A obediência à voz de Deus e a confirmação do chamado

Quando Eliseu foi visitado por Elias provavelmente já se sentia vocacionado ao ministério profético. Contudo, aguardou até que o chamado fosse efetivamente feito e confirmado por alguém revestido da autoridade divina. E Eliseu obedeceu imediatamente à voz de Deus, abandonando seu antigo ofício e seguindo Elias, para aprender sobre o ministério.

Normalmente, após a pessoa ter a percepção interior do chamado de Deus, ela recebe a confirmação desse chamado por intermédio de um servo do Senhor, como ocorreu com Eliseu. Elias o profeta mais experiente, foi até Eliseu e chamou-o para servi-lo e aprender o ministério profético.

Qual foi a evidência física, o sinal de que Eliseu receberia a unção profética que estava sobre Elias? Este ter lançado sua capa sobre Eliseu (1 Reis 19,19) e, posteriormente, quando Elias partiu para junto de Deus, Eliseu ter tomado a capa de seu predecessor (2 Reis 2).

Naquela época, usar capa era símbolo de autoridade profética. No momento em que Elias a lançou sobre Eliseu, identificou-o como seu sucessor.

Além desse tipo de sinal, o próprio Deus atestou o ministério de Eliseu ao realizar muitos milagres por intermédio de Seu servo. O general sírio Naamã foi curado de lepra, uma doença incurável na época; cem profetas foram alimentados com uma pequena quantidade de pão; o ferro de um machado, que caíra nas águas do rio, flutuou.

Jesus também realizou muitos milagres. Este era um sinal inequívoco de que Deus era com Ele (João 3.2; Atos 2.22). E antes, de ascender aos céus o Mestre instruiu Seus discípulos a anunciarem as boas novas de salvação e mencionou sinais como evidências do chamado deles:

E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.

Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.

E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas;

Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão.

Marcos 16:15-18

Deus quer usar você. Você está disposto a atender ao Seu chamado? Você já tem manifestado as marcas daqueles que foram ungidos pelo Senhor? Você é uma pessoa humilde e altruísta, pacífica e promotora da paz? Está disposto a servir a Deus e ao seu próximo, priorizando seu chamado para ser sal da terra e luz do mundo? Você precisa aprender a discernir a voz de Deus e dar ouvidos a ela.

No capítulo seguinte, vamos destacar os meios pelos quais o Senhor costuma falar conosco, comunicando-nos Seu chamado.

Como Deus se comunica conosco e nossa resposta ao Seu chamado.

Ao estudarmos as Escrituras, constatamos que o Senhor tem diversas maneiras de falar com o homem. Vemos, por exemplo, que Deus pode comunicar-se suscitando pensamentos em nossa mente, por meio de Sua Palavra, de sonhos, visões, de experiências, ou usando Seus anjos e outros emissários.

Deus se comunicou diretamente com Adão, Noé, Abraão, Moisés, entre outros. O Senhor enviou anjos para falar com Josué, Manoá, Maria e José. Outros, como José e Daniel, tiveram sonhos e visões proféticas. Os israelitas, por outro lado foram instruídos a

buscar a vontade de Deus na Torá. Jonas aprendeu sobre a importância de fazer a vontade de Deus no ventre de um grande peixe que o engolira. Paulo foi confrontado pelo Senhor numa estrada para Damasco. Ele viu uma luz fortíssima e ouviu a voz de Jesus. A igreja primitiva era instruída pelo Senhor pelo estudo das Escrituras e pelo conselho dos apóstolos e anciãos.

Em suma, Deus tem muitos meios de comunicar-se conosco. As escrituras são o Seu modo habitual de falar conosco, daí a importância de lermos e meditarmos em seus ensinamentos, uma vez que nelas o Senhor revelou os Seus caminhos, pensamentos e planos para o Seu povo. Mas também devemos ficar atentos a outra formas de o Senhor se comunicar conosco e confirmar Seu chamado a nós, bem como responder assertivamente a ele, ainda que isto exija uma mudança radical de vida.

Uma mudança radical em resposta ao chamado

Por que afirmamos isso? Porque o chamado de Deus com frequência costuma exigir uma resposta imediata do convocado e uma mudança radical de vida.

Abraão, depois de ouvir um chamado de Deus, pela fé [...] obedeceu, indo para o lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber por onde ia (Hebreus11.8).

Como entender isso? O Altíssimo chamou Abrão e disse-lhe o seguinte: “Saia da sua terra e do meio da sua parentela e vá para o lugar que Eu ainda lhe mostrarei”. Imagine o que o patriarca pensou: “Senhor, obedecerei à Sua ordem. Mas, por favor, diga-me para onde devo ir. Em que direção devo seguir? Norte, sul, leste ou oeste?” O Senhor, no entanto, não revelou que terra daria ao Seu Servo. Abraão teve de sair primeiro do meio de sua família, em Ur dos Caldeus. Só depois de algum tempo Deus revelou que daria Canaã a Abraão e seus descendentes.

Com essa história, entendemos que é muito difícil atender ao chamado divino se não tivermos uma fé incondicional no Senhor. Afinal, sair ao mundo sem destino é uma atitude absolutamente

radical. Não adianta passarmos as noites em claro pensando sobre o que Deus pretende em relação a nós para o nosso futuro, sem obedecer às primeiras instruções dele, pois Sua revelação sempre será diretamente proporcional à nossa fé e obediência à Ele.

Então, se Deus o chamar, não adiantará você dizer: “Ah, Senhor, agora não posso ir. Procure-me daqui a três anos, quando eu estiver aposentado, então vou ter todo tempo disponível para o senhor”.

É um engano completo pensar que um chamado profético de Deus acontece dessa maneira.

Eliseu, ao ser chamado por Elias, deixou os bois e correu após o profeta (1 Reis 19.20). Elias jogou sua capa sobre Eliseu, e assim comunicou o chamado. Eliseu atendeu imediatamente, deixando para trás o arado e o trabalho no campo, para acompanhar Elias e servi-lo, aprendendo sobre o que envolvia o ofício profético.

Você pensa que foi fácil para Eliseu largar tudo e seguir alguém que ele só conhecia de ouvir falar? Não foi. Eliseu era um lavrador que costumava lavrar a terra com uma junta de bois. Ele trabalhava arduamente para romper a rigidez do solo e semear a terra. Mas Deus havia designado um terreno novo para Eliseu arar. Ele passaria a lavrar o duro coração dos seus irmãos israelitas e semear nele a Palavra do Senhor, um desafio bem superior ao que estava acostumado.

Voltemos ao texto que narra o encontro de Elias e Eliseu, para vermos mais detalhadamente a resposta deste ao chamado daquele:

Partiu, pois, Elias dali, e achou a Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com doze juntas de bois adiante dele, e ele estava com a duodécima; e Elias passou por ele, e lançou a sua capa sobre ele.

Então deixou ele os bois, e correu após Elias; e disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe, e então te seguirei. E ele lhe disse: Vai, e volta; pois, que te fiz eu?

Voltou, pois, de o seguir, e tomou a junta de bois, e os matou, e com os aparelhos dos bois cozeu as carnes, e as deu ao povo, e comeram; então se levantou e seguiu a Elias, e o servia.

1 Reis 19:19-21

No versículo 21 de 1 Reis 19, podemos ver bem a resposta que marca a vida do que foi chamado por Deus. A atitude radical de Eliseu de queimar o arado, matar os bois e comer a carne junto com o povo indicava que não pretendia voltar atrás, uma vez que pôs o fim a tudo aquilo que estava ligado ao seu antigo ofício. Em outras palavras, Eliseu rompeu com tudo aquilo que poderia impedir a sua chamada.

Eliseu não precisaria mais do arado nem dos bois para prosseguir em seu ministério. Assim, ele sacrificou algo material em prol da obra de Deus.

Vários discípulos de Jesus, como Pedro, André, Tiago, João, Mateus, também abandonaram sua profissão para abraçar o discipulado e, posteriormente, o ministério (leia Mateus 4.18-22; 8.21, 22; 9.9). Foi uma mudança muito radical na vida de todos eles.

Rompendo com os obstáculos que nos impedem de atender ao chamado

O que aprendemos com isso? Que todos nós temos em nossa vida coisas com as quais devemos romper, para seguir rumo ao que Deus planejou para nós. Temos de romper com aquilo que está atrapalhando um chamado dirigido a nós. E, quando tomamos essa atitude, o Senhor, então, leva-nos a patamares mais altos.

O que tem impedido você de ouvir a voz do Altíssimo e de atender ao Seu chamado? Conceitos e valores mundanos? Uma amizade ou aliança que Ele não aprova? Seu ego? O medo de seguir a Cristo e não ter como sustentar sua família? Esses obstáculos podem ser transpostos. Você precisa certificar-se de que ouviu a voz de Deus e seguir rumo àquilo que Ele lhe falou.

É lógico que todo ser humano procura um lugar de acomodação. Mas a verdade é que, apesar de podermos estar há muito tempo em um mesmo lugar, levando uma vidinha tranquila, talvez seja necessário rompermos com nossa história, para atendermos ao chamado de Deus.

E é fundamental sabermos que será Ele quem nos ajudará a fazer essa mudança radical. A nós cabem a coragem e a fé, para fazermos tudo o que for possível; ao Senhor cabe o impossível, aquilo que está além de nossa capacidade, inteligência e recursos materiais.

Sendo assim, se o obstáculo que o está impedindo de atender ao chamado divino é algum pecado, vício ou mania, você terá de apresentar isso a Deus, pedir libertação e fazer sua parte para abandoná-lo. Se precisa romper com o ritualismo vazio do culto que presta ao Senhor, terá de buscá-lo com afinco, voltando ao primeiro amor, estudar Sua Palavra e obedecer à Sua voz; então o fogo cairá sobre você e sua congregação, e coisas que você julgava inimagináveis acontecerão, porque Deus vai operar no sentido de cumprir tudo aquilo que Ele prometeu.

Mas cuidado para não romper com uma situação só porque ela não lhe agrada no momento. Antes, analise se essa situação é ou não um meio usado por Deus para quebrantá-lo, levá-lo a reconhecer que depende dEle e amadurecê-lo. Ore, fale com o Senhor. Peça-lhe discernimento. Então, parta para a ação.

De qualquer modo, o ideal, quando você romper com algo, é não fazê-lo de forma abrupta, saindo da situação ressentido ou provocando ressentimentos. É bom sempre encerrarmos um ciclo com nossa história em paz.

A Palavra de Deus nos ensina que, se for possível, devemos ter paz com todos (Romanos 12.18), que quem guardar o mandamento não experimentará nenhum mal; e o coração do sábio discernirá o tempo e o modo (Eclesiastes 8.5).

Quando fui chamado por Deus

Quando o Senhor me chamou para Sua obra, eu trabalhava em uma empresa, e minha mulher em outra. Então, orei e, um dia, tomei uma decisão radical. Saí do emprego e disse à minha esposa que saísse do dela e não dissesse nada a ninguém. Eu precisava experimentar o cuidado de Deus como o provedor de todas as minhas necessidades. Isto seria o sinal de que ele havia me chamado e de que me sustentaria.

Com fé e temor a Deus, tomamos essa decisão e aguardamos a ação dele a nosso favor. Foi uma atitude muito radical da nossa parte. Mas eu acreditava, como acredito até hoje, que aquele que me chamou me capacitaria ao ministério e que cuidaria de mim e de minha família, provendo tudo de que necessitássemos; afinal, Ele é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera (Efésios 3.20).

Eu não estou dizendo com isso que, se você recebeu um chamado para o ministério, deve abandonar tudo amanhã mesmo, sem qualquer planejamento, e “viver pela fé”, como muitos que passam a viver às custas de outros dizem por aí. Deus tem um modo específico de falar e tratar com cada um.

Você sabia que existem muitos ministros do evangelho e líderes religiosos que são médico, professores ou exercem outras atividades como profissionais liberais, e que não abandonam suas profissões porque o próprio Senhor os orientou a não fazê-lo? Em meio às suas atividades profissionais, Deus os usa para ministrar Sua Palavra a pessoas que não iriam a uma igreja para ouvir sobre Jesus.

Eu dei meu testemunho apenas para ilustrar que aquela minha atitude radical de abandonar o emprego e trabalhar na obra do Senhor foi o início da minha caminhada até aqui. E como costumo reconhecer: “Até aqui nos ajudou o Senhor!” Sou grato a Deus por tudo que Ele tem feito em minha vida e por intermédio dela. Sei que não é porque mereço, mas pela bondade e generosidade do Senhor

para comigo. Meu objetivo é leva-lo a crer e a confiar que o Deus que chama é o mesmo que sustenta Seus ungidos.

A amplitude do chamado

Também desejo enfatizar neste capítulo que tão importante quanto discernir a voz de Deus e o chamado que Ele nos fez é respondermos do modo certo a esse chamado, demonstrando fé e confiança no Senhor, e que atender ao chamado divino não se restringe apenas a empenhar-se num ministério na igreja, como pastor, evangelista, professor de escola dominical, líder da mocidade ou de um coral. É algo muito mais profundo que envolve uma transformação radical em nosso modo de ser e de agir e um rompimento com o passado de pecado e mesmice.

Você foi chamado da morte para a vida (João 5.24; 1 João 3.14) e das trevas para a maravilhosa luz de Deus (1 Pedro 2.9). Foi comissionado a ser sal da terra e luz do mundo (Mateus 5.13,14), a viver em santidade e justiça (Lucas 1.75), a ter comunhão com Cristo (1 Coríntios 1.9), a dar bons frutos e a herdar a vida eterna (Lucas 18.30).

Atender a esse chamado implica transformação de vida, o que produz um impacto fortíssimo não somente em quem recebe o chamado, mas em seus familiares, amigos, vizinhos e em todos aqueles que cruzam seu caminho.

Este é o propósito de Deus ao chamar-nos: Ele visa comunicar Seu plano de salvação à humanidade e realizar a significativa mudança que ocorre ao sermos religados a Ele por intermédio de Cristo, tornando-nos Seus filhos e herdeiros de Seu Reino.

Esse é o chamado geral de Deus a todo cristão, mas há um chamado específico que Ele faz a cada um de nós, individualmente. Precisamos atender ao chamado geral revelado em Sua Palavra, mas também o específico, revelado a nós em particular por meio de uma palavra profética, sonhos, visões. Vamos falar melhor isso no capítulo a seguir.