aplicação das metodologias para estimativa de vazões de pico em pequenas bacias hidrográficas

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2.1. Aplicação das Metodologias para Estimativa de Vazões de Pico em Pequenas Bacias Hidrográficas Tendo em vista que as diversas metodologias de cálculo para estimativa de vazões de pico em pequenas bacias hidrográficas abordadas neste trabalho apresentam as suas particularidades e considerando que estas metodologias, de acordo com PALOS & BARROS (1997), são regionalizadas, ou seja, são válidas para áreas com características semelhantes às das regiões para as quais foram concebidas, será apresentada a aplicação destes métodos de cálculo para uma bacia hidrográfica localizada na Região Metropolitana de São Paulo, objetivando-se expor a discrepância resultante da aplicação destas metodologias. Os cálculos comparativos serão efetuados para diferentes períodos de recorrência, para 5, 10, 25, 50 e 100 anos, objetivando-se demonstrar também a influência deste parâmetro no acréscimo da vazão de pico obtida pelas metodologias analisadas. A bacia hidrográfica escolhida para a realização dos cálculos de máxima vazão é a bacia do ribeirão Tapera Grande, o qual se encontra localizado entre os municípios de Francisco Morato e Franco da Rocha, no Estado de São Paulo. O ribeirão Tapera Grande é um afluente do ribeirão Eusébio, que por sua vez aflui na margem direita do Rio Juqueri, no município de Franco da Rocha, e faz parte da bacia de drenagem do Alto Tietê. Através do mapa da bacia hidrográfica do ribeirão Eusébio, mapa este elaborado pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE) em fevereiro de 2009 utilizando-se uma base topográfica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na escala de 1:50.000, e com o auxílio do programa computacional AutoCAD 2009 foi possível determinar as características físicas da bacia hidrográfica do ribeirão Tapera Grande. A área de drenagem obtida é de 15,16 km², o comprimento do talvegue principal é de 11,44 km e a média ponderada da declividade deste curso d’água, obtida de acordo com PMSP (1999), é de 0,0113 m/m. Nos itens adiante serão apresentados os cálculos hidrológicos efetuados para cada metodologia de cálculo abordada no presente trabalho. Deve-se ressaltar que diante do exposto no item 2.1.1 (consultar Tabela 2.2) e

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Aplicação Das Metodologias Para Estimativa de Vazões de Pico Em Pequenas Bacias Hidrográficas

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  • 2.1. Aplicao das Metodologias para Estimativa de Vazes de Pico em

    Pequenas Bacias Hidrogrficas

    Tendo em vista que as diversas metodologias de clculo para

    estimativa de vazes de pico em pequenas bacias hidrogrficas abordadas

    neste trabalho apresentam as suas particularidades e considerando que estas

    metodologias, de acordo com PALOS & BARROS (1997), so regionalizadas,

    ou seja, so vlidas para reas com caractersticas semelhantes s das

    regies para as quais foram concebidas, ser apresentada a aplicao destes

    mtodos de clculo para uma bacia hidrogrfica localizada na Regio

    Metropolitana de So Paulo, objetivando-se expor a discrepncia resultante da

    aplicao destas metodologias.

    Os clculos comparativos sero efetuados para diferentes perodos de

    recorrncia, para 5, 10, 25, 50 e 100 anos, objetivando-se demonstrar tambm

    a influncia deste parmetro no acrscimo da vazo de pico obtida pelas

    metodologias analisadas.

    A bacia hidrogrfica escolhida para a realizao dos clculos de

    mxima vazo a bacia do ribeiro Tapera Grande, o qual se encontra

    localizado entre os municpios de Francisco Morato e Franco da Rocha, no

    Estado de So Paulo. O ribeiro Tapera Grande um afluente do ribeiro

    Eusbio, que por sua vez aflui na margem direita do Rio Juqueri, no municpio

    de Franco da Rocha, e faz parte da bacia de drenagem do Alto Tiet.

    Atravs do mapa da bacia hidrogrfica do ribeiro Eusbio, mapa este

    elaborado pelo Departamento de guas e Energia Eltrica do Estado de So

    Paulo (DAEE) em fevereiro de 2009 utilizando-se uma base topogrfica do

    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) na escala de 1:50.000, e

    com o auxlio do programa computacional AutoCAD 2009 foi possvel

    determinar as caractersticas fsicas da bacia hidrogrfica do ribeiro Tapera

    Grande. A rea de drenagem obtida de 15,16 km, o comprimento do

    talvegue principal de 11,44 km e a mdia ponderada da declividade deste

    curso dgua, obtida de acordo com PMSP (1999), de 0,0113 m/m.

    Nos itens adiante sero apresentados os clculos hidrolgicos

    efetuados para cada metodologia de clculo abordada no presente trabalho.

    Deve-se ressaltar que diante do exposto no item 2.1.1 (consultar Tabela 2.2) e

  • considerando a rea de drenagem da bacia hidrogrfica do ribeiro Tapera

    Grande (15,16 km), verifica-se que o mtodo Racional no aplicvel para o

    caso em questo.

    Anteriormente exposio dos clculos efetuados, importante

    destacar que dois itens so relevantes de serem previamente determinados: o

    tempo de concentrao da bacia hidrogrfica do ribeiro Tapera Grande e a

    chuva de projeto a ser adotada para as diferentes metodologias de clculo.

    Com relao ao primeiro item, de conhecimento geral que existem

    inmeras frmulas para a sua determinao. Porm como a frmula do

    California Culverts Practice, California Highways and Public Works (consultar

    equao 2.11) a frmula recomendada para a maioria dos mtodos

    analisados no presente trabalho, a mesma ser aplicada para o caso em

    questo. De acordo com a base topogrfica do IBGE citada anteriormente,

    verifica-se que a confluncia do ribeiro Tapera Grande com o ribeiro Eusbio

    encontra-se na cota 730 e a nascente encontra-se na cota 900, o que permite

    inferir que a declividade equivalente mdia do talvegue principal de 14,86

    m/km (diferena de cotas dos pontos extremos do curso dgua dividida pelo

    comprimento total do curso dgua). Portanto diante do exposto verifica-se que

    o tempo de concentrao em anlise de 131,72 min (2,20 h), conforme pode

    ser observado nos clculos ilustrados na seqncia:

    Em referncia chuva de projeto, utilizou-se a equao de intensidade-

    durao-freqncia da cidade de Francisco Morato disponibilizada no programa

    computacional Plvio 2.1 Chuvas Intensas para o Brasil do Grupo de

    Pesquisas em Recursos Hdricos da Universidade Federal de Viosa. A

    equao em questo encontra-se apresentada a seguir:

    (Eq. 2.32)

    Onde i a intensidade da chuva de projeto em mm/h, T o perodo de

    retorno em anos e t a durao da chuva em min.

  • 2.2.1. Aplicao do Mtodo do HUT-SCS

    Conforme roteiro de clculo exposto no item 2.1.2, iniciam-se os

    clculos do mtodo do HUT-SCS com a determinao do hietograma da chuva

    excedente e aps isto, determinam-se o hidrograma de projeto e a respectiva

    vazo de pico da metodologia em referncia.

    Com relao ao hietograma da chuva excedente ser adotada a

    durao da chuva de projeto de 135 minutos, pois este tempo um valor

    aproximado do tempo de concentrao da bacia hidrogrfica do ribeiro Tapera

    Grande obtido segundo a frmula de Kirpich (aproximadamente 132 min).

    Adotando-se este tempo de durao da chuva de projeto, obtm-se atravs da

    equao 2.10 o intervalo de discretizao da chuva (durao da chuva unitria)

    de 17,5 min, que para efeito de clculo ser adotado o intervalo de tempo de

    15 min.

    Conforme exposies feitas no item 2.1.2, necessrio determinar o

    nmero da curva CN representativo das condies do complexo hidrolgico

    solo-vegetao da bacia hidrogrfica em anlise. Com base em uma anlise

    expedita das formas de uso e ocupao do solo da bacia hidrogrfica do

    ribeiro Tapera Grande, auxiliada pelo Atlas de Uso e Ocupao do Solo do

    Municpio de Francisco Morato elaborado pela Empresa Paulista de

    Planejamento Metropolitano S.A (EMPLASA) em maro de 2006, e por

    imagens de satlites (imagens obtidas atravs do programa computacional

    GoogleEarth verso 5.1.3533.1731) foi possvel verificar que aproximadamente

    70% de toda a rea da bacia hidrogrfica em estudo, ou seja,

    aproximadamente 10,55 km, encontram-se em rea densamente urbanizada e

    que os 30% restantes, em torno de 4,61 km, so referentes reas verdes.

    Para a obteno do nmero da curva CN necessrio determinar

    previamente o grupo hidrolgico dos solos que compem a bacia hidrogrfica

    em anlise. Objetivando-se demonstrar a importncia deste parmetro na

    determinao do valor de CN e conseqentemente nos resultados do mtodo,

    os clculos sero efetuados para os quatro grupos hidrolgicos propostos pelo

    mtodo original do SCS. Para a rea impermevel (70%) adotaram-se valores

    tpicos de CN para reas comerciais com cerca de 85% de impermeabilizao

  • do solo e para a rea permevel (30%) adotaram-se valores tpicos de florestas

    com mdias condies de infiltrao.

    Na Tabela 2.12 encontram-se os valores ponderados da curva CN

    considerando os quatro grupos hidrolgicos propostos pelo mtodo original do

    SCS e as condies de uso e ocupao do solo citados anteriormente. Deve-se

    ressaltar que os valores de CN indicados na Tabela 2.12 foram obtidos do

    Anexo 2 do presente trabalho e referem-se a condio II de saturao dos

    solos da bacia.

    Tabela 2.12 Variao do nmero ponderado da curva CN

    Tipo de rea rea (km)

    Grupo hidrolgico

    A B C D

    rea Impermevel 10,55 89 92 94 95

    CONTINUAO

    Tabela 2.12 Variao do nmero ponderado da curva CN

    Tipo de rea rea (km) Grupo hidrolgico

    A B C D

    rea permevel 4,61 36 60 70 76

    Mdia ponderada da curva CN 73 82 87 89

    Fonte: Elaborada pelo Autor

    Com base na equao 2.32, no tempo de durao da chuva de projeto

    de 135 min, com intervalos de discretizao da chuva de 15 min, e aplicando-

    se o mtodo dos blocos alternados, conforme exemplo contido na Tabela 2.5,

    obtm-se os hietogramas da chuva de projeto (mm) indicados na Tabela 2.13,

    os quais so referentes aos perodos de recorrncia de 5, 10, 25, 50 e 100

    anos.

    Tabela 2.13 Hietogramas das chuvas de projeto obtidos em

    funo da variao dos perodos de recorrncia

    Tempo (min) Perodos de recorrncia (anos)

    5 10 25 50 100

    0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    15 1,47 1,61 1,83 2,01 2,20

    30 1,90 2,09 2,36 2,60 2,85

    45 2,74 3,01 3,41 3,74 4,11

  • 60 5,03 5,53 6,25 6,87 7,54

    75 27,11 29,77 33,69 36,99 40,62

    90 8,65 9,50 10,75 11,81 12,97

    105 3,54 3,89 4,40 4,84 5,31

    120 2,24 2,46 2,79 3,06 3,36

    135 1,66 1,82 2,06 2,26 2,48

    Fonte: Elaborada pelo Autor

    Considerando as chuvas de projeto indicadas na Tabela 2.13 e com

    base no exemplo de clculo contido na Tabela 2.6, foi elaborada a Tabela 2.14

    que ilustra os hietogramas de precipitao excedente (mm) para os quatro

    grupos hidrolgicos do mtodo do SCS e para os diferentes perodos de

    retorno abordados no presente trabalho. Deve-se ressaltar que os valores

    ponderados da curva CN para cada grupo hidrolgico considerado esto

    indicados na Tabela 2.12.

    Tabela 2.14 Hietogramas de chuva excedente obtidos em funo da variao dos grupos hidrolgicos e dos perodos de retorno Mtodo do HUT-SCS

    Tempo (min) Grupos

    hidrolgicos

    Perodos de retorno (anos)

    5 10 25 50 100

    0

    A

    0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    15 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    30 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    45 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    60 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    75 3,29 4,54 6,66 8,68 11,11

    90 3,11 3,83 4,93 5,90 7,00

    105 1,49 1,80 2,28 2,69 3,16

    120 1,00 1,20 1,51 1,78 2,08

    135 0,77 0,92 1,15 1,35 1,57

    0

    B

    0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    15 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    30 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    45 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    60 0,00 0,03 0,15 0,31 0,55

    75 9,09 11,21 14,51 17,42 20,72

    90 5,17 6,02 7,30 8,39 9,60

    105 2,30 2,66 3,19 3,64 4,14

    120 1,50 1,73 2,07 2,36 2,67

    135 1,13 1,30 1,55 1,76 2,00

    0

    C

    0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    15 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    30 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    45 0,00 0,00 0,00 0,01 0,05

    60 0,27 0,46 0,82 1,18 1,61

    75 13,10 15,54 19,26 22,47 26,07

    90 6,23 7,12 8,44 9,55 10,77

    105 2,70 3,07 3,61 4,06 4,57

  • 120 1,75 1,98 2,32 2,61 2,93

    135 1,31 1,48 1,73 1,94 2,18

    0

    D

    0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    15 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    30 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

    45 0,00 0,01 0,07 0,15 0,27

    60 0,70 1,00 1,48 1,92 2,44

    75 15,72 18,32 22,23 25,58 29,30

    90 6,84 7,74 9,06 10,17 11,39

    105 2,92 3,29 3,83 4,29 4,78

    120 1,88 2,11 2,45 2,74 3,06

    135 1,40 1,57 1,82 2,04 2,27

    Fonte: Elaborada pelo Autor

    Aps a determinao das precipitaes excedentes que ocasionaro

    os escoamentos superficiais segundo o mtodo do HUT-SCS, necessrio

    determinar as caractersticas do hidrograma unitrio triangular do mtodo em

    questo, ou seja, o tempo e a vazo de pico, o tempo de base e as suas

    ordenadas para cada intervalo de durao da chuva unitria (15 min).

    Com relao ao tempo de pico, o mesmo obtido a partir da equao

    2.2, conforme exposto a seguir:

    O tempo de base do hidrograma unitrio obtido a partir da equao

    2.3, conforme indicado na seqncia:

    Aplicando-se a equao 2.4 e considerando uma precipitao

    excedente (unitria) de 1,0 cm, obtm-se a vazo de pico do hidrograma

    unitrio do mtodo do HUT-SCS, conforme apresentado abaixo:

    Considerando os elementos do hidrograma unitrio triangular

    calculados anteriormente e utilizando-se o programa computacional AutoCAD

    2009 para o traado do mesmo, obtm-se os valores da relao tempo x vazo

    (abscissas e ordenadas) indicados na Tabela 2.15.

  • Tabela 2.15 Ordenadas e abscissas do hidrograma unitrio do mtodo do HUT-SCS

    Tempo (min)

    Vazo (m/s)

    Tempo (min)

    Vazo (m/s)

    Tempo (min)

    Vazo (m/s)

    0 0,00 135 11,87 270 6,28

    15 1,32 150 12,72 285 5,48

    30 2,64 165 11,92 300 4,67

    CONTINUAO

    Tabela 2.15 Ordenadas e abscissas do hidrograma unitrio triangular do mtodo do HUT-SCS

    Tempo (min)

    Vazo (m/s)

    Tempo (min)

    Vazo (m/s)

    Tempo (min)

    Vazo (m/s)

    45 3,96 180 11,12 315 3,87

    60 5,28 195 10,31 330 3,06

    75 6,60 210 9,50 345 2,25

    90 7,91 225 8,70 360 1,45

    105 9,23 240 7,89 375 0,64

    120 10,55 255 7,09 390 0,00

    Fonte: Elaborada pelo Autor

    Diante das ordenadas do hidrograma unitrio triangular do mtodo do

    HUT-SCS e dos resultados das precipitaes excedentes indicados na Tabela

    2.14 possvel obter os respectivos hidrogramas de projeto do mtodo em

    referncia a partir do exemplo de clculo demonstrado na Tabela 2.7.

    Aplicando-se o referido exemplo de clculo e considerando os resultados

    indicados nas Tabelas 2.14 e 2.15, obtm-se as vazes de pico (m/s)

    indicadas na Tabela 2.16, as quais foram calculadas para os diferentes grupos

    hidrolgicos do mtodo original do SCS e tambm para os cinco perodos de

    retorno abordados neste trabalho.

    Tabela 2.16 Vazes de pico obtidas em funo da variao dos

    grupos hidrolgicos e dos perodos de retorno Mtodo do HUT-SCS

    Grupos hidrolgicos

    Perodos de retorno (anos)

    5 10 25 50 100

    A 11,43 14,54 19,57 24,16 29,53

    B 22,77 27,24 34,15 40,22 47,10

  • C 30,09 35,18 42,92 49,63 57,16

    D 34,97 40,39 48,62 55,73 63,66

    Fonte: Elaborada pelo Autor