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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X AS FALAS E OS SILÊNCIOS DO MANGUE ATRAVÉS DO ARTESANATO: UM ESTUDO DE CASO EM AD DAS MULHERES FATECHAS - PE 2014-2016 Patrícia Araújo dos Reis 1 Maria do Rosário de Fátima Andrade Leitão 2 Resumo: O artigo elaborado se propõe a analisar a produção de discursos de gênero e de poder elaborados durante a interação com a equipe do Projeto Design Sustentável Paulista Criativa (PDSPC) com o grupo feminino de marisqueiras denominado Mulheres Fatechas. O estudo é exploratório e de observação participante. A contextualização se dá durante a execução do Projeto Design Sustentável Paulista Criativa (PDSPC) que ocorre entre outubro de 2014 a Junho de 2015. Um dos objetivos da pesquisa envolve identificar nas falas das artesãs do Projeto Design Sustentável Paulista Criativa a formação discursiva, as condições de produção de discurso e interdiscurso nas falas das marisqueiras-artesãs, da equipe do projeto citado e da liderança da Colônia Z-2. As autoras deste trabalho em andamento buscam evidenciar desdobramentos de discursos nas áreas de produção de artesanato. Será destacada nas análises de AD, a produção de discurso, a partir da perspectiva da liderança da Colônia Z-2 (masculina), o empoderamento feminino construído na fala do grupo de mulheres envolvidas com a dinâmica da produção artesanal e as reflexões identitárias e de gênero provocadas pela equipe do Projeto já citado. O estudo partirá dos fundamentos teóricos de Foucault, Van Dijk e Orlandi. A análise de dados ocorre por meio de leituras de relatórios do projeto, observação de material fotográfico e consulta à dissertação denominada Com.par.trilhando Caminhos para a Inovação Social. Palavras-chave: Análise de Discurso. Gênero. Artesanato O Projeto Design Sustentável Paulista Criativa (PDSPC) foi idealizado por uma equipe multidisciplinar onde o seu propósito agregou as atividades de consultoria e formação diversificada, buscando a consolidação do grupo produtivo de mulheres marisqueiras que realizavam produções artesanais com técnicas básicas desta atividade com certas limitações de autogerenciamento de matérias primas, planejamento de recursos, manejo específico de ferramentas, existência de um precário relacionamento com o potencial público consumidor e o mercado de artesanato local e não- local. Até o início da execução do citado projeto, era inexistente a prática de gestão de negócios voltada ao artesanato ou alguma diretriz ou posição de liderança para a organização desta atividade, além das atividades extrativistas relacionadas à pesca de no mangue 3 . Desse modo, as Mulheres Fatechas 4 de Paulista, surge como coletivo produtivo formado a partir da realização do Projeto 1 Mestranda em Extensão Rural e Desenvolvimento Local na Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil. 2 Professora Titular da Universidade Federal Rural de Pernambuco atua na Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local, em Recife, Pernambuco, Brasil.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

AS FALAS E OS SILÊNCIOS DO MANGUE ATRAVÉS DO ARTESANATO: UM ESTUDO

DE CASO EM AD DAS MULHERES FATECHAS - PE 2014-2016

Patrícia Araújo dos Reis 1

Maria do Rosário de Fátima Andrade Leitão 2

Resumo: O artigo elaborado se propõe a analisar a produção de discursos de gênero e de poder

elaborados durante a interação com a equipe do Projeto Design Sustentável Paulista Criativa

(PDSPC) com o grupo feminino de marisqueiras denominado Mulheres Fatechas. O estudo é

exploratório e de observação participante. A contextualização se dá durante a execução do Projeto

Design Sustentável Paulista Criativa (PDSPC) que ocorre entre outubro de 2014 a Junho de 2015.

Um dos objetivos da pesquisa envolve identificar nas falas das artesãs do Projeto Design

Sustentável Paulista Criativa a formação discursiva, as condições de produção de discurso e

interdiscurso nas falas das marisqueiras-artesãs, da equipe do projeto citado e da liderança da

Colônia Z-2. As autoras deste trabalho em andamento buscam evidenciar desdobramentos de

discursos nas áreas de produção de artesanato. Será destacada nas análises de AD, a produção de

discurso, a partir da perspectiva da liderança da Colônia Z-2 (masculina), o empoderamento

feminino construído na fala do grupo de mulheres envolvidas com a dinâmica da produção artesanal

e as reflexões identitárias e de gênero provocadas pela equipe do Projeto já citado. O estudo partirá

dos fundamentos teóricos de Foucault, Van Dijk e Orlandi. A análise de dados ocorre por meio de

leituras de relatórios do projeto, observação de material fotográfico e consulta à dissertação

denominada Com.par.trilhando Caminhos para a Inovação Social.

Palavras-chave: Análise de Discurso. Gênero. Artesanato

O Projeto Design Sustentável Paulista Criativa (PDSPC) foi idealizado por uma equipe

multidisciplinar onde o seu propósito agregou as atividades de consultoria e formação diversificada,

buscando a consolidação do grupo produtivo de mulheres marisqueiras que realizavam produções

artesanais com técnicas básicas desta atividade com certas limitações de autogerenciamento de

matérias primas, planejamento de recursos, manejo específico de ferramentas, existência de um

precário relacionamento com o potencial público consumidor e o mercado de artesanato local e não-

local. Até o início da execução do citado projeto, era inexistente a prática de gestão de negócios

voltada ao artesanato ou alguma diretriz ou posição de liderança para a organização desta atividade,

além das atividades extrativistas relacionadas à pesca de no mangue3. Desse modo, as Mulheres

Fatechas4 de Paulista, surge como coletivo produtivo formado a partir da realização do Projeto

1 Mestranda em Extensão Rural e Desenvolvimento Local na Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife,

Pernambuco, Brasil. 2 Professora Titular da Universidade Federal Rural de Pernambuco atua na Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento

Local, em Recife, Pernambuco, Brasil.

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Design Sustentável Paulista Criativa e apoiado pelo edital das Lojas Renner voltado para o

empreendedorismo feminino. O citado projeto foi executado de outubro de 2014 a junho de 2015. O

grupo por sua vez ainda se encontra no processo de construção de autonomia de gestão (2016 a

2017), onde o grupo de Mulheres Fatechas recebeu assessoramento por sete meses com capacitação

nas áreas de design, administração e economia criativa (entre 2014 e 2015).

O conteúdo das aulas relacionadas à economia criativa e gestão de grupo, por exemplo, tinha

por uma das metas despertar entre as alunas o protagonismo feminino aliado à capacidade criativa

do grupo destas mulheres envolvidas. No entanto, ao longo do processo de discussões sobre as

temáticas como empreendedorismo feminino e assuntos relacionados a gênero e poder, a

facilitadora e a equipe envolvida perceberam um movimento de introspecção e de omissão por parte

de alguns participantes (tínhamos um pescador no grupo). Contudo, este movimento “contrário” era

advindo de uma parte do grupo de alunas as quais não expressavam opiniões sobre as temáticas

planejadas e dispostas nos planos de aula. Existiu uma dissidência silenciosa entre os participantes,

os quais alguns apenas observavam as outras colegas que se expressavam com ousadia e

entusiasmo. Assim, no desdobramento da execução das atividades de gestão de grupo é que

surgiram os questionamentos que dialogam com a importância de se observar os discursos

internalizados ou expressos por cada sujeito envolvido nesta trajetória de vivências que refletiu por

muitas vezes expressões de pensamentos ou opiniões silenciadas ou disputas ideológicas de poder

endógenas ou discursos com base dialogal, construtivista e libertário vindos de ambientes externos

ao coletivo (equipe do projeto e parceiros).

Desta forma, a autora participante da equipe executora do projeto, identifica a necessidade

de analisar os discursos presentes no processo da execução do projeto e os que ainda estão presentes

(2016 a 2017) e que ainda hoje circundam ainda o grupo de mulheres que por medo da liderança da

Colônia de Pescadores, não mais adotam o nome Mulheres Fatechas (identidade construída

coletivamente) não agregando à produção atual, “silenciando” o conceito elaborado pelo trabalho

coletivo, democrático e discutido entre a equipe e as marisqueiras envolvidas no processo criativo.

Houve de certa forma uma ruptura significativa, mas positiva de posicionamento do grupo feminino

envolvido frente à realidade que até então era comum, aceita, mas velada. Os questionamentos

sobre a realidade de subjugação era inexistente. A inclusão de outras ideologias, através de

intradiscursos verticalizados (contextuais) que eram advindas de outras lideranças ou de outros

sujeitos, provocaram um desconforto e paralisia no processo de manipulação aplicado pelo

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interdiscurso horizontalizado (histórico e de memória coletiva), através do poder exercido pela

liderança masculina autoritária e não dialogal para a qual existia apenas a submissão sem

contestações ideológicas com posturas protagonizadas pelos sujeitos da colônia. Ou seja, o presente

estudo se propõe a realizar leituras sobre os discursos internalizados na produção artesanal destas

mulheres marisqueiras que se tornam artistas-artesãs e em diálogo constante com o local em que

vivem e os enfrentamentos que surgem (ou já existiam potencialmente) no ambiente familiar, na

Colônia de Pescadores, entre as colaboradoras/alunas e a sua relação com a equipe do projeto.

Metodologia

Através da análise dos relatórios do projeto e do material fotográfico e de divulgação, as

autoras buscam evidenciar desdobramentos de discursos nas áreas de produção de artesanato e o

que os mesmos remetem através da produção artesanal destas mulheres. Será destacada nas

análises de AD, a produção de discurso, a partir da perspectiva da liderança da Colônia Z-2

(masculina), o empoderamento construído no discurso do grupo de mulheres envolvidas com a

dinâmica da produção artesanal e as reflexões identitárias e de gênero provocadas pela equipe

do Projeto já citado. A partir do exposto, a pesquisadora irá dispor de questionamentos sobre a

condição feminina frente aos processos reprodutivos e produtivos e como se expressam e o que

pretendem dizer nas formas e produtos obtidos a partir de reflexões advindas de um grupo

externo (equipe do Projeto) atrelado às novas matrizes de repertórios e a redescoberta de

símbolos locais do imaginário coletivo. Ou seja, a partir da criação de peças artesanais e da

realização de releituras do patrimônio histórico e cultural do município de Paulista (estudo

iconográfico), pode existir a partir do processo criativo o estímulo à criação de peças artesanais

que expressem a sua própria realidade e a identidade individual e coletiva de cada envolvido. A

pesquisa, portanto, busca respostas sobre as possibilidades de uma linguagem cultural e

produtiva que reúne em seu arcabouço e desdobramentos discursos de resistência e de

apropriação positiva sobre a essência e funcionalidade das formar de ser, saber e fazer.

A produção acadêmica de Flávia Lira Pereira Wanderley que também compôs a equipe do

projeto, focando em sua dissertação a perspectiva antropológica do Coletivo Mulheres Fatechas será

também analisada, visto que existe uma construção epistemológica e empírica com o processo da

produção artesanal e a natureza, a partir do olhar da inovação social do design. São considerados

pela autora a importância de dimensionar o processo criativo, através da subjetivação, onde os

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sujeitos envolvidos possam expor o que realmente pensam e refletem. Sendo que através de

instrumentos que possam validar a sua memória herdada, suas significações e posturas diversas

sobre discursos impostos e manipulados pelo outro e que podem inibir a criatividade pessoal e a

produtividade coletiva, sendo que no caso específico do Coletivo Mulheres Fatechas, Flávia Lira

Pereira Wanderley (2016) comenta que em:

“Em Foucault, os processos de subjetivação estão ligados às construções do sujeito em sua relação com o mundo numa

dimensão temporal e corpórea, ou seja, a constante transformação do corpo [orgânico, inorgânico, material, imaterial]

que vai ao encontro das coisas [artefatos, ideias, sensações etc] do mundo. Subjetivação pode ser entendida como

‘práticas refletidas e voluntárias através das quais os homens não somente se fixam regras de conduta, como também

procuram se transformar, modificar-se em seu ser singular e fazer de sua vida uma obra” (FOUCAULT , 2006, apud

LIRA, 2016, p.77).

Nesta ótica a produção artesanal pode vir a ressignificar os modos de fazer do coletivo,

onde a fala e o silêncio ganham forma nas produções reprodutivas e produtivas do sujeito que é

feminino, mas que representa discursos variados e reflexivos sobre sua condição social, cultural

e econômica, através do processo criativo dialogado com a memória coletiva do local em que

vivem: Paulista. A partir do diálogo com a natureza, com os parceiros potencializados no

processo (Prefeitura de Paulista e Secretaria da Mulher do Estado de Pernambuco) e com os

elementos considerados adversários ao novo processo em construção: a criticidade, o desafio de

enfrentamento com novas possibilidades de conhecimentos e repertórios e a legitimidade de se

estar no mundo para transformá-lo. Desse modo, são consideradas as relações de força e de

submissão atreladas às posturas individuais e coletivas do grupo em formação e de construções

de símbolos e de sentidos. O processo criativo e de produção artesanal desenvolvido pelo

(PDSPC) representa neste estudo uma referência singular importante para a análise das

identidades das marisqueiras-artesãs e da equipe multidisciplinar envolvida que possui no

processo protagonismo e resistência. Desta forma, foi analisada a trajetória do discurso não

formalizado e formalizado em documentos nos marcos regulatórios ou legais e nas peças

publicitárias elaboradas pela equipe. Entretanto, as falas expressas na dinâmica da criatividade

do grupo de onde se fala (o lugar) e a intervenção direta ou indireta na a natureza dos atos ( a

posição), posturas e estratégias de resistência materializadas podem comunicar através das

peças artesanais os possíveis discursos interiorizados, escondidos ou manipulados pelo

interdiscurso da história da pesca artesanal, do município de Paulista , das Políticas Públicas

voltadas às atividades pesqueiras e de ações que envolvem a o exercício da cidadania por estes

sujeitos.

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O perfil das mulheres marisqueiras e esposas de pescadores da Colônia Z-2 de

Paulista

A partir do levantamento de dados realizado pela equipe do Projeto, constatou-se que a

maioria das mulheres marisqueiras e mulheres de pescadores integradas ao projeto possuem entre

40 e 60 anos, sendo 5% brancas, 10% negras e 85% pardas. A escolaridade deste grupo permeia a

realização de estudos até a quarta série do Ensino Fundamental, e apenas 1% com Ensino Médio

completo. Entre os anos 2014 e 2016, a receita média mensal é de R$ 200,00, somando com os

benefícios sociais recebidos pelas famílias e a venda dos mariscos. Estas mulheres dos pescadores e

marisqueiras também sofrem nos períodos de baixa da pesca, e assim como seus maridos, precisam

buscar alternativas para ganhar o sustento de suas famílias, cuja renda familiar não ultrapassa dois

salários mínimos. A renda destas famílias é complementada pelos benefícios de Programas Federais

de Assistência Social, como a Bolsa Família ou aposentadoria por invalidez (ocasionada pela

insalubridade da prática da atividade de mariscagem) para algumas. Percebe-se que nas falas das

marisqueiras existe uma constante busca de justificativas de sua condição social e econômica. É

quando o discurso reflete o sujeito falante e sua realidade, segundo Orlandi (2005). Pode-se validar

a importância da utilização da AD nas análises de formação de discurso e de sua produção e

repetição no intradiscurso dos sujeitos analisados, a partir da perspectiva da (s) liderança(s) da

Colônia Z-2 (masculina), do empoderamento feminino e de suas limitações para que seja efetivado

o processo de protagonismo seja familiar, na colônia de pescadores ou no mercado de trabalho. .

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Quando as Marisqueiras se tornam Fatechas: processo criativo e produtivo

O reencontro com a âncora artesanal citada pelo “pescador C” no workshop ambiental

realizado em uma das etapas do projeto que tinha por meta visitar o mangue e refletir sobre a

vivência dele (as) e a relação de troca com a natureza, suscitou nas marisqueiras a ideia de serem

fortes e unidas. Logo, o coletivo opta pelo símbolo composto em sua materialidade por pedra sabão

(encontrada em abundância nos manguezais), corda e madeira. Ao decorrer das aulas, as

denominadas fatechas iniciam a sua produção artesanal com atividades de exposição e mostras de

produtos com vendas diretas. É lançada uma coleção possuidora de três linhas: souvenir,

utilitário/decorativo e acessório de moda. E assim, as falas a partir de lugares e de posições do

coletivo começam a mudar e criar espaços de disputas de poder, de reflexão e de autoafirmação. O

grupo de aproximadamente 29 mulheres se divide entre as que acreditam no potencial do projeto e

aquelas que não se dispõem a colaborar com as atividades, seguindo os conselhos da liderança da

Colônia que ao perceber os resultados positivos e abrangentes do projeto, ora se torna colaborador

para se autopromover e ora se dispõe a “sabotar” os processos de interlocução e divulgação da

equipe do projeto frente às oportunidades de parcerias e de vendas (difusão e vendas das linhas de

produção).

A equipe percebe que ao decorrer do percurso se torna necessária a manutenção de ações

pontuais para legitimar e fortalecer o grupo em seus processos de consolidação como Mulheres

Fatechas, como por exemplo: atividades que possam aprofundar de técnicas de produção, vendas e

formatos de promoções, manuseio de ferramentas para montagem e acabamento das peças

concebidas e na pesquisa, concepção e experimentação de outros produtos. Mas, é na aplicação da

abordagem dialogada e compartilhada advinda da compreensão da representação do simbólico, do

saber da oralidade, do repertório sobre o local em que vivem e a escolha de matérias primas

renovável o coletivo pode significar e ressignificar os seus valores pessoais e históricos. Desse

modo, a oportunidade de produzir com responsabilidade social e ambiental com sustentabilidade

para o grupo propõe maturidade ao coletivo, propiciando ideias de rede não só de pesca artesanal,

mas de colaboração com outras entidades ou associações com os mesmos propósitos.

O papel conjunto com as designers do projeto possibilitou o trabalho de reconhecimento das

matérias primas como quenga de coco, capim barba de bode, mariscos e escamas de peixe e suas

diversas aplicações no processo criativo do grupo. E durante a produção, as fatechas perceberam

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alternativas de sustentabilidade ao que se refere aos insumos utilizados na produção artesanal para

aumentar o processo de escolhas e manter reservas de matérias primas. Isto porque com a

compreensão anterior da iconografia, do patrimônio cultural e do território das Mulheres Fatechas

do Paulista, etapas propostas no planejamento do projeto executado, houve a necessidade da

imersão deste grupo de mulheres em suas referências simbólicas e identitárias reconhecidas,

reinventadas e revisitadas na memória coletiva destas mulheres.

Ainda discorrendo sobre a abrangência do projeto, visualiza-se no planejamento deste a

realização de oficinas voltadas para a experimentação de novas técnicas de produção de artesanato

com inovação e produção de sentidos, a partir de vivências coletivas e de intercâmbio com outros

coletivos produtivos, incluindo a realização de oficinas design dos produtos, gestão da produção e

comercialização (técnicas de vendas e armazenamento), com foco no empreendedorismo feminino e

criativo, de forma associativa. Este último ponto que envolve a colaboratividade e agrega as

diferenças para o bem comum, suscitou no grupo diversos debates que tornaram o coletivo mais

dinamizador, espontâneo e proativo nas ações propostas pelas facilitadoras. Contudo, ao longo do

desenvolvimento do PDSPC surgiram duas oportunidades de fechamento de bons negócios e de

difusão positiva com informações relevantes sobre o conceito e processo criativo das Mulheres

Fatechas: a participação delas na XVI FENEART – Feira Nacional de Artesanato:

https://www.facebook.com/fenearte , a maior feira de artesanato na América Latina, no stand

institucional da Secretaria de Mulher de Pernambuco- Centro de Convenções de Pernambuco,

juntamente com mais quinze associações de artesãs e uma exposição com comercialização que

apresentou um lucro significativo realizada em um hotel do Trade Turístico do município de

Paulista. Entretanto, a partir desta fase de distribuição de renda do lucro de vendas e da autonomia

do processo de gestão financeira é que surgem os primeiros conflitos e disputas de poder sobre o

protagonismo feminino das mulheres e a condução da gestão financeira do grupo. A equipe do

projeto se posicionou a princípio de forma conciliativa e dialogada com a liderança que possuía

postura coercitiva e discurso autoritário. Porém, o grupo multidisciplinar em todos os momentos

conflituosos precisou intervir através de diálogos com mediações, precisando por fim de se

posicionar junto às entidades públicas e parcerias envolvidas.

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Controle do Discurso na Perspectiva de Foucault e Princípios do Discurso a partir de

Orlandi

Orlandi (2005) nos leva a observar o quanto o sujeito político não é neutro diante de

signos ou códigos expostos no seu cotidiano, pois quando estimulado, os sentidos e a

consciência o tornam um ser atuante e apto a reivindicar de maneira intrínseca à sua própria

história de vida (intradiscurso) e contextualizar a realidade em marcos histórica mais

abrangente, relacionando seu cotidiano atual com outros formatos de rotinas ou costumes

anteriores e existentes à sua vivência atual (interdiscurso). As Mulheres Fatechas durante sete

meses de participação no projeto puderam perceber o quanto a linguagem e a ideologia

(anteriores à sua formação como coletivo) podem dialogar ou discordar com o poder

estabelecido.

As interpretações de realidade surgem e brotam independentes da formação do indivíduo,

pois este já existe no meio da linguagem pré-codificada por outros indivíduos. Sobre este aspecto,

Orlandi (2005, p.10) nos fala que “[...] Ao falar, interpretamos. Mas, ao mesmo tempo, os sentidos

parecem estar lá”. Contudo, percebemos que nas falas das mulheres do citado coletivo de artesanato

Mulheres Fatechas, podem surgir questionamentos sobre temáticas relacionadas aos direitos

adquiridos, mas ainda não exercidos pela maior parte do grupo. Isto reflete outro ponto sobre a

observação da metodologia participativa que permite ao grupo refletir sobre o acesso e o pleno

exercício de cidadania do grupo analisado. Constata-se que a institucionalização dos direitos e

deveres (Colônia e Pescadores ou órgãos públicos) possuem regimentos, guias ou roteiros prévios

de como discursar para adquirir e manter os contratos sociais (documentos ou marcos legais) que

permitem a garantia à moradia, à alimentação, à aposentadoria, à saúde, entre outras necessidades

básicas para se viver em sociedade.

Sendo assim, o grupo observado se equipara com o corpo social que interpreta estas

necessidades de possuir e exercer a sua própria identidade. E para existir na sociedade da linguagem

e de códigos estabelecidos anteriormente (interdiscurso) é preciso seguir “rituais” de cidadania para

que sua própria existência possa ser garantida e legitimada. Sendo assim, complementa-nos Orlandi

(2005) “ Os sentidos estão sempre ‘administrados’, não estão soltos”. Podemos relacionar a esta

assertiva, por exemplo, à burocratização e exigências para que se efetive a legalização da profissão

e a garantia de direitos previdenciários a serem garantidos a esta classe produtiva e a escolha

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conflituosa entre se declarar pescadora ou artesã para não perder as garantias ou seguros

assistenciais.

Ou seja, o grupo feminino de pescadoras e marisqueiras sentem a pressão social que se

torna institucionalizada de práticas anteriores ao seu próprio nascimento, pois o mesmo coletivo já

pertenceu e herda o contexto histórico de sua ancestralidade (Interdiscurso). Ou seja, a linguagem

que forma o sentido e que rege os seus cotidianos sempre existiu, assim como a história de outros

sujeitos envolvidos com a atividade pesqueira , entre outras práticas econômicas e sociais. Desta

forma, todos estão submetidos à formação social e às formas de controle de interpretação, ambas

historicamente determinadas. (ORLANDI, 2005).

As falas identificadas nos relatórios do projeto avaliado apresentam ao mesmo tempo uma

unidade silenciosa revolucionária e de construção do protagonismo feminino e uma fragmentação

discursiva omitida muitas vezes pelo medo, pela desinformação e insegurança frente aos modelos

conservadores de exercício do poder, a partir de posturas patriarcais da liderança da Colônia Z-2.

Isto porque é pela linguagem que os discursos formulados pelos sujeitos das instituições promovem

em parte, a negação da fala e do seu sentido a partir da invisibilidade das classes sociais menos

providas do poder econômico ou ao acesso interpretativo de conceitos que levariam à reflexões

sobre direitos e deveres.

A simbologia da linguagem do presente grupo e de sua relação com a natureza é latente,

contudo, a conscientização sobre a contingência sofrida pelo coletivo precisa ser legitimada pela

linguagem politicamente atuante e produtora de sentido. Existe a reprodução simbólica nos

discursos sobre as necessidades e indignação frente à violência, ao alcoolismo dos companheiros ou

vizinhos, à reação colérica por parte das colonas frente à fome enfrentada. Porém, o presente

discurso precisa da mediação necessária entre esta representação social coletiva e a realidade

natural e social na qual a mesma se encontra inserida. (ORLANDI, 2005).

E segundo Foucault e seus princípios (1987), a transformação da realidade de qualquer

grupo social, através do exercício da linguagem como produtora de sentidos depende da

permanência, da continuidade e do deslocamento de seus discursos (interdiscursos ou

intradiscursos) no contexto social. As marisqueiras artesãs da Colônia de Paulista buscam por

direitos coletivos externos, mas também refletem sobre o quanto na intimidade de seu grupo

existem diversas disparidades e fragilidades que ora culpam o estado de escassez ou falta de

trabalho, ora a falta de fé ou até mesmo o conformismo sobre sua má condição de vida em muito

dos discursos apresentados pelos relatórios pedagógicos e de produção do projeto, bem como, na

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observação da pesquisadora que fez parte da equipe principal do projeto. Contudo, o repertório

discutido durante as sessões possibilitava ao coletivo observado a presença de posturas diante

temáticas que suscitavam questionamentos sobre a condição de ser coletivo, do universo feminino e

atuante na sociedade. As reflexões suscitavam discursos omissos e não falados sobre questões que

inquietavam e reproduziam ideologias presentes durante séculos na história local e nacional, mesmo

estando o grupo localizado no município de Paulista, possuidor de um polo industrial representativo

na economia do estado de Pernambuco.

Percebe-se ainda que em pleno século XXI, a materialização de um projeto e de seus

resultados pode incomodar a hegemonia patriarcal de uma liderança, explorando e submetendo as

rotinas e fragilidades de comunidades tradicionais, as quais possuem repertório histórico próprio e

atrelado à sua condição (de gênero, social e econômica), às práticas de políticas públicas ou

iniciativas inovadoras aos seus próprios interesses pessoais e políticos. As marisqueiras e suas

famílias sentem seja na produção de sentidos de mensagens de alerta, na busca por sua

sobrevivência no mangue, ou seja, na produção de peças decorativas a urgência de emitirem

códigos que os tornam mais cidadãs e legitimados por outros grupos sociais que regem os contratos

que liberam documentos, aprovam leis ou aposentam as marisqueiras ou pescadoras que são

também “chefes de família”, que criam seus filhos e netos à margem do mar e da sociedade

institucionalizada.

Sendo assim, onde encontramos este grupo de mulheres reais e de homens legítimos que

estão na história, mas não produzem sua própria história segundo Orlandi (2005, p.19 ) “ a Análise

de Discurso pressupõe o legado do materialismo histórico, isto é, o de que há um real da história de

tal forma que o homem faz história mas esta também lhe é transparente”. Percebe-se que o coletivo

feminino da Colônia Z-2 possui um discurso que revela o inconsciente do grupo, no entanto este

não possui uma organização ideológica ou convenção codificada sobre as temáticas, pois falam de

violência doméstica e aparentemente desconhecem discussões de gênero e não se percebem em

contextos machistas reproduzidos há muito por seus antepassados. Sendo assim, Orlandi (2005, p.

20) nos comenta que “o sujeito discursivo funciona pelo inconsciente e pela ideologia”. Assim

podemos afirmar que a ideologia hegemônica se sobrepõe pelo poder da linguagem e pela produção

de sentido que convence o grupo social que não reflete sobre as desigualdades sofridas por ele.

Orlandi (2005, p. 21) afirma que “a linguagem serve para comunicar e para não comunicar”.

Sendo assim, os membros da Colônia Z-2 de Paulista precisaram de mediações para que esta

relação comunicacional fosse restabelecida pela ótica da partilha horizontalizada e não pelo poder

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verticalizado e patriarcalizado historicamente, tendo em vista que “as relações de sujeitos e de

sentidos e seus efeitos são múltiplos e variados” (ORLANDI, 2005, p. 21). A equipe realizadora do

projeto proporciona a produção de sentidos, a partir do estímulo à reflexão de algo que já existia,

contextualizando a história, as necessidades e a luta por direitos do grupo observado. Confirmando

o que diz Orlandi que “o discurso é o efeito de sentido entre locutores” (2005, p.21 ).

Vale lembrar que discurso não se assemelha à fala no entendimento de linguística, pois o

discurso é recorrente ao fato histórico e com ausência de sistemática, sendo assim para Orlandi

(2005, p.22 ), “a língua é condição de possibilidade do discurso”.

Conclusões

Conclui-se então, que os discursos das marisqueiras e artesãs apresentam inconstância,

dúvidas e inseguranças sobre o que já foi constituído (marcos legais) por representatividades da

cidadania (órgãos públicos) e que por muitas vezes culpam a ausência de comprometimento das

autoridades ao não merecimento dos benefícios que lhes são aptos ou falta de fé suficiente no

sagrado (teocracia) e até mesmo na sua representatividade de classe (Colônia Z-2).

A formação discursiva destes sujeitos sociais depende das situações (ferramentas, espaço

social, códigos de linguagens e estímulos) e da memória coletiva para a produção de discurso que

por sua vez consegue relacionar nas suas narrativas as referências simbólicas da fome, violência,

abandono, doença e identidade, a partir de atividades produtivas e reprodutivas deste grupo.

A permissão para que o coletivo se expresse pode ser perigosa dependendo do lugar e

posição da fala do sujeito subalterno. É quando o coletivo enfrenta a realidade percebida e

diagnosticada por ele na concepção de uma peça artesanal, sendo que esta pode vir a ser

instrumento lúdico, mas denunciativo mesmo servindo de objetos de decoração ou de uso pessoal

estético. O reconhecimento da mensagem intrínseca na peça produzida pelo coletivo pode transmitir

discursos e silêncios e podem também pela contextualização histórica e social, denunciar realidades.

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Referências

FOUCAULT, Michel. El orden del discurso. 3ª Edição. Barcelona: Tusquets. 1987.

LEITÃO, Maria do Rosário de Fátima Andrade (org.). Pesca, turismo e meio ambiente/ 1 ed.

Recife: EDUFRPE,2014.

LEITÃO E CRUZ, Maria do Rosário de Fátima Andrade e Maria Helena Santana. Gênero e

Trabalho: diversidade de experiências em educação e comunidades tradicionais. Florianópolis : Ed.

Mulheres, 2012.

ORLANDI, E. P. 2005. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes. 2005.

Speeches and silences of Mangue through Craft: a case study in AD Women Fatechas -PE

2014-2016

Abstract: The elaborated article proposes to analyze the production of gender and power

discourses elaborated during the interaction with the Creative Design Paulista Creative Team

(PDSPC) with the female group of shellfish women called Fatechas. The study is exploratory

and participant observation. The contextualization takes place during the execution of the

Sustainable Paulista Creative Design Project (PDSPC) that takes place between October 2014

and June 2015. One of the objectives of the research involves identifying in the statements of

the Artisans of Sustainable Sustainable Paulista Creative Design the discursive formation, the

conditions Of speech production and interdiscourse in the statements of the shellfish-artisans,

the project team quoted and the leadership of the Z-2 Colony. The authors of this work in

progress seek to evidence unfolding of discourses in the areas of handicraft production. It will

be highlighted in the analyzes of AD, the production of discourse, from the perspective of the

leadership of the Z-2 (male) colony, the feminine empowerment built up in the speech of the

group of women involved with the dynamics of craft production and the reflections of identity

and Genre brought about by the Project team already quoted. The study will start from the

theoretical foundations of Foucault and Orlandi. Data analysis takes place through readings of

project reports, observation of photographic material and consultation of the dissertation called

Com.par.tracking Pathways to Social Innovation.

Keywords: Discourse Analysis, Gender, Crafts