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APRESENTAÇÃO

Este livro apresenta um olhar pessoal e subjetivo sobre a música e a

educação musical, oferecendo algumas reflexões sobre a música e quais os

benefícios que ela pode trazer para a vida das pessoas.

A ideia de escrever esse livro surgiu a partir de variados

questionamentos sobre a música e educação musical. Neste trabalho, procura-

se apresentar informações e argumentos sobre a música e também analisar

como o nível de conhecimentos musicais de uma pessoa podem influenciar no

aprendizado de um instrumento musical. Procura-se também analisar quais a

maneiras de como podemos nos beneficiar com a música.

Este livro não tem a pretensão de aprofundar os estudos, mas apenas

trazer uma singela contribuição sobre o assunto, apresentando aos leitores o

resultado de algumas experiências adquiridas ao longo de 15 anos como

educador musical e professor de instrumentos.

Procurei fazer uso de uma linguagem simples e objetiva, a fim de atingir

o maior número possível de leitores.

Espero sinceramente que este trabalho possa trazer algum

esclarecimento sobre esse assunto e despertar o desejo de conhecer o valor

da música e o quanto ela pode ser útil em nossas vidas, desde que saibamos

como fazer o uso adequado dela para cada objetivo proposto.

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1 – O QUE CHAMAMOS DE MÚSICA

Existem muitos significados e também muitas interpretações para a

palavra “música”. E muitas destas interpretações erradas acerca da música

impedem as pessoas de usufruir plenamente dos benefícios que ela pode

trazer.

Porém, antes de falar sobre os benefícios gerais que a música traz para

quem a estuda e aprecia, é importante abordar em poucas palavras o

significado dessa palavra.

De acordo com o dicionário da língua portuguesa, a palavra música

significa basicamente a combinação organizada de sons e silêncios que resulta

em um som agradável aos nossos ouvidos.

Porém, dentre variados significados que já conheci sobre a música,

gosto de um, em particular, que afirma ser a música a “arte de expressar os

sentimentos da alma através do som”.

Partindo desse conceito de música, você pode perceber que, em

primeiro lugar, a música é apresentada como uma “arte”, e isso ninguém

discute! Percebemos também que o termo usado na frase logo após a palavra

arte é: “expressar”. Logo entendemos que a música tem, dentre suas múltiplas

funções, o objetivo de expressar, ou seja, mostrar, trazer de dentro para fora os

nossos sentimentos, podendo ser alegria, tristeza, saudade, etc.

Percebemos ainda que a música faz uso de um recurso simples para

mostrar esses sentimentos, o som. Concluímos então que o som se torna um

veículo que tem a tarefa de trazer para fora o que está dentro das pessoas.

Esse “veículo”, aparentemente muito simples, esconde algumas

características básicas que, se ignoradas, pode comprometer todo esse

processo de condução e simplesmente não atingir seus objetivos.

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Quando uma pessoa não consegue entender as características básicas

do som, tudo que estudar sobre música ou instrumento pode parecer mais

difícil e cansativo.

Já ouvi muitas pessoas afirmarem não encontrar significado em uma

música instrumental, ou seja, que não tenha alguém cantando. Isso pode

acontecer pelo simples fato de tais pessoas ouvirem uma música, esperando

entender palavras. Mas como entender a música apenas pelas palavras se a

música é externada através do “som” e não de “palavras”.

Portanto, se uma pessoa busca encontrar sentido em uma música

apenas através das palavras, não pode esperar encontrar sentido ouvindo uma

música executada apenas por instrumentos. Se quiser encontrar sentido por

meio de palavras, deveria ler uma poesia, pois a poesia tem as “palavras”

como principal veículo de comunicação.

A música é uma forma de comunicação e quando pensamos em

comunicação, pensamos em uma pessoa que passa a informação (emissor) e

outra pessoa que recebe essa informação (receptor). Porém, o processo de

comunicação só se completa desde que exista um código que ambos o

interlocutor tenha capacidade de entender, tanto para quem está enviando a

informação, quanto para quem está recebendo.

Sendo a música um veículo de comunicação dos nossos sentimentos

por meio do som, eu pergunto a você que está lendo esse livro agora: O que

você sabe sobre o som?

Durante meu trabalho como professor de instrumentos, muitas pessoas

me procuram com muita ansiedade e motivação para aprender a tocar violão,

teclado ou mesmo cantar. Porém, na maioria dos casos, essas pessoas não

têm conhecimentos mínimos sobre a música, e muito menos sobre o seu

principal veículo de comunicação que é o som.

Outras pessoas, quando questionadas sobre seus conhecimentos a

respeito da música, se referem à escrita musical como sendo o único

significado que possuem sobre a palavra música.

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Assim, diante do grande número de pessoas que apresentam o mesmo

comportamento, resolvi fazer uma pesquisa com três diferentes perfis de

pessoas a fim de saber o que as pessoas em geral pensam sobre música.

Entrevistei uma dona de casa a que chamarei de D. Maria; um

mecânico, ao qual chamarei de Valdir e um professor de Violino a qual

chamarei de Rodrigo.

Na pesquisa apresentei um pedacinho de papel com uma escrita

musical, sem nenhuma letra e perguntei simplesmente: o que é isto?

A primeira pessoa, D. Maria, me respondeu com muita certeza que se

tratava de música, pois sua neta tinha um caderno de música e nesse caderno,

havia alguns registros parecidos com os que eu havia mostrado a ela.

A segunda pessoa, o Sr. Valdir, após olhar o pedacinho de papel com

muita atenção, disse que se tratava de notas musicais.

O Professor de violino, a terceira pessoa que foi entrevistada, olhou para

o papel como se estivesse lendo um texto e, após analisar o papel por alguns

segundos, afirmou se tratar de uma peça musical folclórica.

Após concluir a pesquisa, verifiquei que muitas pessoas, assim como os

dois primeiros entrevistados, não sabem exatamente nem mesmo distinguir a

diferença entre música e escrita musical.

Nesta pesquisa, apenas o professor de violino conseguiu entender um

“texto” sem palavras e identificar que se tratava de uma peça folclórica, pois o

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pedaço de papel não era literalmente uma música e sim um registro do som,

pois no papel não havia som!

Também não se tratava de notas musicais como respondeu o Sr Valdir,

pois no papel, havia muito mais informações além de simplesmente notas!

Diante do fato apresentado, verificamos que uma grande maioria de

pessoas de um modo geral encontra-se desprovidas de conhecimentos

musicais, tanto práticos como teóricos, e é exatamente essa falta de

conhecimentos que, como já afirmado no início desse capítulo, leva muitas

pessoas a encontrarem muita dificuldade de aprender a tocar um instrumento

musical.

Muitas pessoas simplesmente desistem de seus sonhos porque acha o

aprendizado de um instrumento muito difícil ou simplesmente acredita que não

tenham “Dom” para música.

Realmente o aprendizado de um instrumento tem seus desafios. Porém,

como professor de instrumentos e educador musical, faço a seguinte pergunta:

Quem surgiu primeiro, a música ou o instrumento?

Certamente a música.

E a explicação para o fato de muitas pessoas julgarem difícil o

aprendizado de um instrumento musical está em tentarem aprender a tocar o

instrumento sem antes conhecer seu principal produto: a música!

O instrumento musical, quando executado por meio de técnicas

específicas, produz música. Já a música não depende de um instrumento

específico para existir, pois ela pode existir no interior de uma pessoa, mesmo

antes de ser executada.

Observe que se uma pessoa é musicalizada (termo usado para indicar

pessoas que possuem os conhecimentos musicais práticos), ela faz uso de seu

próprio corpo para fazer música sem necessariamente depender de um violão,

teclado, bateria etc.

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Mas como a música também traz muitos outros benefícios, além da

inexplicável experiência de tocar um instrumento musical, é possível afirmar

que a falta de conhecimento musical se torna um dos principais fatores que

impede que muitas pessoas deixem de se beneficiar com a música em muitas

outras situações.

E agora, responda com sinceridade: O que você chama de música?

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2 – ENTENDENDO A MÚSICA

Tomando como ponto de partida o fato de que a música expressa

sentimentos através do som, apresentaremos neste capítulo alguns conceitos

básicos que possibilitarão com que você possa iniciar o seu processo de

entendimento da música, começando pelo seu principal veículo de

comunicação: o som.

O que apresentarei aqui não é nenhuma novidade, pois qualquer

pesquisa realizada em programa de busca na internet apresentará muitas

informações sobre o som. Porém essas informações darão sustentação a todos

os comentários daqui para frente.

a) Os cinco sentidos e a relação com o som

Para começar o entendimento sobre o som, precisamos lembrar que

percebemos o mundo a nossa volta por meio dos “sentidos”, sendo eles: a

audição, a visão, o olfato, a paladar e o tato.

E também se torna importante destacar que tudo que sentimos por meio

dos sentidos, resumem-se em concreto e abstrato.

Sendo o som, portanto, um elemento abstrato, não pode ser visto por

meio dos olhos físicos. Também não é possível cheiramos o som, nem o

degustar e nem tão pouco “pegá-lo”. O som somente pode ser sentido e

percebido apenas por meio da audição.

No trabalho de musicalização com bebês, um dos primeiros conteúdos a

ser trabalhados pelo educador é o desenvolvimento da acuidade auditiva, ou

seja, a capacidade de encontrar a distinguir a “fonte sonora”.

Muitas pessoas simplesmente não entendem o quanto esse

procedimento é importante nos primeiros anos da vida de uma criança, para

que, no futuro, essa criança possa entender melhor a música. Tais pessoas

simplesmente não valorizam muito esse tipo de educação. Alguns cometem

esse erro por não conhecerem os benefícios que o mesmo pode trazer nesta

fase de idade, já outras pessoas simplesmente erram simplesmente por ignorar

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essa realidade. E quando isso acontece, os prejuízos podem ser muitos,

principalmente quando se inicia o aprendizado de um instrumento musical.

Em minhas aulas de Educação Musical, depois de trabalhar o

desenvolvimento da acuidade auditiva com meus alunos, apresento o

significado do som e como ele chega aos nossos ouvidos.

Assim sendo, se você quer entender a música, é preciso aprender a

“escutar” o som por meio dos ouvidos e “senti-lo” através da alma. Para isso, é

preciso começar desenvolvendo a audição e buscar conhecimento sobre as

características dom Som.

Antes de você continuar lendo, eu te faço a seguinte pergunta:

Você conhece quais são as características do som?

Se você conseguiu responder, você pode pular essa parte e ir direto

para o próximo capítulo desse livro, mas se não conseguiu responder, sugiro

não apenas que leia e memorize os conceitos apresentados a seguir, mas que

interiorize os conhecimentos sobre as características do som, pois somente

assim, será possível usar a música em seu benefício e descobrir o que a

música pode fazer por você.

b) Sobre sons e silêncio:

O som é o resultado do contato de dois corpos e, uma vez produzido,

repercute em forma de ondas até chegar aos nossos ouvidos.

Partindo do princípio de que para tudo existe um oposto, vamos pensar

que o som só existe porque existe o silêncio.

Durante meu trabalho com educação musical com diferentes pessoas de

várias idades, percebo que um dos maiores bloqueios existentes no

aprendizado da música está no fato das pessoas terem dificuldades de

primeiramente “ouvir” o silêncio. Poucos de nós, nessa vida agitada e ruidosa

dos tempos atuais, paramos para ficar em silêncio.

Assim, no trabalho de educação musical, seja com crianças,

adolescentes, jovens, adultos ou terceira idade, um dos primeiros desafios por

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parte do educador, é despertar o valor do silêncio e sua importância para a

“condução do som” e, apenas após essa tomada de consciência e

aprendizado, é que se apresentam as características do som.

Se você quer realmente saber o que a música pode fazer por você,

comesse a experimentar o valor do silêncio e considerá-lo como único recurso

para que o som possa chegar até você.

c) Sobre as características do som

Já verificamos que usamos nossos sentidos quando necessitamos de

reconhecer qualquer coisa. Já entendemos também que o som não é concreto

e apalpável e, portanto, somente pode ser “sentido” por meio dos ouvidos e

para chegar até nossos ouvidos, necessita do silêncio.

Nesse momento, torna-se necessário afirmar que não é intenção desse

trabalho discorrer sobre os conceitos musicais, mas apenas citá-los como

forma de dar sustentação aos comentários e argumentos sobre os benefícios

da música para uma pessoa.

As principais características que permitem que uma pessoa possa

entender o som são: altura, timbre, intensidade e duração.

A altura é a característica que permite distinguir um som agudo de um

som grave.

Esta característica está relacionada com o número de vibrações em

cada unidade de tempo, isto é, com a frequência de vibração das ondas

sonoras. Então podemos entender que quanto maior for a frequência da onda

sonora, mais agudo ou alto o som também será e, quanto menor for a

frequência da onda sonora, mais grave ou baixo será o som.

O timbre está relacionado com personalidade do som. É a característica

que nos permite distinguir dois sons com a mesma altura e a mesma

intensidade, produzidos por fontes sonoras diferentes. Por exemplo, quando

você ouve a voz de uma pessoa conhecida, logo você a reconhece. Isso

acontece porque o timbre dessa pessoa é familiar a você. Há quem afirme que

o timbre é a “cor” do som.

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A intensidade é a característica que nos permite distinguir um som fraco

de um som forte. A intensidade do som é uma característica que está

relacionada com a amplitude das ondas sonoras. Então podemos entender que

quanto maior for a amplitude da onda sonora, mais forte será o som e quanto

menor for a amplitude da onda sonora, mais fraco será o som.

Já a duração se refere simplesmente à quantidade de tempo que o som

dura. Por exemplo, o latido de um cachorro é curto, mas se ele estiver uivando,

o som produzido por ele poderá ser longo.

Vale lembrar que essas informações você encontra também em muitas

outras fontes confiáveis de informação. Porém, o resultado que se espera em

se beneficiar da música em sua totalidade, significa não apenas você acumular

informações sobre o assunto, mas fundamentalmente, buscar o conhecimento

prático, ou seja, a experimentação e vivencia por meio de atividades

especificas de musicalização.

Neste caso, assim como se procura um educador físico para orientação

e treinamento físico, também deve se procurar um educador musical, para

orientações e treinamento do ouvido, a fim de se possam conhecer os

conceitos abordados sobre o som, tanto na teoria quanto na prática. Quanto

mais cedo esse treinamento iniciar, melhor será o seu resultado para toda a

vida de uma pessoa.

Nesse momento, pergunto a você: Qual o seu nível de entendimento

teórico e prático do som? Você já frequentou aulas de educação musical? Já

participou de aulas de musicalização?

Agora que você já refletiu sobre esse assunto, e teve contato com

alguns conceitos sobre o som, poderá continuar lendo os próximos capítulos

desse livro onde serão apresentados conceitos sobre a Educação Musical e os

benefícios que essa modalidade de educação traz para quem reconhece o seu

valor, principalmente para as primeiras fases da vida de uma pessoa.

Portanto, se você é pai, mãe ou responsável pela educação de uma

criança, sugiro que não deixe de ler o próximo capítulo desse livro

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3 – SOBRE A EDUCAÇÃO MUSICAL

Antes de comentar sobre a educação musical, torna-se necessário

entender primeiramente o que é educação.

A exemplo do termo “música”, também existe variados conceitos sobre o

termo “educação”. Mas quero apenas utilizar um conceito que me permita

comentar de forma clara e simples sobre a educação musical, tendo em vista o

grande número de pessoas que, pelo fato de não entender direito o significado

desse termo, simplesmente deixam de usufruir dos benefícios dessa

modalidade de educação.

Também não é objetivo desse livro discutir os conceitos de educação,

mas simplesmente trazer um singelo esclarecimento sobre o assunto,

buscando estabelecer uma relação com a música enquanto arte, linguagem e

conhecimento.

Vamos usar como base o conceito de que a educação “é o conjunto de

valores e princípios que se transmite de uma geração para outra com objetivos

definidos”.

Em muitas oportunidades, logo nos primeiros encontros em sala de aula,

quando inicio os trabalhos de educação musical com meus alunos, pergunto:

Para que vocês vieram à escola hoje? A resposta dos alunos diante dessa

pergunta quase sempre é a mesma: para estudar!

Percebo que nem sempre paramos para refletir o que é a educação e

qual a seu verdadeiro papel em nossas vidas. Na verdade, somos fruto de tudo

que nos foi passado tanto do ponto de vista genético, como também do ponto

de vista educacional.

Nossas ações e comportamentos são resultados de tudo que

aprendemos basicamente no ambiente familiar, na sociedade de um modo

geral e na escola regular.

Desta forma, a educação musical também não é diferente. Herdamos de

nossos pais uma carga genética de habilidades musicais às quais as pessoas

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normalmente denominam de “Dom”. Essa herança genética determinará o

quanto estamos sensíveis ao som e respectivas características que foram

apresentadas no capítulo anterior.

Muitas pessoas me perguntam como pode alguém nunca ter ido à

escola de música, ou participado de aulas de educação musical e mesmo

assim ter facilidade para tocar um instrumento musical.

Outro questionamento recorrente é o fato de uma pessoa aprender a

tocar um instrumento sem a orientação de um professor.

Para responder a essas questões, vamos partir do princípio de que

existem duas formas de conhecimento: o teórico e o prático.

Denominamos de conhecimento teórico tudo que conhecemos apenas

por meio de estudos gerais, mas não experimentamos. Já o conhecimento

prático diz respeito a tudo que conhecemos não apenas por ler sobre o

assunto, mas por ter experimentado e vivenciado. Partindo desse princípio, a

resposta para essas perguntas é muito simples!

Existem pessoas que, mesmo sem saber o que estão tocando,

simplesmente tocam porque dentro dele é como se tivesse um “professor” ou

“educador” dizendo o que está certo ou errado. É a música “de dentro para

fora”. O ouvido dessa pessoa determina suas ações na posição dos dedos ou

na entonação da voz. Tudo isso sem que necessite ter conhecimento dos

conceitos e nomes de tudo que está fazendo.

Pessoas assim, simplesmente trazem consigo um nível de

“musicalidade” que, caso haja interesse em aprender, certamente o levará a

tocar qualquer instrumento musical sem nunca frequentar uma instituição de

ensino, seja ela formal, informal ou não formal.

Para esse perfil de pessoas, seria recomendado procurar um bom

professor de música, a fim de apenas buscar estabelecer relações entre os

conhecimentos práticos pré-existentes com os conhecimentos teóricos ao qual

lhe serão apresentados.

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Em outros casos, existem pessoas que, não foram favorecidas de forma

plena e satisfatória com esse presente, ao qual denominamos “dom” e, na

maioria dos casos, essas pessoas passam uma vida toda acreditando que

nunca poderão aprender a tocar um instrumento musical.

Há um tempo, prevalecia uma crença de que a música estava reservada

apenas aos grandes gênios e renomados compositores e, quem não se

enquadrasse nesse perfil, teria de se conformar com a errada afirmação de que

quem não tem o “dom da música” nunca terá o prazer de tocar um instrumento

musical ou mesmo fazer música.

Vejo muitos casos de pessoas que abandonaram o sonho de aprender a

tocar e deixaram seus instrumentos parados e empoeirados dentro do guarda

roupa, no canto do quarto ou da sala, e quando questionado sobre o motivo de

ter abandonado o sonho, simplesmente repetem o que disseram a ela: Você

não tem “dom” para a música!

Como educador musical e professor de instrumentos, simplesmente fico

indignado com essa realidade, pois sabemos por meio de estudos científicos

comprovados que qualquer pessoa, inclusive você que está lendo esse livro

agora, pode ser favorecido de todos os muitos benefícios que a música pode

fazer por você, sendo o prazer de tocar um instrumento fazendo música com

um instrumento apenas num desses benefícios.

Se esse for o seu caso, acredite que você pode realizar seu sonho! Para

isso escrevi esse livro. Para comunicar ao maior número de pessoas que se

elas quiserem, podem se beneficiar do caráter recreativo da música. Como

educador musical e professor de instrumentos, tenho visto muitas pessoas me

procurarem para aprender a tocar um instrumento musical, trazendo consigo

um histórico de insucessos e decepções em relação ao aprendizado do

instrumento que desejam tocar e, na maioria dos casos, demonstra muita

vontade, mas reclamam ser difícil de aprender.

Quando me deparo com situações como essas, chego à conclusão que,

na maioria dos casos, tal dificuldade se deve ao baixo nível de “entendimento

musical” que essa pessoa possui em relação à música.

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Para aprender a tocar um instrumento musical, é preciso primeiro ter

desenvolvido os sentidos para as características primárias do som tais como

altura, timbre, volume e duração. Uma pessoa com um baixo nível de

percepção musical poderá se frustrar ao tentar aprender a tocar um

instrumento. Neste caso, poderá se contentar com a equivocada crença de que

o prazer de tocar um instrumento musical está reservado apenas às pessoas

que possuem talento para música.

E fato que fatores genéticos favorecem e contribuem significativamente

para o aprendizado de um instrumento musical. Todavia é preciso entender

que, mesmo aqueles que não possuem um bom nível de percepção musical,

poderá se beneficiar de um trabalho de desenvolvimento perceptivo musical,

tanto no aspecto rítmico, melódico como também harmônico.

A primeira ação a ser tomada é encontrar um bom educador musical a

fim de verificar qual o “nível” de musicalidade que essa pessoa traz consigo,

bem como quais os conhecimentos teóricos e práticos a respeito do som e

consequentemente da música. A partir de uma avaliação prévia, o educador irá

“receitar” os procedimentos adequados a cada pessoa.

Para pessoas com baixo nível de musicalidade, essa recomendação é

ainda mais acentuada, pois além da necessidade de lhe ser ensinado os

conhecimentos teóricos sobre a música, ou mesmo as orientações sobre a

técnica específica de cada instrumento, antes será necessário buscar despertar

e desenvolver os conhecimentos práticos e teóricos que já possui.

Depois de tomar a decisão de correr em busca dos sonhos, deve-se

procurar um bom profissional da área de Educação Musical e iniciar o processo

de Musicalização o mais rápido possível, pois assim estaria garantida uma

maior possibilidade de sucesso no futuro aprendizado de um instrumento

musical de sua escolha.

Diante de tudo que foi discutido até aqui, podemos pensar em

Educação Musical não apenas como um ensino específico de música ou

instrumento. Também não apenas como uma mera instrução ou orientação

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sobre algum conceito isolado de música, nem tão pouco o estudo ou a grafia

(escrita) do som.

Podemos pensar em Educação Musical como um conjunto de

procedimentos que envolvem um processo mais amplo, começando pela

conscientização da necessidade e importância do silêncio como único recurso

para passagem do som, continuando com a aquisição dos conhecimentos

práticos e teóricos das características do som, bem como do desenvolvimento

e treinamento gradativo e sistemático do “ouvido musical” ao que chamamos

de percepção musical.

E após cumprimento de cada etapa, finalmente se dedicar ao estudo do

instrumento de seu gosto, pois a música não faz o instrumento, mas o

instrumento, quando executado por uma pessoa musicalizada, pode resultar

em uma obra artística e recreativa de muito valor.

Não importa quanto tempo você já perdeu. Se você tem um sonho,

acredite que é possível, mas comece pelo caminho certo, buscando conhecer e

estudar primeiramente a música por meio da educação musical, antes de

conhecer e estudar o instrumento de sua preferência.

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4 - A EDUCAÇÃO MUSICAL NO BRASIL

Desde a aprovação da Lei nº 11.769 de 2008, o estudo de música

tornou-se obrigatório em toda a educação básica. Todavia, muitas pessoas

ainda desconhece a importância de tal disciplina na formação e no

desenvolvimento da criança, bem como os benefícios de tal educação para um

futuro aprendizado de um instrumento musical.

A educação musical na educação básica, quando trabalhada de forma

responsável e comprometida com a formação do aluno, se ocupa de despertar

e desenvolver a sensibilidade para as características do som, por meio de

atividades específicas para cada área do estudo da música.

Para fundamentar meus comentários, poderia fazer uso de citações de

diversos autores e pesquisadores da área de música e educação musical.

Todavia, como não se trata de um trabalho científico, e sim apenas de caráter

informativo, não farei citação de outros autores, reservando-me ao direito de

tomar como base minhas próprias experiências como professor de música e

educador musical em escolas de educação formal. Assim, caberá a você leitor,

fazer suas reflexões e tirar suas próprias conclusões sobre o assunto.

De acordo com nossa atual legislação educacional, a música passa a

ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo em toda a educação básica

(Educação infantil e Fundamental), mas não está especificada em quais séries

a música deverá estar incluída na grade curricular. Também não fica

especificada a quantidade de aulas por semana. Pela falta de especificidade na

lei, cada escola adota seu próprio sistema, dependendo da proposta político-

pedagógica.

Entretanto, no geral o tempo reservado para as aulas de educação

musical nas escolas é de aproximadamente 50 minutos por semana. Assim, a

apresentação dos conteúdos se dá em uma aula e, após uma semana, ou seja,

604.800 segundos, 10.080 Minutos, 168 Horas depois, o professor de música

ou educador musical terá a oportunidade de continuar com seus trabalhos com

seus alunos.

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Os conteúdos musicais são distribuídos em 50 minutos semanais

considerando que, desses 50 minutos, deve-se reservar alguns minutos à

chamada e organização da sala, só restando aproximadamente 35 a 40

minutos semanais de tempo hábil para trabalhar os conteúdos.

No Brasil, a Legislação rege que o estudo de música deve ser conteúdo

trabalhado em toda a educação básica, ou seja, do 1º ao 5º ano. Assim, a

educação musical de uma criança no Brasil, por lei, deve começar mais ou

menos aos seis anos de idade.

Não é objetivo deste livro estabelecer julgamentos ou expressar opiniões

sobre o assunto. Todavia, por estar tratando da educação musical no Brasil,

mais uma vez tomo a liberdade de apresentar uma questão que merece

reflexão.

Pela lei, a educação musical no Brasil deve acontecer a partir da

educação básica, ou seja, por volta dos seis anos de idade. Todavia, sabemos

por meio de estudos que o processo de musicalização deveria acontecer desde

o 6º mês de gestação. E isso mesmo que você leu!

Após cinco anos de estudo em uma das melhores universidades

Federais (UFSCar) onde orgulhosamente tenho o prazer de dizer que estudei,

posso afirmar seguramente que o processo de musicalização deveria ocorrer

desde o período de gestação da criança, ou seja, a partir do 6º mês de

gestação, tendo em vista que, no processo de desenvolvimento de uma

criança, as janelas de aprendizado se abrem e determinados conteúdos são

absorvidos de forma mais eficiente nesse período.

Sabemos ainda que, no que diz respeito especificamente a Educação

musical, o processo de musicalização depende de fatores diretamente

relacionados com o processo de aprendizagem dos indivíduos e para isso,

demanda tempo. Portanto, quanto mais cedo iniciar o processo de educação

musical, maiores serão as possibilidades de aprendizado.

Outro fato curioso que está relacionado com a realidade da educação

musical no Brasil ocorreu comigo, quando fui contratado como professor de

música por uma escola de ensino regular em 2010.

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Após minha contratação, fui à busca de métodos e matérias didáticos

para realização do meu trabalho. Fiquei surpreso quando fiquei sabendo que, o

sistema de ensino utilizado pela escola, não possuía nenhum material de

educação musical para ser utilizado.

Para resolver esse problema, reuni todo o material que possuía da

faculdade, e outros que fui pesquisar e com muito trabalho, montei o meu

próprio “Método de ensino”, o qual vem sendo revisado e melhorado a cada

ano e em breve será lançado para todo o Brasil, na tentativa de contribuir com

a formação educacional de música em nosso país.

Ainda dentro do contexto de educação musical no Brasil, julgo relevante

apresentar outra experiência pessoal. Em 2010, fui aprovado 2º lugar para um

concurso para professor de educação musical em minha cidade. Na ocasião,

ainda não havia concluído o curso de educação musical, mas já possuía um

curso superior em outra área além de possuir com um curso de especialização.

Também já estava atuando como professor de educação musical em um

colégio particular e contava com aproximadamente 15 anos de carreira como

professor de instrumentos e educador musical, mesmo assim, fui impedido de

ocupar o cargo.

Na época, fiquei muito indignado pelo fato de não poder assumir o

cargo, apesar do curso de Licenciatura em Educação Musical pela UFSCar já

estar em andamento e ainda, já estar atuando como professor de educação

musical em uma escola particular.

Vale destacar também que tais fatos são experiências pessoais vividas

por mim. Por ser o Brasil um país muito grande, cada região apresenta suas

realidades e desafios. Assim, tais fatos não representam a realidade de todo o

Brasil.

Sabe-se que muito já se fez pela educação musical no Brasil e ainda

muito está se fazendo, mais considero muito pouco diante de todos os

benefícios que a música pode fazer por uma pessoa.

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Para finalizar esse capítulo, gostaria de deixar uma pergunta: Qual a

qualidade de educação musical que estamos deixando para as próximas

gerações em nosso país?

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5 – A MUSICA E SUAS FUNÇÕES

Agora que você já tem conhecimento sobre o conceito de música e

educação musical, vamos comentar sobre as funções que a música tem e

quais os benefícios gerados para quem a procura, dependendo da forma como

a música e utilizada.

Como não é novidade para ninguém, a música está presente em quase

tudo em nossas vidas. Em casa, no carro, no trabalho, nas ruas, nas igrejas e

comunidades, nos restaurantes, bares, consultórios e etc.

Todavia, poucas pessoas param para refletir sobre as diversas funções

que a música possui e, diante dessa falta de conhecimento, também deixam de

se beneficiar de outros benefícios trazidos pela música, além do caráter

recreativo.

O grande número de pessoas que ouvem música é tem como objetivo o

lazer e a recreação. Nos dias atuais, as pessoas em geral vivem agitadas e

sempre buscam a companhia de uma “música” para se distrair. Nas festas

familiares é comum vermos as pessoas se divertindo ao som de uma música.

A razão pelo qual as pessoas ouvem música são as mais variadas

possíveis. Mas o fato é que, em quase todos os momentos, a música está

presente!

Para iniciar esse capítulo, também quero justificar o motivo que me levou

a falar sobre funções da música.

Vejo muitas pessoas pensarem na música apenas como meio de vida e,

diante do sucesso de alguns artistas que se destacam na mídia, também

passam a pensar na música apenas como recurso para ganhar dinheiro!

Outras pessoas, não tendo conhecimento da diferença entre música e

educação musical, começam a estudar um instrumento musical esperando

apenas um resultado artístico, ou seja, fazer sucesso!

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Vejo também pais ou responsáveis que matriculam seus filhos em

projetos sócios musicais e não entendendo que, nestes casos, a música é

usada em caráter sócio educativo, esperam que seus filhos aprendam a tocar

como um artista, deixando de valorizar todo o trabalho de desenvolvimento

social que se encontra agregado ao estudo de música.

Essas foram algumas das razões que, enquanto educador musical, me

levaram a trazer essa singela contribuição sobre esse assunto.

Vale destacar que não se trata de aprofundar sobre o tema, pois

teríamos muitas informações a respeito de cada assunto em particular. Trata-

se apenas de buscar trazer o mínimo de esclarecimento sobre o assunto.

Vale destacar ainda que a música nem sempre exerce uma função

específica, podendo ser utilizada com uma finalidade, mas não deixando de

exercer, mesmo que indiretamente, outra função.

Para exemplificar esse fato, podemos citar muitos artistas famosos que

se beneficiam da música principalmente do ponto de vista financeiro, tendo

como objetivo principal obter lucros tanto na venda de direitos autorais, CD’s.

DVD’s, shows como também de tudo que, direta ou indiretamente possam lhe

trazer lucros. Porém, música interpretada ou composta por eles não deixa de

exercer um papel educativo de alguma maneira.

Sobre as variadas funções da música que poderiam ser citadas aqui, é

possível resumi-las em caráter artístico, pedagógico, recreativo, religioso,

cultural, socioeducativo e de subsistência ou meio de vida.

Comentaremos um pouco sobre cada uma dessas funções.

a) Função artística da música

Partindo da definição de que arte significa essencialmente

técnica e habilidade, é possível afirmar que, a música feita enquanto arte,

busca um refinamento técnico, ou seja, busca agradar esteticamente a um

determinado público através de melhorias e aperfeiçoamento.

23

Por esta razão, quando se faz música pensando em apresentação para

outras pessoas em um palco ou qualquer outro local público, deve-se buscar

atingir o melhor nível de qualidade naquilo que se propõe, pois, o objetivo

central é o “show” que significa nada mais nada menos que apresentação.

Dizemos neste caso que a música tem caráter artístico, pois não se

preocupa prioritariamente com os benefícios da música para o interprete ou

para quem a escuta, nem mesmo se a mesma está influenciando na educação

geral de quem está executando, embora, indiretamente não se pode negar que,

com já citado, em muitos casos, a letra das composições não deixa de figurar

com um tipo de “educação social”.

Há também os que se apresentam em público, em caráter

artístico, mas que tem como objetivo principal uma modalidade “específica” de

educação de seus expectadores, como por exemplo, as músicas folclóricas,

religiosas e educativas de um modo geral.

b) Função pedagógica da música

Para discorrer sobre o caráter pedagógico da música, tomarei como

referência uma definição extraída da internet que acredito explicar muito bem

essa palavra.

“Pedagogia pode ser considerada com um conjunto de técnicas,

princípios, métodos e estratégias da educação e do ensino, relacionados à

administração de escolas e à condução dos assuntos educacionais em um

determinado contexto”

Fonte: http://www.significados.com.br/pedagogia/

Partindo dessa definição, vamos entender que a música também

pode ser ensinada por meio de técnicas específicas, metodologias e

estratégias que tem como objetivo a transmissão dos conhecimentos musicais

ou instrumentais.

Para comentar mais sobre esse assunto, vamos abordar um pouco

sobre a música enquanto conhecimento em um capítulo à frente.

24

c) Função recreativa da música

Dentre as variadas funções que a música tem, o caráter recreativo ou de

diversão através da música é o mais frequente. Como já citado acima, as

pessoas em geral vivem uma vida de “correria” e em meio a tanta agitação,

buscam ouvir música com o pretexto de relaxar, espairecer, reduzir o estresse

e etc.

E fato que, a música em qualquer circunstância, dependendo do estilo

musical que está se ouvindo, pode provocar as mais variadas sensações e

sentimentos possíveis quando associado ao momento em que o indivíduo, na

condição de ouvinte, está vivendo.

Porém, diante dos objetivos desse livro que é mostrar os benefícios que

a música pode trazer, vale destacar que, além do lazer e da diversão, a música

também pode trazer muitos outros benefícios.

d) Função religiosa da música

Deste os tempos mais antigos, a música tem sido utilizada para os

rituais e cultos de diversas religiões.

Nestas circunstâncias, a música tem a função de promover a

socialização dos fiéis, de prestar elogios (louvor), adoração ou mesmo de

auxiliar nas manifestações das divindades das quais as pessoas creem.

Também não aprofundaremos esse assunto, pois teríamos muita

informação sobre a música ao longo da história e das religiões nas diferentes

épocas e civilizações.

O objetivo principal é apresentar a função da música também em caráter

de “ligar” as pessoas ao invisível através da fé. Diante disso, é fato é que, sem

a presença da música não é possível pensar em rituais, cultos, reuniões

religiosas, seja qual for à religião.

25

e) Função cultural da música.

Para abordar essa função da música, faz-se necessário fundamentar os

comentários em um conceito específico de cultura.

Também, neste caso, teríamos variadas definições a respeito de cultura.

Porém, para o objetivo a que se propõe esse trabalho, vamos partir do

entendimento de que a cultura é tudo o que “cultivamos”, ou seja,

consideramos como verdade, como certo, como bonito e assim, simplesmente

repassamos uns aos outros, incluindo os costumes, os hábitos, o

conhecimento, as crenças, a arte e etc.

Sendo a música uma forma de arte, a mesma, além de fazer parte da

cultura de um povo, também tem a função direta ou indireta de transmitir a

cultura de uma geração para outra.

Como exemplo disso, podemos citar as músicas folclóricas que, há tanto

tempo vem sido transmitida de pais para filhos dentro de um processo cultural.

Para ilustrar este fato, cito o caso da minha avó materna que, enquanto

costurava em sua máquina, cantava canções populares, pois naquela época o

rádio ainda não era tão comum.

Minha mãe ouvia as músicas enquanto brincava e ajudava minha avó

nos serviços de casa. O resultado desse processo foi a repetição de todo esse

processo quando eu ainda era criança. Apesar de estar em uma época em que

o rádio e a televisão já eram mais comuns, minha mãe contava as histórias que

ouvira de minha avó e repetia as canções todas as canções que tinha

aprendido. Eu as aprendi e hoje, canto para meu filho.

Dirijo-me a você mais uma vez e te pergunto: seus pais ou responsáveis

cantou músicas folclóricas para você? Você conhece alguma canção popular

ou folclórica? Se conhecer, como você as aprendeu?

Ao responder a essas perguntas, você estará resgatando um pouco da

música enquanto cultura.

26

f) Função socioeducativo da música

No caso da função socioeducativo da música, podemos afirmar que a

música em si mesma talvez não tenha o poder de desenvolver o caráter ou

moldar a personalidade de uma pessoa. Todavia, ela pode ser utilizada como

ferramenta para que, por meio dela, seja possível trabalhar outros aspectos

relacionados à personalidade e comportamento das pessoas.

Como já citado em outros capítulos, vejo muitas pessoas que não

entendem direito as funções da música e, portanto, deixam de se beneficiar da

mesma. E no caso da música sendo utilizada como ferramenta de

desenvolvimento social, essa falta de conhecimento pode não produzir o

resultado esperado, se os objetivos não forem claros tanto para as famílias,

assim como para os educadores e educandos.

Durante minha carreira de educador em um dos projetos sociais mais

reconhecidos no Brasil, vejo um grande número de pais e responsáveis que

matriculam seus filhos em cursos de instrumentos, esperando apenas um

resultado artístico, desprezando todo o trabalho agregado a esse trabalho.

Mas também tenho o imenso prazer de presenciar e testemunhar

inúmeras crianças e adolescentes sendo “transformados” pelo caráter

socioeducativo da música.

As maiorias desses alunos tornam-se, não apenas músicos e

instrumentistas, mas principalmente, desenvolvem a atenção, a concentração,

o raciocínio lógico, a socialização, dentro muitos outros aspectos que não são

medidos e apurados.

Também não é o objetivo desse trabalho comentar sobre como esse

processo de desenvolvimento social ocorre. Porém, de forma resumida, torna-

se importante salientar que, em uma aula em grupo com alunos de diferentes

idades e variados níveis de desenvolvimento técnico, tendo a prática musical

como objetivo, aspectos como atenção, concentração, socialização, paciência

e tolerância às diferenças, solidariedade e companheirismo tornam-se

elementos fundamentais e, portanto, passíveis de desenvolvimento.

27

g) Função de meio de vida ou subsistência

Nos dias de hoje não é difícil ver pessoas que tem o “trabalho com a

música” como meio de vida. Não que essa seja uma função direta da música,

mas, diante do frequente uso para essa finalidade, não poderia deixar de

abordar esse aspecto, tendo em vista a forma como a música é utilizada.

Neste caso, como já citado, as pessoas buscam se beneficiar da música

principalmente do ponto de vista financeiro, tendo como objetivo principal obter

renda e lucros por meio do trabalho com a música.

Tal procedimento se dá através da venda de direitos autorais no caso

cos compositores, na venda de CD’s e DVD’s, em shows no caso dos artistas

que obtêm fama através da mídia e meios de comunicação em massa.

Há também aqueles que se beneficiam financeiramente de forma

indireta com a música como os donos de gravadoras, fabrica e loja de

instrumentos musicais, professores de música e atividades relacionadas.

Diante de todas as funções que foram apresentadas aqui para a música,

podemos pensar na música enquanto arte, linguagem e conhecimento.

Assim, vamos discutir nos próximos capítulos sobre essas características: A

arte, a linguagem e o conhecimento.

28

6 - A MÚSICA ENQUANTO ARTE

Assim como já citado no início desse livro, a música é também uma

forma de arte. Porém essa não é única característica da música.

Também nesse caso, poderia apresentar muitos conceitos sobre arte.

Porém vou fazer uso de meus conhecimentos e apresentar a arte como uma

manifestação da cultura produzida em determinados contextos histórico-

sociais, sendo determinada pelo conjunto de relações da sociedade e as

diversas maneiras e formas de manifestações artísticas produzidas durante a

história.

A arte pode ser pensada como um resultado do desenvolvimento social

e cultural do homem, sendo, portanto difícil de encontrar uma definição

permanente. Para fins de discussão, definiremos a arte como um termo que

abrange tudo o que o homem transformou ao longo da história dando a sua

criação um significado para comunicação e expressão.

A arte também pode ser entendida como tudo que o homem fez ao longo

da história relacionada às manifestações de caráter estético ou de

comunicação, tanto na arquitetura, pintura, dança, escultura, cinema como na

música.

Por exemplo, uma pedra que foi transformada em um instrumento foi um

tipo de arte. Um caçador que se pintou como um animal para melhorar suas

técnicas de caça também foi um tipo de arte.

Sabemos por meio de pesquisas que o homem primitivo usava tambores

feitos de cascos e peles de animais. Também se utilizava de ossos para

construção de flautas e tripas para a produção de cordas.

Sendo a música uma forma de arte, desde os tempos mais antigos, o

homem tem utilizando-se do som para comunicar, expressar e fazer algum tipo

de produção artística.

Neste caso, tudo que foi produzido com a música ao longo dos séculos

baseando-se contexto histórico de cada época, tornou um tipo de arte e,

portanto, apresenta o caráter artístico da música.

29

7 - A MÚSICA ENQUANTO CONHECIMENTO

Devo admitir que esse foi um dos temas principais que me motivaram a

escrever esse livro, pois perdi as contas de pessoas que simplesmente

confundem ou não entendem a música enquanto conhecimento.

Sobre o conhecimento, é muito importante destacar que existem

basicamente dois tipos de conhecimento: o teórico e o prático.

Como já citado no capítulo sobre educação musical, denominamos de

conhecimento teórico tudo que conhecemos apenas por meio de estudos

gerais, mas não experimentamos. Já o conhecimento prático diz respeito a

tudo que conhecemos não apenas por ler ou estudar sobre o assunto, mas por

ter experimentado e vivenciado.

Para que você possa entender melhor esse assunto, vamos imaginar

uma pessoa que compra um manual completo de orientações sobre como

aprender a dirigir. Imagine que essa pessoa leia todo o manual e acumule o

máximo de conhecimentos sobre o assunto. Eu te pergunto: essa pessoa

estaria pronta para “pegar no volante” e sair dirigindo?

Claro que não. As informações do manual são importantes, mas o

aprendizado prático somente ocorrerá quando a pessoa vivenciar na prática os

procedimentos.

Com o aprendizado de música não é diferente. Quando pensamos na

música enquanto conhecimento, temos que observar se os conhecimentos que

possuímos sobre a música são teóricos ou práticos.

Vamos a alguns exemplos que presenciei em minha carreira e para isso,

novamente farei uso de nomes fictícios dos personagens, mas tratando de

fatos reais.

EXEMPLO 1:

Marcelo nunca frequentou aulas de educação musical, nem tão pouco

de instrumentos. No entanto, sabe tocar teclado violão, contrabaixo, piano e,

desde pequeno, mostrou muito talento para a música. Mas quando questionado

30

quanto ao som que está fazendo com seus instrumentos, não sabe se trata

basicamente de uma nota ou acorde ou de um acorde menor ou maior.

Também quanto às técnicas especificas de cada instrumento que sabe tocar,

ele não sabe se está na postura correta do corpo, das mãos, dos dedos.

Oque dizer do Marcelo?

Ele possui apenas os conhecimentos práticos da música, os quais lhe

foram transmitidos geneticamente ou por simples observação de outros

músicos e, por esta razão, aprendeu a tocar os instrumentos sem a ajuda de

um professor.

EXEMPLO 2:

Rafael começou a ler livros sobre música ainda quando era adolescente.

Comprou muitas revistas sobre instrumentos, pesquisou na internet sobre as

técnicas instrumentais. Informou-se das variadas características técnicas de

diversos instrumentos musicais e suas origens.

Porém, quando se dedicou ao aprendizado de pelo menos um desses

instrumentos, teve grandes dificuldades para produzir um resultado e, portanto,

sabe tocar apenas alguns acordes de seu velho violão, o qual também copiou

de gráficos que buscou na internet.

Oque dizer do Rafael?

Ele possui muito conhecimento teórico sobre o assunto, mas não

trazia consigo um nível de musicalidade (dom) que o permita aprender sozinho,

sem a ajuda de um professor. Rafael não nasceu com o “dom” e também não

vivenciou o aprendizado da música quando criança, nem tão pouco frequentou

aulas de educação musical.

Apesar de buscar informações na internet, nas revistas ou qualquer

outra fonte, ele apenas leu sobre o assunto. É como alguém que conta uma

história sobre outra pessoa, mas não vivenciou na prática as experiências

contadas.

31

E você que está lendo esse livro agora, o quanto de conhecimentos

teórico e prático você tem sobre a música?

Uma pessoa somente poderá se beneficiar de uma informação, se

transformá-la em conhecimento. E tais conhecimentos somente podem trazer

resultado positivo se forem experimentados na prática.

Não conhecer o manual de procedimentos de um produto, pode resultar

no mau uso do mesmo e também no fato de não se beneficiar de tudo que

esse produto tem para oferecer. Por esta razão decidi compartilhar meus

conhecimentos teóricos e práticos através deste material.

O fato de você não conhecer a música tanto na teoria quanto na prática

pode te impedir de se beneficiar de tudo que ela tem para te oferecer!

E também, possuir o conhecimento teórico e não o colocar em prática,

pode ser comparado a uma pessoa que está presa dentro de sua casa,

caminhando de um lado para outro pedindo socorro, tendo as chaves das

portas em seu bolsou. Ou mesmo uma pessoa sofrendo com fortes de dores de

cabeça, tendo o remédio guardado no armário.

Comece agora mesmo a pensar na quantidade de conhecimento teórico

e prático que você possui sobre a música e como você está se beneficiando

desses conhecimentos!

Lembre-se que a música tão tem apenas caráter artístico ou de recurso

para o sucesso como artista. Possuir conhecimentos teóricos e práticos sobre a

música pode lhe abrir o entendimento e te levar a realizar seus sonhos de tocar

um instrumento musical e ainda trazer muitos outros benefícios.

32

8 - A MÚSICA ENQUANTO LINGUAGEM

Essa talvez seja a principal função da música. É também a função que

mais as pessoas desconhecem.

Quando pensamos em linguagem, pensamos basicamente na seguinte

situação:

Pensando assim, vamos pensar na fonte sonora como sendo o emissor,

no som como código e no ouvinte expectador como receptor.

Você certamente já ouviu falar em pessoas que afirmam simplesmente

não gostar de uma determinada música. A partir de agora, vamos entender o

que leva uma pessoa a pensar e agir dessa maneira e também como isso

acontece.

Para exemplificar, também quero contar uma experiência que tive em

minha carreira de educador musical em projetos sociais, quando resolvi

pesquisar por que certos alunos simplesmente afirmavam não gostar de Funk.

Cheguei à sala de aula e disse que teríamos um momento de

Apreciação (momento de ouvir e buscar sentido a música ouvida). Coloquei a

música “Parabéns para você” cantada por um grupo de pessoas com

acompanhamento de alguns instrumentos.

Alguns alunos me olhavam tentando entender o que eu queria com essa

atitude. Outros simplesmente se deixaram envolver pela música de alguma

maneira, expressando suas emoções através do corpo, enquanto outros

permaneceram quietos.

Após o momento de escuta, propus uma roda de conversa sobre a

música e todos concordaram que a música ouvida tratava-se de uma música

33

conhecida por todos e cantada nos momentos de comemoração dos

aniversários.

Em seguida, coloquei a mesma música, mas desta vez, em ritmo de

Funk.

A reação dos alunos foi realmente surpreendente!

Alguns alunos imediatamente pediram pra desligar dizendo que não

gostava de funk. Outros começaram a encenar alguns movimentos típicos da

dança e virou uma grande discussão sobre o assunto.

Para problematizar ainda mais a situação eu afirmei que gostava de

funk. Um aluno imediatamente se dirigiu até mim e perguntou como eu poderia

gostar de funk, sendo um professor de música!

Com essa experiência, cheguei à conclusão de que a maioria das

pessoas realmente não conhece o significado da música de forma plena e

satisfatória e, portanto, não podem se beneficiar dela.

Antes de discutirmos o assunto, me dirijo mais uma vez a você leitor: e

pergunto: Você gosta de funk?

Retornando a questão da linguagem, é possível dizer que, neste caso,

os alunos traziam consigo diferentes conceitos e preconceitos sobre o ritmo de

funk. Observe que algumas alunas já queriam dançar (de forma insinuante),

pois provavelmente foi assim que ela foi “educada” pela mídia ou por qualquer

outra forma de educação.

Observe também que o aluno que me questionou, estava indignado por

eu gostar de uma “música” dessa, também trazia consigo um conhecimento

suficiente para reprovar meu comportamento.

Não é intenção desse livro, estabelecer julgamento sobre o assunto, pois

cada pessoa é livre para pensar da maneira como quiser.

Porém é importante pensar que a música possui uma linguagem própria,

e que somente poderá ser “decodificada” e entendida por alguém que também

conheça o código.

34

No caso citado acima, vale destacar que o funk é um ritmo como

qualquer outro e que, se comunica por meio de sons com quem está o

apreciando, provocando as mais diferentes sensações. Tudo depende dos

nossos conhecimentos prévios sobre o som.

No caso do funk, observem que a linguagem verbal continuava sendo a

mesma, ou seja, a letra da peça popular “Parabéns pra você”. Mas quando

“juntou-se” a letra com o ritmo, provocou sensações diferentes.

Outro ponto a ser destacado que a música é a arte de mostrar os

sentimentos da alma através do som e não de palavras. Se quiser comunicar

algo às pessoas fazendo uso apenas da linguagem textual ou verbal, utiliza-se

a poesia!

Quando ouvimos uma música cantada, temos duas linguagens sendo

transmitidas ao mesmo tempo: a linguagem verbal e a musical, e quase

sempre a linguagem musical nem é percebida. Para tanto, quero deixar

destacado uma frase que sempre utilizo em minhas palestras:

“A música, enquanto linguagem, não depende necessariamente da ajuda

de outras linguagens para se fazer entender”.

Em muitos casos, a nossa ignorância quanto ao som nos leva a

acrescentar a letra e por conta de uma linguagem poética, simplesmente

desprezamos a linguagem musical.

Em outros casos, o que se faz com a música utilizada como pano de

fundo, também faça com que muitas pessoas associem a música ao fato, como

no caso da menina que começou a dançar de forma insinuante quando ouviu o

ritmo de funk. Ela não se preocupou com a letra, apenas reproduziu o que ela

trazia de significado para o som apresentado.

Quero fazer um desafio ao você que está lendo esse livro agora.

Coloque uma música instrumental para ouvir e comece a prestar atenção em

todos os detalhes. Qual instrumento musical “fala” mais alto, mais grave. Quais

grupos de instrumentos param de “falar” para que outros possam passar sua

“mensagem”. Em que momento se altera a velocidade (andamento) na música.

35

Quais as sensações que a música, aliada aos seus conhecimentos teóricos e

práticos provocou em você.

Faça essa experiência e sinta a música comunicando com você sem a

ajuda da letra.

Não estou afirmando que a partir de agora não se pode utilizar a letra e

a música ao mesmo tempo. Apenas estou chamando a atenção para o fato de

que a música tem uma linguagem própria que, dependendo da situação, pode

ser utilizada para reforçar a linguagem textual, verbal ou visual.

Assim como no caso anterior, quero também chamar a atenção para a

música enquanto linguagem, quando apresentada em forma de trilha sonora.

Pare para pensar qual foi o dia em que, assistindo a um filme de sua

preferência, você refletiu na trilha sonora, ou mesmo tente imaginar um filme

sem a trilha sonora.

Para exemplificar, quero compartilhar com você outra experiência sobre

esse assunto.

Quando o filme Titanic foi lançado, confesso que me apaixonei por ele,

ao ponto de assisti-lo por várias vezes. Porém um dia, resolvi fazer outra

experiência e deliguei o som, passando a prestar atenção apenas para a

linguagem visual, ou seja, apenas as cenas do filme.

Apesar de o filme possuir imagens chocantes, a linguagem visual não

causou o mesmo impacto em relação à quando assisti ao filme com o som

ligado. Essa experiência me fez adquirir o CD da trilha sonora do filme, que

quando ouço, aprecio o “diálogo” dos instrumentos da orquestra que, de acordo

com cada cena, passa sua mensagem.

Apesar do resultado dessa experiência parecer óbvio, gostaria de

chamar sua atenção para o fato de que quando você assiste a um filme,

existem três linguagens diferentes comunicando com você: a linguagem

verbal na fala dos personagens, a linguagem visual, nas cenas de cada

capítulo e a linguagem musical, nas trilhas sonoras escolhidas para cada

cena.

36

À exemplo da primeira sugestão, também gostaria que fizesse a

experiência de assistir a um filme, percebendo a música escolhida para cada

cena. Perceba que, mesmo se fechar os olhos, ou seja, cortar o contato com a

linguagem visual, mesmo assim a música continuará a “dialogar” com você

através dos ouvidos. Pois a música tem o poder de se comunicar com sua

alma, provocando diferentes sensações.

A partir de agora, quando ouvir música, comesse a prestar atenção na

música enquanto linguagem e o que ela comunica com você.

Se mesmo assim, você não conseguir estabelecer um diálogo como a

música, talvez esteja lhe faltando um pouco de “educação” musical, para

entender o “código” desse processo de comunicação.

Neste caso, busque ajuda de um bom profissional e comesse a desfrutar

de tudo que a música tem para lhe oferecer enquanto linguagem.

Mas lembre-se, enquanto seres aprendizes, passamos por fases de

desenvolvimentos propícios a aprendizados diferenciados. Por essa razão,

quanto mais cedo você começar, melhores serão os resultados obtidos.

Boas “conversas”!

37

9 - PORQUE A MÚSICA É UM DOM?

Nos capítulos anteriores, foram apresentadas informações gerais e

especificas sobre a música e suas funções, como também sobre a educação

musical. Agora, vamos entender porque a música é considerada um dom?

Mas antes de buscarmos resposta para essa pergunta, temos primeiro de ter

conhecimento sobre o que é “dom”.

De acordo com o dicionário da língua portuguesa, a palavra Dom

significa:

1 Donativo; dádiva; benefício.

2 Prenda, talento, dote natural.

3 Título honorífico que em Portugal se dava aos membros da família real e da antiga nobreza e a

certas categorias religiosas.

Fonte: http://www.dicionariodoaurelio.com/dom

Como você já deve ter percebido, “Dom” significa nada mais, nada

menos que algo que você possui naturalmente. E se você possui, pressupõe-

se que alguém de te deu, certo?

Se você nasceu com esse “Donativo”, “dádiva”, “benefício”, “prenda”,

“talento”, “dote natural” ou como você quiser interpretar, é porque você foi

realmente presenteado com isso!

As pessoas que tem “dom” para a música simplesmente “fazem música”

sem ter nenhum conhecimento teórico a respeito.

Essa é a resposta para a pergunta clássica: Como “fulano” ou “ciclano”

aprendeu tocar um instrumento sozinho?

A criança quando nasce, traz consigo uma “herança genética” que a

permite reconhecer e identificar as características do som, desde seus

primeiros contatos com o mundo. E, tendo esse “dom”, no decorrer de sua vida,

aprende a “tocar” qualquer instrumento que quiser, mesmo sem nunca ter

estudado ou ido a uma instituição de ensino.

E como isso acontece?

38

Devido ao fato desse indivíduo possuir conhecimentos musicais práticos,

mesmo sem ter conhecimento desse fato, quando entra em contato com um

instrumento musical, passa a fazer combinações de movimentos e ações que,

quando acertadas, produz um som agradável e, portanto, correto do ponto de

vista musical.

Não importa qual seja o instrumento musical: cordas, teclas, furos,

enfim. A pessoa vai fazendo testes e combinando os sons, a ponto de

simplesmente “tocar”, mesmo sem saber o nome da nota ou acorde que está

tocando.

E aí vem outra pergunta: Quem diz se está certo ou errado?

Essa é a grande curiosidade!

Basta imaginar que, uma pessoa que já tenha nascido com o “Dom” para

a música, tenha dentro de si um “professor” dizendo: Essa combinação está

certa, ou esta combinação está errada.

É basicamente isso que acontece!

Uma pessoa musicalizada já tem a música dentro dela e, quando em

contato com um instrumento musical, penas passa a fazer combinações de

movimentos que simplesmente “tira” para fora a música já existente dentro de

si.

Eu sei que parece injusto que alguns tenham “dom” para música e que

outros não tenham o mesmo “dom”. Porém o que você vai ler no próximo

capítulo poderá mudar sua vida para sempre!

Se você acredita que não tem o “dom”, ou se você até hoje acreditou na

falsa afirmação de quem não tem “dom” tem que se acostumar com a ideia de

nunca poderá realizar seu sonho.

Isso definitivamente não é verdade!

Para entender um pouco sobre a razão que levou um número grande de

pessoas a pensar assim, precisaremos entender um pouco como isso

aconteceu.

39

A crença de que a música é apenas para quem tem talento natural ou

dom é resultado de uma cultura de gerações anteriores de que música é uma

prática destinada apenas às pessoas “dotadas” de um talento especial, o que

normalmente se chama de dom para a música.

Também já houve uma época em que quem estudava música eram

apenas pessoas que possuíam boas condições financeiras e, sendo assim, a

grande maioria das pessoas não tinham acesso a esse tipo de ensino e

educação. Então quem estudava música era apenas quem tinha condições

financeiras de pagar uma escola, conservatório ou professor particular. Tornou-

se, portanto, uma questão de status social.

Outro caso que chama atenção sobre esse assunto é o de pessoas que

gastaram cinco anos de suas vidas em um curso de violão clássico ou dez

anos em curso de piano. Em muitos desses casos, essas pessoas que fizeram

esses cursos, faziam um estudo do instrumento descontextualizado da música.

E isso mesmo que você leu! Muitas pessoas estudavam a notação

musical e as técnicas instrumentais sem se preocupar com os conhecimentos

de música. Ou seja, o estudo de instrumento estava sempre associado ao

longo tempos de treinamento e a repetição de exercícios cansativos, buscando

apenas um resultado puramente artístico.

Nestes casos, o resultado musical era proveniente da leitura e repetição

da partitura. E em muitos casos, as pessoas que se formavam, deixavam de

tocar e posteriormente nem se quer “pegavam” nos seus instrumentos.

Foi assim que muitas pessoas se decepcionaram, pensando na música

de maneira errada e, acreditando que não poderia ter condição de se beneficiar

da música de outra forma.

Nos dias de hoje, podemos dizer que o estudo de música e de

instrumentos musicais se tornou mais popular. A própria legislação brasileira

vem favorecendo esse processo, tendo em vista que em 2008 o estudo de

música tornou-se obrigatório em toda a educação básica, mesmo que, ainda

vinculada ao estudo de artes.

40

Grandes avanços também já foram conquistados com a abertura de

novos cursos de educação musical em universidades públicas e particulares.

Outro ponto a ser destacado é o surgimento de ONG’s e Projetos sociais

que utilizam a música como ferramenta de desenvolvimento social.

Voltando a comentar sobre o fato de a música ser um dom, agora que

você já deve ter entendido o motivo de tanta gente pensar de forma tão errada

acerca da música, quero afirmar com toda certeza que seu sonho pode se

realizar e você pode se beneficiar plenamente da música, descobrindo

verdadeiramente o que ela pode fazer por você!

Para isso, sugiro que preste atenção em cada informação passada a

seguir e comesse a sentir que seu sonho vai se realizar, desde que comesse

pelo caminho certo, conhecendo e aprendendo primeiro a música, para depois

conhecer e aprender o instrumento musical de sua preferência.

Lembre-se que o instrumento musical não faz música sozinho! Ele é

apenas (como o próprio nome sugere) o instrumento. Quem faz a música é a

pessoa que toca um o instrumento.

E agora responda sinceramente: Como fazer algo que não se conhece?

Em minhas pesquisas, verifiquei que a grande maioria das pessoas que

me procuraram para aprender a tocar um instrumento musical ou cantar, não

tinham conhecimentos musicais práticos suficientes para que pudessem

aprender as técnicas do instrumento.

Esse é o grande segredo revelado:

E agora, diante de todas essas informações sobre o significado de dom

e sua relação com a música, pergunto a você que está lendo esse livro agora:

Você tem dom para a música?

Se diante de tudo que você leu, você não sabe se tem ou não tem o

dom, procure um educador musical e faça um teste de sua musicalidade.

Se você sabe que não tem o dom e ainda acreditava que nunca iria

poder realizar o seu sonho, também procure a ajuda de um profissional e

41

comece agora mesmo o seu curso de musicalização e desenvolva o seu

talento para a música, pois mesmo as pessoas que não nasceram dotadas

desse “dom” natural podem despertá-lo e desenvolvê-lo por meio de técnicas e

procedimentos específicos chamada de Musicalização.

No próximo capítulo, mostraremos o caminho para saber se você tem ou

não tem dom para a música.

42

10 – COMO SABER SE TENHO DOM PARA A MÚSICA?

Confesso que já perdi a conta de quantas vezes ouvi essa pergunta.

Além das outras razões que me levou a escrever esse livro, essa foi uma das

principais.

Nesse livro, foi apresentado a você o significado da música e da

educação musical, abordando a música enquanto arte, linguagem e

conhecimento.

Também foi apresentado o significado de dom e a forma errada que a

grande maioria das pessoas interpreta a música, impedindo-as de se beneficiar

do caráter recreativo e socioeducativo da música.

Agora, chegou o grande momento de descobrir se de você tem ou não

tem talento para a música!

Mas antes de apresentarmos alguns procedimentos, torna-se importante

destacar que, as orientações que apresento aqui são resultados de minhas

experiências com diversos alunos de diferentes idades ao longo de mais de 10

anos de trabalho, não apenas com a música, mas com educação musical e

instrumentos.

Acredito que existem outras formas de verificação e até profissionais

quem afirmem que não é possível descobrir ou medir o nível de musicalidade

de uma pessoa.

Todavia, posso garantir que quando uma pessoa possui um nível de

conhecimento musical significativo, o aprendizado do instrumento fica muito

mais fácil.

Para exemplificar, fiz uma pesquisa com dois alunos. Na primeira aula,

pedia para fazer o Teste de Musicalidade com eles e constatei que o aluno A

possuía um excelente nível de musicalidade enquanto o aluno B nem se

sequer sabia o que era uma nota musical. Após o teste, ambos os alunos

fizeram o mesmo curso de violão comigo, utilizando a mesma metodologia.

43

Como resultado dessa pesquisa, constatei que o aluno A (que possuía

conhecimentos musicais práticos – Dom) conclui o curso em 6 meses. Já o

aluno B, que não possuía os conhecimentos musicais práticos, levou 14 meses

para concluir o curso.

A partir do resultado apresentado, é possível perceber que a grande

razão que levam as pessoas a desistirem de tocar um instrumento é a ausência

de percepção musical e não simplesmente as dificuldades particulares de cada

instrumento musical.

Agora, você imagina uma pessoa que não tenha conhecimentos

musicais práticos e começa a aprender a tocar um instrumento. Essa pessoa

soma as dificuldades já existentes com as dificuldades do instrumento musical

que pretende aprender.

Então, como saber se você tem ou não tem dom para a música?

Em primeiro lugar, você tem de verificar os seus conhecimentos teóricos

sobre o som e para lhe ajudar nesse processo, apresentei a você as

características do som no capítulo 3 deste livro – Entendendo a música. Se

você ler com atenção todas as informações, você já terá cumprindo uma parte

do procedimento.

Em seguida, você terá que ser submetido às avaliações práticas a fim

de avaliar o seu nível de percepção musical do ponto de vista rítmico, melódico

e harmônico.

Para isso, deixo a sugestão que procure um educador musical de

confiança e veja se ele pode fazer isso por você. Porém, lembre-se também

que nem todo músico é educador. Quando procurar alguém a fim de verificar

se você tem dom para a música, procure um profissional com experiência em

educação musical e, de preferência que tenha formação na área de educação

musical ou música.

Outra dica interessante que é faça uma verificação de haver em sua

família pessoas que tem ou tiveram dom para música, sejam amadores ou

profissionais. Vale lembrar que isso não é uma regra. Existem casos de

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pessoas que não tem ninguém na família que tenha tocado instrumento

musical ou cantado e nasceu com o “dom”. E existem outros casos de pessoas

que tem muita gente “musicalizada” na família e essa pessoa não tenha

nascido com o dom. Estamos apenas tratando de possibilidades.

Se você deseja realmente desenvolver a capacidade de perceber as

características do com e identifica-las, saiba que terá muitos desafios pela

frente. Assim como alguém que deseja desenvolver a musculatura, deve

procurar um profissional de educação física e iniciar um plano de treinamento

seguindo passo a passo as orientações. Assim também quem deseja

desenvolver sua musicalidade, deverá procurar um profissional de educação

musical e iniciar um plano de treinamento da percepção musical.

Mas lembre-se que se trata de treinamento e para isso, exige certo

esforço de sua parte. Portanto, se você começar o treinamento e nos primeiros

desafios encontrados, você já pensar em desistir, seu sonho de ter seu ouvido

desenvolvido, nunca será realizado.

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Otoniel Vianna

Educador e Consultor musical, Professor

de música e instrumentos, Palestrante e

especialista em Música na Educação.

Formado em Educação Musical pela

(UFSCar) Universidade Federal de São

Carlos, com mais de 15 anos de

experiência em aulas particulares e

coletivas.

Participou de diversos minicursos e Workshops

direcionados a Pedagogia Musical, dentre esses se se

destacam os cursos de Performance e Pedagogia Musical,

ministrado pelo consagrado violonista Giácomo Bartoloni

em 2008. Curso de Regência e Formação de Grupos

Musicais com o Maestro Dário Sotelo em 2010, e

Workshop com o renomado educador musical

internacional Keith Swanwick.

Vem se dedicando profundamente a Pedagogia e

educação musical desde 2002. Com o objetivo de

aproveitar toda a sua experiência como professor de

música e instrumentos traz em 2015 o grande

lançamento do ano que irá mudar completamente sua

maneira de pensar e entender a música descobrindo

todos os benefícios que a música pode trazer pra você.