artigo geo sócio ambiental

21
  113 Geografia socioambiental Francisco Mendonça Professor Titular do Departamento de Geografia e do Programa de Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Federal do Paraná. Correio eletrônico: [email protected] Resumo A geografia, desde o estabelecimento de sua condição de ciência moderna, tem no ambientalismo uma de suas principais característ icas. Ele reflete a riqueza da dualidade do conhecimento geográfico. A concepção de ambiente, todavia, mudou bastante ao longo do último século, pois inseriu marcos importantíssimos dos distintos momentos históricos da modernidade. Até meados do século XX a geografia, e também as outras ciências e a sociedade em geral, concebiam o ambiente exclusivamente do ponto de vista naturalista. Nos últimos quarenta anos a noção de ambiente tem inserido, paula- tinamente, a dimensão social, pois a crise ambiental contemporânea não pode mais ser compreendida e nem resolvida segundo perspectivas que dissociam sociedade e natu- reza. Neste contexto, a problemática ambiental que caracteriza o momento presente levou a geografia a rever suas concepções, o que resultou na busca e na formulação de novas bases teórico-metodológicas para a abordagem do meio ambiente. O envolvi- mento da sociedade e da natureza nos estudos emanados de problemáticas ambientais, nos quais o natural e o social são concebidos como elementos de um mesmo processo, resultou na construção de uma nova corrente do pensamento geográfico aqui denomi- nada geografia socioambiental. Palavras-chave Geografia – ambiente – Geografia ecológica – Geografia socioambiental. Terra Livre São Paulo n. 16 p. 139-158 1 o  semestre/2001

Upload: melo31

Post on 03-Nov-2015

14 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Neste artigo o Prof Dr Francisco Mendonça apresenta o conceito "socioambiental".Dans cet article, Prof Dr Francisco Mendonca présente le concept de «l'environnement».

TRANSCRIPT

  • 113

    Geografia socioambiental

    Francisco MendonaProfessor Titular do Departamento de Geografia e do Programa de Doutoradoem Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Federal do Paran.

    Correio eletrnico: [email protected]

    ResumoA geografia, desde o estabelecimento de sua condio de cincia moderna, tem noambientalismo uma de suas principais caractersticas. Ele reflete a riqueza da dualidadedo conhecimento geogrfico. A concepo de ambiente, todavia, mudou bastante aolongo do ltimo sculo, pois inseriu marcos importantssimos dos distintos momentoshistricos da modernidade. At meados do sculo XX a geografia, e tambm as outrascincias e a sociedade em geral, concebiam o ambiente exclusivamente do ponto devista naturalista. Nos ltimos quarenta anos a noo de ambiente tem inserido, paula-tinamente, a dimenso social, pois a crise ambiental contempornea no pode mais sercompreendida e nem resolvida segundo perspectivas que dissociam sociedade e natu-reza. Neste contexto, a problemtica ambiental que caracteriza o momento presentelevou a geografia a rever suas concepes, o que resultou na busca e na formulao denovas bases terico-metodolgicas para a abordagem do meio ambiente. O envolvi-mento da sociedade e da natureza nos estudos emanados de problemticas ambientais,nos quais o natural e o social so concebidos como elementos de um mesmo processo,resultou na construo de uma nova corrente do pensamento geogrfico aqui denomi-nada geografia socioambiental.

    Palavras-chaveGeografia ambiente Geografia ecolgica Geografia socioambiental.

    Terra Livre So Paulo n. 16 p. 139-158 1o semestre/2001

  • FRANCISCO MENDONA

    114

    A crise ambiental no crise ecolgica, mas crise da razo. Os problemas ambi-entais so, fundamentalmente, problemas do conhecimento. Da podem ser deriva-

    das fortes implicaes para toda e qualquer poltica ambiental que deve passarpor uma poltica do conhecimento , e tambm para a educao. Apreender a com-

    plexidade ambiental no constitui um problema de aprendizagens do meio, e simde compreenso do conhecimento sobre o meio.

    (Leff, 2001, p. 217)

    Introduo

    Cenrio de intensa crise e de profundas mudanas, a mais profunda crise da humani-dade (Monteiro, 1988) e de civilizao (Hobsbawn, 1995), o final do sculo XX e inciodo XXI desafia a sociedade em geral a encontrar novos rumos para a construo do pre-sente e do futuro. Aos intelectuais e cientistas demanda, de maneira geral, um repensar aontologia e a epistemologia da cincia a partir do questionamento dos paradigmas quesustentam a produo do conhecimento na modernidade. Aos gegrafos, de maneira par-ticular, impe um profundo questionamento relativo ao estatuto da geografia contempor-nea diante das novas dimenses do espao e dos graves problemas sociais que se materi-alizam na superfcie terrestre.

    O presente texto foi elaborado buscando delinear especificidades da cincia geogr-fica dentro do cenrio de crises e mudanas contemporneo, (...) um mundo confuso,de geografias confusas (...), conforme Monteiro (1988, p. 128), e ao mesmo tempocontribuir para o aprofundamento da discusso acerca da epistemologia da geografia eapontar caminhos para o seu desenvolvimento.

    A opo pelo tema central da anlise aqui transcrita geografia e meio ambiente resulta tanto de uma reflexo construda ao longo dos ltimos vinte anos a partir de leitu-ras, debates e experincia profissional como de inquietaes decorrentes da crescenteimerso de numerosos gegrafos em atividades tcnicas e de ensino relacionadas aos pro-blemas ambientais do momento. Diferentes reflexes e prticas observadas evidenciarama necessidade do exerccio terico na perspectiva de identificar e ressaltar a histria e ascaractersticas principais de um segmento que, no mbito da geografia, parece indicar, nopresente, a constituio de uma abordagem diferenciada (uma corrente? uma linha depensamento?) dentro dessa cincia.

    O tema muito importante no momento histrico contemporneo, mesmo estandocertos de que a origem da crise ecolgica remonta em muito modernidade, como bemdemonstrou White Jr. (1968), e toma relevncia medida que se concebe que

    Um dos aspectos mais destacveis na presente crise histrica aquele advindo do estado decarncia em que o desenvolvimento industrial tecnolgico, guiado pelo direito de veto que o

  • GEOGRAFIA SOCIOAMBIENTAL

    115

    homem se arrogou sobre a natureza, produziu na qualidade ambiental e nos recursos natu-rais. (...) (Monteiro, 1988, p. 134).

    Tratar da problemtica ambiental e de sua abordagem na geografia significa tocar emuma das principais discusses que marcaram o ltimo quarto de sculo (ou mesmo an-tes?!) dos debates de gegrafos, ou seja, a dicotomia ou dualidade entre geografia fsica egeografia humana (Mendona, 1989, 1993 e 1998). ento necessrio adiantar, todavia,que no mbito do presente texto tal abordagem encontra-se atrelada perspectiva dadualidade do conhecimento geogrfico, pois acredita-se que sua maior riqueza est nessacaracterstica (Mendona, 1998), o que ressalta tanto a natureza (...) essencialmentetransdisciplinar (...), e interdisciplinar da geografia como o fato de ser ela (...) um dosltimos locus do naturalismo nas cincias humanas (Moraes, 1994, p. 88) e tambm dohumanismo nas cincias naturais.

    A concepo aqui adotada toma em considerao a convico de que a abordagemgeogrfica do ambiente transcende desgastada discusso da dicotomia geografia fsicaversus geografia humana, pois concebe a unidade do conhecimento geogrfico como re-sultante da interao entre os diferentes elementos e fatores que compem seu objeto deestudo.

    Geografia, ambiente e ambientalismo1

    A geografia um saber, um saber difcil porque integrador do vertical e do hori-zontal, do natural e do social, do aleatrio e do voluntrio, do atual e do histrico e

    sobre a nica interface da qual dispe a humanidade2

    (P. et G. Pinchemel, in Trystram, 1994, p. 473).

    A histria da sociedade humana do ltimo quarto do sculo XX encontra-se forte-mente marcada pelo debate acerca da questo ambiental, fato que repercute de maneiraintegral no escopo do conhecimento geogrfico.

    O sculo XX assistiu lenta transformao da conotao dos termos ambiente eambientalismo; visto que, at meados do mesmo, as discusses relativas a esta temticaainda tinham uma concepo majoritariamente naturalista e cientfica. A evoluo daalterao do conceito de meio ambiente pode ser assim observada nas seguintes palavrasde Bailly et Ferras (1997, p. 115-166):

    1. Parte do contedo deste item foi recentemente encaminhado para publicao sob o ttulo Crise ambiental e movimentoecolgico: Alguns desafios contemporneos Breves notas no Boletim Goiano de Geografia da Universidade Federal deGois, 2001 (no prelo).2. La gographie est un savoir, un savoir difficile parce quintgrateur du vertical et de lhorizontal, du natureal et du social, delalatoire et du volontaire, de l ctuel et de l historique et sur la seule interface dont dispose lhumanit (trad.: Mendona, F.).

  • FRANCISCO MENDONA

    116

    Em 1917, o meio ambiente, para uma planta o resultante de todos os fatores externos queagem sobre ela. Em 1944, para um organismo a soma total efetiva de fatores aos quais umorganismo responde. Em 1964, Harant e Jarry propem O conjunto de fatores biticos(vivos) ou abiticos (fsico-qumico) do hbitat. Em 1971, segundo Ternisien, Conjunto,num momento dado, dos agentes fsicos, qumicos e biolgicos e dos fatores sociais suscet-veis de ter um efeito direto ou indireto, imediato ou a termo, sobre os seres vivos e as ativida-des humanas. E a est a palavra na moda, vtima da inflao jornalstica (...)3 .

    Na evoluo do conceito de meio ambiente (environment, environnement) observa-se o envolvimento crescente das atividades humanas, sobretudo nas quatro ltimas dca-das, mas ele continua fortemente ligado a uma concepo naturalista, sendo que o homemsocialmente organizado parece se constituir mais num fator que num elemento do am-biente. De maneira geral, e observando-se tanto o senso comum como o debate intra eextra-academia, a impresso geral que se tem de que a abordagem do meio ambienteest diretamente relacionada natureza, como se existisse um a priori determinante tra-duzido numa hierarquizao dos elementos componentes do real, onde aqueles atinentesao quadro natural esto hierarquicamente em posio mais importante e sem os quais nohaveria a possibilidade da compreenso ambiental da realidade .

    Entretanto, notrio o fato de que o emprego do termo meio ambiente parece ter setornado incmodo a um segmento dos ambientalistas mais contemporneo, pois, comoevidenciou Porto Gonalves (1989), o fato de a palavra meio tambm significar metade,parte, poro etc. denotaria a idia do tratamento parcial dos problemas ambientais. Mes-mo se esta leitura crtica apresente considervel coerncia etimolgica, no deixa de serlastimvel o fato de os gegrafos pouco terem lutado para explicitar a especificidade e aimportncia do termo meio no que concerne sua significao cientfica, afinal seu em-prego em contexto ambiental constitui-se atualmente numa derivao, ou mesmo numaapropriao geral, do conceito de meio geogrfico. H que se atentar tambm para o fatode que muitos gegrafos consideram o termo ambiente, ou meio ambiente, um quasesinnimo do termo geografia, vendo no emprego de expresses tais como geografiaambiental um reducionismo.

    Este ltimo conceito meio geogrfico, empregado por Albert Demangeon e porElise Reclus no incio do sculo passado inaugurou uma aberta e avanada compreen-so dos diferentes espaos geogrficos do planeta numa perspectiva ambientalistaglobalizante. Todavia, o conceito de meio geogrfico no deve ser concebido como sin-nimo de ambiente, ou de meio ambiente, conforme o emprego e significado atual deste

    3. En 1917, lenvironnement, cest pou une plante the resultant of all the external factors acting upon it. En 1944, pour unorganisme the sum total effective factors to which na organism responds. En 1964, Harant et Jarry proposent Ensemble desfacteurs biotiques (vivants) ou abiotiques (physico-chimique) de lhabitat. En 1971 selon Ternisien: Ensemble, un momentdonn. Des agents physiques, chimiques et biologiques et des facteurs sociaux susceptibles davoir un effet direct ou indirect,immdiat ou terme, sur les tres vivants et les activits humaines. Et voil le mot la mode, em proie linflation journalistique(...). Trad.: Mendona, F.

  • GEOGRAFIA SOCIOAMBIENTAL

    117

    ltimo, pois no se trata mais somente de uma determinada concepo cientfica do objetode estudo da geografia, afinal o momento histrico contemporneo impregnou o conceitoatual de ambiente de considervel complexidade. Assim, a presente concepo geogrficade meio ambiente, portadora de uma herana de tamanha importncia, (re)assegura e aomesmo tempo reflete-se numa outra perspectiva da abordagem ambiental, como afirmouVeyret (1999, p. 6), pois,

    De fato para um gegrafo, a noo de meio ambiente no recobre somente a natureza, aindamenos a fauna e a flora somente. Este termo designa as relaes de interdependncia queexistem entre o homem, as sociedades e os componentes fsicos, qumicos, biticos do meioe integra tambm seus aspectos econmicos, sociais e culturais.

    Ainda que tendo sido ampliado e se tornado mais abrangente, o termo meio ambien-te, ou ambiente (estes sim podendo ser tomados como sinnimos), parece no conseguirdesprender-se de uma gnese e uma histria fortemente marcadas por princpios natura-listas, o que leva a crer que tenha sido gerada uma concepo cultural do meio ambienteque exclui a sociedade da condio de componente/sujeito, mas a inclui como agente/fator. Inserir na abordagem ambiental a perspectiva humana portanto social, econmica,poltica e cultural parece ser um desafio para toda uma gerao de intelectuais, cientistase ambientalistas que se encontram vinculados a tais discusses no presente, e certamentetambm no futuro prximo.

    Observa-se assim, na atualidade, diante de to importante desafio, uma forte tendn-cia utilizao, de forma ampla, do termo socioambiental, pois tornou-se muito difcil einsuficiente falar de meio ambiente somente do ponto de vista da natureza quando sepensa na problemtica interao sociedade-natureza do presente, sobretudo no que concernea pases em estgio de desenvolvimento complexo (Mendona, 1993). O termo scioaparece, ento, atrelado ao termo ambiental para enfatizar o necessrio envolvimentoda sociedade enquanto sujeito, elemento, parte fundamental dos processos relativos pro-blemtica ambiental contempornea.

    Esta evoluo conceitual teve na realizao da Conferncia das Naes Unidas parao Desenvolvimento e Meio Ambiente, tambm denominada Rio-ECO/92, um de seusprincipais marcos. Os debates travados naquele evento, ou por ocasio dele, resultaram,entre outras coisas, em mudanas de concepes relativas ao meio ambiente, pois engen-draram novos elementos que resultaram em novas maneiras de se conceber os problemasambientais (Mendona, 1993). A importncia atribuda dimenso social desses proble-mas possibilitou o emprego da terminologia socioambiental, e este termo no explicitasomente a perspectiva de enfatizar o envolvimento da sociedade como elemento proces-sual, mas tambm decorrente da busca de cientistas naturais por preceitos filosficos eda cincia social para compreender a realidade numa abordagem inovadora. A aberturaobservada no mbito da cincia social para o envolvimento da dinmica da natureza como

  • FRANCISCO MENDONA

    118

    integrante da complexidade da sociedade, ainda que bem menos expressiva que no casoanterior, tambm impulsiona a constituio da compreenso socioambiental da realidade.

    Todavia, o debate acerca da etimologia relativa problemtica ambiental no seesgota com a adoo de uma ou outra terminologia, como bem alertou Moraes (1994) aotratar dos fundamentos epistemolgicos para o estudo do meio ambiente, quando ressal-tou que um dos principais problemas atinentes a este campo de estudos diz respeito diversidade conceitual e de linguagem que o envolve. Segundo este autor,

    (...) O termo ecologia, por exemplo e ningum vai negar a sua centralidade para a discus-so em foco , aparece em alguns contextos discursivos como um objeto; porm, em outroscontextos aparece como mtodo; em outros ainda como cincia, e mesmo em alguns comoquesto poltica. Temos ento um termo que varia bastante, dependendo do contexto discursivode quem o emprega (Moraes, 1994, p. 47).

    O mesmo ocorre com o termo ambiente, eivado que de uma pluralidade de concep-es e conceitos, e presente em acepes tanto cientficas, polticas e culturais como empoltico-governamentais, de movimentos sociais gerais etc. Mas num aspecto parece haverconcordncia: os termos ambiente e ambientalismo empregados na atualidade ligam-se aconcepes completamente diferentes daquelas de final do sculo XIX e incio do XX. Senaquele momento estavam atrelados diretamente ao estudo da natureza do planeta, hojeligam-se mais aos graves problemas derivados da interao entre a sociedade e a natureza,s relaes homemmeio, homemnatureza, fsicohumano, homemhomem etc.

    Assim sendo, o contexto recente no qual emergem as grandes discusses e desafiosambientais parece no mais permitir ao homem a vivncia de situaes nas quais sercientista, intelectual, tcnico, profissional e cidado sejam experincias desconectadas.Para aqueles que vivem no mundo da academia e das instituies de pesquisa um cotidia-no de permanente envolvimento com problemas ambientais , inmeras vezes, difcil se-parar o ecolgico do ecologismo, o ambiente do ambientalismo. Por seu lado, aquelesimersos nos movimentos ambientalistas esto sempre a demandar suporte cientfico paraa defesa de suas causas.

    No caso particular da geografia como cincia, o que se observa uma muito estreitavinculao entre ela e o trato do ambiente e por conseguinte da problemtica ambiental,sendo esta uma das mais explcitas caractersticas da geografia desde sua condio denascente cincia moderna oitocentista (Moraes, 1990; Mendona, 1989 e 1993).

    Geografia ecolgica, geografia ambiental, geografiasocioambiental: construo histrica e particularidades

    Analisada no campo do pensamento geogrfico moderno, a abordagem ambientalpode ser concebida a partir de dois grandes momentos, conforme Mendona (1993). O

  • GEOGRAFIA SOCIOAMBIENTAL

    119

    primeiro, no qual o ambiente configurava-se num sinnimo de natureza (ambientalismo =naturalismo), prevaleceu desde a estruturao cientfica da geografia at meados do scu-lo XX, sendo porm possvel ainda observ-lo como uma postura filosfica perante omundo por parte de muitos cientistas e intelectuais, inclusive de gegrafos. A este primei-ro perodo tambm poderia ser associado o tecnicismo, a segunda postura que Moraes(1994) identifica nos cientistas da atualidade perante a problemtica ambiental.

    A terceira postura identificada por Moraes (1994), o romantismo, fortemente marcadapor perspectivas polticas extremistas na conduo de problemas ambientais, mas no seassemelha ao segundo momento do ambientalismo geogrfico da concepo de Mendon-a (1993). Neste segundo momento que se observa o salto dado por alguns gegrafos aoromperem com a caracterstica majoritariamente descritiva-analtica do ambiente natural ainda muito presente , passando a abord-lo na perspectiva da interao sociedade-natureza e propondo, de forma detalhada e consciente, intervenes no sentido da recupe-rao da degradao e da melhoria da qualidade de vida do homem.

    Neste segundo momento do ambientalismo geogrfico nota-se uma expressiva dife-rena da corrente ambientalista em relao a outras correntes do pensamento geogrfico aela coetneas, e de maneira muito particular corrente da geografia crtica. Se para estaltima a derrocada do socialismo real e o questionamento da perspectiva marxista comoprisma necessrio para a leitura do real se enfraqueceram, para a corrente ambientalista oimpacto no foi to profundo, afinal tornou-se mais explcito que a busca para a soluodos problemas socioambientais do planeta deve estar acima de quaisquer ideologias, mes-mo que possa ser por todas apropriada.

    Todavia, e de maneira geral, tanto na Frana como no Brasil, no se pode afirmar quetenha havido uma total semelhana entre geografia crtica e geografia ambiental, ou mes-mo que no mbito da geografia crtica brasileira a abordagem da questo ambiental tenhase dado de maneira ampla e satisfatria. Para muitos gegrafos, tanto num pas como nooutro, a perspectiva ambiental parece no ter configurado expresso marcante para carac-terizar um novo segmento ou uma nova corrente do pensamento geogrfico, como se podedetectar nas seguintes palavras de Bailly e Ferras (1994, p. 47): Depois de 1975 a novageografia se aprofunda em muitas correntes que se reforam: geografia crtica, geografiadas representaes, geografia poltica, geografia terica, geografia cultural, geografia hu-manista. (...)4. Note-se que a geografia ambiental a no aparece, sendo o mesmo tambmobservado na concepo de uma boa parte daqueles mais vinculados aos aspectos huma-nos da geografia no Brasil.

    Tal descaso por parte de alguns gegrafos, atitude que se assemelha a uma tomada deposio tecnocentrista (Foladori, 1999) diante da problemtica ambiental atual, pode seratribudo a vrios fatores, entre os quais cabe destacar:

    4. Depuis 1975 la nouvelle gographie sapprofondit em de multiples courants Qui se renforcent : gographie critique, gographiedes reprsentations, gographie politique, gographie thorique, gographie culturelle, gographie humaniste. (...). (trad.:Mendona, F.).

  • FRANCISCO MENDONA

    120

    1) a opo pela concepo de que a geografia uma cincia eminentemente social paraa qual o suporte fsico-natural (mesmo alterado) parece ser secundrio ou sem importn-cia, tanto na estruturao espacial da sociedade como na influncia da natureza sobre elaou vice-versa;2) o distanciamento voluntrio da problemtica ambiental do planeta o que pode revelara crena de que a tecnologia que gerou os problemas ambientais tambm encontrar assolues para eles e que, portanto, no constituem objetos de primeira ordem para o inte-resse geogrfico; e3) o desconhecimento e a recusa da compreenso da dinmica da natureza e de sua impor-tncia na constituio do espao, do territrio e da sociedade.

    Neste aspecto, e sem querer polemizar quanto a diferenas de capacidades entre ge-grafos fsicos e gegrafos humanos, mesmo concordando com os argumentos de Massey(1999), h que se reconhecer o considervel esforo de numerosos gegrafos fsicos nacompreenso e insero dos processos sociais em sua interao com a natureza das paisa-gens e nos problemas ambientais, o que ainda bastante nfimo em relao aproximaode gegrafos humanos no que concerne apreenso da natureza no estudo da sociedade.

    A explcita posio ideolgica da corrente crtica no Brasil e o seu vnculo ao mtodomarxista (materialismo histrico e materialismo dialtico) como base para a elaboraodo estudo do espao e do ambiente permitiram somente abordagens parciais deles, aindaque uma infinidade de trabalhos de excelente qualidade tenham sido elaborados sob esseenfoque. O fato ocorrido no Brasil nos anos 70 e 80, quando entre os militantes da corren-te da geografia crtica se encontravam alguns gegrafos fsicos, parece lembrar um poucoo que ocorreu nos anos 50 e 60 na Frana. Naquele pas um grupo de gegrafos fsicos(Jean Dresch, Jean Tricart etc.) militava no partido comunista e/ou em partidos de esquer-da e, ao mesmo tempo, estudava fenmenos ligados ao quadro natural do planeta; noBrasil pode-se citar, numa sequncia cronolgica que vai dos anos 60 aos anos 90, gegra-fos como Aziz AbSaber, Claudio de Mauro, Dirce Suertegaray, Wanda Sales, FranciscoMendona, Walter Casseti, entre outros.

    O aprendizado com a militncia poltica de esquerda em muito ensinou a estes ge-grafos quanto a novas perspectivas de anlise do espao e do ambiente, sendo que osconsiderveis avanos por eles introduzidos no estudo da paisagem so certamente decor-rentes da vivncia poltica. Quanto geografia por eles produzida, todavia, pode-se afir-mar que foi arrojada e inovadora ao superar as caractersticas da geografia clssica outradicional, e ao inserir a perspectiva analtica e crtica geral aos modelos vigentes nasociedade e na cincia natural, mas que foram incapazes de inserir o marxismo, enquantomtodo, na dinmica processual dos elementos da natureza na evoluo das paisagens.

    No se pode, ento, admitir tal produo geogrfica como pertencendo integralmen-te corrente da geografia crtica, ou que tenha sido produzida em completa conformidadecom os princpios da corrente crtica brasileira, pois a cincia produzida por aqueles ge-grafos revestida de uma importantssima postura crtica diante da produo do conheci-

  • GEOGRAFIA SOCIOAMBIENTAL

    121

    mento, mas no de uma aplicao da perspectiva marxista na anlise detalhada da evolu-o da paisagem e dos problemas ambientais. O mtodo de investigao cientfica utiliza-do por tais gegrafos explicita diferenas fundamentais entre postura crtica geral e postu-ra crtica marxista. Soares Pontes (1999, p. 38), ao discutir a natureza/sociedade na visomarxista, oferece argumentos importantssimos para a compreenso desta distino aoconsiderar que

    A histria da natureza precederia a histria da humanidade, mas uma vez que esta ltimahouvesse atingido um elevado grau de desenvolvimento tecnolgico e agisse cada vez maiseficazmente no sentido de modificar a natureza, a histria natural ficaria subordinada hist-ria social e seria parte integrante desta.A grande preocupao dessa linha interpretativa no evidentemente o estudo da naturezaem si5, mas a fundamentao do socialismo como continuao lgica do capitalismo, comoetapa histrica posterior e mais avanada, numa interpretao evolucionista.

    A natureza no deve mesmo ser enfocada a partir de mtodos especficos aos estudosda sociedade, assim como a sociedade no o deve ser a partir de mtodos das cinciasnaturais, ainda que a abordagem da problemtica ambiental parta de uma tica social.Neste aspecto, e para enriquecer essa discusso, interessante e elucidativo observar ainterpretao de Leff (2001, p. 49), para quem

    (...) a partir do momento em que a natureza se transforma, num processo geral, em objeto deuma cincia a evoluo biolgica, a dinmica dos ecossistemas , esses objetos biolgicosdevem incluir os efeitos das relaes sociais de produo que os afetam. E esses efeitosdevem ser considerados em suas determinaes scio-histricas especficas, no na reduodo social e da histria em processos naturais ou ecolgicos. Desde que a natureza se transfor-me em objeto de processos de trabalho, o natural absorve-se no materialismo histrico. Istono nega que operem as leis biolgicas dos organismos que participam no processo6, inclu-sive o homem e sua fora de trabalho; mas o natural se transforma no biolgicosuperdeterminado pela histria. Nem o recurso natural nem a fora de trabalho se referem aometabolismo biolgico ou ao desgaste energtico dos organismos vivos. O recurso natural ea fora de trabalho no so entes naturais existentes independentemente do social, mas so jo biolgico determinado pelas condies de produo e reproduo de uma dada estruturasocial.

    Essa ltima interpretao, mesmo que explicitamente atrelada a uma viso de mundoe do ambiente a partir de uma perspectiva marxista, no deixa de chamar a ateno para a

    5. Grifo do autor.6. Grifo do autor.

  • FRANCISCO MENDONA

    122

    necessria distino entre leis naturais (dinmica da natureza) e processos sociais (din-mica da sociedade) envolvidos na gnese da problemtica ambiental contempornea. Ageografia socioambiental no deve prescindir desta perspectiva.

    Ao tratar da corrente ecolgica e sua derivao no mbito da geografia, o que teriaoriginado uma geografia ecolgica, Andrade (1987, p. 119) afirma que ela tem comoum de seus marcos importantes a publicao da proposta da ecogeografia de Jean Tricartet Jean Kilian (1979). Na sua concepo esta corrente se construiu a partir do momentoem que

    Os gegrafos passaram tambm a preocupar-se seriamente com o problema do meio am-biente, observando-se que na rea de Geografia Fsica muitos evoluram de trabalhos espec-ficos sobre morfologia, clima, hidrologia etc. para realizar pesquisas mais amplas a respeitodo meio ambiente, ou, continuando os trabalhos em suas reas especficas, passaram aplicaros conhecimentos especializados, levando em conta o impacto dos elementos naturais quan-do influenciados pela sociedade sobre o meio ambiente. (...).

    No Brasil, o desenvolvimento de uma abordagem consoante com a perspectiva deuma geografia ecolgica teria, segundo a compreenso de Andrade (1987), sido iniciadopor Hilgard ORailly Sternberg, Aziz Nacib AbSaber e Carlos Augusto de FigueiredoMonteiro, em finais da dcada de 1960 e incio da de 70. Considerando os avanos queesta corrente significa para a evoluo do pensamento geogrfico, o referido autor pareceexplicitar alteraes de sua concepo ao evidenciar, em obras mais recentes (Andrade,1994 e 1999), o envolvimento de gegrafos mais afetos s humanidades, no tratamento domeio ambiente. Segundo ele

    Hoje, com a aceitao dos problemas do meio ambiente, quer face explorao desordenadados recursos, nem sempre renovveis, quer em consequncia da poluio da gua e da atmosfe-ra, os estudos ambientais vm tendo uma grande aceitao e vm se difundindo tanto em traba-lhos propriamente geogrficos como em trabalhos interdisciplinares (Andrade, 1999, p. 31).

    Observam-se assim avanos considerveis no tratamento da questo ambiental nosanos 80 e 90 at o presente, ou seja, de uma fase predominantemente caracterizada peloenfoque ecolgico, em que ressaltava a vertente naturalista, para uma outra centrada noambiente, na qual sociedade e natureza compem as duas partes de uma interao dialtica.Esta perspectiva geogrfica do enfoque ambiental no , todavia, nova, podendo seridentificada nas idias de Elise Reclus produzidas h cerca de cem anos e que, mesmotendo sofrido um hiato de mais de meio sculo na sua difuso e aplicao, foram retoma-das e aprimoradas no momento contemporneo. Nesta corrente a problemtica ambientalna geografia deixa de ser identificada apenas como ligada geografia fsica e passa a sergeogrfica. Esta fase atual do desenvolvimento do pensamento geogrfico parece atender

  • GEOGRAFIA SOCIOAMBIENTAL

    123

    ao seguinte clamor de Monteiro (1984, p. 24-25), um dos principais precursores da cor-rente socioambiental da geografia, lanado h cerca de vinte anos:

    Que os gegrafos dedicados aos aspectos naturais no deixem de considerar o homem nocentro deste jogo de relaes, e que aqueles dedicados s desigualdades sociais no as vis-sem fora dos lugares seriam meros pontos superficiais de uma convergncia que pode ser,como tem sido, desatada a qualquer momento. O verdadeiro fio condutor de uma estratgiacapaz de promover a unicidade do conhecimento geogrfico advir de um pacto mais profun-do que s pode emanar de uma concepo filosfica propcia.

    Uma concepo filosfica propcia abordagem cientfica da problemtica ambien-tal atual pode tanto ser encontrada em vrias proposies filosficas produzidas desde aGrcia clssica como, na insuficincia delas, demandar novas formulaes, como bempostularam Capra (1987), Morin e Kern (1995), e Leff (2001), entre outros. No mbito dageografia os estudos relacionados a esta problemtica tanto tem sido desenvolvidos se-gundo os mais diferentes matizes filosficos usualmente empregados por esta cincia , ea os extremismos que exacerbam o enfoque para o natural ou para o social so bastantepeculiares como demandado rupturas da configurao atual da produo geogrfica.Tais rupturas tem sido marcadas em relao a concepes tanto tericas como metodol-gicas e tcnicas de investigao da dimenso espacial da referida problemtica, j que,como reconheceu Moraes (1994, p. 46), ao introduzir uma discusso relativa epistemo-logia para o estudo do meio ambiente, trata-se de (...) uma questo nova, (...) arredia aospadres tradicionais. (...)7.

    Se na sociedade em geral o termo meio ambiente, ou ambiente (environment,environnement), vitimado que foi pela inflao jornalstica, banalizou-se, como bem apon-taram Bailly et Ferras (1997), no mbito acadmico-cientfico ele no passou impune aesse processo. Tais termos tm sido utilizados das mais diversas maneiras mas, em boaparte das vezes, tm sido empregados como num processo industrial em que se colocamrtulos novos em produtos ultrapassados ou que no correspondem ao texto ali expresso.Assim, preciso ter muito cuidado, pois os rtulos podem embelezar os produtos e ex-pressar a sua vanguarda, mas podem tambm ser fortemente enganosos.

    ento necessrio ter muita cautela e discernimento, pois nem tudo que geogrfico ambiental. Neste mesmo sentido tambm preciso assinalar que nem tudo que produ-zido na perspectiva da geografia fsica deve receber o rtulo de ambiental, pois muitascontribuies no se configuram como tais, ainda que importantes. A caracterstica deambiental de um estudo no o faz melhor ou pior que nenhum outro elaborado em confor-midade com outras correntes, quer sejam da geografia ou de outra cincia o faz apenasdistinto dos demais.

    7. Grifos do autor.

  • FRANCISCO MENDONA

    124

    Na concepo aqui defendida, um estudo elaborado em conformidade com a geo-grafia socioambiental deve emanar de problemticas em que situaes conflituosas, de-correntes da interao entre a sociedade e a natureza, explicitem degradao de uma oude ambas. A diversidade das problemticas que vai demandar um enfoque mais centradona dimenso natural ou mais na dimenso social, atentando sempre para o fato de que ameta principal de tais estudos e aes vai na direo da busca de solues do problema,e que este dever ser abordado a partir da interao entre estas duas componentes darealidade.

    Por outro lado, preciso tambm insistir, toda a produo emanada da geografiapode ser muito til para a abordagem de estudos ambientais, afinal uma das mais impor-tantes dimenses da problemtica ambiental sua manifestao espacial. Geografia eco-lgica e geografia ambiental constituem, assim, especificidades de uma mesma corrente,aqui concebida como geografia socioambiental; a primeira reveste-se de uma caracters-tica mais marcadamente naturalista, enquanto na segunda se destaca a abordagem quetoma a natureza e a sociedade em mesma perspectiva, sendo o socioambiental empregadopara evidenciar esta viso, como colocado anteriormente.

    A geografia socioambiental e o problemametodolgico: rompendo com paradigmas

    da cincia moderna

    A crise ambiental a crise de nosso tempo. O risco ecolgico questiona oconhecimento do mundo. Esta crise apresenta-se a ns como um limite no real,

    que ressignifica e reorienta o curso da histria: limite do crescimento econmicoe populacional; limite dos desequilbrios ecolgicos e das capacidades de

    sustentao da vida; limite da pobreza e da desigualdade social. Mas tambmcrise do pensamento ocidental (...)

    (Leff, 2001, p. 191).

    Uma das caractersticas principais da cincia moderna a partir da fase mais evolu-da da modernidade (conforme Berman, 1986) , o emprego de mtodos de investigaona produo do conhecimento cientfico. Os postulados positivistas que condicionam aestrutura da cincia ainda aprisionam mesmo no presente , a leitura da realidade afileiras disciplinares, reduzindo portanto sua apreenso a perspectivas separativas, estan-ques e empobrecedoras. A abordagem da problemtica ambiental num tal contexto deixasempre a desejar.

    A evoluo da geografia, vista de maneira genrica nestes cerca de 150 anos na con-dio de cincia, um espelho que reflete diretamente os postulados positivistas que im-pem a adoo de mtodos especficos a correntes distintas do pensamento. Assim, geografia clssica (ou tradicional) associou-se o positivismo, new geography o neoposi-

  • GEOGRAFIA SOCIOAMBIENTAL

    125

    tivismo, geografia da cultura e da percepo o humanismo, geografia crtica o marxis-mo etc., entre vrias correntes, momentos e derivaes de anlises cientficas.

    E geografia socioambiental, qual mtodo se associa?Essa questo aponta, primeiramente, para a constatao de que (...) No h apenas

    um mtodo na cincia e urge entender as possibilidades de cada um no equacionamentoda temtica ambiental. (...) (Moraes, 1994, p. 47), sobretudo diante das caractersticasdesta corrente, revestida que de uma caracterstica multi e interdisciplinar.

    A abordagem da problemtica ambiental, para ser levada a cabo com profundidade ena dimenso da interao sociedade-natureza, rompe assim com um dos clssicos postula-dos da cincia moderna, qual seja, aquele que estabelece a escolha de apenas um mtodopara a elaborao do conhecimento cientfico. Tal abordagem demanda tanto a aplicaode mtodos j experimentados no campo de vrias cincias particulares como a formula-o de novos. Mas esta caracterstica no uma peculiaridade somente da abordagemambiental, ela reflete a identidade prpria da geografia em muitas de suas experincias,pois, conforme Trystram (1994, p.475),

    (...) Interface, a palavra escolhida por Phillippe Pinchemel, reveladora. A geografia tem aver com tudo, mas nem por isso deixa de dar conta do recado. Ela est na encruzilhada denumerosos caminhos que vo da antropologia sociologia, da natureza ecologia, das cin-cias da terra s estatsticas. (...)8 .

    A superao do positivismo na geografia no , entretanto, um desiderato muito re-cente. Vrias foram as propostas que buscaram interagir mtodos de ramos da prpriageografia ou de disciplinas diferentes em um mesmo estudo. No que concerne ao estudodo ambiente destacam-se as perspectivas da produo de uma geografia fsica global apartir da interao de mtodos que tomam a perspectiva vertical (ecossistema) e horizon-tal (geossistema) das paisagens, abarcando tambm as atividades humanas enquanto fatorda dinmica da paisagem. Ressaltam-se na histria recente da geografia as contribuiesde Sotchava (geossistema) bastante melhorada por Georges Bertrand , e de Jean Tricart(ecodinmica e ecogeografia), entre outras (Mendona, 1989, 1993 e 1998; Christofolleti,1999).

    As aludidas propostas metodolgicas baseiam-se na TGS (Teoria Geral dos Siste-mas), largamente empregada nas cincias naturais, fato que tem vinculado o tratamentodo ambiente no mbito da geografia atravs das referidas metodologias a uma perspec-tiva muito mais naturalista que social. Isto decorrente, como bem apontou Gregory (1992,p. 238), do fato de que

    8. (...) Interface, le mot choisi par Philippe Pinchemel est rvlateur. La gographie nest ni une touche tout ni une bonne rien. Elle est la croise des nombreux chemins qui mnent de lanthropologie la sociologie, de la nature lcologie, dessciences de la Terre aux statistiques. (...). (trad.: Mendona, F.).

  • FRANCISCO MENDONA

    126

    O perigo de se adotar a abordagem sistmica acriticamente que se presume que seja sufi-ciente apenas identificar as estruturas do sistema e delinear as inmeras variveis envolvidasem um sistema particular, que ento refora a primeira lei da Ecologia, conforme foi grafica-mente enunciada por Commoner (1972), segundo a qual tudo est relacionado a tudo. (...).

    Mas, ainda que parciais e limitadas e duramente criticadas por Soares Pontes (1999), h que se atribuir grande mrito s supramencionadas metodologias de perspectivaglobalizante na geografia fsica, pois buscaram interagir sociedade e natureza numa mes-ma abordagem, e de alguma maneira o fizeram sendo alguns exemplos dignos de nota,como o trabalho exemplar de Monteiro (1987) relativo ao Recncavo Baiano. Elas contri-buram tambm tanto para o aprimoramento da geografia fsica como para a construo dageografia socioambiental aqui discutida.

    Mesmo que se observe o registro da preocupao com o enfoque de carter global navertente fsico-geogrfica desde os anos 50, o que lhe atribui a condio de ambiental ainda que o enfoque seja parcial, a seguinte argumentao de Richard H. Briant (citadopor Derruau, 1996, p. 12) complementa as afirmaes aqui desenvolvidas de que (...)No suficiente, para ser claro, de definir a geografia fsica como sendo o estudo integra-do do meio (ambiente) natural superfcie proximidade imediata da superfcie da ter-ra, pois por mais abrangente que ela possa ser ainda toma o homem e a sociedade comofator e no como elemento da paisagem.

    Situando a origem e o desenvolvimento da geografia ecolgica como ligados geo-grafia fsica, Andrade (1987, p. 121) reconhece a abertura vivenciada por tais gegrafosao se lanarem a uma nova concepo e produo do estudo do ambiente do ponto de vistageogrfico pois, segundo ele, em muitos pontos, eles (especialistas em geografia fsica)9se aproximam do grupo dos chamados gegrafos crticos ou radicais, enquanto em outrosse contactam com o grupo que faz a geografia da percepo e do comportamento. Estaconstatao reflete, entre outras coisas, a insuficincia dos mtodos disciplinares indivi-dualizadamente inerentes cincia moderna para o tratamento da realidade e dos proble-mas ambientais. Revela, ao mesmo tempo, a necessria aplicao de uma perspectivamulti e interdisciplinar intrageografia, e desta com outras cincias, pois (...) a discussosobre a questo ambiental dever trafegar nos limites de marcos disciplinares. (...) (Mo-raes, 1994, p. 50).

    Mesmo se aproximando dos gegrafos crticos, como afirmou Andrade (1987), os ge-grafos fsicos no puderam inserir o marxismo como metodologia central de sua anlise nemnos estudos fsico-geogrficos nem naqueles socioambientais que elaboraram, pois

    (...) uma abordagem marxista da questo ambiental vai encar-la como uma manifestaode processos sociais, pelos quais uma dada sociedade organiza o acesso e uso dos recursos

    9. Expresso do prprio autor em outra parte do mesmo pargrafo.

  • GEOGRAFIA SOCIOAMBIENTAL

    127

    naturais disponveis, organizao que se articula na prpria estruturao social constituindoparte do processo global de sua reproduo (...) (Moraes;1994, p. 78).

    Ainda que a perspectiva marxista seja um instrumento de inestimvel valor na anli-se da dinmica social particularmente a partir do materialismo histrico e dialtico , oumesmo que outros mtodos como o estruturalismo, o funcionalismo etc., contribuam emmuito para a compreenso da sociedade, a abordagem ambiental ser ainda elaborada deforma parcial e estanque se enfocada a partir de somente um deles, pois que o socialcompe apenas uma parcela do ambiente. Os elementos da natureza no devem ser redu-zidos somente a recursos, pois antes de assim transformados constituem-se em bens eelementos naturais que possuem dinmica prpria e que independe de sua apropriaosocial; como tal desempenham papel fundamental na estruturao do espao geogrfico.Mesmo integrantes de espaos apropriados pelo homem e sua sociedade, no escapam aocontrole do fluxo de matria e energia que rege a existncia do sistema solar, do planetaTerra e de seus componentes. bem verdade que em muitos lugares como as grandescidades e seu cotidiano, por exemplo , tem-se a falsa impresso de que o homem ogrande regente, de que a natureza e suas foras ou no existem ou foram subjugadas aosdesgnios humanos. mesmo incrvel que, numa abordagem geogrfica, sejam esqueci-dos o relevo que forma o suporte existncia da cidade, da gua e do ar que sustentam avida de seus habitantes, do alimento que produzido no solo os nutre etc.

    Enfocando a vertente ambiental da geografia e a necessria abertura metodolgicaque ela encerra, Monteiro (1980) j esclarecia, em final da dcada de 1970 e justamenteno momento em que a geografia brasileira passava a ser fortemente marcada pela correnteda geografia crtica, ser ela constituda

    (...) por gegrafos que, mesmo considerando o prisma antropocntrico da geografia, vemnela principalmente a cincia dos lugares. Embora considerando que aumenta cada vez maiso poder de deciso e a capacidade de alterao antrpica, os Sistemas organizados na su-perfcie da Terra comportar-se-o sempre como sistemas naturais e como tais, devem serpesquisados. Isto sob o impacto ideolgico universal da cruzada pr meio ambiente, sob olema de s temos uma terra. (...) (Monteiro (1980, p. 48).

    Mas, sabiamente, apontava ele tambm para o fato de que a vertente ambiental nodeveria ser pensada como predominante na geografia, mas ser apenas uma possibilidade amais para reflexo dos gegrafos sobre o mundo, j que Os vetores conduzindo a noode Geografia como cincia social sero predominantes (2 vrtices do tringulo). (...).Para ele, o ambientalismo na geografia no apagaria

    (...) o desenvolvimento ou continuao de linhas centrais de pensamento (em relao figura abstrata do tringulo mobilizado para esse raciocnio), como, muito provavelmente

  • FRANCISCO MENDONA

    128

    no impedir (impediria)10 os avanos setoriais mais extremos at que cheguem a ultrapassaros limites de demarcao da investigao geogrfica para desenvolver-se autonomamente.(...) (Monteiro, 1980, p. 48-49).

    O objeto de estudo da geografia socioambiental, constructo contemporneo dainterao entre a natureza e a sociedade, no pode ser concebido como derivador de umarealidade na qual seus dois componentes sejam enfocados de maneira estanque e comoindependentes, pois a relao dialtica entre eles que d sustentao ao objeto.

    A corrente da geografia socioambiental est ancorada na concepo de que talvez omaior ponto de relevncia epistemolgica para a Geografia esteja na atitude fenomenolgicade no considerar nem a Natureza (matria da experincia) nem o Homem (corpo quepercebe) como fundantes (Monteiro, 1984, p. 26). , indubitavelmente, uma identifica-o inovadora da e na geografia ambiental , que possui sua originalidade mas que nose coloca como excludente a nenhuma das outras possibilidades de realizao do conheci-mento geogrfico. Nas seguintes palavras deste ltimo autor, emprestadas de Merleau-ponty, possvel identificar os traos mais gerais, mas no exclusivos, da perspectivametodolgica dessa corrente da geografia, em sua fase contempornea aqui nominadacorrente socioambiental da geografia,

    O homem e a sociedade no esto exatamente fora da natureza e do biolgico distinguem-se deles por reunirem as apostas da natureza, arriscando-as todas juntas. nesse particularque o ambiental no deve ser visto apenas no nvel do biolgico ou ecolgico, mas sobretu-do pelo que contm de construo holstica.

    Ela se configura, pela caracterstica de multi e interdisciplinaridade e da perspectivaholstica na concepo da interao estabelecida entre a sociedade e a natureza, como umcampo profcuo ao exerccio do ecletismo metodolgico, pois enquanto abstraes hu-manas da realidade os mtodos e tcnicas devem ser considerados como no sendo dedomnio de nenhum conhecimento particular, mas que so momentaneamente requisita-dos por uma cincia ou outra (Fernand Joly, citado por Mendona, 1998, p. 65). Ecletismono , h que se assinalar, sinnimo de pot-pourri ou, numa linguagem coloquial, nosignifica fazer o samba do crioulo doido; a lgica, a seriedade, e a coerncia na escolhade metodologias e tcnicas condizentes com o objeto de estudo so atributos necessriospara a obteno de resultados concisos em estudos de carter socioambiental.

    Sintetizando a abordagem

    Ao identificar a corrente do pensamento geogrfico geografia socioambiental a par-tir do delineamento de sua construo histrica, mesmo que aqui genericamente pontuada

    10. Alterao feita pelo autor.

  • GEOGRAFIA SOCIOAMBIENTAL

    129

    numa condio introdutria e de contribuio discusso da epistemologia da geografiacontempornea, levantam-se mais argumentos para a constatao de que a geografia mesmo um savoir difficile, como o apontou P. et G. Pinchemel (epgrafe deste texto).Ao se identificar esta corrente como um campo particular de anlise do gegrafo, entrevrios outros, no se est propugnando pela sua excelncia em relao aos demais, dadoque a riqueza do pensamento geogrfico reside na sua prpria pluralidade de enfoques.

    Essa nova corrente aqui delineada no se encontra, todavia, com as caractersticastotalmente definidas, mas um conjunto destas permite distingui-la no conjunto da cinciageogrfica contempornea, como se viu. A natureza cambiante do mundo contempor-neo, e da intensidade da velocidade que o qualifica, impe a necessria simultaneidade denovos olhares, novas tcnicas e novas perspectivas sobre o objeto de estudo da geografia.Impe sobretudo a abertura das mentes para se criar o novo, o diferente, o que superar oestgio de dificuldades e limitaes de apreenso do real que to marcadamente aindacaracteriza o presente. Um novo pensamento, desencadeador de mudanas, no se conso-lida se no exercitar um dilogo de saberes distintos e sem demover resistncias, masestes acabam por lapid-lo, pois lhe proporcionam a experimentao de ousadias e pro-fundo repensar de formulaes. Se ele no se mostrar capaz de inserir os ganhos do pro-cesso e tornar-se velho mais rpido que as projees de longevidade lanadas, mesmomelhor que tenha uma vida curta ou que nem a experimente.

    Contudo, a crise ambiental contempornea crise de civilizao, crise da razo ecrise histrica , como se apontou ao longo deste texto, est a demandar de toda a socie-dade, e da cincia em particular, uma reflexo profunda acerca de sua trajetria. Num talcontexto preciso ser aberto, criativo e ousado o suficiente para propor alteraes e criaras possibilidades para o nascimento de novas propostas, como a geografia socioambientalaqui delineada.

    No preciso ser partidrio de radicalismos ambientalistas ou ecologistas para secompreender a importncia dos elementos da natureza na constituio da sociedade hu-mana, sobretudo ante os extremismos de degradao desta mediante sua apropriao pelasociedade segundo o projeto da modernidade, como bem assinalou Serres (1988, 1994) ainda que seja ele um partidrio da ecologia radical. geografia se impe, ento, umpapel fundamental nesta construo de um mundo novo, de uma vida nova. Tomada doponto de vista da problemtica ambiental contempornea sua contribuio ser muitomais eficaz e aprofundada se elaborada em conformidade com a corrente da geografiasocioambiental, neste texto esboada.11

    11. Agradecimentos ao colega Bernardo Manano Fernandes pelo convite para a produo deste texto, e ao colega Nilson CsarFraga pela leitura crtica dele.

  • FRANCISCO MENDONA

    130

    Bibliografia

    AMARAL PEREIRA, R. M. P. Da geografia que se ensina geografia moderna. Florianpo-lis: UFSC, 1989.

    ANDRADE, M. C. Geografia Cincia da sociedade: Uma introduo analise do pensa-mento geogrfico. So Paulo: Atlas, 1987.

    ______. O desafio ambiental. So Paulo: Hucitec, 1994______. A construo da geografia brasileira. RAE GA O espao geogrfico em analise, n.

    3, ano III, 1999, p. 19-34.BAILLY, A., FERRAS, R. lments dpistemologie de la gographie. Paris: Armand Colin,

    1997.BERMAN, M. Tudo que slido desmancha no ar: a aventura da modernidade. So Paulo:

    Companhia das Letras, 1986.CAPRA, F. O ponto de mutao A cincia, a sociedade e a cultura emergente. So Paulo:

    Cultrix, 1987.CHRISTOFOLETTI, A. et al. Modelagem de sistemas ambientais. So Paulo: Edgard Blucher,

    1999.DERRUAU, M. Composantes et concepts de la gographie physique. Paris: Armand Colin, 1994.FOLLADORI, G. Los lmites del desarrollo sustentable. Montevidu: Banda Oriental, 1999.GREGORY, K. J. A natureza da geografia fsica. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992.HOBSBAWM, E. A era dos extremos. So Paulo: tica, 1995.LEFF, H. Epistemologia ambiental. So Paulo: Cortez, 2001.MASSEY, D. Space-time, science and the relationship between physical geography and human

    geography. Royal Geographical Society (with The Institute of British Geographers), n. 24,1999, p. 261-276.

    MENDONA, F. A. Geografia fsica: Cincia humana? So Paulo: Contexto, 1a ed., 1989.______. Geografia e meio ambiente. So Paulo: Contexto, 1a ed., 1993.______. Dualidade e dicotomia da geografia moderna: A especificidade cientfica e o debate

    recente no mbito da geografia brasileira. RAE GA O espao geogrfico em anlise, n.2, ano II, 1998, p. 153-166.

    ______. Geografia e metodologia cientfica Da problemtica geral s especificidades dageografia fsica. Geosul, v. 14, n. 27, nov. 1998, p. 63-70.

    MONTEIRO, C. A. F. A geografia no Brasil (1934-1977) Avaliao e tendncias. So Pau-lo: IGEO/USP, 1980.

    ______. A questo ambiental no Brasil: 1960-1980. So Paulo: IGEO/USP, 1981.______. Qualidade ambiental na Bahia Recncavo e regies limtrofes. Salvador: Governo

    da Bahia SEPLANTEC Centro de Estatstica e Informaes, 1987.______. Geografia & ambiente. Orientao, n. 5, USP, 1984, p. 19-28.______. Travessia da crise (tendncias atuais na geografia). Revista Brasileira de Geografia,

    Rio de Janeiro, ano 50, n. especial, t. 2, 1988, p. 127-150.

  • GEOGRAFIA SOCIOAMBIENTAL

    131

    ______. A abordagem ambiental na geografia possibilidades na pesquisa e limitaes dogegrafo ao monitoramento. RAE GA O espao geogrfico em anlise, n. 3, ano III,1999, p. 9-18

    MORAES, A. C. R. Meio ambiente e cincias humanas. So Paulo: Hucitec, 1994.MORIN, E., KERN, A. B. Terra Ptria. Porto Alegre: Sulina, 1995.PORTO GONALVES, C. W. Os (des)caminhos do meio ambiente. So Paulo: Contexto,

    1989.SERRES, M. Le contrat naturel. Paris: Harmattan, 1988.______. La philosophie et le climat. Palestra proferida no Colquio de Lassay/Frana, 1994.SOARES PONTES, B. M. A cincia geogrfica e o desafio da questo natureza/sociedade.

    Sociedade & Natureza, ano 11, n. 21 e 22, jan./dez., 1999, p. 29-44.TRICART, J., KILLIAN, J. Leco-geographie et lamnagement du milieu naturel. Herodote,

    n. especial, Paris, 1979.TRYSTRAM, F. Terre! Terre! De lOlympe la Nasa, une histoire des gographes et de la

    gographie. Paris: JCLatts, 1994.VEYRET, Y. Go-environnement. Paris: Sedes, 1999.WHITE JR., L. Machina ex Deo: Essays in the dynamism of western culture. Cambridge,

    Mass.: The MIT press, 1968.

    RESUMENLa geografia, desde el estabelecimiento de su condicinde ciencia moderna, tiene en el ambientalismo una desus principales caractersticas. El refleja la riqueza de ladualidad del conocimiento geogrfico. La concepcin demedio ambiente, con tudo, cambi bastante a lo largodel ltimo siglo, porque inserti marcos importantssi-mos de los distintos momentos histricos de la moderni-dad. Hasta la mitad del siglo XX, la geografia y tambinlas demas ciencias y la sociedad en general, conceban elmedio ambiente exclusivamente del punto de vista natu-ralista. Em los ltimos quarenta aos, la nocin de me-dio ambiente inseri, progresivamente, la dimensin so-cial, porque la crisis ambiental contempornea no puedems ser entendida, ni resuelta en conformidad com lasperspectivas que separan sociedad y naturaleza. En estecontexto, la problemtica ambiental presente llev lageografia a rever sus concepciones, lo que result en labusqueda y en la formulacin de nuevas bases terico-metodolgicas para el enfoque del medio ambiente. Elenvolvimiento de la sociedad y de la naturaleza en losestudios originados de problemticas ambientales, em las

    ABSTRACTThe geography, since its established as a modern scien-ce, has in the environmentalism one of its principal cha-racteristics. It reflects the richness of duality of the geo-graphical knowledge. The conception of environment,however, changed a lot during the last century, becauseits inserted very important frames from different histori-cal moments of modernity. Since the twenties middle thegeography, and also the other sciences and society ingeneral, conceived the environment exclusively on thenatural perspective. On the last forty years the notion ofenvironment has incorporated, progressively, the socialdimension, because the contemporary environmental cri-sis cant be understood and neither resolved by the pers-pectives that separates society and nature. In this con-text, the environmental problematic which characterizesthe present moment leads the geography to revise its con-ceptions, and it resulted on the search and on the formu-lation of new theory-methodology bases do the environ-ment approach. The involvement of society and naturein the studies emanated from environmental problema-tic, in which the natural and social are conceived as ele-

  • FRANCISCO MENDONA

    132

    cuales lo natural y lo social son concebidos como ele-mentos de un mismo proceso, resulti em la construcinde una nueva corriente del pensamiento geogrfico, enel presente texto llamada geografia socio-ambiental.

    PALABRAS-CLAVEGeografa medio ambiente Geografa ecolgica Ge-ografa socio-ambiental.

    ments belonged to a same process, resulted in a new cur-rent of geographical knowledge here called socio-envi-ronmental geography.

    KEY WORDSGeography environment ecological Geography so-cio-environmental Geography.

    Recebido para publicao em 8 de junho de 2001.