apostila controladoria 10
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Controladoria II Prof. Moreira
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CUSTOS (Parte 2)
1) PONTO DE EQUILÍBRIO Um dos pontos fundamentais quando se fala em Custos para decisão é o cálculo do Ponto de
Equilíbrio.
No estudo do ponto de equilíbrio, relacionamos três variáveis básicas: Custo, Volume e Lucro.
Por meio desse relacionamento teremos condições de detectar o mínimo que uma empresa
precisa produzir e vender para não ter prejuízo.
É exatamente o momento em que as Receitas Totais alcançam os custos totais. A partir daí,
com uma unidade mais que se venda a empresa passa a ter lucro.
A figura anterior representa a visão clássica do contador no que refere às funções de receita e
custo. Assim, ambas são representadas com retas, sendo que a de receita se inicia na origem e
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a de custo inicia‐se já em certa altura, independente do nível de atividade, devido ao custo fixo.
O ponto de encontro entre as duas curvas representa o ponto de equilíbrio, a partir do qual a
empresa aufere lucro e abaixo do qual incorre em prejuízos.
1.1) Ponto de Equilíbrio Contábil
Pode‐se calcular o Ponto de Equilíbrio Contábil em quantidade de unidades a serem produzidas
e vendidas e em termos monetários, isto é, a receita que se precisa auferir para se ter lucro
contábil igual a zero.
PEC (unid.) = Gastos Fixos Margem de Contribuição Unitária
PEC (R$) = PE (unid.) × Preço unitário
Portanto, o Ponto de Equilíbrio em unidades representa a quantidade mínima que a empresa
deve vender para não apurar prejuízo, enquanto o Ponto de Equilíbrio em reais representa a
receita mínima que a empresa deve auferir para não apurar prejuízo.
Um ponto que merece destaque é a análise da margem de contribuição, que representa a con‐
tribuição mínima de cada produto para cobrir todos os gastos fixos.
Para exemplificar nosso entendimento, demonstraremos a seguir um exemplo de apuração do
ponto de equilíbrio:
• Preço de Venda: R$ 500,00/unidade
• Custos Variáveis: R$ 300,00/unidade
• Despesas Variáveis: R$ 50,00/unidade
PEC (unid.) = Custos Fixos + Despesas Fixas
Preço unitário – (Custo Variável Unitário + Despesa Variável Unitária)
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• Custos Fixos: R$ 500.000,00/mês
• Despesas Fixas: R$ 100.000,00/mês
Em reais:
PE (R$) = PE (unid.) × Preço unitário
PE (R$) = 4.000 × R$ 500 = R$ 2.000.000/mês
Com este volume de vendas teremos:
DRE R$
Receita de Vendas (4.000 unid. × R$ 500,00) R$ 2.000.000
( − ) Custos Variáveis (4.000 unid. × R$ 300,00) R$ 1.200.000
( − ) Despesas Variáveis (4.000 unid. × R$ 50,00) R$ 200.000
( = ) Margem de Contribuição R$ 600.000
( − ) Custos Fixos (R$ 500.000,00/mês) R$ 500.000
( − ) Despesas Fixas (R$ 100.000,00/mês) R$ 100.000
Resultado Líquido 0
A partir da unidade de número 4.001, cada margem de contribuição unitária que se atrelava à
cobertura dos custos e despesas fixos passa a contribuir para a formação do lucro.
PE (unid.) = Custos Fixos + Despesas Fixas
Preço unitário – (Custo Variável Unitário + Despesa Variável Unitária)
PE (unid.) = R$ 500.000 + R$ 100.000
= 4.000 unidades R$ 500 – (R$ 300 + R$ 50)
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1.2) Ponto de Equilíbrio Econômico
No Ponto de Equilíbrio Econômico, o lucro econômico é igual zero – sendo que o lucro econô‐
mico considera a remuneração do capital próprio como uma despesa.
PEE (unid.) = Gastos Fixos + LAIR Margem de Contribuição Unitária
LAIR = Lucro Líquido 1 – Alíquota IR
PEE (R$) = PEE (unid.) × Preço unitário
1.3) Ponto de Equilíbrio Financeiro
No Ponto de Equilíbrio Financeiro, a geração líquida de caixa é nula, ou seja, o caixa gerado se
igual ao caixa consumido no período. Neste caso, a empresa apresenta prejuízo contábil e saldo
de caixa zero.
PEF (unid.) = Gastos Fixos Desembolsáveis Margem de Contribuição Unitária
PEF (R$) = PE (unid.) × Preço unitário
PEE (unid.) = Custos Fixos + Despesas Fixas
Preço unitário – (Custo Variável Unitário + Despesa Variável Unitária)
PEF (unid.) = Custos Fixos Desembolsáveis + Despesas Fixas Desembolsáveis
Preço unitário – (Custo Variável Unitário + Despesa Variável Unitária)
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2) QUAL O MELHOR PRODUTO? QUAL PRODUTO CORTAR?
Na Contabilidade de Custos, encontramos dois tipos distintos de Custeio: • Custeio por Absorção: todos os custos de produção (Custos Fixos e Variáveis) são apro‐
priados (contabilizados ou computados) ao produto. Até agora, trabalhamos exclusiva‐
mente com este método, considerando até os custos fixos indiretos, difíceis de serem
distribuídos proporcionalmente aos produtos.
• Custeio Variável (ou Custeio Direto): apropriam‐se ao produto todos os Custos Variá‐
veis e somente os variáveis. Os custos fixos são tratados como despesa ou custo do pe‐
ríodo, não sendo alocados ao produto.
A Contabilidade de Custos, quando procura custear o produto atribuindo‐lhe também uma par‐
te do custo fixo, como já vimos, é conhecida como contabilidade de custos pelo método de cus‐
teamento “por absorção” ou global. Os custos fixos são “absorvidos” na produção ou alocados
a ela de alguma forma, pelo menos os de fabricação. Alternativamente, existe o método de
custeamento da produção, também já visto, que aloca à produção apenas os custos variáveis,
considerando todos os custos fixos como custos de período. A premissa desta concepção é que,
independendo os custos fixos do volume de produção (dentro de certos limites), não tem sen‐
tido alocar tais custos à produção, resultando este rateio em alocações arbitrárias e até enga‐
nosas.
2.1 Exemplo
Dados:
• A empresa “Rateada S.A.” trabalhava com três produtos distintos: Produto A, Produto B
e Produto C;
• Foram produzidas e vendidas:
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Produto Qtd.
Produção/Venda Preço de Venda
Custo Variável Unitário
A 10.000 R$ 26,0000/unid. R$ 15,0000/unid.
B 7.500 R$ 29,3333/unid. R$ 26,6667/unid.
C 2.500 R$ 56,0000/unid. R$ 20,0000/unid.
Total 20.000 ‐ ‐
• Não existem estoques iniciais e finais;
• A capacidade máxima de produção da empresa, medida em horas de mão‐de‐obra dire‐
ta, foi totalmente utilizada e não ultrapassa 150.000 horas anuais
• Não existem problemas de mercados no que se refere a vender o produto isoladamente
ou em conjunto (problema de imagem). As quantidades máximas que o mercado absor‐
veria de cada produto são:
Produto Qtd. Demanda
A 12.000
B 9.500
C 3.000
Total 24.500
• O tempo de produção de cada produto é o seguinte:
Produto Tempo
Produção
A 5 horas
B 2 horas
C 34 horas
• Os custos fixos no valor total de R$ 100.000,00 são alocados aos produtos na base do
valor dos custos variáveis incorridos, para cada produto.
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Análise do Caso (Custeio por Absorção): Aceitando as informações da contabilidade de custos e
utilizando o critério de absorção, seríamos levados a cortar o produto B, por apresentar prejuí‐
zo, conforme a seguir:
DRE Produto A Produto B Produto C Total
Receita 260.000 220.000 140.000 620.000
( − ) Custos Variáveis (150.000) (200.000) (50.000) (400.000)
( − ) Custos Fixos (37.500) (50.000) (12.500) (100.000)
Lucro 72.500 (30.000) 77.500 120.000
A listagem dos produtos em ordem decrescente de desempenho total (ranking) seria:
Ranking Produto Decisão
1º C Fabricar
2º A Fabricar
3º B Cortar
Análise do Caso (Custeio Direto ou Variável): A abordagem do custeamento direto analisaria os
dados de maneira diferente, senão vejamos:
DRE Produto A Produto B Produto C Total
Receita 260.000 220.000 140.000 620.000
( − ) Custos Variáveis (150.000) (200.000) (50.000) (400.000)
( = ) Margem de Contribuição 110.000 20.000 90.000 220.000
( − ) Custos Fixos (100.000)
Lucro 120.000
O ranking dos produtos seria o seguinte (pela margem total):
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Ranking Produto Decisão
1º A Fabricar
2º C Fabricar
3º B Fabricar
A Margem de Contribuição Total é uma sistemática razoável, pois mostra qual produto contri‐
bui mais para pagar os custos fixos.
Não estamos ainda, em condições de dizer quem está absolutamente certo. Apenas, o critério
utilizado em segundo lugar é menos enganoso, no sentido de uma decisão do tipo: “qual pro‐
duto cortar”, pois demonstra claramente que os três produtos apresentam uma margem de
contribuição positiva para a cobertura dos custos fixos. Se deixarmos de vender qualquer um
deles, nem por isso os custos fixos abaixarão. Entretanto, se, com base na tabela efetuada pelo
processo tradicional (absorção), resolvermos eliminar o produto B, os efeitos líquidos da deci‐
são na premissa do caso serão:
DRE Produto A Produto B Produto C Total
Receita 260.000 ‐ 140.000 400.000
( − ) Custos Variáveis (150.000) ‐ (50.000) (200.000)
( − ) Custos Fixos (75.000) ‐ (25.000) (100.000)
Lucro 35.000 ‐ 65.000 100.000
O lucro líquido diminui, portanto, após deixarmos de vender o produto B. A solução dada pelo
custeamento direto é melhor do que a fornecida pelo custeamento por absorção, pelo fato de
ter chamado a atenção para a circunstância de que, enquanto um produto tiver uma margem
de contribuição positiva, vale a pena continuarmos oferecendo o produto.
O Melhor Mix: Entretanto, não estamos certos, ainda, de que tenhamos escolhido o melhor
mix, ou a melhor combinação de produtos.
O conceito de margem de contribuição total ou unitária tem suas vantagens, mas precisa estar
acoplado a outro conceito, ou seja, ao fator limitativo de capacidade.
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Procurar o produto que tem maior margem não é, muitas vezes, suficiente. Precisamos investir
insumos no produto que apresente a melhor margem de contribuição por fator limitativo de
capacidade.
Neste caso, o que vai interessar, é a margem de contribuição por hora de cada produto, já que
horas‐homem é nosso fator limitativo.
Produto Qtd. Margem de Contrib. Unit.
Fator Limitativo (tempo)
Margem de Contrib./F.L.
A 10.000 R$ 11,00 5 horas R$ 2,20
B 7.500 R$ 2,67 2 horas R$ 1,33
C 2.500 R$ 36,00 34 horas R$ 1,06
A margem de contribuição por fator limitativo de capacidade dá sempre a resposta certa do
melhor mix de produtos.
Interessa produzir e vender (desde que haja condições de mercado) o produto em que ganha‐
mos mais para cada unidade de fator limitativo empregada. O fator escasso, no caso, são horas
(poderia ser matéria‐prima em outro caso etc.); logo, dentro daquilo que o mercado nos permi‐
te, devemos produzir o produto que melhor aproveite o fator limitativo. Pela margem de con‐
tribuição por fator limitativo, o ranking final seria:
Ranking Produto Decisão
1º A Fabricar
2º B Fabricar
3º C Fabricar
Analisemos a composição ótima (a que maximiza o lucro) para a empresa: teríamos que produ‐
zir o máximo do produto A que o mercado pudesse absorver (em seguida, de B, o que sobrar,
de C).
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Produto Produção Ideal Total Horas
A 12.000 unidades × 5 horas cada = 60.000
B 9.500 unidades × 2 horas cada = 19.000
C 2.088 unidades × 34 horas cada = 70.992
Total 149.992
Como consumimos apenas 70.992 com o produto C, sobraram 8 horas que poderiam ser aloca‐
das para A e B, se o mercado aceitasse, ou para o estoque.
DRE Produto A Produto B Produto C Total
Receita 312.000 278.635 116.928 707.563
( − ) Custos Variáveis (180.000) (253.365) (41.760) (475.125)
( = ) Margem de Contribuição 132.000 25.270 75.168 232.438
( − ) Custos Fixos (100.000)
Lucro 132.438
Qualquer outra composição resultaria num lucro total menor (ou no máximo igual). Se o mer‐
cado pudesse absorver mais unidades de A e B, o lucro total seria muito maior. Note que, ao
calcularmos o ranking de acordo com o fator limitativo de capacidade, conseguimos alocar as
horas de forma a produzir tudo que o mercado pudesse absorver do produto A e B e gastamos
o que restou das horas em C.