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ARTIGO Rev. online Bibl. Prof, Joel Martins, Campinas, SP, v.1., n.3, jun. 2000 1 A política de leitura em campinas: o caso da biblioteca municipal “Prof. Ernesto Manoel Zink” Sérgio Antonio da Silva Leite Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Educação Campinas - SP - Brasil Luciane Vaughn Schmidt Rede Municipal de Campinas Campinas - SP - Brasil e-mail: [email protected] Resumo A dinâmica de funcionamento da Biblioteca Municipal “Prof. Ernesto Manoel Zink” relaciona-se com uma problemática maior: investigar se esse espaço público tem representado, para os moradores de Campinas, uma possibilidade de inserção no mundo da escrita, um ambiente de letramento, tendo em vista um projeto político de investimento em leitura. Evidenciaram- se inúmeras dificuldades enfrentadas pelos bibliotecários e assistentes de biblioteca entrevistados, sendo que duas limitações têm uma importância fundamental para se entender um problema que diz respeito não só à Biblioteca Central de Campinas, mas às bibliotecas públicas de um modo geral: o número reduzido de leitores, que não apenas estudantes, e a falta de clareza quanto à função social da biblioteca, por parte dos funcionários que, em sua maioria, não percebem o alcance social e cultural de sua prática, deixando de se preocupar com a formação de leitores e com a ampliação das condições de letramento daqueles que já participam do universo da leitura. Os dados também apontam para a necessidade de que a Secretaria Municipal de Educação, à qual as bibliotecas públicas estão subordinadas, realize projetos no sentido de democratizar a leitura na cidade. Palavras-chave Leitura ; Política de leitura ; Biblioteca pública Abstract The functioning dynamics of the Professor Ernesto Manoel Zink City Library is related to a major problem: investigating whether such public space has been representing not only a possibility of inclusion in the world of writing, but also an environment of literacy for the inhabitants of Campinas – having in mind a political project of investment in reading. Several difficulties have been pointed out by librarians and library assistants, and two limitations are fundamental to the understanding of a problem which concerns not only the Central Library of Campinas, but also all public libraries in Brazil: a reduced number of readers, since most users are students, and the staff’s lack of clarity concerning the social function of libraries. Due to the fact that librarians and assistants are not able to realize both the social and cultural reach of their jobs, they do not care about the formation of readers and the enlargement of the conditions of literacy of those who already take part in the universe of reading. Furthermore, the data show that it is essential that the City Department of Education, to which the public libraries in Campinas are subordinate, create projects in order to democratize the reading in the city. Key-words Reading ; Reading policy ; Public library

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Rev. online Bibl. Prof, Joel Martins, Campinas, SP, v.1., n.3, jun. 2000 1

A política de leitura em campinas: o caso da bibliotecamunicipal “Prof. Ernesto Manoel Zink”

Sérgio Antonio da Silva LeiteUniversidade Estadual de CampinasFaculdade de EducaçãoCampinas - SP - Brasil

Luciane Vaughn SchmidtRede Municipal de CampinasCampinas - SP - Brasile-mail: [email protected]

ResumoA dinâmica de funcionamento daBiblioteca Municipal “Prof. ErnestoManoel Zink” relaciona-se com umaproblemática maior: investigar se esseespaço público tem representado, paraos moradores de Campinas, umapossibilidade de inserção no mundo daescrita, um ambiente de letramento,tendo em vista um projeto político deinvestimento em leitura. Evidenciaram-se inúmeras dificuldades enfrentadaspelos bibliotecários e assistentes debiblioteca entrevistados, sendo que duaslimitações têm uma importânciafundamental para se entender umproblema que diz respeito não só àBiblioteca Central de Campinas, mas àsbibliotecas públicas de um modo geral:o número reduzido de leitores, que nãoapenas estudantes, e a falta de clarezaquanto à função social da biblioteca, porparte dos funcionários que, em suamaioria, não percebem o alcance sociale cultural de sua prática, deixando de sepreocupar com a formação de leitores ecom a ampliação das condições deletramento daqueles que já participamdo universo da leitura. Os dadostambém apontam para a necessidade deque a Secretaria Municipal deEducação, à qual as bibliotecas públicasestão subordinadas, realize projetos no

sentido de democratizar a leitura nacidade.

Palavras-chaveLeitura ; Política de leitura ; Bibliotecapública

AbstractThe functioning dynamics of theProfessor Ernesto Manoel Zink CityLibrary is related to a major problem:investigating whether such public spacehas been representing not only apossibility of inclusion in the world ofwriting, but also an environment ofliteracy for the inhabitants of Campinas– having in mind a political project ofinvestment in reading. Severaldifficulties have been pointed out bylibrarians and library assistants, and twolimitations are fundamental to theunderstanding of a problem whichconcerns not only the Central Library ofCampinas, but also all public libraries inBrazil: a reduced number of readers,since most users are students, and thestaff’s lack of clarity concerning thesocial function of libraries. Due to thefact that librarians and assistants are notable to realize both the social andcultural reach of their jobs, they do notcare about the formation of readers andthe enlargement of the conditions ofliteracy of those who already take partin the universe of reading. Furthermore,the data show that it is essential that theCity Department of Education, to whichthe public libraries in Campinas aresubordinate, create projects in order todemocratize the reading in the city.

Key-wordsReading ; Reading policy ; Public library

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INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, a linguagem temsido objeto de estudo de diversas áreascientíficas, dentre elas a Língüística, aSociolingüística e a Psicologia , o quepossibilitou uma melhor compreensãoteórica a respeito de sua natureza, bemcomo das relações entre a leitura e aescrita (agora consideradas processosdistintos), e entre pensamento elinguagem.

Além disto, mudanças sócio-político-econômicas, advindas do avançotecnológico, implicaram novasnecessidades sociais, exigindo, para aformação de um cidadão, outrashabilidades além do domínio do código:passou a ser necessária a compreensãona relação com a escrita.

Deste modo, a concepção clássica delinguagem começou a ser questionadapor fundamentar-se no paradigmapositivista1 e por considerar alinguagem apenas como uminstrumento para expressar opensamento e/ou informar sobre osobjetos do mundo; nesta perspectivaclássica, a relação do homem com alinguagem é entendida comodicotômica, sendo a língua consideradacomo algo acabado que se transmite degeração à geração.

Assim, durante a década de 60,predominaram os preceitosestruturalistas que concebiam a leituracomo decodificação do códigolingüístico escrito, sendo a escrita meratranscrição fonética; a compreensãoexigia a oralização do texto,acreditando-se que o sentido era algo

1 In: GROTTA, Ellen C. B. Histórias derelações críticas com a leitura: trajetória de umcompromisso político. Projeto de Pesquisaapresentado para exame de qualificação –Mestrado, UNICAMP, 1998. (p. 01)

estático, pronto e acabado no interior dotexto, cabendo ao leitor competenterecuperá-lo, através de uma tarefa lineare cumulativa, obtendo-se acompreensão através da soma dosignificado das frases - estratégiaascendente de leitura (TERZI, 1995).

Nesta perspectiva, a leitura possuía umsentido apenas literal e a compreensãorestringia-se ao discurso do autor (oúnico com poder para fixar o sentidocorreto); considerado uma fonte deverdades, o conteúdo deveria serassimilado e difundido, cabendo aoleitor uma posição passiva diante dotexto, devendo apenas assimilar/aceitaras idéias do autor (desconsideravam-seas condições de produção do texto e aconstituição ideológica do leitor econseqüentemente do sentido).

No final da década de 60,psicolingüístas, como Goodman eSmith, revelaram que a leitura processa-se por estratégias descendentes, ou seja,não se lê separando as palavras empartes, mas tentando perceber o todo,atribuindo-lhe significado e sóposteriormente, se necessário,identificando suas partes (GOODMAN,1996 e SMITH, 1989). Para estesteóricos, o ato de ler envolve autilização de conhecimentos prévios quepermitem a formulação de previsões daleitura e a apreensão de significado, ouseja, a produção de sentidos estácentrada na figura do leitor, negando-se,assim, a dialogia e a interação social.

Por sua vez, as elaborações teóricas deBENVENISTE (1991) sobre asubjetividade da linguagem, as deBAKHTIN (1997) sobre a filosofia dalinguagem e as de VYGOTSKY (1993)sobre o pensamento e a linguagempermitiram redimensionar a concepçãode língua tendo em vista o caráterconstitutivo e dialético da mesma,

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sendo tais concepções assumidas nestetrabalho como referenciais teóricos.

A linguagem, deste modo, deixa de serconsiderada mero instrumento pois “ossujeitos não ‘adquirem’ sua línguamaterna: é nela e por meio dela queocorre o primeiro despertar daconsciência” (BAKHTIN, 1997;p.108), ou seja, “é na linguagem e pelalinguagem que o homem se constituicomo sujeito” (BENVENISTE, 1991; p.286)” . Já para VYGOTSKY (1993),“as palavras desempenham um papelcentral não só no desenvolvimento dopensamento, mas também na evoluçãohistórica da consciência como umtodo” (p. 132).

Nesta concepção, a relação do homemcom a linguagem é dialética, sendo oprimeiro considerado um ser ativo edinâmico na construção da realidadehistórico-social. De acordo comBAKHTIN (1997), a língua não é algoacabado, encontrando-se em umprocesso evolutivo contínuo, sendo queo homem, ao construir a linguagem,constitui-se por meio dela.

Na dialética da linguagem, a interaçãoverbal é dialógica (todo enunciado sópode ser compreendido no interior dacadeia de enunciados que o antecedemou sucedem), polifônica (o enunciadonão é exclusividade daquele que fala: osenunciados articulam diferentes vozes,pois o falante recria/retoma um discursoa partir de outros pontos de vista) etambém polissêmica (o sentido dasenunciações é algo dinâmico, variandosegundo os contextos que se aplica).

Deste modo, a linguagem é fundamentalno desenvolvimento do homem, pois aconsciência e o conhecimento domundo resultam da interação emediação entre ambos, sendo que ohomem não só se constitui pela/nalinguagem mas, ao constituir-se, produz

e modifica a linguagem, posto ser estaum produto sócio-histórico que somenteexiste em função do outro, ou seja, nainteração verbal.

Para BAKHTIN (1997), “a interaçãoverbal constitui (...) a realidadefundamental da língua”, sendo que olivro (ato de fala impresso) “constituiigualmente um elemento dacomunicação verbal (...), feito para serapreendido de maneira ativa, para serestudado a fundo, comentado ecriticado”(p. 123).

Na visão dialética, portanto, os sentidosnão estão nem no leitor, nem no autorisoladamente; a leitura é entendidacomo um processo de produção desentidos do qual participam autor, texto,leitor e contexto.

De acordo com CHARTIER (1990), osprocessos de produção de sentido sópodem ser compreendidos nocruzamento dos pólos de produção erecepção, ou seja, nas diferentes econtrastantes relações que seestabelecem entre o texto, o suporte quelhe dá sustentação e a maneira como élido. Desse modo, os sentidos epossibilidades de sua produção seriamconstruções resultantes do trabalhoempreendido pelos escritores (em suasestratégias escriturárias), pelos editores(no processo de fabricação do livro) epelos leitores (nos modos como elesinteragem com os textos que lheschegam às mãos).

FOUCAMBERT (1994), por sua vez,afirma que “ler significa serquestionado pelo mundo e por simesmo, significa que certas respostaspodem ser encontradas na escrita,significa poder ter acesso a essaescrita, significa construir uma respostaque integra parte das novasinformações ao que já se é” (p. 5).

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Chegou-se, assim, a uma novaconcepção de leitura e de escrita quepassou a basear-se no caráter simbólicoda escrita (esta não é mais um fim masum meio para simbolizar idéias), bemcomo nos seus usos sociais (a situaçãodiscursiva só existe na relação com ooutro, não bastando apenas o domíniodo código).

Rompeu-se, pois, com a concepção deescrita enquanto espelho da oralidade eum código a ser dominado (habilidadestécnicas de ler e escrever), devendo oprocesso de alfabetização, nestaperspectiva, prever condições para odesenvolvimento das funções cognitivasque permitam pensar sobre o mundo demaneira independente, crítica e criativa,possibilitando o exercício da cidadania.

Segundo SOARES (1998), em virtudeda nova realidade social e da novamaneira de compreender a presença daescrita no mundo social, surgiu, nasegunda metade dos anos 80, uma novapalavra no discurso dos especialistas daEducação e das Ciências Lingüísticas:“letramento” (do inglês literacy), quepassou a ser utilizada por ela comosinônimo de “alfabetismo”2 . Assim,enquanto alfabetizar refere-se a “tornaro indivíduo capaz de ler eescrever”(p.31), letramento “é o estadoou a condição que adquire um gruposocial ou um indivíduo comoconseqüência de ter-se apropriado daescrita e de suas práticas sociais” (p.39). Acrescenta SOARES (1998) que:

2 Soares, em artigo de 1995, utiliza apenas otermo “alfabetismo”; já em 1996, a autoraexplica que “embora dicionarizada, alfabetismonão é palavra corrente, e talvez por isso, (...)tenha-se optado por verter a palavra inglesapara o Português, criando a nova palavraletramento”(p.85).É importante salientar,entretanto, que não há um consenso, entre osdiversos estudiosos que utilizam o termoletramento, acerca da abrangência de seusignifcado.

“...socialmente e culturalmente, apessoa letrada já não é a mesmaque era quando analfabeta ouiletrada, ela passa a ter umaoutra condição social e cultural –não se trata propriamente demudar de nível ou de classesocial, cultural, mas de mudarseu lugar social, seu modo deviver na sociedade, sua inserçãona cultura – sua relação com osoutros, com o contexto, com osbens culturais torna-sediferente.” (p.37)

SOARES (1995)3 salienta queletramento, “entendido como um estadoou uma condição, refere-se não a umúnico comportamento , mas a umconjunto de comportamentos que secaracterizam por sua variedade ecomplexidade” (p. 8), podendo seragrupados em duas grandes dimensões:a dimensão individual e a dimensãosocial.

Com relação à dimensão individual,SOARES (1998) esclarece que oletramento envolve dois processosfundamentalmente distintos - ler eescrever, sendo que as numerosas evariadas habilidades e conhecimentosque constituem os processos de leitura ede escrita são consideravelmentediferentes.

Dessa forma, segundo ela, “ler estende-se desde a habilidade de simplesmentetraduzir em sons sílabas isoladas, atéhabilidades de pensamento cognitivo emetacognitivo” (como, por exemplo, ahabilidade de captar o sentido de umtexto escrito, de interpretar seqüênciasde idéias ou acontecimentos, analogias,etc.), sendo que “há ainda o fato de queessas habilidades se aplicam de formadiferenciada a uma enorme diversidadede materiais escritos”(p.8) (dentre eles,

3 Embora no artigo de 1995 Soares utilize maiso termo alfabetismo, optou-se nesse trabalhopelo uso da palavra letramento, pois atualmenteé o mais empregado.

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literatura, material didático, jornais,anúncios, etc.)

Por outro lado, escrever, segundoSOARES (1995), “engloba desde ahabilidade de traduzir fonemas emgrafemas, até habilidades cognitivas emetacognitivas” (como, por exemplo,habilidades motoras, ortografia, usoadequado da pontuação, habilidade deorganizar as idéias no texto, etc.), sendoque, assim como com relação à leitura,as habilidades e conhecimentos deescrita “devem ser utilizadasdiferencialmente para produzir umadiversidade de materiais escritos”(p.9), envolvendo desde a simplesassinatura do próprio nome até aprodução de uma tese, por exemplo.

Do ponto de vista de sua dimensãosocial, o letramento “não se limita purae simplesmente à posse individual dehabilidades e conhecimentos; implicatambém, e talvez principalmente, umconjunto de práticas sociais associadascom a leitura e a escrita, efetivamenteexercidas pelas pessoas em um contextosocial específico” (SOARES, 1995 : p.10).

Afirma SOARES(1995) que há pontosde vista conflitantes sobre estadimensão social do letramento, os quaispodem ser resumidos em duastendências: uma tendência progessistaou “liberal” e uma tendência radical,“revolucionária”.

A tendência “liberal” baseia-se no valorpragmático e adaptativo do letramento,ou seja, na necessidade e importânciadeste “ para um funcionamento efetivona sociedade, tal como elaé”(alfabetismo funcional); já atendência “revolucionária”, baseia-se nopoder revolucionário do letramento, istoé, “em sua força potencial paratransformar as relações e práticas

sociais consideradas indesejáveis ouinjustas”(SOARES, 1995: p. 12).

Portanto, remetendo-se a Paulo Freire,SOARES (1995) afirma que oletramento “pode ser um instrumentotanto para a libertação quanto para adomesticação do homem, dependendodo contexto ideológico em queocorre”(p. 12).

SOARES (1995) conclui que “uma eoutra versões levam à relatividade doconceito de letramento: “se as práticassociais que envolvem a língua escritadependem da natureza e estrutura dasociedade, bem como do projeto quedeterminado grupo político assume,essas práticas variam no tempo e noespaço (...) sendo “impossível formularum único conceito... ” (p.12).

Em decorrência disto, SOARES (1995)afirma que o estudo do letramento “temque ser multidisciplinar, e que só acontribuição de diferentes ciênciaspoderá conduzir a um entendimentoclaro desse fenômeno”(p. 14).

Dentre as perspectivas de análisepropostas por SOARES (1995), a quemelhor condiz com o propósito destetrabalho é a perspectiva política, “queanalisa as condições de possiblidade deprogramas de promoção do[letramento], que determina objetivos emetas do [letramento], que analisaideologias subjacentes a programas ecampanhas de alfabetização, queestabelece e promove circuitos dedifusão, distribuição e circulação daescrita...” (SOARES, 1995: p. 14).

Como anteriormente afirmado, o nívelde letramento da população de um paísestá estritamente ligado a uma questãomais ampla de política social, uma vezque, segundo SOARES (1998), implicaque haja “escolarização real e efetivada população”, e ainda, que haja

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“disponibilidade de material de leitura”(p. 58), o que possibilitaria não apenasdar condições para ler e escrever, mastambém “condições para que osalfabetizados passassem a ficar imersosem um ambiente de letramento” (p. 58),onde as pessoas tivessem acesso alivros, revistas, jornais, livrarias ebibliotecas, possibilitando à leitura eescrita tornarem-se uma necessidade euma forma de lazer para elas.

Neste sentido, a questão colocada porSILVA (1997) é fundamental: “De queadianta ‘saber ler’ se os objetos deleitura (...) não são colocados àdisposição do indivíduo? (...) De queadianta ‘saber ler’ se não existe umprojeto social orientado para despertara consciência crítica através da leitura?Estas perguntas reclamam que outrascondições, de ordem sócio-cultural eeconômica, são necessárias para que aprática da leitura seja efetivamenteexercida.” (p.47)

FOUCAMBERT (1994), ao abordarquestões acerca da leitura na França,afirma que “não existe um só campo emque a verdadeira prática da democracianão passe pelo acesso do maior númerode pessoas à escrita. Não há partilhapossível do poder sem a partilha doacesso à escrita.”(p. 25)Segundo ele, soluções para os casos denão-leitura “só ganharão sentido numprojeto global que se precisa definirpreviamente”(p. 26), sendo necessárioencontrar as condições sociais ecomunitárias que surtirão efeitossemelhantes àqueles propiciados pelascondições familiares (de classe social).

FOUCAMBERT (1994) argumenta quea escola pode alfabetizar, mas nãogarante a formação do leitor, o queexige “tempo de vida dentro de um meioeducativo que já confere ao interessadoum status de leitor”(p. 23). Para isto,segundo ele, é necessário desescolarizar

a leitura, no sentido de que medidaspaliativas contra o analfabetismo(geralmente referentes aos métodos dealfabetização) devem ser substituídaspor um processo de leiturização eformação permanente do leitor, a serassumido por todas as instânciaseducativas, o que consiste numa opçãopolítica global que implica emtransformações no conjunto de relaçõessociais, “tanto no sistema produtivocomo na vida das coletividades, nosmeios de informação, na partilhapolítica, no sistema educativo e nafamília”(p. 26).

Pela forma como o aprendizado daleitura vem se concretizando,FOUCAMBERT (1994) acredita queiletrados e não-leitores têm vivenciadoum processo de exclusão das redes decomunicação escrita, não sendoconsiderados destinatários dos escritospresentes em seu ambiente, deixando dese beneficiarem de uma real relaçãocom a escrita, ou seja, não têm oestatuto de leitores.

De acordo com FOUCAMBERT(1994), esta exclusão não reside numacarência de técnicas, mas “na ausênciade motivos para dotar-se com essastécnicas” (p. 47); para ele, a ampliaçãodo poder é que “justifica as atuaisrazões de ir ao encontro da escrita”,sendo que “as condições de poderdependem, primeiramente, de estruturasque ultrapassam amplamente o âmbitoda sala de aula” (p.34), devendo aescola organizar-se em torno de“serviços gerais” (no caso da França, oautor cita as Bibliotecas- Centros-de-Documentação, a oficina “jornal” ou“rádio” e os projetos - produções reais,destinadas ao meio interno e externo daescola).

FOUCAULT (1991), por sua vez, aoanalisar a história da violência nasprisões, afirma que talvez seja

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necessário “renunciar a toda umatradição que deixa imaginar que sópode haver saber onde as relações depoder estão suspensas e que o saber sópode desenvolver-se fora de suasinjunções, suas exigências, seusinteresses”, admintindo que “ o poderproduz saber (...), que poder e saberestão diretamente implicados; que nãohá relação de poder sem constituiçãocorrelata de um campo de saber, nemsaber que não suponha e não constituaao mesmo tempo relações depoder.”(pp.29-30)

Esta relação poder-saber, apontada porFOUCAULT (1991), parece corroboraro que FOUCAMBERT (1994) afirmacom relação à ampliação do poderatravés da inserção do indivíduo nouniverso da palavra escrita, razãoprincipal que deve impulsionariletrados e não-leitores a vivenciarem oestatuto de leitor.

Considera-se, assim, no presentetrabalho, a leitura como uma atividadelingüística constitutiva do sujeito, aomesmo tempo que constituída/produzida por ele, tendo em vista aindaque “o domínio da língua tem estreitarelação com a possibilidade de plenaparticipação social”, sendo direitoinalienável de todos “o acesso aossaberes lingüísticos necessários para oexercício da cidadania”(BRASIL,1997: p. 23).

Assim como FOUCAMBERT (1994),acredita-se que “a responsabilidade poruma política de leitura deve serexercida pelas coletividades locais (...),num duplo movimento dedescentralização e autogestão,[coordenando] todos os atores e todosos locais, bem como avanç[ando] rumoà criação das condições sociais quegarantem o direito à leitura paratodos.”(p.15).

A questão da inserção do sujeito naspráticas sociais de leitura4, ou seja, seunível de letramento, decorre, portanto,de uma política social mais ampla,extrapolando o campo das açõesindividuais. É importante salientar,conforme afirma Brito (1998) que:

“Se queremos incentivar a leituraefetivamente, como um bempúblico, como uma marca decidadania, temos de abandonarvisões ingênuas e fantasiosas deleitura e investir num movimentopelo direito de poder ler. Oexcluído de fato da leitura não é osujeito que sabe ler e não gostade romance, mas o sujeito que, noBrasil de hoje, não tem terra, nãotem emprego, não temhabitação.” (p.2)

Para BRITO (1998), escolas ebibliotecas públicas são, sem dúvida, asduas instâncias mais diretamenteligadas à formação do leitor e ao acessoaos textos. Assim, uma pesquisa quepretenda investigar condições deletramento deve, inevitavelmente,eleger o espaço escolar e/ou dasbibliotecas públicas como locaisprivilegiados de formação do leitor e doacesso aos textos.

Tendo em vista a problemática dascondições de letramento de uma formamais ampla (e não apenas em relação àsescolas), optou-se neste trabalho pelaanálise do funcionamento de uma dasquatro bibliotecas públicas deCampinas. Espera-se que, ao términodessa pesquisa, consiga-se discutir pelomenos alguns dos aspectos propostospor SILVA (1995) com relação àsbibliotecas brasileiras:

4 Apesar da ênfase que damos à leitura nesteprojeto, entendemos que tanto ela como aescrita “são práticas complementares,fortemente relacionadas, que se modificammutuamente no processo de letramento” (PCN,p. 52).

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“A quem as bibliotecasbrasileiras estão servindo? Aopovo ou a uma elite deprivilegiados? Quais os esforçosque vêm sendo feitos pelasbibliotecas no sentido dedemocratizar os seus espaços e depopularizar os seus acervos?Quem efetivamente freqüenta asbibliotecas neste país? Qual ainfluência exercida pelasbibliotecas, traduzida em açãoconcreta, na luta do povobrasileiro em favor da conquistada liberdade e da democracia?”(p. 96)

MÉTODO

A instituição

Em seu site, na Internet, a SecretariaMunicipal de Educação esclarece que aBiblioteca Municipal “Prof. ErnestoManoel Zink”, juntamente com asoutras três bibliotecas municipais (porela coordenadas), tem os seguintesobjetivos: “preservar e socializar osaber histórico, promovendo apesquisa, a leitura de lazer, de estudo,de informação e de atividadesculturais”; “auxiliar o aluno a adquirirum mecanismo fundamental dasociedade informativa: o hábito dapesquisa”.

Tendo sido fundada em 15.11.1946, aBiblioteca Central (como épopularmente conhecida) conta com oseguinte acervo: 8.972 obras no setorpermanente e 20.430 obras no setorcirculante.

Este acervo subdivide-se em: 1586obras infantis; 1550 obras rara/semi-raras (355 obras do acervo MagalhãesTeixeira e 1538 obras de autorescampineiros); periódicos; hemeroteca(recortes de jornais e revistas);mapoteca; braile (2500 obras/100 livrosfalados); vídeos (64 fitas educativas);“espaço biXo” (apostilas de cursinhos,

etc.) e o “caixote de letras” (acervo de60 livros de literatura nacional eestrangeira rodiziando 60 dias eminstituições como: escolas, hospitais,postos de saúde, igrejas, etc.).

A biblioteca desenvolve tambématividades culturais que “visam ampliare diversificar os usuários...”; aSecretaria Municipal de Educaçãoesclarece, em seu site, que “sendo aBiblioteca Pública o Centro deReferência e Cultura da Comunidadenão pode deixar de contemplar asatividades musicais dentro de [seus]projetos.” A Biblioteca Centralpromove ainda exposições e concursosliterários.

A Secretaria Municipal de Educaçãotem os seguintes projetos em estudo:“Conversa com escritores campineiros”,“Arte concreta na biblioteca”, “Mala daLeitura” (em hospitais), “Leitura emterminais de ônibus”.

Por fim, ressalta-se a participação daBiblioteca no “Programa Nacional deIncentivo à Leitura” (PROLER), daFundação Biblioteca Nacional, que temcomo finalidade “incentivar e promoverprogramas de ação social cujo objetivoseja a criação de espaços de leiturae/ou de práticas leitoras”.

Sujeitos

Os sujeitos da pesquisa foram seisbibliotecários e quatro assistentes debiblioteca, que atuam na BibliotecaCentral em três de seus setores:permanente, circulante e braile.

O primeiro contacto foi com acoordenadora das bibliotecas públicasde Campinas; na ocasião, foi realizadauma entrevista informal com acoordenadora com o objetivo de seconhecer melhor o funcionamento dasbibliotecas públicas de Campinas, pois

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ainda não estava definido qual seria,especificamente, o objeto da presentepesquisa (sabia-se apenas que o estudoenvolveria a questão das políticas deleitura na cidade, restringindo-se aanálise dessa problemática ao espaçodas bibliotecas públicas).

Após essa entrevista, delimitou-se comouniverso da pesquisa a BibliotecaCentral por ser mais representativa dadinâmica de funcionamento do serviço,pois as outras três bibliotecas atendem aum público mais restrito por estaremlocalizadas em bairros/subdistritos deCampinas, sendo que uma delas édirecionada a um público infantil.

Assim, por sua localização (área centralda cidade) e por atender a um públicosupostamente mais variado, optou-sepela análise do funcionamento daBiblioteca Central. Para tanto, acoordenadora muito colaborou nosentido de divulgar o trabalho a serrealizado, bem como propiciando oagendamento das entrevistas no própriohorário de trabalho dos bibliotecários eassistentes de biblioteca, incentivando-os a colaborar com a pesquisa. Acaracterização dos sujeitos5

entrevistados (seis bibliotecários equatro assistentes de biblioteca), éresumidamente descrita a seguir.

Quanto aos bibliotecários, todospossuem nível universitário, tendocursado Biblioteconomia; prestaramconcurso público para ingressar naBiblioteca Municipal (a maioria iniciousuas atividades em 1997, sendo queapenas uma bibliotecária ingressou em1991). Realizam atividades distintas:um bibliotecário organiza o setor deperiódicos (de revistas), umabibliotecária cuida da hemeroteca (derecortes de jornal), duas outras 5 Havia mais uma bibliotecária no quadro defuncionários, mas ela se encontrava de licençagestante.

respondem pelo processamento técnico,sendo que uma delas é supervisora destesetor.

Uma das bibliotecárias foi convidada,em 1996, pelo Secretário da Educação,a assumir a coordenação das quatrobibliotecas públicas municipais deCampinas (é a única que deucontinuidade à sua formação, tendoterminado recentemente o Mestrado naárea de Biblioteconomia, pretendendoprosseguir com o Doutorado).

Quanto aos quatro assistentes debiblioteca, dois deles ingressaram em1998, através de concurso, atuando nobalcão de atendimento do setorpermanente; os demais foramcontratados no final da década de 80,sendo que um deles foi convidado atrabalhar no setor braile por suaexperiência em outra entidade; a outraassistente de biblioteca faz a parte declassificação da hemeroteca e,provisoriamente, também estáencarregada do xerox .

Quanto ao nível de escolaridade, todosos assistentes de biblioteca concluíramo nível médio, sendo que dois delescursam, atualmente, Direito e ServiçoSocial. Os outros dois demonstraminteresse em continuar sua formação emnível superior, porém descartam o cursode Biblioteconomia (segundo um deles,devido ao fator econômico).

Dados coletados

Natureza dos dados

Na presente pesquisa, foram coletadostrês conjuntos de dados:a) Relatos verbais de todos os

funcionários;b) Informações sobre os usuários;c) Informações sobre retirada de livros

do setor circulante.

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Caracteriza-se, portanto, como umapesquisa qualitativa, cujascaracterísticas podem ser encontradasem BOGDAN e BIKLEN (1991).

Procedimentos da coleta de dados

a) Relatos verbais:

O caráter desta pesquisa impôs aadoção de procedimentos de coleta dedados que incluíram a entrevista semi-diretiva, de acordo com LÜDKE eANDRÉ (1986).

A entrevista semi-diretiva, nestapesquisa, permitiu que o entrevistadodiscorresse livremente sobre o temaproposto, sendo apresentadas perguntasde acordo com o seguinte roteiro:1. Como chegou a esta função de

bibliotecário/assistente debiblioteca?

2. Qual é sua formação acadêmica(nível de escolaridade)?

3. Descreva o trabalho que vocêrealiza nesta biblioteca.

4. Você gosta do que faz?5. Qual a função do bibliotecário em

nossa sociedade?6. Caracterize as pessoas que

freqüentam esta biblioteca.7. O que estas pessoas esperam desta

biblioteca?8. Os leitores saem satisfeitos daqui?9. Qual a função da leitura em nossa

sociedade?10. Você também costuma emprestar

livros?11. Como avalia o serviço prestado pela

biblioteca pública de Campinas?12. A Prefeitura Municipal de

Campinas investe em políticas deleitura?

As entrevistas foram agendadasrespeitando-se a possibilidade dehorário de cada um (durante o próprioexpediente) e gravadas com aautorização prévia de todos os sujeitos.Após a gravação, procedeu-se à

transcrição integral de todos os relatosverbais. A partir da leitura desses dados,foram criados conjuntos e subconjuntostemáticos que permitiram uma melhororganização e posterior análise domaterial.

b) Informações sobre os usuários

Com o objetivo de traçar um perfilpreliminar dos usuários da BibliotecaCentral, analisou-se o único materialexistente na biblioteca sobre eles: asfichas cadastrais daqueles usuários quefizeram carteirinha para poder realizar oempréstimo de livros do setorcirculante. Nessa ficha, deveriamconstar os seguintes dados: nomecompleto do usuário, número e data dainscrição, assinatura, endereço etelefone de sua residência, profissão,lugar em que trabalha e telefone,identidade e data de nascimento.

Como o setor circulante ainda não estáinformatizado, todas as fichas forampreenchidas à mão e arquivadas porordem alfabética. Cabe ressaltar,conforme esclarecimentos dabibliotecária responsável pelo setorcirculante, que houve umrecadastramento geral em 1996; assim,as fichas cadastrais existentes noarquivo no momento da pesquisa eramreferentes ao período de 1996 a 1998(perfazendo a quantia de,aproximadamente, 8500 leitores), alémdaquelas referentes ao ano de 1999, dosnovos cadastrados, sendo que,anualmente, todos os usuários devematualizar seu endereço.

Dentre as informações solicitadas naficha cadastral, entretanto, nem todaspuderam ser recuperadas devido aopreenchimento incompleto que,segundo a bibliotecária, deve-se àprópria falta de espaço na ficha; assim,selecionaram-se dois itens considerados

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relevantes para a pesquisa: profissão eidade do usuário, tendo-sedesconsiderado as fichas cadastrais quenão apresentassem esses dados.

Após realizar a leitura e seleção dasfichas cadastrais que preenchiam ascondições preestabelecidas,organizaram-se os dados coletados daseguinte maneira:

quanto à profissão: utilizando-se oquadro de ocupações profissionaispresente no Manual do Candidato doVestibular da UNICAMP, organizaram-se as profissões dos usuários em oitocategorias6:

Categoria 1: altos cargos públicos eadministrativos, proprietários degrandes empresas e assemelhados.Categoria 2: profissionais liberais,cargos de gerência ou direção,proprietários de empresas de tamanhomédio e assemelhados.Categoria 3: posições mais baixas desupervisão ou inspeção de ocupaçõesnão-manuais, proprietários de pequenasempresas comerciais, industriais,agropecuárias, etc.Categoria 4: ocupações não-manuais derotina e assemelhadas.Categoria 5: supervisão de trabalhomanual e ocupações assemelhadas.Categoria 6: ocupações manuaisespecializadas e assemelhadas.Categoria 7: ocupações manuais nãoespecializadas.Categoria 8: ocupações do lar.

É necessário esclarecer que, no caso daprofissão de professor, o manual remetea duas categorias: a 3, para professorsecundário, e a 4, para professorprimário. Nos casos em que o usuárioregistrava, na ficha cadastral, que sua

6 In: Vestibular UNICAMP 2000 – Manual doCandidato. Publicação da CoordenaçãoExecutiva dos Vestibulares. Campinas, SP : Ed.Ave Maria, 1999.

profissão era “professor”, semespecificar o nível, optou-se porenquadrá-lo na categoria 4, uma vezque, na maior parte das fichas cadastraisem que apareceu a profissão deprofessor com o nível correspondente,havia uma predominância do nívelfundamental. Além disso, a leitura dasfichas cadastrais revelou que muitosusuários registram como profissão suacondição de “estudante”, o que nãoconsta do quadro de ocupaçõesprofissionais utilizado. Assim, decidiu-se pela utilização de mais uma“categoria”, além das oito já existentes:a Categoria 9 - estudantes (raramente háinformações sobre o nível, por issodesconsideramos esse dado).

quanto à idade: após levantamento dadata de nascimento dos usuários,organizaram-se os dados dos mesmospor faixa etária.

c) Informações sobre retirada delivros do setor circulante:

Para complementar o perfil do usuárioda Biblioteca Central, buscou-seidentificar que tipo de leitura ele realiza,ou seja, que tipo de livros e assuntos sãomais procurados e retirados. No entanto,como o setor circulante ainda não seencontra informatizado, foi impossívelconseguir este tipo de dado.

Por outro lado, a bibliotecária do setorcirculante criou uma planilha onderegistra, dia a dia (tanto no período damanhã como no da tarde), a quantidadede livros retirados, tendo em vista asseguintes classes, identificadas pelosseguintes códigos:- 000: Obras Gerais- 100: Filosofia- 200: Religião- 300: Ciências Sociais- 400: Lingüística/Línguas- 500: Ciências Puras- 600: Medicina/Adm./Eng.

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- 700: Artes- 800: Literatura- 900: História/Geografia- BIOGR.: Biografia- AP./DESC.: Apostilas/MaterialDescartável- 028.5: Literatura infanto-juvenil- VESTIB.: livros exigidos pelosvestibulares

Ao final de cada mês, a bibliotecáriatotaliza todas as classes de livros,registrando também o número decadastros feitos (relativo à carteirinhade novos sócios). Com base nessasplanilhas de controle de retirada,gentilmente cedidas pela bibliotecária,foi possível fazer um levantamento doslivros emprestados pelos usuários dabiblioteca durante o período que vai demarço de 1998 a março de 1999 (nãohavendo registro referente à janeiro de1999, pois a Biblioteca Centralpermaneceu fechada).

RESULTADOS

Dados das entrevistas

Após a transcrição dos relatos verbais,os mesmos foram organizados emconjuntos e subconjuntos temáticos, osquais são apresentados na seqüência.

ROTINA DE TRABALHO

Este conjunto temático contém osrelatos verbais que descrevem otrabalho realizado diariamente pelossujeitos na biblioteca; subdvidiu-se emdois subconjuntos, tendo em vista asdiferentes funções dos sujeitosentrevistados (bibliotecários eassistentes de biblioteca).

Rotina de bibliotecários

Neste subconjunto, os bibliotecáriosrelatam sua rotina de trabalho na

Biblioteca Central. Como os sujeitos,apesar de terem a mesma função, atuamem setores e cargos diferenciados,procurou-se detectar aspectos comunspresentes em seus relatos.

Um primeiro ponto salientado foi o fatode a maioria dos sujeitos ter passado eainda passar, por vários setores dabiblioteca. Isso ocorre(u) tanto devido aum momento inicial na carreira, quandonão havia um cargo específico a serpreenchido, quanto a uma situação deacúmulo de função, em virtude da faltade funcionários, havendo um esquemade revezamento para suprir essadeficiência.

Outro aspecto presente nos relatosverbais dos bibliotecários foi aimportância que os sujeitos atribuem aocontacto com o público, principalmetepara aqueles que desempenham funçõesmais internas relativas à organização doacervo, por ser uma forma de conhecermelhor as prioridades e necessidades dousuário.

Um dos sujeitos salienta uma questãoque também é, de certo modo, abordadapor outros sujeitos, ainda que em outrossubconjuntos: uma espécie de divisãoexistente na área de Biblioteconomia,havendo uma área mais ligada àadministração/organização e outrarelacionada à parte cultural,prevalecendo uma visão de que aprimeira envolve um trabalho mais“mecânico”, sendo por isso mesmodesprestigiada.

Rotina de assistentes

O trabalho específico do assistente debiblioteca caracteriza-se por ser maisprático, principalmente no caso dossujeitos que foram contratadosrecentemente e que trabalham no balcãode atendimento do setor permanente.

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Por outro lado, assistentes que têm maistempo de serviço ou que trabalham emum setor específico, como o dabiblioteca braile, desempenham tarefasdiversas, não ficando apenas com aatividade de atendimento (o assistentedesse último setor, por exemplo,também procede à organização doacervo, controla a entrada e saída domaterial, a chegada de livros novos erealiza o tombamento e o fichamentodos livros).

REALIZAÇÃO PROFISSIONAL

Este conjunto temático inclui os relatosverbais que descrevem a motivação dossujeitos no desempenho de suasfunções. Todos os sujeitos afirmamgostar do que fazem. Apesar disso,muitos apontaram aspectos que lhesdesagradam no desempenho de suasfunções ou, de um modo mais geral,ligados à área de Biblioteconomia.

As ressalvas feitas pelos sujeitosremetem à falta de afinidade com a áreamais técnica da Biblioteconomia (háuma preferência pelo desenvolvimentode atividades mais culturais, deincentivo à leitura, e pela área depesquisa), às dificuldades financeiras dese trabalhar na área de bibliotecaspúblicas, à inexistência da função debibliotecário de referência (o quepermitiria realizar um trabalho deorientação à pesquisa), àimpossibilidade de auxiliar osestudantes no setor permanente devido àgrande demanda e enormes filas; taisaspectos que tornam estafante o dia-a-dia de quem atua nesse setor, emdetrimento do que acontece no setorcirculante (considerado por alguns maisinteressante).

USUÁRIOS

Os relatos verbais contidos nesteconjunto temático estão relacionados

com o usuário do serviço da BibliotecaCentral, tendo em vista diferentesaspectos, o que levou à subdivisão desteem cinco subconjuntos, descritos aseguir.

Perfil do usuário

Neste subconjunto, procurou-se agruparos relatos verbais que evidenciassemcomo o usuário da Biblioteca Central(independentemente do setor) é vistopelos sujeitos entrevistados.

Ainda que alguns dos sujeitos afirmemque o perfil do usuário da biblioteca éamplo, não sendo possível falar em umperfil único, a maior parte dos relatosverbais evidencia que o tipo de públicoque freqüenta a Biblioteca Central éconstituído, em sua maioria, porestudantes de 1o e 2o graus(principalmente de 5a série ao 3o

colegial), de escolas públicasmunicipais e estaduais (raramente sãode escolas particulares) que, geralmente,trabalham de dia e estudam à noite,residem na periferia e utilizam abiblioteca quase que exclusivamentepara a realização de pesquisa escolar.

A predominância desse tipo de usuárioé associada a algumas características eproblemas da Biblioteca Central: toda aatenção converge para o setorpermanente da biblioteca, o qual setorna prioritário (o que se evidenciapelo fato de mais pessoas trabalharemno balcão de atendimento, dos livrosdesse setor serem consertados emprimeiro lugar...).

O problema da deterioração do acervotambém é mencionado por algunssujeitos, que o atribuem a fatores comoo desespero daqueles usuários quenecessitam entregar sua pesquisaescolar no prazo estabelecido e não têmtempo para pesquisar porque trabalhame não podem aguardar o atendimento

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nas longas filas do balcão ou do xeroxdo setor permanente.

Um outro motivo apontado é a falta deconscientização dos usuários que nãopercebem que a biblioteca é um espaçocoletivo (o que, para um dos sujeitos,reflete a degradação do sistema deensino e da educação de um modogeral), o que o leva a ter umpensamento individualista e a deterioraro acervo, sem ter noção de que ele,como usuário, é a maior vítima.

Por outro lado, além deste públicomajoritário, existe uma comunidadeleitora que utiliza a Biblioteca Centralsem ter como objetivo a realização depesquisa escolar: são os leitores dejornal (muitas vezes à procura deemprego), donas de casa que buscamromances, além das crianças euniversitários (em menor número), queutilizam o setor circulante.

Com relação aos universitários, um dossujeitos acredita que o universitário beminformado nunca vai à bibliotecapública porque imagina que não vaiencontrar o que procura.

A comunidade leitora, entretanto,parece não manter com a biblioteca amesma relação de antigamente pois,conforme relatou a coordenadora, hápessoas que vêm freqüentado abiblioteca há vários anos; segundo ela,antigamente, esse espaço tinha maisfunção em suas vidas, desde a infânciaaté a formação superior (alguns nãocompravam livros porque dispunham doacervo da biblioteca).

Acredita-se que a predominância de umpúblico que se constitui, basicamente,de estudantes não tem a ver com oacervo da Biblioteca Central, devendo-se à defasagem de bibliotecas escolares,o que leva a instituição a funcionar

como uma biblioteca escolarcoadjuvante.

Ao mesmo tempo, parece haver umperfil “ideal” do usuário, sendo que umdos sujeitos afirma que a bibliotecapública deveria ser utilizada por pessoasque desejam exercitar sua leitura, queprocuram informação para sua vida.Acredita-se, entretanto, que umatransformação no perfil do usuário daBiblioteca Central só ocorrerágradualmente, tendo a escola um papelfundamental nesse processo.

Diferenças entre os usuários dos setorescirculante, permanente e braile

Nesse subconjunto, os sujeitos relatamas especificidades dos usuários de cadaum desses setores da Biblioteca Central.

� Setor circulante

De um modo geral, os usuários dessesetor são descritos como um públicomais restrito, que acaba estabelecendoum contacto mais próximo com osfuncionários; têm um nível sócio-econômico um pouco melhor, maisescolaridade, pertencem a uma faixaetária mais elevada, vão à biblioteca embusca de uma leitura de lazer, deentretenimento, mais literária.

Considerado um setor mais “nobre”,conta ainda com um númeroconsiderável de estudantes que vêm deoutras cidades para fazer cursinho pré-vestibular em Campinas, os quais“disputam” os poucos exemplaresdisponíveis dos livros de literaturaindicados para os exames vestibulares,como os da UNICAMP e da FUVEST.

Outros segmentos menores de públicodo setor circulante são os estudantesque necessitam realizar a pesquisaescolar que, por não disporem detempo, optam pelo empréstimo de

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material (quando isso é possível); osleitores infantis (que costumam utilizarmais a biblioteca da própria escola,quando ela existe) e também pessoasque procuram livros mais técnicosrelacionados à sua profissão(eletricidade, mecânica, etc.)

Os relatos de alguns sujeitos descrevemo setor circulante como sendo umespaço em que as pessoas têm maisexpectativas, porque a leitura é umhobby, um prazer e não uma coisaimposta, sendo que o usuário “ideal” éaquele que procura pela biblioteca comoum espaço a que tem direito enquantocidadão que paga imposto.

� Setor permanente

Em oposição ao setor circulante, opermanente é descrito pelos sujeitoscomo uma espécie de “cavalo de tróia”,apresentando maiores dificuldades emvirtude da grande demanda por pesquisaescolar. O perfil dos usuários dessesetor foi assim definido pelos sujeitos:em sua maioria, são alunos de escolaspúblicas, de 1o e 2o graus; muitos vêmda periferia da cidade por não teremopção na escola e no bairro; a maiorparte tem pouco domínio da escrita echega sem saber exatamente o que quer;têm pouca condição de estudo,dificilmente questionam muito. Hápessoas que têm dificuldadesfinanceiras até para chegar à biblioteca.

Contrapondo-se ao setor circulante, osetor permanente raramente éfreqüentado por interesse próprio, nãodemonstrando o usuário grandesexpectativas, preocupado apenas emcumprir uma tarefa solicitada peloprofessor. Assim, prevalece uma maiorrotatividade dos usuários nesse setor,que também costuma ser freqüentadopor pessoas de cidades vizinhas, comoSumaré e Valinhos, conforme relataramos sujeitos entrevistados.

Apesar dessas dificuldades, oujustamente por elas, o setor permanentetem sido visto como prioritário. Todosos esforços são para que ele funcione, oque inclui a abertura da biblioteca aossábados e a existência de uma máquinade xerox, apesar da lei de direitoautoral, tudo para dar conta da grandedemanda por pesquisa.

� Setor braile

O funcionamento da biblioteca braile émuito semelhante ao da bibliotecacomum; como a maior parte do materialpode ser retirada por empréstimo (comexceção de dicionários), ela se constitui,basicamente, por um acervo circulante;por serem em número reduzido, osusuários do setor braile mantém umarelação mais próxima com osfuncionários. Há, entretanto, umaespecificidade que caracteriza essesetor: é um espaço socializante, onde aspessoas buscam informação de ummodo geral e não apenas livros.Funciona como um ponto de encontro,onde os usuários comparecem parabuscar informação, para bater papo oupara ter contacto com os eventos queocorrem na cidade.

Por outro lado, a questão da pesquisaescolar, em contraposição à leitura“prazerosa”, também está presentenesse setor pois, conforme relatou oassistente de biblioteca por eleresponsável, dentre as cinqüentapessoas que o freqüentam, cerca de deztêm o hábito de ler.

Em termos de pesquisa escolar, oacervo existente no setor braileconsegue atender principalmente ademanda do ensino fundamental, sendoque a maior parte dos alunos queprocuram o setor são de escolas da redepública.

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Imagem que o público tem da biblioteca

Nesse subconjunto, procura-se destacaros relatos verbais que descrevem aimagem que o usuário tem da BibliotecaCentral, na perspectiva dos sujeitosentrevistados.

Ainda que um dos sujeitos tenhaapontado um aspecto que remete a umaimagem positiva da biblioteca junto aosusuários, por ser um local onde é muitomais fácil encontrar uma informação,comparativamente a outros lugares ondeo acesso é mais restrito, a maioria dossujeitos acredita que as pessoas têmuma visão negativa da BibliotecaCentral (e até das bibliotecas de ummodo geral), que costuma ser vistacomo uma coisa rançosa, antiga, quecheira a mofo.De acordo com um dos sujeitosentrevistados, há pessoas queconsideram a biblioteca um malnecessário, um local onde têm quepassar e perder uma tarde, quandopoderiam estar no shopping com anamorada ou com os amigos. Já osuniversitários não têm interesse pelabiblioteca porque, para este público,segundo um dos entrevistados, o acervoé deficiente.

A própria mídia, conforme afirma umdos sujeitos, faz com que a populaçãoacabe por ter uma idéia errônea e nãoutilize, de uma forma mais ampla, esseespaço público, o que se comprovouquando da publicação de um artigosobre a Biblioteca Central, que saiu coma seguinte manchete: “BibliotecaPública - bolor e pó”, em chamada deprimeira página.

Assim, conforme afirmou acoordenadora das bibliotecas públicasde Campinas, a visão negativa dousuário, mantida ou reforçada pelamídia, leva a um desconhecimento dos

serviços oferecidos, havendo pessoasque, por seu nível de letramento, seconsideram praticamente analfabetas e,em razão disso, afastam-se de umespaço que, para elas, é praticamente“sagrado”. Por outro lado, pessoas cujonível de letramento é maior encaram abiblioteca pública como uma espécie de“museu”, com um acervo ultrapassado,não havendo, portanto, interesse emconsultá-lo.

Essa situação, conforme relatou um dossujeitos, acaba por fazer persistir apresença quase que exclusiva deestudantes na Biblioteca Central,interessados apenas em realizar suapesquisa escolar e ir embora,considerando a biblioteca necessáriaapenas durante o período letivo.

A “metodologia” de pesquisa do usuárioe o ensino nas escolas

Nesse subconjunto, os sujeitosentrevistados avaliam o ensino atual emfunção da forma como o usuário daBiblioteca Central procede ao realizarsua pesquisa.

De um modo geral, as pessoas que vãofazer pesquisa, independentemente daidade e do nível de escolaridade, sãodescritas como sendo muitodespreparadas e desorientadas, poischegam à biblioteca sem saber ao certoo que procuram (o tema da pesquisa),raramente dispõem de uma bibliografiae, como apresentam dificuldade atémesmo para entender o que lêem, autilização de índices e sumários comoforma de orientação torna-se totalmenteinviável.

As condições de trabalho no setorpermanente da Biblioteca Central, poroutro lado, são marcadas pela grandedemanda de usuários e pelas longasfilas no xerox, o que inviabiliza umtrabalho de orientação à pesquisa. A

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maioria dos sujeitos afirma que, apesarda função do assistente ser ofornecimento do material, ele acabatendo que dar tudo muito “mastigado”,procurando o tema a ser pesquisado,abrindo na página, não sendo possívelorientar o usuário de modo que estetorne-se mais autônomo.

Outros sujeitos salientam que oprocedimento dos usuários, aorealizarem sua pesquisa escolar, refleteo ensino no país e a falta deproximidade entre escola e biblioteca eentre bibliotecários e professores (que,de um modo geral, em sua opinião,solicitam a pesquisa apenas para ajudarna média do aluno). Ainda que semsaber como modificar a forma como osusuários realizam sua pesquisa, ossujeitos entrevistados acreditam que oideal seria que os professoresarranjassem outra maneira de avaliar oaluno e que este passasse a pesquisarpor curiosidade, para fazer um trabalhobem feito.

O usuário e a leitura

Nesse subconjunto, ao descrever suasconjecturas sobre qual é a função daleitura para os usuários, os sujeitosentrevistados afirmam que as pessoasque utilizam a biblioteca nãorelacionam a leitura à questão dacidadania, sendo mais uma atividadeimposta pelo professor.

Os relatos verbais mencionam aindadois aspectos relativos à questão daleitura realizada pelos usuários: a faltade hábito/gosto e a falta de acesso. Comrelação ao primeiro item, acredita-seque as pessoas, de um modo geral, nãotêm o hábito de ler (com exceção daspessoas mais idosas). O maispreocupante, entretanto, segundo acoordenadora, é a falta de acesso àleitura, problema que atinge segmentossociais cuja situação sócio-econômica é

precária, sendo que muita gentedesconhece que é possível retirar livrosgratuitamente nas bibliotecas públicasda cidade.

O SUJEITO E A LEITURA

Os dois subconjuntos que constituemesse conjunto temático contém relatosverbais que descrevem aspectosrelacionados à leitura realizada pelossujeitos entrevistados.

Concepção de leitura dos sujeitos

Nesse subconjunto, os sujeitosdescrevem qual é, para eles, a função daleitura na sociedade atual; ao falar de“leitura”, muitos salientam que ler éinterpretar e não apenas decifrar, eafirmam que as pessoas têm muitadificuldade nessa interpretação do que érealmente a leitura, a importância queela tem.

São atribuídas à leitura as funções de:formar opinião, permitir o acesso aoconhecimento, à cultura, melhorar opensamento, o raciocínio, satisfazer asnecessidades de estudo ou lazer,aumentar o nível de informação, enfim,ampliar a visão de mundo e,conseqüentemente, possibilitar àspessoas maior criticidade, provocandomudanças que contribuem para oexercício da cidadania.

O que lêem

Procura-se descrever, nessesubconjunto, relatos sobre a leitura queos sujeitos entrevistados realizam:gênero, freqüência e procedência doslivros lidos.

Quanto à freqüência de leitura, há desdesujeitos que lêem apenas durante asférias e nos finais de semana, até

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aqueles que afirmam ler dois ou maislivros por dia.

Quanto à procedência, alguns sujeitosafirmam que preferem comprar os livrosde seu interesse ao invés de retirá-los dabiblioteca; dentre os que gostam deleituras relacionadas à sua áreaprofissional, é consenso que aBiblioteca Central não consegue atendersuas necessidades, não sendo possívelrecorrer ao empréstimo (apenas oassistente do setor braile, dada aespecificidade do material, consegueutilizar mais amplamente o acervoexistente na Biblioteca Central). Cabeainda observar que poucos entrevistadostêm carteirinha da biblioteca paraempréstimo de livros, sendo feito umcontrole alternativo para osfuncionários.

Com relação ao gênero dos livros queos sujeitos entrevistados lêem, percebe-se que a maior parte não tem afinidadecom “romances” (livros de literatura),havendo uma certa preferência pelasobras sobre religião, Psicologia, auto-ajuda e livros técnicos.

Cabe ressaltar que, dentre todos ossujeitos, aquele que relata uma práticamais constante e efetiva de leitura éjustamente a coordenadora que, poracreditar que poucos funcionários daBiblioteca Central são leitores,questiona como é que eles podemcontribuir para a formação do gosto pelaleitura.

A FUNÇÃO SOCIAL DOBIBLIOTECÁRIO E DOASSISTENTE DE BIBLIOTECA

Esse subconjunto traz os relatos verbaisem que os sujeitos entrevistadoscaracterizam sua prática no contexto dasociedade atual.

A maior parte acredita que a função dobibliotecário e do assistente, nasociedade de hoje, é passar informação,democratizá-la o máximo possível, jáque a Biblioteconomia é a ciência dainformação.

Essa preocupação justifica-se, segundoos sujeitos, pelo poder que a informaçãotem em um mundo globalizado; paraum dos sujeitos, este poder deve serainda mais valorizado na sociedadebrasileira, pois é a informação públicaque vai possibilitar o exercício dacidadania, que vai fazer com que apessoa participe mais, que saiba os seusdireitos.

Em detrimento da parte mais técnica daBiblioteconomia, os relatos apontampara uma preocupação maior com otrabalho com o público; percebe-se,entretanto, que para alguns sujeitos nãobasta apenas conseguir a informaçãocerta, para pessoa certa, no menor prazode tempo possível, sendo fundamentalestar sempre buscando formas dedesenvolver nas pessoas o gosto pelaleitura, o prazer de estar lendo pois, deum modo geral, as pessoas lêem muitopouco e isso acarreta umadesinformação muito grande.

Para a coordenadora, a função dobibliotecário na sociedade atual é sociale cultural mas, no entanto, as pessoasnão reconhecem isso. O própriobibliotecário, segundo ela, dificilmentevê essa função. Ele pensa mais no ladotécnico porque, durante sua formação, oque se enfatiza é o lado mais técnico enão a formação de leitores.

Um dos sujeitos acredita que obibliotecário tem também a função deeducador, pois é alguém ligado àcultura, cabendo a ele fazer a “ponte”até o povo, através da organização dessacultura. Nesse sentido, estabelece umparalelo entre o bibliotecário e o

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professor que, para ele, sãofundamentais e têm vivenciado odesprestígio da sociedade.

AVALIAÇÃO DO SERVIÇOPRESTADO

A avaliação que os sujeitosentrevistados fazem do serviço prestadopela Biblioteca Central é descrita nostrês subconjuntos abaixo:

Limitações

Ao avaliar o serviço prestado pelaBiblioteca Central, os sujeitosentrevistados apontam as seguintesdificuldades:

• acervo desatualizado, pois não háuma política de aquisição dematerial (a biblioteca vive dedoações); deixa a desejar em termosde assuntos mais específicos eatuais; há poucos exemplares doslivros exigidos pelos principaisvestibulares e de material parapesquisa; muito voltado à pesquisaescolar; especificamente no setorbraile, há pouca produção dematerial;

• falta de pessoal (tanto bibliotecárioscomo assistentes de biblioteca), oque sobrecarrega o trabalho detodos; torna o atendimentodemorado, levando à formação degrandes filas no setor permanente;inviabiliza um trabalho deorientação à pesquisa; atrasa oprocesso de informatização doacervo, o que permitiria colocar asbibliotecas públicas em rede;

• depredação do acervo, tanto pornão haver restrição para se tirarxerox do material, como pelo fatodo usuário não ser consciente (onúmero limitado de funcionários

não permite realizar um trabalho deeducação);

• falta de espaço (tanto no setordestinado à pesquisa como no setorde braile);

• falta de leitores (que não apenas osestudantes);

• falta de clareza quanto à funçãosocial da biblioteca por parte dosfuncionários, o que faz com que elesnão tenham a noção de que énecessário convencer as pessoas daimportância da biblioteca enquantoum serviço público.

Tendo em vista as limitações acimareferidas, a maior parte dos sujeitosentrevistados considera insatisfatório oatendimento prestado pela BibliotecaCentral e fazem suposições quanto aotipo de mudanças que levariam àtransformação da situação atual: aexistência de um setor específico, nabiblioteca, para a realização da pesquisaescolar; a ampliação do contacto entreescolas e bibliotecas públicas,procurando-se fazer um trabalho efetivode orientação à pesquisa (ressalta acoordenadora que, por outro lado, aBiblioteca Central não pode assumir afunção de biblioteca escolar, uma vezque não segue um projeto pedagógico).

Por fim, sugere-se que uma cidade como porte e a renda de Campinas deveriaampliar seus investimentos na área debibliotecas públicas, os quais têm sidoínfimos.

Reclamações

Ao relatarem as reclamações dosusuários sobre o serviço prestado pelaBiblioteca Central, os sujeitosentrevistados afirmam que recebem

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desde reclamação no 1567 atéagradecimentos, muitas vezes por partede pessoas que não encontraram omaterial que procuravam mas quereconheceram o esforço do funcionárioque as atendeu. Para alguns dosentrevistados, na medida do possível, osusuários saem satisfeitos porque asreclamações são decorrentes dosproblemas que a biblioteca temenfrentado de uma forma mais ampla.

Alguns sujeitos acreditam que o usuárionão sabe reclamar pelos seus direitos daforma correta, pois não percebe, porexemplo, que o problema de demora dafila é reflexo da falta de um númeromaior de funcionários.

Com o aluno de 2o grau, conformeafirmação de outro sujeito, o máximoque se consegue é uma discussãopessoal, às vezes um atrito, sendo quealguns, ao se sentirem insatisfeitos,ameaçam tirar o emprego defuncionários argumentando que osalário destes é fruto dos impostospagos pelo pai.

Para a coordenadora, o aspecto maisgrave no serviço público é justamente oatendimento prestado pelosfuncionários; a Biblioteca Central nãofoge à regra: atende mal o usuário(embora, salienta, haja exceções), sendoque a maior parte dos funcionáriosdesconhece sua função social, sendomão-de-obra pouco qualificada. Paratentar reverter esse quadro, acoordenadora tem incentivado aparticipação dos funcionários emeventos como o COLE (Congresso deLeitura do Brasil).

7 Telefone que a Prefeitura de Campinas colocaà disposição dos cidadãos para informações,reclamações, etc. quanto aos serviços públicosda cidade.

Aspectos positivos

Dentre os sujeitos entrevistados, doisconsideram que as pessoas, atualmente,saem satisfeitas da Biblioteca Centralpelos seguintes motivos: porque oacervo supre a necessidade do usuárioque necessita realizar sua pesquisaescolar ou ler revistas e todos fazem detudo para não desapontar o usuário.

A maior parte dos sujeitos, entretanto,refere-se a aspectos positivos do serviçoprestado pela Biblioteca Centralprecisamente em razão das limitações edificuldades enfrentadas diariamente emseu cotidiano ou no serviço público deum modo geral: o setor braile, porexemplo, é considerado uma conquistapor seus usuários, pois é um espaço quepode ser utilizado independentementeda entidade que freqüenta, sendo que oatendimento só é problemático, segundoum dos sujeitos, em decorrência daslimitações do acervo.

Alguns dos sujeitos entrevistadosenfatizam ainda que muitos problemasacabam por não aparecer porque algunsfuncionários desdobram-se para nãodeixar as pessoas saírem sem algummaterial, característica que, para alguns,rompe com o esteriótipo que se tem dofuncionário público que não trabalha.

RELAÇÕES ENTRE ABIBLIOTECA E A SECRETARIAMUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

Os dois subconjuntos abaixo descrevema interação existente entre a BibliotecaCentral e a Secretaria Municipal deEducação, à qual ela está subordinada,tendo em vista dois aspectos:investimentos e política (ações eprojetos).

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Investimentos

Ao falar das condições propiciadas pelaSecretaria Municipal de Educação àBiblioteca Central, a maior parte dossujeitos relata que ele é ínfimo; algunsafirmam que se deve levar emconsideração que há um problemaorçamentário mais amplo, que obriga aPrefeitura a realizar cortes de verba; nocaso da Secretaria Municipal deEducação de Campinas, alguns sujeitosacreditam que a prioridade deinvestimento devem ser as escolas.

Por outro lado, um aspecto éinsistentemente relatado: não há umapolítica de atualização de acervo, deaquisição de material (a última comprade livros ocorreu em 1995, após 15 anossem que tivesse havido qualqueraquisição) e nem uma política de leiturapara a cidade, o que obriga a BibliotecaCentral a procurar alternativas paraconseguir minimamente se manter.

De um modo geral, os sujeitosconsideram irrisório o investimento quese faz em Educação e Cultura, tanto nomunicípio de Campinas como emtermos nacionais, sendo que essas áreasdeveriam de fato ser consideradasprioritárias.

Um dos sujeitos compara a quantidadede bibliotecas existentes em Campinascom as da cidade de São Paulo econclui que a Biblioteca Central deveriater pelo menos o triplo do tamanho,dada a sua localização O mesmo sujeitoreflete que, em termos de doações, nãohá uma preocupação nem por parte dasuniversidades nem das editoras deenviar material para as bibliotecaspúblicas de Campinas, pois esta atendeprincipalmente um público de menorpoder aquisitivo que não adquire livros,limitando-se a emprestá-los dabiblioteca ou a tirar xerox. Para estesujeito, os serviços considerados

essenciais deveriam ter um orçamentopróprio, ser auto suficientes, talvez atéindependentes da verba da Prefeitura.

Outro sujeito argumenta que o precárioinvestimento na área da Educação (umadas áreas consideradas prioritárias),tanto em termos municipais comonacionais, tem levado a um desestímuloà leitura, pois a carência de verbas nãotem permitido seu incentivo.

Política

Ao procurar descrever ações e projetosda Secretaria Municipal de Educação eda Biblioteca Central (às vezes emconjunto com outros órgãos), no sentidode democratizar a leitura no municípiode Campinas, alguns sujeitos afirmaramnão ter muito conhecimento sobre essaquestão, a qual poderia ser melhoresclarecida junto à coordenadora.

Um projeto, entretanto, que estavasendo implantado no período em que asentrevistas foram realizadas (naverdade, trata-se de uma nova “versão”de um projeto anterior, que já vinhasendo realizado), era do conhecimentode todos: “Leitura, Música eCompanhia”, que consiste em umavisita programada de escolas àBiblioteca Central, para mostrar seuespaço, suas atividades, seu acervo, bemcomo realizar um trabalho deconscientização sobre a necessidade deconservação do acervo. Ao término davisita, os alunos assistem a um showmusical, com artistas locais ou umcoral.

Para alguns sujeitos, esse tipo deprojeto, voltado ao público infantil,pode contribuir para uma futuratransformação do espaço da bibliotecaem um centro de cultura, de leitura, depromoção da leitura, freqüentado poradultos mais conscientes da importânciado ato de ler.

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Além do projeto “Leitura, Música eCompanhia”, houve referência aalgumas outras iniciativas da biblioteca:concurso de poesia (realizado em 1998);um projeto em parceria com umaempresa que envolveu a doação delivros novos; leitura em asilo. Tambéma parceria com o Programa Nacional deIncentivo à Leitura (PROLER) foimencionada, sendo a Biblioteca Centrala sede do PROLER em Campinas (atéaquela ocasião, dentre os vários projetosem estudo nenhum havia sidoimplantado).

Para um dos sujeitos, projetos como osrealizados pelo PROLER, ou o “LeiaBrasil” tem uma abrangência restrita,pois poucas escolas públicas sãocontempladas com eles, sendo a sala deaula e a biblioteca locais privilegiadosde formação de leitores.

Para a coordenadora, em termos deações e projetos relacionados com oincentivo à leitura, pouco tem sido feitono espaço das bibliotecas públicas deCampinas; no entanto, ela enfatiza quepara realizar atividades diferenciadascomo, por exemplo, sessões de leitura,debates com escritores, tendo em vista aabertura estratégica de espaços queconsigam trazer outro público para abiblioteca é necessário ampliar o espaçofísico disponível e, ao mesmo tempo,contar com a atuação de bibliotecárioscom uma visão mais social de suafunção, o que tem sido dificultado pelaênfase ainda dada à parte mais técnicanos curso de Biblioteconomia.

Através de um outro projeto,denominado “Bibliotecas Itinerantes”(que deveria ser iniciado em abril),envolvendo parceria entre a PUCC,FAPESP e a Secretaria Municipal deEducação, pretende-se, conformeesclarece a coordenadora, mapearCampinas tendo em vista suas diversas

regiões e, partindo-se do pressuposto deque as pessoas não lêem porque oacesso à biblioteca não se dá, será feitoum levantamento sobre as necessidadesespecíficas das diferentes parcelas dapopulação.

Embora os projetos já realizados aindanão tenham despertado o interesse dapopulação de uma forma mais ampla,acredita-se que a continuidade dosmesmos seja fundamental, pois éatravés dessas atividades que sepretende conseguir modificar a imagemque a população tem da biblioteca,expandindo-se o contacto dosmoradores de Campinas com a leitura.

Dados das fichas cadastrais

Dentre o total de aproximadamente8500 fichas cadastrais existentes nofichário do setor circulante, 384 delasatendiam as condições preestabelecidasna presente pesquisa: apresentarprofissão e idade do usuário. Mesmonão sendo uma amostra tãorepresentativa em termos numéricos(cerca de 5% do total das fichascadastrais), os dados apresentadosmostraram-se significativos, razão pelaqual foram incluídos na análise.Após o levantamento dos dados atravésda leitura de cada uma das fichascadastrais (uma vez que o setorcirculante, como os demais, ainda nãofoi informatizado), organizaram-se asinformações sobre as categoriasprofissionais e a faixa etária dosusuários na tabela e nas figurasapresentadas nas páginas seguintes.

Quanto às categorias profissionais, asmais representativas foram a 9(estudantes) e a 4 (ocupações não-manuais de rotina e assemelhadas – queincluem, por exemplo, professorprimário, secretária, auxiliar deescritório, vendedor, policial, bancário,datilógrafo, etc.), atingindo,

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respectivamente, 48,70% e 29,69% dototal das fichas selecionadas.

Com exceção da categoria 1 (altoscargos políticos e administrativos,proprietários de grandes empresas eassemelhados) que não apareceu, asdemais atingiram uma porcentagem nãosuperior a 5,99%, índice alcançado pelacategoria 6 (ocupações manuaisespecializadas e assemelhadas como,por exemplo, eletrecista, motorista,músico de banda, técnico de TV, etc).

Em termos de idade, 41,93% dosusuários da amostra encontram-se nafaixa etária que vai de 20 a 29 anos,seguidos pelas pessoas que estão nafaixa dos 8 aos 19 anos, que atingem oíndice de 31,25%8 . Tendo em vista asfichas cadastrais analisadas, poucosusuários têm acima de 50 anos: 1,82%têm de 50 a 59 anos e 1,30% estão nafaixa que vai dos 60 aos 69 anos.

Cruzando-se os dados referentes àcategoria profissional e à faixa etária, épossível traçar o seguinte perfilpreliminar dos usuários do setorcirculante: em sua maioria , sãoestudantes que têm entre 8 e 29 anos deidade (73,18%); do total de 187estudantes inclusos na categoria 9,57,21% têm entre 8 a 19 anos, seguidosde perto pelos que estão na faixa dos 20aos 29 anos (41,17%).

Dados das planilhas de retirada delivros

As planilhas permitem visualizar omovimento mensal de retirada de livrosdo setor circulante (organizados, pelabibliotecária, em classes), sendo que operíodo de referência para esta pesquisavai de março de 1998 a março de 1999

8 Indica-se o intervalo de idade a partir dos 8anos porque, dentre as fichas da análise, não seconstatou a existência de usuários com idadeinferior.

(não houve registro no mês de janeirode 1999, pois a Biblioteca Centralpermaneceu fechada).

De um modo geral, os dados permitemdetectar tanto a preferência de leiturados usuários, como os períodos demaior e menor freqüência de retirada delivros do setor circulante.

A partir da totalização dos dadospresentes nas planilhas, referentes àquantidade de cada uma das classes delivros retiradas mensalmente,organizou-se a Tabela 2 que apresentaos números totais e porcentagens deretiradas de livros (por classe)correspondentes ao período de marçode 1998 a março de 1999.

TABELA 1Números totais e porcentagens de retiradas delivros (por classe), no período de março de 1998a março de 1999

TOTAL *CLASSES:*Classes Qtd %

800 15216 47,5% 000 - Obras Gerais100 3478 10,9% 100 - Filosofia

028.5 2117 6,6% 200 - ReligiãoVestibular 1940 6,1% 300 - Ciências Sociais

300 1896 5,9% 400 - Lingüística /Línguas

600 1622 5,1% 500 - Ciências Puras500 1386 4,3% 600 - Medicina / Adm /

Eng900 952 3,0% 700 - Artes

Biografia 881 2,7% 800 - Literatura200 719 2,2% 900 - História /

GeografiaApostilas /

Fotocópias605 1,9% 028.5 - Literatura

Infanto-Juvenil000 479 1,5% Biografias400 391 1,2% Apostilas / Fotocópias700 366 1,1% Vestibular: livros

indicados para osvestibulares

Total 32048 100,0%

Nesse período, foi retirado um total de32.048 livros, sendo que a médiamensal de retirada foi de cerca de 2670livros.

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É possível constatar, entretanto, queesta média sofre uma queda nos mesesde dezembro/1998 e fevereiro/1999,registrando, respectivamente, 1995e1662 livros; por outro lado, há umaumento de retirada nos meses desetembro/1998 (3100 livros) emarço/1999 (3005 livros).

Observa-se, em todos os mesesregistrados, que a classe de livros maisretirada pelos usuários é a referente àLiteratura (800), alcançando o índice de47,5% do total de livros emprestados. Épossível detectar que, mesmo nos mesesem que há um decréscimo no total delivros retirados, a porcentagem de livrosde Literatura emprestados mantém-se namédia.

Quanto às outras classes, os índices sãobem menores, sendo que a segundaclasse mais retirada (100 – Filosofia)atingiu 10,9% ; a que obteve o menoríndice foi a classe 700 (Artes), com1,1%.

DISCUSSÃO DOS DADOS

Conhecer a dinâmica de funcionamentoda Biblioteca Pública Municipal “Prof.Ernesto Manoel Zink”, objetivo dessapesquisa, relaciona-se a umaproblemática maior: investigar se esseespaço público tem representado, paraos moradores de Campinas, umapossibilidade de inserção no mundo daescrita, um ambiente de letramento.

A fundamentação teórica, apresentadana introdução desse trabalho, remete anovas exigências na formação de umcidadão leitor e produtor de textos,tendo em vista as mudanças sócio-político-econômicas advindas doavanço tecnológico.

Como esclarece SOARES (1998), háuma diferença entre saber ler e escrever

(ser alfabetizado) e viver na condiçãoou estado de quem sabe ler e escrever(ser letrado). A condição de “letrado”implica o uso social, de forma freqüentee competente, da leitura e da escrita (enão apenas saber ler e escrever),respondendo-se adequadamente àsdemandas sociais de leitura e escrita.Esclarece ainda SOARES (1998) que“o nível de letramento de grupossociais relaciona-se fundamentalmentecom as suas condições sociais, culturaise econômicas” (p. 58), sendo necessáriohaver condições para o letramento.

Uma primeira condição para isto,segundo ela, é que haja escolarizaçãoreal e efetiva da população (o que vaialém de simplesmente ensinar a ler eescrever); uma segunda condição para oletramento é que haja disponibilidade dematerial de leitura:

“O que ocorre nos países deTerceiro Mundo é que sealfabetizam crianças e adultos,mas não lhe são dadas ascondições para ler e escrever:não há material impresso posto àdisposição, não há livrarias, opreço dos livros e até dos jornaise revistas é inacessível, há umnúmero muito pequeno debibliotecas. Como é possíveltornar-se letrado em taiscondições?” (p. 58)

A questão do acesso ao materialimpresso, portanto, é fundamental pois,para participar do mundo letrado, épreciso vivenciar condições sociais emque a leitura e a escrita tenham umafunção, tornando-se uma necessidade euma forma de lazer.

FOUCAMBERT (1994) consideranecessário um processo dedesescolarização da leitura, poisentende que esta é um aprendizadosocial, sendo que as medidas paliativascontra o analfabetismo deveriam sersubstituídas por um processo de

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leiturização, que consiste numa opçãopolítica global, pois o aprendizado daleitura, pela forma como vem seconcretizando, faz com que iletrados enão-leitores vivenciem um processo deexclusão das redes de comunicaçãoescrita, não sendo consideradosdestinatários dos escritos presentes emseu ambiente, deixando de sebeneficiarem de uma real relação com aescrita, ou seja, não têm o estatuto deleitores, não percebendo apossibilidade de ampliação do poderatravés de sua inserção no universo dapalavra escrita, ou seja, ignoram que oacesso ao universo da leitura écondição necessária para o exercício dacidadania.

Assim, em uma perspectiva política, ascondições de letramento extrapolam ocampo das ações individuais eenvolvem questões mais amplas depolítica social, revelando que outrascondições, de ordem sócio-política eeconômica, como afirma SILVA(1997), são necessárias para que aprática da leitura seja efetivamenteexercida. É desta perspectiva que sepretende interpretar os dadosapresentados nessa pesquisa quanto àdinâmica de funcionamento daBiblioteca Central.

Como a descrição dos dados evidencia,a cidade de Campinas não tem umaefetiva política de leitura: oinvestimento que se faz nessa área éínfimo, sendo que, como bem salientouum dos sujeitos entrevistados, éespantoso que uma cidade de seu porteconte com apenas quatro bibliotecaspúblicas, nenhuma delas localizada embairros onde se encontram as camadasmais pobres da população.

Além disto, as dificuldades enfrentadaspelos bibliotecários e assistentes daBiblioteca Central, em seu cotidiano,são muitas, envolvendo, principalmente,

limitações com relação ao acervo (poisnão há uma política de aquisição dematerial), número insuficiente defuncionários (o que acarreta sobrecargade trabalho, filas no balcão deatendimento do setor permanente,inviabiliza um trabalho de orientação àpesquisa, etc.).

Outras duas limitações têm umaimportância fundamental para seentender, de forma mais ampla, umproblema que diz respeito, não só àBiblioteca Central de Campinas, mas àsbibliotecas públicas de um modo geral:o número reduzido de leitores, que nãoapenas estudantes, e a falta de clarezaquanto à função social da biblioteca, porparte dos funcionários.

Com relação ao primeiro dessesaspectos, cabe ressaltar que,praticamente, em todos os relatosverbais, afirmou-se que a BibliotecaCentral tem funcionado como umabiblioteca escolar, atendendobasicamente estudantes de 1o e 2o grausde escolas públicas municipais eestaduais (raramente de escolasparticulares), que trabalham de dia eestudam à noite, residem na periferia eutilizam a Biblioteca Central quase queexclusivamente para pesquisa escolar.

Como enfatizaram alguns dos sujeitosentrevistados, essa situação não éespecífica da Biblioteca Central deCampinas, pois as bibliotecas públicas,de um modo geral, acabam tendo quesuprir a escassez de bibliotecasescolares, o que faz com que o usuário,que não dispõe de recursos financeiros(que lhe permitiria, por exemplo,comprar um livro ou acessar a Internet),tenha como único apoio o acervodisponível nesses espaços.

Embora também conte com umareduzida comunidade leitora (formadapelas pessoas que lêem jornal, donas-

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de-casa que gostam de ler romance ecrianças que apreciam literatura infanto-juvenil, além dos estudantes que sevêem obrigados a ler os livros indicadospara os vestibulares), é o setorpermanente, onde são realizadas aspesquisas, o “carro-chefe” da BibliotecaCentral; isto parece incomodar ossujeitos entrevistados pelos doismotivos explicitados a seguir.

O primeiro deles é que se acredita que abiblioteca pública deveria ter uma outrafunção e um outro público, devendo-seconstituir no local onde o usuário podeter acesso à leitura de lazer e ainformações que lhe possibilitemaprimorar o exercício de sua cidadania;o público-alvo da biblioteca pública,portanto, seria formado por pessoasconscientes do valor da leitura para suasvidas e que entendem o espaço públicoda biblioteca como um local a que têmdireito, dele desfrutando enquanto umambiente que possibilita condições deletramento. É precisamente este leitorque está em falta...

Vale lembrar que a coordenadoraafirmou, em sua entrevista, ter ouvidode antigos freqüentadores do setorcirculante da biblioteca que,antigamente, este local tinha maisfunção na vida deles, desde a infânciaaté a idade adulta, pois não secostumava comprar livros masemprestá-los da biblioteca, sendo que aspessoas tinham hábito ou gosto pelaleitura. Com relação ao hábito de ler,verifica-se, pelas entrevistas, que ospróprios sujeitos, em sua maioria, ficamaquém das próprias expectativas quetêm com relação à leitura dos usuários(há os que se dizem leitores apenasdurante as férias profissionais, porexemplo; muitos que não gostam de lerliteratura em prosa), sendo que poucosrecorrem ao acervo da própriabiblioteca.

SILVA (1995), em palestra proferida no13o COLE, em julho de 1985, propunhao seguinte contraponto: “leitura emcrise x gosto pela leitura”,argumentando que a dominação de umaclasse sobre as outras (principalmenteem termos econômicos) “pré-estabeleceum conjunto de convenções para odesenvolvimento e para o exercício daatitude estética”, sendo que, na óticaburguesa, “as concepções de leitura, asobras a serem privilegiadas para aleitura da população, os locais paraler... são arbitrariamenteconvencionalizados no sentido de servircomo modelo exemplar para todo oconjunto da sociedade”. Deste modo,segundo o autor, sacralizou-se a noçãode leitura como um óciodescompromissado, desligado dotrabalho produtivo e a idéia debiblioteca como “um museu estagnadoou como receptáculo passivo, nadainfluindo no seu contexto; a noção deleitor ‘culto’, que deve ler determinadasobras e não outras.” (p.46)

Essas afirmações são importantes, poismuitos dos sujeitos entrevistados, aoenfatizarem a necessidade de haver umpúblico leitor, acabam por evocar o“modelo exemplar” de leitor, cujaleitura se dá apenas por lazer. Deve-seesclarecer, entretanto, que pensar emcondições de letramento, ou seja, empossibilidades de uma prática efetiva daleitura e da escrita na sociedade, nãoexclui a leitura realizada também pornecessidade, desde que esta tenhasignificação para o sujeito que a realiza.

Um segundo aspecto que desagradabibliotecários e assistentes, com relaçãoao setor permanente, é o modo como osestudantes realizam sua pesquisaescolar: de forma mecânica, sem haveruma leitura prévia para seleção deinformações, tudo não passando, comosugeriu um dos entrevistados, de uma“gincana de tirar xerox”, sendo que os

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usuários não dominam os mecanismosque poderiam auxiliá-los (como umabibliografia de referência, índices,sumários, etc.), o que é visto comoconseqüência da decadência do ensinono país.

Este é o público majoritário daBiblioteca Central: pessoas de umaclasse social mais baixa, que foramalfabetizadas pela escola (algumas,como sugerem certos relatos, têmdificuldades até mesmo com relação àtécnica do ler e escrever...) e queseguem sua trajetória escolar semestabelecer com a escrita e a leitura umcontacto significativo, pois o tipo deatividade que realizam (no caso, apesquisa escolar), nos moldesexaustivamente apontados pelos sujeitosentrevistados (não sabem nem ao certoo tema da pesquisa, que muitas vezes oprofessor retirou do título de umcapítulo do livro didático; sequer lêem omaterial fornecido, dirigindo-seautomaticamente à fila do xerox), nãose constitui em uma prática social, sãomateriais produzidos exclusivamentepara serem entregues ao professor (que,supõe-se, raramente lê o material“produzido” pelos alunos).

Desse modo, evidencia-se quejustamente a parcela da população que éexcluída das redes de comunicação,como afirma FOUCAMBERT (1994),acaba por deixar de vivenciar condiçõesde letramento nos poucos espaços emque isto lhe seria possível: na escola ena biblioteca, pois ambos têm apenasreforçado a falta de significação nocontacto com a leitura,desconsiderando-se suas funçõescríticas:

“Se concebermos o processo deleitura como um instrumentocivilizatório de reflexão ecompreensão da realidade e, porisso mesmo, de inserção dohomem na história e no seu tempo

através da análise crítica dosregistros ou documentosveiculados pela escrita, asfunções sociais da leitura estãoamarradas ao processo deconscientização ou politizaçãodos brasileiros e aos seusmovimentos de luta por umasociedade diferente da atual.”(SILVA, 1995, p.17)

Conseqüentemente, tanto no setorcirculante (que também é muitofreqüentado por estudantes, pois é háum aumento e diminuição da retirada delivros precisamente nas época do anoque correspondem aos períodos letivo ede férias escolares, respectivamente),como no setor permanente e mesmo nosetor braile (que funciona mais comoum espaço socializante) faltam leitores,ou seja, sujeitos “letrados”, no sentidoque SOARES (1998) dá a esse termo:pessoas que fazem uso social, de formafreqüente e competente, da leitura e daescrita, respondendo adequadamente àsdemandas sociais que envolvem essasduas práticas (e não o leitor burguêsexemplar, referido por SILVA, 1995)

Nesse contexto, convivendo comusuários que, de um modo geral, nãocompartilham de boas condições deletramento e, por isso, deixam deestabelecer um contacto mais críticocom os materiais impressos, éimprescindível analisar que funçãobibliotecários e assistentes da BibliotecaCentral atribuem ao seu trabalho, bemcomo refletir sobre os projetos emestudo ou que vêm sendo realizadospela Secretaria Municipal de Educação,no sentido de democratizar a leitura nacidade de Campinas.

O primeiro aspecto remete a uma outralimitação apontada pela coordenadorada Biblioteca Central: a falta declareza com relação à função socialda biblioteca por parte dosfuncionários, referindo-se à dicotomiaexistente entre a parte mais técnica e a

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parte mais social e cultural daBiblioteconomia.SILVA (1995), ao discutir a dimensãopedagógica do trabalho do bibliotecário,em palestra proferida em 1985, faz umbreve retrospecto sobre as mudançasocorridas no campo da Biblioteconomiae da Educação, no final da década de 70e início dos 80, em função doquestionamento do “tecnicismo” queimperava, o que levou tanto a escolacomo a biblioteca a perceberem commaior clareza a relação de suas funçõescom a política do contexto social,passando o bibliotecário a serconsiderado um “agente cultural demudança”, sendo seu trabalho de cunhopolítico.

Nesse sentido, esclarece SILVA (1995),a difusão da informação (que era antesconsiderada uma atividade apenastécnica) ganhou uma outra dimensão,sendo necessário que a biblioteca“exerça influência ativa e dinâmica nocontexto envolvente, preocupando-secom a qualidade do seu acervo e dosseus serviços, com a origem enecessidade de seus usuários, com ademocratização do seu espaço e com oplanejamento de programas sócio-culturais” (p. 72)

É interessante observar que os sujeitosentrevistados, principalmente osbibliotecários, revelaram até um certopreconceito com relação à parte maistécnica da Biblioteconomia, procurandoenfatizar sua preferência pelo trabalhocom o público. Há, entretanto, umadiferença de entendimento sobre o quevem a ser um trabalho de cunho social ecultural no âmbito da biblioteca.

Para a maioria, ele implica em garantirao usuário o acesso à informação, deforma rápida e eficaz. Alguns dossujeitos entrevistados, entretanto,também consideram este tipo detrabalho como algo mais “técnico”,

conseqüência de uma formação queainda enfatiza muito esse aspecto. Paraesses sujeitos, o que caracteriza umaatuação realmente social e cultural dobibliotecário é a formação de leitores,bem como conseguir trazer para oespaço da biblioteca aqueles que jávivenciam condições de letramento.

Assim, no contexto da BibliotecaCentral, as duas principais limitaçõesdetectadas (falta de leitores e de clarezaquanto à função social da biblioteca porparte dos funcionários) estãodiretamente relacionadas, pois uma dasfunções do bibliotecário, numaperspectiva mais social, é, como afirmaSILVA (1995), preocupar-se com aorigem e necessidade de seus usuáriosque, como vimos, representam umamaioria que tem sido excluída dascondições de letramento.

Desse modo, é fundamental que osfuncionários da Biblioteca Centraldesenvolvam ações no sentido deconseguir concretizar um dos objetivosa que se propõem: “auxiliar o aluno aadquirir um mecanismo fundamental dasociedade informativa: o hábito dapesquisa”, tendo em vista um objetivomais amplo: a formação do leitor. Paraisso, será preciso vencer, como assinalaSILVA (1995), o divórcio existenteentre bibliotecários e professores, paraque ambos consigam dar mais ênfase àdimensão educativa de suas práticas eelaborar programas para odesenvolvimento do gosto pela leitura epara a formação integral do leitor,através de diálogos mais freqüentes,geradores de propostas conjunta.

Por outro lado, como os dadospermitem detectar, são ínfimos osinvestimentos por parte da Prefeitura deCampinas na área de bibliotecaspúblicas, o que acaba por dificultarbastante a implentação de projetos; mas,como argumenta SILVA (1995), não se

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deve adotar uma atitude dedependência, “temos que atuarpoliticamente em nossos contextos;esperar que alguém destine algumapolítica é continuar esperando...”(p.79)

Assim, dentre os poucos projetos jáimplementados na Biblioteca Central,um deles, que envolve a participação dealunos de escolas públicas municipais(“Leitura, Música & Companhia) temservido como um primeiro passo naaproximação entre o professor e obibliotecário, buscando também mudara imagem que o público em geral temda biblioteca, motivando-o a ver esteespaço e a leitura como bens públicos aque tem direito de ter acesso.

Entretanto, conforme afirma BRITO(1998), incentivar a leituraefetivamente, como bem público, comomarca de cidadania, exige que não sedesconsidere que, “... como a leitura sefaz em função da manipulação desistemas específicos de referência einterpretação, sistemas constituídoshistórico-socialmente, é razoável suporque ela vem sendo quase propriedadedos segmentos sociais que dispõem decondições sócio-econômicasprivilegiadas...”, o que implica que umacampanha social pela leitura deve serpostulada como um direito a serconquistado por aqueles que de fato sãoexcluídos da leitura: “Trata-se de outraface da disputa político-social pelopoder, assim como a luta pela terra, porhabitação, por trabalho, por saúde eeducação”. ( p.2)

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