apontamentos sobre o maneio de cavalos cascos maria isabel david coelho martins 2008

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APONTAMENTOS SOBRE O MANEIO DE CAVALOS - CASCOS 1 APONTAMENTOS SOBRE O MANEIO DE CAVALOS CASCOS "Sem cascos não há cavalos" adágio popular Noddy (Austrália) O maior cavalo do mundo. 2.057m de altura. Peso 1300 Kg Thumbelina (USA) O menor cavalo do mundo. 44 cm de altura. Peso 26 Kg. Todos os cavalos, grandes ou pequenos, têm necessidades básicas que, quando não vivem em liberdade, devem ser satisfeitas por quem os detém e deles se ocupa. Os cavalos em cativeiro dependem em tudo e para tudo dos humanos. A LIMPEZA DO CAVALO Os cuidados com os cascos incluem-se nos cuidados mais gerais de higiene. A limpeza de um cavalo estabulado deve ser diária. Poderá ser feita estando o cavalo solto ou com cabeçada de prisão (cabeção) e guia (corda) que para o efeito será segura por um auxiliar, enquanto o tratador procede à limpeza do cavalo, ou presa numa "argola" com um Nó de Segurança. Estas opções, como todas as respeitantes ao tratamento de cavalos e maneio geral de animais, devem ser tomadas tendo em conta a segurança do próprio animal e a dos tratadores. As rotinas de maneio são boas se os tratadores souberem adaptá-las aos animais em presença em lugar de tentarem impô-las indiscriminadamente.

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Apontamentos Sobre o Maneio de Cavalos - Cascos

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APONTAMENTOS SOBRE O MANEIO DE CAVALOS

CASCOS "Sem cascos não há cavalos" adágio popular

Noddy (Austrália) – O maior cavalo do mundo. 2.057m de altura. Peso 1300 Kg

Thumbelina (USA) – O menor cavalo do mundo. 44 cm de altura. Peso 26 Kg.

Todos os cavalos, grandes ou pequenos, têm necessidades básicas que, quando não

vivem em liberdade, devem ser satisfeitas por quem os detém e deles se ocupa. Os cavalos em cativeiro dependem em tudo e para tudo dos humanos.

A LIMPEZA DO CAVALO Os cuidados com os cascos incluem-se nos cuidados mais gerais de higiene.

A limpeza de um cavalo estabulado deve ser diária.

Poderá ser feita estando o cavalo solto ou com cabeçada de prisão (cabeção) e guia (corda) que para o efeito será segura por um auxiliar, enquanto o tratador procede à limpeza do cavalo, ou presa numa "argola" com um Nó de Segurança.

Estas opções, como todas as respeitantes ao tratamento de cavalos e maneio geral de animais, devem ser tomadas tendo em conta a segurança do próprio animal e a dos tratadores.

As rotinas de maneio são boas se os tratadores souberem adaptá-las aos animais em presença em lugar de tentarem impô-las indiscriminadamente.

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Por princípio deve escolher-se um local calmo e sombreado ou onde o cavalo esteja já familiarizado por ser mais securizante, para onde se transportou previamente todo o material que será necessário.

Os cavalos não são predadores. São presas. Por isso, a sua reacção a situações percepcionadas como estranhas e de alguma forma ameaçadoras é a fuga. Por outro lado, sendo animais "hierárquicos" procurarão impor a sua vontade. Tendo boa memória, deve evitar-se ensinar-lhes o que não queremos que aprendam…

Cabe aos tratadores, usando da inteligência, evitar situações a que previsivelmente os cavalos reagirão inadequadamente e conflitos de vontades. Por exemplo, é mais fácil fazer um cavalo renitente entrar num reboque (ou outro local estreito, escuro ou simplesmente desconhecido) atrás de um balde de ração do que à frente de um chicote.

Por essa razão, havendo "vontades divergentes" entre o animal e o tratador, deve este último agir racionalmente, recorrendo ao incentivo através da voz, das festas e da oferta de "guloseimas" que agem duplamente como "suborno" e prémio.

A prazo, o reforço positivo dá frutos, gerando um cavalo confiante. Tal facilita o maneio geral, a intervenção dos Veterinários (que são sempre necessários na vida de um cavalo) e a administração de tratamentos e dos Ferradores.

LIMPEZA COM O CAVALO PRESO Presume-se aqui que o cavalo já aceita a cabeçada de prisão (cabeção).

A opção com ou sem auxiliar para segurar a guia não deve ser tomada em função da existência ou não de auxiliares disponíveis na ocasião, mas sim tendo em conta as características do animal em presença.

A função do auxiliar será a de segurar a guia e, caso o cavalo se assuste, ceder para que o cavalo compreenda que tem a possibilidade de fugir mas que tal não é necessário pois a situação não é de facto ameaçadora.

Nó de Segurança No caso de cavalos mais confiantes, podem estes ser presos numa argola, mas sempre com um Nó de Segurança, para que possam ser soltos imediatamente em caso de necessidade.

Um cavalo em pânico debate-se e procurará por todos os meios fugir puxando para trás. Constituirá um perigo para si próprio e para todos os que o rodeiam.

Caso a guia tenha sido colocada directamente na argola, o tratador deverá puxar a ponta solta para que o nó se desfaça de imediato.

Porém se a guia tiver sido colocada num laço de guita fina, esta partir-se-á facilmente por si só, constituindo assim uma segurança extra.

A limpeza dos cavalos deve ser um momento agradável e de descontracção para o animal.

Uma ocasião de criar laços positivos com quem dele se ocupa e o ser humano em geral.

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MATERIAIS DE LIMPEZA Como foi dito anteriormente, todos os materiais de limpeza necessários devem estar previamente no local onde vão limpar-se os cavalos pelo que será mais fácil tê-los arrumados numa caixa, um Estojo de Limpeza.

Todos os materiais devem estar em boas condições, inclusivamente de limpeza. Teoricamente, cada cavalo deveria dispor de um Estojo de Limpeza próprio pois assim se evita a propagação de doenças.

Com o mesmo objectivo, além de lavados com detergente, os materiais devem ser sempre desinfectados com lixívia (ou outro desinfectante bactericida/fungicida), passados por água abundante e postos a secar antes de voltarem a ser utilizados.

Estas razões sanitárias devem presidir na compra de materiais de limpeza, devendo-se evitar escovas de madeira e/ou com pelos ou cerdas naturais, que além de putrescíveis não garantem uma completa desinfecção.

ETAPAS DA LIMPEZA (SIMPLIFICADAS) A ordem de execução da limpeza é sempre a mesma, começando da nuca para baixo, deixando-se a cabeça para o fim.

CARDOA A cardoa é uma escova com pelos rijos.

Deve ser passada no sentido do pelo com o objectivo de retirar areia, restos de palha e sujidade, incluindo lama seca, antes de se usar a almofaça.

O uso da almofaça sem que antes se tenha passado todo o cavalo com uma cardoa para "tirar o pó" irá produzir, além de desconforto para o animal, micro-arranhões em todo o corpo do cavalo, portas de entrada para bactérias e fungos.

ALMOFAÇA DE BORRACHA Apenas a almofaça de borracha é adequada para limpar cavalos.

A almofaça de metal destina-se exclusivamente à limpeza da brussa, conforme será explicado seguidamente. Nunca à limpeza dos cavalos.

A almofaça de borracha deve ser passada no sentido do pelo e a contra-pelo com o objectivo de levantar a sujidade produzindo-se então alguma escamação da pele, o que é natural.

BRUSSA A brussa é uma escova com pelos macios.

Deve ser passada em movimentos circulares terminando-se no sentido do pelo, para dar lustro.

Para limpar a brussa dos pelos e sujidade, passa-se esta pela almofaça de metal que se tem na outra mão.

Limpa-se a almofaça batendo-se com esta no chão (e não nas paredes ou manjedouras).

Certos cavalos, principalmente os machos não castrados (inteiros), são sensíveis na zona da barriga e entre pernas pelo que é mais prudente que o tratador apenas passe a mão nas virilhas, certificando-se visualmente da limpeza e integridade dos genitais.

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Apenas a brussa é utilizada na limpeza da cabeça dos cavalos, o que deve ser feito muito cuidadosamente para não magoar as projecções ósseas nem atingir os olhos.

Limpeza da brussa na almofaça de metal

Durante todo o processo deve o tratador localizar-se paralelamente ao cavalo, fora do alcance de coices e pernadas. A manutenção de uma das mãos sobre o cavalo, nomeadamente na garupa, permitirá antecipar estes movimentos de defesa e evitá-los.

Escovagem da crina e cauda com a brussa

A brussa serve igualmente para escovar as crinas e a cauda e nunca se deve utilizar a cardoa, que parte os pelos e deixa crinas e cauda desguarnecidas.

Também aqui deve o tratador localizar-se paralelamente ao cavalo, desviando a cauda para o lado. Deverá segurar a cauda com uma das mãos, como na figura, escovando com a outra de baixo para cima, isto é, começando da ponta para a base da cauda, madeixa a madeixa, por forma a não arrancar escusadamente os pelos.

Caso a cauda esteja muito embaraçada e suja, melhor será lavá-la com um shampoo próprio para cavalos e desembaraçá-la quando estiver com espuma (ver BANHO pág.12).

Sendo a limpeza dos cavalos um momento agradável e de descontracção para o animal, dever-se-á estar atento a quaisquer sinais de dor ou desconforto que o animal evidencie corrigindo a actuação para que tal não se torne num momento de tortura.

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PANOS Deve dispor-se de pelo menos um pano ou toalha pequena para a finalização da limpeza de um cavalo.

Os panos/toalhas têm vantagem sobre as esponjas pois os panos sendo lavados e desinfectados com lixívia tal como o restante material, ficam efectivamente limpos, enquanto que as esponjas retêm no seu interior a sujidade.

Os panos são de utilização única e individual, nunca transitando de cavalo para cavalo, por razões sanitárias. Assim, se se vaI limpar seis cavalos, são precisos seis panos limpos.

O pano/toalha serve para limpar a cabeça e a zona do períneo, por esta ordem.

Molha-se o pano/toalha num balde com água apenas ou à torneira e com uma ponta limpa-se cuidadosamente um olho e com a outra ponta o outro olho de maneira a não propagar eventuais afecções oculares.

Após lavar o pano/toalha no balde ou à torneira, procede-se do mesmo modo para as narinas.

Volta a lavar-se o pano/toalha e limpa-se seguidamente a zona perineal começando pelos órgãos genitais e terminando no ânus.

O pano/toalha utilizado deve ser lavado com detergente e desinfectado com lixívia antes de voltar a ser utilizado no mesmo ou em outro cavalo.

A limpeza dos cavalos proporciona aos tratadores uma ocasião privilegiada para avaliarem a condição geral dos animais. Conhecendo o seu comportamento normal, poderão observar se estão abatidos ou "incomodados", tumefacções e/ou aumento de temperatura nos membros, pequenas feridas que ainda que pequenas devem ser sempre lavadas abundantemente e desinfectadas, olhos lacrimejantes e semi-serrados e corrimentos nasais espessos uni ou bi-laterias que exigem a avaliação de um Veterinário.

O papel, dos tratadores, além do distribuir da alimentação e providenciar a limpeza dos locais, é insubstituível na boa condição física e psicológica dos animais a seu cargo.

CUIDADOS COM OS CASCOS Os cuidados com os cascos dos cavalos não são uma "classe à parte" dos cuidados, fazendo sim parte dos cuidados de higiene diária.

Como diz o adágio popular, "Sem cascos não há cavalos".

Para melhor compreender a importância dos cuidados com os cascos, convém conhecê-los um pouco melhor.

IMPORTÂNCIA DOS CASCOS O peso dos cavalos é repartido pelos cascos de forma desigual – 60% do peso é carregado pelos anteriores e 40% pelos posteriores.

Assim, em repouso, o casco de um anterior de um cavalo de 500Kg suportará 150Kg, valor que aumenta em relação com a velocidade a que se desloca, atingindo num galope largo o dobro do peso total, ou seja, para o exemplo dado, uma tonelada.

O casco tem que amortecer os choques sem explodir nem esborrachar e ainda resistir à abrasão dos solos e à agressão da secura, da humidade e das bactérias.

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É a 3º falange ou osso do pé quem termina o esqueleto e suporta o peso do cavalo. Para isso, não repousa no chão mas sim está suspenso por milhares de minúsculas "lâminas" à parede interna do casco. Essas "lâminas" distribuem a energia dos impactos reduzindo assim a intensidade local dos choques.

Os cascos têm que ser suficientemente espessos e resistentes para resistir à abrasão provocadas por terrenos pedregosos e duros mas, ao mesmo tempo, suficientemente elásticos para se deformarem a cada passo do cavalo: os talões são solicitados a afastarem-se, a palma aplana-se e a ranilha é esticada.

Os cascos crescem paralelamente à coroa pelo que nos talões são mais moles e elásticos que a pinça. O crescimento dá-se a um ritmo de 6 mm por mês, demorando cerca de 9 a 12 meses a renovação completa. O crescimento é maior durante o Verão, com tempo quente e húmido, e menor no Inverno ou quanto os cascos estão ressequidos.

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LIMPEZA DIÁRIA DOS CASCOS Para manter a boa saúde dos cascos e consequentemente dos cavalos, é necessário limpá-los e tratá-los diariamente.

LEVANTAR OS CASCOS Para levantar os cascos há que ganhar a confiança dos cavalos.

Tal como a limpeza do corpo, pode fazer-se com o cavalo solto ou preso, observando-se cuidados idênticos ainda mais acentuados, tendo em conta que será preciso não só levantar os membros como manter o cavalo imóvel em apenas três apoios e manipulá-los com o auxílio de instrumentos.

Tudo isto naturalmente será considerado pelo cavalo inexperiente ou traumatizado por anteriores intervenções humanos violentas como estranho e ameaçador, não sendo de admirar que alguns cavalos se defendam quer procurando fugir, mordendo o tratador ou dando coices ou pernadas.

Um auxiliar que faça festas e dê "guloseimas" poderá ter aqui um papel muito importante, tranquilizando o cavalo e distraindo-o do que faz o tratador.

Ninguém aprende tudo num dia. Por isso, um cavalo que não estando habituado, "dá as mãos" ou os "pés", mesmo que por segundos, deve ser premiado.

Para levantar os anteriores, o tratador deve correr a mão pela espádua do cavalo (ver O EXTERIOR DO CAVALO na última página) e todo o membro anterior pela sua face exterior até ao casco dizendo "Alça" ou "Esta".

Poderá, adicionalmente dar-se pequenos toques ao longo da canela e segurar um pouco o boleto tendo porém em atenção que a ideia é indicar-lhe o que se pretende e não obrigá-lo a levantar o membro devido à dor que se lhe inflige.

Com o ombro, o tratador deverá empurrar ligeiramente o cavalo para que este reparta o seu peso sobre os outros membros que não estão a ser solicitados.

A mão ou o pé devem ser seguros pelo casco e não pela quartela, para que possam mais facilmente ser observados e limpos.

Para não desequilibrar o animal, o membro que está a ser levantado deve sê-lo o menos possível e ficar debaixo da barriga do cavalo de modo a que o seu centro de gravidade varie o mínimo possível.

Deve o tratador estar preparado para o eventual desequilíbrio do cavalo que baixará repentinamente o casco, tendo os seus próprios pés fora do local onde o casco provavelmente irá assentar.

Não é seguro para o cavalo nem para o tratador procurar imobilizar o membro entre os joelhos como fazem os Ferradores, que o fazem apenas porque tal é essencial para o desempenho do seu trabalho.

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Para levantar os posteriores a técnica é um pouco diferente.

O tratador deve correr a mão pela coxa e perna do cavalo pelo seu lado exterior até ao curvilhão e a partir daí pelo seu lado interior até ao casco dizendo "Alça" ou "Esta".

Também aqui, com o ombro o tratador deverá empurrar ligeiramente o cavalo para que este distribua o peso sobre os outros membros que não estão a ser solicitados.

Um cavalo confiante terá a tendência de descansar o seu peso sobre o tratador…

O tratador deverá colocar-se paralelamente ao cavalo e suficientemente atrás para manter o casco pouco levantado e sob a barriga do cavalo, para que este não se desequilibre e procure libertar-se. Dada esta eventualidade, é do interesse do tratador que se mantenha numa posição de segurança e não na trajectória de uma pernada.

LIMPA-CASCOS E UNTURA A limpeza dos cascos tem lugar com um limpa-cascos que, ao contrário do da figura que apenas tem o ferro de cascos propriamente dito, deverá ter associado uma escova.

Toda a sujidade, terra, palha, dejectos e humidade, favorecem o pulular de bactérias, pelo que deve ser removida com o auxílio da escova sendo o ferro usado cuidadosamente na remoção de pedras ou outros elementos presentes que o justifiquem.

A sua utilização faz-se sempre na direcção da pinça e nunca na do talão, estrutura muito mais mole e susceptível de ser lesionada.

A perfuração acidental do casco com o ferro de cascos deverá ser de imediato comunicada ao Veterinário para que possa ser tratada como uma ferida perfurante.

Igualmente, caso o tratador encontre pedras ou outros corpos estranhos alojados profundamente ou sinais de grande alteração no aspecto normal do casco, um aumento assinalável do pulso perceptível ao nível do

boleto, com ou sem aquecimento anormal do casco, com ou sem claudicação, é aconselhável que tal seja comunicado de imediato ao Veterinário pois só ele saberá avaliar devidamente a situação e proceder em conformidade.

Após a limpeza dos cascos deverá ser aplicada uma untura própria, quer na face inferior quer por fora, evitando-se contudo a sua aplicação na lacuna da ranilha junto à coroa. A sua função é lutar contra o ressequimento do casco e melhorar a sua essencial elasticidade prevenindo o aparecimento de fissuras.

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ALTERAÇÕES FREQUENTES DOS CASCOS RANILHA PODRE

É importante que o tratador saiba identificar o apodrecimento da ranilha, cuja origem está na falta de limpeza e tratamento dos cascos.

Caracteriza-se pelo amolecimento e decomposição da ranilha, podendo atingir camadas mais profundas do casco, que exala um cheiro típico e se desfaz.

TRATAMENTO Deve limpar-se cuidadosamente os cascos, retirando todas as partes podres para fazer aparecer tecido são. Se o cavalo for confiante, poderá inclusivamente lavar-se o casco por baixo com água, à mangueira, e Sabão Betadine (frasco encarnado), medicamento de venda livre à base de iodo, passando-se abundantemente por água.

Seguidamente e após o casco estar enxuto, aplicam-se algodões embebidos com Solução Betadine (frasco amarelo).

Estes algodões devem ser substituídos todos os dias ou mesmo duas vezes ao dia, durante 10 a 15 dias.

Quando as lacunas da ranilha, por estarem muito danificadas, não mantêm os algodões no sítio, aplica-se a Solução Betadine directamente no casco, mais vezes ao dia.

Alternativamente poderá utilizar-se um produto do tipo "Licor de Villate", à venda nas lojas de produtos para cavalos, dado que as farmácias já não fazem preparados.

O cavalo deverá ser instalado num local seco e frequentemente limpo.

Se o casco estiver muito afectado, doloroso, ou o cavalo coxear suspeitando o tratador que foram atingidas estruturas internas, melhor será consultar um Veterinário que avaliará a situação.

SEIMAS Seimas são fissuras na muralha do casco. A sua prevenção depende em grande parte do tratador. A sua cura, não.

As seimas que começam na parte de baixo, como a da figura, são devidas à consistência frágil e seca do casco, pelo que nunca é demais frisar a vantagem da limpeza diária e tratamento preventivo dos cascos com unturas.

Outra das razões para o seu aparecimento é a falta ou incorrecto aparamento dos cascos.

As seimas que começam em cima, junto da coroa do casco, são devidas a feridas da coroa cuja consequência é o deficiente crescimento do casco nessa região.

Assim, o tratador deve estar especialmente atento a feridas na coroa do casco, mesmo que pequenas. A sua boa lavagem e desinfecção são essenciais.

O tratamento de seimas exige a chamada de um Ferrador que saberá como proceder. Seimas infectadas, contudo, podem ter como consequência a formação de um abcesso no interior do casco que só poderá ser tratado por um Veterinário.

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AVALIAÇÃO DOS APOIOS E CASCOS Ferrados ou não, os cascos dos cavalos, apesar do seu ritmo de crescimento ser desigual ao longo do ano, devem ser aparados todas as 6 semanas, no máximo de 2 em 2 meses.

O critério para aparar os cascos, independentemente do ângulo que façam com o solo, deve ser sempre o de seguir a inclinação natural das 1ª, 2ª e 3ª falanges.

CASCOS BEM APARADOS

Pé demasiado recto e pé demasiado inclinado

Os cascos bem aparados seguem a inclinação natural da estrutura óssea do animal

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CASCOS MAL APARADOS

PÉ BOTO Considera-se o pé boto se faz um ângulo com o solo superior a 60 graus. Mesmo no caso de pé boto, o Ferrador deve respeitar o ângulo natural da estrutura óssea do animal, aparando o casco de forma a manter o eixo quartela/pé.

Dada a especificidade do Pé Boto, transcreve-se seguidamente o constante no livro Soins aux Chevaux 2 – Les Imprévus, Sylvie Guigan, Ed. Maloine, 1992, pág.136, 137

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A limpeza dos cascos por envolver perigos quer para o bem-estar e saúde do animal quer para quem a faz, deve ser feita sempre por tratadores.

BANHO Só se dá banho a animais em perfeitas condições de saúde.

O banho não deve ser encarado como uma forma de o tratador poupar trabalho na limpeza pois a constante lavagem dos cavalos danifica o pelo, retirando-lhe as gorduras e defesas naturais e deixando-o por conseguinte mais exposto a afecções cutâneas, amolece os cascos, o frio pode "desligar" o seu sistema próprio de regulação de temperatura, pode causar cãibras e ser nocivo para os músculos.

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Um cavalo correctamente limpo e tratado não precisa de mais do que 1 a 2 banhos anuais.

Como correntemente é utilizada água fria, deve escolher-se um dia quente e soalheiro e se possível colocar o cavalo ao sol para que não arrefeça durante o banho.

Consoante o animal em presença, assim se tomarão os cuidados de segurança descritos para a LIMPEZA DO CAVALO, porém se o cavalo não tem experiência, melhor será contar com a assistência de um auxiliar que segurará a guia e poderá mais facilmente manter o cavalo calmo.

O tratador e todos os que estiverem presentes, tal como durante a limpeza e maneio geral dos cavalos, não devem gritar nem fazer gestos bruscos que podem ser interpretados como ameaçadores.

MATERIAIS PARA O BANHO No local deve estar já todo o material que será necessário.

Apesar de possível dar banho a um cavalo a balde, é muito trabalhoso pelo que se utiliza a mangueira, excepto para a lavagem da cabeça em que este é necessário.

ETAPAS DO BANHO (SIMPLIFICADAS) LIMPEZA DOS CASCOS O tratador deve começar por limpar os cascos e protegê-los com untura antes de começar a dar banho ao cavalo.

MANGUEIRA Por si só a mangueira é um elemento facilmente visto pelo cavalo como ameaçador.

O tratador por isso deverá estar atento à possibilidade de o cavalo ficar com membros envolvidos nela ou inadvertidamente a pisar.

Quaisquer situações que possam originar acidentes devem ser encaradas pelo tratador com calma, no sentido de as resolver tendo em conta a sua própria segurança e a segurança do cavalo.

A mangueira deverá ter um jacto de água fraco de modo a que o banho não se torne num momento de stress desnecessário para o cavalo.

O cavalo deverá ser molhado de baixo para cima, começando pelos pés e seguindo lentamente pelas pernas para que se adapte à temperatura fria da água. Depois do cavalo estar bem molhado nas pernas de ambos os lados e ambientado ao frio da água, subir-se-á para as coxas, espáduas e pescoço tendo o cuidado de não fazer gestos bruscos.

Deve ter-se em atenção que, tal como com as escovas, também alguns cavalos são sensíveis aos jactos de água na barriga e genitais pelo que, para evitar defesas do cavalo, deverá o tratador redobrar o cuidado.

A cabeça e face do cavalo não são lavadas à mangueira, mas sim a balde, no final.

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SHAMPOO PARA CAVALO Há no mercado muitos shampoos para cavalo, com diversos objectivos – melhorar o pelo, insecticidas etc.. O shampoo a usar deverá estar de acordo com o objectivo do banho. As indicações de utilização do fabricante devem ser respeitadas pois é ele quem sabe como o produto deve ser utilizado tendo em vista obter os resultados prometidos sem consequências adversas.

Todos os detergentes domésticos e shampoos destinados a outros animais, inclusivamente para uso humano, não devem ser utilizados. O sabão azul-e-branco apesar das suas conhecidas propriedades branqueadoras, bactericidas e fungicidas, por ser cáustico, não é adequado para lavar cavalos. Em caso de necessidade poderá utilizar-se um sabonete de glicerina.

PANO Pelas razões já expostas será melhor utilizar um pano ou toalha pequena do que uma esponja para ensaboar o cavalo.

Tendo ensaboar o cavalo (menos a cabeça) seguindo as instruções do fabricante do shampoo, deve o tratador aproveitar este facto para, com o auxílio da espuma, desembaraçar crinas e cauda com uma escova que não arranque pelos, começando de baixo para cima, madeixa a madeixa, a desfazer os nós e emaranhados.

Seguidamente passa-se abundantemente o cavalo à mangueira de modo a retirar toda a espuma.

RASPADEIRA A raspadeira serve para retirar a água do pelo do cavalo, no final do banho.

A que se encontra na imagem é barata sendo a parte que entra em contacto com o cavalo em borracha.

A sua utilização não requer nenhuma técnica especial pelo que é adequada para banhos esporádicos.

Segurando no cabo, de cima para baixo desde a nuca do cavalo, passa-se a parte de borracha da raspadeira pelo cavalo de modo a "atirar" a água para o chão. Não esquecer a barriga, onde a água irá acumular-se.

BALDE A cabeça e face do cavalo só deverão ser lavados com água, utilizando um segundo pano/toalha limpa que se molha no balde. Em tudo se procederá como na LIMPEZA DO CAVALO.

No caso de cavalos confiantes poderá usar-se a mangueira, com um jacto de água fraco, para lavar a cabeça do cavalo. Para isso, a mangueira deverá ser passada por entre as orelhas do cavalo de modo a que a água escorra de cima para baixo ao longo da face.

É uma prática sem sentido e reprovável o hábito de alguns tratadores de apontarem um jacto forte directamente à face, olhos e nariz dos cavalos para assim os lavarem.

TOALHAS No sentido de abreviar a secagem do cavalo e estimular a circulação, pode secar-se o cavalo com toalhas, com movimentos circulares vigorosos. Porém, dando banho num dia quente e soalheiro, tal é desnecessário.

O cavalo deverá ser passeado à guia a passo até estar enxuto, e nunca recolhido ainda molhado. Muito menos deverá ser metido molhado numa box, imóvel e preso a uma argola "para que não se suje", como dizem alguns (maus) tratadores.

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O EXTERIOR DO CAVALO

" O Cavalo é o melhor amigo do Homem " O melhor amigo do Cavalo é o bom tratador!

Bibliografia Apontamentos elaborados com base na experiência pessoal e conhecimentos adquiridos ao longo de 15 anos de contacto diário e directo com Cavalos, Equitadores, Tratadores e Veterinários. Foram ainda utilizados os seguintes livros de consulta: L'Atlas do Cheval et du Cavalier, vários autores, Ed. Glénat, 1999 Manual Prático de Equitação, The British Society e The Pony Club (revisão de texto – Balula Cid), Ed.Presença, 1993 O Grande Livro do Cavalo, Elwyn Hartley Edwards (Revisão de texto – João Maria Drumond), Ed.Livros e Livros, 1994 Soins aux Chevaux 1 – Objective Santé, Sylvie Guigan, Ed. Maloine, 1991 Soins aux Chevaux 2 – Les Imprévus, Sylvie Guigan, Ed. Maloine, 1992

Os Apontamentos podem ser descarregados da Internet em formato PDF:

Lisboa, 15 de Agosto de 2008 / Maria Isabel David Coelho Martins