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As imagens dos manuais escolares de ciências
Análise dos princípios de igualdade entre homens e mulheres
Agostinho Botelho Cristina Borges Ana Maria Morais Departamento de Educação Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Versão pessoal revista do artigo final publicado em: Revista Inovação, 15 (1-2-3), 23-44 (2002). Homepage da Revista Iovação: http://www.iie.min-edu.pt/edicoes/inovacao-info.htm
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As imagens dos manuais escolares de ciências Análise dos princípios de igualdade entre homens e mulheres
Agostinho Botelho Cristina Borges
Ana Maria Morais Departamento de Educação
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
1. INTRODUÇÃO
Embora a análise de manuais escolares constitua, em geral, uma vasta área de
interesse académico, ela têm-se baseado principalmente em perspectivas psicológicas,
históricas, epistemológicas e, de forma menos frequente, em abordagens sociológicas
(Neves, 1991). Por outro lado, relativamente à abordagem sociológica, os principais
aspectos desenvolvidos centram-se no levantamento de esteriótipos culturais e
subculturais (por exemplo, Abraham, 1989; Fontaine, 1977; Horváth e Andor, 1982) ou
no estudo do papel das relações económicas e sociais que presidem à publicação e
selecção de manuais (por exemplo, Apple e Christian-Smith, 1991; Wong, 1991).
A investigação realizada por Abraham (1989) mostrou existirem algumas
diferenças entre as ideologias sexistas veiculadas através de manuais escolares de Inglês,
Francês e Matemática e a ideologia de uma amostra de professores. Os resultados
mostraram que, nalguns casos, a ideologia dos professores era diferente da ideologia
veiculada através dos manuais. Os estudos citados por Abraham revelam a existência de
relações entre as mensagens veiculadas por manuais escolares e os esteriótipos sexuais
(Montieth, 1973; Davies e Meighan, 1975; Lobban, 1975; Berril e Wallis, 1976; Taylor,
1979; Walford, 1980, 1981). Fontaine (1977) realizou, em Portugal um estudo sobre
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veiculação de esteriótipos, o qual evidenciou a discriminação sexual dos papeis sociais
nos manuais portugueses de aprendizagem de leitura.
No entanto, estes estudos não tiveram a preocupação de abordar a problemática
das relações sociais legitimadas pelos manuais escolares. O trabalho realizado por
Lourenço (1997). ao pretender contemplar essas relações, procurou, por um lado,
identificar as relações sociais de poder e controlo veiculadas através de manuais escolares
e, por outro lado, discutir a recontextualização sofrida pelo programa oficial. Ao explorar
um aspecto de grande relevância nos manuais escolares (M.E.) - as imagens, este estudo
dá continuidade a essa perspectiva de investigação.
Partindo-se dos princípios enunciados, por um lado, na Constituição da República
Portuguesa (1997), nomeadamente o ponto 1 e 2 do artigo 13º, onde se refere que “todos
os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei” e que “ninguém
pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de
qualquer dever em razão (...) do sexo ou condição social” e, por outro lado, na Lei de
Bases do Sistema Educativo (1986) que afirma no seu artigo 1º e 3º, respectivamente, que
o sistema educativo deve promover ”a democratização da sociedade”, e ”assegurar a
igualdade para ambos os sexos”, pretende-se com este estudo desenvolver uma análise da
mensagem sociológica veiculada nos manuais escolares. Analisa-se, especificamente, a
mensagem sociológica inscrita nas imagens, dando continuidade às abordagens
sociológicas já realizadas neste âmbito. Considerando este tipo de abordagem, o presente
estudo tem como objectivos determinar (a) qual o sexo que aparece com frequência mais
elevada, (b) qual o estatuto social associado a cada um dos sexos e (c) se existe relação
entre o sexo dos autores e a frequência com que determinado sexo surge nos manuais
escolares. Com base nestes objectivos, o estudo investiga o seguinte problema: Em que
medida os manuais escolares veiculam os princípios e direitos da igualdade entre
homens e mulheres enunciados na Constituição da República Portuguesa (CRP) e na Lei
de Bases do Sistema Educativo (LBSE)?
Teoricamente, a análise baseia-se na teoria do discurso pedagógico de Bernstein
(Bernstein, 1990, 1996; Domingos et al, 1986).
Na descrição do estudo, começa-se por apresentar, de uma forma sucinta, o
modelo do discurso pedagógico de Bernstein, onde se referem os principais conceitos que
fundamentam as análises realizadas. Segue-se uma descrição dos procedimentos
metodológicos usados, a análise e interpretação dos dados e, finalmente, as conclusões.
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2. O MODELO DO DISCURSO PEDAGÓGICO
Segundo Domingos et al (1986), no modelo do discurso pedagógico de Bernstein
(fig. 1) o discurso pedagógico oficial (DPO) é considerado como resultado de um
conjunto de relações que se estabelecem entre os vários campos envolvidos na sua
geração (nível I), recontextualização (nível II) e reprodução (nível III).
Figura 1 – Produção e reprodução do discurso pedagógico (Morais, 2001 - adapt. de Bernstein, 1990).
Nos níveis de geração e de recontextualização dos princípios dominantes da
sociedade (discurso regulador geral - DRG) produz-se o discurso pedagógico oficial
(texto que incorpora directrizes sobre organização e gestão escolares, currículo).
Campo Internacional
CAMPODO ESTADO
Campo de Recontextualização Oficial
DISCURSO PEDAGÓGICO OFICIAL
(DPO)
Campo de Recontextualização Pedagógica
DISCURSO PEDAGÓGICO DE REPRO DUÇÃO
Campo do Controlo Simbólico
Campo daEconomia
Nív
el I
Ge
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l II
Re
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aliz
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o
PRODUÇÃO
DO
DP
PRINCÍPIOS DOMINANTES
(DRG)
Tempo EspaçoComunicação DIDR
Organização
Transmissores
Código Pedagógico
Aquisidores
Campo de Recontextualização
Selecção Transmissão Avaliação
Contexto/ Agências
especializadas
REPRODUÇÃO
DO
DP
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el II
IT
rans
mis
são
Contexto de Recontextualização Primária(Família/Comunidade)
Campo Internacional
CAMPODO ESTADO
Campo de Recontextualização Oficial
DISCURSO PEDAGÓGICO OFICIAL
(DPO)
Campo de Recontextualização Pedagógica
DISCURSO PEDAGÓGICO DE REPRO DUÇÃO
Campo do Controlo Simbólico
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Contexto/ Agências
especializadas
REPRODUÇÃO
DO
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Contexto de Recontextualização Primária(Família/Comunidade)
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No entanto, os princípios dominantes estão sujeitos a um processo de
transformação nos campos de recontextualização. Por um lado, actua o campo de
recontextualização oficial (por exemplo, Direcções Gerais do Ministério da Educação),
regulado directamente pelo Estado e onde se produz o DPO e, por outro, o campo de
recontextualização pedagógica (onde se situam, por exemplo, os departamentos
universitários, e, ainda, os meios de comunicação especializada, como jornais, revistas e
livros), onde se produz o discurso pedagógico de reprodução. Tanto um como outro, são
influenciados pelos campos da economia e do controlo simbólico e têm como actividade
principal a definição do que e do como do discurso pedagógico. O que diz respeito aos
conteúdos e relações a serem transmitidos e o como à forma de transmissão dos
conteúdos e relações.
O discurso pedagógico de reprodução ao ser inserido no contexto de reprodução
pedagógica (diferentes níveis de ensino) está sujeito a princípios de recontextualização
que dependem do contexto específico de uma dada escola. Todavia, o campo de
recontextualização que actua na relação entre o contexto escolar e o contexto de
contextualização primária da família/ comunidade, pode afectar o que é reproduzido.
Segundo o modelo, a produção, distribuição e reprodução do discurso
pedagógico, envolve um processo de dinâmico, sendo este dinamismo que possibilita a
mudança. O potencial de mudança pode, além de outros factores, depender do grau de
recontextualização a que é submetido o discurso pedagógico.
3. MODELO DE ANÁLISE
Os aspectos da teoria considerados mais relevantes para o presente estudo têm a
ver com o contexto de recontextualização do discurso pedagógico e com as regras
inerentes à transmissão-aquisição do discurso pedagógico de que se salientam as regras
discursivas.
No que se refere ao primeiro aspecto, consideraram-se os manuais escolares como
textos pedagógicos recontextualizados. Deste modo veiculam um discurso pedagógico
específico recontextualizado, sendo possível determinar, no mínimo, o respectivo sentido
da recontextualização ou mesmo o respectivo grau de recontextualização. A figura 2,
evidencia os diferentes campos e níveis de recontextualização e respectivas inter-
relações, bem como a localização dos manuais escolares neste processo.
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Figura 2. - Recontextualização do discurso pedagógico a vários níveis do Sistema Educativo e localização
dos manuais escolares neste processo. (Adaptado de Lourenço, 1997)
Como foi anteriormente referido, de acordo com Bernstein (1990, 1996), as
relações de poder são descritas em função do grau de isolamento e, portanto de
especialização das categorias de interacção e são evidentes através do conceito de
classificação (C). A classificação é fraca quando há um esbatimento das fronteiras entre
categorias e forte quando há nítida separação entre as categorias, o que dá origem a
hierarquias em que cada categoria tem estatuto e voz específicos e portanto um
determinado poder. Desta forma, pode-se constatar que entre as duas categorias que estão
a ser confrontadas neste estudo (campo do estado e campo de recontextualização
pedagógica, mais especificamente o estado e os autores, respectivamente) existe uma
forte classificação.
As relações de controlo são descritas em função da natureza das relações sociais
de comunicação entre categorias e são evidenciadas através do conceito de
enquadramento (E). O enquadramento é forte quando a(s) categoria(s) superior(es) têm o
controlo nessa relação e é fraco quando a categoria(s) inferior(es) têm alguma forma de
controlo nessa relação. Daqui se depreende que o enquadramento é fraco quando
consideramos as relações sociais estado-autores, pois a estes últimos é-lhes dado
possibilidade de recontextualizar o DRG produzido pelo primeiro e o DPO produzido
pelo Campo de Recontextualização Oficial.
Constituição da República Portuguesa e Lei de Bases do Sistema Educativo
Programas curriculares
Escolas/Professores
DRG
DPO
Recontextualização oficial
Recontextualização pedagógica
Recontextualização pedagógica
DPR Manuais escolares
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Deste modo, partindo do pressuposto que a classificação é forte e o
enquadramento é fraco quando se consideram as relações sociais entre o estado e os
autores, pretende-se investigar através de um texto pedagógico específico (manual
escolar, neste caso) se existe ou não utilização do controlo, de que os autores dos
manuais são possuidores, para recontextualizar quer o DRG, quer o DPO, e no caso de
existir, qual o respectivo grau e direcção de recontextualização.
Com base neste modelo teórico, parte-se da ideia de que nas ilustrações/fotografias
presentes nos manuais escolares podem estar mais ou menos presentes denotações e/ou
conotações relacionadas com estereótipos sexistas no que diz respeito ao papel que
homens/mulheres desempenham na sociedade e família.
Partindo dos pressupostos que os manuais escolares veiculam os princípios e
direitos de igualdade entre homens e mulheres enunciados na CRP e na LBSE e que os
autores têm a possibilidade de recontextualizar esses princípios aquando da selecção das
imagens na elaboração dos manuais, realizaram-se várias análises fundamentadas num
quadro teórico de natureza sociológica de forma a responder ao problema que orientou
este estudo.
4. METODOLOGIA
A investigação foca-se na análise das imagens presentes em três manuais
escolares de Ciências Naturais (8º ano de escolaridade do Ensino Básico). Atendendo ao
facto de nos três manuais os conteúdos se encontrarem agrupados em 5 unidades
temáticas, fez-se uma análise das imagens por unidade temática.
Do ponto de vista metodológico, pode dizer-se que o estudo seguiu um
modelo interpretativo, recorrendo-se a uma análise qualitativa das imagens. Usou-se
a imagem como a unidade de análise, tendo-se tomado como imagem as
representações, reproduções ou imitações (não de forma escrita) da forma de uma
pessoa ou objecto.
Para se proceder às análises pretendidas, começou-se por seleccionar três
manuais escolares, com base em dois critérios. O primeiro está relacionado com o
facto de pertencerem ao mesmo ano de escolaridade, (8º ano de escolaridade) e à
mesma disciplina (Ciências Naturais) e o segundo tem a ver com o sexo dos autores
que estiveram na base da sua elaboração. Relativamente a este último, tendo em
consideração um dos objectivos da análise, escolheu-se um livro escrito por duas
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autoras do sexo feminino (M1), um livro escrito por um autor do sexo masculino e
por outro do sexo feminino (M2) e um livro escrito por dois autores do sexo
masculino (M3).
Na análise das imagens não foram consideradas aquelas em que apareciam,
exclusivamente, partes ou parte do corpo humano, como por exemplo, pés, mãos,
rins, por não ser possível identificar o sexo. As imagens onde apareciam ilustrações
ou fotografias de cabeças foram tidas em conta, pois neste caso era possível
identificar o sexo dos indivíduos. As figuras onde apareciam, exclusivamente, as
partes genitais, por não se poder extrapolar dados para as questões em estudo, não
foram consideradas.
Para os três livros, organizaram-se dois quadros (ver anexo) onde constam,
para cada uma das cinco unidades temáticas de cada livro (Quadro I) e para cada
livro no geral (Quadro II), o número de imagens onde aparecem indivíduos do sexo
feminino (M), o número de imagens onde aparecem indivíduos do sexo masculino
(H), o número de imagens onde aparecem os dois sexos (HM) e número de imagens
em que não foi possível identificar o sexo dos indivíduos presentes (NI).
Da mesma forma, construíram-se dois quadros (ver anexo) onde se registou,
para cada uma das cinco unidades temáticas de cada livro (Quadro III) e para cada
livro no geral (Quadro IV), a frequência de imagens que evidenciam um estatuto
social considerado elevado ou baixo em relação a cada um dos sexos.
A diferenciação das imagens para identificação do estatuto social atribuído
aos indivíduos que aparecem nas imagens obedeceu aos seguintes critérios:
(a) Quando numa imagem aparecem indivíduos dos dois sexos a realizar a mesma
tarefa/actividade/profissão, ou em que o homem aparece a desempenhar um papel
que socialmente era atribuído à mulher ou a mulher aparece a desempenhar um papel
que socialmente era atribuído ao homem, então foi considerada como veiculando os
princípios de igualdade enunciados na CRP e na LBSE.
Exemplos:
- Um casal, homem e mulher, sentados no sofá da sua casa
- Um homem e uma mulher jantando no restaurante
- Homem passeando com o seu filho
- Rapazes brincando com raparigas
- Homens e mulheres fazendo desporto ao ar livre
- Homem fazendo compras no supermercado
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(b) Quando numa imagem aparecem indivíduos do sexo masculino desempenhando
actividades/tarefas/profissões ou ilustrando actividades consideradas pela sociedade
como discriminatórias, ou seja, remetendo para um estatuto social baixo, ela foi
considerada como veiculando princípios de desigualdade e neste caso
despromovendo o estatuto social do homem.
Exemplos:
- Homens desempenhando as profissões de mineiro, vidreiro, metalúrgico, agricultor, lenhador, escriturário,
bombeiro
- Homens com determinadas patologias: bócio, SIDA, acne
- Dois rapazes caminhando e abraçados
- Homem com medo
- Homem a fumar
- Rapaz provocando distúrbios num jogo de futebol
- Homem alcoólico
(c) Quando numa imagem aparecem indivíduos do sexo feminino, desempenhando
actividades/tarefas/profissões ou ilustrando actividades consideradas pela sociedade
como discriminatórias, ou seja remetendo para um estatuto social baixo, ela foi
considerada como veiculando princípios de desigualdade e, neste caso,
despromovendo o estatuto social da mulher.
Exemplos:
- Mulheres com determinadas patologias: obesidade, acne, bócio
- Mulher realizando trabalho doméstico
- Mulher tomando café em casa
- Mulher exercendo profissões como por exemplo, balconista, operária fabril
- Mulher com frio
- Mulher como prostituta
- Mulher passeando os filhos
(d) Quando numa imagem aparecem indivíduos do sexo feminino, desempenhando
actividades/tarefas/profissões ou ilustrando actividades consideradas pela sociedade
como tendo um estatuto social elevado, ou seja remetendo para um estatuto social
elevado, ela foi considerada como veiculando princípios de desigualdade, mas neste caso
promovendo o estatuto social da mulher.
Exemplo:
- Rapariga na sala de aula
- Rapariga como estudante universitária
- Mulher com uma carteira de pílulas contraceptivas
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- Mulher atleta na alta competição
- Mulher como analista de laboratório
(e) Quando numa imagem aparecem indivíduos do sexo masculino, desempenhando
actividades/tarefas/profissões ou ilustrando actividades consideradas pela sociedade
como tendo um estatuto social elevado, ou seja remetendo para um estatuto social
elevado ela foi considerada como veiculando princípios de desigualdade, mas neste
caso promovendo o estatuto social do homem.
Exemplos:
- Homem desempenhando a profissão de dentista, professor, atleta de alta competição
- Homem tomando café e lendo o jornal na esplanada
- Rapaz como estudante universitário
- Homens como exemplos de grandes cientistas (por exemplo, Descartes )
- Apenas homens trabalhando num jornal ou jogando futebol
A partir do total de imagens das diferentes categorias, relativas ao sexo dos
indivíduos (Quadro II) e ao estatuto social referente a cada sexo (Quadro IV),
procedeu-se à construção das figuras 1 e 2, respectivamente, e analisaram-se
comparativamente os três manuais.
Com base nos quadros I e II e na figura 3 comparou-se a distribuição da
frequência de imagens das categorias (H, M, HM e NI) relativas ao sexo dos
indivíduos, (a) em cada manual pelas cinco unidades temáticas, (b) entre os três
manuais e (c) de cada manual com o sexo dos autores.
Relativamente à distribuição da frequência de imagens das categorias (h+, h-,
m+, m- e Ig) referentes ao estatuto social relativo a cada sexo, comparou-se, a partir
dos quadros II e IV e da figura 4: (a) em cada manual no geral e em cada unidade
temática em particular, a frequência de imagens que promovem socialmente o
homem (h+) com as que promovem a mulher (m+) e, as que despromovem o homem
(h-) com as que despromovem a mulher (m-); (b) a frequência de imagens que
evidenciam igualdade (Ig), nos três manuais; (c) a distribuição da frequência de
imagens das diferentes categorias, com o sexo dos autores de cada manual.
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5. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
5.1. Distribuição da frequência de imagens das categorias (H, M, HM e NI) relativas
ao sexo dos indivíduos.
Na análise da frequência de imagens das categorias relativas ao sexo dos
indivíduos, considerou-se, por um lado, a sua distribuição por manual escolar pelas cinco
unidades temáticas, comparando-se de seguida os três manuais e, por outro, comparou-se
a distribuição da frequência de imagens das categorias relativas ao sexo dos indivíduos
com o sexo dos autores dos manuais escolares.
A figura 3 apresenta graficamente a frequência de imagens das diferentes
categorias relativas ao sexo dos indivíduos.
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M1 M2 M3Per
cen
tage
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cate
goria
Manuais escolares
H
HM
M
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Figura 3 - Distribuição da frequência de imagens das categorias (H, M, HM e NI) relativas ao sexo dos indivíduos.
a) Distribuição da frequência de imagens das categorias (H, M, HM NI) relativas ao
sexo dos indivíduos em cada manual escolar pelas cinco unidades temáticas e, entre os
três manuais escolares.
Considerando a globalidade dos dados do quadro I, verifica-se que o manual M2 é
aquele que possui um maior número de imagens (94) distribuídas por todas as unidades
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temáticas, mas com maior incidência nas unidades referentes à Alimentação (20), sistema
Neuro-hormonal (25) e sistema Reprodutor (33), enquanto o manual M1 é aquele onde o
número de imagens é mais reduzido (62) situando-se estas maioritariamente na unidade
referente à Alimentação (40). O manual M3, embora com um número de imagens
intermédio (88), estas encontram-se distribuídas mais homogeneamente por todas as
unidades temáticas.
Relativamente às categorias de imagens em análise, constata-se, a partir dos dados
dos quadros I e II, e da figura 3, que em qualquer dos manuais e para todas as unidades
temáticas o número de imagens com indivíduos do sexo masculino é substancialmente
superior ao das imagens onde aparecem indivíduos do sexo feminino. É excepção o
Sistema Reprodutor, onde se verifica uma igualdade no manual M1 e um número
superior de imagens do sexo feminino nos manuais M2 e M3. Quando se considera o
número de imagens onde figuram os dois sexos, os dados mostram que nos manuais M2 e
M3 o número de imagens é superior (21 e 22, respectivamente) sendo consideravelmente
menor no manual M1 (7) e que o maior número de imagens desta categoria está associada
ao sistema reprodutor.
Para os três manuais analisados, observa-se que o número de imagens com
indivíduos do sexo masculino é superior às que contém indivíduos do sexo feminino e às
dos dois sexos.
b) Comparação da distribuição da frequência de imagens das categorias (H, M, HM e
NI) relativas ao sexo dos indivíduos, com o sexo dos autores dos ME.
Os resultados expressos na figura 3 revelam que o manual M1 (autores do sexo
feminino) é aquele cuja percentagem de imagens com indivíduos do sexo masculino é
mais elevada (45%), apresentando 15% do sexo feminino e 11% dos dois sexos. Segue-se
o manual M3 (autores do sexo masculino) com 36% de imagens do sexo masculino, 23%
do sexo feminino e 25% dos dois sexos. Por último surge o manual M2 (autores dos dois
sexos) com 33% de imagens do sexo masculino, 24% do sexo feminino e 22% dos dois
sexos.
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5.2. Distribuição da frequência de imagens das categorias (h+, h-, m+, m- e Ig)
relativas ao estatuto social atribuído a cada sexo.
Na análise das imagens das categorias relativas ao estatuto social atribuído a cada
sexo considerou-se, em primeiro lugar, a sua distribuição geral em cada manual e
comparativamente nos três manuais. De seguida, analisou-se, comparativamente, a
distribuição por unidade temática nos três manuais e entre as diferentes unidades
temáticas dentro de cada manual. Por fim, comparou-se a frequência das diferentes
categorias com o sexo dos autores.
A figura 4 apresenta a frequência de imagens de categorias relativas ao estatuto
social atribuído a cada sexo.
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M1 M2 M3
Per
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m d
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Manuais escolares
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m+
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Figura 4 - Distribuição da frequência de imagens das categorias (h+, h-, m+, m- e Ig) relativas ao estatuto social atribuído ao homem/mulher.
a) Distribuição geral da frequência de imagens das diferentes categorias.
Relativamente às imagens que remetem para uma despromoção do estatuto social
do homem e da mulher, os resultados expressos na figura 4 revelam que o manual M1 é
aquele onde essa despromoção é mais significativa (23% para o homem e 44% para a
mulher).
Quanto às imagens que remetem para uma promoção do estatuto social do homem
e da mulher, é no manual M3 que essa promoção é mais notória (22% para os homens e
21% para as mulheres).
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Comparando, agora, as imagens que remetem para uma promoção do estatuto
social do homem e da mulher com as que remetem para uma despromoção, os dados
revelam que nos manuais M1 e M3 o homem aparece favorecido, facto evidenciado pela
superioridade de imagens onde o homem aparece favorecido (M1= 17% e M3=22%) em
relação à mulher (M1=13% e M3=21%) e inferioridade das imagens onde o homem
aparece desfavorecido (M1=23% e M3=7%) em relação à mulher (M1=44% e
M3=10%). Exceptua-se o manual M2 onde o homem aparece evidenciado tanto nas
imagens que o promovem como nas que o despromovem socialmente.
Quando se consideram as imagens que evidenciam igualdade, verifica-se que a
sua percentagem é reduzida em relação ao total das imagens sendo no manual M1 que
esse valor é mais evidenciado (M1=5%, M2=20% e M3=20%).
b) Distribuição da frequência de imagens das diferentes categorias por cada unidade
temática, entre os três manuais escolares.
Considerando as imagens que despromovem socialmente tanto o homem como a
mulher, verifica-se através da análise dos resultados expressos no quadro III, que é na
Alimentação do manual M1 (58%), no sistema Neuro-hormonal do manual M2 (36%) e
no sistema Reprodutor do manual M3 (9%) que a despromoção da mulher é mais
evidente, e na Alimentação do manual M1 (35%), no sistema Neuro-hormonal do manual
M3 (20%) e nos sistemas Cardio-respiratório (17%) e Reprodutor (17%) do manual M2
que o homem aparece mais despromovido.
No que se refere às imagens que promovem socialmente tanto o homem como a
mulher, constata-se que é no sistema Neuro-hormonal (33%) do manual M2, na
Alimentação (25%), no sistema Cardio-respiratório (22%), no sistema Urinário (40%) e
no sistema Reprodutor (13%) do manual M3 que o homem é mais promovido. A
promoção da mulher é mais evidente na Alimentação (17%) do manual M1, no sistema
Cardio-respiratório (33%) do manual M2 e nos sistemas Urinário (50%), Neuro-
hormonal (23%) e Reprodutor (9%) do manual M3.
Relativamente às imagens que promovem a igualdade entre o homem e a mulher
verifica-se uma maior incidência na Alimentação do manual M2 (44%), no sistema
Cárdio-respiratório do manual M1 (25%), e nos sistemas Neuro-hormonal e Reprodutor
do manual M3 (28% e 33%, respectivamente).
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c) Distribuição da frequência de imagens das diferentes categorias entre as diferentes
unidades temáticas, dentro de cada manual.
Considerando a análise ao nível da despromoção do estatuto social do
homem/mulher, observa-se através da observação dos resultados expressos no quadro III,
que é no manual M2, na Alimentação, que o homem surge mais desfavorecido (30%) e a
mulher mais desfavorecida no sistema Neuro-hormonal (36%). Quanto ao manual M3 o
homem é mais desfavorecido no sistema Neuro-hormonal (20%) e a mulher na
Alimentação (38%). Relativamente ao manual M1, como as imagens estão concentradas
na Alimentação não foi possível a comparação.
Quanto à promoção é no manual M1, na Alimentação, que se verifica maior
favorecimento do homem e da mulher (22% e 17%, respectivamente), tendo em conta
que não aparecem imagens desta categoria em nenhuma das outras unidades à excepção
do sistema Neuro-hormonal onde o homem aparece ligeiramente promovido (14%). No
manual M2 o homem aparece mais favorecido no sistema Neuro-hormonal (33%) e a
mulher no sistema Cardio-respiratório (33%). No sistema Urinário é no manual M3 que
tanto o homem como a mulher aparecem mais promovidos (40% e 50%,
respectivamente)
No que respeita à igualdade entre sexos, é nos manuais M1 e M3, ao nível do
sistema respiratório (25% e 33%, respectivamente) e no manual M2, na Alimentação
(44%) que esta se evidencia.
d) Comparação da distribuição da frequência de imagens das diferentes categorias, com
o sexo dos autores de cada manual escolar.
Os dados obtidos, na figura 4 revelam que é nos manuais M1 (autores do sexo
feminino) e M3 (autores do sexo masculino) que se verifica o maior número de imagens
onde o homem aparece promovido (M1= 17% e M3=22%) e o menor número onde
aparece despromovido (M1=23% e M3=7%). No manual M2 (autores dos dois sexos) o
homem aparece evidenciado tanto nas imagens que o promovem como nas que o
despromovem socialmente.
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6. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
As conclusões pretendem, por um lado, dar conta do significado sociológico das
mensagens veiculadas pelas imagens dos manuais escolares e por outro, reflectir sobre o
tipo e grau de recontextualização do DRG e DPO.
6.1. Significado sociológico das mensagens veiculadas pelas imagens dos manuais escolares Do ponto de vista sociológico, os resultados sugerem que as imagens dos três
manuais escolares analisados veiculam princípios que não se coadunam com os
enunciados na CRP e LBSE, uma vez que há uma desigual promoção social entre homens
e mulheres, privilegiando-se o homem, quer no número de imagens em que aparece, quer
na sua associação a estatutos sociais elevados. No que respeita às unidades temáticas em
cada manual, verifica-se a mesma tendência. Tal significa que os autores usufruem de
controlo relativamente à selecção das imagens dos manuais escolares, não existindo deste
modo, a este nível, uma reprodução do DRG.
O uso deste controlo (direcção e grau de recontextualização) pode estar
relacionado com as diferentes ideologias, princípios ou valores pessoais dos próprios
autores, os quais se expressam aquando da elaboração dos referidos manuais.
Quando se considera a relação entre o sexo dos autores e a frequência com que
determinado sexo surge nas imagens dos manuais escolares, e com a
promoção/despromoção do homem ou da mulher, verifica-se não existir nos manuais M1
e M3, uma relação directa entre o sexo do autor e a percentagem de imagens que
promovem esse mesmo sexo. Relativamente ao manual M1, escrito por duas autoras,
verifica-se, uma promoção do sexo masculino. Quanto ao manual M3, escrito por dois
autores (sexo masculino) é aquele onde se verifica um esbatimento das diferenças na
promoção entre homem e mulher.
Quando se consideram isoladamente as unidades temáticas em relação a cada um
dos manuais escolares, os dados revelam a mesma tendência.
6.2. Tipo e grau de recontextualização do DRG e DPO
A análise da direcção e do grau de recontextualização dos manuais é feita tendo
em conta (a) a recontextualização diferencial dos manuais (através da comparação entre
as mensagens sociológicas veiculadas nas imagens dos três manuais escolares) e (b) a
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recontextualização dos manuais face à CRP e LBSE (através da comparação entre as
mensagens sociológicas veiculadas pelas imagens dos manuais e a mensagem sociológica
veiculada pela CRP e pela LBSE).
Relativamente ao primeiro aspecto, a análise revela que os três manuais apresentam um
grau de recontextualização elevado, sendo este maior no manual M1. Com efeito
verifica-se que o manual M1 é o que mais se afasta dos princípios e direitos de igualdade
enunciados na CRP e LBSE. O manual M3, embora se afaste destes princípios e direitos,
é o que mais os promove.
Situando-se esta análise ao nível do 3º ciclo do Ensino Básico, os resultados do
estudo apontam para um entendimento um tanto perverso. Efectivamente, é ao nível do
ensino obrigatório que se espera que os manuais escolares veiculem os princípios e
direitos de igualdade enunciados na CRP e LBSE, embora tal não se verificasse na
análise em estudo.
Os resultados obtidos apontam para a possibilidade que os autores dos manuais
escolares usufruem para recontextualizar o DRG e DPO, confirmando assim o fraco
enquadramento, quando se considera as relações Estado-autores. Na realidade, parece que
os autores se preocupam mais com os aspectos estéticos em detrimento dos princípios
pedagógicos que devem estar subjacentes à elaboração dos manuais (critérios para a
selecção de manuais escolares, anexo à Circular Nº 10/95 de 8 de Maio) Desta forma, sob
uma aparência progressista e inovadora, os manuais escolares analisados continuam ao
nível das imagens a veicular princípios já ultrapassados pela sociedade portuguesa, pelo
menos, ao nível do Discurso Regulador Geral.
Tendo em conta que os autores usufruem de um certo espaço de autonomia e de
instrumentos conceptuais, que lhes permitem conceber os manuais escolares, espera-se
que tenham em conta os resultados sugeridos pela investigação educacional quanto às
características que veiculam princípios essenciais para o desenvolvimento pessoal e
social em direcção à igualdade, pois pensamos que o manual permite ao aluno a
interpenetração de diferentes contextos que podem constituir-se como um espaço de
inovação que poderá conduzir à mudança. Contudo, esta mudança, só será efectiva desde
que, ideologicamente os autores a queiram.
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BIBLIOGRAFIA
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Quadro I - Distribuição da frequência de imagens das categorias relativas ao sexo dos indivíduos (número e percentagem)
Unidades temáticas e Categorias de imagens
Manuais escolares A Alimentação Sistema Cardio-
respiratório Sistema Urinário
Sistema Neuro-hormonal Sistema Reprodutor ? t
H HM M NI ? H HM M NI ? H HM M NI ? H HM M NI ? H HM M NI ?
M1 19 4 8 9 40 3 1 2 6 5 2 4 11 1 1 3 5 62 47% 10% 20% 23% 50% 17% 33% 45% 27% 36% 20% 20% 60%
M2 8 5 3 4 20 5 1 2 4 12 2 2 4 9 4 7 5 25 7 11 8 7 33 94 40% 25% 15% 20% 42% 8% 16% 34% 50% 50% 36% 16% 28% 20% 21% 34% 24% 21%
M3 8 4 4 2 18 7 2 6 4 19 4 1 1 6 12 8 5 4 29 1 7 4 4 16 88
44% 22% 22% 12% 37% 11% 31% 21% 42% 27% 17% 14% 42% 27% 17% 14% 6% 44% 25% 25%
LEGENDA: H - Imagens onde figuram exclusivamente indivíduos do sexo masculino HM - Imagens onde figuram indivíduos dos dois sexos ? - Total de imagens por unidade temática M- Imagens onde figuram exclusivamente indivíduos do sexo feminino NI - Imagens onde não se identifica o sexo dos indivíduos ? t - Total de imagens por livro
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Quadro II - Total de imagens das diferentes categorias relativas ao sexo dos indivíduos. LEGENDA: H - Imagens onde figuram exclusivamente indivíduos do sexo masculino M- Imagens onde figuram exclusivamente indivíduos do sexo feminino HM - Imagens onde figuram indivíduos dos dois sexos NI - Imagens onde não se identifica o sexo dos indivíduos ? t - Total de imagens do livro As frequências que aparecem no quadro foram obtidas a partir do somatório das frequências de cada uma das categorias de imagens presentes no Quadro I.
Manuais Categorias
H HM M NI ? t
M1 28 7 9 18 62
M2 31 21 22 20 94
M3 32 22 20 14 88
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Quadro III - Distribuição da frequência de imagens das categorias relativas ao estatuto social referente a cada sexo (número e percentagem)
Manuais
Unidades temáticas e Categorias de imagens
A Alimentação Sistema Cardio-
respiratório Sistema Urinário
Sistema Neuro-hormonal
Sistema Reprodutor
h m Ig
h m Ig
h m Ig
h m Ig
h m Ig
- + - + - + - + - + - + - + - + - + - +
M1 8 5 7 2 1 1 1
35% 22% 58% 17% 3% 25% 14%
M2 4 1 1 1 7 1 1 1 3 4 2 3 1 1 1 6
30% 8% 8% 8% 44% 17% 33% 11% 33% 36% 10% 17% 6% 5% 5% 23%
M3 3 3 1 3 2 1 1 2 1 4 4 3 7 1 1 1 4
25% 38% 13% 19% 22% 13% 13% 40% 50% 20% 20% 23% 28% 13% 9% 9% 33%
LEGENDA: h - indivíduos do sexo masculino m- indivíduos do sexo feminino Ig - igualdade de estatuto entre homem e mulher (-) - despromoção social (+) - promoção social As percentagens de imagens que figuram nas colunas que se referem a indivíduos do sexo masculino, foram calculadas a partir do quociente entre o número de imagens que promovem/despromovem o homem e o número total de imagens onde figuram indivíduos do sexo masculino, ou seja, as que contêm só indivíduos do sexo masculino e aquelas onde aparecem indivíduos dos dois sexos. As percentagens de imagens que figuram nas colunas que se referem a indivíduos do sexo feminino, foram calculadas a partir do quociente entre o número de imagens que promovem/despromovem a mulher e o número total de imagens onde figuram indivíduos do sexo feminino, ou seja, as que contêm só indivíduos do sexo feminino e aquelas onde aparecem indivíduos dos dois sexos. A percentagem das imagens da coluna Ig (igualdade de estatuto entre homem e mulher) foram calculadas a partir do quociente entre o número de imagens onde existe igualdade, entre homem e mulher, e o número total de imagens de cada unidade temática, excluindo-se as não identificadas.
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Quadro IV - Total de imagens (%) das categorias relativas ao estatuto social atribuído a cada sexo. LEGENDA: h - indivíduos do sexo masculino m- indivíduos do sexo feminino Ig - igualdade de estatuto entre homem e mulher (-) - despromoção social (+) - promoção social As percentagens de imagens que figuram nas colunas que se referem a indivíduos do sexo masculino, foram calculadas a partir do quociente entre o somatório de imagens que promovem/despromovem o homem [ver Quadro III], e o número total de imagens onde figuram indivíduos do sexo masculino, ou seja, as que contêm só indivíduos do sexo masculino (H) e aquelas onde aparecem indivíduos dos dois sexos (HM) [ ver Quadro II]. Exemplo para a categoria h+ do manual M1
1) A partir Quadro III somam-se as frequências de cada unidade temática referentes à categoria h+, ou seja, 5+1=6 2) A partir do Quadro II somam-se as frequências das categorias H e HM, ou seja, 28+7=35 3) Equacionam-se os dados, ou seja 6/35=0.17, o que dá 17%
As percentagens de imagens que figuram nas colunas que se referem a indivíduos do sexo feminino, foram calculadas a partir do quociente entre somatório de imagens que promovem/despromovem a mulher [ver Quadro III], e o número total de imagens onde figuram indivíduos do sexo feminino, ou seja, as que contêm só indivíduos do sexo feminino (M) e aquelas onde aparecem indivíduos dos dois sexos (HM) [ ver Quadro II]. A percentagem das imagens da coluna Ig foram calculadas a partir do quociente entre o somatório de imagens onde existe igualdade, entre homem e mulher [ver Quadro III], e o número total de imagens de cada unidade temática, excluindo-se as não identificadas [ver Quadro II].
Manuais Categorias
h - m - h + m + Ig
M1 23 44 17 13 5
M2 17 14 10 7 20
M3 7 10 22 21 20
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As imagens dos manuais escolares de ciências Análise dos princípios de igualdade entre homens e mulheres
Resumo
Analisa-se a mensagem sociológica inscrita nas imagens de três manuais escolares
(ME) de Ciências Naturais do 8º ano de escolaridade com a finalidade de investigar em
que medida os ME veiculam os princípios e direitos da igualdade entre homens e
mulheres enunciados na Constituição da República Portuguesa (CRP) e na Lei de Bases
do Sistema Educativo (LBSE). Os resultados revelam que as imagens dos três ME
veiculam princípios que não se coadunam com os enunciados na CRP e na LBSE,
evidenciando-se, desta forma, uma recontextualização destes princípios. Verificou-se um
elevado grau de recontextualização em todos os ME e uma direcção com sentido oposto
ao dos princípios da igualdade entre sexos enunciados na CRP e LBSE.
Palavras-chave: Manuais escolares, Relações sociais, Princípios de igualdade entre sexos.
The images of science textbooks Analysis of equality principles between men and women
Abstract
The article analyses the sociological message transmitted by the images of three
textbooks (TB) of the discipline Natural Science of the 8th year of schooling (age 13-14).
The objective is to investigate the extent to which the TB transmit the equality principles
and rights of men and women present in the Portuguese Constitution PC) and in the Basic
Law of the Educational System (BLES). The results show that the images of the three TB
transmit principles which depart from the principles established in the PC and BLES,
showing in this way a recontextualising of these principles. This recontextualising was
very high and in the opposite direction of the principles of gender equality of the PC and
BLES.
Key-words: Textbooks, Social relations, Principles of gender equality.