associação fungos e plantas

32
Escola Superior Agrária - Instituto Politécnico de Coimbra Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia Ambiental Licenciatura em Engenharia do Ambiente 1.6 Microrganismos terrestres

Upload: larissa-rolim-borges-paluch

Post on 22-Jun-2015

34 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Associação Fungos e Plantas

Escola Superior Agrária - Instituto Politécnico de

Coimbra

Manuela Abelho 2013/2014

Microbiologia Ambiental Licenciatura em Engenharia do Ambiente

1.6 Microrganismos terrestres

Page 2: Associação Fungos e Plantas

Sumário

1.6.1 Microrganismos do solo

1.6.2 Microrganismos associados a plantas vasculares

1.6.2.1 No exterior: filosfera e rizosfera

1.6.2.2 No interior: simbioses (fixação de azoto, micorrizas,

actinorrizas) e patogénicos

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 2

Page 3: Associação Fungos e Plantas

Características dos ambientes terrestres e

dos seus microrganismos 1

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 3

Dominados por materiais sólidos inertes; substâncias orgânicas, incluindo microrganismos, são geralmente uma pequena parte do solo

Quando presente, a água ocorre predominantemente como uma fina película na superfície das partículas, onde os microrganismos têm um bom contacto com os gases do ar, incluindo oxigénio

No solo o oxigénio está mais acessível aos microrganismos do que na água, visto que a taxa de difusão do oxigénio no ar é 10000× superior à sua difusão na água

Microrganismos que crescem nestes ambientes com grande fluxo de oxigénio desenvolveram complexos mecanismos físicos e fisiológicos para lidarem com o oxigénio potencialmente tóxico; alguns fungos desenvolveram mesmo estruturas impermeáveis ao oxigénio

Page 4: Associação Fungos e Plantas

Características dos ambientes terrestres e

dos seus microrganismos 2

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 4

Os solos podem conter zonas saturadas de água que se tornam anaeróbias; podem ser consideradas como ambientes aquáticos isolados

Existe uma enorme variedade de ambientes terrestres: secos, frios, temperados, tropicais e zonas geotermicamente aquecidas

Insectos e outros artrópodes, nemátodes e outros organismos do solo interagem com os microrganismos influenciando os ciclos de nutrientes e outros processos

Subsolo: comunidade diversa de microrganismos, mantida por fontes de nutrientes como

(1) materiais lixiviados da superfície,

(2) decomposição de restos enterrados de plantas, e

(3) síntese de metano

Page 5: Associação Fungos e Plantas

Características dos ambientes terrestres e

dos seus microrganismos 3

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 5

Os fungos são importantes no funcionamento das plantas:

Ocorrem no seu interior e na sua superfície e podem ter efeitos

negativos ou positivos;

A maioria das raízes das plantas tem fungos

Os microrganismos do solo interagem com as plantas e com a

atmosfera:

Produtos microbianos importantes: óxido nítrico e metano,

ambos gases com efeito de estufa

Produzem clorometano e cianeto, geralmente considerados

poluentes antropogénicos

Page 6: Associação Fungos e Plantas

O solo como ambiente para os

microrganismos: concentração de gases

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 6

Oxigénio difunde-se mais rapidamente no ar do que na água

geralmente não ocorre falta de O2 nos solos, excepto em zonas

saturadas de água

Concentração dos gases presentes no solo depende muito das

suas condições de humidade

a concentração de oxigénio diminui e a concentração de dióxido

de aumenta com a quantidade de humidade presente nos solos

Outro factor importante é a presença de raízes de plantas

tal como os microrganismos também consomem O2 e libertam

CO2, influenciando a disponibilidade de gases no ambiente da

raiz

Page 7: Associação Fungos e Plantas

Concentração de oxigénio e de dióxido de carbono

num solo tropical sob condições húmidas e secas

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 7

% Oxigénio % Dióxido de carbono

Profundidade do solo (cm) Húmido Seco Húmido Seco

10 13.7 20.7 6.5 0.5

25 12.7 19.8 8.5 1.2

45 12.2 18.8 9.7 2.1

90 7.6 17.3 10.0 3.7

120 7.8 16.4 9.6 5.1

Alterações na quantidade de água afectam as concentrações de gases presentes nos

interstícios do solo.

Alterações mais acentuadas nos pequenos poros onde se encontra a maioria das bactérias.

Em maiores profundidades existe menos oxigénio, principalmente nos solos mais húmidos

e menos permeáveis

Page 8: Associação Fungos e Plantas

Importância dos microrganismos

no solo

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 8

1.Fertilidade dos solos

Fixação de azoto atmosférico, sozinhos ou em simbiose com

plantas

Solubilização de fosfatos em formas utilizáveis pelas plantas e

outros organismos

2.Estrutura dos solos

Produção de polissacarídeos que promovem a agregação das

partículas

3.Reciclagem de nutrientes

Decomposição/mineralização de nutrientes

Page 9: Associação Fungos e Plantas

Microrganismos no solo

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 9

Populações microbianas do solo são muito elevadas: 3-10 toneladas/ha

Bactérias

superfícies das partículas expostas a poros de 2-6 mm de diâmetro (menor probabilidade de serem consumidas por protozoários)

necessitam que a água e os nutrientes se localizem nas suas proximidades

Protozoários

na superfície exterior das partículas inorgânicas e orgânicas

predadores (de bactérias), mantendo a estrutura e o funcionamento das comunidades microbianas

Page 10: Associação Fungos e Plantas

Microrganismos no solo

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 10

Fungos filamentosos

ocupam geralmente áreas mais abertas onde dispõem de

elevados níveis de oxigénio;

fazem a ligação entre partículas ou agregados de partículas de

solo

Algas e cianobactérias

ocupam camadas superficiais; colonizadores primários;

algumas cianobactérias fixam azoto atmosférico

Page 11: Associação Fungos e Plantas

Os fungos do solo

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 11

São os mais abundantes em biomassa

Importantes na decomposição da matéria orgânica

Penicillium; Mucor; Rhizopus; Fusarium; Cladosporium; Aspergillus; Trichoderma,…

Não são apenas os cogumelos macroscópicos, mas principalmente o emaranhado de hifas subterrâneas

Exemplo: Armillaria bulbosa – fungo associado às raízes das árvores; um único indivíduo (principalmente a sua parte subterrânea…) pode cobrir 100 ha, pesar 100 toneladas e ter 1500 anos de idade

Page 12: Associação Fungos e Plantas

O maior e

mais antigo

organismo

da terra?

Armillaria bulbosa http://www.nature.com/nature/journal/v356/n6368/abs/356428a0.html

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 12

Várias centenas de metros de hifas/g solo

http://www.fs.fed.us/pnw/news/fungus.htm

http://www.crystalfalls.org/humongou.htm

Page 13: Associação Fungos e Plantas

As bactérias do solo

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 13

Numericamente muito abundantes: 108-109 células/g solo seco

Muitos géneros e muitas espécies:

Bacillus; Clostridium; Arthrobacter; Pseudomonas; Rhizobium;

Azotobacter; Nitrobacter,…

Maioria das bactérias do solo são quimioheterotróficas, muito

importantes na decomposição de matéria orgânica

recalcitrante: celulose, lenhina, quitina, pesticidas…

Nocardia; Streptomyces; Micromonospora,…

Page 14: Associação Fungos e Plantas

O cheiro a terra molhada:

bactérias

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 14

Género Streptomyces (bactéria do grupo do Actinomicetes

ou bactérias filamentosas

Produz um composto odorífero (geosmina) que dá ao solo

o seu odor característico a terra molhada

http://transe

ctpoints.blog

spot.com/20

07/02/test.ht

ml

http://op

enwetw

are.org/

wiki/Str

eptomy

ces:Oth

er_Bits/

An_Intr

oductio

n_to_St

reptomy

ces

Page 15: Associação Fungos e Plantas

Filosfera: superfícies aéreas das plantas e seu interior

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 15

Microrganismos que vivem sobre as superfícies das plantas

expostas à radiação solar

Sobrevivem com elevados níveis de radiação UV porque

possuem um sistema de reparação do DNA

Exemplo: Sphingomonas sp.

Gram-negatvas, bacilos, quimioheterotróficas, aeróbias

obrigatórias

Page 16: Associação Fungos e Plantas

Rizosfera: ambiente que rodeia a raiz das plantas

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 16

As raízes das plantas libertam para o solo álcoois, etileno, açúcares, aminoácidos, ácidos orgânicos, polissacarídeos e enzimas, criando um ambiente propício aos microrganismos

Muitos microrganismos da rizosfera promovem o crescimento da planta através da produção de sinais químicos (auxinas, giberlinas, citoquininas,…)

e.g. Pseudomonas e Aerobacter

Fixação de azoto:

Azotobacter, Azospirillum, Acetobacter

Page 17: Associação Fungos e Plantas

Promovem o crescimento das plantas através da

produção de sinais químicos (auxinas, giberlinas,

citoquininas,…)

Pseudomonas aeruginosa Aerobacter aerogenes

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 17

Page 18: Associação Fungos e Plantas

Fixadores de azoto

Acetobacter sp. Azotobacter sp.

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 18

Page 19: Associação Fungos e Plantas

No interior das células das plantas:

Fungos e bactérias endófitos

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 19

Benéficos:

alguns fungos endófitos podem torná-las menos susceptíveis ao

ataque dos insectos

Parasitas:

alguns fungos tornam as plantas estéreis

Cana do açúcar, batateira, algodão têm bactérias endófitas

que podem ser patogénicas

Mas em muitos casos não se conhecem efeitos negativos ou

positivos

Page 20: Associação Fungos e Plantas

Fixação simbiótica (mutualismo) de

azoto atmosférico

Rhizobium sp. e

plantas leguminosas O rizóbio penetra nas células

da raiz das leguminosas,

formando nódulos

Dentro da raiz transforma-se

num bacteróide, a forma capaz

de fixar azoto mas incapaz de

se reproduzir

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 20

Page 21: Associação Fungos e Plantas

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 21

Formação de um nódulo pelo Rhizobium

1. Rhizobium livre

2. Rhizobium atraído pelo pelo

radicular

3. Início da infecção por Rhizobium

no pelo radicular

4. Pelos radiculares infectados por

Rhizobium

5 e 6. O cordão de infecção de

Rhizobium invade a matriz de células

corticais da raiz da leguminosa

7. Rhizobium reproduz-se nas células

haplóides da raiz e perde a sua

parede celular

8. Dá-se a hipertrofia radical e

aparece o nódulo

9. Rhizobium sem parede

(bacteróide) fixa azoto

10. O nódulo com leghemoglobina

fixa N2

Nódulos da raiz

Bacteróides (MO

contraste de fase)

Page 22: Associação Fungos e Plantas

Micorrizas

Associações

simbióticas

(mutualismo)

entre fungos

e raízes das

plantas

superiores

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 22

Existem mais de 5000 espécies de fungos, principalmente basidiomicetes, envolvidas em simbioses micorrízicas

As micorrizas melhoram a competitividade das plantas, aumentando a sua absorção de água e de nutrientes, principalmente fósforo

Existem vários tipos de micorrizas dentro de dois grupos:

Endomicorrizas

Ectomicorrizas

Page 23: Associação Fungos e Plantas

Endomicorrizas

Exemplos:

Trigo,

feijoeiro,

tomateiro,

laranjeira, etc.

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 23

O fungo (geralmente um zigomicete) não sobrevive sem a planta; penetra nas células da raiz e cresce lá dentro

Um dos tipos são as micorrizas arbusculares (AM)

Crescem formando uma estrutura intracelular semelhante a um arbusto; hifas não septadas

Os outros tipos de endomicorrizas têm hifas septadas e existem por exemplo nas orquídeas

Page 24: Associação Fungos e Plantas

Micorrizas arbusculares

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 24

Árvore filogenética do filo Glomeromycota, baseada na

análise das sequências das subunidades dos ribossomas

As micorrizas arbusculares são formadas por fungos da

classe Glomeromycetes (Filo Zygomycota), que

recentemente passou a ser o filo Glomeromycota

(http://www.mycolog.com/CHAP3b.htm)

Page 25: Associação Fungos e Plantas

Ectomicorrizas

Micorrizas formadoras de manto

Formam um

manto que

cobre a ponta

da raiz

As hifas

também

penetram no

interior da raiz

mas não no

interior das

células

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 25

Page 26: Associação Fungos e Plantas

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 26

Page 27: Associação Fungos e Plantas

Associações simbióticas de bactérias

actinomicetes do género Frankia com

raízes de plantas de oito famílias não-

leguminosas

Formam nódulos onde se dá a fixação de

azoto

Exemplo: amieiro (Alnus glutinosa)

Actinorrizas

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 27

Page 28: Associação Fungos e Plantas

Frankia sp. O género Frankia tem uma associação simbiótica com árvores, como o amieiro As árvores com esta associação simbiótica são mais ricas em azoto

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 28

Page 29: Associação Fungos e Plantas

Microrganismos patogénicos

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 29

Alguns fungos e bactérias podem causar várias doenças que

diminuem a produtividade das culturas

Puccinia graminis – ferrugem do trigo

Phytophthora infestans – doença das batatas http://www.bbc.co.uk/history/british/victorians/famine_01.shtml)

Agrobacterium tumefaciens – crescimento de tumores nas

plantas

Page 30: Associação Fungos e Plantas

Ferrugem do trigo

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 30

Page 31: Associação Fungos e Plantas

Doença da batata

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 31

Page 32: Associação Fungos e Plantas

Tumores

Manuela Abelho 2013/2014 Microbiologia ambiental 1.6 32