araújo - 2013 - o que é ciência da informação

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    Inf. Inf.,Londrina, v. 19, n. 1, p. 01 30, jan./abr. 2014.http:www.uel.br/revistas/informacao/

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    O QUE CINCIA DA INFORMAO?1

    QU ES LA CIENCIA DE LA INFORMACIN?

    Carlos Alberto vila Arajo [email protected]

    Doutor em Cincia da Informao pela Universidade Federal de MinasGerais (UFMG). Docente da Escola de Cincia da Informao da UFMG.

    RESUMO

    Introduo: Apresenta um panorama da Cincia da Informao em trs momentos.

    Inicialmente, seu surgimento e consolidao na dcada de 1960, como confluncia de vriosfatos: a distino em relao Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia; a relaocom a Documentao; a ocupao do espao institucional da Biblioteconomia; as atividadesdos primeiros cientistas da informao; as tecnologias da informao; e o uso da TeoriaMatemtica.Objetivo: Analisar a ampliao vivida nas dcadas seguintes com o desenvolvimento desubreas, das caracterizaes do campo e da evoluo do conceito de informao.Metodologia: Reviso de Literatura.Resultados: So apresentadas as tendncias contemporneas: as sistematizaes darea, os trs modelos para o estudo da informao e o desafio recente de dilogo com aArquivologia, a Biblioteconomia e a Museologia.Concluses: muitos processos e eventos aconteceram no campo da Cincia da Informao

    nestes ltimos 45 anos. Diferentes subreas foram formadas, conceitos formulados ereformulados, caracterizaes problematizadas e discutidas, relaes com outros camposde conhecimento tensionadas e concretizadas.

    Palavras-chave:Histria da cincia da informao. Epistemologia da cincia da informao.Conceito de informao.

    1 Este texto foi produzido como parte das atividades do autor como Pesquisador Visitante junto aoPrograma de Ps-Graduao em Cincia da Informao da Universidade de Londrina (PPGCI/UEL),

    no perodo de janeiro a maro de 2013, com bolsa do Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientfico e Tecnolgico (CNPq).

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    1 INTRODUO

    Em 1968, o American Documentation Institute, dos Estados Unidos, mudou

    seu nome para American Society for Information Science, tornando-se a primeirainstituio de Cincia da Informao do mundo. Na poca, muitos desconheciam o

    que vinha a ser Cincia da Informao e o que faziam os cientistas da

    informao. Para ajudar a esclarecer um pouco essas questes, mas tambm

    estimular novos debates, Harold Borko (1968) escreveu, no mesmo ano, um

    pequeno texto intitulado Information Science: what is it?.

    Passaram-se 45 anos. Desde ento foram criados em todo o mundo vrios

    cursos (principalmente de ps-graduao), associaes cientficas, eventos eperidicos de Cincia da Informao. Ainda hoje, contudo, continua havendo um

    grande desconhecimento sobre o que esse campo. Frequentemente as pessoas

    pensam tratar-se de Informtica ou algo ligado ao Jornalismo. Alguns j ouviram

    falar de sua relao com a Biblioteconomia e pensam tratar-se apenas de um novo

    nome para ela. Cursos de gesto da informao causam ainda mais dvidas.

    Recentemente, no Brasil e em outros pases, cursos de Arquivologia e Museologia

    foram criados em faculdades ou departamentos de Cincia da Informao,

    ampliando ainda mais a confuso. O que essas duas reas, Arquivologia e

    Museologia, e mesmo a Biblioteconomia, cuja relao mais antiga, tm a ver com

    Cincia da Informao? O que , afinal, Cincia da Informao?

    1.1 O Surgimento e a Consolidao nos Anos 1960

    Qualquer tentativa de fazer um histrico da Cincia da Informao precisa

    necessariamente recuar no tempo at a ao humana de produzir registros materiais

    de seus conhecimentos ao essa que est na origem mesma da formao da

    cultura humana. com essa ao que surgem, num primeiro momento, os

    documentos (aqui entendidos em sentido muito amplo, como manuscritos literrios,

    registros administrativos, selos, mapas, esculturas, etc.), instituies dedicadas a

    salvaguard-los (que deram origem ao que atualmente so os arquivos, as

    bibliotecas e os museus) e regras para organizar esses documentos.

    No perodo do Renascimento, a nfase dada criao e produo humanas

    faz crescer o interesse pela salvaguarda desses registros humanos, e no por

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    acaso que surgem nesta poca os primeiros tratados e manuais sobre os acervos de

    arquivos, bibliotecas e museus. Com a transio da Idade Mdia em direo

    Modernidade, essas instituies so reconstrudas, e surgem novos tratados e

    manuais voltados para as regras de conduo das instituies destinadas a guardar

    esses acervos. Esse processo avana e no sculo XIX h uma grande nfase na

    sistematizao das regras de tratamento tcnico destes acervos e a que se

    observa o surgimento formal das disciplinas Arquivologia, Biblioteconomia e

    Museologia, como cincias relacionadas com os acervos, as instituies e os

    procedimentos tcnicos de tratamento destes acervos nestas instituies.

    Tais fatos e a consolidao disciplinar destas trs reas no sculo XIX so

    importantes, pois ser no dilogo com (ou melhor, na oposio a) estas reas,

    conformadas desta maneira, que se construiu a ideia de uma Cincia da

    Informao. Nos primeiros relatos sobre o que deveria ser a Cincia da Informao

    havia a crtica ao biblifilo, ao bibliotecrio erudito, ao historiador atuante nos

    arquivos a crtica de que tais profissionais focavam-se no contedo das obras, na

    instituio custodiadora, em vez de se preocuparem em promover a disseminao, a

    circulao e o efetivo uso das obras custodiadas. Foi nessa direo, querendo se

    tornar uma outra coisa que no a Arquivologia, a Biblioteconomia e a Museologia

    desse perodo, que se construiu o empreendimento da CI. Tal empreendimento

    envolveu diversos fatos histricos e cientficos que ocorreram em pocas e locais

    diferentes. Embora estes fatos sejam mltiplos, sero agrupados a seguir em cinco

    dimenses: o surgimento da Bibliografia e da Documentao; a relao institucional

    com a Biblioteconomia; a atuao dos primeiros cientistas da informao no

    provimento de servios em cincia e tecnologia; o incremento tecnolgico; a

    fundamentao na Teoria Matemtica.

    1.2 Da Bibliografia Documentao

    No sculo XV, com a inveno da imprensa, aumentou a produo de livros

    na Europa. Surgiram nessa poca as primeiras bibliografias (produzidas por

    biblifilos como Gesner e Trittheim), que consistiam em listagens dos livros

    existentes, sobre algum assunto, em diferentes bibliotecas de uma regio, de um

    pas ou de vrios pases. Essas aes de carter exclusivamente prtico possuam

    um carter bastante diferente das bibliotecas: o objetivo no era montar uma

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    coleo nem construir uma instituio fsica, mas sim inventariar a produo

    intelectual humana, produo essa expressa em diferentes livros e manuscritos

    espalhados por diferentes bibliotecas. essa mudana de perspectiva que, sculos

    depois, ser o ponto de fundao da Cincia da Informao, naquilo que alguns

    pesquisadores diro tratar-se de um primeiro trao de uma preocupao ps-

    custodial: no se tratava nem da juno de uma coleo, nem da criao de uma

    instituio para a guardar. Contudo, a tarefa de produo de bibliografias demandou

    um trabalho de descrio dos livros e, nesse sentido, a Bibliografia aproximava-se

    da Biblioteconomia das regras dessa descrio. Assim, Biblioteconomia e

    Bibliografia foram se desenvolvendo em direo a certas construes tericas, ao

    longo dos sculos, e entre elas no se desenvolveu uma distino significativa.

    No sculo XIX ocorreram algumas mudanas importantes relacionadas s

    formas de se descrever e organizar os documentos impressos, sobretudo com o

    aumento da quantidade e importncia dos peridicos cientficos e da crescente

    produo de livros em diferentes partes do mundo. Em 1895, Paul Otlet e Henri La

    Fontaine organizaram a I Conferncia Internacional de Bibliografia. Criaram, a

    seguir, o Instituto Internacional de Bibliografia (IIB). O objetivo dos dois era a

    construo de um grande movimento cooperativo, em nvel planetrio, para que

    fosse estabelecida uma espcie de inventrio de toda a produo humana de

    conhecimento registrado. Para tanto se engajaram na construo de um Repertrio

    Bibliogrfico Universal e na padronizao das formas de tratamento tcnico dos

    registros (com as fichas catalogrficas e a Classificao Decimal Universal), sendo

    nesta ltima tarefa que se promoveu, mais uma vez, um dilogo intenso com a rea

    de Biblioteconomia, que forneceu as principais bases a partir das quais tais formas

    se desenvolveram.

    No plano propriamente cientfico, Otlet comeou a visualizar a criao de umanova disciplina cientfica, que viria a ser chamada de Documentao. Ela seria, para

    os arquivos, os museus, os centros de cultura e demais instituies que custodiavam

    registros humanos, aquilo que a Bibliografia tinha sido para a Biblioteconomia.

    nesse sentido que a Documentao representou uma novidade em relao a outras

    reas do conhecimento e instituies (como os arquivos, as bibliotecas e os

    museus) que tambm lidavam com o conhecimento registrado: seu objetivo no era

    juntar uma coleo, guardar um estoque numa determinada instituio, mas simpromover um servio transversal, cooperativo entre as diferentes instituies (e entre

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    os diferentes tiposde instituies, tambm), Com isso, acirrando-se a natureza ps-

    custodialdas aes. No se tratava de negar o custodial, a importante e necessria

    funo promovida pelas instituies de guardar, custodiar, os acervos documentais.

    O que a Documentao props foi uma outra linha de ao, uma outra frente de

    trabalho, composta por uma gigantesca rede de registros destes acervos

    custodiados nas instituies. Mais do que ter o documento, interessava aos

    pesquisadores envolvidos com a Documentao promover uma listagem, um registro

    de onde poderia estar cada um dos documentos produzidos pelos seres humanos.

    A Documentao se desenvolveu nos anos seguintes no plano institucional e

    no plano terico-cientfico. Institucionalmente, foram promovidos eventos, encontros,

    e chegou-se mesmo proposta de construo de uma cidade do conhecimento, o

    Mundaneum. Em 1931, o IIB mudou seu nome para Instituto Internacional de

    Documentao (IID) e, em 1938, para Federao Internacional de Documentao

    (FID). A importncia desses eventos to significativa que, no Brasil, a primeira

    instituio de Cincia da Informao, o IBICT(Instituto Brasileiro de Informao em

    Cincia e Tecnologia), foi criado a partir do ento Instituto Brasileiro de Bibliografia e

    Documentao (IBBD).

    Mas a Documentao tornou-se tambm uma disciplina cientfica. Nesse

    sentido, uma contribuio fundamental foi a elaborao, por Otlet, do conceito de

    documento como significando a totalidade dos artefatos humanos, registrados das

    mais diversas maneiras, nos mais diversos suportes: livros, manuscritos, fotografias,

    pinturas, esculturas, imagens em movimento, registros fonogrficos, selos,

    estampas, etc. Surgia aqui um primeiro elemento que seria fundamental, dcadas

    depois, para a elaborao do conceito de informao: um conceito nico,

    representando uma determinada abstrao, capaz de congregar diferentes

    manifestaes empricas. A legitimao terica e conceitual da Documentao sedeu primeiro com Otlet, que em 1934 publicacou o Trait de Documentation. Nas

    dcadas seguintes, outros autores em diferentes contextos como os Estados Unidos

    (Bradford), Frana (Briet) e Espanha (Lpez Ypez) trabalharam na mesma direo.

    Entre as contribuies destes autores destaca-se, entre outras, uma nova ampliao

    do conceito de documento, incorporando no apenas os artefatos produzidos pelo

    ser humano mas, tambm, objetos naturais e mesmo seres vivos que podem, num

    determinado contexto, assumir uma funo documental.

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    1.3 O Espao Institucional da Biblioteconomia

    A segunda dimenso refere-se relao que se deu entre a Documentao e

    uma parte da Biblioteconomia (aquela relacionada com os aspectos de tratamento

    tcnico dos documentos), que envolveu ainda outro aspecto: o institucional.Paralelamente ao desenvolvimento da Documentao, o campo da Biblioteconomia

    foi, progressivamente, se consolidando por meio de associaes e cursos de

    graduao e de ps-graduao. O caso dos Estados Unidos exemplar das

    relaes entre as reas. Em 1876 foi criada a American Library Association (ALA).

    Contudo, no seio dela, havia uma crescente incompatibilidade entre aqueles

    bibliotecrios voltados para as bibliotecas pblicas, atendimento ao pblico em geral

    e papel educativo da biblioteca, de um lado, e aqueles mais preocupados com oatendimento a cientistas de reas especficas do conhecimento, voltados para o

    incremento dos procedimentos e servios de tratamento tcnicos dos documentos.

    Em 1908, bibliotecrios da segunda tendncia saram da ALA e criaram a Special

    Libraries Association (SLA). Alguns anos depois, em 1937, a SLA mudou seu nome

    para American Documentation Institute(ADI), seguindo uma tendncia internacional

    de reconhecimento da Documentao como novo campo de atuao. Alguns anos

    depois, em 1968, a ADI mudou seu nome para American Society for Information

    Science(ASIS).

    Da mesma forma que contedos de Documentao comearam a ser

    inseridos em currculos de cursos de Biblioteconomia nas dcadas de 1930 a 1960,

    a partir desse momento foram os contedos de Cincia da Informao que

    comearam a ser inseridos. Em 1972, Robert Taylor liderou a mudana do nome da

    faculdade de Biblioteconomia da Syracuse University para Syracuse School of

    Information Studies. Na poca, ele defendeu que no se tratava apenas de uma

    mudana cosmtica. A mudana de nome apontava, sim, o reconhecimento de que

    as atividades e cursos desenvolvidos j no podiam mais ser identificados como

    sendo de Biblioteconomia. De maneiras diferentes, esse processo aconteceu em

    diferentes pases, a ponto de, em vrios contextos (principalmente na Inglaterra e

    nos pases nrdicos), a rea ser designada como Library and Information Science.

    No Brasil, faculdades, escolas ou departamentos de Biblioteconomia foram mudando

    sua designao para Cincia da Informao nas dcadas de 1980 e 1990. Os

    cursos de graduao em Biblioteconomia mantiveram, na grande maioria dos casos,

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    sua denominao. Mas os cursos de ps-graduao tiveram tambm o nome

    alterado para Cincia da Informao.

    1.4 Os Primeiros Cientistas da Informao

    O terceiro fenmeno importante foi a atuao que diversos cientistas

    comearam a desempenhar nas dcadas de 1920 a 1940, primeiro na Inglaterra,

    depois nos Estados Unidos e em outros pases, de prover seus demais colegas de

    informao em suas respectivas reas de atuao os chamados science services.

    Alguns qumicos, fsicos, engenheiros e outros cientistas comearam a se dedicar ao

    trabalho de elaborar ndices, resumos, promover canais de disseminao, de forma

    a facilitar a agilizar o trabalho de seus pares. Depois de algum tempo, elescomearam a designar a si mesmos cientistas da informao. Embora tenha nascido

    como uma atividade eminentemente prtica, ao longo dos anos essa iniciativa foi se

    direcionando para uma importante institucionalizao, primeiro na Inglaterra, com a

    realizao da Royal Society Scientific Information Conference, em 1948, e a criao,

    em 1958, do Institute of Information Scientist. Pouco depois, na Unio Sovitica, foi

    criado o Viniti, Vserossiisky Institut Nauchnoi i Tekhnicheskoi Informatsii, vinculado

    Academia de Cincias. E, a seguir, em 1958, ocorreu nos Estados Unidos a

    International Conference on Scientific Information. Nesse processo de

    institucionalizao, foi-se firmando, por um lado, a ideia de que a Cincia da

    Informao era uma cincia dedicada informao em cincia e tecnologia.

    Igualmente importante, contudo, foi a preocupao de base dessas aes: no mais

    a necessidade de se ter a posse dos documentos, mas a prioridade dada sua

    circulao, ao seu fluxo, e ao atendimento das necessidades dos cientistas em sua

    frente de trabalho. Por um caminho bastante diferente, acentuou-se a vertente ps-

    custodial estabelecida pela Documentao. Em 1962 foi publicado um estudo, de

    autoria de Machlup, sobre a produo e distribuio de conhecimentos na

    sociedade. No ano seguinte, um relatrio produzido por Weinberg concluiu que as

    agncias de governo fomentadoras de pesquisa cientficas deveriam tambm

    assumir a responsabilidade pela transferncia do conhecimento gerado nestas

    pesquisas. A partir da, vrios pesquisadores passam a estudar o processo da

    chamada comunicao da informao cientfica: o estudo dos vrios registros

    produzidos pelo cientista desde a ideia na sua mente (relatrios, seminrios,

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    apresentaes em eventos, artigos em peridicos, livros, citaes ao trabalho,

    menes em livros-textos e enciclopdia), as caractersticas de cada um deles,

    vantagens e desvantagens, tempo mdio para a produo de cada um, entre outros

    aspectos. Tambm estudaram os processos por meio dos quais os cientistas

    buscavam os dados necessrios para suas pesquisas: busca em bibliotecas, em

    arquivos, em museus, em bases de dados, em artigos de peridicos, e tambm com

    outros cientistas a chamada comunicao informal. Tais estudos consolidaram a

    ideia de que a Cincia da Informao tinha por objeto o estudo dos fluxos, dos

    caminhos percorridos pela informao, sua materializao em diferentes produtos e

    servios. De seu local de origem (os Estados Unidos, a Unio Sovitica e a

    Inglaterra) tal proposta foi disseminada, posteriormente, pela Unesco (Organizao

    das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura) nos anos 1970, quando

    essa entidade se props a estimular a criao de polticas de informao cientfica e

    tecnolgica para os pases em desenvolvimento (uma expresso dela se consolidou

    com o manual de Guinchat e Menou traduzido para diversos idiomas). No Brasil, o

    IBICT tambm adotou essa viso em diversos documentos e pesquisas ao longo da

    dcada de 1970.

    1.5 As Tecnologias e o Conceito de Informao

    O quarto fenmeno se deu na confluncia de desenvolvimentos tecnolgicos

    e a consequente problematizao cientfica de seus desdobramentos. Nas dcadas

    de 1920 e 1930 iniciou-se o uso de microfilmes como forma de armazenamento e de

    consulta a documentos. Seu progressivo uso foi pouco a pouco conduzindo a uma

    reflexo sobre a possibilidade de dissociao entre o suporte fsico da informao e

    o seu contedo, na medida em que o contedo de um livro ou outro documento

    impresso poderia ser microfilmado e, portanto, preservado (e tambm utilizado e

    disseminado) de forma independente do documento original. Com o

    desenvolvimento dos computadores nos anos seguintes, esse pensamento se

    aprofundou: um item fsico de informao poderia ser convertido em dgitos e, como

    tal, preservado, transmitido, transportado e reproduzido (o que, dcadas depois, com

    o advento das redes de computadores e a convergncia das mdias, iria adquirir

    propores muito maiores). Aumentaram as possibilidades de acesso, de guarda, de

    compartilhamento justamente pelo desprendimento da materialidade.

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    Tal viso se consolidou na esteira das reflexes de Vannevar Bush, que em

    1945 publicou um artigo no qual identificava um problema concreto (a exploso

    informacional, isto , o crescimento do nmero de documentos, e a dificuldade

    resultante disso de recuperao da informao) e uma possvel soluo: a

    automatizao dos processos de recuperao. Para tanto ele chegou a imaginar um

    mecanismo especfico, o Memex(Memory Extension). Na dcada seguinte, Mooers

    props a criao de uma disciplina cientfica especfica para desenvolver tal

    ambio: a Recuperao da Informao. Os primeiros experimentos cientficos

    decorrentes dessa proposta so os Cranfield ProjectsI e II desenvolvidos em 1957 e

    1963. Nos anos seguintes, tal proposta foi encampada dentro do projeto da Cincia

    da Informao, chegando mesmo a ser entendida como o ncleo da rea por

    diferentes autores, entre os quais Saracevic, em seu livro Introduction to Information

    Sciencede 1970.

    1.6 A Fundamentao: Teoria Matemtica

    Os quatro fatos destacados nos tpicos anterioresconduziram formao

    de uma disciplina cientfica nascente que precisava, contudo, de uma

    fundamentao terica. Tal fundamentao foi buscada na Teoria Matemtica da

    Comunicao, publicada em 1949, de autoria de Claude Shannon e Warren Weaver.

    Tal teoria desenvolveu, pela primeira vez, um conceito cientfico de informao,

    preparando o terreno para o surgimento de uma disciplina dedicada a esse objeto.

    Em sua definio de comunicao como um processo em que um

    emissor envia uma mensagem para um receptor (no qual a informao uma

    medida da probabilidade dessa mensagem), os autores definiram que tal processo

    comportaria trs dimenses. A primeira a dimenso tcnica, relativa quilo que

    transmitido e que precisa ser fisicamente recebido do outro lado. Os problemas

    estudados neste nvel referem-se ao transportede mensagens. O desafio garantir

    a exatido e a eficincia da transferncia de um grupo de smbolos do transmissor

    ao receptor ). A segunda a dimenso semntica, relativa quilo que transmitido e

    que est sujeito a interpretaes na medida em que possui um potencial de

    sentidos possveis. Este nvel se refere identidade ou a uma aproximao estreita

    e satisfatria da interpretao do significado captado pelo receptor, ao comparar-se

    com o significado previsto pelo transmissor. A terceira dimenso a pragmtica:

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    algo transmitido de uma pessoa para outra no seio de determinadas aes,

    contextos, objetivos. Neste nvel o desafio o da eficincia, relaciona-se com o xito

    com que a mensagem transmitida ao receptor levar este conduta desejada e

    prevista pelo emissor. Os dois ltimos, contudo, no so objeto desta teoria. Isto ,

    os autores produziram, deliberadamente, uma teoria voltada apenas para a primeira

    dimenso. Ao considerar apenas os problemas tcnicos relativos transmisso de

    mensagens, a CI operou uma reduo de seu objeto de pesquisa, considerando

    apenas os aspectos fisicamente observveis e mensurveis da informao,

    inserindo-se claramente na perspectiva positivista ainda em voga sobretudo nos

    contextos de pesquisa da poca da guerra fria sintonizados com objetivos

    estratgicos militares. Confirmando essa tendncia, em 1968 Borko publicou um

    pequeno artigo, citado na introduo deste texto, definindo Cincia da Informao e

    propondo que seu objetivo seria o estudo do comportamento e das propriedades

    gerais da informao. Legitimando-a dois anos depois, Saracevic (1970), ao afirmar

    que a CI uma cincia interdisciplinar por natureza, reforou a importncia do

    aporte de pesquisadores das cincias naturais que traziam, junto com eles, tambm

    um modo de raciocnio cientfico prprio justamente o modo positivista, que

    consiste na aplicao, aos fenmenos e processos humanos, das mesmas tcnicas

    de observao e pesquisa das cincias da natureza, em busca de leis e princpios

    universalmente vlidos.

    1.7 A Consolidao de uma rea

    Juntos, os fatos levantados at aqui conduziram consolidao de uma

    primeira Cincia da Informao, marcada por determinadas caractersticas. Em

    primeiro lugar, uma preocupao no com a custdia, a posse de documentos, mas

    com a sua circulao, sua disseminao, a promoo de seu uso da maneira mais

    produtiva possvel. Depois, o foco no propriamente nos documentos (registro fsico)

    mas em seu contedo ou, dito de outro modo, na informao contida nos

    documentos. nesse sentido que a CI, embora tendo em seu leque de

    preocupaes os registros do conhecimento humano, mostrou-se, desde sua

    origem, marcadamente fincada numa dimenso bastante diversa daquela presente

    em outras reas/disciplinas tambm voltadas para o estudo, o manuseio, a

    preservao e a promoo do uso desses registros (tais como a Arquivologia, a

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    Biblioteconomia e a Museologia). Essa distino por si s significativa para marcar

    tanto a especificidade de cada uma das reas como a novidaderepresentada pelo

    surgimento da CI, e desde seu surgimento e ao longo das trs dcadas seguintes a

    Cincia da Informao buscou sua prpria identidade e uma certa autonomia em

    relao s demais reas de conhecimento.

    2 A AMPLIAO DAS DCADAS SEGUINTES

    A consolidao terica e institucional da Cincia da Informao se deu na

    dcada de 1960, nos Estados Unidos, na Unio Sovitica e na Inglaterra, e na

    dcada seguinte, em diversos outros pases. Nos anos que se seguiram, foramsurgindo e se desenvolvendo diversas subreas de pesquisa dentro do campo. Ao

    mesmo tempo, a rea buscou construir sua identidade prpria, num processo por

    meio do qual foram conduzidas reflexes sobre as caractersticas da CI ou sobre o

    tipode cincia que ela ou pretenderia ser. Foi no interior destas duas dinmicas

    que foram se realizando os avanos conceituais e metodolgicos que levaram a uma

    progressiva superao do modelo inicial em direo s perspectivas atualmente

    desenvolvidas no campo.

    2.1 A Evoluo das Subreas da Cincia da Informao

    A primeira destas reas est na origem mesma da Cincia da Informao: o

    estudo da informao cientfica e tecnolgica (ICT). Os estudos iniciais estiveram

    voltados para a busca de caracterizaes universais das diferentes fontes e recursos

    informacionais presentes na prtica cientfica (tempo de produo de cada um deles,

    vantagens e desvantagens, completude, custos, etc.). Ao longo dos anos, esses

    estudos se deslocaram para as prticas informacionais dos cientistas, identificando a

    importncia da comunicao informal (com a descoberta dos colgios invisveis),

    ampliando o foco de observao dos fenmenos. Mais recentemente, comearam a

    ser desenvolvidos estudos a partir do conceito de rede, analisando as aes

    informacionais dos cientistas tomados como coletivo interrelacionado e no apenas

    no nvel individual.

    Outra subrea se desenvolveu utilizando o mesmo instrumental da ICT,

    porm no ambiente organizacional. Surgiram a os estudos em gesto da

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    informao e do conhecimento (GIC), que tambm trouxeram uma srie de

    inovaes. Num primeiro momento voltaram-se para as diferentes fontes de

    informao (internas ou externas s organizaes) e suas caractersticas e papel

    nos processos decisrios, naquilo que ficou conhecido como gesto de recursos

    informacionais. Com o avano das pesquisas, percebeu-se a importncia de se

    estudar os conhecimentos que os membros das organizaes detinham, porm

    ainda no existiam fisicamente. Iniciou-se uma distino entre conhecimento tcito

    e conhecimento explcito (tomada da filosofia de Polanyi) que ajudou a esclarecer

    ainda mais as distines entre documento e informao. No mbito dessa subrea

    tambm foram estudados os processos por meio dos quais conhecimentos tcitos

    tornam-se explcitos e vice-versa. Em anos mais recentes, vem sendo estudada a

    natureza coletiva desse processo, em torno dos estudos sobre cultura

    organizacional e os ambientes de produo e uso da informao.

    Uma outra subrea tambm utilizou os mesmos pressupostos da rea de ICT,

    porm voltados para o ambiente geopoltico, e a partir de uma perspectiva tomada

    das teorias crticas. Tal campo, muitas vezes designado como poltica e economia

    da informao (bem como estudos voltados para as ligaes entre informao,

    cidadania e democracia) comeou a problematizar a desigual produo e acesso a

    fontes, servios e sistemas de informao por parte dos diferentes pases do mundo

    e, dentro destes pases, por parte de diferentes grupos ou classes sociais. De uma

    preocupao com o acesso fsico informao, tais estudos evoluram para a

    compreenso das competncias e capacitaes envolvidas com a produo e o uso

    da informao. Mais recentemente, passaram a destacar como os contextos

    econmicos, polticos, regulatrios, sociais e culturais nos quais essas fontes,

    servios e sistemas se inserem so coletivamente apropriados e usados para

    sustentar ou combater relaes estruturais de poder, bem como para embasar oslivros verdes da sociedade da informao promovidos por diferentes pases.

    Uma outra subrea que se desenvolveu a relacionada com os estudos

    sobre representao da informao. Num primeiro momento tais estudos se

    desenvolveram estritamente vinculados pesquisa em recuperao da informao,

    com a comparao dos indicadores de preciso e revocao de diferentes

    linguagens e instrumentos de representao dos contedos dos documentos.

    Depois, foram considerados os aspectos relacionados com a dimenso cognitiva dosusurios, combinando descobertas sobre necessidades de informao e estratgias

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    de busca da informao (fenmenos/atributos que no esto presentes na

    fisicalidade dos documentos) para a construo de sistemas de recuperao da

    informao. Em anos mais recentes, as possibilidades trazidas com o hipertexto e as

    interfaces digitais proporcionaram um grande avano na prpria percepo do

    carter essencialmente construdo dos processos de representao. Organizar e

    representar a informao no so processos de reproduo da realidade, no

    consistem na produo de um espelho do real antes, significam diferentes

    maneiras (realizadas por atores especficos, em contextos scio-histricos

    especficos e, importante destacar, a partir de tecnologias especficas) por meio das

    quais a realidade apreendida e sistematizada. Vm aumentando de importncia

    estudos em representao da informao em domnios especficos (noo

    construda a partir da ideia de comunidade de discurso de Wittgenstein) e

    construo de sistemas de representao singulares como por exemplo as

    folksonomias e as ontologias.

    Outra subrea so os estudos de usurios da informao. Inicialmente, tal

    subrea constituiu-se de estudos buscando padres de uso da informao, por meio

    da medio do acesso fsico a determinados documentos ou sistemas de informao

    e sua correlao com fatores sociodemogrficos dos usurios. Nos anos seguintes,

    foi se desenvolvendo a rea conhecida como comportamento informacional,

    dedicada aos diversos modelos por meio dos quais se compreendia a totalidade do

    comportamento humano em relao informao, desde a percepo da

    necessidade, passando pelo engajamento em aes de busca, chegando s

    variadas formas de uso e apropriao da informao. Em anos mais recentes, nesta

    subrea tm se realizado os estudos sobre prticas informacionais, voltados para o

    estudo da ligao entre aspectos informacionais socioculturais (formas coletivas de

    se relacionar com a informao, critrios coletivos de relevncia, necessidade, etc) eos comportamentos informacionais individuais.

    Tambm na subrea de estudos mtricos houve uma gradual evoluo.

    Inicialmente tais estudos se desenvolveram na esteira da Bibliometria, voltados para

    o estabelecimento e a confirmao de leis sobre produtividade de autores,

    distribuio de peridicos em listas de citaes, entre outras. Nos anos seguintes,

    com a Cientometria e a Informetria, buscou-se aprimorar estes estudos

    questionando-se, por exemplo, as razes pelas quais documentos so citados emoutros. Em anos mais recentes, estudos vm sendo desenvolvidos relacionando

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    resultados informtricos com dimenses geopolticas ou redes e comunidades de

    pesquisa e suas relaes estruturais, bem como a construo de mapas de

    visualizao de literaturas.

    2.2 Caracterizaes da Cincia da Informao

    Essa evoluo do conceito de informao foi acompanhada, tambm, de

    vrios questionamentos sobre o tipo de cincia que a Cincia da Informao

    deveria/poderia ser. Na crtica ao modelo tecnicista e positivista consolidado na

    dcada de 1960, trs grandes propostas foram levantadas.

    A primeira delas a questo da interdisciplinaridade, apresentada como

    caracterstica natural da rea desde as primeiras definies de Borko (1968) e de

    Saracevic (1970). Contudo, praticamente inexistiram consequncias epistemolgicas

    importantes para a Cincia da Informao nos primeiros anos. Tal caracterstica foi

    utilizada, sobretudo, para justificar a atuao, no campo, de pessoas provenientes

    das mais variadas disciplinas cientficas. Outra argumentao comum era a de que a

    Cincia da Informao era interdisciplinar porque ela prestava, para todas as demais

    reas do conhecimento cientfico, servios de informao. Estudos mais rigorosos

    sobre a ideia de interdisciplinaridade (da necessria existncia de um processo

    terico e conceitual de mo dupla entre as disciplinas envolvidas) comearam adiagnosticar a inexistncia de prticas interdisciplinares entre a Cincia da

    Informao e as demais cincias, na medida em que apenas a Cincia da

    Informao tomava de emprstimo conceitos e mtodos de outros campos, sem se

    fazer notar por eles. Entendimentos mais recentes, contudo, tm dado conta de que

    esse o movimento interdisciplinar da Cincia da Informao: fazer dialogar, dentro

    dela, as contribuies das diferentes reas de conhecimento. Assim, direcionados

    pela especificidade do olhar informacional promovido pela CI, conceitos oriundos dereas dspares como Psicologia, Lingustica, Computao, Sociologia e outras so

    ressignificados na CI, num processo de apropriao que , ele prprio, a dinmica

    interdisciplinar da rea.

    A segunda caracterstica a proposta de ser a Cincia da Informao uma

    cincia ps-moderna. Levantada por Wersig (1993), tal possibilidade de

    compreenso surgiu de uma constatao: o fato de a informao no constituir um

    objeto emprico especifico da realidade, isto , um fenmeno especfico, parte, noestudado pelas demais cincias j existentes. Diferentes autores da Cincia da

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    Informao foram, ao longo dos anos, desenvolvendo a ideia de que o definiria o

    objeto de estudo da Cincia da Informao no seria um novo objeto emprico, pois

    os objetos de estudo das diferentes cincias no precisam corresponder aos objetos

    do mundo. Assim, o que definiria um objeto de estudo , antes, uma forma

    especfica de olhar, de enxergar os fenmenos da realidade. A partir da, construiu-

    se toda uma reflexo sobre a especificidade da Cincia da Informao: a maneira de

    estudar diferentes fenmenos (inclusive os arquivsticos, os biblioteconmicos, os

    museolgicos, tanto quanto os pedaggicos, econmicos, tecnolgicos, etc.). Uma

    maneira especfica, mobilizando determinados conceitos e mtodos, naquilo que foi

    progressivamente sendo entendido como o olharinformacionalsobre o real.

    Por fim, a terceira caracterizao da Cincia da Informao ser uma cincia

    humana e social. Tal caracterizao se inseriu no debate mais geral sobre as

    especificidades das cincias humanas que atravessou diferentes disciplinas ao

    longo do sculo XX. Tal debate gerou uma srie de questes, algumas das quais

    tiveram um impacto imenso na Cincia da Informao. A primeira delas a crtica

    mais geral ao Positivismo (aplicao dos princpios das cincias naturais ao estudo

    dos fenmenos humanos) como nico mtodo explicativo fundamental para a

    superao vivida, na Cincia da Informao, do primeiro modelo terico consolidado

    nos anos 1960. A segunda a existncia, nas cincias humanas e sociais, de

    diferentes correntes tericas ou modelos explicativos como uma condio natural,

    normal sem que seja necessrio que uma corrente suplante ou elimine as

    demais. Essa pluralidade explicativa, como caracterstica bsica deste tipo de

    cincia, permitiu a convivncia das subreas ou correntes da Cincia da Informao,

    sem que tal fato fosse visto como a formao de disciplinas ou cincias especficas.

    A terceira, e mais fundamental, relaciona-se com a prpria natureza dos fenmenos

    estudados, que no possuem uma existncia em si: a informao no existeindependente dos sujeitos que se relacionam com ela. Os fenmenos

    informacionais, como os demais fenmenos humanos e sociais, no se adequam a

    modelos de explicao causais, pois possuem uma causalidade distinta dos

    mecanismos de causa e efeito, na medida em que se relacionam com objetos que

    so tambm sujeitos, bem como so condicionados por processos histricos. Tal

    questo ter implicaes profundas no prprio conceito de informao, como se ver

    a seguir.

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    3 AS TENDNCIAS CONTEMPORNEAS

    Os avanos tericos destacados no tpico anterior, presentes nas subreas e

    nas tentativas de caracterizao da Cincia da Informao, representaram umconjunto disperso de achados de pesquisa, sofisticaes conceituais,

    aperfeioamentos metodolgicos. Apesar de tal disperso, em diferentes momentos,

    pesquisadores do campo buscaram compilar e coordenar esses avanos na

    construo de sistematizaes sobre os avanos do campo e seus impactos sobre a

    prpria definio do objeto de estudo do campo o conceito de informao. Em pelo

    menos dois momentos histricos especficos, a comunidade cientfica da Cincia da

    Informao encontrou um relativo consenso relacionado a essas mudanas.O primeiro deles consistiu num conjunto de reivindicaes tericas elaboradas

    desde a dcada de 1960 em torno da necessidade de se incorporar o conceito de

    conhecimento na definio de informao. No evento The Copenhagen

    Conference Theory and Application of Information Research, ocorrido em 1977, na

    Dinamarca, estabeleceu-se certo consenso sobre essa questo. Nos anos

    seguintes, tornou-se hegemnica uma definio trade de informao: de um lado h

    os dados, isto , aquilo que tem existncia material, os documentos, os registrosde conhecimento; de outro lado h o conhecimento, aquilo que est dentro da

    mente das pessoas; entre ambos, como resultado de sua interao, est a

    informao. Ou seja, a informao a medida da alterao que os dados

    provocam numa estrutura de conhecimento. Algo no mais compreendido como

    informativo em si. Os dados (aquilo que tem existncia material) possuem uma

    dimenso objetiva - e ela define um certo horizonte de possibilidades de significado.

    Mas o conhecimento do sujeito tambm estabelece um horizonte de compreenso,

    por ser composto de coisas j sabidas e por quadros de sentido nos quais o j

    sabido se acomoda. A informao emerge do encontro dessas duas esferas: aquilo

    que o dado diz e aquilo que o conhecimento permite compreender do dado. Tem-

    se aqui um quadro de compreenso da informao mais complexo. Pode-se dizer

    que a dimenso semntica identificada por Shannon e Weaver foi, ento,

    incorporada Cincia da Informao. O smbolo maior dessa inovao terica foi a

    frmula de Brookes, que define informao como o estado de conhecimento do

    indivduo alterado pela incorporao de uma variao de informao. Sua

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    fundamentao se deu com os trabalhos de Nicholas Belkin no comeo dos anos

    1980 em torno da teoria dos Anomalous States of Knowledge. Nos anos seguintes,

    diversos autores, como Tom Wilson, Carol Kuhlthau, Brenda Dervin, Perti Vakkari,

    Peter Ingwersen e David Ellis, engajaram-se em pesquisas tendo como fundamento

    esta noo de informao.

    Mas as subreas da Cincia da Informao continuaram promovendo

    avanos tericos e conceituais. Novas questes continuaram a ser formuladas

    indicando a necessidade de superao do modelo cognitivo consolidado at ento.

    Em 1991, a comunidade cientfica da rea promoveu um grande encontro

    internacional, o I CoLIS International Conference on Conceptions of Library and

    Information Science, realizado em Tampere, na Finlndia. Diversos artigos foram

    apresentados na ocasio, representantes das mais diversas subreas da Cincia da

    Informao, apresentando resultados de pesquisas e reflexes que apontavam que

    esse algo identificado como informao, obtido no processo de interao entre

    dados e conhecimento, no era definido apenas pelo sujeito especfico, um sujeito

    individual, isolado, destacado do mundo e do convvio com outros. Antes, os

    contextos especficos (as realidades histricas, polticas, econmicas, culturais) so

    parcialmente determinantes do processo. Ao mesmo tempo, o coletivo, isto , as

    demais pessoas com quem o sujeito especfico interage, tambm so fundamentais

    na determinao do processo ningum conhecesozinho, necessidades e usos de

    informao so coletivamente formados. O prprio conceito de conhecimento foi

    reformulado, no sendo mais compreendido com simples adio de dados a um

    estado mental, mas sim dentro de um quadro mais complexo relacionado com

    diferentes processos de assimilao, acomodao, interpretao, imaginao,

    anlise e sntese. Ou seja, as pesquisas desenvolvidas nas ltimas duas dcadas

    evidenciaram o carter essencialmente contextual e intersubjetivo dos fenmenosinformacionais. E a Cincia da Informao, incorporando em seu objeto de estudo

    essas dimenses, acabou por finalmente acolher a dimenso pragmtica apontada

    em 1949 por Shannon e Weaver.

    3.1 As Sistematizaes da Evoluo da Cincia da Informao

    Muitos autores, de diferentes pases e contextos, dedicaram-se anlise

    destes trs grandes momentos da Cincia da Informao. Embora atribuindo

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    designaes diferentes e algumas vezes destacando aspectos mais gerais ou

    determinados detalhes, tais autores tm produzido um retrato bastante consensual

    da rea. Tal consenso representa justamente a discriminao promovida, em 1949,

    por Shannon e Weaver: os aspectos fsicos da informao, sua dimenso semntica

    (ou cognitiva) e seus aspectos pragmticos (contextuais e intersubjetivos).

    O primeiro destes autores a ser destacado Saracevic (1999), da Rutgers

    University(Estados Unidos) que identificou trs grandes conceitos de informao na

    Cincia da Informao. O primeiro o sentido restrito: informao consiste em

    sinais ou mensagens envolvendo pequeno ou nenhum processamento cognitivo (ou,

    ento, tal processamento pode ser expresso em termos de algoritmos ou

    probabilidades). Informao ento a propriedade de uma mensagem, que pode ser

    estimada por uma probabilidade. O segundo o sentido amplo: informao envolve

    diretamente processamento cognitivo e compreenso. Ela resulta da interao entre

    duas estruturas cognitivas, uma mente e um texto (num sentido amplo dessa

    palavra). Informao o que afeta ou altera um estado de conhecimento, ou seja,

    para determinar algo como sendo informao preciso ver o que o leitor entendeu

    de um texto ou documento. O terceiro o sentido ainda mais amplo: informao

    existe em um contexto. Sua definio envolve no apenas as mensagens (sentido

    restrito) que so cognitivamente processadas (sentido amplo), mas tambm um

    contexto, uma situao especfica, e uma ao, ou tarefa, no decurso da qual a

    informao cognitivamente processada. Assim, informao envolve motivao e

    intencionalidade do indivduo, mas sempre conectadas a um horizonte social, do

    qual fazem parte a cultura e as aes desempenhadas.

    No ano seguinte, rom (2000), da Royal School of Library and Information

    Scienceda Dinamarca, identificou a existncia de um pr-paradigma da Cincia da

    Informao (a biblioteca como instituio social) e trs paradigmas no campo. Oprimeiro o fsico, que se iniciou na dcada de 1950 com os testes de Cranfield,

    quando a Cincia da Informao estruturou-se em torno da noo de recuperao

    de informao. A informao era estudada a partir de uma viso tida como

    privilegiada, imune aos processos cognitivos e sociais a informao tal como

    existe no mundo. O objetivo dos estudos deste modelo centrou-se na performance

    na recuperao de informao. O segundo paradigma identificado por ele o

    cognitivo. Seu desenvolvimento representa a ampliao do escopo (todo tipo deinformao, e no apenas os sistemas de recuperao) e do espectro (o

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    comportamento informacional humano em geral, e no apenas a interao com

    sistemas de recuperao da informao) dos estudos. Tal modelo se concentra em

    aspectos qualitativos da interao das pessoas com os sistemas de informao. O

    ponto de vista se baseia num modelo relativista do conhecimento: o conhecimento

    influenciado e alterado por fatores cognitivos embora tal modelo tenha ignorado os

    fatores sociais. Por fim, rom (2000), apresenta as abordagens alternativas

    resultantes de uma maior aproximao com as teorias da comunicao,

    especialmente a semitica. Informao nesse sentido no algo que transmitido

    de uma pessoa para outra. A mensagem vista como a construo de signos que,

    atravs da interao entre receptores, torna possvel a produo de sentidos.

    Conforme sua argumentao, o modelo fsico estaria ligado dimenso processual

    (o transporte de mensagens) e o cognitivo enxergaria o significado das mensagens

    como algo produzido por um receptor a partir de suas estruturas cognitivas. J esta

    terceira maneira de se estudar a informao une as duas dimenses, vendo a

    insero de ambos os processos (transmisso e construo de sentido) nos

    contextos sociais, isto , com os sistemas de linguagem e cultura. Essa abordagem

    estuda, pois, a determinao social do significado com foco nos cdigos.

    Numa linha bastante prxima, Fernandz Molina e Moya-Anegn (2002), da

    Universidad de Granada, Espanha, apresentam um quadro com trs grandes

    modelos de estudo das Ciencias de la Documentacin(nome do campo na Espanha

    na poca). O primeiro o modelo positivista: uma abordagem fisicalista do estudo

    da informao, em que esta tomada como algo mensurvel, formalizado, universal

    e neutro, em pesquisas com foco nos sistemas de informao. A partir de

    condies laboratoriais de estudo, tal modelo via as necessidades de informao

    como algo estvel e invarivel, e os processos de busca numa perspectiva

    determinista, esttica e no interativa. O segundo o modelo cognitivo,essencialmente mentalista, com foco nos indivduos que produzem e usam

    informao, passando a incluir a totalidade do comportamento humano em relao

    informao. Sua maior fragilidade o excesso de subjetivismo, ao compreender a

    realidade como sendo gerada unicamente por processos mentais individuais. O

    terceiro o sociolgico, que tem como antecedente a Epistemologia Social

    proposta por Shera: uma cincia voltada para o estudo das relaes que uma

    coletividade (um pais, uma cidade, uma empresa) estabelece com os conhecimentosregistrados que ela mesma produz e faz circular. Nessa perspectiva, tal modelo

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    representa a valorizao do contextualismo na Cincia da Informao e tem duas

    manifestaes concretas de pesquisa: os estudos com abordagem hermenutica e a

    anlise de domnio.

    Silva e Ribeiro (2002), da Universidade do Porto, Portugal, apresentam um

    quadro terico em que a Cincia da Informao era apreendida a partir de dois

    paradigmas: um primeiro historicista, tecnicista e custodial (correspondente aos

    campos da Arquivologia e Biblioteconomia, tal como estruturados no final do sculo

    XIX e incio do sculo XX) e um segundo, dinmico, cientfico e informacional,

    caracterizador propriamente do surgimento da Cincia da Informao. Neste quadro,

    postularam que a informao como objeto de estudo teria seis propriedades, aqui

    citadas em ordem inversa apresentada por eles e organizadas conforme a

    sistematizao de rom (2000): ela mensurvel, reprodutvel e transmissvel

    (aspectos fsicos), ela tem pregnncia simblica (aspecto semntico) e

    estruturada pela ao humana e integrada dinamicamente aos contextos em que

    emerge (aspectos pragmticos).

    Por fim Capurro (2003), na poca professor da Stuttgart University, Alemanha,

    elaborou tambm um quadro trade da evoluo da Cincia da Informao. Como o

    autor teve a chance de apresentar seu trabalho como conferencista do Enancib (o

    Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisa em Cincia da Informao,

    Ancib, principal associao brasileira da rea) neste mesmo ano, foi a partir da que

    tal discusso foi inaugurada no cenrio brasileiro. De acordo com Capurro (2003) a

    Cincia da Informao teria nascido sob a vigncia de um paradigma fsico,

    construdo a partir da Teoria Matemtica de Shannon e Weaver e que tomou corpo a

    partir dos primeiros estudos empricos promovidos no Cranfield Project. Conforme tal

    viso, a informao algo, um objeto fsico, que um emissor transmite a um

    receptor. Um segundo modelo, o cognitivo, emergiu nos anos 1970, inspirado nateoria dos trs mundos de Karl Popper. Tal modelo relaciona informao a

    conhecimento: algo informacional na medida em que altera as estruturas de

    conhecimento do sujeito que se relaciona com dados ou documentos. Em anos mais

    recentes, estaria emergindo um paradigma social, voltado para a constituio

    social dos processos informacionais. A partir da crtica ao modelo anterior, que via o

    usurio como um ser isolado da realidade e apenas numa dimenso cognitiva,

    busca-se aqui reinseri-lo nos seus contextos concretos de vida e atuao, numaperspectiva claramente fenomenolgica: ver os sujeitos como ser no mundo, tal

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    como a frmula do dasein tomada de Heidegger ou as comunidades de discurso

    estudadas por Hjorland e Albrechtsen a partir de uma inspirao em Wittgenstein.

    Da a famosa frmula de Capurro, para quem no a informao que a matria-

    prima do conhecimento: antes, apenas a existncia de um conhecimento

    partilhado entre diferentes atores que faz com que algo seja reconhecido como

    informao.

    Nos anos seguintes, no Brasil, os conferencistas convidados para o Enancib

    se inseriam, de uma ou outra forma, nessa linha aberta por Capurro (2003). Em

    2006, Bernd Frohmann, da University of Western Ontario, apresentou sua proposta

    de estudo dos regimes de informao, conceito que parte da prpria ideia da

    materialidade do documento para, ligando-o aos diversos condicionantes do seu

    existir (as dimenses jurdicas, tecnolgicas, econmicas, culturais, sociais, etc),

    perceber como algo emerge como informacional. Em 2007, foi a vez de Birger

    Hjorland, tambm da Royal School of Library and Information Scienceda Dinamarca,

    apresentar no Enancib sua proposta de uma viso pragmatista para a Cincia da

    Informao, em oposio viso positivista hegemnica. Em tal viso, algo

    definido como informao mediante o encontro de pressupostos e perspectivas

    partilhados por um determinado coletivo e no decurso de suas aes especficas

    num determinado contexto e linha de conduta. Por fim, em 2008, Miguel Angel

    Rendn Rojas, da Universidad Autonoma de Mexico, apresentou sua viso realista-

    dialtica da informao. Nessa proposta, informao surge como uma propriedade

    particular de objetos empricos materiais, sensveis (os documentos) mas no se

    resume a eles ela , na verdade, produto de uma complexa rede de atividades

    (anlises, snteses, inferncias, aplicaes, avaliaes, imaginao e criatividade)

    que desenham de uma maneira mais complexa o processo de conhecimento,

    numa clara crtica abordagem cognitiva. Nesse sentido, Rendn Rojas recorre aPiaget, para quem o processo de conhecer no (como na frmula de Brookes) um

    processo cumulativo de somatria de novos dados na estrutura mental: , antes,

    um processo de equilibrao entre aes de assimilao (da experincia mente) e

    de acomodao (da mente experincia), processo essencialmente dialtico no

    qual o sujeito formado pelo mundo na mesma dinmica por meio da qual atua

    nele e tambm o constitui.

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    3.2 Os Trs Modelos de Estudo da Informao

    As perspectivas contemporneas em Cincia da Informao, como visto, tm

    buscado consolidar o avano conceitual operado nas dcadas anteriores, sem

    deixar que as contribuies do modelo fsico sejam abandonadas pela vigncia domodelo cognitivo, nem ignorar as contribuies deste em prol do entendimento

    pragmtico recente. Os trs modelos apresentados nos tpicos anteriores so

    complementares, mais do que excludentes. Afinal, os problemas informacionais

    continuam tendo uma dimenso fsica, tendo tambm aspectos cognitivos e se

    inserindo em dimenses contextuais e pragmticas. E no encontro dessas

    abordagens que se pode definir o que , enfim, Cincia da Informao.

    Na vigncia do modelo fsico, a Cincia da Informao, embora voltada parao estudo dos documentos, dos itens informacionais fisicamente observveis, no era

    uma outra Documentao, nem uma outra Biblioteconomia ou qualquer cincia

    voltada para o estudo de documentos. Havia desde ali uma especificidade, um olhar

    prprio da Cincia da Informao sobre esses objetos. Esse olhar prprio se

    construiu na perspectiva de uma rea voltada para a efetiva comunicao dos

    registros humanos, nos dizeres de Saracevic (1996), em um artigo sobre a origem e

    a evoluo da rea. Reunindo as caracterizaes elaboradas pelos diferentes

    autores citados no tpico anterior, pode-se dizer que se trata, sobretudo, de um

    modelo que estuda a informao como fenmeno OBJETIVO, e sua representao

    pode ser feita a partir da seguinte figura:

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    Figura 1- informao como fenmeno objetivo

    Fonte: Elaborado pelo autor

    Neste modelo, pois, o foco da Cincia da Informao est voltado para a

    construo de modelos e sistemas que garantam um transporte mais rpido, mais

    barato e mais eficiente das mensagens ou sinais que so trocados entre diferentes

    sujeitos e, mesmo tendo sido o primeiro modelo adotado pela rea, mantm sua

    atualidade, sobretudo na conformao dos motores de busca na internet.

    Da mesma forma, com a conformao do modelo cognitivo a partir dos finais

    dos anos 1970, a Cincia da Informao no se tornou uma cincia dosconhecimentos, uma cincia das ideias, isto , uma cincia daquilo que estaria

    dentro da mente das pessoas. Pelo contrrio, a rea manteve tambm a um olhar

    prprio sobre esses fenmenos, buscando uma dimenso informacional no

    processo. Agrupando mais uma vez as caracterizaes dos diferentes autores,

    pode-se dizer que tal modelo constitui uma abordagem SUBJETIVA da informao,

    e pode ser representado na figura a seguir:

    /

    /

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    Figura 2- Abordagem subjetiva da informao

    Fonte: Produzido pelo autor

    Atualmente, no mbito da perspectiva contempornea pragmatista, inserem-

    se o contexto sociocultural e a dimenso interacional dos sujeitos no escopo do

    objeto de estudo do campo. Mas a Cincia da Informao no a cincia doscontextos socioculturais e nem a cincia das interaes entre os sujeitos. Ela busca,

    nesses elementos, algo de especfico, de particular: a dimenso informacional

    presente nesses fenmenos. , mais uma vez, a que reside o olhar informacional, o

    lugar de onde a Cincia da Informao observa os diferentes fenmenos da

    realidade. Mais uma vez agrupando as classificaes dos diferentes autores citados,

    pode-se dizer que aqui emerge um conceito INTERSUBJETIVO de informao.

    A especificidade desta perspectiva foi sublinhada por Capurro (2008) sobre anoo de informao. Para definir informao, o autor remonta aos conceitos gregos

    de eidos (ideia) e morph (forma), significando dar forma a algo, que permite a

    construo de um olhar que se inscreve no mbito da ao humana sobre o mundo

    (in-formar) e a partir do mundo (se in-formar). Ou seja, os seres humanos, em

    suas diferentes aes no mundo (produzir pesquisa cientfica, construir sua

    identidade, monitorar o ambiente mercadolgico, testemunhar direitos e deveres,

    etc.), produzem registros materiais, documentos eles in-formam. essa aodeproduzir registros materiais que a informao, que o objeto de estudo da Cincia

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    da Informao. A Cincia da Informao no estuda a ao administrativa, poltica

    ou cultural em si mesmas, mas apenas naquilo que elas tm de informacional.

    O contnuo exerccio destas aes de in-formar acaba por gerar um

    determinado acmulo de registros do conhecimento humano que Berger e

    Luckmann (1985) chamam de acervo social de conhecimento e Halbwachs (1990)

    de memria social. Foi, alis, justamente esse conjunto documental que deu

    origem, sculos antes, a campos de conhecimento como a Arquivologia, a

    Biblioteconomia e a Museologia. Ao mesmo tempo, ainda, os seres humanos,

    tambm em suas diferentes aes (tomar decises de investimentos, testemunhar

    determinados direitos, comunicar-se com os outros, etc.), utilizam esses

    documentos, esses registros materiais os seres humanos se in-formam. tambm

    essa ao de utilizar, se apropriar dos registros de conhecimento que a

    informao, e que tambm objeto de estudo da CI. Tal quadro de apreenso pode

    ser esquematizado na figura que se segue:

    Figura 3-

    Fonte: Produzido pelo autor

    3.3 Um Desafio Contemporneo

    Como se pode visualizar na figura apresentada no tpico anterior, alm das

    aes dos diferentes sujeitos que produzem e usam registros do conhecimento,

    existem tambm instituies especficas que atuam para dinamizar ou interferir

    ,

    , ,

    , ,

    /

    (, ,

    )

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    nesses processos. Especificamente em relao a trs tipos delas (arquivos,

    bibliotecas e museus) esto associados respectivamente trs campos do

    conhecimento (a Arquivologia, a Biblioteconomia e a Museologia).

    a partir deste novo modelo de informao que se coloca um desafio

    contemporneo para a Cincia da Informao: retomar o dilogo com os campos da

    Arquivologia, da Biblioteconomia e da Museologia. Institucionalmente, a Cincia da

    Informao se desenvolveu ocupando os espaos j constitudos pela

    Biblioteconomia (departamentos de universidades, peridicos, associaes), embora

    dialogando apenas com uma partedela, como j discutido. Recentemente, a Cincia

    da Informao tem se tornado o espao privilegiado para a institucionalizao da

    Arquivologia e tambm tem contribudo para a institucionalizao da Museologia em

    alguns contextos.

    Mais do que fatos institucionais, tal conformao tem uma importante

    implicao epistemolgica. que a Cincia da Informao se construiu, no plano

    conceitual, a partir de uma diferenciao em relao aos campos da Arquivologia, da

    Biblioteconomia e da Museologia tal como essas reas se consolidaram no final do

    sculo XIX e nos primeiros anos do sculo XX: cincias dos acervos, das instituies

    e das regras de tratamento tcnico destas instituies.

    Contudo, ao longo do sculo XX, essas trs reas realizaram um notvel

    avano terico. No cabe nos limites deste texto apresentar essa extensa produo

    cientfica, mas preciso minimamente pontuar que estas reas deixaram de ficar

    circunscritas dimenso custodial, institucional e tcnica, promovendo ampliaes

    que podem ser sistematizadas em pelo menos quatro grandes eixos: estudos sobre

    as funes exercidas por essas instituies na dinmica social; estudos de natureza

    crtica voltados para os papis ideolgicos exercidos por elas; estudos a partir da

    perspectiva dos sujeitos, voltados para os pontos de vista dos usurios ou pblicos;estudos sobre os processos de representao promovidos pelas instituies. Como

    resultado dessas diferentes frentes de estudo, foram se conformando abordagens

    que tm buscado estudar justamente os processos de reciprocidade relacionados

    com as instituies (arquivos, bibliotecas e museus), o contexto social mais amplo

    ao qual elas pertencem, os pblicos que as utilizam ou se relacionam com elas, e as

    dimenses simblicas envolvidas nesses processos. Exemplos dessas abordagens

    contemporneas so a Arquivstica Integrada, a Nova Museologia, os estudos sobre

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    Mediao Bibliotecria, sobre Competncia Informacional, sobre os museus virtuais,

    sobre o patrimnio imaterial, entre outros.

    Esse quadro das perspectivas contemporneas nas trs reas evidencia um

    espao relevante de dilogo entre elas e delas com a Cincia da Informao. Num

    primeiro momento, o modelo consolidado em fins do sculo XIX nas trs reas no

    parecia indicar tal espao. O modelo consolidado pela Cincia da Informao nos

    anos 1960 tambm no se mostrava profcuo, na medida em que buscava se

    consolidar na diferenciao em relao a estas reas. Todavia, os avanos

    promovidos pela Cincia da Informao no desenvolvimento dos trs modelos de

    estudo, em direo ao olhar informacional, de um lado, e os avanos das trs reas

    em direo s perspectivas interacionais, globais e complexas, de outro lado,

    fornecem agora um cenrio extremamente estimulante e rico para interlocuo e

    fertilizao mtua.

    4 CONSIDERAES FINAIS

    Como se buscou demonstrar neste texto, muitos processos e eventos

    aconteceram no campo da Cincia da Informao nestes ltimos 45 anos. Diferentessubreas foram formadas, conceitos formulados e reformulados, caracterizaes

    problematizadas e discutidas, relaes com outros campos de conhecimento

    tensionadas e concretizadas. Desenhos singulares do campo foram sendo

    formados, como podem evidenciar a information science and technology dos

    Estados Unidos, os information studies canadenses, a library and information

    scienceda Inglaterra e dos pases escandinavos, as sciences de linformation et de

    la communication da Frana, as ciencias de la documentacin da Espanha, entre

    outras embora nem mesmo dentro de cada uma destas experincias se possa

    identificar uma compreenso uniforme do que seja a rea.

    A histria da Cincia da Informao tem sido, pois, a histria da diversidade.

    Modelos de compreenso distintos, campos de estudo diversos, variados objetos

    empricos tm evidenciado a inexistncia de um corpo terico unificado e acabado.

    Alguns vem nesta condio um sintoma de imaturidade ou fragilidade. Mas, na

    verdade, tal caracterstica pode ser vista tambm como uma potncia, um aspecto

    intelectualmente estimulante. Ser espao da convivncia do diverso tem feito da

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    Cincia da Informao um campo com muita criatividade para a formulao de

    novos conceitos, muita agilidade para a compreenso de novos fenmenos e o

    desenho de novos mbitos de pesquisa, alm de flego para dialogar com as mais

    distintas reas disciplinares. Esse o saldo destes primeiros 45 anos de vida e o

    contributo deixado para os prximos anos.

    REFERNCIAS

    BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. Construo social da realidade: tratadode sociologia do conhecimento. Petrpolis: Vozes, 1985.

    BORKO, Harold. Information science: what is it? American Documentation,Washington, v. 19, n. 1, p. 3-5, jan. 1968.

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    WERSIG, Gernot. Information science: the study of postmodern knowledge usage.Information Processing & Management, Elmsford, v. 29, n. 02, p. 229-239, mar.1993.

    Title

    What is Information Science?

    Abstract

    Introduction: An overview of Information Science in three stages. Initially, its emergenceand consolidation in the 1960s, as a confluence of several factors: the distinction regardingArchival Science, Librarianship and Museology; the relationship with the Documentation; theoccupation of the institutional space of Librarianship; the activities of the first "information

    scientists "; information technology; and the use of Mathematical Theory.Objective: to analyze the expansion in the decades following with the development ofsubfields, the characterizations of the field and the evolution of the concept of information.Methodology: Literature Review.Results: The results to present contemporary trends: the systematization of the area, thethree models for the study of information and the recent challenge of dialogue with ArchivalScience, Librarianship and Museology.Conclusion: several processes and events happened in the Information Sciencefield in the last 45 years. Different subareas were formed, formulated andreformulated concepts, characterizations were problematized and discussed, as wellas relations with other fields of knowledge were tensioned and implemented.

    Keywords: History of Information Science. Epistemology of Information Science.Concept of information

    Ttulo

    Qu es la Ciencia de la Informacin?

    Resumen

    Introduccin:En este trabajo se ofrece una visin general de la Ciencia de la Informacinen tres etapas. Inicialmente, su surgimiento y consolidacin en la dcada de 1960, comouna confluencia de varios factores: la distincin respecto Archivologa, Bibliotecologa yMuseologa; la relacin con la Documentacin; la ocupacin del espacio institucional de laBibliotecologa; la actividad de los primeros "cientficos la informacin"; la tecnologa de lainformacin; y el uso de la teora matemtica.Objetivo: se analiza la expansin en las dcadas que siguieron con el desarrollo de sub-campos, las caracterizaciones del campo y de la evolucin del concepto de informacin.Metodologa: Revisin de la literatura.

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    Resultados:Se presentan las tendencias contemporneas: la sistematizacin de la Cienciade la Informacin, los tres modelos para el estudio de la informacin y el reciente desafo deldilogo con Archivologa, Bibliotecologa y Museologa.Conclusiones: muchos procesos y acontecimientos ocurridos en el campo de la Ciencia dela Informacin em los ltimos 45 aos. Diferentes subreas se formaron, conceptos

    formulados y reformulados, caracterizaciones problematizadas y discutidas, las relacionescon otros campos del conocimiento tensada y implementadas.

    Palabras clave:Historia de la Ciencia de la Informacin; Epistemologa de la Ciencia de laInformacin; Concepto de informacin.

    Recebido em: 21.08.2013

    Aceito em: 01.12.2013