e a mão da

fotógrafa que enquanto clicava brincava com o seu animal de estimação.

As quatro primeiras fotografias (foto 1, 2, 3 e 4) mostram a própria casa, não é uma surpresa para quem

conhece Bebete. Casa própria, de esquina, que ela habita há quase trinta anos, desde que veio recém

casada do interior do Espírito Santo. Certa vez, disse não trocar o Centro por nada. A própria casa

provavelmente é o ponto mais importante do Centro para ela. Gaston Bachelard define, por exemplo, o

espaço casa como “nosso canto no mundo”, “o nosso primeiro universo”, “o lugar onde se procura

proteção”, “onde se guardam as lembranças mais primitivas”. São os primeiros cliques de Bebete, talvez

os mais importantes.

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Na foto 5 o olhar de Bebete começa a se voltar para a rua. A placa no canto

direito indica o nome “Escadaria São Judas Tadeu”, em frente a sua casa, a

escadaria é larga, com piso pintado de vermelho, e várias luminárias ao longo

do muro amarelo de um edifício vizinho. Ela preferiu fotografar apenas essa

escadaria, deixando de lado uma outra, a que realmente usa que é perigosa,

suja, sem pintura, iluminação ruim e um patamar no meio, escondido, que

vira com freqüência local de uso de drogas, além de servir de banheiro para

os guardadores de carro da rua abaixo (rua Antônio Aguirre).

Nas quatro fotografias a seguir, o alvo é a praça Costa Pereira e seu entorno.

A Foto 6 comporta um dos lados da praça na sua totalidade, mostrando a

arborização marcante, as pessoas circulando e alguns carros estacionados.

O ângulo de tomada é um plongée, termo técnico que confere ao espectador

um certo domínio da paisagem, é um ângulo aberto, que naturaliza a cena,

pois imita a visão natural. As árvores frondosas são marcantes no registro, o

verde ocupa quase 1/3 da imagem e de longe se percebe a vivência na praça,

se imagina como é agradável ficar a sombra das árvores. Na foto seguinte

(foto 7) meio descentralizado percebemos o Teatro Carlos Gomes, ao fundo

no canto direito o prédio da sede regional da Telemar.

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Do outro lado da praça o Teatro Glória (foto 8), e a movimentada avenida Jerônimo Monteiro, mostrando

em primeiro plano o trânsito e os pedestres, sob o aberto céu azul. O Teatro Carlos Gomes e o Teatro

Glória, duas referências espaciais e culturais no Centro, de localização privilegiada. O Teatro Carlos

Gomes solto de qualquer outra construção e o Teatro Glória ocupando duas esquinas, os dois de frente

para a praça, a escala já não tem tanto destaque, com o entorno que cresceu tanto. Mas esses dois pontos

contribuem muito para a beleza e charme da praça por sua arquitetura diferenciada. Beleza que é

procurada por Bebete em todas as outras fotos. Bebete apenas se manifesta com o lado bom.

De volta à praça, na Foto 9, a imagem tem um enquadramento mais objetivo, focando as barraquinhas de

artesanato, os pedestres de passagem que ao mesmo tempo olham as barracas. Nessa fotografia não

aparece o céu, as árvores não deixam, já que tomam o lugar criando uma sombra enorme na praça e

cobrindo também os carros que passam na rua ao lado.

As duas fotografias seguintes (foto 10 e foto 11) mostram a avenida Jerônimo Monteiro clicadas na mesma

direção, em dois pontos muito próximos, em frente ao Teatro Glória e próximo à agência central dos

Correios. Entre as fotos fica marcada a diferença da sombra do sol, que em uma foto desenha os fios e uma

árvore seca no asfalto e na outra encobre mais da metade da avenida. Em “A Imagem da Cidade” do

Lynch, ele destaca as vias (percursos), canais por onde as pessoas se locomovem, como elementos

predominantes na memória. As pessoas observam a cidade à medida que nela se deslocam e os outros

elementos organizam-se e relacionam-se ao longo destas vias. A primeira foto que mostra a avenida em

frente ao Teatro Glória, com um pouco mais de espaço para pedestres por consequência do largo formado

pela praça Costa Pereira e a segunda pouco antes do Correios central, um dos trechos de maior

concentração de pessoas por metro quadrado de calçada, região de muito comércio e pontos de ônibus

intermunicipais.

Em outro ponto do Centro, ainda próximo a sua residência, Bebete fotografa a praça Ubaldo Ramalhete

(foto 12, 13), localizada no final da travessa da rua Sete de Setembro. As duas fotos apontam para a

mesma direção, uma na orientação em retrato e na outra em paisagem, mostrando de dentro do carro uma

pequena praça arborizada e bem equipada com quadra de jogos, uma luminária e uma lixeira laranja ao

centro. Crianças aparecem jogando bola e há um monumento que homenageia os trabalhadores. A praça

é pequena com função de área de lazer para quem mora por perto. Idosos e crianças são o público mais

frequente. Bem equipada com quadra de jogos e mesa de xadrez, iluminação noturna e árvores para os

dias de sol.

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Ainda de dentro do carro, evidenciado pela mancha escura na parte inferior, a foto seguinte (foto 14)

mostra a escadaria e a igreja do Carmo no alto, igreja que ela frequenta semanalmente, com a entrada bem

visível, cortando a parte da antiga escola do Carmo ao lado. O enquadramento é fechado na igreja. Na

outra (foto 15) o Convento São Francisco mirado de longe. O sol mancha a região acima do frontão, duas

placas compõe simetricamente as laterais da foto, além de muitas árvores, o gramado, o muro de

contenção e dois orelhões emparelhados. Duas fotos bem comuns, de cunho religioso e arquitetura

antiga.

A próxima fotografia (foto 16) enquadra o charmoso viaduto Caramuru, em um formato paisagem, tirada

do topo da ladeira que passa por debaixo do viaduto. Rua larga e muitas edificações residenciais da região

do Parque Moscoso ao fundo. Parte marcante na foto é o céu azul aberto, sinal de rua larga. E um fio

elétrico corta o céu, paralelo ao viaduto compondo a fotografia.

O décimo sétimo registro (foto 17) mostra a fachada do Banco Itaú no Parque Moscoso, um prédio antigo,

boa parte da foto é céu e a mancha da lateral, indicando que ela estava dentro do carro.

As próximas três fotos (foto 18, 19 e 20) foram tiradas do meio da rua, também dentro do carro,

direcionadas para algumas ruas da região do Parque Moscoso, a primeira (foto 18) mostrando muitos

prédios e o céu azul contrastando com a mancha preta. A próxima (foto 19) com vista para o parque, de

longe, mostrando a arborização, e o sol deixa o meio da fotografia bem claro evidenciando a parte interna

do carro no reflexo. Na foto 20, a avenida República, ao lado esquerdo o parque, ao fundo vista para o

morro da Fonte Grande com as antenas de TV.

Na última foto (foto 21), Bebete se volta para a Beira-mar. O Penedo, ao centro, parte do porto, guindastes,

um navio atracado, o mar e parte da calçada da orla, em reforma. O azul do céu disputa atenção com o azul

do mar.

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3.1.2 O lado bom

Beleza é a palavra que define as fotos de Bebete. Ela procurou justificar o lado bom de viver no lugar que

escolheu. Beleza expressa na sua própria casa conservada, no conforto e qualidade de vida das praças,

na ambiência provocada pela arquitetura antiga e diferenciada em teatros, templos religiosos e no viaduto

Caramuru, nas ruas arborizadas e largas, na vista para o porto, para o mar. Bebete fez parte do percurso de

carro e fotografou a partir dele, não se preocupando muito com o enquadramento da cena, com a moldura

que a janela do carro formava, ou o reflexo que acontecia a partir do vidro. Foi um percurso objetivo,

direcionado para o trabalho e aconteceu nos limites entre a praça Costa Pereira e o Parque Moscoso.

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Participante 2: Camila Tangerino

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3.2.1 Descrição

Camila entregou 10 fotos por e-mail. Não posso falar que ela só tirou 10, pois teve possibilidade de fazer

uma seleção já que usou máquina digital própria. Camila afirma que tirou as fotos no mesmo dia.

Camila tem 21 anos, é aluna do Curso de Arquitetura e Urbanismo pela UFES (Universidade Federal do

Espírito Santo), é moradora do bairro de classe média-alta Praia do Canto, e entra no trabalho como jovem

na categoria visitante.

A primeira foto de Camila (foto 22) mostra um prédio verde de três pavimentos, na esquina da rua Professor

Baltazar, visualizado em perspectiva. É uma foto tirada de baixo pra cima, mostrando praticamente o

segundo e o terceiro pavimento do edifício. O prédio está bem deteriorado com infiltrações e sujeira e com

algumas intervenções, sinais também de reformas não satisfatórias na fachada original. Existem cobogós,

tijolo de vidro, uma cobertura de PVC, o cano da calha, um duto metálico, fios de instalações, placas de

lojas no térreo. Paralelo ao prédio, a foto mostra a marquise do prédio do outro lado da rua; no segundo

plano, um prédio branco, proto-moderno, de esquina abaulada, com mesmo gabarito do prédio do

primeiro plano, três pavimentos. Num terceiro plano, uma fachada cega de um prédio de mais de dez

pavimentos.

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A segunda foto (foto 23) mostra o interior de uma galeria

na rua Sete de Setembro. Ela usa novamente o recurso de

perspectiva, mostrando do início ao fim o corredor único

da galeria. Harmonia na repetição dos vãos de janelas e

portas com grades ornadas. A próxima foto (foto 24) é um

detalhe da mesma galeria da foto anterior. Está focada em

perspectiva, mostra de baixo para cima o segundo e

terceiro pavimento. Nessa foto se percebe as vigas

emparelhadas a uma mesma distância e salientam-se a

cada sequência de porta, janela e janela. Ainda dá para

ver elementos de interferência como caixa de ar

condicionado e cabos de internet passando do terceiro

pavimento para baixo e a cobertura de telhas em fibra

cimento alternada com coberturas translúcidas.

A quarta foto (foto 25) mostra um edifício garagem na rua

Sete de Setembro. Foto de baixo pra cima, ainda em

perspectiva. Edifício alto, com a esquina amarela

abaulada e o restante no concreto aparente. A foto mostra

a repetição de pavimentos tipo e um poste em primeiro

plano, no centro da foto, mas não chama tanta atenção

quanto o edifício que está logo atrás. A próxima (foto 26) é

um detalhe do interior, em duas partes. Mostra o elevador

de carros na esquerda da foto, e no lado direito, uma

planta e uma foto colada na parede de uma possível visita

de um carro antigo ao edifício garagem.

A próxima (foto 27) é a entrada do edifício Gaivota,

também na rua Sete de Setembro, com um gradil antigo,

moldado especialmente para o local, com o nome do

edifício. Mostra também o revestimento da entrada em

mármore, manchado com tons de marrom e branco.

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A sétima foto (foto 28) mostra a torre da primeira igreja presbiteriana de Vitória, localizada na rua Sete de

Setembro e torres de TV no morro da Fonte Grande. A foto também mostra outro poste com muitas fiações

para várias direções. Um plano de fundo é a vegetação densa do morro e o céu encoberto, cinza.

As três últimas fotos (fotos 29, 30, 31) são da praça Ubaldo Ramalhete. A primeira foca uma mesa de jogo

de xadrez com nove senhores em volta numa conversa, quatro sentados, e cinco em pé. A maioria sorri

entre eles e um dos senhores olha para a câmera no momento do clique.

Na próxima foto, a imagem de mais um senhor, sentado em outra mesa de xadrez, sozinho, chupando um

picolé. Ele olha para a câmera com os óculos de grau cobrindo metade dos olhos, o senhor veste uma

jaqueta de couro preta, calça jeans, pochete, boné e tênis. Ao fundo aparecem dois homens sentados

dividindo um banco da praça: um está com o carrinho de picolé, o outro olha para a câmera fotográfica.

Em sua décima e última foto, Camila usa um enquadramento fechado. Ela foca um busto em homenagem

a um médico cardiologista ao lado de um tronco de árvore. Ao fundo existe uma construção verde e

laranja, e mais um tronco de árvore, com muito musgo em sua superfície.

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3.2.2 Rua Sete

“O Centro para mim é aquele canto em que posso encontrar coisas, situações e pessoas dos mais

variados tipos, que normalmente em outras partes da cidade ficam menos concentradas, evidentes ou

simplesmente não existem mais. Ao mesmo tempo gosto do contraste de uma Vitória antiga, tradicional,

adaptada aos novos movimentos e hábitos. Gosto da história, do passado, das ruas e construções, de

pensar que foi ali que toda Vitória começou. Gosto dos guindastes do porto trabalhando.” (depoimento de

Camila por email)

Em suas 10 fotos, Camila reafirma suas opiniões sobre o Centro. Ela fez um percurso pequeno e restrito

pela região, basicamente pelo entorno da rua Sete de Setembro. Região conhecida por uma gama de

comércios populares para o dia e a concentração de bares, que movimentam a vida noturna da região

central.

Camila registrou interferências em construções antigas, interferências claras de se identificar,

principalmente para um estudante de arquitetura. Ao mesmo tempo é uma forma de denúncia pelo

descuido das autoridades e pouco caso ou falta de informação dos proprietários.

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A foto 28 aponta para o céu. São nove torres de TV, além da torre da igreja com as pontas voltadas para

cima. O que marca nessa foto também é a presença de um poste cheio de cabos que lembra a capa do

álbum “Chico ao Vivo”, do Chico Buarque. A capa é de autoria do designer e artista plástico Gringo Cardia.

O emaranhado de cabos não parece ser o foco principal da foto, mas não é a primeira vez que aparece. Na

foto 26 ele é bem central, em frente ao edifício garagem. Não há como fugir, nem sei se esse é o propósito,

mas como as ruas são um tanto estreitas é difícil criar um ponto de vista que exclua os postes ou pelo

menos os fios, presentes em quase todas as fotos.

Das duas cenas da praça Ubaldo Ramalhete, a primeira é uma roda animada de conversa em torno de

uma mesa de jogos. Na mesa, peças azuis sendo mexidas para um novo jogo de dominó. Na segunda, um

senhor tem um picolé na mão, a outra no bolso e os olhos fixos na câmera fotográfica. Ele está sozinho em

uma outra mesa de jogos. São duas cenas que mostram os contrastes, os “altos e baixos” da população

envelhecida que habita o Centro.

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Participante 3: Érico Perim

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3.3.1 Descrição

Érico entregou 83 fotos por e-mail. Ele me mandou todo o material fotografado por uma máquina digital.

Muitas fotos quase repetidas, com pequenas diferenças. Sintoma do uso da máquina digital. Pedi para

que ele fizesse uma seleção dessas fotos e me entregasse cerca de 20 fotos. Prestativo, fez a seleção e me

retornou apenas 19.

Érico tem 22 anos, é aluno do curso de economia pela UFES (Universidade Federal do Espirito Santo) e

morador do Centro há cerca de seis anos. Há uns dois anos, a família comprou um casarão construído em

1924 na rua Coronel Monjardim, bem próximo à Igreja de Nossa Senhora do Carmo. O casarão pertenceu

à famílias tradicionais capixabas, e se encontra em bom estado de conservação. Érico entra no trabalho

como jovem, na categoria morador.

A primeira foto (foto 32) mostra um gradil com uma placa redonda, na cor azul, onde se lê “Associação dos

Funcionários Públicos do Espírito Santo. Fundada em 1934”. No centro da placa há a imagem de uma

edificação, provavelmente a sede da associação descrita. Atrás desse gradil, uma árvore de médio porte

de folhas pequenas; do lado direito, o detalhe de um casario antigo, que não aparenta boa conservação;

do lado esquerdo, um muro e um telhado da construção vizinha. O céu, na fotografia, é branco, e nela

aparecem alguns edifícios ao fundo.

A segunda (foto 33) é um edifício de quatro pavimentos representante do estilo proto-moderno. Pintado

na cor amarela, apresenta alguns detalhes e janelas pintados de branco. O primeiro pavimento, a fachada

tem um revestimento de azulejo azul, diferente do restante do edifício. Aparentemente bem conservado,

mas apresenta algumas marquises e peitoris sujos. Na foto, há ainda, uma mulher sentada na porta de

entrada do edifício; um poste, em frente, com a luz acesa, e alguns fios ligando o poste aos

apartamentos. No poste, existe uma placa cuja informação que proíbe

estacionar até o fim da quadra.

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A próxima foto (foto 34) mostra o detalhe de um gradil e uma vista ao fundo. Vista que mostra edifícios e um

morro e detalhes que indicam uma edificação antiga. O gradil está em close num detalhe circular.

A quarta foto (foto 35) é outro detalhe de uma casa azul, desbotada, suja na marquise e platibanda. Por trás

da casa, um prédio todo revestido em mármore branco com muitos aparelhos de ar condicionado nas

janelas. Existe uma diferença grande entre a época de construção dessas duas edificações. Cabos de alta

tensão passam em frente às fachadas. Érico mostra contrastes da proximidade espacial do novo com o

velho e a distância que elas mantêm de estilo arquitetônico.

A quinta foto (foto 36) foca uma casa branca, de esquina, situada no início do viaduto Caramuru. Existe um

gradil branco que cerca a residência, há grades nas janelas e porta. A casa tem uma textura em relevo nas

paredes, marquises cobertas com telhado colonial, mas a cobertura principal é escondida por uma

platibanda. Nessa foto também aparece uma placa grande, onde se lê: “Aqui se constrói a luta”, que é uma

propaganda do Sindicato dos Comerciários. Na foto também aparece parte do guarda corpo do viaduto

Caramuru por trás da casa branca. Além disso, muitos edifícios do bairro Parque Moscoso fazem um plano

de fundo na fotografia.

A sexta (foto 37) foi feita a partir do viaduto Caramuru, e é uma imagem da Cidade Alta. De baixo para cima,

o enquadramento começa no asfalto, em seguida foca parte da calçada, o guarda corpo do viaduto,

acima, uma vista que é composta por um cruzamento entre vias. Alguns carros aparecem na foto, e duas

pessoas debaixo de uma árvore. Bem ao centro da fotografia há uma edificação com a fachada em

vermelho. Do lado esquerdo, edificações mais baixas, do lado direito há edifícios, e ao fundo edificações

de vários gabaritos.

A foto seguinte (foto 38) apresenta mais uma da casa branca da foto 36, focando a fachada oposta, que é

de fundo sem textura nas paredes, sem grades nas janelas. Na parede da casa bate sol, e existe um prédio

ao fundo, na sombra. Um céu com um degradê azul aparece ocupando quase metade da fotografia.

A oitava fotografia (foto 39) mostra a descida da rua Dom Fernando no bairro Cidade Alta. É uma

construção justaposta à outra, quase no mesmo tom, a cor das fachadas. Alguns carros estacionados e

pedestres descem e sobem a ladeira. A foto é em sua totalidade preenchida por edificações.

A nona (foto 40) é um flamboyant florido em frente ao convento São Francisco na Cidade Alta. Outras

árvores também aparecem na fotografia ocultando a vista do convento.

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A décima (foto 41), mostra a descida da rua Gama Rosa, com muitos carros estacionados nos dois lados

da calçada. A fotografia tem um contraste de luz e sombra formada pelos edifícios altos em torno. Um

cabo de energia corta a foto como se fosse um varal. Duas fotos (fotos 39 e 41) são de ruas que são super

importantes para quem circula dentro do Centro: a Rua Gama Rosa e a Rua Dom Fernando. Super

utilizadas internamente.

A décima primeira foto de Érico (foto 42) enquadra a praça Irmã Josefa Hosannah, no largo do Carmo, com

a Igreja do Carmo aparecendo ao fundo. Outra vez há um contraste de luz e sombra dividindo a foto em

claro e escuro. Há uma pessoa com muleta presente na praça. A próxima foto (foto 43) mostra um detalhe

do guarda corpo da escadaria da Igreja do Carmo. Érico cria um clima bucólico nas fotos 40 e 42, com

imagens de templos religiosos (Igreja do Carmo e convento São Francisco) e um verde que os permeia. Um

clima “puro” em fotos montadas em ângulos bonitos e com uma luz apropriada.

Na sequência (foto 44), o foco é a fachada de esquina do edifício Presidente

no começo da rua Gama Rosa, onde se avista parte do céu e os cinco

últimos pavimentos. Do lado direito, um poste faz interferência na

fotografia.

Na foto seguinte (foto 45), o foco está na fração da rua Sete de Setembro

para pedestres com a estátua do índio Araribóia, bem ao centro. Nesta

também aparecem pessoas andando pela rua e algumas placas de pontos

comerciais. O índio está ali por causa de uma intervenção urbana

participante da Bienal Salão do Mar que replicou a estátua do índio

Araribóia e andou com ela pelo Centro de Vitória. Acredito que pelo fato de

Érico ter um bom domínio sobre a região, ele tem a ousadia e segurança de

tirar uma foto de uma ocasião que é passageira, como essa intervenção, e

me entregar como parte de coisas relevantes no Centro para ele.

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42 43 4544

Page 57: Ativando a memória, Formando a cidade

A foto 46 mostra uma fração da fachada do edifício Álvares Cabral, antiga sede administrativa do Clube de

Regatas Álvares Cabral, localizada na praça Costa Pereira. Nela é possível identificar parte do brasão do

tradicional clube capixaba. Alguns toldos e ar condicionado aparecem nas janelas do edifício. O sol de fim

de tarde deixa o céu e a cena com tom alaranjado.

A décima sexta (foto 47) é um detalhe da cornija do Teatro Carlos Gomes, edificação também localizada na

praça Costa Pereira. Detalhes dos ornamentos estão bem aproximados como a imagem do músico Carlos

Gomes à esquerda e anjos em volta, na parte superior, musas com instrumentos musicais. Ao fundo, um

fragmento do prédio da antiga Telest, hoje sede da empresa Oi no Espírito Santo.

A próxima (foto 48) mostra o lado esquerdo do Teatro Carlos Gomes, a travessa lateral e o desativado

Edifício Presidente Vargas, no fundo se reconhece as construções deterioradas da Rua do Rosário. Do

Teatro Carlos Gomes, há a placa indicativa de teatro e parte dos frisos na alvenaria do teatro e além de duas

luminárias antigas iguais às existentes na praça Costa Pereira.

A próxima fotografia (foto 49) aparece a cúpula do Teatro Glória, ainda na região da praça Costa Pereira. A

foto é escura e existe contraste com o céu azul. Edificações em torno aparecem e sufocam o prédio antigo

com fachadas tão sujas.

A última foto (foto 50) mostra um poste com muitos cabos elétricos. Cabos irradiando em várias direções

formando um emaranhado de fios afirmando a presença frequente destes fios na paisagem. No plano de

fundo, o Edifício Aldebaran localizado na avenida Princesa Isabel.

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46

Page 58: Ativando a memória, Formando a cidade

47

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Page 59: Ativando a memória, Formando a cidade

3.3.2 Cidade Inventada de Érico

“Onde mais compraria uma casa espaçosa pelo preço de um apartamento em Jardim da Penha? Fora que

detesto bairros de classe média / média alta por não gostar do clima: acho fútil e consumista. Eu prefiro ser

vizinho dos museus, dos teatros, de edifícios históricos, mesmo que junto venham inconveniências. Os

bairros mais novos, com prédios recém-construídos, não me parecem vivos, sei lá, parece tudo

descartável.” (depoimento de Érico por email)

Érico conhece o Centro, ele revela isso em suas fotos incisivas, diretas e rica em detalhes, como mostra

nas fotos 46, 47 e 48. Por ter um bom domínio sobre a máquina fotográfica, ele esconde o que não quer

mostrar, deixa tudo com um ar mais bonito, mais poético. Praticamente uma cidade inventada de Marco

Polo, em “Cidades Invisíveis” de Ítalo Calvino.

Érico se concentra na memória da cidade antiga desde a sua primeira foto, quando registra um gradil com

uma placa de um sindicato que não existe mais, mas o casarão está lá. Os anos passam, as funções dos

locais mudam, ou deixam de existir, e os prédios estão lá, nem tão firmes, nem tão conservados.

As duas próximas (33 e 34) são da mesma ruela sem saída, rua Adão Benezath que poucos conhecem, e é

quase invisível a partir das construções mais recentes. É certamente uma foto que mostra o domínio do

Spectador sobre o Centro e seus cantos.

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Participante 4: Maria Britto

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Page 63: Ativando a memória, Formando a cidade

3.4.1 Descrição

Maria é a primeira criança a fotografar, tem 9 anos, é moradora desde que nasceu do bairro Maruípe. Ela

tirou 14 fotos com uma máquina digital. Já estudou numa escola no bairro Parque Moscoso, no Centro e

visita uma tia de vez em quando nos finais de semana na região central.

A primeira foto (foto 51) enquadra um monumento de mármore branco na praça Getúlio Vargas, onde se lê

“A Lei de Deus”, são os dez mandamentos da Bíblia escritos numa placa de ferro e fixados no monumento.

Está localizado em um canteiro com flores, no centro da praça. Na foto dá para perceber o quanto a praça é

arborizada.

A segunda foto (foto 52), ainda na mesma praça, revela a imagem da escultura do próprio Getúlio Vargas,

além de um prédio alto ao fundo e muitas árvores sombreando a praça.

Na foto 53, a máquina fotográfica se volta para umas das vistas mais bonitas e conhecidas do Centro de

Vitória, o Penedo. O porto localizado logo ao lado complementando a vista com um navio carregado por

container e guindastes azuis marcando a paisagem natural.

A foto 54 mostra uma fração do porto com outro

navio atracado, e o novo modelo do guarda-

corpoinstalado pela prefeitura na Beira-mar e a

calçada assim como na foto anterior. A próxima (foto 55) mostra a imagem do papa Pio XII na praça Pio XII. Uma escultura recém restaurada. O entorno com prédios altos e os fundos do Teatro Glória também são apresentados.

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Page 64: Ativando a memória, Formando a cidade

Na sexta foto (foto 56) está a lateral do Teatro Glória mostrando alguns

detalhes das transformações do edifício ao longo dos anos. Esquadrias

originais deterioradas, algumas novas de alumínio adaptadas com gradis.

Um recorte na fachada para instalação de ar condicionado. As paredes

mostram-se bem sujas. A próxima foto (foto 57) mostra um busto na praça Costa Pereira do antigo governador Jerônimo Monteiro sob uma imensa árvore. A próxima (foto 58) mostra o Teatro Carlos Gomes, com toda a sua imponência na praça Costa Pereira e quase sempre presente nas fotografias dos participantes. Uma luminária antiga ocupa o centro da fotografia e uma placa de não estacionar atrapalham a visão do teatro. Na foto seguinte (foto 59), outra escultura na praça Costa Pereira e um verde bem vivo da vegetação rasteira do canteiro. Trata-se da primeira escultura contemporânea da cidade, feita pelo artista Maurício Salgueiro . Além da escultura, na foto várias árvores da praça, o banco que contorna os canteiros e uma fila de táxi no fundo. O viaduto Caramuru é o próximo foco na foto 60, visto por debaixo mostrando os pilares com cartazes fixados e as pinturas nas cores branco e amarelo presentes no viaduto um pouco sujas.

As próximas e últimas quatro fotografias são dentro do Parque Moscoso. A foto 61 mostra o parque, muito verde, muitas árvores, espelho d'água com garças e patos, pipoqueiro, e pessoas usando o parque para lazer. A foto 62 mostra uma escultura de um sapo no espelho d'água, logo ao lado uma garça em posição de captura do seu alimento. A água tem um tom verde escuro. A foto 63 é um chafariz revestido com mini pastilhas nas cores azul claro e branco. A foto 64 é a Concha Acústica do parque, em vista frontal. A foto também mostra os bancos públicos que também são revestidos de pastilhas azuis como o chafariz.

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Page 65: Ativando a memória, Formando a cidade

3.4.2 Um Centro de coisas velhas

Maria fotografou e me entregou o material dizendo que tinha tirado foto de

um monte de coisa velha e que durante seu percurso, quis refazer o

caminho que o transporte escolar fazia quando ela estudava no Colégio

Agostiniano, localizado no bairro Parque Moscoso.

As fotos (52, 55, 57) registram muitas esculturas de homenagens como a

do Getúlio Vargas, a do papa Pio XII, e do busto de Jerônimo Monteiro, o

que parece mostrar um Centro de coisas velhas para Maria.

Maria fez um percurso grande, o maior dos participantes até agora, da

praça Getúlio Vargas até o Parque Moscoso. Ela registra vistas do porto e

do Penedo nas fotos 53 e 54. E acredito que sem ter tanta noção do

significado dos prédios das fotos 56 e 58, ela registra o Teatro Glória e o

Teatro Carlos Gomes pela imponência das suas arquiteturas e pela idade

que representa na cabeça dela (uma criança de 9 anos), não se

esquecendo do viaduto Caramuru na foto 60.

Ela foca no detalhe, não fotografa a praça Getúlio Vargas, a praça Costa

Pereira ou o Parque Moscoso em ângulos abertos. Maria vai direto ao

ponto que quer mostrar como as esculturas (fotos 51, 52, 55, 57, 59), ou os

lagos artificiais no Parque Moscoso (fotos 61 e 62). Maria é a primeira a

entrar no Parque Moscoso para fotografar, mas não fotografa nem

brinquedos, nem crianças, se desvinculando do que poderia ser óbvio

para alguém da sua idade.

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Participante 5: Randrique

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3.5.1 Descrição

Randrique é o primeiro adolescente a participar. Ele tem 15 anos e mora no

Centro com a mãe em uma casa que tem acesso para uma escadaria. Leva

uma vida bem simples, mas tem o sonho de ir morar com a madrinha na

França, segundo relatos de sua mãe. Ele tirou 19 fotos com uma máquina

digital cedida por mim. Além de morar, Randrique estuda no Centro e tem

uma rotina casa-escola-casa.

As fotos de Randrique foram todas noturnas e ocorreram num percurso

curto, como mostra o mapa do participante. As três primeiras fotos (65, 66

e 67) focaram duas casas na rua Erothides Rosendo, uma das ruas que

dão acesso à Catedral Metropolitana de Vitória. As casas têm uma

arquitetura antiga. Nas fotos não dá para ver ao certo o estado de

conservação. Na foto 66, a fachada parece ser de fundos, por não haver

porta de acesso. As três fotografias têm um tom amarelado, da iluminação

que o poste faz sobre elas.

As próximas fotos (68 e 69) mostram detalhes do vitral da catedral, vistas

do lado externo. A primeira tem um gradil que protege e faz interferência

na fachada. O vitral tem a cena do Cristo sentado à mesa, com cores bem

fortes. A segunda está um pouco mais afastada, e não há gradil, e o

colorido é mais tímido.

A sexta (foto 70) é uma árvore rodeada por um gradil e com uma

iluminação vinda de baixo. A árvore fica na praça da catedral.

A sétima (foto 71) é o pequeno lago artificial com sapos que jogam água

pela boca em frente à entrada principal da Catedral. O lago está vazio, e o

chafariz desativado. A foto é bem escura, com algumas luzes de postes e

algumas janelas acesas em prédios ao fundo.

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A oitava (foto 72) mostra uma foto frontal da mãe de Randrique. Ela olha fixamente para a câmera. Ela está

nos arredores da Catedral. Ao fundo, alguns carros e uma luz vindo da direita.

A foto 73 apresenta a fachada principal da catedral. As duas torres estão acesas e a porta está aberta,

saindo uma luz forte de dentro. Ao centro um vitral colorido. A Catedral não cabe nas dimensões da foto,

deixando céu e chão fora do enquadramento.

A próxima (foto 74) mostra um cachorro preto, ainda na praça em frente à Catedral. A foto está desfocada.

A próxima (foto 75) mostra outra edificação antiga. Parece ser uma casa bem conservada.Outra foto

desfocada (foto 76) mostra a vista de uma escadaria Dionísio Rosendo ao lado da catedral. É uma

escadaria com pedra e com adornos comuns em guarda corpo de época.

A foto 77 apresenta um muro com um grafite (...) uma inscrição caligrafada ou um desenho pintado ou

gravado sobre um suporte que não é normalmente previsto para essa finalidade, porém com autorização

do proprietário. (definição dada no site Wikipédia).

As últimas seis fotos (78, 79, 80, 81, 82 e 83) mostram a praça Costa Pereira e seu entorno. A primeira (foto

78) é de frente para uma escultura no centro da praça, a mesma citada na descrição da participante Maria,

mas a escultura não tem uma iluminação apropriada, o que dificulta a percepção. Aos fundos se avista o

Teatro Carlos Gomes.

A próxima (foto 79) é uma foto da praça para a avenida Jerônimo Monteiro. À direita está um trabalhador

informal, vendedor de acarajé. E na avenida, dá para perceber o trânsito lento.

A próxima (foto 80) é uma foto bem iluminada. No centro, um homem vestido de calças jeans e jaqueta

preta sentado sem postura num banco da praça. Atrás, um canteiro, um módulo de três orelhões com uma

pessoa se afastando do telefone. Carros e pessoas movimentam a cena.

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Page 71: Ativando a memória, Formando a cidade

Na foto 81 mostra o Teatro Carlos Gomes, um tanto desfocado. A foto é aproximada, não pega a fachada principal na totalidade. A penúltima (foto 82) é o Edifício Presidente Vargas, ao lado do teatro, que hoje se encontra desativado e antes funcionava como um posto de saúde vertical que concentrava algumas especialidades médicas e atendia além da cidade de Vitória. E a última (foto 83) é a obra de saneamento básico na rua Barão de Itapemirim, a rua está caótica, sem asfalto, com vários materiais da construção pelo chão.

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Page 73: Ativando a memória, Formando a cidade

3.5.2 O Centro à noite

Como as fotos de Randrique foram todas noturnas, algumas delas saíram desfocadas pelo mau manuseio

do equipamento fotográfico.

Das 19 fotografias, muitas opções do mesmo lugar em ângulos diferentes. São sete fotografias do entorno

da Catedral, mais seis em torno da praça Costa Pereira.

Randrique foi o primeiro a mandar fotos noturnas, uma quebra de paradigma, da opinião padrão que o

Centro é mais perigoso a noite. A mãe dele aparece em uma foto, me contando que ele não estava sozinho,

mas há uma ressalva que ele tem apenas 15 anos. Randrique mostra o Centro noturno movimentado nas

fotos em torno da Costa Pereira (78, 79, 80, 81, 82, 83). Pelo trânsito lento percebido na foto 79, parece ser

começo de noite.

As fotos em torno da Catedral (68, 69, 70, 71, 72, 73, 74), os vitrais franceses, não dizem muita coisa além

de mostrar que um dos pontos turísticos está bem conservado, e é estranho que pela ordem das fotos, a

fachada da Catedral só aparece na sexta fotografia. Ele fotografou tudo, como diversos detalhes, a praça e

até da mãe dele, antes da catedral em si.

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Page 74: Ativando a memória, Formando a cidade

Uma foto curiosa é a 77, que é um grafite entre tantas fotos que seguem uma outra linha,

do antigo a ser preservado. Mas grafite simboliza arte nova, arte urbana, outro

paradigma a ser quebrado, por muito tempo considerado contravenção, vandalismo

mesmo, hoje tem espaço seguro na mídia e dos que entendem de arte. Randrique

seleciona uma imagem bem elaborada, mostrando positivamente a ação.

Por último, ele encerra com uma foto caótica (foto 83) das obras da rua Barão de

Itapemirim, que não consigo perceber como uma opinião negativa, já que ele não

demonstra no decorrer do processo fotográfico esse questionamento, acredito que

seja mais uma mostra de que o Centro está sendo observado e bem cuidado. Afinal de

contas as obras são de saneamento básico à vista.

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Participante 6: Gisele Bernardes

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Page 77: Ativando a memória, Formando a cidade

3.6.1 Descrição Gisele é adolescente, tem 15 anos. É moradora do bairro Goiabeiras há dois anos e participa do trabalho se enquadrando na categoria visitante. Ela tirou 13 fotos com uma máquina digital. Vem ao Centro em ocasiões muito restritas, visitar uma amiga aos finais de semana e ocasionalmente em passeatas e protestos seguindo a mãe que é ligada à movimentos sociais.

A primeira foto de Gisele (foto 84), mostra a fachada principal do Teatro Carlos Gomes na sua totalidade. A foto tem a luz do sol estourando um pouco no lado superior direito da fotografia.

Na próxima (foto 85), a praça Costa Pereira e sua arborização que faz uma sombra agradável nas pessoas que estão debaixo, sentada nos bancos da praça, conversando. O verde é a cor predominante.

A foto 86 mostra a escadaria Erothides Rosendo que é o acesso direto da praça Costa Pereira para a catedral metropolitana de Vitória. A próxima (foto 87) é a Catedral de Vitória, uma das torres (a do lado esquerdo) é ofuscada pela luz do sol que bate.

As fotos 88 e 89 aconteceram no imponente interior da catedral, a primeira foto é do altar e a segunda é de um vitral colorido.

A próxima (foto 90) mostra a fachada principal do palácio Anchieta atrás de um guarda-corpo com ornamentos que compõem a arquitetura da época da edificação. A foto foi tirada do penúltimo patamar da escadaria Bárbara Lindemberg em frente.

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As fotos 91 e 92 são na Jerônimo Monteiro. A primeira enquadra um mendigo, deficiente que está sentado na frente da loja de roupas “Marisa”. Três pessoas passam no momento da cena em frente ao mendigo sem olhar para baixo. Ao fundo alguns manequins na vitrine da loja. A próxima é uma edificação antiga em cima da loja de calçados “Elmo”. O prédio está muito deteriorado. As paredes estão sujas, esquadrias quebradas, existem restos metálicos de uma antiga estrutura de placa no segundo pavimento. E parece que falta um pedaço do lado direito, desequilibrando a simetria existente.

A foto 93 mostra a fachada do Teatro Glória para a avenida Princesa Isabel. O prédio que está passando

por reformas para ser mais um centro cultural do SESC, o primeiro de Vitória.

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A próxima (foto 94) mostra a vista para o Penedo e

parte do porto de Vitória, navios atracados e os

guindastes azuis ilustram a paisagem.

Na penúltima (foto 95), uma vista linda da baía de

Vitória e a Terceira Ponte lá no fundo. O céu tem

muitas nuvens, deixando o céu bifásico entre branco

e azul.

Para terminar, a foto 96 que mostra a fachada-

esquina da FAFI (antiga Faculdade de Filosofia, hoje

escola de teatro e dança) e o cruzamento

movimentado entre a rua do Rosário e a avenida

Jerônimo Monteiro.

Page 79: Ativando a memória, Formando a cidade

3.6.2 A Catedral

Gisele me entregou o material dizendo que não conseguiu registrar tudo o que queria, ela pensou em fazer

registros de coisas boas e ruins, e que não teve oportunidade de mostrar, por exemplo, um ponto de

ônibus lotado por conta do horário que escolheu para fotografar.

Gisele, em poucas fotos, seleciona os pontos mais recorrentes nas fotografias dos participantes até agora.

O Teatro Carlos Gomes na primeira foto (foto84), a praça Costa Pereira na segunda (foto 85), o Teatro Glória

(foto 93) e a vista do Penedo com o porto (foto 94).

Gisele me contou que não é católica e que entrou na catedral pela primeira vez no dia da sessão de

fotografias. Ela tirou três fotos (87, 88, 89) diretamente e uma anterior (foto 86) mostrando as torres da

igreja ainda na praça Costa Pereira, o que se imagina um certo deslumbramento com a monumentalidade

da construção.

E como aspectos negativos, não deixa de registrar um mendigo, cena corriqueira no Centro (foto 91) em

pontos onde existe fluxo de pedestres. Além de uma construção bem deteriorada na avenida Jerônimo

Monteiro (foto 92).

Gisele tem certo cuidado com as fotos e busca simetria nos seus enquadramentos.

Gisele é a terceira da categoria visitante que participa e segue um mesmo padrão de quantidade. Ela

fotografou 13, Camila Tangerino 10 e Maria Britto 14. enquanto que os três representantes até agora da

categoria morador me entregaram: Bebete 21, Érico e Randrique com 19 fotografias cada um.

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Participante 7: Babá / Conceição

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3.7.1 Descrição

Conceição é uma senhora que trabalha e mora no Centro. Ela é babá de uma senhora e já está na mesma

família há anos, depois de ter cuidado de duas gerações. Todos a chamam de Babá. A idade exata de Babá

é uma incógnita, pois obteve registro de nascimento tardio. Mas ela se enquadra no quesito trabalhador

com faixa etária de mais de sessenta anos.

Babá tirou 20 fotos com uma máquina analógica automática de simples manuseio. A revelação dessa vez

foi simplificada da seguinte forma, pedi que a loja responsável pela revelação me entregasse o material já

em arquivo digital, para que a qualidade melhorasse não precisando passar pelo scanner.

Babá começou fotografando a casa que mora e que trabalha (foto 97). Um prédio identificado pelo setor de

Revitalização Urbana da Prefeitura de Vitória. Ele fica na esquina entre a rua Graciano Neves e a ladeira

São Bento. No pavimento térreo funcionam as tradicionais: papelaria Nolasco e a loja Paganotto – Casa do

Artista. A foto enquadra os quatro primeiros pavimentos e parte da Graciano Neves com Morro da Fonte

Grande ao fundo e antenas de TV. O verde predomina ao longo da rua e no morro de mata fechada. O dia

está encoberto, a foto tem textura granulada.

A foto 98 aponta uma edificação em frente ao prédio da foto anterior. Uma edificação abandonada

localizada no início da ladeira São Bento. Ela está bem deteriorada e foi pintada na cor verde escuro com

as esquadrias brancas.

Na próxima (foto 99) aparece o bar do GG, também tradicional entre os bares no Centro. Frequentadores

que cultivam uma roda de samba e o hábito de ir ao bar de segunda a segunda.

A foto 100 mostra a fachada principal da igreja do Rosário. A foto enquadra parte da grande escadaria de

acesso e a igreja logo em seguida, cortando parte da torre que fica no lado direito. A igreja é branca com

esquadrias azuis bem desbotado. Existe muitos sinais de lodo nas escadarias e alguns pontos no frontão

da igreja. E uma sombra no canto direito do dedo da participante, fato que se repete na próxima foto (foto

101).

Na próxima foto, aparece o Teatro Carlos Gomes. Enquadrado mais pelo lado esquerdo e uma placa que

identifica o teatro. Um carro quase no centro da foto, está estacionado no momento do clique.

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Na próxima (foto 102) a praça Costa Pereira, a foto está um pouco inclinada para o lado esquerdo. E o

busto que homenageia Muniz Freire está bem a frente. As fotos 103 e 104 são detalhes da fachada

principal da catedral. A primeira com menor distância do objeto e a segunda com o ângulo um pouco mais

aberto, enquadrando também os sapos do lago artificial em frente.

Na próxima foto, aparece o Teatro Carlos Gomes. Enquadrado mais pelo lado esquerdo e uma placa que

identifica o teatro. Um carro quase no centro da foto, está estacionado no momento do clique.

Na próxima (foto 102) a praça Costa Pereira, a foto está um pouco inclinada para o lado esquerdo. E o

busto que homenageia Muniz Freire está bem a frente. As fotos 103 e 104 são detalhes da fachada

principal da catedral. A primeira com menor distância do objeto e a segunda com o ângulo um pouco mais

aberto, enquadrando também os sapos do lago artificial em frente.

As próximas três (fotos 105, 106 e 107) são no estacionamento do Palácio Anchieta ao lado da praça João

Clímaco na rua Pedro Palácio. A primeira é a fachada lateral do Palácio Anchieta, com muitos carros

presentes na foto, estacionados. Um dedo na parte superior no lado direito da foto. A segunda, mostra três

casarões justapostos, dentre eles, o primeiro (à esquerda) é a sede da Academia Feminina Espírito

Santense de Letras, e o terceiro é a sede da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) capixaba, prédios

identificados como de interesse de preservação pelo Departamento de Revitalização do Centro da

Prefeitura Municipal de Vitória, um deles, o do meio está à venda há algum tempo. A terceira mostra a

praça João Clímaco, muito arborizada. Na foto ainda aparece muitos carros na frente que estão no

estacionamento.

A foto 108 é a partir da escadaria Bárbara Lindemberg para o porto logo a frente. No primeiro plano

aparece o guarda corpo da escadaria e ao fundo, os vários guindastes que formam a paisagem do porto.

As quatro próximas fotografias (fotos 109, 110, 111 e 112) são de dentro do Parque Moscoso. A primeira é

uma foto voltada pra cima, pra cobertura vegetal de árvores de grande porte que sombreiam o parque. Na

foto também aparecem o arco com a luminária que clareiam os caminhos dentro do parque. Na foto 110 a

concha acústica, os bancos de platéia e muitos canteiros em volta. Algumas pessoas movimentam a cena.

Na foto 111 o Parque Moscoso em si, com chafariz no lado esquerdo, canteiro com arbustos de médio

porte e flores vermelhas no lado direito, um pipoqueiro ao fundo, árvores e pessoas no parque. A última do

Parque Moscoso é da escola Ernestina Pessoa por trás das grades que a separam do parque.

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Page 86: Ativando a memória, Formando a cidade

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A próxima (foto 113) mostra a praça Misael Pena que já foi a rodoviária de Vitória. Ao lado, o prédio que

funciona o SESI (Serviço Social da Indústria), localizado no bairro Parque Moscoso que hoje também

abriga o restaurante popular da cidade, no fundo aparece o morro da Fonte Grande com antenas de TV. A

foto 114, ainda no Parque Moscoso, mostra a área de mesas do bar Galeti, que é um bar que está sempre

cheio, e em dias de jogo o bar fica lotado. O bar está localizado no começo da rua Dom Fernando.

A próxima (foto 115) é o viaduto Caramuru, localizado na outra ponta da rua Dom Fernando. No momento

duas crianças atravessam o viaduto de mãos dadas.

A última foto (foto 116) é o convento São Francisco, num ângulo mais claro dos que já foi apresentado com

outros participantes, enfocando diretamente o convento.

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3.7.2 O Centro em conserva

Babá fotografou o Centro que mora e trabalha de maneira muito clara. Evidenciou pontos positivos que

remetem a um Centro acolhedor com praças e parques, um Centro antigo, tradicional, mas que não está

morto.

Babá tem uma relação de trabalho com o Centro, mas percebi que seu lado moradora é muito mais

evidente nas fotografias. Pelo seu percurso longo, pela variedade de coisas mostradas, como a igreja do

Rosário que aparece pela primeira vez nas fotos dos participantes, mas não é por acaso, a igreja foi

engolida pelas novas edificações, o lugar que foi privilegiado um dia, construído no alto, com vista para

baía, hoje, fica por trás de um prédio bem mais alto, o do Ministério Público Federal. E quando Babá me

mostra essa igreja isolada, percebo que ela conhece e vive o centro.

As três primeiras fotos (fotos 97, 98, 99) foram perto da própria casa/trabalho. A quarta, é como se fosse a

primeira do percurso, é a igreja do Rosário, como se essa não pudesse faltar no repertório de Babá. Em

seguida, vem uma série de pontos referência para a cidade, como o Teatro Carlos Gomes, a praça Costa

Pereira, a catedral, o Palácio Anchieta, a vista para o porto, o Parque Moscoso e o convento São

Francisco.

Dentro do Parque Moscoso, foram tiradas quatro fotografias (fotos 109, 110, 111 e 112), todas com a

presença natural da cor verde, e a primeira delas, Babá se volta para as copas de algumas árvores

frondosas que cobrem os caminhos de dentro do parque e clica com a máquina voltada para a cobertura

vegetal. Voltando um pouco o percurso, percebo que Babá na fotografia 107, na praça João Clímaco, ao

lado do Palácio Anchieta, também fotografa uma árvore frondosa, o verde da foto tem uma tonalidade

mais forte, fechada, pela sombra que a copa da árvore faz.

Outras fotografias mostram mais as referências

específicas de moradores, como o bar do GG, a

papelaria Nolasco, a igreja do Rosário, a praça João

Clímaco, a praça Misael Pena, o bar Galeti e o viaduto

Caramuru.

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Participante 8: Bira

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3.8.1 Descrição

Bira tem 31 anos, estuda Desenho Industrial na UFES, mora no bairro de Jardim da Penha e participa do

trabalho como representante adulto na categoria visitante. Ele fez uma seleção de dezenove fotos para me

entregar. Fotografou com uma máquina digital, em dois dias programados para realizar o trabalho.

A primeira foto (foto 117), mostra parte do lado direito da rua Thiers Veloso, em relação à mão dos

automóveis, no bairro Parque Moscoso. Começa mostrando o Galeti Bar, uma edificação antiga de cor

azul ao lado (continuação interna do Galeti, área de sinuca), e outra edificação antiga que aparenta ser uma

residência, logo em seguida. O casarão azul está bem deteriorado, com a parede da fachada suja, o azul

desbotado e a alvenaria descolando do tijolo na parede lateral. Um homem atravessa na faixa de pedestres

no momento do clique.

A foto 118 mostra parte de um portão metálico pintado na cor cinza, com detalhes em relevo. O portão está

bem enferrujado e não há como saber o local que está este portão nem o percurso que o Bira escolheu

fazer.

A foto 119, terceira, mostra outro portão, metálico enferrujado, o local desse eu reconheço, é de uma casa

abandonada na ladeira Dom Fernando. O muro em volta do portão é de pedra. Existe um fechamento

improvisado em madeira em cima do portão, até o fim do vão para bloquear a entrada. Pelo vazado do

gradil do portão dá para ver a escada de acesso ao casarão abandonado.

A próxima foto (foto 120) mostra duas portas, iguais e simétricas. A diferença entre elas é a pintura. Uma

delas é pintada na cor marrom, a outra está com a cor natural da madeira. As portas são de madeira e na

metade superior têm um gradil por fora e um vidro vedando por dentro. Entre as portas tem uma placa

pequena onde se lê, CEAP (Centro de Estudos de Apostilas). A parede é bem suja em torno. E um número

128 no canto esquerdo marca a casa na rua Dom Fernando.

A quinta foto (foto 121) mostra a ladeira Imaculada Conceição que liga a rua Dom Fernando à rua Thiers

Veloso. Rua estreita, de mão única. Um carro está estacionado no lado esquerdo. Existe edificações dos

dois lados da rua. E prédios na rua Thiers Veloso que se avista daqui de cima. Muitos cabos elétricos no

canto superior direito.

101

Page 92: Ativando a memória, Formando a cidade

A próxima (foto 122) mostra o prédio que ficava no

lado direito da foto anterior e à frente, um poste com

cabos elétrico para quatro direções, formando uma

espécie de malha xadrez. O prédio do fundo tem uma

esquina chamfrada, é pintado na cor azul e tem uma

placa onde se lê “Persianas Torrez”.

A foto 123 mostra a entrada do viaduto Caramuru. O

dia está encoberto. Uma pessoa atravessa o viaduto

do lado esquerdo e existem muitos carros

estacionados no lado direito.

117

118

119

120

121

122102

Page 93: Ativando a memória, Formando a cidade

A foto 124 mostra uma vista do convento de São Francisco. Tanto a foto 123, quanto a 124 tem a posição

muito parecida com as fotos 115 e 116 da participante Babá.

A foto 125 mostra o cruzamento de seis ruas, dentre elas: a rua Gama Rosa, rua Coronel Monjardim, rua

Adão Benezath. Além de vários prédios com as esquinas protuberantes, o que chama a atenção são os

fios elétricos que circulam e se cruzam em múltiplas direções.

A próxima fotografia (foto 126) é na praça Irmã Josefa Hosannah, no Largo do Carmo. A foto mostra duas

gangorras, uma de perto e a outra nem tanto. O assento de uma delas tem alguns escritos em corretivo

branco. O piso do chão é de cor tijolo, e está paginado seguindo as circunferências do canteiro.

Ainda na mesma praça, a foto 127 mostra duas mesas de jogos de xadrez com quatro bancos cada uma.

No fundo dá para perceber a rua em obras. A foto 128 mostra a escadaria da Igreja do Carmo, em sua

totalidade.

As quatro próximas fotografias (fotos 129, 130, 131, 132) são na região da rua Sete de Setembro. As 129 e

132 mostram a galeria Shopping 7 que liga a rua Sete de Setembro à rua Graciano Neves, galeria que

abriga a primeira escada rolante do estado, hoje funciona como uma escada convencional. Na foto 129, o

ângulo é mais aberto, enquadrando parte da fachada da galeria, na foto 132 a foto é interna à galeria,

mostra a escada rolante e dois senhores encostados nela, que olham para a câmera no momento do

clique. As 130 e 131 mostram a Rua Sete de Setembro, rua mais conhecida do Centro de Vitória, pela

importância do seu comércio. A 130 mostra a rua em direção à praça Costa Pereira e a 131 a rua em

direção ao Morro da Piedade. As quatro fotografias são super coloridas com placas de vários comércios e

tem grande presença de pessoas transitando.

123

124

125

Page 94: Ativando a memória, Formando a cidade

A foto 133 mostra a escadaria que dá acesso da rua Graciano

Neves à rua Antônio Aguirre. A escadaria é pintada nas cores verde

e amarelo. A próxima fotografia (foto 134) mostra o edifício

garagem “Ribatejo”, localizado na ladeira São Bento, visto da rua

Antônio Aguirre. São sete pavimentos, o prédio é em concreto

aparente, não tem pintura. E tem a superfície bem suja. Vários fios

elétricos que sobem a ladeira São Bento, cruzam a fotografia.

A última fotografia (foto 135) é a escadaria em frente a minha casa,

na rua Pereira Pinto que dá acesso a rua Alziro Viana, que também

apareceu nas fotos de Bebete (foto 5).

126

127

128

104

Page 95: Ativando a memória, Formando a cidade

3.8.2 Design datado

As fotos do Bira tem claramente um olhar de um fotógrafo-designer. Desde os modelos de portões e

portas até os modelos de escadaria que ele nos mostra. Pelas fotos dele, percebo um design datado na

arquitetura, nas esquadrias, no mobiliário urbano e até na falecida escada rolante do Shopping Sete. Outra

característica que chama atenção é a obsessão por acessos, portas, escadarias, cruzamentos de ruas que

somam treze das suas dezenove fotos.

O participante Bira fez um percurso contrário a maioria, ele veio do bairro Parque Moscoso em direção à

rua Sete de Setembro, e não fotografou a praça Costa Pereira, que aparece no produto de todos os outros

participantes, exceto também nas fotos de Camila, a representante jovem da categoria visitante.

129

130

131

132

133 134 135 107

Page 96: Ativando a memória, Formando a cidade
Page 97: Ativando a memória, Formando a cidade

Participante 9: Luiz Cláudio

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Page 99: Ativando a memória, Formando a cidade

3.9.1 Descrição

Luiz Cláudio é um garoto de 12 anos. Além de morar, ele também estuda no Centro.

Ele fotografou com a câmera analógica que emprestei. E teve dificuldades de

manuseio. O pai dele me contou que ele é acostumado com câmera digital. E além

da dificuldade, corre o risco de não ter rodado o filme nas primeiras fotografias.

Pois a primeira fotografia da pequena sequência entregue, veio sobreposta. Foram

sete fotografias no total.

A primeira (foto 136) é a fotografia que saiu sobreposta e as imagens são o viaduto

Caramuru em um ângulo aberto, visto de cima, e a outra é uma fachada chapada de

um edifício que não dá pra identificar qual é.

A segunda (foto 137) é a capela de Santa Luzia, considerada a Igreja mais antiga de

Vitória, foi construída no século XVI. A igreja foi construída em cima de uma pedra.

A foto enquadra a esquina da igrejinha pegando a face principal e a lateral esquerda

com o jardim. Três pessoas observam o garoto fotografar e uma senhora passa

com uma criança no instante do clique. Dois carros estão estacionados à frente. A

fotografia tem um ângulo aberto.

136

111

Page 100: Ativando a memória, Formando a cidade

A terceira fotografia (foto 138) é um casarão verde na

rua Coronel Monjardim. Por coincidência, o casarão

pertence a família do segundo participante Érico

Perim. O casarão construído a cerca de um metro do

nível da rua e os muros ainda originais, baixos,

deixam a edificação imponente em evidência. O céu

está repleto de nuvens, deixando as cores da foto

com um tom meio desbotado.

A próximas três fotografias (foto 139, 140 e 141) são

na praça Ubaldo Ramalhete, ao lado da rua Sete de

Setembro. A primeira é um monumento, que

homenageia os trabalhadores, e que também

aparece nas fotografias da primeira participante

Bebete. Na foto também existem vários carros

estacionados e uma ambulância no canto esquerdo.

A segunda existe vários carros ocupando metade da

fotografia, e por trás a quadra que há na praça.

Muitas árvores de grande porte sombreiam a praça,

tornando a foto um pouco escura, caso que se

repete na foto seguinte. Na terceira fotografia, a

praça está a esquerda, e o foco parece ser o bar do

Ceará á direita. Um dedo no canto direito da lente

prejudica a compreensão total da imagem.

Na próxima e última fotografia (foto 142) é a Rua

Sete no trecho depois da travessa. Ao longo da rua,

um prédio antigo que habita a creche Menino Jesus,

recém pintado na cor azul claro com ornamentos em

creme. Mais a diante a primeira igreja presbiteriana

de Vitória, e ao fundo o morro da Fonte Grande

comas antenas de TV. Na foto, uma sequência de

carros estacionados e fios de energia cruzam a rua

poste a poste.

137

138

139

112

Page 101: Ativando a memória, Formando a cidade

3.9.2 A praça Ubaldo Ramalhete

Luiz Cláudio teve alguns problemas ao longo do trabalho. O mal manuseio que dificultaram a boa

qualidade de suas fotografias, o filme que não rodou conforme previsto ocorrendo a foto sobreposta e com

o dedo no canto direito da lente em várias fotografias, não esquecendo que Luiz Cláudio é uma criança de

doze anos e que poderia ter ocorrido com qualquer outro participante também. Além de ter fotografado em

um dia bastante encoberto e em algumas fotografias sob a sombra de árvores na praça Ubaldo

Ramalhete.

As fotos de Luiz Cláudio tem ângulos abertos e se dividem entre o antigo, como o viaduto Caramuru, a

capela de Santa Luzia, o casarão da rua Coronel Monjardim, a creche Menino Jesus na Rua Sete, e o lazer

da praça Ubaldo Ramalhete, praça mais próxima da sua casa que fica na rua Graciano Neves, bem

equipada, com quadras e árvores frondosas.

A praça Ubaldo Ramalhete, presente em três das suas sete fotografias, é sempre frequentada por crianças

e idosos. Há crianças presentes no parque e na quadra durante todo o dia e parte da noite, enquanto seus

pais ficam nos bares em torno da praça. Na foto 140, a quadra fica num segundo plano, por trás dos carros,

dada a estatura baixa de Luiz Cláudio.

E das fotos que remetem o antigo, somente o viaduto Caramuru aparece em

outros participantes. Luiz Cláudio é o primeiro participante que fotografa a

capela de Santa Luzia que é a igreja mais antiga de Vitória, a creche Menino

Jesus na Rua Sete e o belo casarão da estreita rua Coronel Monjardim.

Contando com as fotografias que Luiz Cláudio me

entregou, pensando que pode ter ocorrido algum

problema com outras fotos, ele foi o que produziu menos

imagens e fez o menor percurso também.

140

141

142 115

Page 102: Ativando a memória, Formando a cidade
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Participante 10: Waldete Nunes

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143

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146

147

148

Page 105: Ativando a memória, Formando a cidade

3.10.1 Descrição

Waldete é uma senhora com pouco mais de sessenta anos que mora no bairro Jucutuquara e diz visitar o

Centro com freqüência por motivações diversas, como ir ao Teatro Carlos Gomes ou usufruir do comércio

diurno. Participa deste trabalho como representante idoso na categoria visitante. Fotografou na câmera

analógica de simples manuseio. Tirou 20 fotografias.

As cinco primeiras fotografias (fotos 143, 144, 145, 146, 147) mostram a praça Costa Pereira e seu entorno.

A primeira fotografia (foto 143) é cheia de elementos e sem objetividade. Mostrando várias coisas: volume

de carros em torno da praça, construções antigas, as torres da catedral. É uma construção de situação

caótica. A foto 144 mostra a praça através de outra linguagem, uma ambiência agradável, a sombra

confortável, algumas pessoas sentadas nos bancos e outras caminhando. A foto 145 mostra o Teatro

Carlos Gomes, meio desfocado, com o alto edifício Castro Alves ao fundo e o morro da Fonte Grande logo

atrás. Na fotografia também aparece um vendedor ambulante de blusa azul olhando em direção à lente da

foto.

A foto 146 mostra o Teatro Glória a partir do segundo pavimento. Na foto também se vê placas indicativas

de ruas no canto esquerdo avisando que a edificação fica na esquina da rua Marcelino Duarte com avenida

Jerônimo Monteiro. Um céu azul ao fundo e cabos elétricos seguem paralelos ao longo da avenida. A

última fotografia da praça, é a 147 e mostra o edifício da Escelsa (empresa de energia), recém reformado,

pintado na cor rosa claro e detalhes na cor branca.

145 119

Page 106: Ativando a memória, Formando a cidade

A sexta (foto 148) mostra a lateral esquerda da Catedral Metropolitana de Vitória, localizado na Cidade Alta, também se vê o guarda-corpo que circunda o templo religioso e o jardim, todos visto pela rua de baixo. A foto 149 também mostra a lateral esquerda da Igreja de São Gonçalo, na Cidade Alta, a igreja colonial de parede branca e esquadrias azuis que hoje fica escondida entre edificações mais recentes e aparece no trabalho pela primeira vez, não por acaso. Waldete me disse que se casou na Igreja de São Gonçalo e queria que a Igreja aparecesse entre as fotografias, mas não conseguiu um afastamento satisfatório para enquadrar a fachada principal, então fotografou os sinos localizados na fachada lateral. Os sinos realmente aparecem em um dos cinco vãos de janela existente. A foto 150 mostra dois casarões ao lado do Palácio Anchieta na rua Pedro Palácio, um deles, o que está no centro da fotografia é a sede da Academia Feminina Espírito Santense de Letras. A frente das fachadas, alguns coqueiros e outras vegetações formam um jardim. A foto 151 mostra a praça João Clímaco vista pela rua Nestor Gomes. Muito verde sombreado por uma árvore de grande porte. Quatro meninas com uniforme escolar estão presentes no instante. A próxima, foto 152, mostra, a partir da escadaria Bárbara Lindemberg, os guindastes do Porto. Maquinários gigantescos que influenciam na paisagem natural do Centro. A foto 153 mostra a escadaria Carlos Messina, localizada no bairro Parque Moscoso. As construções vizinhas são antigas e aparentemente reformadas, uma banca de frutas no canto esquerdo da escadaria. A foto também mostra dois carros modelo “Gol” em versões de diferentes décadas, estacionados enfileirados. A próxima fotografia, foto 154, mostra um casarão no bairro Parque Moscoso de frente para o parque. O casarão foi adaptado para ser uma loja de noivas, tipo de comércio muito presente na região. A casa recebeu uma pintura cor rosa claro e detalhes em branco. O muro baixo, parece ser original com um elemento vazado, por cima uma grade instalada para proteger o casarão.

120 149

Page 107: Ativando a memória, Formando a cidade

A foto 155 mostra a concha acústica localizada dentro do Parque

Moscoso, de frente para uma escultura. A foto também mostra a

ambiência aconchegante do parque, suas árvores frondosas que

sombreiam o local.

A foto 156 é fora do Parque Moscoso, o casarão da Villa Oscarina.

Edificação adaptada para funcionar um laboratório médico. Suas

características originais externas são bem conservadas com

exceção do muro que é alto demais para o costume da época.

A próxima foto (foto 157) mostra uma obra no asfalto no cruzamento

da avenida Cleto Nunes com a rua Vinte e Três de Maio no bairro

Parque Moscoso, algumas pessoas atravessam a rua Vinte e Três

de Maio no canto esquerdo da fotografia na faixa de pedestres. O

trânsito parece estar prejudicado, mas não interrompido. Uma

mulher olha fixamente para a câmera no momento do clique.

A foto 158, mostra o Palácio Anchieta visto da avenida Florentino

Avidos. Waldete tinha estado ao lado (na praça João Clímaco, foto

151), mas não fotografou o Palácio por não haver espaçamento

para enquadrá-lo, fato que relatou a mim quando me entregou o

filme. Agora em seu percurso, ela começa a voltar em direção à

praça Costa Pereira.

150

151

152

153 121

Page 108: Ativando a memória, Formando a cidade

A próxima fotografia, 159, mostra a praça Oito e seu relógio. Na foto também se avista alguns armazéns do

Porto. É incrível como é a primeira vez, em tantas fotos, que aparece a praça Oito e os armazéns do Porto.

A praça é um respiro entre dois altos prédios, um lugar de passagem, não há bancos e existem poucas

árvores. O relógio tão simbólico para a imagem do Centro que toca de hora em hora, mas só se consegue

escutá-lo à noite por causa do barulho constante diurno de veículos passando, pessoas, lojas de roupas

com palhaços na frente te convidando às compras com um microfone estridente, o apito do navio e tantas

outras coisas.

A foto 160 mostra o Teatro Carlos Gomes novamente, mas dessa vez de perto, enquadrando a fachada

principal somente. Parece ser fim de tarde, as luzes do teatro já estão acesas. A foto 161 mostra outra obra,

só que agora, em frente ao Teatro Carlos Gomes.

Para finalizar, a foto 162, mostra uma calçada toda irregular, com

rachaduras no piso. Não existe revestimento. Calçadas perigosas para

pessoas com a idade igual a de Waldete.

154

155

156

157

158122

Page 109: Ativando a memória, Formando a cidade

3.10.2 Os sinos da Igreja São Gonçalo

Apesar de não ter vontade de morar no Centro, Waldete me disse gostar muito da região e que fazer essas

fotografias a agradou muito porque ela percebeu e relembrou coisas que estavam adormecidas na

memória, como lembranças do casamento na Igreja de São Gonçalo, comentado anteriormente.

igreja São Gonçalo que a obrigou fotografar pela lateral, quando identifico o palácio Anchieta em

fotografias no final do percurso, visto pela avenida de baixo, sendo que Waldete já tinha passado do lado

do palácio e não o fotografou a partir da praça João Clímaco, por exemplo.

Fato curioso é que Waldete começou mostrando a praça Costa Pereira, Teatro Carlos Gomes, fez o

percurso pela cidade alta, chegou no Parque Moscoso e voltou pela Jerônimo Monteiro, fotografou o

Palácio Anchieta de baixo e as últimas fotografias foram do Teatro Carlos Gomes novamente. Como se ela

não tivesse gostado da primeira fotografia, de longe. Um percurso longo e cíclico, que começa e termina

no mesmo lugar.

Percebo um cuidado de Waldete em enquadrar exatamente o que quer mostrar, tanto quando me falou da

159

160 161

162 125

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Participante 11: Monalisa

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Page 113: Ativando a memória, Formando a cidade

3.11.1 Descrição

Monalisa tem seis anos, mora no Centro desde que nasceu,

mas entra no trabalho como trabalhador, pois um fato

relevante na sua rotina é acompanhar os pais de segunda a

sábado na profissão informal de camelô, na banquinha que

eles montam na praça Costa Pereira.

Monalisa fez 17 fotografias, eu a acompanhei no percurso a

pedido de sua mãe. Ela usou uma câmera digital que

emprestei.

As primeiras seis fotos (fotos 163, 164, 165, 166, 167, 168)

mostram a praça Costa Pereira e seu entorno. A primeira, foto

163, mostra a praça com um homem que passa pela frente no

instante do clique. Um ipê rosa florido no fundo, e outras

árvores existentes na praça. A foto 164 mostra o edifício

Antenor Guimarães, localizado em frente à praça. Deste

edifício se vê o térreo, o primeiro e parte do segundo

pavimento. Vários carros passam em frente no momento.

Pela foto, percebe-se a baixa estatura de Monalisa. A foto

165 mostra novamente a praça Costa Pereira, algumas

pessoas que caminham no sentido contrário à máquina

fotográfica e alguns carros ocupam a rua à direita do

enquadramento. Fato que chama atenção é a textura

formada pela pedra portuguesa no chão da praça. A foto 166

mostra a praça triangular que fica ao lado da praça Costa

Pereira que tem uma guarita de policial militar. Três orelhões

emparelhados à esquerda. Na foto 167, ainda na praça,

Monalisa volta a câmera para cima e mostra a copa de cinco

árvores. É a foto em que aparece menos chão, tão presente

nas outras fotos de nossa pequena fotógrafa. Ainda na praça,

foto 168, a banca de seus pais vista da praça. A placa onde se

lê “Banca do Ceará” marca a posição do camelô. Um carro

dos Correios de cor amarela marca a paisagem.

163

164

166

165

167

129

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168

169

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Saindo da praça, Monalisa quis ir à creche onde estuda. Chegando lá, entrou portão adentro para

fotografar o parquinho. Vários amigos dela quiseram participar das fotografias e uma série de pequenos

personagens surgiram em sequência. A foto 169 mostra o parquinho, por trás de grades, com algumas

crianças presentes na cena. A próxima, foto 170, mostra um garotinho com o rosto entre as grades do

parque, com um sorriso largo no rosto. No lado esquerdo, uma garotinha também sorri e espera também

por ser fotografada. Na foto 171 duas meninas aparecem abraçadas e sorriem para a câmera, por trás da

grade pintada de azul claro. Para finalizar a sequência de fotos na creche Menino Jesus, localizada na Rua

Sete de Setembro, Monalisa atravessa a rua e fotografa o portão principal de acesso à creche, foto 172,

alguns carros estão estacionados, atrapalhando um pouco a visão do muro.

Seguindo pela rua Sete de Setembro, em direção à sua casa, Monalisa avista e fotografa (foto 173) uma

placa antiga vertical, onde se lê “Galeria Boulevard” com letras em azul e diz não gostar da placa. A

próxima, foto 174, é dentro da galeria “Joana Darc”, localizado na rua Sete de Setembro e na rua Graciano

Neves, onde Monalisa “corta caminho” em direção à sua casa. Nesse momento ela comenta que a sua

mãe sempre faz esse caminho.

A próxima, foto 175, mostra um salão de cabeleireiro, localizado na esquina da rua Graciano Neves com a

ladeira São Bento. Monalisa avisa que quando a franja cresce, a mãe dela a leva para cortar o cabelo ali. O

salão tem o chão em ladrilho hidráulico na cor verde e cadeiras com um design antigo na cor azul.

As três próximas fotografias, foto 176, 177 e 178,

mostram três casas na rua Antônio Aguirre (rua

em que reside a participante). As três casas são

de amigos de Monalisa. A primeira é uma casa de

esquina, com elementos antigos. A casa é

pintada de branco e detalhes em azul escuro. A

segunda não dá para perceber muitos

elementos, além de ter um veículo estacionado

em frente. A terceira é outra casa com elementos

antigos, dá para ver o térreo e parte do segundo

pavimento. A casa tem um revestimento em

pedras no térreo e azulejos na parte em balanço

que avança no segundo andar. As esquadrias de

madeira e vidro parecem ser originais. E a última

foto (foto 179) mostra os portões de acesso para

sua própria casa.

170

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172

173

174

175

176

177 171

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3.11.2 Praça Costa Pereira / Creche / Casa

As fotos de Monalisa mostram muito da sua rotina, praça Costa Pereira/creche/casa. As suas fotos estão

todas ligadas a essa rotina e ao percurso que a envolve.

O inusitado é que eu a acompanhei essa participante no percurso das fotos, entretanto não quis contribuir

durante o processo. Passei orientações prévias a ela dando-lhe total liberdade e responsabilidade pelo o

quê fotografar e o caminho que iríamos fazer. Estaria ali somente a acompanhando. Foi bem simples, ela

olhava pra mim e perguntava: posso tirar foto de qualquer coisa? Nem esperava a resposta e fotografava.

Repetiu várias vezes que gostava de fotografar prédios e pessoas.

Ela é a integrante mais nova com seis anos e a mais baixinha, por isso as fotos mostram muito chão e o

primeiro pavimento, quando o foco são edificações. Na escola, por exemplo, fotografou o portão de

entrada, ao invés do prédio.

135

178

179

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Participante 12: Raphael Araújo

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180

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183

Page 121: Ativando a memória, Formando a cidade

3.12.1 Descrição Raphael é um jovem estudante de Artes Plásticas e estagia na Secretaria Municipal de Cultura de Vitória.

Ele tem 24 anos e se enquadra na categoria jovem trabalhador.

Raphael tirou 14 fotos de maneira bem inusitada com sua própria câmera digital. Usou as vistas das

janelas dos dois prédios em que trabalha, localizados nas ruas Treze de Maio e rua Pedro Palácio.

A primeira foto (foto 180), é de cima para baixo e mostra uma fachada antiga de fundos, quase como uma

ruína, invadida por uma árvore, colada numa construção mais recente.

A segunda (foto 181) é da rua Treze de maio, sentido praça Ubaldo Ramalhete. A foto também é de cima

pra baixo e do alto se observa a miscelânea de gabaritos de várias épocas.

A próxima imagem (foto 182) é de várias fachadas de fundo e os fundos da catedral entre brechas. As

várias torres da igreja apontando para o alto. Essas fachadas, que não são voltadas para rua, são muito

mal cuidadas, com infiltrações, tintas desbotadas, esquadrias abertas sem a menor simetria de acordo

com a necessidade instantânea.

A foto 183 lembra a primeira fotografia de Raphael, mostra outra fachada em ruínas de interior de

quarteirão.

A quinta (foto 184) é uma bela vista, voltada para o Teatro Glória. Nela é enquadrada a fachada para a

avenida Jerônimo Monteiro. Ao lado um edifício garagem e por trás o edifício Fábio Ruschi, que funciona

uma repartição pública estadual. Ainda é possível ver o mar entre prédios, numa pequena fresta.

A sexta (foto 185) é a partir da janela frontal do edifício da Secretaria de Cultura Municipal, seu local de

trabalho, mostrando a rua Treze de Maio, agora em direção a praça Costa Pereira. Possível avistar o hotel

Príncipe, o prédio ‘Presidente Getúlio Vargas’ e o Teatro Carlos Gomes localizados na praça e num plano

subjacente vários outras edificações mais altas localizados trás da rua do Rosário.

139

Page 122: Ativando a memória, Formando a cidade

184

Page 123: Ativando a memória, Formando a cidade

A última fotografia a partir do edifício localizado na rua Treze de Maio (foto 186) mostra a mesma vista da

foto 181 com um enquadramento mais fechado.

A oitava (foto 187) foi tirada no Edifício das Fundações, localizado na rua Pedro Palácios, mostrando uma

porta entre aberta com uma vista exterior do prédio. Vê-se um prédio com vidro verde localizado na praça

Oito. Internamente, um chão sujo com vestígios de construção.

A foto 188 mostra uma báscula embaçada de poeira, uma vista ampla da Baía de Vitória por trás. A vista de

alguns guindastes do porto e prédios que ficam na parte baixa do Centro, como o antigo Hotel Estoril.

A foto 189 mostra internamente um “cenário de guerra”, pedaços de forro, de divisória espalhados pelo

chão, um cenário caótico e ao fundo, uma vista que pega a lateral da igreja de São Gonçalo, prédios

residenciais várias casas que invadem o morro da Fonte Grande. O prédio, onde funcionava os gabinetes

da Assembléia Legislativa, foi rapidamente desocupado quando os deputados estaduais mudaram para

sua nova sede fora do Centro, deixando para trás restos de móveis e divisórias.

185

186 141

Page 124: Ativando a memória, Formando a cidade

As quatro últimas fotografias (fotos 190, 191, 192, 193) mostram

vistas externas a partir de interiores escuros. Altos contrastes.

Enquadramentos com interferências. A 190 mostra fragmentos de

uma lateral de um prédio, árvores, um telhado em fibra cimento

através de tiras e alças descoladas em um vão.

A 191 forma uma composição geométrica com vãos de esquadrias,

sem os vidros e um prédio ao fundo que compõe a cena geométrica

com faixas alaranjadas, janelas retangulares e aparelhos de ar

condicionado.

A 192 é um pequeno retângulo no lado esquerdo superior e se vê um

fragmento de um prédio.

A última, foto 193, mostra a vista a partir de dois retângulos. Um

pequeno no lado superior esquerdo e um maior, à direita. Do

pequeno, se vê céu azul e nuvens, do maior, além da continuação do

céu azul com nuvens, uma fração do edifício residencial localizado

ao lado do Palácio Anchieta, na rua Pedro Palácio.

187

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3.12.2 Pela janela, entre frestas.

Raphael me entregou o material em duas etapas. A primeira remessa foram sete fotografias, todas a partir

do mesmo edifício no qual trabalha. A principio fica clara uma relação extrema do Centro com o seu

trabalho. Aos poucos se revela um olhar interessante sobre esse Centro, um ponto de vista diferente de

todos os outros do trabalho.

O percurso é nulo por entre janelas do edifício. Surge fachadas internas, um lado oculto da paisagem

urbana. Interior de quarteirões a partir das novas configurações de cidade com os novos edifícios mais

altos.

A segunda remessa tinham outras sete fotografias, agora a partir das janelas do Edifício das Fundações,

localizado na rua Pedro Palácio, que hoje abriga a galeria Homero Massena no térreo e abrigou por anos os

gabinetes da Assembléia Legislativa e a sede da TV Educativa-ES.

O edifício está completamente abandonado, as imagens mostram isso, contrastes dos destroços no

interior com a cidade no segundo plano. O Centro parece ser bem mais bonito lá de dentro. Paisagens

ainda mais desconhecidas. Raphael mostra um Centro da janela para fora. O Centro que entra pela janela.

As fotos são bem enquadradas, existe uma proporção,

as cores, os contrastes. Raphael é um fotógrafo

profissional, descobri isso.

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Participante 13: Nelson Gonçalves

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3.13.1 Descrição

Nelson tem cinquenta e poucos anos, mora no bairro Bento Ferreira, é músico integrante da Velha Guarda

do Samba Capixaba. Trabalha no Centro de Vitória dando aula de violão na FAMES (Faculdade de Música

do Espírito Santo), participando, portanto, deste estudo como adulto na categoria trabalhador.

A primeira foto (foto 194) mostra a entrada do Centro Cultural Carmélia Maria de Souza, localizado próximo

a rodoviária de Vitória, extremo de limite da região central. O Teatro Carmélia, como é mais conhecido,

além de abrigar eventos culturais também é sede da TV Educativa.

A foto 195 mostra um templo religioso evangélico em frente ao Centro Cultural Carmélia. “Catedral da

Benção – Cristo a verdade que liberta”. A desordem dos vãos de esquadrias incomoda a harmonia da

fachada.

A terceira (foto 196) mostra outro extremo da região central, a entrada/pátio/estacionamento da FAMES.

Há algumas pessoas presentes na fotografia, dois rapazes andam em direção à saída da faculdade e

algumas pessoas sentadas em bancos do pátio.

A foto 197 é cheia de informações. Mostra a “Agência Municipal do Trabalhador” no começo da avenida

Princesa Isabel, em frente à FAMES. Mostra parte de uma das principais vias do Centro. Carros, edifícios

comerciais, um estacionamento privado. Ao mesmo tempo não existe Spectrum, um foco objetivo, além

de ser uma região de transição, sem tanta identidade.

A próxima (foto 198) mostra o Museu do Negro, localizado no bairro Parque Moscoso. O prédio é de

interesse de preservação pela sua arquitetura e está destruído, precisando de restauro já publicamente

anunciado pela Prefeitura recentemente. A fachada está bastante suja e a alvenaria está descolando e

perdendo os ornamentos originais do edifício. O espaço tem outras atividades, como aulas de dança e de

música.

A foto 199 sofre o mesmo problema da foto 197, a ausência de Spectrum, mostra parte do Porto e da sede

da Capitania dos Portos, o trânsito caótico de começo de noite e uma caçamba que ocupa uma faixa de

automóveis. É noite e as luzes dos carros, de dois postes e de um navio clareiam a cena.

A foto 200 mostra o Porto, também à noite, o navio atracado e dois guindastes. Um ponto de ônibus à

frente com sete pessoas encostadas no gradil que envolve o Porto. 149

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Continuando o percurso, por ora noturno, a próxima (foto 201) mostra o

armazém do Porto destinado a eventos culturais da Prefeitura, o

“Estação Porto”. Pouca iluminação, dois holofotes nas placas que

marcam a entrada principal.

A próxima (foto 202) mostra um grafite num portão de aço em um

estabelecimento comercial na Rua Barão de Monjardim onde se lê “Raça

37º”, referência a uma seção de uma popular torcida organizada do time

carioca de futebol, Flamengo.

A foto 203 mostra pequenos prédios residenciais na rua Barão de

Monjardim, e muitos carros estacionados (característico do lugar). A cor

azul predomina compondo em toldos e fachadas. Outra foto (foto 204) na

rua Barão de Monjardim que mostra muito carros estacionados, o

Sindicato dos Telefônicos e o restaurante “Bom Apetite”.

As duas próximas fotos (fotos 205 e 206) mostram, a partir da praça

Getúlio Vargas, um navio nas cores vermelho e branco chegando ao

Porto. Na primeira, o Penedo atrás e um carro vermelho que se encontra

em primeiro plano. Na segunda ele repensa a cena e enquadra o navio,

com toda ambiência do Porto, guindastes e conteinners.

As duas próximas (fotos 207 e 208) mostram o a estátua do índio

Araribóia, localizado na praça do Índio. A primeira mostra o índio de lado

e na segunda ele aparece de costas. As fotos têm bastante contraste de

luz e sombra da estátua em relação ao céu.

A última foto (foto 209) mostra uma placa que ocupa uma fachada cega

de um edifício na chegada ao Centro. A placa faz propaganda para a

empresa de celular “Vivo”.

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3.13.2 Limites

Nelson ficou muito feliz quando o convidei para participar do projeto.

Disse gostar muito da região e descreveu uma relação muito além do

trabalho. De antemão começa a planejar os lugares que fotografaria e na

lembrança resgata os bons momentos com os amigo do samba no

tradicional bar GG, na rua Graciano Neves – que acabou não aparecendo

em suas fotos.

Curioso observar nas fotos de Nelson sua noção em relação aos limites

do Centro. Ao convidar cada participante restrinjo os cliques ao Centro,

deixando que cada participante formule quais são esses limites. Nenhum

dos participantes teve dúvida ou questionou quais seriam esses limites.

Nelson vai além e busca os extremos, da FAMES ao Centro Cultural

Carmélia (que para muitos não faz parte do bairro).

Ferrara em seu livro “Ver a Cidade” fala entre outras coisas que o hábito

de um lugar e seu uso torna a cidade homogênea, o limite é variável a

partir do uso. Acredito que esse uso justifica a presença do Centro

Cultural Carmélia no roteiro de Nelson.

Nelson não fez um percurso contínuo. Fotografou em parcelas, em várias

situações, inclusive um dia à noite. Com a presença do punctum

“fantasma” nas fotos 197, 199 e 203. Não me salta nada nesses registros

em campo cego. Não que não exista o studium, mas ele é codifificado e

não sei as reais intenções do participante nos temas de algumas fotos.

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Participante 14: Arlinda Schena

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3.14.1 Descrição

Arlinda compõe o trabaho como representante idoso, morador do

Centro. Ela tem cerce de setenta anos e mora na região do Parque

Moscoso/Vila Rubim. Ela entregou onze fotos legíveis, outras cinco

veladas que descartei, todas tiradas na máquina automática analógica

que emprestei.

A primeira foto (210) mostra a própria Arlinda sorrindo para a câmera,

com as mãos em um balcão de loja na rua Thiers Veloso. Por trás

aparecem pilares e os vãos das portas do estabelecimento comercial,

muitos carros estacionados na rua. Alguém a fotografou.

A próxima, foto 211, mostra três vendedores no interior da mesma loja da

foto anterior. A loja parece ser de material elétrico. Os três vendedores

sorriem para o clique.

210 211

212

213 157

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As fotos 212 e 213 foram tiradas dentro do Parque Moscoso. A primeira foto mostra a copa de vários

coqueiros e o céu claro. A segunda mostra a cabeça de uma pessoa idosa, cabelos brancos e óculos, uma

fração da concha acústica e algumas árvores.

As próximas sete fotografias (fotos 214, 215, 216, 217, 218, 219 e 220) foram todas a partir da janela no

apartamento em que reside na região do Parque Moscoso/ Vila Rubim. Todas as fotos aparecem as grades

da janela em primeiro plano. A primeira (foto 214) foi tirada a noite, e mostra, entre as grades da janela,

algumas luzes acesas na escuridão. A segunda (foto 215) mostra os prédios da Santa Casa de Saúde na

região da Vila Rubim, mostra também uma região portuária, um guindaste na cor laranja. As fotos 216 e

219 mostram quase a mesma coisa, a agência da CAIXA do Parque Moscoso e os telhados da Fafabes

(antiga Faculdade de Farmácia). Na foto 216 dá para perceber que existe uma fila grande contornando a

agência da Caixa e as ruas próximas estão em obras.

A foto 217 mostra a rua João dos Santos Neves, um armazém do porto e a baía de Vitória no fundo. A foto

218 mostra uma janela, a cortina branca translúcida, e parte da vista para a baía de Vitória. E a última foto

(foto 220) mostra o morro da região de Santa Clara, também visto a partir de sua janela. Muitas casas e

árvores na região.

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3.14.2 Parque Moscoso

Arlinda é a participante mais idosa deste trabalho. Ela fez um percurso restrito ao Parque Moscoso, bairro

que reside. No total, quatro externas à sua casa e o restante das fotografias acontecem a partir das janelas

de seu apartamento. O percurso de Arlinda não aconteceu exclusivamente para o trabalho. Começou a

tirar as fotos já a partir do momento que lhe entreguei a máquina e lhe passei as breves instruções. Ela se

deslocou na própria rua Thiers Veloso, onde lhe encontrei, até sua casa, fotografando no breve percurso as

suas 4 externas.

É a primeira participante que se inclui como tema em suas fotos. Ao convidar outra pessoa para fotografá-

la ela foge de um dos fundamentos dessa pesquisa que é revelar o próprio olhar sobre o Centro. Pensei,

num primeiro momento, em excluir a foto em que ela aparece, entretanto ponderei o fato da total liberdade

de temas que enfatizei no convite. Arlinda é moradora do Centro e talvez sua intenção ao ser tema da

primeira foto seja enfatizar isso, sua condição de personagem habitante deste lugar.

Acentuo em seu conjunto de fotografias a série de fotos a partir de sua própria janela. Mostrando seu

ponto de vista de alguns lugares como o Porto, parte da Vila Rubim, o hospital da Santa Casa, o morro de

Santa Clara. As fotos tem em comum as grades de alumínio e a corda presa à máquina fotográfica que

insistia em aparecer na frente da lente.

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Participante 15: Jeferson

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221222

223

224

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3.15.1 Descrição

O último participante do trabalho foi o Jeferson que tem dezoito anos e se encaixa como

adolescente/trabalhador. Nesse caso, foi a categoria mais difícil de ser encontrado um participante. Foi

preciso procurar em pontos comerciais aleatórios, já que por indicação não era possível. O encontro

aconteceu na padaria Expressa, na rua Graciano Neves. A princípio, ele não quis aceitar fazer o trabalho

por falta de tempo, divide seu tempo entre o trabalho e a escola. Com a proximidade da época de férias,

aceitou o convite e entregou apenas 8 fotografias.

A foto 221 mostra o interior da padaria Expressa, padaria tradicional da região e local de trabalho de

Jeferson. Na foto, estão expostos produtos e pães nas prateleiras e em primeiro plano um pano

translúcido que protege uma mesa de bolos de possíveis insetos.

A segunda, foto 222, é uma cena aberta, mostra a grande sombra das árvores que cobre parte da praça

Costa Pereira e do cruzamento com a avenida Jerônimo Monteiro. Transeuntes, carros parados no

semáforo, dia claro.

A foto 223 mostra pessoas viradas de costas, paradas em um ponto de ônibus movimentado na avenida

Jerônimo Monteiro. Do outro lado da avenida, o banco Bradesco e a loja DIT. Aparece também o céu bem

limpo, sem nuvens.

A foto 224 mostra a Concha Acústica no Parque Moscoso bem inserida entre canteiros verdes, um tom

avermelhado ocupa a metade da imagem.

A próxima foto ainda é no bairro Parque Moscoso (foto 225), mas agora do lado de fora do parque, mostra

um casarão pintado na cor cinza, em cima de um ponto comercial (loja Perini) no cruzamento da avenida

Cleto Nunes com a rua Vinte e Três de Maio. A edificação já apareceu na foto 157 da participante Waldete,

no caso dela focando principalmente uma obra no cruzamento. No canto direito da fotografia, um dedo do

fotógrafo se faz presente.

167

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A foto 226 mostra um conjunto de casas deterioradas, ruínas de casarões no começo do bairro Vila Rubim,

uma delas com uma placa onde se lê “Vendo”. Além disso, a foto mostra o começo de um morro, as casas

que aparecem, no geral, são de uma comunidade de baixa renda, residências simples e justapostas, sem

afastamento lateral. A foto está muito clara e o dedo do Jeferson insiste em aparecer do lado direito.

As duas próximas fotografias (227 e 228) mostram o Mercado da Vila Rubim. Na primeira foto parte do

mercado antigo, na segunda a edificação mais recente construída pela prefeitura para ocupar o lugar da

antiga que sofreu um incêndio. As fotografias mostram a diferença das instalações. A primeira mostra o

mercado à esquerda, a rua sem saída, umas barracas vendendo verdura no meio da rua. A segunda mostra

a fachada pintada em vermelho e detalhes em azul, as lojas cheias de mercadorias e respeitando uma

lógica de programação visual, placas do mesmo tamanho e nos toldos azuis.

225

226

168

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3.15.2 A Vila Rubim

Mesmo com tão poucas fotos, apenas oito, foi suficiente para perceber o cuidado de Jeferson aplicado ao

percurso – que começa em seu local de trabalho, passa pela Costa Pereira, avenida Jerônimo Monteiro,

entra no Parque Moscoso e caminha em direção a Vila Rubim, onde fotografa três vezes.

É a primeira vez que o Mercado da Vila Rubim aparece no trabalho. Tão tradicional, concorrido e simbólico

o bairro vem a parecer apenas duzentas e vinte poucas fotos depois. Fiquei um pouco surpresa com essa

situação de esquecimento. A Vila Rubim é síntese dos contrastes do Centro e isso fica claro nas fotos de

Jeferson. O que me parece é que o local é tão forte em suas características e uso que se distingue no

imaginário das pessoas do resto de Centro.

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228 169

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formando a cidade.

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Em quais pontos as pessoas falam a mesma língua? Em que momento a

discussão agrega opiniões do mesmo lado? Pequenos detalhes que enriquecem

o conceito e a clara diferença de percepção da mesma cidade nas mais de

duzentas fotografias dos quinze participantes deste projeto.

Considerando a diferença por faixas etárias, as crianças e os adolescentes foram

mais restritos, com pouca variedade de temas. Duas delas (Monalisa e Luiz

Cláudio) fotografaram a creche Menino Jesus na rua Sete de Setembro, local que

provavelmente freqüentam ou freqüentaram, já a terceira criança (Maria) quis

fazer o percurso da antiga escola, passando pela rua Dom Fernando e avistando a

“Ponte Velha” (Viaduto Caramuru).

Os adolescentes foram bem objetivos ao trabalho sugerido mostrando com

ênfase os pontos positivos e negativos existentes no Centro, como a participante

Gisele que fotografou um mendigo e uma fachada deteriorada e na mesma série

revela beleza dos vitrais franceses da Catedral Metropolitana.

Por possuírem maior domínio técnico, os jovens, todos universitários, indicando

em suas fotografias um ar mais poético ao Centro, mostrando desenvoltura com o

tema proposto. Reflexo disso, é a exploração de enquadramentos mais fechados,

revelando detalhes, como fez Érico Perim ao fotografar fragmentos da fachada do

Teatro Carlos Gomes, enquanto os outros participantes ao abordar a mesma

edificação sempre buscavam planos abertos.

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Por existir grande diferença de idade entre os participantes adultos, é neste grupo que se encontra um

resultado mais heterogêneo. Apesar dos 30 anos, Bira ainda cursa uma universidade, aproximando muito

seu olhar do grupo antecedente. Os percursos do grupo foram os mais longos do trabalho e no caso de

Bebete foi feito de carro. Já o participante Nelson fotografou em seu tempo livre durante vários dias, não

configurando um percurso linear real.

Os idosos variaram em temas que dizem respeito ao seu dia-a-dia e a seu passado. A Waldete buscou a

igreja de seu matrimônio, Babá revelou pontos tradicionais de lazer, como praças e bares antigos e Arlinda

revelou seu próprio ambiente residencial.

É mais difícil traçar relações entre os participantes e o resultado fotográfico quando levado em

consideração apenas as categorias distintas propostas– morador, visitante e trabalhador. Cada um tem

uma relação própria com o lugar que mora por opção ou não, tornado o grupo dos moradores bem distinto

entre si. O que se observa na categoria dos trabalhadores é a adequação do expediente de trabalho com o

momento de tirar as fotos para esse projeto, entrada, saída e hora do almoço. Tendo em comum a demora

em entregar o material, com percursos curtos e fragmentados.

Já a categoria dos visitantes delineou percursos mais longos e abertos, reflexo da despretensão com o

lugar e o fato de terem ido ao Centro exclusivamente para tirar as fotos.

Quando imaginei as considerações finais deste projeto pensei que me ligaria aos consensos coletivos, as

interseções dos olhares. Diante do montante de mais de 200 fotos, percebo que o projeto estaria

incompleto se tomado sob tal análise. Por mais que sejam possíveis mapear referências que se repetem,

como o Teatro Carlos Gomes e a praça Costa Pereira, isso interessa mais a projetos de preservação, como

a Revitalização Urbana do Centro, alavancado pela Prefeitura Municipal. Aqui em “Ativando a memória,

formando a cidade” interessa muito mais aspectos subjetivos, os diferentes olhares sobre a mesma

paisagem. Interessa enfatizar como a memória coletiva contribui para a formação de uma identidade da

cidade de Vitória.

Para além do discurso habitual de revitalização do Centro, a promoção de uma nova relação com a região

central deve ser um processo contínuo, flexível e democrático. Construção de uma nova imagem do lugar

a partir de uma revitalização consciente.

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Aposto na importância das informações individuais de cada participante. A riqueza dos detalhes nas fotos

incisivas do Érico, que mostra, quase ensina, como o olhar pode ser poético. A importância da própria

casa da participante Bebete, que aponta para a importância de se estar bem na região que escolheu morar.

As fotos de Randrique que direcionam para o antigo ao mesmo tempo em que mostra no contemporâneo

painel de grafite o espaço da diversidade, do convite a novas intervenções.

Lynch em sua obra “A Imagem da Cidade” identifica os elementos que as pessoas utilizam para estruturar

sua imagem mental da cidade agrupados em cinco grandes tipos: caminhos, limites, bairros, pontos

nodais e marcos. Cada cidadão tem determinadas associações com partes da cidade e a imagem que ele

faz delas está impregnada de memórias e significados.

O conceito “Bairro” para Lynch refere-se a uma área percebida homogeneamente em relação ao resto da

cidade ou, ao menos, como possuindo certa característica em comum que permite diferenciá-la do resto

do tecido urbano – não necessariamente a um bairro registrado na municipalidade. Este trabalho elegeu a

região central da cidade de Vitória como estudo de caso e no cruzamento dos mapas de percursos se

percebe esse lugar no imaginário dos participantes. A grande maioria das fotografias mostram a região da

praça Costa Pereira, Cidade Alta e Parque Moscoso. Poucas fotos ultrapassam esse “miolo”, indo ao

encontro do conceito Lynch, desenhando um núcleo consensual.

Os percursos são muito parecidos, se diferenciando em extensão. Por outro lado o participante Nelson

fotografa “ponta a ponta”, fazendo um percurso enfatizando os limites do “bairro”.

Interessante perceber o otimismo aplicado ao Centro pelos participantes. A existência de visão negativa é

quase nula, as fotos protegem o lugar por filtros pessoais bem diversos. Entretanto, seria equivocado e

superficial considerar que isso represente de fato a opinião dos participantes, muito menos da população

como um todo. Tanto pela despretensão científica deste projeto, tanto pela relação que existe no senso

comum com o ato de tirar fotos. A eternização dos momentos felizes.

Na realidade, neste campo pouco há para ensinar, visto que a percepção de ambiente

urbano tem, por sobre sua mutação natural, a instabilidade do usuário, que altera e

alterna seu repertório, conforme o padrão de sua experiência existencial e o ritmo de

sua relação com a cidade. (FERRARA, 1988, p. 80)

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Referências Bibliográficas

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BARTHES, Roland. A Câmara Clara: nota sobre a fotografia. Tradução: Júlio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

FERRARA, Lucrécia D'Aléssio. Olhar Periférico: Informação, Linguagem, Percepção Ambiental. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1993.

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HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. Tradução: Laís Teles Benoir. São Paulo: Centauro, 2004.

JOLY, Martine. Introdução à Análise da Imagem. Tradução: Marina Apenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1996 (Coleção Ofício de Arte e Forma).

KOSSOY, Boris. Realidades e Ficções na Trama Fotográfica. São Paulo: Ateliê Editorial, 1999.

LYNCH, Kevin. A Imagem da Cidade. Tradução: Maria Cristina Tavares Afonso. São Paulo: Martins Fontes. (Arte e Comunicação).

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