apostila - introduÇÃo À psicanÁlise

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1. A Origem da Psicanálise No ano de 1995, a Psicanálise completou um século como a ciência do Inconsciente. Apesar de não ser uma ciência no sentido cartesiano, trata-se de um método de pesquisa e de tratamento dos transtornos psíquicos. A psicanálise inicia o seu curso, fundamentada na Neuropatologia e gradativamente aprimora os seus conhecimentos com a participação dos psicanalistas. Inicialmente, nas suas pesquisas, Freud (1895) percebeu que a maioria dos pacientes apresentava distúrbios e queixas de natureza histérica. Relacionados há sentimentos reprimidos com origem nas experiências sexuais perturbadoras. Deste modo formulou a hipótese de que a ansiedade manifestava-se nos sintomas, conseqüência da energia da libido, de transtornos ligado à sexualidade. Dessa forma, a energia reprimida expressava-se por meio de vários sintomas, de modo inconsciente devido à repressão, como um mecanismo de defesa psicológica. Assim surge a Psicanálise, como o objetivo de tratar os processos mentais inconscientes e ocupar-se do desequilíbrio mental. Uma teoria que trabalha a estrutura e o funcionamento da mente humana, por meio de um método de análise do comportamento. Percebida como uma ciência, uma doutrina e uma filosofia, a psicanálise é também um método terapêutico para tratar das doenças de natureza psicológica sem motivação orgânica. A partir da prática clínica de Josef Breuer (1842 – 1925) e de Sigmund Freud (1856 -1939) ocorrem à valorização, o aperfeiçoamento da técnica e o reconhecimento público e científico. Segundo Freud (1895) a psicanálise é um método terapêutico utilizado para tratar os distúrbios psíquicos a partir da investigação do inconsciente. Para desenvolvê-la fundamenta-se na teoria de Breuer (1895) no pensamento filosófico de Platão (428/27 - 347 a.C.), de Arthur Schopenhauer (1788 -1860) e na sua experiência profissional. A teoria possui um corpo doutrinário de conhecimentos, como a estrutura tripartite da mente, as suas funções, os tipos de personalidade, a teoria do inconsciente, o método terapêutico da catarse e toda a filosofia pessimista da natureza humana. Sendo que, os dilemas são processos subconscientes que permitem a mente

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1. A Origem da Psicanálise

No ano de 1995, a Psicanálise completou um século como a ciência do Inconsciente. Apesar de não ser uma ciência no sentido cartesiano, trata-se de um método de pesquisa e de tratamento dos transtornos psíquicos. A psicanálise inicia o seu curso, fundamentada na Neuropatologia e gradativamente aprimora os seus conhecimentos com a participação dos psicanalistas.

Inicialmente, nas suas pesquisas, Freud (1895) percebeu que a maioria dos pacientes apresentava distúrbios e queixas de natureza histérica. Relacionados há sentimentos reprimidos com origem nas experiências sexuais perturbadoras. Deste modo formulou a hipótese de que a ansiedade manifestava-se nos sintomas, conseqüência da energia da libido, de transtornos ligado à sexualidade. Dessa forma, a energia reprimida expressava-se por meio de vários sintomas, de modo inconsciente devido à repressão, como um mecanismo de defesa psicológica.

Assim surge a Psicanálise, como o objetivo de tratar os processos mentais inconscientes e ocupar-se do desequilíbrio mental. Uma teoria que trabalha a estrutura e o funcionamento da mente humana, por meio de um método de análise do comportamento. Percebida como uma ciência, uma doutrina e uma filosofia, a psicanálise é também um método terapêutico para tratar das doenças de natureza psicológica sem motivação orgânica. A partir da prática clínica de Josef Breuer (1842 – 1925) e de Sigmund Freud (1856 -1939) ocorrem à valorização, o aperfeiçoamento da técnica e o reconhecimento público e científico.

Segundo Freud (1895) a psicanálise é um método terapêutico utilizado para tratar os distúrbios psíquicos a partir da investigação do inconsciente. Para desenvolvê-la fundamenta-se na teoria de Breuer (1895) no pensamento filosófico de Platão (428/27 - 347 a.C.), de Arthur Schopenhauer (1788 -1860) e na sua experiência profissional. A teoria possui um corpo doutrinário de conhecimentos, como a estrutura tripartite da mente, as suas funções, os tipos de personalidade, a teoria do inconsciente, o método terapêutico da catarse e toda a filosofia pessimista da natureza humana. Sendo que, os dilemas são processos subconscientes que permitem a mente encontrar uma solução para os conflitos ao nível da consciência.

Na clinica Freud (1895) utilizava o método de Breuer (1895) que provêm do procedimento catártico, resultado dos estudos sobre a histeria. O método psicanalítico se expressa em diferentes fórmulas, que na sua essência são equivalentes. O objetivo do tratamento consiste em eliminar as amnésias. Desta forma "preenchidas todas as lacunas da memória, esclarecidos todos os efeitos enigmáticos da vida psíquica, tornam-se impossíveis à continuação e mesmo a reprodução da doença." (Pereira) . Para que isso ocorra todos os recalques devem ser desfeitos. Os processos anímicos são afetivos e manifestam-se por meio do corpo, com sutileza. Assim, o estado psíquico passa a ser idêntico àquele em que todas as amnésias foram preenchidas. Ao superar as resistências é possível tornar o inconsciente acessível à consciência, restaurando a sua capacidade de viver.

Na sua obra, Freud (1895) toma como referência as obras de Platão (428/27 - 347 a.C.), pois este foi o primeiro filósofo a escrever sobre os Diálogos Socráticos no intuito de tratar das idéias morais. Sócrates praticou a filosofia como pensamento falado, nunca como exercício de escrita. Dessa forma o pensamento platônico manifesta-se como fonte de renascimento cultural e social. Embora retomar estas idéias pareça um pouco

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distante do interesse psicanalítico, torna-se necessário recorrer à Grécia do século V a.C. Conhecer à sua educação, à política, os hábitos e costumes dos gregos na antigüidade para chegar há contemporaneidade.

Verifica-se dessa forma, que a dialética Socrática era uma técnica pedagógica e sem dúvida, à busca da virtude, do conhecimento de si mesmo. Fundamentada nesta idéia, a noção de maiêutica se relaciona com a idéia de saúde, pois de certa forma "a técnica dialética era um farmacon e em conseqüência, uma forma de cura" (Tersis & Bron) Por esta razão, não seria correto reduzir o conceito apenas ao aspecto pedagógico, pois existem finalidades mais específicas.

No livro de Will Durant (1996), História da Filosofia, Vida e idéia dos grandes filósofos. O autor salienta que Platão antecipou a psicanálise e aponta um grave problema no estudo da psicologia política, devido à carência de pesquisas quanto aos sonhos, os vários apetites e os instintos humanos com relação ao contexto. Nos estudos Platão (428/27 - 347 a.C.) divide a motivação das ações humanas em três fontes principais: o desejo, a emoção e o conhecimento. E conclui que o desejo, o apetite, o impulso, o instinto constituem a emoção, o entusiasmo, a ambição, a coragem, e constituem a outra fonte: o conhecimento, o pensamento, a inteligência, a razão. Nessas três fontes principais residem à conexão e a tensão entre a psicanálise e a filosofia. De um lado, o desejo, aquecido pela emoção que impulsiona a nossa vida, e do outro, a razão, que coloca freios aos nossos impulsos, instintos, ambições e entusiasmos. Para a psicanálise, os atos humanos ficam a mercê do inconsciente, algo que desconhecemos totalmente, e que acessamos por meio dos nossos sonhos ou da livre associação de idéias de acordo com o desejo.

Inspirado no pensamento metafísico de Schopenhauer (1788 – 1860) de que a vontade não se manifesta como um princípio racional, mas que se trata de um impulso cego manifesto pelo desejo de preservação. De que a consciência atua com superficialidade, encobrindo a irracionalidade. Que o prazer consiste na supressão momentânea da dor, o influenciaram a fundamentar sua teoria. Dessa forma Freud (1895) afirma que "o comportamento humano obedece ao instinto sexual e ao instinto de conservação e que os motivos sexuais, se não são claros, estão sublimados em um motivo aparente." (Cobra 2003) Para ele, tudo era libidinoso e provinha de algum trauma de ordem sexual.

Os afetos influenciam nas patologias e nas manifestações físicas. Devido a isso, a psicanálise supõe a existência de forças mentais que se opõem umas às outras e que batalham entre si. Freud (1895) utilizou essa expressão pela primeira vez quando falou das neuroses e nas psicoses de defesa. Na época, o mundo não se surpreendeu com a tese de que o sexo domina o inconsciente, pois percebeu que a vida transcorre em torno destes interesses. A novidade foi percebida pela sociedade em geral com grande espanto e excitação, pela coragem e a ousadia em tornar público uma questão tão íntima. A partir disso, discutir a sexualidade de forma científica, analisar as narrativas clínicas passa a ser um grande desafio social.

A Inglaterra, na era vitoriana, permitiu-se que a sexualidade fosse discutida na sociedade sem restrições morais. A sublimação era discutida em todos os ambientes, inclusive nos conventos, pois estava subjacente a todos os interesses humanos. Na obra "O Mal estar na civilização", Freud (1930), afirma: "a sublimação das pulsões constitui um dos traços que mais sobressaem do desenvolvimento cultural; é ela que permite as atividades psíquicas elevadas, científicas, artísticas ou ideológicas, desempenhando um papel bastante importante na vida dos seres civilizados." Essa permeabilidade subjetiva

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confunde-se com a profundidade científica. Mesmo assim, a teoria fora levada há discussão e aplicada na sociedade. Desta forma explica-se a popularidade da psicanálise. A contribuição da psicanálise para o conhecimento humano é inegável. O choque moral inicialmente provocado pelas idéias de Freud (1895) serviu para que a humanidade rompesse seus tabus e preconceitos na compreensão da sexualidade. Desta forma, a psicanálise trata-se de uma ciência contemporânea que estuda de forma aleatória a alma, a mente do ser humano fundamentada em seus relatos.

1.2 A Ascensão da Psicanálise

A psicanálise surge com Sigmund Freud, um psicanalista que buscava um tratamento efetivo para pacientes com sintomas neuróticos ou histéricos. Freud (1895) afirmava que a neurose era causada pelas lembranças reprimidas de grande intensidade emocional. Para o tratamento da histeria sugeria a hipnose, um método questionável, sem interferência da pessoa no processo terapêutico de modo consciente. Sendo assim, após algum tempo os sintomas voltavam a manifestar-se.

Sem muito sucesso, abandona a hipnose e o foco do tratamento recai na resistência do paciente. Dessa forma a ênfase se dá sobre os mecanismos de exclusão dos conteúdos psíquicos da consciência. Assim o recalque preenche as lacunas da memória do analisando, no intuito de superar as resistências. Freud (1914) ao aprofundar as suas pesquisas em torno do funcionamento dos conteúdos recalcados, como recordar, repetir e elaborar, constata que tudo aquilo que o paciente resiste em recordar expressa-se pela atuação, de forma consciente ou inconsciente.

O sucesso do método da Psicanálise, caracteriza-se pela interpretação da transferência, da resistência a associação livre. Segundo o autor "a transferência é ambivalente, ela abrange atitudes positivas (de afeição), bem como atitudes negativas (hostis) para com o analista, que via de regra, é colocado no lugar de um outro dos pais do paciente, de seu pai ou de sua mãe." (Freud 1940/80 p.202) Para isso alerta, que o analista deve tomar cuidado para não se transformar numa espécie de modelo ou de professor (a) para o (a) paciente, devido a transferência.

Na sua avaliação confirmava as vantagens da transferência. "O analista fica no lugar das imagens parentais e tem a concessão do poder que o superego exerce sobre o ego. Sendo que, pois os próprios pais é que oportunizam a origem ao superego." (Lourenço, 2005 p. 144) Representando os pais, o analista tem a oportunidade de dialogar com o paciente e resolver os problemas do passado. Dessa forma, Freud (1912) afirmava que a transferência era apenas um fragmento da repetição e esta, uma transferência do passado esquecido para os aspectos da situação atual. Percebe-se que a transferência constitui-se numa ligação emocional desenvolvida inconscientemente pelo paciente em relação ao analista. Segundo suas orientações, se durante o tratamento o (a) paciente manifestar tendência a compulsão e a repetição com a transferência e a resistência, o analista deve assumir o lugar dos pais, colocar-se na época em que ocorreu o trauma e procurar resolver o problema. Dessa forma, um conflito infantil pode ser resolvido por meio da terapia e a transferência utilizada como uma ferramenta eficaz no tratamento terapêutico.

Na sua concepção, Freud (1895) acreditava que os problemas se originavam da libido, devido a inaceitação cultural. Desta forma os pacientes reprimiam os seus desejos inconscientes e as suas fantasias de natureza sexual, sofrendo muito. Assim, percebe-se que "a histeria está ligada a processos psíquicos." (Flores, 2002) Atualmente, suas

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manifestações se mesclam com outros tipos de disturbios. A questão sexual encontra-se bastante evoluída socialmente e amparada por Lei.

Sem dúvida, a visão de Freud (1895) trouxe avanços significativos nos estudos sobre a mente humana. Os quais podem ser observados até hoje na cura das fobias, dos traumas, dos medos, na melhora do estado emocional. Além de outras contribuições aos mecanismos e aos problemas derivados do cérebro. Percebe-se desta forma, que não adianta tratar um órgão comprometido, sem descentralizar o trauma no cérebro, pois realmente existe a influência do anímico e do emocional. O processo sintomático e terapêutico compreende a experiência emocional, o recalque, o esquecimento, a neurose, a análise pela livre associação, a recordação, a transferência, a descarga emocional para se alcançar a cura.

O método de Freud (1895) consiste na cura pela palavra, onde o (a) paciente manifesta os conteúdos inconscientes reprimidos. Obtidos pelo método da livre associação inspirado nos atos falhados ou sintomáticos, em substituição à hipnose. Identificados também, por meio da interpretação dos sonhos, no conteúdo manifesto e no conteúdo latente. Na sua teoria ignorava a atratividade do paciente sobre o terapeuta. Um problema que se manifesta nas experiências desenvolvidas por Breuer (1980), quando se envolve sentimentalmente pela paciente Bertha Pappenheim . Na experiência descobre que pelo método da catarse, amenizava os sintomas da histeria.

Desta forma percebe-se que ao longo do tempo, o analisado, fora induzido a falar sobre tudo aquilo que lhe viesse à mente. Sobre os seus conflitos, os sonhos, os desejos e as fantasias. Assim como as experiências vividas nos primeiros anos de vida. Geralmente, o analista o escuta, faz algumas perguntas quando necessário, de forma que o paciente consiga tornar consciente os conteúdos reprimidos, a partir das suas associações. Nessa escuta, o analista procura manter uma atitude de neutralidade, sem julgamentos no intuito de criar um ambiente de segurança.

Atualmente devido a complexidade do sistema, os tempos e os espaços mudaram. O paciente vem ao consultório em busca de ajuda, para que a sua vida como um todo melhore, pois o pensar e o agir do ser humano modifica-se concomitantemente com o contexto. Portanto, a formação do psicanalista não pode mais ser do tipo ortodoxo. Voltado apenas a pontos específicos, há necessidade de modificações no seu perfil e no processo psicanalítico.

2. A Evolução da Teoria Psicanalítica

A Psicanálise constitui-se como uma ciência interessada no aprimoramento do homem. A diversidade de pressupostos teóricos que orientam as diferentes maneiras de definir a natureza do objeto para construir as variáveis; escolher os critérios de discriminação das categorias, os seus indicadores; estabelecer os parâmetros para classificar as observações, a sua medida, dificulta o reconhecimento de afinidades entre os vários fatores da esfera da psique.

No entanto, estamos diante de fenômenos imprecisos (Moles, 1995), de algo vago por essência. Do comportamento humano, da relação entre os tipos de personalidade e os métodos de terapia psicanalítica no intuito de encontrar uma maneira para resolver os conflitos do ser humano. Diante do eterno dilema existencial entre o ser o ter. Da idéia de que os traços da personalidade são moderadores das emoções, características empregadas na descrição dos tipos psicológicos.

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No entanto, além de conhecer os pressupostos teóricos, a função do psicanalista consiste em escutar o paciente. Perceber o seu mundo, auxiliar no processo de adaptação e inserção social. De forma que consiga viver e conviver com autonomia e dignidade. Para isso necessita ter o conhecimento da teoria e da prática psicanalítica de modos a colaborar no processo re-educativo. O qual requer uma série de conhecimentos indispensáveis para a análise e a cura do (a) paciente.

Nesse estudo, convêm salientar alguns dados históricos para facilitar a compreensão do mesmo. O termo neurose foi criado pelo médico escocês William Cullen em 1769, identificado como a desordem dos sentidos e movimentos, causadas pelos efeitos gerais do sistema nervoso. Sigmund Freud (1895) atribuía a sua causa, as emoções negativas de uma experiência passada, causando sentimentos que impediam a ação e a reação, constituindo-se numa neurose, interferindo na experiência presente, impedindo a pessoa de agir e reagir diante das adversidades da vida.

A neurose deriva de duas palavras gregas: neuron (nervo) e osis (condição doente ou anormal). Na teoria psicanalítica, percebe-se a neurose como um medo crônico, uma incapacidade de superar-se. Em grande parte, devido a falta de habilidades e competências para lidar com as situações da vida e o sucesso. Se tomar como exemplo, alguém que foi atacado por um cachorro quando criança, apresenta um verdadeiro pânico com relação aos mesmos. Um sintoma característico da neurose, uma fixação de forma inconsciente, sem fuga da realidade. Diferente da psicose, onde o sujeito apresenta verdadeiros delírios, mesmo sem nunca ter visto o animal.

Ao analisar as fobias, Freud (1895) reconheceu que algumas são simbólicas e expressam um medo reprimido, passíveis de investigação e acompanhamento psicanalítico. Ao longo da sua vida instigou o homem a "compreender-se, a sair da hipocrisia e da ignorância em que vivia até o século XIX. (Brum 2003, p.115 ) Na qual afirma que o homem entra em conflito consigo mesmo, devido a repressão que sofre com relação ao objeto do desejo.

A seguir, se descreve uma síntese das idéias dos autores, os seus métodos. No entanto, os conceitos que enunciam os fenômenos da esfera da psique dada sua imprecisão, não podem ser satisfatoriamente expressos em uma linguagem de variáveis, pois os seres humanos são distintos. O processo de redução inerente aos métodos inspirados apenas em Freud (1895) compromete a compreensão do fenômeno. Nos diversos campos do conhecimento a construção de um novo paradigma tem sido apresentada como alternativa para a investigação de fenômenos complexos. Têm inspirado propostas terapêuticas baseadas numa abordagem psicossomática, que visa ajudar os pacientes a identificar e a resolver os problemas emocionais que estão na raiz das enfermidades.

2.1 Sigmund Freud

Durante o início dos seus estudos sobre a neurose, Freud (1895) estabelece uma parceria intelectual com Breuer, da qual surgem os estudos sobre a histeria. O encerramento precoce do tratamento de Anna O acontece devido ao choque produzido no psicanalista pela manifestação da transferência e da contratransferência que assustam Breuer (1895) e o levam a abandonar o caso.

Devido a isso, surgem na sua obra conceitos como a transferência, cujo conteúdo é sempre sexual, não peculiar a outro tratamento, mas a própria neurose. Dessa forma, o sentimento transferencial encontra-se pronto, aguardando a oportunidade para se dirigir à figura do psicanalista, o qual por sua vez ocupa o lugar de algum personagem

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importante na história do paciente. Segundo Freud (1912) a dinâmica da transferência tem a ver com a junção dos acidentes da historia individual, a qual é repetida constantemente na sua vida, numa fixação nesses protótipos afetivos. Concomitantemente ao aparecimento da noção de transferência, firma-se a psicanálise. Na qual Freud (1912) fala da sua dinâmica, do jogo de seduções e dos embaraços que ela desencadeia no tratamento, para isso o psicanalista precisa estar emocionalmente preparado.

Dessa forma, Freud (1940) busca na cultura Grega, a inspiração para desenvolver a sua teoria. Percebe na alma de Platão, a correspondência do Id, do Superego e do Ego com as partes da mente, na qual busca as funções físicas para as partes da mente. Atribui ao Id o princípio do prazer, que tem como função descarregar as tensões biológicas. Ao ego designa a razão, o existir e ao superego a parte punitiva, a moral. Desta forma, compete ao analista induzir o processo de recuperação do psiquismo no intuito de devolver ao ser a normalidade. O (a) paciente em tratamento precisa re-adquirir a maturidade e compreender a sua consciência. A qual forma-se em três camadas específicas e cada uma tem a sua função específica.

Segundo o autor, o ego, ao sofrer a pressão do superego, mas ciente das suas atribuições nega os instintos do id. Dessa forma a repressão age "sob a forma de algum sintoma neurótico, como a ansiedade, o embaraço ou o esquecimento" (Rollo May, 1996, p.16) manifestando uma neurose ou alguma forma de psicose. O Id corresponde à alma concupiscente, do esquema platônico: "é a reserva inconsciente dos desejos e impulsos de origem genética". (cobra 2003) As suas funções se voltam para a preservação e a propagação da vida. A função do Ego consiste em lidar com a complexidade, racionalizar em favor do Id, mas é governado pelo princípio de realidade. Onde satisfaz o id sem transgredir o superego.

A terceira camada mental identifica-se como o superego que se desenvolve no período da latência . O responsável pela vigilância moral. Atua de forma inconsciente, faz a censura dos impulsos que a sociedade e a cultura atribuem ao Id, impedindo o indivíduo de satisfazer plenamente os seus instintos e desejos. Manifesta-se á consciência indiretamente, sob a forma da moral, "como um conjunto de interdições e de deveres, e por meio da educação, pela produção da imagem do Eu ideal", (Cobra 2003) Trata-se de um órgão de repressão que procura a virtude.

Nessa dinâmica a obra de Freud torna-se imortal, pois procura interpretar os traumas e aponta alternativas terapêuticas. Instiga a pesquisa em torno dos conteúdos recalcados, das resistências, enfim dos mecanismos de defesa e a possibilidade de superação por meio da análise.

2.2 Josef Breuer

Breuer (1890) ao desenvolver suas pesquisas nos processos psíquicos da etiologia e natureza dos estados histéricos e neuróticos chega as seguintes conclusões. Os sintomas histéricos representam há expressão significativa dos fatos traumáticos, constituindo os resíduos mnêmicos de tais experiências. Da repressão da emoção ocorrem mudanças anormais, que resultam em sintomas histéricos, patológicos, convertendo-se em enervações ou inibições. Segundo o autor, a cura dos sintomas somente poderia ocorrer por meio da exteriorização dos fatos traumáticos, pela eclosão ou purga psíquica, a qual chamou de Katarsis. Para a qual indicava a hipnose. De modos que, para alcançá-la, o

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fato deveria ser revivido com a mesma emotividade inicial. Somente assim a eclosão ou a descarga (catarse) da emoção perturbadora provocaria a cura.

Em 1893, Freud e Breuer publicam Mecanismos psíquicos dos fenômenos histéricos, ampliada em 1895 para estudos sobre a histeria, as quais se resumem em quatro proposições. As histerias surgem como resultado de uma experiência emocional insuportável. Devido a sua gravidade, não é aceita, portanto fica armazenada no inconsciente, manifestando-se em forma de distúrbios fisiológicos. Os quais podem desaparecer quando as emoções reprimidas se tornam conscientes. A sua terapia consistia em procurar o trauma e provocar a catarse.

Ao tratar de Ana O, num estado histérico, percebe-se o self desestruturado. Incapaz de perceber "que tudo se passava no plano do desenvolvimento de uma estrutura narcísica, onde apenas funcionava como um selfobjeto" (Ramos) . O estrabismo convergente, a anestesia no corpo, a cegueira, a incapacidade de pensar, as suas manifestações neuróticas e irresponsáveis levam o psicanalista a desistir da pesquisa. Assustado não percebeu que Ana estava construindo uma nova estrutura psicológica. Um fenômeno que mais tarde será denominado por transferência. Em virtude disso, Freud (1895) constata que se chega sempre no terreno das experiências sexuais e decide continuar a publicar as suas conclusões.

2.3 Alfred Adler

Adler (1917), na sua teoria salienta que a meta imaginária "eu quero ser um homem completo", o princípio condutor das neuroses. Atribui a origem das dificuldades do neurótico, em muitos casos a uma inferioridade constitucional de algum órgão ou sistema de órgãos. Para o autor, o comportamento humano reflete o seu interior, por isso age e reage de acordo com o ambiente. Sem saber lidar com a situação, internaliza a raiva, sem elaborá-la, desencadeando uma série de doenças, pois o impulso reativo volta-se para dentro de si, fragilizando o órgão mais sensível.

Devido ao seu histórico deu grande importância à compensação. Na sua concepção, a inferioridade de um órgão, influencia a psique e manifesta-se "seja na ação, no pensamento, nos sonhos, como na escolha de uma vocação ou ainda nas inclinações e capacidades artísticas." (Nullahy 1986, p. 142) Assim, um órgão ou um sistema inferior podem superar-se quando auxiliados por mecanismos que o façam funcionar de forma saudável. Se tomar como exemplo um fígado doente, mas bem cuidado, com uma alimentação eficaz, terá um desempenho normal.

Na sua teoria trabalha os sentimentos de inferioridade, inerentes à situação humana, constatando que a diferença está mais no grau do que na espécie. Acreditava que o ser humano tem "a posse de um sentimento de inferioridade que está constantemente pressionando no sentido da sua própria conquista." (Adler, 1938, p.73) Dessa forma luta pela auto-conservação, pelo equilíbrio corporal e mental na ânsia da perfeição. Constata que um sentimento de inferioridade causado por um defeito orgânico ou a falta de adaptação, desencadeiam distúrbios físicos, emocionais e mentais, que se manifestam nos sintomas de neuroses ou psicoses. No entanto o processo vital deve ser encarado como uma sucessão de lutas e conquistas em busca da auto-superação.

2.4 Carl Jung

No ano de 1920, Jung apresenta uma contribuição fundamental para o entendimento da tipologia humana ao escrever um de seus mais brilhantes trabalhos, o livro "Tipos

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Psicológicos". Resultado de 20 anos de observação no exercício da Psicanálise. No qual aponta a importância dos tipos humanos a partir da sua prática junto a pacientes nervosos, onde salienta dois tipos: o introvertido e o extrovertido. Um determinado pelos objetos de seu interesse pessoal, subjetivo e o outro voltado para os interesses no objeto externo. Tipos humanos diferenciados pelos seus desejos.

No intuito de demonstrar que as pessoas são diferentes. Jung destaca dois tipos de atitudes das pessoas com relação ao objeto. A extroversão que "se caracteriza pelo pendor para o objeto externo" (Jung 1991, p. 504) Trata-se da pessoa que tem o desejo de deixar envolver-se por ele. Tem necessidade em participar e encontra satisfação no objeto do desejo, na conquista do outro. Já, a introversão não se volta para o objeto, mas para o sujeito. "O introvertido não vai ao encontro do objeto, mas está sempre em posição de retirada diante dele." (Jung 1991, p. 505) Volta-se ao mundo interno de representações e impressões psíquicas, procura em si a satisfação.

Dessa forma salienta que existem diferenças entre o tipo introvertido e o extrovertido. "Um encarrega-se da reflexão; o outro, da iniciativa e da ação prática." (Jung 1971b: 47) Numa sucessão harmônica forma o ritmo da vida "Como diástole e diástole." (Lessa, 1994) . "Alcançar esse ritmo harmônico supõe uma suprema arte de viver." (Jung 1971b: 51) Portanto, deve-se ter cuidado com o excesso, "a função dominante retira muita energia psíquica da função inferior e esta cai no inconsciente, tornando-se primitiva e perturbada." (Lessa 1994) Assim, a função inferior ganha energia, emerge no consciente de forma arcaica, desencadeando a neurose. Segundo Jung nenhum ser humano é exclusivamente introvertido nem extrovertido. Ambas as atitudes existem dentro dele, apenas não foram desenvolvidas.

2.5 Donald Winnicott

A teoria de Winnicott (1989) identifica as condições necessárias para a integração adequada. Salienta a importância dos limites na organização dos espaços, no desenvolvimento da autonomia e do autocontrole. Salienta que, a condição essencial para estabelecer os limites, requer segurança básica, oferecida em sucessivas esferas, pela mãe, pela família, pelos grupos sociais e pelo governo.

Segundo o autor, as crianças privadas de uma vida no lar devem receber alguma provisão, estável e pessoal, quando ainda são jovens. Do contrário, temos que oferecer-lhes estabilidade mais tarde, "sob a forma de uma escola autorizada ou, como último recurso, quatro paredes sob a forma de uma cela em um cárcere." (Davis, 1982, p. 169) Dessa forma, chama atenção sobre a importância dos limites para a inclusão social. Winicott (1989) se fundamenta em Hegel (1931), na sua lógica. Acredita na origem, no modo do ser, o ser e o nada, na identidade a si e não da diferença consigo: o absoluto é fundamentalmente ser e não nada. Sendo o conteúdo do ser a sua identidade.

A identidade do ser e do não-ser é o devir, a dialética em seu princípio. Para Hegel (1931), "o absoluto não é o nada no qual há uma posição, emergência espontânea de um ser não idêntico a si, mas o ser que nega e, em sua identidade a si, nega-se, e isto no domínio de sua atividade ou de sua negação." (Bourgeois) É por isso que o absoluto hegeliano não aloja somente nele a dialética, ele mesmo se faz dialética. Sendo assim, no decorrer do processo, gradativamente os limites orientam a inserção social da criança e a conduzem a um caminho específico.

O indivíduo anti-social sofre de uma inadequação nos seus limites e necessita de re-educação. Para Winnicott (1979 -1983) cada ser humano traz um potencial inato para

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amadurecer, para se integrar. Porém, o fato da tendência ser inata não garante que vá ocorrer. Isto depende do ambiente facilitador, desde que forneça os cuidados necessários. Inicialmente esse ambiente é representado pela mãe no intuito de fazer com a criança cresça de forma saudável e emancipe-se.

À medida que a mãe insere-se aos objetos, o que Winnicott (1975) denomina de ‘brinquedos de transição’, como a franja do cobertor, o ursinho de pelúcia e outros. Auxilia a criança a tomar consciência de que no mundo existe o Eu. Essa atividade favorece a separação simbólica da mãe e a sua independência gradativa. O brinquedo de transição é um meio ilusório de união simbólica com a mãe. O qual promove o fato de brincar sozinho e desenvolve a organização mental. Caso a mãe desapareça da visão, o objeto substituto permite recuperá-la, sendo assim na vida posterior.

Inicialmente a figura materna satisfaz as suas necessidades e os desejos. Depois, a escola e a sociedade se encarregam de acolher os seres em formação, independente das suas dificuldades ou talentos. Devido ao despreparo, muitas vezes não conseguem orientá-las e necessitam de auxilio profissional. Sendo o psicanalista o profissional indicado para a re-educação, tanto no trabalho individual como nas terapias de grupo coletivas. Sendo assim, novos métodos e técnicas precisam ser desenvolvidos, pois a criança não sabe expressar-se.

Winnicott (1988) afirma que o ser humano resulta do encontro de um potencial inato qualquer com a cultura. Nesse encontro, afirma o autor, cada indivíduo, ou o verdadeiro self (eu), processam a sua singularidade e torna-se uma entidade viva e real. Na sua obra aponta a necessidade de criar condições de integração adequada, que permitam o surgimento dos limites. De forma que se organizem os espaços e seja possível desenvolver a autonomia e o autocontrole.

A ausência desta segurança, resulta em problemas psicológico, os quais podem ser resolvidos com a ajuda da terapia psicanalítica. Segundo Pimentel , "observar esses aspectos não é uma tarefa mecânica. Exige tempo para ser aperfeiçoada e necessita de constante reflexão com os demais profissionais." Deste modo, sem dúvida os limites organizam o tempo e o espaço, possibilitam o desenvolvimento da autonomia e do autocontrole. Assim, percebe-se que quando estimulados, bem motivados, os (as) paciente (as) conseguem organizar-se espontaneamente para alcançar as suas metas e os seus objetivos.

2.6 Erich Fromm

A obra de Fromm faz parte da trilogia que constitui uma análise até hoje empreendida na sociedade. Ao expor a psicanálise humanista, o autor discute a responsabilidade do homem na sociedade, cujo interesse principal está na produção econômica e não no aprimoramento do valor do ser humano. Demonstra que nas democracias presentes no século XX a vida constitui-se, em muitos aspectos como uma fuga à liberdade. O que resulta em seres alienados, uma sociedade enferma e sem perspectiva. Onde todas as atividades econômicas e políticas subordinam-se ao ideal do aprimoramento humano, mas sem oportunidades de vida.

A sua visão humanista, permitiu avaliações políticas originais, como nos casos dos regimes autoritários, examinados num contexto amplo em que se mesclam observações sobre a origem das neuroses. "Medo da Liberdade" é um dos seus livros mais famosos. No qual salienta que devido à liberdade material conquistada, o homem isola-se dos seus semelhantes, na busca por espaço e sucesso. Um paradoxo assustador, pois se

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tratam de idéias que primam pela ganância e pela anulação do ser criativo, devido às situações de posse e poder. De servidão, de submissão passiva, de conformação social, o que proporciona a ilusão de ter ou de pertencer a algo e sentir-se menos isolado.

Nas suas concepções, viver é uma arte. "Na arte de viver o homem é ao mesmo tempo o artista e o objeto da sua arte; ele é o escultor e o mármore, o médico e o paciente" (Fromm 1990, p. 30) Desta forma, o homem precisa conhecer-se para reconhecer o outro, pois um constitui-se pelo outro. Para isso salienta a importância da cooperação e da solidariedade, de um espírito de fraternidade onde o bem-estar social deve garantir o bem-estar individual. Neste caso, a criatividade e as potencialidades humanas seriam usadas para sedimentar à liberdade co-responsável dentro de uma sociedade equilibrada.

Fromm (1981) salienta que o psicanalista precisa ter uma visão de totalidade e uma relação de empatia com o paciente, pois somos animais e humanos, com necessidades fisiológicas importantes. Dotados de consciência, razão e compaixão, que precisam ser exercitadas de forma democrática, por meio do diálogo e da problematização.

Ao rever o pensamento dos autores não se pode deixar de mencionar que "as neuroses são processos evolutivos e extremamente dinâmicos" (Rodrigues 1995, p. 44) até que decidam se confrontar com os sintomas e resolvê-los. Portanto, as neuroses não são puras, podem vir sobrecarregadas de problemas cotidianos que nada tenham a ver com a neurose especificamente, resultando num circuito neurótico infindável, sob o ponto de vista psicopatológico.

Segundo Rodrigues (1995) existem muitas consequências, como resultado das neuroses. As reações secundárias freqüentes na neurose são a depressão que dilacera o indivíduo quando se frustra na luta contra os sintomas neuróticos. A qual pode desencadear reações terciárias, onde o neurótico fica estigmatizado no seu ambiente familiar e social. Nos paciente fóbicos a sua vida toda é afetada devido ao medo incondicional, do qual ocorrem muitos transtornos. O neurótico histérico é capaz de criar em torno de si uma rejeição social gratuita, quando as pessoas percebem que estão sendo usadas. O depressivo neurótico transmite tanto pessimismo, que as pessoas afastam-se.

As neuroses exigem muito estudo devido a sua complexidade e o terapeuta deve procurar atualizar-se constantemente. Atualmente, a psicanálise utiliza-se de todos os autores numa perspectiva inclusiva. Portanto, rever as teorias, os pensamentos e a vida dos autores no contexto torna-se imprescindível para a prática psicanalítica. A prática consiste no processo de escuta, no intuito de ajudar o paciente a adaptar-se. No intuito de que possa superar a sua tragédia neurótica.

O processo re-educativo requer muito trabalho do psicanalista com o analisando. Exige um preparo adequado ao psicanalista, uma série de conhecimentos indispensáveis para conduzir a análise e a cura do (a) paciente. De modo que o paciente consiga descobrir-se e saiba como atuar no contexto de acordo com o seu tipo psicológico e os seus interesses. A cura se dá quando se consegue unir a teoria com a prática, encontrar um equilíbrio entre a razão e a emoção. Quando se consegue transformar os conhecimentos em sabedoria, em princípios éticos de modos a vivenciá-los. De forma que consiga aprender a viver e a conviver com autonomia e dignidade.

3. A psicanálise na contemporaneidade

Na contemporaneidade existe uma distância significativa que separa as classificações greco-romana, fundamentadas na teoria do humor das tipologias do século XXI. A partir

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dos estudos publicados sobre traumas da segunda guerra mundial e orientados pelos pressupostos da ciência, a neurose continua a ser um interessante objeto de pesquisa devido aos danos sociais causados.

Na concepção existencialista, as pessoas apresentam uma natureza social, biológica e psicológica porque simbolizam. Onde o símbolo, a imaginação e o julgamento "proporcionam a tomada de cisões nas experiências ao longo do tempo" (Graig, 1991, p.89) estabelecendo vínculos. Percebe-se que a fase holística ou trans-disciplinar retorna a primeira fase pré-disciplinar, pelas experiências, levando em conta as funções que ligam os exercícios cerebrais equilibrados com as quatro funções psíquicas: a sensação, o sentimento, a razão e a intuição, formando o ser.

Estudos na atualidade refletem a influência da teoria psicanalítica nos padrões de relacionamento intra, interpessoal e multidimensional. Para isso se faz necessário resgatar a história, pois as idéias dos autores devem ser avaliadas de acordo com o contexto da sua época. A partir dos anos sessenta, os objetos de estudo e os instrumentos de medida foram aperfeiçoados e padronizados, visando aumentar a precisão para facilitar a solução dos problemas, modificando-se de acordo com as necessidades humanas, fundamentados no ideal da ciência. Atualmente, por meio da Lei da atração, comprovada pela física quântica, procura-se compartilhar as informações e os conhecimentos. Desenvolver as habilidades e as competências, de modo que o ser humano consiga superar-se e encontre a sua verdadeira liberdade, como um ser humano em aprimoramento.

Na época, no intuito de construir variáveis para representar o conceito de neurose, depressão e ansiedade. Definiu-se um conjunto de indicadores, de itens em escala, escolhidos arbitrariamente entre as diversas manifestações como as disfóricas, hedonistas e somáticas. Percebidas como o humor deprimido, sen-timento de culpa, ansiedade, desamparo, desesperança, infelicidade e tristeza. Desânimo, perda do interesse, queda da atividade social, insatisfação, humor disfórico, in-capacidade de rir, perda do prazer, idéia de suicídio, agitação, perda da libido, sintomas gastrointestinais, perda de peso e apetite, insônia entre outros parâmetros usados na definição da natureza das variáveis e de outros critérios para a escolha dos indicadores, que resultam numa variedade de tipos de personalidade.

Estudos atuais constatam que uma pessoa melancólica tem mais probabilidade a neurose e a depressão do que uma pessoa do tipo sangüíneo. Segundo as observações de Entralgo (1982), pessoas melancólicas são mais suscetíveis a adquirir câncer devido ao seu caráter sombrio, triste, temeroso. Pesquisadores dos séculos XVIII ao XXI acreditam que as doenças psico-somáticas e o câncer encontram-se associados à "constituição melancólica", conforme estudo sobre a relação mente e câncer. Um termo influenciado pelo pensamento grego e relacionado aos estados depressivos, características de pessoas com ausência de energia vital, um outro tipo humano.

Nos estudos realizados por Jung (1977) sobre os tipos psicológicos; o homem e os seus símbolos, se percebe que além do inconsciente individual, existe o inconsciente coletivo. Consequentemente, a análise dos sonhos, dos símbolos ultrapassa a manifestação singular da vida mental e emocional do sujeito como parte universal, de todas as experiências humanas. Sendo assim, a análise das neuroses apresenta o enfoque do inconsciente individual, os pequenos sonhos da vida cotidiana. Enquanto que os grandes sonhos, de cunho universal, são expressões de arquétipos do inconsciente coletivo.

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Na concepção de Jung (1991), cada tipo humano apresenta uma preferência natural, mesmo inconsciente. Nessa perspectiva, a distinção reside na direção dos seus interesses e no movimento da libido, a qual percebe como a energia psíquica ou energia de vida.

Na psicanálise os conhecimentos se aprimoram relacionando os vários tipos de personalidade. As doenças psicossomáticas sofreram variações de acordo com os pressupostos teóricos e a realidade, para a construção de variáveis e métodos. Concomitantemente, "as técnicas psicanalíticas e as avaliações de natureza clínica, tidas como excessivamente subjetivas, foram sendo abandonadas. (Tripicchio 2007, p.2) Resgatadas na contemporaneidade por estudos de ponta.

A neurose atualmente pode ser entendida como um sinônimo de psiconeurose ou distúrbio neurótico, a qual se refere a uma desordem mental que não interfere no pensamento racional ou na capacidade funcional da pessoa. Sendo essa a principal diferença com relação à psicose. A qual pode ser percebida como uma desordem mais severa, onde ocorre constantemente a fuga da realidade e muita confusão mental, devido a falta de um processo de consciência equilibrada.

Na contemporaneidade existem várias formas de neurose: piromania, transtorno obsessivo-compulsivo, ansiedade, histeria, na qual a ansiedade pode ser descarregada como um sintoma físico, e inúmeras fobias. Sem discriminação, as pesquisas constatam que todos os seres humanos possuem alguns sintomas neuróticos, freqüentemente manifestos nos mecanismos de defesa do ego, os quais ajudam a lidar com a ansiedade. Mecanismos de defesa que resultam em dificuldades para viver e conviver, identificados como neuroses. Que se não trabalhados pela análise levam a pessoa a enfrentar situações muito difíceis.

Apesar da história, o termo neurose não é mais de uso comum. Os atuais sistemas de classificação abandonaram esta denominação. O DSM IV eliminou a categoria por completo. As desordens mentais, primeiramente chamadas de neuroses agora são descritas sob os títulos de ansiedade e desordens depressivas. O termo neurose continua controverso e já discute-se uma nova nomenclatura. Fundamentado nas argumentações acima é que se constituiu o nosso trabalho. No intuito de encontrar um caminho, aprimorar métodos e técnicas que permita as pessoas recuperar sua energia vital, de modos que possam recuperar a sua liberdade, adquiram autonomia e possam voltar a viver. Percebe-se que para isso se faz necessário resgatar o humaninus pela psicanálise.

Atualmente, diante da prática da psicanálise torna-se importante perceber que ela não possui todos os mistérios da subjetividade, mas interessa-se "pelo milagre da existência" (Arendt) . Procura estudar a loucura, a constituição do sujeito, a angústia e o amor. Portanto, a função do Psicanalista não se restringe à escuta, mas a estabelecer vínculos entre as idéias e a realidade, de modo que consiga induzir o paciente a organizar-se. A buscar a sua liberdade, a desenvolver sua capacidade interna, a sua auto-estima, a autonomia, modificando o comportamento pessoal e coletivo.

No contexto, os tipos humanos apresentam-se uma diversidade muito grande. Sendo assim, necessitam de estímulos, motivadores e oportunidades específicas. Desta forma, a evolução do homem vem sendo contemplada com uma legislação atualizada, no intuito de garantir os seus direitos e chamar atenção para os seus deveres. Na busca de um equilíbrio social, capaz de garantir condições de vida satisfatórias, com o objetivo de induzir o ser humano à participação. Para isso precisa modificar o seu

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comportamento, aprender a sair da solidão em busca da liberdade, ajudar a construir uma realidade política capaz de humanizar, emancipar e promover a inclusão social.

4. A paciente Margarida

O estudo de caso que ora se apresenta, trata-se de uma paciente identificada como Margarida, uma mulher simples com 56 anos. De estrutura física pequena e muito magra. Uma dona de casa de classe média, mãe de com quatro filhos e quatro netas. Ao chegar ao consultório, apresentava sintomas de angustia depressão e nervosismo. O seu comportamento era instável, marcado pela insegurança, pela ansiedade em lidar com os problemas cotidianos.

No seu histórico apresenta um longo processo de análise pelo método clássico, mas muitas dificuldades para lidar com as situações familiares e o contexto social. A partir da avaliação do quadro clínico, foi realizada uma apreciação das variáveis relacionadas à esfera da psique, na qual se constatou que o problema encontrava-se no seu ego. Na ausência de um preparo específico, na falta de habilidades e competências para lidar com os conflitos. Desta forma se trabalhou por meio da Metodologia Recreação e Cidadania um caminho para que pudesse organizar-se. Num processo re-educativo na busca do seu SER, não apenas do ego, mas do EU essencial  "que contem toda a potencialidade da criação." (Mecler, 2007, p.112) Em busca de um norte, de uma luz permanente.

Iniciou-se a terapia em março de 2007, no setting analítico do Banco da Esperança, na Cidade de Santa Maria, RS. A qual transcorria todas as terças feiras, com duas horas de análise semanal. Na terapia Margarida foi relatando as suas dores e as suas alegrias. Durante as seções de análise descreveu a sua infância, na qual pudemos descobrir a origem de muitos conflitos e re-significá-los. Por vezes sentia-se incapaz de falar, mas aos poucos a relação de confiança com a analista foi aumentando e a empatia estabelecida permitiu o avanço no tratamento. Assim foi possível "a Transferência e a contratransferência, o mais poderoso fator de sucesso para uma analise psicanalítica." (Freud1912, p. 99) Dessa forma, gradativamente teve a oportunidade de re-siginificar os conflitos, compreender os familiares, os problemas, a relação com o sistema e a necessidade de aprender a lidar com eles.

Segundo Cox & Mackay (1982) este tipo de paciente possui dois momentos a serem considerados. Num primeiro momento apresenta um estado disfórico, de desanimo, marcado pela depressão. Nos seus relatos manifesta tristeza, abatimento, desesperança, e ansiedade, além das situações traumáticas que envolvem inúmeras perdas e muitas privações. No segundo momento apresenta variáveis definidas por características pessoais relativamente estáveis que correspondem ao seu tipo de personalidade.

Desta forma a análise psicanalítica utilizou a metodologia Recreação e Cidadania no intuito de estimular, motivar e criar oportunidades para que Margarida pudesse agir e interagir com os seus conflitos. Enfrentar o medo e superar as suas neuroses, mas nem sempre conseguia bons resultados. Nas seções seguintes organizaram-se novas estratégias para alcançar as metas e os objetivos. Desta forma a terapia foi melhorando a auto-estima, favorecendo o desenvolvimento da autonomia da paciente e a possibilidade de cura.

Inspirados na prática clínica de Jung (1977) utilizamos como método a associação das palavras, percebendo o ser humano de forma integral e não apenas os sintomas. Numa atitude humanista Jung, acreditava na compreensão individual. Por isso evitava

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generalizar o método, acreditava que para cada panacéia havia um determinado tipo de anomalia psíquica. Na sua metodologia, cada encontro era único, personalizado, sem padronização.

Ao estimular, motivar a paciente a conversar livremente, perceberam-se os focos dos problemas. Os quais foram organizados como temas principais, posteriormente as ações e as estratégias re-educativas foram planejadas de modo a atuar sobre eles, criando oportunidades para que fossem resolvidos com sucesso. O diálogo e a problematização conduziram a análise habilmente, no sentido de tornar consciente as recordações inconscientes. Gradativamente descobriu-se que os sintomas da paciente eram conexões simbólicas, vinculadas a recordações dolorosas, relacionadas à infância, ao casamento, aos filhos e ao sistema. Margarida, durante toda a sua vida buscou melhorar-se como ser humano, estudar para ser alguém, mas foi impedida.

Desta forma comprova-se que quando os impulsos transcendentes do homem são bloqueados, torna-se um neurótico e a sua criatividade volta-se a auto-destruição, ignorando os princípios e valores. Assim, identifica-se a neurose como uma das responsáveis pela miséria ética e moral do homem contemporâneo que pelo imediatismo está se perdendo. Devido há renúncia inconsciente dos seus próprios potenciais de desenvolvimento e integração, manifesta-se de forma egoísta, inadequada contra o delicado equilíbrio bio-psico-socio-emocional do homem.

A vida inteira Margarida buscou coisas materiais em todas as dimensões, mas somente descobriu o verdadeiro sentido, no amor incondicional. Na sua valorização, no seu compromisso como mulher , mãe e cidadã. Apresentava dificuldades porque utilizava os mecanismos de defesa ao invés de procurar solução para os seus problemas, criando uma verdadeira bola de neve em torno de si. O interesse da paciente pelo tratamento, a princípio gerou em casa muitos conflitos com o marido. Um narcisista convicto, mas que por meio da análise puderam ser re-significados.

Margarida atualmente é outra mulher, segura, determinada, com vontade de viver e conviver. A medida que estabelece sintonia com o seu inconsciente, amplia gradativamente a sua consciência, a sua autonomia, a sua liberdade de ação e transformação. Percebe-se que somente quando se consegue experimentar essa sensação é que a vida passa a ter o verdadeiro sentido. Para isso, se faz necessário ter coragem de olhar para dentro de si, transformar-se num ser humano, num ativista em favor da vida. O tratamento continua a seu pedido, porque "eu quero aprender a me conhecer melhor, para ajudar a minha família a ser mais feliz."

A partir da avaliação e da análise do caso clínico retiram-se importantes conclusões práticas que podem ser aplicadas pelos terapeutas. Isso não quer dizer que apenas os métodos expostos devam ser seguidos. Pelo contrário, o objetivo do trabalho consiste em instigar o desenvolvimento de novos métodos e técnicas psicanalíticas. Devido à diversidade dos tipos e das situações humanas, as combinações devem ser adaptadas a cada realidade. Isso também não invalida a potencialidade de orientação com a finalidade de complementar a atuação terapêutica exercida por outras escolas.

Comprova-se assim, mais uma vez a importância do trabalho da psicanálise. O exercício da sua prática contribui para a melhora significativa do relacionamento e do desenvolvimento humano. O seu trabalho preventivo é capaz de Identificar as condições necessárias e saudáveis para há integração do ser humano. De modo que possam exercer a sua cidadania com segurança e determinação. Em condições dignas de sobrevivência,

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respeitando à individualidade, a opção sexual, pois independente da escolha trata-se da origem da vida, das neuroses e dos transtornos mentais.

Considerações finais

O ser humano nasceu para ser feliz, para ascender no caminho da existência. Devido aos entraves da vida muitas vezes se atrapalha e necessita de ajuda psicanalítica para poder se organizar, encontrar a alegria de viver e voltar a ser feliz. Para isso precisa compreender que a sintonia da vida está em si, e que atraímos para nós de forma inconsciente, apenas o que é significativo. Ao longo deste ensaio, percebe-se que o método psicanalítico pode ser ampliado para além do tratamento das neuroses, diferente do que preconizado pelo seu criador. Freud (1895) trabalhou apenas com a neurose, pois este era o quadro da maioria dos seus pacientes, com os quais havia comprovado a eficácia do método, mas deixou em aberto a possibilidade de utilizá-lo também nas neuroses de transferência.

O conhecimento científico fundamenta-se na construção de modelos teóricos que permitam estabelecer as mediações necessárias entre as idéias, expressas sob a forma de conceitos abstratos, e a realidade. (Possas, 1989) No entanto, o modelo da Metodologia Recreação e Cidadania apresenta, comunica idéias a partir de uma sintaxe e de uma semântica, isto é, de um conjunto de regras que definem as relações entre unidades elementares dotadas de significado. A unidade fundamental do discurso científico que viabilizou a construção do modelo foram os conceitos, que se encontram num nível de abstração teórico e não permitem a abordagem empírica, mas exigiram transformações no conceito abstrato para se chegar à medida concreta, identificando e descrevendo o caso.

A partir da experiência com a paciente Margarida conclui-se que os sintomas neuróticos resultam de processos inconscientes e desaparecem quando esses processos se tornam conscientes. A esse processo de cura, Breuer (1880) denominou de Catarse. Entendida como a purificação da alma pela descarga emocional provocada por um drama. O estudo de caso foi um grande desafio, pois não utilizamos o material concreto, apenas o pensamento, as palavras e a ação. A qual foi planejada e exercitada de forma recreativa na vida real em busca dos objetivos. Desta forma há analise resgatou do inconsciente, o estado de consciência por meio do diálogo, promovendo há transformação de forma individual e coletiva.

As ações e as atividades re-educativas foram muito importantes, transpondo a seção de análise, para que pudesse pensar, agir e tentar resolver os seus problemas. Segundo Freud (1895) a repressão impedia a realização. De forma inconsciente era detectada pelo método da livre associação, manifesto por meio dos atos falhados ou sintomáticos, em substituição à hipnose e a interpretação dos sonhos, inspirados no conteúdo manifesto e no conteúdo latente.

Desta forma o processo sintomático e terapêutico compreendia: a experiência emocional, o recalque e o esquecimento, resultando na neurose. Por meio da análise, pela livre associação, tornou-se possível a recordação. Os conteúdos reprimidos no inconsciente manifestaram-se pela transferência, pela descarga emocional. Na qual ocorreu há catarse, a cura, a superação das neuroses. Portanto, a análise, não se restringe ao setting analítico, mas instiga o paciente a organizar-se para a ação, para a transformação social. Para viver e conviver melhor.

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O nosso organismo é repleto de mecanismos automáticos que se acostumam facilmente à rotina, por isso a necessidade do dia e da hora da análise, para que desta forma se consiga estabelecer um planejamento para vida. A necessidade da analise não pode ser entendida como uma relação de dependência, mas como um meio de fazer com o (a) paciente consigam pensar, organizar-se para viver e conviver melhor. A escolha do horário permite entrar em sintonia com o seu eu essencial. De modo que possa olhar para si e ao mundo com mais compreensão.

Os tipos humanos são muitos e as suas diferenças devem ser respeitadas. No entanto, percebe-se que as pessoas adaptadas conseguem encontrar um equilíbrio entre a razão e a emoção, consomem menos energia para alcançar as suas metas e objetivos. Enquanto que as pessoas problemáticas descentralizam os seus esforços e perdem a orientação, o norte. "O ser verdadeiro gasta menos energia, concentra-se no ponto que precisa ser re-estruturado" (Brum 2003 p.63) Desta forma consegue organizar os seus sentimentos, pois estes são percebidos pelos órgãos sensitivos e transmitidos ao cérebro por meio do sistema nervoso que os interpreta e dá a sensação de como classificá-los. Os negativos causam desconforto, enquanto que os sentimentos positivos enaltecem, produzem alegria, bem estar e felicidade. Aproximam as pessoas e os seus interesses.

A solução para o problema da neurose encontra-se na reflexão-ação-transformação, a qual pode ser resolvida por meio da terapia psicanalítica, pelo dialogo e pela problematização, numa perspectiva dialética e inclusiva. O homem age pelos instintos, mas é capaz de utilizar a inteligência e a tomada de consciência para alcançar os seus objetivos. Segundo o autor "Se pretendemos desenvolver a nossa consciência, é para também ajudar o próximo" (Mecler 2007, p.23) Dessa forma percebe-se que trazer a consciência, os conteúdos inconscientes favorecem o desenvolvimento e o aprimoramento das habilidades e das competências para que possam superar-se. Ter autonomia e conduzir-se num processo constante de humanização e emancipação.

Percebe-se a psicanálise como um processo de educação e reeducação. Fundamental para o equilíbrio emocional do ser humano. A sua prática deve desenvolver-se numa relação de afeto, cognição e prazer. Desta forma o setting analítico torna-se tão importante quanto o analista, pois pode ser comparado com um templo, um lugar destinado para re-significar os conflitos. O lugar sagrado que se forma a partir da relação saudável que se estabelece entre o analista e o analisando. De forma que pela transferência feita por meio do analista possam tornar conscientes os problemas, e solucioná-los.

Sendo assim, a transformação do pensamento na vida cotidiana contemporânea requer estudos sobre esta nova forma de perceber a saúde mental. A população em geral deve ter acesso à psicanálise e não apenas uma elite privilegiada, portanto deve popularizar-se nas comunidades, em serviços públicos. Sendo que o lugar do (a) psicanalista não se restringe aos consultórios privados, mas como um profissional capaz de contribuir favorecendo o desenvolvimento de um comportamento humano saudável de forma individual e coletiva.

Devido à complexidade do sistema percebe-se que as neuroses fazem parte do nosso cotidiano. A partir deste princípio, todo psicanalista deve conhecer o movimento do mundo. Ter noções de economia, política, filosofia para que possa contribuir com segurança do processo de adaptação dos pacientes e da sociedade. Desta forma constata-se que a psicanálise e a política são de extrema importância social a luz dos novos

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tempos, pois é preciso encontrar um equilíbrio na forma de vida entre os modelos de governo e as necessidades humanas.

Isso requer pensar sobre as psicopatologias sociais e as suas posições com a Lei. Este não é o objetivo do trabalho, mas torna-se necessário salientar a importância destas questões para favorecer o desenvolvimento de uma sociedade mais saudável. Para viver um grande amor, ter sucesso na vida e na profissão se faz necessário aprender a lidar com a existência. Torna-se "impossível experimentar uma grande paixão quando se está repleto de egoísmo." (Mecler, 2007, p.58) Amarguras, ou quando se projetam todas as angustias em si ou nos outros. Nesse estado emocional, de confusão mental, a única coisa que a pessoa vai encontrar é mais conflito.

Nessa perspectiva, o papel do psicanalista torna-se fundamental, pois se trata de um profissional importante para auxiliar a desenvolver políticas publicas que contribuam com o bem estar social. Torna-se impossível desvincular a vida privada da política e da economia, mas é preciso superar as nossas neuroses, os nossos medos. Fundamentar-se na teoria e na prática psicanalítica, segundo a Proposta de um modelo psicanalítico para a tomada de decisões e as decisões econômicas, requer os conhecimentos adquiridos pela psicanálise para encaminhar os inúmeros problemas sócio-econômicos que possuem a divisão psíquica. Estimula o bem estar social, motivam a sociedade a participar e oportunizam o mercado.

Desta forma as grandes crises atuais passam pelas habilidades e pelas competências, pelo nível excessivo de exigências. Para isso se fazem necessários acordos sociais, políticas que promovam equilíbrio, entre os interesses dos cidadãos e dos governos. O desenvolvimento de um sistema capaz de oferecer oportunidades de educação, trabalho, emprego, renda e dignidade. De promover a inclusão social para amenizar as neuroses, favorecendo a emancipação e o bem estar social.

Pesquisas realizadas ao longo da história da psicanálise apontam que a origem dos traumas geralmente encontra-se na infância, vinculada a princípios e valores. Para resolvê-los requer um bom tratamento e muitos cuidados, portanto investir em prevenção, na saúde mental da população trata-se de uma boa estratégia para qualquer governo ou instituição. A cura psicanalítica trata-se de um processo lento, gradativo e requer muita coragem para descobrir-se.

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"Os sonhos são uma pintura muda, em que

a imaginação a portas fechadas, e às

escuras, retrata a v ida e a alma de cada

um, com as cores das suas ações, dos

seus propósi tos e dos seus desejos."

                                                      Padre

Vieira,  no Sermão de São Francisco Xavier

Dormindo

 

 

Cabe um esclarecimento inicial ao leitor: eu procurei montar esta página com o pensamento original de Freud, apesar de estar consciente de que vários dos postulados originais da psicanálise foram revisados e modif icados - vários deles considerados ultrapassados pelo próprio Freud em seus últ imos anos. Também não abordarei aqui a doutr ina freudiana em toda a sua extensão e implicações. Por isso, aconselho o leitor a procurar um psicanalista l icenciado que possa orientá-lo corretamente nessa matéria.

A Psicanálise é ao mesmo tempo um modo part icular de tratamento do desequil íbrio mental e uma teoria psicológica que se ocupa dos processos mentais inconscientes; uma teoria da estrutura e funcionamento da mente humana e um método de análise dos motivos do comportamento; uma doutr ina f i losófica e um método terapêutico de doenças de natureza psicológica supostamente sem motivação orgânica. Originou-se na prát ica clínica do médico e f isiologista  Josef Breuer , devendo-se a Sigmund Freud  (1856-1939) a valorização e aperfeiçoamento da técnica e os conceitos criados nos desdobramentos posteriores do método e da doutr ina, o que ele fez valendo-se do pensamento de alguns f i lósofos e de sua própria experiência prof issional.

A formulação da Psicanálise representou basicamente a consolidação em um corpo doutr inário de conhecimentos existentes, como a estrutura tr ipart i te da mente, suas funções e correspondentes t ipos de personalidade, a teoria do inconsciente, o método terapêutico da catarse, e toda a  f i losofia pessimista  da natureza humana difundida na época. Além de al icerçar-se - como método terapêutico -, nas descobertas do médico austríaco Josef Breuer , como doutr ina tem em seus fundamentos muito do pensamento f i losófico de Platão e do f i lósofo alemão  Arthur

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Schopenhauer . No entanto, ao serem esses conhecimentos incorporados na Psicanálise, foi aberto o caminho para um número grande de conceitos subordinados que eram novos, como os de atos sintomáticos, subl imação, perversão, t ipos de personalidade, recalque, transferência, narcisismo, projeção, introjeção, etc. A psicanálise consti tuiu-se, por isso, em um modo novo de abordar as condições psíquicas correspondentes a estados de infel icidade e a comportamentos anti-sociais, e deu nascimento ao tratamento clínico psicológico e psiquiátr ico moderno.

A extraordinária popularidade da psicanálise poderá, talvez, ser expl icada, em parte, pela sua ousada concepção da motivação humana, ao colocar o sexo - objeto natural de interesse das pessoas e também sua principal fonte de fel icidade -, como único e poderoso móvel do comportamento humano. O mundo civi l izado, pouco antes chocado com a tese evolucionista de que o homem descendia dos chimpanzés, já não se surpreendia com a tese de que o sexo dominava o inconsciente e estava subjacente a todos os interesses humanos. A novidade foi recebida com divert ido espanto e prazerosa excitação. Em que pese os detalhes picarescos de muitas narrat ivas clínicas, a abordagem do sexo sob um aspecto científ ico, em plena  era vitoriana , representou uma sublimação  (para usar um conceito da própria psicanálise) que permit iu que a sexualidade fosse, sem restr ições morais, discutida em todos os ambientes, inclusive nos conventos. Essa permeabil idade subjet iva confundiu-se com profundidade científ ica, e a teoria foi levada a apl icação em todos os campos das relações sociais, nas artes, na educação, na rel igião, em análises biográf icas, etc. Porém, a questão da motivação sexual foi causa de se afastarem do círculo de Freud aqueles que haviam inicialmente se entusiasmado pela psicanálise como método de análise do inconsciente, entre eles Carl Jung, Otto Rank, e  Alfred Adler  que decidiram por outras teses, e fundaram suas próprias correntes psicanalí t icas. No seu todo, a psicanálise foi fortemente contestada por outras correntes, inclusive a dafenomenologia , a do existencial ismo , e a da logoterapia de  Viktor Frankl .

O pensamento de Freud está principalmente

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em três obras: "Interpretação dos Sonhos", a mais conhecida, que publicou, em 1900; "Psicopatologia da Vida Cotidiana", publ icada em 1901 e na qual apresenta os primeiros postulados da teoria psicanalí t ica, e "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade", de 1905, que contem a exposição básica da sua teoria.

Em "Mal Estar na Civi l ização", publ icado em 1930, Freud lança os conceitos de culturas neuróticas, mais os conceitos de projeção, subl imação, regressão e Transferência. Em "Totem e Tabu (1913/14) e "O Futuro de uma I lusão"(1927) expõe sua posição sobre a rel igião. Os postulados da teoria são numerosos, e seu exame completo demandaria um espaço muito extenso, motivo porque somente os aspectos usualmente mais conhecidos da doutr ina e do método serão examinados nesta página.

Importância do instinto sexual.  Freud notou que na maioria dos pacientes que teve desde o início de sua prát ica clínica, os distúrbios e queixas de natureza hipocondríaca ou histérica estavam relacionados a sentimentos reprimidos com origem em experiências sexuais perturbadoras. Assim ele formulou a hipótese de que a ansiedade que se manifestava através dos sintomas (neurose) era conseqüência da energia ( l ibido) l igada à sexualidade; a energia reprimida t inha expressão nos vários sintomas neuróticos que serviam como um mecanismo de defesa psicológica. Essa força, o inst into sexual, não se apresentava consciente devido à "repressão" tornada também inconsciente. A revelação da "repressão" inconsciente era obtida pelo método da l ivre associação ( inspirado nos atos falhados ou sintomáticos, em substi tuição à hipnose) e pela interpretação dos sonhos (conteúdo manifesto e conteúdo latente). O processo sintomático e terapêutico compreendia: experiência emocional - recalque e esquecimento - neurose - anál ise pela l ivre associação - recordação - transferência - descarga emocional - cura.

Estrutura tripartite da mente.  Freud buscou inspiração na cultura Grega, pois a doutr ina platônica com certeza o impressionou em seu curso de Fi losofia. As partes da alma de Platão correspondem ao Id, ao Superego e ao Ego da sua teoria que atr ibui funções físicas para as partes ou

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órgãos da mente (1923 - "O Ego e o Id").

O  Id , regido pelo "princípio do prazer", t inha a função de descarregar as tensões biológicas. Corresponde à alma concupiscente , do esquema platônico: é a reserva inconsciente dos desejos e impulsos de origem genética e voltados para a preservação e propagação da vida. .

O Superego , que é gradualmente formado no "Ego", e se comporta como um vigi lante moral. Contem os valores morais e atua como juiz moral. É a parte irascível da alma , a que correspondem os "vigi lantes", na teoria platônica.

Também inconsciente, o Superego faz a censura dos impulsos que a sociedade e a cultura proíbem ao Id, impedindo o indivíduo de satisfazer plenamente seus inst intos e desejos. É o órgão da repressão, part icularmente a repressão sexual. Manifesta-se á consciência indiretamente, sob a forma da moral, como um conjunto de interdições e de deveres, e por meio da educação, pela produção da imagem do "Eu ideal", isto é, da pessoa moral, boa e virtuosa. O Superego ou censura desenvolve-se em um período que Freud designa como período de latência, si tuado entre os 6 ou 7 anos e o inicio da puberdade ou adolescência. Nesse período, forma-se nossa personalidade moral e social (1923 "O Ego e o Id").

O Ego  ou o Eu  é a consciência, pequena parte da vida psíquica, subtraída aos desejos do Id e à repressão do Superego. Lida com a est imulação que vem tanto da própria mente como do mundo exterior. Racional iza em favor do Id, mas é governado pelo "princípio de real idade" ou seja, a necessidade de encontrar objetos que possam satisfazer ao Id sem transgredir as exigências do Superego. É a alma racional , no esquema platônico. É a parte perceptiva e a intel igência que devem, no adulto normal, conduzir todo o comportamento e satisfazer simultaneamente as exigências do Id e do Superego através de compromissos entre essas duas partes, sem que a pessoa se volte excessivamente para os prazeres ou que, ao contrário, imponha l imitações exageradas à sua espontaneidade e gozo da vida.

O Ego é pressionado pelos desejos insaciáveis do Id, a severidade repressiva do Superego e os perigos do mundo exterior. Se submete-se ao Id,

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torna-se imoral e destrut ivo; se submete-se ao Superego, enlouquece de desespero, pois viverá numa insatisfação insuportável; e se não se submeter á real idade do mundo, será destruído por ele. Por esse motivo, a forma fundamental da existência para o Ego é a  angústia existencial . Estamos divididos entre o principio do prazer (que não conhece l imites) e o principio de real idade (que nos impõe l imites externos e internos). Tem a dupla função de, ao mesmo tempo, recalcar o Id, sat isfazendo o Superego, e satisfazer o Id, l imitando o poder do Superego. No indivíduo normal, essa dupla função é cumprida a contento. Nos neuróticos e psicót icos o Ego sucumbe, seja porque o Id ou o Superego são excessivamente fortes, seja porque o Ego é excessivamente fraco.

O inconsciente , diz Freud, não é o subconsciente. Este é aquele grau da consciência como consciência passiva e consciência vivida não-ref lexiva, podendo tomar-se plenamente consciente. O inconsciente, ao contrário, jamais será consciente diretamente, podendo ser captado apenas indiretamente e por meio de técnicas especiais de interpretação desenvolvidas pela psicanálise.

Atos falhos ou sintomáticos . Os chamados Atos sintomáticos são para Freud evidência da força e individual ismo do inconsciente: e sua manifestação é comum nas pessoas sadias. Mostram a luta do consciente com o subconsciente (conteúdo evocável) e o inconsciente (conteúdo não evocável). São os  lapsus l inguae , popularmente ditos "traição da memória", ou mesmo convicções enganosas e erros que podem ter conseqüências graves.

Motivação.  Para expl icar o comportamento Freud desenvolve a teoria da motivação sexual (sobrevivência da espécie) e do inst into de conservação (sobrevivência individual). Mas todas as suas colocações giram em torno do sexo. A força que orienta o comportamento estaria no inconsciente e seria o inst into sexual;

Fases do desenvolvimento sexual.  Freud contr ibuiu com uma teoria das fases do desenvolvimento do indivíduo. Este passa por sucessivos t ipos de caráter: oral, anal e genital. Pode sofrer regressão  de um dos dois últ imos a um ou outro dos dois anteriores, como pode

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sofrer  f ixação  em qualquer das fases precoces.   Essas fases se desenvolverão entre os primeiros meses de vida e os 5 ou 6 anos de idade, e estão l igadas ao desenvolvimento do Id:

(1) Na fase oral, ou fase da l ibido oral, ou hedonismo bucal, o desejo e o prazer local izam-se primordialmente na boca e na ingestão de al imentos e o seio materno, a mamadeira, a chupeta, os dedos são objetos do prazer;

(2) Na fase anal, ou fase da l ibido ou hedonismo anal, o desejo e o prazer local izam-se primordialmente nas excreções e fezes. Brincar com massas e com t intas, amassar barro ou argi la, comer coisas cremosas, sujar-se são os objetos do prazer;

(3)Na fase genital ou fase fál ica, ou fase da l ibido ou hedonismo genital, o desejo e o prazer local izam-se primordialmente nos órgãos genitais e nas partes do corpo que excitam tais órgãos. Nessa fase, para os meninos, a mae é o objeto do desejo e do prazer; para as meninas, o pai.

Tipos de personalidade . .

Aqueles que se detêm em seu desenvolvimento emocional, e por algum motivo se f ixam em qualquer uma das fases transitórias (Freud. 1908), consti tuem t ipos e subtipos de personalidade nomeados segundo a fase correspondente de f ixação.

O t ipo que se detém na fase oral é o  Oral receptivo,  pessoa dependente - espera que tudo lhe seja dado sem qualquer reciprocidade; ou o Oral sadíst ico , o que se decide a empregar a força e a astúcia para conseguir o que deseja. Explorador e agressivo, não espera que alguém lhe dê voluntariamente qualquer coisa.

O Anal sadíst ico  é impulsivamente avaro, e sua segurança reside no isolamento. São pessoas ordenadas e metódicas, parcimoniosas e obstinadas.

O t ipo genital é a pessoa plenamente desenvolvida e equi l ibrada

*Complexos de Édipo.  Depois de ver nos seus

cl ientes o funcionamento perfeito da estrutura tr ipart i te da alma conforme a teoria de Platão, Freud volta à cultura grega em busca de mais

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elementos fundamentais para a construção de sua própria teoria.

No centro do "Id", determinando toda a vida psíquica, constatou o que chamou Complexo de Édipo , isto é, o desejo incestuoso pela mãe, e uma rival idade com o pai. Segundo ele, é esse o desejo fundamental que organiza a total idade da vida psíquica e determina o sentido de nossas vidas. Freud introduziu o conceito no seu  Interpretação dos Sonos  (1899). O termo deriva do herói grego Édipo que, sem saber, matou seu pai e se casou com sua mãe. Freud atr ibui o complexo de Édipo às crianças de idade entre 3 e 6 anos. Ele disse que o estágio geralmente terminava quando a criança se identi f icava com o parente do mesmo sexo e reprimia seus inst intos sexuais. Se o relacionamento prévio com os pais fosse relat ivamente amável e não traumático, e se a at i tude parental não fosse excessivamente proibit iva nem excessivamente est imulante, o estagio seria ultrapassado harmoniosamente. Em presença do trauma, no entanto, ocorre uma neurose infanti l que é um importante precursor de reações similares na vida adulta. O Superego, o fator moral que domina a mente consciente do adulto, também tem sua parte no processo de gerar o complexo de Édipo. Freud considerou a reação contra o complexo de Édito a mais importante conquista social da mente humana. Psicanalistas posteriores consideram a descrição de Freud imprecisa, apesar de conter algumas verdades parciais.

Complexo de Eletra.  O  equivalente feminino do Complexo de Édipo é o Complexo de Eletra, cuja lenda fundamental é a de Electra e seu irmão Orestes, f i lhos de Agamemnon e Clytemnestra. Eletra ajudou o irmão a matar sua mãe e o amante dela, um tema da tragédia grega abordado, com pequenas variações, por Sófocles, Eurípedes e Esquilo.

Narcisismo . Conta o mito que o jovem Narciso, belíssimo, nunca t inha visto sua própria imagem. Um dia, passeando por um bosque, encontrou um lago. Aproximou-se e viu nas águas um jovem de extraordinária beleza e pelo qual apaixonou-se perdidamente. Desejava que o jovem saísse das águas e viesse ao seu encontro, mas

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como ele parecia recusar-se a sair do lago, Narciso mergulhou nas águas, foi ás profundezas á procura do outro que fugia, morrendo afogado. Narciso morrera de amor por si mesmo, ou melhor, de amor por sua própria imagem ou pela auto-imagem. O narcisismo é o  encantamento e a paixão que sentimos por nossa própria imagem ou por nós mesmos, porque não conseguimos diferenciar um do outro. Como crít ica à humanidade em geral - que se pode vislumbrar em Freud - narcisismo é a bela imagem que os homens possuem de si mesmos, como seres i lusoriamente racionais e com a qual est iveram encantados durante séculos.

Mecanismos de defesa são processos subconscientes que permitem à mente encontrar uma solução para confl i tos não resolvidos ao nível da consciência. A psicanálise supõe a existência de forças mentais que se opõem umas às outras e que batalham entre si. Freud ut i l izou a expressão pela primeira vez no seu "As neuroses e psicoses de defesa", de 1894. Os mecanismos de defesa mais importante são:

Repressão , que é afastar ou recalcar da consciência um afeto, uma idéia ou apelo do inst into. Um acontecimento que por algum motivo envergonha uma pessoa pode ser completamente esquecido e se tornar não evocável.

Defesa de reação , que consiste em ostentar um procedimento e externar sentimentos ambos opostos aos impulsos verdadeiros, quando estes são inconfessáveis. Um pai que é pouco amado, recebe do f i lho uma atenção por vezes exagerada para que este convença a si mesmo de que é um bom f i lho.

Projeção. Consiste em atr ibuir ao outro um desejo próprio, ou atr ibuir a alguém, algo que just i f ique a própria ação. O estudante cria o hábito de colar nas provas dizendo, para se just i f icar, que os outros colam ainda mais que ele.

Regressão  é o retorno a at i tudes passadas que provaram ser seguras e grat i f icantes, e às quais a pessoa busca voltar para fugir de um presente angustiante. Devaneios e memórias que se tornam recorrentes, repeti t ivas. Apl ica-se também ao regresso a fases anteriores da sexualidade, como acima..

Substi tuição.  O inconsciente, em suas duas

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formas, está impedido de manifestar-se diretamente à consciência, mas consegue fazê-lo indiretamente. A maneira mais ef icaz para essa manifestação é a substi tuição, isto é, o inconsciente oferece à consciência um substi tuto aceitável por ela e por meio do qual ela pode satisfazer o Id ou o Superego. Os substi tutos são imagens (representações analógicas dos objetos do desejo) e formam o imaginário psíquico que, ao ocultar e dissimular o verdadeiro desejo, o satisfaz indiretamente por meio de objetos substi tutos (a chupeta e o dedo, para o seio materno; t intas e pintura ou argi la e escultura para as fezes, uma pessoa amada no lugar do pai ou da mãe, de acordo com as fases da sexualidade, como acima).

Além dos substi tutos reais, o imaginário inconsciente também oferece outros substi tutos, os mais freqüentes sendo os sonhos, os lapsos e os atos falhos. Neles, real izamos desejos inconscientes, de natureza sexual. São a satisfação imaginária do desejo. Alguém sonha, por exemplo, que sobe uma escada, está num naufrágio ou num incêndio. Na real idade, sonhou com uma relação sexual proibida. Alguém quer dizer uma palavra, esquece-a ou se engana, comete um lapso e diz uma outra que o surpreende, pois nada terá a ver com aquela que queria dizer: real izou um desejo proibido. Alguém vai andando por uma rua e, sem querer, torce o pé e quebra o objeto que estava carregando: real izou um desejo proibido.

Sublimação . A Ética pede a renúncia às grat i f icações puramente inst intuais por outras em conformidade com valores racionais transcendentes. A sublimnação  consist i tui a adoção de um comportamento ou de um interesse que possa enobrecer comportamentos que são inst int ivos de raiz   Um homem pode encontrar uma válvula para seus impulsos agressivos tornando-se um lutador campeão, um jogador de footbal l ou até mesmo um cirurgião. Para Freud as obras de arte, as ciências, a rel igião, a Fi losofia, as técnicas e as invenções, as inst i tuições sociais e as ações polí t icas, a l i teratura e as obras teatrais são subl imações, ou modos de substi tuição do desejo sexual de seus autores e esta é a razão de exist irem os art istas, os míst icos, os pensadores, os escri tores, cientistas, os l íderes polí t icos, etc.

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Transferência.  Freud af irmou que a l igação emocional que o paciente desenvolvia em relação ao analista representava a transferência do relacionamento que aquele havia t ido com seus pais e que inconscientemente projetava no terapeuta. O impasse que exist iu nessa relação infanti l cr iava impasses na terapia, de modo que a solução da transferência era o ponto chave para o sucesso do método terapêutico. Embora Freud demorasse a considerar a questão inversa, a da atrat ividade do paciente sobre o terapeuta, esse problema se manifestou tão cedo quanto ainda ao tempo das experiência de Breuer, que teria se deixado afetar sentimentalmente por sua principal paciente,  Bertha Pappenheim .

Os mecanismos de defesa  são aprendidos na famíl ia ou no meio social externo a que a criança e o adolescente estão expostos. Quando esses mecanismos conseguem controlar as tensões, nenhum sintoma se desenvolve, apesar de que o efeito possa ser l imitador das potencial idades do Ego, e empobrecedor da vida inst intual. Mas se falham em el iminar as tensões e se o material reprimido retorna à consciência, o Ego é forçado a mult ipl icar e intensif icar seu esforço defensivo e exagerar o seu uso. É nestes casos que a loucura, os sintomas neuróticos, são formados. Para a psicanálise, as psicoses signif icam um severa falência do sistema defensivo, caracterizada também por uma preponderância de mecanismos primit ivos. A diferença entre o estado neurótico e o psicót ico seria, portanto, quanti tat iva, e não quali tat iva.  

Perversão.  Porém, assim como a loucura é a impossibi l idade do Ego para real izar sua dupla função (conci l iação entre Id e Superego, e entre estes e a real idade), também a subl imação pode não ser alcançada e, em seu lugar, surgir uma perversão ou loucura social ou colet iva. O nazismo é um exemplo de perversão, em vez de subl imação. A propaganda, que induz no leitor ou espectador desejos sexuais pela mult ipl icação das imagens de prazer, é outro exemplo de perversão ou de incapacidade para a subl imação.

Os sonhos: conteúdo manifesto e conteúdo latente. (Significados conscientes e subconscientes).  A vida psíquica dá sentido e coloração afet ivo-sexual a todos os objetos e a

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todas as pessoas que nos rodeiam e entre os quais vivemos. As coisas e os outros são investidos por nosso inconsciente com cargas afet ivas de l ibido. Assim, sem que saibamos por que, desejamos e amamos certas coisas e pessoas e odiamos e tememos outras.

É por esse motivo que certas coisas, certos sons, certas cores, certos animais, certas situações nos enchem de pavor, enquanto outras nos trazem bem-estar, sem que saibamos o motivo. A origem das simpatias e antipatias, amores e ódios, medos e prazeres desde a nossa mais tenra infância, em geral nos primeiros meses e anos de nossa vida, quando se formaram as relações afet ivas fundamentais e o complexo de Édipo.

A dimensão imaginária de nossa vida psíquica - substi tuições, sonhos, lapsos, atos falhos, prazer e desprazer, medo ou bem-estar com objetos e pessoas - indica que os recursos inconscientes surgem na consciência em dois níveis: o nível do conteúdo manifesto (escada, mar e incêndio, no sonho; a palavra esquecida e a pronunciada, no lapso; o pé torcido ou objeto part ido, no ato falho) e o nível do conteúdo latente, que é o conteúdo inconsciente verdadeiro e oculto (os desejos sexuais). Nossa vida normal se passa no plano de conteúdos manifestos e, portanto, no imaginário. Somente uma análise psíquica e psicológica desses conteúdos, por meio de técnicas especiais (trazidas pela psicanálise), nos permite decifrar o conteúdo latente que se dissimula sob o conteúdo manifesto.

A psicanálise e a psicologia de Schopenhauer, Brentano e Hartmann

Os crít icos consideram impressionante o quanto possivelmente Brentano   inf luenciou a Freud. Este assist iu suas aulas por pelo menos dois anos, e exatamente na época que Brentano publicou seu famoso l ivro de 1874,Psychologie vom empir ischen Standpunkte  (Psychology from an Empir ical Standpoint. Trad. de A. C. Rancurel lo, D. B. Terrel l , and L. L. McAlister. Ed. Routledge & Kern Paul, Londres, 1973; 448 p. - "A Psicologia de um ponto de vista empírico") em que seu equacionamento entre o f ísico e o psíquico, o psicossomático, é mais sal ientado.   Arthur Schopenhauer  é citado inúmeras vezes no referido

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l ivro, onde Brentano também discute amplamente Karl von Hartman, f i lósofo alemão chamado "o f i lósofo do inconsciente", autor de "A f i losofia do inconsciente", de 1869, o faz precisamente na questão dos estados mentais inconscientes. Brentano gozava de grande popularidade em meio aos estudantes, entre os quais estavam, além de Sigmund Freud , o psicólogo Carl Stumpf , e o f i lósofo Edmund Husserl .

O quanto Freud ret irou de Schopenhauer foi provavelmente através de Brentano. Alguns crít icos de Freud dizem que ele não fez muito mais que desenvolver na Psicanálise as idéias que o f i lósofo apresentou em seu l ivro "O mundo como vontade e representação". E o mais importante, Schopenhauer art icula a maior parte da teoria freudiana da sexualidade. A começar pela sua teoria dos inst intos, o poder dos complexos com origem na inibição sexual, incesto, f ixação materna e complexo de Édipo, correspondem perfeitamente  à Vontade opressora que, na psicologia de Schopenhauer, dir ige as ações do homem, e o faz de modo total, não apenas no inst into sexual (Eros) como também no inst into de morte (Tanatus) uma manifestação da mesma Vontade condutora da natureza.

O conceito de "Vontade" de Schopenhauer contem também os fundamentos do que vir iam a ser os conceitos de " inconsciente" e "Id" da doutr ina freudiana. A Vontade como coisa absoluta e auto-suficiente, tem ela própria "desejos". Quando se manifesta na forma de uma criatura ela busca se perpetuar por via dos meios de reprodução dessa criatura. Por isso o sexo é básico para a Vontade perpetuar a si própria. Resulta que o impulso sexual é o mais veemente de todos os apeti tes, o desejo dos desejos, a concentração de toda nossa vontade.

O que Schopenhauer escreveu sobre a loucura antecipou a teoria da repressão e a concepção da et iologia das neuroses na teoria da Psicanálise e inclusive o que veio a ser a teoria fundamental do método da l ivre associação de idéias ut i l izado por Freud. .

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