argumento com colaboração de ricardo kucera sulzbachonde os personagens passarem. ... a dona...

CAFÉ ILÍCITOROTEIRO ORIGINAL

DE HERON DE ANDRADE

Argumento com colaboração de Ricardo Kucera Sulzbach

8º tratamentoJaneiro de 2011

Registro Biblioteca Nacional:Protocolo EDA/DF 2011 nº 60

Brasília,DFHeron Clementino de Andrade email:[email protected]

Roteiro Cinematográfico Café Ilícito................................................................página 2

CAFÉ ILÍCITOAgradecimentos

Agradeço a Deus o dom da inspiração, à esposa Marta Elisa, pela paciência de suportar minhas longas horas de ausência à frente do computador, ao mano João Batista da ESPM, meu grande motivador. À professora Carolina Assunção e Alves e colegas do curso de Comunicação do UniCeub - DF, e especialmente, aos amigos Ricardo Kucera (Kuko) pela colaboração no argumento e a Rodolfo Falcão, o verdadeiro poeta! Dedico esse trabalho aos meus amigos virtuais das redes sociais!Espero que apreciem. Pronto! Hora do café!

Heron de Andrade


CAFÉ ILÍCITOSTORY LINE

Jovem em crise pessoal sofre um acidente e um professor o socorre. O diálogo entre eles se estende e ajuda o rapaz a reavaliar a vida. A história trata da difícil transição da juventude à maturidade.


CAFÉ ILÍCITOSINOPSE

A história se passa numa cidade grande, nos dias atuais. César Augusto, o protagonista, é um jovem universitário, tem 20 anos e está numa fase de desilusão com o mundo. Acorda cedo pela manhã e está envolto em conflitos interiores.Sua vida não encontra sentido. Tudo o aborrece: as provas na faculdade, o trabalho, seus fracassados relacionamentos afetivos, a cobrança da família. A rotina o esmaga. Certo dia, ao sair de casa, ele sofre um acidente. Um estranho personagem o ampara pelo braço e o salva do desastre. Trata-se de um misterioso professor que parece tudo saber da vida de César. Assim, não é apenas por acaso que os dois passam o resto do dia juntos conversando a caminho da casa de César. O jovem ansioso quer respostas que lhe devolvam o anseio, o brilho pela vida. O professor experiente ouve atento e o conduz numa inesperada jornada reflexiva. Somos frutos de nossas escolhas. Sobre esse principio básico do livre arbítrio humano os dois caminham, compartilhando ideias, conceitos, os problemas do dia-a-dia, relacionamentos e experiências. À medida que o tempo passa, César vai expor o seu interior, revelando seus medos e traumas. A trama tem aspectos insólitos, construídos de modo intencional a partir do consumo de uma bebida especial,o CAFÉ ILÍCITO. Quem seria o professor Rubens e por que ele sabe tudo sobre César? Seria um policial, um espírito, ou a própria


consciência conturbada do jovem? Ao final dessa jornada de diálogos entremeado por flashbacks, o rapaz vai perceber o quanto é importante refletir sobre a vida, dividindo os sentimentos com amigos. Sobretudo, ele vai se enxergar mais maduro, esperançoso e disposto a enfrentar os conflitos que todos temos a cada dia. O roteiro é uma leve crítica a sociedade pós-moderna, das redes sociais da internet, ambiente em que é mais fácil uma pessoa expor inteiramente sua vida privada à desconhecidos do que a pessoas reais mais próximas.


CAFÉ ILÍCITOPERFIL DOS PERSONAGENS

Protagonistas:

César Augusto: tem 20 anos. Ele é de uma família tradicional de classe média de uma cidade grande. Ele é inteligente, estuda comunicação. Tem muitas dúvidas sobe a vida. Tem senso de humor, é despojado, tem poucos amigos. Não sabe lidar com perdas. Já foi depressivo e tentou suicídio. Passa pela crise de transpor a adolescência à idade adulta.

Professor Rubens: O acompanhante é um homem de meia idade. Tem estilo, fala corretamente, é educadíssimo, culto, tem um tom professoral sem ser pedante. Sua missão é conduzir o rapaz, sanando suas dúvidas e devolvendo-lhe o brilho nos olhos do amor pela vida.

Antagonista:

Não há antagonistas nessa história.

Coadjuvantes:

Dona Flor: Florinda é a mãe de César. Tem 55 anos, típica dona de casa e mãe dedicada.

Carminha: Ex-namorada de César. Tem 20 anos, magra, bonita. Estilo namoradinha do Brasil,meiga,sempre educada.

Max: é o motorista do professor. Ele é mudo. Veste-se de terno escuro e usa quepe.

O poeta: Artista da vida. Tem uns 40 anos. Grande executivo que abandona tudo por amor. Transforma-se em poeta, num sem teto, um vagabundo. Em determinado momento ele surge e apresenta a César respostas em forma de poemas sobre a saudade e perdas.

Lily: garçonete, recepcionista do Café Ilícito: Garota linda que se veste de feia. Veste-se com roupas estranhas, ora sósia da Amy Winehouse, ou estilo Betty a Feia. Sua voz é horrível parece a da série de TV (The Nanny). Ela


trabalha no Café Ilícito como garçonete e é assistente do poeta.

Amigos da internet: são amizades virtuais, clichês, encontradas em filmes e nas redes sociais. A Biba, clichê de um homossexual; a moderninha,tem estilo patricinha; e a Riponga, natureba. Todos tem por volta de 25 a 30 anos.

Outros personagens podem eventualmente interagir com César Augusto. Algum colega, ou as ex-namoradas (em forma de flashback), pessoas em algum bar ou em outra locação por onde os personagens passarem.


CAFÉ ILÍCITOROTEIRO CINEMATOGRÁFICO

CENA 1A cena acontece no quarto de César Augusto. Ele está dormindo. O quarto está todo bagunçado. Ele está coberto com edredom, apenas a cabeça pra fora dos cobertores. Tem um despertador do tipo relógio eletrônico ao lado dele, próximo à cabeceira da cama.

CARACTERES em superposição: Cidade Grande, 2010, 05:38 a.m.

INTERNA. QUARTO DE CÉSAR AUGUSTO. DIA

César está deitado na cama. O relógio marca as horas. Em 2 min. Ele terá que levantar e enfrentar mais um dia de sua vida.

MONTAGEM PARALELA

EXTERNA. CENAS DE CÉSAR NAS RUAS. DIA.

CÉSAR(César em Off)

Enquanto César fala em off, são inseridas cenas dele caminhando sozinho nas ruas, passa em frente a uma igreja e vê um mendigo bêbado, chutando latas.Ao terminar o off, retornar para cena 1 do quarto,momentos antes dele acordar.

Oi gente. Sou César. Tenho 20 anos, trabalho metade do dia numa loja e estudo publicidade à noite, numa faculdade particular. Meu pai é quem banca. Briguei com a Carminha minha 1ª namorada, e Sim, estou estressado, cansado dessa vida. Já faz 2 anos e 20 dias. Deveria ter um manual para saber passo a passo como administrar tal sensação. Queria poder superar, meus anseios e minhas dores.Particularmente vivo em um perigoso sobe desce afetivo.Uma verdadeira gangorra. São tantos sentimentos vivenciados em poucos segundos, da tristeza a alegria, a saudade, solidão. Me considero apenas mais um alegre deprê.


Fere meu coração o fato de não ser correspondido no campo amoroso. Será que eu nasci programado, com um chip para não viver as emoções do amor? Meu destino é viver sozinho? Incompreendido? Meu avô me disse que a maturidade se conquista com o tempo e não sai barato. Sentimento é algo tão complicado. Percebi que tinha amadurecido no mesmo dia em que passei a gostar de beber café. Bem,acompanhem...em 2 minutos tenho de levantar.

Ao terminar o off, retorna para a cena 1 do quarto,momentos antes dele acordar.Nesse momento o relógio marca 05:40. O alarme dispara. O rapaz dá um tapa no despertador. Em seguida, ele vira pro lado e conta até três (esperando o chamado da mãe), quando sua mãe o interrompe, gritando de fora do quarto.

DONA FLORCésar Augusto, levanta, menino. Você vai se atrasar pro trabalho. Bora menino, deixa de ser preguiçoso.

César se levanta, espreguiça, olha no espelho que existe em seu quarto e depois de alguns segundos pronuncia o desabafo.

CÉSAR

Que tragédia.

CENA 2

INTERNA. COZINHA. DIA.

A mãe de César o serve de leite para ele numa caneca grande. Só aparecem as mãos dela. César está sentado à mesa. Em nenhum momento ela para de falar,dando recomendações diversas:

DONA FLOR


César Augusto, não se esquece de pegar o terno do seu pai na lavanderia, arrume seu quarto também. E esse cabelo menino, quando vai cortar? A Dona Matilda pediu pra você trazer os óculos dela daquela ótica perto de onde você trabalha! Ouviu menino? Não vai esquecer!

A TV está ligada e falando algo sobre o trânsito na cidade. De repente, falam sobre previsão do tempo:

LOCUTOR DO TELEJORNAL

O tempo hoje está instável passando do tempo bom a períodos de chuvas esparças, a temperatura vai variar de 15 a 27 graus.

DONA FLOR

Teremos sol e chuva juntos. Vai dar arco-íris. Ah, eu acho tão lindo! Menino, leve o seu guarda-chuva!

César fica estático na cadeira. Olhando pra frente. Em dado momento ele põe os óculos escuros, parecendo não se importar. Enquanto escuta a mãe dizer.

DONA FLOR

Vai meu filho, fica com Deus. E que teu Anjo da Guarda te acompanhe!

CENA 3

EXTERNA. CIDADE. DIA.

Cenas de cidade grande. Gente andando nas ruas, movimento nas calçadas. César aparece caminhando na rua, com uma mochila nas costas. Um guarda-chuva na mão.

CENA 4

EXTERNA. ACIDENTE. DIA.


Ao atravessar a rua um carro, dirigido por uma velhinha, que não enxerga bem, passa o sinal e quase atropela César. (Filmar a velhinha sem óculos no volante).Uma mão encosta no ombro de César . Uma pessoa o ajuda. Está chovendo levemente. A chuva pára e abre sol. Forma-se um arco –íris.

CENA 5

EXTERNA. O RESGATE. RUA DA CIDADE. DIA.

PROFESSOR

E diz, essa foi por pouco rapaz.

CÉSAR(meio tonto)

Ah,verdade, o que foi isso?

O professor é um senhor bem aprumado. Está vestido de terno com suspensórios e uma gravata borboleta em tons escuros. Ele olha calmamente para César.

PROFESSOR

Venha, levante-se, eu te ajudo. Vamos caminhando, logo ali há um café. Uma bebida quente te fará bem. Se você não melhorar, te deixo no hospital.

CÉSAR

O senhor é médico?

PROFESSOR

Eu? Bem, mais ou menos, depois eu explico. Procure não falar agora, você está tonto, apenas me permita acompanhá-lo, posso? Vamos ali até a esquina no Café.

CÉSAR

Ah, sim,sim, pode. Muito obrigado.

CENA 6

INTERNA. CAFÉ ILICITO. DIA.


Por cima do prédio do café tem um arco-íris. As cores se refletem na fachada do café, mas de forma sutil. Cenas de uma cafeteria. (Mostrar uma placa com o nome do estabelecimento) Uma leve música de fundo ao som de piano toca no ambiente.

Dentro do café, pessoas conversam voz alta. Gente vestida com roupas orientais, tipo árabe, numa mesa fumam narguilé. Pessoas lêem jornal. Um casal discute em língua estrangeira, talvez castelhano. A mulher sai. O marido bebe o restante de uma taça de vinho, acende um cigarro e expele a fumaça dentro da taça. Um dos atendentes se aproxima e lhe diz que seu táxi chegou. Ele se retira. Nesse momento César Augusto e o professor entram no recinto e cruzam com o marido na saída do café. Sentam-se numa mesinha redonda e a garçonete vem atende-los. O Professor faz o pedido.

PROFESSOR

Por favor, senhorita Lily sirva um CAFÉ ILÍCITO para esse jovem .

CÉSAR

Como o senhor sabe que eu quero um café?

A garçonete pergunta ao rapaz.

LILY

Bom dia, o senhor deseja AÇÚCAR ou ADOÇANTE? Temos também marshmallow, conhaque, licores de frutas...

O Jovem interrompe a garçonete tagarela.

CÉSAR

(indisposto,colocando a mão na cabeça)

Qualquer coisa moça, que diferença faz?

Aqui há um momento de tensão. Tudo parece suspender! Todos no café, olham para a mesa do rapaz. O piano pára. César percebe que deve ter feito algo bizarro!

PROFESSOR

(Em tom explicativo,diz baixinho)


Você não entende, mas faz toda diferença, meu jovem.

E olhando bem nos olhos do jovem refaz a pergunta num tom sério:

PROFESSOR

Açúcar ou adoçante?

O rosto do jovem fica tenso. A garçonete está estática, todo o café pára para ouvir a resposta do jovem. Close no rosto do rapaz.

CÉSAR

(envergonhado)

Desculpe, eu não conheço os costumes de imigrantes Ok,ok,açúcar. Adoçante é coisa mais para velhos!

E tudo segue normalmente no café,volta a música e as pessoas retomam a rotina.

CÉSAR (continua...)

Mas quem é o senhor? Não me lembro de ouvir o seu nome.

PROFESSOR

Bem, pode me chamar de professor. Digamos que eu já conheço você, embora você possa não se lembrar.

CÉSAR

Me conhece, como assim? Foi meu mestre? O senhor é amigo de meus pais? Eu não me lembro. O senhor não está me confundindo com alguém?

PROFESSOR

Não, eu sei quem você é. Tenho ótima memória. Você é o César Augusto Ramos


Antunes, seus amigos o chamam de o CARA, tem 20 anos, estuda publicidade, é filho da Dona Florinda e seu Ramiro, joga vôlei, futebol, gosta de música, vai à igreja obrigado aos domingos,e a sua namorada Carminha te deixou. Não é isso?

O rapaz dá ares de que está desconfiado.

CÉSAR

(surpreso)

Que é isso, uma pegadinha? Eu hein, que doideira! Só falta dizer meu CPF e RG também?

PROFESSOR

Sua primeira professora foi a tia Marlene, que te deixou suspenso 2 dias por você ter feito gestos obscenos em sala de aula, sua banda preferida são os Móveis Coloniais de Acaju que você adora ouvir no banheiro. E pra encurtar seu RG começa com 056 874...

CÉSAR

(nervoso)

Ei peraí...o que é isso? Você é policial? Detetive? Eu não sei de nada! Minha ficha é limpa, não mexo com drogas! Estou ficando assustado.

CÉSAR

(Nisso ele coloca a mão na cabeça e se sente tonto)

Não me sinto bem,as coisas estão confusas!

PROFESSOR

Calma meu jovem, pode parecer estranho. Mas acredite, estou aqui pra ajudar.


CÉSAR

Ah véi, não tô curtindo, essa não. Eu vou embora pra casa.

PROFESSOR

Calma,termine seu CAFÉ ILÍCITO. Vai se sentir melhor. Você pode ir embora. Mas eu posso te ajudar a ir pra casa. Você não está em condições de andar sozinho. E depois, meu carro está logo ali.

CÉSAR

Tá certo, professor. Eu vou aceitar. CAFÉ ILÍCITO? Que troço é esse? Eu nunca vi essa cafeteria, aqui nessa rua.

PROFESSOR

Ora, ora. Tem certeza absoluta de que você presta atenção em tudo, meu jovem?

CÉSAR

Certeza absoluta! Passo aqui todos os dias e nunca vi esse lugar esquisito. Mas olhando bem, até que é interessante apesar de servirem essa droga de bebida!

PROFESSOR

De fato, o CAFÉ ILÍCITO não é muito famoso. Mas posso lhe garantir que é um estabelecimento ímpar. Incomum. Talvez por isso você nunca reparou na loja.

E Meio constrangido César, questionou:

CÉSAR

Mas,agora falando sério, me intriga mais é o senhor saber da Carminha? Quem lhe contou? De onde a conhece? É parente dela? Que história é essa?

PROFESSOR


Ela passou maus bocados, mas está bem...ela está...

CÉSAR

Sim, ela está, namorando um advogado de São Paulo, sim, eu já sei. Pule essa parte. Relacionamentos, estou farto deles, que se dane...

PROFESSOR

Eu ia dizer que ela está trabalhando numa ONG que defende o meio ambiente. Permita-me, o senhor quer um lenço?

CÉSAR

(esconde as lágrimas do rosto)

Ah fala sério, tá me tirando agora é, tio? Não quero lenço nenhum. Eu nem te conheço vai...

PROFESSOR

Desculpe-me não pretendia ser rude. Mas você devia saber que sua mãe ia precisar de muitos lenços depois do que você estava prestes a fazer ali na esquina, não é?

CÉSAR

Epa, o que? O que o senhor está insinuando? Que eu ia me matar? Véi, você tá pirado? Agora você errou feio,eu não ia me matar.

PROFESSOR

Pensei tê-lo ouvido resmungar que estava de mal com o mundo. Que nada mais tinha sentido. Qual o motivo?

CÉSAR

Ora bolas, não lhe devo explicações sobre minha vida! Afinal, quem se importa? É, tô numa fase difícil sim, tá! Se morrer é o


fim dos sofrimentos, que a morte seja bem-vinda! Acho que eu sofreria menos. O senhor viu o rosto daquele homem que acabou de sair do café, depois de brigar com a mulher?

PROFESSOR

Sim, angustiado. A mulher o traiu. Mente pra ele. Estava escrito no olhar dele. Mas ele a ama.

CÉSAR

É,tipo assim, dores do amor. É o que to vivendo. Enfim, como vou viver sem o sorriso da Carminha, sem seu olhar, sem sua voz? Não consigo estar longe é como se faltasse um pedaço de mim,detesto coisas mal resolvidas no entanto não posso fazer nada,a não ser aceitar,ou morrer...

PROFESSOR

Basta, basta, muito bem, caro César, proponho o seguinte: te deixo em casa. Vamos andando, o meu carro está logo ali. No caminho vamos conversando. Eu sempre aprendo com as gerações mais novas. Eu queria te mostrar algumas coisas, mas antes,por gentileza termine esse café.

O rapaz faz um gesto em que aceita a proposta do professor.

CENA 7

EXTERNA. CARRO. DIA

Os dois caminham na direção do carro. O motorista abre a porta pra eles. Sentam no banco de trás. O carro é preto e grande. O motorista é mudo. A um simples contato visual com o professor pelo retrovisor ele já sabe pra onde ir. O celular do Professor toca. Ele atende.

PROFESSOR

Sim,está tudo certo. Ok, estou a caminho, PAX VOBIS.


Cesar acha estranha a saudação em latim, mas nada questiona. Depois o professor dirige-se ao rapaz.

PROFESSOR

Meu jovem, esse é o Max meu motorista. Ele é mudo. Escute, aconteceu uma emergência, preciso passar num outro lugar antes de te deixar em casa, tudo bem pra você?

CÉSAR

Sem problema, esse dia está doido mesmo. Estou até curioso. Tinha alguma coisa naquele tal CAFÉ ILÍCITO? Onde vamos?

PROFESSOR

(olha pro retrovisor do motorista e faz contato visual com olhar misterioso de Max)

Não é longe e Max, conhece o caminho.

CENA 8

EXTERNA. CEMITÉRIO. DIA

PROFESSOR

Bem, chegamos. É logo ali.

Vê-se uma placa: Cemitério Municipal.

Os dois descem do carro e César fica mais atrás observando. Numa das sepulturas uma menininha loira de uns 6 a 7 anos coloca uma flor encima da sepultura de alguém e chora. Ao ver o Professor se aproximando ela sai correndo e se atira nos braços dele.

MENINA

Tio Rubens,não sei como suportar isso. O senhor me ajuda?

PROFESSOR

Vai melhorar, meu anjo, acredite em mim.


Ela olha pra César faz um leve aceno. Depois sai correndo até sumir atrás de uma das tumbas.O Professor se volta para César e percebe que ele está em lágrimas. E pergunta ao jovem que está logo atrás.

PROFESSOR

Algum problema?

CÉSAR

(César esta ainda comovido com a cena da menina Ele pensa na vida da menina. Em quem ela perdeu, e como deve estar doendo para ela)

É triste ver uma criança chorando. Não deveria ser assim. Quem será que ela perdeu?

PROFESSOR

Pobre menina, não?!

CÉSAR

É, esse seu café deve ter algo de esquisito mesmo. Estou meio grog. Diga-me, por que viemos aqui nesse cemitério? E como pode o senhor saber tantas coisas sobre mim, acaso eu morri? É isso? Porque não faz sentido.

PROFESSOR

Bem, estou autorizado a dizer-lhe que você morreu sim. Mas não do jeito que você imagina. Já disse que vou lhe acompanhar até sua casa. Confie em mim, você vai entender tudo a seu tempo!

CÉSAR

Estou morto, é isso? Então a gente morre, e ganha uma xícara de café,isso sim é ilícito, é hilário!

PROFESSOR

César, todo aquele que desiste de seus sonhos, já está morto, não é verdade?


Existem várias formas de morrer, e muitas vezes para que algo bom floresça em nós é preciso que morramos para o velho jeito de ver e de lidar com as coisas que nos incomodam.

CÉSAR

(César reclama de tontura, náuseas)

Que mal estar,sinto uma tontura.

PROFESSOR

Ah...quanto à sua tontura, seu mal estar...isso vai passar meu jovem pronto, agora podemos prosseguir. Tudo que peço é que me acompanhe nesse dia e tudo vai acabar bem, eu prometo.

CÉSAR

Então seu nome é Rubens? E quem era aquela menina?

PROFESSOR

Ah, a menina? Uma flor, não? Você vai conhecê-la em algum tempo. Por hora, isso é irrelevante. Melhor você não se preocupar com isso. Quanto a mim, eu tenho muitos nomes, até porque tenho muitas tarefas. Eu respeito a ESCOLHA das pessoas, elas me chamam como as agrada. E eu as atendo.

CENA 9

EXTERNA. CENAS DA CIDADE E DO CARRO EM MOVIMENTO. DIA

Os dois entram no carro. Cena do carro andando pela cidade. Em off os dois continuam o diálogo.

PROFESSOR

César, você precisa melhorar sua autoestima! Você sabia que nossos nomes


dizem da nossa essência, da nossa missão nesse mundo? Veja o caso de Moisés, o grande profeta. Gastou 40 anos pensando que era alguém; 40 anos aprendendo que não era ninguém e o resto da vida, descobrindo o que Deus pode fazer com um NINGUÉM. “Moises,aquele que foi tirado das águas!”

CÉSAR

Ah, sei não. Meu nome não me diz nada. Sou um completo desconhecido.

PROFESSOR

Ninguém é um completo desconhecido! Mas pior que não ser famoso é não conhecer a si mesmo. Isso sim é triste. Porque a pessoa não vai a lugar algum sem sua identidade. Aquilo que você é, seu caráter é seu passaporte para o mundo!César, é um nome imponente. Já pensou nisso?

CÉSAR

(irônico)

Ah sim...lembra o galã de novelas mexicanas César Romero Calderon, não é isso? Aquele que depois se descobriu, e virou a Drag Queen mais famosa de Acapulco?

MONTAGEM PARALELA

INTERNA. CENAS DE CÉSAR ROMERO CALDERON. DIA.

Nesse momento são mostradas duas cenas do suposto ator mexicano. Primeiro, dançando tango com uma bela mulher, num ar de conquistador romântico. Corta. Num segundo momento aparece o ator vestido como Drag Queen, fazendo caras e bocas para a câmera.

CENA 10

INTERNA. CENAS DENTRO DO CARRO EM MOVIMENTO. DIA


O Professor coloca a mão na boca e dá uma leve tossida, tentando encobrir uma risada desconcertada. Depois diz...

PROFESSOR

Não no México, nem no seu tempo. ”César Augusto”, já foi muito respeitado, você deveria se inspirar na história ao invés de se apegar à TV aberta.

CÉSAR

Eu vi num documentário, César em Roma, muito sangue, gladiadores e tal. Maneiro. O nosso herói aqui é o capitão Nascimento, achei muito verdadeiro. Dá medo. Mas meus filmes preferidos são os de ação como os Piratas do Caribe. Gosto do Jack Sparrow, mesmo com aquele jeitão maluco engraçado.

PROFESSOR

Ah sim, o humor, isso é bom. Os piratas são parte do imaginário infantil, fantasia. Ao menos você guarda um pouco disso dentro de você. Podemos tratar de algo importante? Você está tão pálido, por que você se desencantou da vida? O que destroçou sua confiança nas pessoas, meu jovem?

César, pára um instante, olhar triste..

CÉSAR

Ih. Lá vem pergunta difícil, não gosto de falar essas coisas,vamos embora? Ok? Preciso pensar.

Cenas da cidade, som de turbinas de avião, buzinas de carro, pessoas se movimentando nas ruas.

PROFESSOR

Certo. Max, leve-nos até o parque.

CENA 11


EXTERNA. CIDADE. DIA.

Seguem cenas do carro andando pelas ruas da cidade,o carro para num lugar especial

PROFESSOR

Eu quero te mostrar uma coisa. Um lugar que é muito especial pra mim e fica no caminho de sua casa.

CENA 12

EXTERNA. PARQUE COM VISTA PARA PRAIA OU LAGO. DIA

Os dois vão até um lugar, um parque com uma vista linda, da praia. Admiram o lugar.

PROFESSOR

Que lugar lindo!

CÉSAR

Hei,o que estamos fazendo aqui? Esse já foi o meu lugar preferido. Não é mais.

PROFESSOR

Mas continua lindo, você não percebe?

CÉSAR

Olha só seu Rubens,já disse que não gosto mais. Vamos embora.

PROFESSOR

Você pode ir, não o estou impedindo. Ou pode ficar alguns minutos e tentar me explicar o que te apavora tanto aqui e eu prometo que não levo a idéia de que você é um garoto mimado e fujão!

Os dois descem do carro e continuam a conversa.


CÉSAR

(ele se senta numa pedra...e começa a falar)

Ei, pega leve. Bem, tem a ver com perdas. Eu vinha aqui com meu avô desde menino, a gente se divertia muito, depois veio o câncer e ele morreu.

Ai, ganhei um cachorro,um Chihuauha. Eu gosto de cães, mas detesto Chihuauhas. Um Chihuauha não é um cão, é um rato com um problema na tireóide.

Eu vinha aqui brincar com o rato. Ficava horas aqui com ele, até que um dia eu joguei a bola pra ele buscar e ele foi embora, nunca mais o vi.

Depois disso, todos os dias eu vinha aqui sozinho, até que a Carminha, filha da nossa vizinha,bem, acho que ela ficou com pena,e resolveu me acompanhar também.

Ficamos amigos, eu a ensinei a andar de bicicleta, a gente tocava violão aqui,ali no canto ela machucou o joelho quando pegava uma pipa pra mim, naquele banco ela me deu o primeiro beijo, e disse que jamais me deixaria sozinho,mas como você sabe a história,ela também se foi,é isso. Depois disso, eu parei de vir aqui, esse lugar me dá azar eu acho. Pronto agora você pode me zuar e me chamar de EMO!

PROFESSOR

Não teria por que. Há muita verdade no que você diz. O sofrer faz parte da condição do homem. Mas a alegria também. Você foi muito feliz aqui, não entendo porque só guarda as lembranças ruins.

CÉSAR

(demonstrando estar triste)


Você não entende? Nem eu entendo por que motivos as pessoas que importam pra mim, fogem. Somem. Me abandonam. Isso é dureza.

PROFESSOR

Lidar com as perdas nunca é fácil. Por mais que seja necessário, é sempre muito difícil aceitar o fim da vida ou de qualquer relacionamento. O antídoto é a esperança, tudo se renova, mas só se você permitir.

CÉSAR

É porque eu sou um perdedor. É isso. Meu pai diz que não sirvo pra nada.

PROFESSOR

César, você se acha um perdedor? Você não é um perdedor. Até porque pra perder é preciso entrar no jogo. Não. Isso não é verdade, você deveria saber. Não peças licença por existires! Às vezes, as pessoas mais velhas passam as suas frustrações pros mais novos. Sabe, eu andei lendo seu perfil no twitter. Lá, você parece ter muita personalidade. Como era mesmo sua frase de apresentação: “Não, eu não me encaixo em estereótipos. Todos eles são muito previsíveis e sem graça. Nada em absoluto e um pouco de tudo, essa é a idéia.”

CÉSAR

Ei, se liga, no twitter é um personagem, lá não sou eu de verdade. Apenas é quem eu gostaria de ser se não tivesse tantos problemas. E quanto ao meu velho, ele sim é um desequilibrado. Ele vive pegando no meu pé.

PROFESSOR

Quem rejeita a correção faz pouco caso de sua vida. Quem ouve a repreensão adquire sabedoria!(Pr 15,32)Está escrito!


CÉSAR

Meu pai só trabalha, há anos não tira férias, só se preocupa com os outros e nós em casa quase não o vemos.

PROFESSOR

Essa é uma triste realidade do seu tempo!

CÉSAR

Teve época que cheguei a pensar se eu não seria adotado, ou filho de outra pessoa, pra ele ser tão duro. Com raiva, cheguei a enviar uma carta pro programa do ratinho pra fazer teste em laboratório.

PROFESSOR

(Risos)

Isso foi engraçado!

CÉSAR

Mais ou menos. A produção da TV ligou me chamando pra fazer o programa do teste do DNA. Por sorte, eu que recebi a ligação, e cancelei tudo. Escapei de levar uma surra daquelas!

PROFESSOR

Quanto ao seu pai. Não o julgue. Está te faltando alguma coisa? Ele não paga seus estudos? Ele não te sustenta?

CÉSAR

Sim, ele paga tudo, né, mas também está escrito: nem só de pão vive o homem! Em resumo: meu pai não é meu amigo.

PROFESSOR


Ora vejam, fico feliz que esteja melhor meu jovem, já esta até filosofando! Seu pai nas limitações que possui talvez esteja dando o melhor dele.

CÉSAR

Ok, senhor professor, minha vez agora. Vou fazer uma pergunta de volta, acaso o senhor sabe a receita do sucesso? O que precisa o homem pra ser feliz?

PROFESSOR

Bem, de muitas coisas eu suponho. Mas na essência o homem precisa de muito pouco pra ser feliz. Quanto menos precisar mais feliz o será.

CÉSAR

Como assim? Não entendi?

PROFESSOR

Mas aqui, através da experiência negativa que você teve com seu pai, estamos ressaltando a importância do calor humano, as vezes de ter um colo pra colocar a cabeça e simplesmente ficar ali, em silencio. Você precisa ter amigos pra compartilhar a vida, os momentos bons e ruins. Eles são indispensáveis.

CÉSAR

Eu tenho poucos amigos!

PROFESSOR

Um filósofo grego chamado Epicuro dizia que pra ser feliz é preciso ter amigos próximos e uma vida bem analisada. Ele dizia que amigos são tão importantes que antes de você comer ou beber deveria pensar


em companhia de quem você desfrutar a refeição. Para Epicuro alimentar-se sem um amigo é para leões ou lobos, meu amigo!

CÉSAR

Ah, professor, acho que não é preciso de um filósofo pra saber disso! Hoje em dia é difícil encontrar amigos verdadeiros. Tem muito traíra por ai. Muito fura olho!E vida analisada sai caro e nosso plano de saúde não cobre!

PROFESSOR

Hum, de fato! Também está escrito que um amigo fiel é uma poderosa proteção:quem o achou descobriu um tesouro. Nada é comparável a um amigo fiel! E tendo-os parte da vida analisada sai de graça! Diga-me, onde posso encontrar os teus amigos?

CÉSAR

Olha, os meus amigos preferidos estão na internet. Aliás, eu tenho conta em todas as redes sociais e anti sociais que você imaginar.

PROFESSOR

Sim, a tecnologia da informação veio pra resolver todos os problemas que nós não tínhamos sem ela. Sem falar que tem pessoas que se deixam escravizar. Lembra quando você ficou doente por ficar 3 dias direto sem dormir ou comer na frente do computador?

CÉSAR

Lá vem você de novo, senhor detetive! De onde você desenterrou essa? Sabe ler a mente é? Não tentei me matar, eu tinha 14 anos estava apenas curtindo. E depois,


Carminha ficou lá no hospital comigo! Foi show!

PROFESSOR

De fato,curtiu mesmo, 12 horas 22 minutos no pronto- socorro,e eu nem mencionei o fato de você ter tentado se matar.

CÉSARAi,véi,pega leve,guarda a patinha!!! Relaxa ai. Quer saber,esse papo já tá me enchendo,vamos embora ou vai me seqüestrar?

PROFESSOR

Você não entendeu, eu já disse, você pode ir. Não estou impedindo você.

César tenta seguir adiante, mas suas pernas não se movem. Ele não consegue sair do lugar.

CÉSAR

O que é isso, outra pegadinha? Por que não consigo me mover? Minhas pernas travaram!

PROFESSOR

Calma meu jovem,deve ser uma indisposição só isso.

CÉSAR

(Irritado)

Mas que porcaria de droga você pôs naquela bebida? Ai ai...me ajude aqui.

PROFESSOR

Bem...o café apesar de ilícito, eu lhe asseguro é perfeito. Mas, pensando bem, o açúcar eu não sei a procedência. Foi Sua ESCOLHA.


CÉSAR

Sim, já sei minha escolha fez toda diferença! Você é um TROLL, sabia? Se o produto era batizado porque você não me disse? Que espécie de gente é você que me tira da frente de um carro pra me drogar depois?

PROFESSOR

César,seja razoável. Eu não sabia que você escolheria o açúcar. Eu apenas lhe ofereci o café. Eu sou um professor, não sou médico. Entendo um pouco sobre sentimentos mas não de bioquímica.

PROFESSOR

(Resmungando baixinho diz)

Isso não estava previsto. Tem dedo daquela espertinha da Lily aqui. Ok, alterando planos.

CÉSAR

O que está dizendo aí?

PROFESSOR

Nada não, agora, deixe-me ajudá-lo. Tire dessa situação um aprendizado: não aceite tudo que lhe é proposto tampouco acredite em tudo que vê. Desconfie, questione sempre, ou simplesmente ignore.

CÉSAR

Pretende me soltar daqui com galhofas? Onde está o Max pra me ajudar?

PROFESSOR

No seu caso, penso que uma parte de você não quer ir pra casa agora.É psicológico. Eu sugiro que continuemos a conversa, você mesmo achará a solução desse problema


inconveniente e poderemos continuar a caminhar.

PROFESSOR (continuando...)

Olha,tudo na vida é formação. Tudo serve para nosso crescimento. Esqueça suas pernas e fale-me de seus relacionamentos.Como eles são? Sei que você teve outras histórias depois da Carmem Lúcia.

Enquanto César relembra são mostradas as ex-namoradas em flashbacks.

CÉSAR

Claro que já! Acha que eu ia deixar barato? Eu dei o troco. Já colecionei 7 namoradas depois dela! E cada uma mais gata! A alfa um era uma psicóloga, gatíssima. Me trocou por um psiquiatra.

PROFESSOR

Pragmática!

CÉSAR

A alfa dois, ninfomaníaca, só queria aquilo, eu fugi.

PROFESSOR

Sem comentários!

CÉSAR

A alfa três era uma fofa,hum, ela era bem gordinha. Tá, pra ser sincero ela fez cirurgia de redução de estomago e agora faz comerciais de bermuda slim do Doctor Prince. A alfa 4 era da Croácia. Impossível lembrar o nome dela.

PROFESSOR

Interessante sua descrição das moças. Já vi o comercial das bermudas!

CÉSAR


As alfa cinco e seis andavam juntas o tempo todo, de tal forma que considero que namorei as duas, posso me gabar. E a alfa sete foi meu recorde. Tudo durou 48 horas. Promoção de motel, sabe. Foi minha vingança.

PROFESSOR

Hum, vingança tem um lado sombrio. Acho perigoso fazer justiça pelas próprias mãos. Relacionamentos voláteis não fazem ninguém crescer. Qual foi o resultado dessa vingança?

CÉSAR

Na verdade, no começo foi ótimo, mas agora que você mencionou o resultado,sim foi trágico, vazio, negativo. Eu só queria que ela ficasse com ciúme e deixasse aquele panaca do advogado de São Paulo. Professor, eu tinha de fazer alguma coisa. Não tenho sangue de barata, entende? Estar com a Carminha era um banquete. Estar com as outras foi pão com mortadela. Saí perdendo em todos esses contatos.

PROFESSOR

Acredito que você seguiu seus impulsos e tentou se defender, atacando. Mas tem ações que doem mais em nós do que em quem pretendemos atingir. Mas prosseguindo o que você concluiu disso?

CÉSAR

Ah,eu já fiz essa análise. Na verdade eu li numa revista que minha mãe assina. Sou aquele cara que nas minhas vivências, não consigo ter uma relação duradoura. Não que eu seja um fujão de relacionamentos, quem me conhece sabe que não sou assim. Até comentei com um amigo que eu sou Mestre em ter um encontro único ou no máximo relações de duas semanas. Na revista falava


de uma tal síndrome do segundo encontro. Acho que esse sou eu. Tenho verdadeiro horror de ouvir aquelas palavras falsas “Não estou preparada para me envolver com alguém”. “ Ah beim, eu só quero amizade, tá”. Bullshit! A criatura não está pronta para namorar comigo, mas na semana seguinte ou até menos, você descobre que a pessoa tá namorando sério.…a minha alfa 3 até noivou! VAGARANHA!

PROFESSOR

VAGARANHA? Temo em até em perguntar o que significa!

CÉSAR

Sim...isso mesmo, vagabunda mais piran...

PROFESSOR

(interrompe César)

Entendi...Isso é típico dos tempos modernos! Continue

CÉSAR

Afinal, o que faço de errado? Será que só atraio as pessoas erradas? Será que essas pessoas com quem me relaciono são superficiais, não querem compromisso sério? Será que sou um amante medíocre? O que existe de errado?

Por conta do que vivi, parece até que estou predestinado a viver só. Eu abomino a idéia de ser rejeitado, ou esquecido pelo mundo.Isso martela minha mente o tempo inteiro.

Gostaria de ter maturidade suficiente para entender o que acontece comigo.Eu não sou incapaz de amar, sei que não sou. Devo ser mais uma vitima dessa sociedade individualista,consumista que quer vender tudo e assim não nos permite ter tempo pra


aprender o necessário sobre o amor. Esperava que com o passar dos anos, mudasse meu pensamento sobre o tema, mas só tem piorado.

PROFESSOR

Belo relato,não sei mas você percebeu que já esta caminhando há alguns minutos?

CÉSAR

Ah sei lá, a indignação interna, explodi, me senti livre desabafando.

PROFESSOR

Sim, a verdade liberta!

CÉSAR

Ei professor, você é bom nisso,hein! Deveria trabalhar com terapia. Você ganharia uma fortuna! Hehe

PROFESSOR

Ou abrir uma cafeteria quem sabe! (risos)

CÉSAR

Meu, Deus! Se o café já é ilícito, imagino como seria a torta nega maluca! O cara vai pra lá de Bagdá! (risos)

CENA 12

EXTERNA. PARQUE COM VISTA PARA PRAIA OU LAGO. DIA

O celular do PROFESSOR toca novamente.

PROFESSOR

Claro, perfeitamente, entendi. Então está certo.PAX VOBIS.

Desliga o fone e diz a CÉSAR:

Ok. Bem, meu jovem, precisamos ir.

CÉSAR:


Pax o que? Não me diga que vamos ao cemitério de novo? Ah não,logo agora que to me sentindo mais leve!

PROFESSOR

PAX VOBIS. Entenda como CAMBIO, da nossa agencia. Nada de Cemitério, era apenas a chefia me lembrando algumas coisas que tenho de fazer. Venha, vamos ali. Quero que conheça uma pessoa muito importante. É um artista. Acho que você vai gostar dele.

CENA 13

EXTERNA. CASA DO POETA. DIA

Aproximam-se do local,uma casa pequena, estilo português. De longe observam , mas onde deveria estar um artista lá está um sujeito vestido igual mendigo, mal trajado, barba por fazer, e no entanto um suave perfume de flor de laranjeira parecia exalar no ambiente.

CENA 14

INTERNA. SALA DA CASA DO POETA. DIA

POETA

Sejam bem vindos, meus amigos! Alegria, alegria! Chega e dá um grande abraço nos dois. Eu volto já, deixe-me buscar papel e caneta!!!

CÉSAR

Que perfume de laranjeira,que coisa boa ! E essa música de ambiente é o céu,mas, espere...ei Rubens esse cara eu conheço. É um bêbado, sempre fedido que vive na pracinha perto da minha igreja. Sempre sujo. Esse é o artista? Mas como pode? Fala sério!

PROFESSOR


É assim que você quer vê-lo? Como o bêbado fedido? Essa é sua escolha?

CÉSAR

Não,não...assim como está, está bem melhor.

POETA

Meus amados, o que vai ser? E fazendo misuras medievais ( saudações)

DUAS PALAVRAS EU VOS CONCEDO A EXPLICAR,A EXPLICAR SÓ DUAS PALAVRAS EU VOS CONCEDO.E NÃO TRÊS! SERIA DEMAIS, PORQUE TRÊS NUM SÓ POEMA EXPLICAR, SÓ DEUS É CAPAZ.

PROFESSOR

César, escolha você duas palavras.

CÉSAR

Eu?! Nem sei o que dizer,estou surpreso.

PROFESSOR

Vamos. De tudo que conversamos tire duas palavras.

CÉSAR

Não sei, parece uma tempestade...ok, tente,tempestade e coração. São essas!

POETA

Certo, tempestade e coração, coração e tempestade, hum, como vai ser, deixa ver, hum, vejamos.

Ele se vira e vai se afastando até sentar-se num canto da sala onde começa a escrever. Nisso Lily entra na sala, agora vestida como uma hostess de boate.

LILY

Boa tarde senhores, palavras escolhidas agora é comigo. Por favor, meu jovem me acompanhe e deixe o artista trabalhar.


PROFESSOR

Sim,César,vá com a Lily uns instantes enquanto isso, eu tenho assuntos a tratar com nosso amigo poeta.

CENA 15

INTERNA. QUARTO DA CASA DO POETA. DIA

Ela segura César pelo braço e o conduz a um quarto vizinho. Abre um armário cheio de roupas e entra e desaparece lá dentro. Depois, chama César.

LILY

Bora colega, entre no armário.

CÉSAR

O que? Eu não vou fazer isso!

LILY

Ai ai ai, é sempre a mesma coisa. Já estou cansada! Entra logo nesse negócio garoto! O Raul não te explicou pra não acreditar em tudo que você vê?

CÉSAR

(fala baixinho)

Raul? Ah, deve ser o Rubens...eita gente doida. Tá bom, estou indo, espere ai.

César se joga dentro do armário.

CENA 16

INTERNA. ESCADARIA. PASSAGEM SECRETA PARA O PUB. DIA.


No fundo do armário há uma passagem. Uma longa escadaria que desce. Nas paredes quadros famosos: Picasso, Locatelli, Anita Malfatti, etc. César observa atento.

LILY

Gostou das pinturas? São autênticas!

CÉSAR

Como assim? Isso deve valer uma fortuna pra ficar guardado aqui nesse cafofo.

LILY

Você é bobinho mesmo, hein?! São presentes que o Raul recebe por ter ajudado essas pessoas a descobrirem seu potencial.

CÉSAR

Sei...alguns desses pintores já morreram há muitos anos! Que idade tem o Rubens?

LILY

Ora garoto,depois você pergunta pra ele. Pronto, chegamos!

CENA 17

INTERNA. PUB SUBTERRANEO. AMBIENTE ESCURO.

Lily abre a porta e do outro lado há um pub com palco para apresentações. Sala escura. Fumaça de gelo seco, pessoas bebendo. Gente esquisita. A música toca alto. Underground.

Garçons servem coquetéis coloridos.

LILY

Venha, vou te levar ali numa mesa.

CÉSAR

Mas que lugar doido é esse? Cadê o Rubens?

LILY


Ah,ele quase nunca vem aqui. Na verdade, ele não pode entrar aqui. Essa parte é comigo. Está incluído quando ele paga o seu café! Aceita um cigarro?

CÉSAR

Como assim?

Agora os dois estão ocupando uma mesa do Pub com visão do palco.

LILY

(ela segura um celular BlackBerry)

Ai garoto, você é lerdo mesmo, hein? Bom deixa, eu ver aqui,hum,sua ficha é interessante, depressivo, suicida em potencial, viciado em internet,coração partido, hum... você tem tudo pra ser um grande artista, sabia?

CÉSAR

O que?

LILY

Nada, não. Curta a musica, beba alguma coisa e relaxe. Posso até arrumar compania pra você? O que você escolhe? Loiras ou morenas?

CÉSAR

O que? Não quero nada disso não. Quero sair daqui. Isso aqui é um pesadelo!

Lily bate três palmas e do nada surgem 3 pessoas (um surge debaixo de uma mesa, outro estava atrás de uma pilastra e outro aparece na frente de Lily, como que fazendo uma surpresa). São os amigos da internet: a amiga moderninha, a biba e a amiga riponga. Todos com um copo de bebida na mão. Ice, dry Martini e coquetel de frutas, respectivamente. Os 3 se juntam a César na mesa e começam um papo em ritmo acelerado e cômico.


MODERNINHA

Hello, people, surpresa!

CÉSAR

Quem são vocês?

RIPONGA

Somos os seus amigos da internet! Twitter, Orkut, facebook, essas coisas. Esqueceu de nós? O que você anda bebendo, cara?

BIBA

Ah, César, hoje você está na ribalta! Pense em nós como aqueles amigos próximos que todo protagonista de filme chic tem, tipo sex and the city, Bridget Jones, mama mia!

O três se saúdam, batendo os copos: Tim, Tim!

MODERNINHA

Exato, somos tipo assim, suas fadas madrinhas! Estamos aqui pra te alegrar lindinho!

BIBA

Ah querido, beba alguma coisa! Hoje é sexta, a Diva da semana! E esquece um pouco aquela sua ex namorada! Agora, curta um pouco da balada!! Uhuhu

CÉSAR

Beber, não gente, valeu. Já basta por hoje! E hoje não é sexta, é terça feira!

MODERNINHA

Cesinho,querido aprenda uma coisa: no CAFÉ ILÍCITO é sempre sexta feira, beim!

RIPONGA


Isso mesmo! Você está muito além do arco-iris figura! Ei Lily, já está na hora do show, baby?

MODERNINHA

Issoooo!

BIBA

O show,isso, sempre ajuda!

LILY

Sim crianças, e vocês já estão atrasados! 5 minutos! Venha César, vamos dançar! Esse show é especial pra você!

Os amigos malucos se retiram. Eles vão pro palco e vão dublar e dançar alguma musica pop bem coreografada. Pode ser algum clássico tipo Abba, single ladies da Beyoncé ou outra qualquer,desde que seja pop.

CENA 18

INTERNA. SHOW DOS 3 AMIGOS NO PUB. DIA

Clipe musical gravado com os três personagens. Bem dançante e animado. Todos dançam e se divertem. A música deve falar de amor.

CENA 19

INTERNA. NA MESA DO PUB SUBTERRANEO. DIA

CÉSAR

Lily, afinal, que lugar é esse? Onde estou? O café ficava no Centro e estamos do outro lado da cidade.

LILY

Ai garoto, você faz muitas perguntas! O café ilícito é uma grande holding,temos lojas no mundo todo!

CÉSAR


E eu nunca ouvi falar desse café em lugar algum,poderia me explicar?

LILY

Bem, pra chegar às nossas lojas é preciso ir ao fim do arco-íris!Ou ao inicio,tanto faz! Sempre tem um café ilícito do lado! Temos filiais também nos locais mais inusitados como Área 51, triangulo das bermudas, Machu Picchu, feira de Caruaru.

CÉSAR

Caruaru, em Pernambuco?

LILY

Oxiiii menino. Tem de tudo naquela feira meu filho!Os grãos do café eu compro lá!E a receita da bebida é um segredo do DUENDE AMARELO.

CÉSAR

(rindo)

Caruaru, Duendes, faz todo sentindo!

A musica no Pub começa a tocar um forró.

LILY

César, agora que você está mais descontraído, deixa eu fazer meu trabalho. Quero dizer o seguinte:se não aprender a se controlar, a ser mais equilibrado, não vai ter sua garota de volta, viu!

CÉSAR

Na verdade, acho que isso seria melhor pra ela. Eu só lhe dava dor de cabeça.

LILY


Agora estamos de acordo. Eu li sua ficha,toda! Olha, sou direta: sei que você já usou marijuana, ectasy e até cocaína garoto, não precisa bancar o santinho pra mim.

CÉSAR

Você sabe tudo isso de mim? Mas o que é isso! Não entendo, parece até que a CIA está de mim!

LILY

Ah, digamos que eu li em seus olhos,tá! E o Raul, é muito educado pra tocar nesse assunto com você!Mas em breve você vai entender, tenha paciência.

CÉSAR

Ei, quanto a questão das drogas eu tinha uns amigos e tal e bem,era só coisa de balada no final de semana. Eu estava só curtindo. Mas eu já estava deixando, não achava que me faria tanto mal. Depois eu larguei.

LILY

É,mas não a tempo, né. Quase teve uma overdose. De Dry Martini? Mas que espécie de viciado nerd você era?

CÉSAR

Viu, como eu disse, era só curtição. Mas me ferrei.

LILY

Ferrou mesmo e por isso o advogato de são Paulo se deu bem. Aprendeu, né?

CÉSAR


Basta!Mas que pesadelo, quero sumir, cair fora daqui. Ir pra casa!

LILY

Ah, relaxa, vejamos, se você já sabe fazer escolhas! Tenho umas pílulas novas aqui azuis e vermelhas igual a matrix, lembra-se do filme? Você pode escolher o que quiser. A vermelha vai te levar pra casa agora e você não vai se lembrar de mim, do Raul e de nada. E garanto que não vai contar como recaída! Estou brincando...

CÉSAR

Tá mas eu não vi esse filme. E a pílula azul?

LILY

Quem sabe, César? Você terá de experimentar. Kkkkkkkk (risadas). Você decide!

Musica tensa,de filme de terror. Pessoas começam a gritar para César: “Experimenta, experimenta”. Tudo começa a girar em torno de César. Ele vê as faces das pessoas transformadas como monstros, demônios. A música aumenta, mais e mais, risadas, César fica tonto.

PESSOAS

(risadas malignas)

Experimenta, experimenta!

CÉSAR

(ficando tonto, nauseado até desmaiar)

Ai meu Deus o que é isso? Nossa, essa fumaça toda está me deixando tonto,cadê o Rubens? Lily, me tira daqui!

CENA 20

INTERNA. NA SALA DA CASA DO POETA. DIA

De volta a sala do poeta.


PROFESSOR

César acorde, você está bem?

CÉSAR

O que foi isso Rubens? Que lugar estranho.

PROFESSOR

Não importa, a Lily é um tanto cruel as vezes. Mas significa que ela gostou de você. Deixa eu ver seus olhos,Hum, Você, por acaso, provou alguma coisa lá embaixo,se eu fosse você!

CÉSAR

Eu sabia! Tudo batizado. Eu mereço!!!

CENA 21

INTERNA. NA CASA DO POETA. DIA

CÉSAR

Ei professor Rubens, agora que voltamos aqui diga-me:como um bêbado como ele pode escrever poemas? É engraçado.

PROFESSOR

Porque insiste em vê-lo como um bêbado? Pois saiba que ele é uma pessoa muito importante. Algum tempo atrás ele era um poderoso executivo de uma empresa de transportes marítimos internacionais. Bilhões de dólares passavam pelas mãos dele. Pessoas de negócio no mundo inteiro ligavam ao escritório dele em Buenos Aires para consultá-lo. Era muito rico, freqüentava o Jet set internacional. Mas era infeliz.

CÉSAR


Nossa! Isso é verdade? E como ele veio parar aqui?

PROFESSOR

Bem, é uma longa história, mas foi por amor.

CÉSAR

Por amor? Só podia. O amor destrói tudo mesmo,ai que sina...

CENA 22

INTERNA. CASSINO. NOITE

A cenas se passam conforme são narradas pelo professor. Não há diálogos entre os personagens da cena no cassino, apenas musica de fundo.

PROFESSOR

(narração em off)

Não César,escute. Ele foi num evento em Punta Del Este, o famoso balneário do Uruguai. No grande cassino teve uma festa à fantasia. Ele mandou vir da Ópera de Milão uma fantasia de mendigo pra ele. Na festa,havia uma senhorita linda, que trabalhava na copa, ao menos ele assim deduziu por causa do uniforme dela. Ela acidentalmente lhe derrubou um coquetel de café na roupa dele. Foi uma confusão danada. E você pode até imaginar que tipo de café era esse.

Uma mesa redonda do grande baile do cassino, com convidados fantasiados. A moça (Lily) vestida como garçonete se aproxima e sem querer vira a bebida sobre o Empresário/poeta vestido de mendigo.

CÉSAR


Ai,O CAFÉ ILÍCITO, sempre bombando! Mas e depois?

PROFESSOR

(narração em off)

Exato. Então ele foi com ela até a dispensa do hotel onde ela ia passar um produto pra limpar a roupa. Por acaso, os dois ficaram presos na dispensa, e pela força do destino conversaram a noite inteira.Essa garota era aqui da sua cidade. Mas muito pobre. Ele se apaixonou por ela. E ela também por ele. Tiveram uma noite romântica que valeu por mil anos. Quando ele acordou pela manhã,ela já se tinha ido. E ele supôs que ela tivesse sido despedida. Estranhamente ninguém tinha referencias dela. E tudo que ele se lembrava dela era que ela era daqui da sua cidade, na saída ela deixou ao lado dele ele um santinho de nossa senhora,com o endereço da igreja, perto de sua casa.

CENA 23

INTERNA. DISPENSA OU COZINHA DO CASSINO. NOITE

A cena se passa numa espécie de dispensa ou cozinha de restaurante do cassino. A porta só abre por fora. Os dois personagens tem uma doce cena romântica. De manha, ao chegar o primeiro empregado Lily vai embora, de espreita.

CENA 24

INTERNA. CASA DO POETA. DIA

CÉSAR

Nossa até parece uma novela!

PROFESSOR

Sim,com o César Romero Calderon? Rsrs

CÉSAR


Risos...não claro que não!

PROFESSOR

Em resumo, ele não conseguiu mais viver sem ela. Deixou tudo que tinha e veio pra cá tentar encontrá-la.

CÉSAR

E ele não a encontrou até hoje?

PROFESSOR

Ele já tentou de tudo jornais, TV, detetives, mas não achou. Desde então, ele escreve poemas e vive de algumas economias. Quando está muito triste ele bebe, se veste igual um mendigo e fica na pracinha na frente da igreja . Para ser reconhecido. Ele espera reencontrá-la amigo. Ele é um artista da vida!

Nesse momento o poeta se aproxima deles.

POETA

Pronto, aqui está a poesia! Já podem levar!Olha eu caprichei, hein! Espero que gostem!!! E Professor Rubens, aqui está a caixa com sua encomenda. Chegou hoje cedo de Zurique.

PROFESSOR

Ah, obrigado poeta! Tome César, guarde o poema consigo. Depois,o leia atentamente.

CENA 25

EXTERNA. LOCAL COM VISTA PARA PRAIA. DIA

Os dois personagens caminham na orla da praia.

PROFESSOR


César, espero que tenha aprendido que a vida é feita de escolhas! A maturidade vem quando aprendemos a lidar com as conseqüências de nossas decisões. Algumas você poderá consertar. Outras não.

CÉSAR

É, já que morri,não posso consertar.

PROFESSOR

É essa sua escolha? Não tome conclusões precipitadas.

CÉSAR

Nunca externei meu coração pra Carminha. Nunca disse realmente a Carminha o quanto a amava e o tanto que ela era importante pra mim,acho que por isso eu a perdi. E depois, aquele lance das drogas, eu não tive coragem de te contar, me desculpe.

PROFESSOR

Sim, eu já sabia disso, também. Mas esperava que você mesmo me contasse ou de pouco serviria pra você. Não se pode queimar etapas no crescimento pessoal. Obrigado pela confiança. Há medos que nos paralisam.

CÉSAR

E como! Eu preferi perder a mulher da minha vida em silencio do que ouvir a tão famosa frase “Gosto de você, mas apenas como amigo”. Isso seria mais doloroso que qualquer soco na cara ou chute na barriga. Na minha visão seria uma forma educada dela me dizer que não me queria na vida dela. Alguém de fato, continuou amigo da pessoa após levar tal pé na bunda?


PROFESSOR

Sim, tudo é possível, meu caro. Mas não existem fórmulas receitas infalíveis. Há coisas que você terá que descobrir sozinho meu amigo. Pode lhe confiar um segredo? Lembra da amada que o poeta tanto busca?

CÉSAR

Sim, eu ia mesmo lhe perguntar. Será que ele vai encontrá-la? Você está ajudando ele a procurá-la?

PROFESSOR

Bem, digamos que o poeta terá descobrir que a mulher dos seus sonhos nunca saiu de perto dele. Apenas, ele não a vê!

CÉSAR

O que você esta me dizendo? Como assim perto e não a vê?

PROFESSOR

Literalmente, está debaixo do nariz dele!

CÉSAR

O que? Não me diga que esta se referindo àquela maluca da Lily! Credo,ah pobre coitado! Eu também não queria ver.

PROFESSOR

Você diz isso porque julga com as aparências humanas. Lily o ama tanto que se disfarça de feia pra ficar perto dele, ou no passado de garçonete!

CÉSAR

Por isso o Cassino não sabia dela? Ela não trabalhava lá! Nossa...

PROFESSOR


Exatamente. Um dia, quando estiver pronto ele a reconhecerá. O amor verdadeiro vê além das aparências. O amor sabe ler o coração. Princesas lindas e encantadoras estão nos contos de fada, meu jovem.

CÉSAR

Estou lesado! Mas tenho de concordar. Cinderela na vida real eu só conheço a Geise Arruda! É verdade, pra quem ama, o seu amado sempre será especial. Mas quem diria, a Lily é a Betty a feia,um banho de loja ali e ela arrasa...

PROFESSOR

Bom,devo dizer-lhe que o tempo que me foi concedido com você está terminando. Quer fazer mais alguma pergunta antes de ir pra casa?

CÉSAR

Tempo concedido? O que é isso? Uma consulta marcada? Perguntas? Nossa, tenho inúmeras.Você não me disse quem era aquela menina linda do cemitério? Como você sabe tantas coisas a meu respeito? O que significa tudo isso que conversamos? O que acontece comigo agora? Depois que se morre, não deveria haver um julgamento?

PROFESSOR

Acho que você é seu maior juiz! Quantas perguntas...não mais que três perguntas, como disse nosso amigo poeta. Bem a menina, quem sabe não será alguém relacionado a você no futuro? Ela chora por você meu caro! Com medo, de você fazer besteiras! Pro amor não há barreiras no tempo. O Criador quando pensou em você já pensou em quem seriam seus filhos e até seus netos. Por isso, não se surpreenda se aquele anjo já te ama tanto!


César fica estático. Não sabe o que dizer por alguns segundos.

PROFESSOR

Bem,não fique assim, afinal nossa conversa foi apenas um papo de café! Mas de CAFÉ ILÍCITO,da melhor safra!!

CÉSAR

Aprendi mais em poucas horas do que na vida inteira, como pode? Afinal quem é você, Rubens? Tenho direito a mais essa pergunta!

PROFESSOR

Bem, digamos que sou seu anjo da guarda e a razão de eu estar aqui é que a Dona Florinda mandou que te acompanhasse hoje cedo, esqueceu? De onde eu venho, pedido de mãe tem prioridade!

CÉSAR

O que? O que foi que disse? Deus do céu, eu não posso acreditar nisso!

PROFESSOR

Acreditar? Bem, a escolha é sempre sua! Falar nisso, aqui estão os óculos da dona Matilda. Pedi que o poeta providenciasse já que você estava comigo. Ela quase te matou. Diga a ela pra não dirigir mais sem os óculos!

CÉSAR

Então, era ela na direção? Eu sabia que já conhecia aquele carro. E Estou vivo, então!

PROFESSOR

Amigo, estou sempre com você. Nos vemos por ai César Augusto! Meu Rapaz, corra atrás dos seus sonhos. Quem sabe no futuro tomamos outro café juntos? Ou um chá?


CÉSAR

Estou horrorizado! Acho que nunca mais beberei um...

PROFESSOR

Ok. Tempo terminado. Regras são regras. Lembre-se: as pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. E não se atrase.

CÉSAR

Como? O que significa? Que barulho infernal é esse?

CENA 26

INTERNA. QUARTO DE CÉSAR AUGUSTO. DIA.

Aparece a imagem do relógio do quarto de César, disparando o som de alarme de despertador. São 5:40 da manhã. César desperta em seu quarto na cama. Ele pula da cama. Ele olha no espelho,e diz:

CÉSAR

Ah,droga!Só podia ter sido um sonho mesmo,que loucura maluco!

A mãe de césar começa a gritar, como todos os dias:

DONA FLOR

César Augustoooo, levanta menino,vai se atrasar!

César se arruma e só então percebe na mesinha do seu quarto,um papel dobrado com um poema,e uma caixa com os óculos da Dona Matilda.

Ele abre o poema e lê. Letras manuscritas. Em off.

LOCUTOR

Remeto-me ao sub, do solo que existe.E a TEMPESTADE lá fora,É minha também.


Em cada passo um espinho.E em cada riso, cem lágrimas.Sou infinito de um verbo só.Sou partícula de um grão de areia.Amplitude de um ser sem claridade.Arco-íris sem tinta.De um lápis sem ponta.Não nasci pra morrer.Não vivi pra perder.

Temos que saber para que viver,Para que dizer depois,Palavras que eu já tinha dito.Temos que tentar sobreviver,Revirar os latões,Escutar os bichos.Temos que pensar,Decifrar os escritos,Ler bem mais que um livro.Temos que saber escolher.Temos que andar,Sem sair do lugar,Acreditar e conseguir.Temos que querer ver,O que alguns não viram,O que outros verão.Temos que descobrir,O que sempre soubemos existir.Olhe em seu CORAÇÃO.Temos que confiar,Em mim, em você, em nós.

Ele sorri para a câmera e sente-se um novo homem! Sobe a música,e aparecem

CARACTERES em superposição: Fim!Hora do café!


CENA FINAL: um clipe musical em que aparecem em sequência todos os personagens da história com café e xícara na mão, saudando diretamente a câmera, oferecendo o café aos expectadores. Seguem os créditos finais.

...

Brasília, DF 19 de janeiro de 2011.

_______________________________

HERON CLEMENTINO DE ANDRADE

CPF 007 617 167 18

Contato com autor: [email protected]

argumento com colaboração de ricardo kucera sulzbachonde os personagens passarem. ... a dona...

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