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ARQUITETO DE AMANHÃ: CAMINHOS PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL SALGADO, Mônica Santos

D. Sc Professor Adjunto Pós-Graduação em Arquitetura PROARQ/FAU/UFRJ Escola Politécnica/UFRJ,– Av. Brigadeiro Trompowsky s/n Prédio da Reitoria sala 433 – Cidade Universitária – Ilha do Fundão – Rio de

Janeiro – RJ – CEP 21941-590 – tel – 55 21 25981662 fax 55 21 25981661 [email protected]

RESUMO

A discussão sobre a reforma curricular dos cursos de graduação em arquitetura prossegue. Muitas são as questões a serem analisadas, e inúmeros os caminhos possíveis. Sabe-se que produzir arquitetura atualmente implica a conjugação de conhecimentos específicos de diferentes áreas, não sendo mais possível ao arquiteto dominar o processo de concepção sozinho. Na verdade, esta realidade teve início com a Revolução Industrial e a segmentação das atividades de produção, conforme pode-se verificar em diferentes setores da economia. A questão atual é: que outros conhecimentos deveriam ser de domínio dos profissionais de arquitetura para que estes continuem sendo os principais responsáveis pela atividade de conceber espaços de viver, trabalhar, se divertir, entre outras funções. Este trabalho apresenta a segunda parte de uma pesquisa empreendida junto aos alunos que buscaram o Curso de Mestrado em Arquitetura do PROARQ/FAU/UFRJ nos últimos anos, e apresenta suas sugestões e ponderações sobre a formação profissional e os rumos do trabalho em arquitetura. O objetivo é enriquecer a discussão sobre o tema, apresentando de forma consolidada a visão de um grupo de arquitetos preocupados com a atualização profissional. Ressalta-se a necessidade de adequação ao mercado globalizado, já ajustado aos modelos internacionais, que evidenciam a pouca competitividade das empresas nacionais no cenário mundial. Essa situação obriga nossas empresas a adquirirem novos esquemas de ação, capazes de atender aos clientes (internos e externos). Trata-se portanto, de rever o processo de educação ou seja, de formação do ser humano e em especial, do profissional de arquitetura do novo milênio.

ABSTRACT

The discussion about architecture and it’s professional qualification continues. It was just after the Industrial Revolution, when most of the professions had been sliced in many different parts, when building site problems had initiated. In fact, the separation between the creative part – the artistic one, where we find most part of architects working on – and the construction part – when the building conceived became a reality – had happened precisely after the Industrial Revolution and since then we did not do anything to finish with this absurd. Actually, however, it is not possible to go on ignoring that problem. The huge waste of time and material resources had let the professionals to rethink about the management of building production, specially building design management. That’s why it is so important to initiate this movement trying to modify our architecture graduation courses. This paper presents the results of an investigation, which had place inside the Architecture Post-Graduation Program at Federal University of Rio de Janeiro PROARQ/FAU/UFRJ. The aim of the investigation was to identify which subjects must be part of architects’ formation in order to guarantee the participation of this professional as the main responsible for building’s production management. We believe that it is important to review all education process, particularly architects’ formation, in order to provide the society with the professional qualification that is desired.

INTRODUÇÃO

Desde o final da década de 90 a discussão sobre a formação profissional do arquiteto vem ganhando impulso em decorrência das inúmeras falhas que ocorrem no canteiro de obras, e que tem sido atribuídas ao precário desenvolvimento dos projetos. Enquanto parte da discussão recai sobre os métodos de construção e a necessidade de qualificação da mão-de-obra que atua nos canteiros, a questão do gerenciamento do processo do projeto e da importância do trabalho do coordenador de projeto para uma gestão adequada conquistaram espaço significativo nas discussões de vários pesquisadores do país.

A preocupação com a concepção dos projetos ganhou novo olhar a partir da necessidade de rever o processo de produção na indústria da construção civil, que sofre severas críticas devido aos altos índices de desperdício. Um dos fatores responsáveis é o distanciamento existente entre projetistas e construtores. Quando dúvidas aparecem

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em uma obra, o profissional envolvido com a execução vê-se na contingência de “improvisar” a solução. Este desencontro tem provocado desperdícios de diferentes tipos, destacando-se:

• do potencial humano disponível no canteiro de obras - O reduzido investimento no aprimoramento profissional dos operários da construção civil somado às más condições de trabalho e aos baixos salários, tem levado os indivíduos a procurar empregos em outros setores da economia. Em conseqüência disso, tem-se o aumento na rotatividade que provoca interrupções na continuidade da produção ;

• de materiais de construção - Este tipo de desperdício ocorre não apenas em decorrência do pouco treinamento dos profissionais que atuam na construção civil, como também, pelo fato dos processos convencionais de construção utilizarem muito pouco conceitos tais como padronização e coordenação modular. Some-se a isso o fato do projeto arquitetônico ser também um fator indutor de desperdício dos materiais de construção, na medida que os projetistas, em sua maioria, não se preocupam em considerar as dimensões dos elementos construtivos na definição do projeto, encarando a atividade produtiva dissociada da fase de concepção

• de tempo - Uma situação que ocorre com freqüência no desenvolvimento de uma obra é a incompatibilidade entre a situação real e o projeto proposto. Isto ocorre ainda em conseqüência da separação entre a fase da concepção e execução. Os operários vêem-se diante de situações que exigem um maior detalhamento do projeto gerando interrupções na produção.

Sabe-se que a integração entre a fase de projeto e a fase de produção é um importante caminho na busca da redução do desperdício e melhoria da qualidade na construção de edifícios. Na medida que esta integração passou a ser discutida, tornou-se necessário discutir a gestão do processo do projeto e, consequentemente, tornou-se fundamental incluir essa questão na formação superior do profissional de arquitetura.

Para ser capaz de criar espaços o arquiteto precisa de criatividade, e muito conhecimento técnico. Apenas dessa forma ele será capaz de garantir que os demais profissionais, que vão participar da concretização daquele projeto, não mutilem a idéia inicial com soluções estruturais equivocadas ou materiais de construção inadequados, que poderiam facilmente comprometer o resultado do conjunto pensado pelo criador. Para ser arquiteto é preciso conhecer a forma e saber como transformar a forma imaginada (concebida, sonhada) em realidade. Enquanto alguns arquitetos estiverem transferindo este privilégio para outros profissionais, corre-se o risco de ver projetos distorcidas, com uma mensagem contrária àquela ideada no momento da concepção.

Entende-se que entre os resultados dessa discussão deve estar uma proposta para a revisão dos currículos adotados na formação do profissional de arquitetura com a inclusão dos assuntos relacionados com a gestão de informações, compatibilização de projetos, gerenciamento de equipes e a coordenação do relacionamento projeto-obra. Com este objetivo foram ouvidos os pesquisadores que buscaram o curso de Mestrado em Arquitetura PROARQ/FAU/UFRJ no período 2000/2003, e suas sugestões em relação à formação profissional. Os resultados obtidos são um poderoso argumento na definição da grade curricular mais adequada à formação profissional desejada.

O PROJETO ARQUITETÔNICO E O GERENCIAMENTO DE INFORMAÇÕES

No desenvolvimento do projeto arquitetônico, o profissional vê-se na contingência de: compatibilizar os desejos dos futuros usuários das edificações com as possibilidades definidas pelo Código de Obras do município onde se pretende construir, e de todas as concessionárias (água, esgoto, luz, gás); utilizar de forma racionalizada as possibilidades construtivas disponibilizadas pelas tecnologias existentes (materiais, equipamentos) sem esquecer o custo da mão-de-obra disponível; adequar o custo final da construção às possibilidades daquele usuário imaginado no início desse exercício mental. Finalmente, o projeto concebido deve transmitir ao(s) futuro(s) usuário(s) a mensagem que seja compatível com o interesse do Incorporador quando da decisão de produzir o novo empreendimento

O arquiteto deve ser capaz de traduzir as necessidades daqueles que vão ocupar os espaços projetados, através da melhor tecnologia construtiva disponível ou buscando novas soluções, traduzindo suas decisões de projeto num documento (o projeto de arquitetura) que deverá esclarecer, com todos os detalhes possíveis, como deverá ser conduzida a obra que resultará na edificação imaginada. Isto coloca o arquiteto num papel que vai além da concepção da obra arquitetônica, na medida que ele deverá ser o principal gerente do processo de produção da edificação.

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Portanto, para garantir a integridade da edificação idealizada na fase de concepção, o profissional de arquitetura deve ser capaz de compatibilizar suas decisões com outras, relacionadas aos sistemas que compõem o projeto completo da edificação, quais sejam: solução estrutural, sistemas prediais (instalações elétricas, hidráulicas, de telefone, hidrossanitárias, de gás, mecânicas, especiais, entre outras), projeto de comunicação visual, e tantos projetos quanto forem necessários à adequada operação da edificação concebida.

A partir desse raciocínio, três novas funções surgem imediatamente: a compatibilização, a coordenação e a gerência de projeto. A compatibilização e a coordenação de projetos são mais conhecidas enquanto a gerência, estaria mais relacionada com os empreendedores. De acordo com Ferreira (2001) essas funções podem ser assim descritas:

• o gerente de projetos, é a figura que concentra a tomada de decisões estratégicas no nível mais alto da pirâmide. Este profissional tem que reunir características pessoais bastante específicas para conduzir uma equipe de projetos (...);

• o coordenador de projetos é a figura que operacionaliza a gerência, ou seja, enquanto a gerência é responsável pela tomada de decisões, alguém precisa fazer o cronograma, descrever o escopo e as responsabilidades de cada membro da equipe de projeto, levantar custos, preencher check-lists para controle da qualidade, documentar a troca de informações, e assim por diante;

• o compatibilizador exerce uma função que é considerada por alguns como intimamente relacionada com o ato de projetar. Entretanto, considerando que o ato de projetar pode ser dividido entre uma etapa conceitual e outra dimensional, o compatibilizador seria o responsável por compreender o raciocínio conceitual e levar a informação dimensional para a discussão.

Essas funções sempre existiram, entretanto, os mecanismos da informática que vem sendo disponibilizados para os profissionais de arquitetura vem dando nova dimensão a forma de atuação, dinamizando o processo do projeto. Enquanto no passado as atividades de projeto eram desenvolvidas de forma sequencial, com as novas ferramentas disponíveis é possível organizar o processo de projeto de forma colaborativa e horizontal, abandonando a estrutura tradicional, ainda hoje adotada por uma parte das construtoras. O uso da Internet, intranet e/ou extranet propicia esse novo tipo de organização do processo de trabalho. Porém, o uso desta mídia, de forma a explorar todo o seu potencial, ainda é incipiente. A extranet passou a funcionar ainda apenas como ferramenta de gerenciamento de documentos de projeto (compartilhamento e armazenamento de informações, comunicações, orçamentos, cronogramas, planejamento, arquivos de projetos, alterações) (SILVA e NOVAES, 2003). Isto se deve, muito provavelmente, também em decorrência da formação recebida pelos profissionais que atuam no mercado, que não receberam as informações necessárias para explorar todo o potencial oferecido pelas novas tecnologias.

O QUE PENSAM OS ARQUITETOS? DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA DE PESQUISA ADOTADA

O PROARQ – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro – surgiu em 1987 quando realizou o processo de seleção para sua primeira turma. Àquela época o Curso era composto por apenas duas Áreas de Concentração: Racionalização do Projeto e das Construções e Conforto Ambiental e Eficiência Energética. Entre as principais mudanças que ocorreram nesses anos de atuação destacam o surgimento de duas novas Áreas – Teoria e Projeto e História e Preservação do Patrimônio Cultural – além da realização de inúmeros projetos e convênios com importantes instituições.

Com o objetivo de identificar a opinião dos arquitetos quanto à atuação do profissional dentro da dinâmica definida atualmente pelo mercado da construção civil, decidiu-se escolher, como população a ser ouvida, este grupo de profissionais que está dando continuidade aos seus estudos no PROARQ. Entre os objetivos específicos da pesquisa destacam-se:

• identificar uma ordem de prioridade entre as funções exercidas pelos profissionais;

• elencar as principais disciplinas a serem incorporadas (ou priorizadas) aos Cursos de Arquitetura.

A pesquisa foi então encaminhada a alguns alunos e ex-alunos do Curso de Mestrado em Arquitetura. Os questionários foram respondidos na sua maioria pelos profissionais que realizaram o Curso nas turmas desde 2000 até 2003. Dos cerca de 160 alunos que buscaram o Mestrado neste período, retornaram 35 questionários (21% da população).

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O questionário dividiu-se em três partes sendo uma relacionada com o levantamento dos dados pessoais dos respondentes e duas com suas opiniões sobre a atividade em arquitetura.

Quanto aos dados pessoais foram levantadas informações necessárias para caracterizar o grupo de respondentes, ou seja, suas instituições de origem (onde realizaram seus cursos de graduação), o tempo de formado, o ano e a área de ingresso no Curso de Mestrado e, especialmente, a formação profissional obtida com o curso de graduação, uma vez que o Mestrado é procurado também por profissionais da engenharia (civil ou outras).

Na segunda parte do questionário, verificou-se o tipo de atuação do profissional (autônomo, funcionário público ou de empresa privada, professor ou empresário) e solicitou-se que o respondente organizasse, por ordem de prioridades, uma lista de atividades relacionadas com a atuação do arquiteto. Este tipo de avaliação toma por base os princípios da técnica intitulada “Matriz de Prioridades” onde são atribuídas ordens de importância a diferentes questões.

A última pergunta do questionário (e também a mais complexa) procurou levantar as falhas específicas quanto à formação profissional que está sendo transmitida nas Faculdades e Escolas de Arquitetura.

Para este trabalho serão apresentados os resultados da primeira etapa da pesquisa, uma vez que estão intimamente relacionados com as discussões aqui suscitadas.

RESULTADOS OBTIDOS NA PRIMEIRA PARTE DA PESQUISA

O grupo entrevistado constituiu-se de 33 arquitetos e 2 engenheiros, e caracterizou-se da seguinte forma:

Quanto ao tempo de formado: 6% recém formados; 43% tem de 1 a 5 anos de formado; 11% tem de 5 a 10 anos de formado; 29% tem de 10 a 20 anos de formado e; 11% tem mais de 20 anos de formado.

Destes, a grande maioria (45%) realizou seu Curso de Graduação na própria Universidade Federal do Rio de Janeiro, seguida pela Universidade Santa Úrsula (13%) e os demais dividem-se entre as outras importantes Universidade cariocas (Universidade Federal Fluminense, Universidade Gama Filho, Silva e Souza, Bennett), além de outras no país e no exterior.

Quanto à atuação profissional, de todo o grupo entrevistado apenas dois ainda não exerciam a profissão (recém-formados) no momento da pesquisa. Alguns entrevistados assinalaram várias atuações profissionais. Neste casos, para computar os dados obtidos, foi considerado um percentual (ou seja, os que assinalaram duas opções aparecem com 0,5 em uma e 0,5 na outra; os que assinalaram três, aparecem com 0,33). A inserção no mercado de trabalho está apresentada no Gráfico 1.

A principal questão levantada nesta etapa da pesquisa foi: “Na sua, visão quais seriam as principais atividades do arquiteto”. Para esta questão, foram elencadas as seguintes atividades, identificadas a partir dos trabalhos pesquisados para este artigo (em ordem alfabética):

Gráfico 1 - Como exerce a profissão?

12%

24%

32%

4%

2%

21%5%

Arquiteto contratado por uma empresa privada(escritório ou construtora).

Arquiteto contratado por uma instituição pública.

Arquiteto que trabalha como autônomo.

Professor contratado por uma instituição de ensinoprivada.

Professor contratado por uma instituição de ensinopública.

Empresário (empregador) responsável por umaempresa relacionada à construção civil (escritório deprojetos, construtora, etc).

Outros

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• compatibilização de projetos (arquitetura versus estrutura, instalações etc);

• contratação de todos os profissionais que vão participar da execução da obra;

• coordenação de projetos;

• definição do programa de necessidades da edificação junto com o incorporador do empreendimento;

• desenvolvimento de projetos de arquitetura na fase da concepção. (criação);

• desenvolvimento de todas as etapas do projeto de arquitetura (aprovação na prefeitura, anteprojeto, compatibilização de projetos, projeto de execução, projeto “como construído”);

• execução da obra e coordenação das equipes do canteiro (desde o engenheiro responsável aos operários e empreiteiros);

• realização de orçamentos e controle de desembolso (desde o projeto até a obra);

• gerenciamento da obra;

• outras - aqui o entrevistado poderia acrescentar atividades não relacionadas nesta lista.

O Gráfico 2 apresenta o resultado da priorização das atividades do arquiteto (SALGADO, 2003), na opinião dos respondentes. Observa-se que, de maneira geral, os resultados obtidos demonstram certa tendência nas respostas. Como primeira atividade, destaca-se uma certa dúvida entre a importância da concepção do projeto arquitetônico em relação à definição do programa de necessidades e ao desenvolvimento de todas as etapas do projeto. Esta situação é facilmente compreendida na medida que o espaço concebido precisa ser de alguma forma executado para se tornar verdadeiramente arquitetura.

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primeira segunda terceira quarta quinta sexta sétima oitava nona

Gráfico 2 - Priorização das atividades do arquiteto

Compatibilização de projetos

Contratação dos profissionais que vão participar da execução da obra.

Coordenação de projetos

Definição do programa de necessidades.

Desenvolvimento de projetos de arquitetura na fase de criação (concepção).

Desenvolvimento de todas as etapas do projeto de arquitetura

Execução da obra e coordenação das equipes de canteiro

Realização de orçamentos e controle de desembolso.

Gerenciamento da obra.

Outros.

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Às atividades já destacadas em primeiro, segundo e terceiro lugar, soma-se a coordenação de projetos, atividade que a cada dia torna-se mais fundamental nos escritórios de arquitetura e especialmente nas construtoras. Portanto, a Coordenação de projetos consolida sua posição como Quarta atividade fundamental a ser desempenhada pelos arquitetos, na opinião dos profissionais entrevistados. A novidade neste gráfico é a sensibilização dos respondentes para a importância da Compatibilização de Projetos, que surge como uma função também importante entre as atividades a serem desempenhadas pelo arquiteto.

Somente após elencar estas cinco atividades consideradas principais, os entrevistados indicaram outras que, na verdade, poderiam ser também exercidas por outros profissionais – especialmente o engenheiro civil – que também possui atribuições para tal. Portanto, a compatibilização de projetos pode ser considerada como um “divisor de águas” entre as atividades normalmente desempenhadas pelos arquitetos e aquelas onde o arquiteto encontra parceiros em outra formação profissional.

Considerando a tendência apresentada no Gráfico 2, uma possível classificação para as atividades do arquiteto quanto à ordem de importância seria (SALGADO,2003):

1. Definição do Programa de Necessidades

2. Concepção do projeto arquitetônico

3. Desenvolvimento de todas as fases do projeto arquitetônico

4. Coordenação de Projetos

5. Compatibilização de Projetos

6. Realização de orçamentos e controle de desembolso

7. Gerenciamento da obra

8. Execução da obra e coordenação das equipes de canteiro

9. Contratação dos profissionais que vão participar da execução da obra.

É interessante acrescentar a este trabalho os comentários feitos pelos entrevistados quanto à priorização das atividades. Alguns questionários, inclusive, não puderam ser utilizados devido à impossibilidade do entrevistado em classificar as atividades relacionadas segundo uma ordem de importância. Foram apresentadas respostas que diziam “considero todas as atividades igualmente importantes sendo impossível classificá-las”. Em outra situação, o profissional enumerou várias hipóteses em primeiro lugar, outras várias em segundo e um terceiro grupo ao final, impossibilitando, da mesma forma, o cômputo de suas respostas para esta comparação.

Mas o fato que deve permanecer como motivo de preocupação entre todos seria: A partir da classificação, apresentada: estariam os cursos de arquitetura preparando os profissionais para o exercício pleno das suas atividades?

RESULTADOS OBTIDOS NA SEGUNDA PARTE DA PESQUISA

Na Segunda parte da pesquisa, solicitou-se aos arquitetos que relacionassem na ordem de “1” (correspondendo ao mais importante) ao “N” (correspondendo ao menos importante) quais são, na sua opinião, os assuntos/disciplinas considerados fundamentais para o exercício profissional. Para esta Segunda parte foram elencados os seguintes assuntos:

- Administração de empresas

- Conforto ambiental e eficiência energética

- Coordenação de projetos

- Empreendorismo

- Gerenciamento de obras

- Gestão do meio ambiente

- Informática aplicada à prática profissional (projeto, gerenciamento, controle)

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- Legislação trabalhista e da construção

- Orçamento

- Planejamento de interiores

- Planejamento de obras

- Planejamento paisagístico

- Planejamento urbano e regional

- Projeto e cálculo de estruturas de concreto

- Projeto e cálculo de estruturas de madeira

- Projeto e cálculo de estruturas metálicas

- Relações sociais (psicologia do trabalho)

- Técnicas construtivas e materiais de construção

Cabe ressaltar que optou-se por não incluir a disciplina que leva a denominação específica de “Planejamento de Arquitetura” exatamente porque um dos objetivos foi investigar quais outras competências deveriam também ser desenvolvidas nos Cursos de Graduação, e entende-se que “fazer arquitetura” estaria implícito nas competências já reconhecidas.

Foi também solicitado aos profissionais que indicassem de que forma esses assuntos/disciplinas foram tratados em seus cursos de graduação, considerando a seguinte avaliação :

- SIM, o assunto foi bem discutido durante meu Curso de Graduação

- MAIS OU MENOS, lembro de ter aprendido alguma coisa a respeito ainda na Faculdade

- NÃO, esse assunto, apesar de importante, nunca foi tratado durante meu curso de graduação

- NÃO, esse assunto nunca foi tratado mas também nunca fez falta na minha atuação profissional

Alguns questionários não foram computados porque foram considerados apenas os questionários dos profissionais formados em Cursos de Arquitetura, num total de 33 (20% da população).

Os resultados são bastante compatíveis com as respostas apresentadas na primeira parte da pesquisa. O Gráfico 3 apresenta as disciplinas indicadas pelos respondentes como as mais importantes.

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O Gráfico 4 indica o resultado obtido especificamente com a pergunta “Qual na sua opinião é a disciplina mais importante para o curso de arquitetura?”. A disciplina Coordenação de Projetos foi indicada por 63% dos entrevistados como a mais importante, dentro do elenco de disciplinas que foi apresentado.

Gráfico 4 - Disciplina considerada como "a mais importante" para o Curso de Graduação em Arquitetura

10%

63%

3%

7%

3% 14%

Conforto ambiental e eficiênciaenergéticaCoordenação de projetos

Empreendorismo

Gestão do meio ambiente

Planejamento urbano e regional

Técnicas construtivas emateriais de construção

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Gráfico 3 - Disciplinas indicadas por mais de cinco respondentes entre as cinco mais importantes na formação em arquitetura

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Esta primeira pergunta serviu como “filtro” para a questão seguinte, mais específica quanto à abordagem que os cursos de graduação vem dando aos assuntos identificados como mais importantes na formação profissional. Os resultados obtidos para as três disciplinas que foram indicadas pela maior quantidade de profissionais entre as 5 mais importantes, quais sejam, conforto ambiental e eficiência energética, coordenação de projetos e técnicas construtivas e materiais de construção, são apresentados no Gráfico 5

Observa-se que a disciplina de Coordenação de Projetos, exatamente aquela considerada como a mais importante pelos entrevistados, não foi apresentada no Curso de Graduação em Arquitetura. A disciplina de Técnicas da Construção em contrapartida foi aquela indicada dentre as três como a que foi melhor explorada durante a formação superior.

Um último indicador que merece destaque é aquele que demonstra quais disciplinas, dentre a lista apresentada, são consideradas importantes, porém foram inexistentes na formação superior recebida pelos entrevistados. Os resultados estão ilustrados no Gráfico 6. Note-se que disciplinas como Administração de Empresas, Empreendorismo e Gestão Ambiental lideram a lista, de acordo com a opinião de 79% dos respondentes.

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Conforto ambiental eeficiência energética

Coordenação deprojetos

Técnicas construtivas emateriais de construção

Gráfico 5 - Abordagem das disciplinas durante o Curso de Graduação em Arquitetura

SIM, o assunto foi bem discutido em meu curso de graduação

MAIS OU MENOS, lembro de ter aprendido alguma coisa a respeito na Faculdade

NÃO, esse assunto, apesar de importante, nunca foi tratado durante meu curso de graduação

NÃO, esse assunto nunca foi tratado mas também nunca fez falta dentro da minha atuação profissional

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CONSOLIDAÇÃO DOS RESULTADOS – SUGESTÕES PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL

A pesquisa, apesar de modesta, apresentou um resultado que deve ser considerado na reformulação dos cursos de arquitetura. A necessidade de inclusão da disciplina de Coordenação de Projetos nos currículos é uma das principais sugestões. O Coordenador de Projetos, de acordo com Fabrício (2003) tem como principais atribuições planejar o processo de projeto e coordenar as decisões técnicas dos diversos especialistas. As responsabilidades e habilidades típicas do coordenador de projetos envolvem iniciar o processo de projeto, planejar o processo, gerenciar a equipe de projeto, coordenar as decisões, garantir a compatibilidade entre as soluções dos vários projetos e controlar os fluxos de informação entre projetistas.

Este mesmo autor, entretanto, considera que os arquitetos não estão preparados para atuar como coordenadores de projeto porque, em sua opinião cada vez mais o arquiteto se distancia do conhecimento das técnicas construtivas e do próprio canteiro de obras, e não recebe formação adequada quanto aos aspectos de gestão envolvidos. Embora vários autores defendam que o arquiteto não pode abrir mão do domínio técnico e que este tipo de saber deva ser revalorizado na profissão, este autor afirma que a realidade mostra que a formação dos arquitetos é progressivamente deficitária para esse fim (FABRÍCIO et al, 2003).

Fica claro, portanto que, se os Cursos de Graduação em Arquitetura continuarem “fechando os olhos” para esta necessidade do mercado, o arquiteto estará perdendo mais uma importante oportunidade de atuação em detrimento de outros profissionais, considerados mais preparados para a função.

Entende-se, ainda, que o simples fato de incluir uma disciplina de Coordenação de Projetos no currículo não será suficiente para a adequada formação profissional. A melhor opção seria repensar os currículos superiores de forma a garantir a integração entre as disciplinas, oferecendo a oportunidade aos estudantes de vivenciarem a coordenação já a partir de um trabalho coordenado dos professores, que tratariam os diferentes conteúdos do curso de forma integrada.

Barreto (2001) já alertava para esta questão, destacando a necessidade de se integrar a prática profissional às discussões teóricas uma vez que prática e teoria possuem uma mútua dependência e que o próprio homem é um ser teórico-prático e como tal não pode dispensar nenhuma das duas partes. Em seu trabalho, onde foram divulgados os resultados de uma pesquisa realizada junto aos então alunos do Curso de Graduação em Arquitetura, na pergunta relacionada com a necessidade de aprofundamento em alguma área do curso, a área técnica foi a citada pela maior parte dos alunos, que consideraram importante o arquiteto dominar disciplinas desta área para ter o controle de todo o processo.

As disciplinas Administração de Empresas e Empreendorismo destacam-se entre aquelas praticamente inexistentes nos Cursos de Graduação em Arquitetura. De fato, as práticas de organização profissional e planejamento estratégico não chegaram a ser consideradas pelo currículo mínimo instituído pela Portaria n.°

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Gráfico 6 - Assuntos considerados importantes, mas que não foram abordados durante o Curso de Graduação em Arquitetura

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1.770 de 21 de dezembro, para todos os cursos de graduação do país, que apresentou como disciplinas as seguintes (BARRETO, 2001):

• Matérias de Fundamentação: Estética; História das Artes; Estudos Sociais e Ambientais; Desenho

• Matérias Profissionais: História e Teoria da Arquitetura e Urbanismo; Técnicas Retrospectivas; Projeto de Arquitetura, de Urbanismo e de Paisagismo; Tecnologia da Construção; Sistemas Estruturais; Conforto Ambiental; Topografia; Informática Aplicada à Arquitetura e Urbanismo; Planejamento Urbano e Regional

Entretanto, como essa foi a indicação para o currículo mínimo, cabe às Escolas de Arquitetura complementar as informações necessárias à formação do profissional com tantas disciplinas quantas forem necessárias à sua adequada qualificação. Cabe ressaltar que a solução talvez esteja menos na QUANTIDADE de disciplinas e informações a serem transmitidas, e mais na FORMA como estas informações são transmitidas.

Outro aspecto que também merece destaque é a necessidade de se incluir disciplinas específicas sobre o tema Gestão do Meio Ambiente. Sobre esse assunto, Teixeira (2004) destaca a abordagem do “desenvolvimento sustentável”, sugerindo que se comece a considerar o território e a enorme diversidade de ecossistemas que um país como o Brasil apresenta; e, a continuar-se a aprofundar o conceito de que o beneficiamento das reservas naturais não pode mais ser realizado por intermédio de práticas predatórias, mas sim, através de uma tecnologia que passe a privilegiar a substituição e transferência de materiais, gerando efeitos ambientais os mais positivos possíveis. Nesse contexto, é necessário que arquitetos e engenheiros considerem os efeitos no meio ambiente durante a escolha de materiais e o desenvolvimento de sistemas construtivos. O impacto de suas escolhas se reflete especialmente no consumo de energia, que é um dos aspectos mais importantes no estudo dos impactos ambientais.

Acredita-se que as disciplinas de Gerenciamento de Obras e Informática Aplicada à Arquitetura sejam fortalecidas, a partir de uma reforma curricular que considere a questão da gestão do processo do projeto, uma vez que as fases de concepção e execução não podem mais continuar a serem tratadas de forma isolada. Além disso, é necessário realmente ensinar aos estudantes de arquitetura a explorar todo o potencial oferecido pela informática para que os futuros profissionais não incorram nos erros do passado, quando o uso do computador acabou por “informatizar o caos” e não “revolucionar a forma de trabalhar”, como seria esperado.

Finalmente, cabe destacar a importância de se discutir periodicamente a formação do profissional de arquitetura, uma vez que a atuação deste profissional, como de outros, deve estar sempre afinada com as necessidades da sociedade e do meio ambiente onde atua.

Espera-se, com este trabalho, ter oferecido alguma contribuição à discussão tão fascinante e ao mesmo tempo tão fundamental para garantir a atuação dos profissionais de arquitetura junto às gerações futuras. Acredita-se que o profissional pleno poderá “ressignificar” seus projetos uma vez que saberá conduzir todas as etapas desde a concepção até a obra acabada.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BARRETO, Mônica Martins. , SALGADO, Mônica Santos. O ensino de arquitetura e a metodologia prática na produção do conhecimento na FAU/UFRJ, In: Anais do VI Encontro Nacional de .Conforto no Ambiente Construído. São Pedro/São Paulo, 2001.

FABRICIO, Márcio M., MELHADO, Silvio B., e GRILO, Leonardo M. Coordenação e Coordenadores de Projetos: Modelos e Formação In: Anais do III Workshop Nacional – Gestão do Processo de Projeto na Construção de Edifícios. Belo Horizonte/Minas Gerais, 2003.

FERREIRA, Rita Cristina. Os diferentes conceitos adotados entre gerência, coordenação e compatibilização de projetos na construção de edifícios. In: Anais do Workshop Nacional – Gestão do Processo de Projeto na Construção de Edifícios. São Carlos/São Paulo, 2001.

SALGADO, Mônica Santos Arquiteto de ontem, hoje, e amanhã? Trabalho apresentado no Congresso Brasileiro de Arquitetos, Rio de Janeiro/RJ, 2003.

SILVA, Maria Vitória Marim Ferraz Pinto da e NOVAES, Celso Carlos Os recursos da informática na Coordenação do Processo de Projeto de Edificações In: Anais do III Workshop Nacional – Gestão do Processo de Projeto na Construção de Edifícios. Belo Horizonte/Minas Gerais, 2003.

TEIXEIRA, Maria da Purificação. O Solo, como Agente de Sustentabilidade para uma Arquitetura e Urbanismo Ambientalmente Corretos. Dissertação. de Mestrado PROARQ/FAU/UFRJ, 2004.